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SizrPensamento Criminologico Introdugao a Critica do Direito Penal Alessandro Baratta Diliceis Ganhos Faceis: Drogas ¢ juventude Pobre no Rio de Janeiro Vera Malagut Punicao e Estrutura Social Georg Rusche © Otto Kirchheimer luminismo Juridico-penal Luso-brasileiro Obediéncia ¢ Submissio Gizlene Neder Matrizes tbericas do Sistema Penal Brasileiro - 1 Nilo Batista Punir os Pobres; a Nova Gestao da M nos Estados Unidos Lore Wacquant A Sociedade Excludente: Exclusao Social, Criminalidade e Diferenga na Modernidade Recente Jock Youn} Criminologia e Subjetividade no Brasil Cristina Rauter ‘A América Latina € sua Criminologia SZEPensamento Criminologico Georg Rusche e Otto Kirchheimer PUNICAO E ESTRUTURA | SOCIAL | PUNICAO E ESTRL 2* Edigao Instituto Carioca de Eriminoiogia Colegio Pensamento Criminolégico Gcorg Rusche e Otto Kirchheimer PunigGo e estrutura social 2*Biligio ‘Tmadugio, revisio técnica e nota introdutsria, Giclene Neder oe & Bditora Revan 2004 SSIzZPensamento Criminologico Diregaio Prof. Dr. Nilo Batista © 2004 Instituto Carioca de Criminotogia Pua Aprazivel, 85 Rio de Janeiro - RU 20241-270 tel. (21) 2221-1668 fox (Q1) 2024-9265 cximinologia @ice-tio.org.br Edigao o distribuigéo Editera RevanS A ua Paulo de Frontin, 163 Rig de Janeiro - Rd 20250-010 tel. (21) 2502-7495 fax (21) 2273-6873 editora @revan.com.br vwwwrevan.com br Projeto gréico Luiz Femando Gerharct Revisdo Sy\via Moretzsohn Diagramagao Ido Nascimento {Hreimproesio, abide 2008 Sumirio Nota preliminar a edigao de 1939...7 Preficio a edigdo de 1939...9 jo brasileira... 11 Nota introdutéria dedi I. Introdugio ... 17 TL Condigdes sociais ¢ administragio da pena na Baixa ldade Média ..23 I Indenizagho € nga. 23 2, Desenvolvimento social na Idade Média ... 26 3.0 dlteto penal ¢ o surgimento do capitalistmo .. 31 TM. Mercantilismo ¢ surgimento da pristo.. 43 1. 0 mercado de trabalho @ 0 Estado .. 43 2. Etapas no tratamento da pobreza. $8 3.0 surgimento da ease de coregio «67 TV. Mudangas na forma da pena... 83 As galés .. 83 Origens histéricas ca deportagaio de eriminosos ... 89 3..A evolugio do sistema eareeratio .. 4 YO Huminismo: avangos na teoria do direito penal .. 109 VI Conseqiiéneias sociais e penais da revolugiio industrial ... 123 1, 0 fim da politea social mercantilista..126 2, Os efeitos do erescimento do crime na teoria € na prética penal .. 136 3, Novos objetivos e métodos na administragiio 146 4. A nova atiucle em relagho ao trabalho careerstio 154 VIL, Aaboligio da deportagio ... 161 1, Adeportagio para a Austria... 161 2. A deportagiio em outros patses 173 ‘VILL A faléncia do confinamento solitario ... 179 1. 0 confinamento solititio nos Estados Unidos .. 179 2. 0 confinamento solitirio na Europa... 185 IX, Areforma moderna do cércere e seus limites... 193 1, Aumento do nivel de vida das classes subalternas e seus efeitos. sobre a politica criminal... 193 2, Resullades e limites da reforma carcerdria .. 201 3..A Guerra Mundial. 221 4. AS condigdes do pés-guerra 223 X. A fianga na pritica penal recente ...227 XI. Novas tendéncias na politica penal sob o fascism ... 241 XIL. Politica penal e cifras criminais .. 265 XUL Conelusio ...281 ‘Muitos penalists liberais de hoje proclamam que o propésito da pena éa protecio da sociedade. Este ponto de vista pode ser conside- ado um subproduto da mudanga cultural em geral, mas est aparen- temente condicionado, num grau considerdvel, ao creseimento em iScadas recentes do conhecimento psicoldgico, psiquidirico e sucio- Iogico sobreo delito. Aqueles que sustentam este ponto de vista gos- tam de pensar pena, ou melhor, otratamento penal, como um objeto a ser enfrentado apenas a partir de uma aproximagao cientifica do problema, fia e despida de qualquer emogio. Eles pensam em teri0s dos meios pzlos quais a protegio deve ser alcengada; pesquisam as ceansas do crime de forma a tornar possfvel a remogio efotiva dos fatores erimindgenos, a reabilitagio ou a segregagio — talvez até 0 extermfnio ~dos criminosos depois cle uma avaliagao cientifica das chances ce sua reintegracao a vida social como membros Uieis & c munidade. O resultado final ~a protegio social ~ é sempre encarado ‘comum objetivo, diferente da vinganga ou da retribuigio, com das caractersticas da punigio de tempos passados e que sobreviver em alguma medida na lei penal de nossaera, CCuriosamente, falta algo na légica deste pensamento E impos- sivel contrapor “protecao da sociedlade” a “vinganca ou retribuigao". Qualquer grupo social, qualquer sociedade politica organiza impoe pena sobre aqueles que violam suas leis. Estas leis ém sido desen- ‘Yolvidas porque a seciedade em questo criou ou adotou valores soe ais através dos quais estabelece alguns parmetros pelos quais quer defender-se conira 2 agressio, Tais valores vieram a ser vistos como propiecades necessaries para a sobrevivencia social ou establidade qualquer ataque ou violagdo as regras que‘0s guardam sio encarados ‘como uma injtria a ser prevenida através da pena, cuja exeougio re- presenta ndio apenas o restabelecimento do dever ile obediéncia mas 7 constitui uma reagio de dafesa da parte do grupo contra os violadores. imoutras palavres, a protegiio da sociedade é o abjetive de toca pena ow {ratamento penal, nao importa a forma como vena & ser felta Podemos ir um passo adiante. Os valores sociais queestio sob 1 protecao da lei, as regras sob as quais atua o poder politico do Estado, pois estdo incorporadas no c6digo criminal, sto osconsiderar dos desejaveis por todos os grupos sociais dentro do Estado, que tem © poder de fazer a lei, Este fato nfio & tio ficil de discernir quando circunscrevemos nossa observagio aos Estados demoeriticas, mas é Ant, 4, Couumier de Sion, Pévolurion du doit pénal valsisan (Lavsense, 192 5 intervsse fiscal, comum is autoridades de wild Up. A aciministra- gio do direito penal, como veremos adiante, provou ser una Tonte frutifera de receita, e, até hd bem pouco tempo, mulio melhor que encargos fiscais. © pagamento daqueles que administravam a lei ou que outorgavam a outrem que o fizessem emt. sew OME era financiado pelos eustos legais imposios Aqueles sob julgamento.. ‘Muito mais que o montante envotvido, a administragdo da Justiga arrecadava consideravelmente sob a forma de confisco e de flan= ‘gas impostas em adendo (eapesar de) &s obrigagées devidass A par- te ofendida. A observagio de Holdsworth de que os direitos do rei a restituigdes e ao