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SOCIEDADE DA INFORMAQAO rE MCU ER CMe ct CPC eR Cau re Cten: ) Eee eee ERC rt! Menuet mentee Com ture is Pon tek eRe cd a tees neti) SUMARIO APRESENTAGAO. so a sens 7 CIENCIA E TECNOLOGIA PARA A CONSTRUGAO DA SOCIEDADE DA INFORMAGAO NO BRASIL. AVISAO, MISSAO E OBJETIVOS DO PROJETO ll Visio do Projeto ann a seve LU Missio do Projeto.... ann 0 Objetivos do Projeto sn a O PARADIGMA DA SOCIEDADE DA INFORMAGAO......... 27, Os Efeitos das Tecnologias da Informagio na Sociedade = 28 Uma Visio Abrangente da Sociedade da Informagio. 34 O Conceito de Infra-estrutura Nacional de Informagi0 vce 37 UMA NOVA INTERNET NO BRASIL, ORIENTADA AAPLICACOES. 39 PRINCIPAIS SERVICOS DE UMA NOVA. GERAGAO DE REDES 0 ceeeneneen sencnene 41 Estratégias para os Novos Servigos ..... 46 INFRA-ESTRUTURA BASICA PARA A NOVA INTERNET NO BRASIL cocoon sonnet 49 Infra-estrutura Nacional de Telecomunicagées —) Possivel Backbone para a Fase 2 da Internet no Brasil 52 Redes Estaduais enon ne sce 52 ATRANSICAO ENTRE A INTERNET 1 EA SUA NOVA FASE ccevevvonsnnnnnnn 56 A Ago Conjunta ProTem/RNP sevsewneonennnena 57 AGOES E INVESTIMENTOS NO CICLO DE PROTOTIPACAO DA INTERNET 2..... : 61 Agées no Ciclo de Prototipacéo da Internet 2 nnee-nnenm a Investimentos no Ciclo de Prototipacao da Internet 2... 64 BASES PARA O BRASIL NA SOCIEDADE DA INFORMACAO, Conceitos, Fundamentos ¢ Universo Politico da Indiistria e Servigos de Contetido INTRODUGAO S se 69 Delimitagio do campo... 7 . n CONTEXTO, MUDANGAS E IMPACTOS, Bees 76 POR UMA SOCIEDADE DA INFORMACAO su 87 Onganismos Internacionais -..smmen i 94 TM€8CO esern a a MF Grupo dos Sete- i = 97 World Bank oo. oe a 99 Organization for Economic Co-operation and Development (OECD) América do Notte ono Estados Unidos... CORAM coven E2078 neve Fin lndid oso Inglaterra Fra G8 en Portugal ... Asia Cingapura Coréia. Japio China... Australia oe BENCHMARKS... Estados Unidos... a Comissao Européia Fang onnn Inglaterra... Finlandia Cingapura Japio__ Austrflia RECOMENDAGOES. CONCLUSAO ooo APRESENTAGAO A insergio no Brasil na sociedade da informacio foi discutida no Ambito do Conselho Nacional de Ciéncia e Tecnologia (CCT) da Presidéncia da Repéblica, que definiu proposta de projeto e colocou otema para debate, por meio do documento Ciéncia e Tecnologia para 4 Construgdo da Sociedade da Informagio no Brasil. O documento, claborado pelo Conselheiro Carlos José Pereira de Lucena, prope o estabelecimento de um projeto de amplitude nacional para facilitar e definir modelos para a implantagio de uma infra-estrutura, servigos e aplicagdes que se tornario tipicas cm uma sociedade da informagio no Brasil, tendo como base 0 desenvolvimento de uma nova geragio de redes Internet no Pais, As possibilidades advindas das novas tecnologias deverao ser dirigidas para facilitar a solugao dos grandes problemas nacionais ou de dreas de interesse estratégico para o investimento nacional, como ciéncia e tecnologia, educagio, satide, meio ambiente ¢ agricultura, empresa brasileira, cultura, trabalho, transporte c transito, governo ¢ relagdes internacionais, Os Grupos de Trabalho do Comité Gestor da Internet no Brasil foram estimulados a colaborar com o documento do CCT, segundo a sua respectiva area de atuagio. O assunto foi discutido no Grupo de ‘Trabalho sobre Bibliotecas Virtuais (GT/BV), na sua terceira reunio, realizada no dia 19 de maio de 1997, a qual aprovou a elaboracio de um documento abordando a questéo da indtistria e servigos de contetido sob a coordenagio do Instituto Brasileiro de Informagio em Ciéncia e Tecnologia (IBICT). O documento resultante intitula- se Bases para o Brasil na Sociedade da Informagao: conceitos, fundamentos e universo politico da indiistria e servigos de contetido, de autoria da consultora Anna da Soledade Vieira. Este dltimo documento contextualiza a indistria e servigos de conteddo na sociedade da informagio ¢ revisa os projetos existentes em diferentes pafses e organizag6es internacionais. No item conclusées € recomendagdes aponta medidas que poderio ser tomadas para a definigéo de uma estratégia de agdo para o setor. Dentre elas, recomenda a realizagdo de estudos em t6picos espectficos, os quais, durante os debates que ocorreram em torno do documento, foram definidos que deveriam coincidir com as 4rcas estratégicas definidas no documento do CCT. Com a finalidade de dar maior circulagio as idéias em debate, esté sendo langada a presente publicagio que engloba os dois documentos acima refetidos. A versio completa do documento do CCT, que inclui diversos anexos, um para cada 4rea prioritéria, pode ser consultado no seguinte enderego: http:/wuw/.cct.gov.br/etsocinfolatividades/docs/ sersio3indice htm Agradecemos ao Instituto Brasileiro de Informagio em Cigncia Tecnologia (IBICT), na preparagio dos originais, e ao Instituto Uniemp, que tornou possivel esta publicacio. José Mindlin Presidente da Comissto de Prospectiva, Informagio e Cooperagio Internacional do CCT CIENCIA E TECNOLOGIA PARA A CONSTRUGAO DA SOCIEDADE DA INFORMAGAO NO BRASIL AVISAO, MISSAO E OBJETIVOS DO PROJETO Visio do projeto A sociedade da informagio € um novo ambiente global baseado em comunicacao informagao cujas regras ¢ modos de operagio estéo sendo construfdos, em todo o mundo, agora. A apropriagio das oportunidades desse futuro ambiente esta sendo conduzida e planejada por diversos pafses em seus aspectos industriais, econémicos, sociais, culturais, cientifico e tecnol6gico, entre outras ¢ em muito larga escala. Nao somente redes fisicas ¢ sistemas légicos de comunicagio digital estio sendo pesquisados, desenvolvidos, instalados e utilizados em todo o mundo, mas uma mirfade de novos servigos e aplicacdes, bem como modelos ¢ regras de tso, esto sendo discutidos neste momento, em escala global. O paradigma tecnolégico ¢ as conseqiiéncias industriais, sociais, econémicas e culturais da era da informagio serao cada vez mais sustentados por setores intensivos em conhecimento, associados as tecnologias da informagao e comunicagio. E bem possivel que nesta nova matriz. tecnolégica, industrial e econémica, esteja a maioria dos produtos ¢ servigos do futuro fiundamentais para atrair investimentos e criagio sustentada de empregos em qualquer pafs. WW A partir do discurso Building the Global Information Infrastructure (GID), proferido pelo vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, perantea International Telecommunications Union em Buenos Aires, em margo de 1994, pafses, blocos econdmicos ¢ instituigdes de grande peso politico como o Banco Mundial tornaram a GI parte primeira de suas preocupagées de planejamento estratégico,e