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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ª VARA

DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE ______________- UF.

______________________________________ (Nome, prenome,


estado civil, profissão, CPF ou CNPJ, e-mail, endereço (art. 319, II do
CPC/2015), por seu advogado infra firmado, vem respeitosamente
perante Vossa Excelência, ajuizar:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA (cf. art. 5º, V, da Lei 7.347/85)

contra ____________________________ (CNPJ, e-mail,


endereço (art. 319, II do CPC/2015), pelos fatos e fundamentos a seguir
expostos:

DOS FATOS

A CF/88, no seu art. 155, estabelece a competência


tributária dos Estados, mais nomeadamente o ICMS - imposto sobre a
circulação de mercadorias e serviços, senão vejamos:
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir
impostos sobre:
[...]
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de
comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no
exterior;

Ainda:
§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte:
[...]
III - poderá ser seletivo, em função da essencialidade das
mercadorias e dos serviços;
[...]

Assim, fica claro, que o dispositivo constitucional citado


estabelece uma faculdade a ser exercida pelos Poderes Executivo e
Legislativo de cada unidade da Federação, de modo que caso opte por
estabelecer o critério da seletividade, fica o Poder Público sujeito aos
seus critérios, ou seja: da essencialidade ou da natureza supérflua dos
produtos a serem tributados.

Disposto este critério, tributa-se com alíquota menor os


produtos e serviços essenciais e com a maior àqueles de natureza
supérflua, por exemplo, a bebida.

Portanto, não obstante a clara opção do Estado de ____ pela


adoção do critério de seletividade, existe uma manifesta incoerência na
adoção de alíquota para energia elétrica, incidindo sobre esta mercadoria
o percentual máximo para o ICMS, qual seja ____%.

Esta alíquota fica fora da lógica tributária, vez que para os


produtos "essenciais" - "arroz, feijão, gado vivo, pão francês, ovos, leite,
etc., e os relacionados no artigo __ do Decreto n.º ____", estabeleceu-se a
alíquota de __%, textualmente justificando o texto legal que tal adoção
decorre do fato de serem tais produtos essenciais.

Perante isso verifica-se que o Estado de _____, tendo a


faculdade de aceitar ou não o critério da seletividade na aplicação de
alíquotas para o ICMS, achou por bem aplicá-lo, dessa forma exerceu a
faculdade vinculando-se daí por diante com relação ao estabelecimento
de alíquotas a esse critério.

Partindo deste princípio, percebe-se que conforme consta


do texto legal em vigor, em cujo teor se encontra estipulada a alíquota do
ICMS para energia elétrica, que tão importante, fundamental e essencial
bem de consumo, mereceu por parte do fisco estadual o mesmo
tratamento dispensado aos cigarros, as bebidas alcoólicas, etc.

Quando fora estabelecida a alíquota de __%, para pão,


arroz, feijão, gado, ovos, leite, etc., em vista do seu caráter de "produtos
considerados essenciais", o Estado de ______ exerceu a faculdade de
optar pela adoção do critério da seletividade, estando portanto, de agora
em diante a este vinculado, devendo obedecer tal vinculação quando da
estipulação de alíquota para, a também essencial, energia elétrica.

Permanecendo assim, o texto legal, com a aplicação do


critério da seletividade, é mais essencial o veículo de luxo importado, as
Asas-delta, barcos e embarcações de recreio ou esporte ou o perfume
francês, que a energia elétrica! Uma verdadeira anomalia da política
tributária!

Deve o Poder Judiciário chamar à realidade o Poder


Público, para fazer colocarem-se em seus devidos lugares as alíquotas do
ICMS.

DO DIREITO

É pacífico entre os estudiosos do direito tributário que as


alíquotas do ICMS sobre energia elétrica deve ter em conta o princípio da
seletividade do imposto, assim:
" O princípio da seletividade abrange uma seleção mínima de
impostos, o ICMS e o IPI (impostos proporcionais). Sua função é variar a
alíquota de acordo com a essencialidade do bem.
Significa que, ao se deparar com um bem de maior
essencialidade, a alíquota será menor e, pela lógica, se for o bem de
menor essencialidade, a alíquota é maior. Tais incidências são
consideradas para os tributos indiretos, isto é, aqueles em que o ônus
tributário repercute no consumidor final. Com isso, as técnicas do princípio
da seletividade visam promover justiça fiscal, inibindo os efeitos negativos
provocados por esses impostos, que tendem "regressividade".
Em palavras simples, uma "progressividade" às avessas,
uma vez que, os impostos regressivos, "quem ganha mais paga menos,
quem ganha menos paga mais". Configura-se a injustiça do sistema
tributário.
Cabe, a seletividade ser o mecanismo inibitória da
regressividade no sistema. Para deixar o sistema menos regressivo. O
horizonte é perseguir a justiça social. "
Fonte: http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/171039/que-se-entende-por-
principio-da-seletividade-camila-andrade