pectlio dos infratores pareciam interessar aos Jufzes tanto quanto seus deveres de manter a lei ¢ ordem? revela ‘principal preacupactio da adminisiragdo da justiga na época, Na ‘Toscana e na Alemanha do norte, na Inglaterra ¢ na Frangal®, 0 angariamento de recursos através da administragio da justiga eri minal foi um dos principsis fatores de transformiagiio do direito penal, de uma mera arbitragem entre interesses privados, com a representatividade da autoridade piblica apenas na posigfio de dabi- ro, para uma parte decisiva do direito publico, Holdsworth, op cit, Ill, p.242, Omesnio quadio esa presente numa contenda niencionnda no Recessa of Courien, de 14 dezembro de 1843, quanto se protesta que os governantes impunhat flargas altas € custos legais emt seus, processos, Iso € fucilmente compreeas{ve, pola prisica de divistio dos gars ‘ent 03 juzes e o judicidrios ver Graven, op. cit, p. 208-13 ” A, Doren, taleaizche Wirticleftgeschichte, I (lena, 1934), p. $77, eserevert sobre esta rolaglo: “O sistema de flangas est, ainda que num estado avangado de evolugdo, presente na administragio da fe erninal Env essay nds ainda estamos lange de muder o sistema de composigio das leis zlemas. As consideragies fiseais sio claramente perceptiveis na cidade © nos estatwtos la guilda”, Para o mesiao processo ra Inglaterra, ver J.C. Foxy The History of Contenypt of Court, the Form of Trial and the Made of Punishment (Oxford, 1927, p. 138; para a Franga, R. Garraud, Tharéridorigue e& prague du droit péual jrungais (2 edigéo, Paris, 1898), |, p. 111, Mais recentemente, Goebel, ‘op cit. p. 133, 222, 227 (nota), 228, € 236, enfatizou o cariter exclusivamente 28 2, Desenvolvimento social na dade Média No séeulo XV, a condigiio social das classes subalternas co- megou a tornar-se menos favordivel na [tdlia, Alemanna, Flandres ¢ Franga. A queda populacional causada pela peste negra em toda a aropa em meados do século XIV, com a possivel tinica excegiio da Franga, foi superada, A populagio urbana, que estava sendo reposta pelo 6xodo rural, cresceu rapicdamente. O niimero de des- validos, desempregedos e despossuidos se alastrou em todo lu- gar!!, Muitos fatores foram concomitantemente responsiveis para essas mudangas. Um fator importante parece ter sido o esgota- mento do solo eo decréseimo da colheita. Nos primeiros tempos, com uma populagio menor, era perfeitamente possivel ocupar cam os de terra virgent através da ampliagto de fronteiras ou queima Ue florestas, de modo que terras cultivadas poderiam ser deixacas em deseanso por tum longo perfodo para recuiperarem sua fertilida- de, Com o crescimento popilaeional, entretanio, as novas terras conquistaclas tornaram-se permanentemente ocupadas € 0 sistema de rotagdo em trés campos teve de set introduaid, de modo que um tergo da terra ficava em repouso. A colheita, entio, decrescea vertiginosamente, a despeito dea adogaio de melhores métodos de cultivo ter propiciado o crescimento temporiio da fertilidade. Nessaaltura, parte do queéhoje a Alemanha ocidental tormara se pastagem, enquanto grandes estados do leste dedicavam-se ao cul- tivo de grdos que eram exportados para o ocidente, através de Danzig, Isto foi possivel quando a agricultura do ocidente nao miaisatendeuas necessidades do crescimento da populagto urbana e aumentou a d ‘manda por importagiiode grdios mais baratos. Originalmente, a terra 1 leste inha pouco valor, Devido a impossibilidade de negociar seus, produtos na regifo, os senhores de teria ficavam satisfeitos em achar Dequenos fazendeinas que les pagassem uma ronda nominal pelo direito de usodo solo, Agora que os mercados estavam assegurados, porta to, a ageicultura tornou-se um negécio lucrative, A terra transfor ‘mou-se num bern valioso e fechado para os recém-chegados, TR, HL Thwney, Religion cond the Rise of Capitation (Londres, 1926), p. 86 EmFlorenga, cin 1380, 17 mild um iotal deaproximadamente 90 ail pessoas ceram dopendentes da caridade: ver G. Dahm, Das Strafrech aliens im ausgehenden Miteliaiter (Bettim, 131), p. 23. or Fire ‘A populagiio das planfcies comegou a ctescer rapidamente, com conseqiricias alarmantes!?, Os poucos espagos livres restantes fo- ram ocupados prontamente e ctescimento gradual da reserva de trabalho tomou possfvel aos senhores de terra baixar o nivel de vida dos camponeses sob sua depend&neia, As condigdes agrérins do leste foram alteradas rapidamente. No comego co sécuilo XVI, a opressio do campesinato pelos serhores chegou a exirenios inawlitos no ceste, parioularmente no sudoeste™, A situagdo das classes subaltemnas de- senvolveu-se desfavoravelmente também na Inglaterra como resul: do da politica de fechamento des eampos, que comecau no século XV, Thomas More nos diz que as ovelhas, “que eram tio mansas € ‘comiam tio pouco, comegavam @ mostrat-se, agora (..) detal modo vorazes e inddmitas que comem os préprios homens e devastam & arrasam os campos, as casas cas cidades"', A substituigflo da lavou- ra pela criagiio de gadoe o surgimento do sistema de pastagem capita lista resulsarcm na pauperizagio de vasta extersio do pa‘s ecoincidi- ram com um erescimento geral da populagio na Inglaterra, A condigfo vantajosa dos artesdos foi reforgada pela imigragao de camponeses insatisfeitos para a cidade, Era perceptivel por toda parte que a producto nto esiava no mesinio compasso do ereseiments Gapopulagde. Area pequena- populaghio numeroca, mesmo das cide des matores, nfo correspondiam A imgragiio de artesfios e comercian- tes. As municipalidades clificnltavam, sobretuido, a obtengao de cid- ania par estrangeitos, tanto quanto as guildas fechavam as portas, fans recém-chegados'®, Forgados a permancoer nas estradas, 0s diti- ‘mes imigrentes tomaranmse errantes, vagabundos e mendigos; seus bandos foram tima verdadeira praga, Nenfuima politica social consis- tente foi desenvolvida para resolver esta situagdo. Estas pessoas ti- ‘mham como tnico recurso reunir-se aos bandos de mercendios que comecavama surgi, Prfncipes e outras autoridades enzergaram neste = G. von Below. Problewte der Wirtstasgeschichve (Tubingen, 1920), p. 43, BG. Knapp. Die Rovernbefreliong und der Urspring der Landerbetter in den diteren Theilen Prewssen C.cipeig, 1887), 1, p. 43-44 "7, More, Utopia with the “Dialogue of Comfort”(Londres, 1928), p. 23. "SW, Andkens, Deutschland vor der Reformation (Stuttgart, 1932), p. 370-71 28 novo e barato suprimenta de soldados um meio de consolidagio ampliagho de seu poder, Em meados do