um sem-ntimero deagdes ¢ programas articulados em escalas variadas esté sendo levado a cabo para tratar do tema. Ao mesmo tempo, grande ntimero de corporagées comecou a investir nas tecnologias ¢ servigos que definirao “Global Information Society”, muitas delas em parcerias com os pafses nos quais estio situadas. Relatérios do Banco Mundial ¢ de outras fontes indicam. que as tecnologias e servigos de informagao e de comunicagao tém um grande potencial de contribuir para 0 crescimento sustentado em todos os paises do mundo, Segundo tais documentos ¢ experiéncias relatadas por muitos pafses em desenvolvimento, a disponibilidade de uma infra-estrutura de informagao apropriada co uso eficaz das tecnologias ¢ servigos de informagio e de comunicagio podem ser catalisadores de desenvolvimento sustentado em paises pobres. No caso brasileiro € de pafses no mesmo estdgio de desenvolvimento, as tecnologias ¢ infra-estrutura de informacio podem contribuir decisivamente para diminuir a atual distancia entre estes ¢ os paises ricos nos campos econdmico ¢ social, reduzindo o crescente alargamento de um fosso internacional responsavel por todo tipo de tensao nacional ¢ internacional. E necessario, porém, que o Brasil eos paises em estgio de desenvolvimento semelhante adotem uma politica interna € externa, pragmitica e 4gil, para a apropriacao das tecnologias de informagao e comunicagio. 1 Disponfvel na Web em http:/swrwespp.umich.edu/spp/courses744/mischyperO012 hl 12 Em fungio dos avangos tecnolégicos associados & comunicagio baseada em computadores pessoais ¢ & drastica reducdo de pregos dos PCs nos Gltimos quatro anos, nova forma de midia— tendoa Intemet, a World Wide Web € 0 protocolo TCP/IP em seu centro — esta se desenvolvendo rapidamente. Segundo, entre outros, o relatério The Internet Report, da Morgan & Stanley, de 1996, o mercado para produtos e servigos relacionados com a Internet parece estar crescendo mais rapidamente do que mercados emergentes anteriotes como editoragio convencional, telefonia, filmes, rAdio, gravagées musicais etelevisao. Segundo o artigo Harnessing Information for Development: A Proposal fora World Bank Group Strategy, de Eduardo Talero e Philip Gaudette?, de margo de 1996, “Information technology is changing how we work, play, learn, travel, and govern. “Throughout the world, information and communication technologies are generating a new industrial revolution already as significant and far-reaching as those of the past. It is a revolution based on information, itself the expression of human knowledge. Technological progress now enables us to process, store, retrieve and communicate information in whatever form it may take, unconstrained by distance, time and volume. This revolution adds bhuge new capacities to human intelligence and constitutes a resource which changes the way we work together and the way we live together.”* 2 Disponfvel em hup:/wrrwoworldbank ong/html/ipd/harnessing. 3 Gitado do Bangemann Report para 2 European Union, escrito em 1994, disponfvel na ‘URL nupd/vwnispo.cecbeinfosoe/backg/bangeman html 13 “The diffusion of information technologies to all areas of human activity causes accelerating change in economies and societies. Knowledge, inputs, and work products of industries, governments, and professions can be captured as digitized information, which can then be processed, duplicated, stored, and transmitted at ever lower costs. Markets, industries, and society must adjust to vastly different economic rules. Yet information technology often outruns society's capacity to apply it effectively and wisely. Widely known is the diffusion of products with information at their core. In 1991, information age capital spending by US companies exceeded for the first time industrial age spending [Thomas Stewart, “The Information ‘Age in Charts.” Fortune, April 4, 1994]. Worldwide annual sales of personal computers exceed 50 million units compared to 35 million passenger cars. An estimated 200 million personal computers (PCs) of all kinds are now in use”. E estes computadores estio se interligando de forma avassaladora. A Internet é hoje um conjunto de mais de 16 milhdes de computadores', ligados a cerca de 800 mil dominios em mais de 150 pafses, cujo nGimero estimado de usudrios mais que triplicou entre 1993 e 1996, estando hoje ao redor de 60 milhdes de pessoas. O crescimento do admero de computadores interligados & Internet desde 1991 € exponencial em todo mundo, como visto na figura abaixo. Ju-93 wu-94 Jan-95 Jan-96 i968 Jan-o7 Juh95 Bi 4 Dados da Network Wizards, em hup//wornenvicom, Jan-o1 Jule 4 Prevé-se que haverd 250 milhdes de usudrios na Internet no ano 2000 € cerca de | bilhdo em 2010. E importante salientar que analistas diversos apontam para US$ 1 trilhdo por ano o valor global das transagSes comerciais através da Internet’ no ano 2010. O governo americano, adiantando-se a isto, j4 est4 propondo que, internacionalmente, a Internet seja considerada uma duty free zone. Os dados brasileiros so impressionantes sob qualquer aspecto. Na tabela a seguir, mostramos o crescimento do mimero de dominios conectados & Internet no Brasil, durante o ano de 1996, quando o crescimento total foi de quase 800%. Somente nos trés primeiros meses de 1997, 0 crescimento do ntimero de dominios registrados pela Fapesp foi de mais de 200%. Mais abaixo, é mostrado o mapa de um dos oito (eo maior) backbones brasileiros, operado pela Embratel, que dispée (em abril de 1997) enlaces de 2Mbps com a Internet internacional e outros trés enlaces de mais baixa de pelo menos 14 velocidade com 0 Mercosul. [Dominio [Tancieo | Margo Dezembro [Crescimento Combr | 757 | 1429 9330 | 1.132% Gove 5 30 46 95% Milbr z 2 2 500% Orgbe a 57 315 668% Netbe 6 6 a0) it 133% Edubr | 160 in_| a7 7 337, 1% Br yoa_[ i776 [aaa | o7_| i019 875% 5 Dados da Intemational Data Corporation, em http//wwrwideresearch.com, 6 Disponivel em up;/wwwwernbratelnecbr 15 A Embratel esté presente em mais de 60 cidades brasileiras ¢ a dispersio geogrifica nacional do seu backbone ¢ sua conectividade internacional dio uma idéia da penetragio da rede na sociedade. Rede Internet Via Embratel O papel do governo na fase inicial da Internet brasileira, que podemos considerar como o estagio atual em que a rede se encontra no Brasil, foi o de estabelecer as bases para criagdo de uma infra-estrutura de redes no pais e fomentar o desenvolvimento de servigos, aplicagdes € contetido para a rede brasileira. Para tal, foi de suma importncia 0 estabelecimento do projeto Rede Nacional de Pesquisa (RNP) pelo Ministério da Ciéncia e Tecnologia (MCT) ea instalagéo do backbone nacional a ele correspondente’. A RNP foi responsavel pela apropriagio, para o Brasil, das tecnologias da Internet ¢ por quase todo o esforgo inicial de formagao de pessoal altamente especializado para instalagio e operacio da rede e no desenvolvimento de servigos e aplicagées para a Internet. 