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PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL POBLICO Quadro 10. Competéncias para o julgamento de pessoas de Direita puiblice externo no Brasil ORGAO JURISDICIONAL COMPETENCIA Causas envolvendo Estado estrangeiro ou or- > STF ganismo internacional e a Unido, o Estado, 0 Distrito Federal ou 0 Territério > Causas envolvendo Estado estrangeiro ou or ganismo internacional, de um lado, e Munici- pio ou pessoa residente ou domiciliada no Bra- sil, do outro > Justiga Federal > Em grau de recurso ordindrio, causas envol- vendo Estado estrangeiro ou organismo inter- + $i nacional, de um lado, e Municipio ou pessoa residente ou domiciliada no Brasil, do outro > Justiga do Trabalho Causas que envolvam relagbes de trabalho 10. QUESTOES (Advogado da Unido 2002) Quando soarem as doze badaladas da meia-noite do dia 19 de maio de 2002, 0 mundo acolheré com satisfaco 0 Timor Leste na familia das nagSes. Ser um momento hist6- rico para o Timor Leste e para as Nacdes Unidas. Um povo orgulhoso e tenaz realizard 0 sonho comum a todos os povos de viver como homens e mulheres livres sob um governo que eles mesmos escolhe- ram. Kofi Annan. 0 mundo ndo pode abandonar o Timor Leste. In: Folha de S. Paulo, 19/5/2002, A-29 (com adaptag6es), A partir do texto, julgue os itens que se seguem: 1, Para satisfazer 2 condigao de Estado, tal como prescreve 0 Direito Internacional Publico, o Timor Leste deve possuir: territério, populace, governo, independéncia na conducdo das suas relacbes externas e reconhecimento dos demais atores que compdem a sociedade internacional. 2. Para o direito das gentes, 0 Ingresso nas Nacdes Unidas ¢ condicso necessaria para que um Estado possa ser considerado sujeito de Direito Internacional. 3, Apopulacdo de um pals ¢ 0 conjunto de pessoas (nacionais e estrangeiras) fisicamente instaladas em seu territério, 4, O governo timorense deve ser reconhecido pelos demais membros da comunidade internacional como condigo necessdria para o reconhecimento do novo Estado. (TRE 5? Regio ~ Juiz— 2006) Em cada um dos préximos itens, é apresentada uma situacSo hipoté- tica acerca do reconhecimento e da sucesso de Estados, seguida de uma assertiva a ser julgada. 5. OEstado X, situado no continente americano, tornou-se independente em 2000. Em 2003, 0 Estado ¥, também situado no continente americano, declarou o reconhecimento do Estado X. Nessa situacdo, somente a partir do referido reconhecimento os atos emanados pelo Estado X sero aceitos como validos pelos tribunais do Estado Y. 6. Um Estado tornou-se independente recentemente. Nessa situaco, para que esse Estado seja digno de reconhecimento pelos demais Estados da sociedade internacional, ¢ necessdrio que ele possua populacso, territério, governo e soberania, além de ter seu pedido de reconhecimento aceito pelos demais Estados até cinco anos a contar da data de sua independéncia. 202 SSUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO: 0 ESTADO. IMUNIDADE DE JURISDICKO 7. Em 1970, 0 Estado A tornou-se independente, recebendo, em 1972, o reconhecimento do Estado B. Em 1980, esses dois estados romperam relacdes diplomaticas por defenderem interesses comerciais divergentes. Nessa situacao, o Estado 8, segundo 0 direito internacional, pode revogar 0 reconheci- mento anteriormente declarado. 8. Um Estado é recém-independente. Nessa situac30, dois outros Estados podem, segundo o direito internacional, celebrar um tratado internacional para exprimir 0 reconhecimento conjunto do Estado recém-independente. 9, O Estado J perdeu, por secessdo, parte de seu territdrio, surgindo um novo Estado, K. Nessa situa- 40, 0 Estado K no sucede o Estado J nos acordos bilaterais firmados por este e deve enviar uma Notificagdo de sucessdo para aderir aos tratados coletivos, observados, neste Ultimo caso, os limites impostos para o ingresso de novos Estados-partes. (TRF 52 Regido — Juiz — 2005) Com fundamento na atual jurisprudéncia dos tribunais patrios, julgue os itens seguintes, acerca da imunidade do Estado estrangeiro em face da jurisdigo brasileira. 10. O Estado estrangeiro esta sujeito a jurisdigao brasileira quando pratica ato jure gestiones, como, por exemplo, a aquisigéo de bens méveis e iméveis. 11. Em causas relativas 3 responsabilidade civil, o Estado estrangeiro goza de imunidade de jurisdi¢ao, devendo a parte lesada discutir sua pretens%o indenizatéria perante os tribunais do pais faltoso. 12. Na execugdo forcada de sentenca condenatéria contra Estado estrangeiro, caso este ndo possua bens estranhos 8 sua representacdo diplomatica nos limites da jurisdi¢3o brasileira, deve ser expedida ‘carta rogatéria, acompanhada de gestées diplomaticas, para se proceder a cobranca do crédito. (Instituto Rio Branco - 2004 — ADAPTADA) O presidente da Republica inicia hoje uma viagem pelo continente africano. Seu primeiro compromisso no exterior diz respeito 4 assinatura de um tratado comercial com a Repubblica de Benguela, envolvendo exporta¢ao de produtos agricolas e medica- mentos, ¢ ajuda financeira. A Republica de Benguela é pais recém-criado, surgido em decorréncia do desmembramento de parte do territérlo de um outro pais. A partir do texto, julgue os itens que se seguem: 13. Considerando que 0 territorio da Republica de Benguels era parte de um pais, que continua a existir, 2 referida Republica néo deverd ficar responsdvel pelo pagamento de nenhuma parcela de divida externa contraida pelo pals predecessor, ainda que ambos os paises tenham diversamente acordado, haja vista a existéncia de norma impositiva de direito internacional publico a respeito dessa matéria. 14. Para que fosse aceito como pals-membro da Organizaao das Nagdes Unidas (ONU}, em condi¢o de plena igualdade com os demais paises-membros, a RepUblica de Benguela teria que comprovar 0 atendimento dos requisitos exigidos por aquelz pessoa juridica de direito publica internacional para © ingresso na organizacdo, tais como o respeito aos direitos humanos e a comprovagao dos limites minimos de populago e de extensdo territorial. 15. (TRF 32 Regio — Juiz — 2006) Em uma ago promovida contra um Estado estrangeiro, deve o juiz: a) julgar-se incompetente e enviar a aco para o Tribunal Superior. b) determinar a citagdo do representante legal do Estado. ©) indeferir a inicial por falta de jurisdigao. d)_ encaminhar a inicial ao Ministério das Relacées Exteriores 203 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO 16. (TRF 1# Regiao — Juiz — 2009) Pedro, cidadao brasileiro, presta servigos como cozinheiro na embai- xada do Estado X no Brasil. Apés constatar que varios dos direitos trabalhistas previstos na Consoli- dacio das Leis do Trabalho estavam sendo desrespeitados, Pedro decidiu ajuizar acdo na justica do trabalho brasileira. Com base nessa situaco hipotética, assinale a op¢do correta. a) Deve ser seguido 0 procedimento descrito na Convengio das Nagées Unidas sobre Imunidades de Jurisdi¢ao e Execucao do Estado. b) Em matéria trabalhista, ndo hd imunidade de jurisdi¢do do Estado estrangeiro no Brasil. 0) Aimunidade de jurisdigo do Estado estrangeiro é absoluta por forca de uma norma jus cogens. d) Acompeténcia para conhecer da aco é da justica federal. ©) Em matéria trabalhista, nao hd imunidade de execuciio do Estado estrangeiro no Brasil. 17. (BACEN — Procurador ~ 2009) 0 aforismo par in parem non habet judicium dé fundamento & norma de direito internacional que dispde acerca de. a) imunidade de jurisdicao estatal b)_ desenvolvimento sustentavel ¢} liberdade dos mares d) efetividade €) clausula da nagéo mais favorecida (IRBr ~ 2009 ~ ADAPTADA) "Em 14/6/2008, 0 Governo brasileiro respondeu a carta do ministro dos Negocios Estrangeiros da Republica de Montenegro, acusando recebimento de noticia acerca do re- sultado de referendo favordvel ao status daquele pais como Estado independente, apés desmembra- mento da Unido de Estados da Sérvia e Montenegro. Na carta, 0 Brasil “reconhece, a partir da data de hoje, a independéncia da Republica de Montenegro, pais com o qual o Brasil tenciona, oportuna mente, iniciar processo com vistas ao estabelecimento de relacdes diplométicas”. Acerca desse tema, julgue os itens seguintes, respondendo “certo” ou “errado”: 18. 0 Governo brasileiro poderia ter optado por no reconhecer formalmente a independéncia de Mon- tenegro e poderia ter simplesmente estabelecido relacdes diplomaticas com aquele pals, o que teria produzido o mesmo efeito juridico do reconhecimento. 19, Antes do reconhecimento de Montenegro, o Governo brasileiro deve ter considerado, em sua avalia- ‘630 das circunst&ncias locais, se a nova entidade possuia territérlo definido, populacdo permanente, governo soberano e efetivo, & se havia comprometimento de Montenegro em estabelecer misao diplomatica em Brasilia 20, Ao Governo brasileiro caberé a tiltima palavra na destinaggo a ser dada aos bens (embaixada, terre- nos) que eram anteriormente pertencentes 4 Unido dos Estadas da Sérvia e Montenegro e que se encontram em territério brasileiro. Julgue os seguintes itens, marcando “certo” ou “errado”: 21. (Procurador Federal 2010) A anexaco, por meio da utilizago da forca, é uma forma de aquisicao de territério proibida pelo direito internacional 22, (TRT 12 Regiao — Juiz - 2010 - ADAPTADA) Compete a justica do trabalho processar e julgar ages oriundas das relacdes de trabalho, abrangidos os entes de direito piiblico externa, que so os Estados estrangeiros e as organiza¢ées intemacionais governamentais. 23. (Defensor Publico da Unido - 2010) A competéncia jurisdicional brasileira somente incide sobre indi- viduo estrangeiro se este residir no Brasil durante mais de quinze anos ininterruptos. 204 SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO: 0 ESTADO. INUIIDADE DE JURISDICAO 24, (TCU — Auditor Federal de Controle Externo — 2012) Em razdo da soberania estatal, pelo sistema da territorialidade, a norma juridica brasileira aplica-se no territério do Estado brasileiro, territdrio esse que compreende o espaco geogréfico onde se situa e, por extensdo, as embaixedas, os consulados € os navios de guerra, onde quer que se encontrem. 25. (TRT — 32 Regido — Juiz - 2012 ~ ADAPTADA) E entendimento jurisprudencial da Seco de Dissidios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho que a imunidade de jurisdi¢ao dos Estados estrangeiros 6 relativa, em relagdo as demandas em que se debate o direito a parcelas decorrentes da relacao de trabalho, pois as parcelas so oriundas de atos de gestao e nao de império. 26, (TRT-32 Regio — Juiz— 2012 - ADAPTADA) E entendimento jurisprudencial da Seco de Dissidios In- dividuais do Tribunal Superior do Trabalho que os organismos internacionais permanecem, em regra, detentores do privilégio da imunidade absoluta, quando esta é assegurada por norma internacional ratificada pelo Brasil, diferentemente dos Estados estrangeiros, que atualmente tém a sua imunidade de jurisdicao relativizada. 27, (TRF a) Proposta aco por brasileiro em face de Estado Estrangeiro visando a receber indenizacao por danos morais e materials, decorrentes da protbicdo de entrada no pais, apesar de anterior concessao de visto de turismo, deve 0 magistrado extinguir o processo, por inépeia da inicial jegio — Juiz - 2010) Assinale a alternativa correta: b) Proposta aco por brasileiro em face de Estado Estrangeiro visando a receber indenizacao por danos morais e materiais, decorrentes da proibic3o de entrada no pals, apesar de anterior concessdo de visto de turismo, deve o magistrado determinar a citagao do Estado Estrangeiro, j4 que a imunidade de jurisdicgo ndo representa regra que automaticamente deve ser aplicada aos processos judiciais mavides contra Estado Estrangeiro, e pode, ou ndo, ser exercida por esse Estado. ©) Aquestao relativa 4 imunidade de jurisdicéo, atualmente, é vista de forma absoluta, mesmo nas poteses em que o objeto litigioso tenha como fundamento relacdo Juridica de natureza meramente civil, comercial ou trabalhista. d) Proposta aco por brasileiro em face de Estado Estrangeiro visando a receber indenizacdo por danos morais e materiais, decorrentes da proibi¢ao de entrada no pals, apesar de anterior concessio de visto de turismo, deve o magistrado extinguir o processo, por se tratar de hipétese de imunidade absoluta de Jurisdi¢éo, nao sendo possivel sua relativizacdo, sor vontade soberana do estado alienigena. 