Download as pdf or txt
Download as pdf or txt
You are on page 1of 7

INTERNATIONAL CONGRESS › RESEARCH INNOVATION & DEVELOPMENT IN NURSING 2019

GESTÃO DE ENFERMAGEM:
ÁREAS PRIORITÁRIAS
NA SEGURANÇA DE
PROFISSIONAIS E CLIENTES
Nursing management:
priority areas regarding safety
of professionals and clients

TÂNIA CORREIA
Abstract
Enfermeira Especialista em
Saúde Mental e Psiquiatria, Background: Due to the disturbing data that have been published, health security
Doutoranda em Ciências de has gained special notoriety. The involvement of manager nurses is a fundamen-
Enfermagem, Mestre em
Direção e Chefia dos Serviços de tal condition to ensure high hospital safety standards. These are responsible for
Enfermagem. Pedopsiquiatria promoting a safety culture in teams and for promoting safe environments.
do Centro Hospitalar do Baixo Objective: To know what areas manager nurses consider as priority in the safety
Vouga E.P.E., CINTESIS – Centro
of clients and nurses in a hospital service.
de Investigação em Tecnologias
e Serviços de Saúde. Portugal. Methodology: A phenomenological qualitative study carried out through a semi-
-structured interview to 14 manager nurses of a hospital in the central region of
tsp.correia@gmail.com
Portugal, chosen by convenience. Content analysis was carried out using Atlas.ti
MARIA MANUELA MARTINS software and Bardin methodology.
Professora Coordenadora, Results and Discussion: We identified 11 priority areas in client safety that reflect
Doutora em Ciências de
concern about adverse events with higher incidence rates and their causes descri-
Enfermagem. ESEP - Escola
Superior de Enfermagem do bed as more significant. The 12 priority areas in occupational safety are in line with
Porto, CINTESIS - Centro de the known occupational hazards and the most frequent workplace accidents. The-
Investigação em Tecnologias e re are 5 categories that show a relationship between nurses ‘and clients’ safety.
Serviços de Saúde. Portugal.
Conclusion: For those interviewed, customer and professional safety are equally
ELAINE FORTE important and interrelated. It is understood that health security is complex and
Professora Doutora, Doutorada multidimensional and does not only imply client safety, this may be dependent on
em Enfermagem pelo the safety of the nurse and vice versa. They also demonstrated knowledge of the
Programa de Pós-Graduação main safety problems described in the literature.
em Enfermagem da UFSC.
Universidade Federal de Santa KEYWORDS: NURSING CARE, PATIENT SAFETY, SAFETY MANAGEMENT,
Catarina (UFSC). Brasil.
OCCUPATIONAL RISKS.

Correia, T., Martins, M.M., Forte, E., C.N. Gestão de enfermagem: áreas prioritárias na segurança de
507 Suplemento digital Rev ROL Enferm 2020; 43(1): 507 profissionais e clientes. Suplemento digital Rev ROL Enferm 2020; 43(1): 507-514
Conference Proceedings