século XV, havia unia lenta, ‘porém perceptivel, difustio de tropas mercenérias que vinhaun do sul dla Alemanha, ¢ que atingiu o seu ponto méximo em torno de 1480", CO suprimento baraio de mercendrios tomou 0s cavalleizos super fuos e retirout-thes urna parte importante de scus gathos, Alguns s0- frcram em dobro, especialmente entre os estratos micis baixos, pois 0 esgotamento do solo e ocrescimento da miséria dos camponeses ini- possibiliton que estes pagessem seus tributos. Sobretudo o cresci- ‘mento do tamanho das famnflias por geragDesa fio resultouemque wm ndmero maior de filhos jovens de casta militar nfo tivesse qualquer perspectiva de heranga, agravando ainda mais asituagio, Muitos des- tes cavaleiros heredititios sem terra assumitama lideranga la rapina- ‘gem, assim como seus stiditos estavam fazendo, em escala menor. A’ diferenga principal era que os camponeses despossuifdos tinham que rToubar abertamente, enquanto 05 cavalcitos podiant escondor suas in- tongSes sob o pretexto legttimo de fazer a guerra ou vingar as masses epauperadss pelos mercadotes ricos clas cidades que tinham “arrui- nado as massas fisicamente, economicamente ou moraimenie, & por ‘quem eles pressentiam que seriam atacados"””, Foram feitas tentativas para baixar a taxa denatalidade através da protbigio de casamentos ¢ medidas similares, mas 0 tricoresultsdo mento dontimero, decriangasilegitimas'®, A exploragio das massas depauperadas desse perfoda dew ori- gem ds grandes fortunas ceumuladas por familias como os Fuggers ¢ Welsers durantea Idade Média, Umsuplemento suficiente de forga de teabatho estava disponivel para os emptesétios dedifereates ramos da indésiria nas cidades da Baixa dade Média, Em fins doséeulo XV. taxade creseimento do capital teve curva ascendente!®, Tawney desere- %G, Steinhausen, Geschichie der deutschen Kulur (9 ecigho, Leipzig, 1920),p. 312, Andreas, op. cit. p. 289, 8, Brohneberg, Bevdlkerungstehre und Bevotkeringspotisit der Merkanuilisnas (Prankfurt, 1930), p. 17. 4, Steieder, Zur Genesis cee modenten Kepitalisrus (22 ed.. Manique, 1935).p. Vill 29 ‘ye 0 comeco da [dade Média como um tempono qual o capital era um adendo cestava aliado ao trabatho pessoal de traballiadores qualifica- dose artestios. Entretanto, no século XV, na Alenanlsa, ¢ mito antes, da Itélia, o capital deixou de ser subordinadoe tornou-se senior, As- surindo uma vitalidade separadae indepenitente, como afirmia Tawney, capital agora reclamava pelo direlto a un papel predominantc © a dicigit a organizago econ6micade acordo com seus pidprios interes ses. Essas Forgas novas deixaram intaeta a forma das instituigies ex tentes, mas alteraram seu espitito e sua pratien, As guilelas das cil des maiores, primeiramente um entrave, tornarant-s¢ wim dos insiru- mentos usados para consolidar o poder do capitalista, As rogtas de fratemidade escondiam a divisto entre seus membros, formando de um lado uma plstoeracia de mercadores escudtados atrds de barreiras que ninguém, além dos rieos artesTos especinlists, potleria superar, € de outro um proletariado depenlente do erélito ¢ do capital de seas patrOes para a sua sobrevivencia, Um protetariado, como escreve ‘Tawney, que sc debatia constantemiente entte as revoltas © @ miséria ereseente”, A totalidnde deste proceso pode ser facilmente compre endida através da leitura da histéria dos salétios, ‘A queda do nivel dos seldrios ilustra as mudangas sociais da époee, ou seja, o desenvolvimento ca fonna de proxtgoe do sistema social capitalista, e a opressao dos assalariados tirbanos erurnis’!. As *Tuwney, ep. city p. 86. Doren, op city J p.660, tem urna visio muito prixinna das condigdes existentes nas cidade italianas deste perce, ©. auior também desereve as corporagdes como uma fackada ¢ instrumented politica dos emprogadores, Subliha que o proletariado estava sufocedo pela impossibilidade de abter 4s matérias primas e os instrumentos de trabalho tanto por lel como pefos proprios pages que admit (8 tmabalhadores sem concedor-lhes nenhum tipo de ditvito em sua condigto de membros; 0 proletariado ficou conirofado pelo Estado, decidchimente tun Estado classisia que atuava come protetor dos interesses vinculados As {grandes camporagBes capitalists; permeneceu sujeito &s restighes lenis em seus direlios de associagto e, por fim, impedido de inelliow sun condigio através dos moins logtis, F. Rorig, Die eurepitische Stat, Propylien Welteeschichte (Berlim. 1932). I semelhante sobce as cldades flamengas. 217, Somerlad. Zur Geschichte der Preise, Handwarte Stoatswissenschaften (4 ed., Jena, 1925), VI. p. 1.037-55, 20 uch der tee pesquisasde Beissel, Wiebe e outros indicam queos salfrios reais diminu- {am de um fndice de 100, no perfodo compreeridido entre 1450. 1499, aunt fadice ded8 no perfodo de 1550. 1559. Jf nessa gpoca ovortem conflitos considerados caracterfsticosdo século XIX: greves por aumen- to de saltios, boicotes de operitios eZock-outspatronais™, (0 descontentamento entre os pobres da cidade e docampo alas- trow-se durante o século XV. Uma desenfreada liberdade de expressiio possibilitou que se tomasse conscineia dos defeitos do sistema soci- al, Esurpreendente, pergunta-se Huizinga, que as pessoas pudessem ver seu propria destina e o destino do mando apenas como uma sti- cessdo de males sem fim, quando.nds conclu/mas pela prevaiéneia de aus governos, extravagincias, cupides © violencia por patie dos podlcrosos, guerras e bandoleirismo, escassez, misériac pestes?™ 3. 0 direito penal ¢ 0 surgimento do capitatismo A intensificago dos conflitos sociais em Flandres, no norte da Ttdlia, Toscana e no norte da Alemanha, que marcow a transigfio ao capitalismo entre os séculos XIV e XV, levow Aetiagio de leis erimi- rigitas contraas classes subalternss. O erescimento cons- centre setores do protetariado empobrecido, sobretudo nas grandes cidades, tomou necessirio s classes dirigontes buscar novos métodos que fariam a ndministragZo ds lel penal mais efeti- va. O sistema de penas, com seu regime duplo de punigfio corporal e fiangas, permaneecu imuldvel, exceto, no entanio, pelas diferen- tes aplicagGes da lei, feiias de acordo coma classe social do conde- nado. Variagdes no tratamento de categorias diferentes de delitos ¢ delingiientes tomaram-se mais pronunciadas. Os acordos privados 2Schmolle, ep. city If, . 