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net/publication/332739602
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Andrei Crestani
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR)
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All content following this page was uploaded by Andrei Crestani on 29 April 2019.
Além da matéria
uma investigação da produção da
cidade em sua dimensão imaterial
Setembro | 2018
1
SUMÁRIO
SUMÁRIO ................................................................................................................................................................. 1
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................... 27
2
1. IDENTIFICAÇÃO DA PROPOSTA
1
Universidad de Sevilla: Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Sevilla
3
Resumo
Abstract “Beyond the matteriality” is a research proposal about the production of the
city departing from its immaterial dimension. The immaterial dimension is
understood on this work as the one that arises from the everyday collective
interchanges, in the present and past time among relations of collective
memory, appropriation, resistances and disputes. Such dimension is also
activated at the political practice of space: as a place that restitute the
possibility of the right to the city for every citizen and their differences.
The main goal is to interpret the production of the city based on the analyses
of everyday life, taking into account how the attributes of its physical
dimension are tied to its immaterial dimension (of collective memory,
appropriations, sensations and symbols), in order to recognize how the
invisible city (but still sensible) also produces the city, and may be
incorporated as a fundamental component in the study and concrete
interventions on urban space.
The empirical analysis proposed here, unlike other field research, does not
intend to expose and contrast the theory-practice relationship to validate or
refute a sustained hypothesis. The cartographies in this research are not
determined a priori: it will matter more the exploitation of the content that
becomes sensitive from practices, contexts and subjects; overcoming
presences and absences; noises and silences; codes and directions; current
and past temporalities.
A obra “City Worlds” editada por Doreen Massey com John Allen e Steve
Pile já esclarecia: uma única cidade reúne muitas outras de si mesma. Embora o
espaço material seja o mesmo para todos, o modo como cada sujeito estabelece
relações com o espaço é capaz de constituir diversas cidades imateriais que
convivem, cada qual carregando suas próprias paisagens, sentidos,
temporalidades e espacialidades.
Nesta dimensão imaterial da cidade residem, portanto, apropriações
afetivas que promovem sentidos particulares de pertencimento ao lugar que
conecta o indivíduo ao ambiente coletivamente produzido. Dar tangibilidade a
cidade sensível é reconhecer a necessidade de investigar sobre significados que
unem o homem ao espaço, oportunizando discussões mais profundas sobre
interações entre a imaterialidade e a materialidade que produzem o espaço
urbano.
No âmbito quantitativo, os métodos de análise já avançaram em diversas
frentes com apoio à interpretação da cidade edificada. Quanto ao qualitativo,
embora dispomos de inúmeras pesquisas sobre significados e memórias que têm
desdobramentos nas políticas de patrimônio cultural, estas ainda não alcançam
de forma satisfatória um corpo metodológico que permita uma abordagem para
7
além de diagnósticos descritivos das relações imateriais que operam o cotidiano
da cidade. Nos deparamos, assim, com uma profunda escassez de pesquisas que
ofereçam indicadores robustos o suficiente para alcançar uma isometria no trato
da cidade entre materialidade e imaterialidade.
Se por um lado arquitetos e urbanistas se ocupam da cidade como espaço
privilegiado de reflexão e prática, por outro a bibliografia produzida na área
mostra que nossa consideração às relações imateriais que constituem a cidade
como espaço social praticado que imanta relações imateriais é historicamente
tardia, sendo por muito tempo (até os anos 90) uma discussão retida no âmbito
estético, de gestão e/ou desenho funcional.2
Claramente, a dimensão material (ou física) do espaço tem sua
importância não como mero desenho ou manifestação tangível de
determinações legais, mas especialmente porque ampara e é elemento ativo na
realização de sua dimensão imaterial: sensível pelas
trocas cotidianas coletivas, tecida no tempo atual e póstumo entre relações de
memória, apropriação coletiva, resistências e disputas. Tal dimensão imaterial é
arejada também no exercício político do espaço: como lugar que restitui a
possibilidade do direito à cidade por todos os cidadãos entre suas diferenças.
A cidade se apresenta então na reunião dessas distintas – mas
complementares – dimensões de realização. Nesse sentido, é próprio de sua
natureza a dificuldade de postularmos uma conceituação e metodologia
particular e inequívoca sobre a qual se possa apoiar sem a necessidade do
debate. Ao contrário, é precisamente pela trama de relações e dimensões que
envolvem o seu significado e realização, que nos parece mais adequado pensá-
la antes como questão que não se encerra do que como uma ideia que possa
fixar-se universalmente (DEUTSCHE, 2007).