INTRODUÇÃO

O
Institute Of Medicine tarefas e gestão de relações e não Apesar de já existirem estudos
(IOM) publicou em tanto para mudanças (9). Alguns sis- sobre segurança do cliente e sobre
2000 o relatório “To temas de gestão de risco demons- a segurança no trabalho, as duas
err is human: buil- tram ainda que, os enfermeiros áreas juntas como uma área de ges-
ding a safer health apresentam limitações na gestão do tão não surge ainda com evidência.
care sistem” que revelou um elevado risco devido à limitação de recursos
número de mortes resultantes de e à complexidade do trabalho em
erros clínicos considerados evitá- saúde (10). OBJETIVO
veis, bem como o facto de existirem Em questões de segurança, as Este estudo pretende conhecer
problemas evidentes nos sistemas indústrias de alto risco levam que áreas os enfermeiros gestores
que têm como objetivo evitar esses um grande avanço e o papel dos consideram prioritárias para a se-
mesmos erros (1). gestores já foi reconhecido como gurança de clientes e profissionais
Gestores, profissionais de saúde, fundamental (11). Foi também já de- nos serviços pelos quais são respon-
formuladores de políticas e utili- monstrado que o desempenho da sáveis.
zadores dos serviços de saúde têm gestão está muito relacionado com
vindo a prestar mais atenção à me- o comprometimento da organização
lhoria da qualidade e segurança dos com a segurança, comportamentos MÉTODOS
cuidados de saúde (2). de segurança dos funcionários e a Desenvolveu-se um estudo quali-
Contudo, apesar dos esforços atuais ocorrência de acidentes de trabalho tativo fenomenológico, cujos parti-
para melhorar os níveis de segu- (11)
. cipantes são enfermeiros gestores
rança, atualmente um em cada dez A segurança do trabalhador enqua- de um hospital da região centro de
clientes é alvo de erros em saúde, dra-se no âmbito da Saúde Ocupa- Portugal, cujo método de amostra-
dos quais 50% são considerados cional (SO) que tem como objetivos gem é o de conveniência por serem
evitáveis (2-6). Estes erros resultam a prevenção de riscos profissionais, os mais acessíveis (14). Os critérios
em prejuízos de biliões de euros proteção e promoção da saúde do de inclusão são: experiência míni-
para os sistemas de saúde em todo trabalhador, garantindo ambientes ma de seis meses em gestão de um
o mundo e representam cerca de de trabalho saudáveis que previnam serviço hospitalar e encontrar-se
15% dos gastos e atividade ao nível ou diminuam a exposição a fatores em exercício de funções no momen-
hospitalar (7). de risco (12, 13). to da entrevista. A amostra é cons-
Sobre a relação entre a gestão de De notar que a prática de enferma- tituída por 14 enfermeiros gestores,
enfermagem e os resultados de se- gem implica um conjunto de riscos dos quais, 11 mulheres e 3 homens,
gurança para o cliente, a evidência acrescidos que se devem à essência com médias de idade de 55,7 anos e
é ainda recente e limitada (8). Ainda da sua atividade e ao ambiente em tempo de experiência em gestão de
assim, apontam evidências de uma que se desenvolve, estes riscos não 16,7anos. Todos enfermeiros espe-
relação positiva entre o desem- podem ser ignorados pelos gestores cialistas, 8 mestres, 1 mestrando, 1
penho dos enfermeiros gestores e na tomada de decisão (13). doutorando e doze com algum tipo
melhores resultados para a o cliente Este tema ganha elevada importân- de formação na área da gestão.
como a satisfação, diminuição de cia no âmbito da segurança hospi- Na recolha de dados utilizou-se a
eventos adversos e complicações talar dado que não podem ser pres- entrevista semiestruturada indivi-
para o cliente (8). tados cuidados de saúde seguros se dual. Estas ocorreram entre feverei-
A investigação sobre esta temáti- os profissionais de saúde não estão ro e maio de 2015 no local de traba-
ca têm vindo a focar-se mais nos também eles em segurança. (13). lho dos participantes.
comportamentos de liderança dos No sentido de garantir a segurança Para a análise de conteúdo baseá-
enfermeiros em relação à satisfa- em saúde é fundamental que os mo-nos na metodologia de Bardin
ção do trabalho e outros resultados gestores de enfermagem identifi- (15)
que envolve três fases: a pré-a-
organizacionais e demonstram que quem focos de intervenção para nálise, a exploração do material, o
o desempenho da gestão de enfer- implementar estratégias de gestão tratamento dos resultados obtidos e
magem influencia a motivação e de risco. Além disso importa consi- interpretação (15). Como instrumento
o desempenho dos enfermeiros (9). derar que a segurança dos cuidados de recurso para a codificação e cate-
Evidenciam também que as ativida- de saúde é abrangente e complexa gorização das entrevistas utilizou-
des desenvolvidas neste âmbito são envolvendo segurança do cliente e -se o software Atlas.ti®, o que coad-
maioritariamente orientadas para profissionais. juvou na análise dos resultados.

