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A Funcì Aìo Esteìtica e Social Do Espacì o Nas Literaturas Cabo-Verdiana e Nordestina Brasileira
A Funcì Aìo Esteìtica e Social Do Espacì o Nas Literaturas Cabo-Verdiana e Nordestina Brasileira
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Editor
João Camilo dos Santos
Associate Editor
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Editorial Board
Francis A. Dutra Eduardo Paiva Raposo Elide Valarini Oliver
Advisory Board
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Onesimo Teotonio Almeida George Monteiro
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Ivo Castro Roderich Ptak
Inês Duarte Anne‑Marie Quint
Joaquim‑Francisco Coelho Luiz Francisco Rebelo
Antonio Costa Pinto Carlos Reis
Francisco Cota Fagundes Silvina Rodrigues Lopes
Perfecto C. Fernandez Affonso Romano de Sant’Anna
Hélder Godinho Arnaldo Saraiva
Russel Hamilton Antonio Carlos Secchin
Randal Johnson Joel Serrão †
Eugénio Lisboa Candace Slater
Helder Macedo Douglas Wheeler
Wilson Martins Frederick G. Williams
Assistant Editors
Marcelo Moreschi, Ellen Oliveira, Ricardo Vasconcelos
Editorial Correspondence
João Camilo dos Santos, Santa Barbara Portuguese Studies
Center for Portuguese Studies, University of California at Santa Barbara,
Santa Barbara CA 93106‑4150 / FAX: 805‑893‑8341
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Angola
Solange Luis, Agostinho Neto’s Sacred Hope:
protest and revolt – the makings of a national culture 105
Xosé Lois García, La luz y las hogueras en la poesía de Agostinho Neto 111
António Manuel Ferreira, O diferente gostar de João Vêncio 121
Ana Lúcia Sá, Espaços insulares na literatura angolana:
Rioseco, de Manuel Rui 127
Francisco Salinas Portugal, The Detective Novel Reversed.
Crimes, accusations and investigations; the other Pepetela 135
Manuel Muanza, Lueji ou o simbolismo da máscara “mukishi” em Pepetela 143
Wanilda Lima Vidal de Lacerda, O olhar de Pepetela sobre Angola 153
Cabo Verde
Rui Guilherme Gabriel, Mar Caribe no Atlântico.
Poéticas da crioulização em Cabo Verde 163
Maria Teresa Salgado, Noites nada mornas de Dina Salústio:
a oportunidade do diálogo 169
José Luis Hopffer C. Almada, José Luís Tavares:
um percurso fecundo e luminoso na novíssima poesia caboverdiana 177
José Luís Tavares, Infância(s) revisitada(s) 191
Guiné
Moema Parente Augel, A vigilante poética de Tony Tcheka 199
Moçambique
Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco, Eduardo White:
uma viagem metapoética 207
Maria Nazareth Soares Fonseca, Imagens de nação
em romances de Mia Couto 215
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of the journal: jcamilo@spanport.ucsb.edu. The journal does not pay contribu‑
tors; each author will receive two copies of the issue in which his or her article
appears.
1. Celso Cunha and Luís F. Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo,
2nd ed., Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1985.
2. Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal, vol. 12, Lisboa: Verbo, 1990, pp.
190‑91.
3. Fernando Pessoa, The Book of Disquiet, trans. Alfred MacAdam, New York: Pantheon
Books, 1991.
4. François Castex, “Gentil Amor, un inédit de Mário de Sá‑Carneiro,” Revista da Biblioteca
Nacional. 2nd ser., 8 (1993), pp. 31‑45.
5. Eduardo Lourenço, “Os dois Cesários,” in Estudos Portugueses: Homenagem a Luciana
Stegagno Picchio, Lisboa: DIFEL, 1991, pp. 969‑86.
6. Helder Macedo, Introdução, Menina e Moça ou Saudades, by Bernardim Ribeiro, Lisboa:
Publicações Dom Quixote, 1990, pp. 7‑52.
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lowing style (including a short title if more than one work by the same author is cited in the
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Serrão, pp. 190‑91; Castex, p. 31; Lourenço, “Os dois, pp. 970‑71.
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tions.
João Camilo
Pires Laranjeira
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
0. Introdução
3. As mulheres
4. Tradições e variações
5. Variedades e exemplificações
é preciso partir
é preciso encontrar nosso filho zacaria
“Transparência da expressão”
excessivamente escura
brancos da terra
descendentes dos venerandos moradores de Santiago
filhos das secas e de outras intempéries
encurralados entre o salão e o quintal
(…)
Todos nós éramos
nobres rebentos
das gentes brancas
de tez clara
de tez escura
de lém vieira de quintal de tabugal
de pombal da boa entrada dos engenhos
de sedeguma de ganchemba
das casas dos neves dos levy carvalho
dos rodrigues fernandes dos carvalhal
dos reis borges dos galina monteiro
(…)
Lembras‑te, Loló
das lendas narradas
ao cambar do sol ao cair da noite
celebrando
a ilha ressurgida
das mil tormentas das mil afrontas
na insurgência dos evadidos
dos fujões dos rabelados
dos libertos dos homens livres
como negros vadios estigmatizados
perpetuados como badios como rebeldes
porém baptizados crismados ladinizados
arrancados às túnicas dos mouros
à nostalgia das savanas
dos baobabs dos cultos ao iran
e aos espíritos das florestas
à dolência do korá e do balafon
ao ritmo do corpo e da marimba
e assim libertos de exu
e assim sujeitos ao sujo a xúxu ao demónio
e assim limpos da boçalidade do tronco nu pagão
(…)
Todos nós éramos
artefactos de barro
por mãos rudes rigorosas
por mãos negras neolíticas
torneados
por mãos divinas
moldados
e inoculados com o sopro da alegria
Referências bibliográficas
Inocência Mata
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Portugal
Não há existência humana sem o olhar que dirigimos uns aos outros.
Jacques d’Adesky
nos anos 60, grupo heterogéneo a vários níveis – raça8, etnia9, origem
social, formação académica –, acompanhando‑o até 1991, O Signo
do Fogo discorre sobre o mesmo percurso de resistência anticolonial,
porém num grupo de jovens actuando no país, na cidade de Luanda,
igualmente com todos os constrangimentos exteriores ao grupo e os
“dissensos” surgidos entre os seus membros. Portanto, dois olhares
sobre um mesmo processo, duas formas de perspectivar a resistência
anticolonial longe dos cenários da guerra de guerrilha que começaria
em 1961.
