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reprodução

animal
..
Frontispício: o início da vida. A trompa: espermatozóides e óvulos são transportados, simultaneamente, em
direção oposta; a hiperativação espermática e a maturação final dos óvulos são completadas antes do transporte
dos espermatozóides para a zona pelúcida e da fertilização.
reprodução
animal
""'1

MANUEL GUILHERME RAMOS


."-

Editado por

E.S.E. HAFEZ

Diretor Executivo
Reproductive Health Center
IVF/Andrology International
Kiawah Island, South Carolina, USA

6!!Edição

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'i1:I!!
EDITORA
MANOLE
LTDA.

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~. CENTERBOOI(
~
Av Amazonas. 1810 . 38.405.302
Telelax (34) 3232-9650 I 3211.7385
. Rua Ralael MaMo Neto. 600 . li. 23
Telelax (34) 3214-9533. Uberlãndía.MG
prefácio
A primeira edição, publicada em 1962, criopreservação de embriões e do sêmen em
abordou os aspectos básicos e comparativos congeladores computadorizados. A maioria
da fisiologia da reprodução de um modo sim- das investigações revisadas nesta edição são
plificado a fim de atender às necessidades dos primordialmente baseadas em pesquisas
estudantes de biologia reprodutiva, de medi- holísticas do que naquelas aos níveis
cina veterinária e de ciências animais. Este submicroscópico ou molecular. Contudo, a
objetivo continua válido nesta sexta edição, excitação gerada pelos recentes avanços na
representando uma dissertação condensada biologia e desenvolvimento molecular tende
e concisa da fisiologia e da bioquímica da re- a diminuir o valor da pesquisa do animal como
produção dos animais domésticos. O livro está um todo. Não houve intenção de fornecer uma
dividido em seções principais e estas, por sua bibliografia detalhada, embora estejam sele-
vez, estão liberalmente classificadas em dois cionados no final de cada capítulo, alguns tra-
fatores dominantes: os componentes do siste- balhos clássicos e artigos de revisão.
ma reprodutivo e a regulação de seu proces- Esta edição não poderia ter sido revisada
so, desde o controle da ovulação até o início sem a cooperação de autores colaboradores e
do parto. O leitor irá notar as profundas dife- sua espontaneidade em seguir a orientação
renças entre as várias espécies animais. Para editorial. Os capítulos foram concisamente
direcionar este objetivo, abordamos aspectos editados e os conceitos principais foram re-
particulares das principais espécies quando sumidos em tabelas suplementadas por de-
julgados apropriados, de modo que o estudan- senhos lineares e microfotografias eletrôni-
te de reprodução possa verificar as semelhan- cas de varredura. Todos os capítulos foram
ças e as diferenças entre elas. totalmente revisados e condensados. Fizemos
Durante a última década houve significa- muitos cortes da quinta edição, assim como
tivos avanços nos principais conceitos da re- introduzimos conceitos novos e modernos,
produção animal, resultantes de como os "fatores do crescimento", genética e
biotecnologias modernas como a imunologia biologia molecular e micromanipulação "in
e o radioimunoensaio; andrologia; bioquími- vitro" de gametas e embriões.
ca; criobiologia; culturas de tecidos, de órgãos Alguns apêndices tabulados incluem: nú-
e de células; os hormônios libera dores mero de cromos somos e habilidade
gonadotróficos e seus análogos. Técnicas mo- reprodutiva nas espécies bovina, caprina,
dernas da bioengenharia dos animais domés- equina e alguns de seus híbridos; doenças da
ticos envolvem a microinseminação, a reprodução de origem virótica, protozoária ou
recombinação do DNA, e a manipulação "in bacteriana; preparo de soluções fisiológicas,
vitro", transferência e expressão de genes. corantes de espermatozóides, meios de cultu-
Estas técnicas foram enormemente melhora- ra de tecidos e crioprotetores. Estes apêndi-
das com a utilização de computadores, ces demonstraram sua utilidade em demons-
microcomputadores e "kits" analíticos e de trações e exercícios de laboratório, em cursos
diagnóstico, disponíveis comercialmente. de treinamento para professores, técnicos de
Uma grande variedade de técnicas tem sido laboratório e estudantes. Esperamos que a
empregadas para estudo do sêmen, tais como sexta edição possa ajudar alunos dedicados
a avaliação da habilidade fertilizante do às ciências animais e à medicina veterinária,
espermatozóide utilizando a zona livre do ovo assim como aos pesquisadores e professores.
de hamster (fresco ou congelado); o padrão de
motilidade através da microscopia com
videotape; a penetrabilidade "in vitro" do E.S.E. Hafez
espermatozóide no muco cervical bovino e a Kiawah Island, South Carolina, USA

