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7 Livro O Conceito de Autodiscernimento em Heschel
7 Livro O Conceito de Autodiscernimento em Heschel
7 Livro O Conceito de Autodiscernimento em Heschel
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1 INTRODUÇÃO
O hassidismo é um movimento dos hassidim ³SLHGRVRV´ TXH FRQVWLWXL R MXGDtVPR RUWRGR[R )RL
1
fundado na Polônia, no século XVIII, por Israel, filho de Eliezer, conhecido como Baal Shem Tov (O
Mestre do Bom Nome). Cf. LEONE, Alexandre. A imagem divina e o pó da terra: humanismo sagrado
e crítica da modernidade em A. J. Heschel. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP: FAPESP, 2002, p.
26-27.
2
LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p. 29.
6
Seu pai foi o rebe Morcekhai Heschel, que faleceu quando ele era
ainda uma criança. Entre os famosos ancestrais de Heschel,
poderíamos citar rebe Dov Beer de Mezeritz (falecido em 1771),
PDLVFRQKHFLGRFRPR³R*UDQGHMaguid´RPDLVIDPRVRGLVFtSXOR
direto do fundador do hassidismo, o Baal Shem Tov (falecido em
1760). Outro famoso antepassado seu foi o rabino Abraham
Joschua Heschel de Apt (falecido em 1825), o Apt Rebe, de quem
Heschel herdou o seu nome, como era costume entre as dinastias
de mestres hassídicos.5
3
LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p. 29.
4
Cf. ROSENBERG, R. A. Guia Conciso do Judaísmo: História Prática e Fé. Tradução: Maria Clara De
Biase W. Fernandes. Rio de Janeiro: Imago, 1992, p. 143.
5
LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p. 26-27.
7
6
A Oração como Experiência Mística em Abraham J. Heschel. Disponível em: http:// www.pucsp
.br/rever/rv4 _2003/t_leone.htm. Acessado dia 17 de fevereiro de 2013.
7
A Oração como Experiência Mística em Abraham J. Heschel. Disponível em: http://www.
pucsp.br/rever /rv4 _2003/t_leone.htm. Acessado dia 17 de fevereiro de 2013.
8
HESCHEL, A. Joshua. O homem à procura de Deus. Trad. Euclides Carneiro da Silva. São Paulo:
Paulinas, 1974, p. 59.
8
9
Cf. LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p. 32.
10
HESCHEL, A. Joshua. Deus em busca do homem. Trad. Professor Albérico F. Souza. São Paulo:
Paulinas, 1975, p. 26.
9
Por fim, destaca-se a admiração que Heschel nutriu por seus dois
mestres do Hassidismo, os quais já foram mencionados: Baal Shem Tov, que no
século XVIII fundou o movimento, e Menahem Mendel de Kotzk, um dos mais
importantes líderes hassídicos do século XIX, que desde os nove anos de idade
Heschel ³SHUPDQHFHXFRPRXPILHOFRPSDQKHLURVHXHWDPEpPFRPRXPGHVDILR
assoPEURVR´SDUDHOH6HJXQGR/HRQH³SRUXPODGRRKDVVLGLVPRVHPDQLfestava
como misericórdia, compassiva e alegre; por outro, se manifestava como sede de
justiça, indignado com o sofrimento e ansioso pela redenção da condição humana
VRIUHGRUD´11
11
LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p. 28.
12
LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p. 70.
10
No ano de 1937, foi convidado por Martin Buber para ser seu sucessor
no Judiches Leherhaus, em Frankfurt, um centro de estudos judaicos fundado por
Franz Rozenweig.14 Essa sucessão lhe proporcionou um contato efetivo com uma
13
Cf. LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p. 31.
14
O filósofo Franz Rosenzweig (1866-1929) é considerado por muitos comentadores como um dos
mais importantes pensadores judeus do século XX. Nasceu em 25 de dezembro de 1886 em Kassel .
Estudou História e Filosofia na Universidade de Göttingen, Munique e Freiburg. Preparando sua
dissertação sobre Georg Wilhelm Friedrich Hegel , reagiu contra o idealismo sistemático e abstrato de
Hegel em favor de uma abordagem existencial com base nas experiências concretas do indivíduo.
