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MICHELE TARUFFO UMA SIMPLES VERDADE O JUIZ E A CONSTRUGAO DOS FATOS ‘Tradugio Vitor de Paula Ramos Marcial Pons MADAI | BARCELONA | BUENOS AIRES | SKO PAULO 2012 CAPITULO II NARRATIVAS PROCESSUAIS 1, CREDULIDADE OU INCREDULIDADE Na primeira de suas Siete noches ~ um comentario fascinante da Divina Comédia ~ Jorge Luis, ita Coleridge quando esse diz. ser condigao preliminar para ler poesia uma «suspensio da incredulidade».’ Essa perspicaz “observacio funda-se claramente em duas premissas implicitas (mas evidentes): 1) que @ incredulidade deveria caracterizar nossa abordagem & experiéncia cotidiana, como uma posiedo critica destinada a impedir-nos de formular ou compartilhar de falsas convicgses; b) que nio deveriamos ser incrédulos se quiséssemos ser capazes de colher, entender ¢ usuftuir de fantasias, metéforas, ambiguidades, imager imentos, emoges € todas as outras qualidades particulares tidas como tipicas da poesia, A amplitude da afirmagio de Coleridge poderia ser facilmente aumen- tada (ainda que nao propriamente generalizada) visto que ~ de certa forma = todo tipo de experiéncia estética pode ser compreendida como fundada em um «estado de credulidade». Por exemplo, ver um quadro normalmente pressupée uma abordagem de credulidade: apreciar um Vermeer nao implica ‘uma abordagem cética quanto ao fato de saber se a luz em Delft, na metade do +a efetivamente conforme o que Vermeer pintou ~ no obstante de ele ser famoso por sua tentativa de obter uma reprodugdo fiel idade. Mais: para apreciar um quadro de Jackson Pollock, ou uma escul David Smith, nao se deve perguntar se tais obras representam algo: € ‘muito melhor suspender a incredulidade e aproveitar as formas ali expostas. Abordagem andloga ive mais profunda) deve ser adotada ao se ouvir "Chr. Borces, 2005: 16 52 MICHELE TARUFFO iisica, visto que essa 6 ~ como escreveu Schopenhauer’ ~ a forma de arte suprema, a «catarse estética», Efetivamente, para apreciar Wyton Mar ou Astor Piazzola (sem falar em Chopin ou Brahms), uma condicao de espirito de niio-incredulidade € bastante oportuna, Voltando a textos escritos, poder-se-ia dizer que uma suspensio da incre- dulidade é oportuna também ps itura de textos em prosa, e ndo somente para a de poesias.’ Por exemplo, lendo um romance necessério para a inerédulo ~ ou seja, cético ~ sobre a invasao da Terra por grandes malvadas criaturas de outros mundos poderia ser uma abordagem racional, ‘mas ndo seria 0 melhor modo para ler G. H. Wells. izando, 0 mesmo argumento vale para qualquer tipo de romance, dos poticiais as grandes obras- teratura de todos os tempos e lugares, De certa forma, pois, a we uma abordagem de credulidade e uma de incredulidade corres- ingdo entre fantasia e convic¢o: quando a imaginagio esta (ou deveria estar) em jogo, a suspenstio da incredulidade é uma condicao neces- siria da experigncia humana; quando se trata de conviegdes e, em particular, de convicgdes verdadeiras sobre eventos do mundo humano e material, uma abordagem cética ¢ incrédula € provavelmente mais racional, no obstante vez muito menos fascinante.* Se (conforme parece, pelo menos primeira vista) essa distingao tem algum sentido, pode ser usada como premissa de fundo para cons ‘campo (em certa las narrativas €, em particular, 0 ‘campo (ainda mais limitado) das «narrativas processuais» 2. NARRATIVAS, Um dos termos mais em voga e mais alargados dos dltimos trinta anos é © termo narratives; tornou-se uma espécie de fcone da assim chamada visio pés-modema de muitas coisas (talvez demasiadas), como da literatura, da critica literdria, da filosofia e até da teoria do direito.