vii
con teúdo

I. anatomia funcional da reprodução


1. Anatomia da Reprodução Masculina 3
RR Ashdown e E.S.E. Hafez

2. Anatomia da Reprodução Feminina """"""'" 21


E.S.E. Hafez

11. fisiologia da reprodução

3. Hormônios, Fatores de Crescimento e Reprodução 59


E.S.E. Hafez

4. Ciclos Reprodutivos 95
E.S.E. Hafez

5. Foliculogênese, Maturação do Ovo e Ovulação 115


E.S.E. Hafez

6. Transporte e Sobrevivência de Gametas """"""""""""""""""""""""""""""""""'" 146


E.S.E. Hafez

7. Espermatozóides e Plasma Seminal 167


D.L. Garner e E.S.E. Hafez

8. Fertilização, Clivagem e Implantação """"""""""""""""""""""""""""""""""""" 191


F.w. Bazer, RD. Geisert e M.T. Zavy

9. Gestação, Fisiologia Pré-Natal e Parto """""""""""""""""""""""""""""""""""'" 217


M.R Jainudeen e E.S.E. Hafez

10. Comportamento Reprodutivo 241


E.S.E. Hafez

xiii
xiv Conteúdo

IH. distúrbios reprodutivos

11. Distúrbios Reprodutivos nas Fêmeas 265


M.R. Jainudeen e E.S.E. Hafez

12. Distúrbios Reprodutivos nos Machos 291


M.R. Jainudeen e E.S.E. Hafez

13. Genética dos Distúrbios Reprodutivos 302


M.R. Jainudeen e E.S.E. Hafez

IV. ciclos reprodutivos


14. Bovinos e Bubalinos """"""""""'" 319
M.R. Jainudeen e E.S.E. Hafez

15. Ovinos e Caprinos 335


M.R. Jainudeen e E.S.E. Hafez

16. Suínos 348


L.L. Anderson

17. Equinos 366


E.S.E. Hafez

18. Aves Domésticas """"""""""""""""""""""""""""""""'" 390


M.R. Bakst e J.M. Bahr

V. técnicas para melhorar a eficiência reprodutiva

19. Avaliação de Sêmen 411


E.1S.E.Hafez

20. Inseminação Artificial """"""""""""""""""""""""""" 431


E.S.E. Hafez

21. Espermatozóides Portadores de Cromossomos X e Y 448


E.S.E. Hafez
Conteúdo xv

22. Diagnóstico de Gestação 454


M.R. Jainudeen e E.S.E. Hafez

23. Tecnologia Reprodutiva Assistida: Manipulação da Ovulação, Fertilização In Vitro,


Transferência de Embrião (FIV /TE) " 469
E.S.E. Hafez

24. Preservação e Crio preservação de Gametas e Embriões 513


E.S.E. Hafez

Glossário de Biologia Reprodutiva , 537

Glossário de Abreviações Comuns , , 547

Apêndices 551

Índice 569
I. anatomia funcional
da reprodução
1
ANATOMIA DA REPRODUÇÃO MASCULINA
RR ASHDOWN e E.S.E. HAFEZ

As gônadas masculinas, os testículos, lo- corpos cavernosos formando o corpo do pênis,


calizam-se exteriormente no abdômen dentro que situa-se por baixo da pele da parede
do escroto, estrutura em forma de bolsa deri- corpórea. Um certo número de músculos
vada da pele e fáscia da parede abdominal. grupados ao redor da saída pélvica contribui
Cada testículo situa-se dentro do processo para formar a raiz do pênis. O ápice ou extre-
vaginal, extensão separada do peritônio que midade livre do pênis é coberto por pele mo-
passa através da parede abdominal pelo ca- dificada - o tegumento peniano; em condição
nal inguinal. Os anéis inguinais interno e de repouso ele permanece encerrado dentro
externo são as aberturas profunda e superfi- do prepúcio. As características topográficas
cial do canal inguinal. Os vasos sanguíneos e dos órgãos de importantes espécies animais
nervos atingem os testículos no cordão estão demonstradas na Figura 1-1. Descrições
espermático, que localiza-se dentro do proces- detalhadas dos órgãos são fornecidas por
so vaginal; o duto deferente acompanha os Nickel et aI. (1973).
vasos porém abandona-os no orifício do pro- Os testículos e epidídimos são irrigados
cesso vaginal para juntar-se à uretra. Além com sangue da artéria testicular, que se ori-
de permitir a passagem do processo vaginal e gina da aorta dorsal próximo à localização
seus componentes, o canal inguinal também embrionária dos testículos. A artéria pudenda
dá passagem a vasos e nervos que suprem a interna supre a genitália pélvica e seus ra-
genitália externa. mos deixam a pelve no arco isquiático para
Os espermatozóides abandonam os testí- suprir o pênis. A artéria pudenda externa
culos pelos canais eferentes que penetram no deixa a cavidade abdominal via canal inguinal
duto tortuoso dos epidídimos, continuando no a fim de suprir o pênis, o escroto e o prepúcio.
duto deferente reto. Glândulas acessórias li- A linfa dos testículos e dos epidídimos passa
beram seus conteúdos para o interior dos para os nódulos linfáticos aórticos lombares.
dutos deferentes ou na porção pélvica da A linfa das glândulas acessórias, da uretra e
uretra. do pênis passa para os nódulos ilíacos mediais
A uretra origina-se no colo da bexiga. Em e sacrais. A linfa do escroto, prepúcio e teci-
toda sua extensão ela é cercada por tecido dos peripenianos é drenada para os nódulos
vascular cavernoso. A sua porção pélvica, cir- linfáticos inguinais superficiais.
cundada por músculo uretral estriado e rece- Nervos aferentes e eferentes (simpáticos)
bendo secreções de várias glândulas, passa acompanham a artéria testicular aos testícu-
para uma segunda porção peniana na saída los. O plexo pélvico supre fibras autônomas
pélvica. Nesta região ela é unida por mais dois (simpáticas e paras simpáticas) para a

3
4 Anatomia Funcional da Reprodução

TOURO

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~fiijj~~
vg

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FIG. 1.1. Diagr.ama do trato reprodutivo masculino visto em dissecção lateral esquerda. a, Ampola; bu, glândula
bulbouretral; capo e, cabeça do epidídimo; caud. e, cauda do epidídimo; cp, pedúnculo esquerdo do pênis, separado do
ísquio esquerdo; dd, duto deferente; ds, divertículo dorsal do prepúcio; es, prepúcio externo; te, extremidade livre do
pênis; is, prega prepucial;pg, glândula prostática; r, reto; rp, músculo retratar do pênis; s, escroto; sf, flexura sigmóide;
t, testículo; up, processo uretral; vg, glândula vesicular. (Adaptado de Popesko (1968). Atlas der topographischen
Anatomie der Haustiere. VoI. 3, Jena, Fischer.)

