NT 003 2018

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Consetho Regional de NOTA TECNICA CRP-PR 003-2018 Orienta as(os) protissionais Psicdlogas(os) sobre a atuacao profissional em atendimento a Lei n° 13.431/2017. CONSIDERANDO a publicacao da Lei n° 13.431/2017, que estabelece a metodologia de Escuta Especializada 0 de Depoimento Especial de criancas e adolescentes vitimas e testemunhas de violencia; CONSIDERANDO a Nota Técnica n° 001/2018, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que orienta a nao participacdo das(os) Psiclogas(os) na inquirigao de criangas por meio do depoimento especial: CONSIDERANDO 0 grande numero de Psicdlogas(os) que atuam como funcionarias(os) pUblicas(s) nos sistemas de protegdo municipais e/ou estadual, recebendo, em geral, determinacao emanada por seus superiores para cumprir determinagoes judiciais de escuta especializada; CONSIDERANDO 0 fato de as equipes interdisciplinares do Poder Judiciario serem compostas por Psicdlogas(os), as(os) quais também estao sujeitas(os) a0 cumprimento de ordens emanadas pelos magistrados e/ou supetiores hierarquicos; CONSIDERANDO a deliberagao da 793% Reunido Plenaria do CRP- PR, realizada em 07 de julho de 2018; © Conselho Regional de Psicologia do Parana (CRP-PR), no uso de suas airibuigées, publica a presente Nota Técnica visando orientar, em 1eiacao aos aspectos éticos, as(0s) profissionais da Psicologia que optarem por e/ou forem demandadas(os) a participar, em funcao de seus cargos, dos procedimentos previstos na Lei n° 13.431/2017, quais sojam: Escuta Especial ¢ Depoimento Especial. 1. INTRODUGAO © Conselho Federal de Psicologia (CFP), por intermédio de sua Nota Técnica (NT) n? 001/2018, fez a recomendagao para que PsicOlogas(os) nao Danicipassem da metodologia do Depoimento Especial, contorme descrito na Lei n® 13.431/2017, sob a alegacdo de no ser essa a funcdo da(o) Psicologa(o) por ferir a ética a aulonomia profissionais. O Conselho Regional de Psicologia do Parana (CRP-PR) ndo se coloca contrario a esse posicionamento; porém, entende que diferentes profissionais, em fungao, principalmente, de seus cargos publicos, nao poderao se furtar a cumprir determinagdes para a realizacao do AY www.crppr.org.br Gonselno Regional de Psicologia co Parana Depoimento, Especial, razio pela qual emite a prosente Nota Técnica de Orientacao Etica. O CRP-PR compreende que, a partir co momento em que a(0) Fsicéloga(o) decide ou que é compelida(o) a participar desta metodologia, deve fazé-lo de maneira a assegurar a melhor forma possivel de desenvolver seu trabalho, seja do ponto de vista ético ou técnico. Em sentido oposto, se a(0) Psicdloga() identificar impossibilidade de sua participacdo no Depoimento Especial, ou mesmo na Escuta Espocializada, podera fundamentar sua decisao nas Resolugoes do CFP e, em especial, nos Principios Fundamentais |, IV e VII e nos artigos 1°, alinea “b” e "j', todos do Cadigo de Etica do Profissional Psicdlogo (CEPP). Cabe destacar que, da Ieitura mais atenta da NT do CFP, observa-se a orientagao é para que a(o) Psicologa(o) nao participe apenas na metodologia do Depoimento Especial, endo que 0 mesmo no vale para a Esouta Especial Para melhor explicar os conceitos a partir dos quais a presente Nota Técnica se posiciona, segue o glossdrio abaixo: Acolhimento Acolhimento na pratica da Psicologia pode ser considerado como técnica que se constitui em uma forma receptiva de realizar uma primeira escuta da situacao de vulnerabilidace 0 atendimento psicoligico, por meio do acolhimento, da escuta diferonciada e da disporibilidade de didlogo, possibilita muitas vezes ao olionte encontrar eltornativas criativas ou outra compreensao sobre 0 que esta vivenciando, (SOUSA; SAMIS. 