Padrão de Sono

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Evaluation of the sleep pattern in Nursing professionals working night shifts


at the intensive care units

Article · June 2008

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4 authors, including:

Edvaldo Moraes Rubens Reimão


University of São Paulo University of São Paulo
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Artigo original

Avaliação do padrão de sono dos profissionais de Enfermagem


dos plantões noturnos em Unidades de Terapia Intensiva
Evaluation of the sleep pattern in Nursing professionals working night shifts
at the Intensive Care Units
Juliana Inhauser Riceti Acioli Barboza1, Edvaldo Leal de Moraes2, Eloísa Aparecida Pereira3, 
Rubens Nelson Amaral de Assis Reimão4

RESUMO Paulo. Methods: Seventy-five Nursing professionals were evaluated:


Objetivo: Avaliar a qualidade do sono e verificar a presença de 33% were registered nurses and 66% were licensed practical nurses; 81%
sonolência diurna excessiva dos profissionais de Enfermagem dos of the participants were females. The age ranged from 22 to 60 years,
plantões noturnos das Unidades de Terapia Intensiva do Instituto Central with a mean age of 38 years. The instruments used were the Pittsburgh
do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Sleep Quality Index and Epworth Sleepiness Scale. Results: This study
São Paulo. Métodos: Foram avaliados 75 profissionais de Enfermagem: showed that 97.3% of professionals have a poor quality of sleep and
33% enfermeiros, 66% auxiliares de Enfermagem e 81% eram do gênero 70.67% have an excessive daytime sleepiness. Conclusions: In view
feminino. A idade teve uma variação de 22 a 60 anos, com média de of this, some interventions are necessary, such as the planning of a
idade de 38 anos. Os instrumentos utilizados foram: o Índice de Qualidade comfortable room with television, radio and appropriate beds; a routine
de Sono de Pittsburgh (PSQI) e a Escala de Sonolência de Epworth. rotation of hours per employee for resting and meals; changing of the
Resultados: Este estudo demonstrou que 97,3% dos profissionais night-time workload by reducing the shift from 12 hours to eight hours
apresentam má qualidade de sono e 70,67% uma sonolência diurna and having 15-minute breaks every two hours.
excessiva. Conclusões: Diante disso, algumas intervenções tornam-
se necessárias, como o planejamento de um local como uma sala de Keywords: Nursing, team; Quality of life; Night work; Sleep disorders;
conforto com televisão, rádio e camas adequadas; uma rotina de rodízio Intensive care units; Stress, psychological 
de horário por funcionário para o descanso e alimentação; mudança da
carga horária do turno noturno alterando a jornada de 12 horas para oito
horas e pausas de 15 minutos a cada duas horas de trabalho. INTRODUÇÃO
Devido às crescentes mudanças econômicas, demo-
Descritores: Equipe de Enfermagem; Qualidade de vida; Trabalho
gráficas e nos processos tecnológicos, surge a neces-
noturno; Transtornos do sono; Unidades de terapia intensiva; Estresse
psicológico 
sidade cada vez mais de uma sociedade 24 horas, sete
dias por semana, que depende de um grande núme-
ro de profissionais trabalhando durante a noite, sem
ABSTRACT interrupções(1).
Objective: This study aimed to assess the quality of sleep and verify the O trabalho hospitalar apresenta uma das mais comple-
presence of excessive daytime somnolence in Nursing professionals xas organizações da sociedade moderna e se caracteriza
working night shifts at the Intensive Care Units of the Central Institute of por uma divisão de trabalho extremamente acurada, bem
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São como por uma refinada gama de aptidões técnicas(2).

Estudo realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP, São Paulo (SP), Brasil.
Monografia apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em 2008.
 Especialista em Enfermagem; Enfermeira da Unidade de Terapia Intensiva Neurológica
1
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP, São Paulo (SP), Brasil.
2
Mestre; Enfermeiro chefe da Organização e Captação de Órgãos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP, São Paulo (SP), Brasil.
 Enfermeira Chefe da Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP, São Paulo (SP), Brasil.
3

 Livre-docente; Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP, São Paulo (SP), Brasil.