genitália pélvica e para os músculos lisos do ao duto mesonéfrico, para formar o epidídimo,
pênis. Nervos sacros suprem fibras motoras o duto deferente e a glândula vesicular. A
para os músculos estriados do pênis e fibras próstata e as glândulas bulbouretrais for-
sensitivas para a extremidade livre do pênis. mam-se a partir do sinus urogenital embrio-
Fibras aferentes do escroto e do prepúcio di- nário e o pênis forma-se pela tubulação e alon-
rigem-se principalmente ao nervo genito- gamento de um tubérculo que se desenvolve
femoral. no orifício do sinus urogenital.
Dois agentes produzidos pelos testículos
DESENVOLVIMENTO fetais são responsáveis por esta diferencia-
ção e desenvolvimento (Gondos, 1980).
Desenvolvimento Pré-natal Andrógenos fetais são responsáveis pelo de-
senvolvimento do trato reprodutivo masculi-
Os testículos desenvolvem-se no abdômen, no. A "substância.inibidora MüIleriana", uma
medialmente ao rim embrionário (meso- glicoproteína, é responsável pela supressão
nefros). O plexo de dutos dentro do testículo dos dutos paramesonéfricos (MüIlerianos) a
liga-se aos túbulos mesonéfricos e deste modo partir dos quais desenvolvem-se o útero e a
Anatomia da Reprodução Masculina 5

vagina (Vigier et aI., 1983). Anormalidades testis. O tempo de descida varia (Tabela 1-1).
na diferenciação e no desenvolvimento das No garanhão, o epidídimo comumente pene-
gônadas e dos dutos podem resultar em va- tra no canal inguinal antes do testículo e a
riados graus de intersexualidade (Hare e porção do ligamento inguinal que liga os tes-
Singh, 1979). tículos e epidídimos (ligamento próprio do
testículo) permanece extensa até após o nas-
Descida dos Testículos cimento.
Ocasionalmente, o testículo pode falhar de
Durante a descida testicular (Wensing, entrar no escroto. Nesta condição (crip-
1986), a gônada migra caudalmente dentro torquidismo) as necessidades térmicas espe-
do abdômen para o anel inguinal interno. ciais dos testículos e epidídimos não são su-
Atravessa então a parede abdominal, emer- pridas, embora a função endócrina dos
gindo no anel inguinal superficial, que é na testículos não seja prejudicada. Por esta ra-
realidade, o forame muito aumentado do ner- zão machos criptorquídeos bilaterais demons-
vo genitofemoral (L3, L4). O testículo com- tram desejo sexual mais ou menos normal,
pleta a migração localizando-se totalmente no mas são estéreis. Ocasionalmente alguma
escroto. A descida é precedida pela formação víscera abdominal passa através do processo
doprocesso vaginal, uma dilatação peritoneal vaginal e penetra no escroto; a hérnia escrotal
que se estende através da parede abdominal é particularmente comum em suínos.
envolvendo o ligamento inguinal do testícu-
lo. O ligamento inguinal da gônada é Desenvolvimento Pós-natal
comumente chamado de gubernaculum testis
e termina na região dos rudimentos escrotais. Cada componente do trato reprodutivo de
A descida obedece a linha do gubernaculum todos os animais domésticos cresce em tama-

TABELA 1-1. Cronologia do Desenvolvimento do '!rato Reprodutivo Masculino em


Animais Domésticos
Touro Carneiro Varrão Garanhão

Descida testicular Entra no escroto na Entra no escroto na Entra no escroto na Entra no escroto antes
metade da vida metade da vida última quarta ou logo após o
escrotal escrotal parte da vida nascimento
fetal
Espermatócitos 24 semanas 12 semanas 10 semanas Variável nos túbulos
primários nos seminíferos de cada
túbulos testículo
seminíferos
Espermatozóides 32 semanas 16 semanas 20 semanas 56 semanas (variável)
nos túbulos
seminíferos
Espermatozóides 40 semanas 16 semanas 20 semanas 60 semanas (variável)
na cauda do
epidídimo
Espermatozóides 42 semanas 18 semanas 22 semanas 64-96 semanzas
na ejaculação
Acabamento de 32 semanas >10 semanas 20 semanas 4 semanas
separação
entre o pênis e
a porção
peniana do
prepúcio
Idade em que o 150 semanas >24 semanas 30 semanas 90-150 semanas
animal pode (variável)
ser considera-
do sexualmen-
te "maduro"
6 Anatomia Funcional da Reprodução

nho relativo ao volume corpóreo total e passa


por diferenciação histológica, porém a com-
petência funcional não é atingida simultanea-
mente por todos os constituintes do sistema m
reprodutivo. Assim, no touro, a capacidade de
ereção do pênis precede por vários meses o
aparecimento de espermatozóides na pp
ejaculação. Em carneiros, o segmento termi-
nal do epid~dimo fica morfologicamente "adul-
to" com 6 semanas, embora o segmento ini- ta
cial não se comporte de modo semelhante até
18 semanas (Nilnophakoon, 1978). Na puber-
dade todos os componentes do sistema
reprodutivo masculino atingiram um estágio
suficientemente avançado de desenvolvimen-
to para serem funcionais em seu todo. O perío-
do de rápido desenvolvimento que precede a
puberdade é conhecido como período pré-
caude
puberal, embora em várias oportunidades,
este próprio período seja referido como "pu- ta
berdade". Durante o período pós-puberal, o
desenvolvimento continua e o trato
reprodutivo atinge plena maturidade sexual
meses e até anos após a idade da puberdade. FIG. 1-2. Vista diagramática lateral do testículo
Em garanhões, ocorrem significantes aumen- esquerdo de um garanhão, mostrando a disposição
tos no peso testicular, na produção das artérias e veias. capo e, Cabeça do epidídimo;
caud. e, cauda do epidídimo; dd, duto deferente;
espermática diária e nas reservas m, mesórquio; mu, veia marginal do testículo;pp,
espermáticas epididimárias aos 15 anos de plexo pampiniforme de veias; ta, artéria testicu-
idade. Algumas importantes modificações lar; tu, veia testicular. (Adaptado de Tagand e
anatômicas que ocorrem durante o desenvol- Barone (1956). Anatomie des Équidés
Domestiques. 2, iii, Lyons, École Nat. Vet.)
vimento pós-natal encontram-se resumidas
na Tabela 1-1.

