Audição José Adelino Maltez

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Audiéncia parlamentar de 20 de abril ‘José Adelino Maltez! [Ni él de almar nada Ta dee pormaner cio n uarinwidee fo sani) naar Ee rei abs condi de ama patel rine tr nica mei dew eign gu eed a rir ress de “ido srt cota mo sit, pla fps do siti, mas 0 pilar mais oe da ens sr wu ala. Ti sina dea come slo ge, acide mii, sila conden. Acinic Ramos Ross, O Aprende Excelentissimos senhores representantes do povo portugués! Se eu quisesse, aqui, declarar formalmente, pela palavra de honra, 0 meu registo de interesses morais perante um poder soberano do Estado, seria impossivel formalizar o facto piblico e notério de me assumir da Maconatia, dado que essa qualidade s5 aos meus irmios cabe reeonhecer, dado qne, por no haver Cancordata com tal entidade sagrada € iniciética, ela no pode, por enquanto, ser formalmente conhecida pelo diteito positivo portugués. Nem sequet tet o ptivilégio dos cultos que se integram na liberdade religiosa, ficando, assim, apenas protegida pela liberdade de ‘consciéncia, apesar de ser formalmente reconhecida pela Comissi0 Europeia ¢ pelo Conselho Econémico € Social da ONU, como "Ange Venlo Unive, fi Grande Ono de Gite Dict do Grade Oriente Las, fad con 1802 Pei candidat Gio este da meme fede de bj Membeo funda da Lo ‘Simoes Combe eInke “evel no Capi Norton de Mato, dene de una poten soa. Innis, de 104, ged 20 Grande Osente Lntane por made Autor de dovataw Sob ‘SSoniso puumarnco, ede dis fos de ecola de pachae magna Lara Pig os © Paar Digr Na organizagio Silosdfica, antes do niilismo vigente passar a ser moda que até a podem desrespeitar. Digo antes que sou sécio do Grémio Lusitano, a primeira pessoa coletiva formalmente reconhecida pelo Estado portugués, desde 1879. E digo mais: fago parte de uma seccio, de que sou um dos fundadores, a qual nio segue 0 sito dominante no Grande Oriente Lusitano, mantendo o da fundacio da ordem, em 1302. © que foi restausado nos finais do século XX, depois de ter sido abolido intemamente em 1938, para agradarmos is maconatias anglo- saxénices. Vou tentar falar em nome de meus irmaos Joaguim Antinic de Aguiar, Antonio Augusto ds Aguiar, Antinio José de Almeida, Joio Domingos Bontempo e José Fontana Nos abundantissimos quinze minutos que a rep:esentagio popular me concedeu para ser ouvido, com todo 0 respeito © muita hones, sobre duas injungtes propositivas de nova letra da lei para cada um dos titulares de catgos politicos, logo reparo que, numa delas, tem de se confessar a meniio da filagio, partcipario ow desempenbo de quais quer Jingles em quas quer entidades de natureza assoctativa (PSU). Noutro quer fazer-se a lista das associates ow orgamizartes que exijanm aos seus aderenes a prestago de promessas de fidldade on que, pelo seu seretiomo, no assegurem a plena transparéncia sobre a participagio dos seus atsociados (PAN) Mais ligeiro é ainda o sumétio, até desta audiéncie, sobre projetos de Jezislagio que determina a declarato da fliagio on liga a oranges ox casociagies disertas, revelando, infelizmente, 0 que futuros Jnvestigadutes hiv declarar won 0 «al epiite da hi, que € v labéu de tramar aquelas entidades que, segundo 0 calio jomalistico, nio sia secretas, mas discretas, dado que no conseguem traduzir 0 conteido de associapies inciticus. Apenas me apetece repetit que ambos os esbogos quase repetem 0 que inconstitucionalmente jé esti previsto para os membros dos nossos servicos sectetos: tém de indicar a filiagao, pariipagio ow deserpenbo de quaiiquerfungtes em quaisquer entidades do naturesa assciativa, Isto €, corremos o tisco de promover todos 0s cidadiios da repiiblica, de passar a membros honoritios de uns funcionais servigos secretos, antes de haver a cesejada intervencio daquele direito europeu que nos pode livrar de leis que padecem de grave conformagio genética. Vou tentar falar em nome de meus irmiias Camilo Castelo Branco, José da Silva Carvalho, Jaime Cortesio, Manuel Maria