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a SND eee a Ne aN it MAIO * JUNHO= JULHOISS N° 57 R$ 7,50 ds | PRE oS we Feuerwerke Vv ec acu i THURS Revista Tedrica, Politica de Informagao Diretore Jornalista Responsaval Joz0 Amazonas Editor Olival Frore Jr. Comissdo Editorial Olival Fr Pedrode Oliveira ‘José Carlos Ruy Walter Sorrentino Edvar Luiz Bonotto Concetho Editorial do Ararta Bernardo Jaffily Fernando Pupo Haroldo Lima Holenade Freitas Jomorais, José Carlos Ruy José Reinaldo de Carvalho Luis Femandes Luis Paulino Luiz Manfredint Madalena Guasco Olival Fite Jr. Pedrode Oliveira Rogério Lustosa (1949-1992) Umberto Martins Walter Sorrentino Colaboradores or Silva Altamiro Borges Ana Maria Rocha ‘Ary Normanha Carlos Pompe Clévis Moura Guiomar Prates Luciana de Souza Bento, Luiz Marcos Gomes Loreta Valadares Secretiriode Edigze Edvar Luiz Bonotio Edigao de Texto Vania Zeballos Digitagso: Sandro Valeriano de Oliveira Maria Lucilia Ruy ‘Administragae e Distribuigao Divo Guisoni Assinalures Claudia de Medeiros Editoragdo Eletronica Limiar Assesscria em Comunicagées PRINCIFIOS é umapubiicagaocs Ecitora Anita Ltda Rua dos Borores, 51 -Teandar 01920.020 836 Paulo-SP Tel,: (011) 605-8150 N D C CAMINHO FALACIOSO Comissao Editorial OBRASIL CAI NA (DO) REAL Alon Feuerwerker GOVERNO FHC: Luiz Marcos Gomes EM RECUO, SEM COMPOSTURA E SEM VOLTA DIAGNOSTICO DA CRISE BRASILEIRA César Benjamin REFORMA POLITICA PARA AMPLIAR OU RESTRINGIR: ADEMOCRACIA? Aldo Arantes DOCUMENTOS As reformas econdmicas de FHC OS SENTIDOS DO NEOLIBERALISMO. Luis Fernandes GENERO, TRABALHO E POBREZA: PARA ALEM DOS DIREITOS IGUAIS ClaraAraijo GENERO, TRABALHO E SINDICATO Unido Brasileira de Mulheres ¢ Corrente Sindical Classista AFLOR PROMETIDA ‘Suocomandante Marcos. AHISTORIADO TRABALHO NO BRASIL AINDA NAO FOIESCRITA Clovis Moura AILHA DAS ILUSOES Luiz Carlos Antero GUERRILHA DO ARAGUAIA: UMA HISTORIA QUE NAO ACABOU Romuaido Pessoa Campos Filho MOVIMENTO SINDICAL E ANARCO-SINDICALISMO Edgard Carone RESENHAS: Capa: quadio de Jodo Camara Fito, Fiiendy Persuasion, 1970 Centra-cepa de Fidvio Nigro sobre foto de fclogrelo do exérato sovisticn, a 33 7 4B 49 54 59 65 v4 78 oP | | A 0 Caminho falacioso Esta edigdo tonta perscrutar os rumos, os caminhos, que 0 atual ocupante do palécio do Planalto quer impor a0 pais, com o beneplicito de um Congresso Nacional em inicio de mandato ¢, portanto, sem compromisso eleitoral imediet. 0 jomalista ¢ economista Luis Marcos Gomes aralisa «8 rumos deste govemo que jé nio pode recuar e que, sem compostura, repete no ttato de trabalhagores greviss a truculéneia que o fim da ditadura militar parecia ter dei- xado no po da histéria, O jomalista Alon Feverwerker mostra, por sua vez, que, passada a anestesia eleitoral, 0 povo brasileiro volta a set atormentado pelos mesmos ma- les que 0 Plano Real (como os demeis planos milagrosos dos titimos anos) prometew eliminar. O-depatado Aldo Arantes desmonta os falsos argumentos que epresentam como modema e avangada uma reforma eleitoral anacr- nica, que pretende vestir a vida politica do pais em uma ‘camisa de forga institucional que s6 favorece a elite, ¢ que ‘as nages mais democraticas ¢ avangadas do mundo aban- dnaram, a exemplo do Brasil, ha muitos anos. 14 Cesar Benjamin desnuda o conservadorismo e a falicia que estio fem Voga no pensamenio econémico, e que tentam con- vencer 0 povo ¢ os trabalhadores de que € indispenséivel atender exclusivamente aos interesses dos patrées, da bur- guesia e do imperilismo, e que esta situagéo ird resaltar em beneficio para 0 povo trabalhador de nosso pais tee Na recente viagem aos Estados Uni- dos, Fernando Henrique Cardoso recebeu orientagdes explicitas para agilizar as re- formas ¢ fazer uni Lei de Patontes mais palativel pare a politica ianque. ‘A propalada prioridade do. governo em relago & questo teibutria foi subst- tuida por um “pacote” de ementas econ6- mnieas, que ferem direlamente o capitulo cla Constituigio em que estio registadas as salvaguartas dos interesses nacionas. Sobre este tema, areviste publica os votos fm separado dos deputados Haroldo Li- mae Sérgio Mirenda, Em relagao & questio social, ¢ quase possivel adivinhar os consellos que Fer- nando Henrique Cardoso teria owvido na PRINCIPIOS » MAIO « JUNHO « JULHO 1995, Inglaterra, pais pioneiro na aplicagdio do projeto neoliberal, cujo governo conservadar s6 conseguia adotélo de forma ampla depois de derrotar de modo infquo a greve dos mi- neiros em 1982. O governo inglés, primeiro da famigerada Margareth Thatcher c, depois, de John Major, pode ser visto por Fernando Henrique e pelo grupo de inelectais ¢ téenicos que o serve, sem divida, como um mestre a ser seguido nessas questées e também na privatizagao selva- ‘gem ¢ lesiva aos interesses nacionais. eee Pois ¢ este 0 neoliberalismo em ago! E este &0 seu go- vero. Luis Fernandes, cientista politico, anelisa sentido e os impasses do neoliberalismo, ¢ mostra que otriunfalismo dominante esconde problemas ¢ contradigées graves. A s ciloga Clara Araijo explicita 0 quadro politco-intitu- cional onde conquistas que demoraram décadas para serem alcangadas sio, uma @ uma, demolidas. As mulheres brasi- Ikiras querem discutir, na Conferéncia de Pequim, mareada para setembro deste ano o tipo de desenvolvimento que in- teressa ds mulheres de todo o mundo, Do México, publica- mos carta do Subeomandante Marcos, lider dos Zapatista Neste: fim da Guerrilha do Aragiaia faz 20 anos. ojo principal movimento armado contra a dtadura militar e, 0 ‘mesmo tempo, contra a miséria que oprime as populagées pobres do campo no Brasil. 0 historiador goiano Romualdo Pessoa Campos Filho lembra esta saga, sae Olhar o Brasil e rezonhecer nele a marca da mio de milhies de trabalha- dores (eseravos, no passado, e campo: neses e operirios, no iltimo séeulo) que construiram sua historia ~ esta €2tarela que Cl6vis Moura se props hit algumas décadas, e que desde enfio orienta sua atividade tedrica e pratica. O resultado desse olhar & uma obra que ajuda a com- preonder a histéria da longa resistencia de nosso povo a opressto de classe ¢ opressio colonial, no passado, e impe- rialist, no presente. Comisstio: editorial 3 UMA CAMPANHA DE PRINCIPIOS Nesses tempos bicudos, em que renegar principios virou moda, a revista PRINCIPIOS langa uma campanha nacional, que visa ampliar sua circulacao, melhorar sua qualidade e cumprir importante papel no debate das grandes questées tedricas e politicas do momento. Nos titimos seis anos PRINCIPIOS desenvolveu intensa e fundamentada critica ao neoliberalismo. Denunciou a nova ordem mundial. Revelou as mazelas da crise brasileira, opondo-se decididamente ao projeto neoliberal de Collor e Fernando Henrique, por ser lesivo aos interesses nacionais e populares. Desenvolveu profundo debate contra a reviséio constitucional ¢ as entreguistas privatizagdes de empresas fundamentais ao pais, como a Petrobras e Telebras. Sustentou a bandeira do socialismo como solugao para a crescente exclusao inerente ao sistema capitalista. Contribuiu para o exame critico das primeiras experiéncias socialistas e analisou reflexivamente importantes realizagdes no campo das ciéncias, das artes e da cultura em geral. Vocé, leitor amigo, que 6 uma pessoa que n&o abriu mao de seus principios, fortalega essas idéias. Assine a revista PRINCIPIOS e recomende aos amigos. Precos das assinaturas: Anual comum (4 edigées).... . R$ 30,00 Bianual (8 edig6es).... R$ 55,00 Anual especial (9 edigdes: 5 passadas mais 4)............. R$. 45,00 Brinde: Em qualquer assinatura, 1 livro. Em 4 assinaturas, vocé ganha a 5 de brinde Em 2 assinaturas, 3 vocé ganha uma camiseta da PRINCIPIOS. Para assinar é f&cil. Enviar cheque nominal com seus dados. Se prefer, telefone ou escreva dando 0 n® de seu cartéio CREDICARD 2 vencimento, Ou telefone para que enviemos a revista junto com boleto bancétio. ma 0 Brasil cai na (do) real ALON FEUERWERKER Apés a anestesia eleitoral, os desajustes da economia voltam 4 tona. Em meio a desafios e pressies, 0 governo parece impotente para desatar os nos moses de uso, ¢ jé comega a demoligdo dos funda- mentos que levaiam Femando Henrique Cardoso 4 Presidéncia. O presidente e o circulo intimo do poder se encarregam, a canetades, da “operaco-desmanche”, A fie~ fo de uma moeda estivel lastreada no afluxo regular de Capilais externos e compativel com a expansio do consumo df lugar aos falos: 0 governo corre atrés de medidas que ficiem a evasio de divisas, tenta esfriar 0 mercado externo, promete austeridade e apela aos exportadoces, enguanto promete um ajuste estrutural e insite na venda de patri- ménio piblico a prego de banana Nenhuma novidade, nenhum ineitistno em relagdo aos planos do passado e as advert@acias pré-eleitorais, Un té- dio assists 2 esse novo (?) exercicio de realpolitik, ver 0 chfe do Executivo empurcar para debeixo do tape todo 0 dito erepisalo por ele na épaca em que ainda andava atrés de votos pata chegar a0 Planalto, O arrazoado dos porta vozes, que bombardearam 0 pais nos mostranéo por que desta vez as coisas iriam “dar certo”, vai para a lixeira, como palavrério insersivel ‘Ao menos isto... 0 Plano Real caminha para virar pega de museu. Powcos Desequilibrio estrutural e impasse estratégica Passada a anestsia eleitoral-combial, a economia volta a oxbir sous desajustes crdnicos, seus desequiliriosestru- turais. Apds 0 sonho, contimam exatamente do mesmo tamanho a divida extema, a divida inter, 0 sabitio mic nimo, 2 anemia do estado quando confiontado com as de- inanges sociais. E 6 governo, surpreendeatemente, parece impotente para desatar os nés. Surpresa? $6 para quem, num wishful thinking rea cionério, enxergou o triunfo esmagador de Fernando Hen- rique Cardoso, como a outorga do mandata definitivo para impor ao pafs as medidas antipopulares ji tentadas, sem sucesso, por govemos anteriores. Ou para quem, num su- premo delito, imaginou o novo chefe do executive como o reformador social que voliatia as costas 4 sua coligagao conservadora e governaria “com o pats” PRINCIPIOS © MAIO « JUNHO » JULHO 1995 Ilusdes, cultivadas na natural cuforia de elsigdo & n0 alarido dos 4ulieos, em meio & softeguidio de uma midia escandalosamente disponivel ‘Arealidade vem derrubando fantasias. Nem chegou a0 poder a socialdemocracia tupiniquim, em a vitéria ele- foral das classes dominantes gerou uma nova hegemonia estive, copaz de romper a seu modo o impasse estratégico em que a economia (ou a sociedade) brasileira se meteu desde a democraizagio de 1984-85. Qual ¢ a natuceza do impasse?’ Uma “transigdo sem ruplura” que abriu as portas da politica aos milhes de oprimidos do nosso capitalism, sem no entanto Ihes abrir as ports da prosperiade condi, A outa face da mes- temos as messas que exi 20 Estado politcas correlivas para os aleijdes de sociedade vais injosta do plamela; nio temos ainda vm Estado capaz de cobrar da burguesia a conta destas providéncies, parte deles inscritas nav Consttuigio. Mas, enffo, pergunta-se 0 principe, 0 que fazer? A receita dos novos tedlogos Do angulo das classes cominantes, a esfinge jé Foi de- cifrada pelos novos tedlogos do liberalismo. Rasgue-se a Constituigao, eliminem-se os direitos sociais ¢ trabalhistas, entregue-se 0 pais eo capital financeiro, de prefencia es- trangeiro, Com isto, garantem, a méo miigica do mercado nos ford felizes a todos. B, para evitar sunpresas, opere-se uma reforma politica que recuza a possibilidade de impre- Vislos nas elegSes, que circonscreva, resirnja, limite 0 aleance do voto plebiscitirio, majoritério, portanto popular. Claro, a coisa nao lida assim, descarada. Ela vem numa cembalagem ‘mais atraente, mais cinica. Privilégios. Nesla sociedad marcada pelos privilégios de unia elite culturalmente escravocrata, otulam-se “pri- vilegiados” os grupos de trabelhadores quo, na lua, aloan- garam conquistas ¢ ergueram a cabege um degrau aeima de seus imidos de clase. Migalhas conseguidas com sangue transfirmam-se em “privilgios” que & preciso abolir, para conferraracionalidade ao sistema econbinicoe fazer “jus- tiga” aos que vegetam na pré-cidadania, Se Privatizapies. A mesma elite que vern limpando as eo- fire piblicos e quebrando as pemas do Estado, os capi- talistas cevados a0 longo de décadas com o dinheiro do povo, todos se langam sobre o patriménio do pais para saqued-lo, O pretexio ¢ “reduzir 0 endividamento” estaal. Em prio lg, ao const gues privaizates enim alé hoje resultado em efetiva diminuigio da nossa divida pilblica, fantamente nutrida por juros estratosféricos. Em segundo, pergunte-se a qualquer empresirio o que faria com um executivo seu cuja tinica proposta para abater di- vidas fosse liquidar 0 patriménio da empresa. Globalizagio. Num mundo marcado pela ofensiva do capital financeiro, sustentada na agio dos Estados nacio- ais dos paises imperalistas, a burguesia brasileira tenta vender a mentira da “globalizagto”. E uma realidade vir- {ual em que projeios nacionais (dos paises peiféricos) vao para 0 arquivo, em que 0 passaporte ao paraiso depende de renanciar i independ2ncia, & moeda, as Forgas Armadas, a uma pesquisa cieniica propria, a una economia auto- sustentavel, ainda que no antérquica. Ou seja, a velha lengalenga das oligarquias, repetida hi séculos sempre que forgas navionais se erguem para tar nosso pais da subal- temidade em relagao as grandes poténcias. Foi assim com Floriano e com Vargas, para citar apenas dois dos mo- mentos mais agudos de’confirmago em nossa histria, AAs “reformas poliicas” comparecer nesse receituétio como um ingrediente indispensivel para dar establidade an quadro econdmico desenhado na moldura neoliberal. racionalidade, a modernidade, 2 eficicia, Mas tral €reduzir o efeito direto do voto popular o “emugar” os elementos de insabilidade decorrentes des- se fator. Trata-se de transformar o sistema politica nam mecanismo eficaz de filtro, Nele, o povo entraria com o voto, deixando o exercivio real do poder para as alites. ‘Uma observagao. Mesmo com a derrota do golpe par- lamentarista no plebiseto de abril de 1993, permanece a insisténcia em aprovar alguns de seus eoroldrios, como 0 voto distital e a cliusula de barreira. A respeito desta altima, como explicam. nosses politicélogos que as maiores diffcullades de Fernando Henrique Cardoso no Congresso sejam causadas pelos grandes partidas, es mesmos que “Sustentam” 0 governo? Mas, diziamos, o governo Femando Henrique néo esta conseguindo reunir forgas para aplicar 0 recctuétio. Ou entdo outro qualquer. No poder, 0 presidente paga o prego porter construido uma vitora eeitoral sobre pés de ber, Sua candidatura galvanizou o desejo macigo de que a infla ilo permanecesse baixa e sb. Sto patticas as teses de que “o eletorado referendou nas umnas um plano de refomas”. Mentira. O Plano Real contribuiu para semear a ilusio de que a estabilidade pode ser alcangada sem sacrificar os inferesses de nenhum grupo social. Propagandcou a fan- tesia de que o Brasil pode ser um caso inéito’ em que se liquida a hipetinflao preservando altastaxas de omprego, a expansio do consumo ¢ os superlucros do capital finan- ceito, locale estrangeiro, tudo a0 mesmo tempo. Quem espalhou esta bobagem estava ein seu papel Alina, tetava-se de ganar uma eleiggo 2 qualquer custo 6 e de apagar umn incéndlo cuja biam os caleanhares da elite brasileira Grave mesmo & o caso de quem acreditou. Jabaredas j lam- A “esquerda possivel”, 0 “apelo a razio” ea virada estratégica Neste quadro de impasse, erescem as pressdes para que 2 oposigdo adote uma “atitude positiva”” dinnte das pro- postas do govemo e das tentativas de ajuste neoliberal, Pressdes que se alimentam de certo trago constitutivo da cultura politica brasileira: o governo de plantio e suas pro- postas sto apresentados como a sintese dos interesses na Cionais naquele momento. Em conseqiéneia, fazer oposig0 dura ¢ radical configuraria um crime de lesa-pitia This presses também se nutrem da conjuntura is logica desfavorivel e de uma forgada “consensualizagio”. AAs derrotes do socialismo sto esgrimidas como a prova final de que s6 nos restn seguir obedientemente a cartilha dios senhores do capital, de que qualquer resistencia re- presenta. tGo-somente um atavismo dinossdurico, Nem Keynes escapa desse exorcismo compulsério, Mas quem quer ser exorcizado? Quem deseja se trans- formar numa “esquerda viivel") Os antecedentes histé- Ficos recomendam cautela em relagio a politica desse tipo. AS cortentes que optaram por caminhos assim ou dese~ ppreccram ou acabaram instrumentalizadas pelo conserva- Gorismo, reduzindo-se a caricaturas de si mesmas. De tio “viveis", transformarem-se em algo invidvel, ao menos como insirumento para atingir sues metas originals. PRINCIPIOS « MAIO » JUNIO » JULHO 1995 Bem ou mal, 0s eletores ¢ 0s sefores populares orga+ nizados tém voltado as costas a tais propostas, até por into: o simples bom-senso sugere desconfiar de quem pede aos de baixo urna “civilidade” que nfo se encontra nos de cima, Os *apelos & razio” t6m eaido no vazio. Ao menos por enquanto. Mas quis poderiam ser os angulos para a abordagem njuntura politica peas foreas populares, levadas 2 um fodo de resisténcia, ap6s a derrotaeleitoral de outubro es19942 Coin eat egap to alate alan isolacionismo estri, que acabaria por favorecer& ofeasiva da ditita? ‘A discussto esti em aberto, mas 0 que se vislumbra envolve a confluéncia ¢ artculagdo de duas vertents poli- ticas:transformar o debate abstrato da “erise do Estado” emt um movimento pela justign fiscal, por uma reforma que aumente a carga tributiia sobre os mais ricos ¢transtira a cles o nus de sanear as finangas pablicas; unir a este movimento o conjunto das forgas nacionas Gispostas 2 re- sistr& “pinochetizapio” da econoniia, Ou sea, das forgas decididas a lutar para que a abertura da economia e a inte- gragio do pais a0 mercado mundial se d8em sob o coman- do e a hegemonia dos interesses nacionais, preservando-se a base produtva instalada no pais ¢ garantindo a demo- cratizagao ¢ expanstio do mercado interno. ‘Um caminho desse tipo teria a vantagem adicional de evitar que a esquerda e as correntes populares caiam vi- times do catastofismo, ou das apostas sobre uma hipo- tética deterioragio do quadro econdmico. E preciso evitar a qualquer custo a repetigZo dos erros fais eometidos ao longo da eampanha eleitoral do ano pessado. Como diz 0 ditado, ecrar € humano, mas repetir 0 erro & burtice. As forgas progressistas no podem se deixar acuar por quem deseja apresenti-as & nago como “Yorcedoras” da infla- éo, como um aglomerado “scm propostas, defensor de monopilios ¢ privilégios”, Aton Feuer & jornalista SH sO nS al Rua dos Bororés, 51 - 1° andar - TENDENCIAS E CENTRAIS SINDICAIS O movimento sindical brasileiro de 1978 a 1994 Silvio Costa Minuciosa e detalhada abordagem sobre a hist6ria recente do sindicalismo brasileiro. Greve dos anos 70, organizagdes das tendéncias e centrais sindicais, impasses e perspectivas atuais do movimento sindical. Obra de interesse nao s6 dos estudiosos da tematica mas, fundamentalmente, uma leitura obrigatéria a todos ‘0S que atuam no movimento sindical e aos que procuram aprofundar seus conhecimentos sobre a hist6ria recente do Brasil, em especial ao processo telacionado ao mundo do trabalho. Pedidos para Editora Anita Ltda. CEP 01320-020 - Sao Paulo - SP PAINICIPIOS = MAIO « JUNHO = JULHO 1995 prncsg Governo FHC: sem recuo, sem compostura e sem volta LUIZ MARCOS GOMES O Brasil, temerariamente, segue a mesma trilha do México. Quanto mais faz concessbes, mais lhe é exigido. Neste caminho sem yolta, até onde ird o governo Fernando Henrique? Cardoso depois que a erise do México detonoa govemo FHC? Antes era manter 0 real ancorado no délar nos econtmicos de “ajuste” das economias pei om uma taxa de cimbio fixa; era basear a luta contra a concebidos polo governo dos Estados Unidos, FMI e Banco inflagdo na “abertura” e entupir 0 mercado intemo com Mundial como o Plano Real? proditos importados, que Seria de se supor que, do aumentariam a oferta de ponto de vista paramente J bens ¢ jeaiam os presos logico e racional, constatada JV pata baixo; como ponto a faléncian dos pressupostos essencial, era financiar 0 dé- ‘em que o plano se baseava, 0 ficit em transagGes correntes ‘governo revisse seus ramos e ‘com o exterior ¢ 0 pagamen- apresentasse uma nova estra- to das prestagdes da divida ‘gia em conformidade com com 0 esperado ingresso as Tigges da crise mexicana ¢ macigo de capitas especula- tivos extemos. Para se ter uma idéia dos sonhos que a. sinalizagioda_situasao infernacional. As to propa- cembalavam o governo antes da crise mexicana, felava-se Indes “condigbvs_propicias” ‘com entusiasmo, segundo a que, supostamente, etiam sustentagio 20 Plano Real, revista Yeja, “numa cachoei- 1a de US$ 30 bilhies, talvex ‘nao existem mais nem mes- mo na aparéncia dos fatos: as USS 50 bilhées esirangeires, prestes a inundar o Brasi’.! taxes de juros vigentes no mercado financeiro mundial continuam subindo, os fuxos Mato mais cedo do que de captais para os chamados se esperava, a cachocira so- mercados emergentes" fo- cou. Endo foi somente ram esiancados © as reservas dovido a crise do México. De infernacionais do puis sofre- margo de 1994 a margo de ram um acclerado processo de 1995, 0 banco central dos sangria, Estados Unidos (Federal Reserve Board) elevoua taxa bisica de juros dos federal Ce est se conduzindo 0 governo Fernando Henrique qual o México era 0 paradigma, qual a proposta. do Com 0 esgotamento do atual modelo de ajuste, do * 8 PRINCIPIOS MAIO = JUNHO & JULHO 1995 ‘CONTATOS IMEDIATOS DE 3# MUNDO. exanaroio Fa error ‘fs de 349% para 6,1% a0 ano, segurando com isso os capitais que saiam do mercado norte-amerieano em busea, dos denaminados mercados emergentes (no mesmo periodo, a prime rate, taxa de juros biica dos grandes bancos norte- aericanos para clientes preferenciais,pulou de 6,25% para 9% ao ano), Antes, os capitais especulativos, entre aplicar em rena fixa a taxas de 3% ao ano nos Estados Unidos, preferiam os tiulos do México, Argentina ¢ Brasil, que remuneravam mais de 15% ao ano, Mas a situago hoje & cutra, Como explicou um banqueiro ao jornal Gazeta Mer- cantil: “O quadro extemo mudov. A crise mexicana elevou orrisco da América Latina e retriu o investimento estran- ait. A alta do juro nos Estados Unidos aumentou mas 0 desinteresse dos aplicadores pelos paises emerzentes”? Apés a crise mexicana o capital financeiro se afasta da AL e impoe novas e pesadas exigéncias para retornar ‘As novas previsies sobre 0 volume de ingresso de capita extemos na América Latina, noste ano, mostram até que ponto a situagao se reverteu, De acordo com o Instituto de Finangas Intemacionais (II), organizapio intemacional que reiine bancos e insltuigSes financeiras, o ingresso liquido de capitais privados na América Latina totalizari apenas USB 1,3 bilhio neste ano, em comparagio com mais e USS 60 biihies em 1994 ¢ mais de USS 75 bilhes em 1993. 0 IF recomendow ao FMI que realizasse um maior controle das “economias emergentes”¢ também sugeriu que os paises em desenvolvimento fomecessem dados mais atulizados sobre dvids no exterior, fluxos monetiios e déficits orgamentirios Ou seja, o recado do capital finan- ceico & claro: depois da crise do México, ele se afasta da América Latina e imp6e novas e pesadas exigéncias para relorar a regifo. PRINGIPIOS = MAIO = JUNHO » JULHO 1995, Neste novo quadro, o Brasil foi pego completamente desprevenido, como demonstram os falos ccotridos nos tr8s primeitos meses do ano, com acimulo de déficits na balanga comercial (da ordem de USS 2,4 bilhies no pecio- do jancino/margo) e perda acelerada de reservas intema- cionais, Estas perdas teriam superado os USS 6 bilhies, pois especula-se que 0 pais feria comepado 0 ano com USS 36 bilaes, que, co final de marco, jéestaram red ides para algo entre US$ 29 bilhdes e USS 30 bilhdes 4+ Isso, no entano, parece ser apenas uma parte do problema. A grande pergunta 6 esta: nesta conjuntura internacional adversa pés-crise mexicana, como o Brasil vai financiar 0 ombo esperado em suas relagdes, econémico-financeiras com o exterior? O deficit previsto na balanga de sexvigos € de cerca de USS 15 bilhves, que poderd ser financiado n parte por um superdvit de US$ 5 bilhdes na balanga comercial, Mesmo assim, ainda seria registrado um saldo negativo de USS 10 bilhdes nas transaybes correntes com 6 exterior, Mas isso no & tudo, As emortizagdes da divida extema, durante 1995, chegam a cerca de USS 11 bilhoes Assim, o pais precisa cobrir um deficit bruto de US$ 21 billsdes em suas relagdes com o exterior! Tomando-se co- mo referéneia um Produto Intemno Bruto (PIB) de US$ 425 billdes, que é a cifta utlizada pelo Banco Mundial, este Aéficit representaria quase 5% do PIB brasileiro, Triste iro- nia para o governa chefiado pela mesma pessoa que ha um ano, como ministro da Fazenda, feshou, nos Estados Uni- dos, 0 acardo da divida externa com o comité dos bances credores € declarou, solenemente que o problema da divi- da estava resolvido, FHC: forcar o ajuste da economia a nova ordem mundial e fazer 0 Congreso aprovar teformas constitucionais Na realidade, em meio a esse quadro, 0 governo tinha das opges: recuar em seu projeto ou persislir no mesmo caminko, fazendo novas ¢ arriscedas apostas. E, em que pese toda a sinalizaeo dos fatos, o governo FHC opiou por aprofundar seu caminho de forgar 0 ajuste da economia brasileira & conformagao da chamada nova ordem mundial, agora muma conjuntura muito pior que 2 de 1994, quando Plano Real teve inicio. O governo fez reeuos timidos, como a revisto das aliquolas para certos produtos impor- tados (como autombveis e eletrodomésticas) e a subst a0 do cimbio fixo pela chamada banda cambial esti, como dolar variando entre R$ 0,88 a RS 0,93. Por outro Jado, no terreno interno, FHC partiu para a ofensiva pol tica decidido a fazer o Congresso aprovar seu pacote de reformas constitucionais, que representam a esséncia das rodificagbes que 0 capital financero internacional (hege- rmonizado pelos intresses norte-americanos, nunca é de- ais dizer) quer impor ao pais e simbolizam, também, 0 ue o Brasil ainda tem que o diferencia de paises como 0 México e a Argentina, ou seja, um forie setor produti * estatal em freas econdmicas estratégicas, como peisdleo, telecomunicagées e energia eldirica, ¢ um conjunto de direitos politicos e socizis, pelos quais 0 povo sc balew durante décadas e que finalmente se matcrializaram na Constituigéo de 1988. Na frente extema, desesperado com a crise mexicana com a fuga dos capitais extemos, 0 govemo FHC in- gressou numa defensiva descontrolada, prometendo a0 capital financeio novas concessbes, entre elas a privatiza- go da Companhia Vale do Rio Doce (2 maior empresa produtora © exportadora de minério do mundo) das er presas de energia elétrica> Pelo visto, 0 caminho do go- ‘vero, contratiando a Logica, é um camino sem retomo, € nem mesmo a humilhagzo sem precedentes recentemente softida pelo México esta servindo de adverténcia para que o Brasil evite a mesma armadilha. Nas negociagées dos USS 40 bi para “salvar” o México as concessoes hao foram pequenas Nao se sabe exatamente, ainda, a profimdidade das concessbes feitas pelo governo mexicano 8s pressbes dos Estados Unidos ¢ do capital finenceiro internacional no decorrer das negociagées do pacote de mais de USS 40 bilhses articulado pelo presidente norte-amerieand Bill Clinton para “salvar” o México (isto é salvar os interesses do capital financciro de origem norte-amerieana ¢ as bases do NAFTA, articuladas pelo mesmo Clinton, um ano an- tes). Mas quem zeompanhou o notieitio sobre estas nego- ciagbes sabe que as concessbes no foram pequenss. Em primero lugar, o governo do presidente Emesto Zedillo teve de se comprometer com um plano econdmico de “aus- teridade” fiscal e monetiria, que prev® novas privatizaySes (nos setores de ferrovias, telecomunicagbes, eeticidade, enlre outros), congelamento de saléris, corte nos gastos pln e reso. Segindo orev Baines ek mesmo que 0 governo consign estabilizar a situagdo, “ economists diz que o México te pola frente ests & reedssio, demissGes e softimento”.® A ja precéria sobe- rania mexicana ficou ainda mais exposta, pois o pals teve de empenhar 2 receita proveniente de suas exportapdes de petroleo a0 governo norte-americano, dadas como aval ao pacotefinanceito articulado pelos Estados Unidos e FMI e que, até liquidagHo do empréstimo, serio eoatrolatas pe- Jo banco central norte-americano, As agéncias intemacio- nas informaram que 0 governo norte-americano chegou a caigir do México o rompimento de suas relagdes com Cuba, 0 controle da imigragao para os Estados Unidos, a privatizagao da empresa esata de petrleo Pemex ea rea lizagdo de reformas poltcas.’ E pouco tempo depois de a, em janeito passado, a grande ofensiva militar or- pelo presidente Emesto Zedillo contra a guerilha zapatista no Estado de Chiapas, apareceu um documento ddo Chase Mantattan Bank, grupo Financeio norte-amer- 10 E TUDO NHENHENHEM | cano ‘cm gandes interests no México, no qual spe conizava, em nome da “comunidade de investimentos”, necessidade de 0 governo mexicano “elimina”. os ae tistas “para demonstrar su efetivo controle do teritério nacional”. § O conteido do documento reforgou a suspeita dde muitos analistas de que o governo mexicano havia de- cidido a ofensiva militar em Chiapas para mostrar serviga a0 capital financeiro, O que se pode dizer, diante disso, é que 0 México nao esta atravessando, como muitos afir- ‘mam, um provesso de “integrago” com 2 economia e3- pitaista globalizada, mas vive um efetivo process de desintegracio” nacional (econdmica, politica, cultural) nos meteadas globelizados liderados pelos Estados Uni- dos, perdendo cada vex. mais sua propria identidade. A postura do governo e da midia revelam servilismo e subserviéncia ao Capital internacional © Brasil, temerariamente, segue a mesma trilha do Mé- xico e, quanto mais faz concessbes, mais Ie & exigido. A viagem de FHC aos Estados Unidos, em abril passado, mostra como 0 governo vai perdendo até mesmo. a com- postura diante dos grandes banqueiros financistas que PRINGIPIOS = MAIO = JUNHO = JULHO 1995 esto com o destino do pais nas mis. Primeiro se vin toda 2 iimprensa reconhecer, como se fosse fato normal, que 0 presidente Femando Henrique e a diploracia brasileira la- mentavam que a viagem se inicinsse sem que se pudesse levar a Washington trés grandes trunfos: a aprovacao pelo Congresso da nova Lei de Patentes (que beneficia imedia- tamente a indisria quimica e formacButica dominada pe- Jes multinacionais norte-americanas); a assinatura do acor- do do SIVAM (Sistema de Vigiléncia da Amazénia), um projeto de USS 1,4 bilhdo a ser implantado pela empresa norie-americana Raytheon; e alguma reforma consitucional jf aprovada pelo Congresso, como demonstragio de que ‘estes reformas so mesmo para valer. Esta postura do go- verno ¢ da midia revelayam um indisfargavel fom de ser- vilismo ¢ de subscrviénca, traindo a nccessidade de o Bra- sil “mostrar servigo” ao governo norte-americano ¢ 20 capital finaneeio. Durante a viagem, ministros ¢allas au- toridades brasileiras discutiram, sem nenhum pudor, deli- eados problemas politicos do pais perante platéias for- madas por banqueiros ¢ administadores de fundos de investiment, tarefe em que se esmgrou, particularmente, © minisiro da Justiga, Nelson Jobim. O ministro da Fazen- da, Pedco Malan, fambém pediu a denominada “comuni- dade financeira” norte-americana “mais tempo” para que 0 governo consiga aprovar as “reformas estruturais” que pre- fende fazer, e 0 secretirio para Assuntos Estratégieos, Ro- naldo Sardenberg, distribuiu a banqueiros e investidores um livroto explicativo da coneessdo de servigos piblicos no pas, editado pela Presidécia da Reptbliva e que ainda no estava disponivel no Brasil! Tudo mum esforgo desesperado para convencer 0s grandes grupos norte- americanos da vibilidade do “ajusie” no Brasil e de que © compromisso do atual governo com este modelo & para valer. 0 pais que quiser atrair capitais que siga as regras do jogo, cada vez mais duras e inflexiveis Muito mais do que as andlises of supostos resultados positvos desta visita, valeram as ob- servagbes do economista e professor do Messachussets Institute of Technology (MIT), Rudiger Dornbusch, consi- derado um dos especialistas em planos econdmicos de ajuste adotados por paises da América Latina ¢ do Leste eurogeu. Dombusch disse que a viager de FHC aos Fs ddos Unidos nao traria nada de eonereto se o governo brasi- leiro nao adotasse “reformas urgentes” para segurar o Plano Real, cobrando sobretudo um processo de privati- zagio"seivagem’ das etalais ~ para ele a “prioridade ni- mero unt, combinado com as refomes fsa, but, dos bancos estatais e a reengenharia do Bstado."! 