* Em razio de seu emprego extremamente amplo € varidvel, bem como da diversidade dos campos em que 0 termo é usado, € impossfvel (no presente contexto e, provavelmente, fem geral) examinar todas as questOes que concernem as «narrativas». De qualquer modo, visto que 0 narrative turn tornou-se uma espécie de lugar- 2 Ci. Scuorennaen, 1988: 938, 5 Cita pk. Bronxs e Gewrnr2, 1996, NARRATIVAS PROCESSUAIS 53 ccomura mesmo nos discursos relativ ‘algumas observagdes esparsas (no sistematicas ¢ certamente incompletas) podem ser feitas a propésito das narrativas nos contextos processual e proba- tério. Nes /a pode-se assumir como certa uma conexdo — e talvez cconcementes aS narratives ¢ aqueles Em alguma medida os contextos e Was e a0 processo,* pelo menos processual pode-se tanquilament contadas em juizo so ~ ou pelo menos podem ser tratadas como se fossem sress0, a Razdo, a Verdade, e assim por diante) ni las como mereceriam:! 0 mesmo vale para o conflito entre istas» © «antifundacionistas».? Basta dizer que nesse momento peradas: pelo menos a partir (e especialmente apés a II Guerra Grand Narratives. Na realidade, muito tempo antes: europeia conhecia Jean Paul Sartre ¢ Albert Camus, sem falar de dos irracionalistas discutidos na Zerstdrung des Vernunft de Lukécs, Os inte- fam bem cientes do fim das certezas oitocentistas. De qualquer modo, Baudrillard nao foi 0 nico exemplo de fildsofo p6s-moderno que descobriu banalidades anacrénicas de senso comum ¢ as reformulou em uum estilo flamboyant, como se os forcamentos retsricos € 0s exageros apoca~ ico fossem o sinal de um pensamento novo e profundo. Por outro lado, mesmo 40 do campo a area do diteito pode nao ser suficiente para definir um temético adequado ao escopo de analisar as narrativas processuais. O movimento de Law and literature" produziu uma série de anélises interessantes sobre assuntos juridicos, mas também uma quantidade de falicias proprias de cocktail party académico. Encontram-se nd raramente concepsdes especialmente vagas ¢ varidveis de legal narratives; (Cf, em paniclar, Twos, 2006: 280, 286, 322. Cf. também, Buss (2005: art. 4, 1, 34 MICHELE TARUFFO nessas, a distingo entre fato € direito € com frequéncia perdida de vista," © 6 fatos do processo perdem-se em uma indistinta falacia «literdria» sobre 0 direito."* Nio se quer dizer com isso que a teoria das narrativas, especialmente zo Ambito da psicologia social, nao tenha algo significative a dizer sobre 0 story-telling processual. Exatamente 0 contririo: como se verd, essa teoria fornece uma série de pontos de partida muito tteis para a andlise aprofundada das narrativas processuais.'* Os caveats mencionados servem para frisar que ue frequenter caracteristico dos juristas medievais ¢ ainda vélido: em realidade so necessérias varias distingdes para compreender adequadamente © problema das narrativas processuais, Falando de story coloca repetidamente em evi juridico e processual, Twining, com razao, fato de que as stories so, ao mesmo tempo, necessarias e perigosas. jas € narrativas sdo necessérias, tanto rho contexto do processo como fora dele; isso porque slo o instrumento prin- cipal através do qual fragmentos de informagao esparsos e fragmentérios «pedacos» de acontecimentos podem ser combinados e compostos em um complexo de fatos coerente & dotado de sentido. As hist6rias do forma a nossa experiéncia e nos fornecem modelos do mundo:"” podem endidas como «construgées interpy is de eventos», que di0 u um modelo, a um conjunto disforme de dados."" Fornecem uma "a, ou seja, um método para descobrir aquilo que verdadeiramente ® De resto, sua caracteri ‘que propéem somente possi- bilidades, nao importando quio distantes estejam da realidade.” Por assim dizer, s0 0 desenho que, de um punhado de pedagos de vidro colorido, faz Por outro lado, as histérias sfo perigosas © «abertas a suspeigdon:* abrem caminhos para imprecisao, para 2 variabilidade, bem como para Vina, tem 2.2 