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9 2 a ry a a a 2 a : 5 ° | | | By teersoent 4G » EC oot tnem amin eae aS setae erate eee See amt mee retin ose Sees ca ——ULUr—CO En NSU soenne Seaeaa timeciia Segoe even oaenge “Tm alts satan cer = a Se comet ee vce ‘erat Renee Dados Ineracos de Catgac a Pela (17) (sears Brats do Li, SP Bra. ‘cape tle Fy: anton pe log sap Ps Bary oti tenare Cassone Ra (GS iets nin ‘igen ts ey eres acpi onrnsss to 1 Ain pg 2 Pa Inde: a aap ei Tht Pa Fee Patricia Berry O corpo sutil de Eco Contribuigées para uma psicologia arquetipica ‘Tradugio de Marla Anjos e Gustavo Barcellos y EDITORA -_ Petrépolis (02014 by Patra Bory ‘hal egal cn nl: Ecos Sule ad: Contras oan Archatypo Pacha, Sco eed aod epanded eon, Sp Pubeations, Ne "ove (24), 2008, 0 tet “nage en novel’ azrecetdn3 et el pubis igloo uo image Monin & Pl: Pian Tales onthe Soin nape 9-073 Ps Hou, and Aer, “runaround, at Sass gtr 201 iss de pune en gua portage ~ Bras 200, Ere Vos Lia Raa Pre Lae, 100 23689000 Petra, ‘owes ‘sl “oo os des eseralos, Neha prt des ora per ser repoluié ou tas por quale forma eos qusguer moe {etic ou wen, icin feta grail ov argvads er goa sistema ou ano de daar vm permis doco Dire editorial re tn Moe etree ie ds anos Came Toe Harada Sha ‘Lo Peet Mars Laine ii Sect extative Sto Batts euch Etro: Mrs d Cones Be So ‘Dap Ale Mea Sha (ape Oma Sats SN 9785530548840 (ed bas) |SBN 9780582185601 edn norteaercaa) [Ea toe no eto on is ste fio fi compose inpresopla Er Vrs La Para IH Sumario Qual € 0 problema com a mée?, 9 A neurose ¢ 0 rapto de Deméter/Perséfone, 28 0 dogma do género, 49 Uma abordagem a0 sonho, 69 Defesae feos nos sonhos, 101 Virgindades da imagem, 119 AA paixdo de Eco, 137 (0 ouvido ervenenado de Hamlet, 153 9 Parada: um modo de animacao, 176 10 Sobre a redugio, 194 11 O teeinamento da sombra e a somibra do treinamento, 220, 12 Regras hisicas: rumo a uma pratica de psicologia araue- tipica, 234 13 Imagem em movimento, 250 1 abrevagho OC referese & Obra Completa de CG. Jung, vols. 1-18 (Petrépolis: Vozes,referidos pelo ndimero. do volume e do parégrafo, 1 Qual é 0 problema coma mae?" Em psicologia, costumamo-nos a abusar de um conceit: ‘oda mie. E ainda a culpamos amplamente. Em um momento ‘ou outro, de uma forma ou de outra, temos langado mio dela para esplcar cada uma de nossas sindromes patolégicas: nossa esquizofrenia é explicada como um duplo vincula com la: a paranoia, uma incapacidade de sermos confiantes por ss causa (uma necessidade de Bxar nossos pensamentos a rigidos sistemas, como compensacdo a sua falla de ordem); a histeria, uma tendéncia para a susceptiblidade exagerada «sem sentimentos, por causa do itera (0 itero dela} percor rendo nossos corpos. A luz da frequéncia dessas explicagies, comecei a me perguntar: Mas qual €0 problema com a mae? O que acontece que a faz tao apropriada especialmente para nossas explici bes psicogieas? ara explorar esse tema, vollemonos para a matéria de que & feta a mie ~ em que consist 0 conteido da me. Vamos * Micneate ete texto fl apresetado como una pasta patedinada pelo Gull of Pastrl Psychology Oxford Unversity, em Oxford, na Ing fers em 1976 7 Colao Reenbes usguanas enfocar entio a Grande Mae de nossa tradigio mitoldgica oc dental, ue Hesfodo decresceu em sua Teogonia. Na Teogonta cle honra a Grande Mae Gaia, Terra, como a dvindade original progenitora de todas as outras divindades ~ todas as muitas formas de nossas possiilidades psiqucas, de consciencia pst ‘quica, Para todas eas, Gala representa o terreno origina De acordo com Hesiado, primero existiu 6 caos, uma au: séncia deforma, um nada, Entio se faz Cala, Terra: a primeira forma, o primero principio, alguma coisa, um dado. Mas, na medida em que a criagio se processa continu mente = que todos os dias nossa experiéncia psiquica é criada, nossas emogGes e humores tomam forma - em vez de contar a criagio segundo Hesiodo no tempo passado, poderiamos cot» tla de forma mais acurada no tempo presente: primeiro Ad 0 aos, ¢ ent hia Mae Terra, Dentro de nossas experiéncias do aos est contida, a0 mesmo tempo, uma possiilidade expect cade forma. Ou, entio, cada cans gera a si mesmo numa forma. ssa concepgio do caos € diferente de nossas nogdes li neares tradicionais, nas quais a forma é imposta mais tarde a0 caos, de fora ou de cima para baixo, conquistando e tomando lugar do caos, ‘No entanto, consideray esse conto da mancira como es tou tentando fazer seria enxerglo como uma imagem - ou seja, mais como um quadro do que como uma narrativa ~ de forma que as facetas do acontecimento (0 c2os e as formas ‘ua terra) se do todas simullaneamente, Algumas coisas in teressantes que se evidenciam nessa imagem nao se mostram 1a sequéncia narrativa, Por exemplo, esse enfoque vé 0 caos € as formas como copresentes; isto & dentro do caos hé formas inerentes, Cada momento de caos tem formas dentro dele; € cada forma incorpora um e30s especifco. eo. corp stl de eo 1 E claro que esse modo de ver as coisas apresenta tam. bbém implicacdes terapéuticas. Por exemplo, aqui isso imple «a que nao nos livtemos muito rapidamente de sentimentos caéticos (através de abreacio ou do grito primal), porque centio perderiamos também as formas, Seria melhor conter, até mesmo alimentar, caos para que suas formas possaim também existir. (A imagem também sugere que nossa for ‘mas nio podem nos livar do caos, porque onde hi forma hi também 0 caos) ‘Teno material para apoiar o que diste. Pois a me, esse chio materno de nossas vidas, est ligada& palavra “materia” Mie e materia (mater) sio cognatas. E a matéria tem sido considerada de duas maneiras ~ quase como se houvesse ba sicamente duas espécies, ou niveis, de matéria, Um dos niveis € considerado como um substrate univer sal, Como tal, € caro, existe somente como abstracio. Em si mesma, esa matéria € incognoscivel,invsivel e incorpéres. A matéria 6, nesse sentido, uma espécie de caos: ou, como Santo Agostinho a descreve, uma auséncia de luz, uma priv cho do ser’. Assim, essa concepgéo de matéria considerea um nada, uma negagio, uma falta, Bem, a segunda idea surge a partir da primeira 0 segundo tipo de matéria é, entdo, nio somente o nada maior, mas, por causa disso, 0 algo maior ~ 0 mais conereto, tangivel,visivel e corpéreo, Santo Agostinho chama essa ma- tévia de “a terra como a contieceros’, ¢ contrasta 0 cfu, que esti mais perto de Deus, com essa terra que, embora mais concreta esti no entanto mais perto do nada’ 1. SANTO AG 2 Ii, XI 7 TINHO, Confess, XU, 3. ® ‘Cotes Refers anguanas Assim, dentro da ideia de matéria hi um paradoxo. Max téria(e, por extensio, a Mie Terra} é a0 mesmo tempo algo maior e 0 nada maior, o mais necessério (para que algo poss acontecer) ao mesmo tempo o que mais falta. Com essa com> binagio de atributos, matériae mae tem tido certamente uma ‘existenca diffeil em nossa tradigfo spiritual ocidental. Mae/ matéria€o terreno da existenca, e no entanto nfo conta ~ ela 4 um nada, Arquetipicamente, ela & nossa terra © a0 mesmo tempo esta sempre faltando” Quando chegamos perto de nossa “matéria", nossos subs. ‘tratosinferiores, nossas raizes, nosso passado, o terreno de ‘onde viemos, nossas emogbes mais cruas, nao é surpreenden- te que tenhamos o sentimento de algo de desarranjado, algo inferior, eadtico, talvee maculado. Mas esses sentimentos sio ddados com a propria natureza da matéria da mae. Deixeme contar uma experiéncia que Hesiod teve, No ‘comeso da Teogonia, contasnos sua conversdo em poeta, tor- ‘nando-se um homem que Touvava os deuses. Como ele conta, cestava fora, cuidando de seu rebanho, quando de repente as :musas the apareceram, repreendendo- severamente por cau: sa de seu estado inferior. Flas despertaram nele uma sensa- «¥o de vergonha por ser apenas homem da terra. Hesiodo se tomnou ento um poeta que reverencio as musas, mas nunca eixou de ser um homem da terra (um lavrador), nem a terra deixou de ser seu tema. Tomouse meramente um lavrador ‘mais complicado, alguém que agora cantava uma terra da «qual sentia vergonhe, 3. interessante note com relagio a isto que Teast des 0 ver ‘ecard naturesa, como “eampta Lanta do sido quarto do va [-" (STRATTON, GM. “Theophrastus on the Senses”. Theaphrestus. Ansa am: BU. Bonset 1864p 135. corpo sutde Boo 8 Isto parece curioso: que wm homem envergonhado, cha ‘mado de tolo por ser apenas umm homem da terra, decidisse agora cantar a mesma terra da qual sentia vergonbia. Ou ser ‘que a experiencia da vergonha esti ligada & experiéncia da ‘terra? Ou talvez a vergonha seja um camino que possa levar alguém para experiencia da terra? A vergonha € uma reacio profundamente corporal ‘que do pode ser controlada (pelo menos, nao com muita eficiéncia) pela mente. Portanto, aponta para alguma coisa além da vontade - um poder além do humano, que poderia mos chamar de divino. Hesiodo foi levado a experimentar a terra como uma terra. psiquica que, embora o fizesse enver- onharse de si mesmo, justamente por causa dessa vergo: ‘nha, era maior que ele proprio. No interior desse movimento psiquico, a terra tornouse uma divindade. J6 nfo era mais uma planicie ampla onde ele pastoreava suas ovelhas, mas, como deusa, tornouse uma terra com muitos nives, sobre a qual sua alma (suas musas) também pastoreava. Para Hesio do, ela deixou de ser um “nada mais que", um lugar fisico, um cio neutro e sem qualidade, mas, tendo sido experimentada como divindade, foi também experimentada psiquicamente, de modo que sua matéria passou a signiicer psique ‘Se nio fosse a experitnca da terra que as musas queria,

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