0 eco- romista nfo teve meias palavras e sua franqueza refletin a cexpectativa do setorfinanceiro internacional em relag&o 20 Brasil, apés as acontecimentos da crise mexicana: 0 pais PRINGIPIOS = MAIO » JUNHO = JULHO 1995 aque quiseratrair capitais que siga as regras do jogo, cada vez mais dura ¢ inflexiveis. Novas e novas concessbes sio necessirias, num processo sem limites, Neste caminho sem voli, até onde irt 0 governo FHC? Aqui, como no Mexico, somente uma dura ¢ tenez resisténeia popular seré eapaz de deter este processo. Luz Maroos Gouts ¢ economista e jomalista. Foi editor de economia dos semanarios Opinidio e Movimenio e membro do Conselho Federal de Economia, de 1987 a 1989. Notas (1) "0 fim do sonho dos importados", Veja, 645. (210s latinos percem com ata de juros", Gazela Mercantil, 2-2-5, (3) Matra de Robert Chote, do Financial Tines, iransoita pela Gazeta Morcantl, do 24-495, com o tu “Drésioa queda 0 thuxo de capilas para a América Latina’ (4) "Reservas intemcionas podem cait a USS 16 bi, Fale de S Pevlo, 26396. (6) Pera a Business Week, a Companhia Vale do Rio Oroe ¢ “o prbmio mais reo" do prograra de priaizacéo co govemo FHC. Ela ita palawas de Andies V. Gil especiaisla am dito latne-ame rican co escrito de advocacia novaiorquino Pok & Warcell para quem * a CVAD ¢ 2 joa. Ver a matisia da Bushess Wook trenscita pela Gazeta Mercant, de 23-194, com 0 tivl “Bras Propata 0 sao" (6) Natéria da Business Weok wanserta pola Ge 2266, com 0 tiulo ‘Mexicanos sem champanhe' ‘Moreen, do (7) "EUA podem pedir que México compa com Cuba’, Folna de 8. Paulo, 20-495. (8) © documento, um inierme do Chase donominado “Chase Nanatan’s Emerging Narke's Group Memo’, tem data de 13-485 6 assinado por Rorcan Roat, Ele dz, textlaimanie: “The govetn- rent wil need to elminale the Zepetstas lo demonstale thet lective contol ofthe natoraltatixy and of seouity poly”. Fl Givulgado pel rede eletnioa Aternex, do Ibese, na confércia acamlatina’, en 15-295 (9) fm seminério realzado em Nova York, promovido pela Gazeta ‘Mercanti, banqueitos ¢ fnancistes, de aooido ccm 0 jal, orem bombardeados por uma abrengente, prolusa e complexa mesa de informapdos sobre o Brzsil lovada por atos representanics do pro. ro goveino”. O miristo Nelson Jobin, ‘para ura pata ateia, € ‘6 certo porto perplexa", merguhou “nas minicias da aprovarao de uma emerda censituciona. Ver a matéria de Ferrando Dantas, Jobin explica 2 lentidgo", Gazola Mercentl, 114-05 (10) “Lito sobre concesstes", Gazeta Mecartl, 11-495. (11) ‘Real doponde de rotorma ja, diz Dornbusch’, Folna de S. Pau. To, 244-95, rT a Diagnostico da crise brasileira CESAR BENWJAMIM O pensamento liberal tem produzido uma sucessdo de politicas econémicas incapazes de dar conta da verdadeirta crise nacional. Propor outra matriz é o grande desafio* cia politica do governo Femando Henrique Cardoso nesses seus primeiros trés meses de vide. Ela tem ralzes, anies de mais nada, na propria génese desse govemo, formado a partir de uma. frente anticLula, que ‘congregou interesses diversos, muitas vezes conflitantes etre sie de dificil adminstrapio, Esse ajuntamento ainda no encontrou seu mods operand, na forma de um acerto mais ou menos estivel em termos de divisdo de cargos, competéncias, benesses e responstbilidades. Novas difi- culdades haverd, mas ndo ereio que devamos valorizar de- mais esse aspecto. A m&dio prazo, por pragmatismo, eles seacertario, provavelmente com maior patiipagdo efetiva do PEL, one esto os melhores profissonais do poder. Mas as. dificuldades poltioas do governo nose resumem a isso. Hé outro fator, em que nés também esbar- rariamos s¢ Lula tivesse sido elcito: o altissimo grau de desagregagio, ja estratural, do Estado brasileiro, Nos tilti- ‘mos anos, esse Estado foi muito enfraquecido, perdeu com- peténcia, perdeu capacidade de agir. Vive imerso numa semiparalisia, sem pessoal, ser informagio confivel, sem meméria, sem capacidade de planejar ¢implementar poli ticas, gerenciando até a exaustfo conflitos institueionas, que Se multplicam, Sem revolucionar as formas de admi- nistrar, sem refundar instituipSes, sem despertar novas cenergias, sem criar ontra mentalidade, sem rever um pacio federativo degradado, qualquer um teria dificuldades para fazer essa miquina se mover em qualquer dregio. Esse 6 0 primeiro aspecto relevante da conjuntura aval: a diffeuldade de 0 novo governo ~ sea por sia com- 0 primeiro aspecto que hoje chama a otengzo & a inép- * Bae toxto 6 resultado de uma intervengdo oral no semi € 08 Movimentos Populares, realizado em S20 Paulo no abril psssado. O mesmo conto foi exposo em cutro seminitio no final de margo em Breslie, convocedo pela bancade federal do Par- tido Comunista do Brasil 12 a posigdo politica, soja pela situago da miquina piblica — atingir una velocidade de cruzeiro que the permita go- vemar, impondo perdas aqui, garantindo ganhos ali, em nome de um projeto maior. Essa dificuldade ver sendo agravada pelo segundo aspecto que considero central da sitvasio alual, que so os descamtinhos do Plano Real, A grande frente consecvadora tina, digamos assim, uma face negativa, ant-Lula, mas tinha também uma outa face, positiva, que era a aplicagéo de um plano de estabilizaséo bem-sucedido nos scus primeiros meses. O que marca a situagio atual ~ estamos no inicio de abril de 1995 ~ so as dificuldades, que nio podem mais ser escondidas, © que colocam em xeque a propria vinbiidade do Plano Real. Nao quero discutir se 0 plano é bom ou no, mes apenas sa coeréncia interna, nos termos propostos por seus formuladores. Até aqui, essa coeréncia exist, Houve uma primeira fase, quando Fernando Henrique ainda era ninistro da Economia, e que foi marcada por tés iniciae tivas bisicas: a) um ajusie fiscal provistrio através do Fundo Social de Emergéncia; b) uma politica de acumu- Iago ripida de reservas externas, que aliés contibuiu for temente paca a aceleragio da inflagdo (pois, de alguma maneira, essa acumulayio precisa ser financfada pelo Es- taco); c) Finalmente, a proposta de um mecanismo de reali nhamento de pregos, a URV, que induzin uma certa coor ddenagio nos reajusles entio pralicados. Paradoxalmente, essa coordenagao foi faclitada pela propria aceleragio da inflago, que encurla os prazos em que os reajustes sio feilos e toma menores as defasagens relaivas cm cada momento, A combinapdo dosses tr8s aspoctos earecterizou a primeira fase do Plano Reel e preparou as condigées para a segunda fase, detonada com ¢ reforma monetria do ini- cio de julho de 1994. Depois que os pregos, em geral, se refereneiaram num tino indexador, acompanhando 0 movimento deste, a in- flagko foi derrubada de um golpe pela transformagéo do PRINGIPIOS » MAIO» JUNHO w JULHO 1995 proprio indexador em moeda. Afinal, dentro de um mesmo elevador, todos estio parados, uns em relaso aos outros. Mas, passado o eleto do trugue, como inflago nfio recomegasse a erescer novamente? Para isso, usaramse um allo grau de controle sobre a liberagdo de recursos do Estado (papel do Fundo Social de Emergéncia) as rescrvas externas, acumuladas em nives inéditos. Es- tas permitiram adotar a chamada Ancora cambial e susten- taram 0 aprofundamento do processo de abertura comercial da economia brasileira. Qual ¢ a idéia da ancora cambial? O edmbio € um prego muito importante, pois é um prego formador de ou- inos progos. Hé outros pregos assim, que esto na base do prosesso de formagdo ¢ transmissdo de pregos para toda @ economia, Se voce consegue segurar um desses.pregos fiundamentais, ou alguns deles, ele passa a fancionar como uma ancora, quase no sentido literal da palavra: segura a oscilagdo do navio, impedindo-o de derivar, fixando-o num determinaco ponto, Por‘outro lado, a abertura comercial, que expe a economia brasileira & concorténcia interna- cional, dficultaria 0 processo de reajustes interes. Como se vé, houve cooréncia entre as fases um e dois do Plano, soja na transformagéo da URV em real, rebai- xando fortemente 0 patamar da inflagfo, seja no manejo casuistico do gasto piiblico, propiciado pelo Fundo Social de Emergéncia, seja no uso das reservas acumuladas, para impedir que o vetor de crescimento da inflagzo se recom pusesse com rapide. Isso explice a trégua, nfo por acaso em um momento de eleigdes. Pode-se dizer que 0 controle da inflagdo foi a tinica viarivel relevante levada em conta pela politica econdica nesse perfodo, de modo que todas as demais varidveis — como, por exemplo, a taxa de cimbio = tiveram que se adapiar a ela. uma opsio que finciona, mas acumula tensées, Uma delas: a queda no saldo co- mercial com o exterior, por causa da brusca reduso das PRINGIPIOS = WAIO » JUNHO » JULHO 1996 tara ¢ da valorizagio real frente ao délar, que encarece as cexporlagies ¢ barateia as importagies. Para que o balango de pagamentos do Brasil com o exterior nao estourasse, essa queda no saldo comercial precisaria ser cobrta pela entreda maciga de capitais extemos, como esperava 0 2 verno. © superivit na conta de capital compensaria o ficit na balanga comercial, mantendo sem dificuldade que tudo isso resultaria num aumento de nossa vulnerabilidade exlerna nfo se’pode negar que era um projet. Os prprios formuladores desse projcio advertiam que sua solidez dependeria da passagem para wma nova ¢ ter- ceira fase, que seria mareada por un ajuste fiscal dura- duro — ¢ no mais aquele ajuste provisorio feito em 1994 ~c pela consolidactio de um novo padrao de financiamento para a economia brasileira, com compressao dos gastos do Estado e farura de eapitas estrangeiros, Isso consolidaia © Plano e abriria um novo periodo de funcionamento da ‘economia brasileira, sem abrir brecha para uma nova esca- Jada da 0 BC parou de divulgar 0 nivel das reservas, estimado em US$ 30 bi. 0 pais perdeu 25% em poucos meses ‘cho que hoje se pode dizer que o Plano Real foi bem- sucedido na sua primeira fase, transitou bem para segunda, anteve sucesso nessa segunda fase ~ mas eapotou e esté deixando de exist como um plano coerentemtente articu- Jado por nfo conseguir realizar, em tempo habil, a ia sigio para a terceira fase. As tensies nio podem sc acumular para sempre, E sfo varias, Vejamos uma, A dote- rioragio das contas externas brasileias foi muito mais 13 a do que todos previamos, abrindo uma situagio de crise carbial latente, que se toma, a partir de agora, a preocupasao central da politica econdmica. O Banco Cen- tral parou de divulgar o nivel das reservas, que deve andar pelos USS 28 bilhdes ou USS 30 bilhdes. Isso signtica que pecdemos 25% das nossas reservas em poucas meses elo menos 3024 do que resta 6 capital especulativo, que pode ir embora, ¢ de fato etd indo, escaldado com a que- bra do México'e atraido pela alta dos juros nos Estados Unidos. Hi um grande déficit previsto na conta de ser- vigos, da ordem de US$ 15 bilhées a US$ 17 bilhies Formou-se, portanto, um horizonte de crise cambial, que nos ameaga ainda este ano. Coisa séria, A Ancora cambial esta ferida de morte, © a abertura jé fove que retrocedr, Além disso, 0 gover ndo dew nenhum passo para o pro- palado ajuste fiscal duradouro, Nao ha transigao em curso para 2 nova fase do Plano Real. 0 que o governo sinaliza? Confustto. Vejamos as decla- rages mais recentes das mais altas autoridades. Fernando Henrique Cardoso diz que o produto interno brasileiro cres- cera 8% esie ano; Pedro Malan diz que a banda cambial fi card com 0 méximo de 0,93 durante loago tempo; Pérsio Aria diz. que as taxas de juros vo cair. So afirmagGes desconexas entre si. Se a economia crescer 89%, a taxa de cmbio nio pode ficar em 0,93, 305 penade explodir de vezo balango de pagamentos em questio de alguns meses. Se, por su vez,0 cimbio forreajustado -como o seri. s uros nao podem car, sob pena de produzirem ume debandada rapiis- sima do capital especulativo, O governo nfo parece saber onie ir, ea coertacia sistémica de suas agdes esti compro- metida, Nesse contexto, a imaginagZo conservadora pede na receita em que se sente mais segura: desaquece a economia, provoca recessio, tentaarrochar os salar ¢cle- va 08 juros. [sso € contraditério com o objetivo de obter cquilirio fiscal, pois as dividas interna e externa soo gran- de componente desestabilizador das finangas piblicas, Re- cessio¢ juros altos produzem dificuldades fiseais crescen- tes, ¢ eis de voliao velho cobertor curt, a geréncia de curio prizo, que apenas apaga incBncios, se tanto, A direita diz que a crise decorre de uma crise de financiamento e da perda da competitividade externa Nao quero passar uma impressio de derrocada a curto prazo, ninguém vai sair dagui chutando 0 poste. Mas hi 4ificuldades crescentes na politica econdmica, com previ- sivel perda de apoio popular ao governo e com a descons- ‘rugo do Plano Real como uma altemativa ducadoura. Pa- rece que voltaremos a_um velho padrio: juros altos, recessio € arrocho, rofeita que jé conhecemos, Para usar um termo dos matemiéticos, este parece scr 0 atrator dos economistas conservadores. O mundo gira, a Lusitana roda, ¢ eles acabam ali exatamente onde estavam nos anos 30 ¢ antes do Plano Real, 14 Oarrocho salarial Nani Microscépio que amplia 45 milhides de veres instalado no Brasil DAPRAVER OSALARIO IMO? Até aqui, como vimos, 0 controle da inflagio era a variével fndamental, & qual todas as demais varies de~ veriam ajustar-se. A partir de agora, a vardvel fundamen tal passa a sera geréneia da crise que esta se armando no balango de pagamentos, A inflagao passa a ser uma va riével de ajusie, que gravita om toro de outra. Eis a rmudanga. Como o aspecto antinflacfonirio era a grande marca € a razio de existr do Plano Reel, pode-se dizer que cle comera a se desfazer. As bases o Plano, tal como ele foi pensado por seus autores, esto comprometidas. Com tum agravante: como ja ficou completamente claro nos ti ‘mos anos, jus altos, recessio e arrocho no necessariae mente segiram a inflayio no Brasil A inflagio esti relomando uma curva ascendente, que 6 nfo € mais nitida porque ha presos importantes ~ como as tarifas pablicas ¢ os combustiveis — ainda congelados.. Daqui a pouco eles vao ter que ser atualizados, ¢ 0 cémbio também. Poderemos chegar, em poucos meses, a um pata- mar de inflagio anualizada de $0% a 60%, e a experiéncin mostra como & till estabilizar uma inflagio nesse nivel. Blase toma volatil, generaliza a reindexapo, favorece pro jepes pessimistas, induz comportamentos defensivos por parte das empresas —e tudo isso resulta em mais inflagéo. govemo Ferando Henrique correo risco de vira ser © governo de Itararé, da famosa batalha que mio howve. Um governo que néo houve, E elaro que eles vao tentar evitar isso, ¢ 0 meio mais eficaz talvez seja o de acelerar © processo de privatizaptes, para exibir bem alto uma ban- deira ideoligica que Ihes & cara, propriciar bons negécios a0s seus alizdos ¢ conseguir um equilibrio temporirio de caixa, queimando alivos do Estado. Maitos tém apontado erros de geréncia do Plano. Tais crros, cerfamente, cxistiam ~ a sobrevalorizago cambial foi maluca -, mas ew acho que existe também algo mais. 0 Plano Real pertenee a uma familia de planos, ou de formas de conduzir a politica econémica no Brasil, que PRINGIPIOS = MAIO » JUNHO » JULHO 1995, decorre de uma matriz, inadequada de compreender nossa crise, Além de problemas de geréncia, ele tem problemas mais fundos, de concepgio, Que problemas sio esses? A interpretagdo hegemdnica da crise brasileira, propos- ta pela dieita, se bascia em dois grandes fundamentos. O primero & 0 de que nossa economia vive uma crise de financiamento, NZo conseguimos financiar a retomada do nosso oreseimento, ¢ is80, por sua vez, sed por dois mo- tivos. O primeiro ¢ 0 déficit piblico. Um Estado deficitirio suga recursos da sociedade ~ justamente aqueles recursos (que cla usaria para investir - ¢ os utiliza, em larga medida, de modo improdutivo, pagando salérios do funcionalismo, ou gastando em agdes sem retoro econémico. Assim, 0 dsteit piblico provoca e prolonga a erie de financiamen- io, com o Estado sendo responsivel por uma mi alocagéo dos recursos da sociedade. Isso é 180 mais grave quando se considera que o setor privado brasileiro € essencialmente sandavel, pois est4 potencialmente capitalizado e, portanto, capacitaco a investi. O segundo aspecto dessa mesma cri= se de financiamento, ainda segundo o pensamento domi- nante, € a perda de nossa capacidade de atrair investi- mentos exteros. Na nossa fase de erescimento, fomos durante décadas um pais importador de capital, mas nos anos 80 perdemos essa capacidade de atrapio. 