trae Sobre 0 andlogo fenbmeno exstentea prope Haack, 2007 207s. 55 Um enemplo bastante interessane dessa anslise€ Dt Donato, 2008: 107 ‘Twnc, 2006: 283, 336, 445 em particular Buon, 2002: 9,25, NARRATIVAS PROCESSUAIS 38 anipulagdes na reconstrugio dos fatos:* isso varia de acordo com 0 ponto de vista, Os interesses e 0s escopos dos sujeitos, que as contam em um cert momento e em um determinado contexto. Isso geralmente € verdadeit sendo particularmente verdadeiro no contexto processual. Como Perigos de erro, de inc: retas dos fatos so particularmente frequentes ¢ sérios, podendo levar a equ ‘vocos dramaticos ¢ a erros substanciais na decisao final da controvéi 2.1 Um experimento mental Existem muitas variedades de narrativas relativas a fatos. O tipo mais ccomum é 0 romance, e, em particular, aquele género de romances escritos na forma de narragées de historias. Um inteiro setor da critica literdria, a narrato- logia, ocupa-se dos problemas que dizem respeito d estrutura, as caracteristicas es técnicas da narragiio. Nao 6, contudo, necessirio considerar questoes tio sofisticadas.® Ao invés disso, vale a pena analisar um exemplo muito simples fe ver 0 que se pode dizer ~ em uma espécie de experimento mental ~ sobre as narrativas e seus perfis epistémicos, com 0 escopo de destacar alguns aspectos {que parecem caracteristicos das narrativas processuais, (© exemplo (escolhido entre mithares de outros que poderiam funcionar ‘6 conhecido romance policial de John Grisham intitulado zies dessa escolha so basicamente estas: a) centenas de rmilhares ou mithOes de pessoas leram o romance; b) a maior parte da historia passa-se em Bolonha, cidade que muitos conhecem. tor Nao Informado (LNI), que no sabe coisa alguma © romance, encontra descrigdes de lugares, pragas, ruas, restaurantes, igrejas e outros lugares em que se passam os acontecimentos da historia, Essas descrigGes fo geralmente detalhadas e realistas, descrevendo ‘muito bem a atmosfera da cidade, dos lugares e do estilo de vida dos bolo- nnheses, Em realidade, Grisham viveu em Bolonha poralguns meses justamente para colher informagées ¢ impresses dos lugares que pretendia descrever. Isso 48 ao romance um sabor de autenticidade, de coeréncia € de realismo que pode ser apreciado por si $6, endo somente porque acrescenta um forte — . 56 MICHELE TARUFFO. jade as aventuras do Broker. Quando um Leitor Infor- nha bastante bem, lé o romance, sua abordagem fe; no somente por causa de um sentimento iridade» que um LNI nao pode experimentar. O LI pode ser levado iauir, nas descrigdes de Grisham, enunciados que sao epistemicamente 105 um do outro. 4) Alguns (aliés: muitos) desses enunciados so verdadeiros. Por exemplo, quando Grisham escreve que no centro de Bolonha hd duas torres ievais chamadas A: Garisenda, escreve um enunciado verdadeiro, visto que na Bolonha que existe no mundo da realidade empirica tais torres de fato existem e t8m aqueles nomes. Analogamente, a afirmagiio de que na Via Zamboni, n. 22 existe um prédio em que se encontra a faculdade de direito da Universidade de Botonha ¢ também verdadeira, Até aqui, nenhum problema, Essas afirmagdes, como m ras, soam verdadeiras para © LI porque refletem a realidade material dos lugares que descrevem. Para 0 LNI soam verossimeis, o que para ele é suficiente ) Quando Grisham escreve que no prédio da faculdade de direito ha salas dos professores, faz. uma afirmacdo que soa verossimil, pois em muitos ‘casos (ou na maior parte dos casos) as salas dos professores encontram-se nos ios principais das faculdades. Por conseguinte, essa afirmagiio é veros- simil porque corresponde aquilo que ocorre «normalmenten." O problema € que no caso particular o enunciado € verossimil, mas falso, pois as salas dos professores da faculdade juridica de Bolonha no se encontram