Sankofa - Significado e Intenções Elisa Larkin

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Esperamos que o langamento do primeiro desses trés volumes da ccolegao Sankofa contribua para enriquecer o saber e a discussao sobre ‘uma dimensio da cultura 2 da experiéncia social brasileira que merece muito mais atengao do mundo académico. BLISA LARKIN NASCIMENTO Rio de Janeiro, agosto de 1994 NOTAS 1}0 quarto volume, Affocentridade - Uma abordagem epistemolégica inovadora, foi acrescentado a presente edicSo da colecao Sankt 28 SANKOFA: SIGNIFICADO E INTENCOES Elisa Larkin Nascimento © curso de extensio universitéria "Conscientizacao da Cultura Afro- Brasileira’ ganhou, em 1991, um novo titulo: “Sankofa” A palavra, da lin- sguados povos akan da Africa ocidental, sobretudo Gana e parte da Costa, do Marfim, ter uma conotagao simbélica muito forte de recuperagao e valorizacao das referencias culturais africanas. Por isso, vem ao encon- tro do principal objetivo de nosso curso: aprofundar 0 conhecimento arreflexao sobre a cultura afro-brasileira e suas matrizes afticanas, A referéncia & Africa nao deve ser entendida como uma volta ao pas- sado, mas como fundamento para a construcdo de uma identidade pr6- pria, viva, tanto no presente como na perspectiva de um futuro methor para os filhos e descendentes desse sofrido continente. AVATHCaIfOiINi Ambos os objetivas deixaram de povos que foram alvo do racismo. 29 ‘Nossas reflexes no presente livro se referem a recente expres ee antiga consciéncia histérica racista: © escravismo € 0 colonialismo europeus. Estes fizeram questao de identificar os africanos como negros ou kaffirs, desvinculando-os simbolicamente de sua terra. Europeus brancos, entéo, intitularam-se afrikaaners, resumindo-se donos dessa terra no lugar dos nativos. No contexto americano, 0 mesmo processo presumiu anular a auto-imagem dos africanos como gente livre e soberana vivendo em sua terra natal. As comunidades de origem africana nas Américas, sobretudo na América chamada “Latina; sofrem até hoje a falta da referéncia hist6- rica que thes permitiria construir uma auto-imagem digna de respeito " e auto-estima. A identidade “negra” é calcada nas desgastadas catego- rias de ritmo, esporte, vestudrio e culinéria. Al“eultura/negra” definida «© SANKOFA: SIGNIFICADO E INTENGOES © A distoreao da historia africana esté entre os maiores responséveis pela perpetuacio da imagem dos “negros” como tribais, primitivos e atrasados. Para Georg Hegel (1956, p. 91, 96), por exemplo, a Aftica seria “uma terra da criancice, que ficou lé longe do dia da hist6ria consciente, envolvida que estava na manta escura da noite Hegel conclui que, “en- {ce 05 negros, os sentimentos morais sdo extremamente fracos ou, me- Ihor dizendo, inexistentes” Esse € apenas um exemplo do discurso euro- centrista que condena os africanos e seus flhos & condicao de objetos, & nao sujeitos, de sua hist6ria Somente ao recuperar 0 referencial da agéncia histérica dos povos africanos sera possivel contestar esse quadro. 0 ideograma sankofa simboliza esse resgate em varias dimensoes. Neste capitulo, abordaremos algumas delas, considerando as distorgoes- hist6ricas que perpetuam os estereétipos antiafticanos. FILOSOFIA & HISTORIA NO SIMBOLISMO DO SANKOFA 0 ideograma sankofa pertence a um conjunto de simbolos gratficos de origem akan chamado adinkra. Cada ideograma, ou acinkra, tem um significado complexo, representado por ditames ou fibulas que ex pressam conceitos filoséficos. Segundo o professor E. Ablade Glover, da Universidade de Gana em Kumasi, capital do povo asante, em texto publicado pelo Centro Nacional de Cultura (gentilmente fornecido pela Embaixada da Repiblica de Gana no Brasil), aideogranalsankola sig ‘Adinkra significa “adeus" Tradicionalmente, os adinkra aparecem es- tampados com tinta vegetal em tecido de algodaio que as pessoas usam. em ocasides finebres ou homenagens. O adinkra constitai uma-arte na- cional de Gana. Sao mais de oitenta simbolos ¢ cada um traz. um conte-~ ‘ido epistemolégico simbélico. Conforme o texto do Cenrro Nacional de a1 Cultura de Kumasi, "Néo s6 os desenhos do adinkra so esteticamente ¢ idiomaticamente tradicionais, como, mais importante, incorporam, preservam e transmitem aspectos da hist6ria,filosofia, valores e normas soeloculturais do pove de Gans" (Glover, 1969). O SIMBOLISMO DO ADINKRA ‘Além de imprimir estampar em tecido os ideogramas adinkra, a tradi- «0 akan também os registra esculpidos em objetos como o giva (banco do rei e simbolo da soberania), 0 bastdo do lingiista (simbolo das re lagées do Estado com os povos) e os diayobwe (contrapesos de ouro). Reproduzimos a seguir 0 desenho dos adinkra, dos gwa e dos bastoes, ‘bem como a explicagao de seu significado, oferecidos pelo professor E, Ablade Glover, da Universidade Ganense de Ciéncia e Tecnologia de Kumasi, publicados pela galeria de arte Gio e distribuidos pelo Centro Nacional de Cultura de Kumasi (Glover, 1969) FIGURA 1.1 SANKOFA ‘Nunca é tarde pa voltae apanfar aqplo que ficou para ted. Sempce poems tetficar 05 nassos ees” O ideograms «una exiizagio do piss que via a cabeca para tise representa 0 mesma concete do banco do ee do bastio olinglista 3 sabedoria de aprender com o passado pare constiiro presente e future (Desenho de Luiz Cals Gi.) Ui dos mas conhecdesieogrames admire. sgnifica ‘Aceite Deus" ou “Des €onipetentee mrt. Ninguém entende o mistrio da vide sé Deus FIGURA 13.081 NKA OB! ‘Nuo mar unidade. tim 30 out, Evite a: conftos Simbolo de 32 © SANKOFA: SIGNIFICADO E INTENCDES = FIGURA 1.4 OWUO ATWEDIE BAAKO NFO (08 “Todos subiremos a escada da marke” (Ver ovespecivo gua na pégina 37) __FIGURA 1.5 0V0 FORO ADOBE "A cobra sobe a palmeir,” Represent 3 tentatia de fazer algo insta ou aparentementsimpossive, (Vero respectivogwa na pgina 37) FIGURA 1.6 NsoROMA fia do céu, este,” Obu Nyankon sroma le Nyame ‘onte neho so [Sou fits do Ser Supremo, na sou auto sufciente, Minha iluminagio € apenas um refexo da Deke ‘Simbolo das veagbes humanas em seiedade Sigifca ‘Somos ligades no vida e na morte” ou "Aqueles que tm lagos de sangue nunca se apartam FIGURA|.8 AKOKO NAN TIABA NA ENKIM 87 ‘gala que pika em seu pinto née o mata” Simbolo do amor eda discipline éos pais pra com os hos. (Vero emblema no bast do lngista pina 39.) NTIRE NE AK WAM Tikor nko agyna. Arcos do Estaco, "Uma cabera s6 ni constitu um conselho." Ouas caberas pensam melner do que uma, (Vera emblems re basta do ngs pine 38.) 60 FIGURA 1.7 NKONSONKONSO DJAYOBWE E ADINKRA Os chamados pesos de ouro dos akan séo esculpidos em bronze e em {ett0 e utilizados, como contrapeso, para pesar mercadorias como sal e ‘ouro. Trazem mensagens como as do adinkra, dos gwa e dos bastées do lingaista. Muitas vezes, a simbologia é relacionada a provérbios repre- 33 FIGURA 1.10 FIGURA 1.11 DIAYOBWE ‘Contapesos de outo que representam uma igura humana e um Sapo. Fonte: Radin e Mave 1982, igus 107-8 sentados por animais. Nos exemplos abalxo, os dois crocodilos dividem ‘um estémago e logo aprendem que, ao brigar entre si, ambos ficam com fome. Eo simbolo, também representado no adinkra, da necessidade de unidade, sobretudo quando os destinosse confundem. De acordo com a hist6ria oral, o sistema dos adinkra tem origem numa guerra que Asantehene Osei Bonsu, rei dos asante, moveu contra Kofi Adinkra, rei de Gyaaman, regio da Costa do Marfim. Este teve a audécia de copiar 0 banco real de Asantehene, « gwa, simbolo da soberania e do poder do Estado, Assim o rei de Gyaaman