2008, p. 115). Assim sendo, © acolhimento, enquanto técnica, possibilita o estabelecimento do vinculo de confianga que auxilia na aplicagéo das demais etapas dos procedimentos previstos na Lei n® 13.431/2018. Avaliagéo Psicolégica Avaliagao Psicolégica 6 considerada uma atividade privativa da(o) profissional Psicologa(o), oficializada na lei da aprovacao da profissao (lei n° 4.119/1962). Segundo a Resolugao n° 007/2003 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) Gonselno Regional de Psicologia do Parana A avaliacéo psicolégica é entendida como 0 processo técnico- Cientifico de coleta de dados, estudos ¢ interpretacao de informagdes a respeito dos fendmenos psicolégicos, que sao resultantes da relacdo do individuo com a sociedade utlizando- se, para tanto, de estratégias psicolégicas ~ métodos, técnicas ¢ instrumentes. Os resultados das avaliacoes devem considerar e analisar os condicionantos histéricos e sociais e seus efeitos no psiquismo, com a finalidade de servirem como instrumentos para atuar nao somente sobre o individuo, mas na modificacao desses condicionantes que operam desde a formulacao da demanda até a conclusao do processo de avaliagao psicolégice. (CFP, 2003, sip) ‘Avaliagao psicolégica, segundo Andrade e Sales (2017) & um proceso dinamico que acompanna a psique humana e tem caréter integrador, prevendo resultados que reflotem aspectos histéricos, sociais e culturais do sujeito avaliado. Portanto, 6 por meio da avaliagao psicoldgica que a(o) profissional de Psicologia ira analisar os fendmenos psicolégicos utilizando-se de técnicas © métodos reconhecidos regulamentados pela ciéncia psicoldgica. Para Alchieri e Cruz (2010) a ‘avaliacao psicoldgica se refere ao modo de conhecer fenémenos e processo psicolégicos por meio de procedimentos de diagnostico @ prognostico e, ao mesmo tempo, aos procedimentos de exame propriamente ditos para criar condigdes de afericao ou dimensionamento dos fenomenos & processos psicoldgicos conhecidos" (p. 24) ou Qualificado Depoimento Espo Ministério dos Direitos Humanos (2017) conceitua Depoimento Especial ou Qualificado como um procedimento “realizado por drgéos investigativos (Seguranca Publica) ou no processo judicial, para coletar evidéncia dos fatos ocorridos para responsabilizagéo do suposto agressor” (Ministério dos Direitos Humanos - MDH, 2017) Na “Cartografia Nacional das Experiéncias Altemativas de Tomada do Depoimento Especial de Criancas e Adolescentes em Pracessos Judiciais no Brasil: O Estado da Arte’, publicado pelo CNJ em 2013, o Depoimento Especial vem como uma forma de altemativa, diferenciada da inquiricao tradicional: © termo ‘altemativo’ € aqui utilizado para designar as experiéncias que vém primando pela incorporacéo de) procedimentos especiais capazes de assegurar cficaz YW W wvaw.crpprorg.br Gonseino Regional da Psicologia do Parana participagao protegida de criangas e adolescentes, no sistema de justiga, as quais refutam formas tradicionais de “inquiri¢ao” destes sujeites. Sob a designacao “depommento especial” estado sendo considerados os métodos, as técnicas @ 0s pro- cedimentos utiizados antes, durante e apés a tomada de depoimento de criancas e adolescentes com 0 intuito de evitar ou reduzir 0 sofrimento © 0 ostrosse a que sao submetidos enquanto vitimas ou testemunhas de crimes durante sua passagom pelo sistema de justica (SANTOS et. al, 2013, p. 23). Portanto, mesmo sendo um procedimento especial, como forma alternativa, em espaco fisico diferenciado, acontece no ambiente judiciario e & um “procedimento de tomada de depoimento”. Isso é reafirmado pelo mesmo documento do CNJ quando expressa que ‘o depoimento especial 6 uma nova filosofia juridica [...] uma nova postura da autoridade judiciaria. que busca a complementaridade de sua atuacao na interdisciplinaridade [...]