4

Autor correspondente: Juliana Inhauser Riceti Acioli Barboza – Rua Leonor Monteiro da Silva, 141 – Quinta da Paineira – CEP 03273-500 – São Paulo (SP), Brasil – Tel.: 11 2084-8217 – e-mail:
juinhauser@yahoo.com.br
Data de submissão: 19/2/2008 – Data de aceite: 18/6/2008

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Avaliação do padrão de sono dos profissionais de Enfermagem dos plantões noturnos em Unidades de Terapia Intensiva 297

Nesse sentido, os mais antigos grupos de profissio- Essa forma de trabalho aliada ao estresse e suas
nais que trabalham em sistemas de turnos, como os en- relações com outros fatores da organização do traba-
fermeiros e auxiliares de Enfermagem, sofrem maior lho levam ao adoecimento dos profissionais(13-14). Com
impacto pelos fatores psicossociais do trabalho em isso, os profissionais podem apresentar a insônia e/ou
turno, que interferem nos processos saúde-doença(1,3-4). a SDE os quais estão relacionados a episódios de sono
As condições e organização do trabalho influenciam de mais curto e à dificuldade para dormir durante o dia,
forma significativa na tolerância ao mesmo em turnos respectivamente(3,7-8,15-16). Além disso, também são fre-
noturnos(1,3). qüentes as sensações de mal-estar, fadiga, flutuações no
Os reflexos, das exigências socioeconômicas de tra- humor, reduções no desempenho devido ao deficit de
balho em turno noturno, inserido nas relações de pro- atenção e concentração e, ainda afecções gastrointesti-
dução se fazem presentes na vida familiar dos indivídu- nais e cardiovasculares(7,15). Corroborando com alguns
os tendendo a modificar e alterar os laços, as relações estudos, os quais apontam que 10% dos trabalhadores
sociais e estruturas familiares(5). Isso se confirma em ou- do período noturno ou em turnos alternados lutam con-
tro estudo similar sobre a percepção dos efeitos do tra- tra o sono e forçam um estado de vigília para executar
balho em turnos sobre a saúde e a vida social em funcio- suas funções podem apresentar distúrbios transitórios
nários da Enfermagem em um Hospital Universitário do sono(17-19).
do Estado de São Paulo, em que o efeito mais citado do Além disso, uma redução no tempo total de sono
trabalho em turnos é a interferência no relacionamen- depois de um turno de trabalho noturno leva a  menor
to pessoal familiar, seguido por restrições de atividades eficiência, como a redução na percepção do alerta de-
sociais e dificuldade de planejamento da vida(6). pois da sexta e décima horas seguidas de trabalho e,
As escalas de trabalho em hospitais e em assistên- conseqüentemente, a quadros de sonolência(13).
cia domiciliar são organizadas geralmente em turnos As dificuldades de adaptação ligadas ao trabalho
fixos contínuos noturnos ou turnos rotatórios de oito noturno surgem devido à interação dos fatores do ciclo
ou 12 horas de duração. Sendo atualmente o mais cicardiano do relógio biológico, dos fatores domésti-
adotado no Brasil para a equipe de Enfermagem, o cos e dos sociais(14,16) e também, quando esse turno não
turno de 12 horas de trabalho diário (diurno ou no- fornece tempo suficiente de descanso, rotações noite-
turno), seguido de 36 horas de descanso(3,7). Dessa tarde-manhã, rotações semanais e outras variantes de
forma, o número de turnos consecutivos de trabalho, rotações de turnos(7). Corroborando com um estudo
a duração de cada turno, os horários de início e fi- realizado em trabalhadores de Enfermagem do turno
nal dos diversos turnos, a regularidade dos horários permanente, no qual se verificou que a existência de ho-
de trabalho, a flexibilidade do sistema de turnos, os rário previsto para o descanso no trabalho, hábitos ves-
horários parciais ou em turno completo e a distribui- pertinos no sono, bom estado de humor e tranqüilidade
ção do tempo livre podem levar esses profissionais a diante dos problemas, contribuem para a adaptação do
apresentarem alterações em seus padrões de sonos indivíduo ao estilo de vida imposto pelo trabalho em
habituais, nas funções fisiológicas e cognitivas que se turno noturno(17).
expressam de maneira rítmica(4,7-8). Ao considerar que o processo do trabalho notur-
Quando a pessoa que trabalha à noite e tenta dormir no possa acarretar problemas fisiológicos, sociais e de
de dia, ocorre  mudança da estrutura interna do sono. O adaptação dos profissionais de Enfermagem e, que isso
sono normal é o noturno, caracterizado por uma estru- possa contribuir para situações de imprudência e negli-
tura interna com diferentes estágios de profundidade, gência que afetarão tanto no plantão trabalhado como
duração própria e relativa estabilidade da hora de dei- no pós-plantão, surgiu o interesse da autora em estu-
tar e acordar, principalmente quando livre de pressões dar esse assunto, havendo ainda a inquietação de que
sociais e profissionais(9-10). Pode ser definido como um ocorresse no pós-plantão a sonolência excessiva diurna
estado de quietude acompanhado por uma postura de e a má qualidade de sono em enfermeiros e auxiliares
repouso, na qual ocorre uma diminuição na capacidade de Enfermagem das UTIs. Assim, o presente estudo
de responder aos estímulos externos(9). demonstra grande relevância, como também colabora
Portanto, o grande desafio do trabalhador noturno para mudanças organizacionais, que poderão levar  à
é, sem dúvida, adequar seu ritmo de vida aos princípios melhora do serviço prestado pela instituição.
biológicos e à convivência social(11), pois o desânimo as- Dessa forma, a avaliação do padrão do sono dos
sociado ao cansaço faz com que desapareça o interesse profissionais de Enfermagem dos plantões noturnos de
pela vida social e o lazer. Além de causar uma forma in- UTIs torna-se necessária, uma vez que essas unidades
tensa de irritabilidade a vozes e ao barulho doméstico, oferecem assistência à pacientes clínicos, cirúrgicos e/
devido a ruídos constantes e/ou perturbadores, como o ou de trauma que requerem qualidade e alerta contínu-
ambiente de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs)(12). os dos profissionais envolvidos no processo do cuidar.