O tamanho testicular varia durante o ano


TESTÍCULO E SACO ESCROTAL nos reprodutores estacionais (carneiro,
garanhão, camelo). A remoção de um testícu-
O testículo está seguro à parede do proces- lo resulta em considerável aumento da gônada
so vaginal ao longo da linha de sua união remanescente (há um aumento de até 80%
epididimária (Fig. 1-2). A posição dentro do no peso). No animal criptorquídeo unilateral,
saco escrotal e a direção do eixo maior em a remoção do testículo que se encontra na
relação ao corpo do animal difere segundo as bolsa escrotal pode ser acompanhada da des-
espécies (Fig. 1-1). A distribuição dos túbulos cida do testículo abdominal à medida que este
e dutos dentro do testículo em touros está aumenta de tamanho.
demonstrada na Figura 1-3. As característi- As células intersticiais (Leydig), situadas
cas histológicas e citológicas dos componen- entre os túbulos seminíferos, secretam os
tes celulares dos túbulos seminíferos estão hormônios masculinos para o interior das
resumidas na Tabela 1-2 e ilustradas na Fi- veias testiculares e vasos linfáticos. As célu-
gura 1-11 (ver também Hafez, 1975). A rete las espermatogênicas do túbulo dividem-se e
testis é delineada por um epitélio cubóide não diferenciam-se para formar os esper-
secretor (Goyal/Williams, 1987). matozóides. Imediatamente antes da puber-
Anatomia da Reprodução Masculina 7

30 X 106g de tecido testicular. A produção


espermática aumenta de acordo com a idade
no período pós-puberdade e está sujeita a
modificações estacionais em muitas espécies.
A castração de machos pré-púberes suprime
o desenvolvimento sexual. Modificações re-
gressivas no comportamento e na estrutura
surgem após a castração de machos adultos.
A castração é um procedimento padrão na
indústria animal para modificar o comporta-
mento agressivo masculino e eliminar quali-
corp.e dades de carcaça indesejáveis, p. ex., o odor
do cachaço. A testosterona exerce alguns efei-
rl tos escassos sobre o metabolismo protéico,
sendo que atualmente há uma certa tendên-
dcI----.- cia para a utilização de machos inteiros para
a produção de carne.

Termorregulação Testicular

Para um funcionamento eficaz, os testícu-


los dos mamíferos devem ser mantidos em
temperatura inferior à do corpo. Caracterís-
ticas anatômicas dos testículos e do saco
escrotal permitem a regulação da tempera-
FIG. 1-3. Desenho esquemático do sistema tubu-
tura testicular. Receptores de temperatura
lar do testículo e epidídimo de touro (para
elucidação o sistema de dutos da rete testis foi situados na pele escrotal podem proporcionar
omitido). capo e, Cabeça do epidídimo; caud. e, respostas que tendem a baixar a temperatu-
cauda do epidídimo; corpo e, corpo do epidídimo; ra corpórea total, provocando dificuldade de
dd, duto deferente; de, duto do epidídimo; ed, respiração e sudorese (Robertshaw e Vercoe,
dúctulo eferente; lb, lóbulo com túbulos 1980). A pele escrotal é notavelmente falha
seminíferos; rt, rete testis; st, túbulo reto; t,
testículo. (Simplificado de Blom e Christensen em gordura subcutânea. Ela é extremamen-
(1960). Nord. Veto Med. 12, 453.) te dotada de grandes glândulas sudoríparas
adrenérgicas, e o seu componente muscular
(dartos) propicia alterar a espessura e a área
dade, as células sustentaculares (Sertoli) do superficial do escroto, além de variar a proxi-
túbulo formam uma barreira (Vazama et aI., midade de contato dos testículos com a pare-
1988) que isola as células germinativas em de corpórea. No cavalo, esta ação pode ser
diferenciação da circulação geral. Estas célu- sustentada pelo músculo liso no interior do
las sustentaculares contribuem para a pro- cordão espermático e túnica albugínea, que
dução de fluidos pelo túbulo e podem produ- tem a capacidade de abaixar ou elevar os tes-
zir o fator inibidor Mülleriano encontrado na tículos. Em temperaturas frias, esta muscu-
rete testis de machos adultos (Vigier et aI., latura lisa se contrai, elevando os testículos,
1983). As células sustentaculares não aumen- enrugando e espessando a parede escrotal.
tam em número após a puberdade ter sido Em temperaturas quentes, os músculos rela-
atingida. Este fato pode limitar a xam, abaixando os testículos para o saco
espermiogênese (Hochereau-de-Reviers et aI., escrotal penduloso e com paredes finas. As
1987; Johnson e Tatum, 1989). A produção vantagens oferecidas por estes mecanismos
espermática diária varia de acordo com as são favorecidas pela especial relação das vei-
espécies, porém calcula-se em torno de 15 a as e artérias.
8 Anatomia Funcional da Reprodução

TABELA 1-2. Histologia Funcional do Thstículo


Segmento Características Histológicas

Túnica albugínea Cápsula espessa e branca de tecido conjuntivo circundando o testículo; constituída
principalmente de séries interlaçadas de fibras colágenas com núcleos alongados
e planos dos fibroblastos.
Túbulos seminíferos Aparecem como grandes estruturas isoladas, perfis arredondados ou oblongos,
aparência variável devido ao complexo espiralado dos túbulos em muitos
diferentes ângulos e níveis. Entre os túbulos situam-se vasos sanguíneos de
diâmetro variável (menores do que os túbulos) agrupados com eritrócitos e
embutidos em pequenas massas de células intersticiais (Leydig), que produzem
os hormônios sexuais masculinos. Cordões de tecido conjuntivo formam uma
fina camada ao redor de cada túbulo.
Espermatogônias Localizam-se na região mais afastada do túbulo; núcleos arredondados aparecem
como uma camada irregular dentro do tecido conjuntivo circundante. Os núcleos
podem ser reconhecidos com corante escuro, de tamanho pequeno, devido à
presença de grande número de grânulos de cromatina.
Espermatócitos primários Localizados no interior de uma camada irregular de espermatogônias e células de
Sertoli; os núcleos são sensivelmente maiores do que os das espermatogônias e
coram-se de maneira mais clara, embora ainda possuam uma quantidade
considerável de cromatina granular.
Espermatócitos secundários Divisões de maturação e espermatócitos secundários não são visualizados no túbulo
médio devido à curta duração destes estágios.
Espermátidas Localizadas internamente aos espermatócitos primários. As células são pequenas
e arredondadas com núcleos claros à coloração. Camadas de espermátidas podem
ser várias células em espessura. Os espermatozóides situam-se ao longo da
margem da luz; suas caudas longas estendem-se para o interior da cavidade
como estruturas filamentosas, com as cabeças aparecendo como pequenos pontos
escuros à coloração ou como linhas curtas. As cabeças espermáticas estão
acomodadas em profundas reentrâncias da superficie da célula de Sertoli, porém
na realidade, nunca dentro do citoplasma.
Células de Sertoli Grandes e relativamente claras, excetuando-se os nucléolos proeminentes e
escuros à coloração. O citoplasma é difuso, com limites indefinidos.