Barbosa du Bocage ¢ Fernando Martins de Carvalion Senhotes representantes do povo portugués! Nao hi sociedade, mas sociedades. A tinica realidade € 0 individuo © os sucessivos complexos grupos que aquele vai gerando e que compéem a dinimica desta caldeira de égua a ferver que é caraterizada por um equilibrio instivel e 2 consecuente balanga de poder. Até 08 poderes estaduais, em que comungam os executivos, os legislativos e os judiciétios, so apenas um modo dinimico de gerit constantes crises Esse processc de ajustamento entre grupos que procuram o méximo de felicidade para o maior mimero, onde a utilidade sempre foi a propriedade ou tendéncia que tem uma coisa para prevenir um mal ‘ou procurar um bem, Nenhuma lei pode obrigar a uma fotografia estitica de uma ficha de declaragdes, dado que sé um cinema tridimensional nos aproximariamos da verdade da vida, Seshores representantes populates! Cada grupo, formal ou informal, sno é uma maisa fisica separada, em que cada um se fia ou se associa, smas uma masta de atividades, dado que cada homem, corao set livre 4 procura da felicidade, participa, ao mesmo tempo, em varias massas de atividades, xcm necessidade de flliagio ow de declarasio. Entre o individuo ¢ os soberanos, pablicos ¢ privados,jé nio hé corpos intermediéros ou corporacdes, como clementasestruturas da vide da nagio, Esses que jé estiveram verticalmente submetidos a um principe, 41 um bispo ou a um grlo-mescre, Hi uma pluralidade de centros de decisio e urna infinita rede de micropoderes que quebram, todos os dias, a abs:tacio da relagio direta entre 0 individuo e o Estado, entre o privado e 0 publico. As que no cabem no interestadualda cooperacio ou no suprastadual da integracio, mas antes no largo espago do sransestadual ou do ‘ransnacional, onde © que esti, internamente, antes ¢ abaixo do Estado circula cada vez mais em rede a0 lado dos Estados e nos préprios intcrsticios dos inesiios, Porque hi mesmo politico, ou civilidade, antes do Estado, abaixo do Estado, acima do Estado e ao lado do Estado. Até nesse espaco da liberdade individual pode haver o sonho de uma «smopolire de uma pila de inion. © tal objetive expresso por Gotthold Ephraim Lessing de sapere entre os homens as divisoes suscitadas pela exdstindia do Estado ¢ dos Estados, mas sem prejudicar 0 Estado e os Estados. Até jé ultrapassam fronteiras ¢ mapas politicos € estio apenas sujeitos a articulagdes laterais © verticais, com sucessivas ordens juridicas, das maconatias aos partidos, dos clubes de futebol As redes sociais, entre o estadual, o supra-estadual e, sobretudo, a /atere do Estado, esse que se pretende como sistema de sistemas e institicao das insttugGes. Estamos todos numa nova balanca do poder, incluindo a da propria globalizasio que nos pretende mercadejar Vou tentar falar em nome de meus irmas Manuel Fernandes Toms, Cardeal Saraiva, Ferreira Borges, Sarmento Beirs ¢ Broers. Claro que apetece repetir 0 que disse um grio-mestre da Magonaria, Norton de Matos, quando cla foi pretensamente extinta por lei formal. Teve que esctever a0 Ministro da Guerra, em 22 de maio de 1935, dizendo, de tio triste: debe desde hoje de ser grito-mesire dos Magonaria Portuguesa ede pertencer a uma associagao que, em obediéncia a uma Iki do Estado deivca de existir. Felizmence que os bens da associagio foram devolvidos ao legitimo proptietirio em 5 de maio de 1974, até porque nunca o Estado podia cextinguir algo que nio fazia parte do direito positive, o Grande Oriente Tnsitano Unido, como entio se chamava por extenso até 1984, mas antes uma entidade profana, essa sim de forma associativa, dita Grémio Lusitano, uma assocago de instrugio ¢ rerio, visando um passatempo honest, instrutive« cviligado Sem ser por acaso, é a primeira pessoa coletiva do direito portugués que foi auiorizada, ex 23 de suio de 1879, isto & uma persoa moral conforme a terminologia da época. Aquela cujos bens pela lei n® 1950, de 18 de fevercito de 1937, foram legalmente assaltados por uma pessoa