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298 Barboza JIRA, Moraes EL, Pereira EA, Reimão RNAA

OBJETIVOS Casuística
Objetivo geral Foram avaliados 75 profissionais de Enfermagem dos
Verificar a qualidade de sono dos profissionais de En- plantões noturnos de UTIs, sendo 14 homens e 61
fermagem dos plantões noturnos de UTIs do Instituto mulheres; média de idade de 38 anos e desvio padrão
Central do Hospital das Clínicas (ICHC) da Faculdade 9,242. Correspondendo a 55% dos funcionários do mês
de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), de setembro.
avaliada por meio da Escala de Sonolência de Epwor-
th (ESE) e do Índice de Qualidade de Sono de Pitts-
Critérios de inclusão
burgh (PSQI).
Os critérios para inclusão foram: ter vínculo emprega-
tício com o ICHC/FMUSP; fazer parte da equipe de
Objetivos específicos Enfermagem (enfermeiro, auxiliar de Enfermagem e/
• Avaliar a qualidade do sono de enfermeiros e au- ou técnico de Enfermagem); trabalhar em plantões no-
xiliares de Enfermagem dos plantões noturnos de turnos de UTIs; assinar o termo de consentimento livre
UTIs do ICHC/FMUSP. e esclarecido.
• Verificar a presença de sonolência diurna de enfer-
meiros e auxiliares de Enfermagem dos plantões no- Procedimentos
turnos de UTIs do ICHC/FMUSP.
Coleta de dados e aspectos éticos
Os procedimentos na coleta de dados foram soli-
MÉTODOS citação de autorização para a pesquisa junto à insti-
tuição na qual foi realizada a coleta dos dados. Em
Tipo de estudo
seguida, o Termo de Compromisso do Pesquisador foi
O presente estudo caracteriza-se por ser de aborda- assinado. Após isso, os profissionais de Enfermagem
gem quantitativa, descritiva, exploratória e com recorte dos plantões noturnos das UTIs foram convidados a
transversal(20-21). A abordagem exploratória proporciona  participar da pesquisa e, quando confirmados e feitas
maior familiaridade com o problema, de modo a torná- as explicações, assinaram o termo de consentimento
lo mais explícito ou constituir hipótese, aprimorando as livre e esclarecido passando para a próxima etapa, a
idéias ou a descoberta de intuições sendo flexível, de qual consistiu em responder ao PSQI e ESE.
modo que possibilite a consideração dos mais variados Os questionários foram entregues sempre às 22 horas
aspectos estudados. A abordagem descritiva determina nos plantões noturnos das UTIs e recolhidos no término
as características da população, utilizando técnicas pa- dos plantões às sete horas, com o objetivo de não inter-
dronizadas de coleta de dados, tais como o questionário ferir no andamento das rotinas das unidades. A coleta de
e a observação sistemática(20). dados foi realizada no mês de setembro de 2007.

