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A cultura do capitalismo globalizado. Novos consensos ¢ novas subalternidades Were iwonarto 1. AATUALIDADE DE GRAMSCI NAS LEITURAS DO BRASIL E DO MUNDO. Ler Gramsci, hoje, discutir e buscar compreender a realidade a partir de seus ‘0s, significa reconhecer a atualidade de um pensamento que, ao projetar-se para além do seu tempo, permanece como decisivo e fundamen- tal no desvendamento das complexas e intrincadas transformagoes que atra- vessam as sociedades contempordneas. As iltimas décadas do século XX alte- raram a geografia mundial, imprimindo mudangas no modo capitalista de producao, refletidas na criagao do mercado globalizado, na soberania dos Estados nacionais e nos mecanismos de regulagao e de controle social e politi- co. Permeado por crises, o momento presente continua proclamando a apa- rente vitéria do capitalismo, assentado na supremacia do sistema financeiro, no espectro do fim da hist6ria e das ideologias, no desaparecimento dos gran des sujeitos sociais, na énfase exacerbada em comportamentos individualistas, fundamentalistas ¢ nacionalistas — enfim, a auséncia de sonhos ¢ o “desen- cantamento utépico” so as marcas indeléveis dos esfumacados dias atuais. AA transigao para essa nova ordem mundial nao se restringe, contudo, & rodugio de riquezas. Imbrica-se, também, na producdo da vida social, num movimento em que as esferas econdmica, politica e cultural se sobrepdem e se complementam de forma reciprocal, Os atuais padrdes e formas de dominio no campo econdmico, necessadrios a reestruturagdo do capital, impéem, ainda, LER GRAMSCI, ENTENDER A REALIDADE amnecessidade de socializagao de novos valores e regras de comportamento, de modo a atender tanto & esfera da produgao quanto a da reproducao social. Em outros termos, um conjunto de fatores nos campos objetivo e subjetivo redefi- ne a correlagio de forcas entre as classes sociais e, conseqiientemente, os pro- jetos sociopoliticos mais amplos. Tais relagGes nio se referem apenas & criagao de uma nova forma de organizacdo do trabalho e do capital, mas também & formagio de novos pactos e consensos entre capitalistas e trabalhadores, jé que o controle do capital nao incide somente na extracio da mais-valia, mas implica, ainda, o consentimento e a adeso das classes & nova ideologi Se, para Gramsci, a hegemonia “¢ algo que opera nao apenas sobre a estrutura econémica e sobre a organizagao politica da sociedade, mas tam- bém sobre 0 modo de pensar, sobre as orientagdes ideolégicas ¢ sobre os modos de conhecer”?, ele se apresenta, certamente, como um dos pensado- res privilegiados que, na atualidade, nos guiam pelas trilhas que permeiam tanto as relagdes de dominacao e exploragéo na esfera econdmica como a formagao de novos padrées culturais. ‘Assim, ler a realidade contemporanea a partir de Gramsci implica, fun- damentalmente, analisar alguns apontamentos relativos s manifestagoes do capitalismo nos campos ideol6gico ¢ cultural, os quais, em seu conjunto eem escala planetiria, receberam o nome de neoliberalismo. Nesse ambito, a esfe- ra da cultura apresenta-se como espago de incorporacao de valores, ideolo- gias e préticas sociais que permitem sustentar e avalizar a légica do grande capital, criando-se um senso comum que fortalece o conformismo ¢ a passi- vidade diante das transformagies societarias em curso. £ esse o terreno que se pretende analisar, posto que nele se manifestam algumas das expresses da nova racionalidade capitalista e de sua performance entre o final do século XX e 0 inicio do XXI. Tal como Gramsci analisou em “Americanismo ¢ fordismo”, a organiza- ¢40 do sistema produtivo transcende a esfera econémica, na medida em que exige uma vasta empresa intelectual para implementé-la e criar um “novo ipo de homem”, com qualidades morais e intelectuais afeitas & nova ordem. capital invade a vida intima dos individuos, através da acentuada mercan- tilizagdo da satisfagdo de necessidades € do controle dos comportamentos sociais, politicos e culturais. No contexto da vida publica ocorre a integra- io reciproca entre Estado, sociedade e mercado, 0 que requer, conseqtiente- mente, uma reestruturacao das esferas social, econdmica, politica ¢ cultural. A CULTURA DO CAPITALISMO GLOBALIZADO Contribuem para isso 0s atuais avangos tecnolégicos nos sistemas de comunicagao, através da microeletrénica, da informatica ou da midia em geral, eliminando as barreiras da distancia, permitindo interconexdes regio- nais e globais, em tempo real, alterando vertiginosamente a rela¢ao espago- tempo. Essas novas redes de comunicagio, se, por um lado, revestem-se de uma aura democritica ao permitir 0 contato com diversos povos e culturas ¢ suas vivéncias diversificadas, por outro ampliam o poder dos grupos mani puladores de informagées, contribuindo, muitas vezes, para o surgimento de valores totalitarios. Conforme observa Susan George, milhdes de délares sao gastos a cada ano para difundir 0 credo neoliberal, o triunfo do “pensamen- to tinico” ¢ a ideologia do “fim das ideologias”3. No campo ideol6gico, interesses individuais e difusos superdimensio- nam-se, fortalecendo uma falsa idéia de pertencimento