ROL Janeiro 508


INTERNATIONAL CONGRESS › RESEARCH INNOVATION & DEVELOPMENT IN NURSING 2019

No respeito pelos princípios éticos e


FIGURA 1
legais, para a realização da investi-
gação, procedeu-se a um pedido de ÁREAS PRIORITÁRIAS NA SEGURANÇA DOS
autorização ao Presidente do Con-
CLIENTES (FONTE: ATLAS.TI)
selho de Administração do Centro
Hospitalar em estudo e à respetiva
Comissão de Ética. A última respon-
deu informando que apenas se pro-
nuncia se solicitado pelo Presidente
do Conselho de Administração do
Centro Hospitalar que é responsá-
vel por autorizar estes pedidos. Foi
autorizada a realização do estudo
pelo mesmo. Todos os procedimen-
tos realizados com os participantes
respeitaram o anonimato, a con-
fidencialidade e o consentimento
informado.

RESULTADOS
Sobre as áreas prioritárias para a
segurança dos clientes os enfer-
meiros gestores alargaram-se no quando esta não é eficaz: “ (…) não para o bloco se não estiver a lista
discurso e foram identificadas onze só a comunicação entre profissio- preenchida devidamente. (…).Com
áreas prioritárias que se traduzem nais, a comunicação de informação isto temos evitado cancelamento
nas seguintes categorias: Comuni- clínica, (…) a comunicação entre o de cirurgias porque identificamos
cação, Cirurgia segura, Segurança profissional e o cliente e entre pro- e atuamos atempadamente” (E5).
do medicamento, Identificação do fissional e cuidador, é ver a forma Esta área prioritária respeita o PNSD
cliente, Quedas, Úlceras de pressão, como o doente entende o cuidado, 2015-2020 que contempla como
Risco de infeção, Dotações seguras, entende o procedimento e apreende objetivo estratégico de aumentar a
Boas práticas, Controlo de visitas e e interioriza a sua responsabilidade segurança cirúrgica (17). Além disso,
Estrutura (Figura 1). no seu tratamento quer quando está está em consonância com o manual
Face às áreas que consideram prio- no internamento quer quando vai “Orientações da OMS para a cirurgia
ritárias na segurança do cliente foi para casa porque depende muito do segura 2009” é de aplicação obriga-
possível identificar 12 categorias: sucesso da comunicação a orienta- tória em todos os blocos operatórios
Acidentes de Serviço, Riscos Bioló- ção do cliente para evitar a recaída do Serviço Nacional de Saúde (18).
gicos, Ergonomia, Violência, Quedas, ou para terminar o seu tratamento Também a categoria da segurança
Burnout, Pausas Laborais, Satisfa- em sucesso.” (E10). Esta está men- do medicamento, contemplada no
ção, Comunicação, Controlo de visi- cionada no Plano Nacional para a PNSD 2015-2020 (17), foi reconhecida
tas, Dotações Seguras e Estrutura Segurança do Doente (PNSD) 2015- como área prioritária por treze dos
(Figura 2). 2020 como um dos seus objetivos catorze enfermeiros gestores entre-
estratégicos: o aumento da seguran- vistados e foi possível perceber que
ça da comunicação, desta forma, faz há um conhecimento da evidência
DISCUSSÃO sentido que figure no leque de áreas atual sobre os erros medicamento-
Áreas Prioritárias para a Segurança prioritárias de intervenção dos en- sos: “(…) está relatado (…) que há er-
do Cliente fermeiros gestores (17). ros, nós temos vários fatores inter-
A falha na Comunicação tem vindo Dois enfermeiros gestores iden- venientes no erro aqui, (…), a visita
a ser apontada como uma das prin- tificaram a cirurgia segura como que está a decorrer, não temos uma
cipais causas dos eventos notifica- área prioritária referindo especi- sala própria para preparar a medica-
dos (16). Enquanto área prioritária, ficamente à iniciativa: “cirurgias ção, as pessoas não respeitarem (…),
a comunicação foi identificada seguras salvam vidas implemen- nós termos os telemóveis connosco
por três enfermeiros gestores que tando uma checklist um protocolo a tocar, (…), somos interrompidos pe-
referiram ser essencial mencionan- implementado pela Direção Geral de los nossos colegas, pelos assistentes
do o compromisso da segurança Saúde em que o cliente não segue operacionais, pelos médicos (…)