295, De ecorde com on efleutos de Lamprocht, a variagdo dos gankios de um carpintiro por voltn cle 1277-84 era de 3.43 9 de prata; houve um erescimento entre os anes de 1344-45 para 6.84 gs Finalenen‘e a queda por volta de 1468, quardo beicow a 3,20 g.,¢ em 1497 esteve em tomo de 2,50 gs ver Someriad op cit p. 1.042. 28, Blelschowsky, Die sozialen und dkonomischen Grandiagen des modernen gewerblichen Schlichtungeesens und seine Bedeutung fir de seung der sozilen Frage (Beem, 1921, p30. J, Huizinga, The Waning of the Middle Ages, trad. F. Hopman (Londres, 1827),p.21. st nas disputas envolvendo etos desonestos, tais como o furto, nao foram mais permitidos. Inclusive o direito a asilo nao mais se apt cou nestes casos, Isto nao significa que toda forma de delito con- tmappropriedade cra visto como um ato desonesto. A desonestidade nfo era considersda pelo Angulo da propriedade furtada ou avaric- da, mas pelo Angulo da situago da pessoa que furtou ou danificou: Otiatamento era mais severo pari tm crrante ou alguém de baixo status social, Como firma Radbruch, consideragées sociais ou mo- rais se eruzavam?s, Como a maiotia dos criminosos pertencia as classes subalternss, a palavra “vilia”, originariamente aplicada 20s, membros de um classe social especifica, passou a indicar um jul- gamento de inferioridade moral, Esta distingZo apateceu claramen- teem Gandinus, ao escrever que a poena extraardinaria deve ser doterminada pelo juiz, de acordo com a natureza do delito e do delingilente (secundum qualitatem delicti et person Quando se trata de uma questi de danos & propriedade pra- ticados por algum membro das classes dominantes, a concepgio legal nfo € t4o severa. Um conjunta de leis e praticas jsdiciais tao antigas quanto a Clagspiegel estabelece que devem sor feitas ne- goclagdes no sentido de se chegar a acordo ein casos criminals, inclusive para aqueles que prevéem apenade morte”, A concepsio de feudo oferecia uma cobertura legal para quebras da paz ou para o roubo das classes dominantes, Qualquer que seja a discorcancia que *Radbruch, op, cl, p. 21. *Gancinus, Tractaues de malefciis, ed, Hercsann Kentorowiez, in Albertus Gandinus uns das Strafrecht der Scholastik (Berlin e Leipzig, 1926), Il, 347-48; of. Dahm, op. cit, p- 23-28; H. Gwinner, Der eiyuss des Stades tr ‘gemeten Strafresoht (Bresiau-Nevkirch, 1934), p, 18-21. Clegipiegel, edited por Sebastian Brant (Strassburg, 1538), artigo 131 R. von Bippel, Desasches Strafrech: (Beilin, 1923), 1, p. 128-29, confirma feste proceso, bastante conhecido de todos os histotindores do direito penal. O autor afirma que a parte prejudicada podia chegar a um acordo com 9 ofensox, rnesino acs casos ex que 0 delito esteja passivel de puniglo pelo dielto crimfaul, através do sequetimente de Uva compensagsu sen Jevar 0 caso a um tribunal. Mesmio unia pessoa que jf estivesse sentenciada polas autoridades piblicas podia compencar a parie prejudicnda e desta maneira evitar a punigfo, 2 exisia hoje em dia acerca dos campos de aplicagéo dos autigos 128 ¢ 129 do CédigoCriniinal de Carlos V,conternplando a litigiosidade feu dal ¢ a rebelio, é certo que o diteito propiciow um vasto campo de :municede para atos que seriam painidos severamente se praticadas por membros de classes inferiores™, A cctiagfode uma lei especifiea para combaterdetitos contra a pra predate era uma das prinoipais preocupagces dabarguesiaurbanaemer- _gente, Onde detivesse omonopeilo da legistagio e jurisdigdo, la insistia neste ponto com muito forga, Von Bar refere-se.ao sangue frig e Ausra dda burguesia da Alemanha do stl, para quem a propricdide significava tudo®®, Esta burguesia inclusive tentou restringir o direito de acordos privados para os litgios feuds, Isto, entretanta, ndo foi possivel, ¢ as, Classes domiinantes continuaram a recetser tratamento prefereacial para lum grande ctenco decrimes, inclusive os delitos contra « propriedade. Na FFranga, também, foi a burguesia quem sempre tentoe obter da Corca luota intensiicagto do sistema ce repressio, Desde 1353 ela protestava ‘contra 0 excessivo uso da prerrogetiva real do perdio, Em 1576, nos Estados Geraiscle Blois,o'Tesceico Estado reivindicou nd somenteniai- (res gerantias nos procedimentos em relagfo a scus membros mas tam- bém mais energia na perseguiglo a assassinose Iecrées. O eapituta 105 da Ordenagio do Reino (de Blois) atendet aessa demand prevendo a lesnissiio de !tzes e de oficiais de jastiga, bem como um sistema de fianga contra vildes culpacos de negligéncia no cumprimento de suas ‘obtigagdes, Ocapftulo 108 abolix o dieito real de analar sentergastelat- {as prerrogativa real do perio para nobrezae gatantis que os tribu- nis deveriam ser comp2tentes para lidar com os pediclos de perc Para © estudo das diferentes interpretagies, ver R. E, John, Landcwong Wd widerrechaliche Drohung (Gistinges, 1852); Gwinser, op. cit, p. L60- © valor atribuido ao direita de conduzir um feudo ¢ fundamentado no de que as pessoas que nio possuissem tal dirsito transfer anda para um membra da nobroza, enenrregindo-o de representé-Ins ‘Gwinner, op. cit, p. 161 (nota). Odiceio de conduzir uma feadoé mals urn Jigglo de classe do que um estado de privilégio, desde que seja passivel jos que sio capaces de exerce-lo, ou Sela, todos os bem situados, 1. Yon Bat. A History of Continental Criminal Lave, trad. T. S. Bell 1916), p. 110-11 para todos os detingitentes™, O direito no perio, que nfo leva em consi- dderagio as cirounstincias especials de cada caso, iso 6,0 grau de culpa foi amplamente exercido polos principes, ¢ consttulu wn tipo de antfdeto contra 0s excessos do sistema petal eit vigor. Nio € éiffel supor que essa pritica, nfo baseada noexaine racional dos fatos implicados no exso ¢ Treqllentemente influenciada por interesses espeeicos, foi malvista para classe média emergente, quelutsva porniiorestailided ¢ racionaliza- {iodo governo, So relstadoscasos conto 0 do Duguede Borgona, que perloou um comerctante ent 1418 baseado no foto de que ele era um ‘bom comerciante que fornecia mereadorias aodugue, eaquem o duque devia uma soma considerivel de dinbeiro%, A demanda burguesa pelo aumento dacficiéneia na administragio do dizeito era largamnenteestiniu- Ida, por outro lado, pela crescente central trago nas ris de uma buroeraci, inluenciada pelodieitoromeno™, A ficnga evoluitide uma compensagao a parte prejudicada para win melo de enriquecimento de jufzes ¢ oficiais de justiga. Na prética, era reservada aos ricos, enquanto 0 castigo corporal tornou-se a punigla pata 0s pobres. Quando o erime ereseia entre at massas, as diferencia- ‘g5esna punigfiotomavam-se mais marcantes™. A