Ricardo Lobo Torres o princípio da seletividade “se


subordina ao princípio da capacidade contributiva e significa que o tributo
deve incidir progressivamente na razão inversa da essencialidade dos
produtos”
(TORRES, Ricardo Lobo. Curso de direito financeiro e
tributário. 13ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p 387.)
Ainda: "a seletividade significa discriminação ou sistema de
alíquotas diferenciadas por espécies de mercadorias, como adequação do
produto à vida do maior número de habitantes do país. As mercadorias
essenciais à existência civilizada deles devem ser tratadas mais
suavemente, ao passo que as maiores alíquotas devem ser reservadas aos
produtos de consumo restrito, isto é, o supérfluo das classes de maior
poder aquisitivo.”
BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. Forense, Rio de Janeiro,
1984, p 206.
"Note-se que é certo que a energia elétrica está para a
civilização assim como a água está para o corpo humano, pois toda a
sociedade atual é dependente da energia elétrica para a realização de
seus objetivos e manutenção da própria vida.
Não se trata de exagero dizer que vidas dependem do bem
energia elétrica, já que em UTIs/CTIs de hospitais, várias vidas dependem
diretamente da energia elétrica para poderem sobreviver, já que é ela que
alimenta as máquinas que dão suporte à vida do paciente enfermo, sem a
qual certamente não se sustentariam. Impossível imaginar o mundo sem a
energia elétrica! "
QUADROS, Ricardo. O princípio da seletividade no icms
sobre a energia elétrica. Disponível em:<
http://www.abdf.com.br/index.php?
option=com_content&view=article&id=2092:o-principio-da-seletividade-no-
icms-sobre-a-energia-eletrica&catid=28:artigos-da-revista&Itemid=45 >.
Acesso em: 11 out. 16.

Abordando matéria relativa a interesses difusos, justapor,


assim sendo o disposto no art. 81, § único, inciso II, do CDC:

"Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. ICMS. SERVIÇO DE
ENERGIA ELÉTRICA E DE TELECOMUNICAÇÕES.
MAJORAÇÃO DE ALÍQUOTA. PRINCÍPIO DE SELETIVIDADE.
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE PELO ÓRGÃO
ESPECIAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AGRAVO
REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I - Não
obstante a possibilidade de instituição de alíquotas
diferenciadas, tem-se que a capacidade tributária do
contribuinte impõe a observância do princípio da seletividade
como medida obrigatória, evitando-se, mediante a aferição
feita pelo método da comparação, a incidência de alíquotas
exorbitantes em serviços essenciais. II - No caso em exame, o
órgão especial do Tribunal de origem declarou a
inconstitucionalidade da legislação estadual que fixou em
25% a alíquota sobre os serviços de energia elétrica e de
telecomunicações - serviços essenciais - porque o legislador
ordinário não teria observado os princípios da
essencialidade e da seletividade, haja vista que estipulou
alíquotas menores para produtos supérfluos. III -
Estabelecida essa premissa, somente a partir do reexame do
método comparativo adotado e da interpretação da
legislação ordinária, poder-se-ia chegar à conclusão em
sentido contrário àquela adotada pelo Tribunal a quo. IV -
Agravo regimental a que se nega provimento. (STF - RE:
634457 RJ, Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Data
de Julgamento: 05/08/2014, Segunda Turma, Data de
Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-157 DIVULG 14-
08-2014 PUBLIC 15-08-2014) "

