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pri 2008 Nasi Eduatdo Nailoua Teodor os dios dea cdi reservados 3 | Edita Conteto (Editors Pincy Leda) | Capae disgramaio Gasevo 5, Vila Bons Prepare ders * Daniela Main Ivamnoro Revie en Aquino | Datos nteacionas de Catalogaio na Publicagio (CIP) (Camara Bese do Livro, SP, Basl) AR Tinga Marto Eduardo Maloy xg) = sed 3 simp. ~Sio Paul: Context, 2010, Visios oe. hla ISBN S7s85-7244-3869 it | Linge. Maron, Miso Edu, | conse The pars aillogo steno 1. Linge 410 i Eprroxa Contmero Diteor eco Jane Psy | ‘Rua Dost His, 520 Alo da Lapa (5083-030 Sio Paulo ~s ame (11) 3882 5838 contexoledtoracontene.com br ‘wenmadizorconreto.combe Praia repens taal on paca Osinfatores serio procesadoe na forma da I. Sz Gerativismo Eduardo Kenedy Neste capitulo, apresenta-se em linhas gerais os principais aspectos que caracterizamacortentedeestudoslingiisticos conhecida como gertivismo. Analisaremos a concepeio de linguagem humana que norteia as pesquisas dessa corrente, bem como faremos uma exposigao da mancira gerativista de observar, descrevere explica os fatos das inguas natura. Teata-se de uma visio geral,introdutéria e simplificada, destinada ao estudante que conhece pouco ou nada sobre o gerativismo. Nas indicagoes bibliogréfica, apresentadas no fim do liveo,oleitor encontraré sugestées de leituras em portugues para prosseguir nos estudos sobre o assunto, A faculdade da linguagem A lingitstica genativa—ou genativismo, ou, ainda, gramdtica genativa—é uma corrente ddeescudos da céncia da linguagem que teve inicio nos Estados Unidos, no final da década de 1950, 2 partir dos trabalhos do lingiista Noam Chomsky, professor do Tastituto de “Tecnologia de Massachussets, o war. Considera-se o ano de 1957 a data do nascimento da lingtsticagerativa, ano em que Chomsky publicou seu primeirolivto, Esrucunasinndsicas. ‘Tatas, portano, de waa linha de pesquisa lingistica que jf possuicintiena anos de plena atividade e produtvidade. Ao longo desse meio século, o gerativismo passou por diversas modificagéesreformulacSes, que refletem a preocupacio dos pesquisadoresdessa corrente em elaborat um modelo teérico formal, inspirado na matemética, capaz de descrever e explicar abstratamente 0 que é ¢ como funciona a linguagem humana. A Tingiistica gerativa foi inicialmente formulada como uma espécie de resposta € rejeigdo 20 modelo behaviorista de desericio dos fatos da linguagem, modelo esse que foi dominante na lingiistica e nas ciéncias de uma mancira geral durante toda a 128 Manual de lingtistica primeira metade do século xx. Para os behavioristas, dentre os quais se destacava 0 lingiista norte-americano Leonard Bloomfield, a linguagem humana era interpretada como um condicionamento social, uma resposta que o organismo humano produzia ‘mediante os estimulos que tecebia da interagao social. Essa resposta, 2 partir da repeticao constante ¢ mecinica, seria convertida em hébitos, que caracterizariam 0 comportamento lingtistico de um falante. Vejamos, por exemplo, como Bloomfield (1933: 29-30) descrevia a maneira pela qual ums crianca aprendia 2 falar uma lingua: Cada criangl que nasce num grupo social sdquire habitos de fala e de resposta nos primeiros anos de sua vid, [..] Sob estimulagdo varada, a erianga repete sons voce. -] Alguém, por exemplo, a mie, produ, na presenca da crianga, um som que se assemelha a uma das slabas de seu balbucio. Por exemplo, ela diz dol! (boneca. ‘Quando esses sons chegam aos ouvides da erianga, sew habito entra em jogo e ela produ a slaba de balbucio mais préxima, da. Dizemos que nesse momento a crianga comer 2 imitar. [..] A visio e 0 manuseio da boneca e a audigéo ¢ a produsio da palavra doll (isto & da) ocorrem repetidas veres em conjunto, até que a erianca forma tum hibito.[..] Ela tem agora 0 uso de uma palavra. Para um behaviorista, a linguagem humana é exatamente 0 que descreveu Bloomfield: um fenémeno externo ao individuo, um sistema de habitos gerado como resposta a estimulos e fixado pela repetigio. Numa resenha feita em 1959 sobre 0 livo Comportamento verbal, escrito por B. F, Skinner, professor da famosa universidade de Harvard ¢ principal teético do behaviorismo, Chomsky apresentou uma radical ¢ impiedosa critica 4 visio comportamentalista da linguagem sustentada pelos bchavioristas. Na resenha, Chomsky chamou a atengio para 0 fato de um individuo hhumano sempre agi criativamente no uso da linguagem, isto é, a todo momento, os seres humanos estio construindo frases novas ¢ inéditas, ou seja, jamais ditas antes pelo préprio falante