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Ensaio Final - Símbolos
Ensaio Final - Símbolos
Licenciatura em Antropologia
Maio 2021
Enrique Burunat explica que uma das manifestações de amor são as carícias, e que
estas devem-se aos recetores sensoriais extremamente sensíveis das palmas das mãos e
dos dedos, que permitem aos primatas (hominídeos) expressarem o amor que sentem uns
pelos outros. O autor dá o exemplo das cócegas que possivelmente estão associadas às
práticas que incentivam a comunicação do ser humano, para expor a importância das
mãos como um papel fundamental na experiência e comunicação do amor.
O autor supõe que a conceção do amor na evolução humana deve ter sido
associada aos circuitos cerebrais responsáveis pela empatia e por isso menciona a
importância da relação entre o cérebro e o amor.
De acordo com Enrique Burunat “The substrate of love involves several cortical
and subcortical structures of various functional systems, for example, the mesolimbic
reward circuit already mentioned and which is involved in its addictive character, but
also others, such as the mirror neuron system and the mentalizing system.” (Love is the
cause of Human Evolution, 2014), estes circuitos são essenciais para o ser humano
conseguir interagir no meio social e nas suas relações mais íntimas (família), no entanto,
sempre que exista uma falha nestes circuitos, desenvolvem-se perturbações na mente
humana, como por exemplo, o autismo e a esquizofrenia.
Por outras palavras, Burunat afirma que o amor maternal é um dos pilares da
formação da mente humana e por isso o amor deve ser considerado um fator crucial da
epinefrina genética para o desenvolvimento do cérebro e da mente humana.
Para explicar a hipótese do cuidado partilhado Sarah Blaffer Hrdy, afirma que o
ato de partilhar e cuidar já era manifestado no tempo em que os seres humanos viviam
como caçadores e recolectores. Nessa época, uma criança desde muito nova já mostrava
interesse em comunicar com os outros e desta forma também estaria habituada a ser
alimentada e tratada por vários membros do seu grupo/sociedade.
Todavia, o ato de partilhar no ser humano não se observa apenas entre membros
da mesma sociedade, com também entre sociedades, por exemplo, a prática de troca de
presentes na Melanésia, onde os intervenientes viajam centenas de quilômetros de canoa
para oferecerem e, por conseguinte, fazerem circular objetos de valor, que podem ser
vistos na Nova Zelândia, Samoa e nas Ilhas Trobriand.
Sarah Blaffer Hrdy explica que as mães humanas, por norma, são mais tolerantes
aos cuidados-partilhados no pós-parto do que as mães macacas, pois são mais capazes de
avaliarem os custos e benefícios de seu próprio comportamento do que os macacos, ou
seja, as mães humanas têm mais consciência de que precisarão de ajuda para criarem os
seus bebés. Assim, “…the mother lays the foundations for the emotional bonds that link
her baby to potential carers and vice versa…” (Mothers and Others, 2011), para que os
membros do grupo saibam que ela está a contar com a ajuda deles. Outro fator, consiste
na confiança que a mãe tem nas boas intenções do seu grupo, permitindo que esta baixe
a hiper-vigilância compulsiva. O mesmo não acontece com os macacos.
Por norma, os filhos são mais apegados às mães, contudo, as crias das espécies de
macacos noturnos de olhos arregalados do género Aotus são mais apegados aos pais, do
que às mães. Estes pais não só alimentam os seus bebés, como também os carregam para
todo o lado. Isto é, os pais seguem as mães, dia-após-dia, carregados com a cria e sempre
que esta necessitar de alimento, o pai coloca-a perto da mãe.
Por outras palavras o autor defende o aumento do poder dos imperativos de ordem
cultural sobre os imperativos de ordem natural, ou seja, existe uma oposição entre
natureza e cultura. Por exemplo, os humanos há cerca de cinquenta mil anos, começaram
a ser atraídos uns pelos outros e passaram a selecionar os seus pares de acordo com as
características culturais, ou seja, as leis da evolução estritamente biológica ficaram como
"suspensas", porque foram suplantadas pelas leis mendelianas.
A partir do século XIX até ao início do século XXI, os estudos sobre a auto-
domesticação ignoraram totalmente a natureza biológica do fenómeno e substituíram-no,
por uma estrutura antropocêntrica, na medida em que, o conceito foi analisado através de
uma noção simplista que igualava a domesticação humana a uma noção arqueológica de
domesticidade.
Conclusão
A Cognição, a Comunicação, a Linguagem e os Símbolos são conceitos
importantes para a compreensão da evolução do ser humano. A cognição permite ao ser
humano cogitar sobre algo ou alguém e, por conseguinte, permite criar um conjunto de
representações de ordem prática e simbólica, e assim permite criar uma visão
cosmológica. Todos os seres humanos, independentemente da sua cultura ou sociedade,
possuem vertentes que interligam a coexistência entre os mundos reais e os míticos, pois
sem esta interligação, não haveria inteligibilidade e, por conseguinte, remeteria para a
incapacidade de entender e justificar a sua existência a nível individual e social. A este
“acontecimento” Eduardo de Taylor e outros antropólogos apelidaram de Animismo.
Todos os seres vivos comunicam-se através de sinais, sons, entre outros. Contudo,
só o ser humano possui linguagem verbal e articulada, ou seja, a capacidade de traduzir e
expressar os seus pensamentos recorrendo à linguagem simbólica que é condicionada
socioculturalmente. A arte rupestre é um exemplo dos primórdios da sua manifestação
artística, ou seja, da sua manifestação simbólica. Por outras palavras, o ser humano
consegue criar narrativas sobre si mesmo, ou sobre os outros. Assim, revela ter
autoconsciência e capacidade de criar estórias, através da sua memória descritiva num
dado espaço temporal. O ser humano ao ter consciência da sua existência, a nível
cronológico e espaço sociocultural, contribuiu imenso para a sua identidade individual e
social e, por conseguinte, para o entendimento de quem “ele” é.
Contudo, é importante salientar a noção de que cada ser constrói o “seu” mundo a partir
das suas capacidades sensoriais / motoras, ou seja, relacionam-se com o mundo,
comunicam com ele e recebem estímulos de forma diferenciada. Isto permite-nos afirmar,
que a troca de informação que cada ser humano mantem com os seus ecossistemas, é
personalizada.
Desta forma, a continuidade das espécies, passou a ser determinada pela Auto-
Domesticação e a evolução biológica darwiniana deixou de fazer sentido, ou seja, os
humanos passam a intervir através da seleção intencional devido a fatores culturais,
alterando assim as leis evolutivas normais.
Bibliografia