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GEONOMOS, 1 (1): 3398 A ORIGEM DOS FILITOS HEMATITICOS DA SERRA DO ESPINHAGO MERIDIONAL, MINAS GERAIS Luiz Guilherme Knauer* & Alfonso Schrank** ABSTRACT “This work presnts stratigraphic, mineralogical and geochemistry dates about the “hema ps the Espinhago.Rango, specially in ity meridional portion For these rocks, composed esencially by sericitemoscovite and hematite and very poor in qs, many investigators have suggested an rigin Flom 3 Tow grade metamomphism of some unique igneous roxks. “Typical ofthe "Ouinda Group", basal portion of the Esyahago Supergroup, with PalewMesoproterozoie age (1.7 = 1.75 Gy.) the hematite phyllites presents an interesting chemistry compesiton, characterized by 35,44 SiO, 54%» TiO, 23.2% AlOy, 25,3% FeO, 0,1%% MnO, 1S¥~MgO, 0.59% CaO, 039% N&O: 7.98% 0 and 0.4% PO, Those numbor shows, clearly aleration process The evolutve aspocts of the Espinhago Supergroup put consiraints that indicate one of tho follow proossses: modification fom Nui percolation in shear 2s oF superficial alteration processes in alosphere MMithosphere boundary. The prssnt studs show thatthe lst altemative (auperficial processes) 8 more feasible to explain the characteristic of the hematite plies. Thus, we belive that these rocks ara palsorepolihpalcosals (fom Palea/Msopeotrozoi) specially coriginod from the baslis of the "Espinbago Basin” opening. Atsciaed rocks with so mc chonioid 600" INTRODUCAO Pelo menos desde a década de 30 (eg. Correns 1932; Moraes 1934), um dos assuntos mais discuiidos sobre a geologia da Serra do Espinhaco Meridionat relaciona-se aos _chamados “filitos hematiticos", rochas constituidas prioritariamente por sericita/moscevita ¢ dxidos de ferro, © consideradas usualmente (e. g. Schéll & Fogaga 1979; Fogaga & Schéll 1984) como produtos do metamorfismo sobre rochas originalmente igneas. Deve-se acrescentar ainda que, devide a descriga de ocorréncias de diamantes em filitos hewwatiticos da Lavra de Petpétua (Moraes 1934), muitos autores afirmam que estas rochas seriam as fontes originais dos diamantes da Fornrago Sopa-Brumadinho na regitio de Diamantina (e.g. Barbosa 1951; Herrgesell 1984) ‘Ao mesmo tempo, as_peculiaridades ‘geoquimicas destes litotipos, refletidas por sua mineralogia no usual para rochas originalmente igneas, tem dificultado uma discussio mais aprofundada do ponto de vista genético. Isto fica demonstrado claramente pela aceitagdo de seu carater igneo de forma praticamente uninime (c. g Paternoster 1979; Chaves 1987; Hoppe 1978; Dossin et al 1993), enquanto que o magma original Ji foi suposto acido (Moraes & Guimaraes 1930), intermedidrio (Correns 1932), traquitico (Barbosa 1951), basico (Scholl & Fogaga 1981) ou ultrabasico (Herrgesell, 1984) Pretende-se aqui apresentar, ainda que de forma reduzida, parémetros estratigraficos, petrogrificos ¢ ‘geoquimicos que possibilitem a discussao da origem destas rochas, fundamentais na claboragdo de modelos de desenvolvimento ambiental para o re, probably palecbaunites with variable iron contr, inicio da individualizacao da “Bacia Espinhago", por volta dos 1,75 - 1,70 bilhdes de anos (Machado et al 1989). A maior parte dos dados ¢ idéias aqui utilizadosencontram-se —desenvolvidos mais detalhadamente em Knauer (1990), que demonstra a compatibilidade da proposta agora apresentada com os modelos usuais de evolugio do Paleoproterozsico/Mesoproterozdico da Serra do Espinhago em Minas Gerais