Por isso, como disse em outro lugar (Mata, 2006, p. 287), é impor‑
tante trazer à “fala” explicativa e desmitificante um multiculturalis‑
mo em que uns “diferentes” – sobretudo os de identidade hifenizada
(Homi Bhabha) – se tornam mais visíveis do que outros, por razões
placidamente estéticas, que decorrem do perverso critério do mérito10,
noção que busca desqualificar as desigualdades, as assimetrias e as dis‑
criminações, acabando por concorrer, neste caso, para a naturalização
de uma situação de desequilíbrio que requer, no mínimo, um questiona‑
mento: a invisibilidade de um grupo de autores cuja representatividade
não pode ser ignorada no contexto de uma literatura cuja existência
foi (e tem sido) marcada por um funcionamento extratextual… Ora,
conhecendo a produção literária desses países, cá e lá, não me coíbo de
afirmar que as hegemonias culturais se vão transversalizando através
da literatura, consolidando hierarquias de outras categorias de anta‑
nho na construção de “formadores de sentidos” (Adesky, 2006, p. 121)
de identidades segmentais. Por outro lado, não é despicienda a ideia de
Walter D. Mignolo que, ao reescrever a semântica da expressão “razão
pós‑colonial” e substituindo‑a por “razão pós‑ocidental”, em Histórias
Locais/Projetos Globais (2000), afirma que a pós‑colonialidade se re‑
organiza em outros alicerces que intentam perpetuar a supremacia de
uma estrutura espácio‑temporal…
Haverá, certamente, quem veja nesta afirmação uma prisão a um
infértil e nefasto racialismo, a um “fascínio da raça” (Paul Gilroy).
Não seria de estranhar numa sociedade que durante muito tempo ele‑
geu a omissão como estratégia de combate ao preconceito e ao ra‑
cismo. Primeiramente direi que não serei original se afirmar que não
apenas as questões raciais são tanto invocadas como vivenciadas de
formas distintas em vários lugares, como nos diz Paul Gilroy (2007,
p. 11), como também o são em várias situações e sob diferentes pris‑
mas. Depois, julgo, na verdade, que falta um exercício menos apressa‑
do de justificação, e mais de explicação, afastado de lugares‑comuns
Referências bibliográficas
Notas
12. Julia Kristeva, Cahiers de Recherches (Paris), nº 13, 1984. Apud Carlos Reis,
O Conhecimento da Literatura, Coimbra: Livraria Almedina, 1995, p. 26.
13. Esta é uma ideia repetida. Duas ocasiões em que esta ideia foi referida
foram: (i) numa mesa‑redonda realizada no dia 7 de Dezembro de 2000, na
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o alemão “Lonha” interpelou
directamente Zeferino Coelho, da Editorial Caminho, sobre a questão;
outrossim, no dia 02 de Setembro de 2003, quando do lançamento dos
dois volumes de actualização do Dicionário de Literatura, de Jacinto Prado
Coelho e de Máximas Mínimas, de Suffit Kitab Akenat (São Paulo, Landy
Editora, 2003) na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Pires Laranjeira,
professor da Universidade de Coimbra, começou por expressar a mesma
ideia. Questionado, emendou o caminho face a contestações, reconhecendo,
na altura, a perversidade da ideia.
Eu e a minha terra não nos separamos. Não uso todo este material a
que felizmente tive acesso como uma fonte, onde vou debicar aqui ou
ali. Eu tento incorporar muito deste material e saber como foi... [...] eu
que sou uma mulher que só falo línguas imperiais... mas tenho ouvido
o som de outras línguas, e portanto, eu não faço cópias: trabalho, ca‑
nibalizo e devoro como muitos outros africanos fizeram. [...] Esse é o
trabalho que tento fazer: a incorporação de vários patrimónios, e se o
meu olhar para ver o mundo é aquela terra, aquele espaço, eu também
não estou cega ao resto do mundo [...] e estou aberta a todas as experi‑
ências do mundo (idem).
Referências bibliográficas
Boaventura Cardoso, Mãe, materno mar, Porto: Campo das Letras, 2001.
Ruy Duarte de Carvalho, Vou lá visitar pastores: exploração epistolar de um
percurso angolano em território Kuvale (1992‑1997), Rio de Janeiro:
Gryphus, 2000.
Discursividades supranacionais
Tudo mesclado
Novos tempos
Estórias e histórias
Referências Bibliográficas
Notas
Rebeca Hernández
Universidade de Salamanca, Espanha
a) O grupo da horta devia ter tardado, porque José, o seu kuka, ainda
estava a fazer a fogueira para a botwa de farinha (p. 62).
b) A nós não tem curpa! Ele que veio pruguntar, e gente veio com ele
para ver jimininu cum cão! A nós não tem curpa, só veio ver matar cão!
Não tem curpa! […] Num mata nós, num tira, patrão... Hi! (p. 39)
Referências bibliográficas
A ironia
Tipologias da ironia
As fronteiras da ironia
Método de trabalho
Referências bibliográficas
Bibliografia activa
António Lobo Antunes, As naus (edição “ne varietur”), Lisboa: Publicações Dom
Quixote, 2006.
António Lobo Antunes, O manual dos inquisidores (edição “ne varietur”), Lisboa:
Publicações Dom Quixote, 2005.
João Ubaldo Ribeiro, Viva o povo brasileiro, Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1984.
João Ubaldo Ribeiro, O feitiço da Ilha do Pavão, Lisboa: Publicações Dom
Quixote, 1999.
Mia Couto, O último voo do flamingo, Lisboa: Editorial Caminho, 2000.
Mia Couto, Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, Lisboa, Editorial
Caminho, 2002.
Pepetela, O cão e os caluandas, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1985.
Pepetela, A gloriosa família, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1997.
Bibliografia passiva
Paul Ricoeur, Do texto à acção — Ensaios de hermenêutica II, Porto: Editora Rés,
s/d.
Paul Ricoeur, Temps et récit, tome I, Paris: Éditions du Seuil, 1983.
Paul Ricoeur, Temps et récit, la configuration du temps dans le récit de fiction,
tome II, Paris: Éditions du Seuil, 1984.
Paul Ricoeur, Temps et récit, le temps raconté, tome III, Paris: Éditions du Seuil,
1985.
Paul Ricoeur, Ideologia e utopia, Lisboa: Edições 70, 1991.
Paul Ricoeur, Teoria da interpretação, Lisboa: Edições 70, 2000.
Paul Ricoeur, La mémoire, l’histoire, l’oubli, Paris, Éditions du Seuil, 2000.
Roger Kreuz e Richard Roberts, “On satire and parody: the importance of being
Ironic”, Metaphor and symbolic activity, Lawrence Erlbaum Associates,
1993, pp. 97‑109.
Referências bibliográficas
Notas
Referências bibliográficas
Notas
revela que eles assumem com convicção o papel do escritor como cons‑
ciência crítica da sociedade. Assim, o sentido de resistência e a amplitu‑
de simbólica de textos ficcionais que, a partir das margens, estabelecem
uma crítica profunda da organização social brasileira e angolana, dei‑
xam entrever um mesmo compromisso ético com os excluídos.
