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PARTE Il ~ DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO ATENCAO: cabe destacar que, até a EC/45, a competéncia para conceder 0 exequatur as rogaté- | rias era do Supremo Tribunal Federal (STF). Nesse sentido, boa parte da jurisprudéncia quanto: a0 tema fol firmada pelo Pretério Excelso A competéncia para conceder 0 exequatur ds cartas rogatérias & do Presidente do STJ, ou da Corte Especial, no caso de impugnacio 3s rogatérias decisorias (Regimento do STJ, art. 21, XT, ¢ Resolucio n° 9, art. 2, eart. 9, § 2°). A concessio do exequatur dependeré do cumprimento das exigéncias estabelecidas pela lei brasileira, pelos tratados cabiveis e pela Resolucio n° 9, do $1 ATENCAO: em vista da supremacia da Constitui¢ao no ordenamento juridico brasileiro, toda nor- | ma infraconstitucional sobre rogatérias que mencione o STF deve ser entendida como aludindo | 1 © exame da rogat6ria configura mero juizo de delibagio, ou seja, de apreciagao das condigées de sua execugio, nao devendo o ST] analisar nem o mérito nem as razGes em que se fundow a deciséo da Justiga estrangeira™, 0 que configutaria intervengio cm assuntos internos do Estado rogante ¢, portant, violagao de sua soberania. Nesse sentido, o prdprio STF deliberou que “para a concessio de exequatur das rogatérias, ndo seria preciso investigar em profundidade 0 mérito da causa originatia, dado que as questées que © enyolvem devem scr postas perante a Justica estrangeira™. © ST) também vem reafirmando que “cabe apenas a este ¢. Superior Tribunal de Justiga emitir juizo meramente delibatério acerca da concessio do evequatur nas cartas rogatérias”™*. Ainda esse sentido, 0 ST] estabeleceu que é de “competéncia da Justica rogante a andlise de eventuais alegages relacionadas ao mérito da causa”. Com isso, a defesa s6 poderd versar sobre a autenticidade dos documentos, a inteligencia da decisio e a observancia dos requisitos legais e da Resolucio n° 9 do ST]. Cabe destacar, ademais, que, para fins de execugio no Brasil, “nao é necessdrio que a rogatéria esteja instruida com todos os documentos referentes ao caso, sendo suficiente a narrativa razodvel dos fatos envolvidos™ Polo carter de pura delibagao do exame da rogatéria, nao ¢ possivel “apreciar alegacio da requerida de incompeténcia do juizo rogante para julgar a causa, pois 0 juizo exercido no 22. Nesse sentido: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. EDcI no AgRg na CR 856/EX. Relator: Min. Edson Vidigal. Brasilia, OF, 29,Jun.05. DJ de 09.09. 05, p. 173. 23. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Informative 595. Brasilia, DF, 9a 13 de agosto de 2010. Processo: HC 97.511/SP, Relator: Min, Ricardo Lewandowski 24 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIGA. Corte Especial, AgRg na CR 4037/EX. Relator: Min. Falix Fischer. Brasilia, DF, 2i.nav.12. De de 29.nov.12. Ver também: AgRg na CR 6529/EX (ST!) 25 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA, Corte Especial. Relator: Min. Félix Fischer. Relator para acérdao: Min. Napoledo Nunes Maia Filho, Brasilia, DF, 19.set.12, Die de 02%ut.12. 26 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Informative 595. Brasiig, DF, 9 a 13 de agosto de 2010. Processo: HC 97.511/SP. Relator: Min. Ricardo Lewandowski 702 COOPERAGAO JURIDICA INTERNACIONAL cumprimento das cartas rogatérias é meramente delibatSrio, sendo que, na concessio do exequatur, nao cabe examinar 0 mérito da catisa a ser decidida no exterior””. ‘A rogat6ria poder ter sido enviada por qualquer érgio que o governo do Estado rogante defina como competente para encaminhé-la, que nfo necessariamente é uma autoridade judicisria Nesse sentido, a carta rogatéria enviada por um érgio do Ministério Ptiblico estrangeiro poderé vira ser cumprida no Brasil, caso a lei estrangeira Ihe atribua essa fungéo. O cumprimento da rogatéria estrangeira requer, em principio, sua tradugao para o verndculo, a qual pode ser feita no Estado rogante””. Entretanto, a tramitagao da rogatéria pela autoridade central brasileira ou por via diplomatica dispensa a tradugéo juramentada no Brasil”, Tratado internacional também pode prever a dispensa da tradugio. ATENGAO: a procuracdo conferida ao advogado da parte autora é requisito aplicdvel apenas as cartas rogatorias ativas (CPC, art. 202, I1)*. *, SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. AgRg na CR 2.116/US. Relator: Min. Barros Monteiro. Brasilia, DF, 16.mai.07. DJ de 06.08.07, p. 384, Para julgados mais atualizados, ver tam- bém: STJ—AgRg na CR 5.881/EX. Nao receberio exequatur as rogatérias que nao sejam auténticas, com fundamento na Re- solugio n° 9, do STJ (art. 9), que dispée que, no processo de concesséo do exequateer, um dos tinicos fundamentos para a defesa ¢ a autenticidade do documento. A propésito, o tramite da rogatéria por via diplomdtica ou por uma autoridade central brasileira yoltada a recebé-las confere essa autenticidade”*. Alids, a ementa do julgado da AgRg 6.529/EX é sintética quando ao papel das autoridades centrais na facilitagao do trimite das rogatdrias, ao estatuir que “A tramitagio da comissio pela autoridade central brasileira assegura a autenticidade dos documentos e dispensa a tradugdo juramentada no Brasil”. OST] nfo concederd exequatur2 carta rogatéria que ofenda a soberania nacional ou a ordem piiblica (LINDB, art. 17, ¢ Resolucao n° 9, art. 6). Nesse sentido, os tribunais destacam que nao pode ser concedido o exequarur a rogatérias referentes a processos de comperéncia exclusiva dos 27 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIGA. Corte Especial. AgRg na CR 4.976/EX. Relator: 24.mai.12. Dle de 06,jun.12 28 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Informativo 652. Brasilia, DF, 12 a 19 de dezembro de 2011. Processo: HC 87759 ED/OF. Relator: Min. Marco Aurélio. Julgado em 13/12/2011. A respeito, ver também o Informative 658, também do STF (12 @ 16 de margo de 2012}. 29 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Tribunal Pieno. CR-AgR 4.059/1A, Relator: Min. Moreira Alves. Brasilia, DF, 17.abr85. DJ de 31.08.85, p. 8506, 30 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. AgRg na CR 6.529/EX. Relator: Min. Félix Fischer. Brasilia, DF, 172ut.12. Die de 262ut. 12. Ver também: ST} ~ AgRg na CR 5.317 @ AgRg nos EDel nas EDel na CR 398/AR 3L__ SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. Agr na CR 2.497/US. Relator: Min, Barros Monteiro. Brasilia, DF, 07.n0v.07. Di de 10.12.07, p. 256. 32 SUPERIOR TRISUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. AgRg na CR 6.529/EX. Relator: Min. Félix Fischer. Brasilia, DF, 17ut. 12. Die de 262ut. 12. Pargendler. Brasilia, OF, 703 PARTE I ~ DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO uribunais brasilciros. Por outro lado, podem ser executadas rogatérias references a demandas de competéncia relativa (concorrente) da autoridade judictiria brasileira’. ATENGKO: a rogatéria pode ser cumprida quando a competéncia do Judiciério brasileira for rela- | tiva ou concorrente, nao configurande atentado contra a soberania nacional e a ordem publica a simples alegacdo de que a demanda deveria ter sido proposta no Brasil*. Ademais, a recusa 4 Jurisdigdo estrangeira, que deve ser certificada no ato de citaco, nao impede o exequatur*. + SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. AgRg na CR 3.029/GB, Relator: Min. Humberto Gomes de Barros. Brasilia, DF, 30.jun.08. Die de 07.08.08 Nao ofendea ordem ptiblica a concessio de exequatur para citar alguém a se defender contra cobranga de divida de jogo contraida e exigida em Estado estrangeiro, onde tais pretensdes so licitas*. Tampouco ofende a ordem publica a rogatéria por meio da qual autoridades estrangeiras requeiram a realizagio de diligéncias que também estejam previstas no ordenamento juridico brasileiro” ‘Nio ¢ ofensiva 4 ordem piblica a rogatéria que determine o fornecimento de identificagao de usuario de ntimero IP, 0 que possibilita a identificagio de usudrio da Internet que esteja causando danos a outrem™. Entretanto, fere a soberania nacional a rogatdria que visa a satisfazer a tequisigéo de bens e direitos contra a Unido (rogatéria que visa a executar bens da Unio), por ofensa& soberania nacional (Resolucdo 9/2005, art. 6) e por violar a regra da imunidade de execugio do Estado estrangeiro”. A rogatéria que meramente pede a realizacéo de um interrogatério nao ataca a ordem publica ea soberania nacional, por ser um “ato de simples instrucao processual” e “meio hébil ao exercicio do direito de defesa”™ A citagio de pessoa domiciliada no Brasil para responder a processo no exterior ofenderd. a ondem pablica se 0 proceso se referir & competéncia exclusiva da Justica brasileira ¢ impedir4, cabe ressaltar, a homologacio da sentenga estrangeira, Por outro lado, porém, a citagéo de pessoa domiciliada no Brasil em processos de competéncia concorrente/relativa da Justica patria nao 33 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial, AgRg nos EDc!na CR 2.894/MX. Relator: Min. Barros Monteiro, Brasilia, DF, 13.mmar.07. Dle de 03.04.08, SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Informativo 405. Brasiis, DF, 31 de agosto a dde setembro de 2009. Processo: CR 3.721/GB, Relatora: Min, Eliana Calmon, Precedentes citados: AgRg na CR 2,881/AR (Ole de 3/11/2008); AgRg na CR 2.807/MX (Die de 3/4/2008); AgRe na CR 3.029/GB (DJe de 7/8/2008) @ AgRg na CR 1.589/US [Di de 6/8/2007, p. 383). Para precedentes mais atuais, ver: ST) —Aghg na CR 3.781/EX € ‘AaRg na CR 4976 / EX. 34 SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTICA. Corte Especial. AgRg na CR 3.198/U. Relator: Min. Humberto Gomes de Barros. Brasfli, DF, 30. jun.08. Dle de 11.09.08 35 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Informative 595, Brasilia, DF, 9 2 13 de agosto de 2010. Processo: HC 97.511/SP. Relator: Min. Ricardo Lewandowski 36 — SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA, T3 ~Terceira Turma, REsp 879.181/MA. Relator: Min. Sidnei Beneti. Brasilia, DF, (08 jun.10. Dle de 29.10.09 37 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIGA. Corte Especial, CR 3.324/EX. Relator: Min. Humberto Martins. Bros 05.der.11. Dle de 16.dez.11. Ver também: ST ~ HC 132.102/5?, 38 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. AgRg na CR 5.238/EX. Relator: Min. Ari Pargendler. Relator pare acérdéo: Presidente do SU. Brasilia, DF, 02.mai.12. Die de 06.jun.42. Ver também: ST) — HC 132.102/SP. OF, 704 ‘COOPERACAO JURIDICA INTERNACIONAL ofende a ordem publica®, inclusive porque permite o exercicio do direito de defesa perante 2 Justiga rogante®. ‘A partir daf, cabe ter em mente a jurisprudéncia do ST], segundo a qual, “A citagio de pessoa domiciliada no Brasil para responder a processo judicial no exterior deve realizar-se necessaria- mente por meio de carta rogatéria, sendo inadmissivel a sua realizacéo por outras modalidades”. A nfo observancia dessa exigéncia impede a homologacio, no Brasil, de uma sentenga estrangeira que correu contra individuo domiciliado em tertitério brasileiro‘. Cabe destacar também que, quando a citacio foi feita por edital, e quando “provado nos autos que a outra parte estava ciente do enderego do brasileiro e nao processou o feito por meio de carta rogatéria”, ndo pode haver a homologagéo", Para o ST], “o ato citatério nao precisa estar acompanhado de todos os documentos indicados na petigao inicial, desde que atinja a sua finalidade, que é dar ciéncia a interessada da aco em curso e da questéo nela controvertida, permitindo o exercicio do direito de defesa’. Com isso, € possivel dar 0 exequatur a uma rogatoria que pede a citacio de pessoa domiciliada no Brasil ainda que o interessada alegue insuficiéncia na instrugio da carta", lao se deve conceder 0 exequatur de rogatérias em feitos envolvendo a devolugao de criancas evadas ilicitamente do pais onde habitualmente residiam para outro pais. No tocante a esse tema, o ST] afisma que “A remessa de menor ao exterior ultrapassa os limites reservados & carta rogatéria, pois deve processar-se nos termos da Convengao sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Criangas - Convengao de Haia (Decreto n° 3.413/2000), por intermédio da auroridade central para 0 caso, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, érgio vinculado & Presidéncia da Repiblica”™. Para a quebra de sigilo bancitio ou o sequestro de bens pela via da rogatdria, € necessiria uma decisio judicial estrangeira, que deve scr delibada pelo ST]. Por oportuno, destacamos que 0 STJ néo poderd conceder exequarur para a execugio, em tertitério nacional, de mandado de prisio expedido por autoridade estrangeira’, 39 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. Agfg na CR 4.976/EX. Relator: Min, Ari Pargendler, Brasilia, DF, 24.mal.12. DJe de 06,jun.12, Ver também: ST) — AgRg na CR 5.318/EX. 40 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. AgRg na CR 4.971/EX. Relator: Min. Ari Pargendler. Relator p/ ‘acérdao: Presidente do STU. Brasilia, DF, O1.fev.12. Die de 23 fev.12. 