Em 1913, depois de uma crise religiosa, retorna à filosofia judaica. Sua principal obra, O princípio da
redenção (1921), começa com uma crítica da filosofia ocidental, especialmente Hegel, rejeitando a
tentativa de reduzir os três elementos da realidade (Deus, o mundo e o humanidade) pensamento e
consciência. Ele argumenta que só se conhece estes três elementos através da experiência
participativa. Rosenzweig trabalhou com Martin Buber, outro existencialista judeu, em uma nova
tradução do Antigo Testamento. Morreu em Frankfurt em 10 de dezembro de 1929. Disponível em:
11
1960, da militância política social em prol do diálogo entre religiões e a favor dos
direitos civis, sobretudo em relação aos negros norte-americanos, da liberdade dos
judeus na União Soviética e do fim da guerra do Vietnã. Com seu estilo de vida, ele
exemplificou os ideais sobre os quais escreveu.17 Seu apelo profético torna o
homem, através de sua ação discernida no mundo, parceiro de Deus na criação do
universo, portanto, criador do próprio humano, de si mesmo. Para Heschel, as
³QRVVDVERas ações são atos de comunhão com Deus. O destino do homem é ser
parceiro de Deus, cumprindo as mitsvot µOHLV¶´.18
17
Cf. ROSENBERG, Guia Conciso do Judaísmo: História Prática e Fé, p. 130.
18
ROSENBERG, Guia Conciso do Judaísmo: História Prática e Fé, p. 131.
19
Cf. LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p. 43.
20
Cf. HAZAN, Filosofia do Judaísmo em Abraham Joshua Heschel, p. 39.
13
No inicio dos anos 60, quando Heschel já dividia sua vida entre a
academia e os movimentos sociais, aspecto este que caracterizou os seus últimos
anos, conseguiu finalizar a tradução e a ampliação de Die Prophetie, sua tese de
doutorado sobre a consciência profética que fora defendida em Berlim, em 1933.
Essa obra tornou-se um de seus mais conhecidos escritos. Heschel dedicou o livro
³DRVPiUWLUHVGH± ´FRPRGHPRQVWUDomRGHXUJrQFLDPRUDOQDVLWXDomRGR
mundo atual, cujo sintoma mais agudo fora o genocídio nazista. O livro, segundo
Leone, é dividido em três grandes reflexões:
21
LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p. 43.
14
22
LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p. 151-152.
23
Cf. LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p.47.
24
Cf. LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p. 48.
25
Cf. LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p. 48.
15
fenômeno religioso, mas não tratavam dele em si. A religião não era contemplada
em termos do que ela significava. Para Heschel, a religião é, sobretudo, a sagrada
dimensão da existência que está presente, sendo ou não percebida por nós.26
3 O AUTODISCERNIMENTO ANTROPOLÓGICO
26
Cf. LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p. 48.
16
27
HESCHEL, Deus em busca do homem, p. 24.
28
Cf. HESCHEL, Deus em busca do homem, p. 18.
29
HESCHEL, Deus em busca do homem, p. 18.
17
30
O termo Teologia é formado aqui no seu sentido amplo e anterior ao significado dado pelo
cristianismo.
31
HESCHEL, Deus em busca do homem, p. 19 - nota de rodapé.
32
Heschel se utiliza desse termo como designando o mesmo processo de autodiscernimento. Cf.
HESCHEL, Deus em busca do homem. 1975, p. 19.
18
Insight é entendido como aquele que não se enquadra dentro dos limites
dos métodos comuns; por isso ele ficaria mais bem colocado como um método de
revelação. O insight é a surpreendente e inesperada descoberta de uma verdade
cuja estruturação se opera no subconsciente ou mesmo no inconsciente. São
coisas que sabíamos, em momentos e circunstâncias fortuitos, enchendo-nos de
pânico ou indizível alegria. Matemáticos, cientistas, artistas, escritores, profetas e
filósofos tiveram insights, no transcorrer de suas vidas. Em maior ou menor escala,
todos nós já o experimentamos. Arquimedes, o grande matemático grego,
surpreendido por uma descoberta científica, e esquecido das conveniências sociais,
percorreu, euforicamente, as estreitas ruas de Atenas, gritando, em voz alta:
³Acabei de achar, acabei de achar...´
33
HESCHEL, Deus em busca do homem, p. 20.
34
DA SILVA, A. I. Manual de iniciação filosófica. 1971, p. 55. Edição própria.
35
HESCHEL, Deus em busca do homem, p. 21.
36
Ontoteologia significa uma teologia que leve em conta apenas conceitos, muito embora sejam eles
importantes, mas é uma teologia que não se preocupa com a situação, com a vivência. Para Heschel,
é impossível falar de qualquer coisa, seja no campo metafísico, seja na esfera pragmática se não
estiver totalmente envolto na questão em voga, e foi exatamente esse aspecto vivencial que a
ontoteologia esqueceu.
19
37
HESCHEL, O homem a procura de Deus, p. 161-162.
