Terror e Miséria No Terceiro Reich - Bertold Brecht

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Terror e Miséria na TERCEIRO REICH BERTOLT BRECHT cae Terror 9 Miséria no TERCEIRO REICH 01 DOENCA PROFISSIONAL Eis aqui a ilustre classe médica, décil servidores do Estado. S40 pagos por cabeca: recebem o doente retalhado pelo carrasco e o devolvem remendado ao matadouro. Berlim, 1934. Enfermaria num hospital de caridade. Um doente novo acabou de ser trazido; as Enfermeiras estado escrevendo o nome dele na tabuleta 4 cabeceira do leito. Dois doentes vizinhos conversam. o1 + i PRiMEIRO Doente :-— Quem.€?.....- sone Eo wwhy “SEGUNDR DOENTE — Acho: que, ji 9 vf Pa saia de costora. ‘oe Ey fiquci bem. av Jado da maca dele. Ainda @stava con- “cliente, mis n’o respondeu quando Perguntci © que sentia com uma ferida 56, da cabega aos pés. -PRiMuRO Dount — Vocé niio devia ter Perguntado. SEGUNDO DorNTE — $6 vi depois que o cnfaixaram. Enr META — cio! O Professor! Com wn séquito de Assistentes © enfermeiras, entra na enter maria o Cirurgido. Pina diante de uma cama e postila. Cinurciio — Meus Senheres, cis aqui um belo caso, Mais uma ~ vez SC cComprova: sem uma anamnese Profunda ¢ uma de talhada investigagio das causas ocultas de uma enfermi dade, a medicina cai no terreno da charlatanice, O Paciente, presenta todos os sintomas de uma neuralgia, © recebe © tratamento adequado a esse diagndstico, durante muite tempo. Na realidade ele’ sofre do “Mal de Raynaud”, que contraiu no exercicio. de sua Profissio como operirio numa, fibrica de apareliias de ar comprimido. Trata-se portan {9, senhores, de uma docnga profissional. Agora nds estn mos dando a cle © tratamento adequado. Este caso é um cxemplo do erro que significa considerar 0 docnic come um mero avessitiwal » a0 invés de indapar de onde ven) © pacicnte, SwBe contrait_a moléstia, © para onde re- ~ formar: depois de curado. Quais sio as tres colsns que um médico dé¥e saber? Lm primeiro lugar? PRIMEIRO Asis CeURGIAO — Em x SFGUNDO AssistENTE: =. Indagar : ~~ Em tereeinn? TEROEIRO Assisiiiie oo Ind Cirur senhor professor! oz Cheaper — Mas, Inddgar 9 que? Téaceko Assisrents Professor! Cizurcido — Nenhum reccio de inquirir sobre a vida Pessoal do pacicnte, gue infclizmente muitas vezes ¢ bem triste. Quando se sabe que um:homem é Obrigado a cxercer uma Profissio que a curto ov longo prazo vai destrui-lo, ou Seja, vai mati-lo, c quando cle & forgado a isso para nio morrer de fome, nés prefeririamos nao tomar conhecimen- to: nos € penoso indagar. Segue com sua comitiva e para diante de um outro Ieito. Cirurciio —. Que ha com este homem? A Enjermeira-Chefe segreda-the algo ao ouvido. Curio — Compreendo. Examina 0 deente rapidamente, com vistvel md vontadc, Cinurciio (ditando) — Contusées’ nas costas ¢ nas coxas. Feridas abertas no abdémen, Mais alguma coisa? Ewrreneana-Curer (lendo) — Sangue na urina, Cieuraie — Di agnéstica de internagio? Exrerarma-Cnerr — Ruptura do sim esquerdo. Cikurciio — Deve ser Jevado a sadiologia. (Faz mengéo de ufastar-se.) TERCLIRO ASSiSTENTE (que faz a ficha) — Causa da enfer- midade, professor? Chnctio — O que & que consta na guia de internacio? EXrrrsiriea-Curen — Oucda na escada, 03 — AS condigécs sociais do Pacicnic, | CirurGiio (ditando) — Queda na esei raram da. Por que the amar os? | —- O paciente ja arancou os cumdtes professor. FERMEIRA-CHEL duas veze | Cmurciio — Por que? i Um Doknte (a meia-voz) — De onde vem 0 paciente, @ a onde vai Todas as cabecas veltam para cle. CIRURGIAO (pigarreandy) — Se o docnte sc mostrar inpaeienie- dem-the morfina. (Dirige-se para o leita seguin entio? Esté melhor? Ja estamos recobrando as gor (Examina 0 pescogo do paciente.) | UM Dos Assistenti (4 outro) — Trabathador. Veio do Caan Po de concentragiio de Oranicenburg. : © OutRO AssisteNTE (rindo) — Mais um caso de doenga Profissional. . . oy Torror 6 Miséria no TERCEIRO REICH FISICOSs Agora vém os Senhores Sabios, com suas barbas teuténicas e olhos cheios de terror. Eles ndéo querem a verdadeira fisica: preferem uma fisica ariana, a fisica oficial alema. Gdttingen, 1935. Instituto de fisica. Dois cientistas, X e Y. Y acaba de entrar, com uma atitude de conspirador. 