7 Disponivel em iuepy/wwwermp.bel 3.bone html 16 Rede Nacional de Pesquisa fovorene 87 No préximo passo, quando se discute, no mundo, a préxima geragio da Internet, 0 papel do governo deve ser o de articular e fomentar a ctiagao de uma nova infra-estrutura nacional de informagio, usando tecnologias ¢ velocidades compativeis com aquelas que serio cempregadas pelo resto do mundo. Sobre tal infra-esteutura, deve ser induzida a pesquisa, 0 desenvolvimento ea utilizagio, em forma de protétipo, de aplicagées estratégicas de interesse nacional, que utilizem a nova infra-estrutura de forma diferenciada e/ou nao sejam realizaveis sobre a infra- cstrutura atual. O repasse do conhecimento gerado pelo projeto para 2 sociedade ira contribuir decisivamente para a formulagio mais adequada pelo pais de sua estratégia de insergio na Sociedade Global da Informagio. 7 Em suma, podemos considerar que, dominados os processos ¢ métodos bisicos da Internet e a rede, em seu estagio atual, encontrando-se em plena utilizagao pela sociedade, deve-se partir para uma nova fase, “orientada a aplicag6es”, onde “o que” fazer usando 08 novos servigos ¢ infra-estrutura se torna muito mais importante do quea rede em si. A infra-estrutura, necesséria para a préxima fase da Internet no pais deve possibilitar 0 desenvolvimento de aplicagbes avangadas, fornecendo velocidades e qualidade de servico sem par na atual infra-estrutura. E importante, pois, definir 0 contexto onde convivem uma rede que estd sendo usada “na pritica” e outra que estd sendo desenvolvida para ser usada “no futuro”. O modelo internacionalmente utilizado para o entendimento dos ciclos de desenvolvimento ¢ utilizagio de redes do tipo Internet, proposto pelo Brasil e apresentado pela primeira ver no Cheyenne Workshop da Federation of American Research Networks’, é mostrado e comentado a seguir. Comerciaizago Na primeira parte do ciclo, a iniciativa governamental define as prioridades e perspectivas do processo, liderando e financiando um "Disponivel em hupy/wwwfarnetorg/cheyenne. 18 conjunto de experiéncias ¢ protétipos que irio definir a rede operacional que serd utilizada nas fases seguintes; aqui, é fundamental a participagio dos setores de pesquisa, desenvolvimento e formagio de pessoal, sem 0 que o projeto tem poucas chances de progredir. O cixo correspondente é 0 de pesquisa e desenvolvimento, e 0 processo de utilizacao da rede, nesta fase, deve ser pautado por uma politica de ‘uso que destine a rede para experimentagio e desenvolvimento de aplicagdes protétipo ¢ testes das mesmas, preparando 0 terreno para as proximas fases. Na segunda parte, jé deve haver uma rede-protétipo operando e alguns dos servigos ¢ aplicagées fundamentais devem estar dispontveis, para que os parceitos industriais, comerciais e outros, ainda dentro de uma politica de uso que prioriza fundamentalmente o desenvolvimento da prépria rede € 0s processos de pesquisa, desenvolvimento ¢ educagio usando a mesma, possam desenvolver protétipos dos sistemas ¢ mecanismos de funcionamento e apropriagao da rede para um eventual uso intensive da mesma pela sociedade. O eixo correspondente é 0 de prototipacio. Na terceira parte, o papel do governo se torna menos relevante do Ponto de vista do desenvolvimento da rede propriamente dita e passa a ser fundamental no que tange aos aspectos regulatérios ¢ ‘mecanismos para sua implementagéo, bem como na indugio de aplicagées de impacto em problemas de interesse estratégico para 0 pais. Ai, correspondendo ao eixo de operacio da rede, temos os agentes econdmicos ¢ sociais se preparando para a absorgio da rede, ao mesmo tempo em que demandam suporte tecnolégico ¢ formagio ¢ trcinamento de pessoal dos agentes de pesquisa, desenvolvimento ¢ educacionais. Finalmente, na quarta etapa, a rede entra em operacdo comercial e se toma amplamente disponivel, restando a0 governo e seus agentes, 9 nesta fase, o papel de suprir as demandas eventualmente ndo atendidas pelo setor privado, que sero primordialmente de integracio nacional e de compensacio de desigualdades regionais. Ao mesmo tempo, 0 governo ¢ os setores de pesquisa e desenvolvimento comegam a planejar 0 préximo ciclo de desenvolvimento ¢ deveriam estar tomando providéncias para, mais uma vez, enquanto a versio “atual” da rede esté em pleno uso pela maior quantidade possivel de agentes sociais, preparar as bases da proxima gerago de infra-estrutura, tecnologias ¢ servigos bisicos de rede que serdo as fundagdes para 0 desenvolvimento da préxima gerago de aplicacées. Com a abertura da Internet/Brasil & operacao comercial em meados de 1995, 0 governo brasileiro cumpriu o primeiro ciclo de desenvolvimento das redes Internet no pafs. Desde entio, o MCT vem monitorando c avaliando o desenvolvimento da rede brasileira e mundial ¢ discutindo alternativas para a préxima geragio de redes Internet no Brasil. Este documento propéc, em termos gerais, a criago de um projeto para cuidar da fase I da Internet no pais, com a ago de governo concentrada, como é mister, nos processos de pesquisa, desenvolvimento e prototipagem da nova infra-estrutura e seus servigos bésicos, de forma a alavancar a nova geracio de redes digitais abertas no Brasil, em beneficio de toda a sociedade. Missio do projeto Articular coordenar o desenvolvimento e utilizagio segura de servigos avancados de computacio, comunicacio c informagio ¢ suas aplicages na sociedade, mediante a pe juisa, desenvolvimento ¢ ensino brasileiros, acclerando a disponibilizagao de novos servicos e aplicagdes na Internet, de forma a garantir vantagem competiviva ea facilitar a insergdo internacional da indGstria e empresa brasileiras. 