41 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. SEC 1.970/EX. Relator: Min. Humberto Martins. Brasilia, OF, 19,s0t.12, Dle de O4°ut.12, Na ementa, ha virios precedentes quanto ao assunto. 42 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. SEC 1.970/EX. Relator: Min, Humberto Martins. Brasilla, OF, 19.set.12. Die de O42ut.12, 43 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. AgRg na CR 5317/EX. Relator: Min, Air Pargendler. Relator p/ ‘acérdio: Presidente do STI. Brasilia, DF, 02.1mai.12. Die de 06 jun.12. 44 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. AgRE na CR 2.874/FR. Relator: Min. Cesar Asfor Rocha. Brasfia, DF, O72ut.09, Die de 01.07.10. 45 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. AgRg na CR 4.037/EX. Relator: Min. Felix Fischer. Brasilia, DF, 21.nov.12. Dle de 29.nov.12. 46 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Informativo 722. Brasilia, DF, 30 de setembro a 4 de outubro de 2013, Processo: He 118056 Q0/DF. Relator: Min, Cérmen Liicia. Julgado em 03/10/2013. 705 PARTE I~ DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO Por fim, nao serio cumpridas as rogatérias que impliquem ato executério ou que dependem da homologacao da sentenca que os determina. Como atos executérios podem ser apontados 0 arresto, 0 sequestro, a penhora e a transferéncia de titulos ou de bens, em virtude de partilha ‘ou de outros motives”. Atos como interrogatérios, porém, nao sao considerados executérios™. As cartas rogatérias podem ter por objeto atos decisérios ou no decisérios, como as citagdes. Os pedidos de cooperagao juridica internacional que tiverem por objeto atos que nao ensejem juizo de delibacao pelo STJ, ainda que denominados “carta rogatéria”, podem, em tese, ser enca- minhados ou devolvidos ao Ministério da Justica, para as providéncias necessérias a0 cumprimento do ato por auxilio direto. A propésito, 0 artigo 7 da Resolugio n° 9 do ST] abre a possibilidade de que a cooperagio entre dois ou mais Estados no campo juridico prescinda da rogatoria, podendo se realizar por auxilio direto. Num primeico momento, a jurisprudéncia dos tibunais superiores, com fulcro na supremacia da Carta Magna, afastava essa hipétese, enfatizando a necessidade da rogatéria para a execugéo de diligéncias solicitadas por autoridade estrangeira®. Entretanto, a jurisprudéncia passou a admitir a possibilidade do auxilio direto como subs- tituto das rogatérias, especialmente por conta da dinamizacao que o auxilio direto pode conferir A cooperagio judicidria no campo internacional. Nesse sentido, reproduzo as palavras proferidas pelo Ministro Jorge Mussi dentro da ementa do HC 147.375/RJ: “1. A carta rogatéria no constitui o tinico ¢ exclusive meio de solicitagio de providéncias pelo juizo nacional ao estrangeiro, prevendo o dicito processual internacional outras formas de auxilio como as convengées ¢ acordos internacionais, 2, © entendimento atual é 0 de que os acordos bilaterais, tal como 0 ora questionado, sdo preferiveis &s cartas rogatérias, uma vez que visam a eliminar a via diplomdtica como meio de cooperagio entre os paises, possibilitando 0 auxilio direto ea agilizago das medidas requeridas” A parte interessada seré citada para, no prazo de quinze dias, impugnar a rogat6ria. a medida solicitada na rogatoria poderd ser realizada sem ouvir a parte interessada, quando sua intimagao prévia puder resulear na ineficécia da diligéncia pleiteada. © Ministério Publico tera vista dos autos nas rogatérias pelo prazo de dez dias, também podendo impugné-las. intretanto, Havendo impugnagao as cartas rogatérias decisérias, o processo poder4, por determinagao do Presidente do ST], ser distribuido para julgamento pela Corte Especial. Das decis6es do Presidente nas rogatérias cabe agravo regimental. Ademais, quando a concessio do exeguatur envolver questio de carater constitucional, o STF pode ser chamado a examinar a matéria, em grau de recurso. 47 Convencio Interamericana sobre Cartas Rogatérias, de 1975 (Decreto 1.898, de 09/05/1996), art. 3. 48 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Tribunal Pleno, CR-embargos-embargos 3.553/DF. Relator: Min. Moreira Alves. Brasilia, DF, 05,jun.85. DJ de 28.06.85, o. 10678 49° SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. AgRg na CR 2.484/RU, Relator: Min, Barros Monteiro, Bra 29,|un07, DI de 13.08.07, p. 281. 50 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. T 5 ~ Quinta turma. HC 147 375/f. Relator: Min. Jorge Muss. Brasilia, OF, 22.n0V.31, Dd de 19.12.11, Ver também 0 AGRE Na CR 3.162/CH (ST). DF, 706 CCOOPERAGAD JURIDICA INTERNACIONAL Caso ainda haja processos de concessio de exeguarur no STE, devem os respectivos autos ser remetidos ao ST], visto que as normas constitucionais que alteram competéncia de Tribunais possuem eficdcia imediata’. A execugo das rogatérias apés o exequatur & comperéncia dos jutzes federais de 1° grau (CB art. 109, X). Do cumprimento da carta rogatéria pelo Jutzo Federal competente cabem embar- 205, a serem opostos no prazo maximo de dez dias por qualquer interessado ou pelo Ministério Pablico a serem julgados pelo Presidente do ST] (Resolucéo 9/2005, art. 13, § 1°). Da decisio que julgar os embargos cabe, ainda, agravo regimental. Se for 0 caso, 0 Presidente do STJ ou 0 Relator do agravo poder ordenar dirctamente 0 atendimento da medida solicitada. Por fim, os juizes federais podem solicitar a cooperagao da Justica Estadual, quando a rogatéria se destina a citar ou intimar pessoa que tem domicilio onde ndo haja sede da Justica Federal”. Cabe destacar que, nos precisos termos da jurisprudéncia do ST], “€ dispensével a remessa da carta rogatéria 4 Justica Federal apés a concessio do exequatur, quando a parte interessada é considerada citada em razio do comparecimento aos autos para apresentar impugnacio"®, Acarta tem cariter itinerant, pelo que, antes ou depois de ser ordenado seu cumprimento, poder ser apresentada a juizo diverso do que dela consta, a fim de se praticar 0 ato (CPC, art. 204). ‘A rogatéria cumprida scra devolvida ao Presidente do STJ no prazo de dex dias apés sua execugio e serd remetida, em igual prazo, por meio do Ministério da Justica ou do Ministério das Relagdes Exteriores, ao Estado rogance. A devolugao independe de traslado, pagas as custas pela parte (CPC, art. 212). A propésito, ressalte-se que a Resolugio n” 9 do ST] determinou que, até a aprovacao de disposig6es regimentais proprias, as rogatérias processadas naquela Corte serio isentas de custas. A execugao da rogatéria ndo implica que 0 Brasil reconhece automaticamente a competéncia do Judiciario estrangeiro, nem que o Estado brasileiro firme 0 compromisso de homologar a sen- tena a ser prolatada no exterior, nos termos da Convencio Intetamericana sobre Cartas Rogatérias (art. 9), que reza que “O cumprimento de cartas rogatérias ndo implicard em cardter definitivo 6 reconhecimento da competéncia da autoridade judicidria requerente nem 0 compromisso de reconhecer a validade ou de proceder a execugao da sentenga que por ela vera a ser proferida”. Por fim, Bregalda afirma que a ordem de cumprimento das rogat6rias ou a denegagio do pleito néo produzem coisa julgada formal, podendo os pedidos serem renovados, ou o acolhimento da solicitagao de cooperagao ser revogado™. 51 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Tribunal Pleno, CR-AgR 9.897/EU. Relatora: Min, Ellen Gracie. Brasilia, DF, 30.ag0.07, Di de 13.03.08, p. 00131. 52 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. $2 ~ Segunda Seco. CC 89.791/SP. Relator: Min. Humberto Gomes de Barros, Brasiia, DE, 14,now.07. DJ de 26.11.07, p. 114, 53 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial, CR §.480/EX. Relator: Min. Ari Pargendler. Relator p/ acérdo, Presidente do ST). Brasilia, DF; 02.mai.12. Die de 06,jun.12. 54 BREGALDA, Gustavo, Direit Internacional piibicae direito internacional privado, p. 207. 707 PARTE I ~ DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO 2.1.3 Normas relativas as rogatérias nos tratados No geral, as normas referentes &s rogatérias nos tratados néo diferem em muito daquelas encontradas no Dircito brasileiro, Em todo caso, apresentamos aqui algumas das regras consagradas em acordos internacionais dos quais o Brasil faz parte. Inicialmente, conferimos destaque a normas da Convengao Interamericana sobre Cartas Rogatérias, de 1975, e de seu Protocolo Adicional, de 1979. Os dois tratados referem-se a cooperacao relativa as rogatorias em matéria civil e comercial, abrangendo a realizacio de atos processuais “de mera tramizacio”, como citag6es, eo recebimento e obtengao de provas ¢ de informagées no exterior, no se aplicando a nenhum outro ato, mormente 05 executérios. As rogatérias serao elaboradas em formuldrios, impressos nos quatro idiomas ofi- Giais da Organizagio dos Estados Americanos (OEA) ou nas linguas oficiais dos Estados rogante c rogado, c deverio seguir as cxigéncias do artigo 8 da Convencao e do artigo 4 do Protocolo. © Protocolo adorou a figura da “autoridade central”, érgio nacional encarregado de receber cogat6rias, de encaminhar o pedido de cooperacio & autoridade compctente e de devolver a rogatoria ao Estado rogante. No Brasil, a autoridade central é o Departamento de Recuperacao de Ativos ¢ Cooperacio Jurfdica Incernacional da Secretaria Nacional de Justica do Ministério da Justica. A Convengio (arts. 5 e 6) determina que o uimite das rogatérias pelas autoridades centrais ou pot via diplomatica satisfaz os requisitos de legalizagao ¢ de autenticagao™. O processamento da rogatdria pela autoridade central e pelos érgios jurisdicionais competentes é gratuito, Entretanto, os Estadas rogadas podem exigir 0 pagamento daqueles atos que, em conformidade com a sua lei interna, devam ser custeados diretamente pelos interessados. Para as rogatérias que circulam entre os membros do MERCOSUL, aplica-se 0 Protocolo de Cooperacao c Assisténcia Jurisdicional em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista c Administrativa, de 1992 (Protocolo de Las Leftas — arts. 5-17). O Protocolo de Las Lefias visa a facili cial, trabalhista ou administrativa que tenham por objeto diligéncias de simples tramite, como citagées, intimagées, citagées com prazo definido notificagbes, bem como o recebimento ou a obtengio de provas. 