Download as pdf
Download as pdf
You are on page 1of 15
Apesar das controvérsias albgica far progressos Sbvios, Muito desse progresso # progresso om lilosofa, Figura 7—Quotvo ploneiros do figica moda quantficada: no sentido dos ponteiros co religin.« pari io want nape ‘quero, Avicena (bn Sin, 98) 137) Rudolf Crnop 1-070 (1931-2012) Sout Kripke (1940-; Ruth Barcan Mat 8 Usar a histéria da filosofia Seré a filosofia histéria? Se 0 leitar entrar num departaments universitério de filusotia, cede deseobrira que muito — em alguns gares, 2 major parte — do que af se ensina € historia da fo: fia, Por contraste, pouco ou nada do que se ensina num departamento de matemstica ou ei@ncia natural € histéria da matematica ou da cigncia natural. Ocasionalmente, fos names de matematicos ou cientistas si0 associados descobertas, mas nao se espera dos estudantes gue sai bam como aqueles as fizeram, e ainda menos que leiam ‘os eseritos originafs, nos quais aqueles resultados podem ser iroconhectve's, de tao estranhas que s20 a perspectiva © a linguagem. Entietanto, os estudantes de flosofia tem de ler liveos, ov grandes porsies deles, da autoris de [grandes flésofos que morreram ha muito, pelo menos em sdugdes. A filosofia parece tor com 0 seu paseado uma relagin diferente da que a matomitica e a ciéncia natural tm com 0 seu passadt, Poucos fildsofos deixam de bom grado a historia da filesofia aos departamentos de Historia, Quando os fil6so- fos do passado slo estadados af, chama-se -Hisiria das Ideias-. £ dada uma maior atengdo as suas vidas, aos seus 107 fica pouco el 108 SAR A HISTORIA OA, de Kant, Sucede frequentemente que tal escrita nfo & boa hyst6ria nem boa filosotia Numa certa perspectiva, 2 filosofia simplesmente € a historia da tilosofia, porque nada mais ha para a filosotia ser, Essa perspectiva foi bastante influente, em especial na Europa continental, embora esioja correntemente » perder terreno, Uma amiga minha, fldsofa italiana, visitow pela primeira ver. a Universidade de Oxford em finais da dé Eada de 1970. Pareccu-The eneantadoramente ingémuo que {pessoas ali ainda estivessem a tentar resolver problemas filgséticos, Fora educada, como explicau, numa cultura filosofica que tomava por gaeantide que sistemas funda- imentalmente diferentes nao tém uma base comum sobre a {qual formar uma decisia entre ambos. Nessa perspectiva, ‘nao podemos realmente perguntar qual deles € objectiva: mente verdadeiro; nao podemos sendo pensar no interior ide um ou outio sistema historicamente dado, ainds que fesicjamos a tentar subverté-lo a partir de dentro. As ve= es perguntam-me em. que fildsofo trabalho, como se Iss0 fosse 0 que qualquer fdsofo tem de fazer. Respondo a0 cestilo de Oxtord: trabalho em problemas fMossticos, na fem Hl6sofes. ‘A dela de que a Filosofia s6 pode sera histéria da filo- sofia derrota se a si mesma, pois & ela mesma uma opgto filosétiea controversa, a qual nso femos qualguer abrigagio dle aceitar, Nao € sustentada por indcios. Quake: nenhurm dos filfsotor estudados na histéria de filosofia, como 0s rmencionados reste Livro, eles mesmos escreveram sobre fs historia da filosofia, O sea objectivo nao eta interpretar ts teorias de outros fildsofos, ou mesmo as suas préprias, mas, antes, construi essas teorias, por exemplo, acerca da mente e do seu lugar na natureza, de um modo que no ifere radicalmente das teorias cientifias. © mesmo se ‘plica 2 maioria das teorias que hoje se deservolvem em Filosofia, Além disso, como se vin jf, hd modos de decidir racionalmente enue tals teoras, Identificar a tlosofia com 109 