Exemplo de Referencial Teorico MESTRADO Ciencias Da Comunicacao

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co/nebfors/pzejetoe/pos dec/¥2C0_0.peF Maria José da Costa Oliveira Comunicaciio Organizacional e Comunicagio Publica: Interagies, convergéncias e conflitos ‘Sao Paulo, margo de 2012 6. Referencial Teérico referencial tedrico para esta pesquisa sera constituido, inicialmente, por autores que analisam e discutem questdes sobre espaco ptblico, esfera piiblica, democracia, participacio e deliberacao, bem como a influéncia dos meios de comunicacdo nesse processo, afinsl, ao focalizar a interface entre comunicagio organizacional e commnicagdo piblica, tais questies se revelam como base para a abordagem a se realizar. ‘Nessa perspectiva, a contribuigfo de autores como Habermas (2003), Esteves (2003), Gomes (2008), Marques (2008) e Gugliano (2004) tomam-se findamentais, pois trazem luz para entender questdes e consequéncias das novas esferas pitblicas, que passaram a se constituir na nova sociedade, mareada por profundas mudancas de comportamento ‘Habermas, uma das principais referéncias nos estudos sobre esfera piiblica, analisa que esta localiza-se entre 0 Estado e a scciedade, 0 que nos permite entender o inevitavel impacto que a communicacao organizacional provoca na comunicarao piiblica e vice- versa Ao enfatizar a fungi dos meios de comunicagio, Habermas alesta para a importincia destes agirem com independéucia, nao sendo influenciados por poderes econdmicos e politicos, o que assegurana a phuralidade necesséria a um regune democritico. Esta evidencia ser considerada na aplicagao da pesquisa empirica aqui proposta. ‘Marques (2008) indica que para garantir que todos participem igualmente dos debates discursos em contextos formais 2 infommais é necessrio que os atores sigam procedimentos que zelem palas condigdas de igual participagio ¢ considerapaa de todos. A partir desta afirmag2o, pretende-se verificar comp essa igualdade de participagao e consideracio ocome no Ambito organzacional e seu reflexo no espago publico. A interagfo entre os atores sociais deve ser mediada pela accountability (prestagio de contas), pela igualdade, pelo respeito miituo e pela autonomia politica, e, para isso, a communicacdo se toma instrumento fundamental de curculapdo de informacio entre a periferia e o centro (Marques, 2008). Assim, também se utilizara desta referéncia para analisar como ocore a circulagao da informagao entre organizagdes pitblicas e privadas. Gnghano (2004), por sua vez, destaca a relagio entre capitalismo e democracia, pois dessa simbiose surgem dividas sobre a capacidade de se gerar beneficios frente ao processo de deterioragao fisica, cultural, social e ambiental do planeta, ja que 0 capitalismo privilegia a questo econémiea, comprometendo a demoeracia no contexto de cidadania e direitos civis. Gugiiano sinzliza, eutio, a perspectiva de andlise politica qualitativa, estudada por diferentes autores, mostrando a trajetoria de novas democracias. que caracterizam a tereira onda da democratizagio, justamente no contexto da cidadania e dos diteitos civis Como se depreende do tema desta pesquisa, democracia é um dos aspectos centuais a ser discntido, utilizando, de um Iado, autores que tratam de delimité-la ao regime politico, de ontro, autores que defendem sus abrangéncia para a sociedade como um todo Lembramos, porém, que ao analisar democracia delimitada 20 regime politico, restringe-se a questo 0 campo de dominago social, pois © Estado toma.se 0 elemento central de legitimasaio dos mecanismos de dominagao social (organizasao coereitiva, segundo Tilly (1992, p. 20)), buscando, ao mesmo tempo, aceitago da validade legal das suas intervengies Nessa perspectiva, democracia fica resirita & esfera do Estado, nfo se estendendo ao mercado econdmico e nao se relacionando diretamente com @ infra-estrutura da sociedade Essa restrig&o preserva organizagdes ligadas & produciio, comercializacio e transagio de bens com valor monetério de aplicar as prerrogativas democriticas na sua forma de gest2o ou planejamento estratégico de seus objetivos. pemnitindo o predominio do Iuero privado sobre os interesses de bem-estar da populagao Assim, 0 mercado econdmico separado da gestéio democritica acaba promovendo