1 0 tlmite de rogatérias em matéria civil, comer Os requisitos especificos para a execugio de rogatérias que tramitem dentro do MERCO- SUL encontram-se nos artigos 6 ¢ 7 do Protocolo de Las Leas. A rogatéria e os procedimentos pertinentes deverio ser cumpridos sem demora e de oficio pela autoridade judiciaria competente do Estado rogado. A autoridade requerida poderd, a pedido da autoridade requerente, informar, com a devida antecedéncia, o lugar ¢ a data em que a medida solicitada ser cumprida, a fim de permitir que a autoridade do Estado rogante, as partes interessadas ¢ scus respectivos represen antes possum comparecer ¢ exercer as faculdades autorizadas pela legislagio do Estado rogado. A autoridade jurisdicional encarregada do cumprimento de uma carta rogatéria aplicaré sua lei interna no que se refere aos procedimentos cabiveis, embora possa, a partir de pedido da autotidade requerente, dar tramitacéo especial ao documento, admitindo-se o cumprimento de 55 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA, Corte Especial. AgRg na CR 1.589/US. Relator: Min. Barros Monteiro, Brasilia, DF, 16.mai.07. DJ de 06.08.07, p. 383. 708 COOPERACAO JURIDICA INTERNACIONAL formalidades adicionais na diligencia da carta rogatéria, desde que isso néo seja incompativel com aordem piblica do Estado requerido. © cumprimento da carta rogatéria nfo poder implicar ao reembolso de nenhum tipo de despesa por parte do interessado, exceto quando forem solicitados meios probatérios que gerem custos especiais, ou quando forem designados peritos para intervir na diligéncia, Em tais casos, deverao ser registrados, no texto da rogatoria, os dados da pessoa que, no Estado rogado, proceders a0 pagamento das despesas pertinentes. Os documentos que comprovem o cumprimento da carta rogatéria seréo transmiidos por invermédio das aucoridades centrais. Quando a rogat6ria nao tiver sido cumprida, integralmente ou em parte, tal fato, ¢ as razdes que o causaram, deverdo ser comunicados de imediato ao Estado rogante, também via autoridades centrais. 2.1.4 As rogatérias no novo Cédigo de Processo Civil Q projeto do novo Cédigo de Processo Civil (NCPC), aprovado no Congresso Nacional em 2014, contem normas relativas as rogatérias. De acordo com o NCPC, dar-se-4 por meio de carta rogaréria o pedido de cooperacéo entre 6rgio jurisdicional brasileiro € érgao jurisdicional estrangeiro para pritica de ato de citagao, in- timacao, notificagio judicial, colheita de provas, obtengio de informagées e de cumprimento de decisio interlocutéria, sempre que o ato estrangeiro constituir decisao a ser executada no Brasil. ‘Também poder ser executada por carta rogatéria a decisio interlocutéria estrangeira con- cessiva de medida de urgéncia, cuja execucao no Brasil é uma possibilidade expressamente aberta pelo texto do NCPC. A rogatéria estrangeira serd cumprida apenas depois de concedide o exeguatur, salvo dispo- sicdo em sentido contrario de lei ou tratado. No NCPC, sio requisitos para a concessio do exequatur os seguintes: ter 0 pedido de coope- ragio objeto da rogatéria sido proferide por autoridade competente: ter 0 pleito sido precedido de taco regular, ainda que verificada a revelia; ser o pedida eficaz no pais em que foi apresentado: nao ofender a coisa julgada brasileiras estar acompanhado de traducio oficial, salvo disposi¢ao que a dispense prevista em tratado; no haver manifesta ofensa 4 ordem piiblicas ¢, no caso de medidas de urgéncia concedidas sem auidiéncia do réu, quando garantido 0 contraditério posterior. No NCPC, nao seré concedido 0 exequatur quando a matéria objeto do pedido repousar na seara da competéncia exclusiva da autoridade judiciatia brasileira. © procedimento da carta rogatéria perante o Superior Tribunal de Justiga (STJ) é de jurisdigao contenciosa e deve assegurar s partes as garantias do devido proceso legal. A defesa restringir-se-d A discusséo quanto ao atendimento dos requisitos para que o pronuncamento judicial estrangeiro produza efeitos no Brasil, Em qualquer hipétese, é vedada a revisio do mérito do pronunciamento judicial estrangeiro pela autoridade judicidria brasileira, mantendo-se, portanto, o método da delibacdo, hé muito empregado no ordenamento juridico pattio. © cumprimenco das rogatérias é competéncia da Justiga Federal, devendo 0 pedido de coo- peracio ser instruide com cépia autenticada do exequatur. ‘Até a data de fechamento dessa edigao, 0 NCPC ainda nao havia recebido a devida sangio presidencial. 709 PARTE I~ DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO 3. REGIME DAS PROVAS: A producéo ¢ coleta de provas no exterior ¢ um dos problemas comuns tratados no Ambito de iniciativas de cooperagao judicidria internacional. Normalmente, a producéo de provas no exterior objeto de rogatérias. Entretanto, para fcilitar a cooperacio na érea, hé também tratados espectficos, como a Convengio Interamericana sobre Obtengio de Provas no Exterior, de 1956. © Brasil, porém, ainda nao é parte de nenhum tratado expecifico relativo produgio de provas no exterior, salvo o Cédigo Bustamante, que trata do tema entre os artigos 398 e 407. Na doutrina, hd uma preocupagio em distinguir o regime de provas quando a questio per tencer ao Direito material e quando for parte do Direito processual”®, Em regra, quando © problema for de Direito material, aplicar-se-d a lec causae, ou seja, a norma aplicdvel a uma relagéo juridica com conexao internacional, que pode set nacional ou estrangeira. Nesse sentido, sera a lex cause que determinard os fatos que dependem de prova, bem como o énus da prova. Quando a matéria recair no Direito processual, é sempre aplicavel a dex fori, que regulard, portanto, os meios de prova admitidos por lei ¢ a sua forca probante, a forma de producao das provas, a circunstincia de a produgio das provas ser determinada pelo juiz ou a pedido da parte, quando um fato é considerado como provado ou inconeroverso no proceso ¢ come o juiz apreciard a prova produzida. De resto, a doutrina qualifica o regime das provas como parte do processo ci A principal regra do Dieito brasileiro sobre o tema é0 artigo 13 da LINDB, que determina que “x prova dos fatos ocortidos em pais estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao 6nus ¢ aos meios de produzie-se, nao admitindo os tribunais brasilciros provas que a lei brasileita desconhega”. A Stimula 259 do STF determina que, para produzir efeito em juizo, nao é necesséria a inscri- io, no registro piiblico, de documentos de procedéncia estrangeira autenticados por via consular. Quadro 2. Regime das provas > Quando 2 matéria relativa 4 prova pertencer , ire | aplica-se a lex fori. Acoleta de provas em outro Estado é normal-| _ 2° Pireito processual, aplica-se a lex f mente-objeto de cartas rogatdries. + A prova dos fatos acorridos em pais estrangei- ro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto a0 @nus e aos meios de produzir-se, ndo admitin- do 05 tribunais brasileiros provas que a lei bra- sileira desconheca. > Quando a questao relativa a prova pertencer a0 Direito material, aplica-se a lex causae. 4, COOPERACAO INTERNACIONAL NO CAMPO CIVEL E ARCABOUGO INS- TITUCIONAL ATUAL: AUTORIDADES CENTRAIS E REDES DE COOPERACAO ENTRE ORGAOS DOS PODERES EXECUTIVO E JUDICIARIO E DO MINISTERIO PUBLICO. O AUXILIO DIRETO. A cooperagio internacional no ambito civel também conta, evidentemente, com o apoio de 6rgaos da estrutura governamental. 56 Sobre o tema, ver: RECHSTEINER, Beat Walter. Direito internacional privado: teoria e prética, p. 305-311. 710 COOPERACKO JURIOICA INTERNACIONAL Tradicionalmente, a cooperagio no campo cfvel era ~ ¢ ainda é— efetuada por meio de canais diplométicos. Aqui, os pedidos de auxtlio séo apresentados aos ministérios das relagSes exteriores dos entes estatais interessados, por intermédio das respectivas dreas competentes ou das misses diplomiticas no exterior. A partir dai, o pedido de cooperacao é transmitido aos érgéos compe- tentes dos Estados soberanos. Encreranto, as necessidades ¢ exigéncias da cooperacao juridica internacional impuseram a criagdo de estruturas adicionais, que visam a contribuir para o melhor funcionamento desses esquiemas cooperativos, sem necessariamente climinar as vias diplomédticas. Tais estruturas so as autoridades centrais ¢ as redes de cooperacio entre érgéos dos Poderes Executivo ¢ Judicidrio € do Ministétio Piblico”. 4,1 Autoridades centrais ‘Aa cooperagio internacional no campo civel pode contar com o apoio das chamadas “autori- dades centrais”, que sio Srgios das estruturas governamentais dos Estados, indicados por estes, que concentrario 0 tratamento das demandas relativas ao auxilio que os entes estatais prestam entre si Para a Procuradoria-Geral da Repiiblica, a autoridade central é “a autoridade designada para getenciar o envio € 0 recebimento de pedidos de auxilio juridico, adequando-os e os remetendo as respectivas autoridades nacionais ¢ estrangeiras competentes. No Brasil, a autoridade central examina 08 pedides ativos e passivos, sugerindo adequagées, exercendo uma sorte de juizo de admissibilidade administrativo, tendente a acelerar ¢ melhorar a qualidade dos resultados da cooperacio”™, JA para o Ministério da Justica, autoridade central é “o érgio interno responsdvel pela boa condugao da cooperagio juridica que cada Estado realiza com as demais soberanias. Nesse sentido, cabe & Autoridade Central receber e transmitir os pedidos de cooperacao envolvendo seu pais, néio sem antes exercer sobre eles juizo de admissibilidade, 0 que nao significa analisar 0 mérito da medida solicitada’, acrescentando que “A Autoridade Central adquire, por consequéncia, a atribuicao de coordenar a execucio da cooperagéo juridica internacional realizada por seu pais, inclusive para buscar junto & comunidade internacional melhorias no sistema de cooperagio juridica entre Estados”. Em sintese, cabe as autotidades centrais dos Estados enviar e receber pedidos de cooperagéo juridica internacional, encaminhé-los a atencio das autoridades competentes, exercet um juizo i de admissibilidade sobre os pedidos de cooperacio e acompanhar sua execugio. iP iG 57 As autoridades centralse as redes de cooperaci entre érgtos dos Poderes Executivo ¢Judicério © do Ministtio Pdblico atuam também no Smbito da cooperacao juridica penal, tema que estudamos no Capitulo XV da Parte | deste lio. 58 BRASIL Ministero Pdblco Federal. Procuradoria-Geral da Repiblica,Assessoria de Cooperacio Jurisica Intemacionat Autoridade Central. Disponivel em: . Acesso em 01/02/2015. 59 BRASIL Ministerio da Justea. Cooperagio Juridica internacional. Autorcade Central. Disponivel em . Acesso em: 01/02/2015. 