de niio-bem, a Lego Portuguesa. A que destinou o principal templo, o de José Estevio, a um salao de festas, com éivulgagdes em jormais, sob o retato de amigos de entio: Hides, Mussolini e Francisco Franco, Contudo, raramente se refere, que no tocaram noutras pessoas coletivas participadas pelo Grémio Lusitano, como n Liga Portuguesa dos Dircites do Homer, 0 Asilo S. Joo, a Escla-Oficna »* 1, 01 a Assoiagio dos Vellos Colomas, Npenas as Gizeramm definhas, mas tesistiram. © requinte de ridiculo chegou em janeiro de 1938 quando mmandaram extinguir as associagdes locais do mesmo Grémio, também ditas Grémios, porque poderiam confundir-se com ‘organismos corporativos. Ea principal razia aconteceu até em Angola No vamos agora contar a histéria, mas antes a desilusio dos ‘magons quando tentaram o apoio de britinicos e norte-americanos € até emitiram uma reforma interna em 24 de abril de 1958, visando a aproximagio aos modelos da Grande Loja de inglatera, com o desaparecimento do tito fundador da magonaria portuguesa, dissolvido na entidade teista organizadora do Rito Escocis, Antigo € aAcite (1), a exigéncia, em sessdes de um Livro da Lei Sagrada (2), com a invocacio do Grande Arguiteto do Universo (3) ‘Até as vinte © uma lojas ainda vigentes subscteveram uma nova constitui¢io da ordem, mas nao valeu de nada. A razao da guerra ea razio de Estado de Londres no cumpriram o prornetido e disseram que a Maconaria Portuguesa teria antes de ser reconbecida pelas autotidades portuguesas. Isto é as mesmas que a tinha extinto roubado. Vou tentar falar em nome de meus irmidos Miguel Bombarda, Silvestre Pinheiro Ferreira, Jose Esteviu, Adelaide Cabete ¢ Anselmo Braarcamp. ‘Com efeito, a Magonaria nfo faz parte do ius in ciitate positum, dado. que apenas sabe lidar com simbolos e experiéncias misticas. Nada tem ver com 0 cidadio, mas apenas com o individuo que Ihe serve de suporte ¢ fim, Tern a ver com a raga bumana, € nio com a abstracio estadual € as nespetivas relagdes juridicas e jurispmadéncia dos conceitos. Actesce que eu proprio, além de ser cidadio da Republica Portuguesa, também sou formal cidadio europeu, representado pela bandeira simbética das doze estrelas, ou da perfeicio, onde as maconarias tiveram um papel construtivo, bem representado pelo magom Jean Monnet ou por René Cassin, este no desenho da Declaracio Universal dos Direitos dos Homem. Allis, foi este parlamento que abriu a nossa constituigio & penetracdo imedata do direito europeu € do dircito cosmopolitico, aceitando o principio segundo o qual o Estado esté acima do cidadio portugués, participa numa cooperativa de soberanias europeia, mas aceitando o principio de que o homem esta acima do Estado. Allis, eu proprio no tenho partido portugués, mas faco formal parte de um partido europeu e niio sei se o teria de ceclarar se quisesse exercer um cargo piiblico interno. Além disso, no exercicio da minha dimensio simbélica, poderia até ajudar a fundar uma loja que se integrase numa obediéncia turca, russa ou nip6nica e nao sei como 0 poderia declarar. Vou tentar faler om nome de meus irmios Tomis da Fonceca, Estonia Armarante, Carolina Beatriz, Angelo, Luis Nunes de Almeida e Brito Camacho. Bastaria enunciado anterior das propostas de lei em comissio para no ter que dizer mais nada sobre a ligeireza dos textos, dos seus preficios, da propaganda piblica e da literatura de justificagio partidocritica que se Ihe seguiu, prenhe de feria da conpirazio Com efeito, os arsiculados, agora em anilise, nfo padecem de animus injuriandi, nem visa sequet extinguir certas _associacoes, nomeadamente a Magonaria, expropriando-lhe os bens, para depois, 1 instalarem os servigos de que o principal inspirador do projeto se tome diretor, Padecem de alguma ignorincia, de certo fanatismo palavroso, de ‘outta tanta ignorincia e podem produzir erros graves, principalmente -quindo pegam em palavtdes argumentativos de mau uso corrente, sobretudo a nivel do calio jomalistico, e os passim cliusulas gerais ‘ou indeterminadas como assodagio secrta que se diz discreta ou a ‘perigosa palavra obediénca, lida algures num diciondrio escolar, ou na gramética de estilo da transpartncia, da verdade na ¢ cma que pode ‘veacer os mantosdidfanas da fantasia. Claro que nfo sio diplomas contra a Maconaria e certas ‘congregacdes. Longe disso! Mas é clarisimo que nascem de suspeitas ‘infundadas ¢ os senhores parlamentares podem cair na espatrela e até nno ridiculo perante a histéria, tanto do direito enzopeu como do Alireito cosmopolitico. Por mim, confesso que nio sou gramitico ou dicionarista, embora seja amante € cultor da literatura, principalmente da simbélica, Mas vou tentar ser muito simples no meu taciocinio. ‘Mas nfo venho aqui como arrazoador e defensor representative ou. oficioso de qualqaer uma das organizagées que possam sentir-se lesadas com as intengdes veladas e as consequéncias de falta de tipicidade do normativo proposto. Prefiro recordar-me que fuijurista ¢, uma vez jurista, jurista para toda a vida, incluindo as tarefas que tive como docente de Histéria do Direito e de Filosofia do Direito. Vow sentar falar em nome de meus inmos Antinio Enes, Dias Amado, José Gomes Ferreira, Carlos Malheiro Dias ¢ Ramada Curt. Como salienta Silva Fetrio: o meio sini de impedir que as sodedades soretas tomemsimportincia politica €0 de se governar com justca ¢ com equidade, de se protegerem todos os direitas do homem, €0 de renunciar de uma vex por todas «0 absolutism ostessivo ou dlsfarzado ((P. A. P. da Silva Fersio, Teoria do Direito Penal aplizada ao Cédigo Penal Portugues, volume VI, Lisboa, Imprensa Nacional, 1857, p. 57). Em segundo lugar, ou dar ds sociedades secetas toda a considerasio, permitindo, insinuando mesmo que as pessoas mais influentes na governanca do estado, ¢ mais amizes da ondem piiblics, se afilem ¢ tomem a diregio descas sociedades, quando benificas¢ inofensivas, on nao lbes dar importancia alguma, permitindo-as francamente, sb com a obrigasio de se fazer declaragao, perante a ‘autoridade priblica, do objeto, do local, tempo, organizagao ¢ nomes dos diretores das mesmas sociedader.. (SF, 57). Vow tentar falar em nome de meus irméas Manuel Borges Carneiro, Dias Arado, Keil da Amaral, Vasen da Gama Fernandes ¢ Avila e Bolama. Senhores representantes do povo portugués! O direito nio & apenas aquilo que Vossas Exceléncias podem transformar em sigenfe, como comando. O direits tem que ser norteado pelo sid, pela cabega dos valores, ou do dever set, pata, depois, se transformar em gfag, isto é, ‘num facto social. ‘Tem que ter a aileps no mundo ideal, o ono na cultura ¢ os és no mundo sensivel. A /ex (0 espfrito) precisa de Jogos (de filho), para se ‘tomar numa ordo(n0 pai), numa ordo amons dircito existe para ser realizado e precisa de uns sistensa cons ust cdupla abertura: para a realidade social e para os valores. Precisa da virtude clissien do direito, dita phroncris, em grego, ou prudentia, em latim. Precisa de razio como discurs> l6gico (lage) € de experiéncia moral (¢hns). Até em termos juridicos, s6 acedemos substancialidade do ser através da subjetividade de conseiéncia. Nio ha direito se no houver uma idea de direito, pelo que este s6 para o valor e pata o facto social se realiza, E, um vigerte que tanto requer set hgtime como sex eft ‘Sbassim a dacdeixa de ser um papagaio de papel. Quando se transforma snum dever ser que é, numa espécie de transcendente situedo (Os projetos em causa podem resultar numa espécie de desincentivo A pitticipacio polidca, contribuindo para que a atividade politica seja deisada para os castos do écio ¢ eventualmente controlada pelos negadores do écio. A clefantiase legiferante, nomeadamente sobre bagatelas processuais & uma perigosa deriva que far diminnir 0 valor da lei, especialmente quando ela nio reconhece que toda a ragio tem um horizonte sobredeterminado por uma crenca por im universo de signicastes sacraligadas (Paul Ricoeur). Essas parcelas de um imaginirio que, através de um investimento inicial, projeta uma hierarquia. 