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| 67 PNEUMATOLOGIA NOTA INTRODUTORIA A presente disciplina prope uma leitura criteriosa segundo os moldes da Igreja, mas sempre aberta pata a reflexéo teolégica encaminhada pela Tradigio, dos diversos livios ¢ passagens da Sagrada Escritura, concentrando a atengio nos dados que fornecem os Evangelhos sobre a interagio de Jesus com o Espirito, e seu prolongamento na Igreja apostilica © estudante verd as diferentes solugées que foram dadas na Anciguidade 4 respeito do Espirito Santo, sua relagio com 0 Pai e o Filho definida em Constantinopla, ¢ o desenvolvimento da Teologia do Espirito, destacando-se a importincia da teologia de Agostino e Sio Tomas de Aquino, Analisaremos os diversos movimentos surgidos em torno da doutrina na mancira de entender a agio do Espirito ¢ a natureza de seus dons. Assim como a Soteriologia, a Pneumatologia de fundamental importincia 420 estudo teoldgico posto que fazpartedaSistematica dessa ciéncia denominada Teologia. Consiste em uma importante ferramenta pata o entendimento da Pessoa da Devs. 68 | CURSO MEDIO EM TEOLO! | KARPOS 1, ADOUTRINA DA TRINDADE Antes de apresentar a pessoa do Espirito Santo, propriamente dita, hi aqui a necessidade de mapear histérica e teolagicamente a doucrina da trindade na qual o Espirito Santo faz parte Tradicionalmente situa-se 0 surgimento da doutrina da Trindade por volta do inicio do desenvolvimento da teologia crista, no minimo em fungio da influéncia dos credos eristios sobre as obras produzidas neste periodo. De acordo com MeGrath”, ', Tomas de Aquino, talver. 0 mais eélebre representante dessa clissica tradigio teoldgica. Schleiermacher"” considerava 1 doutrina da Trindade como um apéndice de sua Teologia. A doutrina da Trindade, é sem divida, um dos assuntos mais complexos da teologia cristé ¢ requer cuidadosa discussio. Consoante, Dutfield ¢ Cleave!” entende que & necessitio se aproximar do estudo da Trindade com profunda reveréncia, Todo o estudo da natureza de Deus desafia a compreensio h mistérios divinos. imana porém, a triunidade & 0 maior de todos 0s Cada vez que a douttina foi comprometida na historia da Igreja, outros ‘grandes dogmas biblicos foram também comprometidos ou negados. Os que rnegam a Trindade também negam a divindade de Cristo, o nascimento virginal, a expiagio substitutiva, a personalidade do Espirito Santo, ou fizeram de Deus um teatro usando trés méscaras diferentes”. “Atendei por vés e por todo o seu rebanho sobre 0 qual o Espirito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a Igreja de Deus, 2 qual ele comprou com seu proprio sangue.” (Atos 20. 28) A predigio das heresias ¢ divisées da Igreja feita por Paulo logo veio a se ‘cumprir. No século II, grupos de separatistas negaram a doutrina da trindade, a saber, o Monarquianismo eo Sabelianismo © primeiro negava a divindade de Cristo ea personalidade do Espirito Santo e 0 segundo negava as identidades separadas das trés pessoas, declarando {que Jesus e © Espitito Santo eram apenas modalidades diferentes de uma Gnica pessoa, ou aspectos diferentes de sua manifestagio”” ‘Ambos grupos raciocinando de modo humano, julgavam estar protegendo a unidade de Deus. Atualmente, perduram as ramificagées dessas heresias no iy MOGRAT {ab DUFFIELD ¢ CLEAVE. 1909 Tis. 221 DUEFILED c CLEAVE, 1999, 116. 222 DUFFIELD ¢ CLEAVE, 199, 116 010, 375 FAVE, 1999 spud SCHELEIERMACHER 69 MODULO 4 | PNEUMATOL Unitarismo™, A principal corrente da Igteja sejeitou petsistentemente esses falsos ensinos. No inicio do século IV a Igreja incumbiu-se de reunir um conselho de dirigentes e pastores para formular as doutrinas apostélicas que seguiam. Sentiu- se a necessidade de um credo formal que a Igreja como um todo pudesse aprovar. © primeiro coneflio reuniu-se em Nicéia, em 325 a.D., onde Atandsio prevaleceu contra Ario © a divindade de Cristo foi confirmada, A controvérsia continuo € novos conelios foram realizados em Caleedénia, em 451 a.D., em Constantinopla, em 381 aD. ¢ no credo niceno, as doutrinas da divindade de Cristo e da Trindade foram mantidas e formuladas:! “Cremos em um s6 Deus — E em um Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, gerado pelo Pai, luz de luzes, Deus verdadeito de Deus verdadeiro, gerado ¢ no feito, sendo de uma substincia com o Pai. E cremos no Espirito Santo, que € 0 Senhor e doador da vida, que procede do Pai, que, com o Pai eo Filho, éadorado ¢ glorificado, que falou pelos profetas** Para Berkhof, a doutrina da trindade sempre enfientou dificuldades «, portanto, aio é de admirar que a Igteja, em seus esforgos para formulé-la, tenha sido repetidamente tentada 3 racionaliza-la ea dar-lhe uma construgio que deixava de fazer justica aos dados da Escritura 1.1. Doutrina da Trindade antes da Reforma Como ja visto na Doutrina estudada sobre a pessoa de Deus, Terculiano foi o primeiro a empregar 0 termo “Trindade” e a formular a doutrina, mas a sua formulagio foi deficiente, desde que envolvia uma infundada subordinagio do Filho ao Pai Origenes foi mais longe nesta diregio, ensinando explicitamente que 0 Filho é subordinado ao Pai quanto 3 esséncia, e que o Espirito Santo é subordinado até mesmo ao Filho. Ele desacreditou a divindade essencial destas duas pessoas do Ser Divino e forneceu um ponto de partida aos arianos, que negavam a divindade do Filho e do Espirito Santo, apresentando 0 Filho como a primeira eriatura do Pai, e 0 Espirito Santo como a primeira criatura do Filho. Assim, a consubstancialidade do Filho e do Espirito Santo com o Pai foi iis DURE 224 DubrILEt 35 IDEM 226 BERKHOE 2002, 74 TEAVE, 1999, 7 ‘CLEAVE, 1999, 117 70 | CURSO MEDIO EM TEQLOGIA | KARPOS sacrificada, com o fim de preservar a unidade; e, segundo esse conceito, as és pessoas da Divindade diferem em grau de dignidade. 1.2. A Doutrina da Trindade na Pés Reforma Depois da Reforma no temos maior desenvolvimento da doutrina da Trindade, mas 0 que encontramos repetidamente sio algumas das err6neas formulagées antigas. Os arminianos, Episc6pio, Curcelew e Limborghte avivarama doutrina da subordinagio, outta vez, a0 que parece, principalmente para defender a unidade da Tindade. Bles atribufram 20 Pai uma certa preeminéncia sobre as outsas pessoas - em ordem, dignidade e poder, Emanuel Swedenborg sustentava que 0 eterno Deus-homem fez-se carne no Filho, e agia através do Espirito Santo; Hegel, que fila do Pai como Deus em Si, do Fitho como Deus se objetivando, ¢ do Espirito como Deus retornando a Si mesmo; ¢ Schleiermacher, que considera as crés pessoas simplesmente como trés aspectos de Deus: 0 Pai é Deus como a subjacente unidade de todas as coisas, ‘© Filho é Deus como passando a uma personalidade consciente no homem, ¢ 0 Espivito Santo é Deus vivendo na Igeeja”” (Os socinianos da época da reforma seguiam as linhas arianas, mas foram além de Ario, pois para eles Cristo era simples homem ¢ o Espirito Santo apenas um poder ou infuéncia™. Eles foram os precursores dos unititios também dos tedlogos modernistas, aque falam de J Deus imanente is como um mestre divino ¢ identificam o Espirito Santo como 2. PROVA BIBLICA DA DOUTRINA DA TRINDADE ‘A douttina da Tkindade depende decisivamente da revelagio. f verdade que 4 razio humana pode sugerir algumas idéias para com substanciar a douttina, ¢ {que os homens, fundados em bases puramente filos6ficas, por vezes abandonaram a ideia de uma unidade nua e crua em Deus, eapresentara ma ideia do movimento vivo € de aucodistingio™” ay BERRHOR ao 73——— Ds BERKHHOS 2002.75, 329 BERRHOE 2002, 75, 250 IDEM. 71 MODULO 4 | PNEUMATOL ‘Também é verdade 1 experincia eristé parece exigir algo parecido