Em todos os animais domésticos, a artéria ra e umidade podem provocar significantes


testicular é uma estrutura enrolada em for- aumentos de espermatozóides anormais em
ma de cone, cuja base repousa no pólocranial touros, carneiros e cachaços.
ou dorsal do testículo (Fig. 1-2). Estas espi-
rais arteriais estão intimamente enredadas
pelo chamado plexo pampiniforme das veias EPIDÍDIMO E DUTOS DEFERENTES
testiculares (Hees et aI., 1990). Neste meca-
nismo de contracorrente, o sangue arterial No epidídimo são reconhecidas três partes
que entra nos testículos é resfriado pelo san- anatômicas (Fig. 1-3). A caput epididymidis
gue venoso que os deixa. No carneiro, a tem- (cabeça), onde um número variável de dútulos
peratura do sangue da artéria testicular so- eferentes (13 a 20) (Hemeida et aI., 1978) liga-
fre uma queda de 4 °C em seu curso do anel se ao duto do epidídimo, forma uma estrutu-
inguinal superficial até a superfície testicu- ra plana aplicada a um pólo do testículo. Em
lar; o sangue nas veias é aquecido a um grau seguida, a cabeça liga-se ao estreito corpus
similar entre o testículo e o anel superficial. epididymidis (corpo) que termina no pólo
A posição das artérias e veias junto à superfí- oposto na dilatada cauda epididymidis (cau-
cie do testículo tende a aumentar a perda di- da). O contorno da cauda do epidídimo é uma
reta de calor testicular. No cachaço, o escroto característica visível no animal vivo. A cabe-
é menos penduloso (Fig. 1-1) e a sudorese ça, corpo e cauda do epidídimo são claramen-
menos eficiente; tais fatos podem explicar a te menos diferenciados no garanhão do que
menor diferença entre as temperaturas em outras espécies domésticas. No potro, a
escrotais e retais (2,3 °C)(Stone, 1981).Perío- união entre epidídimo e testículo é bastante
dos relativamente curtos de alta temperatu- frouxa.
Anatomia da Reprodução Masculina 9

FIG. 1-4. A, Superfície luminal de um duto eferente com células cHiadas e não-cHiadas e um
espermatozóide. B, Microvilosidades curtas na superfície luminal de células não-ciliadas nos dutos
eferentes. Uma gota citoplasmática (CD), o acrossomo (A) e a peça intermediária (MP) são visualizados
por SEM (6.500 X). C, Corte transversal da cauda distal do epidídimo. Camadas espessas de músculo
liso circundam o epitélio totalmente sem dobras (25 X). D, Corte sagital do corpo do epidídimo. Células
colunares cobertas de estereocílios. As ondulações são devido às diferenças de altura celular (276 X).
(Johnson, L. et aI. (1978). Am.J.Vet.Res. Cortesia do Dr. Larry Johnson.)

A porção média de cada duto eferente mos- coincidem com as regiões anatômicas
tra marcante atividade secretora (Goyal et aI., macroscópicas (Amann, 1987).
1988). O duto convoluto do epidídimo é bas- Existe uma diminuição progressiva na al-
tante longo (touro, 36 m; cachaço, 54 m). Ca- tura do epitélio e dos estereocílios e um alar-
racterísticas histológicas estão demonstradas gamento da luz através dos três segmentos.
na Figura 11-4. A parede do duto do epidídimo Os dois primeiros segmentos estão relaciona-
tem uma camada proeminente de fibras mus- dos com a maturação espermática, enquanto
culares circulares e um epitélio pseudo- que O segmento terminal serve para
estratificado de célulàs colunares. armazenamento espermático. A camada
Histologicamente, podem ser reconhecidas epitelial do epidídimo consiste de diferentes
três regiões do duto do epidídimo; estas não espécies de células; células colunares princi-
10 Anatomia Funcional da Reprodução

FIG. 1-5. Micrografias eletrônicas de varredura


de componentes testiculares. A, Corte transversal
de um túbulo seminífero (ST). Notar vários
"estágios" de espermatogênese, encaixados em um
tecido muscular limitante (B) composto de células
mióides, fibras colágenas e uma matriz
glicoprotéica (438 X). B, Clone de espermátidas
alongadas de um testículo de cão. Notar inserção
dentro do citoplasma das células de Sertoli (S). As
espermátidas do lado direito mostram com
evidência a relação do núcleo (Nu) e a ligação
citoplasmática (A) da espermátida com a célula de
Sertoli (2.640 X). C, Células de Sertoli cônicas
projetam-se da membrana basal, onde estão
obscurecidas por fibras colágenas, para a luz do
túbulo; espermátidas arredondadas com flagelos
aparecem no lado direito (T). (930 X). (C.J. Connell
(1978). Spermatogenesis. In Scanning Electron Mi-
croscopy of Human Reproduction. E.S.E. Hafez
(ed.). Ann Arbor, MI, Ann Arbor Science Pubs.)