Referências bibliográficas
Notas
Virou o rosto para fugir à curiosidade dos filhos, benzeu‑se. Não que‑
ria morrer. Ainda tencionava correr mundo, ver terras, conhecer gente
importante como seu Tomás da bolandeira. Era uma sorte ruim, mas
Fabiano desejava brigar com ela, sentir‑se com força para brigar com
ela e vencê‑la. Não queria morrer. Estava escondido no mato como
tatu. Mas um dia sairia da toca, andaria com a cabeça levantada, seria
um homem.
− Um homem, Fabiano (pp. 24‑25).
Constantemente passava pela minha porta gente que fugia dos povo‑
ados de Norte‑a‑Baixo, em direção à vila. Era um cortejo lamentável
de homens, mulheres, crianças. Os animais domésticos faziam parte
do êxodo para outras regiões mais habitadas. Nelas, ao menos, havia
a consolança de um olhar de cristão no meio do drama lancinante.
Os meninos, com as barrigas inchadas sobre as pernas magras. E vi‑
nha tudo: o pote de barro, a cama de finca‑pé, as esteiras. A vaquinha
magra e as cabras do pé de porta não abandonavam os donos em tal
povoação. Os cachorros de língua de fora, farejando resto de osso para
enganarem a fome. (...) Homens e bichos não conheciam distâncias na‑
quela irmanação perante o destino comum (III, 13, p.155‑56).
Referências bibliográficas
Notas
1. Literatura colonial está sendo usada aqui no sentido que lhe atribui
Pires Laranjeira em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa,
Lisboa: Universidade Aberta, 1995.
2. A expressão está sendo empregada em sentido diverso do que lhe
conferem Paulo César da Costa Gomes e Rogério Haesbaert Costa
his African identity. At this time there is a call to celebrate nature and
traditions, as well as the ancestral past from which the intellectual
has been removed from by an urban life‑style and a European educa‑
tion. This generation calls upon the “assimilados” to ‘de‑assimilate’,
to ‘de‑Portugalise’ and to ‘re‑Africanize’. Although heavily watched
by Salazar’s fascist censorship, this generation of native intellectuals
searched for their native identity and their African origins – aiming at
finding contact with the masses: the ‘Africans’ who did not undergo the
‘Europeanization’ process of assimilation. They follow Cabral’s call for
re‑Africanization and cultural contestation as a necessary step for the
identification of the national elite with the cultural and social values
of the African masses. They attempt to speak for the subaltern masses.
The individualism and subjectivity that has been “hammered into the
native’s mind” by the colonialist bourgeoisie is now replaced by the
collective “everyone” (Fanon, p. 47). For Neto, in “we must return”,
the “liberated Angola / independent Angola” is for everyone; the col‑
lective permeates the whole poem, beginning with the title – “we must
return”: “to our rivers, our lakes / to the mountains, the forests / we
must return // To the coolness of the mulemba / to our traditions / to
the rhythms and bonfires (…) To the marimba and the quissange / to
our carnival (…) our land, our mother” (Neto, p. 77). Neto does not
limit the collective to Angola, but he extends it to the “we/of immense
Africa”, “of Africa united in love” (Neto, p. 41 and p. 43). For Neto,
the re‑africanization as well as the collective process happen in the form
of an African collective past that is not restrained to Africa only, but
extended also to all ‘Africas’ around the world. In his poem “greeting”
he greets all Africans, “brother of the same blood”, extending his greet‑
ings to “any black lost in the bush / any black in the streets and bush
villages”, being them all his “brother[s]” (Neto, pp. 29‑30).
But although Protest literature is subversive in its depiction of colo‑
nial oppression and misery, and although it offers some resistance to as‑
similation with its re‑Africanization agenda, it does not overtly call for
change. Whereas it is in the “just‑before‑the‑battle literature” (Fanon,
p. 222) that the ailments of colonialism are exposed and condemned,
it is only in the developments of this last phase that the native intel‑
lectual calls for combat – originating the term “Combat literature”,
used by Fanon, who also calls it the fighting phase. Perkins refers to
it as Fanon’s third phase: the “Revolt” phase (Perkins, 231). Here the
native intellectual “turns himself into an awakener of the people… he
feels the need to speak to their nation” (Fanon, p. 223). Sacred Hope is
Neto’s call for change, it is a collection of poems that “in the darkness
of nights”, sings “the throbbing existence / of days of sunshine” (Neto,
“a sucession of shadows”, pp. 21‑23). It yearns for change; it motivates
the people for it. Already in the first poem of this collection, Neto sets
the mood for change: “tomorrow we shall sing anthems to freedom /
when we commemorate the day of the abolition of this slavery” – “we
are going in search of light” (Neto, “farewell at the hour of parting”,
pp. 1‑2).
In this phase, the native intellectual no longer speaks to the op‑
pressor but to the oppressed. According to Fanon, “the artist / poet /
intellectual can’t go forward unless he realizes his estrangement from
his people” (Fanon, p. 226). Neto is well aware of this estrangement,
which is voiced in his poem “Friend Mussunda” where he speaks of
writing poems which Mussunda cannot follow. However, the poem’s
subject and Mussunda connect in the complicity of their “inevitable
slave past” (Neto, p. 34). This poem stresses the gulf between the intel‑
lectual who has been assimilated and the subaltern, but, most impor‑
tantly, it also stresses that there are different paths to liberation – a
homogeneous “we” that although traveling different paths, is one in its
dissatisfaction with the oppressive colonial system.
This change in consciousness and attitude also calls for a poetry
that will speak of a different kind of beauty, that of fighting and dy‑
ing for freedom. The intellectual is able to find poetry where it does
not exist – as Fanon had put it, “the crystallization of the national
consciousness will both disrupt literary styles and themes, and also cre‑
ate a completely new public” (Fanon, pp. 239‑40), and thus creating
a completely new literary style to help express a rising identity. The
intellectual, Fanon argues, “must realize that the truth of a nation are
in the first place its realities” (Fanon, p. 225); and that “it is around
the people’s struggles that African Negro culture takes on substance,
and not around songs, poems or folklore” (Fanon, pp. 234‑5). In this
phase, the past will be used “with the intention of opening the future”
(Fanon, p. 232).
For Fanon, the most important aspect of Combat Literature is that
it works as political catalysis to help give those who are colonized a
viable direction to liberation – it points the way, directs the masses –
it tells people that ultimately, everything depends on them (Fanon, p.
