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“ainda uma odsereagdo: s¢ nao sabemos exphcar oraue alguns snawiauoe permanccem indopendentes, {Jato 6 quo ise ocorre. A mesma situagdo que pro= ‘vocou o eonformiemo do alguns, parece um. dcvahio pera ontroe, Tato taluee noe permita compreender que Sempre haverd, epesar de todas at foreas contrérias, fon qua 0rd eapases de perovber, como na. historia ‘nfantl, @ mde do rei (Dante Moreira Leite, 197), Diante da proposigdo iniciat de analisar os escritos psicoldgicos de Dante Moreira Leite, pensamos poder assumir uma tnica postura, académica e distante: Porém, no transcorrer do trabalho, pereebemos que estdvamos efetuando duas leituras pessoais ¢ parciais da obra, determinada por nossas subjetividades: interesses, valores, preconceitos. Sentimos, também, que uma caracteristica marcante de Dante Moreira Leite & sua postura independente endo conjormista. De um lado, a liberdade na escolha temética, recaindo constantemente sobre temas academicamente néo valorieados, voltados para @ vida cotidiana do brasileiro. De outro, 0 proprio tratamento destes temas, refletindo um questionamento sistemdtico da objeti- vidade cientifica, © resultado foram dois artigos abordando temas diferentes tendo, porém, uma caracteristica em comum: tentam compreender como Dante Moreira Leite viu a nudez do rei RReMG UM PSICOLOGO NA LITERATURA INFANTIL, Ainda como estudante, Dante Moreira Leite empreendeu suas primeiras pesquisas sobre litera: tura infantil (1950a ¢ 1950b). Nestes trabalhos, pioneiros em nosso melo, analisa valores, precon- celtos e esteredtipos transmitides por livros de lei- ‘ura da escola primaria Depois de abandonar provisoriamente 0 tema, dedicando-se principalmente ao estudo do cardter nacional, volta a interessar-se pela literatura infan- til no fim da década de 50. Agora, sua contribuicdo ndo se restringe apenas ao estudo empftico de novos * Do Departamento de Pesquisas Kduescionale da Fundacto 1 Curlosamente, em So Paulo, « dfeada de 80 presencion os lnieos estudos sobre andlise de conteddo dos livros die loos © estéries ntantis:” TOLEDO (862/1980 « 1957) BAZZANELLA. (958), HOLLANDA. (1058) « o importante projeto de KLINERERG © COSTA (848), infelizmente ones efetivade, CADERNOS DE PESQUISA/17 FOLVIA ROSEMBERG* livros didaticos, mas tenta “compreender como a lei- tara e outros melos de comunieacio poderiam influir no desenvolvimento da ertanga” (Memorial, p. 5). E, em sua tentativa, esmfuca o significado da Uteratura infantil, contribuindo tenazmente para a eliminagio da idéia preconeebida, oriunda da psicologia ingénua © compartithada em parte por educadores, de que existe uma conexfo linear entre 0 contewdo dos meios de comunioagio e © comportamento dos lei- tores infantis e juvenis. A INFLUBNCIA DA LITERATURA NA FORMACAO DA CRIANGA Durante os anos 50, educadores denunciam fre- allentemente 0 conteido violento das estérias em quadrinhos, dos contos populares, da televisio © do cinema, como sendo os tinieos, ou os principais res ponsavels pelo fendmeno emergente da delingtiéncia juvonil. Esta caga as bruxas suscitou uma multi- 5 plicidade de experimentos em varios paises e esti- mulou também certos psiedlogos a enfrentar 0 ema- ranhado dos problemas cotidianos, bem Jonge da trangiitla assepsia dos laboratérios *, Dante Moreira Leite aborda o tema em quatro estudos. Cronologicamente: “O brinquedo, a leltura e @ crianca” (1958), “Anélise de contetdo dos livros de leitura da escola priméria” (1960), “A influén- cla da literatura na formagdo da crianca” (1961) “Psicologia e literatura” (1964, parte III). Nestes trabalhos, analisa as implicagées subja~ centes & consura exereida por educadores ao con- telldo produzido para, ou apossado pela crianca pelo jovem. A aceitacio da censura como principio ‘pedagégico, ou protecionista, subjaz a crenga de que ‘@ principal funeio da literatura infantil seja ensi- nar. Admitindo que a atuagio do conteddo opere exclusivamente ao nivel do consciente pode-se, entio, legitimamente supor que 0 lido, 0 visto © 0 ouvido atuem diretamente sobre 0 comportamento. Dai 0 caréter pedagogizante e “prosaico”, a falta de con- flitos e a morosidade de tais contetidos. Aesta valorizagéo excessiva dos aspectos racio- nals da Uteratura infantil, Dante Moreira Leite pro- pée uma outra visio, baseada em postulados psica~ naliticos e no principio