509 Suplemento digital Rev ROL Enferm 2020; 43(1): 509


Conference Proceedings

mais aquele que é inerente a mim, como foco de intervenção prioritá- e não tanto com intuito preventivo:
que eu sou uma pessoa que posso rio, referindo mesmo a importância “quando percebemos que há um
errar(…)” (E11). do registo e acompanhamento de cliente infetado tentamos colocá-lo
A falha na identificação dos clien- resultado de auditorias: “(…) está em (…) isolamento possível, mas
tes, de acordo com OMS contribui implementada no serviço (…) a vigi- às vezes as condições físicas não
em larga escala para erros de medi- lância das quedas (…) que já estão no permitem (…) Em relação ao pessoal
cação, erros de transfusão, erros em nosso padrão de documentação (…) tentamos sempre utilizar os equipa-
exames, procedimentos em pessoas e temos os resultados das auditorias mentos de proteção individual, (…).”
erradas, entrega de bebés a famílias (…)”(E11). (E9). Esta área prioritária justifica-se
aos quais não pertencem (19). A Iden- A Úlcera de Pressão enquanto ele- pela elevada taxa de incidência das
tificação do cliente foi referida por mento de atenção foi referida por infeções associadas aos cuidados de
quatro enfermeiros gestores como quatro dos entrevistados: ”Temos as saúde que varia entre 5% a 10% (19).
prioritária, embora em discursos úlceras de pressão que é uma prio- As dotações seguras representam
breves, demonstram que estão im- ridade que eu dou muito valor no- também uma preocupação de três
plementadas medidas de avaliação: meadamente aqui no Serviço (…) ” (E enfermeiros gestores no que se refe-
“Nós temos algumas auditorias ao E10). A taxa de incidência de Úlce- re à segurança dos clientes: “Mesmo
serviço, nomeadamente a identifi- ras de pressão é de 10% a 14% e mais até em termos de recursos huma-
cação dos clientes com a pulseira” uma vez está contemplada no PNSD nos, está bem que estamos a traba-
(E9). Esta categoria mais uma vez 2015-2020 no objetivo estratégico de lhar as dotações da DGS, (…), mas eu
respeita as indicações do PNSD prevenção da ocorrência de úlceras penso que se conseguíssemos tirar
2015-2020 no objetivo estratégico de de pressão (17, 19). mais partido informaticamente dos
assegurar a identificação inequívoca O risco de infeção, também abran- registos de enfermagem se calhar
dos clientes (17). gido pelo PNSD 2015-2020 (17) no também nos ia ajudar nas dotações
As Quedas em internamento ocor- objetivo estratégico: prevenir e con- seguras.” (E9).
rem cerca de 4,8 a 8,4 por 1000 clien- trolar as infeções e as resistências Um enfermeiro gestor enumerou
tes (19). Também abrangida no PNSD aos antimicrobianos, evidenciou-se boas práticas como uma preocupa-
2015-2020 (17), a prevenção da ocor- uma preocupação nos discursos de ção: “Boas práticas sempre me preo-
rência de quedas também foi refe- três participantes que, no entanto, cuparam” (E2). Estas são definidas
rida, desta vez por, seis enfermeiros incidiram mais em situações de como práticas, clinicas, cientificas
gestores que enumeraram a queda contexto de infeções identificadas e/ou profissionais baseadas na evi-
dência e reconhecidas pela maioria
dos profissionais de uma área espe-
cifica (20).
FIGURA 2
Também apenas um enfermeiro
gestore referiu o controlo de visitas
ÁREAS PRIORITÁRIAS NA SEGURANÇA DOS
como foco prioritário de atenção
CLIENTES (FONTE: ATLAS.TI) para a segurança dos clientes: “ (…)
qualquer pessoa entra no hospital
a qualquer hora, (…) ” (E7) referindo
mesmo que “(…) por vezes compli-
cam a prestação de cuidados e de-
pois a nível de segurança é compli-
cado. ” (E7). Neste âmbito, a Lei n.º
15/2014, que consolida a legislação
em matéria de direitos e deveres do
cliente dos serviços de saúde, refere
o direito de acompanhamento nos
serviços de urgência do Serviço
Nacional de Saúde (21). No entanto
nada refere acerca de horários de
visita ou como é feito esse controlo
e por quem.
Por fim, cinco enfermeiros gestores
enunciaram a estrutura como tema
prioritário para a segurança do