97). “Haste” is a poem that overtly calls people to “end this tepidness
of words and gestures”, “Let us start action vigorous male intelligent
/ which answers tooth for tooth and eye for eye / man for man / come
vigorous action / of the people’s army for the liberation of men / come
whirlwinds to shatter this passiveness” (Neto, pp. 73‑74). In this same
poem, Neto calls overtly for people to take their destiny at hand and
go into battle for it:
and, like the people, slept in huts. Neto’s role is perhaps one of the
most important in the Angolan revolution for he was present as a revo‑
lutionary poet who protested and later offered direction to his people
in his poetry; as a physician, a healer, who understood the ‘nervous
condition’ of the oppressed colonized; as a combatant and, most im‑
portantly and ultimately, as a national leader – becoming Angola’s first
president.
Neto understood, as Cabral did, that “to dominate a people is to
neutralize, to paralyze, its cultural life” (Cabral, p. 39); a National
Literature can only emerge and flourish out of the struggle for indepen‑
dence – free from the clutches of colonization.
Once Neto began armed combat, his pen was replaced by a firearm.
He now made “the hour of human transformations”, “happy in the
discomfort of today / on battlefields / in prisons, in exile / building
tomorrow, for a land ours a country ours / independent” (Neto, “with
equal voice”, p. 81).
Bibliographical references
Nota
1. “The land is ours, brother / resist / the time will come when / they will bow to
us / resist” (footnote nº 3, p. 67).
pasas sin dejar rastro. / La leña seca no te engendra, no tienes por hijas
a las /cenizas, mueres y no mueres”.
El fulgor de la tradición oral africana, transpuesta en el fuego, ad‑
quiere una serie de valores que transcienden con todo ese peso de los
diversos modelos de cultura que el africano ha ido tejiendo sin perder
el hilo de la tradición. Por tanto, las hogueras están dentro de unos
esquemas perceptibles cuando el más viejo de la aldea cuenta cuentos
referenciando vivencias de ese microcosmos tan simplificado y que se
va agrandando en conceptos y en ejemplos. El tan‑tan, de misterioso
lenguaje, emite en sus sones el ávido encuentro de tantas generaciones;
las danzas hacen revivir el alma pura de la Madre África, sustentadora
de esas llamas de la hoguera que invita a un frenesí sin limitaciones,
donde los espíritus frecuentan el resplandor y hablan por la boca del
hechicero. Donde los muertos tienen su presencia, configurando así
los recuerdos de generaciones que el tiempo no los oculta en su silen‑
cio. Las hogueras que sirven, también, para celebrar la pubertad de los
seres, en su exaltación más rendida al amor, entregándose a esa otra
llama que no se improvisa cuando el arrebato de la pasión produce
nuevas dádivas.
Pero las hogueras narradas en la poesía de Agostinho Neto tienen
una connotación social revestida de ese esplendor tradicional; con esas
frecuencias telúricas y ancestrales que marcan el ritmo de la palabra
poética. De toda esa sensibilidad operante que el espacio de las hogue‑
ras impone, Agostinho Neto, constata: “los corazones laten ritmos / en
noches de hogueras”.
En el poema, “Camino de las estrellas” hay un enorme cántico a
la exaltación de la libertad donde los ritmos se evocan y la luz de las
hogueras iluminan montañas y planicies. Merece la pena leer este frag‑
mento del poema: “La libertad en los ojos / el son en los oídos / de las
manos ávidas sobre la piel del tambor / en un acelerado y claro ritmo
/ de Zaires y Calaáris montañas luz / roja de las hogueras infinitas en
las campiñas / violentadas / armonía espiritual de voces tan‑tan / en un
ritmo claro de África”.
También nos habla del nuevo ritmo de las hogueras en noches co‑
loniales. El proceso simbólico de las hogueras, incluso epifánico, es
muy revelador en la poesía de Neto. Cuando escudriñamos esos retazos
discursivos sobre las hogueras el imaginario nos lleva a la singularidad
de lo que representa ese fuego en medio de las aldeas africanas, donde
todo un conjunto de valores se conjugan e se asocian. Y ahí está tam‑
bién la propuesta de Agostinho Neto adherida a la tradición. Es decir,
Nota
Referências bibliográficas
Notas
Eu nasci no Huambo. Uma terra muito rica (…). Eu tive bois. Mas
conheci outras terras no Moxico, Lunda, Kuando‑Kubango, Huíla,
Deste modo, e para que a expressão “no mato” não se lhe aplique
com as conotações de desprestígio, Noíto acaba por condensar um país
pelos locais por onde passou e onde momentaneamente se fixou. Revela
o conhecimento que tem através de uma experiência feita viagem.
O tema da viagem e a migração constantes permitem, no romance,
um jogo entre a continentalidade e a insularidade. Este jogo com o eixo
da continentalidade representa‑se mediante dois âmbitos espaciais: o
mato, que ficou no passado e que se reactualiza pelas práticas e pelas
palavras das restantes personagens, como se verificou, e a cidade, o
outro lado da ilha, presente através do mercado frequentado por Noíto
e pelas personagens que interrompem o quotidiano insular e que vivem
na cidade.
Estes veraneantes e funcionários do Estado que interrompem o quo‑
tidiano ilhéu caracterizam‑se, avaliando‑se as suas atitudes e as refe‑
rências aos habitantes da ilha, por aquilo que José Carlos Venâncio
denomina como “síndroma do centralismo luandense”, que se define
como a arrogância que alguns habitantes da capital sentem sobre o res‑
tante território (Venâncio, 2005: 128. Itálico no original). Esta atitude
implica que se construam discursos localistas em relação aos outros
espaços angolanos, como se passa no romance em apreço.
Estes intrusos não perturbam o facto de Noíto e de Zacaria encon‑
trarem uma comunidade estabelecida e de nela se inserirem, aprenden‑
do a vida existente e para eles desconhecida. É desta forma que, a partir
da construção da vida num novo espaço, se faz a aprendizagem de uma
nova vivência, pela atenção ao gesto e pela concretização máxima dada
à palavra, em três vertentes.
A primeira coloca a palavra no centro do simples acto prazentei‑
ro de conversar durante a realização de tarefas quotidianas. Ao longo
da obra, os temas escolhidos para os ritos conviviais descritos relacio‑
nam‑se com as personagens que povoam a ilha e o que de novo trazem.
Outro conteúdo a assinalar no que a este tópico diz respeito é a divisão
baseada no género e na idade. O cultivo dos momentos em que os
jogos da oralidade são primaciais em Rioseco, ainda que transcritos
para a escrita romanesca, que os tenta pormenorizar, não deixam de
contemplar as características gerais da oralidade assinaladas por Jacint
Creus: “centrada en palabras, pero más que palabras / opuesta a escrito
/ opuesta a no verbal” (Creus, 2005: 6).
Este espaço poroso é habitado por uma personagem também ela poro‑
sa que, tal como a fronteira, transgride, percorre, atravessa e articula.
Essa posição espacial e cultural de Noíto faculta‑lhe a capacidade de
separação entre os dois mundos, dos quais ela escolhe o primeiro como
forma de sobrevivência económica e o segundo como a base da sua
aculturação aos costumes da ilha.