a histéra da filosofa & uma atte protandamente ais tbe, pogue ndo & fil cass mesma Nate, Embore estudor a historia de-um probiema filosblco (come 0 do livre-arbitro) seje umm mando de estudsr esse problem, ruitos modos de estudar 0 problema nio si0 modos de ‘studar 9 Soa historia, tal como estadar am problema em natemdica ou clncla natal, picament, ao €estudar uaa Reames sta da lowe pe se eG estudady som quolquer ambigtoimpersisa de tomar Conta de toda Slovaas wo meritone Monumentos ¢ influéncia Podemos explarar a hist6ria da filosofia como se fsse- ‘mos um géneco de turistasintelectuais. Tal como um ateu pode petcorrer com admiragao ¢ reveréncia um gronde temple, catedral ou mesquita, também se pode ler grandes morumentes da filosotia ao mesmo tempo que se Teeita as teorias que exprimem. Alguns textos, como os didlogos de Platao, sto inesquecivels obras-primas de literatura com qualidades obviamente artsticas de estilo de pross, Imagética © forma dramatica. Outros, como a Critict di Rezko Pura (1781) de Kant e a Fenomenologis do Expiita (1807) de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, estdo excites pum estilo trgido, mas constituem ainda assim obras de arte tremendas pela sua sltancira e intricada arguitectura de ideias, Evidentemente, ainda que um edilicio seja arrebatador 2 primeira vista, quanto menos compreendemos da sua estrutura © fungio © de como estas correspondem — ppar exemplo, como a disposigéo espacial de tm templo Permitia movimentos através do mesmo para exprimir ‘ignificados religiosos e socials — mais supertcial sed 2 nossa apreciagio, O mesmo se aplica a obras filssticas. ‘Uma ver que tenhamos um guia inteligente, bem forma. no TORK DA FILOSOFY do, apercebemo-nos do que estdvamos a perder enquanto furistas ignorantes, Aprendemos e valorizamos mais = cada visita, Jd neste nivel, estudar a historia da ilosotia compensa 0 esforeo. [Uma grande obra Ge filosofia d4-nos uma nova hist de um tipo muito geral @ abstracto, sobre como as coisas Sto. Normalmente, o autor pretende que a historia seja Verdadeic, mas, mesmo sendo falsa, pode ainda assim ser ume boo hist6ria, ¢ podemos aprecisla como ta, sem iHystex. Por exemplo, em Tatado acerca dos Principos do Conhecimento Hamano (1710) e Trés Didogos entre Hilas e Filonows (1713), 0 fl6sofocbispo ielandés George Berkeley desenvalvet a perspectiva idealista subjection de que a reali dade consiste em nada mais além de mentes eas sas ideias, das quais as arvores, mesas e outros abjectos observaveis Sie constracies, Com audacia, ele argumentou a favor da Sua tearia como a melhor defesa do senso comum e da Feligido, contra uma mundividéneia puramente cientiica, pos:newtoniana, Poderiamas perguntar-nos: com amigos Como Berkeley, quem precisa de inimigos? Porém, ainda que achemos « idealismo subjective um ultraje a0 senso ‘Comum, posemos apesar disso apreciat a experince de ver De coisas pelo seu prisms, e admirar a mestria de Berkeley fa construir um edifcio elegante c surpreendentemente obusto a partir de am material material Wo fea ‘Alem do interesse intrinseco e bolaza das ideias floss ficas, a sva historia € uma chave para a historia humana fem geral. Como Berkeley ilustra, grande parte da batalhs Ue ideins entre mundividéncias religiosas e cicatificas {01 travada no interior da filosofia. A palavea ~ideia» remonta cla mesma a Platda. © fildsofe-cientista austriaco Emst Mach (1838-1916) iniluenciou quer o romance de Robert Musil, O Homem seme Qualidades, quer a teoria da relativi dade geral de Einstein. Muitos argumentos politicos 580 