0 Hoje ja ninguém diz como a nomofilia de Saint-Just que o legislador fax.a repiblca, com 0 patlamento transformado no Monte Sinai, onde 6s deputados fingem que so Moisés a dar voz ao que alguns julgam set a sarga ardente, Ja nfo dizemos que a lei tem as mesmas potencialidades dla razio € 0 poder judicial € a boca que pronuncia as palaoras da ki (Montesquieu) Vou tentar falar em nome de mes irmios Conde das Antas, Carvalho Aras, Join de Barros, Sirdes de Almeida, Aurtlio Pas, dos Reis ¢ Ciindido de Olkveira Desenganem-se também os que pensariam que iria cair no habitual logro do académico, do que pensa ter contactos diretos, imediatos € de primeiro grau coma ciéncia e trata de macar os profanos auditores com citagées ¢ bibliografia, caindo no ridiculo de se considerss, por isso, um erudito que fala de cétedra para uma planura de auditores no iniciados nos mistétios da epistemologia. Os senhores representantes da nacio nfo estio para atunr um, excerto de aula cafda do céu neste palanque. Descansem que ro vou também exercitar-me mama prancha ou pea de arguitetura como as que tenho feito no espaco sagrado das lojas macénicas, porque jé as publiquei quase todas em livros, incluindo uma espécie de dicionatio magénico. ‘Também nao tenho crenca em nenhuma religiio revelada e, apesar de estar no Convento de Sio Bento da Satde, ele apenas tem passos perdides, mas j& nic claustros e sacristas. Prefiro mais recitar 0 Lior do Desassossgo de Bemnatdo Soares, que nunca existiu, a nfo set quando Fernando Pessoa 0 conheceu na sobreloja de uma casa de pasto de Lisboa. ry Ou entio nessa bbblia da liberdade e do simbélico do século XX, como A Gidadela de Antoine de Saint-Exupéry, onde se sintetizou: nao ‘hd neste mundo que no soja esencialmente cerimonial...ve no fundares no tew império um cerimonial dos homens, eles morrem para oessenial¢ nao passam de pedras ao Deus dari. A tua al’va alimentase do sentido das coisas ¢ rao das soca, Si através de nm cerimomialcomrgues commeizar. Se cada pda se encontra no se lugar e seve o temple, entio sb conta o siléncio que delas nace, a oragio (qe lis forma. Vou tentar felar em nome de meus irmas Barros Queinis, Antero de Quental, Angelo de Alicia Ribciro, Norton de Matos ¢ Fontes Dersna de Meb, ‘Venho apenas apelar & vossa humildade de pascantes, num tempo pos-soberano ¢ pos-legiferante. E_ recordat-vos que foram Vossas Exceléncias que transformaram a presente Constituicio num sistema bert para cima, para o dircito supra-estadual, © para baixo, para a concreta dinimica dos movimentos vivos da sociedade, Por outras palavras, de acordo com a nossa lei fundamental jé vvivemos uma cooperutiva de soberanias, cnde a chamada ordem interna tanto é o direito portugués como a ordem eutopeia e certa imperfeita ‘ordem intemacional, cosmopolita ¢ humanitirla, a que outrora chamaram diteito das gentes, ou direito das nagéee. ‘As exceletissimas € reverendissimas leis portuguesas se autolimitaram quando admitiram controlo jurisdicional das ordens supta-estaduais onde nos integrimos. Por isso € que importa reler Fernando Pessoa, quando este, insurgindo-se contra 0 brocardo salazarista do tuo pela nagio, nada contra a nagdo, proclamou o que s6 agora compreendemos: O Estado «sé acima do cidadao, mas 0 homem esté acima do Estado, n © problema, alids, é felizmente pior para os velhos soberanistas do. legalismo fechado: cada um dos cidadios portugueses, jé € cidadio curopeu ¢ a ordem europeia tem leis proprias e instincias judiciérias que podem anular cettos preceitos portugueses, incluindo as leis emitidas pela prép:ia Assembleia da Repiblica, nomeadamente as que infrinjam a Convengio Europeia dos D:eitos dos Direitos Humanos. Além disso, & precavido notar que, mesmo a nfvel do pouco que testa a0 soberanismo, 0 que é legal pode ser declarado inconstitucional ¢ que a i esta submetida a0 rif, tal como este depende de uma ordem maior, a da justca, ‘Mas, senhores representantes