POSICIONAMENTO ESTRATIGRAFICO Constituindo pacotes. que, quando nao duplicados por tectonismo, alcangam os 20 ou 30 metros de espessura, 0 _posicionamento estratigrifico dos filitos hematiticos e rochas associadas tem sido objeto de controvérsias recorrentes entre os pesquisadores da regio, Assim, estas rochas, no todo ou em parte, tem sido uidas nao sno Supergrupo Espinhaco, mas também em outras unidades consideradas mais antigas, tais como a Seqbéncia Vulcano-Sedimentar de Conceigio do Mato Dentro (Soares F? ct al 1986), 0 Supergrupo Minas (no sentido de Uhlein 1982), ambos do Paleoproterozsico. Também a associagdo de rochas similares com unidades mais hovas fem sido propostas, em especial no Grupo Macatibas da regio de Desembargador Otoni - Planalto de Minas por Schrank et al. (1978). Estudos mais recentes (ec, g. Knauer 1990; Almeida Abreu 1993) comprovam, entretanto, que estes filitos esti’ intima exclusivamente associados & unidades do Supergrupo Espinhago ou outras eventuais seqiiéncias a ele correlatas, seja em Minas Gerais, seja na Bahia, na regio de Afranio Peixoto (Herrgesell 1984). Seu posicionantento, via * CPMTCIIGCUFMG **IGIUNICAMP. 4 ‘A ORIGEM DOS FILITOS HEMATITICOS DA SERRA DO ESPINHAGO MERIDIONAL, MINAS GERAIS de regra concordante, preferencial nas unidades basais do Supergrupo Espinhago (conforme ja proposto por Pflug 1968, e Schill & Fogaga 1979, entre outros) & claro, © pode ser verificado em campo nas regides de Diamantina, Gouveia e Serro Estas unidades basais podem ser incluidas no chamado Grupo Guinda (Knauer 1990, Almeida Abreu 1993), ¢ representam variagbes verticais © laterais de ficies desde ambientes claramente continentais até marinhos rasos mais a leste, correspondendo as Formagdes Sao Joga da Chapada ¢ Sopa-Bramadinho ¢ 4 Seqiéncia Ttapanhoacanga (no sentido de Almeida Abreu et al 1989). Na regio central da Serra do Espinhago Meridional, os filitos hematiticos associam-se mais comumente ‘com a Formagaio Sao Joao da Chapada (constituindo © "Nivel BY de Schall & Fogaga 1979), enquanto que mais a este vao se tomando cada vez mais Comuns na Formagio Sopa-Brumadinho (conforme 4 sugerido por Pflug, 1968). 0 horizonte decamétrico de filitos hematiticos da Seqiiéncia Itapanhoacanga constitu, ainda que repetido tectonicamente, 0 limite mais orientat conhecido de ocorréncia destas rochas. Deve-se enfatizar aqui o cardter sin-sedimentar destas rochas, mesmo que localmente alguns corpos discordantes, usualmente na forma de diques, tenham sido descritos (¢. g. Knauer 1984; Dossin et al 1985), A presenga de stixos ‘e blocos retrabalhados destes filitos hematiticos na base da seqiiéncia de quartzitos mais superiors da Formacde Sao Joao da Chapada ("Nivel C* de Sch6ll & Fogaga 1979) descaractetiza 0 “carter intrusivo" de idade do final ou pos-deposicional da Formagao Sopa-Brimadinho conforme sugerida por Chaves (1987) ¢ Uhlein (1991). Ao mesmo tempo, esttidos geocronolégicos U-Pb (Machado et al 1989) € Pb-Pb (Dossin et al 1993), fornecendo idades entre 1,70 € 1,72 G. a, para estas rochas, confirmatn seu posicionamento na_—sinterface Paleo Mesoproterozéico, descaracterizando de forma cabal as assertivas de Uhlein (1993), que coloca todas as seqiléncias basais do Supergrupo Espinhago no horizonte entre 1.3 ¢ 1.1 bilhio de anos. CARACTERIZACAO PETROGRAFICA Os filitos hematiticos mais tipicos sto rochas que apresentam, quando frescas, tipica coloragao cinza escura ¢ clevada densidade, adquirindo tons mais claros ou