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ISBN 978-85-020-5981-8 06-7787 cou-947.9(81) 3479181) Aos colegas e amigos que se empenham, no il e fora dele, em fazer progredir a nossa € aprimorar 0 fancionamento da Jus E claro, no entanto, que nenhum outro credor, além do demandante, figuraré no titulo executivo, que é a sentenga condenat6ria: nesta no se ar-se as contempladas no es- O credor estranho ao feito poder promover a execucio invocando a sentenga favordvel a seu consorte. io fica o devedor impedido, naturalmente, de impugnar a execusdo, argilindo, pela via propria, excegao pessoal que tenha, oponivel ao exe- tiente. Até se concebe que o executado negue a prépria qualidade, este invoca, de credor solidatio, ¢ Ihe rejeite, consequentemente, a macdo para executar. 4.3. Rel “ancia do fundamento da sentenca Visto que a a respeito dela ¢ com que base se chegou a semelhante cor descumprimento desses preceitos dard ensejo, obviamente, a em- bargos de declaragio (Cédigo de Processo Ci Setembro de 2005, 234 CONSIDERAGOES SOBRE A CHAMADA “RELATIVIZACAO” DA COISA JULGADA MATERIAL* mos as aspas ndo apenas para indicar que ambas as expressées foram cunhadas por outros autores; elas indicam também, Jogo de saida, reservas de ordem te ica que nos ocorrem. Comecemos pela palavra to a circunstancia d zach". NEO nos impressions mui- mnrios, como. uma das formas da natural 8 novos, e esses se aiguram sneira compativel com a indole do idioma portugues. Nossa tem outro motivo, E que, quando se afirma que algo deve ser 822, Genesis — Rev. Rev. de Dit do TIRI, 235 “relativizado”, logicamente se da a entender que se est enxergando nesse algo um absoluto: nao faz sentido que se pretenda “relativizar” 0 que jé é relativo. Ora, até a mais superficial mirada ao ordenamento jurfdico bra- sileiro mostra que nele esté longe de ser absoluto o valor da coisa julgada para nos cingirmos, de caso pensado, aos dois exemplos mais ostensivos, eis af, no campo civil, a aco resciséria e, no penal, a revisio criminal, destinadas ambas, primariamen vinacdo da coisa julgada. O que se pode querer — e é o que no fundo se quer, com dicgdo imperfei- ta — € a ampliagdo do terreno “relativizado”, o alargamento dos limites da “relativizagio” ‘Soa também inexata a locugio “coi: Como quer que se conceba, no plano tedrico, a substancia da coisa julgada ma- terial, & pacifico que ela se caracteriza essencialmente pela imuta — pouco importando aqui as not6rias divergéncias acerca daqi torna imutavel: 0 contetido da sentenga, ou os respectivos ef Ia e estes®. Pois bem: se “incon: Constituigio” (e que mais poderia signi de modo adequado 0 fendmeno que s: 104) e em mais de um dos teabalho: 2.A referéncia a ambos os elementos (conteido e efeitos) reflete com maior fide= lidade © pensamento de Lizawas do problema fora tratado ex professo, a rubrica do § 3 uma quite ivizagio” 52). Na medida em que resiringeo a ‘ce da coisa julgada material, Iimitando-a aos efeitos da sentenga (com abstragio, pelo ‘menos aparente, do respect esse modo de falar afasta-se parcialmente do. Pensamento liebmaniano — o que por si 6, € dbvio, no © compromete: também pars ‘ngs, a teoria de LitMAN 6 aceitivel s6 em parte (naguela em que se exelui do rol dos efeitos da sentenga a auctoritas ret iudicatae). 236 nela prépria, e ndo na sua imutabilidade 5, ou na de uma € outros), € que se poderé descobrir cont riedade a alguma norma constitucional. Se a sentenca for contréria & Constituicdo, ja 0 serd antes mesmo de transitar em julgado’ 4 mais do que era depois desse momento, Dir-se-4 que, com a coisa julgada matet 0) mnalidade se cristaliza, adquire estabilidade; mas continuard a ser verdade que o defeito Ihe preexistia, ndo dependia dela para exsurgic. S6 se poderia julgada com a propri Lei de Introdugao do jud casos de injustiga vista como in como aos da (impropriamente) di Adiante voltaremos a0 assunto, para passar em revista os exemplos, costumam invocar em prol da tese. Antes, porém, é oportuno int Ponto nem sempre bem esclarecido nos trabalhos que se vém publicando a respeito, mas de grande importancia no tocante as conseqiié mite da coisa julgada & iste um deles em negar a prSpria , af, no chegaria a formar-se, a Aveis para novo exame no mesmo processo'. Outro caminho consiste em feconhecer a existéncia da coisa de que