. (SANTOS et al.,2013, p. 23). Entrevista A Entrevista é uma técnica de investigagao focal e de tempo limitado, cujo principal objetivo € conhecer 0 comportamento e a personalidade do entrevistado. Bleger traz algumas definicoes: Nenhuma situagao pode conseguir 2 emergéncia da totalidado do repertério da conduta de uma pessoa e, portanto, nenhuma entrevista pode esgotar a personalidade do cliente, apenas um segmento da mesma. A entrevista nao pode substituir ou exciur outros instrumentos de avaliacao da personalidade, porém, esses Ullimos nao podem prescindir da entrevista (BLEGER, 2011, p. 10) Tavares (2002) ressalta que as técnicas de entrevistas favorecem a manifestacao das particularidades do sujeito, permitindo a(ao) profissional Psicloga(o) acesso amplo e profundo ao outro, a seu modo de se estruturar & de se relacionar, mais do que qualquer outro método de coleta de informagoes. Pode-se afirmar cue 6 2 estratégia de avaliacdo que pode mais facilmente se adaptar as variagGes individuais e de contexto para atender &s necessidades colocadas por uma grande diversidade de situagdes clinicas e para tornar explicitas particularidades que escapam a outros procedimentos (TAVARES. 2002). Gonselno Regional de Psicologia do Parana Escuta Qualificada ou Especializada Escutar significa prestar atencao para ouvir; dar atencao a; ouvir sentir; perceber (DICIONARIO MICHAELIS ONLINE); prestar 0 ouvido a; dar ouvidos a: dar atengdo a; tornar-se atento para ouvir; pér-se a ouvir, deixar-se guiar por (DICIONARIO AURELIO). Escuta Qualificada, por sua vez, @ compreencida como um procedimento realizado pelos orgaos da Rede de Protegao, com a finalidade de assegurar 0 acompanhamento da vitima em suas demandas e superar as consequéncias da violencia sofrida; nao se objetiva & produgao de prova. “Deve limitar-se estritamente a0 necessario para o cumprimento da finalidade da protegao” (Ministerio dos Direitos Humanos - MDH, 2017, p. 21). A postura da(o) profissional deve ser de ouvinte atenta(o) e comprometida(o) com o respeito aos direitos da crianca e do adolescente. O ambiente deve proporcionar “privacidade sem intimidago, a individualidade e a confidencialidade” (MDH, 2017, p. 27) Escuta Psicolégica De acordo como a Resolucao n° 010/2010 do Consetho Federal de Psicologia’, a Escuta Psicolégica caracteriza-se por ser uma relagao de cuidado, acolhedora’e nao invasiva, para a qual se requer a disposicao de escutar, respeitando-se 0 tempo de elaboragao da situagéo traumatica, as peculiaridades do momento do desenvolvimento e, sobratudo visando a nao revitimizacao. A escula leva em conta a dimensao subjetiva, que também deve ser considerada na perspectiva dos direitos humanas (CFP, 2012) E, ainda, a Escuta Psicoldgica consiste em oferecor lugar ¢ tempo para a expressao das demandas e desejos da crianca e do adolescente. Considera-se a fala, a producéo ludica, 0 siléncio e exoressdes nao verbais, entre outros (CFP, RESOLUGAO N° 10/2010). ‘Assim sendo, a Escuta Psicoldgica se dé na interagdo da crianga ou adolescente com a(0) profissional de Psicologia, e deve ser “fundamentada no principio da protegao integral, na legislagao especifica da profissao @ nos marcos todricos, t&cnicos e metodoldgicos da Psicologia como ciéncia e profissa0” (CFP, FESOLUGAO NP 10/2010, sip) Inquirir ‘A Resolugao CFP n° 010/2010 esta suspensa por determinagao judicial, sendo aqui considerado apenas o conceito de Escuta Psicologica. op vapor Gonselno Regional de Psicologia do Parana Conforme o Diciondrio Michaelis, inquirir significa “indagar, perguntar, pedir informacdes sobre, pesquisar, intertogar judicialmente (testemunhas) (DICIONARIO MICHAELIS). No Diciondrio Aurélio a palavra inquirir tem 0 significado de “procurar saber, fazendo perguntes, investigar para apurar a verdade" (DICIONARIO AURELIO). De acordo com a Nota do CFP sobre a suspen¢ao da Resolucao n? 10/2010 do CFP, encontra-se: ‘A inquirigo € um procedimento juridico, constitui-se em um intarrogatério, cujo