avermelhados quando afetados por alteragdo superficial recente. Apresentando uma mineralogia essencial & base de sericita/moscovita © Sxidos de ferro (os quais, _normalmente representados por hematita, se situam a0 redor de 25-30% da rocha), possuem uma caracteristica que ‘os diferenciam facilmente dos outros filitos ferruginosos ocorrentes na regido: a pequena quantidade de quartzo, que s6 excepcionalmente (c. 8. regido de Ttapanhoaczaga) ultrapassa os 8% do volume total da rocha Em todos os tipos descritos, ¢ comum o aparecimento de quantidades varidveis (que nao excedem os 8-10%) de turmalina, seja como cristais, isolados orientados, seja na forma de agregados fibro-radiais contornados pela foliagao. Também 0 leucoxénio nao € raro, se bem que em quantidades ‘muito menores, muitas veres constituindo o niicleo das concentragdes _muaiores de hematita. Menos comumente podem aparecer clorita, constituindo a foliagio jumto com a sericita /moscovita, ¢ cloritdide, localmente desenvolvendo agregados fibro-radiais. Cristais de magnetita/martita nao sio raros, podendo ocasionalmente constituir o 6xido de ferro dominante, Outros minerais acess6rios, eventualmente. presentes incluem —_biotita, stilpnomelano, epidoto, rutilo, granada, zircto, apatita ¢ pirofilita © amplo predominio de_moscovita/sericit éxidos de ferro como constituintes das rochas tem impedido uma separagdo eventual em grupos com base _na mineralogia. Apesar de artificial, uma elassificagio textural (j4 proposta por Schéll & Fogaga 1981) € possivel, podendo ser reconhecidos quatro tipos principais: a) textura difusa; b) textura bandada; c) textura "mosqueada" ¢, ¢) textura relicta, Deve-se frisar, entretanto, que nao foi observada ainda uma regra clara de distribuigao entre estes quatro conjuntos, seja do ponto de vista estratigrafico, seja do ponto de vista geogratico Especialmente na regio mediana-central da Serra do Espinhago Meridional predominam rochas com textura difusa (Fotografia 1), com una distribuigdo mais ov menos uniforme de hematita (ao redor de 30%) © de sericita/moscovita (aproximadamente 65-70%), __apresentando concentragses ocasionais do primeiro mineral Raramente aparecem —agregados __hemnatiticos estirados, localmente na forma de estruturas circulares similares & concreg@es. A textura bandada, € marcada pela alterndncia de niveis milimétricos, até centimétricos com de Fotografia 1: Aspecto de filito hematitico tipico em sega delgada, com disiribuigao mais ou menos uniforme de hematita e sericita, com pequenas concentragies locais do primeiro mineral. Amostra das proximidades de Guinda, a sul de Diamantina KNAUER, LG. & SCHRANK, A Na antiga estrada de ferro, nas prosimidades de Bardo de Guaicui, estes niveis formam estraturas concéntricas centi-a decimétricas, interpretadas por Schdll & Fogaga (1981) como provaveis relictos de *pillow-lavas" Também na regito de Barao de Guaicui afloram as rochas de textura "mosqueada", caracterizadas por uma matriz. sericitica-hematitica contendo concentragées, arredondadis de sericita, via de regra de tamanho centimétrico, Digno de nota é a ocorréncia local deste mesita rextura (Fotografia 2) nos xistos verdes da Lavra de Damasio, na regiao de Sopa. Finalmente, a leste de Biribiri (norte de Diamantina) afloram os tipos com provavel textura relicta, marcados por cristais tabulares sericitizados, com formas que lembram feldspatos © com arranjos indicando testura original subofitica/ofitica Parecem corresponder as