pais, pequenas células basais sobre a mem- separada de peritônio; nestas condições, ele é
brana basal e alguns linfócitos. prontamente separável do resto do cordão
A luz dos túbulos epididimários é delineada espermático (Figs. 1-2, 1-3).
com epitélio feito de uma camada basal de A mucosa do duto deferente é atirada para
pequenas células e uma camada superficial dentro de dobras longitudinais. Próximo à
de células ciliadas colunares altas. Massas de extremidade final do epidídimo, o epitélio as-
espermatozóides são frequentemente encon- semelha-se ao deste órgão. As células não-
tradas na luz. Os espaços entre os túbulos são ciliadas apresentam pouca atividade
preenchidos com tecido conjuntivo frouxo. secretora. A luz é delineada com epitélio
O duto deferente deixa a cauda do pseudo-estratificado. A ampola do duto defe-
epidídimo e fica sustentado em uma dobra rente é abastecida com ramos de glândulas
Anatomia da Reprodução Masculina 11

tubulares que, no garanhão, são bastante GLÂNDULAS ACESSÓRIAS


desenvolvidas e contribuem com ergotioneína
para o ejaculado. O duto ejaculatório penetra A próstata, as glândulas vesiculares e as
na uretra; em ruminantes e equinos, ele é for- glândulas bulbouretrais emitem suas secre-
mado pela união com o duto da glândula ções para dentro da uretra onde, por ocasião
vesicular. A absorção de fluidos e a da ejaculação, são misturadas com a suspen-
espermiofagia se dão no epitélio do duto são fluida de espermatozóides e com as se-
ejaculatório (Abou-Elmagd e Wrobel, 1990). creções ampolares dos dutos deferentes (Fig.
A microscopia eletrônica de varredura tem 1-6). Todas as glândulas acessórias são essen-
sido utilizada para avaliar a ultra-estrutura cialmente do tipo lobularramificadotubular
funcional dos órgãos reprodutivos masculinos com musculatura lisa proeminente no tecido
(Fig. 1-4) com ênfase na espermatogênese intersticiaI. Weber et aI. (1990) demonstra-
(Fig. 1-5). Grandes volumes de fluidos (até 60 ram modificações volumétricas nas glându-
ml no carneiro) abandonam os testículos dia- las acessórias de garanhão resultantes de
riamente, sendo que a maioria é absorvida estímulo sexual (volume aumentado) e de
na cabeça do epidídimo pelo segmento inicial ejaculação (volume reduzido). Diferenças
do duto do epidídimo. O transporte dos anatômicas entre espécies domésticas estão
espermatozóides através do epidídimo leva resumidas na Figura 1-7.
cerca de 9 a 13 dias nas espécies domésticas
julgando-se que seja devido ao fluxo do fluido Anatomia Comparada
da rete, à atividade do epitélio ciliado dos
dútulos eferentes e às contrações da parede Glândulas Vesiculares. Estão situadas
muscular do duto do epidídimo. A maturação lateralmente às porções terminais de cada
dos espermatozóides ocorre durante a passa- duto deferente. Nos ruminantes elas são com-
gem através do epidídimo; a motilidade au- pactas e lobuladas. Nos suínos elas são gran-
menta à medida que os espermatozóides en- des e menos compactas. Nos equinos são gran-
tram no corpo do epidídimo. O ambiente dos des bolsas glandulares piriformes. O duto da
espermatozóides na cauda do epidídimo glândula vesicular e os dutos deferentes po-
subministra fatores que aumentam o valor da dem participar de um orifício ejaculatório co-
habilidade fertilizante; os espermatozóides mum que se abre dentro da uretra.
desta região promovem maior fertilidade do Glândula Prostática. Uma distinta par-
que aqueles do corpo do epidídimo (Amann, te lobulada externa ou corpo situa-se exter-
1987). namente ao espesso músculo uretral, e uma
Os espermatozóides armazenados no segunda parte interna disseminada que cir-
epidídimo retêm a capacidade fertilizante por cunda a uretra pélvica profundamente ao
várias semanas; a cauda do epidídimo é o músculo uretraI. A próstata disseminada es-
principal órgão de armazenamento, e contém tende-se caudalmente tanto quanto os dutos
cerca de 75% de todos os espermatozóides das glândulas bulbouretrais. O corpo da prós-
epididimários. A especial habilidade da cau- tata é pequeno no touro e grande no porco,
da do epidídimo para estocar espermatozóides enquanto que não é visível nos pequenos ru-
depende de baixas temperaturas do escroto e minantes. No cavalo, a glândula prostática é
da ação do hormônio sexual masculino totalmente externa.
(Foldesy e Bedford, 1982). Espermatozóides Glândulas Bulbouretrais. Elas são
armazenados na ampola constituem apenas dorsais à uretra, próximas à extremidade de
uma pequena parte das reservas totais de sua porção pélvica. No touro são quase ocul-
espermatozóides extragonadais. Pequeno tas pelo músculo bulboesponjoso, e em todas
número de espermatozóides imóveis aparece as espécies são recobertas por espessa cama-
nos ejaculados colhidos semanas e mesmo da de músculo estriado bulboglandular. Elas
meses após a castração e são derivados prin- são grandes no porco e contribuem para a for-
cipalmente da ampola. mação da substância gelatinosa do sêmen
12 Anatomia Funcional da Reprodução

a vg

pel. ti

FIG. 1-6. Diagrama mostrando a disposição das glândulas que descarregam dentro da uretra pélvica do
touro. a, Ampola; bu, glândula bulbouretral; dd, duto deferente; pb, corpo de glândula prostática; pd,
porção disseminada da glândula prostática; Fel. u, uretra pélvica; pen.u, uretra peniana; u, ureter; ub,
bexiga; ug, glândula vesicular