01 Y — Descobrit X — 0 que? Y — A resposia & pergunta de Mikéwsky, em Paris, X — Sobre ondas de gravitagio? Y—L. X — E entio? Y= Sabe quem nos escreveu sobre isso, dando-nos precisa mente a informagio de que precisamos? X — Quem? Y escreve wn nome mun pedaco de papel ¢ o entrega a X Depois de deixar X lé-lo, ¥ toma de novo o papel, rasga-o em pedacinhos © joga-o no jogo, Y— Mikéwsky transmitiu-Ihe as nossas perguntas. Aqui esia, “a resposta. X (estendendo a mao com avidez) — Dé-me. (Para de repente.) E se descobrirem que nos correspondemos com ele? Y — Isso nao pode acontecer, de jeito nenhum! X — Seja como for, nio Podemos ir adiante scm a ajuda dele. Dé-me a Tesposta. Y — Vocé nio vai conseguir decifrar. Anotci tudo no meu cédigo particular taquigratico. Vou ler alin, X — Cuidado! Y—o cabega-de-bagre esti no laboratério? Cndica 0 lado dircito.) pn, mas oO Reinhardt esti. (Mostra o lade ESAvERDD Sa Sente-se aqui. Y Ceade) ~~ ‘Vemos dois vetores contravariantes incieancld pak Yc X, ¢ um velor contrariante % com os aorg Lade Ve formam os componenies de um tensor de segunde plant cuja esirutura obedece 4 formula: ye = Clee ii No (que estava tomande nota, faz-the sinal para que pale. — Um momento! Levania-se ¢ vai, nas pomas dos pés, até & parede do tale esquerdo. Aparentemente nao se ouve nada de Suspeito, Volt € recomeca a leitura, que interrompe algumas vezes, ole (Ak ma maneira: verificam uma vez o telefone, abrem reclfante mente a porta, ete. Y — Para a matéria em repouso, nio-cocrente, onde nao hé ensées reciprocas, a formula T = j1 corresponde 20 componente de densidade de energia tensorial difepd zero. Por conseguinte, cria-se um campo de gravitte & tilica, cuja equacio, depois de introduzido o cocmutnity Constante de proporcionalidade 8 x, é Af = 4 xy 6 thendo-se adequadamente as coordenadas espaciais 2 Wa riagio de c®dt® & muito pequcna.. . e hater wna porta ¢ os dois sibios facem mengio da esconder suas anotegses, mas parcce nio ser necessine, Dal em diate, os dois se concentram no problema e parceea quecer 0 periga, Y (cominuando a leitura) — Por outro lado, 40 criar-sc um campo, massa , AS Massas chescen io Muilo pequenas em relagde A mM Fepousa ¢, por conscguinte, © movimend? des corpos introduzide no campo de gravitagio € dade uma curva geodésica do universo no interior do came de gravitagio estitico. la curva satisfaz o principe Sds = 20, para o qual as extremidades de out ke Gove be, mento di curva do universo permanecem fixas, a . 7 iD t po Agpsute le imeilerer' 3 armelon) om h sbdude 03 X— Ma 9 que pensa Einstein da... Diante de terror demonstrado por ¥, X tide ¢ fica muda de espanto. € enfia ox paptis no bolso. percebe o lapso come- Y arranca-the as notas das méos Y (bem alto, cin direciia a parede esquerda) — Pois é! Tipica complexidade’ judia! Que relagio tem isso com a fisic; Mais tranqitilos, tiram de novo ox papéis ¢ recomesam a ané- lise, com @ maximo cuidado. 04 Jorror a Miséria no TERCEIRO REICH 03 AMULHER JUDIA Vocés agora vero um deles. Tiraram- Ihes as mulheres judias. Agora sé serve ariana com ariano. Nao adianta xingar ou chorar. Estavam degencrando: agora sc regencram. Noite. Uma Mulher arruma suas malas, separando as coisas que pretende levar: de vez em quando, retira da mala um ob- ieta, para levar outro em lugar dele. Hesita longamente diante de_um retrato do marido, sohre a cémoda; peca-o ¢ torna a deixd-la. Cansada, senta-se em cima de uma das malas, com a cabeca entre as mios. Levanta-se ¢ liga o telefone. Munner -— Aqui quem fala é Judith Keith. Como vai, doutor? Boa-noite! Estou telefonando para avisar que tera de ar- Tanjar outro parceiro para o bridge: cu vou viajar... Nio, nio ¢ por muito tempo, mas estarci fora alpumas scma- nas... Vou a Amsterdam. a primavera 14 deve ser Ol bonita... Eu tenho amigos lé... Amigos: no plural incrivel que parega... Como é que oO Ssenhor vai Para 0 jogo Ue bridge? Bem, de fato ji ha dus scmonas