Mar e terra: os discursos de pertença e de localidade de Noíto vão
variando, de acordo com o que sente da parte das pessoas da ilha, do
que sente em relação à sua própria sorte naquele local e junto delas.
Como esta dicotomia, outras há que vertebralizam a obra: o azar e a
sorte, a vida e a morte, a guerra e a paz, o homem e a mulher, o lembrar
e o esquecer. Esta é a essencialidade do romance: as dicotomias de que
se faz uma vida, um percurso de uma personagem, de um território.
Romance construído com base em fazer e desfazer, em várias repe‑
tições de atitudes e de pensamentos, muitas vezes contraditórios, com
o fulcro em Noíto, também a imagem de feitura da ilha se desvanece
no seu epílogo: o Mussulo base para esta ilha romanceada é um es‑
paço com uma dupla identidade, é ilha no Cacimbo e península na
Estação das Chuvas. Ao aperceber‑se de que afinal não vivia numa
ilha, enquanto tal, e de que o isolamento não poderia ser interrompido
pelo barco, Zacaria, homem do rio, desabafa com um pescador desco‑
nhecido e construído como se de uma espécie de Caronte se tratasse:
“Enganei‑me na minha vida com o mar e com a ilha. (…) Deixa‑me
chorar” (Rui, 1997: 515‑516).
Na dolorosa criação de um lugar que se imaginava diverso, na cons‑
trução de uma nação pelas margens, tema tão caro aos estudos pós‑co‑
loniais e tão verificado nas personagens deste romance, a história é, em
Rioseco, a condensação dos vectores insularidade e oralidade, o espaço
diferente do continente receptor de paz e da carga ancestral de quem
o escolheu.
Referências bibliográficas
Bibliografia activa
Bibliografia passiva
Notas
Introduction
1. The narrators.
First of all I’d like to thank this kindly narrator for the work she has
done, but I have to let her go […] and for this reason I call on another
narrator.
And because all of us should have a second chance in life […] I give
again the word to the narrator who began this tale, with the hope that
he has learnt from his errors and from my criticisms. We’ll see if this
indulgence is rewarded… (p. 167).
This is a theme which cuts through the entire story and is symbol‑
ised by corruption, an identifying factor of Angolan society.
In fact, corruption is, unhappily, a constitutional element of almost
all new African countries, and a sign of the social exclusion in which
the dominant groups charged with maintaining the “purity” of the
foundational projects of independence participate. When this corrup‑
tion affects those permitted the exercise of institutional violence, the
Even though a part of this paper deals specifically with the negation
and parody of the detective fiction genre, we would like to highlight
the ideologically conservative aspects of a genre in which truth always
triumphs. Criticising the genre allows us to criticise the ideological im‑
plications inherent to it.
His childish imagination was fed on books that no longer exist, books
with arresting titles and covers […] which Uncle Esperteza do Povo, an
old guerrilla fighter in the struggle against colonialism and now poli‑
ceman, read and reread with the hope of learning this new trade, the
methods of which escaped him. It was certainly those books which led
him to accept the proposal of his cousin D.O. and which led him to the
SIG […]. There is never a perfect crime, justice always triumphs, evil
will always be defeated – he had learnt these absolute truths in these
books. He was going to show that his idols – Spillane, Chandler and
Stanley Gardner – were absolutely right, and that there were no perfect
crimes, only imperfect detectives (pp. 26‑27).
In this reflection, taken from the start of the novel, Jaime Bunda
already declares his method of investigation, which is to say that this
methodology is declared for him − yet another distancing device. Those
that decide his methodology are not real people but literary characters;
the real is replaced by its mirage.
All throughout the text the narrator occasionally reminds us that
the detective novels are a guide to his investigation: “but Jaime Bunda
remembered that, in order to fill out their report‑sheets, the detectives
in the novels always ensnared the people they interrogated” (p. 38).
Bunda finds a twin soul in Kananga, with whom he not only a shares
an investigative role but also literary tastes:
The hero
Bibliographical references
afirma não ter sido ainda possível averiguar de onde vieram os cokwe,
realçando a estudiosa o facto de a tradição oral apontar para a presen‑
ça desse povo no centro de Angola desde o século XVI e de o mito fun‑
dador da Lunda coincidir, no conteúdo, com a história dos cokwe8.
A teoria da origem lunda dos cokwe pode aproximar‑nos da com‑
preensão da razão por que estes assumiram como pertencente ao seu
património cultural o mito fundador do Império Lunda9 (aprox. séc.
XV‑XIX). Além disso, a descendência lunda dos cokwe tem sido tam‑
bém deduzida a partir de apropriações mútuas de outros símbolos
culturais. Por exemplo, não tendo a corte da Lunda produzido arte,
estudos demonstram que várias peças artísticas reais da Lunda tinham
sido esculpidas por artesãos cokwe10. Por sua vez, entre os cokwe
há instrumentos de rito de origem lunda. A conquista do Império de
Mwatyanvwa, em 1885, pelos cokwe, terá sido uma das vias da pre‑
sença da arte cokwe na Lunda, tal como o banco real lunda oferecido
por um soberano lunda, no início do século XX, a um oficial norue‑
guês, de que fala Heusch como tendo sido obra de arte cokwe11.
Falaremos, por isso, do pensamento simbólico lunda‑cokwe para
recobrir, neste trabalho, as manifestações culturais que se produzem
em toda a extensão da zona cultural. O espaço dos povos lunda‑cokwe
situa‑se na zona linguística e cultural bantu, onde também se localizam
os povos aparentados, entre os quais os luba. Os lunda ocupam, concre‑
tamente, hoje, a região que compreende Kapanga e Sandoa (Katanga,
a Sudeste da República Democrática do Congo), Kahemba (Bandundu,
a Sul da R.D. Congo) e a extensão da zona fronteiriça do Nordeste de
Angola12. Os Cokwe situam‑se entre os rios Kwilu e Kasayi (paralelos
6º a 130 º S, com um rasgo até ao paralelo 15º) na região do Alto
Kwangu e Kunene.
4. A palavra “mukishi”, pretexto para o presente estudo, é utiliza‑
da, no espaço cultural lunda‑cokwe, para aludir a um espírito ancestral
ou da natureza que é incarnado por uma máscara. Esse espírito desem‑
penha um papel benévolo na sociedade. Segundo Bastin, “acredita‑se
que o mukishi é uma pessoa regressada da morte que se ergue da terra
numa área do mato (...). Os Tshokwe preservam a crença de que aquele
que veste a máscara perde as suas qualidades humanas e transforma‑se
na incarnação do espírito”13. Embora em algumas línguas do Sul de
Angola tal vocábulo esteja ligado à ideia de “monstro”14, o uso do
radical “Kishi”, muito generalizado nas línguas dos povos da bacia do
Congo, significa “espírito, força” ou ainda “antepassados”. Tal acep‑
ção justifica a formulação de Senghor, para quem, o homem africano
Referências bibliográficas
Notas
1. Pepetela, 1989.
2. Laranjeira, 1997, p. 2.
3. Pepetela, 1980.
4. Vejam‑se, fundamentalmente, Orientalism (1978) e Culture and Imperialism
(Nova York: Alfred A Knopf, 1994).