que as produziu ou por qualquer outro individuo. Por isso, todos os falantes so criativos, desde os analfaberos até os aucores dos clissicos da literatura, jé que todos criam infinitamente frases novas, das mais simples € despretensiosas as mais elaboradas e eruditas. Pensemos, por exemplo, na frase que acabamos de produairaqui mesmo neste texto. F muito provivel que la nunca renha ido proferida exatamente da maneira como o fizemos, bem como jamais seré dita navamente dda. mesma forma. Chomsky chegou a afirmat, inclusive, que a crasvidade € principal aspecto caracterizador do comportamento lingiiistico humano, aquilo que mais fandamentalmente distingue a linguagem humana dos sistemas de comunicacéo animal De acordo com esse pensamento de Chomsky, se considerarmos a criatividade a principal caracteristica da linguagem humana, entio devemos abandonar 0 modelo te6ricoemetodolégico do behaviorismo, jé que nele nao espago paraeventos criativos, pois, para lingtistas como Bloomfield, o comportamento lingiistico de um individuo deve ser interpretado como uma respasta completamente previsivel a partir de um dado cestimulo, tal como é possivel prever que um cio comecari a latir 20 ouvir; por exemplo, ‘osomde uma campainha caso tenha sido treinado para isso." Se obehaviorismo deve ser Gerotiisne 129 abandonado, como de fato foi apds a publicagio da resenha de Chomsky, o gerativismo se apresenta como um modelo capaz de supericlo e substitutlo, Com as suas idéias, Chomsky revitalizou a concepgéo racionalista dos estudos da linguagem, em oposigao franca ¢ direta 4 concepgio empiricista de Skinnes, Bloomfield ¢ demais estruturaistas norte-americanos europeus. Para Chomsky, a capacidade humana de falar € entender uma lingua (pelo menos), isto é 0 comportamento lingiiistico dos individuos, deve ser compreendida como o resultado de um dispositivo inaro, uma capacidade genética e, portanto, interna 20 organismo humano (¢ no completamente determinada pelo mundo exterior, como diziam os bbehavioristas), a qual deve estar fincada na biologia do oérebro/mente da espécie ¢ & destinada a constiuir a competéncia lingistica de um falante. Fssa disposigéo inata para a competéncia lingitistica ¢o que ficou conhecido como faculdade da linguagem, Hi, de fato, muitas evidéncias de que a linguagem seja uma faculdade nacural 4 «spécie humana. Pensemos, por exemplo, que, excluindo-se 0s casos paroldgicos graves, todos os individuos humanos, de todas as racas, em qualquer condigZo social, em todas as regides do planeta eem todos os tempos da histéria foram es4o capazes de manifestar, 20 cabo de alguns anos de vida ¢ sem receber instrugao explicita para tanto, uma compecéncia lingitistica ~ a capacidade natural ¢ inconsciente de produzir e entender frases. E notivel que nenhum outro ser do planeta, a no ser 0 proprio homem, seja ‘apaz de dominarnaturalmente um sistemadelinguagem tio complexo comouma lingua natural mesmoapés muitosanos detreinamento. Enemmesmoo mais potentecarrojado dos computadores modernos ¢ capaz de reproduzir artificalmente os aspectos mais clementaresdo.comportamento lingiistico deuma crianca de menos de3anosde dade, ‘como ctiar ou compreender uma frase completamente nova. Nao ¢ por outta razo que a faculdade da linguagem é a caracteristica mental ‘mais marcante que separa os humanos dos demais primatas superiores ¢ do resto do mundo natural. O papel do gerativismo no seio da lingiistica ¢ constituir um modelo tebrico capaz de descrever e explicar a naturera e o funcionamento dessa Faculdade, 0 ‘que significa procurar compreender um dos aspectos mais importantes da mente Jhumana, como afirmou o préprio Chomsky (1980: 9): ‘Uma das razbes para estudar a linguagem (exatamtente a nacio gerativita) ~ para mim, ppessoalmente, a mais premente delas~€ possibilidade instigante de ver alinguagem como lum “espelho do espiito”, como diz a expressio tradicional. Com isto nZo quero apenas dizer que os conccitos expressados e as distingGes desenvolvidas no uso normal da linguagem nos revelam os modelos do pensamento ¢ o universo do “senso comuln” conseruidos pela mente humana. Mais instigance ainda, pelo menos para mim, ¢ 2 ppossibilidade de descobrir, através do estudo dalinguagem, prine(piosabstrtos que gover- ‘pam sua éstrutura € uso, principios que sio universais por necewidade biolégica ¢ nao por simples acidente histérico, ¢ que decorrem de caracteristicas mentais da -espécie humana. Com o gerativismo, as linguas deixam de ser interpretadas como um comportamento socialmente condicionado ¢ passam a ser analisadas como uma faculdade mental natural. A morada da linguagem passa a ser 2 mente humana. 