0 culo fundamento da crise brasileira, segundo essa interpretagdo, € a perda da nossa competividade intema- cional, Tendo mantido nossa economia fechada por muito tempo, protegemos demais nossas empresas da competi- gio, ¢ 0 resullado foi uma defasagem tecnoldgica em re- lagfo ao resto do mundo, Protegemos a ineficigncia, pe- gamos com inflaglo, Essa interpretagao da crise impée a agenda neoliberal que os sucessivos governos vém adotando Essa inlerpretago da erise brasileira € quase consen- sual no pensamento conservador, amplamente hegemdnica na sociedade e aceita tacitamente por setores da esquerda. E a “misica” que ouvimos quase todos os dias, tendo acostumado nossos ouvidos com cla, Os nimeros que a sustentam sio produzidos e divulgedos aos montes. Como € dbvio, dela deriva uma agenda para o pais, agenda que sucessivos governos vém perseguindo nos tiltimos anos: atacar 0 défict piblico, para que o Estado nio exproprie mais reeursos que 2 soeiedade usaria para investir; conter 0s gastos com custeio ¢ investimento e privalizar as empre- sas estalais, para cortar a emissio de moeda e diminuir 0 montante da divida; adotar um bom comportamento di do sistema Financeiro intemacional, para que nos can datemos @ receber novos recursos do exterior, abrir a ceonomia brasileira, para submeté-la a um choque de mo- demizagao teenoldgica, E assim por diante. O Plano Real 2 seus complementos sio uma versio renovade dessa velha agenda, PRINCPIOS » MAIO « JUNHO # JULHO 1995 Creio que ai est, sinteticamente, a logica do programa liberal, no que ela tem de melhor. Considerando que cle & amplamente dominante no eenério politico ¢ intelectual do Brasil, eu acho que nés temos duas perguntas funda- rmentais a nos fazer, com sobriedade, seriedade ¢ coragem. ‘A primeira: nis aceitamos ou nfo esse diagndstico bisico a crise brasileira? Se 0 aceitarmos, seremos inevitavel- mente levados a operar na margem da agenda que dele decorre, tentando talvez evitar os exageros dos liberais mais malvados; grande parte das nossas dificuldades de formulagéo de polticas estaré resolvida, pois estaremos trabalhando num terreno bem pavimentado pelo pensamen- to dominante, Petisiasilustes se movem assim, © gosta riam que todo o partido o fizesse. E moderno, ¢ chique, & fill, € 0 pr6prio senso comum, Encontra segura guarida na imnprensa Como toda construcao logica eficaz, 0 diagnéstico basico hoje dominante guarda alguma aderéncia ao real Se, por outro lado, nfo aceitarmos aquele diagnéstico de findo, entao temos de explicar claramente por qué. E temos a cbrigagdo de propor um outro, igualmente abran- gente, retirando dele outra agenda politica para a nagio. Caso contréti, ficaremos resmungando pelos cantos, de- fendendo interesses corporativos ¢ setorias, sendo tritu- rados na grande luta ideol6gica, ineapazes de falar com grandeza & nagio e disputar a hegemonia. Penso que devemos rejeitar 0 diagndstieo bisico hoje dominante, e no operar na sua margem. E claro que ele nfo € completamente mentiroso, inteiramente delirante. Como qualquer construpio ideolbgica eficaz, gnarda al uma aderéncia ao reel. Mas traduz.o interesse de poucos @ 6 inadequado para dar conta da crise brasileira. Vou evi- ‘at uina argumentagio mais sofisticada, que exigiria uma diseussZo sobre o sentido do desenvolvimento brasileiro, tel como se desenhou neste seul, e 2 dinimiea especifica desse desenvolvimento, amplamente ignorados por esse senso conum, You aceiiar uma discussio nos proprios ternos em que os liberais a colocam, Primero: & um mito denunciar o Estado brasileiro co- mo um tomador de recursos do sctor privado, Na_cons- ttugio do Brasil modemo, nosso Estado se constitu his- toricamente como um financiador desse setor, ¢ continua a sé-lo, sendo que, agora, da pior forma possivel. Excotuan- do-se momentos fugazes, nfo representativos da situagéo estrutal, 0 déficit piblico brasileiro & de natureza exclusi- vamente financeira. Néo ha déficit operacional significa. tivo ou recorrente no Estado, Isso no quer dizer que tenkamos um bom Estado, até porque nds sabemos que este equilibrio operacional se. dé gragas a uma péssima prestagio de servigas essencizis (0 Estado deveria, na verdade, gastar mais, obviamente gestando melhor). Mas nio é de uma anilise qualitativa que se trata aqui. Do 15 ponto de vista econdmico mas imediato —leiase, inflayio ~ simplesmente nfo é verdade que o Estado brasileito gas- te mais em eusicio e investimento do que arrecada em impostos, tendo assim que se financiar através de emisstio de moeds ou de mecanismos extraordindrios que oneram 0 sctor privado. A propria carga fiscal efetiva & muito baixa no Brasil, E a divida intema ro ¢ rolada, a cuslos cres- centes, para financiar gastos do Estado, mas para perpetuar mecanismos de acumulagao financeira sem os quais 0 setor privado brasileiro logo se veria em maus lengdis. O infer- nal endividamento do Estado brasileiro ~ que tem origem na estatizagdo da divida extema privada, no financiamento do esforgo exportador e da acumulagio de reservas, am a propria ciranda financcira ~ tem sido um mecnismo fundamental de sutentagio da rentabilidade do capital pri- vado, como o mostram os balangos de todas as empresas. Enquanto ¢ssa ciranda nao for desmontada néo haverd equilibrio duradouro nas contas pilblicas. Nao adianta ar- rochar ainda mais o funcionalismo, cortar a merenda esco- Jar ¢ tirar mais esparadrapo dos hospitais. Nuio adianta vender estatais. Uma variagto de centésimos jos come, com sobras, qualquer economia feta af, disso resullando um Estado sempre mais frgil, O nosso sistema financsio se ajustou a essa situayio, perpeluando-ae tor nando-se completamente disfincional do ponto de vista do financiamento da cconomia brasileira. Mas uma reforma do sistema financeiro, como se sabe, nao integra a agenda liberal, que joga sobre 0 Estado todo 0 peso do ajusi, tomado-o assim impossivel. O mérito do nosso setor privado é ter realizado com éxito um ajuste defensivo e oportunista Segundo: & um mito a idgia de que o selor privado brasileiro € essencialmente saudivel e esta preparado para liderar sozinho uma retomada sustentada do crescimento. As taxas de investimento tém sido sistematicamente baixas fou declinantes nos iltimos quinze anos, « sonegapao fis- cal & enorme, 05 sakirios si baixos, 0 investimento em ciéneia e teenologia é ridiculo, nao ha planejamento de médio e longo prazos, a organizagio institucional e socie- taria € atrasada, as redes de cooperago intefirmas so incipientes, as escalas de produgiio so pequenas, 0 con- ttole oligopilica de mercados é a regra ¢ 08 luctos finan- cvitos ¢ inflaciondrios si decisivos nesse precério equili- brio. Todas essas caracteristicas mostram como 0 nosso selor privado ¢ atrasado. Seu mérito — se ha mérito nisso = & ter realizado com éxito um ajuste defensivo ¢ opor- tunista, que o preservou de uma derrocada do tipo argen- tino, mas que ndo o tomo nenhuma maravilha, racioci- nando-se do ponto de vista do captalismo contemporineo, A discussfo de uma retomada sustentada do desenvol- vimento, mesmo em bases capitalistas, fem que apontar seriamente tais disfungs 16 BRNO DEFOIS; Terceiro: & umn mito que 0 desenvolvimento brasileito dependa da atragdo de capital estrangeiro, Creio mesmo que a equagio & inversa: 0 capital estrangciro nfo vai alae Yancar 0 nosso desenvolvimento, mas vai ser araido quan- do esse desenvolvimento, com fortes bases endégeras, vol- tar a ocorrer, como als se dev no passado. Somos um grande pafs € uma grande economia. Grandes economias alavancam a si mesmas — ou elas fazem isso, ov ninguém 0 fez por elas -, © 0 capital estrangeiro desempenkia un papel complementar, Mesmo duranie a nossa indus aso, quando nossa economia era muito mais fraca, a fr magéo de poupanga sempre foi basicamente interna. Du- rante algum tempo, na fase substitutiva de importagdes, realizada sob forissimas restrigbes cambiais, 0 capital trangeiro teve sua importincin aumentada, no propria, mente para formar poupanga, mas para eobrir 0 hiato de divisas, Desde eniZo,jé éramos eapazes de gerar poupanga suliciente para financiar 0 nosso desenvolvimento, mas ri consegufamos gerar as divisas que a aceleragdo desse de- senvolvimento exigia, Precisivamos importar mis do que nosses exportagdes, bascados em peucos produtos agrico- las, conseguiam financiar. Essa situacdo foi estruturalmen- te allerada, Desde que a economia brasileira iio fique centregue 20s idiotas de Harvard, hoje somos eapazes de financiar nossas importagbes com fecilidede, Nao xi mais hiato estrutural de divises no Brasil, Isso nos permite re- discutir com mais folga o papel do capital estrangeiro, sem hipotecar nele nossas esperangas faturas. Fala-se muito em atrair esse capital, mas nada se diz sobre os custos dessa atrago, tal como fem s PRICIPIOS = MAIO « JUNHO » JULHO 1995, pela elite brasileira, Nossa sociedade pagou um custo al- tissimo para formar as reservas de USS 40 bilhdes znan- cis até recentemente, com tanto orgulho, pelo governo. 0 custo de taxas de juros indecentes, que como vimos destroem 0 equilibria financeiro do Estado. Nos itimos, anos, a emissiio de moeda e de titulos da divida publica - ‘com 0 impacto inflaciondrio que tem — nada, rigorosamen- te nada, fom a ver com gastos efetives do Estado. E totel- mente explicada pela politica de acumulagao de reservas cambiais, com atragdo de capiais estrangeros, numa es- pantosa correlagio de quase 100%, Existe um alto custo associndo 2 essa politica suicida de atrair capitals vaga- bundos, simplesmente porque eles esto disponiveis I fo- ra, Basearneles nossas expectativas de desenvolvimento & de equilibrio das contes externas & insano, Quarto: € um mito afirmar-se que a economia brasileira 6 ~ ou foi, até recentemente - fechada, previsando de um clioque desordenado de abertura, Do ponto de vista teeno- Idgico, somos tio abertos a ponto de nao gerar tecnologia propria, importando quase toda ela; do ponto de vista finan- ceiro, somos tio abertos que acumulamos uma divida ex- tema de US$ 147 bilhies; do ponto de vista produtivo, somos fo abetos que 35% da nossa indstria ¢ formado por filiais de empresas estrangeiras, um indice possivelmente jgualado por qualquer ouito grande pais. Sob todos os pontos de vista, somos na verdade vulneriveis, de tio abertose tio dependentes. Grande parte das decisdes vitais da nossa economia ~ cm tecnologia, investimento ¢ estra- tégias de longo prazo ~ si fomadas no exterior, segundo ogicas sobre as quais nossa ifluéneia ¢ proxima de zero. Analisando-se a relagao entre comércio exterior e PIB, o Brasil permaneceu mais aberto que os EUA! Resta observaro panto de vista comercial. Tivemos, até recentemente, taifas alas para muitos produtos, freqien- temente atendendo a lobbies industriais, sem coatrapartida para @ sociedade como um todo. Mas so a ma-fé ou a desinformaeio permitem usar isso para denunciar uma ‘economia fechada. O comércio exterior brasileiro converge nos tltimas déeadas para um pafamar em torno de 10% do PIB, Nos Estados Unidos, patria do liberalism, essa per= centagem nio alinge 9%, Portanto, considerando-se a relae 620 entre comércio exterior e PIB, o Brasil permaneceu, {ermos reais, mais aberio que os Estados Unidos, mesmo no. auge do nosso “fechamento”! Simplesmente. porque tarifas nfio determinam sozinhas 0 nivel real da abertura de cconomia nenhuma, Ao contrério do que se tem dito, nos- sas alts tarifas nao resultaram de nenhum nasionalismo xendfobo, Foram usedas como instrunento de uma indus- Irializagio avelerada ralizada sob fortes consirangimentos cambiis. Essa indusralizagdo, feta contra a opin libe- ral, edesenkiow no terapo o perfil da nossa abertura para 0 mundo, garantindo ganhos velozes para a procutividade do PRINCIPIOS « MA'O » JUNHO # JULHO 1995, trabalho no Brasil. B bobagem dizer que disso resultow uma economia feckada, Que é preciso repensar esse sis- tema, isso ¢ dbvio, mas deve ser feito no contexto de po- liticas industriais ativas, com objetivos nacionais. bem- definidos, e niio sob o fogo de um besteirol ideologico fortemente desestruturante do nosso sistema produtivo. Quinto: ¢ um mito que a economia brasileira se ca- racteriza por uma defasagem tecnologica que a impede de crescer, Essa defasagem 6 assume tais proporgdes se pen- ssamios nosso destino como o de uma platalorma de expor- tagfio, Se basearmos nosso crescimento na disputa, por exenple, des mereaos ris dfnins de cetroeletrGni- cos dos paises desenvolvidos, entio estamos defisados. Mas se pensarmos que a terefa fundamental da nossa eco nomia € eliminar a pobreza no menor prazo possivel, cn- firentando a questéo social, entéo no ha um impasse de natureza teenoldgica que,nos impega de nos mover reso- lutamente nessa deco, E Gbvio que a economia brasileira precisa se modernizar e deve fazé-lo, Mas isso nao & pr condigo do crescimento. Ao contratio, deve ser [eito no contexto de uma economia que cresce. Do ponto de vista sistémico, a modernizago tecnoldgica & tributiria do in- vestimen(o, e no 0 contririo. E a mais importante para nos & aquela que incide sobre a pradutividade média do trabalho social, perfitaments- ao nosso aleance. Deixem-me concur, Parindo de uma anélise de funda inadequada, o pensamento liberal tem produzido uma suces- séo de politicas econdmicas incapazes de dar conta da ver- dadeira natureza da crise nacional, acabando sempre por retomar a velha geréncia de curto prazo, com seus és as- pecios recorrentes: recess, arrocho de sakirios e juros altos. Além de perversa, desestruturante ds nacio, esa com- binagZo tem sido incapaz de conter as sucessivas retomades do processo inflacionério, A erise esté sempre se recolocan- do, Lespera de uma nova inlervenc¥o do governo, sempre de efeitos transtérios. Neste compasso, o pais perde o rumo. Creio que 0 Plano Real nfo configura uma alternativa estralégica de reorganizagio da economia brasileira, Ac bard sendo mais um rearranjo conjuntural, que permitiu um controle tempordrio da inflagio, & custa de aumentar ainda mais os niveis de vulnerabilidade internos e extemes da nossa soviedade, O projeto desenvolvimentista gestado ‘nos anos 30 ¢ 40 apontou um horizonte de longo prazo, deflagrando um processo dindmico que durou cingienta anos. Ao contririo dele, o projeto neoliberal no tem po- tencial estruturante para o Brasil. Essa auséncia de projeto de longo prazo nos deixa prisioneiros de um circalo vi- cioso. Ou a sociedade brasileira constitu um conjunto de forgas politicas e sociais eapazes de propor uma outra me- triz de entendimento da crise, que dé suporte a uma outra agenda nacional, ou o Brasil continuard na sua trajetéria recente, que pode inviabilizé-lo como nao, produzindo situagbes imprevisiveis. Bis af 0 nosso grande desafio. isan Bewanant € membro do Diretério Nacional do Par- tido dos Trabalhadores. 