20 Fornecer, desta maneira, subsidios para a definigao de uma estratégia de pais para conceber € estimular a insergao adequada da sociedade brasileira na Sociedade da Informacio. Objetivos do projeto A gama de aplicagées ¢ tamanho dos problemas potencialmente tratveis no escopo de um projeto como aqui proposto é tao diversa que € necessério, a priori, definir claramente que o projeto no tem Porescopo resolver, diretamente, os problemas de grandes dimensdes de nossa sociedade. Occonjunto de objetivos do projeto deve se restringir a desenvolver ¢/ ‘ou demonstrar novos servigos e aplicagées que possam, na forma de protétipo, indicar diregGes para a solucéo de tais problemas e que sejam instrumento de criagio de competéncia académica, industrial € comercial em areas de atuagio restritas ow problemas especificos Tais reas ou problemas devem, no entanto, ser representativos de grandes problemas nacionais ou 4reas de interesse estratégico para o investimento nacional. Desta forma, criar-se-iam condig6es para que as tecnologias envolvidas ‘na implementagio de uma infra-estrutura como a que se pretende ara o pais possam ser absorvidas pela maior quantidade de técnicos € experimentadas por tantos usuarios quanto possivel. Af sim, estaria criada a capacidade nacional para investir na utilizagio social ampla do tipo de infra-estrutura aqui prototipada e das tecnologias associadas. © projeto contempla 10 objetivos setoriais, priorizando ciéncia, tecnologia e educagio, considerados aqui habilitadores ¢ indutores de todos 0s outros: 2 1.em ciéncia e tecnologia, aumentar radicalmente as capacidades de colaboragio e condugio de experimentos cooperativos por pesquisadores ¢ de disseminagio de resultados cientificos € tecnolégicos; 2. em educagio, contribuir decisivamente para a qualidade dos processos de educagio a distncia, utilizando uma infra-estrutura avangada de comunicagSes; 3. em satide, estabelecer protétipos de servigos de referéncia, com alto nivel de seguranca e de privacidade, em atendimento e diagnéstico remotos e de informagio em savide; 4. em meio ambiente e agricultura, prototipar processos avangados de monitoracio, previsio e administragdo ambiental ¢ em agricultura, especialmente tempo, clima, florestas, agua e safras; 5. na empresa brasileira, desenvolver ¢ avaliar processos de manufatura distribufda e integrada para especializacdo em massa € contribuir para a insergo da média e pequena empresas no mercado internacional; incentivar o desenvolvimento de ambientes de comércio eletrdnico e transagées financeiras seguras através da rede; 6.em cultura, criar novos meios, processos e padrdes para publicagao cinteragio na rede; 7. no trabalho, experimentar e desenvolver novos ambientes ¢ tipos de trabalho utilizando a rede; 8. em transporte ¢ transito, criar e operar prototipos de sistemas de coordenagio e controle de transito e transporte multimodal; 9. no governo, desenvolver sistemas piloto para integrar e ampliar ages de governo em beneficio da cidadania; 2 10. nas relagées internacionais, determinar como essas relagées afetam © ritmo ¢ a ditegao do desenvolvimento e utilizagio das tecnologias da informagio, Para atingir tais objetivos, serd necessirio: * estabelecer uma infra-estrutura nacional de informagio de velocidade muito alta, que seré o hardware bésico para interconectar as instituigdes de ensino e pesquisa, érgios de governo e entidades nio-governamentais ¢ privadas envolvidas no desenvolvimento do projeto; \duzir, articular e fomentar 0 desenvolvimento ¢ adogio de aplicagdes avangadas, provendo um conjunto de servigos basicos e ferramentas adequadas para o desenvolvimento das aplicagdes; * facilitar o desenvolvimento, instalagao e operagéo de uma infra- estrutura de comunicagées de alta qualidade a custos razoaveis que seja capaz de prover qualidade diferenciada de servico (QoS), baseada nas demandas ¢ requisitos das aplicagées avangadas e da comunidade de ensino e pesquisa; ‘+ promover experimentos com novas tecnologias de computacio, comunicagio e informagio; * coordenar a adogio de padrées ¢ préticas comuns entre as instituig6es participates, para garantir a qualidade e interoperabilidade da infra-estrutura, servicos ¢ aplicagdes, * catalisar parcerias entre entidades governamentais, nio- governamentais, de ensino e pesquisa e do setor privado em geral; * estimular c articular a transferéncia de tecnologias desenvolvidas no projeto para a Internet e sociedade em geral; 2B * monitorar e avaliar o impacto da nova infra-estrutura, servigos ¢ aplicagdes, principalmente em ensino, pesquisa, desenvolvimento ¢ na Internet em geral; + prover elementos de avaliagio para 0 governo e para a sociedade na condugéo de um Projeto Nacional visando a implantagao de uma Sociedade da Informagio no Brasil. Em suma, para desenvolver um conjunto de novas aplicagées que deverdo servir como protétipos na criagéo de uma Sociedade da Informagio no Brasil, é preciso envolver de forma decisiva e cooperada © governo, a iniciativa privada e as instituigdes de ensino e pesquisa para montar e operar, em conjunto, uma infra-estrutura e servigos de suporte para tais aplicagées. Brasil tem ampla experiéncia no estabelecimento € uso de redes tipo Internet, representada principalmente pelos recursos humanos treinados nas universidades e centros de pesquisa, em grande parte com o estimulo da Rede Nacional de Pesquisa (RNP). Depois de uma fase de iniciago da Sociedade ao uso dos servigos € aplicagées associados A versao atual da Internet, € necessario que se planeje e execute um salto qualitative onde, mais uma vez, como no infcio do projeto da RNP, a principal preocupagio deve se voltar para a formagio de recursos humanos, pesquisa e desenvolvimento, de forma que se crie as melhores condigées possiveis para a apropriagéo socioecondmica-industrial das préximas geracdes de redes e servigos de computagao, comunicagio e informagio. No restante deste documento: 1, consideramos 0 paradigma da Sociedade da Informagio, suas motivagdes e conseqiiéncias imediatas; 24 2. avaliamos os efeitos positivos € negatives na sociedade das tecnologias da informagéo na sociedade e a necessidade de agies do governo; 3. estabelecemos uma vi Sociedade da Informagio; fo abrangente para tratar os desafios da 4. detalhamos o conceito de Infra-estrutura Nacional de Informagao (IND edoestabelecimento e estado atual do projeto Internet no Brasil; 5. discutimos as razses pelas quais a nova versio da Internet, no Brasil, deve ser orientada a aplicagdes ¢ estabelecemos que objetivos e metas estio associados a tais aplicagdes, exemplificando algumas; 6. discorremos sobre os principais servigos de rede que devem estar dispontveis para a realizagao das aplicagées desejadas e analisamos as oportunidades para o Brasil nesta érea; 7. definimos a infra-estrutura basica que o pafs deve viabilizar para que a segunda fase da Internet no Brasil comece a ser implementada, bem como as caracteristicas desejdveis das politicas para seu uso pelos diversos atores envolvidos no processo; 8. indicamos a seguir a necessidade de que a infra-estrutura de redes necesstiria para a prototipagio da Internet 2, instrumento futuro da Sociedade da Informagio no pafs fique dispontvel a curto prazo, bem ‘como para articular, induzir, coordenar € fomentaro desenvolvimento dos novos servigos ¢ aplicagdes necessirias a0 Brasil nos préximos Finalmente, conclufmos pela necessidade de uma agio imediata no mais alto nivel de governo, da qual devem participar varios ministérios, para assegurar os instrumentos de estimulo dos investimentos de 5 ciéncia e tecnologia, imprescindfveis para a insercio adequada do Brasil na Sociedade da Informacéo. 