do conflito e da tenséo. FUNGAO SIMBOLICA E CATARTICA DA LITERATURA INFANTIL A llteratura infantil (e a literatura em geral) recriam a realidade em universo simbolico. O dis- ‘tanciamento produzido por esta mediagio permite, de certa forma, que o leitor se utilize da literatura para solucionar problemas pré-existentes & leitura. ‘Neste sentido, a funcio educativa da literatura infan- til, mesmo aquela eivada de agressividade e violencia, serla permitir a expresso inofensiva de conflitos que “para a crianga provém principalmente de sua ambivaléneia diante dos pais e irméos. Se os pais, representam as suas fontes mais importantes de seguranga e satisfacio efetiva, sflo também fontes inevitaveis de frustracdes. Como fontes de frustra- es 0s pals slo alvos de agressividade. consciente ow inconsclente, das criancas. De outro lado, como séo também figuras admiradas e queridas, a sua destrulgsio consciente provoca angustia (...)", A literatura infantil distanciada do real pela fantasia, “permite a expresso simbdlica dessa agressividade, Isto 6, permite langé-la em figuras conscientemente neutras” (1961, p. 7). 23 -Na Franca, por exemple, ZA220 tratou do probleme numa confergncle proferida a’ #oole de Parents. "A reagto pai Sonsda da imprenta levou-o a preciaar detalnadamente mate tires just (1968), ° Neste sentido, “a literatura niio ensina compor- ‘tamentos indesejéveis mas, 20 contrétio, permite ‘que tais comportamentos encontrem uma expresso indcua” (1960, p: 106). E se as virias formas de com- portamento expressivo permitem uma expressio inéeua da agressividade, poderio, afinal de contas, diminulr os choques e frustrag6es dos leitores. Apesar de encampar tais principios da teoria psicanalitica, Dante Moreira Leite nio deixa de re- portar e analisar os estudos empiricos tratando da Influéneia da leitura nos comportamentos dos lel- ‘tores. “IE facil compreender as imensas dificuldades existentes para a compreensio dessa influéncia. Em. primeiro lugar, seria preciso distinguir entre 0 efeito, imediato, que ocorre durante a leitura ou em perfodo Imediatamente posterior — e a influéncia indireta ‘ou mediata, que poderia ser identificada em periodo relativamente distante. Nada impede que esses efeitos sejam opostos. Assim, seria possivel imaginar que uma historia de violéncia tenha como efeito imediato um aumento na agressividade do individuo, e como efelto mediato uma redugo de mesmo im- pulso. Em segundo lugar, parece necessério distin- guir entre a possivel influéncia da obra literdria 0 efeitos da propaganda. Como se procurou sugerir através deste ensaio, a obra literdrla sempre apre~ senta estimulos ambiguos, isto é, que podem ser interpretados de muitas formas; na propaganda, ao contrario, as alternativas de escolha sao intencional- mente reduzidas e o leitor encontra’ esteredtipos ou definigdes e valorizagdes muito nitidas (...). Para compreender a influéneia da literatura seria tam- ‘bém necessério considerar as diferengas individuais, e niio apenas as caracteristicas de determinada obra litersria; isto 6 tdo necessdrio quanto mais literéria seja a obra considerada, pols maior serd a sua ri- ‘queza e maiores as possibilidades de interpretacdes, contraditorias” (1964, p. 239-240). Entre os trabalhos empiricos, a mator énfase é dada aos estudos que procuram compreender como 8 diferentes leitores se utilizam de um mesmo con- telldo que teria entio significado dependente da erianga ou do jovem que o lesse. E a alta correla- géo observada, por exemplo, entre leitura de estérias em quadrinho, tempo de presenca diante da tele~ visio, etc, e delingliénela juvenil nfo implicaria em relagdo vertical (de causa e efeito) mas em relagio horizontal, isto 6, serlam efeitos paralelos de um mesmo fendmeno mais geral. Assim, admite ao mesmo tempo néo ser a crianga uma tabula rasa, e nem a literatura uma caixa de surpresas: a socle- dade no é inocente do contetido que produs, “Se vemos adolescentes a praticar comportamentos imi- ‘tados de herdis literdrios podemos estar certos de que tais herdis foram, por sua vez, criados a partir de uma reslidade social contempordnea. Podemos estar certos, também, de que tals comportamentos correspondem a necessidades latentes desses jovens, FUNDAGAO CARLOS CHAGAS pols muitos outros, submetidos ao mesmo processo de aprendizagem, nfo apresentam comportamentos iguais” (1961, p. 