Local do estudo Instrumentos


Foi realizado um estudo com os profissionais de En- Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram:
fermagem dos plantões noturnos das seguintes UTIs • PSQI: já validado e traduzido para a língua portu-
do HC: guesa, foi empregado com a finalidade de avaliar a
• 4o andar – UTI de Moléstias Infecciosas (UMN); qualidade subjetiva do sono, os hábitos de sono re-
• 4o andar – UTI de Queimados (UQUE); lacionados à qualidade e a ocorrência de distúrbios
• 4o andar – UTI do Pronto-socorro Cirúrgico do sono. O instrumento é integrado por sete compo-
(UPSMC); nentes: qualidade subjetiva, latência, duração, efici-
• 4o andar – UTI do Pronto-socorro Médico ência e distúrbios do sono, uso de medicação para
(UPSM); dormir e sonolência diurna que resultam em um
• 5o andar – UTI da Neurologia (UNEU); escore correspondente à qualidade subjetiva global
• 6o andar – UTI da Pneumologia (U2MP); do sono. A pontuação global é determinada pela
• 6o andar – UTI Clínica Médica (UPSM); soma dos setes componentes, cada componente re-
• 7o andar – UTI da Nefrologia (U1MR); cebe uma pontuação estabelecida entre 0 e 3 pontos
• 9o andar – UTI Geral e Fígado (U1CH). com o mesmo peso, em que o 3 refletem o extremo
negativo da escala tipo Likert. A escala varia de 0 a
Foram aplicados o PSQI(22) e a ESE(23). 21 pontos, no qual escores até 5, inclusive, indicam

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Avaliação do padrão de sono dos profissionais de Enfermagem dos plantões noturnos em Unidades de Terapia Intensiva 299

boa qualidade de sono e os escores superiores a 5 Tabela 1. Distribuição sociodemográfica dos profissionais de Enfermagem de
Unidades de Terapia Intensiva dos plantões noturnos, São Paulo, 2008
indicam uma má qualidade de sono(22);
• ESE: foi utilizada para avaliar a possibilidade que Variável Categoria n %
os indivíduos apresentam para adormecer durante Idade 22 - 40 anos 48 64