5. Palmeirim, 2003, p. 105. Similar valor simbólico é discutido também no
estudo consagrado à Mukishi por Lima, 1967, p. 27.
6. Utilizaremos a grafia “Lweji”, de acordo com o alfabeto adoptado pelo
Centro Internacional de Civilizações Bantu (CICIBA), para aludir à
personagem principal do romance e “Lueji” para indicar o título da obra em
estudo, conforme a grafia empregue pelo autor. Quanto aos antropónimos,
grafá‑los‑emos como “Cinguri” e “Cinyama”.
7. Redinha, 1958, p. 21; Carvalho, 1890, p. 90 (A correcção linguística dos
vocábulos empregues por Carvalho e Redinha na produção desta expressão
atribuída a Lweji é posta em causa por Lima no estudo por este dedicado à
cultura Lunda‑Cokwe [cf. Lima, 1967, p. 68 e segs.]).
8. Bastin, 1999, p. 16.
9. Heusch, 2003, p. 13.
10. Heusch, 2003, p. 13.
11. Heusch, 2003, p. 13.
12. Palmeirim, 2003, p. 99.
13. Bastin, 1999, p. 95‑108.
14. Lima, 1967.
15. Veja‑se “Masque Nègre” e ainda “Prière aux Masques”, in Senghor, 1964,
pp. 15‑16 e 25.
16. Esta perspectiva de discussão têmo‑la no estudo consagrado à Likishi por
Lima, 1967, p. 27.
17. Pepetela, op. cit., p. 26.
18. Palmeirim, 2003, p. 101.
19. Heusch, 1972, pp. 190‑192.
20. Frobenius, 1987.
21. Na comparação que faz das propostas de Soriau e Propp, Greimas detecta
no esquema de Propp uma manifestação sincrética dos actantes que se traduz
numa dupla articulação de certas categorias actanciais: o Destinador pode
confundir‑se com o próprio Objecto; o Sujeito/Herói, com o Destinador
(Greimas, 1966, p. 78).
22. Palmeirim, 2003, p. 105.
Referências bibliográficas
Notas
Referências bibliográficas
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Timóteo Tio Tiofe, O Primeiro e o Segundo Livros de Notcha, Mindelo: Edições
Pequena Tiragem, 2001.
meu comentário de como seria bom montar numa onda e partir rumo
a outros destinos, a outros desertos, a outros natais” (Salústio, 1994,
p. 6).
O discurso indireto livre favorece o clima de completa adesão do
narrador em terceira pessoa a essa personagem emblemática. A mulher
da história não tem nome, pois representa, na verdade, não apenas
todas as mulheres que tiveram sua liberdade adiada, mas também as
crianças, os jovens, os velhos e os homens cerceados em seus mais pro‑
fundos sonhos.
Mais uma vez, a imagem do mar, tão recorrente na literatura ca‑
bo‑verdiana, vem corroborar a sua força no imaginário do arquipé‑
lago. O mar, como sempre, responde à já conhecida e antiga ambiva‑
lência do ilhéu: o eterno drama entre “partir ou ficar”. Mas agora o
mar responde, também, a novos desejos e expectativas; volta‑se, como
lemos no final do primeiro conto, “rumo a outros destinos, outros de‑
sertos, outros natais”. É preciso, portanto, como sugere a narrativa,
fazer emergir outras vozes, que apontem caminhos e situações não ex‑
ploradas no imaginário cabo‑verdiano.
Não é à toa que esse primeiro conto se intitula “Liberdade adiada”.
Ao denunciar, logo de saída, a impossibilidade de realização do desejo,
da liberdade sonhada, essa primeira narrativa termina afirmando, pa‑
radoxalmente, a sua realização. É chegado o momento de representar
vozes que até então não foram enunciadas. Vozes, em primeiro lugar,
de mulheres que falam das suas dores, de suas dúvidas, de suas vi‑
das. Mas também quaisquer outras vozes que buscam conforto e o
encontram na figura do narrador, que emergirá, quase sempre, como
narrador‑personagem, dialogando com os que até então não encon‑
traram interlocutor, chamando e provocando o leitor a conhecer as
personagens retratadas ou a nelas se reconhecer.
Em “A oportunidade do grito” (Salústio, 1994, pp. 7‑8), a persona‑
gem‑narradora faz parte de um grupo de mulheres que conversa sobre
a necessidade de enfrentar os obstáculos da vida. No conto em questão,
seu comentário final é a propósito do prazer de descobrir a coragem
de uma das amigas, que incita a outra a desafiar até mesmo Deus. A
recusa de se entregar a fatalismos, determinismos ou quaisquer outras
ideologias que imponham uma camisa de força é uma tônica, por sinal,
de todos os contos.
Em “Campeão de qualquer coisa”, o tema é o do ser e parecer,
o da ridícula necessidade de nos apresentarmos sempre como figuras
de sucesso. Trata‑se, também, como observa Simone Gomes, de uma
Referências bibliográficas
I.
II.
Encontramos nele muitas palavras que quase só têm lugar nos dicio‑
nários do português, enquanto se afirmam, ao mesmo tempo, como
substrato e latência do medievo e do Renascimento na fala rural do ca‑
bo‑verdiano de hoje. No universo vocabular, Gil Vicente e Camões não
se sentiriam certamente em terra estrangeira. A presença de Camões
não se denota, aliás, somente no vocábulo. Ela surge na prosódia, isto
é, na forma de compor os versos, quando não na paródia directa do
verso camoniano, seja o épico, seja o lírico.
III.
IV.
Referências bibliográficas:
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Vário, João. Exemplos. Mindelo: Editora Pequena Tiragem, 2000.
faz agora sessenta anos que o teu criador te pôs no mundo. Nesta
horinha da tarde, neste espaço hoje feito território de partilhas, não me
cabe dizer do intrincado labirinto de leituras e desleituras, das profun‑
das e subtis revelações que outros mais abalizados hão‑de fazer. Venho
apenas desfiar contigo os fios dessa rude infância nossa, desconhecidos
que somos embora no comum chão da nossa desventura.
Embora sem vocação para o desmando, nunca fui dado às cateque‑
ses, teológicas ou outras; se bem que grata a recordação dessas tardes
de domingo em que deus não desceu sobre nós em forma de língua de
fogo, nem consumidos fomos pelas inextinguíveis chamas do inferno.