famosas “pscudomorfoses de feldspatos sericitizados", ja descritas por Correns, (1932). Observa-se. no caso, uma passagem giadacional para rochas esverdeadas com muito menos hematita e quantidades importantes (20- 30%) de clorita, Principalmente na regido central da serra, pode ocorrer uma intima associagao espacial destes filitas, hematiticos com rochas esverdeadas escuras, ormalmente sem foliagdo visivel. Estas sto onstituidas essericialmente por cloritéide (que pode exceder 0s 90% do volume total da ractka) © por acessérios que incluem quartzo (que ultrapassa localmente os 20%), sericita, hematita, zircio ¢ rutilo Tabela 1: Andlises de filitos hematiticas da regiao cle Diamantina, nao determinado; * = ferro total) (Referéncias completas em Knauer 1990). pom. ind $i0, 7300 te 380 iby 2390 feo! Ba. BB oa Mio oes Mo ito os aoe Sto oa ne oo Be oe reo sae v xe & ft & % nN 2 & wa ® ito i 13a t ie ba sO ” ae ma Em termos de elementos menores € tragos, 0 “lito hematitico padrao", quando comparado com valores médios na crosta terrestre (¢. g. Mason & Fotografia 2: Segdo delgada de xisto verde da Lavra do Damasio, na regiae de Sopa, mostrando 0 desenvolvimento local de mineralogia e texturas lipicas de filitos hematiticos (cinza esbranquigado ericita; preto = hematita) CONSIDERACOES SOBRE A GEOQUIMICA, A pecutiaridade destas rochas, associada a uma possivel ocorréncia de diamantes (Moraes 1934) determinou uma relativa abundancia de_anilises quimicas na bibliografia, com valores confiiveis de pelo menos trinta amostras, Foram selecionados Ireze anilises dos individwos mais tipicos (algumas das quais apresentadas na Tabela 1). a partir das quais € possivel a obtengio dos valores médios mais reais sobre o quimismo destas rochas, fornecendo tum aqui denominado "filito hemiatitico padrio", Sua composigao, em base seca, seria a seguinte: 35,4% de SiO>, 5.4% de TiO, 23.2% de AlnOs; 25,3% de FeO (total), 0.1% de MnO, £,5% de MgO, 0,5% de CaO, 0.3% de NazO; 7.9% de KO € 0,4% de P2Os, com éxidos ent porcentagem € inenores em ig Teea eas Te 3331 S031 35.88 S87 473 s49 S340 236214210026 2oaa Se 2539* 19.67 003 00st is 072s Boy aor 0S ot 037 022 oat 20 gD R19 oo 01s 0.03 nd nd ad Moore 1982), mosira-se enriquecida em vandidio (178 ppm), gilio (37 ppm), rubidio (140 ppm), itrio (158 ppm), zircdnio (S44ppm), nidbio (117 ppm), 36 ‘A ORIGEM DOS FILITOS HEMATITICOS DA SERRA 00 ESPINHAGO MERIDIONAL, MINAS GERAIS. boro (1380 ppm) ¢ itérbio (12 ppm). Valores relativamente baixos sto evidenciadas por cromo (16 ppm), cobalto (18 ppm), niquel (37 ppm) e cstréncio (297 ppm), Os filitos hematiticos foram considerados, especialmente partir das pesquisas de Correns (1932), como resultantes do metamorfismo de rochas originalmente igneas. Desde cntdio, varias evidéncias tém sido apresemtadas para aestar este cardter igneo sin-sedimentar: corpos na forma de diques cortando outras litologias (¢. g. Moraes 1934; Schéll & Fogaga 1979), pscudomorfoses de feldspatos sericitizados (Correns 1932), provaveis relictos de "pillow-lavas"(Scholl & Fogaga 1981), altos teores de Sxidos de titénio , passagens "gradacionais" até metariolitos (Paternoster 1979) e material brech6ide associado A metassomatismo (Chaves 1987). Os dados geoquimicos existentes, no entanto, mostram-se incongruentes com uma origem ignea direta, 0 que fica evidente quando se consideram as propostas para © magma original apresentadas na bibliografia, jé discutidas anteriormente. problema é bem ilustrado