17 HAUS Reforma politica para ampliar ou restringir a democracia? ALDO ARANTES As forgas conservadoras pretendem adequar néio sb a economia mas toda a sociedade ao projeto neoliberal, e impor medidas para impedir @ competigco politica e elitizar ainda mais o poder uma comissio especial da Camara dos Deputados, eta N em discusséo a reforma politica do Estado brasileiro. Diferentemente das emendas consttucionais sobre a or- dem econémica e a previdéncia encaminkadas pelo presi dente Fernando Henrique Cardoso, as reforms politicas tm sido proposias pelo Congresso, através de uma artculagéo das forges conservadoras, e conta como fator impulsiona- dor dessas mudancas a Presidéncia da Reptilica Esta reforma envolve um leque muito amplo de ques- ‘Ges. Os seus inspiradores pretendem alferar quinze dis- positivos do texto consttucional. Entre as_propostas destacam-se 0 voto ¢ 0 alistamento facultativos; recleigzo de presidente, governador ¢ prefeito; fidclidade partidaria; requsitos para criagio de partidos politicos; cléusula de barreira, ou seja, numero minimo de eleitores; duragao dos mandatos; nimeto de representantes nos drgios legisla- tivos; um sistema eleitoral que envolva a adocd0 do voto distrital misto; e a proibigGo de divulgagéo de pesquisas eleitorais. Alki dessas emendas, a comissio discute a ela- borapfo de um novo cédigo eleitoral e 2 ei para as eleigdes de %6, na qual se prelende proibir as coligagies pro- porcionais. E abjeto de discussfo, também, a formulagéo de uma nova Lei dos Partidos Politicos ¢ da legislagio ‘complementar. Tnicialmente, dizia-se que a reforma politica somente entraria na pauta epés a aprovagdo das reformas econd- micas. Agora a imprensa informa que os presidentes do Senado, José Samey, da Cémara, Luis Eduardo Maga- Ides, estiveram com o presidente Femando Henrique Car- doso'e que este ficou entusiasmado com 0 esbogo das reformas e deu sinal verde para sua tramitagio. Em de- corténcia disso, os presidenles das duas casas do Con- 18 sgresso decidiram que a reforma politica deve tramitar em ‘conjunto com as demais reformas da Constituigio.! ‘A imprensa afirma que o presidente Fernando Henrique Cardoso pediu medidas de endurecimento das regras do joao pattidério. FHC quer reduzir para cinco o niimero de parti- cionais e impor a volla da fdelidade partdéria, Quando era senador, 0 presidente apresentou um projeto propondo 2 implantésZo do voio distrital misto. Fic claro o intuito do governo¢ dos seus zliados: fazer aprovar uma reforma poli- fica que reduza drasticamente.o mimero de partidos egolpeie a democracia. ‘Com esse conjunto de reformas constitucionais, as for- ‘2s conservadores prelendem adequar a Corstituigdo brasi- Ieira a0 projeo neoliberal. tlio A. Boron, esritor arzen- tino, a0 comentar as teses de Walter Friedman, teérico do neoliberalismo, afrma que esa correte “provem do fto de que os seus preveitos fundsmentas — impStio do mercado, esmantelamento do Estado de Ben-Ester Social ¢ conten Go dos avancos democréticos — foram os principios racio- nalizadores de conhecidas tentativas conservadoras, que, com maior ot menor gray de violencia, fram ensiads nas mais diversas latitudes”. Boron destaca os trés aspectos fundamentais do neoliberalismo: afastamento do Estado da atividade econdmice, com prevaléneia das leis de mercado; galpe nas conquists sociais dos trabalkadores; e contengio das avangos demoeriticas. firma, ainda “a refindagéo de uma erdem econdmnica liberal ~ isto & que Aeive 5 mos livres és fragbes mis cinimices e concenradas do copital ~ evige 2 constinigao de uma ordem police crescene- mente suri, (..) O suposto ‘antestatismo? dos modermes A Constituigio brasileira ex- pressa as demandas sociais do nosso povo contidas pela ditadura militar. Para golped-las, seré também necessirio atingir a democracia, professor Wanderley Guilherme dos Santos firma que “revisbes, reforms ¢ legslacdo sto sugeridas a titulo de dotar 0 nosso sistema politico daquelesatibuios de que seria manco: transparéneia,eticidade, representatividade cficécia. Na realidade, porém, a derradeira estagio deste nlado institucional seria, ou serd, 0 retorno ao clube oligérquico da competigio’partidério-eleitoral minimalis- ta”. Afirma o mesmo autor que tais reformas representam o mais violento atentado institucional ja ousado por civis no iiltimo meio século da vida brasileira’? A questo é muito clara, Sintonizado com o projeto neo- liberal, 0 governo Femando Henrique Cardoso procura im- planté-lo no Brasil, Para isso adota as diretrizes do Con- senso Washington, que implicam 0 combate a inflagio através da Ancora cambial o ajuste econdmico através de cortes nas fens da saide e da educasfo e nas verbas des- tinadas & constragdo de estrada, sem tocar nadivida pitblice infra e externa, O ejuste também implica privatizacBes indiscriminadas, que entregam empresas estratégicas a pre- go vi; a adogdo de uma politica de arrocho salarial ¢ de concentragiio de renda; ¢ golpes nas conquistas sociais, PPINCIPIOS MAIO « JUNHO = JULHO 1995 como que se pretende com a reforma da previdéncia, Eyidentemente, néo ¢ possivel adotar todas essas medidas sem fortes resisténcias. Projeto semelhante foi realizado no passado através de golpes militares. Agora procura-se fazer tum “ajuste politico” para assegurar a implantago da nova crdem econdmica e social, Com nfo podem revelara verdae deira nalureza das emendas propostas, seus autores falam em modemidade ds economia eco sistema politico do pats. s inspiradores das reformas politicas antidemiocraticas argumentam que o pais tem excessivo mimera de partidos politicos, com legendas de alugucl, que propiciam uma grande ftagmentapio partidéria. Dizem que esta fragmen- tapio conduz 4 ingovernabilidade do pais, ¢ ergumentam que o atual sistema eletoral proporcional estimula as dispu- tas internas nos partidos, no consolida a esirutura partidé- rige eleva os custos de campanha, uma vez que a eleipdo & feta em uma rea muito ampla Para solucionar tais problemas propdem uma série de medidas de cariter frontalmente antidemocréticas. Preten- dein reduzir a competigao politica e eitizar a poder, Para isso propdem, entre outras medidas: |) redugio do niimero de partidos; 2) adogio do voto distrital misto;, 3) adogdo da cliusula de barreira; 4) proibigéo das coliga- 960s partidarias nes eleigdes proporcionais; 5) fidelidade partidaria; 6) voto facultativo. Quadro 1 0 que quer 0 governo Redugdo do nimero de partidos 2. Adoggo do voto distal isto 3. Adogdo da clausula de beret ‘4 Proigéo do cigs nas eleigbesproporcones 5. Fideldade patria ___6.Veto facutatvo Redugéo do mimero de partidos Um dos alvos preferidos dos gue defendem a redusio da atividade politica € a diminuigo dristica do niimero de partidos politicos. Alegam que o pais vive uma “anarquia partdéria” que dificulta a governabilidade. Afirmam que a redugdo dos partidos visa, também, acabar com as “lezen- das de aluguel”. O que pretendem, no entanto, sob falsos pretextos, ¢ amoldar 0 quadro partidirio a uma politica autortiria¢ olitista, monopolizeda por trés ow quatro gran- des agremizgdes e algumas poucas agremiagdes que con- tracenam como “oposieao de esquerda”. (Os defensores do golpe conira a democracia partem do falso pressuposto de que no Brasil hi um grande nimero de partides poitcas, o que eria problemas para sua gover nabilidade. No entento, paises como Alemanha, Franga, Ilia, Portugal, Espanke, assim como Argentina, Uniguai, México c India no so tim um grande mimero de partidos ‘como uma razoavel representacéo deles no parlamenio. O que ocorre ¢ que hé uma grande concentragao de parlamen- tares em alguns poueos partidos. 19 A Italia. adotou uma variante do sistema distrital misto com a justficativa de que tal medida resolveria o problema da fragmentago partiaria, Todavia, a prtica desse mode- lo, nas condigées concretas daquele pais, agravou a frag- mentaglo partidira e levou a eleigdo de grande represen- ago fascista no pafs. No Brasil 0 quadro nio ¢ diferente, Hé 17 partidos representados no Congresso Nacional, sendo que 4 deles ddelém 62% das cadeiras no Legistativo. O presidente Fer- nando Henrique possui seis partidos em sua base parla- meniar: PSDB, PFL, PMDB, PL, PP ¢ PTB. Tem apoio parcial em outras legendas menores; conta, portanto, com 68% dos votos do Congresso Nacional. Quadro 2 ~ Composigdo do Congresso Nacional Partido Deptado Senador PIOB 105 2 PFL % a PSDB & 1 PPR a G PT 20 G PP a e POT 8 a acy 31 S PSB. 4 a PL 2 a Pd 10 a PSD. 6 © PAIN 6 o PSC. 6 © PPS: ® a /Panido @ © PRP 1 © Pv or © Fort: Scretana Gora das Mosas da Caara@ do Sonade ‘A ingovernabilidade deve-se mais & incapacidade das elites em ter um projeto politico préprio do que presenga de variadas correntes politias e partdarias no Congress0, uma vez que adotam modelos ja fracassados em outros paises. A experiéncia politica também tem demonsirado que no ha uma relagto estanque entre ingovernabilidade ¢ nimero de paridos, Quando ocorre diferenga muito pe- queria na representagfo parlamentar de um quadro biparti- dicio, em vez de equilfbri ocorre a quebra da estabilidade aparentemente estabelecida Nio hi conssténcia nem dados reais que possam iden- titfcar onde se situa a ingovernabildade, Na verdad, 0 que se protonde 6 eriar condigdes para o exereicio de um poder autoritirio que prescinde da negoviagao. Isto nto & préprio, da demooraca, © porto de vista expresso pelo presidente da Repit blice, que gostaria de ver © nimero de partis politicos reduzidos para cinco, expressa uma concepso oligdrquica 20 CINCO PARTIDOS NAO FOI PROMESSA DE CAMPANHA. MAS E DE GOVERNO. de estrutura partidiria, A existéncia de um mimero maior de partidos € uma regra nos paises democriticos. Nos 12 paises analisades no quadro “Representasio parlamentar”, (0 que tem um niimero menor de partidos ¢ 0 México, com 11. A Franga tem 36; a india 34; a Alemanha 32; além de outros paises com grande nimero de partidos. Mesmo se tomando por base a representagio parlamentar dos 12 pai- ses analisados, somente 3 t8m menos de 5 partidos com representacdo no Congreso, enquanto 9 paises tém repre- senlapio que vai de 6 até 27 partidos. Querer afirmar que o niimero de partidos atualmente existentes no Brasil ¢ fator de ingovernabilidade & 0 mes- mo que dizer que temos excesso de democracia. Nada mais falso, Sabomos que o pais carece de mais democracia, no 36 no terreno politico mas também nos terrenos econémico ¢ social. As dificuldades politicas que as elites enfrentam decorrem de sua insisténcia em adotar politicas contrérias aos interesses da maioria. A tentativa de reduzir drasticamente 0 mimero de parti- dos 6, na verdade uma medida autoritiria que procura en- quadrar as rnd contradigdes existentes na sociedade cm um quatro pattidirio que nfo corresponde & situagio complexa do pais. Por outro lado, esta idgia expressa as medidas adotadas pelas elites govemantes para manter 0 controle rigoroso do poder. Historicamente, tem havido uma queda na votagao dos partidos conservadores. Segundo estudo da revista Retra- tos do Brasil, a votapao dos partidos conservadores em 1945 era de 77% do total dos votos vilidos. Em 1982 este nimero caiu para 38%, Nas eleigdes de 1962, 0 PSD ¢ a UDN elegeram 54% dos depatados federais; em 1945 es- PRINGIPIOS « MAIO JUNHO = JULHO 1995 05 dois partidos haviam conquistado mais de 80% dos vyotos. Este declinio dos partidos conservadores foi, sem divide, uma das causas do golpe militar em 64, ‘No periodomais recente, o crescimento da representago progressista no Congresso Nacional ea possibilidade da vi- t6ria de Lula para a Presidéncia da Repiblica colocaram as alites brasileira em pfinico. Ela concluiram que se tomava, urgente uma alterago no quadro partidario que Ihes permi- tisse maior eonrole da situag ¢ do poder politic. Na verdade, 0 problema politico brasileiro nio diz es- peito 20 excesso de partidos. O proprio processo democra- tico se encarrega de separar os partidos compromissados com a sociedade dos “partidos de alaguel”, excluindo estes, titimos do quadro politico. O PRN, criado as vésperas da aleigdo de 89, que chegou a possuir 46 parlamentares em 91, elegen aperas 1 em 94 € agora nfo possui mais re- presenfapio no Congresso, O problema, portanto, nfo esta no niimero de partidos o sim na debilidade dos partidos cxistentes. Esia debilidade se relaciona com a propria fragilidade do sistema democtdtico brasileiro. O pais viveu grandes periodos de regime autoritirio permeados por algumas fa- 05 de liberdades.politieas. Nos periodos autortirios, os partidos foram extinlos e a liberdade de expressZo e mani fesiagZo foram duramente cerceadas. Durante o regime litar,criaram-se dois partidos na va tentativa de controlar © processo politica brasileiro, O avango da lita democré tica foi progressivamente rompendo este quadro limitado, regime militar, por sua vez, procurou adotar nova medi- das para restringir 0 quadro partido, propbs o voto dis- trtal misio ¢ a cldusula de barreia, Redugao do nimero de partidos fere 0 principio do pluralismo. politico ¢ partidario Mesmo durante os periodos de liberdades politicas, 0 Executivo, com poderes altamente concentrados em suas mio, inteferiu seriamente na vida paridria através da politica do “é dando que se revebe”. A consolidagzo dos partidos passa pela consolidagdo da pripria democracia no Brasil: maior equilibri entre os poderes da Uni, amplia- io do grau de organizaco da sociedade civil e criaeao de Condigdes para que a vontade da maioria da sociedade pos- sa se expressar livremente. As tentativas de redo do mimero de partidos ferem 0 principio constitucional do pluralismo politico e partidério, Esta é uma das pedras angulares do sistema democritico. Pretonde-se impor uma camisa de forga ao sistema po- litico partidério brasileiro. E necessario romper com a men- talidade colonatista de transplante de modelos. Antes se tomiou como paradigma o modelo norte-americano. Agora ‘© que esta na ordem do dia ¢ 0 modelo alemao, sem levar em conta as profundas diferengas econémicas, sociais polticas ene 0s dois paises. PRINOIPIOS MAIO # JUNHO # JULHO 1985 sil é um pais continental, repleto de contradigbes, ¢ 0 seu sistema partidrio tem que espelhar essa realidade Fora disso, cria-se um sistema politico completamente dis- tante da nossa realidade ¢ que entrara em contradigio com as aspiragdes da maioria do povo brasilcro. Para alingir o objetivo de reduzr onimero de partidos, os neoliberais propéem alteragécs no sistema ecitoral, qu es- te tem conseqiiéncias importantes sobre o sistema partidirio. Entre as paises que adotam o sistema distrital pura (ver quadro “Sistemas eleitorais”), apenas 2 partidos obtém mais de 5% das cadeiras do Perlamento, Tal sistema re- forga enormemente o bipartidarismo, Como se observ, nos paises onde o sistem & proporciora, ha um nimero mzior de partidos que conseguem mais de 5% de represeatacio patlamentar. Na Alemanha, onde se adota 0 voto distrital mnisto, somente 3 partidos conseguem mais de 5% de repre- sentantes no parlamento. Quadro 3 ~ Representapo pertameniar N de 1 ee Paros Patemenio| 48 ‘Abmrenta 2 05 | 1900" ‘igartna 26 (2 22°UP) | 1988 Fraga Bot par. ec) | __27 | 1088 Inia 34 (ora pat. reg) | 22 | 1935 tia 42 (+ t2parrog) | 14 [1087 pe 12 (+ 8°MP) | 1986 Portugal 4 | 1087 Bion tt oo | 1988) Espara 26( 60 par ro) | 00 | 1086 Relio Unido 17 (2 24 -0P) 1 [_ 1987 Estados Unidos | 2 ce | 1036 viuguat (35 OF) | _1984 Todos os dace, com excspio de), eran rides do ive “Political Parties of the World”, em edigao de 1988, o qual pode sor encontrado na Bibi da Camara cos Depulados. A publicarao tlasisa 0 patos en*Partes@), ‘er Pals (OP) e"i: | Parties’ (MP). Voto distrital misto As elites brasileiras esto unides na defesa da adagio o voto distal misto, dro golpe desfechado contra a de- rocracia, Nesta “cenoa furada” embarearam ingentamen- te, também, alguns setores de partidos progressistas. Per- plexos diante das contradigses ¢ da crise do capitalismo, € os insucess0s momentincos das idéias socialsta, su- ‘cumbem a pressio neoliberal © passam a defender, com atenuantes, estas medidas, que visam restringir 0 espago as forgas progressistas para dar maior estabilidade a0 reaime. Para compreendermos melhor a natureza da questo em debate, & importante analisarms, suscitamente, a dife- renga enire os diversos sistemas eleltorais No sisiema eleteral majorttio,o pais & dividido em disittos, sendo eleto © candidato mais votado de cada a1 distrito, Este sistema distorce a vontade dos eleitores ¢ reduz drasticamente a representago das minorias, mesmo sendo elas expressivas. Isto porque, por hipStese, um par- tido que obtenha 51% dos votos em 10 distitos obtém as 10 cadkeiras no Parlamento, 20 passo que 0 outro partido que obtiver 49% dos voios nao teré nenhuma cadeira Tal distorgfo se expressou, por exemplo, em 1974 na Ingla- terra, onde o Partido Liberal obteve 19,3% dos votos ¢ ficou somente com 2.2% das cadeiras da Cémara dos Co- muns. Adotam o sistema majoritério (distil), com va- riagbes, 0s seguintes palses: Estados Unidos, Canadé, Inglaterra e Franga. sisiema majortirio tem raizes na concepeio medie- val de representagio territorial. Desde 0 século XII os delegados dos condados eram convocados pelo rei da In- glaterra para dar seu consentimento aos novos impostos a serem cobrados. A representagio majoritiria, portanto, é fortemente vinculada & nogio de representagio territorial, s deputados representam mais os interesses des comu- nidades do que idéias ou partidos. Voto distrital: na Inglaterra um partido teve 22% dos votos e ficou com 3% dos lugares No sistema proporcional, 0 nimero de parlamentares eleitos & proporcional & quantidade de votos obtidos. As- sim, um partido que obteve 30% dos votes teré apcoxi- madamente a representagdo de 30% dos parlamentares. Es- te 6 sisiema que vigora no Brasil e & adotado também na Austra, Sugcia, Dinamarca, Islindia, Iranda, Holanda, Suica,. Finlandia, Israel, Portugel, Belgica, Noruega, Lu: xemburgo, Grécia e Espana, No sistema eleitoral distrital misto, adotado pela Ale- manha, metade dos parlamentares ¢ elcita pelos distritos eleitorais ¢ a outra metade, pelo sistema proporcional. O eleitorvota duas vezes. Uma