desta espécie. Nos ruminantes e no porco, os e são caracterizadas por alto conteúdo de
dutos das glândulas bulbouretrais abrem-se ergotioneína e inositoI.
para dentro do recesso uretral, situado Os espermatozóides da cauda do epidídimo
dorsalmente (Garrett, 1987), o que pode im- são capazes de fertilizar quando inseminados
pedir a passagem de um cateter nessas espé- sem a adição de secreções das glândulas aces-
CIes. sórias. A fração gelatinosa do sêmen de porco
Glândulas Uretrais. O touro carece de forma um tampão na vagina das fêmeas co-
glândulas uretrais comparáveis às encontra- bertas, embora na prática da inseminação
das no homem (Kainer et aI., 1969). Glându- comercial esta fração seja removida do sêmen
las com essa denominação no cavalo têm sido por filtração.
consideradas como comparáveis à próstata Nas grandes espécies animais é possível a
disseminada dos ruminantes, porém no por- palpação das glândulas acessórias por via
co, a próstata disseminada e as glândulas retaI. As posições dessas glândulas em rela-
uretrais são histologicamente distintas ção a pelve óssea são mostradas na Figura 1-
(McKenzie ét aI., 1938). 7.
No porco, o tamanho das glândulas bulbo-
Função uretrais pode ser utilizado para diferenciar o
criptorquidismo da situação de castração.
Apesar de fornecer um veículo líquido para Após a castração pré-puberal, as glândulas
o transporte dos espermatozóides, a função bulbozuretrais são pequenas; com 100 kg de
das glândulas acessórias é obscura, embora peso corpóreo, cada glândula apresenta cer-
muito se saiba sobre os agentes químicos es- ca de 5 cm de comprimento e pesa menos de 1
pecíficos com que elas contribuem para as g. Em porcos com testículos retidos, as glân-
ejaculações (Spring-Mills e Hafez, 1979, dulas são de tamanho normal; cada uma apre-
1980). A frutose e o ácido cítrico são compo- senta acima de 10 cm de comprimento e pesa
nentes importantes da secreção das glându- 45 g quando o animal atinge 100 kg de peso
las vesiculares dos ruminantes domésticos. corpóreo (Lauwers et aI., 1984). Estas dife-
Somente o ácido cítrico é encontrado nas glân- renças podem ser facilmente sentidas, ven-
dulas vesiculares do equino; as glândulas tralmente ao reto, com um dedo inserido no
vesiculares dos suínos contêm pouca frutose ânus (Fig. 1-7).
Anatomia da Reprodução Masculina 13

dd
dd

ub
a a

vg vg

bu
ic

TOURO CARNEIRO

dd
ub
a

vg

pb

bs

INTEIRO CASTRADO
VARRÕES GARANHÃ O

FIG. 1-7. Diagrama das genitálias pélvicas, dentro dos ossos pélvicos, vistos dorsalmente. (As porções
craniais do ílio foram removidas.) a, Ampola; bs, músculo bulboesponjoso; bu, glândula bulbouretral; dd,
duto deferente; ic, músculo isquiocavemoso;pb, corpo da glândula prostática;pel. u, uretra; rp, músculo
retrato r do pênis; ub, bexiga; ug, glândula vesicular. (Diagramas de touro, varrão e garanhão copiados
de Nickel (1954). Tierãrztl. Umschau 9, 386.)
14 Anatomia Funcional da Reprodução

ic

cp

ccp

da!

rp
-----...
~

FIG. 1.8. Diagrama mostrando os mecanismos da ereção em um ruminante. (1) Vaso dilatação da artéria
peniana (ap) aumenta o fluxo sanguíneo para os espaços cavernosos do pedúnculo peniano (ep) através
da artéria profunda do pênis (app). (2) "Bombeamento" de contrações do músculo isquiocavernoso (ie)
puxa o pedúnculo peniano em direção cranial contra o arco isquiático (ai), ocluindo as veias profundas
(app, vpp) e comprimindo o pedúnculo peniano. (3) Compressão do pedúnculo peniano força a saída do
sangue para o eorpus eavernosum penis (eep), através dos espaços cavernosos longitudinais ("canais da
ereção"; lee), elevando a pressão intracorpórea a níveis bastante altos. (4) Preenchimento de tecido
cavernoso dorsal especial (set) na curvatura distal da flexura sigmóide elimina a flexura à medida que o
músculo retrato r do pênis (rp) relaxa. (5) Término do "bombeamento" de contrações do músculo
isquiocavernoso permite que o sangue reflua para os espaços cavernosos do pedúnculo peniano, drenando
assim através das veias penianas profundas (vpp) para a veia peniana (vp). O diagrama mostra inclu-
sive o ligamento apical dorsal (dal).

PÊNIS E PREPÚCIO controla o efetivo comprimento do pênis por


sua ação na flexura sigmóide.
Estrutura No equino, os corpos cavernosos apresen-
tam grandes espaços; durante a ereção há um
No pênis de mamíferos, três corpos caver- considerável aumento de tamanho devido ao
nosos estão agregados ao redor da uretra acúmulo de sangue nesses espaços. No touro,
peniana (Figs. 1-8 e 1-9). O corpus spongiosum carneiro e porco, os espaços cavernosos do
penis que circunda a uretra é ampliado no corpus cavernosum penis são pequenos, com
arco isquiático para formar o bulbo peniano. exceção nos pedúnculos e na curvatura distal
Este bulbo é recoberto pelo músculo bulbo- da flexura sigmóide. Os espaços cavernosos
esponjoso estriado. O corpus cavernosum do corpus spongiosum penis são grandes, po-
penis origina-se como um par de pedúnculos rém a distensão é limitada pela túnica
do arco isquiático sob o músculo albugínea. Nos ruminantes e suínos, a ere-
ischiocavernosus. O corpus cavernosum penis ção resulta do influxo de um volume relativa-
continua para o ápice do pênis, mais ou me- mente pequeno de sangue.
nos como um corpo cavernoso dorsal empare- Os tecidos subcutâneos da extremidade li-
lhado. Uma espessa cobertura (túnica vre do pênis, em algumas espécies, formam
albugínea) recobre os corpos cavernosos. Em um corpo cavernoso bem desenvolvido, o
ruminantes e suínos o músculo retractar penis corpus spongiosum glandis, que é o corpo
Anatomia da Reprodução Masculina 15

pu
vp

bs

abp
bp
ai

vpe
csp

up

'
FIG. 1-9. Diagrama mostrando os mecanismos de ejaculação de um ruminante. (As flexas mostram a
direção do fluxo venoso). (1) Vaso dilatação da artéria peniana (ap) aumenta o fluxo sanguíneo para os
espaços cavernosos do bulbo peniano (bp) via artéria do bulbo peniano (abp). (2) "Bombeamento" de
contrações do músculo bulboesponjoso (bs) comprime o bulbo peniano e força o sangue deste para o
corpus spongiosum penis (csp), produzindo ondas de pressões ao longo do comprimento do corpo cavernoso.
(3) Cada onda de pressão passando abaixo do corpus spongiosum penis resulta em drenagem venosa dos
espaços cavernosos distais para a veia dorsal do pênis (udp), e deste modo para a veia pudenda externa
(upe), e/ou veias penianas (up). Nota: o bulbo peniano é drenado por veias do bulbo peniano (ubp). (4) A
uretra peniana (pu) percorre o corpus spongiosum penis terminando o processo uretral (up) e por este
motivo é comprimida de modo "peristáltico" por ondas de pressão no corpo cavernoso. Estando vazios os
componentes da uretra, ocorre a ejaculação.