o dia em oito situações monótonas da vida diária; 41 - 60 anos 27 36

assim identificando a sonolência diurna excessiva. Gênero Feminino 61 81,3


O grau de sonolência corresponde à soma do esco- Masculino 14 18,7

re atribuído a cada uma das questões que variam Cor Branco 39 52


de 0 a 24. É considerado patológico quando supe- Negro 20 26,7
Pardo 15 20
rior a 9, sendo utilizado o valor de 10 como divisor
Amarelo 1 1,3
de normalidade da escala de Epworth(23).
Categoria profissional Enfermeiros 25 33,3
Auxiliares de Enfermagem 50 66,7
Tratamento estatístico dos dados Tempo que trabalha em plantão noturno 1 - 11 meses 8 10,7
1 - 10 anos 44 58,7
Os resultados foram analisados através de estatística
11 - 20 anos 15 20
descritiva (média, desvio padrão, mediana e porcenta-
> 20 anos 4 5,3
gens), sendo utilizados o software Excel 2003 XP e o Não responderam 4 5,3
programa estatístico Minitab.
Trabalha em outra instituição Sim 21 28
Enfermeiros 9 12
1 - 10 horas 4 5,3
RESULTADOS 11 - 20 horas 5 6,7
Foram entregues no total 120 questionários aos profis- Auxiliares de Enfermagem 12 16
sionais de Enfermagem dos plantões noturnos das UTIs 1 - 10 horas 1 1,3
do HC, sendo respondidos e devolvidos 75 questionários. 11 - 20 horas 11 14,7
Os questionários foram entregues sempre às 22 horas nos Total 75 100

plantões noturnos das UTIs e recolhidos no término dos


plantões às sete horas, com objetivo de não interferir no
andamento das rotinas das unidades. Tabela 2. Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (ISPQ) dos Enfermeiros de
Unidades de Terapia Intensiva dos plantões noturnos, São Paulo, 2008
Categoria n %
Características sociodemográficas Boa qualidade de sono (escore ≤ 5) 0 0
No grupo estudado de 75 profissionais de Enfermagem: Má qualidade de sono (escore de > 5 a 21) 25 100
33% eram enfermeiros, 66% auxiliares de Enfermagem, Total 25 100
sendo que 81% eram do gênero feminino. A idade teve
uma variação de 22 a 60 anos (média de 38 anos, desvio
Tabela 3. Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (ISPQ) dos auxiliares de Enfer-
padrão de nove anos e mediana de 37 anos). Em relação magem de Unidades de Terapia Intensiva dos plantões noturnos, São Paulo, 2008
à cor: 52% eram brancos, 26,7% negros, 20% pardos e Categoria n %
1% amarelo. O tempo que trabalhavam no plantão no- Boa qualidade de sono (escore ≤ 5) 6 12
turno era de um a 11 meses (10,6%), de um a dez anos Má qualidade de sono (escore de > 5 a 21) 44 88
(58,6%), de 11 a 20 anos (20%), > 20 anos (5,3%) e Total 50 100
5,3% não responderam. Aqueles que trabalhavam em
outra instituição eram 28%, sendo 12% enfermeiros e
16% auxiliares de Enfermagem (Tabela 1).
No grupo estudado de 25 enfermeiros, com a
ESE, considerando o escore ≥ 10, verificou-se que
Avaliação do padrão do sono 72% dos enfermeiros apresentam SDE, vide Tabela
No grupo estudado de 25 enfermeiros com o PSQI, 4. No grupo estudado de 50 auxiliares de Enferma-
considerando o escore maior que 5 a 21, verificou-se gem com a ESE, considerando o escore ≥ 10, ve-
que 100% dos enfermeiros apresentam uma má qua- rificou-se que 70% dos auxiliares de Enfermagem
lidade de sono (Tabela 2). No grupo estudado de 50 apresentam SDE, vide Tabela 5.
auxiliares de Enfermagem com o PSQI, considerando No grupo estudado de 75 profissionais de Enferma-
o escore maior que 5 a 21, verificou-se que 88% dos gem utilizando o PSQI e a ESE verificou-se, respecti-
auxiliares de Enfermagem apresentam má qualidade vamente, que 97,3% dos profissionais apresentam má
de sono (Tabela 3). qualidade de sono e 70,67% uma SDE, vide Tabela 6.