no eandidato do distrito,outra na lista parti, elaborada pelos caciques de cada partido. No sistema alent somente os partidos que abtiverem pelo menos 5% dos votos dados na lista ow vencerem no minimo m3 distritos terdo representagZo no Parlamento. Os paises que adolaram o sistema proporcional opte- ram por esta alterativa apés uma longa experitncia do sisiema majocitirio (distrital). So exemplos de subsitui- Go do sistema majoritério pelo proporcional: Austria (1919), Bélgica (1899), Dinamarea (1918), Finkindia (1905), Suécia (1907) e Suiga (1890). Na Inglaterra existe um forte movimento pela subs- tituipo do sistema majoritario. LA 0s conservadares con- quistaram 57% das cadeiras, tendo obtido 42% dos vo- tos, sendo que o liberais-democratas, que receberam 22% dos votos, obtiveram somente 3% dos lugares do Parlamento. Partido Trabalhista da Inglatcrra, ao perceber a distor- 0 do processo politico provocado pelo sistema eleitoral 22 C. Manké, 1965 “A extngto dos Pan inf, 8 feeren s6 dois partidos: 2 UON 2 0 :majoritiro,incorporow em seus estatuios alata pela implan- tagio do sistema eleitoral proporeional na Ingatera. No Bras o volo distal fo aoiad per crea de 70 anes durante o Império c a Repibica Velha. A Revolucio de 1930, que representou tum avango democrético, acabou com o sistema distritalc implantou o sistema proporciona. sistema proporcional é incorporado a0 texto constitu- sional de 1946. Durante 0 regime militar foram feitas vacis tentativas para introduzit o voto distrtal misto, A Emenda Const tucional n2 22, de junho de 1982, de inicativa do general Figueiredo, estabeleceu o voto distal misto, No entento, ele nio foi coloeado em pratica, Com o fim do regime ditatorial, a Cémara dos Deputados revogou esse entulho autoritirio em maio de 1985, Isto demonstra que 0 voto distil puro ou misto, ao Brasil, anda de bragos dados ¢ expressa a concepedo politica do autoritarismo e que o sis- tema proporcional representa o avango democritic. Tancredo Neves: 0 voto v proporcional favorece teivindicagoes populares e combate o imobilismo riéneia de vida piblia, sobretudo encarando 0 aspecto da realidade s6cio-econdmica do Brasil, que o sistema pro- poreional € 0 tinico eapaz, como instrumento de agdo poli- tica, de promover a répida democratizagao des estruturas ¢ das instituigdes brasileras, O sistema proporcional é real mente uma apo potiica que determine que s resist@ncias reaciondrias, conservadoras e imobilistas tm que ceder & presséo das reivindicagdes populares, fazondo com que a Historia siga sua marca implacdve?”.> PRINCIPIOS = MAIO » JUNHO * JULHO 1995 0s defensores da adogio do voto distital misto afir- ‘mam que ele deve ser implantado no pais porque permite uma niajor aroximagio com o elitorado, retira 0 conflito existente entre os caridatos de um mesmo partido e edu 0s custos de campanta. s arguments silo frigeis © nfo revelam.o objetivo fundamental do sua adogzo, que & a dristica redugzo dos partidos politicos com sérias conseqiléncias para 0 proces- 80 democritico. Defender tal sistema porque ele aproximaria o parla- rmentar de sua base no carresponde 20s fatos, ji que todo patlanenia, por mais yotos dispersos que possua, tem sempre uma base fundamental cde sustentago de sua can- didatura, com a qual ele mantém estretos vinculos. ES evie dente que o parlamentar representante de grupos econd- mmicos nfo estari preccupado em se vincular com sis bases, até porque sua elcigdo depende do poder do dinhiro endo do vinculo com seus eleitores. ‘A questéo do conflto enie as candidaturas de um mesmo partido no decorre do sistema eleitoral adotado, ‘mas sim da exist2ncia de uma lista aberta de candidaturas, conforme estudo do professor Jairo Marconi Nicolau No entanto, a adogd0 de lislas partidétias fechadas © dds candidatos distritis traré uma séria disputa interna ros partidos em que 08 eaciques procurario impor sous candidatos. Distrital misto fere, distorce e dificulta a democracia. Constrdi um sistema autotitario Quanto a questo dos custos de campania, 0 voto distital agrava a influéneia do poder econéinico, porque restringe @ area de dispata e possiblita que um candidato ‘com maior volume de dinheiro possa alt concentrar seus recursos. Sobre o assunto Tancredo Neves afirmou que, no distrito, “com a area eletoral delimitada, 0 governo @ 0 poder ¢conSmico dispdem de mil e um instruments para tomar inelegivel e impedir a eleigdo de um representante dio povo que venha a tornar-se ineGmodo nto s6 para os interesses do governo, como para os interesses do poder econdmico nacional” voto distrital misto atenua mas no soluciona os pro- blomas apresentados pelo voto disirital puro. Ele reduz pela melade 0 niimero de cadciras a ser digpatado pelo sistema proporcional. Restringe as possibilidades eleitorais, dos partidos que tém seus candidatos eletos pelo voto de opiniio, Por outro lado, ha uma vinculap%o politica entre 0 voto do candidato cistrital ¢ 0 voto na lista partidéria, Os ccandidatos distitais e o partido tratarfo de fazer esta vine culagio. Al&m do mais, a propria c&dula eleitoral j ind. a esta Vinculag2o, A cédula adotada na Alemanha (ver quedo “Modelo de cédula alema”) mostra que o primeiro é dado para os candidatos distritais e 0 segundo € dado na lista partdaria, PRINGIPIOS » MAIO » JUNHO = JULHO 1995 Figura 1 ~ Modelo de cfula alemi Stimmzette! ‘ego nevoarsamenctigin Potirc8 eoman HH Sie haben 2 Stimmen bier Stimme sip rsen sp ames lcou op. [z[paonvno komt taman a] ==, KP ==, GRONE loxe Janie leap kop neo. usp eee, OOOO Oo}; i i ] A adogdo do voto distital misto traz graves eonseqtn- cigs para o sistema politico brasileiro: I. Distoree a vontade popular, O resultado do processo eleitoral nfo expressa a vontade de uma parcela ponderével do eletorado, pois a metade das eadeiras sero eleitas pelo volo disttal 2. Golpeia 0 voto de opinio, Cada vex mais a socie- dade se expressa através de opinides, que perpassam 0 conjunto do pais. Assim sf as idgias que defendem a soberania nacional ¢ 05 direitos do trabalhador, da mulher, do negro, dos que defendem o meio ambiente, O voto dis. trital golpea, portanto, as correntes de pensamento exis- tentes na sociedade e que contribuem para 0 avango do processo demoerdtico, 3. Aniquila as minorias, O voto disrtal misto & profun- damente alidemocritic porque se volta contraas minorias. E a existéncia das minorias € parte inlegrante do processo democratico. Golpcar as minorias ¢ cercear a propria demo- cracia, particularmente quando estas minorias representam 0s interesses da mioria do povo brasileiro, Tancredo Neves se manifestou favoravel 20 sistema proporeional porque este “assegura a representagto das minorias, Onde as minorias aio se fazer representar ou se fazem representar de forma ijusta, inadequada © n&o correlata a representacdo esté mutilada, a representagio deixa realmente de expressar 0 quedeve significa”. ficulta a representagio das forgas populares. Os stores populares que néo dispdem de recursos ¢ que tém o ‘yoto disperso no conjunto da sociedade ficardo prejudicados, Com isto haverd uma elitizagdo maior ainda do Parlamento. 23 5. Dificulta a elei¢io de democratas. Todo candidato, de diferentes matizes politicos, que nio dspbe de recursos, ceuja votagZo € dispersa no plano estadual, tem sua cleigao, comprometida. E erréneo imaginar que a adogo deste sis- tema ick prejudicar somente os candidatos_progressistas. Prejudica qualquer politico de bem que defende idsias ¢ que nfo € festa-de-ferro de grapas econémicos. 6.Regionaliza as eleigéesafastando dos debates os gran- des temas politicos e nacionais. As eleigdes para o Congres- 0 Nacional tém que se voliar para as grandes questdes do pals enio se restringir apenas As disputas peraquias e locais. 1, Fortalece o caviquismo politico, A adage do voto distal misto debilita © papel dos eleitores e das bases paridétias, Fortalece as ctipulas partidérias que indicardo 0 cancidato no distri e elaborario a lista eleitoral 8. Agrava a influéncia do poder econdmico, Ao deli- mmitar a eleigfo a um distrito, o sistema permite que 0 can- didato endinheirado geste um volume maior de recursos ‘um terrtério bem menor, Os candidato endinheirados te- tio maiores possbilidades de conseguir lugares destacados nas listas dos partidos conservadores em decorréncia do seu podetio esondmico, 9. Cria sérivs problemas ra divisio dos distitos. A divisto dos estados em distros eletora's sera um instru- mento a mais nas méos des elites para fevorecer seus can- datos. Em 1958, quando De Gaulle institu 0 voto dis- trital ne Franga, para bereficiar a dircita, formou distritos corstituidos por bairos de uma grande cidade de tendéncia opcsicionisia ¢ pela regio rural préxima, controlada pelo govemo. A manipulagio foi tio grande que se eriow um distrito para porantir a eleigZo de Marcel Dassault, o fabri- cante dos avides Mirage. Em sintese, a adogio do volo distrtal misto representa uum sétio golpe na demacracia brasileira. Sc implantado, leva a extingfo dos partidos menores ¢ a construgao de um sistema autoritrio de poucos partidos, deixando uma par- cela ponderével da sociedade sem representagio politica Quadro 4 ~ Sistemas eleitorais Pais Sisiena Partidos que atingiram Eto Sed vos Alemanha isto (proo/Ma) 03 Australia Majoritario 3 Austria Proporcional 0 Belgica Proporcional 6 Canad —| Wd DB oF Cinema | — Proper 5 GUA a, isa @ Financia | Proporcenal 6 Fronga | a. sil | Cr onde | Prpersona | o la Proporinal % Japao ‘Maj. Distrital 8 ‘Mai, Disteital 02 Proporsional 05 Proporcional 05 Propel TH 06) Cldusula de barreira Na tenlativa de impor este projeto, busea-se no sistema eleitoral aleméo o modelo que estabelece a clausula de bar- reira. Por esta regra somente 0s partidos que obtiverem pelo menos 5% dos votos dados & lista ou vencerem no minimo ern distrtos terdo representacio parlamentar. Como se per- cebe, a combinagdo do voto distrital com a ckéusula de bar- reira condua un estrangulamento das minorias no Bra: ‘A idia de introduzir a cléusula de barreira no pais vem do perfodo do regime mailitar. O general Medici fez consiar na Constituigio de 1967 o indice de 10% dos votos validos coma © minimo que um partido politico deveria atingir para permenecer om funcionamento. Na Constituigio de 1969 esta cliusula foi reduzida para 5%, tendo sido men- tido neste nivel com o pacote de abril de 1977. No entanto, a Emenda Constitucional n® 2, de 22 de junho de 1982, suspendeu sua vigéneia para a eleigto daquele ano. O professor Wanderley Guilherme dos Santos, da Univer- ade Federal do Rio de Janeiro, afirma que “em filesofia pol- € dificlimo justificar qualquer legislagio extinguindo partidos ou imponco barreiras i representagio. A peda fun- damental do sistema representativo estipula que 03 eleitores, no podem transferira seus representantes sendo aqueles po- deres que possuem, Entre estes nao se incluem o de determi- nara climinagdo de outros partidos ou de obrigar, & migrago pattidiria, candidatos eleitos por partidos diferentes dos seus. Seseoferecer como pretexto para violéncia a fala de alcangar algum palamar de volos, entéo a violencia tem nome: tirania da maioria no primeiro caso; estlionalo eleitoral no segundo”, Poucos partidos nao é sindnimo de governabilidade, Programa justo de governo, sim deputado Joto Almeida (PMDB-BA), relator da co- missto especial destinada a esludar as reformas politicas, apreseniou proposta de emenda constitucional que incor- pora a “cliusula de desempenho" também chamada de cléusula de barreira", & Consttuigéo. Por sua proposta, 0 partido que no obtiver o apoio minimo de 5% dos votos apurados, no plano nacional, na eleigo para a Cémaca dos Depuiados, ou 2% em 1/3 dos estadas, nao tera direito a representagdo nesta casa legisativa, O relator jusifica tal proposigao como forma de assegu- rara governabilidade e o combate 3s “legendas de aluguel”. Critica as “regras permissivas que privilegiam o ploriparti- darismo invesponsével e impede a formagio de maiorias”. Poucos partidos néo € sindnimo de governabilidede. A falta de hegemonia de um partido num quadro partidério restrito pode gorar uma situago de ingovernabiliade, A goyemabilidade nao & conquistada através de medidas de Torga adotadas pela maioria, mas sim pela construgZo de uuma hegemonia politica forjada a partir de um programa que presente saidas eZetivas para os problemas do pas. PRINCIPIOS » MAIO « JUNHO « JULHO 1995 THE; UNITED STATES OF AMERICA Também somos conira as “legendas de aluguel”, mas estas serdo superadas na luta politica pelo julgamento da propria sociedade, O que nfo é aceitivel ¢ se ulilizar deste pretexto para liquidar com as minorias, o necessérias a0 processo democrtico. Para o deputado Joio Almeida, trata-se de “enfrentar a questio crucial da governabilidade, on scja, da capacidade de um gover ser obedecido sem violentar as regras de- mocriticas”. sla eoneaggio revela o rango autoitrio das mudangas propostas, Um govemo que nao se faz respeitar por suas propostes ou programa & que precisa recorrer a casuismos ou golpe braneo contra a liberdade partidécia, Em vez de fazer-se respeitar pela forga dos argumentos, recorre ao argumento da forga para se fazer obedecer por uma maioria circunstancial e instivel Se as exigéncias do artigo 14 da Lei Organica dos Par= tidos Politcas, que estabelece a cldusula de barreira em 5%, tivessem sido aplicadas nas cleigdies de 90 ¢ 94, so- mente tcriam tido dirito de consttuir baneada na Cémara dos Deputados 8 partidos, Ainda assim estes partidos te- riam que satisfazer 0 segundo criti: ter conseguido vo- tayo de, no minimo, 2% do eleitorado em 9 estados. Se tai exigSacias tivessem sido aplicadas nas eleibes de 82 para 2 Cémara dos Deputados, nio teria assento naquela casa o PDT, 0 PTB e 0 PT, que chtiveram res- peclivamente 4.94%, 3,77% e 3,01%6 dos votos. Quadro 5 ~ Votupdo dos partides para a Camara Federal em 1994 Pato | ‘dos Voios [Partido | % dos Volos VOB 2022 POdcB 01,24 SOB 1369 FSD (0080 PL 12386 PHONA 067 PL 1288 Pu 0056 PPR 09,30 PPS: O06 Por. O72 PSC 0046 PP. 0585 PRP 0045 PTB 0521 PRN 0040 AL 0351 PSTU 00.40 PSB. 02,17 PY 0016 Font: Tura Super Elem — Estetica doe Elepées do 1904 Em vez de contribuir para a democracia, esses mudangas alimeniam o autoritaismo e eriam maiorias superfcias, Fm verde legendas fortes, criam-se grandes partidos sem unida- PRINCIPIOS » MAIO JUNHO = JULHO 1995, dee sem programa. No lugar da liberdade partidaia, nasce- io frentes poitcas sem feigdo, sem perfil claro, coesiona- das peo fisiologismo e pela pressfo das cépulas. Proibiedo das coligagdes proporcionais Este é outro mecanismo que, combinado com o voto dis- trtal mistoe a clfusula de barteia foram o coajunto de medidas que tendem a golpear as minorias ea demacraca, jetivo de se proibir a realizasio de coli- gages para eleiges parlamentarcs ¢ impesir que se elejam candidates expressivos, mas de partidos que ‘soladamente no conseguem alingir 0 quociente eleitoral ‘A decisio de coligar ou no é uma decisio politica. Nenkum partido esté cbrigado a coligar, soja nas eleipdes ajoritéras, seja nas proporcionais, Se por uma ou cutra razao esta coligagtio no é do interesse de determinado partido, basta que ele decida livremente nfo se coligar. O que é inadnissivel € que se queira incorporar uma proibigiio legal &s coligagdes proporcionais. O tinico objet vo desia medida € dificultar, ao maximo, 2 representagio parlamentar dos pequenos partidos. inacreditivel que mem bros de partidos progressstas estejam adatando este con- Junto de fescs conrdrias democraciae is forgas populares. Fidelidade partidaria e voto facultativo Sob a alegagio de que € necessfrio assegurar a cocstio parlidiria, defende-se hoje a perda de mandato do parie~ ‘mentar que nao seguir a orientagéo partidaria. Em primeiro lugar, dove-se destacar que a coesto partidiria decore de unidade politica em torno de um programe claramente de- finido, E esta unidade que assegura a coesdo de um par- tido, As medidas tendentes a assegurar a disciplina interna do partido devem ser reguladas pelos estatuios de cada agremiagio ¢ nfo por uma norma que intrfira no live Funcionamento partidacio. Cabe ressaliar que a proposta de perda de mandato em decorréncia do parlamentar nfo ter seguido a orientagdo partdéria & uma pena excessivamente severa, afé porque, s¢ 0 parlamentar dove explicayées a0 seu partido, ele tam- bém as deve ao seu cleitorado. E diante desta contradigdo, ele poderd ser obrigado a fuzer a oppo de fiear conita 0 seu elzitorado, seguindo wna orientagdo partidaria que fere 0s interesses do povo. Quanto a0 voio fzcultativo, hi de se levar em conta as contigbes eoncretas de nosso pais. NZo estamos num pats altamente desenvolvido e com o grau de formaso cultural e politica bastante elevado. Em sociedades deste tipo, 0 exercicio da cidadania deixa de ser uma obrigagio para ser um direito que o cidadio procara exercer em seu intresse. Nas condigées concretas do Brasil, o voto facaltativo {or como conseqiéncia uma redugao dristica do nimero de cleitores. E 0 que & mais grave: ampliaréainfluéncia do poder econémico no processoeleitoal. Os candidstos en- ditheirados procuraro atrairo eleitor para votar &custa do poder do dinheiro. Isto agravaré em muito as distorgdes inerentes ao processo politico. 