e de sociabilidade, No campo politico, essa nova cultura, produzida com o processo de globali- zacio, assenta-se na implementacao de reformas neoliberais, desqualificado- +s tanto do liberalismo democratico quanto das possibilidades de constru- $40 do projeto socialista. Seus pilares fundamentais centram-se nos ajustes econémicos, materializados na apologia da privatizagao e da supremacia do mercado, na cultura antiestado, na valorizagéo exacerbada da sociedade civil e das classes subalternizadas, desqualificando a politica e a democracia, Do jovem Gramsci ao Gramsci da maturidade, encontramos uma ampla reflexao sobre a crise do liberalismo, do Estado, da democracia e dos desa- fios ao seu enfrentamento. O conjunto de transformagGes politicas, econd- micas e sociais que ocorriam desde a metade do século XIX, adentrando 0 século XX, marcadamente no pés-Primeira Guerra, foi detidamente esmiu- gado por ele, de modo a captar as novas formas de organizagao do capital, do trabalho e do Estado e as estratégias capitalistas para 0 fortalecimento do rojeto hegeménico. Ainda que a critica gramsciana remonte ao periodo do entreguerras, é lamentavel constatarmos que as questées cruciais do passado se redimensionam na atualidade de forma cada vez mais avassaladora. As desigualdades sociais nao foram resolvidas, mas, ao contréio, acirraram-se, a partir da nova forma de expresso do capitalismo, a divinizada globaliza- $40, que coloca em xeque o papel do Estado, os direitos sociais e os projetos da classe trabalhadora, A globalizacao foi difundida, vendida e impingida a governos, partidos, sindicatos, em todos os paises, mas principalmente nos de economia perifé. a7 LER GRAMSCI, ENTENDER A REALIDADE rica, como a tinica possibilidade, politica e ideolégica, “necessdria ¢ irrecu- sivel” ao ingresso na modernidade capitalista. “Fenémeno universal, inclu- sivo ¢ homogeneizador”, indispensdvel aos Estados nacionais no acesso 3s transformagies tecnol6gicas em curso no mundo todo, foram tais as idéias subsididrias na fabricagio dessa crenca. B, por outro lado, a auséncia de qualquer outra alternativa. O tema da “‘construgio democratica” foi substi- tuido pela preocupagdo com a “estabilidade politica” ¢ econémicat. Cons- truiu-se uma hegemonia que, ao difundir a idéia de estabilizagao do sistema econémico, produz, na mesma medida, um conformismo que atravessa todo o tecido social, reforcando a crenga de que a realidade de hoje desde sempre foi assim, e para sempre assim sera. ‘Se Gramsci é hoje referéncia fundamental para pensar a realidace mun- dial, também o é para a brasileira, como tem ocorrido por quase quarenta anos, desde o momento em que suas primeiras idéias chegaram até nés, atra~ vés da edicdo temética dos Cadernos do carcere, no dificil perfodo da dita- dura militar. Do final dos anos 1970 aos dias atuais, o pensamento gramsciano pas- sou a fazer parte da cultura brasileira, sendo efetivamente incorporado aos cenarios académico ¢ politico, contribuindo para a reflexao das contradigoes do capitalismo contemporanco suas manifestagdes em nossa realidade, Um pensamento que, mesmo sob o abalo de diversas conjunturas, tem resistido ¢ mostrado sua atualidade, tanto na compreenséo de nosso passado quanto das intrincadas questdes do presente. ‘As publicagies de livros, ensaios, artigos e teses académicas inspiradas no pensamento gramsciano, no final dos anos 1990, atingiram um patamar significativo, com problematizagdes sobre as transformagoes do Estado e da sociedade civil sob a égide do neoliberalismo, a crise social que se desdobra em imensos processos de exclusio, empobrecimento € retrocesso da cidada- nia, A realidade brasileira, plena de “revolugdes passivas”, continua sendo ‘um enorme laboratério politico, no qual as categorias gramscianas prosse- ‘guem indicando sua “forca analitica e seu poder de convencimento”S. Se, na década de 1970, o pensamento gramsciano foi fundamental para a andlise de diferentes momentos da hist6ria brasileira, desde a Repiblica Velha, passan- do pela Revolugéo de 1930, até o golpe militar de 1964, bem como para as formas de transico de nosso pais modernidade capitalista, suas categorias ainda hoje sio essenciais para compreender os processos de “modernizagio 278 A CULTURA DO CAPITALISMO GLOBALIZADO conservadora” que prosseguem em nossa realidade, prin tocante as transformagGes na relagio Estado/sociedade ocorridas entre 0 final do século XX e 0 inicio do século XX1. 