com esta consttugio da douttina de Deus. Ao mesmo tempo, € uma doutrina ‘que nio terfamos conhecido, nem erfamos sido capazes de sustentar com algum. grau de confianga, somente com base na experiéncia, ¢ que foi trazida a0 nosso conhecimento unicamente pela autorevelagio especial de Deus. Portanto,é de maxima importincia reunir suas provas escrituristicas™” 2.1. Provas no Antigo Testamento A Biblia nunca tratada doutrina da Trindade como uma verdade abstrata, mas revela a subsisténcia trinitiria, em suas varias relagdes, como uma realidade viva, em certa medida em conexio comas obras da criagao e da providéncia, mas particularmente em relasio & obra de redengio. Sua revelagio mais fundamental € revelagio dada com fatos, antes que ‘com palavras. E esta revelagio vai tendo maior clareza, na medida em que a obra redentora de Deus é revelada mais claramente, como na eneatnasio do Filho no derramamento do Espirito. E quanto mais a gloriosa realidade da ‘Irindade € exposta nos fatos da histéria, mais claras vio sendo as afirmagées da doutrina. Deve-se a mais completa revelasio da Trindade no Novo ‘Testamento 20 fato de que o Verbo se fez carne, ¢ que o Espirito Santo fer da Igreja Sua habitagéo™. Indicagées mais claras dessas distingées pessoais acham-se nas passagens {que se referem 20 Anjo de Jeova que, por um lado, é identificado com Jeovs «, por outro, distingue-se dele. Ver Gn 16.7-13; 18.1.21; 19.1-28; MI 3.1. E também nas passagens em que a Palavra e a Sabedoria de Deus sio personificadas, S133.4,6; Pv 8.12-31. Em alguns casos mencionam-se mais de uma pessoa, SI 33.6;45.6,7 (com. Hb1.8,9), ¢ noutros quem fala é Deus, que menciona o Messias ¢ 0 Espirito, ‘ou quem fala é 0 Messias, que menciona Deus ¢ 0 Espirito, Is 48.16; 61.1; 63.9,10™ Assim, o Antigo ‘Testamento contém clara antecipagio da revelagio mais ‘completada ‘Itindade no Novo ‘Testamento. TST BERRHOR 2000, 77 252 BERKHOE 2002! 78 235 BERRHOE 2002, 78 234 BERKHOE 2002! 78 72_| CURSO MEDIO EM TEQLOGIA | KARPOS 2.2. Provas no Novo Testamento © Novo Testamento traz consigo uma revelagio mais clara das distingSes da Divindade Se no Antigo Testamento Jeova éapresentado como o Redentor ¢ Salvador do Seu povo, J6 19.25; SI 19.14; 78.35; 106.21; Is 41.14; 43.3, 11, 14; 47.45, 49.7, 26; 60.16; Jr 14.3; 50.14; Os 13.3, no Novo Testamento é 0 Filho de Deus ‘que distingue-se nessa capacidade, Mt 1.21; Le 1.76-79: 2.175 Jo 4,42; At 5.35, GI 3.1345; Fp 3.30; T12.13,14 E se no Antigo Testamento € Jeové que habita em Israel e nos coragSes dos que © temem, SI 74.2; 135.21; Is 8.18; 57.15; Ez 43.7-9; Jl 3.17,21; Ze 2.10,11, no Novo Testamento é o Espirito Santo que habita na Igteja, At 2.4; Rm 89,11;1Co 3.16; Gl 4.6; Ef 2.22;Tg 45. © Novo Testamento oferece clara revelacio de Deus enviando Seu filho a0 mundo, Jo 3.16; G1 4.4; Hb 1.6; 1 Jo 4.9; ¢ do pai e Filho enviando o Espirito, Jo 14.26; 15.26; 16.7; G14. ‘Vemoso Pai dirigindo-seao Filho, Me 1.1 1; Le 3.22, 0 Filho comunicando: se com 0 Pai, Me I 1.25, 26; 26.39; Jo 1 1.41; 12.27, 28, € o Espirito Santo ‘orando a Deus nos coragées dos crentes, Rm 8.26." 3. EXPOSICAO DA DOUTRINA DA TRINDADE De acordo com Me Grath, a melhor anilise do desenvolvimento da douttina da trindade é a que o considera como algo organicamente relacionado com a evolugio da Cristologia. “Tornow-se cada vez mais evidente no decorrer da histéria a existéncia de tum consenso, No sentido de que Jesus era “da mesma substincia’ (homoousios) {que Deus, ¢ nio simplesmente de uma substincia similar (homoiousios) A doutrina da trindade, de acordo com a forma que foi dogmaticamente elaborada, é de fato, a tentativa mais floséfica de conceber um Deus pessoal. Na verdade, ela foi sugerida pela encarnagio, considerada como uma nova revelagio de Deus, desenvolvida de acordo com as linhas do Novo Testamento. E clara a influéncia dos Pais da Igreja a esse respeito. © ponto de partida para a reflexio cristi a respeito da trindade é 0 testemunho do Novo Testamento em relagio & agio ¢ presenga de Deus em Cristo 1355 BERRHOR 2002, 7s 73 MODULO 4 | PNEUMATOL por meio do Espirito Santo. Para Irineu, todo © processo da salvagio, do comego ao fim, testemunha a agio do Pai, do Filho e do Espirito Santo. Assim, ele fez uso de um tetmo que se destaca nas discusses sobre a trindade, a saber vikonomia, ou seja “a economia (plano) da salvagéo”. Essa palavra grega é basicamente a maneira pela qual alguém administra seus negécios, entéo,a maneita pela qual Deus administrou a salvagso da humanidade na histria. Hi no Ser Divino apenas uma esséncia indivisivel (ousia, essentia). Deus é um em Seu ser essencial, ou seja, em Sua natureza constitucional. Alguns dos primeiros “Pais da Igteja” empregavam 0 termo “substantia como Sindnimo de “ess ', mas os escritores mais recentes evitaram esse emprego do termo, em vista do fato de que na Igreja latina “substantia” era 0 termo utilizado para tradwzir “hypostass”, bem como “ousia” ¢, portant, era ambiguo™ Neste inico Ser Divino hé trés pessoas ou subsisténcias individuais, 0 Pai, o Filho e 0 Espirito Santo. Provam-no as varias passagens jd citadas como validas para consubstanciara doutrina da ‘Trindade. Para indicar estas distingdes da Divindade, os escritores sregos geralmente empregavam o termo /ypostasis, enquanto que os autores latinos utlizavam o termo persona e, As vezes, substantia Como aquele podia levar a mal-entendidos eeste era ambiguo, os eruditos ‘cunharam a palavra subsisténcia. A variedade dos termos empregados mostra que sempre se sentiu que sio inadequados?™ Enguanto que trés pessoas humanas tém apenas unidade de natureza ou esséncia, isto é, participam da mesma espécie de natureza ou esséncia, as pessoas da Divindade tém unidade numérica de esséncia, isto é possuem a mesma esséncia, esséncia idénti ‘Annatureza humana pode ser considerada como uma espécie, da qual cada homem tem a parcela individual, de sorte que hi uma unidade especifiea (termo derivado de “espécie”); mas a natureza divina é indivisivel e, portanto, idéntica, nas pessoas da Divindade. E numericamente uma e a mesma, pelo que a unidade da esséncia das pessoas é uma unidade numérica, Segue-se dai que a esséncia divina nfo é uma Se DEM 237 BERKHIOK 2002, 79. 238 BERKHOE 2002, 78, 239 BERKHOE 2002! 80 74 | CURSO MEDIO EM TEOLOGIA | KARPOS cexisténcia independente justaposta patalelamente as trés pessoas. Ela nfo tem existéncia & parte e fora das ts pessoas. Se tivesse, no haveria verdadeira unidade, mas uma divisio que levaria ao tetrateismo. A distingio pessoal é uma, dentro da esséncia divina. Esta tem, nos termos usualmente ‘empregados, trés modos de subsisténcia ‘Outra conclusio que se tra da anterior € que néo pode haver subordinagio de uma pessoa a outra da Divindade quanto a0 ser essencial, e, portanto, nenhuma diferenga na dignidade pessoal. Deve-se defender esta verdade contra 0 subordinacionismo de Origenese de outros chamados “Pais da Igteja” primitivos, dos arminianos, de Clarke e outros teélogos anglicanos™. ‘A tinica subordinagio de que podemos falar é uma subordinagio quanto 4 ordem ¢ a0 relacionamento. E especialmente quando refletimos na relagio das trés pessoas da esséncia divina, que todas as analogias nos falham ¢ ficam os profundamente conscientes de que a Trindade & um mistério que ultrapassam a possibilidade de compreensio** Ea incompreensivel gloria da Divindade. Assim como a natureza humana € Go sica, em sua amplissima plenitude, que nio pode ser incorporada, toda ela, num s6 individuo, e s6 obtém adequada expressio na humanidade como um todo, também o Ser Divino $6 se revela em Sua plenitude em Sua triplice subsisténcia de Pai, Filho e Espirito Santo". [A subsisténcia © as operagées das trés pessoas do Ser Divino sio assinaladas por certa ordem definida. Hi uma certa ordem na Trindade ontoldgica Quanto & subsisténcia pessoal © Pai é a primeira pessoa, o Filho é a segunda, e o Espirito Santo éa terceira. Mal se precisa dizer que esta ordem nao pertence a nenhuma prioridade de tempo ou de dignidade essencial, mas somente & ordem de derivagao légica™®. © Pai nio € gerado por nenhuma das outras duas pessoas.nem delas procede; o Filho é eternamente gerado pelo Pai, ¢ 0 Espirito procede do Pai e do Filho desde a eternidade'* A geragio © a processio ocorrem dentro do Ser Divino, e implicam certa subordinagio quanto a0 modo da subsisténcia pessoal, no porém subordinagio rho que se refete & posse da esséncia divina’® ip BERKHOR 2003, 241 IDEM Dia IDEN, 245 BERKHOK 2002, 0. 