Uefinidos recorrendo a ideias filossticas, como a de direitos Iumanas, Menios benignamente, a doutrina oficial da Unido m Sovidtica de Estaline ao matali dktic, enraivado ta filoofia alemd do seco tx As tons fleas, berm ‘omg a8 verdadetas, te efeitos Nos primérdion da Lgcs do século x, surg uma auentae que era smaltanenmente matemstic ostce Crque significa ter um «metode deci para resalver um problema matematco sem prosar de coatvdade? Fara Feeponer 2 questa, Alan Turing coneebeu i teorla SBatracin de aos wnterste He mung tnaginds Sas" Mats tage numa tentative te dear cigor Alorates durante 8 Segunds Cuctea Mundial, constvia ‘fecivamte wa dene miguinns O sau sucetso auto 2 derctar nazis. Fol cts’ oriom dos eomputclors totem. ghetmfomaram 0 on, mond ae, tar impossvel, prover som antecedenca que fe ua ideia filossfica teré na historia. 7 “Turing lembrasos que 0 feito istic de uma tora fStea pode depender dose conteido, em terms pre Gion, nto apenas de sua tendenin ger Se aso taba tease sid lgstamente diferente em pormenor, ee poderia teratdomeapae de eliza otrabalh tne vim no tein produzida computasoesfoconas ‘Que hdetasexercem inuncia a ilosofia depende de aus parecer convincens, ou pela enoeproterey (tou dsofos Os acne ue nomen pean ome Wistoriadres, conn fleofoy, posem career des ap Aes lowes para sina come tn tea fra parectdo 2 infos do pansado, Tas Netovadree alo eto coguer imate bem psiionades para za ae deas um ea do pasado vcprimis ni dao context, pois os tenon hintrcos sao fequentemeate dicts de interpreta. Por tenes somente parte de umn manuscrite€ prservado, Por eves sobrenivin Varian versie de uma obra dering nite sem aspect ericias Meso sem esses problems SE polavease'a gramatica podem ser ambigucs de vies Imanctas.Ainda que sighfcado eral cja car, pode 2 USAR A SYORIA DA FLOSOELA iio ser claro aonde o autor procura chegar. como se su poe que um argumento funciona, se uma dada afirmagso std a ser proposta ou apenas apresentada para refutagio posterior, que lio se espera que o litor tire, € assim por Biante, Para determinar como o texto deve ser lido, hs que comperar diversas interpretagdes alternotivas, para ver (qua delas tem main sentido, Una interprotagdo que torre S texto internamente inconsistente tem menor probabil Gace de ser_¢ que © autor pretendia. Avaliar 2 coeréncia Talerna de um texte Hiloséfica sofisticado exige aptiddes filosdticas de que aqueles que pensam como historiadores ain do que como filésotos podem carecer. E por isso que Os historiadores da filosofia tem de ser capazes de pensar fama filésofos, embora tenham também de sex capazes de pensar como historiadores. Se o Teitor nfo souber que a Freja Catélica Romana fez queimar na fogucira por heres 0 filgsofo-cientista italiano Giordano Bruno em Fevereico {de 1600, ado pode consicerar como esse acontecimento poderd ter intluenciado © que os fildsofos do seul svn os legaram, Pode a histéria da filosofia ajudar a resolver problemas filos6ficos? Suponha que ests interessodo em prablemas filossficos ccontemporances, Ind a ssa capacidade de fazer progressos fnos miesmos ser obsteutds 2 ignerar a filosofia de passado? ‘Seo leiter realmente ignorar tad a Bilosofia do pasado, isso inclu tltimos trinta anos, Estaria a tentar refazer & Filosofia partir da zero Isso seria t3o sensato como tentar refazer a matematica ov a fisica a partie do zero, ignoran- {io todos as descobertas anteriores. Com sorte, acabaria @ einventar a roda, Alternativamente, poderia inventar a foxla quadrada, Isto ndo se dirige ao letor, pessoalmente. Em tovias essas