2. A CULTURA ANTIESTADO E O “TRIUNFO DA SOCIEDADE CIVIL” Preocupagao constante no pensamento gramsciano, a complexidade das relagdes Estado/sociedade apresenta-se hoje como eixo fundamental na di cussiio das transformagies do capitalismo contemporaneo, das novas formas de expressio do Estado, da sociedade civil e, conseqitentemente, dos proces- sos de construcao da hegemonia nesse cendrio de crise. E sob essa ética que se pretende fazer uma leitura da realidade latino-americana e, mais especifi- camente, da brasileira, dadas as dimensdes que a crise assume no pais. No Brasil, o esgotamento do Estado burocrético-desenvolvimentista desencadeou um processo de ajuste estrutural, desregulamentando a econo- mia, suprimindo sua fungio reguladora, substituindo-a pelo jogo do livre mercado, com a promessa de que seu poder auto-regulador proporcionaria uma distribuigao de renda mais racional, No entanto, a rentincia da fungao do Estado como agente econdmico-produtivo favoreceu, em toda a América Latina, a privatizagio das empresas estatais, a reducao do setor piblico e de toda a maquina estatalé, O tema do Estado — suas dimensées, seu formato, sua redefinigao para inserir-se na nova ordem econémico-mundial — foi per- seguido como questao estratégica. A modernizago econémica exigiu, assim, uma profunda reforma, de carater privatizante e desregulamentador. Destituido de seu carater piiblico, o Estado vem sendo cada vez mais substituido por fragdes da sociedade civil, articuladas em torno de uma oli- ‘garquia financeira globalizada que busca garantir seus interesses ampliando 5 canais ¢ as instituicdes capazes de aglutinar seus projetos, o que lhe con- fere uma hegemonia politico-econdmica assegurada pela organizagao atual do capitalismo. As regras do chamado “ajuste econdmico”, expresso das politicas neoliberais, vém promovendo, na América Latina, a “morte ptibli- ca” do Estado, desqualificando-o como esfera de representacdo dos interes- ses das camadas de classes subalternizadas. Nesse sentido, o Estado vem atuando, com fiiria jamais vista, em procedimentos voltados a um verdadei- 279 LER GRAMSCI, ENTENDER A REALIDADE ro desmonte da esfera piiblica, efetuando a privatizagéo dos mais elementa- res bens e servigos, sob 0 propalado discurso da necessidade de reducio do déficit piblico. Construiu-se um consenso sobre a gestéo publica ineficiente, a necessidade de sua descentralizagao, a debilidade das instituigdes, a fim de proteger a cidadania das ameagas que nascem de sua fraca capacidade de garantir os direitos fundamentais. Tornou-se imprescindivel, para tal, criar condigdes de estabilidade macroecondmica, através das politicas fiscal € monetitia, sustentadas pelo desenvolvimento econdmico ¢ propaladas como necessérias para proporcionar servigos piblicos de satide, educagao, cultura, seguranga interna e externa. ‘As relacdes Estado/sociedade, nesse cendrio, elidem a formacao de uma ‘cultura que substitui a relacdo estatal pela livre regulacao do mercado. Nessa tica, a classe burguesa busca eliminar os antagonismos entre projetos de classe distintos, no intuito de construir um “consenso ativo”, em nome de uma falsa visio universal da realidade social. Procede-se, assim, a uma verda- deira “reforma intelectual e moral”, sob a diregao da burguesia, que, em no- ‘me da crise internacional do capital, consegue socializar uma “cultura da cri- se”, transformada em base material do consenso e, portanto, da hegemonia’. Esse discurso genérico tem um efeito imediato no campo pratico- operativo, na medida em que as ages desenvolvidas para a recuperagio eco- némica sao de natureza transclassista, ou seja, beneficiam a todos sem dis- tingdo. No entanto, do ponto de vista politico, essa estratégia também cria a subalternidade das demais camadas de classe, obstaculizando a possibilida- de de as mesmas elaborarem uma visio de mundo de corte anticapitalista e articular aliangas e estratégias em defesa de seus préprios interesses. A abs- trata idéia de uma crise de carter universal tende a prevalecer e a difundir- se por toda a sociedade, “determinando, além da unicidade dos fins econd- micos e politicos, a unidade intelectual e moral”, nao no sentido de supera- Go dos interesses econdmico-corporativos e sua elevagao a dimensio ético- politica, mas de modo a fortalecer a hegemonia de um grupo social funda- mental sobre os grupos subordinados (CC, 3, 41). Produz-se, dessa forma, uma cultura de passividade e conformismo, que incide diretamente no coti- diano das classes subalternas, reforcando 0 corporativismo € as ages parti- cularistas, em detrimento de projetos de natureza coletiva, Supértluo, inepto, ineficaz, ineficiente, responsével pelo deficit piblico, cis alguns dos atributos mais comuns a integrar o discurso forjador da crise 280 ‘A CULTURA DO CAPITALISMO GLOBALIZADO conservadora” que prosseguem em nossa realidade, principalmente no tocante as transformagdes na relacao Estado/sociedade ocorridas entre 0 final do século XX € 0 inicio do século XXI. 2. A CULTURA ANTIESTADO E O "TRIUNFO DA SOCIEDADE CIVIL” Preocupacao constante no pensamento gramsciano, a complexidade das relagdes Estado/sociedade apresenta-se hoje como eixo fundamental na dis- cussio das transformagées do capitalismo contemporaneo, das novas formas de expresso do Estado, da sociedade civil e, conseqiientemente, dos proces- sos de construcao da hegemonia nesse cenario de crise. E sob essa dtica que se pretende fazer uma leitura da realidade latino-americana e, mais especifi- camente, da brasileira, dadas as dimensBes que a crise assume no pais, No Brasil, 0 esgotamento do Estado burocrdtico-desenvolvimentista desencadeou um processo de ajuste estrutural, desregulamentando a econo- mia, suprimindo sua fungdo reguladora, substituindo-a pelo jogo do livre mercado, com a promessa de que seu poder auto-regulador proporcionaria uma distribuigio de renda mais racional. No