provocou a ira do poderoso so- berano asante. O Asantehene venceu a guerra, ¢ 0s asante dominaram a arte dos adinkra, ao mesmo tempo ampliando 0 espago geogrifico onde ‘esse conjunto de ideogramas impunha sua presenga. Antes disso, havia sido pattiménio dos mallam e dos derkyira, povos da Africa ocidental que desenvolveram esse sistema de escrita em um passado remoto. ‘© SANKOFA: SIGNIFICADO EINTENCOES © mm + FIGURA 1.12 FIGURA 1.13, © duplo rocoto djayobwe Fonte: Museu © dup cracadio em adinka Nacional de Betas Artes, 195, p. 28 {jet0s. Na Africa, os pictogramas constituem uma forma de expresso rica e extremamente variada, registrando saudacoes, anedotas, fabulas ou adverténcias. O simbolismo religioso bwiti do Gabéo, as casas com paredes pintadas na regido ocidental dos Camarées ou as seqiiéncias de desenhos utilizadas pelos sin‘anga (médicos) de Malawi so exem- plos dessa escrita grifica que se encontra em toda a Africa (Asante, 1990, p. 73). mn actin daiema grifims undo per ditrmans pews tas rogidea citer e central da Nigéria para transmitir 0 ensinamentos da filosofia. Além dos adinkra, os povos akan tém a tradicao dos djayobwe, figuras esculpi- das em ferro e em bronze utilizadas como contrapeso par: yuan- tidades de ouro e sal. Ess ‘0 gwa, de madeira esculpida, além de ser inves- ‘ido simbolicamente do poder politico sacralizado, representa conted- dos filoséficos, constituindo um ideograma em trés dimensoes. Existe, por exemplo, o sankofa gwa, com o mesmo significado do respectivo ‘adinkra. Da mesma forma, o bastéo do lingilista transmite mensagens mediante imagens esculpidas em madeira no seu extremo superior. '© SANKOFA: SIGNIFICADO EINTENGOES © Gwa (0 BANCo Do REI) Obanco do rei simboliza a autoridade do Estado, o poder politico, Ha tantos bancos quanto chefes tradicionais (muitos deles representando provérbios, como mostram as ilustragdes). O mais famoso deles é 0 Sika Gwa Kofi, 0 ‘banco dourado, que teria sido invocado do céu por Okomfo Anokye, sacer- dote principal de Oser Tutu, entao Asantehene (rei dos asante). Us ingleses 0 roubaram, causando as Guerras de Asante, que perduraram por um século. FIGURA 1.14 SANKOFA QWA Tem 0 mesmo sigrifeado que o respective eagam ‘Nunca étage para voltae ananharaquilo que fou pare ‘eis, Repesentado por um pissar com a cabegavoltada partes, desenho de ideograma € uma estiizago desse sso, representado também no bastio do lings, (ver es respectvosideograma no quadro dos acinkra pina 32, ebastio do lingiista pigina 38.) FIGURA 1.15 WO FAFORO ADOBE GWA "A cobra sabe 2 pamela,” Tentativa de fazer oinustado| ‘20 impossivl (Vero respectvoideoprama no quadro dos adinksa, pigne 33.) FIGURA 1.16 OWUO ATWEDIE BAAKOFO "Todos subemos a escade da morte, ideograme no quadro dos adirka, pagina 33.) FGURA Banco do Pore espinho.” Embema do Estado asante, 0 ptee-spino simbalza 0 poder sabeara deatcar de qualquer ldo, em qualquer decéo. a qualquer hor. O banca Eusado exlusivamente pelo Asantehene (i dos ast). ict Banco ¢o rei Adinka, soberano de Gyaaman, que tansmitiv 0 sistema simblico dos ideogramas as asante. AAR H FIGURA |.19 ED NKR ANUM GWA 'A docu no fx pesmanenterente na boce. bons tempos us, Hi tempos FIGURA |.20 BANCO DE ESTADO GA ‘O simbote do artlope em cma do elefante emblema do Estado dos ga. sifica que € possi chegar 20 topo pela sabedoriae pelo Eom sno, nunca por meio do peso, da forea ou do tamaro, © emblera represents 2 sabedaria de nacio, (Ver oresrectivabastio do insta a pgina 39.) FIGURA 1.21 FEMA GWA (0 banco da rainha-mde dos asante, A semelnanca de seu esenho com o banco do Estado (a0 lado) simboliza oo posto da ranha-me na hiearquia do poder paltco. FIGURA 1.22 BASTAQ DO LINGUISTA Tia tadigdo akan, cada Soberano tem seu linguist, uma expécie