éreas, chepamos onde estamos agora pelos 13 ‘sforgos combinados de cntenas de pensadores bilhantes 420 longo de milhares de anos. Neahuim indivigue humano poderiaalcancar numa vida 9 que cles aleangaram conju tamente. Hi’ um mito do génio selitére, que tudo pensa por si om gloriosoisolamento, Nao @ assim que funciona 2 filosofia ou a matematica ou a ciéncia natural. Embora muito nelas se tenha alcangado por via do pensamen- {© solitéio, iso (oi feito por pensadores que tinharn ja aprendido muito com o trabalho de outros Talvez @ mals Proximo de um contra-oxemple a isto tena sido genio matemtico indiane Srinivasa Ramanujan (1887-1930) mas até ele comesou com mariats. Os one fisofos parece e menos ainda com guess saidos do ermo, A filosofia avanca por comparagS0 racional de eins rivals, atravis 4o dialogo, née do mondlogo. Hs que estar envolvido na fiscuss30 para saber que ides fram propostas como vals fs nossas, e que base comum temos com os proponentes dlaquelas para comecar a argumentar contra ax mesmas, O {guru solttrio carece de tal conhecimento. Dos gurus mn e aprender tanto @ ouvir como a falar um com 0 outro. [Na pritiea, 05 quo fazem cmtnbuicdes originals signif , pei qTamvese- © que ¢ possvel 6-0 que sucede em elgum Spud possvelf¢ que € necesita # @ aie sucede em info os mondo poses. No mundo atl © for ett tier ose liver souto mundo pomivel, est vo nance foteseite. Ha tezetos anos, Leb escreveu [i sabre tune possvers- Ab contéio os idaons modern tle spnebiows mo ideas na mente de Devs, que esco iia quay delos atlas Dev ecolbew ete porque ¢ 9 rma des musces passives, aes snyplasivelmente {ibis Pore, ele neo inepio Wgica modal, que feve Sone desonvelver un prop nae a gue na ced de [9m Carmap encono om pap teico eri) pata Shuilo1» que chomou sdescigae de estado, no ides warmest te Deas mas histone comple «consistent En palvras, Obserou tbo que as suaw deseres de ‘Stabe cram andloges ane mos posvein de Lenz so Jesenvelvimento independente da Ux esol. 8 Shildade den murder posivels nao fora side aprecada. A losofa nao itere mato de outea diseiplins no tro come a sua ht sjado a geror Novas ricos Rings snim, essa histria ¢usoda mois do gue sucede mo mmatematica ta cencn atarl Prgue? “fver mais do que deniqur obra disiptina, 2 sofa ispoese 9 questonar as suas prdpias supose, bem foi as de mutes asepinas. Quando or Ratematces uw {questionam suposigbes basicas da matemitica, ou quando) (05 fsicns questionam suposiqses basicas da lisca, tendem a ser reclassificados como slésofoss. Porém, quando os filésofos questionam suposigbesfilos6icas basicas, contarn ainda como filésofos. Uma vez que regressam continuaret: te ao bésico, tim mais em comum com os seus predecessores dlistantes: dai que a historia da Nosofia seja importante Evidentemente, © progresso na matematica © na ciénc natu assentafrequentemente nao em question ssposicdes Didsicas, mas em construir sobre elas. Tal actividade & »<@t- ia normals, nas palavras do fisic, historiador « filésofo da ‘ncia Thomas Koha (1922-1996), S6 quando ciéncia normal linge uma crise Mi um segresso ao busin, etme questionar ‘do mesmo, muitas vezes seguide de urna rvolucio cientiica, segundo Kuhn. Muita flesofa contemporinea ¢ wfilosofia normals, construinds sobre suposiies sem a8 questionar Nessas ciecunstancias, 2 histéria da filosofia nao desempe- tha send um papel menor. No entanto, a filesofia também inclui mais actividade revoluciondria ou pretensamente revolucionsria do quo a maioria das disciplina, porque os seus valores intelectoaistradicionais encorajam e gratifcam 2 tal ponto 