26 O PARADIGMA DA SOCIEDADE DA INFORMAGAO O fim de século est4 trazendo 4 tona uma nova reorganizacao dos modos de producao ¢ negécios e, conseqiientemente, da economia, da sociedade e da politica. Esta mudanga profunda toma por base as idéias, a informagio, 0 conhecimento, a busca da eficiéncia e 0 inevitavel isco que todas as instituig6es tém de enfrentar para garantir seu espago € nele avangar. A globalizagao inexoravel que estamos sofrendo tem como principal componente tecnol6gico ¢ industrial a computagio, a informagio e a comunicacdo, ¢, no caso de paises da complexidade e dimensio do Brasil, é preciso agdo muito répida e eficiente para que nfo apenas soframos este processo. Deste modo, é importante a formulagdo de uma estratégia de governo para conceber e estimular a insergio adequada da sociedade brasileira na Sociedade da Informacio. Astecnologias de comunicagio, computagio e informacao,em especial redes e a Internet, podem e devem ser consideradas alternativas para acelerar este proceso, servindo como base de uma nova indistria de software, servigos de informagio, midia e processamento de conhecimento e também como habilitadoras fundamentais de todas as outras indiistrias e servigos. 7 Os efeitos das tecnologias da informagao na sociedade As decisdes que estamos tomando, os riscos que enfrentaremos € as oportunidades que aproveitaremos ou nao para definir e criar, efctivamente, a dimensio social da era da informagio no Brasil vo ‘nos acompanhar por muito tempo. Tudo leva a crer que a revolugéo da informagao vai modificar de forma permanente a educacio, 0 trabalho, o governo c servigos piblicos como satide, arrecadacio ¢ seguranga, o lazer, a cultura, as formas de discutir e organizar a sociedade ¢, em diltima andlise, a prépria definigao ¢ entendimento do homem. Em contraposigio a revolugées tecnol6gicas anteriores, que tinham por base energia e matéria, esta mudanca fundamental envolve nossa compreensio do tempo, espago ¢ conhecimento, Em um ambiente de alta conectividade, onde os atores dependem fundamentalmente do conhecimento cada vez. mais parcial para tomada de decisées, em face da impossibilidade de desenvolver uma visio completa de um determinado campo, € muito forte a nogio de inteligéncia coletiva, na qual o conhecimento.a capacidade de criagio local so ampliados pela participagao de cada ator em uma rede de, possivelmente, milhares de pessoas. Mesmo em ambientes mais restritos, como empresas ou pequenos grupos de pessoas, o saber € interesses coletivos se sobrepdem, por meio da conectividade, a0 pensamento c interesses individuais. A Internet pode ser vista no como uma tecnologia para ser usada, mas como um lugar para ser habitado!: em vez. de um dispositive com certas aplicagées, € um espago com amplas possibilidades. No ‘momento, a parte minoritéria da sociedade que faz uso da Internet estd explorando suas possibilidades, buscando usos para a mesma, Como em todas as revolugées, € possivel que, depois de as fronteiras "Antoin O Lachinain, Searching, in Making it Work, hip./jwwwnua ie 28 ¢ limites serem expandidos pelos pioneiros, a grande massa de usudrios da rede ird querer limites bem estabelecidos dentro dos quais se possa viver com uma relativa seguranga ¢ depender efetivamente da rede para os problemas do dia-a-dia. Ainda estamos no inicio desta nova era, baseada no uso intensivo das tecnologias de computagio e comunicago para manipulagao de dados informagao para geragao de conhecimento ¢ temos, como sociedade, muito o que aprender. A cultura digital causa certaestranheza a muitos dos atores sociais, levando, por exemplo, juizes a apreender equipamentos de provedores ¢, literalmente, proibir sua operacdo por causa de determinado contetido criado e mantido no provedor por um usuario. E como se, em um regime ditatorial, houvesse sido proibida a fabricagio de tinta, pois era usada em escritos contra 0 governo. Toda grande mudanga social enfrenta uma reagio de certos setores da sociedade igual ou maior & sua capacidade de subverter a ordem vigente. Nao h4 a menor diivida de que o modelo implicito na Internet, onde o usudtio ou cliente — o antigo leitor ou ouvinte — é ocditor da informagio, assumindo um papel muito mais importante do que na midia baseda em difusio, € muito mais democritico € poderoso que na midia cléssica e tem, também, algo de anarquista. Assim sendo, 0 controle sobre a rede € muito menor, ¢ os poderes cestabelecidos tém de rever muitas de suas premissas sobre midia c, mais amplamente, sobre canais e interfaces de interagio em geral. Em muitos casos, € aparentemente mais facil para o Estado e para certos setores da sociedade civil reagir 4 mudanga. Mas, quando ela se apresenta inexorével, tal reagao levard a grande prejuizo para a sociedade € a eventual extingio de muitos dos processos correntes que dependem de interagao, em detrimento dos atores envolvidos, causando perdas graves 3 economia e ao equilibrio social do pais. 29 Um exemplo poderoso, neste categoria, é 0 da extinggo da maioria das Iinguas ¢ sociedades que nao souberam ou no puderam se adaptar, em tempo, ao surgimento da escrita. Por outro lado, quem aproveita o inicio dos grandes processos de mudanga, apesar de correr mais riscos, certamente aufere mais lucros no médio e longo prazos. No caso da Internet ¢ redes futuras que a seguirdo, ja nao h4 mais tantos riscos nem € tio cedo assim para nos juntarmos ao mundo, no debate sobre como contornar 0s riscos € incertezas, assim como sobre como aproveitar as oportunidades beneficios oferecidos pela rede. arece bastante claro que caminhamos para uma grande convergéncia das atuais redes de informagio, como a Internet, com a rede telefOnica, 0s pagers, sistemas de trunking, bem como redes virtuais como locadoras de video em uma cidade, que usam uma conjungio de midia ¢ transporte classicos para prover diversdo em casa. Nesta nova rede, fatalmente digital ¢ aberta, 0 servigo de comunicagéo via voz, hoje chamado telefonia e merecedor de grande importincia, seré apenas ‘um dos muitos disponfveis sobre a mesma infra-estrutura. Isso deverd reestruturar boa parte da indstria dedicada a interacéo humana, com conscquéncias nao absolutamente previsiveis. Assim, € preciso cuidar para que haja uma articulagdo nacional de muito grande porte, envolvendo todos os que tém algum poder ou interesse no processo, para que o pafs aproveite ao maximo os beneficios da mudanga e reduza ao minimo os riscos decorrentes da mesma. ‘Vale acrescentar que o paradigma da sociedade da informagio resultou de um processo social de desenvolvimento cientifico e tecnolégico evolucionério, cujas forgas motrizes geram implicagées técnicas, sociais, politicas ¢ econdmicas que so cumulativas € irreversiveis. 