que a gente nao joga Naturalmente... Pois 4 0 i Fritz também esteve gripado. Ir jogar bridge, com 0 Sr. 6 que tem f{cito, nem teria sentido: foi o que cu dese cle... Mas o que & isso, doutor, como é que cu ia ima ginar? Sdébado passado, vacés estavam esperando uma.vis sita da sua sogra. Eu sci, ora... Por que é que wa Pensar numa coisa dessas? Nao foi nada de repenia pe vinha adiando, dcixando o tempo correr, mas agora, we Snecessério... Ah, sim, aquela ida ao cinema também fica, para outra vez... ‘Dé lembranca a sua Senhora. . Per que nfo chama o Fritz, um domingo destes?. .. esié bem. Até breve!... £ claro, com muito gosto breve! Desliga o telefone e disca outro nimero, Als? Aqui é Judith Keith: queria falar com a scalar ri Schoek... Loue?... Eu queria me despedir: vou ver daqui.a pouco... Por nada, nio: sé Para ver caras Wa vas... Pois cra isso o que eu queria dizer: quarta-fewa préxima, o professor vem Jantar com Fritz... . Vocés tome bém poderiam vir, cu you-me embora hoje 4 noite. ne quarta-fcira... Nao, quando eu disse que vou-me embya apenas me lembrei de que vocés também poderiam vif. | Mesmo que eu nio esteja, vocés vém, combinado?. . . tu sci que vocés nao sio assim, mas de qualquer manéva. hoje cm dia, todo o cuidado é pouco... Entio, votes vém?... Se o Max também pode? Claro que pode, dizer a cle que o professor estaré aqui... Bem, cu vou m& Sespedindo; até breve! a i Desliga a telcfone e disca outro niimero. Gertrude? Aqui. é Judith! Desculpe o incémodo... Mxite obrigada. Queria Perguntar sc vocé nao poderia tomar conky do Fritz, enquanto cu saio de viagem por uns meses... Pensci em vocé, Porque é a irma qucrida dele... Por que— nao havia de querer?. . . Ninguém vai pensar isso; ¢ murto 0@ menos o Frit + B, cle sabe que nés duas andamos um an pouco... afastadas, mas... Entio, se vocé acha melhor, eu pego ao Fritz pra the tclefonar... Digo a cle, sim Est& tudo cm ordem, mais ou menos, mas o apartamento € um pouco grande... Deixe que a Vera faz a limpeza, ela j& est4 acostumada, ¢ muito viva, e Fritz se di muito bem como cla... Ah, vou !embrar uma coisa, mas por fa- vor nio me Icve a mal, Fritz nio gosta que falem com cle antes das refcigdes, vocé nao vai esquecer? Isso, cu sem- Pre respcitci... Nao vamos discutir este assunto agora, que o meu trem sai daqui a pouquinho ¢ ainda nem ac: bei de arrumar as malas... Dé uma olhada no guarda- Toupa dele, ¢ Iembre a cle que tem de ir ao alfaiate ver 0 sobretudo que cncomendou... O quarto precisa estar sempre bem aquccido, porque cle dorme de jancla aberta © as noites tém cstado muito frias... Nio, acho que nio vai se zangar... Bem, agora tenho que me despedir... Muito obrigada, Gertrude, © poderemos nos comunicar Até breve Desliga o-telefone e¢ disca outro nimero. E Ana? Aqui é Judith! Vou-me embora hoje, vocé sabe. . Nio, € preciso, as coisas estdo ficando cada vez mais difi- ceis... Nio, o Fritz nio quer, cle nem sabe ainda, cu 6 que resolvi fazer as malas... Nao acredito. Eu nio espero que cle diga muita coisa... Mas é evidente que ~".™ tudo ficou dificil para‘ele... Nao temos falade nissc.. . Né6s nunca conversamos sobre isso. nunca! Nao, mudanca nenhuma Fu gostaria aue othassem um pouco por ele, Nos primciros temnos... E. princinalmente a0s domingos. E veiam se ele se muda de casa, este apartamento & muito Brande para uma pessoa ‘sé. Eu gostaria de nassar por af ¢ The dar um abraco. mas 0 porteiro, vocé sabe... Até um dial Nao. nor favor. nio vA a estacio, de jeite ne- nhum!... Até breve! Ei escrevo... E claro... & Interrompe 0 discurso, rellew e recomeca de outra forma, Fritz, vocé nio deve impedir, nio pode fazer isso. E evidente que cu cstou atrapalhando; sci que vocé 4 € nenhum covarde, que nio tem medo da policia, mas 0 pior nao é isso. Nao vio mandar vocé para um campo de concentragao, mas AManha ou depois sio capazes de proj bir que vocé va a clinica. Vocé niio vai dizer nada, mas vai ficar docnte: Eu nio quero ver vocé aqui, sentado numa poltrona, folhcando revistas pra matar o tempo. Se cu-vow agora, & por puro egoismo