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© dos autores 1° edigtio: 2003 Dircitos reservados desta edigdo: Veraz Editores e Unitrabalho Capa: criagdo de Marea Visual e arte-finalizagao de Sotero Editores Revisao e editoracao eletrénica: Sotero Editores Organizagio das referéncias: Maria Lizete Gomes Mendes Editora Veraz Ltda. Rua General Jodo Telles, 542. Conj. 801/802 - Bairro Bom Fim CEP 90035-120 — Porto Alegre, RS Fone (51) 3314-0274 veraz@ veraz.com.br S www.veraz.com.br Rede Interuniversitéria de Estudos ¢ Pesquisas sobre o Trabalho Rua Caiubi, 252 CEP 050100-000 - Sao Paulo, SP Fone (11) 3873-6965 ~ R . unitrab@uol.com.br 094. A outra economia / Antonio David Cattani (Org.). — Porto Alegre: Veraz Editores, 2003. 1, Economia solidéria. 2. Economia popular. 3. Organizag&es ndio-governamentais. 4, Cooperativas. 5, Cooperativismo. 6. Socialismo autogestiondrio, 7. Mulher na economia solidéria. 8. Terceiro setor. 9. Empresa cidada. 10. Empreendimento de. | economia solidétia. 11. Emancipagio social. 12. Desenvolvimento sustentével. 13. Desenvolvimento local. 14, Cooperagio internacional. 15. Comércio justo. 16. Ca- deia produtiva, 17. Autogestio. 18. Finanga solidédria. 19. Cooperagio. 20. Econo- mia moral. 21, Associativismo, 22. Moeda social, 23. Mercado solidario. 24, Rede de colaboracao solidéria, Trabalho sustentdvel. 25..Utopia. 26. Mercado sustenté- vel. I. Cattani, Antonio David, CDD 361 Catalogago na publicagio: Maria Lizete Gomes Mendes ~ CRB 10/950 ISBN 85-88687-04-6 mento do bem comum, tais como elei- gio como princfpio de acesso e perma- néncia no poder; controle de baixo para cima; transparéncia puiblica e vigilancia organizada. Nesse sentido, 0 associativismo fun- da a legitimidade do grupo, formata um modo de vida comum e represerita 0 di- reito dos direitos porque alicergado em torno do bem comum, O associativismo projeta um modelo de regulagdo alternative na medida em que se fundamenta no exercicio da cida- dania, buscando propor mods plurais de atuagdo ¢ instaurar um movimento de in- teragao dos espacos econémicos, socio- politico e cultural numa perspectiva mais ampla. Nesta medida se oferece como um agir coletivo diferenciado, que pode ser interessante para a “outra economia”. Bibliografia GONGALO, J. E. Organizagdo da-socie-, dade civil como base para um politica social redistributiva. GRAU, N.C. Repensando o piiblico ata- vés da sociedade: novas formas de gestiio pii- blica e representagao social. KURZ, R. O colapso da modernizaga: da derrocada do socialismo de casernatcri- se da-economia mundial. DEMO, P. Participagdo é conquista: no- ¢0es de politica social participativa, ALTHUSSER, L. Sobre a reprodugao. HABERMAS, 5. Consciéncia moral e agir comunicativo. HABERMAS, J. Direito e democracia entre facticidade e validade. COSTA, F. As cooperativas e a econo- mia social. ELIAS, N. La société des individus. SCHUIMAN, L. Economia social: la con- tracara del capitalismo selvaje. . utogestao Ne reer Center 1 Por autogestao, em sentido lato, enten- de-se 0 conjunto de praticas sociais que se caracteriza pela natureza democritica das tomadas de decisao, que propicia a autonomia de um “coletivo”. E um exer- cfcio de poder compartilhado, que quali- fica as relagées sociais de cooperag’o entre pessoas e/ou grupos, independente do tipo das estruturas organizativas ou das atividades, por expressarem intencional- mente relagées sociais mais horizontais. O ccardter multidimensional do concei- to de autogestio (social, econémico, po- litico e técnico) nos remete a pensé-lo muito mais que uma simples modalidade de gestio. A teferéncia a uma forma de organi- zagao da aco coletiva nesta perspectiva, no entanto, no se dé de forma linear, pois a apropriagao de espacos coletivos se dé de miltiplas formas e a referéncia a or- ganizagio da ago coletiva precisa ser qualificada. A primeira dimensio diz respeito ao cardter social, pois enquanto construgiio social a autogestdio deve ser percebida como resultado de um processo capaz de engendrar ages e resultados aceitaveis