30 Portanto, o debate sobre 0 papel que as novas tecnologias de informagio e comunicagio iro exercer na construgio da sociedade da informagio no Brasil deve cobrir seu potencial tanto em termos de riscos quanto de oportunidades. A discussio sobre as oportunidades se dé devido a existéncia de uma multitude de 4reas onde a aplicacdo das tecnologias de informacio comunicagio trard, certamente, significantes beneficios socioecondmicos para o pais. Entretanto, mesmo diante deste futuro romissor, o Brasil nao pode ignorar os riscos advindos da construcéo da nova sociedade da informagio. Aeescolha que fizermos hoje sobre o nivel de diversificagio ¢ acesso a infra-estrutura de telecomunicagées, sobre a estrutura ca composi¢ao do capital a ser adotada em uma potencial privatizagio, sobre o grau de expansio ¢ regulamentagio dos servicos teleméticos e sobre a abordagem de caracterizacdo, utilizagio e protegio das aplicagées ir produzir efeitos perversivos e irreversiveis sobre a sociedade brasileira no futuro. Desta forma, o ‘grau de liberdade’ que teremos para possiveis ajustes na politica nacional de construgio da sociedade da informagao dependerd das diretrizes ¢ do ritmo que for imprimido neste momento em que se dé forca para institucionalizé-la, nacionalmente, ¢ expé-la, internacionalmente. Um dos maiores desafios que o projeto da sociedade da informagio encontrard est relacionado com uma politica de estreitamento da lacuna existente entre as expectativas dos engenheiros, técnicos especialistas em tecnologias da computacio ¢ telecomunicagdes ea capacidade de resposta 20 uso das novas tecnologias de informacioe comunicagio pela sociedade brasileira. Nao é dificil imaginar situagées em que especialistas em tecnologia Internet vislumbram, com otimismo, deveras, aplicagées para a Internet que representam grandes oportunidades de melhoria em desempenho c cficiéncia em 4reas espectficas, tais como na educagio e na satide. 31 Entretanto, cabe observar, como ilustragdo, que o sistema educacional € de satide do pafs tem funcionado historicamente com bases em interagées presencias pessoais entre professor(a) ¢ aluno(a) e entre (a) € paciente. Devido a natureza destas interagées, elas geram confianga miitua entre as partes. A introdugio de tecnologias de informagio para a interagio virtual entre essas partes requer uma ago de conscientizagio por parte do governo, em conjunto da sociedade, ¢ com base em estudos rigorosos, que apontem claramente os beneficios ¢ imprevistos advindos de experiéncias semelhantes, como tem sido 0 caso do ensino & distancia pela televisio. Estamos, desta mancira, diante de uma incerteza social sobre a dimensio ¢ o ritmo de incluso dos brasileiros na nova consciéncia psicossocial que a sociedade da informagio acarretard. A tarefa do governo brasileiro € criar condigées para que haja crescente confianga piblica na Sociedade da Informacao. Esta necessidade de uma confianga piblica estd, por exemplo, diretamente relacionada com os referenciais de protegio privacidade individual daqueles brasileiros que se envolvam, ou scjam envolvidos, pela sociedade da informacio, assim como de seguranga nos fluxos de informages comerciais, financeiras, cientificas € tecnolégicas, dentre outras, ¢ nos armazenamentos dessas informacées feitos por individuos ¢ organizagées, de natureza piblica e privada, no contexto desta nova sociedade. Portanto, hé necessidade de se proteger o cidadao brasileiro contra o ‘mau uso, a mé interpretagio ¢ o compartilhamento de informacoes sobre ele pelo governo, setor privado ou outras organizagées. Existem alguns riscos de natureza técnica a serem reduzidos ao mfnimo, ou até mesmo dissipados, diante da institucionalizagao da sociedade da informagio no pais. 32 Entre 0s principais riscos relativos as bases de dados construfdas em ritmo acelerado em organizagées ¢ empresas nacionais, muitas disponivcis pela Internet, estdo 0 acesso nfio-autorizado a programas ou dados (hacking), 0 acesso nfo-autorizado agravado com posterior atividade criminal (fraudes) ¢ a modificagao nao autorizada de programas ¢ dados (virus). A redugo destes riscos é fundamental para a protegio de informagées pessoais, financeiras, contabeis, legais, estratégicas de negécios e particularmente, de interesse na érea de ciéncia ¢ tecnologia, informagGes sobre pesquisa desenvolvimento com vistas a inovag6es em produtos, processos, sistemas etc. No que diz respeito a seguranga dos fluxos de informagées pela Internet, deve ser obscrvado, o fato de que o crescente uso de redes digitais ptiblicas aumenta o risco de acesso as mesmas por individuos e organizagées nio-autorizadas. Para contornar estes riscos, novas tecnologias de seguranga devem ser incorporadas as mensagens ¢ arquivos digitais. O principal método para se imprimir o alto nivel de seguranca descjado € a criptografia, a ciéncia de misturar dados de maneiras que 0s olhos errados nao os vejam. A criptografia aplicada em redes digitais tem sido desenvolvida por meio de equagées algoritmicas, Assim sendo, técnicas sofisticadas de criptografia envolvem a adi¢io de c6digos digitais exclusivos a cada mensagem com vistas a garantir a seguranga ¢ integridade de seu contetdo ¢ a autenticidade do remetente. A sofisticagdo destas tecnologias nao permitir que as mensagens sejam decifradas, sequer por supercomputadores. Aaplicagio eficaz e segura da Internet deve permear todas discusses teméticas sobre a construgéo da Sociedade da Informagio. Este argumento vai desde a diversificagao e disponibilidades de infra- estrutura de transmissio e recepgio de informagées digitais, a expanséo e regulamentagéo dos servigos, até a caracterizacao, utilizagio protecio das informagbes armazenadas ¢ transmitidas através da redes, nacionais e internacionais. 