objetivo é levantar dados para instrugao de um processo judicial, visando 4 produgao de prova, sendo as perguntas feitas a crianga e ao adolescente orientadas pelas necessidades do processo (CFP, RESOLUCAO N° 10/2010, sip). Pericia “Na Lingua Portuguesa, 0 termo ‘pericia’ ¢ habilidade, destreza e, em um entendimento moderno © contemporaneo, deve ser operada por pessoa com conhecimento técnico especializado” (DAL PIZZOL, 2008, p. 25). “_ pericia 6 um trabalho técnico-profissional ou artistico, elaborado por quem tem conhecimento sobre 0 assunto, 0 qual deverd servir para elucidar uma questao obscura ou duvidosa” (DAL PIZZOL, 2009, p. 26) Pericia Psicologica (ou Avaliagao Psicolégica Pericial) A pericia € uma modalidade de avaliagao psicolégica destinada a fornecer subsidios ao juizo para suas decisdes. Segundo a Nota Técnica CRP- 08 n° 02/2076, a avaliacdo psicoldgica pericial implica interpretagao dos dados coletades a luz da ciéncia psicolégica @ da ética profissional, © pode tanto assessorar a Justia. como garantir a protegao integral de criancas e adolescentes airavés do adequado oncaminhamento a servicos de atendimento as vitimas e suas familias. (CRP/0B, 2016, s/p) Para sua elaboracdo, requer conhecimentos espocificos em processos basicos de investigagao como compreensao da demanda instaladae —_, sua relagéo com 0 dominio juridico a ela direcionada; definigao do ostratégias h {fy | = HI eof www.crpepr.org.br V Gonselho Regional de Psicologia do Parana instrumentos de exame psicolégico mais adequados a demanda instalada: verificacao da pertinéncia dos quesitos apresentados em juizo ao_perito: elaboragéo de comunicacao psicolégica por meio de laudo (MACIEL e CRUZ, in ROVINSKI e CRUZ, 2009) Especificamente na avaliagdo pericial, a(o) Psicdloga(o) considera, além da esouta das vitimas e dos responsaveis, uma analise da sintornatologia e do contexto, identificando possiveis pressdes e/ou motivagdes para depoimentos inveridicos e, até mesmo, a possibilidade de produzir falsas memorias (SHAEFER, ROSSETO e KRISTENSEN, 2012) Perito Segundo Amaral Santos (1993), tem-se como conceito de perito 0 que se segue: Do latim peritus, formado pelo verbo perior, que significa experimentar, saber por experiénoia, é uma pessoa que, polos conhecimentos especiais que possui, geralmente de natureza cientifica, técnica ou artistica, colhe percepcoes ou emite informagoes ao juiz, colaborando na formagao do material probatério A conviccdo decisoria (AMARAL SANTOS, 1993, apud PERISSINE DA SILVA, 2003, p. 23). E mais, um dos elementos qualificadores da pericia ¢ 0 conhecimento de um determinado assunto, e, segundo a andlise da palavra originaria do latim, deve este advir da experiéncia..... Hoje, a nabilidade exigida de um perito deve advir ndo somente da experiéncia, mas também, © principalmente, pelo conhecimento cientifico ( DAL PIZZOL, 2009, p. 25). os servicos de pericia tém como objetivo elucidar situacOes, fazer averiquacoes e assim por diante. A pericia 6 exercida por especialistas da sociedade em geral que, conforme interesse, a desenvolvem para esclarecer as mais variadas situagées (DAL PIZZOL, 20089, p. 26) Psicdloga(o) perita(o) 6, portanto, a(0) profissional designada(o) para assessorar a Justica no limite de suas atribuigdes (Resolucdo CFP n° 0086/2010). cf www.crpprorg.br Conselno Regional de Psicologia do Parana 2, ESCUTA ESPECIALIZADA A Lei n° 13.421/2017 refere-se a Escuta Especializada nos artigos 7° 210: Art. 72— Escuta especializada € 0 procedimento de entrevista sobre situacao de violéncia com crianga ou adolescente perante Grgao da rede de protecdo, limitado 9 relato estritamente a0 necessério para o cumprimento de sua finalidade. (negrto nosso} ‘Art. 10 A escuta especializada e 0 depoimento especial serao realizados em local apropriado e acolhedor, com infraestrutura ¢ espago