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300 Barboza JIRA, Moraes EL, Pereira EA, Reimão RNAA

Tabela 4. Escala de Sonolência de Epworth (ESE) dos Enfermeiros de Unidades o instrumento utilizado para avaliar a qualidade de
de Terapia Intensiva dos plantões noturnos, São Paulo, 2008
sono em profissionais da Enfermagem foi outro e não
Categoria n % o empregado no estudo em questão(24).
Normal (escores < 10) 7 28
No grupo estudado de 75 profissionais de Enfer-
Anormal/sonolência diurna excessiva (escores ≥ 10) 18 72
magem com a ESE dos plantões noturnos das UTIs,
Total 25 100
considerando o escore ≥ 10, verificou-se que 70,63%
dos profissionais de Enfermagem apresentam SDE.
Tabela 5. Escala de Sonolência de Epworth (ESE) de auxiliares de Enfermagem
de Unidades de Terapia Intensiva dos plantões noturnos, São Paulo, 2008 Por categoria, sendo 25 enfermeiros e 50 auxiliares
Categoria n %
de Enfermagem, obteve-se que 72% dos enfermei-
Normal (escores < 10) 15 30 ros e 70% dos auxiliares de Enfermagem apresen-
Anormal/sonolência diurna excessiva (escores ≥ 10) 35 70 tam SDE. Dessa forma, confirmam os estudos feitos
Total 50 100 para verificar o padrão de sono de trabalhadores
de turnos, os quais indicam que 60 a 70% se quei-
Tabela 6. Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (ISPQ) e Escala de xam de dificuldade de dormir ou têm problemas de
Sonolência de Epworth (ESE) em profissionais de enfermagem de Unidades de sonolência(24). Além de ser similar a alguns estudos
Terapia Intensiva dos plantões noturnos, São Paulo, 2008 que apontam que 10% dos trabalhadores do período
Variável
Profissionais de noturno ou em turnos alternados, que lutam contra o
enfermagem
sono e forçam um estado de vigília para executar suas
n %
funções, podem apresentar distúrbios transitórios do
Má qualidade de sono (IQSP) (escore de > 5 a 21) 69 92
sono(17-19).
Anormal/sonolência diurna excessiva (ESE) (escores > = 10) 53 70,7
Outro estudo sobre o sono do trabalhador notur-
no de escala fixa e algumas de suas implicações difere
desses resultados mostrando que 43% dos indivíduos
DISCUSSÃO apresentam uma sonolência diurna excessiva; ressal-
As características sociodemográficas do presente estu- tando que foi utilizado o Questionário de Sono de
do confirmam o que a literatura mostra sobre a predo- Giglio para levantar os principais problemas no sono
minância do gênero feminino, ressaltando uma tendên- de uma população de 30 indivíduos que trabalham em
cia à “feminilização” da força de trabalho em saúde(6); turno noturno(29).
diferindo apenas a faixa etária de 22 a 60 anos e a média Com isso, verifica-se que a sonolência do traba-
de idade de 38 anos; geralmente encontrada na faixa de lhador em turnos pode ocorrer devido a um tempo
23 a 44 anos com uma média de idade de 34 anos(24-26). total de sono insuficiente, ou a uma maior fragmen-
Em relação ao tempo que trabalhavam no plantão tação do sono(30).
noturno, 58% trabalhavam de um a dez anos; apre-
sentando similaridade com um outro estudo realiza-
do sobre estresse e trabalho do enfermeiro, no qual CONCLUSÕES
a maioria correspondente a 83% trabalhava continu-
No grupo estudado de 75 profissionais de Enfermagem
amente no turno noturno por mais de um ano(26). E os
dos plantões noturnos das UTIs do ICHC/FMUSP ve-
que trabalhavam em outra instituição eram 28%, sen-
rificou-se que:
do 12% enfermeiros e 16% auxiliares de Enfermagem,
diferindo do da literatura no qual a dupla jornada de • 33% eram enfermeiros, 66% auxiliares de Enfer-
trabalho ocorre em 72% dos casos(27). magem, sendo que 81% eram do gênero feminino.
No grupo estudado de 75 profissionais de Enferma- A idade teve uma variação de 22 a 60 anos (média
gem com o PSQI, sendo 25 enfermeiros e 50 auxiliares de 38 anos, desvio padrão de nove anos e mediana
de Enfermagem, verificou–se que 92% dos profissio- de 37 anos);
nais que obteve escores > 5 apresentam uma má qua- • com o PSQ, 92% dos profissionais de Enfermagem
lidade de sono. Por categoria verificou–se que 100% apresentam má qualidade de sono. E, quando con-
dos enfermeiros e 88% dos auxiliares de Enfermagem siderados por categorias profissionais, 100% dos
apresentam uma má qualidade de sono. Corroborando enfermeiros e 88% dos auxiliares de Enfermagem
com o estudo sobre ritimicidade biológica e qualidade apresentam má qualidade de sono;
do sono em enfermeiros; no qual se observa que o ní- • com a ESE, 70,67% dos profissionais de Enfer-
vel de qualidade do sono indicou má qualidade de sono magem apresentam uma SDE. E, quando con-
em 100% dos enfermeiros(28). Diferindo em relação a siderados por categorias profissionais, 72% dos
outro estudo, em que apenas 51,85% dos profissionais enfermeiros e 70% dos auxiliares de Enfermagem
apresentaram sono muito alterado, vale ressaltar que apresentam SDE.