Isto tudo para te dizer, Chiquinho, que não gosto do literário respeiti‑
nho, das dominações que se erguem em sacralidade, tentando sujeitar
todo o dizer novo a uma ordem que ele próprio rejeita. Entendo que é
no confronto com as práticas discursivas novas, encarnando desígnios
que poderão ser opostos aos seus, que a tradição se erige como magma
que expele fogos vivificantes, não como mortal cinza que impede a ger‑
minação do que pelo seu conseguimento e pela sua centralidade há‑de
constituir‑se como novos modos da tradição.
Embora tenha concluído o liceu há pouco mais de vinte anos, eu
não me lembro, Chiquinho, de ter lido a tua saga do princípio ao fim,
se bem que uma ou outra passagem se me revelasse familiar, fruto tal‑
vez duma leitura saltitante (apardalada, dirias tu) ou porque as conhe‑
cesse dalgum compêndio ou selecta. Daí a surpresa de descobrir uma
imagética quase semelhante, consubstanciada na imagem da casa, quer
na abertura do romance que leva o teu nome, quer no meu inaugural
livro de poemas “Paraíso apagado por um trovão”.
Se não, vejamos:
como quem ouve uma melodia muito triste, recordo a casinha em que
nasci, no Caleijão. O destino fez‑me conhecer casas bem maiores, casas
onde parece que habita constantemente o tumulto, mas nenhuma eu
trocaria pela nossa morada coberta de telha francesa e emboçada de
cal por fora, que meu avô construiu com dinheiro ganho de‑riba da
água do mar. (…). E lá toda a minha gente se fixou. Ela povoou‑se de
imagens que enchiam o nosso mundo. O nascimento dos meninos. O
balanço da criação. O trabalho das hortas e a fadiga de mandar a comi‑
da para os trabalhadores. (…) Mamãe deslizava como uma sombra no
trafêgo da casa. Mamãe‑velha não parava indo de um lado para outro,
como se nada pudesse fazer‑se sem a sua fiscalização e os seus gritos. A
minha avó só sabia querer a sua gente descompondo. (Chiquinho, pp.
11‑12).
Ali fora a casa. Lugar /das domésticas deflagrações. /Da inércia dos
clangorosos abraços. /Dos animais feridos de lassidão/nas manhãs que
o nevoeiro cerra. //Tão cedo nos buscava a treva/mais felina, ombros
de susto/no verdor dos quinze anos. /O pó da última estrela, /um acon‑
chego lasso/contra a tua pele tão escura. //A linha obediente da ascen‑
dência, /o motim dos pequenos desafectos, /prendiam‑nos num cerco
sem armistício. //Hinos, rogas, ladainhas, /o turíbulo fabricando a cer‑
ração, /o cata‑vento sonhando alto a intempérie,/naufragam agora por
rupestres aterros; //pois, é tão cedo que a mágoa/nos visita com o jeito
pirómano/que a chuva não apaga. //Mas, da cativa luz argentando/os
eirados, aonde formos/contunde‑nos seu lustro de antiguidade.
único o velho C. manco. Por questões que se dizia ter a ver com uma
forte rivalidade, no ano anterior todos os anos do meu professor do
segundo grau foram chumbados no exame. No ano seguinte impendia,
sobretudo sobre mim, a responsabilidade de vingar a honra ferida do
meu professor. Disse‑me ele em frente de toda a classe: este ano ainda
que o diabo coxo os reprove a todos, tu vais passar. Na véspera tive pe‑
sadelos horríveis. Mas, de manhã, sereno, saímos caminho da vila. Eu
levava umas calças amarelo torrado tingidas por umas enormes bolas
acastanhadas. Os pés rudes entraram torturantemente para umas sapa‑
tilhas novas, que subiram para os ombros dobrada a curva do antigo
campo de concentração, onde meu avô fora guarda auxiliar.
Lembro‑me do interrogatório cerrado a português, e eu a cada res‑
posta virava‑me para o meu mestre que ao fundo da sala abanava ligei‑
ramente a cabeça em sinal de aprovação. Foi quase em estado de transe
que a ouvi, a voz de um dos elementos do júri, a dona Maria José,
mandar‑me levantar e ir para onde estava o resto da classe.
Desse amado professor falo no poema 15 de “retratos cativos”:
“meu jovem mestre de óculos encavalitados / (também leitor de epísto‑
las nas liturgias de domingo)”. Tive a grata felicidade de reencontrá‑lo
no pátio dessa mesma escola, no regresso ao chão amado, na apresen‑
tação do livro de que te tenho estado a falar, depois de quinze anos na
terra longe, e muitos mais sobre as peripécias que aqui vos conto.
Infelizmente, Chiquinho, não podemos falar de tudo agora, que a
noite já espreita, e longos e cabeludos são os fios da memória. Mas
antes de terminar queria confessar‑te duas ou três coisas que me trazem
a alma inquieta.
Ainda bem que tu, Chiquinho, contas as peripécias de escravos
ocorridos na tua ilha, nomeias os lugares – fundo Balanta, morro
Bissau – ligados a essa circunstância estruturante da natureza do povo
das ilhas, pois, culturalmente, a nossa terra encontra‑se em estado de
guerra civil. Não Chiquinho, não exagero nos termos. Imagina lá, tu,
que até já há teorias a defender que as populações do norte do arqui‑
pélago sempre foram, culturalmente, mais evoluídas que as do sul. Até
houve um estudo genético tuga – muito a propósito – a tentar demons‑
trar que esses nossos alvos patrícios (ó bendição!) das ilhas do norte
não teriam tantos genes cafres como esses badios rabelados, esses dos
“terríveis levantes na ribeira dos engenhos”, que na página 180 do ro‑
mance através do seu batuque leva “a sala a África pura, sol e paisagem
com macacos cabriolando”. Consola‑nos ao menos o facto de não se
ter dito que os violinos e violões, o dengue que a morna põe nos corpos
Referências bibliográficas
fêmea/ sofredora/ terra di mi” (Guiné sabura, p. 45), mas também terra
“suave, sabi”, “kerensa gustus”. Confirmando a assertiva de Stuart Hall,
que afirma fazer geralmente parte da definição do indivíduo nomear sua
origem (Hall, p. 47), a “Guiné sabura que dói” é referida ao longo de
toda a obra, ora com desabafos esbravejantes, como em “Terra sofredo‑
ra”: “Terra [...]/ plasmada de dores/ sucumbindo a tormentos/ amon‑
toados nos becos” (“Guiné sabura”, p. 33); ou por lamentos amargos:
“Terra sahel/ [...] voos amargos/ [...] esperança a esvair” (p. 21), ora
ainda com balbuceios plenos de ternura: “Guiné minha flor de cantei‑
ros perdidos”. Elegendo‑a “sombra minha/ protegendo as minhas ibé‑
ricas noites”, o poeta‑amante desdobra‑se em evocações, entoando um
“Concerto à Guiné”: “Guiné [...] amor/ da chuva deflorando/ a terra
vermelha de Bankulé/ [...] do perfume das moranças/ em tons de caba‑
ça[...] acácias floridas” (p. 30).