naquele cdificio. Nada de surpreendente nisso: muitas coisas que parecem verossimeis porque correspondem ao id quod plerumque accidit em realidade De qualquer modo, nada disso é relevante para o LNI: para ele a verossimilhanga da assertiva salas dos professores é suficiente para assegurara coeréncia da narrativa. A situagio do LI é diversa: ele compreende dda narracao é mantida porque a assertiva € verossimil, mas ‘amento da deserigao da realidade no Ambito da invencao e da que ele sabe que a realidade € diversa da descricao feita por ©) Quando Grisham escreve que no prédio da faculdade de direito ‘encontra-se também a sala do professor Rudolph Viscoviteh, faz uma afir- ‘magdo que € descritivamente falsa; entretanto, essa no pretende ser verda- ‘nao podendo ser tomada como tal. De fato todo leitor (informado ou nio informado) jé sabe que o professor Rudolph Viscovitch tanga de um enuneiado de fat ‘Gamo contespondéncia desse com aquilo que acontece normalments € aprotvadada em Tasurre, 1992: 158 es. Sobre a ambiguidade daquilo que € normal eft. Haaciws, 1990. 16 NARRATIVAS PROCESSUAIS 37 ndo existe € € somente um personagem criado pelo autor: isso resulta claro da descrigao do primeiro encontro do Broker com o professor em um café, poucas paginas antes. De fato a coeréncia narrativa da historia é assegurada, visto que © professor Viscovitch & descrito como um homem de meia idade com barba, muito «normab», que corresponde a um tipo humano bastante comum que pode muito bem corresponder } imagem de um professor; néo ‘como uma criatura verde vinda de Marte nfo hé qualquer diferenca entre ipreciar a ordem e a conexiio dos we a coeréncia da narrativa Do ponto de vista da coeréncia narrat as posigdes do LNI ¢ do LI: ambos poder eventos descritos. Todavia, o LNI percebe sé ‘ea uniforme verossimilhanga dos eventos, enquanto o LI sabe que algumas partes da narragao sao verdadeiras (no somente verossimeis), enquanto outras ppartes sio falsas (se bem que verossimeis), Ele pode apreciar o esforco feito por Grisham para inserir sua historia em um contexto verossi pode deixar de perceber um afastamento continuo e repetido d lo que esti espera que um romance seja uma ica de coisa alguma, Também o LI esta lendo um romance fe no espera que a narrativa seja verdadeira (justamente porque se trata de ‘um romance); todavia, ele sabe 0 que ha de verdadeiro ¢ o que hi de falso na narrativa de Grisham. Deixando agora 0 Broker de lado, imaginemos que o New York Times dante enfurecido por ter sido reprovado>; ainda, que actescente que essa afit- ‘magio constasse na acusagZo feita pelo Promotor® de Bolonha, na declaracao de uma test ainda na sentenga que condenava o estudante & pena mais grave (visto que matar professores de direito € 0 pior dos crimes, mesmo para estudantes reprovados). Tanto 0 LNI como o LI uma forte sensagao de confusdo e, principalmente, de sabem que, salvo uma improvavel homonimia, o professor no existia fora do romance de Grisham. Excluindo erros New York Times, ambos devem chegar 4 conclusio de ue as narrativas relativas ao assassinato do professor Viscovitch so falsas, ® IN. do TJ No texto original a expressdo assinslads € Procuratore della Repubblica lugio por Promotor, hm de que a légica do texto fosse mantda, sem perda 538 MICHELE TARUFFO LNARRATIVAS PROCESSUAIS, 59. ainda que parecam coerent siveis e, portanto, confiaveis.