21
divindade, o homem é colocado em posição oposta, sem que nenhuma criatura que
se interponha entre ambos. Uma relação imediata, sem intermediários, é
determinada entre ambos, e não há indivíduos com privilégios especiais ou
extraordinários:
38
LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p. 156.
39
LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p. 83-84.
22
40
Cf. RIOS, Dermival Ribeiro. Minidicionário escolar da língua portuguesa. São Paulo: DCL, 2005.
41
O conceito de homem animalizado é trabalhado por Heschel no sentido de diferenciar o homem
divinizado, ou seja, aquele que reflete a imagem divina, transcendental, que passou pelo processo de
DXWRGLVFHUQLPHQWRHUHPHPRUDR³insight fundamental´ do homem racional animalizado, significando
ser esse homem animalizado plenamente dotado de razão, mas se utiliza dessa razão para se
autodestruir de modo que cada vez mais se afasta da sua essência, a qual para Heschel é a
sacralidade do homem, a próprLDLPDJHPGH'HXV³EHQGLWRVHMDHOH´&I/(21(A imagem divina e
o pó da terra, p. 84 ³O que constitui a animalidade é a faculdade de utilizar um mecanismo de
GHVHQFDGHDPHQWR GpFODQFKHPHQW SDUD FRQYHUWHU HP Do}HV µH[SORVLYDV¶ XPD VRPD WmR JUDQGH
quaQWRSRVVtYHOGHHQHUJLDSRWHQFLDODFXPXODGD´ Cf. LALANDE, André. Vocabulário técnico e critico
da filosofia. 3ª ed. São Paulo: Martins fontes, 1999.
42
Norbert Elias foi um sociólogo alemão. De família judaica, teve de fugir da Alemanha nazista
exilando-se em 1933 na França antes de se estabelecer na Inglaterra onde passará grande parte de
sua carreira.
43
O Estado é o que existe; é a vida real e ética, pois ele é a unidade do querer universal, essencial, e
do querer subjetivo ± e isso é a moralidade objetiva. O indivíduo que vive nessa unidade possui uma
vida ética, tem um valor que existe nessa substancialidade. Cf. HEGEL, G. W. Friedrich. Filosofia da
História. Brasília: Unb, 1995, p.39.
23
6H QyV QRV UHIHULUPRV DR DQW{QLPR GD SDODYUD ³KXPDQR´ ± falta de
civilização, desumano, inumano, e crueldade de bárbaro, a produção deliberada de
sofrimento, nenhum século na história conheceu manifestações de desumanidades
tão extensas, tão massivas e tão sistemáticas quanto o século XX.
44
ELIAS, Norbert. Os Alemães: a luta pelo poder e a evolução do habitus nos séculos XIX e XX.
Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997, p. 271.
45
LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p. 84.
24
Para Karl Marx, um dos críticos mais ferozes desses tipos de práticas
maléficas e destruidoras, próprias da modernidade, tais práticas, estão associadas
às necessidades de acumulação do capital. Em O Capital46, especialmente no
capítulo sobre a acumulação primitiva, encontra-se uma crítica radical dos horrores
da expansão colonial: a escravização ou o extermínio dos indígenas, as guerras de
conquista, o tráfico de negros. Essas barbáries e atrocidades execráveis que,
segundo Marx, não tem paralelo em qualquer outra era da história universal, em
nenhuma raça por mais selvagem, grosseira, impiedosa e sem pudor que ela tenha
sido. Não foram simplesmente passadas aos lucros e perdas do progresso
histórico, mas devidamente denunciadas como uma infâmia.
46
O Capital é um conjunto de livros de Karl Marx como crítica ao capitalismo. Muitos consideram essa
obra o marco do pensamento socialista marxista.
47
MARX, Karl. O Capital: critica da economia política. Trad. Reginaldo Sant´Ana. São Paulo: DIFEL,
7ª ed. Vol. 2. 1982, p. 829.
48
As Casas de Trabalho (Workhouses) foram estabelecidas em Inglaterra no século XVII. Segundo a
Lei dos Pobres adotada, em 1834, só era admitida uma forma de ajuda aos pobres: o seu alojamento
em casas de trabalho com um regime prisional; os operários realizavam aí trabalhos improdutivos,
monótonos e extenuantes; estas casas de trabalho foram designaGDVSHORSRYRGH³EDVWLOKDVSDUDRV
SREUHV´. Cf. Dicionário político. Disponível em:
http://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/w/Work. Acessado dia 18 de abril de 2013.