entanto, a renincia da fungao do Estado como agente econémico-produtivo favoreceu, em toda a América Latina, a privatizagao das empresas estatais, a redugao do setor piblico e de toda a maquina estatalé. O tema do Estado — suas dimens6es, seu formato, sua redefinigo para inserit-se na nova ordem econémico-mundial — foi per- seguido como questio estratégica. A modernizagao econdmica exigiu, assim, uma profunda reforma, de caréter privatizante e desregulamentador. Destituido de seu cardter piblico, o Estado vem sendo cada vez mais substituido por fragdes da sociedade civil, articuladas em torno de uma oli- ‘garquia financeira globalizada que busca garantir seus interesses ampliando 6s canais ¢ as instituigdes capazes de aglutinar seus projetos, 0 que Ihe con- fere uma hegemonia politico-econémica assegurada pela organizagio atual do capitalismo. As regras do chamado “ajuste econémico”, expresso das politicas neoliberais, vém promovendo, na América Latina, a “morte pibli- ca” do Estado, desqualificando-o como esfera de representagao dos interes- ses das camadas de classes subalternizadas. Nesse sentido, o Estado vem atuando, com ftiria jamais vista, em procedimentos voltados a um verdadei- 279 LER GRAMSCI, ENTENDER A REALIDADE ro desmonte da esfera publica, efetuando a privatizagao dos mais elementa- res bens e servicos, sob o propalado discurso da necessidade de reducao do déficit piblico. Construiu-se um consenso sobre a gestao piiblica ineficiente, a necessidade de sua descentralizagio, a debilidade das instituigdes, a fim de proteger a cidadania das ameagas que nascem de sua fraca capacidade de garantir os direitos fundamentais. Tornou-se imprescindivel, para tal, eriar condigdes de estabilidade macroecondmica, através das politicas fiscal € monetaria, sustentadas pelo desenvolvimento econdmico e propaladas como necessérias para proporcionar servicos piblicos de saiide, educagao, cultura, seguranga interna e externa [As relagies Estado/sociedade, nesse cenério, elidem a formagao de uma cultura que substitui a relacio estatal pela livre regulagio do mercado. Nessa tica, a classe burguesa busca eliminar os antagonismos entre projetos de classe distintos, no intuito de construir um “consenso ativo”, em nome de uma falsa visdo universal da realidade social. Procede-se, assim, a uma verda- deira “reforma intelectual e moral”, sob a diregio da burguesia, que, em no- ‘me da crise internacional do capital, consegue socializar uma “cultura da cri- se”, transformada em base material do consenso ¢, portanto, da hegemonia?. Esse discurso genérico tem um efeito imediato no campo pratico- operativo, na medida em que as ages desenvolvidas para a recuperagao eco- ndmica sao de natureza transclassista, ou seja, beneficiam a todos sem dis- tingao. No entanto, do ponto de vista politico, essa estratégia também cria a subalternidade das demais camadas de classe, obstaculizando a possibilida- de de as mesmas elaborarem uma viséo de mundo de corte anticapitalista e articular aliangas e estratégias em defesa de seus préprios interesses. A abs- trata idéia de uma crise de carter universal tende a prevalecer e a difundi se por toda a sociedade, “determinando, além da unicidade dos fins econd- micos e politicos, a unidade intelectual e moral”, nao no sentido de supera- Gao dos interesses econémico-corporativos ¢ sua elevagao & dimensao ético- politica, mas de modo a fortalecer a hegemonia de um grupo social funda- mental sobre os grupos subordinados (CC, 3, 41). Produz-se, dessa forma, tuma cultura de passividade e conformismo, que incide diretamente no coti- diano das classes subalternas, reforcando 0 corporativismo e as ages parti- cularistas, em detrimento de projetos de natureza coletiva, Supérfluo, inepto, ineficaz, ineficiente, responsavel pelo déficit pablico, cis alguns dos atributos mais comuns a integrar o discurso forjador da crise 280 A CULTURA DO CAPITALISMO GLoBALIzaDO estrutural do Estado e fomentador da cultura que distorce e destr6i a neces- sidade de sua existéncia. E no cerne desse discurso que se fortalece a dicoto- mia entre “piblico” e “privado”, caracterizando-se por piiblico tudo 0 que € ineficiente, aberto ao desperdicio e a corrupcao, e, por privado, a esfera da eficiéncia e da qualidade. A coergao das nagdes hegeménicas sobre as cha- madas “elites domésticas” dé-se mediante a incorporagio e a internalizagao de tais normas e valores ¢ de sua aceitacio como fendmenos naturais, que acabam por definir e direcionar o comportamento e a agenda dos governos nacionais ¢ a escolha e a implementacao das politicas, As agéncias de cooperagao internacional, especialmente 0 Banco Mundial, tém articulado uma “alianga tecnocritica transnacional”, como estratégia a fim de racionalizar os investimentos na esfera pablica, diminuir © papel e o poder do Estado e fortalecer as acdes de natureza privada. A reconstrucdo da esfera estatal tornou-se prioridade na agenda dos Estados nacionais, condigio sine qua non para a obtenco de empréstimos dos orga~ rnismos internacionais, detentores da hegemonia no manejo dos recursos eco- némicos, sociais, politicos e simbélicos. Cristaliza-se, assim, uma cultura antiestado, que