fisico que garantam a privacidade da crianga ou do adolescente vitima ou testamunha de violéncia. (negrito nosso) Conforme o artigo 7°, a Escuta Especializada consiste em entrevista perante 6rgao da rede de protecao, “limitado 0 relato estritamente ao necessario para o cumprimento de sua finalidade”. A primeira dificuldade emanada desse artigo 6 que a lei nao especifica qual é a finalidade que ela atrioulu & escuta. No entanto, a norma legal como um todo tem como finalidade o estabelecimento do sstema de garantias de direito da crianca e do adolescente vitima ou testemunha de violéncia (ementa da lei). Além disso, o artigo 5° informa que a aplicacao da lei tera como base os direitos e garantias fundamentals da crianga e do adolescente a: V/— ser ouvido e expressar seus desejos ¢ opinides, assim como permanecer em siléncio Portanto, em fungac da omissao legal apontada e do descrito no artigo 5, inciso VI, pode-se concluir que a finalidade da Escuta Especializada € dar ‘oportunidade a crianga ou ao adolescente de serem ouvidos 0 oxpressarem seus desejos © opinides. Dessa forma, tem-se que a Escuta Psicologica, conforme descrita no glossario acima, atende ao determinado na norma legal, satisfazendo, também, os aspectos tecnicos e éticos da atuacdo da(o) Psicdloga(o). Por outro lado, deve-se atentar para 0 final do inciso VI, do artigo 5°, que informa ser direito da crianga ou adolescente permanacer em siléncio. Da mesma forma, 2 em consondncia com esse direito expresso pela legislagao aqui referida, conclui-se que, caso a crianga ou adolescente, em sede de Escuta Especializada, queira permanecer em siléncio, esse direito devera ser respeltado integralmente, n&o cabendo A(ao) profissional da Psicologia, por exemplo, instigar ou compelir a crianga ou depoente a fazé-lo. Ord www cfpprorabr Gonselno Regional de Psicologia do Parana 2.1 Produgao de documento Em relagéo a como informar aos érgéos e/ou autoridades competentes sobre 0 contetido advindo do processo de Escuta Especializada, a lei novamente 6 omissa. Entende-se, porém, que a Escuta tem como objetivo, também, trazer dados a esses atores quanto ao relato da crianga e ou adolescente em relagdo a violencia testemunhada ou sofrida por eles, sendo necessario, portanto, a prestagao da informacao. Na falta de orientagao da lei em discussao quanto a esse aspecto, deve-se recorrer a lei n° 11.349/90 (Estatuto da Crianga e do Adolescente — ECA) e a lei n° 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), como indica o paragrafo unico do artigo 6° da loi n° 13.421/2017. Em seu artigo 151, 0 ECA informa que as(0s) profissionais da equipe interdisciplinar devem “fornecer subsidios por escrito mediante laudcs ou verbalmente na audiéncia’. Da mesma forma é redigido 0 artigo 30 da Lei Maria da Penha. ‘/mbas as legislagGes se referem apenas a laudo, néo indicando como devera sar sua confeccao Por sua vez, 0 Cédigo de Processo Civil (CPC), de 2015, em seu artigo 473, informa como devera ser redigido um laudo; porém, faz referencia expressa a um laudo pericial, que pressupde andlise técnica e cientifica realizada polo perito 2 conclusdes fundamentadas, além de indicar 0 método utilizado e oferecer respostas conclusivas aos quesitos a ele submetidos. Vé-se, portanto, que 0 laudo a que se refere o CPC, e que, entende-se, serve de base para explicar os laudos referidos nas legislagdes ECA e Lei Maria da Penha, nao se aproximam do documento a ser produzido pela(o) Psicdloga(o) que realiza a Escuta Especializada simplesmente por este néo contemplar analise técnica ¢ cientifica da fala trazida pela crianca ou adolescente. Diante da falta de legislagao que indique qual o documento deve ser produzido pela Escuta Especializada, deve-se recorter a legislacao do Conseino Federal de Psicologia sobre o tema, qual seja, a principio, a Resolugao CFP n° 