24 BERRHOE 2002, 80, 245 IDEM. MODULO 4 | PNEUMATOL 75 Esta Trindade ontolégica ¢ sua ordem inerente constitui a base metafisica da Trindade econdmica. Portanto, nada mais natural que a ordem existente na “Trindade essencial se reflita nas opera ad extra (obras externas 20 ser essencial) que se atribuem mais particularmente a cada uma das pessoas" ‘A Escritura indica claramente esta ordem nas chamadas praepositiones distinctionales, eh, diacen, wtilizadas para expressar a ideia de que todas as coisas provém do Pai, mediante o Filho, ¢ no Espirito Santo, Hi certos atributos pessoas pelos quais se distinguem as trés pessoas. Chamam-se também opera a dinint, porque sio obras tealizadas no interior do Ser Divino e nio se finalizam na eriatura. Séo operagbes pessoais, nio realizadas pelas tés pessoas juntas, e sio incomunicéveis ‘A geracio é um ato exclusivo do Pai, a filiagio pertence exclusivamente 20 Filho, ea processio s6 pode ser atribuida a0 Espirito Santo. Como opera a dintra, estas obras se distinguem das opera a devira, que sio as atividades e efeitos pelos ‘qusis a Trindade se manifesta exteriormente ‘Nunca estas obras se devem exclusivamente a uma das pessoas, mas sempre sio obras do Ser Divino completo. Ao mesmo tempo, é verdade que, na ordem econdmica das obras de Deus, algumas das obras ad extra sio atribuidas mais particularmente a uma pessoa, algumas mais especialmente a outra, ¢ assim com cada uma das trés pessoas divinas** Conquanto sejam obras das tés pessoas conjuntamente, atribui-sea criagao primariamente ao Pai, ¢ redengio a0 Filho e a santifiagio a0 Espirito Santo, Esta ordem das operagées divinas indica a ordem essencial de Deus e forma a base daquilo que geralmente se conhece como ‘Trindade econdmica. A Igreja confessa que a Trindade ¢ um ministério que transcende a ‘compreensio do homem. A Trindade & um mistério, ndéo somente no sentido biblico de que se trata de uma verdade anteriormente oculta ¢ depois revelada, mas também no sentido de que o homem nao pode compreendé-la e nio pode torné-la inteligivel E intelighvel em algumas de suas relagSes e de seus modos de manifestagio, mas € ininceligivel em sua natureza essencial ‘Os numerosos esforgos feitos para explicar o mistério foram especulativos, € nio teoldgicos Invariavelmente redundaram no desenvolvimento de conceitos trteistas Tie ERATION 2002.60 247 BERKHOE 2000, 82 246 IDEM 249 BERKHOE 2002, 82 76 | CURSO MEDIO EM TEQLOGIA | KARPOS ‘ow modalistas de Deus, na negagio ou da unidade da esséncia divina ou da realidade das distingdes pessoais dentro da esséncia ‘Areal dificuldade esté na relagio em que as pessoas da Divindade estio com a esséncia divina e uma com as outras; e esta é uma dificuldade que a Igreja néo & capaz de remover, podendo apenas tentar reduzi-la a apropriadas proporgdes mediante uma adequada definigio de termos. Eh, jamais tentou explicar 0 mistério da Trindade, mas procurou somente formular a doutrina de modo que fossem evitados os erros que a ameacam™ 4, OESPIRITO SANTO, ATERCEIRA PESSOA DATRINDADE, © termo hebraico com o qual Ele é designado € Ruach, € 0 grego, & ‘prewma, ambos os quais, como 0 vocabulo latino spiritus, derivam de raizes que significam "soprat”, “respirar”. Daf, também podem ser traduzidos por “sopro ou “folego”, Gn 2.7; 6,17; Ez 37.5, 6, ou “vento”, Gn 8.1: Rs 19.1 1: Jo 3.8% © Antigo Testa ‘qualificativos, ou falado nto getalmente emprega 0 termo “ec Espirito de Deus” ou “Espirito do Senhor’, ¢ utiliza a cexpressio “Espirito Santo” somente em 1.51.11; Is 63.10,11, enquanto que no Novo Testamento esta veio a ser uma designagio da terveira pessoal. da ‘Trindade. E um fato notével que, enquanto o Antigo ‘Testamento repetidamente chamaa Deus “o Santo de Israel”, $1 71.22; 89.18; Is 10.20; 41.3; 48.17, 0 Novo Testamento raramente se aplica o adjetivo “santo” a Deus em geral, mas utiliza frequentemente pata caracterizar 0 Espirito™. Com toda a probabilidade isto se deve ao fato deque foi especialmente no Espirito e Sua obra santificadora que Deus se revelou como Santo. E 0 Espitito Santo que faz Sua habitagao nos coragbes dos crentes, que os separa para Deus, ¢ que os purifica do pecad 4.1. A Personalidade do Espirito Santo As expressées “Espirito de Deus’ © “Espirito Santo” no. sugerem: personalidade com a clareza que o termo “Filho” sugere. Além disso, a pessoa do 350 BERROR 2002, 251 BERKHO! 2002187 352 BERRHOE 2002, 87 253 BERKHOE 2002, 87 MODULO 4 | PNEUMATOL 77 Espirito Santo nio apareceu de forma pessoal claramente discernivel entre ‘os homens, como acontece com a pessoa do Filho de Deus. Como resultado, a personalidade do Espivito Santo muitas vezes foi posta em questio ¢, portanto, merece atengio especial. A personalidade do Espirito foi negada na Igreja Primitiva pelos monarquistas e pneumatomaquianos. Nesta rnegasio eles foram seguidos pelos socianos dos dias da Reforma. [A prova biblica da Personalidade do Espirito Santo € mais que suficiente: (1) Designativos préprios de personalidade the sio dados. Embora pneuma seja neutto, opronome masculino ckeinos é uilizado como referéncia 20 Espivito Santo em Jo 16.14; ¢ em Ef 1.14 algumas das melhores autoridades tm © pronome relative masculino hos. ‘Além disso, é aplicado a Ele 0 nome Parakletes, Jo 14.26; 15.26; 16.7, termo que nio pode ser traduzido por “conforto”, “consolagio", nem pode ser considerado como nome de alguma influéncia abstrata Um fato que indica que se trata de uma pessoa & que o Espirito Santo, ‘como Consolador, é colocado em justaposigio com Cristo como 0 Consolador ‘que estava para partir, a que mo mesmo termo ¢ aplicado em LJo 2.1 (2) a0 Espivito santo sio atribuidas caracteristicas de pessoa, como inceligencia, Jo 14.26; 15.26; Rm 8.16, vontade, At 16.7; 1 Co 12.1 1; € sentimentos, Is 63.10; EF 4.30, Ele realiza atos préprios de personalidade. Sonda, fala testifica, ordena, revela, luta, etia, faz intercessio, vivifica os mortos, ete, Gn1.2; 6.3; Le 12.12; Jo 14.26; 15.26; 16.8; AC 8.29; 13.2; Rm 8.11; 1 Co 2.10,11 © tealizador destas coisas nao pode ser um simples poder ou influéncia, mas tem que ser uma pessoa (3) E apresentado como mantendo tais relagdes com outtas pessoas, que implicam Sua propria personalidade-Ele ¢ colocado na justa posigio com os apéstolos em At 15.28, com Cristo em Jo 16.14, ¢ com o Pai eo Filho em Mt 28.19; 2 Co 13.13; 1Pel.1,2; Jd 20, 21 Uma boa exegese exige que nestas passagens 0 Espitito Santo seja ‘considerado uma pessoa (4) Também hé passagens em que se distingue entre o Espirito © 0 Seu Poder, Le 1.35; 4.14; At 10.38; Rml5.13; 1Co 2.4. Tais passagens seriam tautaldgicas, sem sentido, ¢ até absurdas, se fossem interpretadas com base no principio de que o Espirito & pura ¢ simplesmente 78 | CURSO MEDIO EM TEQLOGIA | KARPOS um poder