cimenta a necessidade de privatizar bens ¢ servigos de natureza piblica, apropriados por empresas Privadas como fontes de novos lucros. Em todos os paises periféricos, sob 0 credo da “desestatizagio”, liquidowse o patriménio nacional, chegando-se a situagdes em que muitas das dividas das empresas estatais privatizadas con- tinuam a cargo do prdprio Estado, numa surpreendente inversao de papéis. © poder politico passa a ser pensado sob a 6tica do poder econdmico, estabelecendo-se um vinculo orginico dos agentes politicos com o capital, base material de sua sustentagdo. Elaborou-se, construiu-se e sedimentou-se uma verdadcira cultura de consentimento & privatizagdo. A soberania do mercado passa a negar a necessidade de decisdes politicas, que so precisa- mente as que dizem respeito aos interesses coletivos, contrapostas aos de natureza particular. “A participagdo no mercado substitui a participagdo na politica. © consumidor toma o lugar do cidadio”’ — e todos nos tornamos “cidadaos-clientes”. No Brasil, a chamada “reconstrucdo do Estado” estabeleceu, prética e ideologicamente, a idéia de “Estado minimo”, denominado “Estado social- liberal”, revestida do enganoso discurso de que é “social porque continuar& a proteger os direitos sociais e a promover o desenvolvimento econdmico”; 2a1 LER GRAMSCI, ENTENDER A REALIDADE € “liberal, porque o fara usando mais os controles de mercado € menos os controles administrativos, porque realizar seus servigos sociais e cientificos principalmente através de organizagoes piblicas nao estatais, competitivas, porque tornard os mercados de trabalho mais flexiveis, porque promoverd a capacitagao dos seus recursos humanos e de suas empresas para a inovacio ea competicio internacional”, Os fundamentos desta matriz. neoconserva~ dora de Estado, contudo, indicam claramente a mercantilizagao dos direitos sociais e nao a sua defesa; a retragio do Estado de direito conquistado com a luta das forcas democriticas brasileiras; a instrumentalizacao dos direitos pela racionalidade econémicas o retrocesso na construcao democritica € no exercicio da cidadania!®, Com base nessa l6gica, fortalecem-se as relagdes Estado-sociedade-met- cado e criam-se padrées, no dmbito da subjetividade e do consentimento, da necessidade de sacrificio de todos os segmentos de classe no enfrentamento da cise, reforcando a “cultura politica da crise”, cuja pretensa verdade € repassada a sociedade e incorporada, principalmente, mas no s6, pelas camadas de classe subalternas como ‘inica, numa assimilagao de concep¢ao de mundo, matriz de uma unidade ideolégica que congrega toda a socieda- de, Reafirma-se, nesse sentido, a hegemonia burguesa, a medida que uma determinada visio de mundo se converte em senso comum, tornando-se 0 alicerce de um novo bloco histérico. ‘A universalizagdo desse senso comum transforma-se em base de um novo consenso, transferindo para as classes dominantes uma “poderosissima ferramenta de controle politico e social”, convertendo-se o capitalismo na organizagao econdmica final da histéria, A classe dominante consegue legi- timar sua ideologia, uma vez que detém a posse do Estado e dos principais instrumentos hegem6nicos (organizacdo escolar, midia), “lugar constituinte dos valores sociais e garantia de sua reproducao””2, ¢, ainda, possui o poder econémico, que representa uma grande forga no seio da sociedade civil, pois, além de controlar a produgao e a distribuicio dos bens econdmicos, organi- za. distribui as idéias. Assim, as superestruturas ganham materialidade ¢ a classe dominante reatualiza a sua “estrutura ideolégica”, a fim de defender e manter um certo tipo de consenso dos aparelhos de hegemonia em relagao ‘a seus projetos, legitimados por via democritica. A transformacao da objeti vidade burguesa em subjetividade e sua naturalizagio na sociedade expres- sam-se através de um “movimento molecular” que, conforme indica Bada- 282 A CULTURA DO CAPITALISMO GLOBALIZADO loni, “envolve individuos ¢ grupos, modificando-os insensivelmente, no cur- 50 do tempo, de modo tal que 0 quadro de conjunto se modifica sem a apa- rente participagao dos atores sociais”!3, No Brasil, as reformas realizadas nos anos 1990 sio fartas de exemplos cujo produto final resultou na “descentralizacao e flexibilizagio” de diversos servigos puiblicos, através da criago de organizacées piblicas nao estatais, 0 que significa, na pratica, a privatizagdo de hospitais, escolas técnicas, postos de satide € universidades, transformados em fundacdes de direito privado que recebem do governo subvengées praticamente simbélicas, Este proceso de privatizacio do piblico, posto pelas burocracias ligadas aos aparelhos executivos ¢ repressivos do Estado, esté intrinsecamente relacionado a rear ticulagao de novas ideologias na esfera da sociedade civil, onde os proyetos das elites econémicas se sobrepdem aos das classes subalternas. As formas coletivas de organizagio e representacao vém sendo erodidas através de um progressivo processo de esvaziamento e fragmentacao de suas protoformas de luta e de seus referenciais politicos de classe. Despolitiza-se 0 trabalhador, principalmente através do alardeamento da “ideologia do