33 ‘Da mesma forma em que os brasileiros terdo acesso a bases de dados nacionais ¢ estrangeiras ¢ irdo trocar informagdes com individuos ¢ organizagées além fronteiras, estrangeiros também terio acesso as bases de dados nacionais e trocario informagées com individuos € onganizacées brasileiras. Portanto, a exposico e a interagio da sociedade da informagao do Brasil com o exterior devern ter sempre como base a necessidade da preservagéo e ampliagéo da nossa diversidade cultural e serem levadas a cabo tendo presente as liberdades individuais dos cidadaos brasileiros ¢ a seguranga, como item de interesse nacional, nos intercambios de toda e qualquer natureza. Uma viséo abrangente da sociedade da informagio O modelo de descrigio do contexto estético para a discussio sobre Internet, idealizado pelo Comité Gestor InternelBR, é mostrado abaixo em formato matricial e detalhado a seguir. Tal visio € amplao suficiente para enquadrar as mais diversas discusses da Internet sobre a Sociedade da Informagao e deve ser associada, para um entendimento mais geral, a0 modelo de ciclo de vida da rede jé considerado anteriormente. [since enue Wied Tec Ate Replomenasio | Detevolimeato | [Aplicagées Tekeimento [Educagio a INPIBR WIPO | Dist | Senigor Rocamento Mul [far VIML | CGVARISOC, | |wac JInfiaestrutura—[Inffaesurura [ATM Jencrr, 1rU Monel | Nas linhas, justapSem-se os diferentes nfveis, ou camadas, em que se organizam desafios, oportunidades, problemas solugées na Sociedade de Informacao. 4 Na camada inferior da rede, a de infra-estrutura, encontram-se 0s meios fisicos, como antenas, cabos épticos ¢ satélites, normalmente gerenciados por empresas concessionérias de servigos ptiblicos de comunicagbes. Na camada intermediftia, a de servigos, encontra-se o servigo Internet, com seus protocolos, padrées, linguagens de exibiggo e programas para acesso a informacio organizada de varias formas. A camada superior, de aplicagdes, abrange a utilizagao da infra estrutura ¢ do servigo Internet na solugio de problemas, que € onde seencontra a real diversidade ¢ riqueza potencial destas tecnologias. Educagao a distancia, diagnéstico e ago médica baseada em redes, informagio para desenvolvimento sustentado, entre muitos outros, podem ser tratados na reunido de grupos de interesse e especialistas gcograficamente dispersos. AAs colunas tratam dos problemas de pesquisa ¢ desenvolvimento, utilizagio de artefatos jé existentes e de regulamentagao associados & denominagio genérica Sociedade da Informagio. Na primeira coluna, os temas de pesquisa e desenvolvimento, que se distribuem nas camadas de infra-estrutura, de servigos ¢ de aplicacées, Esta € a fronteira do conhecimento, territério de universidades € centros de pesquisa e desenvolvimento, ‘A segunda coluna da matriz trata do uso de tecnologias existentes, também estratificado nas trés camadas, fazendo referéncia a tecnologias disponiveis no mercado, para as quais podem ser encontrados produtos, servicos e aplicacées jé testados. A terceira coluna focaliza aspectos regulatérios nas trés camadas representadas pelas linhas. Em infra-estrutura, aspectos regulatérios 35 sio 0 territ6rio da Federal Communications Commission, nos EUA, ‘ou da Agencia Nacional de Telecomunicagées (Anatel), no Brasil. Em servigos, que € onde se encontra o nivel de rede propriamente dito, temos 0 Comité Gestor InterneW/BR, a Internet Society e, por exemplo, o World-Wide Web Consortium. Na camada de aplicagées, aspectos regulatérios sio 0 territério da Organizagio Mundial para Propriedade Intelectual (Ompi) e do Inpi no Brasil. E relevante notar que a maior parte da discussio internacional sobre « Sociedade da Informagao tem se concentrado nas camadas de infra- estrutura ¢ de servigos ¢ na coluna de aspectos regulat6rios, em detrimento de todo um conjunto de temas igualmente relevantes, principalmente para paises em desenvolvimento. Mas € claramente possivel, utilizando-se a matriz. anterior como referéacia conceitual para discusso e mantendo coeréncia com a proposta da Internet na Sociedade Global da Informagio, produzir ‘um projeto brasileiro sobre o tema, tomando por base a capacidade ‘qualidade previstas para redes do tipo Internet 2 no mundo, agindo principalmente nas éreas de interesse estratégico para o pais e ainda mais fortemente naquelas ainda ndo cobertas por esforgos de outros pafses © corporacées ou onde nio houver resultados de dominio piblico que possam ser transferidos ou localizados para o Brasil. Ainda mais, quando se associa a nogao de ciclo de vida da Internet, ja desenvolvida na introducio desta proposta, 8 matriz conceitual ora apresentada, 0 pano de fundo para as discussdes sobre 0 tema fica estabelecido ¢ pode-se entender melhor o papel de cada um dos atores no processo, 36 O conceito de infra-estrutura nacional de informagéo ‘Uma infra-estrutura nacional de informagao é composta por * infra-estrutura fisica de telecomunicagées, responsivel pela transferéncia de informagio entre os sistemas, em geral, associados 0s servigos de rede; * dos servigos como a Internet, que se trata de uma rede de servigos Aigitais, abertos, isto é, aos quais basicamente todo individuo ou organizagio esté habilitado ater acesso e redes privadas de corporacées € 6rgios pablicos que dela fazem uso; * de sistemas de informagio que, de fato, ¢ fazendo uso da funcionalidade de comunicagio provida pela Internet e outras redes, permite acesso generalizado a servigos de comunicacio pessoal ¢ grupal ¢ de informagio em escala mundial. A interconexao entre redes nacionais através de redes internacionais engloba, além do hardware, software e trabalho técnico necessério para 2 instalagio, operagéo e manutengio de uma infra-estrutura global, 08 aspectos de padronizagio, legal, comercial ¢ diplomitico. Mais do que em qualquer outra era da hist6ria da humanidade, recursos humanos qualificados serio de fundamental importancia para a era da informaga * cientistas, engenheiros, educadores ¢ técnicos em todas as freas associadas as tecnologias da informagio, especialmente em sistemas de informagio, de comunicagio ¢ computacio mas também em administragio e aplicagio de informagio conhecimento; 7 * uma forga de trabalho treinada para o uso destas tecnologias € sistemas capaz de produzir com qualidade e competitividade dentro de ambientes baseados em conhecimento; * uma populacio preparada para, em escala generalizada, utilizar sistemas ¢ servigos associados a redes de comunicagio e informagao, bem como educada para produzir ¢ consumir informagdo e conhecimento competentemente. 