0 questionar de suposiches basicas. A histéria da ‘losofia desempenha um papel correspondentemente maior Sem divids, ¢ bom para a nossa cultura tet uma disci pliza tio dispesta a questionar as suposigbes basicas coro 4 Filosofia est. Contude, quem questiona rotin toda a suposigie nfo ve 49ie4 melhor do que a criangas que perguntam «Porque, soja 0 que for que Thes digam Nao. posemos esperar que as explicagdes « justiticagdc= episteme- logos querem teorias que se verificam independentemente ddos acidentes da psicologia humana, a0 passo que, de um modo igualmente legitimo, os psicologos querem teurias acerca desses mesmos acidentes Ponsa, se os epistedlogon ‘se apolarem em teorias psicologices obsoletas e euivocos Iisicos acerea da mente humana, como muitos fazem, nde avers grande esperanga para as suas generalizagies acerca de todas as mentes possiveis Feonomia Se © leitor penss nos economistas como pessoas que «dio maus cansethos acerca de politica econémics, poders Perguntar-se 0 que terdo eles a ensinar aos tidsofos. Po "ém, a maior parte da eccmomia teorica nay procura dar conselhos, mas compreender as complexidades da tomada de decisdes por agentes que interagem tins com 0s outros, fentondo levar a cabo os seus objectivas ao mesmo tempo que permanecom incertos acerca do seu amine, do future © dos outros, nao rare competindo por recursos escass por vezes cooperando, Tradicionalments, assume-se que ‘os agentes satisfazem pelo menos critérios minimos de racionalidadte: camportam-se consistentemente, mestio que ‘ado se importem com qualquer bem mais wievads. Pot exemplo, se preferem macis a laranjas, © lacanjas a peras. rio preferem peras a magis também, Embora cientes de {que na pritica 0s seres hnumanos por ve2es se comportain inconsistentemente, os economistas tratam a suposigao de racionalidade como um aproximagio sulicientemente boa para dar um ponto de partida wil. A economia experi- 18 USAR OUTRAS AREAS mental investiga a lacuna entre as previsses dos modelos ‘dealizados e 0 comportamento humano observado, ‘A economia mais tedrica no difere da filosofia nos seus niveis de abstraccao e generalidade, embora a filoso- fia tenda a preacupar-se mais com questionar suposigoes basieas, ¢ a economia com usi-las como um enquadra mento preciso no contexto do qual desenvolver modelos rmateméticos cada vez mais sofisticados. A Hilosofia e & economia sobreptem-se consideravelmente em ideias cerca do que faz uma decisio ser racional, Cada uma pode aprender com 2 outa. Em muitos casos de cooperagio ou competigae, o que cada lado faz depende do que prove que o autro faré Assim, prevejo as previstes do leitor sobre as minhas pre visbes, € 0 letor prevé as minhas provisdes sobre as suas previsées, © assim por diante, como se até a0 infnito. AS hossas decisdes dependem das nossas previstes, Seo leitor sabe que sei que voeé sabe onde o dinkeieo esta escondido, poders tomar precaucdes especiais para esconder de mitt 19 seus movimentos. Se pensa que Perso que voce AIO sabe onde esta escondide, podera nao so preocupar em tomar essas precaugdes. Assim, as estruturns complexas de conhecimento do conhecimento ¢ exengas acerca de erengas, podem lazer uma diferenca pratica, ‘A logica episténice estuca tnis extrutucas complesas de cconkecimento, Na sua forme modema, vern do tabalho do filésoto finlandés Jaakko Hintikka (1929-2015), que a desen- vvolveu para langar hn sabre questdos Wlosiieastradicionais| sobre o autoccnecimento, Se 0 leitor sabe algo, saberd que (0 sabe? Se no sabe algo, sabera que no o sabe? No meu proprio