de minha parte, nada mais Nio diga nada... Interrampe-se de novo e comeca outra ver. Nio me diga que vocé nio mudou, nio € verdade! N& semana passada, voce, com toda a objetividade, chegou & conclusio de que a porcentagem de siibios judcus niin cre assim tio clevada; sempre se comeca pela objetividade E por qué, agora, vocé niio se cansa de me repetir que, cu nunca dei provas de tanto nacionalismo judeu? Pode * ser que cu também esteja ficando nacionalista: é um mat. contagioso. Oh, Fritz, o que & que esta acontecendo coe nosco? Interrompe-se @ torna a comecar. Eu nao the disse nada que estava com vontade de ir em bora, hai muito tempo, porque, quando olho pra voce nao consigo falar. E falar me parcce to inutil... Mas esta tudo arranjado. $6 nio posse entender:o que ha con cles: © que cles. querem? Que foi que cu fiz a cles? Fi politica, cu nunca me meti... En nde sou uma das mu t theres da burguesia, que tém um certo padrio de vida, ete. FE por qué, de repente, s6 as mulheres louras tém a dircitc de viver assim? Nestes tilimos tempos cu tenho pensadc mnife numa coisa que hé-alpuns anos voce repetia sempre que havin individuos de valor ¢ outros de menos. valor ¢ que, em case de diabetes, uns teria direite 4 insulina outros ndo... LE cu concordava, de imbecil que cu cra! Agora cles estabcleceram uma nova classilicagiio desse po, © cu hoje cstou cntre aqucles que tém valor inferior a zery, : Eu bem que mercer isto! Enterrompe-se ¢ comega de novo. + ¢ Pois ¢, estou fazendo as malas. Nio finja que nao perecbcu nada, nestes ultimos dias! Fritz, cu admito tudo, com ex- cegio de uma coisa: de nio nos olharmos cara a cara na ltima hora que nos resta! Eles nao tém o dircito de fazer isso conosco, esses mentirosos que forgam todo mundo a meatir, Uma vez, hé uns diez anos, alguém comentou que eu nfo tinha jcito de judia, © vocé respondcu imediat smente; cla tem tipo de judia, sim! E cu adorei a si wweagdo: foi uma atitude limpa! Agora, por que discutir? >Bstou arrumando minhas malas porque, se cu nao fixer }1s90,.nBo vido deixar vocé num cargo de chefia. Porque na ‘diinlca j& tem gente que nao fala com voce, ¢ porquc i noite voc’ nao conseguc conciliar 0 sono, Nao venha dizer quo eu niéo preciso ir cmbora, ¢ toda a minha pressa & para nfo escutar vocé dizer que cu nio Precise ir cmbora. “Questo de tempo: cardter é€ uma questo de tempo. Dura mais ou dura menos, como as luvas: algumas, de boa qua- iidade, duram muito, mas néo h4 nenhuma que dure cle: * pamente. Além do mais, cu ji cstou cnojada, estou sim. ‘Por.quo hei de dizer sempre amém? Que hii de errado na Homma do meu nariz ou na cor dos meus cabclos? [: justo , para dar a outra pessoa a minha raciio de manteiga? espécic de homens siio vocés, c vocé também? Inven- teoria dos quanta c deixam-se mandar por uns bru- -tos quo Ihes accnam com ao conquista do mundo, ma que =Resplracdo artificial ¢ gases Ietais! Voces sia. mor (ros, ‘ "ou lacaios de monstros! Oo, cu nao estou sendo razodvel, mas, num mundo assim, de que serve a razio? Vocé fica * af sentado,.vé sua mulher arrumando as malas, ¢ nio di: nada. As parcdes ttm ouvidos, niio é? Mas vacts nio dizem nada: uns ouvem, outros calm. Eu também deve me calar: se gostasse de voce, ficaria calada. 1 cu easto. muito de vocé... Me dé aque a roupa aly & lingerie de luxo, vai me fazer falta. Estou com 36 anos, mas nao posso me arriscar em muitas experiéncias. No préxi-+ mo pais aonde cu for, as coisas terio de ser diferentes O préximo homem que eu tiver, deverd gozar do dircito de ficar comigo. E nao me diga que vai me mandar di- nheiro, pois vocé sabe que isso ¢ impossivel. E nao facga de conta que cu vou sé por trés semanas: as coisas, aqui, ~ vio durar mais de trés semanas. Vocé bem sabe disso, ¢ cu também. Entéo nao me diga: “afinal, é uma questao de Poucas semanas”, cnquanto me passa o casaco de pcles que vou Ievar para o inverno que vem. E nao vamos dizer que € uma desgraca, digamos que é uma vergonha! Oh, Fritz! Ire ARCHEE-SE, euvEe~sE YM BARULHO ELE SE ABRUME AS PRELSAS. ENTRA o MARGBOS Marino — fazendo IS erm? oe the OF 9. Marino — E essas Cathe, ‘340 Bra qué? Marino — Que significa “isso? Munner — Ja linhamos combi tempos fora;/aqui as coisas niio vio muito bem Pe ee Marino — E um absurdo!. 