medo”, pelo fechamento de inimeros postos de trabalho e pela desmonta- gem das formas juridicas de resolugao dos conflitos trabalhistas, extinguin- do garantias e direitos conquistados. Tal fragmentacio, sorrateiramente, destr6i as possibilidades de construgéo de uma “vontade coletiva”, de um ‘momento “ético-politico”, trilhando 0 caminho de volta ao que Gramsci denominou de momento “econdmico-corporativo”. Essa nova hegemonia fragmenta os sujeitos coletivos, quer do ponto de vista material, quer do Ponto de vista politico-cultural, através de valores particulares e individuais que desorganizam as classes em relagio a si mesmas ¢ as articulam organica- mente ao idedrio do capital. © “pertencimento” de classe cede lugar a0 indi- vidualismo, a0 *desencantamento utdpico”, a proliferagao de teorias do fragmentario, da heterogencidade, do aleatério, reforcando a “alienagao ¢ reificagdo do presente” e provocando um estilhagamento dos nossos modos de representacaol4, As estratégias de desmonte das organizagées coletivas so enfeixadas no discurso enganoso sobre a sociedade civil, remetendo-se a esta a responsabili- dade no encaminhamento de projetos que déem conta dos complicadores das novas manifestagdes da “questao social”. A sociedade civil, entretanto, é aqui compreendida ao avesso do sentido gramsciano, sendo deslocada da esfera 283 LER GRAMSCI, ENTENDER A REALIDADE cestatal ¢ atravessada pela racionalidade do mercado, tornando-se, em iiltima instaneia, espaco de atticulagao dos interesses de instituigées privadas que con- trolam o Estado e negam a existéncia de projetos de classe diferenciados. Tomada em sentido transclassista, é convocada, em nome da cidadania, a rea~ lizar parcerias de toda ordem, sendo exemplares os projetos filantr6picos desenvolvidos pelo voluntariado, expresso contemporanea do assistenciali ‘mo, € pela iniciativa privada, em face dos carecimentos humanos. O Estado, tal como escreve Gramsci, cria um corpo de funciondrios, “mais ou menos ‘yoluntarios’ e desinteressados”, representados hoje por ONGs, movimentos sociais difusos e “especialistas da atividade pratica privada”, que acabam por controlar grande parte do aparato estatal (CC, 2, 34). O Estado aparece conec- tado a essas multiplas formas de organizagao de forma tecnocrética, assimi- lando-as a si, buscando organizar e educar 0 consenso. Ocorfe, assim, um pro- gressivo esvaziamento da sociedade civil, encarnada agora no chamado “ter- ceiro setor”, com fortes apelos no plano da subjetividade abstrata, em que va- lores como familia, solidariedade, fraternidade e parceria ganham destaquel. ‘A centralidade conferida & micropolitica, tendo como cenario essa nova “sociedade civil”, em que os interesses universais ¢ de classe so substituidos por objetivos grupais ¢ especificos, em reformas pontuais e cotidianas da politica localizada, esvazia a perspectiva de avango nas lutas pela totalizacio dos processos sociais, tornando-as aparentemente desencarnadas do Estado, entradas em questdes regionais particulares e localistas, de modo a cancelar anilises mais abrangentes, relativas ao proprio sistema econdmico e & totali- dade social, de tal forma que a antecipagio do “concreto” é substituida pelo “meramente particular”, ‘esse contexto, atores politicos universais, como os partidos, por exem- plo, sao enfraquecidos e subestimados, ao passo que emerge um leque difu- so de poderes capilarmente dispersos por toda a sociedade civil, instalados em todos os intersticios da vida cotidiana, ¢ cada vez mais distantes dos ‘mecanismos da politica moderna, Fortalecer essa micropolitica é fundamen tal, embora no na visio de interesses “econémico-corporativos”, mas como espaco de ampliagao da esfera publica centrada na dimensao “ético-politica” nos interesses universais e coletivos. dilema reside no esforgo para que tais lutas cotidianas nao se restrin- jam a interesses individuais e particularistas, desagregadas de um projeto totalizador, acabando por perder-se no vazio. As lutas das minorias, do aces- 284 A CULTURA DO CAPITALISMO GLOBALIZADO so a terra, moradia, satide, educacdo, emprego, hipertrofiam-se em um tur- bilhao de demandas fragmentadas, facilmente despolitizadas e burocratiza- das pelo préprio Estado, situando-se naquilo que Gramsci denomina de “pequena politica”, que engloba questdes parciais e cotidianas e que precisa, mente, vincular-se A “grande politica” para a criagao de novas relagGes. As expressdes fragmentadas dos multiformes movimentos da socie- dade civil, embora tragam como marca a luta contra a violencia do “pés- moderno”, também encerram em sia impoténcia de congregar os diferentes interesses particulares em interesses universais, Conforme escreve Gramsci, “os elementos cada vez mais numerosos” da sociedade civil nao tém significado o fim da alienagio, mas antes o estabele- ccimento de espagos de novos conformismos. A sociedade civil esta em movi- mento, “mas em um movimento castico ¢ desordenado, sem direcao, isto & sem uma precisa vontade politica coletiva” (CC, 3, 264-265). O esmaeci- mento dos processos de luta de dimensio global é meta prioritaria das elites, cuja intencionalidade primeira é reduzi-los a questes