para todos os individuos e grupos que dela dependem; a segunda remete™ao econd- mico, sao processos de relagées sociais de produco, que se definem sobre prati- cas que privilegiam o fator trabalho em detrimento do capital; a terceira é politi- ca, se fundamenta a partir de sistemas de representaco cujos valores, prinefpios e Aoutra economia 20 priticas favorecem e criam condigées para que a tomada de decisdes seja o resultado de uma construgao coletiva que passe pelo poder compartilhado (de opinar e decidir), de forma a garantir o equilibrio de forgas € 0 respeito aos diferentes atores ¢ papéis sociais de cada um dentro da organiza- cao; a quarta dimensao ¢ técnica, insinua a possibilidade de uma outra forma de or- ganizagio e de divisdio do trabalho. 2. Uma pratica social com diversos significados A ambigitidade do conceito - Embora © termo autogestio se tenha tornado cor- rente com a globalizagao das técnicas de administragao, o significado ainda per- manece bastante impreciso. Na maioria das vezes, ele aparece associado a pro- cessos produtivos (industriais), que se de~ senvolveram associados a determiinados tipos de tecnologia, que tém por objetivo promover a ampliaciio ou a integragao fabril. Mas hé também quem o utilize para deserever um fendmeno politico: a esco- Iha de seus dirigentes dentro de uma pers- pectiva normativa e estatutéria ou de su- bordinacao politico-cultural. De uma maneira geral, podemos di- zer que 0 termo ailtogestio estd sendo utilizado muito mais para designar uma matriz de conhecimento, relacionada a determinados métodos ou técnicas admi- nistrativas, do que, ao mistificar o lado gerencial do processo de trabalho, a rea- lidade organizacional como resultado das praticas sociais de atores em um deter- minado contexto (histérico, geopolitico, espacial, etc.), Por outro lado, pensar autogestao ape- nas a partir do referencial “cooperativo” significa reduzir a agdo coletiva & mito- logia do “bom selvagem”, que dissimula a realidade social ¢ a complexidade do processo de produgo, induzindo & cren- ca nostalgica de que uma relagio simples esd entre aqueles que produzem pode ser promovida através de sistemas de parti- cipagiio propostos e de responsabilidade apenas gerencial. Como sabemos, autogestao nao é um conceito novo: enquanto forma de organi- zagio produtiva pode ser identificada em diferentes momentos histéricos: nos fa- lanstérios, nas experiéncias da Comuna de Paris, nos sovietes da Revolugio Russa, nas propostas anarquistas e como propos- ta de gestdo ¢ organizaciio para diferentes espacos econémicos agricolas ¢ urbanos. Mas a adogiio generalizada dessas pri- ticas organizativas autogestiondrias se deu efetivamente na segunda metade do sécu- lo XX, relacionada com 0 actimulo pro- duzido por diversas praticas historicas. Em verdade, como assinala Defour- ny, “ndo existe uma definigdo geral de au- togestdo e a diversidade de concepgdes sobre a empresa autogerida entre os cien- tistas € apenas levemente menos grande que entre a opiniio ptiblica”. (Defourny, 1988, p.141) Tal fato, no entanto, nao impede de localizar que desde a sua origem as ex- periéncias autogestiondrias sempre esti- veram relacionadas com as lutas dos tra- balhadores e principalmente do movi- mento operdrio, Nesse sentido, nao se esté falando apenas de um conjunto de ages que sistematizam 0 controle das ativida- des de uma organizagiio pelo quadro so- cial ou como modelo de gerenciamento referente & alocagiio de recursos e desig- nagiio de responsabilidades, controles de gestdio, mas de praticas sociais que se construiram, sao localizadas, datadas e legitimadas historicamente. £ importante destacar que langar ma0, de uma retrospectiva histérica no se re- A outra economia 21 duz apenas a um exercicio légico de in- ventariante, mas como fator necessfrio para compreender a dimensto de um fenémeno social nocontexto da produgao que se cons- trdi € se reconstréi incessantemente, con- correndo para que a vida se reinvente. Com as mudangas na organizagao da produgiio ¢ com a necessidade dos