de embazador.elacbes plies, cuvdor geal fe ponta-voz, A fama e 0 sucesso de um rei depend. fem grande pate daelagutncia edo desempento de seu linguist, pois este consul o elo enteoreie seu povo. bast do lings simboliza 2 autridade e o poder politico do soberana. © conteido simbbico proverbial que o batio comunica signi o fstada que o linguist representa. (Ve respectvo ideagtima no quad dos ants. pigina 32.) FIGURA 1.23 SAN OF ‘Serre pademos tomate spanhar aqui que ficou para tus. Sempre podeos resficar nossos es, aprendendo com o passdo pia consti © presente €0 futuro, Aqui.o ssi com a casera voltada para tis leiraorespetivo eva. (Vero resptctivaideograma no quadro dos adinka pigina 323) @ & e e & ¢ 38 {© SANKOFA: SIONIFICADO EINTENGOES © LFIGURA 1.24 TIKORO NNKO AGYINA ‘uss fohas. Uma cabecs 6 no faz um conselo, Duas ou ts eabegas pensam melhor da que uma,” No basteo 2 escultura de 1s cabeqas representa outa versio desse mesmo conceito, (Vero respective ideograma no quacio dos acini, pigine 33.) FIGURA 1.25 WUO NANE EQBEE EB! GWA ‘A alin ro machucao pinto 20 piso: 2 contro, protege-0 do peigo.” (Ver respectva ideograma no quadio dos ania, pagina 33.) FIGURA 1.26 GVE NYAME ‘Actite Des. Deut €onigotente imortal.S@ Deus conhece ‘0 mistério da vida e da cosmos." 0 adinka correspondent 2 esse conceito pade ser uma estilizacSo da mio com o polegat na posicfovereal (Vero respectivo ideograma no quacro dos adinka, pga 22 FIGURA 1.27 WUSO OWO TI MUR A NER AKA NO YE AHOMA, “O homer segura a cob pela cabera,” Quando agarramos 2 cobra pela cabera,o estate dela nao pase de wma corda ‘ssa, Melhor encarar os problemas de rete FIGURA 1,28 MAN KO TA MAN KO NO ‘nilope sobre eefante Emblem do Estado (© sucesso ro ¢ aleancado pelo tamanho au pla fore, nas pela sabedavia pelo bom senso. (Vero espectivo gwa 1a pigina 38.) fguRA 1.29 ‘Ando segura 0 vo. poder € como Un ovo ‘quando 0 seguramos com mut fg, pode se quebar 0 entanto, quando no o segues bem, pode cai se quebrar. © soberano precisa ser firme ecompreensivo mesmo tempo. 39 © Husa vamax wasentexto © O DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO AFRICANO 0 desenvolvimento politico aticano foi acompenhado de um processo de desenvolvimento tecnolégico ainda menos reconhecido. As tecnologias de mineragao e metalurgia, a agriculture, a criagao de gado, as ciéncias, a me- dicina, a matemitica, a engenharia, a astronomia, enfim, todo um conjunto de conhecimento tecnolégico e reflexao filos6fica, caracterizavam tanto os Estados africanos como outras coletividades menores. O'GifuFBIGOIHBIES Re FIGURA 1.30 FIGURA 131 lustagao da crurgia descrta por Flln em artigo pubicado Suture de feria pos- na Reuista de Medicina de Edinburgh (1884). Font: Finch Il cestana feta pelos banyoro 1983, p. 152-3 (Desenho de Syvia Bako.) en 1879, na cui desta por Flkn, Fonte: Finch i 1983, p. 152-3, (Desenho de ysis Bakos.) 40. {© SANKOFA: SIONIFICADO EINTENGOES = muitas téenicas bésicas da medicina: Conhecta vacinagao e farmacolo- sia, além de assepsia, anestesia, hemostase e cauterizagao. A respeito de ‘um dos documentos comprobatérios desse saber, o médico e escritor Paul Ghalioungui (apud Newsome, 1983, p. 132) fez, em 1973, a seguinte observacio: de B. Lynch e Lawrence H. Robbins, da Universidade do Estado de Michigan, encontrou restos de um observatério astronémico seme- Jhante ao inglés Stonehenge. Sua conclusio foi de que essa evidéncia a Jupiter eos anéis de Saturno. Sabiam que “um bilndo de mundos espira- | lavam no espago como a circulacao do sangue no corpo de Deus’ (Ser- tima; 1989, p, 11)-Sabiam da natureza deserta einfecunda da ua, que diziam ser “seca e morta; como sangue seco” (Sertima, 1983b, p11) (Os dogon desenvolverany conhecimentos bastante complexos