7 > oles a MeLuER — fico, enti? - Loose Marino — Quer ir para onde? _ MULHER Manin 2 Mure Ning . nee ; ‘ : @ quer ir@embora, por qyé7 Se & por minha io b4 motivo heahun: 5 Mano — Vi, mas assim de re eeititi Acho que + $e arrependeu de nos ter ofendido. Parecia muito pertur- bado./Nés, do rebanho intelectual, nio podemos scr me- 4 nosprezados assim/cles nio poder fazer a guerra com esqueletos sem coluna vertebral. E as pessoas niio sc cs- quivam com tanta facilidade, quando a gente as Gut de ' frentp/A que horas sai o seu trem? fe <°=Mutitzr — As nove © quinze. \- Manipo — Para onde cu mando o dinhciro? ESSE S: Mutnex — Talvez para a posta-restante, em Amsterdam so Seer - , OF : a f NER oy ue z Marino — Vou coriseguir uma permissio cspeci: c bO! Nao posso Mandar minha muther ao esi: com’*!0 marcos por més! Que porcaria, i: into no f ‘ + MULHER — Seré bom para vocé, vir me buscar. a Be he . Maxivo — Abrit’ um jornal onde se tenha alguma coisa que dere. yg FLY) PS i Mutucr — Eu falci com Gcrtrude, pelo telefone, cia voce. nen eet ey 7 PAs vem var { anf Tecra Hy Marino — A toa, a toa. - Por poucas semanas... _./ Po ete eet feet og | | 04 Torror 6 Miséria no TERCEIRO REICH O ESPIAO Coldnia, Ei-los: os Senhores Professores es aprendsnde a marchar. O nazistinha p: Jhes as oretias ¢ Thes ensina a posi x de sentide. Cad; preci ahuno, um espifio. algemados. 1928. Tarde chuvess de domineo, Womem, Mulher © Menino, depois de almoco. Frira a Empregada. 01 yer nada do mundo ou de universe. Mas é interessante informar: o qué. de quem ¢ quando. Ai vém as eriar- A as. Elas busecam © carrasco ¢ 0 trae ?em para casa. Delatam © préprio pai, chamam-no traidor. E ficam olhando, quando levam 0 velho de mios e pés eeeeeareiety Emppaeaba — © scnhor ¢ a senkora btsch, 20 tciefone Perguntam s¢ us patroes esifio cm casa. o£ Yooin Sai a Empregada. : eo fe Log eee - Muruzr — Vocé devia ter atendido 0 tclefone, Eles saben que ainda cstamos em casa. Homers (frusco) — Na Homem — Por que no podemos ter saido? Murtier — Porque esti chovendo. Homem — Isso nao é motivo. Mutier — E aonde teriamos ido? Eles vao sc perguntar. Homes — Hii uma porgiio de lugares aonde poderiamos tc ido. Muiuer -— Entio por que nio saimos? Homem — Para onde? Muriizr — Pena que esti chovendo. Homes — E aonde iriamos, se no chovesse? Muurk — Antigamentc a gente podia se encontrar cor algué deveriz ter wlo ao telefone. Agora cles va: saber que niio -ueremos vé-los. om — Deixa cles saberem! 027 | MuLHeR — £ chato nos afastarmos deles agora, justamente quando todo mundo fez a mesma coisa, Homem — Nao nos afastamos delcs, MuLuer — Entio Por que cles nio podem vir aqui’ HomEm — Porque eu acho esse Klimbtsch chatissimo. ” Mutiier — Antigamente vocé nao achava. HoMem — Antigamente! Pare com isso! Mc da afligéo esse scu cterno “antigamente”! Mutner — Seja como for, antigamente vocé nao o teria cor- tado s6 por causa do Processo da Fiscalizagio Escolar contra cle. Homem — Est4 querendo dizer que sou covarde? Pausa. HomEm — Entao telefone c diga a cles que acabamos de voltar, Por causa da chuva, 4 Muther continua sentada. Mutter — Vamos. convidar os Lemkes para vir aqui? Homem — Para cles nos dizerem de novo que no apreciamos bastante a defesa antiaérea? MULUER (para o Menino) — Klaus-Heinrich, deixe esse radio! O Menino pega o jornal. HomMem — Logo hoje, essa chuva; que catrastrofe Nao se pode viver num pais onde um dia de chuva é uma Histrofe, Mutinn — Que graga vocé vé nesse tipo de observagie? ed 03 “ CHoMEs — Dentro dé minhas. quarcoparedcé, posso .dizcr_ © Y que’ ber.citender. Em mittha propria casa nio admito + Sensi = : se : . censiira. lUniterrompe 0 que esté dizendo, pes enirou a Empregada com | a bandej@ do café. Enquianto -ela .csté presente, ninguém fala, Ela sai. ~ 7 peraaa » . " Homem,— Somés, mesmo obi gados a ter uma cmprégada. que € filha. do