setores produtivos de se adequarem aos pardime- tros de mercado, agora globalizado, veri- fica-se cada vez mais a implementagiio de uma ldgica gestionéria que incide sobre os fatores de producdo; si novos ritmos de produgo, novas tecnologias, novas for- mas de organizar a méo-de-obra, afetando de forma diferenciada os trabalhadores, A idéia da autogestio ressurge com forca atual, muito em fungiio dos efeitos perversos da reestruturagio produtiva: 0 desemprego, daf 0 caréter plural da sua compreensio. De um lado, autogestio assume uma. conotagao fortemente econémica, asso- ciada a uma “necessidade gerencial ca- paz de salvar empresas da faléncia e evi- taro desemprego ém massa” (Pires, 1999, p.85) e, de outro, ressurge retomando as lutas politicas e ideolgicas que deram origem 20 conceito, isto é, associada com um ideal utépico, de transformagiio e de mudanga social. Entendemos que, para os efeitos da “outra economia” ou da economia soli- daria, ambos os componentes esto es- treitamente relacionados e fazem parte es- sencial do conceito, mas que para uma melhor compreensao as diferentes dimen- ses a que o conceito se refere devem ser explicitadas. Autogestéio na sua dimensdo social - No verbete autogestio do Diciondrio de politica, Massimo Folins aponta que “em substiincia, o prinéfpio da autogestiio se refere simultaneamente a uma particular modalidade de organizagiio do proceso gerencial dentro das empresas e, no pla- no social mais global, a uma forma parti- cular de organizacdo coletivista, dando lugar a uma configuragao econdmica ori- ginal, cujo trago principal estd em sua re- feréncia a princfpios proprios de diver- sas filosofias econdmicas, aparentemen- te inconcilidveis: a superagio, de um lado, da apropriagao privada da mais-valia e, conseqiientemente, da relagtio do siste- ma com o parametro do lucro; do outro, a manutengao da livre iniciativa das uni-~ dades econémicas”. Essa representagao merece ser desta- cada; contudo, a perspectiva holfstica do conceito torna difusa e ambigua sua com- preensiio porque dé relevaincia muito mais ao aspecto técnico gestiondrio do que a um processo social de praticas sociais ino- vadoras. Essa leitura nao é nova e se apéia no conceito de produtividade e eficdcia (Hage, 1984; Morin, 1989), por isso deve ser percebida na sua ambigilidade. Difu- so e ambiguo porque o exame do proces- so de transformagdo das normas de orga- nizagiio, do trabalho, para adequar-se as novas exigéncias de um regime de acu- mulagao, traduz nao s6 uma estratégia social, mas a hegemonia de prati ciais definida por um ator social — as em- presas — que precisa ser explicitado. Com efeito, no quadro de globalizagao da economia, a transformagio dds proces sos de producdio nas émpresas se legitima por um discurso neoliberal que, centran- do-se sobre prinefpios de liberalizacao, abertura internacional, flexibilizagaioe pri- vatizagao dos sistemas produtivos econé- micos nacionais, se apresenta como causa da mudanga c sfmbolo de modernidade. As estratégias das empresas so ¢ es téo muito parecidas: flexibilidade inter- so- A outra economia 22 na e externa, modos de organizacio do trabalho em equipés, nos quais a polive Iéncia funcional aparece como sinal de mobilidade dos trabalhadores e aniquila os pontos de referéncid antigos, que eram os parametros sinalizadores das praticas dos atores sociais no espaco produtivo, Autogestao passa a significar, segun- do os prinefpios neoliberais, uma utiliza- ¢Ao operacional mais intensa de novas tecnologias, a liberalizagio no uso dos fatores sociais de producao e uma acele- de rotagdo do capital (fixo e cireu- lante) das empresas. Nas empresas capitalistas, os princi- pais argumentos a favor das “novas” for- mas de organizagio do trabalho, intitula- das “autogestéo”, neutralizam seu card- ter de critica radical porque sfio apresen- tadas apenas como mais uma técnica ge- rencial que possibilita reduzir defeitos de produgao e aumentar a produtividade. Autogestdo apenas como tecnologia de gestao - Os termos explicativos da reali- dade