Fisiologia Do Envelhecimento

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ee corer prmennm INTRODUCAO Pode-se considerar o envelhecimento como a fase fi- nal de um todo continuum que € a vida, comecando esta com a concepcio e terminando com a morte. Ao longo dese continuum é possivel identifica fases como desen: volvimento, puberdade ¢ maturidade, nas quais podem ser evidenciados marcadores biofisiol6gicos, que repre sentam pontos de transicao entre uma fase e outra. O eavelhecimento, por sua vez, é aquele periodo da vida aque, segundo alguns autores, sucede a fase de maturidade feque€ caracterizado por declinio das fungdes organicas, ue, em decorréncia, acarreta maior susceptibilidade & éelosto de doencas, que terminam por levar 0 idoso & morte, Esa diminuicdo da capacidade funcional ¢ carac terstcamente linear em funcao do tempo. Por outro lado, nio € possivel evidenciar um ponto de transicéo com a fase precedente, dada a inexistencia de um marcador biofsiologico cficaz e confiavel do fendmeno. O que ¢ possivel afirmar categoricamente € que os distirbios funcionais referidos sto comuns a todas as pessoas, nao sto induzidos por doencas e sobrevém simplesmente em conseqiéncia do avancar dos anos. Essis modificagdes sio, portanto, decorrentes do enve Thecimento natural, termo este que tem como sinonimos céncia, envelhecimento intrinseco, envelhecimen: to primirio e eugeria, para diferenciar-se de alteracbes funcionais decorrentes de doencas que so comuns na terceira dade, que constitu a senilidade, envelhecimen- to secundario ou patogeria, A questao que deve ser le- vantada € sobre o tempo que tais alteragdes eugéricas podem ser mantidas, sem que ocorram as primeiras munifestagdes de doenca associada, sabendo-se que esta ¢ mais frequente e mais grave em idosos e que modifi cagéesfisioldgicas do envelhecimento podem agir como lator precipitante. A hipotese fisioldgica do envelheci. mento e seu término pela “morte eugérica” € que 0 declinio da fungao vai ocorrendo até 0 ponto no qual meio interno compativel com a vida da célula ndo mantido por mais tempo. Fisiologia do Envelhecimento Eurico Thomaz de Carvalho Filho Renata Freitas Nogueira Sales | ees Matheus Papaléo Netto | As consideragoes acima demonstram que a consta cia do meio interno, cuja importancia foi observada pela primeira vez por Claude Bernard homeostasia por Canon, possiilita a sobrevivencia do ser humano dentro de amplos limites de variacoes do meio. Com o passar dos anos, entretanto, progressivo estreitamento desses quencias sto facilmente previsiveis. Assinale-se que a ca pacidade de manuter Comfort, seria a princi entre jovens e idosos. Base © envelhecimento como a incapacidade de adaptacac homeostitica as situacoes de sobrecarga funcional Ha, como se sabe, diferentes visoes sobre a inicio do processo de envelhecimento, ou seja, a fase da vida na qual ja estariam presentes as primeiras manifes tagdes do fendmeno. Deixando-se de lado conj a esse respeito, ¢ certo que na velhice ocorre reducao da capacidade funcional, que se expressa por dific dade do organismo se adaptar as condigdes de sob carga funcional, especialmente aquelas que envolvem situagbes de estresse e denomina nites, cujas conse. cao do meio interno, segundd al responsavel pela di poca de Outro fato que merece destaque € a grande variabi- lidade de comportamento do deel um orgio a outro, como também entre idosos da mes ma idade, a ponto de hoje se considerar, dentro da ca tegoria de envelhecimento fisioldgico, duas fr usual ou comum e o bem-sucedido ou saudavel. Assi- nale-se que sob o rotulo de idasos sao incluidas pessoas relativamente jovens, com 60 anos ou pouco mais, como tambem aqueles que sao extremamente velhos, com 90, 100 ou mais anos de idade. As consequencias sobre a variabilidade de comportamento referida, em face da io das funcoes de grande amplitude da faixa etéria geriatrica, sdo, por si 6, obviamente esperadas, Atualmente considera-se que o envelhecimento re laciona-se fundamentalmente com alteragdes das prote- inas que compéem o organismo. Existem diversas cao protéica no teorias que procuram explicar essa envelhecimento, sendo que duas delas sao mais aceitas pelos pesquisadores e provavelmente se completam: te- Bria da deterioracdo da sintese proteica e teoria do re- Tbgio biologico. Alem disso, existiriam diversas fatores aque teriam influencia sobre 05 mecanismos de alteracto protéica. Entre estes, sem duivida principal € o gene Po A importincia da heranca genética é demonstrada pela longevidade caracteristica de cada espécie animal. KAssim, a duracio maxima da vida de seres humanos € dde aproximadamente 120 anos, enquanto a de carmun- dongos ¢ de 40 meses. Na pratica médica tem sido evidenciados casos de cenvelhecimento precoce, decorrentes de aceleracao dos tecanismos que o determinam, como € o caso da progéria infantil ou doenca de Hutchinson-Gilford, determinada por genes autossOmicos recessivos. Este fato também tern Fido observado em diversas afeccdes, como o diabetes mellitus, a deméncia senil, o mongolismo ¢ o xeroderma pigmentosum, nas quais ha alteracdes genéticas e envelhe- ‘imento precoce de certos setores do organismo. 