meramente particula- res, desligadas da toralidade social. A primazia do piblico sobre o privado e © fortalecimento de uma cultura pablica aparecem, neste momento de crise, como referéncias fundamentais, medida que se reatualizam elementos diversos da tradigdo autoritéria, conservadora e excludente, que significam, antes de mais nada, o atraso da modernidade. Torna-se imprescindivel encontrar respostas ante a diversidade de ques- tionamentos que tal contexto nos instiga a debater, pensar ¢ repensar. ‘Mesmo considerando-se as caracteristicas heterogéneas ¢ multifacetadas da sociedade civil, nao sendo tomada aqui de forma generalizada, nem mesmo como 0 centro de todas as virtudes e magicas solugées, é necessério buscar a forma posstvel de, a partir dela e de sua interface com o Estado, garantir 0 alargamento da participagao nos processos decisorios e o bloqueio das estra~ tégias de destruicao dos direitos sociais e dos institutos de representagao coletiva. E, ainda, como retomar a importancia do “partido politico”, enquanto articulador de interesses universais, cuja crise atual tem tornado cada vez mais ténues os seus vinculos com o conjunto da vida social? Como conseguir que 0 conjunto plural das forcas progressistas seja capaz de fazer retornar 0 “péndulo da hist6ria” para o campo da justica, da igualdade e da democracia e fortalecer uma consciéncia “ético-politica”, necessdria a cria- G40 de um novo “bloco histérivo”? 285 LER GRAMSCI, ENTENDER A REALIDADE Nesse campo contradit6rio, a luta de classes nao desaparece ¢ as alian- ‘cas continuam cada vez mais necessarias, mesmo manifestando-se de forma mais problematica, dadas as diferentes iniciativas politicas que ora perpas- sam 0s movimentos sociais, as vezes coincidentes, outras excludentes, bem como 0s novos padrées de sociabilidade, que nao ocorrem, como indica Gramsci, somente no plano econdmico-objetivo, mas também no ideol6gico- subjetivo. £ esse 0 patamar que vem embasando a ideologia dos grupos dominantes, os quais conseguem abranger, num projeto totalizador, a sua vontade como sendo a mesma dos grupos subalternos. A hegemonia reconstruida, assim, através da imagem abstrata de universalidade repassada pelo Estado, que esfacela ainda mais 0 ponto de vista dos segmentos subal- ternizados, despolitizando-os, fragmentando suas formas de expresso, de ‘modo a que suas lutas particulares nao se articulem em vontades universais. © que era coletivo dissolve-se no singular e as massas permanecem no plano inferior, tornando-se cada vez. mais incapazes de dominar as situacdes que as oprimem, de romper com a licenciosidade que as tornam passivamente agar~ radas a pragmaticidade e & imediaticidade coridianas. ‘A crise do capitalismo contemporaneo — “crise orginica”, no dizer de Gramsci — resulta, portanto, de dificuldades nao somente no terreno econd- mico, mas também no ideolégico, esfera onde se produzem e se mantém as resistencias aos impulsos de unificagao da consciéncia humana, Romper esta unidade ideol6gica, criticar a concepgiio de mundo “imposta” do exterior, requer a elaboragao de uma nova forma de pensar, critica e coerente, viabil zadora de préticas sociais, “mas nao de modo abstrato, e sim concreto, com base no real e na experiéncia efetiva” (CC, 2, 206). A situagao de subalterni- dade pode ser alterada quando se assume a consciéncia do significado do proprio operar, da efetiva posigao de classe, da natureza das hierarquias sociais, elaborando-se uma nova concepgao de economia, de politica, de Estado e de sociedade, capaz de provocar a desarticulagao da ideologia dominante. Nesse sentido, a hegemonia também se coloca num novo campo de lutas, de aliangas, de construcao/desconstrucao de saberes e experiéncias, pois, antes de mais nada, “toda relagao de ‘hegemonia’ é necessariamente uma relagao pedagégica” (CC, 1, 399), uma vez que encerra em si possibili- dades de emancipagio coletiva, nio s6 para determinados individuos, mas para toda a sociedade. Romper com essa ldgica € uma questo extremamente complexa, se pen- 286 A CULTURA DO CAPITALISMO GLOBALIZADO sarmos na debilidade institucional da América Latina e na auséncia de uma cultura politica, por parte das camadas de classe subalternizadas, capaz de interpelar o Estado ¢ romper com as ages clientelistas e corporativas e 0 mandonismo politico que limitam o processo democritico. Temos, por outro lado, uma democracia ainda débil na garantia de igualdade de condigdes para 0 pleno exercicio da cidadania. O acesso aos bens piiblicos, aos servi- {90s essenciais e a justiga ainda se apresenta de forma desigual ¢ discri toria. A incapacidade do poder piblico de garantir direitos basicos, a imper- ‘meabilidade do poder e a baixa credibilidade no Estado fortalecem os senti- mentos de impoténcia politica, 0 desamparo social e 0 conformismo, esva- tiando as possibilidades de interlocugao!”