mais importante das 3 Commentaires sur tes Ordinances de Blois éiablies aux Brats génére convogués en la ville de Blols par Henry de Valois 111, MDLXXIX (G* edigio, Lion, 1584), p. 313-18 2, Pregnant, La condition juridique du bourgeois de Lille en droit crininel a> X1Weme siécie (Lill, 1929), p. 182, Yer tamibeui C, Deyeste, Yor der Gneale lin dewschen Recht (Gettinge, 1910). = Uma progressive racionalizasio, assim como restrigdes no exerofcio da prorrogativa real do perdio, foram recomeacadas por Junius Brutss, por exernplo, em seu Defence of Liberty agains Tyrants, od. Harold J, Lesiki (Londres, 1924), p 153-54. > € von Schwrein, Grundalige der deutschen Recitzgeschichte (Marigue, 1034), p. 195, acertadamente frisa esta conextc: “a dircito criminal medieval deinhia un cacéter especial nio pola alteragic do sistema de punigio, mis polos varingSes ena sun eplieagio, A composigéo herdada dos francos fol em Targa medida substitufda pelo castigo corporal, Isto, juntmenie com o sreacimento da importéneie etibatda & dissuasto na puniglo e com 0 aumento eral dncenselécle no direto penal, foi levando, até o fim da Made Média, a ur onto de selvagetiae brutalidade incudito”, Para o aumento do endurecimento Po ‘codificagées do século XVI, 0 Peiiliche Halsgerichisontnung, de ‘Schwarzenberg, sancionava este processo, Apesar ée sustentac um tini- co sistema geral de punigio capital e corporal. os seus artigos 158-1 de muita relovancia pratica, que idavarn com o furto, abriram as portas para a compreensio da situagfo social do dclingtlente. O temo elirbar (honesto) usado nestas segdes do Cdigo, tem roccbido interprotagées uito divergentes™. Dificilmenteo problema pode ser resolvido por urna Imerareferéreiaao texto do Céigoou ainda por fonteshist6ricas. NAb if “Wivida ce queaprética atual Lascou-se mais em concedes de classe do ay julgarnento moral. A liberdlade de escothaentrecastigo corporal ¢ ica deve ter contribusido para esse processo, A severidad dos regula. tos contra a vadiagem, que encontramos em todo o século XVI, la claramenteainterpretagao mais difundida éaidéiade honestidade. A purda difecenciagao generalizada entre as classes, que iornava oAcesso As fiangas oura9 castigo corporal simplesmente depentlenteda eapacicade lo prisioneiro de pagar, havia em vérios pafses privilégios advindos da prdem feudal, dividida em estacos, Certos eastigos eram dlescartadlos para certos estados (clero e nobreza) e substtufdos por outros, ou eran Aplicedos com modificagdes para membros dos estados supetiores, Te- Jemos oportunidade de retornar a este ponto*S, Mais importante do que Lsses privilégios los estados, enttetanto, 60 privilégio obtido pela posse Tiquezas, a possibiidade, om muitoseasos, cle substtuira penacapital 0 castigo corporal por fanga ou, nos cascs mais graves, pelo baniniento%, Destarte, enquanto aqueles que tinham recursos suficientes para, i estavam aptos a comprar a liberagao da punigio, delingtlentes punigio, ver K. Metzger, Die Verbrechen wid dive Straffolgen ia baster oh des spitien Minelaters (Basitin, (931), Parte I, p. 53. ee difernies inerpatgton, vr G, Redbruc, Die peinliche sordnung Kaiser Karis V. von 1532 (Leipaig, sid); Gwinner, of pean sprig, si.): Gwinner, op. piginns 99.6 147, fines, op. cit, p. 35 (nota), também admite que a diferenciagto de classe li peten generac pois difcencingio ete on elas no exnin livos os lugares, Nao ht duvide de que o benimento geralmente resltava Jrivilégio adicional para es classes alias, mas ert uns poucos cases as classes subeltemas, quenito dirham meios (isto 6, grande maiorie)cramimpotentes para porem-se a salvo do tratamento sevoro a que eram submetidor. De Jonge, o maior nimero de crimes era agora contra a propriedade, cometidos por aqueles que naa tinham propriedade elzuma, demiodo quedificilmente uma fianga atingiria estes casos.O exirio nada peda irar-lhes, como Schmidt sublinkou"”, O autorsugere outa razéo para esta rmudanga importante na politica criminal, afirmando que “tomou- se uma questio de sama importincia acabar com os bandos de vega bundos, mendigose ladrdes que estavem se toraanlo uma prage para ‘terra, De um canto a outzo, as comportas se absiziam ¢ despejariam uma nova exanradh pestileta, inancando olodagal do ezime"**, Quanto mais empobrecidas ficevam as massas, mais duros eram os castigos, para fins de dissuadi-tas do crime. O castigo fisico comecou a cres- cer consideraveimente por todo 6 pats, até que finalmente tomou-se nfo apenas suplementar, mas a forma regalar de punigio. Bxecugio, mutilagzo c agoites nfo foram introdusides através de uma mudanga revolucionéria repentina, mas gradualmente seconverteramemregra no interior de uma situagao que se transformava, Com o passir do temipo, a punigiio tornou-se mais severa, menos suave’, Haviaa teo- tia de que a punigdo devia ser suave em caso de ckivida, mas tais tendéncias humanistas ro encontravam aprovagaio na pritica. Ao con- trério, travou-se uma guerra aberta entre a Legislagio ¢ a ciéncia em rmatécia de punigio®, ‘A logislaggio era francemente contra as classes subaliernas. Mesto quando procecimento criminal como tal era o mesma pars adusu» *R. Schmidt, Die Aufgaben cer Seeapreckasptege (Leipzig, 1895), pp. 182-83, pid, p. 227. Ibid, p. 183-64, Esse deserwolvimento pode set facilneate tragado wa varinga dda punigio por furto e roubo, entre os séculos XIIL e XVI, Emborn em Sion (Suga) o fiurto acompanhado de violencia fosse punido, em 12: nulla de 60 Tibmas ¢ a reparagio do dano, © um Furto sem agrav: panido em 1269 com ursa finngn menor e a reparagdo clo dno, o8 artigos 158 159 do Peinliche Gertchussoxdwatg, le Carlos ¥, da sgculo XVI determinava ‘apena capital para o reubo, gem considers 9 mortante cle propriedsde roubeda, fe panto furlo sem agravances determinava carcaa, agoites e danlmento; ver Graven, op. cit, 9.52 Deh, op. eit, p- 301 estartos eclasses, rapidamonte apareciam procedimentes especiais que iriam afetar apenas as classes subslternas. Assim, como aponta ‘Schmidt, havia um ponto queaantiga justiga arbitriria niio pode aba- lr, perseguigHo aos detinguentes hebituais das classessubalternes, A simplifieagfio do procedimento nos casos em que 0 prisioneiro foi apanhado em flagranti delicte permitia 0 isolamento de umactasse de foras-da-lei para os quais as previsdes legais, tais como aconsidera- fo da gravidade do crime, nfo podiam ser plenamente aplicadas Exccugio, banimento, mutilagio, marcagdo a ferro e agoites acaba vam