28. (IRBr — Diplomata - 2011) Dois ex-empregados da missao diplomatica do Estado X situada no Esta~ do ¥ ajuizaram contra aquele Estado reclamaco na justica trabalhista deste Estado, alegando que alguns de seus saldrios ndo haviam sido pagos. Tendo julgado procedente 2 reclamagdo, a justica trabalhista do Estado Y determinou, a fim de satisfazer os créditos dos ex-empregados, a penhora de bens, incluido o préprio prédio da referida misso diplomatica. Com relagao a essa situacao hipotéti- ca, assinale a op¢do correta: a) Caso 0 Estado Y fosse o Brasil, a justica trabalhista n3o poderia, de acordo coma jurisprudéncia do STF, determinar a penhora de bens do Estado X, por gozar o Estado estrangeiro de imunidade de execugiio. b) Ajustiga trabalhista do Estado Y nd deveria ter conhecido da ago, pois a Convencao de Viena sobre Relacdes Diplornaticas estabelece a imunidade de jurisdi¢o do Estado estrangeiro em matéria traba- Ihista c) Ajustica trabalhista do Estado Y nao deveria ter conhecido da a¢Zo, pois casos que envolvam imuri- dade de jurisdigo e execug3o somente podem ser julgados por tribunais internacionais. d) Caso a penhora recalsse sobre a residéncia oficial do embaixador, ela seria considerada licita perante © direito internacional. e) Sob o prisma do direito Internacional, a penhora do prédio da miss diplomatica ¢ licita. 205 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO 29, (MPT — ADAPTADA ~ 2013) Em relaco aos trabalhadores brasileiros contratados no Brasil por Estados estrangeiros ou Organizagdes internacionais, para aqui prestarem servico, é CORRETO afirmar que: 2) Em virtude do reconhecimento de imunidade relativa as representagdes diplomaticas, é competente originariamente o Tribunal Regional do Trabalho do local onde celebrado a contrato, para demanda ajuizada pelo trabalhador em face da mesma b] Aimunidade de jurisdicao das representagSes diplomaticas se restringe aos atos de gesto, os quais pertencem a soberania de cada Estado em particular, ndo abrangendo os atos de império. ©) Em virtude do reconhecimento de imunidade absoluta das representacdes diplomaticas de Estados estrangeiros, é competente uma das Varas Federais da capital da Republica Federativa do Brasil d) Consoante jurisprudéncia atual do STF organiza¢ao internacional integrante do sistema das Nacbes Unidas goza de imunidade absoluta de jurisdico, pois amparada em norma internacional incorpora- da 20 ordenamento juridico brasileiro. Julgue 0s seguintes itens, marcando “certo” ou “errado”: 30. (TRF 12 Regido ~ Juiz ~ 2013 - ADAPTADA): Juiz federal de primeira instancia nao tem competéncia para julgar conflito entre governo estrangeiro ¢ ente municipal brasileiro. 31, (TRF 12 Regido — Juiz - 2013 — ADAPTADA): O STF entende ser relativa a imunidade de jurisdicao das organizagSes internacionais. 32. (TRF 18 Regidio ~ Juiz ~ 2013 ~ ADAPTADA): Os elementos considerados na identificacdo do Estado como sujeito de direito internacional no incluem a capacidade para entabular relagées internacionais. 33. (TRT ~ 5 Regido — Juiz - 2013 - ADAPTADA): Dado 0 elenco dos elementos constitutivos de um Es- tado constante da Convencéo Interamericana sobre Direitos e Deveres dos Estados de Montevidéu, € correto afirmar que o reconhecimento de um governo pelos Estados signatérios dessa convencio implica no reconhecimento de um Estado a ele relacionado. 34, (TRT ~ 58 Regio - Juiz - 2013 ~ ADAPTADA): A imunidade de execuco dos Estados estrangeiros prevista em regras costumeiras internacionais. (Procurador Federal - 2013) X ingressou com ago judicial contra Y. 0 juiz julgou totalmente proce- dentes os pedidos. Instado a pagar, Y invocou a sua imunidade de jurisdi¢ao. Com base nessa situag3o hipotética, julgue os itens a seguir. 35. Se X for uma autarquia federal e se a demanda judicial for uma execucdo fiscal em que ¥ seja um Estado estrangeiro, ndo haverd imunidade de jurisdi¢ao. 36. De acordo com entendimento do STF, se ¥ for a Organizacao das Nagdes Unidas, nao haveré imuni- dade de jurisdigao Julgue os itens a seguir, marcando “certo” ou “errado. 37, (IRBr- 2014) Mesmo aqueles microestados que delegam parcelas essenciais de suas competéncias, como defesa e representagao internacional, podem ser admitidios na ONU. 38, (TRT-11 {egio — Juiz - 2014 ~ ADAPTADA) . 39, (TRT ~ 182 Regiao - Juiz ~ 2014 ~ ADAPTADA) Sobre a imunidade de jurisdicao das pessoas juridicas de direito publico externo perante 0 judicidrio brasileiro, é correto afirmar: 206 SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO: 0 ESTADO. IMUMIDADE DE JURISDICAO a) Os Estados estrangeiros gozam de imunidade absoluta de jurisdicio no Brasil, assim como suas Mis- ses Diplomaticas sediadas em territério brasileiro, b) Derivada do costume internacional, 2 imunidade de jurisdicdo dos Estados estrangeiros tem sido atenuada no Brasil, permitindo, por exemplo, o trémite de reclamacées trabalhistas movidas por empregados de Misses Diplomaticas sediadas em territério brasileiro. ©) As Organizagdes Internacionais Intergovernamentais, em especial, a Organizag3o das Nagdes Unidas (ONU), gozam das mesmas imunidades concedidas 8s Miss6es Diplomaticas e, por isso, podem figurar como Reclamadas em pracesso trabalhista, mesmo contra sua vontade expressa. 4d) As Organizagées Internacionais Intergovernamentais somente poderao ser rés perante o judiciério brasileiro em acées relativas a atos de gestdo, gozando de plena imunidade em relacdo aos atos de império que porventura venham a praticar. GABARITO Gabarito Tépicos do aa Fundamentagao capitulo | Eventual observagdo elucidativa a |g. | Pouttina e Convencéo de Montevi-| 4 5... | 0 reconhecimento nao é ato consti- deu, art. 1 $ tutivo dos Estados ‘A patticipacio na ONU nao esté 1e2 _ | elencada entre os elementos consti- tutivos do Estado © povo é formado apenas pelos na- cionais Doutrina © Convenco de Montevi deu, art. 1 3 | ¢ | Doutrina 2 (O reconhecimento ¢ ato unilateral e 4 | € | Doutrina 5 nao depende do reconhecimento de outros Estados 5 | E |Doutrina 5 O reconhecimento ¢ retroativo Nao sé 0 reconhecimento nao é ele- mento constitutive do Estado como © | & | Doutring 5 | tampouco estd sujeito a prazodeter- minado ie E Qauittinehe:conveneiode Monteyt: 5 O reconhecimente é irrevogavel deu, art. 6 (0 reconhecimento pode ser coletivo 8 € | Doutrina 5 e expresso 9 | c | boutrina 7 2 10 | ¢ | Doutrina 9,9.1.29.2 | Nao ha sujeicao nos atos de império Em matéria de responsabilidade ci- i E | Doutrina 9,9.1€9.2 | vil, o Estado nado é visto como inves- tido de sua soberania 12 | Doutrina 9e9.3 - O Estado sucessor deve pagar parce- la da divida adquirida em benetficio. 2 E | Doutrina tr de todo o territério do antecessor quando o débito tiver revertido em seu beneficio 207 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO Gabarito oficial Fundamentacao Tépicos do capitulo Eventual observacdo elucidativa a |e Doutrina e Convencao de Montevi- deu, art.1 203 Nao hd limites minimos de populacgao ede extensdo territorial para que um. Estado seja considerado como tal 15 | B a) Doutrina e CF, art, 109, 1t 9,9.1.¢9.2 No Brasil, o Juiz Federal de 12 Grau é competente para julgar Estados es- trangeiros na hindtese do artigo 109, Il, da CF/88 b) Doutrina 9,9.1.29.2 Providéncia cabivel para apurar se 0 Estado ¢ ou nao imune ¢) Doutrine 9,9.1.29.2 “Falta de jurisdica0” nao é hipotese prevista na lei processual para inde- ferimento da inicial 4) Doutrina 9,919.2 A via diplomatica sé 6 eventualmen- te empregada na execucdo 16 | B a) Doutrina 93 A normativa referente a imunidade de jurisdigo do Estado ainda é cos- tumeira b} Doutrina e jurisprudéncia 9.1.2 Os atos relacionados 4 matéria tra~ balhista sao atos de gestdo ¢) Doutrina e jurisprudéncia 9e subi- tens A imunidade do Estado nao € ab- soluta, no existindo nos atos de gesto e, segundo entende parte da doutrina, diante de atos contrarios 2 protecso dos 1s humanos d) CF, art. 109, Il, e CF, art. 114, 1 94 Alustica Federal é competente para conhecer de causas envolvendo Es- tados estrangeiros, por um lado, € Municipio ou pessoa residente ou domiciliada no Brasil, mas no em matéria laboral e) Doutrina @ Convengaio de Viena de 1969, art, 18 93 Mesmo quando haja imunidade no processo de conhecimento, ainda prevalece a imunidade no campo da execugao wi a a) Doutrina 914 A imunidade de jurisdigso estatal ainda prevalece quanto aos atos de império b) Doutrina 91d E principio de Direito Ambiental in- ternacional ©) Doutrina 911 E principio relativa ao Direito do Mar d) Doutrina gaa e) Doutrina oat E principio do Direito do Comércio Internacional 208 SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO: 0 ESTADO. IMUNIDADE DE JURISDIGRO Gabarito Tépicos do itacd ‘idatiy oficial Fundamentacao capitulo Eventual observacao elucidativa 48 c | Doutrina 5 Trata-se de modalidade de reconhe- cimento tacito A abertura de missdo diplomatica a9 | €& | Doutrina 5 n3o é condigao para o reconheci mento Ou os bens sao divididos equitati- 20 E | Doutrina 7 vamente, ou a sucessdo é objeto de ajuste entre o Estado antecessor e o sucessor Na atualidade, o emprego da forca 2 =| Doutrina 8.2 € praticamente proibido no Direito das Gentes 22 Cc | CF art. 114,1 94 * A competéncia do Estado brasileiro Gonveneaa de Montavideu sobre'ns incide ye todos os estrangeiros 23 | E | Direitos e Deveres dos Estados, art.| 8.4 he 2 que se encontrem no territério na~ cional Lembramos que o Cédigo Penal em- prega a expressdo “consideram-se Doutrina, convencées internacionais eomovextansdoido temiorio nace mic ne : : I", 0 que implica exatament diversas. Codigo Penal(art.52,519)| 84 | Nal» 9 que Implica exatamente que tais espacos s3o tratados como se territdrio brasileiro fossem, sem, na I realidade, o serem 25 | ¢ | Doutrinae jurisprudéncia 9.1.2 - Doutrina, jurisprudéncia e tratados 26 | pertinentes dos organismos interna- 9.2 oa cionais O Magistrado deve comunicar-se antes com 0 Estado estrangeiro, por a) Doutrina e jurisprudéncia 9.1.2 | melo de sua Embaixada, para ter ci- éncia do interesse do ente estatal em se submeter a processo no Brasil Em todo caso, prevalece atualmente na jurisprudéncia a nogo de que o contato com a misséo diplomatica is Enci 912 27 B By Duthie jarteprtade nets estrangeira no configura tecnica- mente citagdo, mas mera “comuni- cacio” A imunidade é€ relativa no tocante «) Doutrins e jurisprudancia 91.2 aos atos de esto © Estado estrangeiro pode relati- d) Doutrina e jurisprudéncia 9.1.2 | viear sua imunidade por ato de sua propria vontade, renunciando a ela 209 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL POBLICO Gabarito oficial Fundamentacao Tépicos do cpitulo Eventual observago elucidativa a) Doutrina e jurisprudéncia 9.1.2 E importante recordar que o fato de 0 Estado no gozar de imunidade de jurisdi¢&o para atos de gest8o no afasta @ imunidade de execucao b) Doutrina e jurisprudéncia 91.2 Nao hd imunidade de jurisdi¢ao em matéria trabalhista ¢) Doutrina e jurisprudéncia 9.1.2 A auséncia de imunidade de jurisdi: so implica exatamente 2 compe- téncia dos tribunais de um Estado para julgar outro Estado d) Doutrina e jurisprudéncia. Ver também a Convencdo de Viena so. bre Relagdes Diplomaticas, de 1961 (arts. 22 e 30) 9.1.2 Apenhora é ilicita, eis que o imével onde reside o Embaixador ¢ protegi do por imunidades diplomaticas €) Doutrina e jurisprudéncia. Ver tam- bém a Convengio de Viena sobre Re- lagdes Diplomaticas, de 1961 (art. 22) 9.1.2 A penhora do prédio da miso di- plomética ¢ ilicite 29 | D a) CF, art. 114,1 9s Compete originariamente Justica do Trabalho, no aos Tribunais Re- gionais do Trabalho, processar e jul- gar entes de direito piblico externo em questées laborais b) Doutrina e jurisprudéncia 9.4.2 A imunidade abrange os atos de im- pério, nao os de gestao CF, art. 114,1 95 £m matéria