25 Reforma democratica do Estado A critica & reforma politica apresentada pelos setores neoliberais néo significa uma concordéncia com a. aital esirutura do Estado brasileiro, O problema nZo esti em reformar ou nfo reformat o Estado, mas sim em reformat para ampliar ow para restingir @ democrecia, Uma questéo chave na democracia é a soberania po- pular. A democracfa se exercita de fato quando o povo tem Iecanismos eficientes para expressar sua vontadc, 0 Estado brasleito € elitist, representativo das mino- tins, A maioria dos trabalhadores tém uma representagdio inexpressiva. Basta analisar 0 nimero de representantes dos traballadores no Congresso Nacional, A democraizagéo do pais, portanto, se expressa pela eriaglio de mecanismos que ampliem a represeniagZo do conjunio da sociedade. Varios fatores contribuem para que haja uma distorgao no processo politico brasileiro, Um deles € a infTuéneia do poilereconémico no process clitoral. Os grupos econdmi- os financiam suas candidatures ¢ com isto garantem o perfil da maiocia da representagdo parlamentar, Toma-se necessé- rio adoiar medidas para combater a influéncia do poder eco- némico ¢ estabelecer limites para os gastos eom campanha, seja obrigando a divulgagdo das fontes financiadoras,seja proibindo o financiamento de candidaturas por empresas. Estas deveriam contribuir com o Fundo Patidéri, podendo inclusive haver estimulos para que isto ovorra através da dedugao de taiscontribuigses no Imposto de Renda. Reformas, sim, Mas para ampliar a &: democracia e combater a Influéncia do poder econémico Outro fator de grave distoredo & a manipulagio da dia em favor dos eandidatos que representam grupos eco- niémicos. Os meios de comunicacio recebem concessto do poder piblico. Em decorréncia dist, deve ser estabelecer niormas disciplinadoras da difusio nos meios de comuni- cago, £ inaceitével que tais meios sejam utilizados apenas com objetivo de obter fontes de lucro sem contibuir para a formapio cultural ¢ politica do pova. Tors indispen- sive] a democratizagdo neste setor. A influéncia dos meios de comunicagao e, em particular, da Rede Globo de Tele- visdo na formagio da consciéneia des pessoas condiciona seriamente todo 0 processo politico, E indispensavel combater a tentativa de acabarcom ohho- rio elzitoral gratuito, importante conguista democritica que 0s concessionéios dos meios de comunicago querem ligui= dax para aumentar os seus hucrose manipula Hivementeacons- cincia dos cidadios, Além de serem totalmente lives para fazer sun programaga0, 0s meios de comunicagio no Brasil nio pagam pralicamente nada pela concessio recebida, I: neoessirio estabelocer ditetrizes para a alividade dos meios de comunicapio, particularmente no periodo des campanhas eleitorais, com a adogiio de medidas rigoroses 26 para aqueles que favoregam alguns candidatos em dett- mento de outros. ‘A adogio do voto em branco para definir © quociente eleitoral & outro casuismo antigo. Nao se conheze exemplo na legislaglo de outros paises do mundo em que © voto branco seja contado para definir 0 quociente eleitoral. O. resultado dito & que contagem do voto branco eleva muito oquociente eletoral e impede que partidos pequenos eljam seus candidatos. Até 1988, as Constituigtes brasileiras néo tratavam da questo dos volos validos, Ao incluir a cleigao em dois ummos, a Consttuipio de 1988 definiu que os votos rulo ¢branco nfo sio votos vilidos para eleigo de candida- tos. presidente, govermador e prafeitos de cidadcs de mais de 200 mil habitantes. Com isto eriou-se uma situagio ab- sarda, em que no mesmo sistema eleitoral 0 voto branco & valido para a contagem do quocient elitoral dos parlamen- tares endo é vilido para as elei¢des majoritarias referidas. O pano de findo desta questio é evidentemente politico. Tal mecanismo favorece 0s patidos maioces, que se bencficiam das sobras cleitorais dos partidos ow coligagées que nao atingem o quocienteelitoral. A retirada do voto branco na definigéo do quociente eletoral & uma importante medida para aperfeioar o sistema eeitoral proporcional no pas. Temos que fazer reformas, mas para aprofundara demo- rae, combaterainfluéneia do poder esondmicoelimitara influéncia dos meios de comunicago no processo politico. 0s fatos eomprovar que esté em curso um grave aten- fado contra a democracia. As forgas democricas, estjam em que partido estiverem, {8m que se unit e defender as conquistas politicas incorporadas na Constituigio de 88 Jufar por uma reforma democrdtica do Estado brasileiro Avvo Arantes € advogado e deputado federal pelo PCdoB de Goids. Notas (1) domal do Brasi,17-4-95, e Dio do Comercig, bhines Gerais, 6 4-1095, (2) Bowron, Afo A. Estado, ceptasmo e cemoerecia ne América Latina, Paz e Tera (2) Boob, Notoato, @ future de demacracia - Lina defesa das regres do jogo, Paz 2 Teta (4) Sates, Wanderley Guiherme dos, Regresso ~ Mascaras inst Tucionals do bbeiatsno ofgarquco, Opera Nosra (6) “Modkles aliematves de representagdo police no Brasl e re gine clstorl, 182- 1227, Cadeios ch UNB, pronuniaento do Tancredo Neves em seminéria realzado em sétembro de 1950 (6) Nicolau, deito Nercon, Sistema eleral e reiama poltica, Fo gio Edtora Fontes consultadas (1) Legslagao Elatorel e Pati, Senado Fedarl 2) Cunha, Séigo Sermo da. O que é 0 vwlo distal (9) Lima, Harotio. Avangar ou recuar ra demociecia (4) Texlos elaboracs pela assessoria da lidetenga do PCdoB na Camera Federal (6) Lei Becral da Repebiica Federal da Atemanha, Cento ce Es. tucos Konrad Adenauer PRINCIPIOS * MAIO » JUNHO = JULHO 1995, UHL DOCUMENTOS As reformas econdmicas de FHC As questoes mais importantes das emendas do governo stio a quebra do monopélio estatal do petréleo e das telecomunicagées, conforme explicitam, aqui, os votos dos deputados Haroldo Lima e Sérgio Miranda Voto em separado sobre a emenda do petréleo O parecer do relator 1. Um mundo rdseo ¢ reduzido O deputado Lima Neto deci abrir seu rclafrio com shaved ouo, Resolvew coupar duas pginas de seu trabalho ~ sobre 0 que fize do petrleo brasileiro comeitagées de tum ministo: Nelson Jobim, Ei foram postos concetosarados do Jobim sobre direit,ma- ‘ériaem que é formado, e sobre petrdleo, ma- \éraque dovernsertrtada com cuidadopelo relatorLima Neto, ‘Acescolher Jobim paradeitar fala so- de Too, no da 244 abil pasad,rovida ojo 0 seguints: “Bu até posso fur sobre a ‘emenda que muda o conceito de empresa na- ional, o Reinhold terse desdobrado para fa- lar de previdéncia, mas nés nao entendemos nada ce Petrobrésremacetelecomunicages”. Assim, orelatrio do deputado ProcSpio eo- mega com longas digressdes sobre direito— dispensiveis~e com fiasesaleat6rias sobre petréleo—incorretas—, ditas ¢ repelidas 4 épo- cada revisio de 1994. Depois disso aparece norelatério oprimeiro onto digno de desta- que, que ee inituladeOcendrio mundial ‘A experiéncia inusitada de terse visto ‘uma Exposi¢do de Motivos sem exposigdo¢ sem motivas amortec2uasurpres a0 scons PRINCIPIOS * MAIO = JUNHO » JULHO 1995 tatar que 0 deputado Lima Neto tratao dito endo mundial em apenas tréspardarafos! Sintese mejestosa, mas acabrunhant.Ainda aque areseentéssemos os cinco pardgrafos do item 4, que aborda a questo das reservas imundiais de petréleo e 0 que nos ensina a experiéncia mundial, nio x pode deixar de registrar que tema desta natureza, nest ipo de comisso, tretando do assunto queestamos analisando, mereceria uma apreciayio bem maisaprofindata, De qualquer sorte, percebe-se que orcla- torProeopio em uma vis idilieadasituago rmandiale daluta pel pendleo hoje no mun- do. Confunde “fim da bipolarizagio” como esicbelecimento da concdrdinentr as mapbes, Parece ver a queda do Muro de Berlima que ddadas barra de interesses, ‘No, omundo deisou de ser bipoler, mes continua submetido aos conflitos de poder. Nagies hegemémicascontiniam procarando, nasnoves eondiges,submetor as nagbes pe- riféricas. Os meeanismos de dominapo S20 roves Yariados,efcientes contudo, Em pau- taestda consinugdo de uma nova ordem mun- dial mitarmente unipolarizada, com alguns ‘centres ecangimioos de poder que se disputam renhidamente 20 lado de uma vastaperiferia, levada 2 submissto,e ao abandono de seus projetos nacionais. E anova implacave! or- dem do Consenso de Washington Nib verdade que, desde ji, até “as pré- as décadas”, “omundo nde acaminhar paraum regime maisaberto, mais demoerd- ticoe competitivo(..)” No mundo prevalece capital monopolista, a oligopolizag ine- xorével centrando a economia em grandes conglomeraces, ‘No seiordo petidleots coisas nfo stoas- sim, porque slo piores. 0 jogo ai é mas im- plocivele impiedaso, scbretudo com os fra- 0s, os ingnuose oscovardes, ‘Aindlstia do pettdleo nao se restinge ‘agora is Sete Inmas, coma dizo relator, 30 bretudo porque empresas estatais nasceram pate es faz frente, como aPetrobris, ‘O quadro mudou sobremaneira, a partir dosurgimento dessasestaiise, em dezemiro de 1992, a situagao era a seguinte: 83% dos mananiais petroliferos do mundo i estavam rnas mios de 28 grandes estatais, enquanto as ‘22 maiores empreses privadas contavamape- ‘nas com 4,5% das reservas (Piw’ Top 50, in Uma questo grav, Petros). ‘A magnitude da mudanga fo tal que 0 proprio concsto de grande empresa setomou dependente do critérioutilizao, Pelovclume de vendas, das 10 maiores empresas petrol feras do mundo, 352 io estas; pelo volume dorefing, das 10 maiores, sto estas; pela producdo de petréleo das 10 maiores, 7 so estatzis; ese oritéria for a posse das reser- vas, al, das 10 maiores, 9 so estatais! (R. Bueno, Pettobrés: Una baielha contrac de- sinformagiioe o preconceito). assim, agrande novidade no mundodo petleo, apt doinico de década do, fi que as muliacionais ficaram com seus fuu- 271 rosameagados e passaram a disputa fene- ticamentenovasreservas Estedopanode indo da batalha que vol- tamosenfrentar agora no Brasil YVoltamos, digo bem, porque, na evisto de 93-94, a mesma bala foi travada, quan- dos Shell, para comands-1e, segundo. revista oj ocupoa"bellssima mansio alugada no Lago Sul” onde“0sconyidados(..) so servi des por mordomo, criadose cozinheiros,(.) conde trabalham também os lobistas daempre- <9, emumasituagdoemque:“a dinkeiramae apressio sobre os parlamentares se explicam porques revisiotocard em inferessesecond- tnicosque podem sigificar ues, ouperdas, nacasade bilhGes de dolares” (Haye 94), ncipal questioque envolviaadinheiraa hikes de délaes eraacuebrado mono- polio estatal do petrolco. A mesma quocsta- mosadiseutiragora. Receniemente, as multinacionas recon- qistaram cero espago. Nao porseristo uma tendéneiad histria, ou um eaminhomelbor, como deduz-se das palavras do relator, mas porque dezenasde paises perderam ascondi- es de continuarpleteando autonomia no negicio peirleo e nfo tiveram outra saida seo permtiro reresso des multinacionai, Colembia, Equador Chil, Paragui,Albinia Cuba, por razdes diferentes, assim procede- rain. Rissiaea China, pemidas porneces- ‘sidades enormes c urgentes de combustiveis, ¢ com debilidades tecnolégicas para explorar suas grandes jazidas,passarama fazer parce- rias com as nltinacionaisem suasreservas. Em geralos pases que chamaram devol- ts multinaconais on nfo tinham reservas significativas, oun tinkam tzenologi, ou nig tinham capital altura, O que nioéo caso Bras Asgrandesestatois cas grandesmuttina- cionais preparam-se para a préxima década, ‘quando estaremsomente, como ex portadores epetroleo, a Arabia Saudia, o 18, 0 aque, o ‘Kuweit, os Emirados Arabes Unidos, a Vene- zucla,o México, al bi, aNighiaeaArgSlia, Emmeio aaproximadamente-300 empre- ‘sasdo sefor que existem no mundo, 0 que tem de sigrifcativo siocercade 1Omultinaciomis, proctrandoabocanhar novasespagoserecon- uistar posiges pordidas, ¢ umas 10 grandes estazis todas verticalizando suasatividaes. ‘Nao écarreto, assim, chamar-se deaber- fura ao que ocorre no mundo do petréleo, Precisamente 0 que sueede € o contririo, E yenopdliodevorando o que puder para rmentar omonopdii. Prozisamos nos preparar para 0 mundo real, diferente do mundo cor-de-rosa do rela ‘6tio, onde no tem debacle do México, nem dx Aigentin, rer da Bolivia nem trans humaras na Alica, nem guerasentre apes daexUnito Sovidtca, ou daex-lugosivia, 28 nem vigoroso fechamento do mercado euro- peue prtecionisma deslavado dos Estados Unidos ¢ do Japio. Mundo cor-de-rosa nore- letério, mundo do Concenso de Washington narelidade! 2. Bacias e reservas Oitem*Asreservasbrasikiraseaseene rargadoabasteciment”, do parecer éorela- ‘or, encerraerros palmares. FE dito que “a reservasprovadas de leo” no Brasil dariam para “menos de 9 ans” & representam “0,3% das reservas mundiais de 2irithdes de barisequivalentes”. De inicio, corijamos esses dados, todos erradas, nao sem antes observar que errar & hhumano, masque orelaiériosé erraparadi- ‘minuir 0 Brasil ¢ aPetrobris, ‘Un dos quads mais divulgados na ite- ratura especialzada sobre o petrbleo & da Patroloum Inteligenes Weekly, sobre as cin- ailenta maiores empresas de peirsleo do mundo, exeetuandoas da Rissineas da Chi- nna, Nesse quadro, de dezembro de 1992 (“Mudangas no setor Petrsleo”, Petrobras), a Potrabras¢ apresentada com reservas de8,1 bildus do barrs (endo 4,2 bites), cores- pondentes a0,82% das reservas mundiais (e 100.3%). O relator usa ocrtériadereservas provadas, enquanto a Piw's Top 50 usu rité- fio das reservas descobertas, 0 6 paraaPe- inchs, mas para todasas utras empresas. Outro quadro comparativo, de outra fon- te,a0il & Bnergy Trends, de 1993 (‘Sistema Petrbrds®, Pelrobés),relaciona oBrasilcom 7 bilhses de barrs de reservase com 14,9 sznos na coluna reservas/eonsumo. O 0,3% das reservas mundiais que Braiteria foiusado em uma maria apScrif, plantada na revista Teja, edipdo de 30 de margo de 1994, sem citar font, como também no a cita 0 relator Procépio. O proprio ex-homem forte da Shell, Omar Cameo, refer sileira nas reservas intemacionas (ef trans- parénciasapresentadas nessa comisso,cm4- 495, pelo Dr. Omar Carneiro). Curso foi queo relator Lina Neto ase cquivocar,reduziucsnimeros das reservasda Petrobris e, quando se refer ao montante dasreservasdo mundo, equvocot-se denovo, ‘mas ai aumentou-as, 0 relator usna cifra de “2tihes detarsequvalentes’,comosem- pre som citar a fonte, quando o céleula da Pst Top 50, de dezembro de 1992, aponta ‘um pouco menos que | trilhao. “Argumento central do relatério & 0 que comparaa irea des bacassedimentaresbrasi= leiras com o volume das reservas descobertas, Occontraste entre os nimeras, no cantexto do relatério, sugere uma avaliagao demolidora da Petrobrése di uma razdo sida para quebra do moropélioesital dopetile. Dizo relator: ..apesar de termes 6% des bacias sedimentares do mundo, 6 dspo- ros de 0,3% das reservas provadas mun- dais”. Bcompleta:.6% dasreasedientar cdo mundo que, em sua maior parte, permane- czinexolorad Inequivocament,frasesarr- asadoras. Incoretas, condo. Opetrdle existe em bacassedimentares, rmasem quantidadesciferenes,adepender do ‘volume dos sedimentas, Nao em qualquer ca- bimentoz argumentagdo de que, tendoo Bra- sil6% dabacia sedimentar mundial, triaque ter6%dereservas de pettdleoou valorsere- Thane. Esta corelagdo nioexiste naciéncia, apequenas reas no mundo com grandes vo- Iams, como opequeno Kuve, eujtenitério Ede poucas dezenas de quildmetros quada- dos ¢ que, sazinho, tem hoje 100 bilhies de barrs de ptrilea, Podem existr pequenas 4reasplanas comenorme espessura de sei- rmenios ouras grancesreas planascomes- tretaespessura de sedimentos. Asprimeiras poderdo ter muito petréle, dependendo de Cutrosfatores, as outras jamais trio muito petlea, independent dos outasfatres. O argumento da existéncia do 29 bacias sedimentarese pequena existéncia de reservas ceainsimagio de que aaberturaresolveraessa ituagdo so de extrema tendenciesidade ¢ infelicdade. Um paisque abrisse seu petro comsemelhante teorizae0.coreriaoriscode seexporso rdfculo internacional ‘Apesor das debilidades de nossasbacias sedimentares, todas ja pesquisadas e onde hhouve boaresposta,eolocadasem produgio,o Brasil jédescobriv uma dasdez maioresreser- vase peirdle do mundo, Muite mais deem jabeseodostisdorosoemienatpto- iferas, Eainda que melindrea alguns, istofoi feilosem, eadespeto, do capital estrangero. Foina busca dessepetleo, apoiando-se ra capacidad dos cientstas dos rabahado- resbrasileres, ¢desverdando 05 sagredos de nossas profundezas terrestres e maritimas, que oBrasile aPetobrésencontraram oluga ondesetornaram ideresem pete 3. Recursos, royalties e impostos ‘A despeito do pouco que se disse sobre o. sssunto, conclu-se que o governo de FHC quer quebraro monopilioestaal do petnileo pamtrairrecursos funcamentalmenteestan- sits, parao negdcia dopattleono Brasil O relatério observa que “a Petrobréstem investido poueo mais de USS2bilhGes por ‘ano (..) 