Considerando a indissociabilidade de suas dimensões material e imaterial,
a arquitetura e urbanismo pouco se propôs a traçar uma trajetória metodológica
e prática capaz de oferecer uma abordagem mais integrativa dessas relações. Nos
ocupamos muito da materialidade, do concreto, enquanto nos desviamos dos
sentidos coletivos, do político e do simbólico do espaço. Quando muito, falamos
de memórias, apropriações e, ainda assim, fixamos tais dinâmicas em legendas,
“médias” aproximadas, diagnósticos que petrificam a cidade em representações
muito achatadas sem de fato alcançar temporalidades, durações, tensões,
disputas, sentidos múltiplos que aí convivem e produzem espaço.
No intento de superar abordagens que isolam cidade material e imaterial
para uma aproximação do espaço urbano que restitua ambas dimensões, esta
pesquisa se desenvolve em torno de um problema de "dois tempos": 1) Como
estruturar e produzir uma cartografia capaz de capturar a dimensão imaterial do
espaço e relaciona-la a espacialidade da cidade material? 2) É possível
2
Camillo Sitte no século XIX estudou a cidade do ponto de vista da qualidade de vida, mas com
grande ênfase sobre o espaço estético e cenográfico. Le Corbusier, um dos arquitetos mais
importantes do século XX (arquitetura e urbanismo moderno), reduz a abordagem do espaço a
questões estruturais e funcionais. Kevin Lynch estuda nos anos 60 “A imagem da cidade”,
preocupado em entender a percepção do espaço a partir dos sujeitos, mas não avançando sobre
a discussão de atributos imateriais (como aspectos sensoriais, memoráveis, simbólicos etc).
8
caracterizarmos “tipologias de arranjos” como categorias explicativas das
relações entre cidade material e imaterial?
O objetivo geral é interpretar a produção da cidade relacionando, pela
via do cotidiano, atributos de suas dimensões física e imaterial (da memória, das
apropriações, das sensações e do simbólico), a fim de reconhecer como o
invisível (porém sensível) também informa e produz cidade, devendo ser
incorporado como componente fundamental no estudo e ações concretas sobre
o espaço urbano. Quanto aos objetivos específicos, optamos por apresentá-los
em momento posterior do texto, na medida em que possuem articulação direta
com a estrutura metodológica e oferecem melhor compreensão após a leitura da
referida seção.
Finalmente, é sobre a composição de um olhar “outro” sobre a cidade que
essa pesquisa se debruça, deslocando-se da posição habitual de certeza sobre
como mapear relações e traduzir a realidade (em sentido euclidiano), para
investigar como o cotidiano pode nos conduzir a um processo de questionamento
de nossas certezas sobre a cidade. Ao final, buscamos reencontrar dimensões
invisibilizadas da cidade, mas que resistem e guardam novas linhas de entrada
na investigação de sua realização.
3
Em geral, o que encontramos são estudos de caso que mimetizam uma série de abordagens para
aplicar diagnósticos a partir de Kevin Lynch (1960), Gordon Cullen (1961), Jane Jacobs (1961),
Whilliam Whyte (1980) e, mais recentemente, Jan Gehl (2010) – entre outros –, mas que
dificilmente superam o plano textual para chegar em proposições cartográficas.
10
Entretanto, como instrumento importante no processo metodológico do
planejamento urbano, ele deveria ser capaz de elucidar aspectos imateriais
forjados no tecido social que funda a cidade como espaço da experiência
coletiva.
Este projeto se propõe a questionar o olhar metodológico habitual no
estudo da cidade, indo especificamente em direção a análise e interpretação da
cidade contemporâneo a partir de sua imaterialidade. Retomando a obra de
Anette Kim (2015) – que encontrou no cotidiano das calçadas a base de suas
reflexões sobre a produção da cidade –, nos deparamos com incômodos comuns
a nossa pesquisa: As possibilidades do mapa não poderiam ser muito maiores do
que praticamos? O que mais poderia ser revelado e aprendido sobre a cidade
através de cartografias alternativas? Até que ponto podemos romper com o
formato habitual de um mapa?
5. METODOLOGIA PROPOSTA
Do ponto de vista da natureza do trabalho, esta pesquisa caracteriza-se
como exploratória e de uso aplicado, objetivando gerar conhecimentos técnicos
e científicos para aplicação teórica e prática (estudo e intervenção) da cidade
conjugando suas dimensões imaterial e material. Do ponto de vista da forma de
abordagem do problema, é qualitativa, em que a interpretação dos fenômenos e
a atribuição de significados são as bases do processo.