ROL Janeiro 510


INTERNATIONAL CONGRESS › RESEARCH INNOVATION & DEVELOPMENT IN NURSING 2019

cliente e foram unânimes ao consi- categoria Ergonomia tem subjacente sos humanos, é uma insatisfação e
derarem que “Basicamente, temos o risco relacionado com trabalho, frustração muito grande para o en-
uma estrutura física antiga, apesar com postura e atividade física resul- fermeiro não poder prestar cuidados
de terem sido restruturados quartos tante da atividade laboral. com a máxima qualidade mas fazer
de banho e quartos, temos espaço re- A Queda foi apenas citada mas o aquilo que é prioritário e isso cria
duzido, precisávamos de mais quar- enfermeiro gestor que em causa não frustração e desencanto com a pró-
tos e mais quartos de banho.” (E14). explicou em que sentido representa pria profissão. Mas temos de saber
As instalações físicas estão incluí- um elemento prioritário na seguran- dar a volta e (…)para não entrarmos
das no elemento estrutura incluído ça dos enfermeiros. em burnout, (…).” (E5). Este fenómeno
no modelo de avaliação da qualidade A Violência evidenciou-se no dis- é considerado uma síndrome ca-
de Donabedian (22). curso de um participante que expôs racterística do meio laboral, que se
As áreas prioritárias identificadas o problema “das lesões por visitas e trata de um processo de resposta ao
pelos enfermeiros gestores refletem por clientes, agressões verbais e físi- stress ocupacional crónico com efei-
preocupação com eventos adversos cas e ameaças que leva a baixas do tos negativos nas esferas individual,
com maiores taxas de incidência e foro psiquiátrico em que as pessoas profissional, familiar e social (25).
com as causas descritas como mais têm medo de vir trabalhar.” (E9). Esta Contribui para a redução da produti-
significativas para a ocorrência categoria demonstra que os enfer- vidade e qualidade do desempenho
de eventos adversos. Além disso, meiros gestores estão atentos a fato- profissional, o aumento do absen-
as áreas prioritárias identificadas res que contribuem, neste caso, para tismo, acidentes laborais, para uma
incluíram sete dos nove objetivos os riscos físicos e psicossociais dos imagem negativa da instituição bem
estratégicos do PNSD 2015-2020, dei- profissionais que possam ter origem como prejuízos financeiros (25).
xando de fora a cultura de segurança na violência no local de trabalho. Num domínio semelhante, a Satisfa-
do ambiente interno bem como a Três enfermeiros gestores indicaram ção dos Enfermeiros foi considerada
prática sistemática de notificação, o Controlo de Visitas como essencial prioritária: “(…)porque se estiverem
análise e prevenção de incidentes para a segurança dos enfermeiros, satisfeitos, aumenta a segurança
(17)
. Os dois últimos temas foram no contexto de mudança de paradig- deles.” (E14) no entanto apenas foi
abordados quando questionados es- ma que se vive atualmente no que se referida uma vez sem grande elabo-