71 PARTE Il ~ DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO No Brasil, a principal autoridade central é 0 Departamento de Recuperagio de Ativos ¢ Cooperagao Juridica Internacional (DRCI) da Secretaria Nacional de Justica, érgio do Ministério da Justica, conforme determinado pelo attigo 11, IV, do Decreto 6.061, de 15/03/2007. Outrossim, certos tratados celebrados pelo Brasil determinam que também funcionaréo como autoridades centrais dois outros érgios: a Procuradoria-Geral da Repiblica e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidéncia da Republica. A Procuradoria-Geral da Reptiblica é a autoridade central para a execugéo dos aros de coo- peragio relativos & Convencio sobre Prestagéo de Alimentos no Estrangeiro, de 1956", Jia Secretaria de Direitos Humanos da Presidéncia da Repiiblica é a Autoridade Central para aaplicagio dos seguintes acordos de cooperacio: Convencio sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Criangas, de 1980; Convengao relativa a Protegao das Criangas ¢ 8 Cooperagao. em Matéria de Adogao internacional, de 1993%, e; Convencio Interamericana sobre Restituigéo Internacional de Menores (Decreto n® 1.212, de 3 de agosto de 1994, modificado parcialmente pelo Decreto n° 7.256, de 04 de agosto de 2010). Quadro 3. Autoridades centrais no Brasil ~ campo cfvel AUTORIDADE FUNCAO + Departamento de Recuperagdo de Ativos e Cooperacao Juridica Internacional (ORCI) da Secretaria Nacional de Justica/MJ + Autoridecle central brasileira para todos os ca- 0s, menos os citados abaixo > Atuar como Autoridade Central em Relagdo 3 > Procuradoria-Geral da Reptiblica Convengiio sobre Prestac3o de Alimentos no Estrangeiro, de 1956 + Atuar como Autoridade Central em Relacao as seguintes convencées: > Convengdo sobre os Aspectos Civis do Seques- tro Internacional de Criancas, de 1980 > Convengdo relativa 3 Protecdo das Criancas & 3 Cooperacio em Matéria de Adogdo interna- cional, de 1993, + Convengao Interamericana sobre Restituicao, Internacional de Menores > Secretaria de Direitos Humanos da Presidéncia da Republica 4.2 Redes de cooperagao entre érgios dos Poderes Executivo e Judicidrio ¢ do Ministério Puiblico As redes de cooperacao entre érgaos dos Poderes Executivo ¢ Judicidrio € do Ministério Péi- blico visam a promaver a maior interagdo entre drgdos governamentais e ministeriais de diversos Estados, com vistas a que estes melhor cooperem para alcancar seus objetivos institucionais. 60 —Otratado em apreco é estudado no Capitulo Vil da Parte il deste livo. 61 Otratado em apreco é estudacio no Capitulo Vil da Parte Il deste livo. 62 Ottratado em apreco é estudado no Capitulo Vil da Parte Il deste livro. 712 COOPERAGHO JURIDICA INTERNACIONAL A Procuradoria-Geral da Reptiblica afirma que “As redes de cooperacao juridica tém a fina- lidade de solucionar algumas dificuldades que existem na cooperagao entre os Estados. © acesso a informagées, 0 cumprimento de prazos e procedimentos juridicos especificos em cada pals a busca por solugées de atsxilio sio temas que buscam tratar"®. Tais redes nocabilizam-se, entre outros aspectos, por incluirem os chamados “pontos de contato nacionais”, funciondrios indicados pelas autoridades dos drgaos envolvidos em agaes de cooperacio juridica internacional, que atuardo com o intuito de promover a cooperacéo entre os Estados membros da respectiva rede, atuando por meio de contatos informais, intercambio de informagées, cxames preliminares em pedidos de auxilio ¢ reuniées periddicas, dentre outras possibilidades. Atualmente, o Brasil faz parte de duas redes de cooperagio no ambito civel, que séo a Rede Ibcroamericana de Cooperagao Judicial (IberRED/IberRede) ¢ a Rede de Cooperacéo Juridica e Judiciéria Internacional dos Paises de Lingua Portuguesa (Rede Judicidria da CPLP). 4.2.1 IberRED ~ Rede Iberoamericana de Cooperagéo Judicidria A Rede Iberoamericana de Cooperagao Judicidria (IberRED/IberRede) € uma rede formada por Autoridades Centrais ¢ pontos de contato dos Ministérios da Justica, Ministérios Pablicos e Judiciétios dos vinte e dois Estados-membros da Comunidade Iberoamericana de Nagées, além da Suprema Corte de Puerto Rico. Foi criada em 2004 ¢ é regida pelo Regulamento da Rede de Cooperacio Juridica. A IberRED nfo ¢ uma organizago internacional, mas apenas um esquema de cooperagio informal, carecendo de um atcabouco institucional permanente ¢ de personalidade juridica propria. A IberRED visa a aprimorar os mecanismos de cooperac4o judiciéria nos campos penal ¢ civel entre os paises iberoamericanos, com o intuito maior de conformar, no futuro, um “Espa¢o Judicial Iberoamericano”, dentro do qual a cooperagio judicidria entre seus membros seré objeto de mecanismos, dindmicas ¢ instrumentos voltados a promover sua simplificacao ¢ agilizagio. Os principais objetivos da IberRED sao: estabelecer e manter atualizado um sistema de informago sobre os sistemas juridicos dos paises iberoamericanos; dinamizar a cooperagio ju- dicidria entre esscs Estados nos campos efvel e penal, com énfase na agilizagio dos processos de apreciacao de pedidos de auxilio, no bom desenvolvimento das agées de cooperagio e na melhor aplicacio dos acordos jé existentes; identificar autoridades compecentes para executar os atos de cooperagao juridica; apresentar solugdes priticas aos problemas que possam ocorrer na cooperacéo c; coordenar 0 exame dos pedidos de cooperacéo no Estado onde atue. 63 BRASIL, Ministério Publico Faderal, Procuradoris-Geral da Republica. Assessoria de Cooperacdo Juridica Interna- cional. Redes de Cooperacéo Juridica. Disnonivel em: . Acesso em: 01/02/2015. 64 RED IBEROAMERICANA DE COOPERACION JURIDICA INTERNACIONAL. Reglamento de La Red Iberoamericana de Cooperacién Juriéico Internacional, lberred. Disponivel em: . Acesso em: 01/02/2015. Em espanhol. Embora o sitio tenha uma verso em portugues, esta também contém informacdes exclusivamente etn lingua espanhola, Cabe destacar, nor fim, que o Regulamento em apreco no é um tratado. 713 PARTE I~ DIREITO INTERNACIOWAL PRIVADO A IberRED é composta por uma Secretaria-Geral permanente, cujas fungées sao exercidas pela Secretaria-Geral da Conferéncia dos Ministros da Justiga dos Paises Iberoamericanos (CO- ‘MJIB), sediada em Madri (Espanha). & também formada pelas Autoridades Centrais dos Estados, Pontos de Contato ¢ outras autoridades judiciérias ou administrativas que possam exercer funcées relacionadas com a cooperacio judicial, a juizo dos demais membros da TherRED. As ages operacionais da IberRED so executadas pelos Pontos de Contato, pessoas desig- nadas pelos Ministros da Justiga, 6rgios do Ministério Puiblico ou do Poder Judicidrio dos pafses iberoamericanos, que podem ser Juizes, Promotores de Justica, Procuradores da Republica ou funciondrios dos Ministérios da Justiga. Sua principal funcao é oferecer aos interessados as infor- maces necessdrias para que a cooperagio juridica se desenvolva de maneira dgil ¢ eficaz. sua atuagao, a IberRED caractetiza-se inicialmente pela informalidade, que implica que as agées praticadas dentro da rede ndo tomam o lugar da cooperagéo formal, contribuindo apenas para sua agilizacao. Caracteriza-se também pela complementaridade, nao substituindo, portanto, as autoridades comperentes jé estabelecidas, Outrossim, a IberRED € marcada pela horizonta- istindo apenas coordenadores aptos aarticular as agbes de cooperacio entre as instituigdes envolvidas; pela flexibilidade, por meio da qual a IberRED ¢ adaptavel as caracteristicas de cada organizasao judicial ¢; pela confianga miitua entre seus integrantes. Por fim, como a Rede nao é objeto de um tratado, pode-se afirmar que seus integrantes trabalham de acordo com interesses politicos ¢ com verdadeiras regras de cortesia internacional, que permitem que as partes nas iniciativas de cooperagao se aproximem estabelecam vinculos entre si, lidade, pela qual nao ha hierarquia entre seus membros, ex! Cabe enfatizar que todo trabalho da IberRED deve ser feito em conjunto com a Conferéncia das Ministros da Justica dos Paises Iberoamericanos (COMJIB), que ¢ outro organismo que visa a promover a maior cooperacdo entre os Estados iberoamericanos no tocante a varios temas rela- cionados 4 seguranca e 4 defesa da sociedade, incluindo questoes de evidente interesse no campo civel, como o acesso & Justia, a modernizacio e reforma do Judicidrio e a promogio dos direitos humanos nas relagdes processuais. 4.2.2 Rede de Cooperagéo Juridica e judicidria Internacional dos Patses de Lingua Portuguesa (Rede Judicidria da CPLP) Em 2005, a Conferéncia dos Ministros da Justica dos Paises de Lingua Portuguesa criou uma rede de pontos de contato para a cooperacio juridica e judicidria entre os membros da Comu dade dos Paises de Lingua Portuguesa (CPLP), chamada oficialmente de “Rede de Cooperagao Juridica e Judicidria Internacional dos Paises de Lingua Portuguesa” ou, simplesmente, de “Rede Judiciaria da CPLP"®. A Rede Judicidtia da CPLP foi criada por meio do “Lnstrumento que cria uma Rede de Coo- peracio Juridica ¢ Judicidria Internacional dos Pafses de Lingua Portuguesa”, documento que ndo é um tratado, mas apenas um diploma de sof aw. Sua fungao principal é “facilicar, agilizar € 65 Osmembros de CPLP sio: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Mosambique, Portugal e Timor Leste. 86 A integra do referido instrumento pode ser encontrada no seguinte sitio: COMUNIDADE DOS PAISES DE LINGUA PORTUGUESA. Acordos Intra CPLP. Instrumento que cria uma Rede de Cooperacéo Juridica ¢ Judiciéria internacional dos Palses de Lingua Portuguesa. Disponivel em: . Acesso em: 01/02/2015. 714 CCODPERAGAOJURIDICA INTERNACIONAL criar vondigées mais favordvels & cooperagio juridica e judicidria entre os Estados-membros”. A Rede atuara nas éreas penal, civil e comercial. Com o intuito de atingir seus objetivos, a Rede da CPLP contaré com Pontos de Contato indicados pelos Estados-membros, que terio pelo menos uma reunido anual. Contard também com 0 aporte de um Secretério-Geral, nomeado entre um dos Pontos de Contato indicados pe- los Escados, Haverd, ainda, um sistema integrado de informagoes e “ferramentas operacionais”, composto, entre outros, por um banco de dados sobre os Pontos de Contato, autoridades com- petentes e sistemas juridicos dos Estados-membros da CPLP ¢ projetos de formagao na area. Por fim, a Rede da CPLP deverd manter relagdes com outras redes ¢ organismos com competéncia em matéria de cooperacao jurfdica e judiciéria internacional. 5. AUXILIO DIRETO O auxilio direto € um mecanismo de cooperacio judiciéria empregado quando um Estado necessita que seja tomada, no territério de outro Estado, providencia relevance para um processo judicial que tramia em seu Judicidtio, que pode ser inclusive uma sentenga judicial”, No Manual de Cooperacao Juridica Internacional do Ministério da Justica — matéria civel, 0 “auxilio direto consubstancia-se na tealizacdo de uma diliggncia de natureza administrativa no Brasil ou na busca de prolacao de uma decisto judicial brasileira relativa a litigio que tem lugar em Estado estrangeiro. Nesse tltimo caso, nao se trata de reconhecimento e execugio de uma decisio judicial estrangeira no Brasil, mas da obtengao de uma deciséo judicial genuinamente brasileira’. Exemplos de providéncias que podem ser tomadas a partir de um pedido de auxilio direto so: comunicagées de atos processuais; fixagao de pensées alimenticias; determinagao de medidas cautelares (como o bloqueio de ativos financeiros e o sequestro de bens); produc de certas provas ¢ restituicao de menores ilicitamente levados de seus lugares de residéncia habitual. Aparentemente, 0 auxilio direto em muito assemelha-se & carta rogatéria. Entretanto, com esta nao se identifica coralmente. Em primeiro lugar, o que se pretende com 0 auxilio direto € obter uma decisao judicial es- trangeira sobre um processo que tramita no Estado que pede o auxilio. Por outro lado, a rogatéria visa a pecmitir que um ato processual cuja realizagio foi determinada pelas autoridades judieisias de um Estado seja praticado em outro Estado. Na rogatéria hé, portanto, um provimento jurisdicional do Estado rogante, a0 passo que, no auxilic direto, nio ha uma decisio do Estado requerente, mas um pedido de que o Estado 67 Arespeito do auxilio direta: TOFFOLI, José Anténio Dias; CESTARI, Virginia Charpinel Junger. Mecanismos de Coo pperacdo Juridica Internacional no Brasil, In: Manual de Cooperacdo Juridica Internacional e Recuperacio de Ativos, 25-27. Disponivel no sitio do Ministério da Justiga, na pagina “Cooperacdo Internacional’, cujo link & . Clicar ‘em “Manual de Matéria Penal’. Acesso om 01/02/2015. O conceit de auxilio direto em matéria penal aplica-se também ao auxilio direto no campo civel. 