laboral, a competéncia originéria é da Justica do Trabalho. A Justiga Federal de primeiro grau teré competéncia origingria para © exame de causas em que forem partes Estado estrangeiro ou orga- nismo internacional, de um lado, e Municipio ou pessoa residente ou domiciliada no Brasil, do outro d) Doutrina e jurisprudéncia 9.3.1 E total a Imunidade dos organismos internacionais, salvo renuincia 30 | £ CF, art, 109, 11 95 ‘As causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e Muni- cfpio ou pessoa residente ou domi- ciliada no Brasil, do outro, deve ser julgadas, em primeira instancia, pela Justisa Federal aa] Atos constitutivos das organizacées internacionais, tratados. especificos das organizacées internacionais acer- ca de imunidades e jurisprudéncia 9393.1 O STF entende ser absoluta a imuni- dade de jurisdicdo das organizacbes internacionais, salvo rendncia 210 ‘SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO: 0 ESTADO. IMUMIDADE DE JURISDICAO Gabarito Tépicos do, . sacl FundamentacSo capitulo, | Eventual observacio elucidativa Como sujeito de Direito Internacio- a |e looweas [nal que é, 0 Estado tem capacidade para entabular relagdes no &mbito internacional Convenco de Montevideu sobre : : 33 | € | direitos e Deveres do Estado, de] 25 | 0 “econhetimento do Estas nao ¢ 1933, art. 3 ee 8 Convenes de Viena sobre Relates A imunidade de execucdo tem fun- jolométicas, de 1961, e Convenc3o 3a] £ ° 9.2 | damento em norma convencional de Viena sobre Relagdes Consulares, iertedag) de 1963 5 ange 35 | E | Doutrina ejurisprudéncia wg | AUTwiilade de eee ed carmsem abrange execugées fiscais Doutrina, jurisprudéncia e tratados 36 | | relativos’& imunidade das organiza-| 9.3 | Aimunidade das organizagBes inter- : nacionais ¢ total, salvo reniincia ges internacionais A qualidade de Estado e, portanto, de sujeito de direito internacional, 37 | ¢ | Doutrinaejurisprudéncia 3 no depende da quantidade de di- reitos e obrigagdes do qual um ente estatal é titular (0s Estados sao juridicamente iguais, desfrutam iguais direitos e possuem Convengao de Montevideu sobre os capacidade igual para exercé-los. Os ae | ¢_ | Diteitos e Deveres dos Estados, de 6 direitos de cada um ndo dependem 1933, art. 4, e Carta das Nagdes Uni- do poder de que disponha para as- das, art. 2, par. 1 segurar seu exercicio, mas do sim- ples fato de sua existéncia como pessoa de Direito Internacional « np'iBal © Estado estrangeiro no goza de a) Costume e jurisprudancia 91.2 | snunidade pata atos de gestio © Estado estrangeiro ndo goza de | imunidade para atos de gestdo, os B) Sestunets junspridenss 94.2 | quais incluem aqueles atos vincula- dos as relacdes laborais ‘As organizagées internacionais go- zam de imunidade absoluta, salvo 39 | B rentincia, inclusive diante de as- ¢) Tratados internacionais e juris-| 9, _| suntos de carater trabalhista. No prudéncia se confundem, ademais, as regras das imunidades dos Estados com as regras das imunidades dos organis- mos internacionais i : ‘As organizacdes internacionais go- 4d} Tratados internacionais © juris) 934 | am de imunidade absoluta, salvo prudéncia : reniincia 211 CAPITULO VI ORGAOS DO ESTADO NAS RELACOES INTERNACIONAIS 1. ORGAOS DO ESTADO NAS RELAGOES INTERNACIONAIS Os érgios do Estado nas relagies internacionais sio os individuos encarregados de representar os Estados, que sio pessoas juridicas, no campo do relacionamento externo, tendo comperéncia para administrar a dindmica das relagGes estatais com outros Estados, organizacées internacio- nais e demais sujeitos de Direito Internacional Public e para agir em nome do ente estatal na sociedade internacional. 1.1. Nogées gerais Tradicionalmente, a representagao internacional do Estado tem sido incumbéncia do Chefe de Estado, do Chefe de Governo, do Ministro das Relagées Exteriores, dos agentes diplométicos (diplomatas) e dos agentes consulares (cOnsules), que continuam, alids, exercendo papel destacado na formulacio ¢ condugio da politica externa estatal ¢ das acées do Estado no campo das relacbes internacionais Entretanto, as relagées internacionais na atualidade sio marcadas pelo crescente dinamismo ¢ pela maior complexidade dos temas tratados. Com isso, é cada vez mais comum o envolvimento de pessoal da administragio publica especializado em outras dreas espectficas (comércio, defesa etc.) no tratamento dos assuntos externos do Estado. Dessa forma, é cada vez mais comum que outras autoridades e funcionarios também sejam chamados a agir em nome do Estado na sociedade internacional, a exemplo de ministros, presi- dentes de érgios puiblicos, governadores de Estados da federacio etc. Tal intervengao é Freqiiente quando do tratamento de temas de caréter mais técnico ou do interesse direto de certas comu- nidades dentro do Estado, Neste capitulo, trataremos apenas dos tradicionais érgaos do Estado nas relagdes internacionais, cujas competéncias tipicas incluem atos de representacao internacional, examinando néo apenas as fungoes que exercem no Ambito externo como também as prertogativas, privilégios e imunidades ‘com que contam, quando estao no exterior, pata que possam exercer de maneira livre suas funges. Em todo caso, e por mais que a atuacéo de outras autoridades nas relagées internacionais ainda nao tenha sido objeto de maior aten¢io na doutrina, entendamos que o fato de tais autori- dades exercerem fungées de representacio esratal lhes confere, no exterior, prerrogativas ao menos semelhantes aquelas de que gozam érgios do Estado que tradicionalmente exercem fungées de representacao internacional. Por fim, destacamos que os érgaos do Brasil nas relades internacionais deverao, no exercicio de suas fungGes, observar os principios constitucionais que o Estado brasileiro deve seguir nas relagies 213 PERTE | ~ DIREITO INTERIACIONAL PUBLICO internacionais, que so os seguintes (CR, art. 49): “I~ independéncia nacional; II ~ prevaléncia dos direitos humanos; III — autodeterminagio dos poyos; IV — nao intervengio; V — igualdade entre os Estados; VI — defesa da paz; VII - solucio pacifica dos conflitos; VIII ~ repiidio ao terrorismo a0 racismo; IX — cooperagéo entre os povos para 0 progresso da humanidade; X ~ concessio de asilo politico. Parégrafo tinico. A Reptiblica Federativa do Brasil buscar a integrag4o econémica, politica, social e cultural dos povos da América Latina, visando 4 formagio de uma comunidade latino-americana de nagées”. Dado 0 carter normative dos principios, 0 artigo 4° do texto constitucional configura ver- dadeira prescrigéo de conduta, que deve orientar a formulacao ¢ a execugo da politica externa brasileira e da agéo dos érgios do Brasil nas relagoes internacionais. 1.2. Os érgios do Estado nas relacées internacionais ‘A seguir, estudaremos os principais desdobramentos te6ricos c priticos vinculados ao papel exercido pelo Chefe de Estado, pelo Chefe de Governo, pelo Ministro das Relac6es Exteriores & pelos agentes diplomiticos e consulares nos atos de representacio internacional do ente estatal. 1.2.1. Chefe de Estado O Chefe de Estado € 0 principal érgao do Estado nas relacées internacionais e, portanto, é © principal representante estatal na sociedade internacional. Com isso, cabe ao Chefe de Estado a responsabilidade priméria pela formulagao e execugao da politica externa estatal, Além disso, 0 Chefe de Estado, como autoridade da mais alta hierar- quia da administracio piiblica, é comperente para decidir, em tiltima instdncia, acerca das ages internacionais do ente estatal. reito Internacional a forma de investidura do Chefe de No passado, nio interessava ao Estado, que era da algada exclusiva do Direito interno. Na atualidade, a crescente importancia que se atribui & democracia dentro dos tratados internacionais e na politica externa dos Estados pode gerar dificuldades para autoridades que tenham subido ao poder fora da ordem democritica. Nesse sentido, & possivel que governos que ascendam ao poder fora de parimetros democraticos ou por meio de rupturas institucionais ndo sejam reconhecidos, o que impede que representem seus Estados intermacionalmente. Além disso, é comum que entes estatais ¢ organismos internacionais, diante de golpes de Estado, pegam ao novo Chefe de Estado que providencie de logo a normalizacio democritica. Por fim, cldusulas democréticas limitam aos Estados onde vigore o regime democritico a participagao em determi- nados blocos regionais ou organizagécs internacionais, como o MERCOSUL, a Organizacio dos Estados Americanos (OEA) ea Uniéo Europeta ‘Tampouco interessa a0 Direito Internacional a titulagio que o Estado atribui ao respective Chefe. O rol de competéncias do Chefe de Estado ¢ definido na ordem juridica de cada ente estatal e depende fundamentalmente da forma, do sistema e do regime de governo adotados. Em geral, porém, os Estados atribuem fungées semelhantes a seus respectivos chefes, notadamente: declarat ; concluir tratados; e formular e executar a politica externa estatal. ORGAOS DO ESTADO NAS RELACOES INTERNACION IS No Brasil, as fungbes do Chefe de Estado nas relagées internacionais, exercidas pelo Presi- dente da Replica, esto definidas no artigo 84 da Constituigéo Federal, nos termos seguintes: “Compete privativamente ao Presidente da Repiiblica: VII — mater relagdes com Extados estrangeiros © aeredibar seus representantes diplomésico; VIL — celebrar sratados, comvencées ¢ atos internacionats,sujeitos a referendo do Congresso Nacional: XIX declarar guerra, no caso de agressio estrangeira, autorizado pelo Congreso ‘Nacional ow referendiado por ele, quaneloocorrid rn intervale assesses legislatvas 4, nas mesmas condigbes, decresar, toial ou parcialmente, a mobilizagso nacional: XX— celebrar a paz, auroricado ou com o referendo do Congres Nacional XXIT— permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forgas estrangeinas transitem pelo territério nacional ow nele permanegam temporariamente™. E importante destacar, porém, que a Presidéncia da Reptiblica nao age na seara das relagdes internacionais de forma independence de conuroles que possam ser impostos por outros Poderes estatais, mormente o Congresso Nacional ou apenas o Senado Federal. Nesse sentido, reiteramos, inicialmente, que a capacidade do Chefe de Estado brasileiro de celebrar tratados se encontra sujeita & autorizacao do Congresso Nacional, prévia & ratificagao do ato internacional (CF, arts. 49, I, ¢ 84, VIII). ATENCAO: a manifestacao congressual relativa a celebraco de tratados pelo Brasil é posterior | a assinatura e anterior & ratificaco, Outrossim, lembramos que no cabe ao Congresso ratificar 1 atos internacionais, apesar do que possa levar a entender a redacao do artigo 49, |, do texto | constitucional, que reza que é da competéncia exclusiva do Congresso Nacional “resolver defi- nitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compro- | missos gravosos ao patriménio nacional”. i Quanto & dentincia de um tratado, que tradicionalmente néo exigia o envolvimento par- lamentar, é importante indicar que existe uma tendéncia a que passe a ser exigida a autorizacio congressual para que 0 Presidente da Reptiblica possa proceder 4 dentincia de um tratado. Eo que evidencia o julgamento da ADI 1625, ora ainda em curso, dentro do qual vem prevalecendo a orientagao de que nao é possivel ao Presidente da Reptiblica denunciar tratados sem 0 consen- timento do Congresso Nacional? Como indicado no bojo do préprio artigo 84, XIX e XX, compete ao Presidente da Repiiblica declarar a guerra ¢ celebrar a paz, mas com autorizagio ou referendo congressual. 1. Apresenca temporaria ou 0 transito de tropas estrangeiras pelo teritdrio nacional & regulada pela Lei Compplementar 90, de 01/10/1997, alterada pela Lei Complementar 149, de 12/01/2015. 