pecificamente sobre o assunto e os refere à presença de familiares nos ração sobre o assunto.
dados analisados separadamente (23). hospitais: “as correntes que existem Nas duas últimas categorias referi-
Áreas Prioritárias para a Segurança é de que um hospital deve ser (…) o das, está presente o risco psicosso-
do Enfermeiro mais aberto possível, principalmen- cial. Um enfermeiro gestor, que tem
Os Riscos Biológicos como vírus, te para os elementos de transferên- como foco de atenção a satisfação
fungos e bactérias que podem cau- cia para envolver os familiares no dos enfermeiros e a prevenção do
sar doença (24) foram identificados processo terapêutico do cliente e burnout, está a dar o primeiro passo
como área prioritária, três enfermei- para integração mais eficaz no seio na gestão deste risco.
ros gestores a referiram: “a infeção familiar e na sociedade (…) o proble- A categoria de Acidentes de Traba-
hospitalar também diz muito em ma que nós temos é que de facto as lho foi identificada como prioritária
relação aos enfermeiros, também pessoas, quando estão no hospital, para a segurança dos enfermeiros
somos todos pessoas e também só têm direitos, não têm obrigações, por dois enfermeiros gestores: “Re-
precisamos de nos prevenir e de e sabem tudo e o respeito pelos ou- lativamente aos enfermeiros, uma
nos precaver sobre certas infeções tros está de lado. É lógico que nós aí das áreas é a questão dos acidentes
e sobre certos riscos que corremos não estamos muito seguros” (E11), em serviço.” (E6), no entanto não se
(…).” (E9). e acreditam que neste contexto o alongaram além disto. Acidente de
Cinco entrevistados mencionaram a enfermeiro fica desprotegido quan- trabalho é entendido como: “aquele
Ergonomia como foco prioritário de do não há um controlo de visitas que se verifique no local e no tempo
atenção: “A área prioritária é clara- efetivo, quer pelo risco físico, quer de trabalho e produza directa ou
mente a área da gestão de esforços. pelo sentimento de insegurança indirectamente lesão corporal, per-
A maior parte dos problemas que que contribui para aumento do risco turbação funcional ou doença de que
temos prende-se com lombalgias psicossocial. resulte redução na capacidade de
de esforço. Temos uma quantidade O Burnout enquanto área prioritária trabalho ou de ganho ou a morte” (26).
grande de pessoas com problemas, na segurança dos enfermeiros, foi Os acidentes de trabalho podem
com limitações que são impostas apenas relatado por um enfermeiro originar doença profissional, que
pela medicina do trabalho, que gestor: “Nos momentos críticos em é “toda aquela que é produzida em
também a ergonomia dos postos de que a prestação de cuidados é difícil consequência do trabalho, (…) oca-
trabalho não é a melhor (…).” (E8). A por falta de condições e de recur- sione ao trabalhador uma incapaci-