quando se considera a comparagio dos valores médios dos éxidos do filito hematitico com aqueles de rochas igneas normais (e. g. Le Maitre 1976). Esta mostra que os valores de SiOz ¢ NazO indicam rocha original ultrabasica, enquanto que os de MgO correspondem aos de alcalinas (asssim como o5 de Al,03) ou até mesmo acidas. O CaO & muito baixo, enquanto TiO; e FeO (1) so extremamente altos, do mesmo modo que KO, similar aos de alguns basanitos de ocorréncia restrita, Deve-se frisar, portato, que este comportamento anormal compromete a utilizagio, jf tentada (@. g. Herrgesell 1984), de diagramas usualmente aplicados para a classificagdo de rochas neas. A inlcongruéneia interna relativa dos valores dos éxides no justifica a ctiagdo de uma nova classe de rochas igneas, conforme j sugerido “en passant" pot alguns pesquisadores (@. g. R. Pflug, com. verbal). Por outro lado, a atribuigdo de um cardter metassedimentar —para—sessas_——_rochas, descaracterizando-as como produto. de metamorfismo sobre rochas igneas, nfo é factivel Ficaria extremamente dificil explicar uma série de evidéncias que demonstram uma origem ignea, tais como as pscudomorfoses de feldspatos, os cristais de quartzo bem formados, 0s raros diques © a preservagdio local de textura ofitica/subofitica A solugio definitiva parece passar por algu tipo de alteragdo que tenha provocado modificagses vas sizes “intretementais, © que expliquem, especialmente, a diminuigao no teor de silica, 0 aumento felativo de TiOz ¢ FeO (total), a deplesa em MgO, NazO e, principalmente em CaO, ¢ 0 marcante aumento nos valores de K20. PROCESSOS DE ALTERACAO As caracteristicas evolutivas ao Supergrupo Espinhaco na regiao considerada, especialmente nos seus aspectos sedimentoldgicos e estruturais, devem servir de parimetros limitantes para a definig#o do processo —responsivel pela modificagbes, observadas, Um ambiente deposicional claramente continental até transicional para 0 Grupo Guinda est comprovado (c. g. Almeida Abreu 1993), assim como uma estruturagio a partir de tect6nica tangencial marcada por falhas de empurrio / zonas de cisalhamento ductil com marcante transporte de massa de leste para oeste (e. g. Knauer 1990). Consequentemente, dois possiveis processas devem ser analisados com maior detalhe: a} percolagie de fluidos retacioniados & zonas de cisalhamento; ¢ 6) alteragio superficial A ocorréncia de trocas quimicas mais ou menos importantes, relacionadas especialmente a zonas de cisalhamento, tem sido reiterada nos tiltimos anos. A importincia ¢ a amplitude das modificagdes dai decorrentes dependem de iniimeros fatotes, com destaque para aqueles relacionados & composigiio mineralégica original, as fases _secundirias desenvolvidas © a composi¢ao dos fluidos atuantes, assim como a0 grau do metamorfismo © a0 ‘mecanismo predominante da deformagio, Na tentativa de verificar a eventual existéncia de fegras gerais que efetivamente caracterizem 0 processo, Knauer (1990) considerou dados bibliogrificos sobre diferentes. zonas de cisalhamento nas facies xisto verde e anfibolito, desenvolvidas sobre diversos tipos de rochas originais. Esta andlise demonstrou, conforme ja esperado, a exirema variabitidade comportamtental dos clementos menores e éxidos maiores dentro de cada exemploconsiderado, —impedindo a visualizigio de regras gerais para a sua caracterizagio. Um fato notivel, entretanto, ¢ a no homogeneizagao geoquimica das seqiiéncias, a0 contrario do que ¢ verificado, pelo menos ent