68 A respeito: BRASIL; Ministério da Justiga. Secretaria Nacional de Justica. Departamento de Recuperaglo de Ativos Cooperagéo Juridica internacional. Manual de Cooperacdio Juridica Internacional e Recuperacdio de Ativos ~ coa- peragéo em matéria civil, p. 59, Disponivel no sitio do Ministério da Justiga, na pagina “Cooperacdo Internacional’, cujo link & Devertio obedecer, quanto a admissibilidade e | - Requerem o exequatur do ST. modo de cumprimento, 20 disposto em tratado. | .» peyem observar a lei do Estado rogado quanto > Na falta de tratado, deverdo ser remetidas a] a0 objeto das diligéncias autoridade judicidria estrangeira por via diplo- | 5 matica ou por meio das autoridades centrais. > Deverdo ser treduzidas pare a lingua do pats em que o ato serd praticado. © exame da rogatéria configura mero juizo de delibacdo: ndo hé exame do mérito. > Devem estar traduzidas para a lingua portu- uesa Devem obedecer aos requisitos dos artigos re — 202, 203 ¢ 338 do CPC. Bienersam procuracio:de patrono da parte > Podem ser expedidas por meio eletrénico, com assinatura eletrOnica do juiz, mas no podem | > Ndo devem violar a soberania nacional e 2 or- ser transmitidas por telegrama, radiograma ou dem publica. telefone. > Dever ser auténticas. > Devem indicar o juizo de origem. > Nao serdo cumpridas em hipdteses de compe- > S6 podem emanar de érgios do Judiciério, t8ncla exclusiva do Judiciério brasileiro. + Nao é possivel a emissao de carta rogatéria | > Nao sero cumpridas quando implicarem ato com 0 objetivo de obter informagées a respel- executorio. to de bens localizados no exterior. + Serdio cumpridas pela Justica Federal. % O objeto da rogatéria deve ser licito. + A cancesséo do exequatur nao implica o re- > Suspendem o processo nas hipéteses dos arti-| __conhecimento da competéncia da autoridade 0s 338, caput, ¢ 265, 1V, "b", do CPC. judiciaria requerente nem no compromisso de > O cumprimento da rogatoria ativa no Estado homologar a sentenca que resulte do processo rogado obedeceré & norma processual deste. que gerou a rogatéria. 8. QUESTOES Julgue os seguintes itens, respondendo “certo” ou “errado”: 718 ‘COOPERACAO JURIDICA INTERNACIONAL 1, (PFN - 2012 ~ ADAPTADA) a competéncia constitucional para conceder exequatur as cartas roga- térias é privativa do Supremo Tribunal Federal, ndo podendo lel ordindria ou tratado internacional excegcionar esta regra. 2. (Advogado — BNB ~ 2006 — ADAPTADA) Carta rogatéria é aquela expedida a juiz subordinado ao tri- bunal de que ela emana. 3. (OAB—DF-2004— ADAPTADA) Compete aos juizes federais processar, apds 0 exequatur, aexecugao de carta rogatéria. 4. (Defensor Publico da Unido - 2010 - ADAPTADA) Por constituirem forma de cooperagao interna- clonal classica, as cartas rogatérias estrangeiras séo cumpridas no Brasil independentemente de se referirem ou nao a processos de competéncia exclusiva dos tribunais brasileiros. 5. (TRF —1# Regidio — Juiz ~ 2011) A prova dos fatos ocorridos em pais estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao 6nus € aos meios de produzir-se, nfo admitindo, porém, os tribunais brasilei- ros provas que a lei brasileira desconheca. 6. (TRF — 12 Regidio ~ Juiz 2011) A carta rogatéria obedecera, quanto 8 admissibilidade e ao modo de cumprimento, a0 disposto na legisla¢o brasileira, devendo necessariamente ser remetida aos juizes ou tribunais estrangeiros por contato direto entre as autoridades judiciérias dos Estados envolvidos. 7. (QAB—RJ—302 Exame de Ordem) 0 Superior Tribunal de Justica no daré o exequatur a carta roga- téria que: a} Sendo citatéria, for dirigida a um brasileiro que figure como réu em uma aco em outro pais; b) Seja oriunda de pais que nao tenha tratado para cumprimento de rogatéria com o nosso pais; €) Que ofenda a soberania nacional ou a ordem pablica; d) Nao esteja ratificada pelo Presidente da Republica 8. (MPF —Procurador da Republica — 2011) Nos termos da resolugo n’ 9/2005 do ST), a carta rogatéria: a) no pode ter por objeto ato executdrio; b) no com porta execuggo de medida sem audiéncia prévia da parte interessada, em homenagem ao princfpio da ampla defesa; ©) tera seu exequatur concedido pelo Presidente, cabendo agravo regimental de sua decisdo; d)_ pode ser substituida pelo auxilio direto, quando ensejar juizo de delibacio. 9. (TRF ~2# Regio — Juiz - 2011) situacdo |: Bernardo, julz federal, recebeu carta rogatéria da Franca para ouvir o depoimento de testemunha brasileira de roubo ocorrido em Paris, Situagio Il: Michelle, julza francesa, recebeu carta rogatéria do Brasil para citar Manoel, brasileiro residente em Paris, em processo de divércio em curso no Brasil Sabendo que o magistrado nacional pode aplicar direito estrangeiro quando executar sentenga es- trangeira ou quando cumprir carta rogatéria, assinale a op¢3o correta acerca das situacBes hipotéti- cas apresentadas acima’ a) Na primeira situacao, perante a justica brasileira, a hipdtese é de carta rogatéria ativa; b} Em ambas as situagSes, perante a justica brasileira, a hipdtese é de carta rogatéria passive; ©) Na segunda situago, perante a justica brasileira, a hipétese é de carta rogatéria passiva; d) Na primeira situacdo, perante a justica francesa, a hipétese é de carta rogatéria ativa. e) Na segunda situacdo, perante a justica francesa, a hipotese é de carta rogatéria ativa. 719 PARTE I~ DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO Julgue 0 seguinte item, respandendo “certo” ou “errado”: 10. (AGU — 2012) 0 Protocolo de Las Lefias sobre Cooperaco e Assist&ncia Jurisdicional em Matéria vil, Comercial, Trabalhista e Administrativa estabelece, no que se refere ao cumprimento de cartas rogatérias, procedimento uniforme para todos os Estados-partes. 11. (MPF ~ Procurador da Repliblica ~ 2012) 4 atuac3o do Ministério Publico Federal na Rede Iberoame- ricana de Cooperacao Judiciéria a) decorre de obrigagGes assumidas pelo Estado brasileiro por forca de tratado internacional: b) se faz em concerto com o Ministério das Relagdes Exteriores, sendo o Ministério Puiblico Federal o executor exclusivo das medidas solicitadas ao Brasil, no ambito criminal e civel; ©) se faz através de drgao de monitoramento do tratado que estabeleceu a rede; d) decorre de cortesia internacional, porquanto nao ha tratado internacional que a preveja. 12. (PFN— 2012) No Brasil, 05 instrumentos de cooperacdo juridica internacional: a) séoa carta rogatéria ea homologagdo de sentenga estrangeira (conforme previsto na Constituigao da Republica Federativa do Brasil) b] sto a homologac3o de sentenca estrangeira, a carta rogatdria e a extradico (conforme previsto na Constituicao da Republica Federativa do Brasil); ©) $80.0 auxilio direto, a homologacio de sentenca estrangeira, a carta rogatoria e a extradicao (mesmo ‘que estes ndo estejam todos previstos na Constituigo da Republica Federativa do Brasil); d)_ erama carta rogatéria e a homologaco de sentenga estrangeira. Atualmente é apenas a rogatéria, uma vez que ap6s 0 Protocolo de Las Lefias do Mercosul a homologaco de sentenca estrangeira, no Brasil, se d8 por meio da carta rogatoria, fe} resumem-se hoje 20 auxilio direto, que substitui todos os outros. 13. (MPF ~ Procurador da Repdblica — 2013) A atuacSo do Ministério Publico Federal na Rede Iberoame- ricana de Cooperagao Judicia a) decorre de obrigagdes assurmidas pelo Estado brasileiro por forca de tratado internacional: b) se faz em concerto com o Ministério das Relagdes Exteriores, sendo o Ministério Publico Federal executor exclusive das medidas solicitadas ao Brasil, no ambito criminal e civel; ¢]_ se faz através de drgio de monitoramento do tratado que estabeleceu a rede; d) decorre de cortesia internacional, porquanto nao ha tratado internacional que a preveja: GABARITO Gabarito Tépicos do Pere poaeti Fundamentacio leg: cela, | Eventual observacéo elucidativa ‘A concessdo de exequatur as cartas aye rogatérias ndo é mais competéncia a art, 108, |, : E | chart. 106, 2.4.2 | do STR, e sim do STs, desde a EC/A5, de 2004 2 | & | cPc,arts. 210211 edoutrina i, | ApEn expedldaialMeestran 3 | c | chart.109,x 2.1.2 7 720 (COOPERAGAO JURIDICA INTERNACIONAL Gabarito Tépicos do i ae FundamentacSo legal capital | Eventual observaczo elucidativa A rogatéria que se refere a proces- a |e | MINDB, art. 17, Regimento interno | 5, | so de competéncia exclusiva dos do STJ, art. 216-P, e jurisprudéncia tribunais brasileiros fere a sobera- nia nacional e a ordem publica Cabe enfatizar que norma da LIN- DB no excepciona qualquer moda- 5 | c | unos, art. 13 3 lidade de prova, sendo inadmitidas todas aquelas desconhecidas pela {ci brasileira A rogatéria pode também ser reme- PC, art. 2 1. € | & | seatiee 214 | tida por via diplomatica a) LINDB, art. 17, e Regimento inter-| , >. 4. | OSTi determina o cumerimento de no do STI, arts. 216-0 e 216-P 26212 | rogatérias passivas, no ativas ) LINDB, art. 17, CPC, art. 211, € Re- ‘A concessio de exequatur as roga- gimento Interno do SU, arts. 216-0 | 1,2@2.1.2 | térias pode ou no fundamentar-se | e216-P emtratado 7I/¢ ) LINDB, art. 17, Regimento interno | 5 4 5 - do STI, art, 216-P, e jurisprudéncia . 4) LINDB, art. 17 Regimento interno ‘A rogatéria 6 ato de cooperacio do ST), arts. 216-0 e 216-P, ejuris- | 2.1.2 _| entre Judicidrios, nao envolvendo o prudéncia Chefe do Executivo A proibi¢ao de uso de rogatérias a) Regimento Interno do STI e Con- para atos executdrios nao é expres- venio interamericana sobre Car-| 2.1.2 _| sana ResolugSo, constando do arti- tas Rogatdrias, de 1975, art. 3 go 3 da Convengao Interamericana sobre Cartas Rogatorias, de 1975 ‘AResolugao n* 9, do STI, fixa que “A medida solicitada por carta ragaté- ; ria podera ser ajc pea Interno do ST art) 54.2 | realizada sem ouvir a parte interes- | ea. Sa? sada quando sua intimagdo prévia puder resultar na Ineficécia da coo- peragao internacional” ¢) Regimento interno do st, art. | 5. 