se cuida, nao ha cogi reapreciagdo da ma existéncia da pbliea. Cf, infra, 4, Parece se essa a __Samento nada tem aqui de nove: 20 julgada material, mas entender que ¢ posstvel negar imutabilidade @ sen- tenga em razao do vicio grave que a inquina; em outras palavras, entender que a coisa julgada é suscetivel de ser desconsiderada®. Fora dessas das, no vislumbramos maneira de configurar dogmaticamente 0 fenémeno. Para que se possa pér de lado o empecilho, decorrente da res iudicata, & Jo € reapreciacio da matéria em proceso subseqiiénte®, ou se parte da premissa de que na espécie ndo hd coisa julgada, ou se afirma ue a coisa julgada, embora exista, comporta desconsideragdo. Se n&0 nos enganamos, tertium non datur indivel, a0 nosso ver, que se expliquem a tal propésito os ivizag4o”, a fim de que se possa avaliar a coerénci: terna do pensamento de cada qual. Com efeito, em perspectiva de lege lata frise-se, a adotada neste passo —, para respeitar os ditames da l6gica, seré forgoso, segundo o caminho por que se opte, admitir determi- nados corolirios e passé-los pela pedra de toque do direi v0. Assim: quem sustente a inexisténcia da coisa julgada, teré coerente- mente de rejeitar o cabimento de ado resciséria contra a sentenga. O art dav, no mesmo trabalho, p. 72, declara CANowo DixawaRo, o-n0360 ver contraditoriamente, que aceita “a ida da coisa julgada inconsniucional” (gifado no origin 5. Assim devem pensar os que se valem da expressto “coisa juga zal", onde naturalmente se pressupde a existéncia da coisa julgada. Com el ‘que existe pode ser qualificado de inconsttucional: 0 que nio existe, um inico aj ‘vo se mostra aplicdvel:inexistente, 6. A definigdo do art. 467 do Cédigo de Processo Civil alude sucessivamente abi indiseu se poderia mudar © que fora deci- condigées discuir seria perder tempo e desperdigar energias. Nosso pen lo séeulo passado jé assinalava Hetawo6, System tschen Zivilprocessrechis, Aalen, 1968 es 485, caput, do estatuto processual limita esse cabimento, em termos ine- entenga revestida da autoridade de coisa julga- Destarte, paradoxalmente, a superlativa gravidade do vicio (inclusive a ofensa & Constin menos graves — 0 requisito bésico da admissibilidade da rescis6ria: se- hante via estard fechada a quem queira impugnar a sentenca, apés a preclusao das vias recursais. De outra parte, quem prefira trilhar o outro caminho, aceitando que a julgada existe, mas pode ser posta de lado, precisaré acertar as tas com disposi¢des igualmente c ac caso em que poderd a parte pedi a revisdo do que foi estatuido na sentenga; II — nos demais casos prescri- tos em lei". Reza 0 segundo: “Passada em julgado a sentenga de mérito, reputar-se-do deduzidas e repel parte poderia opor assim ao acolhimento como a rejeigao do pedido”” Dos dois incisos que, no art. 471, abrem excegdes, nenhum aqui se aplica. Quanto ao inciso I, nao se esté cogitando (rectius: nao se esté ne cessariamente cogitando) de relagdes juridicas continuativas; e, a tratar-se de alguma relagdo dese género, nem por isso o problema se poré em 7. Falando da sentenga 0 Fast indi © abrangem outro qualquer. Sob esse aspecio a regra altma 0s prineipios inetentes 8 coisa julgada material a que inguestionavelmente se refers". 239 termos diferentes, visto que a proposta de “relativizagao” nao distingue entre as hipéteses indicadas no texto legal e outras quaisquer. Ademais, ho se apontam “casos prescritos em \eiso TI) em que se autorize, com a largueza preconizad: — sempre de lege lata —, 0 art. 471 e seus incisos exigem daquela proposta credenciais que ela nao parece capaz de exibir. ‘Vamos ao art. 474, Nele se consagra a eficécia preclusiva da coisa julgada material into grosseira) da ficga0 Juridica, Diz o texto que se “reputardio” deduzidas e repelidas as alegacdes © defesas ex utraque parte, ainda quando fossem capazes, se deduzidas, de levar o processo a desfecho diverso. Noutras palavras, “fingir-se as deduziu o legitimado a tanto, mas o juiz no as acolheu. A rigor, nem essa formulagio é exata: a eficdcia preclusiva abrange também as questoes (como as de direito) de que o proprio érgao judicial poderia haver conhe- ido ex officio, porém Ihe escaparam & atengio, Cumpre ressaltar a distingao entre a problemética da eficécia preclu- siva € a dos limites objetivos da coisa julgada, regidos estes