einstein. 2008; 6(3):296-301


Avaliação do padrão de sono dos profissionais de Enfermagem dos plantões noturnos em Unidades de Terapia Intensiva 301

AGRADECIMENTOS  13. Fischer FM, Gomes JR, Colacioppo S. Tópicos de saúde do trabalhador: em
homenagem ao Professor Doutor Diogo Pupo Nogueira. São Paulo: Hucitec;
Agradecemos pela análise estatística de Ana Villares 1989.
Musetti; à Denise de Moura Campos Claro pela revi- 14. Lieber RR. Trabalho em turnos e riscos químicos: o horário de trabalho como
são das referências bibliográficas; à Mariane Inhau- fator interveniente no efeito tóxico [dissertação de mestrado]. São Paulo:
ser Riceti Acioli Barboza pela versão do resumo do Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Publica; 1991.
trabalho; à enfermeira Sandra Celidônia Silva por 15. Suarez EO. Ritmos circadianos: implicações clínicas. In: Reimão R. Sono:
acolher e proporcionar o encontro com profissionais aspectos atuais. São Paulo: Atheneu; 1996. p.237-48.
responsáveis e admiráveis; à  assistente social  Heloisa 16. Fischer FM. What do petrochemical workers, healthcare workers, and
truck drivers have in common? Evaluation of sleep and alertness in Brazilian
Helena Del Rovere pelo incentivo, dedicação e con- shiftworkers. Cad Saude Pública. 2004;20(6):1732-8.
fiança no trabalho e a todos os enfermeiros e auxilia- 17. Drake CL, Roehrs T, Richardson G, Walsh JK, Roth T. Shift work sleep disorder:
res de Enfermagem dos plantões noturnos das UTIs prevalence and consequences beyond that of symptomatic day workers.
do ICHC, que contribuíram para a realização e senti- Sleep. 2004;27(8):1453-62.
do a esse trabalho. 18. Inocente NJ, Inocente CO, Inocente JJ, Reimão R. Trabalho e sono. In: Sono:
atualidades. São Paulo: Associação Paulista de Medicina; 2006. p.101-2.
19. Oliveria TM, Coelho LC, Carvalho JS, Souza MM. Distúrbios do sono de turnos
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1. Presser MB.Toward a 24-hour economy.Science.1999;284:1178-9.
20. Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4a ed. São Paulo: Atlas; 2007.
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3ª ed rev atual. Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância da UFSC;
[tese]. Rio de Janeiro: Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães. Fundação
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