Quanto aos seus objetivos, a pesquisa estrutura-se em duas fases
complementares: exploratória e analítica. Na fase exploratória são investigados
novos conceitos, ferramentas e modelos visando compor referências que
amparem o aperfeiçoamento de instrumentos de investigação voltados ao estudo
da dimensão imaterial da cidade.
Na fase analítica serão explorados contextos reais – utilizando a cidade de
Curitiba/PR como unidade de estudo a fim de produzir um conjunto de ensaios
empírico-analíticos continuados que permitam validar, entre diferentes etapas, o
procedimento na sequência apresentado como proposta metodológica. Esta fase
12
se concentrará na investigação da dimensão imaterial do espaço, pela via do
cotidiano, construindo leituras que reconheçam relações invisíveis de produção
do espaço urbano.
A escolha de Curitiba como unidade de análise justifica-se especialmente
perfil histórico-político da cidade quanto ao desenho de sua gestão pública que,
desde a década de 1970, esteve fortemente orientada ao resguardo de conjuntos
paisagísticos e arquitetônicos (portanto concretos) vinculados a símbolos,
memória e significados imateriais da cidade. Entretanto, em pesquisas empíricas
anteriores (CRESTANI, 2015; CRESTANI; KLEIN, 2017) notou-se que os contextos
físicos que ganham foco das políticas locais de resguardo da memória, não
acompanham e/ou ressaltam locais que contemporaneamente imantam com
maior intensidade relações de apropriação e significação coletiva.
Nessas pesquisas, concluiu-se preliminarmente que materialidade e
imaterialidade não se sustentam de forma correlata em certos contextos da
cidade, mas ainda não havia sido desenvolvido uma estrutura metodológica que
fosse capaz de perseguir como se desenham as tramas da cidade imaterial,
permitindo interpretar em que medida ela opera sobre a cidade material e vice-
versa. A continuação deste debate culminou no presente projeto a fim de
desenvolver uma abordagem pouco explorada sobre: como ladear dimensões
imateriais e materiais da cidade, e iluminar arranjos desta relação.
O campo aqui, diferentemente de grande parte de outras pesquisas na
área, não se apresenta obedecendo uma intenção de expor e contrapor a relação
teoria-prática para validar ou refutar uma hipótese sustentada. Ele (o
campo) aparecerá aqui como o terreno que é a um só tempo objeto de
investigação e plataforma de ensaio e revisão do procedimento de cartografias da
cidade imaterial como metodologia. Do ponto de vista prático, isso significa que
as cartografias se encontram em um fazer constante, não instituem um limite
prévio, mas se deixam desdobrar a partir de apropriações e os conteúdos que elas
mobilizam, reavivam.
As cartografias das quais esta pesquisa trata, portanto, não se determinam
a priori: não sabemos seus formatos ou extensões (nem nos importam tanto).
Importará mais a exploração do conteúdo que se torna sensível a partir de
práticas, contextos e sujeitos; sobrepondo presenças e ausências; ruídos e
silêncios; códigos e sentidos expostos; temporalidades atuais (da duração, da
imprevisibilidade, da mudança) e passadas (de conteúdos já fixados e/ou
correspondentes a certas representações socioculturais fixadas).
Assumindo a perspectiva empírica aqui formulada, não seria possa falar
de um recorte geográfico fechado 4 para tipologia de investigação empírica
proposta nesta pesquisa. Contudo, denotamos o centro histórico da cidade
(especificamente definido pelo Largo da Ordem) e suas imediações como
potencial área de aproximação com o cotidiano da cidade imaterial. Isso porque,
este contexto sustenta-se como um importante lugar simbólico e concreto da
história de Curitiba, não apenas pela representatividade dos monumentos e
marcos patrimoniais que reúne, mas também por se ratificar como local da
4
Porque o projeto advoga a necessidade de falarmos de uma cartografia contingente, sem fixação
preliminar de bordas de espaço e tempo.
13
convivência de múltiplos tribos urbanas, que estabelecem apropriações
cotidianas de diversas ordens (CRESTANI; KLEIN, 2017).
5
Sinteticamente: espaço percebido diz respeito a percepção dos sujeitos a partir de interações
socioespaciais cotidianas que valorizam e se fundamentam na relação consciente sujeito –
materialidade; espaço concebido: imaginário parcial do espaço que se relaciona à linguagem, às
representações em nível de discurso, descrições, esquemas que sintetizam, teorias e a própria
história; espaço vivido: refere-se a um aspecto sensível que se desenvolve pelas práticas e
apropriações cotidianas, os elos semânticos que se estabelecem com o espaço, sejam eles
memoráveis (que perduram no tempo-espaço) ou não.