impessoal. Pode-se ver isto substituindo 0 nome “Es palavra “poder” ou “influéncia” 4.2. A Relagio do Espirito Santo com a Trindade As primeiras controvérsias trinitariaslevaram & conclusio de que o Espirito Santo, como o Filho, é da mesma esséncia do pai e, portanto, é consubstancial com Ele E a longa discussio acerca da questio, se 0 Espirito Santo procedew somente do Pai ou também do Filho, foi firmada finalmente pelo Sinodo de “Toledo em 589, pelo acréscimo da palavra “Filioque” (e do Filho) & versio latina do Credo de Constantinopla: “Credimo sin Spiricum Sanctumqui a Pacte Filio {que procedidit’ ("Cremos_no Espirito Santo, que procede do Pai e do Filho") Esta processio do Espirito Santo, resumidamente chamada espiracio, € Sua propriedade pessoal, Muito do que foi dito a respeito da geragio do Filho também se aplica & espiragio do Espirito Santo, e nio € necessitio repeti Notem-se, contudo, os seguintes pontos de distingo entre ambas (1) A geragio € obra exclusiva do Pais a espiragio € obra do Pai e do (2) Pela geragio o Filho é habilitado a tomar parte na obra de espirasio, mas o Espirito Santo nao adquite esse poder. (3) Segundo a ordem Iégica, a geragdo precede a espiragéo, Devemos lembrar, porém, que isso tudo nio implica nenhuma subordinagio essencial do Espirito Santo ao Filho. Na espiragio, como na geragéo, hi uma comunicagio da substincia total da esséncia divina, de modo que o Espitito Santo esti em igualdade com o Pai e o Filho, ‘A doutrina da processio do Espirito Santo do Pai e do Filho baseia-se em Jo15.26, e no fato de que o Espirito é chamado também o Espirito de Cristo e do Filho, Rm 8.9; Gl 4.6, ¢€ enviado por Cristo ao mundo™* Pode-se definir a espiragio como o terno e necessitio ato da primeira ¢ da segunda pessoa da Trindade pelo qual elas, dentro do Ser Divino, vém a sera base da subsisténcia pessoal do Espirito Santo, © propiciam 3 erceira pessoa a posse da substincia toral da esséncia divina, sem nenhuma divisio, alienagio ou mudanga™ Em virtude da sua processio do Pai e do Filho, Espirito é descrito como 355 BERRHOE 2002, 88 256 BERKHOF 2002, 88. 79 MODULO 4 | PNEUMATOL estando na relagio mais estrcita posstvel com as outras duas pessoas!” De 1 Co 2.10, Lpodemos inferir, nio que se deve identificar 0 Espirito coma autoconscigncia de Deus, mas, sim, que Ele é to. estreitamente relacionado com Deus 0 Pai como a alma humana o é com o homem™ Em 2 Co 3.17 lemos: “Ora, 0 Senhor é 0 Espirito; ¢ onde esti 0 Espirito do Senhor af ha liberdade’, Ai o Senhor (Cristo) é identificado com «0 Espirito, nio quanto 4 personalidade, mas quanto maneira de agir Na mesma passagem o Espirito & chamado “o Espirito do Senhor’. A obra pata a qual 0 Espirito Santo foi enviado Algreja no dia de Pentecostes estava baseada em Sua unidade com o Pai e como Filho. Ele veio como 0 Pardcleto pata tomar o lugar de Cristo e realizar a Sua obra na terra, isto é, para ensinar, proclamar, testificarou dar testemunho etc., como o Filho fizera’”. No caso do Filho, esta obra de revelagao estava firmada em Sua _unidade ‘com o Pai. Justamente asim a obra do Espirito baseia-se em Sua_unidade com 0 Pai e com 0 Filho, Jo 16.14, 15. Notem-se as palavras de Jesus nesta passagem: “Ele me glorficard porque hd de receber do que é meu, € vo-lo hd de anunciar. Tudo quanto 0 Pai tem meu: por isso € que wos disse que hd de reeeber do que é meu e vo-lo hd de anunciar™®. 4,3. A Divindade do Espirito Santo Pode-se estabelecer a veracidade da divindade do Espirito Santo com base na Escritura seguindo uma linha de comprovagio muito semelhante 4 que foi empregada com relagio ao Filho: (1) Sio dados nomes divinos ao Espirito Santo, Ex 17-7(comp. Hb3.7- 9);At. 5.3,451C03.162lim3.16;:2Pe 1.21 (2) Sio atribuidas perfeigoes divinas ao Espirito santo, como onipresenga, SI 139.7-10, onisciéncials 40.13, 14 (comp. Rm 1 1.34);1 Co 2.10, 11, onipoténcia, 1 Col2.1 1; Rm15.19, ¢ eternidade, Hb 9.14. (3) Ele realiza obras divinas, como a criagio, Gn 1.2: J6 26.13; 33.4, renovacio providencial 1104.30, regenerasio, Jo 3.5, 6: Tt 3.5, ¢ a ressurreigio dos mortos, Rm 8.1 1 (4) A Ele é prestada honta divina, Mt 28.19; Rm 9.1; 2 Co 13.13° 1257 BERKHOR 2002, W- 338 IDEM, 359 BERKHHOF 2002, 88 260 BERKHO 2002189 det BERRHOE 2002, 38, 262 BERKHOE 2002/89 80 CURSO MEDIO EM TEQLO’ | KARPOS 4.4. A Obra do Espirito Santo Certas obras sio atribuidas mais particularmente a0 Espitito Santo, néo somente na economia geral de Deus, mas também na economia especial da redencio, Em geral se pode dizer que a tarefa especial do Espirito Santo consiste fem levar as coisas A completagio agindo imediatamente sobre a eriatura fe nela, Justamente como Ele é a pessoa que completa a Trindade, assim a Sua obra é a completagio do contato de Deus com as Suas eriatura se a consumagio da obra de Deus em todas as esferas. Ela se segue 20 brado Filho, como a obra do Filho segue-se 4 do Pai. importante ter isto em mente, pois, se a obra do Espitito Santo for divorciada do objetivo da obra do Filho, um falso misticismo fatalmente surgiré como resultado. A obra do Espirito inclui as seguintes ages na esfera natural: (1) A geragio da vida. Como 0 ser provém do Pai, ¢ 0 pensamento vem mediante o Filho, assim a vida & mediada pelo Espirito, Gn 1.3; 6 26.13; S1 33.6 (); $1 104.30. Com relagio a isso, Ble dé o toque final 4 obra da criagio, (2) A inspirasio geral ea qualificasio dos homens. O Espirito Sanco inspira ‘equalifica os homens para as suas tarefas oficiais, para_ trabalho na ciéncia e nas artes, te., Ex 28.3; 31.2, 3, 6; 35.35. De maior importineia ainda é a obra do Espirito Santo na esfera da redengio. Aqui podem ser mencionados os seguintes pontos:"? ()O preparo e a qualificagio de Cristo para a Sua obra mediadora. Ele preparou para Cristo um corpo ¢, assim, capacitou-o a tornar-se um sacrificio pelo pecado, Le 1.35 "Respondeucthe 0 anjo: Descerei sobre ti o Espirito santo ¢ 0 poder do Altisimo te envolverd com a sua sombra; por iso também o ente santo que 4d de nascer serd chamado Fillo de Deus"; Hb 10.5-7 “Por iso, ao entrar no mundo, diz: Sacrificio e oferta ndo quiseste, “antes corpo me formaste; ni te delesaste com holocaustos e ofertas pele pecado. Entéo cu disse: Eis agui estou (no rolo do livroestd escrito a mew respeite), pana fazer, 6 Deus, tua vontade” Naspalavras “corpo me formas’, escritor de Hebreus segue Septuaginea O sentido &: Pela preparacio de um corpo santo, me capacitaste a ser um sacrificio eH BERRHOR OO 81 MODULO 4 | PNEUMATOL pelo pecado. No seu batismo Cristo foi ungido com o Espirito Santo Le 3.22, € recebeu do Espirito Santo dons habilitadores sem medida, 03.24 (2) A inspiragio da Escritura. O Espirito Santo inspirou a Escricura e deste modo trouxe aos homens a revelagio especial de Deus, 1 Co2.13; 2 Pel.21,0 conhecimento da obra de redengio que ha em Cristo Jesus™. 