25
³Segundo Hannah Arendt, Eichmann era um jovem ambicioso, e não suportava mais a vida
49
rotineira, sem significado e consequência que até então levava. A filiação ao partido Nazista seria a
oportunidade que ele esperava para se destacar. Eichmann foi funcionário do governo alemão
durante o domínio de Hitler naquele país, e há de se considerar sua participação na solução final de
extrema importância. Na solução final dos julgamentos, seu nome foi usado pelos nazistas quando se
referiam à aniquilação do povo Judeu. Eichmann foi capturado e sequestrado em um subúrbio de
Buenos Aires, na Argentina em 1960, usava nome falso de Ricardo Cleman, foi à Israel para ser
julgado na corte Distrital de Jerusalém. Eichamnn relata, em seu depoimento, que nunca matou um
judeu sequer, e que também nunca ordenara a matança, acontece que nem a defesa e nem ninguém
naquele tribunal estava se importando muito com a explicação dele, seu julgamento mais parecia um
espetáculo armado em que o principal protagonista era ele mesmo, um verdadeiro circo, onde o foco
das pessoas era exclusivamente culpar Adolf Eichmann pelas atrocidades cometidas contra os
Judeus. Ele é acusado pela morte de mais de 6 miOK}HV GH -XGHXV´ 'LVSRQtYHO HP
http://www.Trabalhosfeitos .com/ensaios/Relat%C3%B3rio-Parcial-Caso-Eichmann/454724 .html.
Acessado dia 03 de maio de 2013.
50
No julgamento de Eichmann, Arendt percebeu que quanto mais se ouvia o acusado, mais óbvio
ficava sua inaptidão para pensar do ponto de vista do outro. A todo o momento, ele tropeçava na
língua alemã, usava clichês e frases feitas para se esquivar da realidade, apoiando-se na repetição,
QD URWLQD $ DXVrQFLD GH FULWLFLGDGH OKH HUD SHFXOLDU FKHJDQGR DWp PHVPR D DILUPDU ³0LQKD ~QLFD
línguD p R RILFLDOrV >$PWVVSUDFKH@´ &I ARENDT, H. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a
banalidade do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 62.
26
51
LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p. 83.
27
52
ARENDT, H. Compreensão e política e outros ensaios: 1930-1954. Lisboa: Antropos, 2001, p. 240.
53
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 15.
Disponível em: http://www.dhnet.org.br/w3/fsmrn/biblioteca/71_michel_lowy2.html. Acessado dia 09
de maio de 2013.
28
³$UHOLJLmRpDUHVSRVWDKXPDQDGDTXHOHTXHVHSHUFHEHQDVLWXDomRGH
estar diante do divino´55 diz Leone, comentando a explicação de Heschel sobre o
conceito de religião. Na perspectiva hescheliana, a religião nasce a partir da
experiência humana com o sagrado, como sendo uma resposta à experiência. Se a
religião é esta resposta, é evidente que ela está condicionada aos parâmetros
culturais, sociais e históricos daquele que faz essa relação com o transcendente. É
essa experiência vivencial que inquieta o homem a continuar mantendo uma
relação dialógica com Deus, relação esta que se concretiza pela rememoração do
insight, ou seja, pelo autodiscernimento. Heschel acredita que o homem é
antropologicamente religioso, uma vez que carrega em si a imagem da divindade,
dessa forma a religião, espaço onde o homem transcende suas experiências e
vivencias, também precisa passar pelo processo de autoavaliação. A religião hoje
perdeu grande espaço, deixando de corresponder aos anseios desse homem
54
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 71.
Disponível em: http://www.dhnet.org.br/w3/fsmrn/biblioteca/71_michel_lowy2.html. Acessado dia 09
de maio de 2013.
55
LEONE, Alexandre. Mística e Razão na dialética teológica rabínica; a dinâmica da filosofia de
Abraham J. Heschel. São Paulo: USP, 2008, p. 14.
29
moderno que carrega tantas angústias e, por isso, ele busca métodos que
prometam respostas definitivas como é a pretensão da ciência atual.
58
ANDRADE, Aíla Luzia Pinheiro de. Eis que faço novas todas as coisas; teologia apocalíptica. São
Paulo: Paulinas, 2012, p. 10 (Coleção Bíblia em comunidade. Série teologias bíblicas).
59
HESCHEL, Deus em busca do homem, p. 37.
31
60
HESCHEL, Deus em busca do homem, p. 41.
³2SULQFtSLR GR SHQVDPHQWRVLWXDFLRQDOpVHPGXYLGDLPSDUFLDOLGDGHPDVWDPEpPHVWXSHIDomR
61
temor, envolvimento. O filósofo, do mesmo modo, é uma testemunha, não um responsável pelos atos
alheios. A não ser que estejamos amando ou lembremos vivamente o que nos aconteceu quando
HVWiYDPRVDPDQGRLJQRUDPRVRDPRU´&IHESCHEL, Deus em busca do homem, p. 19.