5 - 216-0 e art. 216-U “ 4) Regimento interno do SU, art] 5, , | aunilio direto & cablvel quando 216-0, § 22 “2 | no houver juizo de delibacso Perante a justica brasileira, a hipd- 9 | D | 2)Doutri ar | teseé epouns de carta rogatéria passiva (recebida da Franca) 721 PARTE Il ~ DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO Gabarito oficial Fundamentacio legal Tépicos do capitulo Eventual observacdo elucidativa b) Doutrina 24 Perante a justica brasileira, a hipé- tese é de carta rogatoria passiva (recebida da Franga), na primeira situacdo, e de carta rogatéria ativa (enviada pelo Brasil) na segunda situacdo ©) Doutrina 24 Perante a justica brasileira, a hipé- tese é de carta rogatéria ativa (en- viada pelo Brasil) na segunda situa- 0 d) Doutrina 24 Na primeira situacdo, perante a jus- tica francesa, a hipdtese é de carta rogatéria ativa (enviada pela Franga) e) Doutrina 24 Na segunda situacdo, perante a jus- tica francesa, a hipdtese é de carta rogatoria passiva (recebida do Brasil) 10 | E Protocolo de Las Lefias, art. 13 213 A autoridade jurisdicional encarre- gada do cumprimento de uma carta rogatéria aplicara sua lei interna no que se refere aos procedimentos a | D> a) Regulamento da iberRED 422 © Regulamento da IberRED ndo é tratado b} Regulamento da IberRED 421 ‘A cooperagio é feita em articula- ‘so com 0 Ministétio da Justica, € todos as partes integrantes da Rede podem contribuir para executar as medidas solicitadas ) Regulamento da IberRED 424 © Regulamento da IberRED nao é tratado 4d) Regulamento da tberRED 4.21 wz] c a) Doutrina Ha também a extradigao e 0 auxilio direto b) Doutrina Hé também 0 auxilio direto <) Doutrina d] Doutrina e Protocolo de Las Lefias 1¢213 © Protocolo de Las Lefias ndo elimi- nou outras possibilidades ce coope- aco juridica internacional e) Doutrina 0 auxilio direto continua conviven- do com outras formas de coopera- cdo internacional 722 COOPERACAO JURIDICA INTERNACIONAL eibene: Fundamentago legal Téplcos do | eventual observacdo elucidativa oficial capitulo A IberRED nao é ‘Jo inter- a) Regulamento da IberRED 424 “aro ee nacional b) Regulamento da IberRED al A JerRED tarnls ot Pon tampla alent 13 c operagao em materia civi c) Regulamento da IberRED 424 d} Regulamento da IberRED 424 ‘A IberRED no é organizacao inter- nacional regional 723 CAPITULO V HOMOLOGACAO DE SENTENCA ESTRANGEIRA 1. NOGOES GERAIS Cada Estado exerce os atributos inerentes & soberania apenas sobre pessoas, bens c relagbes juridicas que se encontram em seu territ6rio e sobre determinados espacos exteriores a seu ambito territorial, mas que so alcancados por sua jurisdicio. Uma das prerrogativas dos entes estatais ¢ decidir sobre os conflitos de interesses que ocorram dentro do ambito alcangado por suas competéncias. Tal missio ¢ cumprida por érgios como o Poder Judicidrio, cujas decisdes deverdo, portanco, gerar efeitos apenas dentro do territério nacional cou sobre aquelas telacées juridicas que, ainda que tenham lugar no exterior, possam ser objeto da atengio do Estado, por forga, por exemplo, de tratados ou do Direito Internacional Privado. Entretanto, € possivel que uma decisao judicial deva gerar efeitos em outros Estados. Consi- derando, porém, que cada ente estatal tem poderes pata fazer valer os provimentos jurisdicion proferidos por suas autoridades competentes apenas no Ambito alcancado pelos respectivos poderes soberanos, a eficicia de uma decisio judicial em tertitério estrangeiro esté condicionada, funda- mentalmente, ao consentimento do Estado em cujo territério a sentenca deva ser executada, que normalmente é materializado por meio da homologacio. A homologagao da sentenga estrangeira é 0 ato que permite que uma decisio judicial profe- rida em um Estado possa ser executada no territério de outro ente estatal. £, portanto, o instituto que viabiliza a eficicia juridica de um provimento jurisdicional cstrangeiro em outro Estado. E também conhecido como “reconhecimento”, “ratificagdo” ou “execugio” de sentenga estrangeira, Homologar a sentenga estrangeita significa, como afirma Marzuoli, tomé-la “semelhante (em seus efeitos) a uma sentenga aquti proferida”', O autor destaca, ainda, que “por meio da homolo- gacdo, a sentenca estrangeira passa a estar apta a gerar efeitos no pais que a homologou”, ¢ que “a homologacio nao cria eficicia interna para as sentengas estrangeiras, mas faz. com que ela tenha os seus efeitos estendidos ao territério do Estado onde se pretende que ela opera. A isso dé-se o nome de ‘importagao de cficicia’ da sentenca estrangeira para o verritétio nacional de outros Estados” Uma vez homologada, a sentenga poder produzir os mesmos efeitos de uma sentenga nacional. © fundamento da possibilidade de eficdcia de uma sentenca estrangeita em outro Estado é objeto de debate na doutrina. Dentre as teorias existentes, Dell’Olmo aponta a comitas gentium, ou cottesia internacional, a da comunidade de direito, de Savigny, e a dos direitos adquiridos. Entretanto, o mesmo autor acredita que “o ideal de justiga e 0 espirivo de solidariedade ¢ de 1 MAZZUOU, Valério, Direfto Internacional publico: parte geral, p. 112. 725 PARTE I ~ DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO interdependéncia dos povos podem set apresentados como fundamentos para a execugio, cada vex maior, da sentenga de um pais em outro”. Entendemos que, com a possibilidade de homologacéo das sentengas estrangeiras, facilicam-se as relagdes internacionais. Nesse sentido, Prangois Rigaux afirma que “toda circulacao de pessoas ficaria paralisada se os Estados nao reconhecessem mutuamente os atos de estado civil ditados em outro Estado ou se negassem sistematicamente toda eficécia as decisées estrangeiras em matéria de estado de pessoas". Com efeito, caso isso ocorresse, haveria sérios entraves aos fluxes de bens, se de pessoas, que dependeriam de intimeros procedimentos judiciais para que se de- de servi senvolyessem de maneira dinamica e eficiente. E nesse contexto que é pertinente a afirmagao de Mazzuoli quando defende que a homologagio visa a “facilitar 4 parte de uma causa julgada por um tribunal estrangeiro a satisfacéo de seu dircito em territério nacional, dispensando-a de ter de iniciar aqui novo processo a fim de ver reconhecido seu direito”! Enrretanto, a homologagao nao é automatica, dependendo essencialmente do cumprimento de exigéncias estabelecidas pelo ordenamento jutidico do Estado ao qual é solicitada a homolo- gasao. E nesse sentido que Rechsteiner afirma que “conforme o direito costumeiro internacional, nenhum Estado est obrigado a reconhecer no seu territério uma sentenga proferida por juiz ou tribunal estrangeiro”. Com efeito, é possivel que o instituto sequer exista na ordem juridica estatal, embora Del- l’Olmo defenda que “a eficacia extraterritorial da sentenga tende a ser admitida pelas ordens juridicas de praticamente todos 0s paises, com a atenuacio da rejeigdo antes oferecida por muitos Estados”, até mesmo porque, como afirmamos anteriormente, os Estados que nao homologuem sentengas estrangeiras podem impor dificuldades para o bom desenvolvimento de suas relagoes na sociedade internacional. Em suma, podemos afirmar que a maioria dos Estados homologaré sentencas estrangeiras, observados certos requisitos legais, estabelecidos livremente pelos préprios entes estatais, dentro de suas préprias leis ou dos eratados de que facam parte. Aplicam-se, portanto, & possibilidade de homologacio da sentenga estrangeira os critérios que o proprio Estado estabeleceu ou com os quais consentiu, Nao havendo cratados regulando a matéria, celebrados entre o ente estatal de origem da sentenga ¢ 0 Estado onde deva ser homologada, aplica-se somente o Dircito interno deste tiltimo. Entretanto, havendo tratado, ¢ entrando em conflito as disposigoes deste, mais rigidas, ¢ as normas internas, entende a doutrina de Direito Internacional Privado que devam ser aplicadas as normas gue facilitem a homologaca DELL'OLMO, Florishal de Souza. Direito internacional privado, p. 70 (grifos do autor). RIGAUX, Frangol privado, p. 69-70. MAZZUOLI, Valério. Direito internacional pablico: parte geral, p. 111. RECHSTEINER, Beat Walter. Direito internacional privadio: teoria ¢ orética, p. 269. DELL'OLMO, Florisbal de Souza. Direito internacional, p. 70, Derecho internacional privado, p. 237, Apud DELL'OLMO, Florisbal de Souza, Direito internacional 'Nesse sentido, Beat Walter Rechsteiner afirma que “a doutrina postula, com razio, a aplicagtio da legislacdo mais liberal de origem interna’”. RECHSTEINER, Beat Walter. Direito internacionol, p. 272. HOMOLOGAGAO DE SENTENGA ESTRANGEIRA A homologacio de sentencas escrangeiras obedece também a critérios vinculados a métodos (ou sistemas) doutrindrios, a exemplo dos seguintes*: * — Revisio do mérito da sentenca: deve haver novo processo judicial no Estado homologante, como se nio existisse sentenga estrangeira anterior a homologar, e, somente apds o julga- mento do proceso nacional, ¢ dependendo de seu resultado, poder a decisio estrangeira ser homologadas © Revisio parcial de mérito: a homologagao depende da verificagéo da boa ou mé aplicagao da Ici do Estado onde a sentenga estrangeira gerard efeitos; * — Reciprocidade diplomatica: a homologagio é fundamentada em tratados que envolvam © Estado de origem da sentenga ¢ aquele onde a decisio judicial deverd surtir efeitos, sem os quais nao serd possivels * Reciprocidade de fato: a homologagio s6 pode ocorrer quando o Estado de origem da sen- tenga também homologa sentengas estrangeiras; * — Delibagio: nao se entra no mérito da decisio a ser homologada, examinando-se apenas certos pressupostos formais. £ 0 sistema adotado no Brasil A homologacio é uma modalidade de aplicagio do Direito estrangeiro, pelo que uma decisao judicial de outro Estado s6 poder ser homologada se nfo violar as restrigGes referentes 4 aplicagso de notmas estrangeiras?, E nesse sentido que afirmamos que a sentenga homologada poderd estender seus efeitos 20 territério de outro Estado, exceto aqueles nao admitidos pelo ordenamento estatal. A respeito, Rechsteiner afirma que “uma sentenga estrangeira apenas pode tet os efeitos juridicos dentro do territério nacional que lhe concede o pais de origem. Mas esses efeitos juridicos jamais podem ir além daqueles que um pais admire para as senteneas proferidas pelos juizes com base na lex fori. Dessa forma, a sentenca estrangeira, apés o seu reconhecimemt, estard, no maximo, apta a produzir os mesmos efeitos juridicos de uma sentenga nacional”"” Quadro 1. Homologagaa: nogoes gerais + Permite que uma decisio judicial de um Estado possa ser executada em outro Estado > implica a extensdo dos efeitos de uma sentenca ao territdrio de outro ente estatal ~> Nenhum Estado esta obrigado a homologar uma sentenca > Ahomologaglo depende de critérios estabelecidos pelas normas do Estado que homologa (ou seja, pela lex fori) e por tratados > Métodos: revisio do mérito: revisdo parcial de mérito; reciprocidade diplomatica; reciprocidade de fato; delibacdo 8 AMORIM, Edger Carlos de. Direito internacional privado, p. 51. Ver também: DELL'OLMO, Florgbal de Souza. Direito internacional privado, p. 73. 9 Arespeito, Florisbal Souza Dell‘Olmo afirma que “A aplicacSo do direlto estrangeiro pode apresentar-se de duas ‘maneiras: emprego pelo julz do fora, na composigao da lide, de lei de outro pais (eplicaco direta) ¢ execugéo de sentenge proferida pela justiga estrangeira(eplicacSo Indireta)”. DELL'OLMO, Florisbal de Soua, Dieito internacional rivade, p. 69. 10 RECHSTEINER, Beat Walter, Direito internacionol privado, p. 263-270. 727 PARTE I~ DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO 2. AHOMOLOGACAO DA SENTENGA ESTRANGEIRA NO BRASIL © Brasil € um dos Estados que admite a homologagao de sentengas estrangeiras, definindo © Poder Judicidrio como érgio competente para decidir acerca do reconhecimento e da execugio de decisbes judiciais proferidas em outros Estados. No Brasil, 2 homologacéo dependerd, portanto, da apreciagéo judicial, ¢ 0 regramento a respeito encontra-se dividido pelos seguintes diplomas legais: Constituicao Federal, artigos 105, I, “i, € 109, Xj Lei de Introdugao as Normas do Direito Brasileiro (LINDB), artigos 15 a 175 Codigo de Processo Civil (CPC), artigos 483 ¢ 4845 Lei 9.307, de 23/09/1996, artigos 34 a 40; ca Resolugio n° 9, do ST], que regula temporariamente a apreciagio da matéria no ambito da- quela Corte até que sejam aprovadas disposig6es regimentais préprias. A homologacao tmbém é regulada por tratados, que setao objeto de breve exame dentro deste capitulo (item 2.5). 