fundamental- + com dicgao negativa, pelo art. 469 (““Nio fazem 1 — os motivos, ainda que importantes para determ te dispositiva da sentenga; II — a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentenga; III — a apreciago da questo prejudicial, deci- dida incidentememte no processo”). $20 duas disci por assim dizer, complementares. De um lado, mesmo as mente resoh 08) da decisio sobre © pedido, ficar sso podem ser livre- mente suscit ior sobre lide diversa, De outro lado, até as questdes ndo resolvidas subtraem-se a nova apreciagao ‘em processo ulterior sobre a mesma lide (ou, adite-se, sobre lide subordi- 10, Sem divida, na ago re rocedente que soja o pedo de rescisio, pode ceaber (¢ cabe na maioria dos casos) o reexame da matéia julgada (art. 494), mas aso acontece precisamente porque se desfez, no iudicium rescindens, 0 Obie da ni facreseente-se que, segundo entendimento pacific, 6 Laxativa 0 ol dos pos: ‘mentos da rescisdria, constante do art. 485 (vide Bansosa Montita, Comentérios ao ro, 2003, p. 154, comoutras ile de pafses que tém institutos andlogos, em a nota 126). |. Sobre 0 assunto, permitimo-nos remete © lelor a0 nosso escrito A efiedcia Preclusiva da coisa julgada material no sistema do processo civil brasileiro, in Temas ide 0 versamos con algum desenvolvimento. tegido (=e: pretenda su © que quer que cogni¢ao da matéria lide. A coisa julgada (com sua eficdcia preclusiva) unicamente prevalece dentro das fronteiras que o ordenamento positivo the traga, Reconhecer e respeitar essas fronteiras de modo al PRECLUSIVA Convém explorar sem a pretensao de esg ouco mais a fundo — embora, obviamente, lo —o tema da coisa julgada material como 12, Merecem wanscrigfo, pela clarezae preciso com que explicam 9 principio se- _gundo o qual “a coisa julgada cobre o deduzido e o deduaivel”, as palavras (aplicavels a0 4ed_,Népoles, 2002, che non sempre av site parecerista, em algum outro traballo, ue hhja aderido a tee da “telativizagao”. Esse parecer, contudo, no € inv cla, Bast ico. A conclusio da autora foi a de que “o ra de reconbecimento nfo €igualo ok da relaglo de pateridade’,e porta improcedéncia da agdo anilatéria nfo impede a propositrae eventual procedéneia de G30 eclaratéria de inexistincia de relagio de pateridade”. Pode-se cancordar on discordar dessa conclusdo; 0 que nto se pode &enxergarnela adesio & proposta“relatvizadora”. "241 situagio dotada de eficécia preclusiva"*. Hé situag6es juridicas que, ao se formarem, pressupdem desconformidade com a situagao anterior, ¢ delas. se diz que tém eficécia constitutiva. Outras ha que, a0 contrério, pressupgem conformidade, 20 menos no essencial, com a situagdo anterior; a respec tiva eficdcia € meramente declaratdria. Mas ainda hé uma terceira cate- goria, em que a nova situacdo juridica independe da conformidade ou desconformidade com a anterior; € af se tem a eficdcia preclusiva. Nas situages dotadas desse terceiro tipo de eficdcia, abstrai-se por completo do que ficou para tras: nada importa que se haja ou nao divergido da situ- ago preexistente; faz-se tébua rasa dessa situago; todo e qualquer efeito que haja de ser produzido emanard da nova situacdo. Opera-se, por assim dizer, uma cisdo entre 0 que passou e o que agora existe, de modo que jé no € poss{vel remontar & fonte sendio na estrita medida em que o direito positivo, a titulo excepcional, o permita, A prescrigo é exemplo t{pico, no plano material, dessa espécie de situagdes. Certamente, para fazé-la valer, & necessdrio, em regra, que 0 interessado a alegue (Cédigo Civil, art. 194); se, contudo, ele o faz, e 0 Juiz acolhe a argiigdo, despe-se de toda e qualquer relevancia a questo de saber qual era, na verdade, a situaco anterior. Pode ser que o crédito existisse, pode ser que nao; pode ser que a pretensao fosse fundada, pode ser que nfo. Acolhendo a argli¢do de prescricao, o juiz dard por encerra- da sua atividade cognitiva: nada mais tem que investigar, e erraré grave- mente se acrescentar, na sentenga, o que quer que seja a respeito da relagao Juridica litigiosa. Outro exemplo € a usucapiio: uma vez consumada, no interessa perquirir se 0 usucapiente jé era proprietério, a titulo diverso, ou se $6 agora adquiriu a propriedade. O passado tornou-se irrelevante. Pois bem: é nessa terceira classe de situagdes que se enquadra a coi- sa julgada