0 acido desoxirribonucléico softe modificacdes con- tinuas em sua estrutura em resposta a diversos fatores intrinsecos e extrinsecos. Entre os intrinsecos situam-se 0s radicais livres e as alteracdes do sistema imunologico, tenquanto entre os extrinsecos citam-se o fator alimen- tara radioatividade, a temperatura e a poluicdo atmos- ferica como os mais importantes. A tentativa de ‘manutengio da estabilidade organica e funcional € re- alizada pela agao de enzimas de reparacao que sio de- ficientes no envelhecimento. Devido a grande variabilidade de comportamento das diversas funcdes organicas anteriormente referida, fas consideragoes que sero tecidas nos diversos itens dlesse capitulo deverao ser analisadas sob o crivo da grande heterogeneidade existente entre idosos. CONCEITO DE SENESCENCIA E SENILIDADE ‘Ao se considerar o envelhecimento de um ser vivo, particularmente do homem, é de fundamental impor- tancia distinguir o que € conseqaéncia desse processo, daquilo que é secundario a estados mérbidos que sao freqientes nessa fase da vida Entende-se por senescéncia ou senectude as altera- ‘cdes orginicas, morfoldgicas ¢ funcionais, que ocorrem Em consequencia do processo de envelhecimento, € por senilidade as modificacdes determinadas pelas afeccoes {que freqdentemente comprometem os individuos idosos, A diferenciagdo entre essas duas condigSes € por vezes extremamente dificil, existindo situagdes nas quais ht grande dificuldade em definir se uma determinada alte- Tacio € manifestagio de senescencia ou de senilidade. Por ‘outro lado, a evoluco dos conhecimentos tem feito com {que condigoes, inicialmente consideradas como manifes- tacoes de senescéncia, sejam hoje definidas como afeccoes fe vice-versa, Um exemplo interessante desse fato ¢ o da evolugio da pressio arterial sistemica com a idade. De- vido as modificagdes do sistema cardiocirculatério, 4 observa-se uma elevacao progressiva tanto da pressio ar terial sistolica como diastoica, sendo que niveis até 159/ ‘89 mmHg podem ser considerados normais no idoso. ‘Ate fins da década de 1970, muito autores considera ‘vam que niveis pressoricos mais elevados seriam fisio logicos, constituindo uma tentativa do organismo de compensagio as obstrucées aterosclersticas, mantendo { cirtulacao dos varios Orgios. Hoje, porém, sabe-se ue a hipertensio arterial, mesmo no individuo idoso ¢ um importante fator de risco de morbidade e morta lidade cardio e cerebrovascular. ‘Algumas alteragdes observadas durante o envelhect- mento, quando muito acentuadas, podem relacionar-se om a existéncia de doencas. Assim, as placas senis ¢ a aterogenese ocorrem durante o envelhecimento normal, porem quando muito freqientes caracterizam, respec Livamente, a doenca de Alzheimer e a aterosclerose CARACTERISTICAS BIOFISIOLOGICAS GERAIS DO ENVELHECIMENTO NORMAL ‘Ja assinalamos que o organismo humano passa pelas fases de desenvolvimento, puberdade, maturidade ou estabilizacao e envelhecimento. Este, como se acha explictado em seu conceto, € caracterstcamente dinami- to € progressivo, ao se considerar que o declinio das fun- bes orgiiicas tende a ser linear em funcao do tempo, 20 se conseguindo definir o limite de transicao com a fase {que Ihe precede, como foi referido na Introducao Em vista do decréscimo da capacidade fistologica cexistente em pessoas idosas, alguns fisiologistas definem © envelhecimento como a “soma total de todas as alte ragdes que ocorrem no organismo vivo e que acarretam declinio funcional e morte.” Embora o momento de inicio do processo de enve- Ihecimento seja ainda motivo de controvérsia, a maio- ria dos autores admite que ele tem inicio relativamente precoce, aproximadamente ao final da segunda décad Ga vida, perdurando por mais uma década pouco ceptivel, quando entao surgem as primeiras alteracoes funcionais e/ou estruturais proprias do envelhecimen: to, Estas so em seu inicio discretas, aumentando pro- gressivamente, nao se evidenciando incapacidade funcional total da maioria dos sistemas orginicos. Cons tituem excecdo a regra dois Orgios — ovario e timo — ccujas fungdes endocrinas diminuem ou mesmo desapa- Fecem com relativa precocidade. Nos demais drgaos ou sistemas vai ocorrendo gradativa reducao da reserva funcional, acarretando diminuicdo da capacidade de manutenca0 do equilibrio homeostatico, caracterizado pela dificuldade de adaptacao do organismo as modi Ficagdes dos meios interno ¢ externo. Deve ser enfatizado, no entanto, como jé foi assina lado, que 0 declinio das funcdes orginicas nao ¢ unt forme; ao contrario, ele exibe grande variabilidade de comportamento quando se considera o ritmo € a mag- nitude da deterioragdo dos varios sistemas organicos. nos diferentes individuos e entre as diversas especies Capitulo +

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