3) A formagio © 0 aumento da Igreja. © Espirito Santo forma ¢ dé crescimento & Igeeja, 0 corpo mistico de Jesus Cristo, pela regeneragio © pela santificagio, e habita nela como o prinefpio da nova vida, Ef 1.22, 23: 2.22; 1 Co 3.16; 12.45% (4) Ensino e diregio da Igreja. O Espirito Santo dé testemunho de Cristo e guia a Igreja a toda verdade. Desta forma, Ele manifesta a gloria de Deus e de Cristo, aumenta 0 nosso conhecimento do Salvador, livra de erro a Igreja © a prepara para seu destino eterno, Jo 14.26; 15.26; 16.13, 14. Resumindo, a obra do Espirito Santo consiste em:!” Convencer o homem do seu pecado: Jo 16.8: E, quando ele vier, convencers ‘© mundo do pecado, da justiga e do julzo. O Espirito Santo revela Jesus aos ‘coragées, fazendo com que © homem compreenda as verdades divinas, fizendo-o membro do corpo de Cristo, Jo 14.26: Mas aquele Consolador, o Espirito Santo, ‘que 0 Pai enviaré em meu nome, esse vos ensinard todas as coisas, e vos fara lembrar de tudo quanto vos tenho dito. 1Co 12.13: Pois todos nés fomos batizados em um Espirito, formando wm corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espirit. Sela 0 que 0 aceita Ef 4.30: E nao entristecais 0 Espirito Santo de Deus, no qual estas selados para o dia da redengao™. Como dito acima, este selo é a marca espititual de Deus sobre os crentes. Significa que s6 Ele tem a autoridade de desatar este selo e que Sua promessa esté garantida sobre as vidas dos seus Regenera os selados: Jo 3.5: Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que no nascer da agua e do Espirito, no pode entrar no reino de Deus” ‘A regeneragio é uma obra exclusivamente do Espirito de Deus, através da 5 2002, 90 265 BERKHOF 2002, 90, 267 MARQUES. 2015, 17 268 MARQUES, 2018, 17 26) IDEM 82 CURSO MEDIO EM TEOLOGIA | KARPOS qual é implantada no coragio do homem a disposigio para as coisas santas, 0 seja, o homem passa a ter condigbes espirituais de compreender as coisas de Deus, © € capacitado a aceitar as verdades do eristianismo™. Santifica os regenerados: Rm 8.6-9: Porque a inclinagio da carne é ‘morte; mas a inclinagéo do Espirito ¢ vida e paz. Porguanto a inclinagéo da carne é inimizade contra Deus, pois néo ésujeta a lei de Deus, nem, em verdad, 0 pode ser. Portanto, os que estao na carne néo podem agradar a Deus. Vis, porém, néo etais na carne, mas no Espirito, se é que o Espirito de Deus habita em vis. Mas, se alguém néo tem o Espirito de Cristo, ese tal ndo & dele” A partir da conversio, o Espirito Santo passa a habitar no crente, de modo que a vida do homem comega a ser influenciada de forma santificadora. 1Co 6.19: "Ou nao sabeis que 0 vosso corpo é 0 templo do Espirito Santo, que habita em és, proveniente de Deus, e que néo sos de vés mesmos?” Ao habitar no homem, o Espirito Santo purifica sua vida, dé a ditegao € produz qualidades que glorificam a Crist. GI 5.22,23: “Mas 0 fruto do Espirito é amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fe, mansidao, temperanga. Contra estas cosas néo hd lei.” Batiza: At 2.16,17: “Mas isto €0 que foi dito pelo profeta Joel: E nos ttimes dias acontecerd, diz Deus, Que do meu Expivito derramarei sobre toda a carne: ¢ 0s oss filhos as vossas flhas profetizario, os vossosjovens tenio vides, eos vosos veos ter sonhos™* © cristio recebe © Espirito Santo no momento da conversio. Essa manifestagio inicial do Espirito esté vinculada & salvagio. Em outro momento, pode receber uma manifestagio de poder que esté vinculada & santificagio”™ Ministra dons espirituais: 1Co 12.7-11: Mas a manifestagdo do Espirito é dada a cada um, para o que for stil Porque a um pelo Espirito é dada a palavra da sabedoria; ¢ a outro, pelo mesmo Espirito, a palavra da cigneia; E a outro, pelo mesmo Esplrito, a f& ea ‘outro, pelo mesmo Espirito, os dons de curar; E a outeo a operagio de maravilhas;, ‘ea outto a profecia; ea outro o dom de discernir os espititos; ea outro a variedade de linguas; ou seja, o homem passa a ter condigées espirituais de compreender as coisas de Deus e é capacitado a aceitar as verdades do cristianismo. Hid MARQUES, 2013, 18 83 MODULO 4 | PNEUMATOL Capacita para o servigo cristio: Uma ver que 0 cristio recebe talentos especiais do Espirito e € capacitado por Ele, passa a ser capaz de realizar a obra do Senhor. Deus escolheu fazer uma obra perfeita através de seres imperfeitos, mas € 0 proprio Deus que outorga poder para testemunhar de Cristo e trabalhar de modo eficaz na Igreja e diante do mundo” At 1.8: “Mas recebercis a virtude do Espirito Santo, que ha de vir sobre vés: € ser-me-cistestemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia ¢ Samaria, ¢ até «aos confins ds terra.” Esse poder revestiu ao Senhor Jesus e aos seus disefpulos, capacitando-os pata a proclamagio do Evangelho, Jo 1.32,33: “E Jodo testficou, dizendo: Eu vi @ Espirito descer do céu como pomba, e repousar sobre Ele. E eu ndo o conhecia, mas @ que me mandow a batizar com dgua, ese me disse: Sobre aguele que vires descer 0 Espirito, e sobre ele repousar, esse é0 que batiza com o Espirito Santo." At 24: "E todos foram cheios do Espirito Santo, ¢ comecaram a falar noutras linguas, conforme o Eipirito Santo thes concedia que falassem.” AUB: “Mas recebercis a virtude do Espirito Santo, que hd de vir sobre vis; ¢ ser-me-cs testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, ¢ até 120s confins da terra.” ‘Ac 431: “E, tendo orado, movew-se 0 lugar em que estavam reunides; e todos foram cheios do Espirito Santo, ¢ anunciavam com ousadia a palauna de Deus.” Ser cheio do Espirito Santo é um requisite para o servigo cristio: At 6.3: “Escobhei, pois, irméos, dentre vis, sete homens de boa reputasao, cheios do Espirito Santo e de sabedoria, aos quis constituamos sobre ste importante negicio.” 5. OS NOMES DO ESP{RITO SANTO Corea de 350 passagens nas Escrituras mencionam o Espirito Santo ¢ mais de 50 nomes ou titulos podem ser discernidos. Alguns deles serio apresentados aqui, segundo o raciocinio de Dutfield e Cleaves" a. O Espirito Santo: “quanto mais 0 Pai celestial dard o Espirito Santo a todos quantos tho pedirem?” © Espizito Santo € 0 dom mais precioso que o Pai celestial pode dar, dom que esté generosamente disposto a conceder, 276 DUBFIELD e CLEAVE, 1999, 153, 84 | CURSO MEDIC EM TEOLO! | KARPOS b. O Espirito de Deus: “Nao sabeis que sois 0 santudrio de Deus, ¢ que 0 Expirito de Deus habita em vis?” Ew 1 ci0s 6.19, o templo do Espirito Santo €0 crente individual, mas aqui é a Igteja de Crist. ©. O Espirito: “..0 que é nascido do Espirito, € Espirito. E este produx a experiéncia do novo nascimento no crente: éEle quem concede nova vida, S| 104, 30. dO Espirito de Jeovi: “Do tromco de Jest saird um rebento, Repousard sobre cle o Espirito do Senbor, o Espirito de sabedoria e de entendimento, o Espirito de conselhos e de fortaleza, o Espirito de conhecimento e de temor do Senor.” e. O Espirito do Deus Vivo: “..Vés sois carta de Cristo, escrita ndo com tina, mas pelo Espirito do Deus vivente...” A Igreja é uma epistola, um testemunho do Deus vivo diante de todos os homens, nio como um testemunho de obras humanas, mas uma epistola eserita pelo Espirito de Deus (0 doador da vida divina). Em outsas palavras, 0 Espirito gravari 0 cariter de Jesus em nossos coragdes, A medida que funcionamos no corpo de Cristo, £ O Espirito de Cristo: “E se alguém ndo tem o Espirito de Cristo, ese tal nao é dele”, Run 8.9. Possuit o Espirito de Cristo nos identifica como sendo dele. E porque wés sis flbos, enviow Deus aos nosios conaie «Exirito do seu Flbo que cama Aba, ai” GIA. © Filho de Deus tornou-se Filho do Homem para que os filhos dos homens possam tomar-se Filhos de Deus, como privilégio de chamar a Deus de Pai. h. O Espirito de Santidade: “.. ¢ foi designado o Filho de Dews, com poder segundo o espirito de santidade..." Ram 1.4, Jesus veio como descendente prometido de Davi, Sua divindade foi declarada na sua ressurreigéo dentre os mortos pela obra do Espirito Santo. 4.0 Espirito de Purificagio: Isaias chama-o de Espirito de Justia e de Purificagio. O Espirito de santidade limpa de Siéo © pecado e a iniquidade, mediante purificacio e juizo, resultando em salvagio. “O Eipirito Sante tem a sua pd na mio e limpard completamente a sua eira..” Mic 3.11-12. j.0 Espitico da Verdade: Joio chama o Espirito Santo de Espitito de Verdade porque Ele € agente da revelacio divina que capacitars os apéstolos a 85 MODULO 4 | PNEUMATOL registrarem os ensinamentos de Jesus € a interpretarem corretamente os eventos redentores da historia sagrada k. O Espirito da Vida: O Espirito da Vida em Cristo substituiu o principio dda carne (04 0 egoista) de modo que, agora esta nova dinamica pode produzir a justisa de Cristo em nés, Rm 8.2 1.