130. Monual de ingtistica O modelo tedrico \Naruralmente, apenas postular a existéncia da faculdade da linguagem como tum dispositive inato que permite 20s humanos desenvolver uma competéncia lingiistica nao rgsolveria todos os problemas da lingifstica gerativa. Era (€ ainda &) preciso descrever exatamente como € essa faculdade, como cla funciona ¢ como é possivel que ela seja geneticamente determinada se as linguas do mundo patecem tio diferentes entre si. Para dar conta dessa aparente contradigio entre a hipétese da faculdade da linguagem ¢ as milhares de linguas existentes no planeta, os lingtistas da corrente gerativa vém elaborando teorias que procuram explicar 0 funcionamento da linguagem na mente das pessoas. Ao observar os fatos das Iinguas nacurais, um gerativista faz-se perguntas como: +O que hé em comum entre todas as inguas humanas e de que mancira elas diferem entre si? + Em que consiste o conhecimento que um individuo possui quando ¢ capaz de falar e compreender uma lingua? ‘= Como 0 individuo adquire esse conhecimento? ‘= De que mancira esse conhecimento ¢ posto em uso pelo individuo? * Quais sio as sustentagées fisicas presentes no cérebro/mente que esse conhecimento recebe? Para procurar responder a perguntas como essas, a lingistica gerativa propée- se a analisar a linguagem humana de uma forma matemética e abstrata (formal), que se afasta bastante do trabalho empirico da gramética tradicional, da lingtifstica estrutural ¢ da sociolingiiistica, © se aproxima da linha interdisciplinar de estudos da mente humana conhecida como ciéncias cognitivas. A mancira pela qual tis perguncas ‘yém sendo respondidas constitul o modelo reérico do gerativismo. ‘Ao longo dos anos, lingiistas de todas as partes do mundo (inclusive do Brasil, desde a década de 1970) cém trabalhado na formulagio e no refinamento do modelo tedrico gerativista. O mais importante deles éo proprio Chomsky, mas existem muitos estudiosos que dele discordam e acabam formalizando modelos alternatives, que as ‘veres divergem crucialmente du modelo chomskyano, Nao ha qualquer dtivida de que Chomsky seja néo s6 0 criador como, principalmente, o mais influente teérico da lingiifstica gerativa — e um dos mais importantes estudiosos da linguagem de todos os tempos ~, no entanto nfo se deve tragar um sinal de igual entre Chomsky o gerativismo. E muito comum encontrarmos gerativistas que nilo sio chomskyanos, apesar de que, quase sempre, ser chomskyano significa ser gerativista. Vejamos a seguir as principais caracterfsticas dos modelos chomskyanos (e convidamos o leitor, 20 avangar em seus estudos, a conhecer os modelos diferentes). Geraivisne 13) A gramatica como sistema de regras A primeira elaboragao do modelo geratvista ficou conhecida como graméticz sransformacional e foi desenvolvida c reformulada diversas vezes durante as décadas de 1960 € 1970. Os objetivos dessa fase do gerativismo consistiam em descrever como os constituintes das sentengas eram formados e como tais constituintes tansformavam-se em outros por meio da aplicasio de regras, Por exemplo, a sentena “o estudante leu o livro” possui cinco itens lexicais, que esto organizados entre si através de relagées estruturais que chamamos de marcadores sintagmdticos, e tais marcadores poderiam softer regras de transformagio de modo a formar outrassentengas, como “o livro foi lido pelo estudante”, “o que o estudante leu2”, “quem leu o livro?”, etc, Ou seja, os gerativistas perceberam que as infinitas sentengas de uma lingua eram formadas a partir da aplicacio de um finico sistema de regras (a gramética) que ‘ransformava uma estrutura em outra (sentenga ativa em sentenga passiva, declarativa em interrogativa, afirmativa em negativa, etc.) ~ e € precisamente esse sistema de tegras que, ento, se assumia como o conhecimento lingiistico existente na mente do falante de uma lingua, 0 qual deveria ser descrito e explicado pelo lingiista gerativista Vejamos um exemplo. A sentenga (6) “o aluno leu o livro” & formada pela rela¢io estrutural entre o sintagma nominal (sx) “o aluno” ¢ o sintagma verbal (sv) “Jeu o livre”. O sw é formado pelo determinante (pr) “o” e pelo nome (x) “aluno”; © 0V; por sua vez, é formado pelo verbo (¥) “leu” e pelo outro sw “o livro”, o qual se forma também por uma relagio entre DET e N, no caso “o” ¢ “livro” respectivamente. ‘Toda essa estrucura sintagmatica pode ser mais claramente visualizada no esquema abaixo, denominado diagrama arbéreo (ou, simplesmente, drvore), que & a farnosa mancita pela qual os gerativistas representam estruturas sintticas. a 2 estate mf N Figura 1: representagao arbérea, 132 Manual de ingtistica Essas regras de composiclo sintagmaética explicam como uma estrucura simples como esta é gerada, mas nao so suficientes para explicar como uma outra estrucura. relacionada, como a voz passva, seria formada a partir da estrutura de base, no cas0, 2 vor. ativa, Para dar conta da relagio entre estruturas diferentes, mas relacionadas, os gerativistas formularam as regas transformacionais, Essencialmente, uma transformacio forma uma ‘estrutura partir de uma outra previamente existente. A estrucura primeiramente formada é chamada de estrusura profnda a estuvura dela derivada chama-se estrurura superficial. esse sentido, a vor ativa ¢ interpretada como a estrutura profunda sobre a qual sio aplicadas as regras transformacionais que geram a voz passiva a estrutura superficial ° estudante leu ae esmmutunapnorunoa © Ne REGRAS DE TRANSFORMAGAO |. selegdo do verbo ‘ser’ +"patcjpio':2. movimento do objeto para a posigao de svjeto; '3, manifestapao do agents como Sintagma Preposicionado (SP) ESTRUTURA SUPERFICIAL Figura 2: transformagao passiva. Gerctivemo 133 Na década de 1990, a idéia da transformacio de uma estrutura profunda numa estrurura superficial seria abandonada em favor de uma visio que nio mais representava estruturas, ¢ sim as derivava ~ mostrando os passos pelos quais uma estrucura € formada (derivada) sem que ela tenha de ser comparada com uma outra escrutura independente. Nao obstante, a idéia das transformagbes como operagses computacionais (fendmenos sintéticos) que derivam sentengas ¢ o tépico central da pesquisa gerativista até o presente momento, Outro centro de atengéo dos geativstas sempre foi compreender como é possivel aque os falantes de uma lingua tenham insuigées sobre as estruturas sintéticas que produzem e ouvem. Por exemplo, todo falante nativo do portugués sabe que uma frase como “quantos livros voc ji escreveu?” 6 perfeitamente normal ¢ pode se falada por qualquer um de nés sem causar estranhamento. Tiata-se, porranto, de uma frase ‘qramatical, normal na lingua. Esse mesmo falante do portugués também sabe, pela ‘sua intuigéo, que uma frase como “*que livro vocé conhece uma pessoa que escreveu?” néo € normal, é estranha, € uma frase agramarioal da lingua (e, por isso, aparece antecedida do asterisco, que indica a agramaticalidade). (Ora, como € que o falante sabe disso? Como ele consegue distinguir uma frase ‘gramatical de uma frase agramatical em sua lingua? Nore bem: estamos falando de tum conhecimento implicito, inconsciente e natural acerca da Mngua que todos os falantes nativos possuem, e no das regras da gramatica normativa que aprendemos na escola, Na escola nunca so anelisadas construges como a frase agramatical citada. [/a) quantos livos voce jé escveu? > gramaticl = | b) * que livro voct conhece uma pessoa que escreveu > agramatical Um outro exemplo: na sentenga “Jofio disse que ele vai se casar”, todo falante nativo de portugués sabe que 0 pronome “ele” pode referir-se tanto a Joo quanto a ‘outta pessoa qualquer (do sexo masculino), diferente de Jodo ¢ citada anteriormente no discurso — isto é, a fiase pode dizer que 0 proprio Jogo vai se casar ou que um outro homem vai se casar. Mas na frase “Ele disse que Jodo vai se casar”o falante sabe aque “cle” ndo pode ser a mesma pessoa que “Jodo” — ¢, nesse caso, a frase diz somente que Joio vai se casar. Todas os falantes de portugues conhecem inconscientemente ‘essas pequenas regras que acabamos de descrever eé por isso que entendeme produzem as frases de sua lingua, Mas como isso € possivel? Como podemos saber essas coisas se ninguém nos ensina explicitamente como a lingua funciona? Esse conhecimento lingifstico inconsciente que ofilante possui sobre sua lingua ‘que Ihe permite ossas intuigdes ¢ 0 que denominamos comperéncia lingtistica — 0 conhecimento intemo cticito das regras que governam a formacio das frases da lingua. A competéncia lingtifstica néo é a mesma coisa que o comportamento lingtifstico do 134 Menual de ingtistica individuo, aquelas Frases que de fato uma pessoa pronuncia quando usta lingua. Esse uso concreto da lingua denomina-se desempenho lingiética (também conhecide por ‘performance ou, ainda, atuacao) e envolve diversos tipos de habilidade que nao sio lingiisticas, como atengao, memoria, emogio, nivel de stress, conhecimento de mundo, etc. Imagine quevocé desejava pronunciara frase “Vou tentarasorte”, mas enroloualingua