Fiscal-do-Quarteiriio? Mutuer, — Ja falamos demais nessc assunto. Da iltima’ vez; -+ ‘vocé disse que isso poderia ter suas vantagens. Homem — Sei 14 se cu disse isso! Vai vocé repetir minhas palavras a quem quer que scja, até para sua mic, ¢ verd em que bela situagdo ficaremos. MULHER — O pouco que falo com minha mie A Empregada vem servir café. Mutucr — Pode deixar, Erna, cu mesma sirvo. EMPxEGADA — Esti bem, Madame. (Sai.) MENINO (levantando os olhos do jornal) — Todos os padres fazem isso, papai? Homi — Isso, 0 qué? Mtnino — © que esta escrito aqui. Homrm — O que € que vocé esta endo? (Arranca-lhe 0 jornal da mao.) MENINO — Nosso Chefe-de-Grupo disse que nés todos pode- mos saber 9 que diz este jornal. Hoatias — Nao me interessa 0 que diz 0 seu Chefe-de-Grupo © que vocé pode ou nao ter, decide eu. 73 oY Mutuer — Othe aqui, Klaus-Heinrich, tonic dez pfennig ¢ v4 fora, comprar alguma coisa para vocé. MENino — Est’ chovendo! (Apertando 0 resto contra a vidraca, indeciso.) Homem — Sc nio cessarem esses artigos: sobre os processos contra os padres, vou cancclar a assinatura do jornal. Muuurr — E que outro Jornal vai assinar? Todos trazem a mesma coisa. Homem — Pois se todos os jornais trazem essas porcaria: vou parar de ler jornal. Nao vou ficar ainda mais igno. rante sobre o gue vai pelo mundo. Mutuer — Até que nao é mau fazer esses cxpurgos, HoMEM — Que expurgos! Isso é pura politica. MULHER —- Para nds é indifercnte. Somos protestanies. Homrem — Mas para o povo nio 6 indiferente. Eles nunca mais vio poder pensar numa sacristia sem sc lembrar dessas infamias. MULHER — Mas o que é que sc Pode esperar deles? Essas coisas acontccem. Homrm — © que se pode esperar? Que cles olhem para o proprio tclhado de vidro. Ouvi dizer que na pripria Casa Marrom as coisas nio sio muito limpas. MuLurr — Mas isso. vem apenas provar que o nosso povo esti se curanil de seus males, Karl! Homrm — Curando-se de scus males! Bela cura. Se isso é cura, cu prefiro a doenca. Muir — Voce esti muito nervoso, hoje. Acontecen algu- ma coisa no colégio? 74 vs Homes — O que haveria de aconteccr no colégio? E pare, por favor, de dizer que cslou nervoso: & isso que me enerva. Muiner — Por que brigamos tanto? Antigamente, Karl Homem — Ja cstava cspcrando, “Antigamente!” Nem antiga- Mente nem hoje cu gostaria que a imaginagio de meu filho fossc cnvencnada com cssas coisas. Muuier — Onde esta cle? Homem — Como é que cu posso saber? Mutner — Vocé viu o menino sair daqui? Homeat — Nao. Muir — Nao cntendo como cle pode ter saido. (Chama:) Klaus-Heinrich! Sai da sala. Ouve-se sua voz chamando. Volta @ sala. Munger — Saiu mesmo! Homem — E por que nio deveria sair? Mu.urr — Esté chovendo a cantaros! Homem — L vocé fica assim tho nervosa, sé porque o meni- no saiu? Mutuer — Do que & que nds estivamos falande mesmo? Homrm — Que tem isso a ver? Muwitk — Nos tillimos tempos voce nao se tem controlado. Hora —- Nao acho que nie me tenha controlade, Mas, ainda assim, o que é que tem a ver meu descontrole com © fato de que o menino saiu? oG MULHER — Vocé bem sabe que cles escutam. Homem — E dai? Mu.uer — E dai? E se ele for contar? Sabe o que ensinam aos garotos na Juventude Hitlerista? Eles sio abcriamen-~ te estimulados a contar tudo o que ouvem em casa. Nio deixa de ser estranho ele ter saido daqui tio de man- sinho. Homem — Bobagem. MuLHEeR — Vocé nao viu quando ele saiu? Homem — Ficou uma por¢o de tempo na jancla. MUuLHER — Gostaria de saber o que foi que ele ouviu. HomemM — Mas cle sabe 0 que acontece 4s pessoas que sao denunciadas por alguém. ' Mu.uer — E aquele garoto, de quem falaram os Schmulkes? Parece que o pai dele continua no campo de concentra- ga0. Sc eu soubesse até que ponto ele escutou a nossa conversa... “ HOMEM — Mas tudo isso é loucura! Corre aos outros aposentos ¢ chama pelo Menino. MULHER — Nao posso acreditar. Ele nao iria 14 sem nos dizcr uma Gnica palavra. Ele nio é assim. Homem — Vai ver que foi & casa de um colega Muir — Entio sé podcria ser 4 casa dos Mummermanns. Vou ligar para 14: Telcjona Homrm — Para mim, € alarme falso. 