a cisto entre 0 piiblico e 0 privado, com auséncia de limites na busea da satisfagao (econémica) individual. Por isso, testemunham-se, com fieqiiéncia, atividades econdmicas que fogem dos padrdes éticos e morais das sociedades contemporineas, Todas essas consideragdes levam & necessidade de repensar a teoria da democracia, para, conforme propée Boaventura de Souza Santos (2002), ampliar 0 enone democrético. Dessa forma, Gugliano (2004) enfatiza a critica discussiva da democracia, desenvolvida por Habermas e defende um modelo pasticipativo de democracia, apresentando as transformagdes comunicativas dos procedimentos democraticos Habermas busca construir 1m modelo de interpretagao social que resgata a centrahidade a ago humana eo potencial que as estruturas comunicativas possuem para a superacao das contradigées da sociedade capitalisia, sugerindo quatro formas de aso social que sintetizam as diferentes possibilidades de intervengio social dos individuos: aeio teclégica, ago regulada por normas, ago dramatitrgica e ago comunicativa © destaque & ago comunicativa apresenta a ceutralizagao da teoria social habermasiana ao redor dos problemas do dilogo e do consenso, que coloca a Iinguagem elevada & condigao de nico instrumento pelo qual é possivel edificar consensos envalvendo a totalidade dos atores sociais. Ha, portanto, a tentativa de legitimar a construgfo de uma ‘Visto de mundo através da interagao com outros individuos e a sociedade em geral. Caracterizando a deliberagio piblica como 0 Amago do proceso democritico, Habermas sugere uma divisio entre prineipios liberais de demecracia e principios republicanos. O modelo liberal tem a proposta centrada na capacidade do Estado para mediar conflitos ¢ admuustrar a sociedade do ponto de vista das necessidades do mercado econémico. Jé 0 republicano, refere-se ao projato de construir um sistema politico global centrado na capacidade de asticulasao da sociedade civil Tais diferencas provocam a necessidade de formulaggo de um modelo altemativo, segundo Habermas, que incorpore elementos da teoria liberal e republicana, construindo-se novas formas de consenso findamentadas numa teoria democraitica discursiva, Assim, do modelo liberal seriam meorporadas as caractaristicas de estima a soberania do Estado e nomnatizagao constitucional das relagdes politicas. Do modelo republicans extrai-se a valorizagio da formagao da opiniaio e da vontade publica e a énfase A capacidade de antodeteminagao dos cidadaos © modelo habermasiano de deliberago politica procura encurtar distincias entre o Estado ¢ a sociedade civil ¢ tenta aproximar os politicos profissionais ¢ a atividade politica em geral dos cidadaos Entretanto, o modelo habermasiano tam um impasse relacionado 4 auséncia de uma transigdo entre os procedimentos democritico-conminicativos ¢ os de efetiva gestio do Esiado, que pode ser solucionado com projetos de co-gestéio do Estado, envolvendo politicos profissionais e cidadaos. As democracias participativas inserem processos anteriormente restritas aos circulas governamentais e parlamentar na vida cotidiana dos cidadaos, estruturando-se diferentes niveis de reunides que envolvem moradores das diferentes cidades e regides. Estimula- se, nesse modelo, 0 debate sobre espaco urbano, a partieipagio nas detarminagdes de obras piblicas ou até a escolha de vizinhos para fazerem parte de féruns de gestio. Dessa forma, revoluciona-se a constitui¢o do capital social, que é outro conceito-chave desta pesquisa Para que se avance nos sentidos da democracia, é necessirio democratizar a esfera nio- estatal (Santos, 2002), caracterizar um modelo que vai além do regime politico, capaz de enfatizar mediagdes entre o local e 0 global, incorporando novas problematicas que interferem na abordagem demecratica Ontra questao essencial para esse avanco ¢ valorizar as condigdes societarias, tais como aspectos vineulados aos direitos humanos, capital social, violéncia, desemprego, entre outros Nese interim, vale analisar a mobilizacdo cidada na atualidade, que no visa apenas a ruptura com o regume politico, mas almeja ganhos para a coletividade, tais como a racuperagio de espacos piiblicos, 0 aprimoramento de servigos sociais e a melhoria da qualidade de vida da conmnidade. Além disso, esta