populares, pior ainda é quando ni se tepara na propria histéria do direito portugués contemporineo, principalmente nos fracassos que pretensas boas intengGes legislativas € que confessam, no préptio sumitio, a ma intencio de extinguir, liminar ou comprimit coisas mistetiosas, nomeadamente a ‘maconatia, Deixaram o rasz0 de ftacassos nesses normativos que hoje soam a tidiculo ¢ apenas serve para elevar & eternidade quem literariamente se Ihe ops, para estomar os reaionirios portugueses ent um dos seus maiores mais just prazeres — 0 de diger asneiras (Fernando Pessoa). Falo do alvari de 30 de marco de 1818, de Toms Anténio Vianova Portugal, um dos iltimos sinais do absolutismo. Falo também da Carta de lei de 20 de junho de 1823, a da viradeira antivintista, onde se amaistiaram os membros das ditas sociedades secretas € se suprimam as mesmas, sujeitando os mais teimosos a degredo temporicio, munca supetior 2 cinco anos, depois da Vilafrancada de 1823, eda ctiagio, em 5 de dezembto do mesmo ano, 13 de uma junta expurgatéria para a universidade, onde foram despedidos 14 docentes e 37 alunos, por serem macons. Falo até do discurso da frustrada Abrilada de 1824, se desencadear tum golpe de Estado falhado que visou: esmagar duma vez a pestilente cla dos pedreiras Hires. acabando de vex com a infernal raga magénica antes que ela acabe connasc Falo também do Cédigo Penal de 1852, uma traducio em calio do cédigo espanhol, onde no artigo 283, n° 1 se gongorizava: ¢ illcita e nao pode ser autorizada qualquer associagao cyjos membros se impuserem con Ljaramnento, on sem ele a obriggao de ocultar & antoridade publica 0 objeto das suas rennides, 04 a sua organizagio interior Do mesmo modo, segue-se 0 artigo 283 do Cédigo Penal de 1886, sobre qualguer assciagio, jas membras se impuserim, om juramento ou sent ea obrigaio de ocultar @ autordade publica o objet de sas reunides om a sua organiza interior. Ou, entio, a famigerada lei de Santos Cabral de 1935, a da nova ~vitadeira antimagénica, por acaso a primeira lei formal do regime da chamada Constituigio de 1933, 0 texto que, por nao existir, dado ser revogado de facto no proprio primeiro dia da sua vigéncia por um decteto com forca de lei, deve ser mais justamente chamada ditadura constitucional. Segundo tal Lei n.° 1901 de 21 de maio de 1935 — art® 2, alinea b): so coniderados sereto(a (...) aguelascajossiios se ixpombam por qualquer forma « obrigacio de ocultar & autoridade publica, total ou parialmente, as -manifestaies da sua atvidade socal u No Alvari de 30 de marco 1818 jf se reconhecia o excess de abuso a que tim chegado as coviedades seretas que com diversas nomes de Ordens, on Associates, se thm convertde em comventicuos ou conspiragies contra o Estado, E pata tanto, usava-se o meio da morte natural e crue com confisco de odes 0s bens, Quase todas essas disposicdes, apesar de se terem tornada niente, além de invdlidas, nunca foram efcazes. Foram do diteito positive, do ms im cvitatem pasitum, ds postura, sobretudo das ditadaras da legalidade e da ditadura constitucional que se Ihe seguiu, das posturas ¢ da impostura, isto é, tiveram a cobertura do monopélio da violencia através da coagio, dessa anti:razao dita ao serge da roggo, mas nao sairam do Ambito da nigio de Estado, nunca ascendendo ao Esiado-razio, Vow tentar falar em nome de meus irmos Rodrigues de Freitas, Rafzel Bordalo Pinheiro, Mério Cal Brandao, Anténio Macedo e Raul Rego. Primeiro, porque quase todas essas disposigdes da arqueologia estadualistica contemporinea, nunca compreenderam que 0 direito € pluralista, que ha concéntricas e excéntricas ordens juridicas que nfo coincidem com a ordem estadual, ou com a ordem supra-estadual, Porque mesmo que estejam obtigadas ao cumprimento das leis do Estado se situam 20 lado do Estado, practer legem e niko contra lgem. Fica mal ao Estado intrometer-se nos dominios cue pertencem apenas as adesdes individuais, como 0 diteito magénico, ou ao dircito. canénico, mesmo quando se