07/2003, que institui 0 Manual de Elaboracéo de Documentos Escritos Froduzidos por Psicdloga(o). Ocorre que, mesmo ali, os documentos indicados nao contemplam o que é necessario para comunicar as informagdes colnidas em Escuta Especial, pois se referem a documentos decorrentes da avaliacao psicolégica ‘Assim, nao sendo @ Escuta Especializada uma avaliacao psicolégica propriamente dita (vide glossario acima), nao cabe seguir as diretrizes descritas naquela Resolucao. Ou seja, no cabera a produgao de Relatério, Laudo ou, ainda, Atestado para comunicar 0 resultado da Escuta Especializada por se tratarem de documentos produzidos a partir de avaliagao psicolégica. Também no caber a confeccdo de uma Daclaracdo, definida na Resolugao CFP n° 07/2003 como um documento que visa a “informar a ocorréncia de fatos ou situagdes cbjetivas’, quais sejam, os comparecimentos do atendido efou seu om aera br Gonselno Regional de Psicologia co Parana acompanhante, © acompanhamento psicolégico do atendido ou, ainda informacées Sobre condigoes do atendimento tais como tempo, dies e/ou horatios de atendimento. Por fim, também o Parecer, indicado na mesma Resolucéo do CFP, nao cabera no caso sob exame, por se tratar de uma resposta a uma questao especifica do campo do conhecimento psicoldgico e nao sobre fatos relatados pelo entrevistado. Da mesma forma, a Resolugao CFP n° 001/2009, que trata da obrigatoriedade do registro documental decorrente da prestagao de servigos psicoldgicos e que poderia ser cogitada para definir o documento a ser produzido em sede de Escuta Especializada, também nao é adequada. Ocorre que esta Fesolugao versa sobre a confecgao do prontuario psicoldgico e do registro documental. O primeira diz respeito a registro de informagées que devem ser compartilhadas em equipe muttiprofissional ou disponibilizadas para 0 usuario: 0 segundo diz respeito a informacoes que “tém por objetivo contemplar de forma sucinta © trabalho prestado, a doscrigéo © a evolucao da atividade e/ou procedimentos técnicos-cientificos adotados’ (art. 1°, paragrafo 1°). Tem-se, portanto, que mesmo as normas expedidas pelo Conselho Federal de Psicologia nao dispoem de orientacao para a eladoragao de documentos provenientes da Escuta Especializada. Ha que se considerar com referéncia elaboracdo do documento a ser produzido pelo trabalho da(o) Psicologa(o) na Escuta Psicolégica que as Resolugdes CFP n° 007/2003 e 001/2009 nao contempiam as necessidades aiuais impostas tanto pelas novas leis quanto pela propria realidade social. Em fungao desses limites legais e normativos, no momento atual, orienta-se a(o) profissional de Psicologia que efetivar a Escuta Especial que produza um relatorio, no qual se transcrevera, no item ‘analise", a fala da crianga ou adolescente, de forma literal, acrescentando dados que qualifiquem o relato da crianga e a solicitagao da Escuta, além de constar local e data da realizagao da metodologia e nome e numero da inscrigdo no CRP da(o) Psicdloga(o) que a realizou. Seré cabivel, ainda, informagao referente ao desenvolvimento cognitivo e estado emocional observados no momento da entrevista. 2.2 Agravagao da Escuta Especializada Da leitura da lei depreende-se que a gravacao em audio e video sera realizada apenas no Depoimento Especial, nao havendo previsao legal para a gravacao da Escuta Especializada. Esse tema sera retomado no item relativo a0 Depoimento Especial, conforme art. 12, Vi: 0 depoimento especial seré gravado om dudio @ video. 