© Espirito da Gragaz "De quanto mais severo castigo julgais vis serd considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profamou o sangue da alianga com 0 qual foi samificado, e ultrajou o Espirito da graga’, Hb 10.29. Exte € 0 caso claro de apostasia por parte de alguém que fora antes santificado pelo sangue, Somos salvos pela graga ¢ nio por obras, mas é possivel ‘fender de tal forma o Espirito Santo, que perdemos 0 dom gracioso de Deus ¢ caimos em jutzo m. O Espirito Santo da Promessa: “Tendo nele também erido, fostesrlades com o Espirito Santo da promesa” Jesus prometeta derramar 0 Espirito sobre os iscépulos que o esperavam. Esta promessa é repetida em Atos1.4-5. Jesus referi- se a0 Espirito Santo como promessa do Pai, tornando-a provavelmente a promessa registrada em Joc! 2.28 ¢ Ezequiel 36.27-28. A concessio de poder aos crentes pelo Espirito foi antecipada por Jesus ¢ pelo Pai através destes proferas n, © Consolador: “..se eu ndo for 0 Consolador néo vind para vis outros; se portm, ex for, 0 enviarei a vis. De acordo com Duffield ¢ Cleave”, 0 termo ‘consolador talvez nio seja 0 mais adequado para os nossos dias porque nos induz a pensar em consolacio. A palavra original latina comortare significava “fortalecer muito”, © termo biblico grego é parakletos, significando “alguém chamado para Pode ser definido ainda como ajudador ou consetheito. 6. OS SIMBOLOS DO ESP{RITO SANTO Além dos nomes titulos atribuidos 0 Espitito Santo, varias figuras simbélicas de linguagens sio empregadas na Escritura para revelar as caracteristicas do Espirito Santo. 77 DUFFIELD < CLEVE, 1999, 56 86 | CURSO MEDIO EM TEOLO! | KARPOS Os judeus expressavam-se mais por ilustragées literérias do que por termos abscratos. Os ensinamentos de Jesus sio extremamente ricos em simbolos e figuras de linguagem’™ a. Vento: "O vento sopra onde quer... assim & todo o que é nacido do Espirito” Um dos significados do termo grego ¢ hebraico para espirito € sopro ou vento: No dia de Pentecostes, um vento impetuoso é associado com a vinda do Espirito Santo. © vento simboliza © poder invisivel, onipresente do Espirito © sua influéncia que sustenta a vida, Jo 3.8 b. Gleo: Bra usado na ungio dos reis e sacerdotes, a fim de empossé-los, simbolizando a capacitagio do Espirito Santo para o seu trabalho. ‘Todos os ‘crentes tém a promessa dessa ungio, Is, 61.1,Le 4.14. ¢. Pomba: O Espirito Santo desceu sobre Jesus no seu batismo na forma de pomba. A pomba simboliza as qualidades de mansidio, pureza, amor, inocéncia ea beleza, Mt 3.16, Gn. 8.8, Mt 10.16 dd. Agua: Simboliza Fresco, satisfagio e fertilizagio. As Escrituras descrevem 1 4gua na forma de chuva, orvalho, rios e fontes. Na aplicagio deste simbolo, © Espirito Santo ¢ Cristo estio intimamente ligados em Joao 4.1.4 ¢7. 38-39. «. Fogo: O fogo aduz poder e purificagio mediante © Espirito Santo, Is 44, Av 2.3. £ Vinho: Este elemento chama a atengio para a caracteristica de estimulo spiritual e gozo resultante da habitasio interior do Espitico. No dia de Pentecostes, ficaram como que embriagados com vinho novo. Pedro afirmou que nio estavam bébados, mas, cheios do Espirito?”, 7. PERICORESE Este termo grego, também encontrado no latim, cireumincesio como no portugués (interpenetragZo miitua) passou a ser de estudo geral no século VP. Refere-se 4 maneira pela qual as pessoas da Trindade se relacionam uma Te DUPED GENE, BST 379 ten 240 MCGRATH, 2010, 30, 87 MODULO 4 | PNEUMATOL © conceito de pericérese permite a manutengio da individualidade das tués pessoas destacando, ao mesmo tempo, o fato de que cada pessoa compartilha dda vida das demais"™ ‘Uma imagem frequentemente usada para expressar isso é a de “comunhio do ser” na qual enquanto cada uma das pessoas mantém a prépria identidade, petpassa as demais ¢ por elas é perpassada © mituo relacionamento no Ambito da trindade tem sido defendido de forma a fornecer um modelo aplicével tanto 3s relages humanas no Ambito das ‘comunidades quanto 4s teorias politica e social cristis. 8. ATRINDADEE OS SEIS MODELOS SEGUNDO MCGRATH. Sio seis abordagens histéricas sobre a trindade e que auxiliam a esclarecer alguns aspectos dessa doutrina e permite que sejam apresentadas novas perspectivas em relagio aos seus fundamentos ¢ implicagoes: Os Capadécios ‘A abordagem capadécia da trindade é mais bem entendida como uma defesa da unidade divina aliada ao reconhecimento de que apenas uma ‘nica divindade existe em trésdistintos “modos de ser” Di-se prioridade ao Pai e, embora os capadécios digam nao admitir a subordinagio tanto do Filho quanto do Espirito a0 Pai, todavia explicitam que © Pai deve ser considerado a fonte ou a origem da trindade ser do Pai é comunicado tanto ao Filho quanto a0 Espirito, embora de distintas manciras, o Filho gerado pelo Pai eo Espirito emana do Pai Agostinho de Hipona Agostino insiste que a doutrina da trindade como um todo, pode ser discernida por erés das ages de cada uma das pessoas que a compée. Assim, a humanidade néo é meramente criada 3 imagem de Deus, ela & criada 3 imagem da windade™. Entende que embora o Filho © o Espitito patesam ser subordinados 20 Pai, na eternidade eles sio iguais. E possivel que o elemento mais distintivo na abordagem de Agostino em relacio a trindade sejaarespeito do seu entendimento mi 2016, 30 282 MCGRATH, 2010, 388 88 CURSO MEDIO EM TEQLO’ | KARPOS da pessoa e do lugar do Espitito Santo™ Havendo identificado 0 Filho com a “sabedoria’, prossegue e identifica 0 Espitito com o amor” (catitas). Ele reconhece que nao tem fundamentos biblicos cexplicicos para essa identificagéo; contudo, ele considera ser essa inferéncia razoavel a partir do material biblico, De acordo com Agostinho existe uma relacio correspondente entre os clementos da trindade, O dom deve refletir a natureza do doador™™ Uma das caracteristicas mais marcantes da abordagem que Agostinko faz, em relagio a uindade é a formulagio de analogias psicolégicas’. O racioeinio que se encontra atras desse apelo A mente humana a esse respeito & que ele conclui ‘que a humanidade é 0 apogeu da criagio de Deus. Reconhece a existéncia de tuma estrutura triédica em relagéo a0 pensamento humano e argumenta que essa cstrutura fundamenta-se no ser trino de Deus". Ele mesmo defende que dentre essas trades, a mais importante é aquela formada pela mente, conhecimento eamor, emboraa triade cortelata da meméria, entendimento e vontade tenha também grande importincia A mente humana é uma imagem do proprio Deus. Portanto, como 0 set humano possui tés faculdades mentais, as quais nfo sio entidades isoladas, ¢ independentes, também é possivel a existéncia de tés pessoas em um tinico Deus. Karl Barth Para Barth, a doutrina da tindade garante € sustenta a tealidade da revelagio divina para a humanidade pecadora, Estabeleceu que éuma confirmagio explanatéria da revelagio. E uma exegese do fato da revelagio. Deus revela a si mesmo. He revela a si mesmo por meio de si mesmo, Neste raciocinio estabelece o contexto da trindade: uma vez que a revelagéo de Deus aconteceu, © que deve ser verdadciro a respeito de Deus para que isso ppossa realmente ter acontecido? O ponto de partida para Barth para sua discussio da trindade nio € uma doutrina ou ideia, mas a realidade do fato que Deus fala © € ouvido. Uma ver que, como Deus pode ser ouvido, como a humanidade peeadora € incapaz de ouvir