2. Arespelto, ver: SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Informative 549, Brasilia, DF, 1 a 5 de junho de 2009. Na data de fechamento desta ediclo, o julgamento ainda nao havia sido concluido: os autos estavam no Gabinete da Ministra Ellen Gracie, devido a pedido de vista, desde agosto de 2009, e, posteriormente, passaram para a relatoris da Ministra Rosa Weber, 215 PARTE I~ DIREITO INTERNACIONAL POBLICO ir que forcas estrangeiras transitem pelo territério nacional ou nele permanegam temporariamente, nos casos previstos em lei complementar (CF, art. 84, XXI), em principio com autorizagao do Congress Nacional, em ato de competéncia exclusiva (CF, art. 49, II). Entretanto, pode lei complementar dispensar a possibilidade de autoriza¢3o congres- sual em casos do tipo. Cabe ao Presidente da Reptiblica nomear os chefes de missio diplomética (embaixadores).. Entrecanto, a indicacéo em apreco encontra-se sujeita 4 prévia aprovagao do Senado, em sessio secreta (CF art. 52, 1V). A propésito, cabe também ao Senado “autorizar operagées externas de natureza financeira, de interesse da Unido, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territérios e dos Municfpios” (CF, art. 52, V). ATENCAO: nas hipsteses elencadas no artigo 52, IV e V da Carta Magna, é necesséria apenas a | autorizacdo do Senado, no a do Congreso como um todo. 1 1 1 ' Por fim, é dbvio que as agées presidenciais esto, no geral, sujeitas a controle jurisdicional. No exterior, os Chefes de Estado beneficiam-se de privilégios ¢ imunidades semelhantes as aplicéveis aos agentes diplomiticas, que incluem, dentre outros: a inviolabilidade de sua pessoa de seu local de hospedagem; a imunidade cfvel e penal; a isencdo de impostos diretos e; a liberdade de comunicagio com seu Estado, ATENGAO: as viagens oficiais e de trabalho de Chefes de Estado ao exterior, bem como de outras autoridades que nao as diplomaticas e consulares em misses permanentes, so conhecidas como “misses especiais”. © fundamento dessas prerrogativas ¢ permitir que os Chefes de Estado possam exercer suas fungGes da maneira mais livre possivel, de forma a que possam defender os interesses dos respec~ tivos entes estatais sem impedimentos ¢ temores ‘ado sao extensivos a sua familia e comitiva, Os privilégios ¢ imunidades do Chefe de E inclusive em viagens particulares ou de férias. Abrangem também ex-Chefes de Estado, com 6 intuito de permitir que essas autoridades possam exercer suas fungGes oficiais sem reecio de qualquer forma de vinganga posterior. Entretanto, a quantidade de casos em que Chefes de Estado se envolvem, durante o exercicio de suas fungées, em determinados atos repudiados pela sociedade internacional, vem levando a uma mudanga na orientagao do Direito Internacional a respeito das imunidades a que essas autoridades fazem jus. Tal mudanga ocorre no contexto de afirmagio do principio da justiga universal, pelo qual a persecugio penal a quem cenha cometido cercos delitos pode se estender a qualquer parte do mundo HUSEK, Carlos Roberto. Curso de direito internacional puiblico, p. 93. 216 ‘ORGAOS DO ESTADO NAS RELACOES INTERNACIONAIS Nese sentido, o atual entendimento prevalecente é 0 de que as imunidades de ex-Chofes de Estado nao persistem diante de atos contrarios aos principios e objetivos das Nagdes Unidas, mormente as violagGes dos direitos humanos, os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade. Com isso, setia possivel o julgamenco de um ex-Chefé de Estado por cortes internas de Estados estrangeiros ou por tribunais incernacionais por conta de atos cometidos por essa autoridade durante 0 perfodo em que exerceu 0 poder, o que antes nao era vi ivel. Marco recente na mudanca de entendimento na matéria foi o caso Regina V. Evans and ano- ther and the commissioner of police for the metropolis and others ex parte Pinochet,’ relativo 3 prisio do ex-Presidente do Chile, Augusto Pinochet, em Londres, em 1998. Em decorréncia do exame desse caso, restou reconhecido que os ex-Chefes de Estado efetivamente gozam de imunidade para que possam exercer suas fungées, mas néo no tocante a atos elencados como ctimes no Direito Internacional. © Dieito Internacional caminha também para limitar as imunidades dos préprios Chefes de Fstado, 3 luz do principio da “irrclevancia da qualidade oficial”, consagrado pelo Estaturo de Roma do Tribunal Penal Internacional (art, 27), pelo qual “a qualidade oficial de Chefe de Estado ou de Governo, de membro de Governo ou do Parlamento, de representante eleito ou de funciondrio piiblico, em caso algum eximird a pessoa em causa de responsabilidade criminal”, bem como segundo o qual “As imunidades ou normas de procedimento especiais decorrentes da qualidade oficial de uma pessoa, nos termes do direito interno ou do direito internacional, nao deverio obstar a que 0 Tribunal exerca a sua jurisdigao sobre essa pessoa”. Gragas a essa norma, o Tribunal Penal Internacional jé emitiu ordens de prisio, pela pritica de crimes contra a humanidade, contra os Presidentes da Libia, Muammar al-Gadhafi, c do Sudo, Onmar al-Bashir, apresentadas durante o petiodo em que estes ainda se encontravam no exercicio das respectivas fungées de Chefe de Estado. 1.2.2 Chefe de Governo Como regra geral, as fungies do Chefe de Governo nas relagées internacionais dependem da forma, do sistema e do regime de governo adotado pelo Estado. Nesse sentido, 0 papel do Chefe de Governo nas rclagoes internacionais nao terd qualquer relevancia em Estados como o Brasil, que adotam o sistema presidencialista. Por outro lado, no parlamentarismo, a importancia do Chefe de Governo nas relag6es internacionais poder ser maior, em vista, evidentemente, dos paderes que lhe sejam conferidos pelo Dircito interno, Em geral, nos Estados parlamentaristas, os chefes de governo tém muitas das competéncias internacionais do Chefe de Estado nos regimes presidencialistas. Em missées oficiais no exterior, os Chefes de Governo também gozam de prerrogativas semelhantes as dos Chefes de Estado. 4, integra do julgamento do caso na CSmara dos Lordes, que até 2009 exercia fungées de corte suprema na Reino Unido, encontra-se disponivel no sitio de Camara dos Lordes (em inglés}, no link . Acessa em 31/01/2015. Traduca livre: “Coroa Britdnica contra Evans, outro, o Chefe de Policia Metropolitana de Londres e outros relativamente a Pinochet”. 217 PARTE | —DIREITO INTERNACIONAL POBLICO 1.2.3 Ministro das Relagées Exteriores © Ministro das Relagdes Exteriores € principal assessor do Chefe de Estado ou do Chefe de Governo na formulagao ¢ execugio da politica externa. Os poderes especificos do Ministro das Relagies Exteriores séo definidos pela legislagao incerna dos Estados, Em geral, porém, incluem a negociagio e assinarura de tratados, a assessoria ao Chefe de Estado ou de Governo em matéria internacional, a administracao dos assuntos de politica externa na estrutura governamental e a chefia do drgio estatal encarregado desses temas. A definigao da titulagéo do cargo de Ministro das Relagées Exceriores néo interessa a0 Di- reito Internacional ¢ pode variar entre os Estados. Por exemplo, o Brasil adota o titulo “Ministro das Relacdes Exteriores”, Portugal emprega “Ministro dos Negécios Estrangeiros” e os BUA, “Secretdrio de Estado”. No exterior, os Ministros das Relagdes Exteriores também gozam de prerrogativas semelhantes as dos Chefes de Estado e de Governo. O Ministério das Relagées Exteriores € 0 érgto governamental encarregado de assessorar 0 Chefe de Estado ¢ a administracao ptiblica como um todo em matéria internacional ¢ de coordenar as ages nesse sentido, embora, como afirmamos anteriormente, no mais seja a iinica insticuigio estatal a atuar na drea internacional, em vista da necessidade de tratamento especializado de certos temas. A designagio desse drgio também pode variar entre os Estados. Os EUA, por exemplo, adocam, 0 titulo “Departamento de Estado” (U. S. Department of State). Em outros Estados, a pasta pode ineorporar outros assuntos, como na Argentina, com 0 Ministério das Relagies Exteriores, Comércio Internacional e Culto (Ministerio de Relaciones Exteriores, Comercio Internacional y Culso). Na América Latina, é comum que os ministérios das relagdes exteriores sejam ainda chamadas de “chancelaria™ O Ministério das Relacées Exteriores do Brasil, também conhecido como “Itamaraty”, € composto pela Secretaria de Estado das Relagdes Exteriores, em Brasilia, pelos escritdrios re- gionais instalados em diversas capitais do Brasil c pelas Primeira ¢ Segunda Comissio Brasileira Demarcadora de Limites, com sedes, respectivamente, em Belém e no Rio de Janeiro, No exterior compreende as misses diplomaticas (embaixadas), as reparticées consulares (consulados) ¢ misses € delegacdes junto aos organismos internacionais. Nos termos do Decreto 7.304, de 22/09/2010 (art. 1°), 0 Ministério das RelagSes Exteriores tem as seguintes Areas de competéncia: I — politica internacional; II — relagoes diplométicas ¢ servicos consularess III — participagdo nas negociagdes comerciais, econdmicas, técnicas € cul- turais com governos ¢ entidades estrangeiras; IV — programas de cooperagio internacional e de promogio comercial; ¢ V — apoio a delegacdes, comitivas ¢ representagées brasileiras em agéncias € organismos internacionais ¢ multilaterais. O pardgrafo “nico desse artigo acrescenta: “Cabe a0 Ministério auxiliar o Presidente da Reptiblica na formulacao da politica exterior do Brasil, assegurar sua execugao e manter relagGes com Estados estrangeiros e organizaées internacionais”. Quadro 1. Fungdes do Chefe de Estado e do Ministro das Relagdes Exteriores nas re- lagSes internacionais CHEFE DE ESTADO MINISTRO DAS RELACOES EXTERIORES > Auxiliar 0 Presidente da Reptiblica na formu- + Manter relagdes com Estados estrangeiros e| Iago da politica exterior do Brasil, assegurar acreditar seus representantes diplométicos sua execugSo e manter relacées com Estados estrangeiros ¢ organizacées internacionais 218 ‘ORGKOS DO ESTADO NAS RELAGOES INTERNACIONAIS CHEFE DE ESTADO MINISTRO DAS RELACOES EXTERIORES > Celebrar tratados, convengées © atos inter- nacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional > Politica internacional, relagées diplomaticas e servicos consulares > Declarar guerra, no caso de agressao estran- geira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no in- tervalo das sessdes legislativas, e, nas mesmas condigées, decretar, total ou parcialmente, & mobilizacao nacional > Participacao nas negociagdes comercials, eco- némicas, técnicas e culturals com governos € entidades estrangeiras + Celebrar a paz, autorizado ou como referendo | > Programas de cooperaco internacional e de do Congresso Nacional promogao comercial > Apolo a delegacBes, comitivas e representa g6es brasileiras em organismos internacionais 1.2.4, Agentes diplomdticos Os agentes diplométicos, ou “diplomatas”, sio os funciondrios do Estado encarregados essencialmente de representé-lo em suas relag6es internacionais. A diplomacia ¢ atividade antiga, remontando aos primérdios da histéria, quando os povos ainda nao haviam se organizado sob a forma estatal que conhecemos atualinente. No passado, predominava a diplomacia ad hoc, marcada pela realizagao de missdes oficiais ¢ pela agao de enviados extraordindrios, nao pelo estabelecimento de agentes diplomacicos nos Estados. Na forma atual, que se consolidou a partir da Paz de Vestfilia, é comum a diplomacia petmanente, com miss6es diplomaticas sediados nos Estados estrangeiros, embora a diplomacia ad boc continue a existi. A atividade dos agentes diplomiticos é regulada pela Convengao de Viena sobre Relagées Diplomaticas de 1961 (Decreto 56.435, de 08/06/1965), que consolidou costumes praticados hd séculos na pritica da diplomacia ao redor do mundo. Preliminarmente, cabe distinguit os diplomatas dos “funciondrios internacionais”, que trabalham em organizagdes internacionais ¢ que sio habitualmente confundidos com os agentes diplomaticos. Cabe destacar que ambos se diferenciam nio s6 por sc vincularem a entidades diferentes, como também pelo fato de seu estatuto juridico ser diferenciado, inclusive no campo das prerrogativas &s quais fazem jus, embora, na realidade, os privilégios ¢ imunidades com que contam para que reste garantido o eficaz exercicio de suas fung6es no sejam tio diferentes. Essencialmente, as fung6es dos diplomatas confundem-se com as da missio diplomatica, que incluem, dentre outras: representar o Estado acreditante perante o Estado acreditados proteger os interesses do Estado acreditante e de seus nacionais no Estado acreditado; negociar com 0 governo do Estado acreditado; inteirar-se, por todos os meios Hicitos, das condigées existentes € da evolugio dos acontecimentos do Estado acreditado ou da organizagao internacional junto & qual atuam ¢ informar o Estado acreditante a respeito; ¢ promover relagbes amistosas ¢ desenvolver as relagées econdmicas, culrurais e cientificas entre o Estado acreditante ¢ 0 acreditado. ATENCAO: o Estado acreditante é o Estado que envia agentes diplomaticos; o Estado acreditado € 0 que os recebe. PARTE | ~ DIREITO INTERHACIONAL PUBLICO Os diplomatas nao trabalham apcnas no exterior. De fato, exercem suas fangdes também em seu Estado de origem, em geral dentro do drgio encarregado da administracio da politica externa estatal No exterior, os diplomatas exercem suas fungSes nas misses diplomaticas (embaixadas), érgaos de representagio do Estado junto aos governos de outros Estados, e nas delegagoes e mis- es junto a organismos internacionais, Cabe ressaltar que os locais da missio diplomatica nao necessariamente compreendem apenas um edificio, podendo estar espalhados por iméveis ¢ até cidades diferentes, desde que sejam utilizados para as finalidades da misséo. Também incluem a residéncia do Chefe da Missio, que pode ou nao ocupar o mesmo prédio. A aquisigao dos iméveis necessérios aos trabalhos da reparti¢ao consular é regulada, no Di- reito Internacional, apenas pela Convengio de Viena de 1961, deverd ser facilitada pelo Estado acteditado, de acordo com 0 artigo 21 desse tratado. Alternativamente, o Estado que recebe a missio diplomética estrangeira deverd ajudar 0 governo estrangeiro a conseguir os locais necessérios para a missio diplomética de outra mancira. Em qualquer caso, deverd ser observada a legislagio nal pertinence. naci No Brasil, os Estados estrangeiros tem direito a adquirir a propriedade dos prédios necessdrios a sede dos representantes diplomaticos (LINDB, art. 11, $ 3°). | ATENCAO: entretanto, é oportuno destacar que os Estados estrangeiros, bem como as organiza- gbes de qualquer natureza, que eles tenham constitufdo, dirijam ou hajam investido de fungdes |! publics, n3o poderao adquirir no Brasil outros bens iméveis ou susceptiveis de desapropriacdo 1 (INDB, art. 11, § 29). Dentro da misséo trabalha também o pessoal administrativo, técnico e de setyigo, parte oriunda de outras carreiras do Ministério das Relagoes Exteriores do Estado acreditante ¢ outra parte recrucada no préprio Estado acreditado, a qual forma o quadro dos chamados “contratados locais” ou “fancionarios locais” ATENCAO: as reparticées do Brasil no exterior também recrutam funcionérios localmente. En- ‘tretanto, em obediéncia a preceito constitucional, devem fazé-lo por meio de concurso puiblico. Por fim, as misses podem receber adidos militares, indicados pelos respectivos ministérios da Defesa, com a fangao de tratar da cooperacéo na area militar. Mais recentemente, © Brasil @m nomeado também adidos policiais, competences para assuntos de cooperagéo no combate ao crime. No Brasil, sio nomeados pelo Ministro da Justica, dentre delegados da Policia Federal. Cabe salientar que nenhum desses funcionéios est4 vineulado ao respective Ministério das Relagées Exteriores, e a designacio de ambos deve contar com a aprovagao do Estado acreditado. ‘stados como Em prin Estado acreditante, e este s6 poder contar com diplomatas nacionais do Estado acreditado ¢, cventualmente, de terceiras Estados, com a anuéncia do Estado acreditado. Os membros do pessoal administrativo, técnico € de servico que sejam funciondrios locais podem ter qualquer nacionalidade, inclusive a do Estado acreditado, mas, cabe desde jé destacar, nao terdo as mesmas prerrogativas do pessoal diplomético. io, todos os membros do pessoal diplomatico deverio ter a nacionalidade do 220 (ORGAOS DO ESTADO HAS RELAGOES INTERNACIONAIS Para que os diplomatas possam atuar em outro Estado e, portanto, para que possaim ser ins- taladas missées diplomaticas em cidades estrangeiras, € necessario que os entes cstatais tenham 0 chamado “dircito de legagao”, ou seja, a prerrogativa de enviar e de receber agentes diplomaticos, dividida respectivamente em “direito de legac4o ativo” ¢ “direito de legago passive”. Decorre do estabelecimento de relacdes diplomdticas ¢ requer acordo entre as partes envolvidas. O direito de legagao é suspenso com a guerra, o rompimento de relagbes diplomaticas ou 0 nao reconhe- cimento do governo, O direito de legacao confere a0 Estado a mera faculdade de abrir missio diplomitica no exterior, nio obrigando a respcito, visto que a abertura de embaixada obedece, também, a critérios de interesse piblico, revelados na importincia que se atribua ao relacionamento com determinado Estado, ¢ & disponibilidade orgamencitia. Parre da doutrina entende que 0 direito de legagio pertence apenas aos Estados, Entretanto, a prdtica revela que as organizagées internacionais também o utilizam’. O encarregado direto de chefiar os wabalhos da missio diplomatica (Embaixada) € 0 Em- baixador, também conhecido como “Chefe de Missao” ou “Chefe de Missao Diplomatica”. E considerado como “Chefe de Missic” a “pessoa encarregada pelo Estado acreditante de agir nessa qualidade” ® Portanto, sta nomeacio cabe ao Estado que representa. Enquanto exerce suas fungées, o Chefe de Missio ¢ diplomara, Entretanto, 0 Embaixador no necessariamente pertence a um quadro de carteira diplomatica, podendo, na maior parte dos Estados, ser indicado entre pessoas de confianga do primeiro mandatdrio do ente escatal. O artigo 14 da Convencao de Viena de 1961 divide os Chefes de Misséo Diplomatica em trés classes: Embaixadores ou Nuncios, acreditados perante Chefes de Estado, ¢ outros Chefes de Missio de categoria equivalente; Enviados, Ministros ou Interniincios, acreditados perante Chefes de Estado; e Encarregados de Negécios, acreditados perante Ministro das RelagGes Exteriores, Ressalte-se que, ressalvadas quest6es de precedéncia e de ctiqueta, nao se faré nenhuma distingao entre Chefes de Missio em razao de sua classe. Cabe destacar que 0 titulo “Nuincio” (ou “Niincio Apostélic”) é atribuido aos Chefes de Misses Diplomaticas da Santa Sé, conhecidas como “Nunciacuras Apostélicas”. Jé os Encarregados de Neggcios séo funciondrios que substituem o Embaixador em suas auséncias ou que respondem por uma Embaixada em periodos em que nao hé Chefes de Missio Diplomética indicado, ou em que estes ainda nao assumiram suas fungoes. A nomeagao do Embaixador é processo que requer, no Direito Internacional, o pedido ¢ a concessio do agréement (do frances “concordncia’, “anuéncia”). A concessio do agréement & © ato discricionario pelo qual 0 Estado acreditado aceita a indicagao de embaixador estrangeiro para que nele exerca suas fungdes. Nao ato de oficio, devendo ser objeto de pedido do Estado acreditante. Cabe ressaltar que, com o objeto de evitar desgastes no relacionamento entre os Estados envolvides, processo de concessio do agréement & secreto, ¢ 0 Estado que o denega néo necessita explicitar as razes da eventual recusa. 5. MELLO, Celso D, de Albuquerque: Curso de direito internacional piiblica, v 2, p.1379. 6. Convengéo de Viena de 1961, art, 1, “a. 221 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PU BLICO O proceso de escolha de um embaixador também obedece a0 Direito interno dos respectives Estados. No Brasil, 0 posto de embaixador é cargo de confianga do Chef de Estado, que normalmente escolhe essa autoridade dentre nomes da catreira de Diplomata, embora tenha a prerrogativa de indicar pessoa nao vinculada ao Ministério das Relagées Exteriores. Além do agréement, a indicagio do embaixador precisa ser aprovada pelo Senado Federal, por voto secreto, apés argiiigao secret, em que o candidato a embaixador é sabatinado pelos Senadores (CF, art. 52, TV). Na auséncia de embaixador, a embaixada é chefiada por um encarregado de negécios, acre- ditado perance a respectiva chancelaria, ou por enviados, ministros ou interndncios, acreditados perante Chefes de Estado. © chefe da missio diplomética inicia suas fungées com a apresentagao das credenciais a0 Chefe do Estado acreditado ou das cépias figuradas de suas credenciais 4 chancclaria local. A apresentacao das cépias figuradas nao cancela a apresentagio das credenciais ao Chefe de Estado. O inicio e fim das fungées de outros agentes diplomticos € objeto de mera notilicagao & chance- laria do Estado acreditado, o que, alids, permite que o ente estatal forme a lista diplomatica, que inclui o pessoal diplomdtico e seus dependences, possibilicando a identificagio das pessoas que gozam de privilégios ¢ imunidades Cada Estado define suas préprias regras relativas & sclegio e carreira dos agentes diplomdticos. No Brasil, os interessados devem, dentre outros requisitos, ser brasileiros natos (CF, art. 12, § 39), ter curso superior de graduacdo em qualquer drea e, no minimo, 21 anos de idade. Em seguida, devem submeter-se a0 Concurso de Admissao & Carreira de Diplomata (CACD), que é, em regra, realizado anualmente, Apés a aprovacao, os candidatos ingressam na Carreira Diplo- mitica, no nivel hierdrquico de Terceito-Sectetério, sendo vinculados inicialmente ao Instituto Rio Branco (IRBr), érgio do Ministério das Relac6es Exteriores encarregado da formac4o dos diplomatas brasileiros. Por fim, © conjunto de diplomatas acreditados em um Estado forma o corpo diplomético, cujo principal representante é 0 decano, que normalmente é0 chefe de misséo diplomdtica mais antigo ou o ntincio apostélico, Sua funcio principal ¢ defender os intcresses do corpo diplomatico, especialmente seus privilégios e imunidades, Quadro 2. Fungées dos agentes diplomaticos > Inteirar-se das condigdes e da > Promover rela- evoluggo dos des amistosas > Proteger os acontecimen-| oe ee + Representar o| interesses do tos do Estado > Negociar com as relacBes Estado acredi-| Estado acredi- & acreditado ou ae © governe do oY} econémicas, tante perante | tante e de seus da organizacao Estado acredi- culturais —e 0 Estado acre-| nacionais no} 140 internacional a ditado Estado acredi junto @ qual} Senhheas ene tre 0 Estado tado atuam e infor- acreditante eo mar o Estado acreditado acreditante a respeito 222 ORGAOS DO ESTADO NAS RELACOES INTERNACIONAIS 1.2.5 Agentes consulares Os agentes consulares, ou consules, so funcion: mente de oferecet a scus nacionais a protegio e assisténcia cabivcis no exterior. ‘os de um Estado encarregados essencial- A existéncia dos agentes consulares remonta a antiguidade, como evidenciam os prostates, \dividuios escolhidos pelos estrangeiros residentes nas cidades-Estado da Grécia antiga para servir de intermedidirios em suas relagSes com os governantes gregos. Na atualidade, entretanto, a existén- cia dos consules configura evidente manifestacao do dever do Estado de proteger seus nacionais A atividade consular é regulada pela Convengio de Viena sobre RelagSes Consulates de 1963 (Decreto 61.078, de 26/07/1967). Dentro da Convengio de Viena de 1963, o agente consular, também chamado de “funciond- rio consular” é definido como “toda pessoa, inclusive o chefe da reparticéo consular, encarregada nesta qualidade do exerefcio de fungoes consulares””. No geral, compete 2o agente consular a protegéo dos interesses do Estado que 0 envia e de seus nacionais, pessoas fisicas ou juridicas. E nesse sentido que os agentes consulares podem exercer um amplo rol de fungdes, muitas das quais assemelhadas ou comuns as dos agentes di- plomdticos. Entretanto, a esséncia da fungao consular gira em torno da protegao e da assisténcia aos nacionais no exterior. Nesse sentido, compete ao agente consular a fungo notarial e de registro civil. De fato, cabe a0 cOnsul emitir documentos de seu Estado que sejam do interesse de seus nacionais no exterior ou, eventualmente, de estrangciros, como registros de nascimento, legalizagées, documentos de viagem etc. A propésito, o agente consular ¢ competente para emitir vistos a estrangeiros que desejem viajar ao Estado que representa, ‘Ainda no mesmo sentido, outra fungio do consul ¢ oferecer a protecao, ajuda ¢ assisténcia possivel a nacionais no exterior, como aqueles que estejam em conffito com a lei, doentes etc. © agente consular deve também resguardar os interesses dos nacionais no caso de sucesso por morte € os interesses de menores incapazes que sejam nacionais de seu Estado, especialmente quando for requerida a tutela ou a curatela. Deve, finalmente, tomar as medidas cabiveis para a tepresentagao dos nacionais perante as autoridades, inclusive as judiciais. do Estado receptor. Dependendo da cidade onde atue, o consul poder’ também exercer algumas fanc6es tipicas de agente diplomatico, como as de promogéo comercial, de atragio de investimentos, de divulga- ¢4o cultural etc. Normalmente, essas fungGes so cumpridas em cidades que, apesar de ndo serem Gapitais de um Estado soberano, séo importantes em campos como 0 econdmico ¢ o cultural, a cexemplo de Nova Iorque (EUA) e Mildo (Ieflia). Um Fstado que nao tiver misséo diplomatica em outro Estado poders ser ali representado por um funciondtio consular, desde que com o consentimento do Estado receptor c sem prejuizo de seu status consular, bem como sem dircito a privilégios e imunidades diplomaticas. Cabe destacar que @ Convengao de Viena de 1963 diferencia 0 funcionsrio consular da empregado consular, defi- indo este como "toda pessoa empregada nas servigas administrativos ou técnicos de uma reparticéo consular’. A respeito: Convencdo de Viena de 1963, art. 1, par. 1, “de “e”. 