4) iv Jo ae on) Le re ora De Conselno Regional de Psicologia do Parana 2.3 Arevelagao espontanea Quanto a revelacdo espontanea referida no paragrafo 3° do artigo 4°, deve ser compreendida como distinta da Escuta Especializada. Isso em fungao da redacdo do proprio artigo: ‘Ant. 4%: par. 9°: Na hipétese de revelagéo espontanea da violencia, a crianga e 0 adolescente seréo chamados a confirmar os fatos na forma especificada no parégrafo 1°, salvo em caso de intervongoes da satide. (grifo nosso) O paragrafo 1° do mesmo artigo determina que Art. 4°, par. 1°: Para efeitos dessa Lei, a crianga e 0 adolescente ‘serao ouvidos soore a situacao de violéncia por meio da escuta especializada e depcimento especial. (grifo nosso) Dessa forma, fica evidente que a revelacdo espontanea ensejara apenas a Notificagéo Compulséria do fato as autoridades competentes (@utoridade sanitaria, conselho tutelar, autoridade policial, entre outros), conforme indiciado no artigo 13, da Lei n° 18.431/2017 © no artigo 13, do ECA. Caso a(0) Psicdioga(o) que ouviu a revelacao espontanea seja solicitada(o) a emitir um documento sobre a mesma, entende-se que oste poderé seguir os parémetros acima descritos para o documento a ser produzido pela(o) Psicdloga(o) que conduz a Escuta Especializada, 3. DEPOIMENTO ESPECIAL O Depoimento Especial é referido na Lei n° 13.431/2017 nos artigos 8°, 11 @ 12, dos quais se destacam Art, 8 — Depoimento especial ¢ 0 procedimento de oitiva de crianga ou adolescente vitima ou tesiemunha de violéncia perante autoridade policial ou judicidria. (negrito @ grifos nossos) Art. 11 — © depoimento especial reger-se-4 por protocolos e, sempre que possivel, sera realizado uma Unica vez, em sede de produgao antecipada do prova judicial, garantida a ampla defesa do investigado. Art. 12 — O depoimento especial sera colhido conforme o seguinte procedimento: nf. YW oe cof CU Conseino Regional de Psicologia do Parana | — os profissionais especializados esclarecerao a crianga ou 0 adolescente sobre a tomada do depoimonto especial. informando-Ihe os seus direitos © os procedimentos a serem adotados e planejando sua participacao, sendo vedada a leitura da denuncia ou de outras pegas processuais: Il - & assegurada a crianca ou ao adolescente a livre narrativa sobre a situagao de violéncia, podendo 0 _profissional ‘especializado intervir quando necessario, utilizando técnicas que permitam a elucidacao dos fatos; IIL — no curso do processo judicial, o depoimento especial sera transmitido em tempo real para a sala de audiéncia, preservado 0 siglo; V -o prolissional especializado poderé adaptar as perguntas a inguagem de melhor compreensao da crianga ou do adolescente; VI—0 depoimento especial seré gravado em audio ¢ video. § 1°A vitima ou testemunha de violéncia é garantido o direito de prestar depaimento dirotamente ao juiz, se assim o entender. § 2 © juiz tomaré todas as medidas apropriadas para a preservacao da intimidade e da privacidade da vitima ou testemunha. § 3° O profissional especializado comunicara a0 juiz se verificar que a presenca, na sala de audiencia, do autor da violencia pode prejudicar 0 depoimento especial ou colocar o depoente em situacdo de risco, caso em que, fazendo constar em termo, sera autorizado 0 afastamento do imputado. A definigao de Depoimento Especial encontra-se no artigo 8°, 0 qual informa, inicialmente, que 0 Depoimento Especial consiste em uma oitiva da crianga ou do adolescente. Oitiva é definida no diciondrio online Caldas Aulete como ‘agao ou resultado de se ouvir o que alguém tem a dizer acerca de algo; audigéo: informacdo que se transmite por ouvir dizer, sem saber se estd ou nao baseada om fatos: soube dessa noticia de oitiva”. Entende-se que oitiva, no contexto da legislacao aqui examinada, diz respeito a ouvir alguem acerca do algo, o que, no caso, diz respeito a uma violéncia sofrida ou presenciada. Outro aspecto que informa 0 artigo 8° é que o depoimento sera realizado na presenga do autoridade policial ou judiciéria. Nesse sentido, depreende-se que 0 papel 7 da(o) Psicéloga(o) sera coadjuvante no Depoimento Especial, ja que o principal ff W) nN IE oy wwLerpprorg.br v

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