meis ou menos por exterminar wma gamade transgressores pro- fissionais, de assassinos e ladrdes a vagabundos ¢ ciganos. Com 0 rnimero creseente de criminosos profissionaisentre as.classes suba temas na Baixa Idsde Media, essa justign arbitréria, de acordo com Schmidt, tornou-se cada ver mais difundida e produziu uma transfor- ‘magio profunda em toda a administragiio da justign criminat!!, AtGoséculo XY, a pena de morte ¢ a mutilagto grave eram usa- das somente em casos extremos, para suplementar 9 complicado ‘cuidadosamente diferenciado sistoma de fiongas. Entretento, agora fessas penas tornavam-se a medida mais comm. JuCzes spelaram @ las sempre que estivessem convencidos de que o réu era perigoso paraa sociedad. O crescimento extiaordindrio do mimero de sen- fengas para pena de morte ao longo do século XVI € bastante co- hlhecido, Os dados da Inglaterra, que devem estar aproximedamente “corretos, fomnecem-nos a idéia da situagio no resto da Europa. nformam que aproximadamente 72 mit leraptos toram entorcados Wrante orcinado de Henrique VIN, ¢ que sob Elizabeth vagabun- Mos eram pendurados em fila, mais ou menos de trezentos a qua- centos de uma vez. A populagiio da Inglaterra estava entéo em imo de apenas trés milhdes de pessoas*?. O carrasco de Nur , Franz Schmidt, executou 361 pessoas durante seus 44 anos servigo (1573-1617), ¢ infligia castigos corporais em apenas 5, ‘Tanto as cifras absolutas em relagtio ao total da populagio hid. Die Sirafrecasreform Im threr staatsrechtichen nd shen Bedenuing (Leipzig, 1912), p. 185-86, écwlo XVII, extores reiatam com hoeroressa priticn erucle inefica lin Henelius, Tractus politicus de Acrario (Berlitn, 1670), p. 335 37 quanto o coeficiente entre a pena capital eo castigo corporal ofe- recem uma indicagto significativa de preponderdincia da severida- de na punigio", A pena de morte adquiriu um novo significado; rio era mais o instrumento extremo destinsdo aos casos mais gra- ves, mas um meia de tirardo caminho aqueles individuos alegada- mente perigosos. Neste tipo de procedimento, deu-se pouca aten- ‘¢Ho & culpa ou inocencia do suspeito, como pode ser obscrvado a partir do pronunciamento de Reichskammergericht a0 Paslamento de Lindauer, em 1496, de que pessoas inccentes eram condenadas, A morte sem uma causa justa, “Mesmo os métedos de execugio tomaram-se mais brutais. As autoridades estavam corstantemente inventandlo novas maneiras de fazer com que a pena de morte fosse mais dolorosa®®, A substituicie das diversas formas de matilagdo peta pena de morte dificilmente pode ser visiacomo uma medide atenunate, jf que a matilagioservia geral- mente para identifiear os eriminosos, com o mesmo sentido dos demos arquivos ctiminais. Entre as mutilagdes encontramos aperda das mos, de todos os dledos ou das falanges, cortes cu extraciio de .2ua, olhos, danos aos ouvidos e castragio®, A par do softimento ceavolvido, cra muito diffeil para qualquer um punide desta maneira ‘achat um emprego hionesto novamente. Ele seria forgedo.a voltar para ‘0 caminho do crime e acabarin vitima de uma medida da lei mais, dura”, Muitas vezes a mutilagtio prodizia um arremedo de hormem, ¢ frequentemente provocavaa morte da vitima. Quainde a lei preserevia somente amutilagio, entretanto, um desfecho fatal era registradocomo “causa natural”, O exilio, uma forma comum de punigio neste perfodo, fteqilen- temente representava um destino muito pior para as classes subal- temas do que se pode imaginar, Com o exilio, escapava-se da mor- ©, Hampe. Crime and Punishment in Germany as llustrared by the Nureiberg Malefactors Books, trad, M, Latis (Londres, 1929), p. 138. * J, Nagler. Die Strafe (Leipzig, 1918), p. 135-37. © Hippel, op. cit, I, ps 157, cltando Rau. Sid, 1, 135, © HL, von Hentig. Punishment: its Origin, Purpose and Psychclogy (Londres, 1937), Capttulo 1, “The Byolucton of Punishes, p. 17-116. a te nacidade natal, mas, muitas vezes, as galés esperavam 0 sen- tenciado onde ete deveria se refugiar. Exilio para 0s ricos, entre- tanto, nfo era uma punigéo muito severa, Significava viagem de estudos, o estabelecimento de um brago de regSeios no exterior, ou mesmo servigo diplomético para a cidade natal ou o pats de origem, coma perspectiva de um breve e glarioso rezorno*®, Todo o sistema penal da Baixa Idade Média deixa claro que no havia escasser. cle forga de trabalho, pelo menos nas cidades Come o prego da mao-de-obra baixou, a yelor zagtioda vida hama- na tornou-se cada vez menor. A luta renhida pela sobrevivéncia moldow o sistema penal de tal forma que ¢s:e se constituia num dos meios de prevengalo de grandes erescimentos populaciona Yon Hentig corretamente aplica a idéia de selegio para o sistema penal, mostrando que o sistema agia como um tipo de terremoto artificial, destruindo nqueles que as classes altis consideravam ina- dequados para a sociedade®, Na Baixa Idade Média, quicm nilo podia esperar por um desti- no favorfvel que Ihes tirasse de suas condigées miscriveis vivia numa atmosfera de opressio, iritagio, inveja, taiva, ddio e deses- pero. A superstigio era comuint ¢ a perseguigio as braxes atingiu proporgdes epidémicas, As classes subalternas desafogavam a fu- ria c a dor nos representantes dos poderes sobrenaturais na Terra, ou seja, naqueles que eram suspeitos de lidarem com “magia nc- gra" O crime de bruxaria paderin ser nada alm do que una alti- buigtto de certos poileres que a aparéncia pessoal, os habitos ex- cbntcicos owas blasfemias confirmavam, Mas os bruxas eram perse- guidas nfo apenas pelas massas que thes atribufam desgragas de toda sorte, mas também peles nutoridades, quo eram, sera divvida, sinceras em seu 6dio e medo do sobrenatura e viam neste novo dio das massas, provavelmente num estado nebuloso de semicons- “HL Knapp. Das alte irnberger Krininalreckt (Derlin, 1896), p. 82, Quanto Metzger, op. cit. p. 101, ackou 9 exitio mais doloraso aera 68 ci para os vagabundos e prositutas esirengeiros, ele pusioy por ci de que bf cidadios pobres ¢ cidacites ricos, Hlontig, op. sit, p. 131. é a I EEE... eee cigncia, um meio de desviara atengiio das responsabilidades que Ihes ceaberiam, como representantes do porter", Os judeus também eram alvo de uma perseguigio coga das mas- sas, Fossem eles ricos ou pobres, parecia Sbvio que deviam ser, em alguma medida, responsabilizados pelo empobrecimenta geral, especi- almente por suas atividades relacionadas a empréstimo de dinheito. Posteriormente alegou-se que os judous, por terem receptaclo