material. Desde que ela se configure, jé no hé lugar — salvo expressa excegio legal — para indagagdo alguma acerca da situaco an- terior", Nao porque a res judicata tenha a virtude magica de transformar tamento —tearia generale, in Enciclopedia del di da por Mackano Guniaas Direito Processual Civil, Rio de Janeiro-S. Pat 15. Sob o regime de 1939 (do qual nfo se afasta, Maciaoo GuimaRAes; ab, cit. ema nota 14, supra, p. ‘de aplicagaorigoross, tosna lei, como ¢, por exemplo, 0 previsto no do estatuto processua 242, © falso em verdadeiro (ou, conforme diziam textos antigos em termos pitorescos, de fazer do quadrado redondo, ou do branco preto), mas sim. plesmente porque ela toma juridicamente irrelevante — sempre com a ressalva acima — a indagacao sobre falso e verdadeiro, quadrado e redon- do, branco e preto, Naturalmente se concebe que, em algum caso, a coisa julgada se desvie daquilo que existia, segundo o direito material. Os juizes nao gozam da prerrogativa da infalibilidade: podem apreciar mal a prova, resolver erroneamente as quaestiones iuris; ou talvez 0 interessado no estive usta, De sua possivel injustica, todavia, s6 hi cogitar se ainda vel algum meio de tentar modificé-la. Formada a res iudicata, corre-se sobre a questiio uma cortina opaca, que apenas disposigio legal — a titulo excepcional, repita-se — pode consentir que se afaste A lei procura, no hd dtivida, criar todas as condigdes para que 0 produto final da atividade cognitiva reflita com fidelidade a configuragao juridica da espécie. Com tal objetivo, ela enseja as partes amplas oportu- nidades de apresentar ao érgiio julgador argumentos e provas; pode auto- rizé-lo (e, em nosso ordenamento, expressis verbis 0 autoriza: art. 130) a buscar por iniciativa propria elementos necessérios a formagio de seu convencimento; abre aos interessados a possibilidade de impugnar, uma ‘ou mais vezes, as decisdes que Ihes parecerem incorretas; chega, em cer- tas hipsteses (como, entre nds, as do art. 475 e dispositivos anélogos), a fazer obrigat6ria.a revisdo, em grau superior, da matéria julgada. H, porém, ‘um momento em que a preocupagao de fazer justiga se sobrepde a de nio deixar que o litigio se eternize. Desse momento em diante, impede a lei que se prossiga na investigacao; e, se foi julgado o mérito (= foi compos- twa lide), profbe que, em qualquer proceso futuro, se ressuscite 0 assun- to. Algumas legislagdes, como a nossa, nem mesmo af poem um ponto final: permitem ainda a impugnagio da decisfio, mas tém o cuidado de ité-la a determinados casos, havidos por muito graves ¢ taxat previstos, e, em geral, tratam de fixar um prazo fatal para a via impugnativa — consoante se dé, no direito brasileiro, com a ago resciséria (art. 495). Fora de semelhantes lindes, simplesmente no tem propésito tentar repor em questio a justica do julgamento, Ressalvadas as hip6teses legal- mente contempladas, com a coisa julgada material chegou-se a um point 243 of no return. Cortasam-se as pontes, queimaram-se as naves; é impraticé- vel 0 regresso, Nao se vai ao extremo biblico de ameacar com a transfor- ‘maco em estétua de sal quem pretender olhar para tras; mas adverte-se ue nada do que se puder avistar, nessa mirada retrospectiva, seté eficaz- mente utilizvel como arfete contra a muralha erguida. Foi com tal obje- tivo que se inventow a coisa julgada material; e, se ela nfo servi para isso, a rigor nenhuma serventia teré. Subordinar a prevaléncia da res iudicata, em termos que extravasem do élveo do direito positivo, a justiga da decisio, a ser aferida depois do término do processo, € esvaziar 0 instituto do seu sentido essencial. 4, SIGNIFICACAO DO FENOMENO DO PONTO DE VISTA DA POLITICA JURIDICA E comum justificar-se o fendmeno da coisa julgada material, do pon- to de vista da politica juridica, pela necessidade de seguranca na vida social. Cumpre que as pessoas saibam em que pé estfio no mundo do di- reito, para poderem pautar sua prépria conduta por esse conhecimento. Surgindo uma crise, entrando em conflito interesses, instalando-se um litigio, ¢ nio sendo possivel regularizar a situago no plano privado, 0 aparelho judiciério fica & disposigdo dos interessados para formular a norma juridica concreta a ser observada (e, se preciso for, ala pratica- mente)'*. A atividade do 6rgio judicial, entretanto, seria vi — e nao atin giriao fim a que visa — se 0 resultado conseguido ficasse indefinidamen- te & mercé de discussdes e impugnagGes. A tanto obsta o mecanismo da res judicata, Essas so nogGes elementares; mas a expresso “seguranga’ algo palida para traduzir a significacao inteira do fendmeno"”, Ele s6 se deixa apreender em toda a sua importancia quando olhado por mais de um izar a import significagdo para a valoracio das proposta “relativizadoras" — ponto que poe em relevo Luz Gutuenste Manion, O principio da seguranga dos atos jurisdicionais (. 