223 PARTE I~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO Um agente consular poderd, apés notificagao ao Estado receptor, atuar como representante do Estado que o envia junto a uma organizago internacional, Ressalte-se que, no desempenho dessas fungGes, 0 consul terd diteito a todos os privilégios e imunidades que o Diteito Internacio- nal concede aos representantes estatais junto a organismos intergovernamentais. Entretanto, 20 desincumbir-se de funcées consulares, o agente consular nao terd direito a imunidade de jurisdi- go maior do que a reconhecida aos funcionérios consulares pela Convengio de Viena de 1963. O Estado que envia o agente consular € 0 “Estado de envio”. Estado que o recebe, por sua vez, ¢ 0 “Estado receptor” ou “Estado de acolhimento”. Para facilitar o exercicio de suas fungGes, os agentes consulares beneficiarn-se do direito de se comunicarem com os nacionais de seu Estado ¢ de visité-los, assim como estes tém a liberdade Jos." de manter contato com os funcionarias consulares que possam assisti ‘Tendo relacio direta com o direito do agente consular de comunicagio com os nacionais do ‘ordo com o qual as autoridades Estado que 0 envia, a “notificagao consular” é 0 instituto de 2 competentes do Estado receptor deverio, a partir de solicitacao do interessado, informar 0 quanto antes & repartigo consular cabivel quando, em sua jurisdigio, um nacional do Estado do con- sulado for preso, encarcerado, posto em priséo preventiva ou detide de qualquer outra maneira. Ademais, toda comunicagao dirigida a reparticao consular pela pessoa presa deve igualmente ser transmitida rapidamente pelas autoridades nacionais do Estado onde o consulado estiver atuando. A notificaco consular, também conhecida como “direito & informagio sobre a assisténcia consular” é, atualmente, considerada pelo STF como “prerrogativa juridica, de carter fndamen- tal, que hoje compée o universo conceicual dos direitos bisicos da pessoa humana’, relacionada diretamente as garantias minimas do devido proceso legal e cuja observancia é norma cogente dentro dos procedimentos penais e processuais penais.” O STF acrescenta que o direito & notifi- cago consular é prerrogativa a set assegurada ao estrangeiro wirhour delay," devendo, portanto, “ser efetivada no exaco momento em que se realizar a prisio do siidito estrangeiro ¢, em qualquer caso, antes que 0 mesino preste a sua primeira declaragio perante a autoridade competente” Naquilo que entendemos ser uma forma de dar cumprimento & Convencio de Viena sobre Relagées Consulates ¢ de garantit o direito a notificacio consular, o Conselho Nacional de Justiga (CNJ) publicou a Resolucao 162, de 13/11/2012, dispondo acerca da comunicacao de prisio de estrangeiro & “misséo diplomatica’ de seu respectivo Estado de origem. A Resalugao 162 determina que “A autoridade judicidria devera comunicar a priséo de qualquer pessoa estrangeira 4 missio diplomatica de seu Estado de origem ou, na sua falta, a0 Ministério das Relagdes Exceriores, ¢ a0 Ministério da Justiga, no prazo maximo de cinco dias”. A comunicacao em aprego scr acompanhada, no caso de prisao definitiva, de cépia da sentenga penal condenatéria ou do acérdao transitado em julgado, e na hipétese de prisio cautelar, de cépia da decisio que manteve a prisio em flagrante ou que decretou a prisdo proviséria, 8 Convengiia de Viena de 1963, art. 36. 9. Arespeito: SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Informative 573, Brasilia, DF, 1 9 5 de fevereiro de 2010, Processo: Ext 1.126/Alemanha. Relator: Min, Joaquim Barbosa. 10. A-expressdo “without delay” significa exatamente, em tradugaio livre, “sem demora’, “sem atraso”, 224 ‘ORGAOS DO ESTADO MAS RELACOES INTERNACIONAIS A Resolugio dispoe também que incumbe & autoridade judiciéria, ap6s a realizacio das pericias pertinentes, encaminhar o passaporte do preso estrangeiro & respectiva missio diplomdtica ou, na sua falta, a0 Ministério das Relagdes Exteriores, no prazo maximo de cinco dias. Por fim, a Resolugio rera que cabers ao juiz da exccugao penal comunicar a missio diplomatica do Estado de origem do preso estrangeiro, ou, na sua falta, ao Ministério das Relacoes Exteriores, € a0 Ministério da Justiga, no prazo maximo de cinco dias, acerca da progressio ou regressdo de regime, da concessio de livramento condicional ¢ da extingéo da punibilidade. De nossa parte, entendemos que a Resolucio 162 deveria ter previsto que o juiz dirigisse as comunicagées pertinentes &s autoridades consulares ou as autoridades diplomdticas e consulares, 4 luz das normas da Convengdo de Viena sobre Relagées Consulares (art. 5, letra “e”), que de- terminam que cabe aos agentes consulares velar pela protecao ¢ assisténcia de seus nacionais no exterior, inclusive quando esto presos. Em todo caso, a mengao aos agentes diplomaticos nao é de todo imprépria, visto que estes podem exercer fungées consulares na auséncia de consulado, caso em que a notificagao objeto da Resolugao deverd inevitavelmente ser feita & embaixada do pais. Attitulo de conclusio, ¢ a luz do Direito Internacional e da jurisprudéncia do STE, acreditamos que o dircito & notificagao consular s6 restaria assegurado se os magistrados informassem acerca da prisio de estrangeiros &s autoridades consulares. Nesse sentido, entendemos que os juizes deveriam dirigir as comunicagées pertinentes também as autoridades consulates, o que, cabe ressaltar, néo necessariamente excluiia o envio de uma comunicagéo as autoridades diplométicas, para que estas também possam ter a capacidade de acompanhar a vida de seus nacion: is no exterior. Por fim, os funciondios consulares terdo direito de visitar 0 nacional do Estado que 0 enviow que estiver detido, encarcerado ou preso preventivamente, de conversar e corresponder-se com ele ede providenciar sua defesa perante os tribunais, bem como o de visitar 0 nacional encarcerado, preso ou detido em vircude de execugio de uma scntenga. Todavia, os funcionérios consulares deverao abster-se de intervir em favor de um nacional nos casos em apreco sempre que este se ‘opuser expressamente. As autoridades comperentes do Estado receptor esto obrigadas a informar as autoridades consulares acerca da morte de um nacional do Estado da reparticio, da necessidade de nomeagao de tutor ou curador para o menor nacional ou de sinistro com navio ou aetonave com naciona- lidade do Fstado que envia os consules. O estabelecimento de relagoes consulares requer 0 consentimento dos dois Estados envolvidos, eo estabelecimento de relagdes diplomaticas implica, salve indicagao contraria, 0 estabelecimen- co de relagdes consulares. Entretanto, a ruptura das relagées diplomaticas nfo necessariamente acarretaré o fim das relagoes consulares. Exemplo disso é a relagao entre Bolivia ¢ Chile, que nao mantém relagdes diplomaticas ¢, portanto, nao mantém embaixadas nas respectivas capitais, mas que preservam relagées no campo consular, como comprovado pela existéncia do Consulado-Geral da Bolivia em Santiago e do Consulado-Geral do Chile em La Paz, A repartigfo consular, ou simplesmente “consulado’, é 0 local de trabalho do agente consular: Deve localizar-se em cidade ou regio com niimero significativo de nacionais. Em todo caso, a localizagao da missao consular dependerd dos interesses do Estado que estabelece a reparticio, 225 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO da concordéncia do Estado que a recebe e de questdes orgamentirias. Salientamos que, baseados nesses critérios, pode haver mais de um consulado por Estado, inclusive nas respectivas capitais “Yodo consulado exerce suas fungcs apenas dentro de determinada dtea territorial, chamada “distrito consular” ou “jurisdi¢ao consular”, que pode abranger todo um pafs, uma parte deste ou apenas uma cidade. A jurisdi¢do é definida em acordo entre 0 Estado que envia ¢ 0 que recebe 0 consulado. De acordo com o artigo 4 da Convengéo de Viena de 1963, uma repartigéo consular ndo poder set estabelecida no territério do Estado receptor sem seu consentimento. A sede da repar- tigdo consular, sua classe e a jurisdiggo consular, bem como a mudanga de qualquer um desses pontos, serio fixadas pelo Estado que envia, mas também dependerio da aprovacéo do Estado receptor. Também sera necessério 0 consentimento do Estado receptor se um consulado geral ou um consulado desejar abrir um vice-consulado ou uma agéncia consular numa localidade diferente daquela onde se situa a propria repartiggo consular. Por fim, também depende da anuéncia do Estado receptor a abertura de dependéncia do consulado fora de sua sede. A instalagdo de um consulado em determinada regido pode nio ser possivel ou nao se justi ficar, em vista da quantidade de nacionais, de questées orcamentirias ou de outras circunstanci Nese caso, a missio diplomatica poder criar uma seco consular, com funcionérios encarregados das fungoes dos agentes consulares. Cabe destacar que os diplomatas alocados a essas fungbes continuardo a gozar de imunidades diplomaticas (Convengao de Viena de 1963, art. 70, par. 4). A aquisigéo dos iméveis necessérios aos trabalhos da repartigio consular é regulada, no Di- reito Internacional, apenas pela Convengao de Viena de 1963, ¢ deverd ser facilitada pelo Estado acreditado, de acordo com o artigo 30 desse tratado. Alternativamente, 0 Estado que recebe a missio consular estrangeira deverd ajudar 0 governo estrangeiro a conseguir os locais necessirios para a missio diplomética de outra maneira. Em qualquer caso, deverg ser observada a legislasio nacional pertinente. No Brasil, os Estados estrangeiros tém direito a adquirir a propriedade dos prédios necessirios a sede dos agentes consulares (LINDB, art. 11, § 3°). Nao ha, de resto, necessidade de antorizacao, do Ministério das Relagoes Exteriores ou de outro érgio para essa aquisicio. ATENCAO: recordamos que os Estados estrangeiros, bem como as organizacdes de qualquer na- tureza, que eles tenham constituido, dirijam ou hajam investido de funcées publicas, ndo po- derSo adquirir no Brasil bens iméveis ou susceptiveis de desapropriagdo (LINDB, art. 11, § 22). Hi dois tipos de cénsules: os de carreira, ou méssi, recrutados entre os nacionais do Estado que os envia, e os honoririos, ou electi, que podem ter qualquer nacionalidade, inclusive a do prdprio Estado onde atuario. Cabe salientar que as fungées dos cdnsules honordrios podem ser mais restritas do que as dos agentes consulares de carreira, embora isso varie entre os Estados. O chefe da reparticao consular 60 consul. A respeito, a Convengao de Viena de 1963 divide 9s chefes de repartigo consular ¢m quatro categorias: cOnsules-gerais, cOnsules, vice-cOnsules € agentes consulares, permitindo, porém, que os Estados fixem livremente a denominacao dos fan- ciondrios consulares que néo forem chefes de repartigéo consular. A titula importincia do consulado para o Estado e, eventualmente, seu rol de fungdes,¢ sera traduzida na prépria titulacéo da repartigao consular, que poderd, portanto, pertencer a uma das cinco classes 226 ‘ORGAOS DO ESTADO NAS RELAGOES INTERNACIONAIS seguintes: consulado-geral, consulado, vice-consulado, agéncia consular e consulado honoriiio, esta para 0 caso de reparticées chefiadas pelos consules electi Cada Estado é livre para estabelecer suas préprias regras relativas 4 nomeagio do chefe de sua missdo consular, Entretanto, a nomeagao do cOnsul deve materializar-se por meio de um do- cumento chamado “carta-patente”, emitido pelo Estado que indica o agente consular ¢ dirigida ao Estado que recebe 0 cdnsul. Para que o Chefe da reparticéo consular seja admitido no exercicio de suas fungbes, é neces- séria a autorizagéo do Estado que o recebe, denominada evequatur, cuja formalizacao, porém, nao requer qualquer formato pré-estabelecido, nos termos exatos do artigo 12, par. 1°, da Convensao de Viena de 1963, pelos quais “O Chefe da repartigao consular ser admitido no exercicio de suas fung6es por uma autorizacio do Estado receptor denominada “exequatur”, qualquer que seja a forma dessa autorizacio”. A concess4o do exequatur nao é mero ato administrative, mas é ato discticionério de exercicio de soberania por parte do Estado receptor, que pode negi-lo sem estar obrigado a comunicar ao Estado que envia o agente os motivos dessa recusa."