cacabou dizendo “vou tentaratorte”. Ora, oqueaconteceu foiapenas umerro de exccucio, com a preservagit do segmento /t/ no inicio da palavra “sorte”, 0 que no significa queseu conhecimento sobreo portugués tenha sido abalado, © que ocorteu nio foi um problema de conhecimento, mas de uso, de desempenho, de performance da lingua, Classicamente o interesse central das pesquisas gerativistasrecai na comperéncia linguistica dos falantes ~ muito embora s6 se possa ter acesso a ela através do desempenho -, pois essa competéncia que torna o individuo capaz de falar € compreender uma lingua. De acordo com essa abordagem, é somente através do ceseudo da competéncia que serd possivel elaborar uma reoria formal que explique 0 funcionamento abstrato da linguagem na mente dos individuos. Em razio desse inceresse central na competéncialingtistica, os estudos cléssicas do gerativismo nao costumam usar dados linglfsticos reais (performance) retirados do uso concreto da lingua na vida cotidiana. O que interessa fundamentalmente a0 gerativistao funcionamento damente que permiea geragao das estruturas lingiisticas bservadas nos dados de qualquer corpus de fala, mas nfo lhe interessam esses dadosem si mesmos ou em fungio de qualquer fator extralingitistico, como 0 contexto comunicativo ouas variveis sociais que influenciam ouso da linguagem. Os gerativiseas tusam como dados para as suas andlises principalmente (1) testes de gramaticalidade, nos quis frases sZo expostas@ falantes nativos de uma lingua, que devem utilizar sua intuigdo ¢ distinguir as frases gramaticais das agramaticas, ¢ (2) a ineuigdo do préprio lingiista, que, afinal, também é um falante nativo de sua prépria lingua, Nao obstante, os gerativistas que fazem pesquisas aplicadas (psicolingiistas, neurolingiistas, et.)* também observam os dados do uso da lingua, em sicuagio natural ou em situaco experimental, procurando extrair deles informagoes para 0 modelo de explicacio da competéncia lingifstica. Por exemplo, esses gerativstas se interessam por (1) testes ¢ experimentos psicolingtifsticos, com pessoas de todas as idades, nos quais os informances so levados a produzir ou interpretar determinados tipos de estruturas lingifsticas; (2) cestes ¢ experimentos de aquisigfo da linguagem com criangas, além de gravacées da fala natural destas; (3) cestes experimentos neurolingiifsticos através dos quais se observa 0 funcionamento do cérebro quando em atividade lingiistica ¢ também o desempenho lingiistico de pacientes affsicos (pessoas que possuem dificuldades no desempenho lingiiistico em decorréncia de uma lesio cerebral, na maior parte das vezes); (4) evidéncias das mudancas lingiisticas por que passam as linguas, como uma maneira de compreender 0 que ocorre com 2 Geratvisme gramitica quando algum de seus componentes se transforma a0 longo do tempo, perdendo ou ganhando formas. Esse timo tipo de anilise geratvista ¢ 0 que mais se aprosima da lingiistica baseada em dados concretos do uso da lingua (corpus). No Brasil, erabalharam e trabalham nessa linha, que ficou conhecida como sociolingitistics pparamética, lingistas de importinciaereconhecimento internacional como Fernando Tarallo, Mary Kato, Maria Eugénia Duarte, entre outros. A gramadtica universal: principios e parametros Com a evolucéo da lingiiistca gerativa no infcio dos anos 1980, a idéia da competincia lingistica como um sistema de regras especificas cedeu lugar & hipsrese dda gramatica universal (GU). Deve-se entender por GU 0 conjunto das propriedades .gramaticaiscomuns compartilhadas| portodasas|inguasnaturais, bem comoasdiferencas cette elas que slo previsiveis segundo o leque de opgées dispontveis na propria cu. A bipdrexeda GU representa um refinamento danogio de aculdade da inguagem sustentada pelo gerativismo desde o seu inicio: a faculdade da linguagem ¢ o dispositivo inato, presente em todos os seres humanos como heranca bioldgica, que nos fornece um algoritmo, isco é, um sistema gerativo, um conjunto de instrusbes passo a passo ~ como fas inscritas num programa de computador — 0 qual nos torna aptos para desenvolver (ou adquirir) a gramtica de uma lingua. Esse algoritmo é a Gu. ara procurar descrever a natureza ¢ 0 funcionamento da Gu, os geratvistas formularam uma teoria chamada de principios ¢ pardmetres. Essa teoria possui pelo ‘menos duas fases: a fase da teoria da regéncia © da ligasdo (TRL), que perdurou por toda a década de 1980, e o programa minimalista (PM), em desenvolvimento desde 0 inicio da década de 1990 até o presente. ‘As pesquisas da teotia de principios ¢ pardmetros foram e sio desenvolvidas sobretudo na drea da sintaxe, pois € exatamente nas estruturas sinciticas que mais ‘evidentemente se percebem as grandes semelhangas entre todas as linguas do mundo, ‘mesmo entre aquelas que niZo possuem nenhum parentesco, 0 que facilta o estudo da Gv, Porexemplo, todasas linguas do mundo possuem estruturas como oragbesadjetivas, oragGes interrogativa ¢fungées sineiticas como sujeto, predicado, complementos. 