511 Suplemento digital Rev ROL Enferm 2020; 43(1): 511


Conference Proceedings

dade para o exercício da sua profis- do que identificados e provado que melhor a sua atuação. Foram identi-
são ou a morte.” (24). tem consequências (…) ” (E10). ficadas onze áreas prioritárias para a
Os riscos profissionais, materiali- Por fim, houve relato de preocupação segurança dos clientes que demons-
zados em acidentes de trabalho e prioritária com a Estrutura Física tram conhecimento sobre os even-
doenças profissionais refletem-se dos espaços onde os enfermeiros tos adversos com maiores taxas de
em incapacidades, morbilidades desenvolvem a sua atividade pro- incidência e com as causas descri-
e absentismo. O absentismo pode fissional: “(…)condições de trabalho tas como mais significativas para a
ser definido como o somatório dos que engloba (…) a estrutura física do ocorrência de eventos adversos. Dos
dias de ausência excluindo-se as serviços acho que são áreas impor- nove objetivos estratégicos do PNSD
faltas dos períodos de férias (27). É, tantes.” (E10), outros enumeraram 2015-2020 sete estão incluídos nas
muitas vezes, reflexo de ambientes alguns problemas identificados: “a categorias descritas (17). De fora ficam
de trabalho inadequados, de falta de ergonomia dos postos de trabalho a Cultura de Segurança do Ambiente
condições de segurança, de condi- não é a melhor (…)” (E8). Interno e a prática sistemática de
ções de trabalho stressantes. Além A Comunicação foi referida como Notificação, Análise e Prevenção de
disso, a falta de trabalhadores tem área prioritária para a segurança Incidentes que foram abordadas em
consequências para os restantes do enfermeiro, mas não explanada outro momento do estudo.
pois aumenta o volume de trabalho pelos entrevistados de que modo. As áreas que encaram como prio-
individual, criando uma sobrecar- As áreas, identificadas como priori- ritárias na segurança do cliente
ga adicional em cada trabalhador tárias para a segurança dos enfer- traduzem-se em 12 categorias que
que ainda está em atividade e, por meiros, além de estarem de acordo comprovam a identificação dos
consequência, aumento o risco de com os riscos profissionais descri- riscos profissionais descritos bem
acidentes de trabalho (28). tos, também demonstram atenção como os acidentes de trabalho mais
Assim, os acidentes de trabalho têm aos acidentes de trabalho apontados notificados.
consequências no profissional em como mais frequentes, como são os Embora, os relatos dos partici-
causa mas também para toda a or- riscos biológicos, quedas e ergono- pantes valorizem a segurança
ganização, pelo deve constituir um mia. dos enfermeiros, não referiram as
foco de intervenção prioritário para Importa sublinhar que os participan- consequências do absentismo nem
os enfermeiros gestores. tes valorizam a segurança do enfer- a doença profissional. Contudo, de-
Outro enfermeiro gestor referiu ain- meiro embora nos seus discursos monstraram conhecimento sobre
da as Pausas Laborais como priori- haja falta de referência ao absentis- as consequências de determinadas
tário: “Devíamos ter mais espaços de mo e doença profissional. Ainda as- condições de trabalho na segurança
convívio, ser obrigatório fazer pau- sim, demonstraram conhecimento e dos enfermeiros.
sas, era muito importante (…). O que sensibilização dos efeitos negativos Verificam-se cinco categorias iden-
eu acho também complicado é a prá- das más condições de trabalho na tificadas em comum como priori-
tica do horário de 12h neste contexto segurança dos enfermeiros e reco- tárias quer para a segurança dos
(…)ninguém respeita a nossa hora nheceram que, naturalmente a segu- clientes, quer para a segurança dos
de almoço (…) não temos horários.” rança dos enfermeiros se repercute profissionais. Este fato sustenta o
(E 12). De acordo com o artigo nº 213 na segurança dos clientes. reconhecimento da influência da
da lei nº7/2009 de 12 de Fevereiro “O As categorias identificadas em áreas segurança dos enfermeiros na segu-
período de trabalho diário deve ser prioritárias dos clientes e dos enfer- rança dos clientes e vice-versa o que
interrompido por um intervalo de meiros tiveram cinco categorias em evidencia a relação entre a seguran-
descanso, de duração não inferior a comum: Dotações seguras, Contolo ça de ambos.
uma hora nem superior a duas, de de visitas, Estrutura, Quedas e Co- Embora em alguns temas se evi-
modo a que o trabalhador não preste municação. Demonstra-se assim dencie a carência de discurso face
mais de cinco horas de trabalho con- que, para os entrevistados, nem a à segurança do enfermeiro, este
secutivo, ou seis horas de trabalho segurança do cliente se sobrepõem fato poderá refletir a delegação de
consecutivo caso aquele período à segurança do enfermeiro nem funções no departamento de saúde
seja superior a 10 horas.” (29). vice-versa. ocupacional, embora isto não tenha
Num total de seis referências, as Do- sido referido.
tações Seguras reuniram mais con- Em suma, constata-se que encon-
senso entre os enfermeiros gestores CONCLUSÕES tramos junto dos participantes
face à segurança do enfermeiro: Conhecer as áreas que os enfermei- informações fundamentais para a
“Dotações seguras, acho que é prio- ros gestores consideram prioritárias perseguição de um caminho para
ritário porque não tendo dotações para a segurança de clientes e pro- alcançar a segurança dos serviços
seguras temos riscos que estão mais fissionais, permitiu compreender de saúde.