4a relarvizagio da coisa julgada material) in Genesis — Rev, de Dir Proc. Ci p.432es. 244 +e Angulo. Para as partes (e, eventualmente, para terceiros acaso sujeitos & coisa julgada, v. g. 05 sucessores das partes, 0 substituido nos casos de substituigiio processual), o aspecto que mais ressalta é na verdade o con- sistente na certeza de que, para todos os efeitos praticos, sua situagao, sub specie iuris, € aquela definida na sentenga, e nfo outra qualquer. A parte vencida pode ¢ costuma lamentar semelhante resultado; no entanto, feita abstragio dos acidentes psicolégicos e emotivos que o desfecho do pleito possa haver desencadeado, nao sera pouco razofvel pensar que até esse litigante algum proveito colheu: ele agora sabe em que termos € em que medida o seu interesse deve subordinar-se ao interesse do adversério —ndo ‘menos, mas tampouco mais do que estatuiu a sent Quanto ao vencedor, no hé como deixar de reconhecer-Ihe 0 direito A observancia do julgado". Ble recorreu ao Estado, proibido que estava de fazer justica por suas proprias mios; recebeu a prestagao jurisdicional; ssa conquista seria ilusoria se subsistisse a possibilidade, fora dos casos legais, de escapar-lhe das méos a vit6ria na préxima curva do caminho. Acrescente-se que a garantia é irrenuncidvel: nenhuma validade teria a declaragdo do litigante vitorioso de que, apesar da coisa julgada que 0 beneficia, ele “consente” em que a lide seja objeto de novo julgamento”. O interesse na preservagao da res iudicata ultrapassa, contudo, 0 cfreulo das pessoas diretamente envolvidas®. A estabilidade das decisbes ra Jost Freoenico Mangues, Manual de Direito Processual Ci subjelivo de Ser exigido o respeto coisa julgada’ 19.C1. Hh ca, de sont que a parte no pode abrir mao dela”, No mesmo Sento, em sede monogré- Jose Mania Tesneiner, Efcdcia da sentenca e coisa julgada no processo civil, S Pavio, 2002, p. 72. De resto, 50 ha no tor algum que, no Brasil, sustente o 20."Die Interesse der einzelnen Partei an- n Interesse einer geordneten Rechispfle- ides Rechisjriedens (A coisa julgada material nfo se ordena somente ao interesse jularmente considerada, sendo igualmente 20 interesse geral numa atividade ‘avenwo, Zivilprozessreckt, 24" ed., Munique, 1993, . 224. Em meados do século passado ja aludia Nixiscx, Zivilprozessrecht, "ed, TUbi io da paz social, ® economia a.cargo do Estado e dautoridade estat te & deciso do ju € condi¢ao essencial para que possam os jurisdicionados confiar na serie- dade e na eficiéncia do funcionamento da maquina judicial. Todos precisam saber que, se um dia houverem de recorrer a ela, seu pronunciamento teri algo mais que o fugidio perfil das nuvens. Sem essa confianga, crescer fatalmente nos que se julguem lesados a tentagio de reagir por seus proprios ficiais. Escusado sublinhar o dano que isso ccausaré trang Last but not least, a0 proprio Estado interessa que suas decisdes juris- icionais se armem de solidez. Comre-Ihe o dever de prestar jurisdigao; se © cumpriu, solutus est: seria peso restagdo quantas vezes Iho vier a s isfeito com o teor da decisdo. De resto, jé ninguém hoje concebe o: to de aco como dircito a uma sentenga favordvel; nem, por consegt hd de conceber o dever de prestar jurisdicao como o dever de dar ganho de causa a quem a requeira, Exercitado 0 direito de agio (ou 0 corr to de defesa), entregue a prestacao j nem clever de prestar jurisdigao: lo ndo prevista cm lei carecers de base juridica, sera juridica- legitima. Nao é por acaso que 0 Cédigo de Processo Civil ordena 20 Juiz. que conhega de offcio da prel julgada (art. 3 § 4"), recusando-se a examinar 0 ndo a encontre fundada (art entre as poucas (e taxativamente enumeradas) hipéteses de cabimento da ago rescis6 Nessa perspectiva, bem se compreende que o respeito de tudo iss0, deixa de produzir impressio mais funda a pro- E absurdo “eternizar injusticas para evitar a etemnizagaio s, nfl espelha com fidelidade a clara ‘opeiio do ordenamento: o que ele faz, para evitar a eternizagao de incerte- zas, é preexcluir, de certo momento em diante, e com as ressalvas expres- © a cogitar do dilema “justo ou injusto” no concemente ao teor da sentenga. Se assim, num caso ou noutro, se leva a ctemizagao de alguma injustica, esse é prego que o ordenamento enten- ddeu razodvel pagar como contrapartida da preservacao de outros valores. 