a Palavra de Deus?” Barth é bastante claro ao procurar responder & indagagio: a humanidade pecadora nio é capaz de alcangar essa nogio por si mesma. Ele nao esté preparado 2010, 38 2010, 386 010,388 247 MCGRATH, 2010, 39 89 MODULO 4 | PNEUMATOL pata admitir que a humanidade desempenhe algum papel ativo na interpretagio da revelagio posto que acredita que isso sujeita a revelagio divina 3s teorias do ‘conhecimento humano. A interpretagio da revelagio como revelagio deve ser em si uma obra de Deus, mais precisamente, uma obra do Espirito Santo. A humanidade nio se torna capaz de ouvir a Palavra de Deus, escurando esta Palavra; 0 ouvir a Palavra dde Deus ea capacidade para tanto sio concedidos, em um sé ato, pelo Espirito" Karl Rahner Construiu sua anilise com preferéncia de assunto da trindade, a saber, a doutrina da trindade econdmica e imanente. A distingio bésica aqui é entre a maneira como Deus é conhecido por meio da revelagio na histéria © a maneira pela qual Deus existe internamente™”, ‘A “crindade econémica’pode ser entendida como a maneira que experimentamos a diversidade e a unidade da revelagso de Deus na histdria ea “wsindade imanente’ como a diversidade e a unidade de Deus em si mesmo, que ‘© axioma de Rahner a respeito de seu relacionamento define da seguinte forma: A trindade econdmica é a trindade imanente. Em outra palavras, a maneira pelo ‘qual Deus € revelado e experimentado na histria corresponde 4 maneira pela ‘qual Deus realmente &”. Rahner argumenta que 0 processo de reflexio teolégica que conduz & doutrina da trindade imanente tem seu pono de partida em nossa experiencia ¢ em nosso conhecimento da salvagio na histdria. Acomplexidade dessa hist6ria da salvagio, ¢ principalmente, fundamentada na propria natureza divina. Embora experimentemos a diversidade e a unidade na economia da salvagio, estas corespondem 4 maneira como Deus realmente é” Robert Jenson Mediante a perspectiva lucerana, de tradigio reformada, este tedlogo estadunidense reformulou criativamente a douttina tradicional da trindade Jenson argumenta que o Pai, Filho ¢ Espirito Santo 0 nome préprio para ‘6 Deus que os cristios conhecem em Jesus Cristo ¢ por meio dele. O discurso initétio € o imperativo que Deus deve ter um nome proprio. ‘A douttina da trindade entéo identifica e nomeia o Deus cristio mas, © identifica e 0 nomeia de uma maneira consistente com o testemunho biblico. i 7010, 390, 289 MCGRATH 2010, 390 290 MCGRATHE 2010, 391 20 IDEM. 90 SO ME | EM TEOLOGIA | KARPOS A completa tarela da teologia pode ser descrita como o desdobramento dessa sentenga de que o Deus de Israel ressuscitou da morte o Jesus dos eristios, em. virias maneiras. Uma delas produz o pensamento, mistério e linguagem tinitéria da Igreja™. Portanto, a doutrina da trindade esté centralizada no reconhecimento do Deus nomeado na Escritura ¢ no testemunho da Igreja, Jenson, dessa mancira resgata a concepgio pessoal de Deus frente & especulagio metafisca. “Pai, Filho ¢ Espirito Santo” € um nome proprio que devemos usar ao nos dirigir e 20 nomear a Deus Os meios linguisticos de identificagio — nomes proprios, descrigses identificadoras, ou ambas, séo necessidades da religigo. Porranto, a linguagem é tum instrumento de precisio teoldgica, que nos forga a ser precisos sobre o Deus em discussio™. Jonh Macquarrie Eseritor com raizes na tradicéo presbiteriana aborda a trindade numa petspectiva existencialista Argumenta que a trindade garante uma compreensio dinamica de Deus, rio estitica e conclui que se Deus nio tivesse se revelado como trino, deveriamos estar compelidos a refletir sobre Ele dessa manera ‘A abordagem deste tedlogo liga a doutrina da tindade & condiséo daexisténcia da humanidade, Trata-se de uma forma de modalismo funcional Seu ponto forte ¢ que dé uma poderosa dimensio adicional 4 teologia crist, 20 indicar as manciras pelas quais essa teologia pode set corzclacionada 3s estruturas dda existéncia humana™. © Espirito Santo deve ser entendido como um Ser unificador pois a funcio do Espirito é manter, fortalecer e, se necessitio, restaurar a unio de Deus com suas criaturas. A tarefa do Espirito & promover grausinéditos ¢ mais elevados da unidade entre Deus ¢ 0 mundo, isso leva as criaturas de volta a uma unio nova e rica com Deus, que é responsivel antes de tudo pela sua existéncia’™. A Controvérsia Filioque © termo latim filioque que significa literalmente “e do Filho” é relevante tanto como uma questio teoldgica como um tépico de alguma importincia nas MODULO 4 | PNEUMATOL’ relagées contemporaneas entre Igeeja ocidental e oriental”, Inicialmente, a Igteja Catélica, em todo 0 Império Romano pretendia estabilizar a doutrina de que 0 Espirito Santo teria se originado do Pai. No entanto, até o século IX, a propria Igreja alterou esse entendimento afirmando ‘que o Espirito Santo teria se originado do Pai e do Filho™” (Os escritores patristicos gregos insistiam que havia apenas uma origem do serda trindade. O Filho e o Espirito derivam do Pai, porém de distintas manciras. E impensivel, no entanto, que o Espirito Santo deveria proceder tanto do Pai como do Filho porque isso comprometeria totalmente o principio do Pai ‘como sendo a tinica origem e fonte de toda divindade em uma Ginica trindade, ‘com todas as contradigées e tensdes internas que isso geraria. Seo Filho compartilhasse do dom exclusivo do Pai, como de toda divindade, esse dom deixaria de ser exclusivo, Esse entendimento de que o Espirito teve sua ‘origem no Pai e no Filho foi desenvolvendo-se e recebeu sua forma clissica em Agostinho de Hipona’™. 9. O BATISMO NO ESPIRITO SANTO. © homem somente pode receber a salvagéo mediante a obra do préprio Espirito Santo, Jo 16.8: “E, quando ele vier, convencerd 0 mundo do pecado, ¢ da justiga ¢ do juizo”. Na verdade, todo crente que tecebe Jesus, recebe o selo do Espirito, BF 1.13,14: “Em quem também wis, depois que ouvistes a palavra da verdade, o Evangelho da vossa salvagéo, tendo nele também crido, fostes selades com o Santo Espirito da promesa; 0 qual é 0 penhor da nossa heranga, ao resgate da sua propriedade, em lowvor da sua gliria” >? 2.Co 1.21,22: “Mas aguele que nos confirma convosco em Cristo ¢ nos ungis é Deus, que também nos selow ¢ nos dew o penhor do Expirito em nosso coragiéo”. EF 4.30: “E nao entristecais 0 Expirito de Deus, no qual fests selados para o dia da redengi O cristéo cheio do Espirito Santo tem intimidade com o Senhor para ver Sua gloria: At 7.55: “Mas ele, estando cheio do Espirito Santo, fixando os olbos no céu, vin a gliria de Deus, ¢ Jems, que estava & direita de Deus” 2° 298 MACGRATHL, 2010, 397 299 MARQUES, 2018, 2, 500 MARQUES, 2013, 20. 