. Diante da leitura dessa realidade, dos problemas cruciais presentes nos contextos brasileiro, latino-americano e mundial, a fecundidade do pensa- mento de Gramsci é inquestiondvel. © autor dos Cadernos espalhou por todos os continentes a idéia de revolugo contra o stafus quo, uma revolugao no pautada em sonhos ¢ ideais, mas na construgio paciente, ago tenaz e combativa, processo continuo que se renova ¢ se transforma. Desenvolveu uma reflexao radical sobre o capitalismo, 0 poder politico ¢ a opressio, legando-nos profundas ligdes para que estejamos sempre abertos a0 novo, que, continuamente, irrompe na histéria e na politica, voltando brutalmente nossa atengao para o presente tal como é, se se quer transforma-lo. O pensamento de Gramsci nao se dirige apenas aos homens do século XX, mas permanecerd como um importante e imprescindivel referencial, pelas luzes que langa sobre a discussio da politica e das instituigdes, num ‘momento em que se esfumam as crencas no Estado, na politica e na propria esquerda, Enfim, quando carecemos, mais do que nunca, de uma verdadeira “reforma intelectual ¢ moral”. E esta é uma tarefa complexa que reside, aci- ma de tudo, na capacidade de fazer politica das classes sociais em presenca, da construgio de aliangas e consensos em torno de projetos a favor de uma nova hegemonia. A transformagio é de longo curso, como escreveu o sardo, mas é preciso acreditar e sonhar que ela é possivel e inadiavel. \jina- 287 LER GRAMSCI, ENTENDER A REALIDADE NOTAS 1A. Negri e M. Harde,Império, Rio de Jancio, Record, 2001. 21, Gruppi, O conceito de hegemonia em Gramsci, Rio de Janciro, Graal, 1978, p. 5. 35, George, “La mondializazione ¢ pericope la democtazia” in Critiea Marsista, Roma, 2, 4/1998, p. 17-22. 4}. L Fioti, Brasil no espaco, Rio de Janeiro, Vozes, 2001. 5A difusio do pensamento de Gramsci encontra hoje lugar prvilegindo na Universidade, pois a geande maiosia dos projetos curiculares de cursos de graduacio e pos-graduacao, prinipal- tente nas grandes Sreas de humanidadese saide, tem um espago destinado ao estudo do pen- Samento gramsciano e das suas categorias na anilise e interveng30 no real Reventemente, um novo © democrético espaco foi eriado para a difusio e discussio da obra de Gramsci no pats, através da revista cletrOnica Gramsci c o Brasil , taditada por Luiz Sérgio Henriques, com a colaboragdo de Carlos Nelson Coutinho ¢ Marco ‘Aurclio Nogucita. Este site, ligado & International Gramsci Society 1GS, tem possibilitado, lem da divulgacio da obra gramsciana, a veiculagao de informagdes, a publicagio de textos © artigos direcionados ao avango da critica tedrica e da defesa dos valores democraticos, socia- liseas¢ libertrios. "A partis de 1999, comecou a ser publicada no Brasil a edigfo completa dos Cadernos do cércere, yovamente organizada e tradzida por Carlos Nelson Coutinho, com a colaboragio ‘de Marco Aurélio Nogucita e Luiz Sérgio Henriques. ssa nova edigio dos Cadernos pode ser ‘considerada um projeto inédito, uma vez. que articula tanto elementos da edigéo temtica fopliattana quanto da edigdo critica de Gerratana, além das indicagées do italiano Giani Francioni, que sugere a separagio entre “cademos misceléneos” e “cadernos especiais". O projeto brasileio apresenta a obra de Gramsci em dez volumes. Os Cadernos do cércere, espe Eficamente, compreendem seis volumes: 1) Introdugio ao estuco da filosofia. A filosofia de Benedetto Croce; 2) Os intelectuais. © principio educativo. Jomalismo; 3) Maquiavel. Notas sobre o Estado ea politica; 4) Temas de cultura. Agio catdlica, Americanismo e fordismo; 5) © Risorgimento. Notas sobre a histria da Ilia; 6) Literatura. Folelore. Gramética. Abrange, ainda, dois volumes de Escritos politicos (1910-1920 ¢ 1921-1926) e dois volumes das Cartas do circere. ©. S. Ribeiro, Os custos socias do ajuste neoliberal na América Latina, S20 Paulo, Cortez, 2000, p.39. FRE Kiota, Cultura da crise e seguridade social, Sio Paulo, Corter, 1995. TE. Hobsbawm, “A faléncia da democracia”, in Folha de S. Paulo, Caderno Mais, 2001, p.6. 4, L.C. Bresser Pereira, “A reforma do Estado nos anos 90°, in Cadernos Mare, 1, Brasilia, 1997, p.17. 10 CEE. Sader, “Direitos ¢ cidadania na era da globalizagio”, e V. Telles, “Dircitos sociais ¢ direitos dos trabalhadores: por uma ética da cidadania”, in Politicas de emprego, politica de populacio e direitos sociais, Sio Pavlo, Educ, 1997. Cf. também A. Borén, “A sociedade civil ap6s o dilévio neoliberal", in E. Sader e P. Gentile (orgs.), Pés-neoliberalismo. As politicas Socias eo Estado democritico, Rio de Janeiro, Pax e Terra, 1995, p. 95 € 5s. 1 Ibid, p. 95. LW. Vianna, De um plano Collor a outro, Rio de Jancico, Revan, 1991, p. 115. 13 N, Badaloni, “Gramsci e a filosofia da préxis como previsio", in E, Hobsbawm (org.}, Historia do marxismo, Rio de Jancito, Paz e Terra, vol. X, 1991, p. 108. 288 A CULTURA DO CAPITALISMO GLoBaLIzaDO \ GE. F, Jameson, P6s- modernism: a légica cultural do capitalismo tardio, Sto Paulo, Acica, 1996. 150 Brasil possui, hoje, 220 mil entidades filantr6picas, ONGs e fundagdes empresaria investindo milhdes de délares em seguridade social privada, além de 19,7 milhdes de volunté Figs. Em 2000, foram gastos 9 bilhdes de délares em filantropia privada, alcancando 9 milhoes de pessoas e mobilizando 12 milhdes de voluntérios, 16 CL. F, Jameson, Pés-modernismo, cit. "7 ChE. Diniz, Crise, reforma do Estado e governabilidade, Si0 Paulo, FGV, 1997. 289

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