5. A GARANTIA CONSTITUCIONAL DA COISA JULGADA. Até aqui, focalizamos o assunto no plano da legistagio ordinéria em. vigor. A essa luz, ndo hesitamos em negar a possibilidade de toda e qual- quer “relativizagio” da coisa julgada material além dos limites em que ja aprevé o ster, porém, analisar o problema em nivel constitucional. A exemplo de suas antecessoras, estabelece a Carta de 1988 que “a Jei nfo prejudicaré o direito adquirido, 0 ato juridico perfeito ¢ a coisa lgada” (art. 5°, n® XXXVD. Li a retroeficdcia da lidade bem mai Salta aos olhos, desde logo, a colocagao do dispositive, no Cay 1 Dos direitos e garantias individuais e co tos e garantias 0 da garan nt XXXVI, fine. Destinatarios da garar turalmente, em primeiro lugar, as partes do processo em que se formou 4 coisa julgada, ¢ os terceiros eventualmente sujeitos a cla. Mas nao s6 esses: a garantia no € apenas individual, senao também coletiva, Protege se igualmente a coletividade. Segundo ja se registrou (supra, n° 4) ‘gualmente tem interesse na regul: da maquina in genere). Tal regularidade englo- 247 ba, entre outros itens, a estabilidade das decisées nos precisos termos da legislagao processual, A garantia da coisa legal (art. 5, n® LIV). C gada articula-se com a do devido processo 10 € pacifico, deve ser interpretada com largue- zaa disposicao que a ele se refere: ndo € s6 a privagio da liberdade ou dos bens que se subordina ao devido processo legal, mas toda e qualquer in- geréncia da atividade judicial na esfera das pessoas. A ingeréncia sera legitima na medida em que prevista na ida pelos meios sob ima, Se 0 Poder Judicisrio «a interferir sendio quando a ‘tanto 0 autorize, ¢ da maneira legalmente prescrita. As pessoas so pos- tas a salvo de ingeréncias arbitrdrias — e ¢ arbitraria toda ingeréncia nfo contemplada no ordenamento positivo, inclusive a reiteragao fora dos quadros nele fixados. 6. A ALEGADA EXISTENCIA DE CASOS MERECEDORES DE. TRATAMENTO DIFERENCIADO. UM CRITERIO INACEITA- VEL DE IDENTIFICACAO Nos itens anteriores descrevemos um sistema, com fulcro em dados do nosso direito positivo, constitucional e infracon: to, contudo, de’ visual, para cor daqueles qi a coisa julgada material menos em principio — obstaculo a reapreciago da matéria decidida por sentenga trinsita em julgado, afirmam a existéncia de casos especiais, merecedores de tratamento diferenciado, e em relago acs quais se impoe a “relativizagao” (ou, mais exatamente, a ampliagéo del Conforme se assinalou oportunamente (supra, n? 2), dois so 0s cami- thos trilhados para chegar a tese: ou se nega, nesses casos, a prpria exis- tencia da res iudicata, ou se sustenta que, apesar de existr, ela comporta desconsideragio, Impencle examinar em separado cada um desses modos de pensar, com os argumentos empregados para servir-bes de apoio. Logo de comego, porém, cabe um reparo de ordem genética. Mesmo a doutrina favordvel, em maior ou menor medida, & proposta “relativiza- cit. ema note 2, ‘das hipoteses para as qusis se sugere a . 7213, que ressal- ingéncia" da coisa dora” niio pode deixar de adver mera invocagio de eventual “injustica” contida na senteng: julgado”. Condicionar a prevaléncia da coisa julgada, pura e simplesmen- te, B ve o da justiga da sentenca redunda em golpear de morte 0 . Poucas vezes a parte vencida se convence de que sua derrota foi justa. Se quisermos abrir-Ihe sempre a possibilidade de obter novo julgamento da causa, com o exclusivo fundamento de que o anterior fe teremos de suportar uma série indefinida de processos con idéntico objeto: mal comparando, algo como uma sinfonia ndo apes inacabada, como a de Schubert, mas inacabavel —e bem menos bela’ ingir 0 alcance do sul ‘u outro equivalente (“flagrant tir oque &€ 0 que nao sido fonte constante de inedmodas