estabelece a falicia de éecretar-se que em matéria de onganizagdes religiosas catdlicas ral pertence Aquela 15 segio do diteito dos tratados a que demos o nome de direito concordatitio, Vow tentar falar em nome de meus irmaos Alexandre Hereulans, Almeida Garret, Tegjilo Carvalho Santos, Nuno Rodrigues dos Santos ¢ Emiio Guerrtrs E delicado que Estado, nomeadamente o poder legislativo, se relacione com uma ordem dita e assumida como inicitica, dita constitucionalmente cosmopolita ¢ humanititia, wna oniem universal, _filesificae progrssva, fundada na tradicao inicidtca, obdecendo aos principias da fraternidade ¢ da inlencia ¢ constituindo uma alianca de homens lies ¢ de ‘bons castumes(astigo 1° da Constituigao do GOL) (© Estado © os seus agentes, sejam deputados, policias ou :magistrados, nunca conseguiram captar essa ordem que, desde antes le Jesus Cristo, lida com antigos mistérios, mesmo «ue estes revistam forma ritualista do Huminismo, Isto € uma ordem iniciética, porque a ransmissio dos seus conbecimentas se fax, pelo exemple. pela transmissao das seus mistéro: de iniciado para inciado, ire dircito de associagao ¢ de reuniao é um direito sagrado, 6 um dircito natural do home em sociedade, & um direito conttucional. Reprimir ou proibir 1 xxw por causa do abuso € em si marma sum abucn do poder FE. prnenie a possibiidade de um abuso com a reaidade de outro abuse. Se 08 povos € 0s individuos tém 0 dever de nao ofender os divits da sededade, também a sciedade tem o deverdeofenderos direitos dos cdados (SE. 53). Antes. dos direitos da sociedade estio nos individuos as dirsitos do. seu _pensamento, vntade ages, consideradestsoladamente ou 20 comuntcagio com a ua familia, cm os seus amigos comm os seus parentes, ¢ com oxtros indviduos a ‘quem os arrastam a analogia de pensar, de obrar ou de interesse; foi para protger 6 endo para oprimiresesdiritas que a ordom pidbica soil se acha institnida (SP, 53). individuo nao ¢ coisa da sociedade, a socitdade & que é coisa do indviduo, como salientava Alexandre Herculano, Vou tentar falar 221 nome de meus irméos Jost Elias Garcia, Sidénio Pais, Dague de Loulé, Camilo Pessanba, D. Antinio Alves Martins e Grandela. Claro que os heterénimos da Maconaria Portuguesa, para efeitos da ordem estadual ¢ no mbito das competéncias tipificadas do Estado € do seu direito positivo, nfo podem em nome da histéria contemporinea, modema ¢ antiga, assumir os privilégios da extratetritorialidade, mesmo que tenham a sede aa velha Travessa do Cotreio Mot, onde 0 Palicio Macénico, que jé foi expropriado pelo Estado, nio é propriamente uma embaixada do transcendente. Por outras palavras, o Estado portugués que obrigou a Maconaria a ter uma faceta profana de pessoa ccletiva, cor mimero fiscal e registos do géners, iguais aos de todas as outras pessoas coletivas, tem. © poder e o dever de nela entrar em todos os dominios das respetivas atribuigdes, nomeadamente em matérias fiscais e criminais que esto sob a algada do Grémio Lusitano, E As vezes, com certa razio, nomeadamente quando conspiraram para a Regeneracio iniciada em 24 de Agosto de 1820, extinguiram o ‘Tribunal do Santo Oficio, obrigaram os miguelistas & Convengio de Evora Monte, fizetam a Rotunda do Cinco de Outubro, ou 0 25 de Abril de 1974, Vou tentar fala em nome de meus ities Alfredo Keil, Sebati de Magalhaes Lima, Tito de Morais, Vitoino Nemésio ¢ Viana da Mota. v Alma é 0 que nio se mediating ¢ a antobiografia é rom lngar de segredo, cconforme Peter Sloterdiik, em © Extranhamonte do Mundo. Espreitem Jacques Derrida ¢ Maurizio Ferris, 0 Gasto do Seoredo, 1994, Excigir que se fapa sai tudo a praca eno baja foro txtimo, é je fager-se otalitiria da demooracia. Uma democracia que nao tome a séio 0 principio dr iberdade tria que poder aceitar que no bd nada néo pregramado, nada nio aegulade, que deva ter ai o seu lugar, ser discutid e vatado, Leiam Mafalda Blanc, em “Esoterismo, Humanisno e Filosofia”, no

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