mobilizagao utiliza canais tradicionais e, em especial, teenologias que facilitam a articulagao em redes de agdes sociais Esteves (2003) aborda a constituisio histérica do espago piiblico e sua dificuldade em se tomar verdadeiramente democritico para a participagio da sociedade civil. Destaca. também a centralidade da comunicacdo, em especial da midia de massa, no processo de fomnatago de um espago pblico, hoje fragmentado e diluido. Ao mesmo tempo o autor afirma que este espaco nao teria extinguido toda a sua vitalidade A sociedade civil, conforme Esteves (2003) se reconfigurou ao longo da histéria, transformando a “sociedade burguesa” em forte nficleo social estruturada de ascociagdes voluatirias auténomas nfo sé em selagfio ao Estado, mas também em relagdo a economia. Isso faz com que a forga regeneradora que a sociedade civil pode inemtir ao Espago Publico dependa da delumitaco precisa das suas fronteiras com relapdo a0 Estado e da promogiio de uma “agiio social responsivel”. Portanto, cousolidada a abordagem sobre esfera piiblica e democracia, serd momento de aprofimdar questdes relacionadas participagdo social, cidadania e movimentos comunitirios, referenciando autores que s@ dedicam ao tema, como é 0 caso de Canclini (1999), Matos (2009), Rocha ¢ Goldschmidt (2010), Peruzzo (1999), Henriques (2002), ‘Sherer-Warren (1999), Vieira (1999), Baldissera (2000), Duarte (2007). Cidadania, participagio social ¢ movimentos comunitarios integram-se como concerto e ago, ja que a cidadania tem selago direta com a sociedade democritica, de patticipacio na esfera publica, sendo capazes de implementar movimentos sociais, 10 relacionamentos entre os atores sociais e tendo como base respeito aos direitos humanos, participagio nos negécios piblicos, enfim, deveres e direitos, inclusive os ecologicos, de género, étnicos, liberdade de expressio; respeito @ individualidade e as identidades especificas e justica social. J4 destaquei em outros trabalhos (Oliveira, apud Bezzon, 2005, p.47) que a conquista da cidadania ¢ um processo histérico, que surgiu na Grécia antiga, junto com a nogdo de cidadao, apesar de ter nascido com dimensao de exclusio e de manutencao da hierarquizagao social. Desde entiio, o conceito soften grande transformagiio e se tomou mais complexo e inter- relacionado com democracia Conforme Scheres-Warren (1999) a ampliac&o dos direitos de cidadania relaciona-se, na atvalidade, com os processos de democratizagio da sociedade, o que nos leva a entender que o processo de democratizasao tanibém deve influenciar as politicas de comunicasao organizacional, tendo em vista uma nova percepeao dos individuos e grupos sociais na sociedade, conforma é a proposta deste projeto de pesquisa © conceito de capital social, que esi intimamente ligado as redes sociais ¢ de comunicagao disponiveis para as interagdes dos agentes sociais (Matos apud Duarte 2007, p. 54) merecerd destaque. ‘Matos lembra que “a rede social. pode ser dimensionada pela confianga que os membros atribuem aos participantes e as conseqiéncias associadas a esse sentimento”. (Matos, apud Duarte, 2007, p. 55) © conceito de comnnicacao piiblica, de acordo com autores como Matos (apud Duarte 2007), Duarte (2007), Brando (apud Duarte, 2007), Nobre (apud Marques ¢ Matos, 2011), Jaramillo Lopez (apud Kunsch, 2011), Oliveira (2004), Haswani (apud Kunsch. 2011), Vidal (apud Kunsch, 2011), Hohlfeldt (apud Kunsch, 2011), Marques (2011) , contribui para uma nova percepgao de politica de comunicagio. Para Duarte (2007, p. 59), comunicagao publica centraliza o processo no cidadio. Tal conceito € confirmado por Matos (apud Duarte, 2007. p. 47). que também trata de evidenciar 0 conceito de comunicagio piiblica “como espago pinral para a intervencao do cidadio no debate das questdes de interesse piblico” Por outro lado, a comunicagao também ¢ fundamental na gestao estratégica das organizagées, na formacio, construgio e consolidacao de sua imagem, reputacio, marca e no proceso de administragio da percepso e leitura do cenério social, contribuindo para a anilise do ambiente intemo e extemo, dos planos de negécios da i organizacio, identificando problemas e oportunidades para a tomada de decisdes compartilhadas ¢ posicionamento das organizag3es Para aprofundar coneeitos