ROL Janeiro 512


INTERNATIONAL CONGRESS › RESEARCH INNOVATION & DEVELOPMENT IN NURSING 2019

Referências
1. Institute of Medicine. To Err is Human: Building a Safer Heal- 15. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2000.
th System. Washington, D.C.: Institute Of medicine; 2000. 16. World Health Organization. Patient Safety Solutions: com-
2. Schenk EC, Bryant RA, Van Son CR, Odom-Maryon T. Pers- munication during Patient Hand-overs. Suiça; 2007.
pectives on Patient and Family Engagement With Reduction 17. Ministério da Saúde. Diário da República, 2.ª série — N.º 28:
in Harm: The Forgotten Voice. Journal of Nursing Care Plano Nacional de Segurança dos Doentes 2015-2020. Mi-
Quality 2018;34(1):73-9. nistério da Saúde; 2015. p. 3882 (2-10).
3. World Health Organization. Patient Safety: Making health 18. OMS. Linhas de orientação para a segurança cirúrgica da
care safer. Genebra, Suiça: WHO; 2017. OMS: 2009 Cirurgia Segura Salva Vidas. In: Saúde D-Gd,
4. Jha AK, Larizgoitia I, Audera-Lopez C, Prasopa-Plaizier N, editor. Lisboa2009.
Waters H, Bates DW. The global burden of unsafe medical 19. World Alliance For Patient Safety. Summary of the evidence
care: analytic modelling of observational studies. British on patient safety:implications for research. Genebra, Suíça:
Medical Journal Quality & Safety 2013;22(10):809-15. World Health Organization; 2008.
5. Institute for Patient and Family Centered Care. Advancing 20. Ordem dos Enfermeiros. Padrões de Qualidade dos Cuida-
the practice of patient and family centered care in hospitals- dos de Enfermagem: Enquadramento Conceptual Enuncia-
How to Get Started. Bethesda, Maryland, Estados Unidos dos Descritivos. Lisboa: Ordem dos Enfermeiros; 2001.
da América: Institute for Patient- and Family-Centered Care
21. Direção Geral da Saúde. Estrutura Concetual da Classifi-
2017 Janeiro. 22 p.
cação Internacional sobre Segurança do Doente. Lisboa:
6. National Patient Safety Foundation. Free from Harm: Acce- DGS; 2011.
lerating Patient Safety Improvement - Fifteen Years after To
22. Governo da República Portuguesa. Lei N.º 15/2014: Lei
Err Is Human. Report of an Expert Panel Convened. Boston,
consolidando a legislação em matéria de direitos e deveres
Estados Unidos da América: National Patient Safety Foun-
do utente dos serviços de saúde. . In: República Ad, editor.
dation; 2015.
Lisboa: Diário da Républica (21-03-2014); 2014. p. 2127 - 31.
7. Slawomirski L, Auraaen A, Klazinga N. The economics of
23. Donabedian A. An Introduction to Quality Assurance in
patient safety: Strengthening a value-based approach to
Health Care. Oxford University Press; 2003.
reducing patient harm at national level. Paris, França: Or-
ganisation for Economic Co-operation and Development,; 24. Correia T, Martins M, Forte E. Processos desenvolvidos por
2017 Março. gestores de enfermagem face ao erro. Revista de Enferma-
gem Referência. 2017;IV Série(12):75-84.
8. Wong CA, Cummings GG. The relationship between nur-
sing leadership and patient outcomes: a systematic review 25. Ministério da Saúde, Administração Regional da Saúde de
Journal of Nursing Management. 2007;15:508–21. Lisboa e Vale do Tejo. Gestão dos riscos profissionais em
estabelecimentos de saúde. Lisboa, Departamento de
9. Agnew C, Flin R. Senior charge nurses’ leadership beha-
Saúde Pública; 2013.
viours in relation to hospital ward safety: a mixed method
study. International Journal of Nursing 2014;51(5):768-80. 26. Benevides-Pereira A. O Estado da Arte do Burnout no Brasil.
Revista Eletrônica InterAção Psy. 2003:4-11.
10. Farokhzadian J, Dehghan Nayeri N, Borhani F. Assessment
of Clinical Risk Management System in Hospitals: An 27. Governo da República Portuguesa. LEI N.º 98/2009 In: (04-
Approach for Quality Improvement. Global Journal of Heal- 09-2009) AdR, editor. Lisboa: Diário da República; 2009. p.
th Science. 2015;7(5):294-303. 5894-920.
11. Flin R. Leadership for safety: industrial experience. Quality 28. Administração Central do Sistema de Saúde. Balanço Social
and Safety in Health Care. 2004;13(suppl_2):ii45-ii51. Global do Ministério da Saúde e SNS - 2014. Lisboa: ACSS;
2015.
12. DGS. Norma 026/2013: Programa de Saúde Ocupacional: 2º
ciclo 2013/2017. Lisboa: DGS; 2013. 29. Laus AM, Anselmi ML. Ausência dos trabalhadores de enfer-
magem em um hospital escola. Revista da Escola de Enfer-
13. DGS. Norma 008/2014: Organização e funcionamento
magem da Universidade de São Paulo. 2008;42:681-9.
do Serviço de Saúde Ocupacional/Saúde e Segurança do
Trabalho dos Centros Hospitalares/Hospitais. Lisboa: DGS; 30. Governo da República Portuguesa. Lei Nº 7/2009: revisão
2014. do Código do Trabalho. In: República Ad, editor. Lisboa:
Diário da Republica (12-02-2009); 2009. p. 926-1029.
14. Fortin M-F. Fundamentos e Etapas no Processo de Investi-
gação. Loures2009. 618 p.

513 Suplemento digital Rev ROL Enferm 2020; 43(1): 513

You might also like