Em 03.03.2015, o Procurador Geral da República, Rodrigo


Janot Monteiro de Barros, apresentou parecer favorável aos
contribuintes no Leading Case RE nº 714.139/SC, de modo a se
posicionar pela inconstitucionalidade de Lei Estadual Catarinense que
estabeleceu alíquotas do ICMS superiores à geral a incidirem sobre
energia elétrica e serviços de telecomunicação, vejamos:
" De acordo com a recorrente, a alíquota adotada pelo Estado
de Santa Catarina não se coaduna com os princípios da
seletividade e da essencialidade, obrigatoriamente
incidentes na esfera do ICMS, por força do que dispõe o art.
155, § 2º, da Constituição Federal. [...]
A Constituição Federal dispõe que o ICMS “poderá ser
seletivo, em função da essencialidade das mercadorias e
dos serviços” (art. 155, § 2º, III – grifei). Diferentemente, no
caso do IPI, a CF determina que “será seletivo, em função da
essencialidade do produto” (art. 153, § 3º, I, da CF – grifei).
Não há dúvida de que o legislador estadual não pode
simplesmente desconsiderar a norma prevista no art. 155, §
2º, III, da CF, por conta da potestividade inerente à
expressão “poderá ser seletivo”.
[...]
Sabe-se que, embora a leitura literal do enunciado do art.
155, § 2º, III, da Constituição possa levar à conclusão de que os Estados e
o Distrito Federal têm mera faculdade de adotar mecanismos de
seletividade em função do nível de essencialidade das mercadorias e dos
serviços tributados, a observação atenta do dispositivo conduz a
conclusão diversa. É que, por mais que, diferentemente do IPI, em que o
imperativo da seletividade é mais evidente, não faria sentido tributar bens
essenciais sem qualquer critério, quando se tem à disposição marco
principiológico apresentado pelo próprio constituinte. O reconhecimento da
obrigatoriedade de aplicação da seletividade por critério de comparação é
desdobramento do princípio da igualdade tributária (CF, art. 150, II), na
perspectiva dos impostos reais e indiretos."

Agora atentemos para este trecho onde S. Exa. senhor


Rodrigo Janot nos traz um ponto fulcral do direito discutido no caso em
tela, vejamos:

" Observa-se, de plano, a desproporcionalidade entre a


alíquota geral e a aplicada à energia elétrica e aos serviços de
comunicação. Esse contraste é ainda mais nítido quando se tem em mente
que a mesma alíquota incidente sobre produtos supérfluos é destinada à
energia e às telecomunicações, essenciais ao exercício da dignidade
humana.
Nas palavras de Hugo de Brito Machado:
Essencialidade é a qualidade daquilo que é essencial. E
essencial, no sentido em que se está aqui utilizando essa palavra, é o
absolutamente necessário, o indispensável. Assim, muito fácil é
concluirmos que o critério indicativo da essencialidade das mercadorias,
para fins de seletividade do ICMS, só pode ser o da necessidade ou
indispensabilidade dessas mercadorias para as pessoas no contexto da
vida atual em nosso País.
Mercadoria essencial é aquela sem a qual se faz inviável a
subsistência das pessoas, na comunidade e nas condições de vida
atualmente conhecidas entre nós.
Assim, não nos parece razoável colocar-se em dúvida a
essencialidade da energia elétrica. A alíquota do ICMS incidente sobre o
seu consumo não deve ser maior do que aquela geralmente aplicável para
as demais mercadorias."
Fica claro que não é este caso de direitos individuais
homogêneos, mas direito coletivo ou difuso, posto que de natureza
indivisível, do qual são titulares todos aqueles que integram a classe dos
consumidores de energia elétrica do Estado de ______.

DO PEDIDO
Diante do exposto, requer:

a) a citação do Estado de ______, através de seu


representante legal, para comparecer em audiência de mediação e
conciliação, a ser designada pelo Magistrado, após audiência de
conciliação e mediação, de posse dos termos da presente demanda, abre-
se prazo para contestar, querendo, sob pena de revelia;

b) Intime-se o Ministério Público do presente feito para que


se manifeste;

c) Seja determinado a imediata suspensão da aplicação da


alíquota de __% de ICMS sobre as contas de energia elétrica, estipulando
provisoriamente a alíquota em __%, por proporção com outros bens
"essenciais", conforme acima exposto;

d) No final seja julgada TOTALMENTE procedente a


presente ação civil pública, para definitivamente estabelecer-se alíquota
idêntica a dos bens considerados como essenciais, conforme constante
do Decreto n.º _____, artigo ___, para a energia elétrica, condenando-se
ao final o requerido ao pagamento das verbas decorrentes da
sucumbência.

e) Protesta a requerente pela produção de todos os tipos de


prova em direito admitidas, caso necessário, a serem oportunamente
especificadas, sem prejuízo daquelas que seguem acostadas à presente
inicial.

Dá-se à presente o valor de R$ _______

Nestes termos,
Pede e espera deferimento.

_________________, ___de ________________de 20__.


________________
OAB/UF – N°

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