2.1 Competéncia O brgio competente para homologar a sentenga estrangeira ¢ © Superior ‘Tribunal de Justi¢a (ST]), nos termas do artigo 105, I, “i”, da Constituicao Federal, dispositivo incluido pela Emenda Constitucional 45, de 2004. ATENCAO: até 2004, a competéncia origindria para a homologaco de sentencas estrangelras no Brasil pertencia ao Supremo Tribunal Federal (STF), a teor da redaco anterior do artigo 102, 1, "h”, da CF/88. Entretanto, a EC/45 atribuiu esse poder ao STJ, pelo que todas as normas infr constitucionais que ainda mencionam o STF como competente para decidir acerca da homolo- aco devem ser interpretadas como aludindo ao ST!, em vista da superioridade hierérquica da Carta Magna. A exccugao de sentenga estrangcira homologada pelo ST] é competéncia dos juizes federais de primeira instincia (CF/88, art, 109, X) ¢ far-se-4 “por carta de sentenga extraida dos autos da homologacio ¢ obedecerd as regras estabelecidas para a cxecugio da sentenga nacional da mesma natureza” (CPC, art. 484). ATENCAO: a competéncia do ST) ndo impede que 0 STF continue a conhecer de processos sobre i t 1 homologaco que envolvam matéria constitucional e que sejam levados a sua apreciacéo em 1 | Brau de recurso, como veremos posteriormente.. 2.2 Condigées para a homologacio de uma sentenga estrangeira no Brasil A primeira condigao para a execugio de uma sentenga estrangeira no Brasil é portanto, sua homologacio pelo Superior Tribunal de Justica (ST)). Todas as decisoes judiciais estrangeiras dependem de homologacao para gerar efeitos no Brasil, inclusive aquelas de natureza cautelar ¢ aquelas meramente declaratdrias do estado das pessoas. Entretanto, as decis6es interlocurdrias ¢ os despachos de mero expediente nao sio homologiveis, por nao terem natureza de sentenga, sim de meros atos processuais, que devem ser cumpridos no Brasil por meio de carta rogatéria ou por outros meios de cooperagao judicial. 728 HOMOLOGAGAO DE SENTENGA ESTRANGEIRA Cabe ressaltar que o fato de haver acordo de cooperacao juridica entre o Brasil ¢ o Estado estrangeiro onde foi proferida a sentenga no afeta a necessidade de homologag4o, mormente quando existe ato de constticgéo patrimonial!', Na homologa¢o, o Brasil adota 0 método da delibacao. Com isso, caber4 ao ST] simples- mente verificar se a sentenca estrangeira se coaduna com os prinefpios bésicos do ordenamento brasileiro, nao se detendo no exame de scu mérito, salvo para demonstragao de eventual afronta 4 ordem publica, & soberania nacional e aos bons costumes’. A propésito, a dogo do método da delibagéo ¢ confirmada pela jurisprudéncia desde a época em que a homologacio ainda era competéncia do STE”. ATENCAO: apesar de o STF nao mais tratar do tema, a jurisprudéncia do Pretérlo Excelso sobre homologacao ainda é habil para orientar o tratamento da matérla. (O julgamento do caso SEC 651-FR tevela exatamente como o ST] aplica 0 método da deli- bagéo na homologacao de sentencas estrangeiras: “O Ministério da Justiga da Republica Francesa formulou pedido de homologacao de deciséo proferida pelo Tribunal de Grande Instancia de Bor deaux, em 25/9/2003, no processo de divércio que concede provisoriamente a guarda das criangas ao pai e o diteito de visitas 4 mie, com a proibigio de safda das menores do territdrio francés. O requerente alega que as ctiangas encontram-se retidas no Brasil pela mae desde 7/12/2003 e requer a aplicagéo da convengio franco-brasileira de cooperacao judiciaria em matéria civil, de 8/3/1996, para reconhecer e executar a decisio que fixa a residéncia das menores no domicilio do pai. Inicialmente, 0 Min, Relator entendeu que a alegagio da requerida na contestagéo de que 0 pai nao é pessoa de boa indole ¢ pode trazer riscos 4 integridade das criangas nao pode ser acolhida, porquanto a questéo confunde-se com 0 proprio mérito da sentenca, 0 qual, conforme a jurisprudéncia do STF e deste Superior Tribunal, nao pode ser apreciado, jf que 0 ato homolo- gatério da sentenga estrangcira restringe-se & andlise dos seus requisitos formais. Sobre a questio, 10 estrangeira também menciona o cardter da © pronunciamento ministerial ressalta que a decis mi, nfo obstante o mérito da sentenga néo poder ser objeto da andlise deste STJ"". O emprego do método da delibacao foi ainda melhor delineado pelo STJ no julgamento da SEC 3.932/GB, ocasiéo em que “A Corte Especial reiterou que, nas homologagées de sentenca estrangeira, compete ao ST] verificar 0 preenchimento dos requisitos formais desctitos nos arts. 5° © 6° da Res. n° 9/2005-STJ, ¢ ndo 0 mérito da causa, ressalvado o exame dos aspectos atinentes a ordem publica, soberania nacional, contraditério, ampla defesa e devido processo legal”"’. O ST] 11 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, Informativo 644, Brasilia, DF, 10 a 14 de outubro de 2011, Processo: HC 105.905/ MS, Relator: Min, Marco Aurélio. 12 SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTIGA. Corte Especial. SEC 2.052/0E, Relator: Min. Castro Meira. Brasilia, DF, 19.dez.07. Di de 21.02.08, p. 30. 13. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Tribunal Pleno. Rcl-AgR/1908. Relator: Min, Celso de Mello. Braslia, DF, 242ut.01. Di de 03.12.04, p. 00013. 14 SUPERIOR TRISUNAL DE JUSTICA. Informativo 407. Brasflia, DF, 14.a 18 de seterbro de 2009, Processo: SEC 651-FR Relator: Min, Fernando Goncalves. 15 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Informativo 468. Brasflia, DF, 28 de marco @ 8 de abril de 2011, Processo: SEC 3.932-6B, Rel. Min, Fel Fischer, julgada em 6/4/2011 729 PARTE |i ~ DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO reiterou ainda, nessa ementa, que é “Incabivel a andlise do mérito da sentenga que se pretende homologar, uma vez que o ato homologatério est adstrito ao exame dos seus requisitos formais”™. Por adotar 0 método da delibagao, 0 Dircito brasileiro ndo elenca, dentre os requisitos legais para a homologacao, exigencias como um pedido do Estado estrangeiro ou a reciprocidade em telacio ao reconhecimento de sentengas brasileiras no exterior. © artigo 15 da LINDB apresenta alguns dos requisitos para a homologacao da sentenga cestrangeira, que sio os seguintes: haver sido proferida por juiz. competente; terem sido os partes citadas on haver-se legalmente verificado a revelia; ter passado em julgado ¢ estar revestida das formalidades necessdrias para a execucéo no lugar em que foi proferidas estar traduzida por intér- prete autorizado; ¢ ter sido homologada pelo ST]. ATENCAO: a LINDB menciona o STF como 6rgéo competente para a homologacdo. Reiteramos, porém, que todos os textas infraconstitucionais sobre o Instituto que se refiram ao STF devem los como aludindo ao STI. As exigéncias apontadas pela LINDB sio reiteradas pelos artigos 5 ¢ 6 da Resolugéo n° 9 do STJ, os quais acrescentam que a sentenca estrangeira deve também estar autenticada pela autoridade consular brasileira e acompanhada de tradugao por tradutor oficial ou juramentado no Brasil”, ATENCAO: dessa forma, a nocio de “intérprete autorizado” da LINDB deve ser Interpretada como referindo-se a “tradutor oficial ou juramentando no Brasil”. Entretanto, 0 ST] decidiu que “As exigencias de que a sentenca estrangeira esteja autenticada pelo consul brasileiro e de que tenha sido traduzida por tradutor juramentado no Brasil cedem quando o pedido de homologasao tiver sido encaminhado pela via diplomatica ‘Ainda de acordo com o SJ, “Presume-se a legitimidade, veracidade e legalidade do ato admi nistrativo consular de chancela, a menos que seja infirmada, com base em elementos probatorios robustos que possam gerar diwvida plausivel acerea da competéncia da autoridade signatdria””. ‘A falta da assinacura da autoridade competente na decisio homologanda néo necessariamente é ébice para a homologacdo, desde que a autenticidade da decisio esteja comprovada por outros meios permitidos em Direito”. 16 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. SEC 3.932/GB. Relator: Min. Félix Fischer; Brasilia, DF, 06.ab¢.11, Die de 11.04.11. Ainda a respeito do cardter delibatério do proceso de hamologaclo: STI — SEC 4.788/EX. 17 Sobre-a legalizagSo consular, ver: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA, Corte Especial, SEC S87/CH. Relator: Min. Teori Albino Zavascki, Brasilia, DF, 11.fev.08, Die de 03.02.08. 38 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA, Corte Especial, SEC 2.108/FR, Relator: Min. Ari Pargendler; Brasilia, DF, 20.mai.09. Die de 25.08.09. 19 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial Die de 19.nov.12, 20 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA, Corte Especial, SEC 563/DE. Relator: Min, Teori Albino Zavascki. Brasilia, DF, 15.ag0.07. Dl de 03.09.07, p. 110. EC 4.788/EX. Relator: Min. Castro Meira. Brasilia, DF, 07:nov.12, 730 HOMOLOGACAO DE SENTENGA ESTRANGEIRA Para a homologagao de sentenga proferida em processo que tramitou, no exterior contra pessoa domiciliada no Brasil, é indispensavel que a citagao tenha sido regular de acordo com a lei do Estado onde foi proferida a sentenga objeto de pedido de homologacio. A respcito, julgados recentes do STJ tém destacado que “Nao € possivel impor as regras pre- vistas na legislagao brasileira para citagao praticada fora do pais. A citacao é instituto de direito processual ¢, por estar inserida no ambito da jurisdigéo e da soberania, deve ser realizada de acordo com a legislagao de cada pais”, acrescentando que “A alegada auséncia de comprovasao de citagao valida nos autos principais deve ser examinada cue grano salis”™. © ST] também destaca que 0 comparecimento & audiéncia realizada pelo jufzo estrangeiro supre a falta de citagio, Nao impede, porém, a homologagio o fato de o réu ter sido citado por edital, quando 0 réu se encontrar em lugar ignorado, incerto ou inacessivel, a teor do artigo 231, II, do CPC”, Entretanto, quando a citacio foi feita por edital, e quando “provado nos autos que a outra parte estava ciente do endereco do brasileiro ¢ nao processou o feito por meio de carta rogatéria”, nao pode haver a homologacio™. Entretanto, quando a sentenca estrangeira objeto de pedido de homologagio disser respeito a pessoa que tenha domicilio em cerritério brasileiro, deve-se observar que “A citagao de pessoa domiciliada no Brasil para responder a processo judicial no exterior deve realizar-se necessariamente por meio de carta rogatéria, sendo inadmissivel a sua realizagao por outras modalidadcs”. A nao observancia dessa exigéncia impede a homologa¢io, no Brasil, de uma sencenga estrangeira que correu contra individuo domiciliado em territério brasileiro”. Ainda no tocante & essencialidade da citacio regular para a homologagéo de sentenga estran- geira no Brasil, o ST] entende que “Nao pode scr homologada sentenca estrangeira que dectete divércio de brasileira que, apesar de residir no Brasil em local conhecido, tenha sido citada na aco que tramitou no exterior apenas mediante publicacao de edital em jornal estrangeiro, sem que tenha havido a expedigio de carta rogatéria para chamé-la a integtar o processo”™*. 21 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Informativo 508. Brasilia, 5 a 14 de novembro de 2012. Processo: SEC 5.268-GE, Relator: Min. Castro Meira. Julgada em 7/11/2012, Preceentes: SEC 3.341-£X, DJe 29/6/2012, e SEC 4,730-EX, De 28/6/2012. 22 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA, Corte Especial. SEC 2.259/CA, Relator: Min, José Delgado. Brasilia, DF; 04,jun.08. Die de 20.06.08. 23 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Informative 497, Brasilia, DF, 7 a 18 de malo de 2012. Proceso: SEC 5,709/US, Relator: Min. Amaldo Esteves Lima. Julgada em 16/5/2012. Precedentes citados: SEC 5.613-EX; AgRg na SE 1.950- DE e SE 2.848-G8, No texto disponivel no Informativo em apreco, restou também ragistrado que homologar uma sentenga de processo em que houve cita¢ao por edital tampouco configura ofensa a soberania e & ordem publica, 24 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. SEC 1.970/EX. Relator: Min. Humberto Martins. Brasfia, DF, 19,501.12. Dle de 049ut.12. 