dificuldades préticas, a0 longo do tem- po. Haja vista, no direito das obrigagdes, a teoria da culpa: so bem co- hecidas as oscilagées ¢ controv doutrina e jurispradéncia emper “ grave" (lata) € 05 de" -vissima’’). O empenho de tracar Jinhas fronteirigas na gradagao da culpa produziu um emaranhado de © Cédigo Civil alemio (Biirgerliches -m boa hora pés de lado as preocupacées do direito anterior Gesetzbu Coisa juigada relaiva?, in Re: cenga pata subserever fab. cit em a nota 14, © regime anterior, mas em ligio ainda vilida hoje: "O dieitopositivo a validade e imutabilidade & sentenga revestida de autoridade de coi ou injusta”. E ehegava ao pono de afirmar que a sentenga Ada uctoritas rei iudicatae &a pedra-de-toque para ferr a natureza da coisa iadestruindo o conceito de coi Fiscussio sobre a m a reapreciar a mat 29. No trabalho de CAxpipo Disaxeatco cit. em nota 2, supra, p. 67 Tocugio “injustigas graves”, Maso autor, abem da verdade, no 5 cor fldvel suporte: € mas 9 0, que adiante examinaremes (infin, 2" 6) delberg-Karlsrube, 1977, v.2, p. 44/5. granas"", Continuamos as voltas com o problema da caracterizagio do “dano grave” e da “lesao grave” (arts. 172, § 1°, 558, caput, 798). Seria Jamentével que tivéssemos de desperdigar mais tempo e energias no trato a, a fim de discernir as hipéteses de “injustica grave” 0", aquelas suscetiveis, estas ndo (por qué?), de fundamen- tar a revisio do julgado — com o risco de nos enlearmos num casufsmo exacerbado....e exacerbante. 7. O CRITERIO BASEADO NA “IMPOSSIBILIDADE JURIDICA DOS EFEITOS SUBSTANCIAIS DA SENTENCA” ‘Uma das mais articuladas propostas d viduar 0s casos merecedores de tratamento e: 4 nten- ga”™.A esséncia da argumentagiio consiste na assert icidindo 8 auctoritas rei iudicatae sobre os efeitos substanciais da sentenga, onde esses efeitos inexistam, inexistira também a coisa julgada mates Ap6s répida alusdo &s sentencas meramente terminativas, passa 0 figurar outras que, sendo embora de iro”; sentenga “que condenasse uma pessoa a dar aoutrem, em cumprimento de cléusula contratual, determinado peso de sua carne, em conseqiéncia de uma divida nao honrad: condenasse uma mulher a propo mento 20 disposto por ambos em clausula c Reconheca-se desde logo que os exemplos so, por assim dizer (sem ironia), pitorescos. Outra questio & saber se existe alguma probabilidade de que hipéteses tio esdnixulas se concretizem no mundo real. A da con- denagao a dar peso de carne foi extraida — e 0 autor explicita-o em nota — da obra de Shakespeare “O mercador de Veneza’. Nio se pode adivinhar ‘© que pensaria 0 bardo de Stratford-on-Avon desse aprov los depois, de uma situagio ficticia mesmo ao tempo em que The ocorreu fazer dela o eixo de sua pega. Com a devida vénia, e sem quebra do res- peito & grande autoridade intelectual do jurista, os restantes exemplos arecem igualmente haver sido escolhidos a dedo, como outrora os livros destinados ad ini christians © reparo maior que a tese suscita. Sua falha bi ca reside em fazer depender a conclusio (inexisténcia da coisa julgada de uma premissa te6rica que nada tem de saber ade catae é algo que se vincula unicamente aos efeitos Pouco importa saber se a concepgo exposta af reflete ou nndio de modo ex: obra, se confessa a0 crivo da eritica, 10 (¢ fastidioso) reproduzir neste passo os ‘com que nos animamos a contestar a idéia de uma Parece-nos desnecess argume entre a a, O principal, 35, Pedimos licenca para remeter o rofesso: um dele ), Rio de Janeiro, 1971, p. 133 € s, espec. 1380 80 0 . propondo que ‘os “efeitos” da semtenga, const ‘Tampouco Lutz Fux. Curso de Direito Processual Ci neiro, 2004, p. 821 e s, estabelece qualquer vinculagio entre efeitos da sentenga ordenamento processual brasileiro: nos termos do art. 467, 0 que se torna “imutével e indiscutivel", com a coisa julgada, é a prépria sentenca, no os respectivos efeitos®. A construcao ora sob exame falta, pois, fundamen- to legal, além de apoio doutrinario macigo”. 