32
62
HESCHEL, Deus em busca do homem, p. 23.
63
Cf. HESCHEL, A. Joshua. Deus em busca do homem. 1975, p. 23.
33
(P$OHPmR³Die Religion Sie ist das Opium des Volkes´. Frase de Karl Marx como crítica à religião
64
65
HESCHEL, Deus em busca do homem, p. 464.
35
Essa falta de ética, para Heschel, é fruto das escolhas não acertadas da
vida, uma escolha que não foi discernida, não ponderada. Toda a miséria atual,
vista desta ótica, nos leva a refletir sobre o que fizemos da ética no mundo em que
KDELWDPRV+HVFKHOQRVLQWHUSHOD³WHULDVLGRRKRPHPEtEOLFRLQGLIHUHQWHjWHUUtYHO
³El hombre es rebelde y está lleno de iniquidad, pero, sin embargo, es tan apreciado que Dios, el
66
Creador del cielo y la tierra, se entristece cuando él lo abandona. El amor de Dios por el hombre es
profundo e íntimo y, no obstante, su ira puede ser áspera y aterradora. El poder humano tiene un
valor ínfimo, pero la compasión humana es divinamente preciosa. Si bien el comportamiento del
hombre es perverso, su retorno a Dios puede hacer de su senda una avenida de Dios´. A partir daqui
todos os textos em espanhol serão de tradução nossa. HESCHEL, A. Joshua. Los Profetas: El
hombre e su vocación. Supervisión de Marshall T. Meyer. Buenos Aires: Paidos, p. 37-38.
36
Heschel nos diz que, para tematizar uma ética prática que não só cuide
da vida social, das relações interpessoais e internacionais, é preciso, antes de tudo,
o reconhecimento de que o homem, indistintamente, precisa retomar sua ligação
transcendental, revestir-se de sua imagem divina e retratar do cuidado com essa
semelhança que ele tem com a divindade. É uma ética totalmente humanista, ao
mesmo tempo é uma ética que engloba a totalidade, sendo universal.
67
Cf. HESCHEL, Deus em busca do homem, p. 462.
68
HESCHEL, Deus em busca do homem, p. 480.
37
69
HESCHEL, Deus em busca do homem, p. 481.
39
Shoah (ʤʠʥʹʤ), também escrito da forma 6KR¶DK H 6KRD TXH HP OtQJXD LtGLFKH (um dialeto do
70
alemão falado por judeus ocidentais ou asquenazitas) significa calamidade, é o termo desse idioma
para o Holocausto. É usado por muitos judeus e por um número crescente de cristãos devido ao
desconforto com o significado literal da palavra holocausto, de origem grega e conotação relacionada
com a prática de expiação de pecados por incineração; os defensores dessa substituição
argumentam que é teologicamente ofensivo sugerir que o massacre de judeus da Europa foi um
sacrifício a Deus. É, no entanto, reconhecido que o uso corrente do termo holocausto para referir-se
ao extermínio nazista não tem essa intenção. Sabemos que a existência dos campos de extermínio,
no coração da Europa não afeta apenas este ou aquele grupo humano, mas altera de modo radical, a
própria ideia de humanidade. Ao recusar-se o termo Holocausto, incapaz de fazer face à
complexidade deste evento-limite, deparamo-nos com as denominações Genocídio, Churban,
Solução Final e Shoáh, muitas vezes, a terrível contundência do substantivo próprio Auschwitz. Mas
esses termos, invariadas vezes, são parciais e insatisfatórios, impregnados de concepções históricas,
políticas, filosóficas ideológicas e teológicas. Mostram que a única possibilidade de aproximar-se
deste acontecimento histórico é abdicar de compreendê-lo e representá-lo em sua totalidade. É
impossível abarcá-lo sob uma designação única, assim como subordiná-lo a uma visada histórica que
englobe reconstruções informadas por perspectivas tão distintas. A soma dos fatores jamais resulta
num todo coerente. Disponível em: http://diariodeumpalhacoblogspot.com.br/2011/05/holocausto -
nunca-mais.html. Acessado dia 11 de outubro de 2013.
40
71
LEONE, A imagem divina e o pó da terra, p.152.