! No passado, os Estados tinham funcionstios dedicados especificamente ds atividades consulares. Na atualidade, porém, o pessoal que exerce as fungées de agente consular normalmente pertence & carreira diplomética ¢é alocado para o exercicio de fungSes consulates quando necessério. Em outras palavras, ocorteu a unificagéo das carreiras diplomatica e consular, que antes eram duas carreiras diferentes.!? Com isso, os diplomacas exercem fungGes de agente diplomdtico ¢ de agente consular, conforme estejam lotados em misses diplométicas ou cm misses consulares, variando, portanto, 0 estaruto juridico dos agentes segundo as fungdes que exercam. Em todo caso, cabe a cada Estado decidir a respeito, podendo manter uma carreira consular espeeffica, 0 que ndo é, porém 0 caso do Brasil. Quadro 3. Fungées dos agentes consulares > Representar 0 ‘> Froterio dos + Oferecer prote-}> Representar o| Estado junto a interesses do|-> Fun¢do notarial Estado que o| e@ de registro) $22 © assistén-| Estado na aur] uma organiza- enolueideoseu cia a nacionais| séncia de mis-| ¢20 internacio- no exterior so diplomatica | nal, quando ne- nacionais ceseario 1.2.6.As misses especiais As missées especiais sio as viagens oficiais de autoridades do Estado ao exterior, como 0 Chefe de Estado, com o objetivo de tratar de assuntos de interesse da politica externa nacional. Recordamos que, para que possam exercer suas fungdes de maneira livre, serena e desimpedida, essas autoridades gozam de privilégios e imunidades em sua passagem pelo exterior, extensivas a todos os membros de sua comitiva. 111, _Nesse sentido: SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, Primeira Turms. RMS 23.760/DF, Relator: Min. Moreira Alves, Brasilia, DF, 20.nov04. 0 de 01.02.02, p. 107, 12, REZEK, Francisco. Direito internacional pubiico, p. 169, 227 PARTE I~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLIC 2. PRIVILEGIOS E IMUNIDADES Para que possam exercer adequadamente suas fungdes no exterior, os agentes diplomaticos e consulates gozam de certas prerrogativas, mais conhecidas como “privilégios ¢ imunidades” ou “imunidades diplométicas”, que, a propésito, beneficiam todos os érgios do Estado nas relagées internacionais desde épocas remotas. 2.1 Noses gerais Os privilégios imunidades configuram modalidade de imunidade de jurisdicio, ou seja, de “testrigao ao direito fundamental de Estados soberanos que, em determinadas sieuagées previstas pelo Direito Internacional, néo podem sujeitar representantes de outros Estados, presentes em seu territério, a0 seu ordenamento juridico”."* Com isso, os érgios de um Estado nas relagdes internacionais, seus locais de trabalho e seus bens nao estéo diretamente submetidos & jurisdigéo de entes estatais estrangeiros, os quais devem se abster de exercer suas competéncias sobte essas pessoas ¢ haveres, inclusive no campo juris cional, sem a autorizagio do Estado de origem dessas autoridades. Configura-se, portanto, de acordo com a jurisprudéncia do STE, uma verdadeira “impossibi- lidade juridica” de um érgao judicidrio brasileiro, por exemplo, “expedir provimentos jurisdicio- nais consubstanciadores de ordens mandamentais dirigidas a qualquer Missio Diplomstica” ou Consular sediada em seu territério, o que evidencia “a manifesta auséncia de enforcing power das instituig6es judiciérias nacionais sobre legagdes diplomaticas estrangeiras”. Portanto, como regra getal, nao esto as embaixadas ¢ consulados, bem como os funcionarias diplomaticos ¢ consulares estrangeiros, submetidos “A autoridade jurisdicional dos magistrados ¢ Tribunais brasileiros”"*. Cabe destacar, porém, de antemdo, que as imunidades consulares sero, em termos gerais, mais resttitas que as imunidades dos demais érgéos do Estado nas relagées internacionais, Em todo caso, as nogées que apresentaremos a seguir também se aplicam aos agentes consulates, salvo quando indicado de maneira diversa. A natureza juridica das imunidades foi objeto de amplas discusses no passado, Na antiguidade, por exemplo, fundamentavam-se no cariter sagrado dos soberanos ¢ de seus representantes. Para Montesquieu, por sua ver, 0 agente diplomdtico representava o soberano ou Estado escrangeiro ¢, nesse sentido, como o Estado era propriedade do soberano, a ofensa 2 seu representante atingia © proprio saberano ¢ o proprio Estado. Jé Grécio professava a teoria da extraterritorialidade, pela qual as missées diplomdticas locais ocupados por agentes diplomticos seriam entendidas como extensio do tertitério estrangeiro, nogao que ficou conhecida como “ficc4o da extratertitoriali- dade”, que até hoje povoa, erroneamente, o imagindrio popular. Por fim, Gentili entendia que as imunidades decorriam do dircito de legagao, que cra um direito natural dos Estados. Atualmente, as immunidades fundamentam-se na teoria do interesse da funcio, ou seja, apoiam- -se na necessidade de garantir que os diplomatas e cénsules exercam as fungées de defender os inceresses dos Estados que representam sem coagao de qualquer espécie. E a teoria reconhecida pela 13, BREGALDA, Gustavo. Direito internacional publico e direito internacional privado, p. 47. 14, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Informativo 574, Brasilia, DF, 82 12 de fevereiro de 2010. Processo: HC 102.041-MC/ SP. Relator: Min, Celso de Mello. 228 (ORGKOS 00 ESTADO NAS RELAGOES INTERNACIOWAIS prépria Convengio de Viena de 1961, que em sua consideranda lembra que “a finalidade de tais privilégios ¢ imunidades nio ¢ beneficiar individuos, mas, sim, a de garantir 0 eficaz desempenho das funges das misses diplomaticas, em seu carater de representantes dos Estados” ATENCAO: enfatizamos, com veeméncia, que as embaixadas e consulados nao constituem ter- ritdrio estrangeiro, nogo que permanece no senso comum e que nao mais encontra respaldo na doutrina. As misses diplomaticas e consulares demais espagos ocupados por diplomatas e cOnsules so apenas dreas que gozam de imunidade de jurisdic frente 20 Estado onde set ' encontram, As imunidades protegem os érgios do Estado nas relagées internacionais apenas no exteriors, no em seus Estados de origem onde, sob a protegio do ente estatal do qual sao nacionais e a0s quais servem, nao necessitam dessa forma de auxilio, Nesse sentido, um diplomata brasileiro em territétio nacional no pode, por exemplo, invocar imunidade diante da possibilidade de detengao ou reclusio. ‘As imunidades sio extensivas a familia ¢ aos dependentes do agente diplomético que o acompanhem no exterior. A existéncia de privilégios ¢ imunidades nao exclui a jurisdigsio do Estado acreditante sobre seus agentes diplomaticos ¢ consulares e sobre suas misses em terras estrangeiras. Nesse sentido, 0s ilicitos cometidos, por exemplo, pelos diplomatas no exterior podem ser julgados por seus Estados de origem, os quais so competentes também para conhecer de fatos ocorrides dentro das respectivas embaixadas. ‘A existéncia de imunidades tampouco implica que os agentes diplométicos e consulares nao devam observar 0 ordenamento juridico local. Tal norma fundamenta-se, dentre outros pontos: na cortesia € no respeito que devem inspirar as relagGes invernacionais; na deferéncia & soberania nacional e & igualdade entre os Estados, que leva 4 necessidade de respeitar a ordem juridica local, que é uma das formas de manifestagao dessa soberania ¢; no papel do ordenamento juridico como instrumento que permite a convivéncia social em condigées de justiga e de promogio da dignidade humana. Nesse sentido, liberar 0 diplomata da obrigagao de respeitar a lei local acarretaria em permitir transtornos & convivéncia social, do que seria exemplo um diplomata brasileiro a quem fosse permitido dirigir automével no Reino Unido fora das normas de transito daquele pais, que incluem, inclusive, uma mao de dire¢ao diferente Ainda em vista da necessidade de respeito & soberania estatal ¢ 20 prinefpio da nao-interven- ¢40, 08 agentes diplomaticos n4o poderio se imiscuir nos assuntos internos do Estado acreditado, nem utilizar a misséo diplomitica ¢ os recursos de que dispdem de maneira incompativel com as fungées inerentes & diplomacia. Em todo caso, o diplomata que viole de maneira grave ou persistente as leis locais pode ser declarado persona non grata, modalidade de sancao pela qual o Estado acreditado informa ao Estado acreditante que um diplomata é indesejavel, antes de sua chegada ou durante sua estadia, Com isso, fica determinada a retirada do agente estrangeiro ou vedada sua vinda, nao necessitando ente estatal acreditado delinear o motivo da recusa."* 15, _REZEK, Francisco. Direito internacional pulblico, p. 168. 229 PARTE | ~ DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO Caso 0 Estado acreditante nao retire o agente ou deixe de cancelar sua vinda, o Estado acre- ditado pode nao reconhecer o funciondrio como membro da missio, 0 que implica 0 no-reco- inhecimento de privilégios c imunidades ¢, portanto, a possibilidade de que o agente estrangeiro seja processado e julgado localmente. Cabe ressaltar, por fim, que 0 ato pelo qual um diplomata estrangeiro é declarado persona non grata ¢ discriciondrio ¢ nao depende de devido proceso legal'*. Existe ainda a possibilidade de que o funciondrio estrangeiro seja processade ¢ julgado pelas autoridades competentes do Estado acteditado pela violacéo das leis locais, desde que o Estado acreditante renuncie expressamente a suas imunidades. Em recente julgamento ocorrido no STJ, em processo que envolvia a rentincia & imunidade de jurisdicéo de agente consular estrangeiro atuante no Brasil, aquela Corve afirmou que “a imuni- dade de jurisdigao nao se vetifica de plano, isto é, nao se aplica de forma automatica, notadamente pelo fato de que hé a possibilidade de o Estado estrangeiro renunciar” s prerrogativas de que se beneficiam seus agentes.” Em resposta a alegagées, apresentadas pelo agente consular estrangeiro no bojo desse processo, de que “a rentincia seria uma das condig6es para o recebimento da dentincia e nao poderiam ser reputados como vilidos quaisquer atos anteriores & citagao vilida daquele pais ¢ stua manifestacéo expressa ¢ por escrito junto aos autos da acao penal”, o ST] entendeu que “no era 0 caso de impedir de pronto a persecucao penal contra o paciente, mas sim de instar o Estado estrangeiro acerca do interesse em submeter-se a jurisdicéo brasileira, conforme se deu na hipétese”, man- tendo, portanto, a validade de todos os atos anteriores 3 citagao do Fstado estrangeiro para que se manifestasse quanto a eventual retirada da imunidade de seu agente. abe destacar que a rentincia a imunidade de jurisdigao néo implica rentincia 4 imunidade quanto as medidas de execugéo da sentenca, relativas as quais é necessdria nova rentincia por parce do Estado", 1 ATENGAO: destacamos, em suma, que nao é possivel que o préprio agente renuncie as imuni- dades de que goze. Com efeito, as imunidades pertencem ao Estado, ¢ nfio ao funcionario, e, portanto, s6 0 ente estatal pode a elas renunciar, Ressalte-se que, como a Convengao de Viena também protege os bens de miss6es diplomticas, impedindo que sejam objeco de qualquer ato praticado pelo Estado acreditado, entende-se que tal notma também se aplica aos casos de imunidade de jurisdicéo ¢ de cxecugéo do Estado estrangeiro. Com efeito, é certo que os Estados nfo mais estéo imunes a jurisdigio de outros Estados quando pratiquem atos de gestio. Ao mesmo tempo, os entes estatais podem renunciar & respec tiva imunidade diante da pratica de atos de império. Entretanto, em ambos os casos, continuam gotando de imunidade de execugio, pelo que, caso sejam condenados por Judiciétio de outro 16. Amatéria ¢ regulada pelo artigo 8, par: 12, da Convencao de Viena de 1961 17, SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Informative 452. Brasilia, DF, 18 a 22 de outubro de 2010. Processo: HC 149.481 DF. Relator: Min, Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TI-CE}. Julgado em 19/10/2010. No Informative ‘em apreco, so ainda citados dois precedentes: RO 62-RI (Die de 3/11/2008) e RO 70-RS (Die de 23/6/2008). 