Stuart Hall, em A identidade cultural na pós‑modernidade, acentua
a grande importância para o indivíduo de pertencer a um grupo, a uma
sociedade, a uma nação, ali estar integrado, conhecimento ao qual “pode
até não dar nome, mas que ele reconhece instintivamente como seu lar”
(Hall, p. 48). Tony Tcheka conhece, por experiência própria, a inadap‑
tação, a saudade da pátria distante, o perigo do desenraizamento. Em
“Guiné”, confessa ter a pátria onipresente no pensamento: “De longe/
entre as sete colinas/ vejo‑te” (Noites de insónia, p. 59). E a ânsia do
regresso provoca miragens no sujeito poético: “aquela ausência demo‑
rada/ faz‑me ver o Geba/ subindo sobre o Tejo”.
Dificilmente integrando‑se no novo ambiente, o traço‑de‑união mais
forte e a força congregadora mais eficiente do emigrante é a vivência
em comum do não pertencimento, o desconforto causado pela estra‑
nhamento. “A integração foi um fiasco”, constata Joana, personagem de
Kikia matcho (Barros, p. 142). A inclusão se efetua entre os excluídos,
formando uma comunidade de sofrimento e insatisfação, de frustração
e ressentimentos, mas que lhes proporciona uma estabilidade emocio‑
nal.
Carlos Lopes, em “Do poilão à cova”, um dos contos de Corte
Geral, refere‑se ao costume de muitos emigrantes que não dispensam
os produtos da terra para assim, na situação de marginalidade em que
vivem, fazerem face emocionalmente a uma relação social assimétrica,
de outro modo insuportável: “Sobretudo os mais velhos não dispensa‑
vam os sabores mais exóticos que tinham pautado a sua vida: papaia,
mango (que nós não dizemos isso no feminino), goiaba, mas sobretudo
fole, azedinha, veludo e miséria. Para já não falar de chabéu e outros
Referências bibliográficas
O vôo da linguagem
As mãos da poesia
seu chão, que laranjas mais generosas para repartir, que nação tão le‑
vantada para viver” (WHITE, 2004, p.23). À semelhança do “gauche”
drummondiano, White assume uma posição clandestina e rebelde em
relação às convenções, tanto as sociais, como as ditadas pelo cânone
literário oficial.
Em Manual das mãos, em prosa poética, o sujeito lírico vai urdindo
pactos biográficos com o texto, pactuando e compactuando com a po‑
esia da linguagem, manejada artesanalmente por ele. Manual significa
“o que é feito à mão”, “o que é relativo às mãos” (Ferreira, 1999, p.
1276). Estas, nesse livro, servem como mediação entre o corpo que atua
e os sentidos que fluem. As mãos se prestam a monólogos interiores,
gestualizando lembranças de tantas vidas: é que – segundo Eduardo
White – “as mãos escondem, para além das nossas, outras vidas em si
presentes” (White, 2004, p.21).
Possuindo também o sentido de “livro pequeno que contém noções
de uma ciência ou de uma técnica” (Ferreira, 1999, p. 1276), a palavra
“manual” não só aponta para a artesania da escrita poética, como,
metaforicamente, se converte em “manual de carpintaria” da própria
poesia. No caso de White, que exercita, em suas obras, intensa metalin‑
guagem poética, esse manual é o da “ciência de voar, o da engenharia”
(WHITE, 1992, título) de alçar grandes vôos imaginativos.
O Manual das mãos vai indicando atividades, sentimentos que são
possíveis através das mãos: carícias, tecelagens, preces, amores, vio‑
lências, desígnios, trabalhos, escritas. Pelo tato, chegam outros senti‑
dos apalpados pela eroticidade do discurso de White: cheiros, sabores,
sons. Interessante observar que manual, segundo os dicionários, tam‑
bém apresenta a significação de teclado musical. Com esse sentido, no
livro de White, o manual se faz expressão do ritmo das palavras e da
própria melodia poética. As mãos da poesia dedilham as teclas da escri‑
ta, alcançando acordes inusitados. São tantos os afazeres permitidos às
mãos!... Desde o prazer de segurar uma taça de vinho, de colocar uma
música a tocar, até o do gozo de viagens dentro do corpo e fora dele. O
eu lírico celebra a vida para que esta não se perca na luz de seu olhar,
no gesticular de suas mãos.
Nesse pequeno livro que se assemelha a um breviário de poesia,
White explora as múltiplas possibilidades de prazer e desprazer das
mãos: estas como instrumentos eróticos, como canções de esperança
ou manuseio de tristezas, como alavancas para o trabalho ou servindo
como formas de dominação e de sevícias.
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Manuel Bandeira. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.
Roland Barthes. O Rumor da Língua. Lisboa: Edições 70, 1984.
A epígrafe com que se inicia este texto expressa algumas das razões que
justificam a intenção de retomar reflexões sobre as políticas produzi‑
das pelos projetos de nação e sobre as feições do que Nestor Canclini
(2003) denomina de interculturalidade globalizada, quando se refere
às desorientações e aos deslocamentos característicos do mundo em
que vivemos. Embora este texto se estruture a partir de pontos de vis‑
ta sobre discursos da nação e sobre as ambigüidades que os habitam,
seu propósito é observar como essas questões se encenam em textos
literários produzidos em espaços que conviveram com a opressão co‑
lonialista até a segunda metade do século XX. Para alcançar os obje‑
tivos propostos, serão considerados alguns romances do escritor Mia
Couto, de Moçambique, destacando‑se estratégias discursivas que, ao
encenarem a nação, assumem movimentos de dilatação que alcançam
os cenários ocultados pela intenção harmonizadora característica desse
projeto. Para que se encaminhem considerações sobre os modos como
a nação é literariamente construída em alguns romances do escritor,
faz‑se necessário observar alguns pontos de vista sobre estratégias de
construção do discurso sobre a nação.
É importante a observação de Ernest Renan (1882) sobre que, sem
o esquecimento da violência que marcou a origem de todas as for‑
mações nacionais, é impossível alcançar‑se a desejada unidade que as
caracteriza, porque remete a movimentos sempre presentes em projetos
de construção da nação: os que valorizam determinados fatos que de‑
vem ser lembrados e os que se esforçam para que outros sejam apaga‑
dos da lembrança da coletividade. Selecionam‑se assim fatos e eventos
que devem ser continuamente relembrados para permanecerem sempre
vivos na memória dos cidadãos e outros que precisam ser descartados
Referências bibliográficas:
Nota