25 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. SEC 1.970/EX. Relator: Min. Humberto Martins. Brasilia, DF, 19.set.12, De de 042ut.12. Na ementa, hd varios precedentes quanto 30 assunto, 26 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Informative 543. Brasilia, DF; 13 de agosto de 2014. Processo: SEC 10.154-EX. Relator: Min. Laurita Vaz. Julgado em 01/07/2014. 731 PARTE Il ~ DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO Nao é exigivel a prova da citagdo dos réus no proceso original quanda a homologago é requerida por eles mesmos”. Quanto 20 processo homologatério que corre no Brasil, 6 permitida a citagio por edical quando 0 requerido se encontrar em local ignorado, incerto ou inacessivel*. ‘A Stimula 420 do STF enfatiza que “Nao se homologa sentenga profetida no estrangeito sem prova do transito em julgado”. Entretanto, hé decisées no STJ que dispensam esse requisite, Eo caso do julgamento da SEC 651-ER, relativa 3 homologagio de sentenca que decidiu a guarda de menores proferida por tribunal francés, em que se aplica o artigo 18 da Convengdo franco-brasileira de cooperagio judicidtia em matéria civil, de 8/3/1996, que dispensa 0 transito em julgado de decisio sobre questao de guarda de menores para que seja reconhecida no territério brasileiro, desde que cenha forca executéria”. ‘Também é dispensado o trinsito em julgado de decisio judicial estrangeira no caso de sentenga escrangeira de divércio, na hipétese em que, preenchidos os demais requisitos para a homologacio, tenha sido comprovado que a parte requerida foi a autora da ado de divércio ¢ que o provimento judicial a ser homologado teve carter consensual” O artigo 17 da LINDB determina que no poderio ser homologadas as sentencas que “ofen- derem a soberania nacional, a ordem piblica e os bons costumes”, condigao que se aplica, aliés, a qualquer hipétese de aplicagio do Direito estrangeiro no Brasil. ‘A norma € secundada pela Resolugéo N° 9 do ST] (art. 6), que elimina, porém, a referéncia aos “bons costumes”, o que néo significa a derrogagao da regra da LINDB, inclusive porque a nocio de “bons costumes” pode se inserit na de “ordem pidblica’. Nesse sentido, no serio passiveis de homologacao sentengas relativas a iméveis situados no Brasil, por forga do artigo 89, I, do CPC, que determina que “Compete a autoridade judiciaria brasileira, com exclusio de qualquer outra: Brasil”. Tampouco se homologam sentengas telativas a inventério e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da heranca seja estrangeiro e tenha residido fora do territério nacional, por conta da competéncia absoluta do Judiciario brasileiro para tal (CPC, art. 89, II). = conhecer de agies relativas a iméveis situados no ATENCAO: no se homologam, portanto, sentencas estrangeiras relativas a matérias que repou- sam na competéncia exclusiva da autoridade judiciaria brasileira. 27 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Informative 468, Brasilia, DF, 28 de marco a 8 de abril de 2013. Proceso: SEC 3,932/GB, Rel. Min. Fellx Fischer. Outrossim, a ementa do referido julgado acrescenta que “Ademais, amaas as partes se manifestaram no processo, por meio de advogado, e foram ouvidas em juizo”. 28 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Informative 450. Brasilia, DF, 4 a8 de outubro de 2010. Processo: SEC 1.325/PY. Relatora: Min. Nancy, 28 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Informative 407. Brasilia, DF, 14 a 18 de setembro de 2009. Processo: SEC 651/ FR, Relator: Min. Fernando Goncalves. 30 SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTICA. informativo 521. Brasilia, DF, 26 de junho de 2013. Processo: SEC 7.746-US. Relator: Min, Humberto Martins, Julgado em 15/5/2043, Precedentes citados: SEC 3.535-IT, Corte Especial, Dle 16/2/2011; e SEC 6.5124, Corte Especial, Die 25/3/2013. 732 HOMOLOGAGAO DE SENTENGA ESTRANGEIRA Entretanto, a jurisprudéncia permite a homologacio quando a decisio disponha acerca de bem a respeito do qual renha havido acordo entre as partes e que somente ratifica 0 que restou pactuado”!. Nesse mesmo sentido, o fato de o imével estar no Brasil nao impede a homologac4o da sentenga estrangeira de partilha de bens no divércio quando houver acordo entre as partes quanto ao referido imével®, Em nenhum dos dois casos configure-se, portanto, ofensa a soberania nacional e & ordem publica. Fere frontalmente a ordem publica a homologacéo de sentenca desprovida de qualquer fundamentagao®. De acordo com o STJ, nao é possivel a homologagio de sentenga estrangeira “na parte em que ordene, sob pena de responsabilizacao civil e criminal, a desisténcia de ago judicial proposta no Brasil”, visto que “essa determinagao claramente encontra obstaculo no principio do acesso a Justiga (CF, art. 5°, XXXV), que é clausula pétrea da Constituigao brasileira”. Nio é possivel tampouco homologar a sentenga estrangeira, ainda que esta preencha adequa- damente os requisitos indispensaveis 4 sua homologagao, “na parte em que verse sobre guarda ou alimentos quando jé exista decisio do Judiciério Brasileiro acerca do mesmo assunto, mesmo que esta decisio tenha sido proferida cm carter provisério e apds o trnsito em julgado daquela”™*. De acordo com o STJ, a homalogagao nesse caso configura ofensa a soberania da jurisdicao nacional. Em sintese, entendemos que hé ofensa & ordem publica, impeditiva da homologacao de sentengas estrangeiras, quando estas firam dispositivos constitucionais, contemplem matéria que repousa na competéncia exclusiva da autoridade judicidcia brasileira ou se choquem com premissas bésicas de qualquer ramo do Dircito interno brasileiro, sem prejuizo de outras possibilidades que possam ser reconhecidas pela jurisprudéncia patria. Por outro lado, nao fere a soberania nacional e a ordem piiblica a homologagio de sentenca judicial estrangeira que, “considerando valida cléusula compromissdria constante de contrato firmado sob a expressa regéncia da lei estrangeira, determine ~ em face do anterior pedido de arbitragem realizado por uma das partes ~ a submissio a justica arbitral de conflito existence entre ‘0s contratantes, ainda que decisao proferida por juizo estatal brasileiro tenha, em momento pos- terior ao transito em julgado da sentenga a ser homologada, reconhecido a nulidade da clausula com fundamento em exiggncias formais tipicas da legislagio brasileira pertinentes ao contrato de adesao”*, 31 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. SEC 1.304/US. Relator: Min. Gilson Dipp. Brasilia, DF, 19.dez.07, Die de 03.03.08, 32 _ SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. SEC 878/PT. Relator: Min. Carlos Alberto Menezes Direito. Brasfla, Df, 18.mai.05. Di de 27.06.05, p, 203. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial, SEC 2.222/US. Relator: Min, José Delgado, Brasilia, DF, 05.deu,07. DJ de 11.02.08, p. 52, 33 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. SEC 684/US. Relator: Min. Castro Meira, Brasilia, DF, O1.jul.10. Di de 16.ago.10. 34 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Informative 533. Brasilia, DF, 12 de fevereiro de 2014. Processo: SEC 854/US. Relator origindrio: Min. Massami Uyeda, Relator para acérd3o: Min. Sidnei Benet. Julgado em 16/10/2013. 35 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. informativo 548. Brasilia, DF, 22 de outubro de 2014. Processo: SEC 6.485-EX. Relator: Min. Gilson Dip. Julgado em 03/09/2014. 35 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Informative $33, Brasilia, DF, 12 de fevereira de 2024. Processo: SEC 854-US, Relator origindrio: Min. Massami Uyeda. Relator para acérdda: Min. Sidnei Senet, Julgedo em 16/10/2013. 733 PARTE I! ~ DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO O parigrafo Ginico do artigo 15 da antiga LICC (atual LINDB) previa, em sua redagao ori- ginal, que nao dependiam de homologagao as sentengas meramente declaratérias do estado das pessoas. Entrecanto, a Lei 12,036, de 01/10/2009, revogou esse dispositivo, com 0 que restou consolidada a regra segundo a qual também dependem de homologagio as sentencas meramente declaratérias do estado das pessoas. O STF decidiu que “Nao é homologével, « titulo de sentenga estrangeira, a formalizagao em consulado estrangeiro, no Brasil, de divércio consensual de cdnjuges esttangeiros, domiciliados no pais”, visto que a competéncia para decretar 0 divércio de estrangeiros domiciliados no Brasil é das autoridades brasileiras. Ainda no tocante ao divércio, a Simula 381 do STF determina que “nao se homologa sentenga de divércio obtida, por procuracio, em pais de que os cdnjuges nao eram nacionais”. Acé 0 ano de 2009, a LINDB dispunha, em seu artigo 7°, § 6°, que “O divércio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os conjuges forem brasileiros, sé ser reconhecido no Brasil depois de trés anos da data da sentenga, salvo se houver sido antecedida de separacio judicial por igual prazo, caso em que a homologacao produziré efeito imediato, obedecidas as condigbes estabelecidas para cficicia das sentencas estrangeiras no Pais”. Agquela época, defendfamos que o dispositive em tela havia sido detrogado pela antiga re- dacio do artigo 226, § 6°, da Carta Magna, entendendo, com fulero na propria jurisprudéncia do ST], que 0 divércio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cOnjuges fossem brasileiros, produziria efeitos a0 Brasil apés um ano da sentenga, ou mais de dois anos de separagio de faro, © que estaria condicionado, abviamente, & homologagao prévia™. O entendimento em apreco foi finalmente incorporado ao arcabouco legislative patrio pela Lei 12.036, de 01/10/2009, que altcrou o § 6° do artigo 7° da atual LINDB, o qual passou a ter a seguinte redagéo: “O divércio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os conjuges forem brasileiros, s6 ser reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentenga, salvo se hou- ver sido antecedida de separacio judicial por igual prazo, caso em que a homologagio produziré efeito imediato, obedecidas as condigées estabelecidas para a eficacia das sentengas estrangeiras no pais. © Superior Tribunal de Justica, na forma de seu regimento interno, poder reexaminar, a requerimento do interessado, decisbes j4 proferidas em pedidos de homologacao de scntengas cio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais”. estrangeiras de dives Cabe destacar que a prépria Lei 12.036 foi expressa em salientar que seu objetivo cra adequar a entio Lei de Introdugéo 20 Cédigo Civil (LICC) *& Constituigao Federal em vigor”. nesse sentido, alids, que entendemos que o novo dispositive da atual LINDB deve ser interpretado a luz da EC 66, de 13/07/2010, que alterou o § 6° do artigo 226 da Carta Magna, fixando que “O casamento civil pode ser dissolvide pelo divorcio”, que suprimiu o requisito de 37 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Tribunal Pleno. SE-AgR/3.846. Relator: Min. Rafael Mayer. Brasilia, OF, 18.mai.88, Di de 10.06.88, p. 14401. 38 Nesse sentido: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA. Corte Especial. SEC 2.258/CA, Relator: Min. José Delgado. Bra- silla, DF, 04,jun.08, Die de 30.08.08. Lembramos que o § 62 do artigo 226 da CF/88 foi modificado pela EC 66, de 13/07/2010. Antes, o casamento podia dissolver-se pelo div6rcio, obtide apés prévia separacao judicial por mais de 4 (um) ano ou comprovada separagio de fato por mais de 2 (dois) anos, Atualmente, o prazo pare a obtencio do divércio foi suprimido. 734

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