*” Por cons at ubos deveriam concluir que se verificara um clamoroso erro jundado numa falsa acusaeao, num falso testemunho e numa decisdo ‘equivocada ‘com base no contexto que decidimos se um enunciado descreve o mundo em. ‘sua realidade empirica ~ e, portanto, pretende ser verdadeiro ~ ou se a histéria visa a criar um mundo imaginario, em que nao hi qualquer questio sobre a (e pode-se somente pensar em uma verdade «interna nesse io™), O contexto processual € um contexto em que se requer a vverdade empirica, um romance é um contexto em que a averdade narrativa» & compreendida somente como algo que concerne a0 mundo ficticio criado pelo escritor. Grisham, como muitos autores de romances, mescla 0s contextos, ‘io empiricamente verdadeiros. (erdrio. Em todo caso, trata-se de lum conceito diferente de verdade, ou seja, da verdade «interna» & histéria do romance do Broker. [As razbes pelas quais o LNI-e 0 LI teagem diversamente quando leem Grisham ¢ 0 New York Times so muito claras: lendo Grisham suspendem sua incredulidade por estarem cientes de lerem um romance, e ninguém espera que os romances sejam descnitivamente verdadeiros. Mesmo quando se sabe, como no caso do LI, que alguns enunciados verdadeir vamente exis Mesmo o LNI, que nio pode de maneira completa Entretanto, quando 0 narragio de fatos que dizem respeito a um caso judiciio real, sua abordagem & completamente diferente: ele parte da premissa de que as narrativas desses fatos deveriam ser verdadeiras (nfo somente verossimeis) ¢, portanto, ni pode deixar de ser inerédulo quando 1é uma narrativa processual que sabe ser falsa, O ponto fundamental é que quando no se espera que uma narrativa seja verdadeira ‘menos em parte 0 6) a circunstancia de que essa seja descritivamente falsa (no todo ou em parte) no € relevante: uma historia pode 5 wente boa quando é coerente, confiével, normal, familiar, verossimi ser verdadeira** Por outro Ia verdadeira e, portant, (nua incrédulo até que se conveng essa correspond & realidade material dos fatos. Trata-se de contex narrativas diferentes. Afinal, LNI e 0 LI no devem jamais esquecer que © direito no € literatura,” bem como que uma boa narrativa para a litera- tura pode ser ruim para 0 direito, A base dessa questio esté um problema fundamental que concerne a0 conceito de verdade: a definicao da verdade epende do contexto em que é formulada Portanto, contextos diferentes podem implicar conceitos diferentes de verdade, ¢ & a diferenga dos contextos que determina a diferenga nas definigses da verdade.” E, por conseguinte, vas e fatos © discurso habitual sobre narrativas e story-telling aborda todos os aspectos do caso (mesmo quando concerne especificamente @ contextos processuais), juntando em um todo indistinto tanto os aspectos juridicos como fs aspectos fiticos da sitwaggo em questao.” Isso pode depender de varias razdes, Uma delas pode ser que os juristas tendem a falar muito mais do direito do que dos fatos. Outra razio pade ser que a pratica da narrativa jurfdica (e também da narrativa processual) tende a n iar diversas distingdes, como aquelas entre fato e direito ¢ entre fato ¢ valor.”* Uma terceira razao pode ser que a distingio fato/direito € um problema tradicional ¢ sem resposta, nao ‘nos quais isso conceme sobre~ A somente nos ordenamentos tudo a separagao de fungies et 6,de qualquer modo, incerta e problemitica; possui diferentes significados. smo nos sistemas de civil Jaw, onde € usada em ps ular para definit os limites dos poderes das cortes supremas.* Uma quarta importante) razio é que definir um efaro» pode fazer com que surja uma série de questdes filoséficas, de modo que se pode tender a nao falar especifica- mente de «fatos». Nenhuma surpresa, por conseguinte, se a teoria corrente do ling no leva em consideragao a distingao entre fato Seria necessério levar devidamente em conta todas essas dificuldades quando se fala em narrativas processuais. De qualquer forma, € claro que ingdo entre fato e direito & IN. do T.] No texto origi aparece 20 longo 40 (eto Chi. Twine: 2006: 283, 293, 337, Sobre arelugao entre vracidadeffalsidade e qualidade narratva das histrias vtamibem infra, item 5 saz complexos que nfo podem er 60 MICHELE TARUFFO a fatos. Nao hi divides (ainda ng) de que os fatos devem ser «levados a sério».