38 UMA NOVA INTERNET NO BRASIL, ORIENTADA A APLICACOES inicio de uma nova fase de pesquisa, desenvolvimento prototipagem de redes e servicos digitais, em todo o mundo, esté sendo marcado pela definigio, a priori, das aplicages que dependeriam, de forma fundamental, dessa nova e mais avancada infra-estrutura. ‘Tal aspecto dos novos desenvolvimentos associados a Internet é de importancia fundamental. Certamente jé € 0 caso que, na maioria dos pafses com nivel de desenvolvimento igual ou superior ao Brasil, a Internet em seu estagio atual esté sendo absorvida pelas camadas mais ricas da populagio. Cabe ao governo, no estigio atual, além do papel regulador, enfrentar o desafio de torné-Ia mais Gtile socialmente relevante, permitir a sua utilizagéo em velocidades maiores sem grandes custos adicionais de infra-estrutura e garantir maior equidade de acesso, ‘Mas, dentro do concerto internacional, sobram perguntas. Quais seriam, por exemplo, as caracterfsticas desejaveis em um pafs para que ele se considerasse informado? Mais ainda, o que seria, mesmo, um learning country? O que seria exigido de suas instituigées, principalmente educacionais, para que um pais estivesse sempre em. estdgio de aprendizado, como é mister na era do conhecimento? Os ntimeros brasileiros mostram um crescimento impressionante de certos indicadores nas Gltimas décadas, mas também demonstram 39 ‘um pafs nio s6 subinformado, mas subeducado e despreparado para aprender. Estas séo as causas mais bésicas das miais variadas desigualdades nacionais ¢ deveriam ser consideradas na estratégia de governo para conceber ¢ estimular a insergéo adequada da sociedade brasileira na Sociedade da Informagio, ¢ como dreas potenciais de aplicagio das novas infra-estruturas, servigos aplicagdes associados alnternet 1 ¢ 2. Oinvestimento em educagio, tendo por base uma forte componente de cigncia ¢ tecnologia ¢ feito de forma ampla, em todo o Brasil, induzitia a que intimeros setores do pais, em um curto perfodo de tempo, a saltos qualitativos que reposicionassem o pais e seu povo no cendrio internacional, obtendo como resultado um pais mais rico, culto ¢ justo. A tese deste documento é que tal processo, dentro dos limites impostos pela realidade nacional e internacional, poderd ser impulsionado dentro do contexto de redes abertas como a Internet. Certamente cabe a cada pais ou mesmo a cada regio, dentro dos pafses, definir suas prioridades. Para o Brasil, neste projeto, propomos um conjunto de aplicagées-piloto em dez areas, sendo que, em cada area, as aplicagées tém uma missio a cumprit. Em educacao, por ‘exemplo, espera-se que a rede, inicialmente, sirva como protétipo de processos educacionais & distancia e de alta qualidade, onde professores, conferéncias, aulas, laborat6rios, bibliotecas virtuais ¢ experiéncias, por exemplo, estejam dispontveis em todo o pais, a custos muito mais baixos do que seria 0 caso, hoje. 40 PRINCIPAIS SERVICOS DE UMA NOVA GERACAO DE REDES Para que possamos desenvolver aplicagdes mais avangadas tais como videoconferéncia, teleimerséo € trabalho cooperativo, no basta simplesmente aumentar a taxa de transmissdo dos canais de comunicagio. £ necessdrio também melhorar os servicos fornecidos pela rede, de modo queas aplicagées possam efetivamente se beneficiar pelas novas taxas disponiveis. Arrede Internet que conhecemos, ou Internet |, foi construida tendo em vista servigos de transferéncia de dados interativos mas no de tempo real. Isto é, nao foi prevista inicialmente a transmissio de voz imagens “ao vivo”, processo em que o retardo excessive na recepgio da informagio pode tornar ininteligivel a conversaco. O servigo bisico fornecido pela Internet 1 € o fornecido pelo protocolo IP (Internet Protocol), que trata pacotes de informagio individualmente esforgando-se para entregé-los ao destino, mas sem grandes garantias, em um servigo denominado justamente de best-effort. As aplicagbes podem ser classificadas, simplificadamente, em aplicagées de tempo real e aplicacées nao de tempo real. Nas aplicagdes de tempo real, como mencionado anteriormente, o parimetzo critic €0 retardlo maximo de transferéncia da informagio. Isto é a amostra de voz. ou 0 quadro de imagem devem estar disponiveis no instante previsto para a sua reprodugio. Normalmente ndo ha tempo hébil 4 para a recuperagao de erros de transmissao por meio de retransmissées, or isto devem ser inclufdos mecanismos de corregio de erros, caso necessério. Por outro lado, as aplicagées nio de tempo real, basicamente as aplicagdes de dados, toleram retardos maiores ¢ variaveis, mas so, em geral, mais sensiveis 4 perda de informacoes, daf a existéncia de mecanismos de recuperacio de erros ou perda de informagio. Como cada nova aplicagao, sobretudo as de tempo real, necessitam cuidados especiais, faz-se, portanto, necessirio o desenvolvimento de um conjunto de servigos flexiveis e avangados de redes que garantam a qualidade de servigo (QoS) desejada a custos razoaveis. Os principais servigos de redes ¢ os protocolos correspondents devem possuir as seguintes caracteristicas!; * qualidade de servigo (QoS); * seguranga e robustez; * gerenciamento da rede, incluindo a alocagéo ¢ compartilhamento de largura de banda; * engenharia e operagdo do sistema, incluindo definigées € ferramentas para arquiteturas de servigos, métricas, medigdes, estatfsticas ¢ andlises; * protocolos novos ou modificados para o roteamento, comutagio, distribuigio para miltiplos usuérios (multicast) transporte confidvel, seguranga e mobilidade; "De acordo com o NGI Initiative Concept Paper (htp:/worungi go). 2 * sistemas operacionais, incluindo novos requisitos gerados por arquiteturas avangadas de computadores; * ambientes para aplicag6es cooperativas e distribusdas. Qualidade de servigo - A qualidade de servigo (QoS ~ Quality of Service) € um conceito subjetivo que indica 0 grau de satisfagao do usuario com o servigo que lhe é prestado, Por outro lado, este grau de satisfagio pode ser especificado mediante parametros mensurivcis, tais como tempo maximo para o estabelecimento de uma conexio (se houver alguma), retardo maximo de transferéncia da informagio fim a fim, variagao deste retardo (jitter), perda de informagio etc. Os projetistas devem identificar 0 conjunto de medidas que melhor caracterizam uma determinada aplicagio, assim como monitorar quais as faixas de valores destas medidas, adequados em cada caso. De posse dos parimetros que caracterizam o servigo exigido pelas aplicagdes, estas saberdo o que solicitar da rede ¢ esta deverd alocar recursos suficientes para atender a esta solicitagio. Obviamente, um mesmo servigo pode ser prestado com qualidades diferenciadas a custos também diferenciados. Melhor QoS implica, normalmente, maior prioridade na utilizagio de recursos compartilhados, ou até mesmo na reserva de recursos de forma dedicada, Como também pode ser observado nos itens seguintes, o conceito de qualidade de servigo € um dos mais importantes, ¢ todo 0 planejamento, dimensionamento, gerenciamento ¢ operacio da rede giram em torno de garantir & aplicagio a QoS solicitada. Seguranga ¢ robustez - A rede Internet original foi criada com preocupagées de confiabilidade em termos de conseguir entregar a “a

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