5) TENSAO E EQUILIBRIO NA LITERATURA INFANTIL A grande originalidade de Dante Moreira Lelve no dominio da literatura infantil provém do em- prego que faz dos conceltos de equilibrio e tensio na teratura de ficgho, © conceito de equilibrio, de busca de equilibra- g8o, de estabelecimento de homeostase € central em praticamente todo teérico da Psicologia (Freud, Piaget, Lewin, ete.). Adotando porém os ensinamen- tos de HEIDER, Dante Moreira Lelte diré também que “pode haver uma tendéneia para abandonar o equilfbrio comodo, e procurar 0 novo e a aventura. A tensio provocada por situagdes desequillbradas tem, multas vezes, um efelto agradével para nossos sentimentos estéticos e nossos pensamentos” desper- tando, &s vezes, “como outros padr6es que contém ambigitidades nfo solucionadas, poderosas forcas estéticas, de natureza mégica ou cOmica” (1964, p. 14, Do mesmo modo, “se pensamos num organismo ‘que sempre procura o equilibrio, nfio podemos enten- der a leitura de ficcio, pois esta, inevitavelmente, coloca 0 individuo em estado de tensdo” (1964, p. 243). “Quando o leitor se entrega a um conto ou a um romance, procura uma situacéo de desequilibrio, freqiientemente porque sente necessidade de esti- mulos mals intensos que os oferecidos pela sua vida cotidiana. Uma vez integrado na leltura, 0 seu esforco se dirige para a busca de uma situagdo de equilibrio, que s6 pode ser obtida no fim do romance ‘ou conto” (1964, p. 245)- Além de adotar 0 conceito de tensdo para explicar o ato criador e a leitura, Dante Moreira Leite postula a existéncla de um nivel, timo de tenso. A literatura infantil (e a literatura geral) deve lidar com um nivel dtimo de tensio pois “se a histéria no apresentar uma situagio de tensio, torna-se insatisfatéria; se apresentar uma situacé de tensfio demasiadamente intensa provoea angustia’ (4960, p. 109), Quando os educadores protegem os leitores. cen~ surando 0s livros, climinando conflito do contetido destinado a eriancas, conferindo um tom “prosaico” aos textos escolares, estiio apenas preocupados com @ redugio da angiistia. “Os seus autores pretendem evitar as tensGes, hipoteticamente prejudiciais 20 desenvolvimento infantil, e inventam historias sem qualquer contewdo significative, sem consisténcia sicoldgica e sem poesia” (1961, p. 4). Na verdade, a preocupacdo sistemstica com a eliminagéo do conflito, 0 moralismo maniquefsta (por forga didatica), a idealizacéo do mundo e das pessoas, enfim, 0 excesso de protectio que se de- preende da leitura de textos para erfancas, acaba, tal qual o aprendiz felticeiro, por desrespeltar 0 Ieitor infantil. “A crianca nao deseja encontrar uma Uteratura feita de cima para baixo, capaz de con siderd-la um ser desprovido de imaginaco e sensi- ilidade, ao contrério, desde muito cedo deseja ser vista como pessoa auténoma, capaz de distinguir ¢ escolher” (1961, p. 4) E, ento, a tarefa do educador nio seré sim- plesmente a de afastar a crianga das més lelturas, mas sim colocé-la diante da “boa literatura infantil — isto 6 aquela adequada & idade da erlanga, e capaz de interessé-la e conduzi-la a um universo mais com- plexo e mais rico” (1961, p, 8). REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BAZZANELLA, W. 1057. Valores © ostereétipoe ci livros @e eitura. ‘Bducondo o Clénetas Socials, 2 (4): 121-124 HOLLANDA, Guy de. 1086. A pesqulon de estereétipos «© valores’ nos comptndios de histéria deatinades a0 curso Secundério brasileiro, Educardo e Gidncias Socais, 1 (3) rea, KLINEBERG, 0. © COSTA, Pinto L. A. 1966, Projtto de eatudo de. esterestipos © valores na Wteratura peda ‘orien brasiciva. Comunleatio aprecentada ao ©. B. PE. LEITE, Dante M. 19604. Conceltos morals em sels Uvros didaticos primérios brasilsiros. In: UNIVERSI- DADE DE SK PAULO. Faculdade do Filosoti, Ciencias Letras. Boletin, 119 — Série potcologia, 3. Sto Paso, LITE, Dante 4. 1850, Preconceito racial patric tismo em seie livros didéticos primérion brasleiroe. UNIVERSIDADE DE SKO PAULO. Faculdade de Filo: sofia, Ciencias ¢ Letras, Boletim, 119 — Ser ptcolonia, 5, Sho Paulo. 