50% doque a propria empresa reco- shece como necessiric..)".Accanclusto nfo -demonstrada, de um simplismo atroz, que o PPRINCIPIOS = MAID » JUNHO = JULHO 1995 dinheiro no existe, porisso quese toma im petioso atraircapitalestrangciro. Em primeiro lugar, aexperiSneia denosso. pals omos anteriza ater mula esperanca na Vind de capital estrangeio, Do inicio dosi- culo até agora, em quase cem anos, as 6.311 empresas estrangeiras que opera, ouopera- ram, no Brasil, em todos 0s sctores de ati- vidado,investram aqui USS 72,5 blhdes. Sozinha, e em 40 anos, a Petrobrés investiu 1USS.80 bilhdes (*Mudangas no Setor Petr leo”, opi) Duranteos 13 anesos “conta: tos de riseo”, 35 empresas estrangeras que assinaram 243 eoniratos aplicaram no pats USS | 25 bilhdoeperfuraram 79 poros, no cencontrando um s6 bartl de pettleo, © s6 ‘gs, em um inico pogo, No mesmo period, perfirando8.203 pogo, com grande éxitoem diversos, 2 Petrobris investiu US$ 23 bilhdes Buen, opcit) im sogundo lugar, hi qu se perguntr: some quebraro moropélioestatal do pettS- Jeo poe-selevantaressedinheiro, USS 4 US$ Sbilhies por ano? ‘Uma resposta séria a essa pergunta cru- cial tera que passar por uma anise que Ie- ‘assocm coniaaspossibilidades da Petrobrist, |) Jevantar financiamentos diretos; 2) efetuar degsing; 3) realizar pacetiassocietirias; 4) fercenzar, 5) racionalizarinvestimentos; 6) aumentarprodupioe refino; 7) sjustar aes- teaturados preeas de seus produtos Osmaeriaisda PerobtiseasceclarapBes c informagdes deseus tfonicosa respeito de cada.um dessesitens demonstra excelentes condiges da Petrobrisgorarrecursospores- sesmeios. Comoa preacupagao do escutar 0 pessoal daPetrobrds no chegouao relator Li mato nfsficemosprivaka dessas andl. Rolatotss exomplosparaiustrare quest Prineiro ~ A. geragio de recursos pr- prios atinge USS 2 billies, com o prego de USS 18,3 porbarril do peioleo da Petrobris, Considerando-se que aestrturade pregos & derivados, sem qualqueraumento para con sumidor, pode ser altrada, aumentando a parcela da Petrobris, ao tempo em quesedi- initia quantidade deimpostosea parela dos disribuidores, hd que so admit, 6 por cesca mudanga, aeréscimo derenda para ae presa da order de US$ 3 a USS 4 bildies anuais (cf. revista Forte, setembro de 1990, “A verdade sobre os pregos”). A Associagio dos Engenhieiros da Petrobris, 2 AEPET, en- viou ao enti presidente tamar Franco uma propostade novaestrutura de pegos méios dos decivas, baseadana estruturaamerica- na. Stal proposia Fosse posta em prtica, a Petrobras teria um acréscimo anual decerca éeUSS4bilhbesem suastendas. ‘Segundo — Os recursos propaladas cor regpondema um determinado nivel de produ- 0 e refino, O investimento € feito para PRIFVCIPIOS « MAIO ® JUNHO # JULHO 1898 aumentaraprodugioe orefino, Assim, inves tindo-se, @ renda aumenta. ‘Terceiro—E imperdodvel que, noexane daspossibildades de se levanlarrecusos, relatrio no constate que a Petrobrés tem andes facilidades para fier leasing, parce- nase tceirizagis, aja iia oque contac seus documentos, lamentaelmentedesprst- ‘aos pelorelatorProcipo, As diimasplate- fonmasdepetrolo, creep, de center domes de lars, estio Sendo construi- dasna formace easing, ou seja, com recur sospracios igual azerol ‘Assim, nose visiombraproblemamaior para se mebilizareultapassar os USS 4 bi- Ihes dtos nevessérios para investi, e pode-se considerarrazoivel esse um nimerointredu- ido polo pareet ‘Na pagina [1,0 relatério informa que Petrobrés paga “royalties doepenas 3% en- ‘quanto mécia mundial situs-s2emntomode 12,5%, havendo varios pafses que superamos 2096". problemaestémalposto, Royalties sto altos onde o custo de pro- duo baixo e podem ser nulos onde o custo de produgia &muitoalto, Neste intervalova- riamos royalties de pais apais. Quando cus- tooperacionaletambémocustode capital do taixos, como éacasodo Oriente Médi, que ‘vdoapenas aUSS5 por barril; quando pogas cchegama produziraté 100.000 barris num sé ‘pogo; quando o petrleo &vendido a USS 17 por barril~ nto uma sobrafolenca para ‘sepagar bons royalties, Royaltyalto em pro- ‘dug2o no mar nfl existe. Pelo que se sabe os altos royalties ja pogos pela exploragio ro Mardo Norte esto extremamente reduzidos, Emguas profundaso queexiste, nos Estados Unidos, €tentatvade se obtr subsiios ‘No Brasil, o problema deve ser examina o.com cuidado, A Petrobrésinforma que seu cast de produgo (operagéo c capital) foi maior do quo USS 12 por bark que valor éo petrbleo no mercado enterno foi de cercade USS 16aUSS 19 por bane que ecebeuem midia por seu peirdleo produzido, nos iltimos gate anes, abagela mia de USS 10 por ‘Coerente coma linha de desvalorizar tudo ‘© que se refere ao Brasil e 4 Petrobrés, 0 re- JniorLimaNeto também mensprezaoseco- lhimentos do impostos daemprese. Comega porchan-los de “igo decantados impostos”, Eresolve desmerecé-Ios,dizendo que quem paga os impostos ¢ 0 consumidor! Mas, final, que descobera est fzendoo relator? Poracasoquem pga IMS, Il, Impostode Importagio dos outros bens no ¢ 0 consumidor? Acaso as empresas ndo recolhem do consumidor? A verdade ‘scamoteeda pelo depulado Procépio, mais tuna vex para desmerecer a Petrobrés as ccisas eta por braieios,¢ que Petrobras pagou, em 1994, USS 6,2 bilhdes, cla que movimenta aproximadamente 3% do PIB brasileiro, Se alguém esté atris de um cscindalo, ou mais um, para denunciar, deveriase ater a fata deo sistema financeio brasileiro, que, todo ele, movimenta23% do PIB (e nio 3%, como a Petrobris), ter pago apenas US$ 3 blhdes no mesmo petiodo, 4A emenda é de quebra do monopétio Na discussZ0 do mérito da emenda go- ‘vemamental o relatrio diz. que “governo pretende manter com a Unio a tulaidade exclusiva dasjazidasde deo e gs natural” Ona, istoja Geaclusivo da Unido. Oque autor introduzumadividaarespito de quem tr attularidade, uma vezque,logoem seguda, diz que a emenda aprovada “abrir a possi- bilidade de contratapio de empreses para a pesqutsae lavradejarides, mediante lcitagao ¢ pagamento de direitos pelo contratado”. Diretos, que direitos? Que seriam pagos a ‘roo de qué? Da titaaridade repassada? A lGgicanos evaa esses divides, A emenda institui os contratos!conces- ses. Feitos, nd se toma de volta logo perde= seatitularidade, Boomoosisiemaderiioou televisdo, Eda Unto, que cede, em conces- sio, a.alguém para explora. Dai por ciante, esse alguém 0 titular absoluto, na pratica. Batabelece seu monepétioendiohé quem tre Veja o caso da Globo. Também tem conces- si, como todas asoutras tedes de televisto. Mas quem poderd afasté-las, em qualquer cireunstincia? No mundo intero, retomadas de concessbes 5 ccorrem como fruto de mo- vimentos revoluciondtios, No caso do pet- {eo,em nivel intemaciona,somente intensa ‘mobilizagao popular permitiu que o mundo asistise & expulsto das geirasdascolGnias petoliferasexistentes a Adéeada de 70, Se, no Brasil, concessoes fo- rem feitas a magnatas do petréleo muncial,¢ se-esses magnatnsinstalarem umaplataforma nabecia de Santos ou Campos, cu onde quer queseje, nc himais quemos tire de, e nem quem regulamente o que lé eles fardo; encher navios de dleo e levar para seus paises, por exemplo, Por outro lak, a Media Provisiria 41, que dispoe sobre as convessces, colocani.aPe- ttobrs como privatizivel, logo que ele > transforme de executorado monepbto estat dopetrdle em mera conessioniran explo raga do petrdleo. Mais grave ainda, Pela MP 950 (cep. V, arts, de 29 2 32), a que cricu o Real, o ministro da Fazenda pode colocar as ages da Peirobriisa disposigdo do BNDES, para vendana Bolsa, como a Petrobrés sera ‘mera concessionaia isto poderd ser feitosem préviaautorizagio do Congresso. Por isso, a 29 emendaé de quebre do monopSlo esata do petrleo, 0 cu sentido de privatizagdo da Petrobris. 5. Manter 0 monopélio facilitando as parcerias Nao somos contra toda e qualquer mu- danga nalegislagZo. Somos contra madangas que dilapidemo patriménio piblico nacional. Se contudo se pretendesse fazer altera- es para incentivar a presenge de capital privado ra questio do petrleo, sem quebra do monoplio, seria ocaso de sestuder I) Nao mexerno at 177 a Constituigto (capate parderafes) nem na Le¥2.004, man- {endo assim intocado omonopSto; 2) Aprovar uma Le Complementarcomo sequinie sentido: © monopélio estatal do petidleo, deacordo com oart. 177 da Consfi- tuigdo Federale coma Lei 2.004, deverdcon- templar, sempre que coube,parcerassociet- riasnas éeasde refito, transporte estocagem deliquidose gases, tratsporte de pane, de- rivadose afins; ilizar 0s artigos 37 ¢ 173 da Constituigéo, que impedem a orzanizagio do estaais de qualquer tipo, ou subsiirias, ern owiranteso Congress, Ummernenda deveria assegurar que, n caso do art, 177, aestatsl executora, a Petrobrés, ficariaautoizada a consttuirubsidivas, em patcerias com ex- pital privado, de ecordo com regres provia- ‘mente autrizaas pelo Congresso Nacional HaroldoLima Deputado federal, PCdoB-BA Voto em separado sobre a emenda das telecomunicagoes* 0 debate desenvolvido nesta Comissio revelou duas formas de ver a questo das tele- ‘comunicagtes. {primeira peroebeo selora partir das yesibiliades que se abrem, eomoun grande negécio: o governo, de um lado, vislumbraa possbilidade de fazer caixa, coma alienagio de scus ativos: ¢ oempresariado quer assumir osttore dreconé-o aosseusmais imeitos inferesses, im busca de jusifiativaspalaté- ‘eis, que mascarnssm es suas reais posigdes ese sogmentovaleu-se de sofismas, mentires, dadasem desacordo com arealidade falas ‘premissas, No debate, a abertura do sotor a0 capital privado 6 apresentada enquanto para Ghar tasos ns, desocenose ‘que osetor no Brasil jé é um dosmais abertos ‘apossbildade de conoassbes para osetor de telecomunicapses.Tegiversa quando afioma ‘que.as preocupagdes externadas pelos depute dos Gerson Peres ¢ Nelson Marchezan—e dos quase 300 parlamentares que subserevern as. regectivasemendas~est contempladasem seu substittvo, Respeitasse ses, aredagio seria bem diferente. Controle, mas que controle? As teses desonvolvidas pelo goverro © tambm pao relatorsobre aso reguladora, regulamentadorae fiscalizadora do Estado parecer emanadas doetireo. Nioencontam pxelelo narealidade brasileira. O Bstadobra- sileironem sequer &capaz de garantirs di- reitos constitucionais do cidadio, Um sem- nero desses direitos sto letra morta, S20 revogados sem ao menos existirem, Bartari- dades sio cometidas contrac cidacio emhos- pitais credenciados da rede privada e, em defesa do direito constitucional & snide, a admicistragdopiblicando consegue controlar ‘nem as Faturas que paga. 32 Fosse real est inten, estariames dis cutindo desde fos parimetrosaserem alean- ¢audos,os mecanismas de contoleete. Camo sericyeridiaaginestta!? Depisques inivia- tvaprivadajéestivercontlandoredoo set? A danga dos mimeros Dirantetodo debate na Comissto, ficou evident uma enocire manipulagdo dos mime- ros usada pelos privatistas no afd do conven- cimento de seus intresses. Mentiras, meias verdades, manipulagdo de dados forem.uma conslnts tanto nos depoimentos dos mem- bros do governo como. dos empresirios que «bfendeinaemenda da privalzagio, Esta ma nipulagdo est presente logo quandose usa termo"flexibilizaggo” do monopélio, id queé evidenteratarse de um merocafemismo para aprivatizagio do setor de telecomunicapoes, como préprio minisro José Serra fez ques- tio deafirmar. A orelator dmonstrouasua porplexidado com os nimerossoafiemar:“O setor de telecomunicagbes tem duas verda- cds”. O ministro Sérgio Motta chegou a de- runciar o carter antisocial do modelo de telecornnieagdes, fi quea classe E~aquela {que ganha menos de US$ 70 por més—riio tem telefone residencial! Esta menipulagdo grosseira reeperece no “limo documento enviado a0 Ministério das ‘Comunicagies, quando so apresentados os dados da Telebris referentes 2 1992 e naoos diadas de 1994 (todos dsponives),saben- -do-se que no ano passado 0s investimentos focam sigificativamente maiores A proposta govemamental sustenta-se num rontobiésico:osetornecesstade nvestimen- tosda ordem de USS 35 bilhdes para os pro- +ximos4 anos, recursos que 0 sir pitblico é incapa dearer Estenimero mégioo percoreu todosasdebatese constitui-se no nficleo cen- traldasdefesasdo gover, Janoprimeirode- besolctecsestudostonicosquzderamsubs- ‘tAncias 2 este edlewo, mas nunca fui atendico, Asafinmagéestiunilstascvoluntarisas do inisire —que esses investimentos lea- riam o Brasil aonfvel das paises do.G7, des comhecendo os reais entraves ao desenval- vimento da sociedade e da economia brasileira = deveriam ser suficientes para nos fazer desconfiar dos seus nimeros. Mas que mais me chamou a atengio serve também para demonstrarainconsisiénciados nfimeres. 0 governo apresent,talyez como autocrtica Sabre 0 mado superficial eom que trata do problema, que o setor term uma carénciare- primide de 4 a 10 milhes de noves lines, ‘Uma variagio de nada menos que 150% deve- riadesacreditar as sus projegbes ou revelar ‘que-a nvcessidade dos USS 35 billioes tam- ‘ém estaia, na mesma monta, superdimen- sioexboem 150% ‘A Telebris poderia e pode investir mais, ccom seus proprios recursos. Nao o fu por ecisio do govero, que argumentasera con- tengo dos nvestimentos, mesmo comrezur- ses prOprios das estas, importante como instrumento de controle da base monetari, Por acaso os investimentosrealizacos plo sctorprivado igualmente ro elevam base monelarianacional? Ou igualmente fica ‘que o governo pretendeestimular os invest sents pivasro ser? Parece hipocrisia,mas o governo japon taem seus relatérios a necessidade de redi rmensionarosubsidiocruzado,aumentaras tae rifase diminuira carga ributiriado setor(por acaso a maior do mundo). Para que? Para susiro setrparaomodela das privatzages, fomando-omais tratvo, maisrentivel. Or, por que nio realizar algumas mudangas nas éarunrasdeprepscapciedsininsso ima Telebrise realizar os investimentos necessérios? Por ora, podemos afirmarquea privatizagio ccm aumento das tarifasaliviand smovos operadores (privados) do Seu maior problema diminuiria caréncia do seu mais oneresoservgo:atelefeniaresidencal (Onministo José Sera afimou que ore- tomorecebido pela Unit g pequeo fente a9 alto patriménio investido nas estatais, esque- cendo-e, propositadamente, oministto de in- eluiro pagamento eftivo dos impostos em seuscilculos. Seo govemotralasse commmaior seriedadecste essunto, teria walizado compa ragOes entre asoperadora stata com au Ja queéa finica empresa privada do setor. Foi ‘a partir prineipalmente da expesicao do St. Luis lbrio Gaeia, presidente d CTBC, nos knits desta Comissio, que ficou mais clara esta questio. Respondendoa wma de minhas inquiigdes, ete senhorreafirmouo que te dcamploconhscimento desta Casa: aemare- ‘sa, como a maioria dosetor privado, no paga 0 imposio de renda, Numa tentativa de des- rmentiroqpe ficou gravadonosanais estacm- prose enviou orlatrio comes dadosreferen- tes ao seu balaneo anvel de 1994, Assinada pela Athur Andersen IC, umanotaexplicar tive dia real dimensio dos USS 10,092 mi Indes devidos ao IRPF: aper Unio, comrespondentes @ RS 1,542’ milhéo (18% do devo) referee despesareaizaa; (os demas, USS 8,27 milhdes (82%) foram provisionads e aguardam deciso judicial ‘mas nem sequer foram depositados cm juzo. Conelusdo Por todas essas questoes manifesto-me contrérios proposipio nical e também con- traosubsitutivodo relator, Sérgio Miranda Deputado federal, PCdoB-MG PRINCIPIOS » MAIO » JUNHO = JULHO 1995

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