propri dades roubadas, encorajaram e em parte propiciaram a epiclemin de ladroagem que caracterizou esse periodo. As vitimas do dectfnioceo- nOmico nio se podia cobrar que percebessem as verdadeitas causas do crime, e os judeus erain uma dtima vatvula de escape, Sobretudo alguns membros do clero ¢ das classes dirigentes em geral eleram eré- endas correntes de sacrilégio e ritunis de morte, produzindo, uma desculpa adlequacla para 0 Gdio velado que irrompia de tempos em tempos como perseguigtio organizada’? Crimninosos fors-da-lei, mais que as bruxas ou os judeus, eram as presas legitimas para quelquer desojo a ser sntisfeito com requintes de crueldade. A grande varicdate de punigdes prociizia as compense- g5es, As massas que acortiamn para as exccuydes estavam constante- rente dvidas por novas emogdes, Huizinga relatoda que os cidadios de Mens compraram por um peogo bastante elevado wn bardoleiro somente pelo prazer de vé-1o esquartejado, ¢ comenta sobre brutali- dade do civertimento primitive nesses espeidculos™, Acreditava-se offciatmente que a punigto péblica produzia um feito dissuasive. Os ledeGes eram freqiientemente penclurados ¢ queimados de forma que tados pudessem vé-tos e temer um destino semelhante®, No todo, o sistema era substantivamente uma expressio de sadism, ¢ o efeito Adissvasivo do ato piblico era negligenciivel, Esta a razslo por que a 9 Steinhausen, op. cit, p. 416; J. Hansen, Zauberwahn, tngudsiiion wid Hexenprozess im Mittelalter und die Kntstehung der grossen Herenverfolguorg (Munique, 1900), p. 506, * Ver exemplos em J, Marcus, Etudes médico-tégales du meurtre rituet (Paris, 1900), p. 15-18, © Huizinga, op. cll, p. 15, Nagler, op. cit, p. 131 (nota), 40 imaginagfio mais mérbida de hoje tem dificldadeem deserever a vati- dade de torturas infigides, Lemos acerca de execugdes por faca, machado e espada, cabegas sendo golpeadas com toras ou cortadas com: arado, pessoas sendo queimadas vivas, deixadas a morrer ce forme emt pores, ou tendo espinhos cravacos em suzs cabegas, olhos, om- bros ejoethos, esirangulamentoseasfixianientos, sangramentos ¢ des- vyisceramentos até a morte, estiramentos do corpo até o esquarteja- ‘mento, oriura sobre aroda, tortura com pingas incandescentes,cleseo~ lamento da pele, corpos serrados em pedagos ow atravessados com ferro ow instrumentos de madeira, gueimaduras na estaca © muitas outras formas elaboracias dle crueldade, Nao € de se estranhar que praticamente todos os crimes eram punfvels com a morte, € que a questio vital era a maneira pela qual a morte sori infligida®*, Podemios encontrar qualquer uma dessas cenas na pintura da Epoca. Quando Jeronimus Bosch, Peter Brueghel, Grunewald ¢ outros artistas pintavam as torturas tenebrosas ¢ sous mértires, estavam te- produzinclo fatos corriqueiros, condicionaclos pela religidioe pela ten- dencia estéticn. Até mesmo os lileres religiosos contemporiineos tra- tava pequenas faltas com o espfrito da adiministragao penal, Lutero, porexemplo, dizia quea mera execugdo nifo era punigto suficiente © (queos legisladores deviam perseguir, golpear,estrangular, dependurar, queimar e torturar as miassas de todas as maneiras. O uso da espada era um dever sagrado do governante. “A milo que segura a espada € estrangula niio é tao-somente wma mio humana, mas anitio de Deus, Nao € 0 homem, mas Deus que pendura, tortura, decepa, cstrangula ¢ faz a guerra,.."85, ‘Thomas Morus cera vez perguntou: “Que outras coisas fazes, além de fabricar ladies para cntio puni-los?”®5, Este comentitio lacénico mostra como ele entendeu que o sistema penal constitula pattede umefreulo vicioso, mas tal clareza era excepcional. Huizinga ‘SVja o elenvo de punigbes usades no século XVIIL na Franga en D. Joussée, ‘Traité de ta justice eriminelle en France (Patis, 1771), 1, p. 39; K. F. Rossbirt, Geschichte wd System des deutschen Strafrechts (Stuttgart, 1838), 11, p. 13. SsRetirado de P. von Hokzendorff, Das Verbrechen des Mores un die ‘Tadesstrafe (Berlim, 1875),p. 221. » Morus, op. cit, p. 26. " observa que a Idade Média pouco conhecia das idéias que traduzem, noss0 sentimento timid e hesitante de justica:dividas sobre a respon= sabilidade do criminoso, a conviegiio de que a sociedade é até certo onto ctimplice do individuo, o desejo de reformarem vez de infligir dor e, podemos acrescentar, o medo do erro judicial. Huizinga tem. certamente raziio, embora haja usado excessivamente. 0 critério do liberalismo do século XIX", istoriadores tém discordado em suas avaliagdes sobre a lei cri= ‘minal nesse perfodo. Alguns aceitam a posigio das classes ditigentes ¢ desculpam sua severidade considerando que medidas drésticas foram necessitias até o fim da Idade Média para ocombate a uina criminalidade insurgente. As autoridades, argumentam, foram obrigadas a conter 0 crescimento dos bandos criminosos e a garantir a lei e a ordem a qualquer custo; estavam, assim, justificadas quando adotavam a for- ma mais cruel de execugtio®®, Outros crimindlogos condenai os mé- todos medievais como estipidos e equivocados. Acreditam que a his- {6ria da punigdo 6 uma grande extensio da hist6ria da irracionalidadee ‘erueldade humana”, Contra a primeira ordem de observagdes, tem-se apontado que ‘uma tal politica criminal alcanga relativamente pouco sucesso. Ela retira os fora-da-lei, os mutilados e os queimados de suas casas e da sociedade de gente honesta ¢ 03 joga na rua. A prépria lei ajudou a cengrossar as fileiras de criminosos em potencial, que mais tarde co- :metero varios dos pequenos desvios que se tornaram muito comuns®, O segundo ponto de vista inadequado. A punigio brutal nao pode ser simplesmente atribufda & crueldade primitiva de uma época, agora abolida. A crueldade mesma é um fendmeno social que apenas pode ser entendido nos termos das relagées sociais dominantes num dado perfodo* ea I, ed air nial * Huizinga, op. cit, p. 16, His, op. cit, 1, p. 12 €70; Nagler, op, cit, p. 130-131. 