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Esta mesma demtincla ests presente em varias de suas obras posteriores, entre as quais “Teorias Recentes sobre 0 Cardter Nacio- nal” (1954), Psicologia Diferencial (1966) e 0 Ca- réter Nacional Brasileiro (1969). © presente trabalho procura retratar a postura critica de Dante Moreira Leite face a preconceitos ¢ ideologias. Aborda um aspecto fundamental de sua obra, que 6 0 esforgo sistemdtico de demonstrar que ambos so vises deformadas da realidade social, carregadas de valores subjetivos e culturais. Ble postula, por exemplo, que as teorlas que defendem a existéncia de “caracteristicas psicoldgicas tpicas” de um povo ou raga sio explicaveis pelo contexto po- Iitico, social e econdmico em que se desenvolver, na ‘medida em que refletem, sob forma aparente de uma descric¢ho objetiva, valores, interesses e motivagdes pessoais dos autores e do grupo a que pertencem. Nao obstante, essas vis6es estrébicas da realida- de subsistem com ampla aceitagio social pois ser- vem, a nivel do grupo, para justificar situagoes exis- tentes de desigualdade e opressio e, a nivel indivi- dual, para explicar 0 comportamento das pessoas a que se referem. A critica de Dante Moreira Leite a preconceitos © ideologias insere-se em um contexto amplo que 6 sua postura enguanto psicdlogo social. Tendo sido Dastante influenciado pela escola gestiltica, e parti- cularmente pela teoria de percepcao social de Fritz Heider, de quem foi aluno, colaborador e tradutor, ele demonstra em sua obra uma frequente preocupa- ‘cdo com os erros nos julgamentos perceptuals. Sendo assim, a primeira parte deste artigo analisa este pro- Dlema, mostrando como 6 abordado pela psicologia. ‘A partir da compreensio dos processos subjetivos que interferem nas percepeées fica claro como sur- gem e porque se mantém preconceltos e ideologias. * Do Departamento de Pecquisss Rduesclonals da Fundagle Carlos Chagas. CADERNOS DE PESQUISA/IT MARILIA GRACIANO* Erros inerentes aos julgamentos perceptuals Em nossas percepgdes do mundo social, a objeti- vidade é dificiimente alcancada. Ao observarmos um ineidente social qualquer (alguém dizendo ou fa- zendo alguma coisa para um outro), estamos sempre indo além da simples percepedo do fato para uma interpretacdo dole em termos de esquemas pré-con- cebidos. Assim, quando estudamos a percepsio social (percepego de pessoas ou percepcio das relactes in~ terpessoais), temos em mos um fenémeno bem mais complexo do que a percepclo de objetos fisicos, onde existe sempre um critério de realidade, contra 0 qual se pode testar os desvios perceptuais. No caso do mundo social, 0 critério objetivo de realidade nio existe, fleando a validade da percepcao apenas de- pendente do consenso entre observadores. © interesse pelos erros que ocorrem no procesto perceptual esta ligado & prépria origem da psico- logia clentifica, cujo marco 6 a fundagéo do labo- ratério de Wundt (1879). A partir do desenvol- vimento das cléncias fisicas e principalmente: da astronomla, os pesquisadores estavam muito inte- ressados nos “erros humanos” envolvides na obser- vagio: € célebre o episédio do assistente de Mas- Kelyne (despedido do observatsrio de Greenwich porque registrara suas observagGes com diferencas de meio segundo em relagio a seu mestre), que levou © astrénomo alem&o Bessel a pesquisar e concluir que a ocorréneia de variagSes individuals na obser- vacéo 6 um fendmeno comum, ao qual denominou equaco pessoal”. Essa importante constatagio de que néo existe uma relagdo direta entre o objeto fisico e sua per- cepcio levou os primeiros psicélogos experimentais fa tentar determinar os fatores que interferem na observaco humana: Weber, Fechner, Helmholtz ‘Wundt, considerados pals da psicologia experimen- tal, interessaram-se por definir clentificamente 0 rocesso da percepedo de objetos fisicos e suas lim!- tagdes. Essa preocupagio também aparece como central nna escola de pstcologia gestiltica, através dos tra balhos de Wertheimer, Kohler e Koffka, Nestes autores eneontramos a proposigéo de que a percepgio niio se reduz a uma soma de sensagées elementares, mas possul um cardter de totalldade (gestalt) irre- dutivel ao conjunto de elementos que @ compoem. “9 Os gestaltistas analisaram imimeros fendmenos de ilustio perceptual demonstrando que aquilo que ve- ‘mos ou ouvimos é dependente de fatores internos (por exemplo: tendéncia a perceber formas simples completas), assim como do conteto no qual 0 objeto se insere (por exemplo: relagéo entre figura e fundo), ‘A abordagem sistemética do problema da inter- feréncia subjetiva na percepeio de pessoas 86 apare- cou na psicologia bem mals tarde, através dos tra- balhos