acerca do,pequenino satéite da estrela Sirius; o Sirius B, invisivel @ olho nu.O calendario de festas sagradas de sua tradieao religiosay'de mais de sete- centos anos, define-se com referéncia a esse satélie de Sirius que a astro- noma ocidental sé conseguiu observar em 1862. Os dogon desenhavam, com exata precisao, a érbitaeliptica em relagio a Sirius. Denominaram 0 satéite PoToloe projetaram sua trajetria até o ano de 1990, em desenhos «que conferem precisamente com os da/astronomia moderna. Conhece- dores de 86 elementos fundamentais; os dogon souberam identificar as propriedades do material de que 0 satélite 6 composto @ chamavam-no sagala. A descricdo dos sébios tradicfonais destaca, sobretudo, sua den- sidade: um material to pesado que todos os homens da'Terra no pode- slam levanté-lo, Efetivamente, como ana branca (a primeira identificada pela:ciéncia moderna); Sirius B tem altissima densidade. Sendo menor quea Tea, sua massa equivale & do Sol: 35 toneladas de sua matéria ca- beriam em 14 em? (tamanho de um camundongo) (Holberg, etal, 1988, lutterbuck, 2008). Para'0s dogon, esse setlite € 0 “ovo do unk verso mais importante estrela do céu (0s dogon constataram que Sirius B leva cingienta’anos para com- pletar sua érbita em relagao a Sirius, fato_que 2 astronomia modema confirma (Clutterbuck, 2008). Sabiam, ainda, que Sirius B gira uma vez por ano-em tomo do préprio eixo, evento que celebravam com 0 festival Dado, Até hoje muitos cientistas consideram imensuravel esse periodo de rolagio, embora alguns tenham apresentado calculos a esse respeito (thejlle Shipman, 1986). Enfim, sem 0 apoio de qualquer instrumento dda ciéncia moderna os dogon conheciam coisas que, no julgamento de certas autoridades europélas, eles simplesmenté “nao tinham 6 menor direito de saber” (Brecher, 1977, p. 61). Os antropélogos franceses Ger- ‘maine Dieterien e Marcel Griaule (1965, 1991) fizeram estudosamplos ¢ aprofundados, convivendo décadas com os sabios desse povo afticano, ‘e constataram que u eontiecianento dos dogon evolve usta série de uk 42 {© SANKOFA: SIGNIFICADO EINTENGOES © ‘Resquerda, deseo da istita de Sis 8 (Polo) em tomo de Sus ito pels dogon ma area. A dita, desenha astondmico moder, Fonte: Adams, 1983, p. 33. ‘eis_epistemoldgicos'em que se/abordathia verdade'e’6 conhecimento i varias formas distintasdaquelas desenvolvidas no Ocidente. No campojda'metalurgia ha varios exemplos|dordominiojafricano de técnicas sofisticadas:/Hé mais de dois mil anos; por exemplo, os hava, povo de fala banta-habitante de-uma,regiao, da, Tanzania perto do,lago ‘Vit6riay produziam.aco,em.fornes. que superavam, de duzentosja:qua- ‘trocentos grausicentigrados, a temperatura atingida por fornos europeus, até 0 século XIX, O antropélogo hist6rico Peter Schmidt, da Universidade Brown, estudou o fendmeno durante nove anos. Junto com os haya, che- goa reproduzir fisicamente a antiga tecnologia de fundiga0. Seguindo as indicagées da tradigao oral que os ancidos guardavam, a equipe de Sch- ‘midt reconsttuiu as antigas t€enicas de engenharia (Shore, 1983, p,157). Outro exemplo de tecnologia aplicada na Africa antiga sao as ruinas de Monomatapa, cidade-Estado localizada no Zimbabue (o pafs herdou seu nome dessa fortaleza, chamada Grande Zimbabue). A construgao da cidade murada de dez mil habitantes, capital de um império que du- rou trezentos anos, é uma verdadeira faganha de engenharia. O muro, de 250 metros de extensao e quinze mil toneladas de granito, tem dois 43 metros de espessura ~ e cada metro contém 4.500 blocos de granito. Diante da grandeza do empreendimento, e coerentes com a atitude cos- ‘tumeira do eurocentrismo, historiadores e estudiosos jé atribuiram essa

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