parte, para os filitos hematiticos, Também nos processos de alteragto superficial, mostrando a passagem rocha-saprélito-solo, varios fatores interferem na caracterizagao de parimetros seguros © gerais, incluindo’ a temperatura dominante, presenga tipo de vegetagio, indice phuviométrice, topogratia, composigio, textura ¢ estrutura da rocha original € tempo de attagdo do fenémeno. De qualquet modo, exemplos de solos atuais, considerados pot Knauer (1990), ainda que pontuais, mostram regras gerais (com excecdes Jocais) que incluem deplegio em SiO>, CaO, MgO e NazO. acompanhados do enriquecimento relativo em TiOz, Als © FeO. Se estas observagies, combinam com boa parte das caracteristicas, descritas para 08 _filitos hematiticos, 0 comportamento do KO ¢, entretanto, bastante diferente, j& que nos Solos atuais normatmente ele ‘mostra umia marcante deplegio, KNAUER, L. G. & SCHRANK, A a7 Deve-se considerar, entretanto, que processos de allerago superficial se desenvolvem na interface litosfera/atmosfera —¢, —_conseqiientemente, a composicdo desta iltima ¢ fundamental na definigo do produto final. Os dados ¢ inferéncias existentes ( ©. g. Wilker 1982) indicam que esta sofreu importantes modificagdes com 0 passar do tempo geolégico, A identifi estes produtos de aheragio do Pré-Cambriano, e que caracterizam a atmosfera de entdo (Retallack et al 1984), ¢ bastante dificil ¢ polémica (e.g. Palmer ot. al 1989). Critérios fisicos usualmente uiitizados foram descritos por Grandstaif et al (1986), mas. xiio podem ainda ser considerados como definitives. A caracterizagao geoquimica destes processos do Pré-Cambriano ‘c, conseqtientemente, de seus produtos (palcoregolitos © paleosolos), é ainda mascarada por eventuais modificagées introduzidas por outros processos, sejam diagenéticos ow Imelassomiticos. Apesar disso, alguns paleoregolitos ¢€ paleosolos tém sido descritos no Arqueano ¢ no Proteroz6ico, especialmente no sul da Africa (e. g Button Tyler 1981; Martini 1986; Retallack et al 1984; Retallack 1986) ¢ no Canada (e. g. Holland, 1988). ‘Apesar da dependéneia demonstrada por todos 08 flores considerados, observa-se especialmente para aqueles & partir do fim do Paleoproteroz6ico. uma tendéncia eral fortemente similar aquela mostrada pelos processos mais recentes de alteragaio superficial, Um interessante perfil de alteragdo de 1,8 bilhdo de anos foi recentemente descrito por Holland et al (1989), na regido de Flin Flon, na Provincia Churchill (Escudo Canadense). Neste observa-se progressiva substituigao das cloritas das metevulefinicas no alteradas por micas sericiticas, dos éxidos por hematita granular © 6xidos criptocristalinos de Fe-Ti, eventualmente com formagao de densos agregados. Wteressante € 0 aparecimento, cada vez mais notavel para o topo, de estruturas concéntricas marcadas pela alterndncia de bandas ricas em éxidos de ferro € bandas ricas em sericita, Do ponto de vista geoquimico, o perfil observado em Flin Flon mostra claramente um enriquecimento nas concentragdes de aluminio, titdnio € ferro, acompanhado de virtual remogo de cilcio © magnésio, O potissio esti nitidamente se enriquecendo para 0 topo, enquanto 0 MnO mostra decréscimo constante ¢ 0 NazO comportamento algo irregular. Tanto neste paleosolo, como em outros estuudades na bibliografia citada, dois fatos sto marcantes: a) 0 grande enriquecimento em Alz03 (tipico segundo Reimer 1986) ¢ b) 0 alto contetido em KO, via de regra raro ou incomum nos perfis de alterago