de Helder (1944, 1958), que demonstram como estas percepgdes so influenciadas por tendéncias cognitivas e motivacionals do observador. Assim, por exemplo, na percepcio do comportamento de luma pessoa interferem os sentimentos positives ou. negativos que se tm em relagio a ela. Mesmo que no conheca nada a respeito do outro, o observador sempre faz algumas inferéncias sobre suas intengbes, atribuindo significado e valor & ago: ao ver na rua um adulto admoestar severamente uma erianga, pode interpretar esta ago como uma “maldade” ou uma “prova de cuidado” (no caso, por exemplo, de julgar que a crianca estava tentando atravessar a Tua sozinha). Da mesma forma, se estiver de bom ‘humor, uma pessoa pode interpretar um esbarrio de ‘outra como um ato involuntério; se estiver de mau ‘humor, 0 mesmo esbarrdo poderé signiticar um ato de animosidade, gerando resposta rispida. A andlise dessas interpretagSes sobre as ages de outras pessoas é essencial para a compreensio das relagées interpessoais. Na observagdo de qual- quer evento social, como por exemplo um dldlogo, deve-se levar em conta que os fatos nflo se esgotam no que ¢ verbalizado, pois ambos os participantes esto fazendo constantes interpretages a respeito do outro. Uma mesma frase ou ago, pode ter signl- ficados completamente diferentes, dependendo de como se julga a pessoa que a diz e suas intengbes. Evidentemente, tais interpretagSes nfo séo sempre conscientes mas uma pessoa quando questionada, geralmente saberé explicar o significado que atribui & aco da outra. Dentro desta teoria, 0 conceito que se tem sobre uma pessoa torna-se essencial para a atribuigéo de significado as suas agées. Se, por exemplo, um professor considerar um aluno esforcado, pode julgar que 0 seu bom resultado nos exames fol devido a sua motivagio para aprender (fator interno). Se um outro aluno, que julgar preguicoso, obtém o mesmo resultado, o professor pode achar que ele fol bene- ficiado pela sorte, ou outros fatores externos, nfo cogitando na hipétese de que o aluno tenha se esfor- ado para passar nestes exames. 2 importante levar em conta que estes conceitos sobre pessoas tendem a se cristalizar, havendo ne- cessidade de multas evidéncias em contrério para que sejam reformulados. Em outras palavras, é mals 10 simples uma pessoa interpretar um fato a partir dos conceitos que jé possui do que reformulé-lo em favor de evidénciss negativas (caso do “aluno pre- guigoso”). Como nfio existem critérios objetivos atra- vés dos quais se pode realmente validar estes con- celtos (pelo menos na vida cotidiana), sua compro- vacdo se dé através da comparacdo com as opinibes de outras pessoas (se Maria, Antonio e Pedro pen- sam como eu a respeito de Joao, minha opinilio & correta). Como se sabe, a busca desse tipo de con- senso 6, por sua vez, um processo seletivo: Festinger (1954) }6 demonstrou como os individuos preferem pessoas semelhantes a si mesmos para validarem suas opiniGes. Desta forma, os conceltos sobre pes- soas acabam por se constitufrem em certezas, sendo Dastante difiell refutd-los. Este cireulo vieloso em que as percepedes das agées do outro sfio deformadas por conceltos pré- existentes e, a0 mesmo tempo, servem para refor- érlos, 6 0 mecanismo que explica a permanéncia dos preconeeitos contra diversos grupos, como se veré a segulr. FUNCAO DOS PRECONCEITOS Dante Moreira Lelte define preconcelto racial como um “juizo, certo ou errado, ndo justificado Iogicamente, que se faz uma raca, seja a nossa ow néio” (1950, p. 207). Em seu primeiro artigo, denun- cla a existéncia de preconeeito racial em alguns livros didaticos primérios brasileiros concluindo que: “mals importante talvez que notar a atitude de pre- conceito, é notar a forma de que est revestido: a manifestagéo se faz através de um sentimento que ‘bem poderiamos caracterizar de desprezo (.-.) atitude que ndo é de luta contra o negro, mas sim- plesmente de colocé-lo numa situagdo inferior, tendo a sensacéo de ser melhor que cle” (1950, P. 225). Posteriormente, no livro Psicologia Diferencial (4966), explica as diferencas psicol6gicas entre racas, povos, classes sociais e sexos através de desigualdade dos fatores ambientais, combatendo a nogio pseudo- clentifica de que existem determinantes genéticos irreversiveis subjacentes a estas diferencas. Pseudo- clentifica por dois motives: de um lado, a ciéncia Jamais comprovou a existéncia de fatores genéticos ‘capazes de explicar as caracteristicas psicol6gicas & intelectuais que diferenciam brancos ¢ negros, ho- mens e mulheres. De outro porque, ainda que 0 ‘componente genético existisse, nada garantiria a sua predominincia sobre os fatores ambientais, isto 6, sua irreversibilidade. Em relagio ao fator racial, Dante Moreira Leite afirma: “(.