41
Qualquer resposta a esta pergunta deve ter em conta o fato que estamos
a tratar da história de atitudes e modos de pensar de pessoas submetidas a
P~OWLSODVLQIOXrQFLDV0DLVDLQGDPXLWRVLJQRUDUDPWRWDOPHQWH D³VROXomRILQDO´ que
estava para ser tomada contra um povo inteiro; outros tiveram medo para si mesmos
e para os seus entes queridos; alguns tiraram proveito da situação; outros, por fim,
foram movidos pela inveja. Uma resposta deve ser dada para cada caso e, para o
42
72
Nós recordamos: Uma reflexão sobre o shoah. Disponível em:
http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical
_councils/chrstuni/documents/rc_pc_chrstuni_doc_16031998_shoah_po.html. Acessado dia 05 de
agosto de 2013.
43
73
HESCHEL, Deus em busca do homem, p. 360-361.
6LJQLILFDOLWHUDOPHQWH³PDWDU'HXV´GR/DWLPDeus³'HXV´cida³PDWDU´HJHUDOPHQWHUHIHUH-se à
74
75
WOLFF, Elias. Unitatis Redintegrátio, Dignitatis Humanae, Nostra Aetate: textos e comentários.
São Paulo: Paulinas, 2012 (Coleção revisitar o Concílio).
³Dobbiamo ammettere che non tutte le espressioni religiose sono valide; ma noi abbiamo la fortuna
76
acolhimento e respeito pela santidade que existe em cada pessoa. Isso só acontece
quando, cada pessoa que, desejosa de retornar ao transcendente, percebe que ele
não está só lá em cima no céu ou cá embaixo na terra, mas está em todos os
lugares e em todas as coisas. O autodiscernimento hescheliano é, para a atualidade,
uma grande janela que se abre ao mundo, tal como foi a sua vida religiosa e
filosófica que, reconhecendo no outro a santidade proclamada no judaísmo,
³FRORFDYDVXDVSHUQDVSDUDRUDU´
$ DILUPDWLYD GH TXH +HVFKHO ³FRORFDYD VXDV SHUQDV SUD RUDU´ é de sua
autoria e é o resumo de sua vida religiosa e social. Ele foi um dos grandes homens
discernidos da história moderna que soube, como nenhum outro, perceber os ecos
humanos nas suas mais diversas dimensões. Heschel, ao fugir para os Estados
Unidos nos anos 40, não cruzou os braços diante dos clamores da Segunda Guerra.
Mesmo sabendo das atrocidades causadas por ela, não se conteve apenas em
VREUHYLYHU³UHIXJLDGR´PDVGHFLGLXSDUWLUSDUDRFDPSRGHEDWDOKDQmRRFDPSRGH
batalha da Guerra contra o nazismo, mas no campo de batalha do racismo que
imperava na sociedade norte americana. Foi certamente uma trajetória difícil, mas
brilhante. Para Heschel;
77
HESCHEL, Deus em busca do homem, p. 358.
47
A luta de Luther King pelos direitos civis nos Estados Unidos teve início
no episódio conhecido como Milagre de Montgomery, em 1955. Sendo Presidente
da Associação de Melhoramento de Montgomery, liderou, junto com os demais
membros da comunidade, um boicote às empresas de ônibus da cidade, após um
ato discriminatório a uma passageira negra. Rosa Parks, se recusou a ceder o lugar
para um branco, foi presa por desacato às leis segregacionistas. O episódio colocou
a questão racial em debate nacional e gerou um movimento, que durou um ano,
para pressionar o Estado a abolir este tipo de segregação. A reivindicação foi
acatada pela Suprema Corte Americana, que determinou o fim da discriminação nos
transportes públicos.
78
Eu Tenho Um Sonho-Discurso de Martin Luther King Jr. Disponível em;
http://somostodosum.ig.com. br/blog/blog.asp ?id=09800. Acessado dia 07 de agosto de 2013.
49
Quando Luther King foi assassinado, Heschel foi o único judeu que pediu
para falar no seu funeral. Pouco depois, ele sofreu um ataque cardíaco fulminante, a
partir do qual nunca se recuperou completamente, muito embora continuasse a
ensinar e a escrever. Tanto Heschel, como King, usaram imagens do Êxodo ao
escrever sobre os direitos civis e para repreender plateias brancas contra o racismo.
Na releitura de Heschel, os judeus americanos também eram egípcios.