8. A “COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL” Ja se notou (supra, n® 1) que a expressfio “coisa julgada sa: na sentenga, e ndo em sua imu ia de contrariedade & Const sentenca que ofenda a Constituigo comporta impugnagao por meio de recursos previstos no ordenamento n deles se ordena precipua- mente a essa impugnacdo: 0 recurso extraordindrio ex art. 102, 0° T a, da Carta da Republica. Se porventura transitar em julgado. cula, cabers ago resciséria para desconstitui-la: & pacifico que o texto do art. 485, n® V, do Cédigo de Processo Civil (verbi al disposigio de lei”) abrange a Constituicao™, A admissibilidade da agio resciséria” mi- ta contra a tese de que tal sentenca & mula (no sentido proprio): nao ha 36. CE Montz bb ARaGAO, Sent. € +P. 239. Tratamos, com algum desen- de saber se Se resolve, alias, jomem da rua, euja supesta opinito € invocada por CANDIDS sma nota 2, supra, p. 68. p.227, 3 Hussexro TheovoRo JuNIon— JULIANA CoRDEIRO Hi Fanta, tab cit. em a nota 25, supra, p. 96, 40. Interessante notar que na ‘pant em prol da relativizagao" Cit, p. 684; grifado no original). 252 necessidade de ago lo havendo necessidade, nfo hé i Seja como for, esses — e nfo outros quaisquer — slo os meios de controle da constitucionalidade das decisées judici ia e nao € atingida pelas vi 1em € outra a razao p a declaragao da inconst “Localiza-se 0 ineresse proce amen na necessidade do processo come remédio apto ’ api satel nal no 6 No tocante as decisdes proferidas pelo Supremo Tribunal Federal em agdo direta de declaragdo de inconstitucionalidade ou em ago declaraté- ria de inconstitucionalidade, tamanho foi o empenho do le preservacao da respectiva estabilidade, que se chegou ao ex! to de ago rescisoria (Lei n* 9.868, de 10-1. 26, fine). poderd alguém discordar da decisio, pensar que ela € errOnea e fere a Lei Maior. Mas a discordancia nao terd relevncia pri- tica. Seria estranho paradoxo admitir a desconsideragio de julgada que nem sequer peta re que “the Supreme Court's last guess ‘Ao que tudo faz crer, cabe aditar, os meios de controle previstos no tes para atingir o fim visado, Os exem- plos (confessadamente excepcionais) que se costumam invocar para fun- lar a proposta di ivizagao" ou tém sabor merai ou no perm ‘da norma declarada inconsttucional ‘ecisio em contirio do Tibunal Constitucional quand a norma respeitar a matsria penal, 0 de ilfito de mera ordenacio social ¢ for de conteida menos favordvel 19 arguido” (an 282, ns. 1 3) 45. Como €, note-e com a devida vénia, o da decisto que deferisse a secessto de tado-membro,figurada por Cxpio0 DisaManco, terrorem. Imptessiona-nos, por 0 tensto da lista das hipdeses vistas pelo eminente Ministco do Superior Tribunal Federal — a quem prestamos a homenagem de nossa admiragio e estima — como de sentengas “ 0 fore ada que poderio, a qualquer tempo, ser desconsti- dora da existéncia de um fato que nio est ade a que contenha simples erro de fato, indepen 254 conhecimento mais profundo das espécies poderia talvez reve- jidade de dar remédio adequado a situagao sem infringir 0 ‘ordenamento positivo, 9. UM CASO REALMENTE DOTADO DE CARACTERISTICAS ESPECIAIS Dentre a abundante (¢ néo raro desconcertante) exemplificacdo invo- ‘hd um caso que se distingue -m-se voltado com maior wunais, Referimo-nos & pos. gado a sentenga em agio de investiga- ‘80 de patemidade, venha a realizar-se o exame designado pela: DNA, desconhecido ao tempo do processo, e dat resulte a comprovagao, , da filiagdo biol6gica, em sentido inverso a0 que se vel ignorar a importincia social e juridica do problema, ou minimizar 0 aspecto relacionado com os direitos da personalidade, do investigante e do investigado. A toda pessoa deve reconhecer-se 0 direito de ver declarada em termos verdadeiros a relagio de filiagio que a liga a outra, assim como a esta, reciprocamente, 0 direito de ver negada, em termos igualmente verdadeiros, a condigdo de pai daquela. A discrepaincia centre a motivagao in facto da sentenga ¢ a realidade assume ai colorido mais chocante do que noutras hipoteses. 0F Si 56, que tornia 0 caso tao espe- usa, como em todos os outros, é a jio — e, por delicada que seja a in sentenca o do pracesso. Os embargos podem ser oferecidos —0 que evidencia a nenhuma ‘matéria, jé se mostrou que a injustiga nao ¢ razao suficiente para submeter a regime excepcional a sentenga transita em julgado. O assunto demanda consideracao mais cuidadosa. Seja dito, antes de prosseguirmos, que estamos aqui presumindo, & guisa de hipotese de trabalho, a plena confiabilidade dos resultados do teste de DNA. Semelhante premissa ndo é incontroversa: tém-se suscitado

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