produtiva e do processo de trabalho na autogestio mistificam o lado empresa- rial e da gestdo, na medida em que nas ex- plicagdes e interpretagdes predomina a perspectiva empresarial, o que de um lado mascara a critica ¢ de outro relativiza a multidimensionalidade do conceito. Apesar do termo autogestaio ter-se tor- nado corrente com a globalizagao das téc- nicas de administragio, seu significado todavia permanece bastante impreciso. Na maioria das vezes, aparece associado a processos produtivos (industriais), que se desenvolveram associados a determi- nadbos tipos de tecnologia, que tém por objetivo promover a ampliagao ou a in- tegragao fabril. H4 também quem o utili- ze para descrever um fendmeno politico: a escolha de seus Ifderes dentro de uma perspectiva normativa e estatutaria cuja énfase técnico-jurfdica apenas aponta para uma subordinagao politico-cultural. De maneira geral, podemos dizer que © termo autogestio esta sendo utilizado muito mais para designar uma matriz de comportamento relacionada a determina- dos métodos ou técnicas administrativas © que, ao mistificar 0 aspecto. gerencial do processo de trabalho, desconsidera a realidade organizacional enquanto resul- tado de praticas sociais de atores plurais em um determinado contexto (histérico, geopolitico, espacial, etc.). Por isso esté cada vez mais dificil de compreender as diferengas dos processos produtivos, sejam eles das empresas ca- pitalistas ou de empresas cooperativas, porque as novas tendéncias do processo de produgao (automatizagao, informati- zag2o, terceirizagao dos processos ¢ ser- vigos) sinalizam ¢ dissimulam a realida- de social e a complexidade do processo de produgdo. Tal fato concorre para a crenga nostilgica de que uma relagao sim- ples ¢ sadia entre aqueles que produzem pode ser promovida através de sistemas de participagdo e de responsabilidade compartilhadas em nivel da execugio. Nos parece que, pensar a autogestio a partir deste referencial “cooperativo”, sig- nifica reduzir um processo que por sua natureza é democratico e transformador do “mito do bom selvagem”. Oconceito de autogestéio é um tema que acompanha a hist6ria do cooperativismo e ainda podeser considerado tema nebulo- 80, a ponto de merecer contfnuas reflexdes, dada a possibilidade de explicagées fala- ciosas ¢ equivocadas sobre o assunto. Autogestdo como critica radical - O sentido critico e radical proposto por uma nova forma de gestiio, auténoma do con- junto social, pode ser marcado por des- vios e zigtiezdgues, Em um balango glo- Aoutra economia 23 bal, podemos dizer que é uma trajet6ria frdgil; do ponto de vista de experiéncias concretas, sobretudo no campo dos traba- Thadores. Talvez tenha estado mais ativa ‘ho campo das idéias e no debate sobre al- ternativas socialistas, presentes nas vérias correntes socialistas (Nascimento, p.1). Entretanto, afirma-se cada vez mais 0 significado de autogest&io como nova for- ma de gestao aut6noma do conjunto so- cial que remete a outras formas radical- mente novas de organizagiio, n&o s6 da economia, mas também da educagao e da politica global. : Independente da fragilidade des processo, deve ser entendida como “um sistema de organizagao das atividades sociais, desenvolvidas mediante a agio intencional ¢ convergente de varias pes- soas (atividades produtivas, servigos, a , Vidades administrativas), onde as deci ses relativas aos destinos do grupo so diretamente tomadas por quantos parti- cipam, com base na atribuigao do poder decis6rio as coletividades definidas por cada uma das estruturas especfficas de ati- vidade (empresa, éscola, bairro, etc.). Sao, portanto, identificdveis duas de- terminag6es essenciais do conceito de autogestdo: a) superar a distingao entre quem toma as decisdes"e quem as execu- tae b) autonomia deciséria de cada uni dade de atividade, ou seja, a superagaio da interferéncia de vontades alheias as coletividades concretas na definigio e escotha do que fazer. Assim sendo, autogestio adquire seu carditer de radicalidade, pois passa a ser elemento fundante da vida associada