³,W LV D ZRQGHUIXO H[SHULHQFH WR EH KHUH RQ WKH RFFDVLRQ RI WKH VL[WLHWK ELUWKGD\ RI D PDQ WKDW ,
79
consider one of the truly great men of our day and age, Rabbi Heschel. He is indeed a truly great
SURSKHW,¶YHORRNHGRYer the last few years, being involved in the struggle for racial justice, and all too
often I have seen religious leaders stand amid the social injustices that pervade our society, mouthing
pious irrelevancies and sanctimonious trivialities. All too often the religious community has been a tail
light instead of a head light. But here and there we find those who refuse to remain silent behind the
safe security of stain glass windows, and they are forever seeking to make the great ethical insights of
our Judeo-Christian heritage relevant in this day and in this age. I feel that Rabbi Heschel is one of the
persons who is relevant at all times, always standing with prophetic insights to guide us through these
GLIILFXOWGD\V´ A partir daqui todos os textos em inglês serão tradução nossa. In. Prophecy, Politics,
and Pathos: Rabbi Abraham J. Heschel and Rev. Martin Luther King Jr. on Divine Concern and
Human Action. Disponível em; http://www.jcsana.org/upimagesjcsa/MLK and Heschel (2).doc.
Acessado dia 09 de agosto de 2013.
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palestraram juntos pela primeira vez, Heschel abriu seu discurso, devolvendo a
história bíblica:
³$WWKHILUVWFRQIHUHQFHRQUHOLJLRQDQGUDFHWKHPDLQSDUWLFLSDQWVZHUH3KDUDRKDQG0RVHV0RVHV¶
80
ZRUGVZHUH³7KXVVD\VWKH/RUGWKH*RGRI,VUDHOOHW0\SHRSOHJRWKDWWKH\PD\FHOHEUDWHDIHDVW
WR0H´:KLOH3KDUDRKUHWRUWHG³:KRLVWKH Lord, that I should heed this voice and let Israel go? I do
QRWNQRZWKH/RUGDQGPRUHRYHU,ZLOOQRWOHW,VUDHOJR´,Q+(6&+(O$-RVKXDReligion and Race.
Disponível em; http://voicesofdemocracy.umd.edu/heschel-religion-and-race-speech-text/. Acessado
dia 09 de agosto de 2013.
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indLYtGXRVDERUGDQGRXPDLPSRUWDQWHLGHLDUHOLJLRVDMXGDLFDGHTXH³KiXPYHQHQR
mortal que inflama os olhos, fazendo-nos ver a generalidade da raça, mas não a
VLQJXODULGDGH GR URVWR KXPDQR´.81 Sob a influência dessa forma de cegueira
espiritual, a racista inflige a uma outra pessoa ,TXH +HVFKHOFKDPDGH ³XPDIRUPD
de opressão, que é mais dolorosa e mais contundente do que o dano físico ou
privação econômica, é KXPLOKDomR S~EOLFD´.82 A tradição judaica coloca ênfase
especial sobre a atrocidade desse pecado. Com efeito, como Heschel aponta, a
mesma palavra em hebraico se refere a esse pecado como crime. Note-se que esta
DQiOLVH LQGLFLD TXH SRGHUtDPRV FKDPDU GH ³UDFLVPR SDVVLYR´ RX, simplesmente, o
racismo perpetrados por não protestar contra a discriminação que se vê. Este é o
tipo de racismo passivo entre clérigos e leigos religiosos que tanto Luther King e
Heschel se propuseram a combater.
Heschel quer mostrar que eles não podem mais negligenciar a sua
responsabilidade, mesmo que não tenham cometido pessoalmente qualquer ato
DWLYDPHQWH UDFLVWD SRLV R SHFDGR GH ³LQGLIHUHQoD DR PDO´ p VXSHULRU DR DWR HP VL
Ele apela a todas as religiões e a todos os cidadãos interessados para tomar parte
sobre o papel dos profetas bíblicos, que eram defensores apaixonados dos
³7KHUH LV D GHDGO\ SRLVRQ WKDW LQIODPHV WKH H\H PDNLQJ XV VHH WKH JHQHUDOLW\ RI UDFH EXW QRW WKH
81
XQLTXHQHVV RI WKH KXPDQ IDFH´ ,Q 5DEEL $EUDKDP -RVKXD +HVFKHO ³UHOLJLRQ DQG UDFH´ MDQXDU\
1963). Disponível em; http://umvod.files.wordpress.com/2010/08/bizzell-heschel. Acessado dia 09 de
agosto de 2013.
³$ IRUP RI RSSUHVVLRQ ZKLFK LV PRUH SDLQIXO DQG PRUH VFDWKLQJ WKDQ SK\VLFDO Lnjury or economic
82
oprimidos. Como observado acima, esta indiferença ou inação era o problema cívico
em particular, isto é, das pessoas religiosas que evadiam de suas responsabilidades
FtYLFDVH³KXPDQDV´QRVDVsuntos políticos, que Heschel enfrentava e declarava que
83
HESCHEL, Deus em busca do homem, p. 259.