'A posibilidade de etadar a sintaxe solada dos demais componentes da gramdtica (éxico, fonologia, morfologia, seméntica) € conseqiténcia de um conecito fundamental dogerativismo, ode gramdriea modular. Segundo ele, os componentesda gramdticadeven set analisados como médulos auténomos, independentes entre si, no sentido de que sto governados por suas pe6prias regras¢ no sofrem influéncia dire dos outros médulo Isto 6,0 funcionamento de um médulo como, digamos, a sintaxe, ¢ cego em relagio 3s copcracBesda fonologia, por ecemplo, Naturalanente exstem pontos de intesesio entre os méclulos da gramética, afnal a sintaxecriasintagmas e sentencas a partir das palavras do 136 Manuai de Ingtistea: Iexico, ¢ o produto final da sintaxe (a sentenga) deve receber uma leitura fonolégica e sambém uma interpretaco semintica bisica, que no geativismo se chama forma ligica. Podenmos visualzar essa interagéo entre os méculos da gramirica no esquema a seguit ae Se Se [_FoNoLociA | |__SEMANTICA_ | Figura 4:0 modelo de gramatice, Nessa ilustragio, vemos que o elemento central da gramética é a sintaxe, Ela retira do léxico as palavras com as quais construird, segundo suas proprias regras, estruturas como sintagmas e sentengas, que da sintaxe so encaminhadas & preparacio para a proniincia, no médulo fonoldgico, e para a interpretacdo formal, no médulo semantico. Nessa mancira de compreender ofuncionamento da gramatia, a morfologia € interpretada como parte do léxico, jé que dé conta da esteutura interna da palavra, também como parte da fonologia, uma ver que deve dar conta das alterages mérficas fonologicamente condicionadas. No programa minimalista atual, entendemos por “principio” as propriedades ‘gramaticais que sio vilidas para todas as linguas naturais, a0 passo que “parimetro” deve ser compreendido como as possibilidades (limitadas sempre de maneira bindtia) de variagdo entre as linguas. Por exemplo, quando analisamos 2s sentencas (a) “Joo disse que ele vai se casar” ¢ (b) “Ele disse que Joo vai se casat", vimos que em (a) 0 Pronome “cle” pode referirse tanto a “Joio” quanto a qualquer outro homem anteriormente citado no discurso, mas na frase (b) “ele” nao pode se refer a “Joao” ¢ ‘necessariamente faz referéncia a um outro homem. Essa diferenciagio entre a referencialidade do pronome “ele” nas duas frases pode ser explicada da seguinte maneira: nesse contexto, 0 pronome faz referencia a algum elemento que precisa ter sido citado anteriotmente no texto ~ trata-e de um pronome anaférico. E um principio da cv que uma andfora necessariamente deve suceder o seu reférente, ¢ nunca 0 contrétio. E por iso que na frase (a) “ele” pode ser tanto “Joo” quanto outro homem cicado numa frase anterior, jd que ambos os termos antecedem 0 pronome. Jé no caso de (b) “Jodo” ndo pode sero referente de “ele”, pois © pronome antecede © nome. Se traduzissemos (a) e (b) para qualquer lingua do ‘mundo, 0 resultado seria sempre o mesmo: em (b) seria impossivelligar 0 pronome 20 nome citado, mas em (a) isso pode ocorrer.Teata-se, portanto, de um principio da GU, exatamente igual em todas as linguas nacurais. Gerativsmo 137 ‘Vejamos agora um exemplo de parimetto. Se considerarmos que o valor semintico bésico da frase (a) seja, digmos, algo como “Joio disse que ele mesmo, 0 préprio Jodo, vai se casar", saberemos que “ele” se refere a “Joao”. “Joao” é o sujeito ta oragso principal, ¢ “ele” é 0 sujeito da oracio subordinads, Dizemos, entio, que 0s sujeitos das duas oragées so correferenciais. © que € interessante nesse exemplo & ue sujeito da segunda orasio poderia nZo ser preenchido por um pronome anaférico, isto ¢, 0 sujeito da orasio subordinada poderia ser oculto ~ que na lingifstica gerativa chamamos tecnicamente de sujeto nulo (representado aqui informalmente pot @) — como ocorre na sentenca (@) “Joio disse que @ vai se casa ') Joao disse que ele vai se casar ("le” > sujeito preenchido) it!) Jodo disse que @ vai se casar (“” > sujeito nulo) Podemos dizer que a lingua portuguesa se caractetiza por suportar a ocorréncia de sujeitos nulos, como ocorre também nessas frases “@ sai ontem”, “O fomos 