trabalho, estudes modelos de agentes que sabern Algo ainda que seja quase certo, 8 luz dos indicios de que bles proprios dispaem, que nao o sabem. Os economistas & (08 clentistas computacionais acharam que a ldgica episte- ica era o melhor enquadramento para algumas das suas proprias investigagies, e deram contribuigbes tedricas de 129 monta nessa area, A estratégia & estudar modelos matemd- ticas do conkecimento de agentes que sip idealizados em. alguns aspectos, mas limitades noutros, de modo a isolar (8 efeitas especiticos desas limitagoes, Por exempla, os agentes podem ser perteitos a fazer deducies logicas, mas ainda assim ignorantes de quanto os outros agentes sobem, Alguma da minha propria investigagio eooperativa mais Jratuosa foi realizada com um economista teéricu, Hyun Song Shin, om logica epistémica ‘A teoris da decisio, a Kigica epistémica e investigagoes semelhantes sao filossficas nos seus objectives, mater’ ticas nos seus métodos, ¢ disseminadas por muitas srw, inclusive a economia e a cigncia computtacionsl, nas soa aplicagées. Embora as fildsofos tragam uma énfase dis- tinta para tais colaboragtes, como devem faz8-lo, 0 seu interesse nelas ado € radicalmeate diferente. A tronteira tentee a filosatia © a nio-filosofia atravessa uma paisagem continua, Ciéncia computacional (0s cientistas computacionais tesricos ficaram interest3- dos na Logica epistémica porque trabalhevar om sistemas \distribuidos, Urn tal sistema distribui o seu trabalho por diversos computadonss, correndo simultancamente (pro ccessamenta simultaneo). Esses computadores precisam de ‘cominicar entre si. Um computador envia uma mensagem 2 outro, & precisa de wsaber» que a mensagem foi wcebi da, Assim, 0 segundo computador precisa de enviar uma mensayem de volta ao primeiro, de modo que o primeito computador wsaibay que 0 segundo computador «sabe» 2 informaggo contida na mensagem original. O segun- do computador pode também precisar de «saber» que © Primeim computador ssaber que o segundo computador wsaber a informagdo, e assim por diante. A logica episté- 130 mica ¢ 0 melhor enquadramento para wma teoria gral de tas questoe. Port,» lgicaopisémica no ¢ a conexto central da ciéneia compotacional 2 flwoti. E Kandamcotal para a Giéncia computational a sisting cave harder eft te sea porta, a mayuina fsica que ne pode deixar Coie 20 chy &hertureUin programa gu corre nee, © Conjunto ondenato de teughes fee, Matos pro rama ierentes poem core 0 mesmo computador e Simao progreme pode corre con mutes compotadores “iterontes ineusive de construcio diferente, Osoftaure € Suis mbstrato do que hendnare, Ox f6s05 Wontar 2 tein para comprochder a distings ene mente « expo. cert etor quer tim extateresie iteigente podem Stee que 32712, ainda que @ scérebro» deste sea Trnuto diferente do seu em estrturs gaimica, © hardawre Trferonte mas este pedago de sfteare,o coneimento de que 527718, €omesmo, O leer vo cxatereste dom corte sesmno programa pats faer anime, Bn mente ni pode sot redurida a0 54 expo, tal como fo syfanre naw pode ser esurido a0 Ionia. Pore, thc ado sigma que @ ler ej parcalmente Feito de toma substances, «natéraranhica, tal come o eeu porta nao & foto de we subatancio extra, nmateia Progremsice ‘Nigune filsofor rjsitam + analogia entre a mente & o softure, Segundo Chalten, por exempl umn zombie pode cone ostfent daleitor mas nfo a sua consi Batre consideram a conscléncia apenas cme sftare Ullersotisfieado. De qualquer modo, al cistingulemos bo sone do hardusr, dvlimente leremos comeqado ompreendowem 3 naturcza da mene. Alem disse 0s