84
Morton Charles Fierman nasceu em 26 de janeiro de 1914 em Ohio. Recebeu seu BA da Western
Reserve University (agora Case Western Reserve University). Seu BHL e MHL do Hebrew Union
College, seu mestrado pela Universidade de Tulsa e seus Ed. D. da Arizona State University. Ele
também recebeu um DD (honoris causa) do Hebrew Union College-Jewish Institute of Religion, onde
foi ordenado rabino em 1941. Em 1963, se tornou professor de estudos religiosos na California State
University-Fullerton, onde ensinou seminários sobre a teologia de James Parkes, Abraham Joshua
Heschel, Leo Baeck, e Martin Buber, bem como aulas sobre os profetas hebreus, e os Salmos. Seu
estudo de Heschel o levou a criar uma série de seminários sobre a teologia deste. Esta série foi
transformada em um livro, Salto de ação: ideias sobre a Teologia de Abraham Joshua Heschel, em
1990. Disponível em; http://americanjewisharchives.org/collections/ms0170/. Acessado dia 09 de
agosto de 21013.
53
85
HESCHEL, A. Joshua. O homem não está só. Tradução de Edwuino Aloysius Royer. São Paulo:
Paulinas, 1974, p. 248.
54
Ao longo de sua vida, Heschel teve muitas experiências com aqueles que
se recusam a ver a Imagem Divina no rosto humano. Sobre a Alemanha nazista, ele
HVFUHYHX ³(VWDPSDGD QRV SRUWões do mundo em que vivemos está o escudo dos
³7RSUHVLGHQW-RKQ).HQQHG\WKHZKLWHKRXVHMXQH
86
I look forward to privilege of being present at meeting tomorrow at 4 p.m. likelihood exists that negro
problem will be like the weather. Everybody talks about it but nobody does anything about it. Please
demand of religious leaders personal involvement not just solemn declaration. We forfeit the right to
worship god as long as we continue to humiliate negroes. Churches synagogues have failed. They
must repent. Ask of religious leaders to call for national repentance and personal sacrifice. Let
UHOLJLRXVOHDGHUVGRQDWHRQHPRQWK¶VVDODU\WRZDUG fund for negro housing and education. I propose
that you mr. President declare state of moral emergency. A marshall plan for aid to negroes is
EHFRPLQJ D QHFHVVLW\ 7KH KRXU FDOOV IRU KLJK PRUDO JUDQGHXU DQG VSLULWXDO DXGDFLW\´ ,Q Spiritual
Masters: Rabbi Michael Lerner. Disponível em; http://magazine.enlightennext.org/
2011/03/07/spiritual-masters-rabbi-michael-learner/. Acessado dia 09 de agosto de 2013.
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Esta foi à cegueira que Heschel tentou remover através do seu ensino, tanto
na sala de aula quanto nas ruas0RUWRQ)LHUPDQH[SOLFDTXH³+HVFKHOHP tudo dá
HVSHFLDOGHVWDTXHSDUDDLGHLDGDµSUHFLRVLGDGH¶GRKXPDQR´3RUWDQWRGL]+HVFKHO
³4XDQGR HX IHULU RXWUR VHU KXPDQR HX IHUL R SUySULR 'HXV´88 Heschel esperava
despertar desta forma, todos os judeus, todas as pessoas religiosas e todos os bons
cidadãos para evitar tal os horrores da guerra.
5DEEL $EUDKDP -RVKXD +HVFKHO ³UHOLJLRQ DQG UDFH´ MDQXDU\ ). Disponível em;
87
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Aíla Luzia Pinheiro de. Eis que faço novas todas às coisas; teologia
apocalíptica. São Paulo: Paulinas, 2012, p. 10 (Coleção Bíblia em comunidade.
Série teologias bíblicas).
SILVA, Antônio Inácio da. Manual de iniciação filosófica. Minas Gerais. 1972.
Edição própria.
DIE RELIGION SIE IST DAS OPIUM DES VOLKES. Disponível em;
http://fathel.com.
br/revista/wpcontent/uploads/downloads/2010/12/critica_a_critica_arruda.pdf.
Acessado dia 09 de maio de 2013.
ELIAS, Norbert. Os Alemães: a luta pelo poder e a evolução do habitus nos séculos
XIX e XX. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro : Jorge Zahar, 1997.
MARX, Karl. O Capital: critica da economia política. Trad. Reginaldo Sant´Ana. São
Paulo: DIFEL, 7ª ed. Vol. 2. 1982.