* Muitas causas so vencidas ow perdidas «nos fates», dependendo de se o autor conseguiu ou no provar 05 fatos postos ‘como fundamento de sua deman fatos stio complexos em demasia ¢ de direito. Além disso, no proceso (© mecanismo que concerne as provas ¢ A sua producio. Por ide de se falar especificamente em «narragdes de sentido para qualquer pessoa com um minimo de experiéneia na prati procedimentos judicidrios. Pode-se, por conseguinte, presumit racional ‘mente que 0s fatos do caso possam ser separados dos aspectos juridicos da controvérsia, ainda que reste claro que as duas dimensées estio estreitamente conexas. De resto, fato e direito, por serem conexos, devem ser concebidos ‘como diferentes, ou, pelo menos, como diferenciaveis. Em realidade, os fatos -0U seja, separando-os da dimensio , faz referencia aos fatos € empirica: as narrativas podem incluir somente fo». Um enunciado de fato € qualquer enunciado em que lum evento € descrito como ocorrido «assim e assim no mundo real (que, ‘obviamente, ¢ pressuposto como existente e no somente como imaginado ou 10 de algo que se diz haver iado 6 apoftintico: pode ser verdadeiro ou falso. ainda, pelo menos um sentido ingdo entre fato e direito Essa distingao € inevitivel quando de e deve ser provado em um processo. O 10 nao pode ser «provado» no. (0s (ou Seja, os enunciados sobre os fatos) so objetos de prova. Os enunciados relativos aos aspectos juridicos da controvérsia podem ser ‘objeto de escotha, de interpretagdo, de argumentaciio e de justificagao, ma podem ser provados. Também os enunciados lerpretagio, de argumentaeao € de justifieagdo, mas, sobretudo, pode-se provar que esses siio verdadeiros ou falsos. A relevancia das provas is aprofundada desse problema eft. TA “se pressuposto funda se ficas, que nBo povlem ser aq Sobre o retorno & uma concep «correspond Sobre esa carscterstca dos enunciade fins v. tambem inf NARRATIVAS PROCESSUAIS 6 (ou seja, a condico fundamental para sua admissio no proceso) € contro- jo referéncia aos enunciados que concernem aos fatos prineipais ees juridicas propostas pelas partes para to no necessita ‘vida das pessoas. Isso significa que geralmente esses sto dete! ‘uma perspectiva macro: mesmo quando esto envolvidas a microfisica ou na definigao dos «faros da causa» alguns aspects que ados em consideragio. Pri 05 Fatos SHO 1s com base em sua relevancia na controvérsia. As ¢ tes ndo sdo levadas em conta, quando se trata de estabelecer er provados. O critério para valorar a relevancia tem dois, (no jargio estadunidense: mare ‘quando corresponde ao tipo de fato definido pela regra juridica (escrita ou fundada em precedentes) considerada como possivel base juridica para a € 05 fatos especificos so relevantes is) quando corres, 0." Portanto, 0s fatos relevantes sio definidos com referéncia & norma cuja aplicagao é vislumbrada como critério para a di inal: esses fatos so os facts probanda funda- mentais (ou seja, 0 principal objeto de prova) e representam 0 contetido dos cenunciados Fat é logicamente relevante se, no sendo principal ser usado como uma premissa, como ‘um ponto de partida para inferéncias que podem levar a conclusdes sobre a veracidade ou falsidade de um enunciada relative a um fato principal."® 62 MICHELE TARUFFO 3s fatos podem ser simples (como quando um evento singular envolve uma ou duas pessoas em um momento especifi cde complexidade (como quando varios eventos relacionados entre si envolvem ‘muitas pessoas), € podem ser extremamente complexos (como quando uma série de eventos distribui-se no tempo ¢ envolve centenas, milhares. ou iIhdes de pessoas"). Consequentemente, as vezes esses podem ser descritos, por um ow poucos enunciados

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