18. Convengao de Viena de 1961, art. 32, par. 4, e Convencao de Viena de 1963, art. 45, par. 4 230 GRGAOS DO ESTADO NAS RELACOES INTERNACIONAIS Estado, nao poderio ser executados os bens afetos as atividades de suas missdes diplomaticas, os quais, como afirmamos anteriormente, restam protegidos pelas normas pertinentes da Convengao de Viena de 1961. 1 ATENCAO: lembramos que as nogées de atos de império e de atos de gestdo se aplicamapenas& | 1 imunidade do Estado estrangeiro no campo do processo de conhecimento, ngo tendo qualquer t ' influéncia no marco juridico das imunidades dos érgaos do Estado nas relacbes internacionais. Nesse caso, 0 fato de o ente estatal ndo mais fazer jus 4 imunidade de jurisdi¢ao relativamente aos atos de gestdio nfo afeta a imunidade de execugio, que continua a existit. Outrossim, caso 0 ente estatal renuncie a sua imunidade de jurisdi¢o em atos de império, tal rentincia nao implica em abdicar da imunidade de execucio, para o que nova rentincia é necesséria.” Recordamos que a reniincia do Estado estrangeiro & imunidade de execucio também deve ser expressa”. Por fim, o Estado acreditado tem o dever de proteger os agentes, bens ¢ locais das misses diplomiticas do Estado acteditante, bem como de dar todas as facilidades para o desempenho das fungées da missio. Ademais, nada impede que o representante estrangeiro recorra ’s autoridades 0 ao Judicidtio local se necessétio. Quadro 4. Informagécs gerais sobre privilégios e imunidades Fundamentadas Prerrogativas Modalidade de | “nateoriado | Protesdo apenas | extensivas & Mia exxiuen imunidade de a ajurisdigao do eae interesse da no exterior famfiaeaos | ,aluriscisie do i 2 fungsio dependentes “ Possibilidade de renuncia por par- te do Estado acre- ditante Dever de protec3o por parte do Esta- - do acreditado Proibigo de inter- vvengo nos assun- tos internos Dever de observar as normas locais, 2.2 Privilégios ¢ imunidades diplomaticas Os agentes diplomaticos gozam de imunidade penal, pelo que nfo podem ser presos, pro- cessados, julgados e condenados no Estado acreditado. Rezek lembra, porém, que “a imunidade nao impede a policia local de investigar 0 crime, preparando a informago sobre a qual se presume que a Justica do Estado de origem processard o agente beneficiado pelo privilégio diplomético””. 19. Todo tema da imunidade de jurisdigo do Estado estrangeiro ¢ tratado no Capitulo V da Parte | deste livro, dentro do qual apresentamos também detalhes que amitimos neste capitulo. Por oportuno, salientamos que tampouco podem ser executados os bens do Estado estrangoiro afetos as atividades consulares, 20, SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA. Informativo 538. Brasilia, DF, 30 de abril de 2014. Processo: RO 138-Rl. Relator: Min, Hermann Benjamim. Julgado em 25/02/2014. 21. REZEK, Francisco, Direito internacionol piiblico, p. 172, 231 PARTE | — DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO Os diplomatas gozam de imunidade de jurisdi¢ao civel, aqui incluidos atos que, no Direito brasileiro, abrangem também ramos como o Direito do Trabalho e 0 Direito Administrativo. Entretanto, a propria Convengio de Viena reconhece excecdes a essas imunidades, que se referem a causas envolvendo iméveis particulares que ndo o residencial, feicos sucessérios a titulo estrita- mente pessoal ¢ a¢ao referente a qualquer profissao liberal ou atividade comercial exercida pelo agente no Estado acreditado fora de suas fung6es oficiais. A imunidade cfvel tampouco abrange eventuais reconvengées que enfrentem caso tenham acionado 0 Judiciario local Os agentes diplomaticos gozam de imunidade tributaria relativamente aos tributos nacionais, estaduais ¢ municipais cobrados no Estado acreditado, embora, cabe ressaltar, estejam sujeitos a0 pagamento dos tributos cobrados pelo Estado acredicante. As excegSes & imunidade tributdria identificam-se com aquelas aplicaveis as imunidades civeis, pelo que iméveis que nao o residen- cial e bens e valores recebidos em ag6es sucessérias a titulo pessoal no escio isentos de tributos. Além disso, os diplomatas devem pagar os tributos indiretos, embutidos no prego de merca- dorias e servicos, as tarifas relativas aos servicos pablicos utilizados, os tributos incidentes sobre rendimentos privados que tenham a sua origem no Estado acreditado e as impostos sobre o capital, referentes 2 investimentos em empresas comerciais no Estado acreditado. De avoido com o artigo 23 da Convengéo de Viena de 1961, o Estado acreditante ¢ 0 Chefe da Missao estao isentos de todos os impostos ¢ taxas, nacionais, regionais ou municipais, sobre os locais da Missio de que sejam proprietirios ou inquilinos, excetuados os que representem o pagamento de servigos especificos que Ihes sejam prestados. Cabe destacar que a isengao fiscal a que se refere esse artigo nao se aplica aos impostos e taxas cujo pagamento, na conformidade da legislacao do Estado acreditado, incumbir és pessoas que contratem com acreditance ou com o Chefe da Missio, norma também aplicada pelos tribunais supcriores brasileiros, que confirmam o entendimento de que a isengio de tributos néo se estende a quem contrate com a missio diplomética. Nesse sentido, a missio que representa o Estado estrangeiro goza, por exemplo, de imunidade em relagio & cobranga de IPTU (Imposto sobre a Propriedade Territorial Urbana). Entretanto, 0 Estado estrangeiro nao terd imunidade no tocante a impostos ¢ taxas decorrentes da prestacao de servicos individualizados e especificos que lhes sejam prestados, como 6 0 caso da taxa de coleta, remogéo ¢ tratamento ott destinacao de lixo ou residuos provenientes de iméveis® Os objetos importados pelo Estado acreditante para uso oficial da misséo ou uso pessoal do agente diplomdtico ou dos membros de sua familia que com ele vivam, indluidos os bens des- tinados a sua instalacio, também esto isentos de tarifas alfandegérias, embora nao de despesas com armazenagem e transporte. Os agentes diplomaticos gozam do direito de ir e vir; salvo o disposto no ordenamento local relativos a zonas cujo acesso € proibido ou regulamentado por motives de seguranga nacional. Os diplomatas ¢ as misses diplomaticas gozam de inviolabilidade. Nesse sentido, os locais da missio diplomética (ou seja, as instalagbes da embaixada), a residéncia particular dos diplo- matas ¢ 0s veiculos da misséo diplomatica c dos agentes diplomaticos t qualquer agZo por parte das autoridades locais. Assim sendo, os agentes do Estado acreditado nao io podem ser objeto de 22. HUSEK, Carlos Roberto. Curso de direito internacional puiblico, p. 98 23. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Informativo 538, Brasilia, DF, 30 de abril de 2014. Proceso: RO 136-RI. Relator: Min. Hermann Benjamim, Julgado em 25/02/2014. 232 ‘ORGAOS DO ESTADO NAS RELAGOES INTERNACIONAIS poderio, por exemplo, ingressar nesses espagos sem 0 consentimento do chefe da Missao. Os locais da Missio, seu mobilidtio e demais bens neles situados, assim como os meios de transporte da Missio, nio poderio ser objeto de busca, requisigao, embargo ou medida de execugéo. Ademais, o Estado acreditado devers facilitar a aquisigio em seu tetritdrio, de acordo com as suas leis, pelo Estado acreditante, dos locais necessirios & Missio ou ajudé-lo a consegui-los de outra mancira ‘A Convengao de Viena de 1961 (art. 22, par. 2°) prevé que o Estado acteditado tem a obri- gacdo especial de adorar todas as medidas apropriadas para proteger os locais da Missio e evitar perturbagGes & trangililidade da Missio ou ofensas 3 sua dignidade. F nesse sentido que entendemos que as autoridades dos Estados acreditados podem relativizar a norma de proibicio de ingresso em uma embaixada estrangeira em caso de sinistros que exijam a¢ao imediata, como incéndios, embora a Convengao de Viena de 1961 nao seja expressa a respeito. Cabe ressaltar que tal pro- tegio édevida mesmo em caso de conflito armado ou de rompimento das relagdes diplomaticas. Ainda nos termos da Convengao de Viena de 1961, sio também protegidos contra agoes das autoridades locais 0s arquivos ¢ documentos da embaixada, em qualquer momento ¢ onde quer que se encontrem; a mala diplomética; as comunicagées das miss6es ¢ dos agentes diplomaticos, que nao podem ser objeto de qualquer monitoramento, o que veda, portanto, a espionagem; ea bagagem dos agentes, que nfo pode ser aberta, salvo se existirem motives sétios para crer que a mesma contém objetos nao previstos nas isengoes da Convengao de Viena de 1961, ou objetos cuja importagéo ou exportagio é proibida pela legislago do Estado acreditado, ou sujeitos aos seus regulamentos sanicitios. Pessoalmente, entendemas também que a bagagem pode set aberta se estiver transportando objetos como drogas, armas, exemplares da biodiversidade etc., cujo trifico ilicito é objeto da coo- peracio internacional, embora a Convengao de Viena de 1961 tampouco seja explicita a respeito. Os bens das misses diplomaticas ¢ das residéncias dos agentes ndo podem ser objeto de busca, apreensio ou qualquer medida de execucio, Por fim, como afirmamos anteriormente, os diplomatas estrangeiros nao podem ser detidos ou presos pelas autoridades do Estado onde se encontra. Fm suma, sio “fisicamente invioléveis’.** Nao podem, por fim, ser obrigados a depor como testemunhas. ‘As imunidades dos agentes diplomaticos séo extensivas is respectivas familias e dependentes, desde que tenham sido incluidos na lista diplomatica e que néo sejam nacionais do Fstado acreditado. © pessoal administrative e cécnico da missio, assim como os membros de suas familias que com eles vivam, oriundos de outras carreitas do servico exterior, também gozam de imu- nidades, exceto quanto 2 bagagem. No campo civel, as imunidades abrangem apenas os atos relacionados ao exercicio de suas fungées. Jé 0 pessoal de servigo gozaré de imunidades quanto aos atos praticados no exercicio de suas fungées ¢ de isengo de impostos ¢ taxas sobre os sa- lérios que perceberem, desde que nao sejam nacionais do Estado acreditado nem nele tenham residéncia permanente. Os agentes diplomiticos podem empregar “criados particulares”, que sio definidos pela Convengao de Viena de 1961 como as pessoas do servigo doméstico de um membro da Missao que nfo sejam empregados do Estado acteditante (art. 1, “h’). 24, REZEK, Francisco. Direito internacional piblico, p. 169. 233

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