2M, Liepemann. “Der Strafvollzug als erzichungsaufgabe”, Reform des Sirafvotlzuges, ed, 1. Freede e M. Griinhut (esi e Leipzig, 1927), p. 5. Hippel, op. cit, p. 158 “Ver Max Horkheimer, “Egoismus und Freiheitsbewegung. Zur Anthropologie des burguerlichen Zeitalters”, in Zeitscrift fiir Sozialforschung, V (1936), p. 161-234, rr TL Mereantilismo e surgimento da prisio 1. mercado de trabalho ¢ o Estado Os métodos de punigto comecaram a sofrer uma mudanga gradual e profunda em fins do século XVI. A possibilidade de ex- plorar o trabalho de prisioneitos passou a receber crescentemente mais alengio, com a adocio da escravidao nas galés, deportagao e servidio penal através de trabalhos forgados; as duas primeiras or um certo tempo, a terceira como precursora hesitante dle uma instituigdo que tem permanecido até o presente. Algumas vezes elas apareceram simultancamente como sistema tradicional defi: angas e penas capital e corporal; em outras, tenderam a substitur- lo, Essas mudangas ndo resultaram de consideragées humanitérias, mas de um certo desenvolvimento econdmico que revelava o valor potencial de uma massa de material humano completamenté posigéo das autoridades!. Osurgimento de grandes e prosperos setores urbanos criou uma demanda crescente por certos bens de consumo. A estabilidade da Mancoux, op. cit, p. 29-32. Em Brandenburgo-Prissi, era principalmente 2 indstia text que recebia a ajuda do Estado. 0 governo providenciava tudo, cesde as instalagdes até trabalhadores; ver as ordens reais coletadas nas Acia Borussica, ed. Schmoll e Hintze, I Berlin, 1892), especialmente ‘uma ordem de 21 de agosto de 1754 (n° 359) na qual a Coroa anuncia 0 pagamento do testante de um débito devido por um certo Schnitzer, rmanufatureiro de seda, com a expectativa de que ele corresponderia através da dedicagio a conduzie seu préprio nogécio com zelo erescente. Na Austra, Becher obteve uma coneesséo ¢ subsfdios gerais para a sua Manugokturhaus no Tabor (Viena); ver H. Hatschek, Das Manufakturhaus cof dere Tabor in Wien (Leipzig, 1889). 53 aaa errs pre procurou manter estes tiltimos em posigao de dependéncia™, ‘A emigragio de trabalhadores era vigorosamente proibida pelo Estado. Um decreto francés de 1669 estabelecia 0 sequestro e 0 con- fisco da propriedade do trabalhador emigrante, eum sitimo decreto de 1682 ia mais Tonge, introduzindo a pena de morte aos emigrantes € aprisionamento ao incitamento& emigragtio™. Por outro lado, as con digdes para os imigrantes eram as mais favordveis possiveis. Cada pais vigiava ciumentamente seus proprios trabalhadores especializados e tentava atrair trabalhadores de outros paises. Em torno de 1786, nio ‘menos do que um tergo dos habitantes da Prissia era composto ou de imigrantes ou de descendentes de imigrantes*® Becher censurava os homens do governo que tentavam limparo pats dos pedintes, uma vez que toda a forga de trabalho humana devia ser usada pelo Estado, Ble inclusive advogava a imigrago de mendigos”. Justi foi mais longee 7 Leases Hine et aes ue fd Vndntric on France «avant 1789 (2%, Pasi, 1901), 1, p. 789: ver também Sombart, op. et, 1,2, 0, Ve penn sbltar que age tame encom arse forga de trabalho em virios Estados Os sali na Prissa, por exemplo, eram to altos que os proprieiros de terra evitavam contatartabalhadors lives, intensifcando a exploragio dos arendatiis. Estes, por sua vez, aspravam it para as cidades e os proprietiios revidavam fortalecendo a servidio. Grn: dalige der neuren Wirtschafsgeschichte von 17 Jalrhundert bis zur Gegen wart (fed, Leipzig, 1925), p.35. Num primeiro momento, quando uma cranga ccamponesa estava apta 20 trabalho, o senbor simplesmente tinha 0 dircito & primeira escolha, mas, progessivamente, a servidio tomou-se compulsria © © periodo era determinado pelo senhor: ver Sieweking, Wirscyisgeschichie Gerln, 1935), p. 105-6. 0 Allgemeines Landrechtprussiano (Parte T, Tuo 7, pardgrafo 185) permita 20 senhor tomar as eriangas de seus pais tomi-las ras em sua cote. CondigGes similares si descritas para 0 caso da Inglateea or Lipson, op iI p31. es a ® Sée, op itl, p243, CE. ligemeines Landrechts, Pane I, Talo 20, para fo 148, que preve a punigto de quatro a oito anos de piso ou Festungshart para agueles que incitassem ou ajudassem os encartegados das fabricas, empregadores ou wabalhadores a emigrarem, M, Sering, Geschichte der preusssch-deutschen Bisenzille von 1818 bis sur Gegenwart (Leipzig, 1882), p.2. "Retirado deM, Adler, Fabrikund Suchthaus (Leipaig, 1924), p62, Sssmileh, op. cit, I, p. 406, agumenta no mesmo sentido, rgumentando que nos paises onde esa exist no pasado ou onde sida exis ea espesado um grande valor aos homens. 54 argumentou que um Estado que desejasse promover 0 crescimento de sua populagiio devia ser um asilo para todos 08 oprimidos e perseguidos de outras terras, e que jamais um refugiado devia ser desprezado, Uma tal politica, ele dizia, nao é contréria & justiga, pois é bem conhecido o fato de que o édio, a vingangae o espfrito de perseguigao freqtientemente levavam a falsas acusagies. Mes~ ‘mo que 0s crimes fossem hediondos, ¢ por isso no pudessem ser perdoados, devia-se tio-somente oferecer provas claras sobre eles eas novas autoridades poderiam administrar a justica para os refu- giados", 0 Estado tabetou salérios méximos para conter a alta dos pre- ‘gos da miio-de-obra, resultante da livre competi¢tio no mercado de trabatho. A politica salarial era orientada pelo principio de que um pais nilo poderia tornar-se rico se nao dispusesse de uma grande ‘quantidade de habitantes empobreeidos forgados a trabalhar para sair da pobreza. Esse ponto de vista foi reforgado pela teoria eco- ndmica da época ¢ todas as propostas de reforma eram baseadas na idéia de que a populagao s6 pode ser obrigada a trabalhar quan- do 05 saldrios estiio baixos. Mandeville diz: “Quando os homens mostram uma extraordindria inclinagio para 0 Gcio ¢ o prazer, por que razio nés pensarfamos que cles sempre trabalhardo, a nao ser gue sejam obrigados pela necessidade?*” Esperava-se outro in- centivo ao trabalho através do queda do salério real eausada pelo aumento dos pregos. ‘© cumprimento dos regulamentos fabris tornou-se um pro- blema muito importante em fungdo da escassez de forga de traba- Iho, especialmente da qualificada, Introduziram-se leis especificas para controlar as atividades do trabalhador, desde suas preces matin fis do fim de dia, Até mesmo tentativas de regular sua vida privada, tendo.em vista protege-lo de situagdes que poderiam afetarsua produ- % Justi, Grundfesten, 1, p. 240. Mandeville, The Fable ofthe Bess, ed. FB. Kaye (Oxford, 1906) 1, p. 192. ‘Situagbes similares podem ser encontradas em Sissmilch, op. cit, [, p. 132 sta € a tese desenvolvida exaustio por Witt, Petty, Temple e outros, de {que um certo creseimento do prego dos bens de primeira necessidade como tum estimulo ao trabalho nao era indesejével 55 tividade ou disciplina’®, A produtividade do trabalho era baixa, ¢ as

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