-.) as diferengas de inteligéncis, obser- vadas entre as ragas colocadas no mesmo pais devem ser explicadas pelas condig6es econdmicas e educa~ clonais destas ragas (.-.) quando colocadas em FUNDAGAO CARLOS CHAGAS melhores condigées, nos estados do norte dos Esta- dos Unidos, os negros obtém melhores resultados, nnio s6 nos testes de inteligéncia como, de modo geral, em seu aproveltamento educacional e profis- sional. (..-) Nao existe qualquer prova de que o indio brasileiro, por exemplo, seja incapaz de desenvol- vimento igual ao de outros grupos raciais, ou que seus descendentes deles tenham “herdado” determ!- nadas caraeteristicas psicol6gicas. As vezes se diz, a respelto do fndlo brasileiro que seria nOmade, inea- ‘paz de fixat-se em determinado territério, e que seus, descendentes teriam herdado esta caracteristica psicolégica. Ora, é facil provar que os “barbaros” — ancestrais dos alemiles, franceses, belgas e ingleses — também eram nOmades, embora ninguém diga que estes povos tenham herdado essa caracteristica, Na realidade, ocorre coisa muito diversa. O “noma- aismo” de nossos indios é explicavel, seja pelo fato de dependerem da caga e pesca — 0 que os obrigava a procurar locais ainda nio explorados — seja por mitos religiosos que 0s levaram & migracio” (Psi- cologia Diferencial, pp. 110-111). Como se v8, 0 preconceito a respeito da intell- géncia e capacidade de trabalho de negros ¢ indlos totalmente injustificdvel, uma vez que a produ- tividade de individuos destas racas se explica pelas condicdes ambfentals a que foram submetidos. Néo existem fatores genéticos que tornem o negro me- nos produtivo: 0 que existe 6 a falta de oportuni- dades educacionais para desenvolverem integral- mente suas capacidades. ‘A mesma posicio é defendida em relacio a dife- rencas psicoldgicas entre homens ¢ mulheres. Por exemplo, em relagio a0 preconceito contra a capa- ‘eldade produtiva da mulher, Dante Moreira Leite escreve: “Quando se observa a educagio de meninos meninas, é fécil notar que, enquanto aos meninos se dé uma lberdade cada vez maior, de acordo com 0 seu gradual desenvolvimento, a educacio da me- nina se caracteriza por restriedes cada vez maiores, ‘a sua independéncia. Pode-se supor que tals res- trigdes tenham interferéneia na possibilidade da capacidade criadora pois é nesta que se nota menor realizagio feminina, ‘Outro fator possivel refere-se &s expectativas de ‘comportamentos masculinos e femininos- Quando se pensa que grande parte da atividade humana re- sulta da tentativa de corresponder as expectativas dos outros, pode-se supor que, como se espera menos da mulher, esta acaba por produzir realmente me- nos” (Psicologia Diferencial, pp. 158-159). Pode-se demonstrar, assim, que as diferencas psicoldgicas encontradas entre homens e mulheres, tanto a nivel da capacidade intelectual quanto a nivel de caracteristicas emocionals e motivactonais, CADERNOS DE PESQUISA/17 so explicavels pela, socializagio. Meninos e meni- nas so desde muito cedo submetidos a influéncias diferentes, que afetam nfo s6 seus comportamentos mas também seus valores e atitudes mais profundos. Cabe entéo perguntar: se a influéncia do fator ambiental na determinaglo das caracteristicas psl- ‘cologicas destes grupos é to facilmente demonstré- vel, porque subsistem os preconceitos? A reflexio a partir da teoria de Heider sobre pereepedo social, oferece uma resposta: 0s precon- ‘ceitos tm uma funcéo na medida em que servem ‘como esquemas cristalizados e simplificados para a interpretagso das ag6es de outras pessoas. Assim, fa “preguiga” e a “incapacidade” inerentes a certos grupos podem ser utilizados para explicar, simples e comodamente, sua improdutividade como no caso, por exemplo, de um professor que atribui as notas ‘aixas de seus alunos negros a estes fatores, eximin- do-se da responsabilidade por possiveis obstéculos amblentais que os estejam afetando. De um lado, ‘como ja foi dito, é tarefa cognitivamente mais simples acomodar os fatos aos preconceitos