20 cinema’, “O fz 0 tabalho?”, “O choveu ontem’, et. Tanto nesses casos quanto na cragio subordinada em (i), 0 sw sujeito do sv predicado nao possui nenhum elemento Pronunciado, esta vazio, nulo, como se ilustra na sentenga (S) abaixo. e val se casar sal ontem choveu hoje Figura 5: pardmetro do sujelio no (=). Deizarosujcito nuloéuma propriedadedo portuguésctambein de outraslinguas, come o espanol, 0 italiano, mas essa propriedade nio & comum a todas 2s inguas ‘humanas. Se traduzfssemos as sentengas do quadro acima para linguas como o inglés ¢ © francés, terfamos necessariamente de preenchet 0 SW sujeito comn um elemento Pronominal, pois nessaslinguas o sujeito nulo é uma eserutura agramatical. A frase (i), orexemplo, sé poderiaapresentas,em inglés, o pronome anafgrico he,e nunca osujeto nulo “O”, independentemente da referencialidade da andfora pronominal ou zero: @ John said that he is going to get married (i) * John said that @ is going to get married Acexisténcia de sujeitos nas sentengas é um princfpio da Gti, masa possibilidade de deixé-los nulos nas frases é um parimetro da Gu, pois inguas como o portugués se ‘aracterizam como [+ sujeito nulo), enquanto linguas como inglés sio[~sujeito nulo). Eporessarazio que dissemos que osparimetros quediferenciam aslinguassio previsives edistribuidos sempre de maneira binéria (+ ou—o parimetro.x).O léxico, por exemplo, 138 Manual de ington fo € um fator de diferenciacio entre as linguas que possa ser interpretado como opsio paramétrica, j4 que o Kéxico € sempre arbitrétio e, por isso mesmo, imprevisvel. sn “ev He Isgong wentout it rained _ 1098 yesterday today ‘marted Figura 6: pardmetro do sujeio nul (). ‘Ao compararmos as figuras 5 ¢ 6, petcebemos que somenteIinguas como 0 portugués (¢ também o espanhol, o italiano, etc.) permitem o sujeito nulo “”, casos que conhecemos pela gramética tradicional como sujeito aculto, indeterminado inexistense. Como indicaa figura6, linguas como o inglés (bem como o francés, oalemo, tc.) nao permitem o sujeito nulo eexigem o preenchimento do sw sujeito da frase nem. que seja com um pronome expletivo (sem contetido semantico), como o it do inglés. O projeto da lingiistica gerativa éobservar comparativamente as Iinguashumanas— com os seus milhares de fendmenos morfofonoldgicos, sintéticos, semanticos e sua suntuosa complexidade — com o objetivo de descrever os prinefpios es parimetros da Gu quesubjazem & competéncia lingiifstica dos alantes, para, assim, poderexplicar como €a faculdade da linguagem, essa parte nosivel da capacidade mental humana. O Foxp2 € a genética da linguagem Em outubro de 2001, um geneticista inglés chamado Anthony Monaco, professor da Universidade de Oxford e integrante do Projeto Genoma Humano, anunciou a descoberta do primeiro gene que aparentemence esté destinado a controlar a capacidade lingistica humana: 0 FOxP2. Monaco estudou diversas geragées da familia K. EB, € constatou que todos os seus membros possulam distrbios delinguagem que no estavarm associados a algum problema fisico superficial como lingua presa, audigio inefciente ee Esses distiirbios diziam respeito & conjugacio verbal, a distribuicdo ¢ & referencialidade dos pronomes, a daboracio de estrututassintéticas complexas, como as oragées subordinadas. O interessante é que 0s avés, pais, filhos e netos da familia K. E. no possuiam aparentemente nenhum outro distisbio cognitivo além desses problemas com o sistema lingiistico. Monaco analisou amostras de DNA dessa familia e descobriu que uma tinica unidade de tna de um sé gene estava corrompida, O Foxr2 é um dos setenta genes diferentes que compéem o cromossomo 7, que é responsivel pela arquitetura genética do cérebro humano. Esse gene, 0 FOX?2, possui 2.500 unidades de DNA, ¢ s6 uma delas presenta problemas na genética da familia K. E. Monaco estava quase certo de que esse gene deveria ser responsivel pla capacidade genética asociada ’ inguagem, cteve certeza Geratvisno 139 disso quando descobriu 0 jovem inglés C. S., que nfo possufa parentesco com os K.E., mas apresentava os mesmos distiirbios lingiifsticos que os membros dessa familia. Monaco analisouo Foxr2 de C.S. econstatouo que presumia: CS. apresentava um defito na mesma uunidade de pva do Foxr2 deficiente da familia K. E. Daf o geneticista proclamou que pode ser a descoberta do primeito gene responsivel pela genética da linguagem humana. Independentemente de as pesquisas de Anthony Monaco serem confirmadas ‘ou nfo ~€ hd muitos geneticistas que as refutam —, 0 importante é que elas abriram. ou aprofundaram a