de idade mais recente. Esta concentragdo de Kz0 (que pode exceder os 8,0 ou 10,0%) & motivo de grandes controvérsias nos estudos dos processos de alteragio superficial do Pré-Cambriano. Este enriquecimento poderia ser explicado por Aguas percolantes no final do processo de alteragdo ou durante a diagénese, ou mesmo por metassomatismo potissico posterior. Retallack (1989), entretanto, lembra a importincia, cem perfis mais recentes, da atuagio e eficiéncia das plantas vasculares na retirada de KO do solo. CONCLUSAO ‘As caracteristicas descritas para os filitos hhematiticos indicam que estes correspondem, em boa parte, a0 metamorfismo de rochas originalmente igneas. submetidas a processos de alteraglo que —-modificaram sua composigao mineralégica/geoquimica inicial. A comparagao do comiportamento dos éxidos maiores nos processos melassomidticos © de alterago superficial mostram uma maior similaridade destes iltimos com .a sgénese das rochas em questo, Processos de alterago superficial explicam, neste caso, a perda verificada nos conteides de SiOz, MgO, CaO © Na,O, acompanhada do umento relativo do titinio © do ferro. O enriquecimento do KO observado nos filitos hhematiticos € tipico de paleosolas/paleoregolitos do Pré-Cambriano, Também —mineralogicamente ¢ festuralmente esta correlagdo-€ —_possivel, exemplificado inclusive ‘pelas__estruturas concéntricas deseritas a norte de Bardo de Guaicui, essencialmente similares aquelas do paleosolo de Fin Flon, no Canada (Holland et al, op. cit.) Os critérios anteriormente definidos por Grandstaff et al (1986) para depésitos deste tipo podem ser observados nos filitos hematiticos. Isto inclui seu carder estratiforme, sua relativa pequena espessura, contatos superiores bruscos, variagdes ionsas de cor, destruigdo das texturas primérias, formagao de rev tos de origem argilosa sobre {tos © crostas de ferro (Fotografia 3), formagio de minerais argilosos ou equivalentes. clastos nos sedimentos de cobertura e foliagio geralmente paralela a0 contato, Fotografia 3: Detathe de segao delgada de filito hhematitico da regido de’ Bandeirinha, "com formagiio de verdadeiros "nédulos" de hematita capeados por files sericiticos Ento, se 0s filitos hematiticos efetivamente representarem o metamorfismo de produtos de alteragio de idade Pré-Cambriana, pelo menos 3 ‘A ORIGEM DOS FILITOS HEMATITICOS DA SERRA DO ESPINNAGO MERIOIONAL, MINAS GERAIS localmente devem ser observados os litotipos originais. A intima associagao em campo dos filitos hematiticos com xistos verdes do Grupo Guinda, inclusive com passagens gradacionais de um tipo a outro, parecem indicar estes titimos como resultantes do metamorfismo dos termos pouco ot rio alterados, Do ponto de vista gcoquimiico, esta passagem é marcada pelo progressivo decréscimo de $i, CaO, NajO e MgO, acompanhado do incremento nos teores de ferro, titénio, aluminio © Potissio. ‘Um aumento to expressive das teores de ferro ‘ao tem sido usualmente citado nos exemplos de literatura, mas Reimer (1986) descreve rochas, por ele imierpretadas como “paleolateritas", com este comportamento, E interessante notar ‘que, neste caso, pode-se adenitir para os “elortéide-fels’, associados aos filitos hematiticos, uma origem & partir do metamorfismo de bausitas pouco, até muito ferruginosas, REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ALMEIDA ABREU, P. A, (1993) -"A evolugio geodinimica da Serra do Espihigo Meriional. 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