92 CURSO MEDIO EM TEOLOGIA | KARPOS A Biblia fala de pessoas cheias do Espirito Santo que nio participaram do episédio de Atos 2 nem de outras ocasides em que houve a manifestagio de linguas estranhas: Le 1.15: “Porgue send grande diante do Senhor, ¢ néo beberd vino, nem bebida forte, ¢ serd cheio do Espirito Santo, jd desde o ventre de sua mae” Le \Al “E aconteceu que, ao ouvir Isabel a saudacio de Maria, a criancinha saltou no seu vventre; ¢ Isabel foi cheia do Espirito Santo”! Le 1.67 "E Zacarias, seu pai, foi cheio do Espirito Santo ¢ profetizou, Le 2.25: “Havia em Jerusalém um homem chamado Simedo; homem este justo e piedoso que esperava a consolagéo de Kael: ¢ o Espirito Santo estava sobre ele” Ac 18.24: "E chegou a Efso certo judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, omem eloguente ¢ poderoso nas Escrituras. Este ena instruido no caminho do Senbor «, fervoroso de espirto, falava ¢ ensinava diligentemente as coisas do SENHOR, conhecendo somente o batismo de Joao”, © Batismo do Espirito Santo ou o selo do Espirito Santo acontece uma Unica ver na vida, no momento da conversio e abrange todos os erentes. Est vinculado diretamente 4 obrada salvagio, pois € a disposigio para as coisas espirituais,a capacidade do homem para receber e compreender as coisas de Deus. Assim, ha diferenca entre o “batismo do Espirito santo” e 0 “batismo com © Espirito Santo”. £ perceptivel no Evangelho segundo Joio: Joao 20.22: "E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e dise-Ihes: Recebei o Espirito Santo”. Nessa passagem, Jesus sopra sobre os discfpulos ¢ estes reecbem o Espirito Santo. Este € 0 batismo do Espirito, o selo da promessa. Tempos depois, eles esto reunidos em Jerusalém ¢ recebem um revestimento tal que comeyam a falar em coutras linguas®. Este € 0 batismo com o Espirito Santo ou plenitude do Espirito At 2.1-4 “E, cumprindo-se 0 dia de Pentecostes,estavam todos concordemente no mesmo lugar; E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente ¢ impetuose, ¢ enchew toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por ees linguas repartidas, como que de fog, as quais powsaram sobre cada um deles" E todos foram cheios do Espirito Santo, e comecaram a falar noutras linguas, conforme o Espirito Santo lhes concedia que falassem ‘Ao passo que o Batismo do Espirito acontece uma Gnica vez na vida, no ‘momento da conversio ¢ esti vinculado diretamente & obra da salvagio, 0 batismo com o Espirito Santo ou a plenitude do Espirito acontece varias vezes na vida, MODULO 4 | PNEUMATOL 93 servindo de um revestimento para o crente, Esti vinculado 3 santificagio, pois tem 0 objetivo de ajudar o devoto em seu crescimento espiritual™ © batismo com o Espirito foi prometido por Jesus Cristo: ACLS: "Porgue, na verdade, Jodo batizou com dgua, mas vis seres batizados com o Espirito Santo, néo muito depois destes dias” O batismo com o Espirito Santo é uma prova do cumprimento da profecia vveterotestamentisia em Jesus Cristo: At 2.16: “Mas isto &0 que foi dito pelo profeta Joel: E nos tims dias acontecerd, diz: Deus, Que do meu Espirito derramarei sobre toda a carne: E 0s vosos filhos ¢ as vossas filbas profetizario, Os vosses jovens terio visies, E 0s vessos velhos tendo sonbvs; E também do meu Espirito derramarei sobre os ‘meus servos eas minhas servas nagueles dias, e profetizario; E farei aparecer prodigios em cima, no céu; E sinais em baixo na terra, Sangue, fogo ¢ vapor”. ‘Tem o objetivo de revestir os diseipulos a testemunharem de Jesus: Le 24.49: "E eis que sobre vés envio a promessa de meu Pai: ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder. At 1 4-8: “E, estando com eles, determinou-thes que nio se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem & promessa do Pai, que (dise le) de mim ouvistes* Porgue, na verdade, Jodo batizou com dgua, mas vis sereis batizados com 0 Expirito Santo, néo muito depois destes dias. Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-the, dizendo: Senbor, restaurards tu neste tempo o reino a Irael? E dise-thes: Nao vos pertence saber os tempos ov as estasées que o Pai estabeleceu pelo seu priprio poder. Mas recebercis a virtude do Espirito Santo, que hd de vir sobre vis; eser-meceis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, ¢ até aos confins da terra’™”, At 431-33: "E, tendo onado, moveuse 0 lugar em que estavam reunides; ¢ todos foram cheios do Expirito Santo, e anunciavam com ousadia a palavra de Deus E era.um o coragéo ¢ a alma da multidio dos que criam, ¢ ninguém dizia que coisa calguma do que possuia era sua prépria, mas todas as coisas Uhes eram comuns. E os ‘apsstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreigdo do Senor Jesus, e em todos eles hava abundante graga’* Nos dias biblicos, 0 sinal do batismo com o Espirito Santo era o dom de linguas: Sor DER, 303 MARQUES, 2013, 22 306 MARQUES, 2013, 22 307 IDEM 508 MARQUES, 2013, 22 94 | CURSO MEDIO EM TEOLO! | KARPOS At 24: “Todos fiearam cheios do Expirito Santo ¢ passaram a falar em outras linguas, segundo o Espirito hes concedia que falasem At 10.4446: “E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu 0 Espirito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fis que eram da circuncsio, todos quantes tinham vindo com Pedro, maravilbaram-se de que o dom do Expirito Santo sederramase também sobre os gentios. Porgue os ouviam falar em linguas € magnificar a Deus”, At 19.6: "E, impondo-thes Paulo as maos, veio sobre eles 0 Espirito Santo; ¢ tanto falavam em linguas como profeticavam’. (© Batismo aconteceu durante momentos de comunhio entre os irméos: Ac 21-4: “E, CUMPRINDO-SE o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar; E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente¢ impetuoso, ¢ encheu toda a cara em que estavam astentados. E foram vistas ‘por eles linguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um dels E todos foram cheios do Espirito Santo, e comegaram a falar noutras lingua, conforme o Eipirito Santo thes concedia ue falssem’* Em momentos de orasio com imposigio de mos: Ac B.17: "Entéo les impuseram as més, e receberam o Espirito Santo” Durante a pregagao ¢ ensino da Palavra de Deus: At 10.44: "E, dizendo Pedro ainda estas palavras,caiu o Espirito Santo sobre todos o que ouviam a palavra’ Ac 11.15: "E, quando comecei a falar, eaiu sobre eles o Espirito Santo, como também sobre nés ao principio” '” A manifestagio do Espirito Santo nao se encerrou nos dias biblicos: Segundo 0 apéstolo Pedro, essa manifestagéo do Espirito Santo nao se ‘extinguiu depois dos dias apostélicos, mas deve ser comum aos crentes de todas as épocas que forem chamados por Deus At 2.39: “Porque a promessa wos dis respeito a vis, a vossos flhos, ea todos os ‘que estéo longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar’ © Espirito Santo mantém sua presenga e ungio significativas na vida da Igreja. Sua presenga traz paz, esperanca e sensibilidade & mesma. No mundo contemporinco em que © humano é téo individualista, tio MODULO 4 | PNEUMATOL 95 ensimesmado em outras questées corriqueitas, a presenga doce e consoladora do Espirito Santo deve ser © nosso mentor, o nosso guia 10. CONSIDERAGOES FINAIS [A doutrina cristé tem a Trindade como sendo o eixo que “suporta” todas as engrenagens de nossa Teologia, ou seja, aquele que se dispée estudar a Palavra de Deus mediante métodos teolégicos deve ter 0 compromisso de conheces, ‘compreender ¢ zelar por esta doutrina téo importante Conforme salientou-se no decorter deste estudo, a Pneumatologia talvez scja.a mais complexa douttina apresentada pela Igreja de modo que a reflexio que se faz sobe cla deve ser criteriosa e cuidadosa Pretendemos que 20 final desse assunto estudado, 0 estudante esteja convencido dessas afirmativas ¢ que esteja apto a fazer defesa da mesma em meio 4 Cantos contextos que procuram devurpé-la ou diminut-la 11, REFERENCIAS BERKHOP, Louis. Teologia Sistemdrica. Sio Paulo: Editora Mundo Cristéo. 1999.Volume I BINGEMER, Maria Clara Lucchecti. A Teologia da Grus de Jitrgen Molimann. Estudos de Religigo, v. 23, n. 36, 230-248, jan./jun. 2009. CULLMAN, Oscar. Cristologia do Novo Testamento, Sio Paulo: Custom, 2004. DUFFIELD, Guy P. CLEAVE, Nathaniel M. Van. Fundamentos da Teologia Pentecostal, Sio Paulo: Editora Publicadora George Russell Faulkner.1991. GRUDEM, Wayne, Teologia Sistemdtica, Sio Paulo: Editora Vida Nova.2002. MACGRATH, Alister. Teologia Sistemdtica, Histérica e Filoséfica. Sio Paulo: Edicora Shedd. 2010. MARQUES, Max Clayton, Paracletologia, Universidade Paulista: Sio Paulo. 2013

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