e aspectos da comunicagao organizacional serio utilizados autores como Kunsch (2003, 2007, 2009), Torquato (2002), Farias (2011), Baldissera (apud Kuasch, 2009), Casali (apud Kunsch, 2009), Curvello (apud Kunsch, 2009), Scroferneker (apud Kunsch, 2009), Grunig, Ferrari e Franga (2009), Oliveira e Soares (2008) e Farias (2011). Uma abordagem mais critica também sera utilizada, de forma a mfletir sobre o papel desempenhado pela comunicago organizacional sem que se considere seu impacto nas questdes de interesse piiblico, sendo Bueno (2005) uma das referucias nessa andlise Nos wltimos anos tem sido registrado um substancial avanco nas pesquisas e publicagSes que vém tratando tanto dos conceitos de comunicagio organizacional como de comunicasio publica. Pesquisadores e autores passaram a se dedicar aos temas, representando um avango consideravel nos estudos que cercam tais conceitos. Todavia, esses conceitas vim sendo construidos em linhas paralelas 2 tem sido restrita abordagem que demonstre as imbricagdes existentes entre comunicagio organizacional e piblica, parecendo que esses conceitos no se cruzam, pois um segue a trilla da esfera privada, enquanto o outro se relaciona com a esfera puiblica No atual censrio social, politico e econémico nao hi como realizar a andlise da comunicagao organizacional de maneira isolada, sem levar em conta seu impacto e entrelacamento que pode ser estabelecido com a esfera publica Conforme indica Kunsch (2009, p.75) sobre a comunicagio organizacional Hoje. pode-se dizer que 03 estudos so mais abrangentes e contemplam muitos assuntos em uma perspectiva mais ampla, como anélise de discurso, tomada de decisio, poder, aprendizagem organizacional, tecnologia, lideranea, identidade organizacional, globalizagao e organizacdo, entre outros Reconhecimentos como o expresso por Kunsch sugerem que novos estudos passem a coutribuir para ampliar as andlises sobre o papel da comunicagao na sociedade Interessante observar a evolucao do conceito de comunicacao organizacional que antes adotava como referéneia “o pensamento comunicacional norte-americano, (que) em uma perspectiva tradicional, tinha como foco pereeber a comunicagio orgenizacional mais no 4mbito intemo e nos processos infomativos de gestao”. (Kunsch, 2009, p.75) ‘Numa retrospectiva historica a autora também mostra como o conceito de comunicacdo corganizacional tem evoluido, jé que antes “o foco estava na comunicacio administrativa/intema e nos processos informativos de gestio: nas redes de comunicacSo; nos canais, nas mensagens, na cultura e no clima organizacional: na estrutura organizacional e nos fluxos, nas redes, ete; nos inputs e outputs das crganizagSes Entretanto, as diferentes abordagens passaram a revelar novas possibilidades. Kunsch (2009, p. 75) eitando George Cheney e Lars Thoger Christensen (2001, p. 235) desereve que os autores chamam a atengio para a interdependéncia e inter-relagtio da comunicacdo intema com a extema. Depreende-se, portanto, que é possivel realizar andlises que contribuam para avancar na ralago entre o micro ambiente e © macro, entre o individuo ¢ o cidadio, entre o individual e 0 coletivo, entre o privado ¢ o piblico, e, finalmente, entre a comunicagao organizacional ¢ a commmicagao publica Assim, o presente projeto traz.a proposta de pesquisar o tema em questo, com base em raferéncias tedsicas e pesquisa empirica, que suscite o avango de novas pesquisas, capazes de contribuir com a andlise do papel da comunicagio junto as organizades e a sociedade. Habermas (1997, p. 30) sintetiza, na citagdo a seguir, a importancia da participagio, das articulagdes, das discusses em nome do interesse piblico, que indicam o papel que a comunicagdo exerce no proceso. “o fato de o cidadéo ser também responsavel pela co-gestdo do Estado tom implicagées que ulirapassam a esfera das relagdes politicas na medida em que fortalecem o tectdo de araculagdes entre os préprios cidadéos e colacam na pauta de discussdes questBes que, mesmo sendo origindrias da esfera privada, interferem no modo de vida da coletividade”. ‘Dessa forma, os conceitos e seus respectivos autores trazem efetiva contribuigio para os objetivos que se espera aleangar cam esta pesquisa 13

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