76 ot MUuLHER (ao telefone) — Aqui é a esposa do assessor Fur- cke. Boa-tarde, scnhora Mummermann. Klaus-Heinrich csté ai em sua casa? Nao? Entio nao sci onde cle pode estar. Diga-me uma coisa, senhora Mummermann, a sede da Juventude crista fica aberta aos domingos 4 tarde? Sim? Ah, muito obrigada, entio vou perguntar 14. Desliga. Os dois ficam sentados em siléncio. Homem — Mas o que é que vocé acha que cle pode ter escutado? Muiuer — O .que vocé falou sobre 0 jornal. ‘Também nao deveria ter dito aquilo sobre a Casa Marrom. O garoto é muito nacional-socialista. Homem — Que foi que cu disse sobre a Casa Marrom? Muiten — Nao sc lembra? Vocé disse que 14 também as coi- sas ndo sio muito limpas. Homem — Mas isso no pode ser considcrado um ataque. Nao muito limpas, ou melhor, nao totalmente limpas, é apenas uma idéia atenuada, cm tom de brincadcira, em linguagem popular, no sentido de que, na Casa Marrom, nem tudo, dadas as circunstancias, funciona como desc- jaria o nosso Fiihrer! Ressalici, alids, 0 cardter de sim- ples probabilidade, usando as palavras “ouvi dizer”, 0 que alcnua fortemente o sentido da frase. Eu nao disse que as coisas li nao so limpas. Nao tenho prova nenhu- ma disso. Eu nao disse: “siio". Dissc que “ouvi_ dizer”. Onde esti 0 ser humano, também est a impericicao. Nao disse nada além disso, ¢ 0 que disse foi de forma atenua- da. Além disso, o proprio Fiihrer ja cxternou suas crili- cas sobre este assunto, ¢ de forma muito mais contun- dente, Murnrs — Naa estou: entendendo. Comiga vocé nio precisa falar desse jcito. Homes — Quem me dera que nfio precisasse! Nio sei direi- to o que vacé repete 14 fora sobre o que eu possa dizer, 7 num momento de exaltagéo, aqui entre essas quatro pare- des. Entenda bem, nao csiou querendo dizer que vocé tenha o propdésito de espalhar levianamenie coisas que possam prejudicar seu marido. Assim como nao acrcdi- to que nosso filho possa fazer alguma coisa contra o proprio pai. Mas, infclizmente, hé uma grande difcren em sc fazer mal a alguém ¢ saber o mal que se cesta fazendo. Muuiter — Pare com isso! & melhor vigiar a Prépria lingua! E cu aqui, quebrando a cabeca para me lembrar sc vocé falou da Casa Marrom antes ou depois de dizer que nao. se pode viver na Alemanha de Hitler... Homem — Isso eu niio disse, em momento algum. Mu.iieR — Vocé me trata como se eu fosse da Policia! Sé estou querendo sabcr 0 que o garoto ouviu. Homem — Eu nfo uso a expressio Alemanha de Hitler; nio faz parte do meu vocabulério. Mu uer — E 0 que vocé falou sobre o Fiscal-de-Quartcirao? E sua frase sobre as mentiras dos jornais? E o que disse criticando a defesa antiaérea? O menino nado ouve nada de positivo! Isso ndo é bom para uma Ppersonalidade em formagdo, s6 serve para prejudicar a juventude, E, como diz ¢ repete o Fiihrer, a juventude alema é 0 futuro ale- mao. O menino de fato nao & assim, ¢ no iria IA cor- rendo nos denunciar. Estou me sentindo mal. Estou enjoada. HoMEM — Mas cle é vingativo. Mutuer — E por que se vingaria de nds? Homem — Sei 14! Sempre hé algum motivo. Talvez porque eu tenha mandado tirar aquele sapo do quarto dele. Mururr — Mas isso jé faz uma semana. HomMem — Vai ver ele gostou, 78 a Muir — FE por que vocé trou o sapo do menino? Home — Por que 0 bicho nie cagava moscas! Listava mor- rendo de fame! O menino nig dava comida ao sapo! Mutinx — £ que cle tem muito o que fazer. Homem — L, mas o sapo nao tinha culpa. MuLuer — O garoto nem tocou mais no assunto. Agora mes- mo cu the dei 10 pfennig. Ele tem tudo 0 que quer. Homem — E. Isso é suborno. Mutner — Que quer dizer com isso? Homem — dizer que tentamos subornar o menino, para cle nao abrir a boca contra nés. MuLHer — Que acha que cles poderiam fazer com vocé? Homem — Tudo! Nao ha limites para o que cles podem fazer. Mcu Deus do Céu! Como ser professor? Formador da juventude? Eu tenho medo da juventude! MuLtter — Mas cles tém tudo contra todos. Todos sao suspci- tos. Se ha suspcita, a pessoa se torna um suspcito. Mas o menino nio pode scr considerado uma testemunha digna de crédito. Uma crianga nao sabe