e do fazer cotidiano. Follins diz que estas dua determinag6es qualificam a autogestio como “principio elementar de mogifica- Gao das relagGes sociais e pessoais, no sentido de reapropriaciio do poder deci- s6rio relativo a uma dada esfera de ativi- dade contra qualquer autoridade, embo- ra legitimada por anterior delegagao”, Empresa autogerida: como modelo or- ganizacional e como modelo de gestéio - Nesse sentido, uma empresa autogerida é uma organizago produtiva sobre a qual o poder de decisao tiltimo pertence de for- ma exclusiva a seus trabalhadores e é re- partido de forma igualitaria entre todos eles, qualquer que sejam suas qualifica- Ges ou seus aportes em capital. ‘A maior parte dos economistas da au- togestao e em todo caso aqueles da tradi- Gao neoclissica acrescentam um segun- _ do elemento ao né central da definigao: © ganho liquido, apés dedugio das des- pesas de exploragio, do abatimento do capital e dos impostos eventuais, é divi- dido entre os trabalhadores segundo cer- tas regras (Defourny, 1988, p.141) Falar entaio em autogestdo remete-a as- pectos diferentes (positivos ¢ negativos) tanto naquilo que diz respeito & gestio como sobre as conseqtiéncias econdmi cas do empreendimento, que é preciso ex- plicitar: + (4) amplia-se a capacidade produ- tiva dos ‘trabalhadores, porque em um ambiente mais democratico; experiéncia profissional melhor conservada na em- presa; redugdo da rotatividade dos tra- balhadore: + (-) a participagao na gestéio, na pro- priedade e nos beneficios engendra uma maior acumulagao.de capital humano, porque os trabalhadores sio mais estimu- Jados, tanto do ponto de vista moral como. material, mas a participagdo dos trabalha- dores na gestio reduz a capacidade pro- dutiva, pois ela hipoteca’ dois atributos essenciais dos dirigentes: sua autoridade ¢ seu poder discrecional; A outra economia 24 + (+) os trabalhadores cuidam da qua- lidade de sua produgio porque ttm uma percepgdio mais positiva de seu trabalho, um sentido elevado de suas responsabili- dades ¢ 0 desejo de aumentar seus rendi- mentos, determinados pela produtivida- de da empresa; . * (-) nfio fica objetivado na discussaio dos processos autogestionarios quais os estimulos mais efetivos; em todo caso fica implicito que, dependendo de como se or- ganiza o trabalho, os estimulos materiais au os de participagaio abrem possibilida- des para uma politica de emulagio e ma- nipulaga + (4) implicagao pessoal do trabalha- dor sobre a produtividade dos seus cole- gas é maior porque desaparece o confron- to tradicional entre patrao e empregado. Sendo que, neste caso, a presstio do gru- po corresponde a um processo de vigi- Jancia mitua, que reduz o absentismo e pune a preguiga e 0 desperdicio. + (-) € preciso ter presente que, no quadro de um trabalho em equipe, ame- digdo da produtividade individual é mui- to dificil; + (+) aumenta a eficdcia organize nal. Um ambiente participativo facilita a comunicagao ¢ esta, por sua vez, favore- ce a identificacdo de ineficdcias organi- zacionais que os trabalhadores nao teriam necessariamente interesse de identificar em um contexto néo-cooperativo. Capa- cidade de flexibilidade: horérios, condi- gGes de trabalho, redugdo de custos de supervisiio e de vigiléncia. ‘io *(-) um espago produtivo autogestio- ndrio remete a ambientes de incerteza. Autogestao na “outra economia” - A autogestao na “outra economia” afirma- se como um modo do agir coletivo, se- gundo 0 qual os prinefpios da agao social se formam na experiéncia concreta e de- rivam do significado dado as intengdes ou as idéias que fundamentam o grupo; vao além da celebragaio de um contrato mitituo que estabelece obrigagées visan- do a objetivos comuns. A esséncia dessa pratica social esté fundada na repartig%io do poder, na repar- tigdo do ganho, na unio de esforgos e no estabelecimento de um outro tipo de agir coletivo que tem na cpoperagao qualifi- cada a implementagao de um outro tipo de ago social. Assim sendo, tanto a sua dimensdo mais restrita, que diz respeito & produgdo (economia, trabalho), como