15
(sua razão de ser, condicionando formas, funções, estruturas) pode se
encontrar vago e em seguida desviado. Portanto, reapropriado por um
uso outro que o primeiro. […] O desvio e a reapropriação dos espaços
têm um grande sentido e podem servir de ensinamento para a
produção de espaços novos (LEFEBVRE, 2006, p. 234).
Assim, para o que este projeto se propõe é impossível a relação sujeito-espaço-sujeito como centralidade deste programa de pesquisa. O
sujeito é aqui o interlocutor dos sentidos que sustentam a cidade imaterial. O quadro 02 – como desdobramento do quadro 1 –
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detalha uma proposta de como este sujeito-praticante poderia se articular com as linhas de entrada investigativa propostas, bem
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como as técnicas de pesquisa previstas para aplicação dos distintos contextos de investigação vinculados a este projeto. produção de elos simbólicos
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via de investigação da relação
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Quadro 2 – Proposta de leitura empírica específica e suas técnicas de pesquisa
Elaborado pelo autor, 2018
18
Tais encaminhamentos convidam a pensar no espaço-tempo como
produção fluída, e não apenas como recipientes. Nota-se uma tendência geral de
muito se “espacializar o tempo”, e poucas tentativas de se “temporalizar o
espaço”. Ou seja: embora não sejam novos os argumentos teóricos da
indissociabilidade da relação tempo-espaço, o tempo (e as temporalidades)
assumem uma posição extremamente tímida ou marginal nos estudos urbanos
empíricos. Mesmo estudos de arquitetura e urbanismo que, como proposto neste
projeto, investem sobre dimensões do simbólico, memória, conteúdos,
apropriações, encontramos poucos referenciais empírico-analíticos
(especialmente cartográficos) que de fato incorporem a dimensão tempo como
ativa. Em geral, o tempo vem associado a dados que decalcam apenas uma
diacronia, que nada mais fazem do que setorizar relações entre “dia e noite”,
“dias da semana” etc. Daí também um grande intento deste projeto: de encontrar
um modo simétrico de investigar e expressar tal indissociabilidade, sem
desprezar a dinamicidade de como temporalidades diversas têm seus conteúdos
ativos na produção da cidade imaterial.
Resgatar o tempo como parte do intertexto da realidade implica assumir
um caminhar mais fluído no cotidiano, que admite relativizar a cronologia para
ler a realidade via simultaneidades e imanências. Isso exprime a necessidade de
abordá-los considerando noções concernentes ao tempo, como: duração,
transitoriedade, transformação, passagem, evento.
O procedimento metodológico como proposto aqui, igualmente,
demanda tempo: de apreensão, de retomadas de locais já visitados, de reflexão
e questionamentos se de fato os contextos já conhecidos não têm mais nada a
dizer. As cartografias se desdobram entre pausas e movimento, assim como
ganham uma certa profundidade na medida em que nos permitimos navegar
pelas temporalidades dos processos, da morfologia, dos símbolos, valores,
práticas, ratificando que o tempo é tão relacional como o espaço.
A investigação da realidade via cartografias visa romper então com
dominâncias iconográficas sobre a cidade. Dito de outro modo: um giro crítico
sobre como podemos questionar variáveis pré-dispostas, instrumentos
quantificáveis que se dizem potentes para avaliar o espaço urbano.
A preocupação nestas cartografias da cidade imaterial se direciona
também como uma prática mais do que representação. Ou como Crang indica:
um tipo de cartografia “menos preocupada com uma questão de "quão preciso é
isso?" e mais engajada em explorar "o que acontece se eu mobilizar isso/aquilo?"
(CRANG, 2003, p. 194).
Tendo entendido o arcabouço metodológico proposto e o objetivo geral6
pontuado na apresentação do projeto, explicitamos então objetivos específicos
deste projeto:
6
Retomando: interpretar a produção da cidade relacionando, pelo cotidiano, atributos da
dimensão física com a dimensão imaterial (da memória, das apropriações, das sensações e do
simbólico), de modo a reconhecer como o invisível (porém sensível) também informa e produz
cidade, devendo ser incorporado como componente fundamental no estudo e ações concretas
sobre o espaço urbano
19
§ Estudo e sistematização teórico-conceitual na abordagem de
teóricas-conceituais
“cidade imaterial” na arquitetura e urbanismo;
§ Consolidação teórico-conceitual das implicações da distinção
entre mapas e cartografias como formas de representação e leitura
da cidade em suas dimensões física e imaterial;
§ Sistematização teórico-conceitual de técnicas vinculadas a
elaboração de cartografias críticas e seus encaminhamentos
possíveis para o estudo e interpretação da cidade imaterial;
continuado
6. ETAPAS DE EXECUÇÃO
A partir dos objetivos específicos organizados nos três grupos
anteriormente indicados, apresenta-se a seguir as fases de pesquisa seguindo esta
mesma ordem:
ETAPAS PERÍODOS
7. PRODUTOS ESPERADOS
A realização deste projeto de pesquisa pretende o alcance dos seguintes
produtos (previstos na Tabela 1):
▪ P1: Instrumento científico de indicadores vinculados ao estudo do espaço
urbano imaterial e sua relação com a materialidade, aplicável como
ferramenta de futuras pesquisas técnicas e científicas na área
▪ P2: Desenvolvimento de ao menos 1 curso aberto relativo à "cidade
imaterial" para alimentação de disciplinas de graduação e pós-graduação
em temas correspondentes aos estudados por esta pesquisa.