o que diz. Homem — E o que vocé pensa. E, alids, desde quando cles precisam de testemunhas para alguma coisa? Mutuer — Nao podcmos pensar o que dizer para cxplhicar suas palavras? Podercmos dizer que o menino entendeu mal 0 que vocé disse. HoMrM — Mas que posso cu ter dito? Nao me Iembro mais Culpada de tudo é a merda dessa chuva. A gente fica de mau humor. E cu seria o tiltimo a dizer qualquer coisa contra o tremendo soerguimento moral que o povo alc- | | mao esté experimentando nos dias de hoje. J4 em finais do ano de 1932 cu previ tudo o que iria acontecer. Mutuer — Karl, agora nao temos tempo para conversar sobre isso. Precisamos nos Preocupar em saber explicar tudo dircitinho. E rapido. Imediatamente. Nao podemos per- der um minuto. Homem — Nao posso acreditar que Klaus-Heinrich fizes- se isso. Mutner — Pois bem, primeiro as palavras sobre a Casa Marrom c as Porcarias HoMem — Néo pronunciei a palavra “porcaria”, MULHER — Vocé disse que o jornal esta cheio de Porcarias ¢ que ia cancelar a assinatura, HOMEM — Sim, o jornal! Mas nao a Casa Marrom! MULHER — Vocé Pode ter dito que nao aprovava as porca- tias nas sacristias, nio €? Exatamente cssas Pessoas, hoje acusadas, € que no passado espalhavam os boatos sobre a Casa Marrom, nao é isso mesmo? iam até que nem tudo era limpo na Casa Marrom! E vocé ainda disse que elas deveriam cuidar do Préprio. telhado de vidro, ja naquele tempo! E o que vocé disse ao menino foi: Jar- gue o radio e leia o jornal, pois vocé é de opiniio que a Juventude do Terceiro Reich deve ter os olhos bem aber- to para tudo 0 que acontece em redor, nio é mesmo? 'OMEM — Néo adianta mais nada. lULWER — Karl, vocé nao pode desistir agora. Tem de ser forte. como o Fiihrer. . OMEM — Eu nfo quero ser levado a juizo e ver no banco, das testemunhas a carne da minha carne, sangue do meu Sangue, depondo contra mim. ULHER — Nio deve olhar as. coisas desse jeito. M HoMEM — Foi leviandade nossa freqiientarmos os Klimbtschs. MuLHer — Mas nio aconteceu nada com cle, Homem — £, mas hd uma suspcita no ar, contra ele. Mutter — Mas se todos aqueles sobre quem pesou a nuvem de uma suspcita fossem desesperar. . . Homrem — Vocé acha que o Fiscal-ce-Quarteirio tem algo contra nds? Mutucr — Esti pensando que cle pode ser interrogado, sc houver suspeita de nés? Ele acabou de ganhar uma cai- xa de charutos, no aniversdrio! E a gratificagio do fim- de-ano foi generosa. Homem — Os vizinhos do lado, os Gauffs, deram a ele 15 marcos! MuLuer — E, mas os Gauffs em 1932 ainda liam 0 jornal antinazista, e em maio de 1933 ainda punham na janela a bandeira preta-branca-e-vermelha. O telefone toca. Mutuer — Devo atender? HoMeM — Nio sci nao. Muiier — Quem pode ser? HOMEM — Espere um Pouco. Se tocar mais uma vez vocé atcnde. Esperam. O telejone péra de tocar. Homem — Isto nio é mais vida! Mutuer — Karl! sy Adz, ‘Horm — Seu filho é um Judas! Fica sentado 4 mesa, toman- do a sopa que Ihe servimos, cnquanto escuta tudo o que os pais dizem. Espiao! Muir — Nao diga uma coisa dessas! Wausa. Mutiter — Acha que deviamos tomar alguma providéncia? Homem — Sera que os homens virdo j4, com o menino? Muturr — Tudo € possivel, nio é? Homrm — Nao é bom eu pér a minha cruz-de-ferro? Muiurr — Claro que sim, Karl. © Homem busca a condecoragao militar e a coloca, com as méos trémulas. MULHER — Mas no hi mesmo nada contra vocé no colégio? Homrm — Como posso saber? Estou pronto a ensinar tudo 0 que eles quiserem que cu ensine. Mas o que é que cles que- rem? Se cu soubessc! Como hei de saber o que cles querem que scja, por exemplo, a figura de Bismarck? Os novos livros didaticos estio saindo tio devagar! Escute, nado € melhor dar mais 10 marcos 4 empregada? Ela vive escutando. Muiner (concordande) — &. E 0 retrato de Hitler ficaria melhor sobre a sua escrivaninha, nio acha? Homem — LE. Pode pendurar. A Muther tenta mudar de lugar o Fetrato. Homem —- Mas se 0 menino disser que mudamos 0 retrato de lugar de propésito, isso nado vai dar impression de cons- ciéncia culpada? 82 JA3

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