discussio, fora do ambito da lingiiistica gerativa, sobre as bases genéticas da linguagem humana. © roxr2 ¢ um gene existente também em outros primatas, como chimpanzé e gorilas, mas em quantidade muito reduzida — e isso pode explicar a limitada capacidade de comunicagio lingiistica desses animais. De fato, se 6 mapeamento dos genes humanos apontar, como a hipétese Foxr2 esboga, a existéncia de genes cuja fungao na genética de nossa espécie é controlar 0 uuso de pronomes, a construcio de oragdes subordinadas, a flexio de verbos, etc., entéo a faculdade da linguagem e sua disposigéo na GU através de principios € parimetros podem passar a ser considerados ndo mais hipéteses abstratas mas sim fatos do mundo natural. Conseqiientemente, a lingiistica gerativa serd a corrente da ciéncia da linguagem que travard forte didlogo com as ciéncias naturais. Exercicios 1) Em seu ive © snstnt da linguagem, linglstae pscélogo nore-amecicano Steven Pinker aiemou {gocallinguagem natural é um instinto da espéie humana, uma capacidale que herdamos da nacurera. Para Pinker, assim como as aranhessio naturalmente programadas para tcce tis, os humanos 0 programados para falar (pelo mens) uma lingua. Explique por que esa afiemagio de Pinker deve ser considerada coerente com os fundamentos da lingtistica gerativa. Vocé cancorda, em parte it completamente, com a afirmagio do psicSlogo-lingisa? Ve nela algun exagero? Comet. 2) Lea as senteneasabaixe. Ponha um ateisoo antes daquels que considers, segundo a sua intigfo, agramaticaise screva OK depois daquelss que considerar gramaticais, Lago apés explique: de onde vem essa intuigo sobre a fases da lingua? 2) Purce que os alunes esto cansados. ') Os alunos, parece que estéo cansados, . } Os alunos parecem estar cansados. 4) Os alunos parecem escrem cansados. ) Paece os alunos estarem cansados. £ Parece os alunos estar eansados. 2) Os alunos, parece que eles estio cansados, 3) No final da festa do aniversiro do seu filho, dona Maia ia anunciar que estava na hora de corar 0 bolo edisea segue ease: “Vamos, gente, esi na hora de hort o coll”. A prépiafalanse iu do que disse e corgi a fate logo depos. O ert lingeice que dona Mara comereu deve ser explicado como tim problema na competicie ox no dereipenho lingo? Explique. 140 Monual de ingdistica 4) Observe 0 que diz John Lyons a epeito da propriedade lingisica da produtividade: 0 que éimpresionane na produsvidade das Kinguas natura, na medida em que & marifero ia estrutucagramaical,é a eatema complexidade e heterogencidade dos principos que 2 ‘mantém ¢ constitem. Mas, como insists Chomsky, eta complexidadee heterogeneidade nfo 6 ives: & eid por rep, Dentro dos limites exabelecidos pales reas da gramica, que so em parte wives cm pate expeticos de detrminadaslingus, ofan natvos de uma lingua ea Hberdade de agi caivamente ~ de urna mancira que Chom clasificaria de dissncvamence humana ~ construindo um nimeto indefinide de enunados.” (Lyons, 1987: 34) Eplique o que & 2) ctvidade como qualidade distincvaments humana ¢ b) eiativdaderegida or gras 5) O estaturaisme lingiicoconccbia ingagem humana como uma forma de comportamento, € «ster interpreta como “uma respost fsildpca a essimulos exes, podendo er condicionado «eprogramado ~ da mesma forma que aos de lboratrio podem ser tcinados a puxar uma lavanea para obter comida! (O Globo, 2000: 414). Bxpigue por que © gerativismo pode ser incerprecado como um modo de andl ingen radicalmence oposto 20 modelo estrturlist/bchaviorisa 6) Observe os dados do inglés do epanhal asi. Leve em consderaio também 2 ado desas frases pra o portugs.Explique ocomportamento dos sujet edos bjetos (nus ou prenchidos) esas rs lingua de acodo com as noges de prinepios e parimets Tnglés Espanhol Did you see Jobe? | Ta vise a Juan? Tn. voct vin Jomo? | Voed via Joio? Yes, Taw him. Si, yo lo vi Sime vio Sim. eu ovi Yes, Law, Silo vi Siac vO Sim, Gov Yes, saw him, * Si yo vi Sim, Ovo Sion ex i Yes, saw, *Sisvi Sim, OO Sia, 10 7) Bxplique por que descobertas genéscas como a do gene Foxt2 e pesquisas em neurolingistica em pricolingiistica em geralsio uma forma de pdr & prova, para refutar ou confirma, a validade pistemoligica das hipéweses da lingistia geraiva, Notas ° Yau mor cancenag da pte hair supe pe pilose, er Mehler Depot 0980) * Cabra oe or ioe de pilings, de nevis degli hii oso condos SSladnemen nb amis gate Bosom inners pergudors donno no formalist ns es. ‘Sama cosinvidunqu aku de expen cents see fir or nrc come £0 oo oul ou por ames aio pa pee me pra

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