do que refor- mulé-los. De outro, a0 aceitar a determinagio “ge~ nética e irreversivel”, o professor nfo precisa se preocupar em interferir na realidade social. For- ‘marse entfio um circulo vicioso, no qual a causa real da dificuldade do aluno nfo ¢ jamais atingida: ele continua tendo fechadas as suas oportunidades 20 mesmo tempo que € cereado de expectativas pessi- mistas quanto A sua capacidade de realizacéo. Além disso, 0s preconceitos tem uma fungéo importante na manutengio da estabilidade social, em sistemas onde existe desigualdade de condigées. Na medida em que se cristalizam as nogdes sobre inferloridade psicolégica em fungio da raga ou sexo, Justificam-se 0 dominio, a opresséo, as oportunida- des desiguais. Entre diferentes povos, a mesma coisa acontece. O dominio e a exploracio de um ovo sempre se justifica através de ideologias que valorizam as caracteristicas do povo dominante e ao mesmo tempo apontam a inferioridade dos povos. oprimidos, CRITICA AS TEORIAS SOBRE CARATER NACIONAL Uma visto critica das teorlas sobre cardter na- cional aparece sistematizada em varios artigos pu- blleados por Dante Moreira Leite: “Teorlas Recen- tes sobre o Cardter Nacional” (1954), “O Cardter Nacional Norte-Amerieano (1954 b), “O Carter Ale~ mio” (19540), “O Carter Nacional Brasileiro e 0 Putebol” (1954 d), bem como em sua tese de douto- ramento sobre O Cardter Naclonal Brasileiro (1954), reformulada para publicagéo em livro (1969). 36 em 1950, no referido artigo sobre preconcelto, racial em livros didéticos, 0 autor encontra vérios Pontos em comum entre sentimento patristico © n preconceito racial: a nogio do estrangelro oposta.& do natural da terra, a tentativa de se utilizar 0 pa- ‘triotismo para se desculpar a raga contra a qual se tem preconceito e a visio deformada da reali- dade que ambos representam. Posterlormente, apresenta uma critica as teorias sobre cardter nacional (que estiveram em grande moda durante 0 século XIX), afirmando: “De fato, a Sociologia, a Antropologia e a Psico- logia Social puderam demonstrar esta verdade fun- damental: as racas importam psicologicamente, en- quanto critérios ou valores sociais e néo como cate- gorlas bioldgicas” (1954.8, p. 379). Nesse mesmo trabalho, © autor postula que os esteredtipos sobre cardter nacional varlam em fun- ‘cdo da situacio social e politica da época em que se desenvolvem, citando como exemplo o estudo de Klineberg que demonstrou como a valorizagéo do eariter dos chineses, na época em que os americanos necessitavam de sua mfo-de-obra, foi substituida por uma imagem extremamente negativa, na época em que 08 dois grupos entraram em conflito, Esse postiilado & retomado com maior clareza nos estudos de Dante Moreira Leite sobre ideologias, referentes ao cardter nacional brasileiro. Através de uma excelente anélise critica dessas ideologias, abrangendo desde a carta de Pero Vaz de Caminha até o perfodo da ruptura do pensamento Ideolégico (2950), © autor demonstra como a variagio de este- re6tipos sobre o brasileiro est ligada ao contexto social e politico dos diferentes perfodos histéricos. Assim, por exemplo, a valorizagio do indigena, em oposicao a0 colonizador, aparece claramente logo depois da independéncia, quando 0 nacionalismo bra~ sileiro precisava encontrar um passado independente da Historia de Portugal. “Além disso, também em ‘outro sentido o indianismo tinha contetido ideol6- gico: 0 fndio fol, no romantismo, uma imagem do passado e, portanto, néo apresentava qualquer amea~ ca & ordem vigente, sobretudo-& eseravatura” (1969, p. 17-172), Esse mesmo indio seria visto posteriormente por Buclides da Cunha, numa época em que se buscava explicar a sociedade através da relagho entre ragas e melo geogrético, como rebelde, inapto ao trabalho © impulsive, em ‘oposico ao vaquelro, que’ seria forte, audacioso e movido pela honra. Dante Moreira Leite mostra como € possivel explicar as diversas ideologias sobre o carter na- cional brasileiro através da anilise do contexto histérlco. © préprio desaparecimento destas ideolo- glas teria ocorrido, segundo ele, em fungio do pro- cesso de industrializacao brasileira, no momento de Iuta pela independénela econdmica. Eis a conclusio de seu livro: “(...) seria possivel perguntar se as caracteris- ticas psicoldgicas atribuidas ao brasileiro tém algu- ‘ma relagdo com a realidade. O ntimero e a diversi- dade de tals caracteristieas justificam a idéia de que ndo podemos imaginar sua correspondéncia com qualquer grupo brasileiro, e muito menos com 0 bra~ sileiro. Nao existe qualquer prova de que um povo tenha caracterfsticas psleoldgicas Inexistentes em outro (.