▪ P3: Plataforma cartográfica digital da rede de "Curitiba Imaterial" de
recortes específicos da pesquisa, podendo ser consultada como suporte
ao enfrentamento das questões urbanas locais, setoriais, territoriais, e
regionais vinculadas a gestão do espaço urbano e seus significados;
▪ P4: Mínimo de 2 Artigos científicos publicados em periódicos nacionais e
internacionais QUALIS A1 e/ou Scimago Q1 na área de Planejamento
Urbano, ao final de cada uma das etapas contando com resultados parciais
e finais da pesquisa.
23
8. PERSPECTIVAS DE COLABORAÇÕES
INTERINSTITUCIONAIS
9. COLABORAÇÕES EXISTENTES
O proponente deste projeto tem colaborado efetivamente com grupos de
pesquisa em estudos da cidade contemporânea no Brasil. As parcerias bem
estabelecidas a longo prazo incluem o grupo de pesquisa cadastrado no CNPQ
"Laboratório de Estudos do Ambiente Urbano Contemporâneo", do Instituto de
Arquitetura e Urbanismo - São Carlos (IAU, São Carlos), em projetos coordenados
24
pelo Dr. Manoel Rodrigues Alves, em participação e publicação em eventos e
em disciplina especial quanto a cartografias críticas de apropriação do espaço
urbano (na qual os pesquisadores Julio Pedrassoli e Carlos Tapia
também formaram parte do corpo docente). O proponente e demais membros
da equipe também compõem o grupo de pesquisa Planejamento e Projeto
em Espaços Urbanos e Regionais coordenado pela Dra. Letícia Peret Hardt.
A pesquisadora Dra. Sylvia Leitão participa em dois grupos de
pesquisa cadastrados no CNPQ e coordenados, respectivamente, por
pesquisadores da UNICAMP e da USP: LOTE - Grupo de Estudos de
Urbanização e Regulação Urbana, YBY - Grupo de Estudos Fundiários,
Políticas Urbanas, Produção do Espaço e da Paisagem. Ambos pesquisadores
Andrei Crestani e Sylvia Leitão coordenam trabalhos de pesquisa e orientação
científica vinculados ao Curso de Arquitetura e Urbanismo e ao Laboratório de
Cidades (PUCPR).
Considera-se também, tendo como representante a pesquisadora Dra.
Letícia Neron Gadens, a interlocução com o Grupo de Pesquisa Cidade, Meio
Ambiente e Políticas Públicas, cadastrado no CNPQ, vinculado ao
Departamento de Arquitetura e Urbanismo e Laboratório de Habitação e
Urbanismo (UFPR), coordenado pela professora Dra. Cristina de Araujo Lima.
7
https://www.pucpr.br/ftd-digital-arena/
26
13. ORÇAMENTO
ETAPA DE
APLICAÇÃO
VALOR UNITÁRIO VALOR TOTAL
TIPO ITEM JUSTIFICATIVA NA
PESQUISA
Desenvolvimento de pesquisa
teórica; pesquisa empírica em
R$ período continuado a partir do 2
BOLSA
Espaço virtual de
R$
Organização coletiva e
CUSTEIO
A partir da
Bibliográfico R$ bases teórico-tecnológicas para
etapa 1 do
(valor médio genérico - 600,00 dar suporte à construção da
projeto
para 3-4 livros) pesquisa
CUSTEIO
Subsídio para
publicação em Apoio para viabilização de
revistas tradução de produção
CUSTEIO
R$
TOTAL ITENS FINANCIÁVEIS 28.460,00
27
REFERÊNCIAS
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um-conceito-para-se-pensar-o-brasil-hoje>. Acesso em: 14 abr. 2018