dleenvolvimento=ultesores na lena computacionat Wintligénc atfcial mostram precismente quanto © siftsare pode fazer ugsoran Biologia Uma estratégia central a filosofia da mente & compreen. dor os estados mentais pela sua fcagdo. Para que seroem © conhecimento, @ crenga, 0 deseo, 2 intens20, a emoxao, 2 sensaga0? A questao stigere uma limitagzo da analogia com © softwure, Nonnalmente, um programa ¢ para seja 0 ue for que o seu progeamadar quis que fosse, mas os seres hhumanos no #30 programados nesse sentide. bviente mente, as nossos pais e professores podem ter intengbes a nosso respeito, © alguns pensam que a Sociedade ou Deus também tém intengies a nosso respeito, mas mic eserevem a maior parte dos nossos estados mentais espe: cifieos, come um programador escreve instrugdes.. Nem sequer intencionamos previamente a maioria dos nossos [roprios estadcy mentais; apenas os encontramos neles Por exemple, quando © leitor é arranhado por espinhos. fio tem a integdo de sentir dor; simplesmente sente. Ns obstante, tem sentido perguntar para que serve a dor, € sugerir que 2 sua fungio € alertar-nos para as lesbes, para que possamos agit em consonincia. Tals hipoteses podem ajudar a explicar a natureza dos estados ments, ‘Como podemos cumpreender esta conversa acerca de fangies ma ausincia de intengGes? © melhor lugar para procurar ¢ a biglogia. A funcio de um coragae & bomboae Sangue por todo o corpo, tenha alguém ou nao a intengac do que ele assim faa. Afinal, a maioria dos animais com corapie nde faz a minima idcia de que 0 caracio bombeia jo sangue. Tampouco a funcdo biolégica 6 uma questio do que normalmente acontece. A fungao do esperma & fertile ar ovos, mas a maicria do esperma nunca femtiiza seja 0 que for Uma explicasio evolucionista & mais promissora ‘Muito aproximadamente, ha esperma porque 0 esperma passado fertilizou ocasionalmente ovos. Analogamente, talvez, sentimos dor porque sentir dor por vezes ajudou (9s nossos antepassados a protegerense de lesdes. Num 12 nivel mais geral, no poderia a fungio clo conecimento ser permitir que nos adaptassemos rapida e flexivelmente a mudangas complexas no nosso ambiente? (0s filésofos discordam sobre quanto pode ser explicado fom termox de fungGes biologicas. Poem, sem elas, a regra, © Capitulo 1d cexplica um papel importante da matematica na filosofia 134 10 Construir modelos Modelos na ciéncia Muitos cientistas naturais almejam um tipo distintivo de progresto, que os flésofos comecam a recanhecer como uum objectiva apropriado para eles também. ‘© esterestipo do progresso clentifico € descobeir uma nova lei da natureza. Tas leis sdo supostamente generaliza- {ies universais acerca do mundo natara, que se verificam Sem excepgio pata todos os tempos ¢ lugares, por algum {gener de necessidade: dptimo, se conseguir encontrar Uuma. Contudo, a maior parte da ciéneia natural ¢ social cestuda sistemas compiexos, confusos — eélulas, animais, planctae, galdsia, familias, organizagSes,sociedades — que so diticois de caracterizar por leis wniversais. Que leis tam de se aplicar a todos os tigres, por exemplo? «Todos os tigres sie listaclos» nao serve, porque ha tigres albinos. «Todos os tigres sio quadrapedes» tampouca servirs, por- ue ha tigtes com t22s patas, © assim por diante. «Todos Os tigres S80 animais» € verdadeira, mas n3o nos leva Jonge. Embora os tigzes abedecam as leis fundamentals da fisica, como tudo 9 mais na natureza, isso no servird e consalo 2 um bidlogo que procura dizer algo espect- fico acerea de coisas vivas, por contraste com particulas 135

You might also like