a sua dimen- siio mais ampla, que diz respeito a repro- dugao social (politica, territérios), pensar autogestao vinculada a um outro tipo de ago social, que busca pela reapropriagio da sua forga produtiva geral, nao s6 a pro- mogio do desenvolvimento do individuo como sujeito social, mas também ressig- nificar as préticas sociais relacionadas & organizagao do trabalho associando-as a idéia-forga de mudanga radical e de trans- formagao da sociedade capitalista. Bibliografia BOBBIO, N.; MATEUCCI, N. Diciond- rio de politica. E DEFOURNY, J. Coopératives de produc- tion et enterprises autogérées: une synthése du débat sur Jes effets économiques de la par- ticipation. Mondes em Développement. PIRES, M-L. L. S. Cooperativismo: en- tre 0s ideais ut6picos ¢ as exigéncias da com- petitividade do mercado, Um estudo de caso de uma cooperativa fruticola no Vale de Sao Francisco. Perspectiva Econdmica. VIEITEZ, C. G.; Dal Ri, N. M. Trabalho associado: cooperativas e empresas de auto- gestdo. A outra economia 25 NOGUEIRA FILLHO, P. Autogestao. Participagao dos trabalhadores na empresa. ALBUQUERQUE, P. P. Elementos para a construg’io de um conceito de empresa au- togestionétia. Perspectiva Economica VIEITEZ, C. G.; Dal Ri, N. M. Trabalho associado: cooperativas e empresas de auto- gestii. WOODCOK, G. Histéria da idéias e mo- vimentos anarquista. HOLZMANN, L. Operdrios sem patrao; gestiio cooperativa e dilemas da democracia, KRAYCHETE, G. L.; Costa, B. F. (Orgs.) Economia dos setores populares: entre a re- alidade e a utopia. NASCIMENTO, C. Autog: mia solidéria. to e econo- Cadeias produtivas Ree EE Ny 1. As cadeias produtivas compdem to- das as etapas realizadas para elaborar, dis- tribiir e comercializar um bem ou servi- go até o seu consumo final, Algumas con- cepgées também integram o financiamen- to, desenvolvimento e publicidade do pro- duto; considerando que tais custos com- pdem o custo final e Ihe incorporam va- lor a ser recuperado gragas 4 venda do produto, Em outras palavras, uma cadeia produtiva pode ser mapeada, levantando- se os itens que foram consumidos ou rea- lizados para a produgao de um bem ou servigo. Quando consideramos as cadei- as produtivas em economia de rede, par- timos sempre do consumo final e produ- tivo, para entao compreendermos as co- nexGes ¢ fluxos de matérias, informagdes € valores que circulam nas diversas eta- pas produtivas em seu processo de reali- mentago, A reorganizagao solidaria das cadeias produtivas, sob a l6gica da abun- dancia, amplia os beneficios sociais dos ‘empreendimentos em fungao da distribui- go de riqueza que operam, visando a sus- tentar 0 consumo nas préprias redes. 2. Os sistemas de rede na economia solidéria nem sempre do maior impor- tancia a andlise e recomposigao das ca- deias produtivas. Praticas de fair trade, em geral, nao exigem a certificagio dos fornecedores de insumo, mas apenas que 0 empreendimento produtivo, que gera 0 bem a ser consumido, respeite os critéri- 0s éticos e ambientais requeridos. Redes de troca, igualmente, centrando a aten- ¢40 no momento do intercimbio, nao es- tabelecem uma estratégia global de inter- feréncia sobre as cadeias produtivas. Outras redes mais complexas, entre- tanto, que integram organizacées solidé- tias de crédito, consumo, produgio, co- mércio ¢ servigos, passaram a refletir so- bre as melhores estratégias de expansaio e consolidagdio dessas redes, chegando- se A percepgaio da necessidade de remon- tar solidariamente as cadeias produtivas. Essa progressiva remontagem possibili- taria 4 economia solidaria converter-se paulatinamente no modo de produgao socialmente hegeménico e no apenas em uma esfera de atividade econémica de segunda ordem, paleativa ou complemen- tar, destinada apenas a atender popula- ges pobres ou marginalizadas pelos movimentos dos capitais. A idéia basica dessa remontagem con- siste em substituir fornecedores de insu- mos que operam sob a légica do capital por fornecedores que operam sob a légica Aoutra economis 26

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