-.). Mas ainda que algum dia se chegue a este tipo de estudo, as caracteristicas psicoldgicas nndo poderdo ser entendidas como fonte de desenvol- vimento histérico e social. Ao contrério, as condi ‘gGes de vida social ¢ que determinam as caracteris- ticas psicologicas, embora estas, depois, possam também influlr na vida social” (1969, p. 329). ‘Vemos por estas afirmagées, que as ideologias sobre cardter nacional de um povo ndo passam de preconceitos, visdes estrabieas da realidade social {que refletem valores culturais e interesses politicos © econémicos mais amplos. Ao desmascaré-las, Dante Moreira Leite revela sua combatividade as idéias ingénuas e cristaliza- das que caracterizam visOes cOmodas da realidade. REFERENCIAS BIBLIOGRAPICAS FESTINGER, 1. 1864. “A theory of social comparison ‘rocesses”, Human Relations, 7, 337-10, MEIDER, F. and SIMOTEL, M. 1044 “An experimental study’ of apparent behavior’. Amerioan Journal of Pay chology, $1, 289, WEIDER, F. 1008, The Peyeholooy of Interpersonal Relations, New ‘York: Wiley. ‘Traducho brasileira. de Dante Morelra Lette: Pstolopia das Betacdes Interpeesoats. Sto Paulo: Pioneira © Eaitera da U.S... 1910 LBITE, Dante nMorelra, 1660, “Preconesito Racial ¢ Patrio- tismo em. Sein Livros Diddticos Primésion Brasileiros” Boletio: OXIX (Poicologia nv 3) da FPLC HOSP. LEITH, Dante Moreira, 3062 8, “Toorias Roventes cobre (© Cardter Nacional", ANHEMBI, V. XVI, 41, pp. 206, 68 12 LBITE, Dante Moreira 1964, *O Cardter Nacional ‘Norte-americano”, ANHEMBL, V. XVI, §8, DD. 620822. ANHEMBI, V. XVI, ¥, pp. TAT. Brasileiro # 0 Futebol”, Rotetim de Psicologia, 18, 19, 20, LEITH, Dante Moreira, 19646. 0 Cardtor Nacional Bro- ‘leiro — teee de doutoramento defendida na Faculdade fe Fitosois, lenciaa ¢ Letrat da Universidade de Sto Paulo, LEITE, Danto Moreira, 1965, Poicologia Diferonciel ‘Sho’ Polo, Dominus Haltora, LEITE, Dante Moreira, 1060, 0 Cardter Meotonal Bra sileiro, So Paulo, Baitora Pioneira FUNDAGAO CARLOS CHAGAS ‘A REFLEXAO PEDAGOGICA CRITICA: UMA NECESSIDADE E UM EXEMPLO (a propésito da obra educacional de Dante Moreira Leite) Pretendo, neste trabalho, apresentar as produ- Ges de Dante Moreira Leite mais diretamente liga- das ao campo da educacdo. Em seguida, e com base nessas produgdes, pretendo ressaltar 0 modo como trabalhou 0 temério educacional que escolheu. As produedes so bastante diversificadas, mos- trando que nio se interessou por uma ou outra das questdes do amplo campo pedagogico. Se, em deter~ minado momento, diseorreu sobre questes mais abrangentes como a da situaco do ensino no Brasil, hos seus diversos graus escolares, ou como a das relagdes interpessoais ¢ a escola, noutros momen- tos escolheu para estudo questées menos amplas como classes experimentais, medida do aprovelta- mento escolar, promogéo automdtica, livros didé- ticos de lettura, ¢ também questées como criativi- dade, percepcfio na sala de aula. Embora sujeito a certa arbitrariedade, achei conveniente agrupar tals produgdes em duas grandes reas. Na primeira, constam as investigacOes sobre livros didéticos de leitura, os primeiros trabalhos que escreveu e que representam um importante — para mim o mais importante — miicleo de sua produce académica, tanto pelo préprio assunto em si mesmo como pelos desenvolvimentos que provocou no campo da lite. ratura infantil, da literatura em geral e na rea do desenvolvimento da crianca. Por essas raz6es, decidi separar esse temdrio dos demais, embora neles esteja Incluido, Na segunda, procurei reunir 0 te. mério restante, mas de manelra a dar-Ihe uma orga- nizagdo a partir de critérios que julguel os mals adequados para esta exposicdo. Antes de mais nada, penso que sobre os diver- sos assuntos Dante Moreira Leite deixou muitos dados e informagées preciosas, prontos para serem. aproveltados aqui e all. Trata-se de um acervo importante, tanto para a bibliografia pedagégica, nacional como estrangeira. Rever alguns desenvol- * Professor do Departamento de Raveasio da Faculdade de Pilosotia, Cltnelas Letras de Araraauera, Universidade Estadual Paulleta

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