erétil de glande peniana. Ele é grande no pênis (especialmente os pedúnculos). Nos


garanhão, pobreme~te desenvolvido no tou- animais domésticos, fibras parassimpáticas
ro e indistinto no cachaço. do nervo pélvico (n. erigf$ns) provavelmente
Em ruminantes e suínos, o orifício do são responsáveis por esta vasodilatação, po-
prepúcio é regulado pelo músculo cranial do rém o neurotransmissor envolvido não foi
prepúcio; pode também estar presente um identificado, podendo ser importante um
músculo caudal. No porco existe um grande polipeptídio vasoativo (Dixson et aI., 1984).
divertículo dorsal no qual acumula-se urina Uma redução adrenérgica no controle motor
e restos celulares epiteliais (ver Fig. 1-1). O pode também exercer importante papel na
prepúcio peniano (interno) do garanhão está vasodilatação (Domer et aI., 1978). O
contido em um prepúcio pré-peniano volumo- enrijecimento e a ereção do pênis em rumi-
so (externo) pela formação de uma prega nantes são causados pelo músculo isquioca-
prepucial distinta e permanente. A eversão vernoso, o qual bombeia sangue dos espaços
do prepúcio pode expor o epitélio a lesões e cavernosos dos pedúnculos para dentro do
infecções. resto do corpus cavernosum penis através de
espaços cavernosos longitudinais especiais
Ereção e Protrusão (canais da ereção) (Ashdown et aI., 1979). Al-
tas pressões em sua maior expressão têm sido
O estímulo sexual provoca dilatação das registradas nos corpos cavernosos de muitas
artérias que suprem os corpos cavernosos do espécies durante a ereção (Beckett, 1983).
16 Anatomia Funcional da Reprodução

Em animais adultos normais, touros, car- Quando o pênis do touro está em protrusão, o
neiros, bodes, cachaços e garanhões, não se prepúcio fica evertido e esticado sobre o ór-
encontram veias drenando os níveis distais gão. A arquitetura fibrosa do tegumento
do corpus cavernosum penis (Ardalani e peniano faz com que o pênis fique em forma
Ashdown, 1988), sendo que isto facilita o de- de hélice quando o tegumento é estirado (Fig.
senvolvimento da pressão de ereção no órgão. 1-10A2); o orifício uretral adquire l}l1la posi-
Falhas na ereção (impotência) são ção anti-horária de 3000 quando se dá a
consequentes de defeitos estruturais que afe- ejaculação (Ashdown e Smith, 1969; Sei dei e
tam o mecanismo representado na Figura 1- Foote, 1969). Em serviço normal, isto ocorre
8, mais do que por causas psicológicas após a penetração. Caso ocorra antes que o
(Glossop e Ashdown, 1986). A pressão eleva- pênis penetre no vestíbulo, a penetração não
da no corpus cavernosum produz considerá- se completa.
vel alongamento do pênis em ruminantes e A penetração do pênis do touro dura cerca
suínos com pouca dilatação (Ashdown et aI., de dois segundos e o enrijecimento após o
1981). A distensão dos espaços cavernosos do desembainhamento, com frequência ocorre
corpus cavernosum penis, especialmente abruptamente assim que o ligamento dorsal
aqueles localizados na curvatura distal da apical assegura sua ação de conservar o pê-
flexura sigmóide, elimina a flexura à medida nis reto. O recolhimento do pênis para den-
que os músculos retratores do pênis relaxam. tro do prepúcio dá-se após cessar a pressão
nos espaços cavernosos. A arquitetura fibro-
sa do corpus cavernosum penis na região da

~~ flexura sigmóide tende a formar de novo a


flexão; isto é auxiliado pelo encurtamento do
músculo retrator do pênis. A porção terminal

~ de mais ou menos 5 cm do pênis do porco é


espiralada (ver Fig. 1-10) e durante a ereção
~uro toda a porção visível da extremidade livre do
pênis torna-se espiralada ao redor de seu eixo
longo como uma corda retorci da. Esta forma
B~ C-arneiro
espiralada resulta da arquitetura fibrosa do
corpus cavernosum penis (Ashdown et aI.,
1981). A inserção do pênis dura até 7 minu-
C]
Varrão
~ tos, tempo em que é ejaculado um grande vo-
lume de sêmen. O desvio em espiral não ocor-
re no carneiro e no bode, e a penetração é de

G Garanhão
curta duração. No garanhão, a inserção per-
dura por vários minutos.

Emissão e Ejaculação

A emissão consiste do movimento do fluido


FIG. 1-10. Diagramas mostrando a forma da
extremidade livre do pênis. AI mostra a forma do espermático ao longo do duto deferente para
pênis logo antes da introdução e A2 após a a uretra pélvica, onde mistura-se com secre-
introdução, tendo ocorrido o desvio em espiral. B ções das glândulas acessórias. A ejaculação é
mostra a forma do pênis durante o servimento a passagem do sêmen resultante ao longo da
natural. C não demonstra o grau total de forma uretra peniana. A emissão é motivada por
espiral que ocorre durante o servimento. D foi
desenhado após a injeção e mostra a dilatação dos
músculos lisos, sob controle do sistema ner-
corpos eréteis. (AI, A2 e B desenhados de voso autônomo. A ejaculação é provocada por
fotografias. C e D de peças fixadas. Os desenhos músculos estriados, sob controle de compo-
não foram feitos em escala.) nentes eferentes somáticos dos nervos sacros
Anatomia da Reprodução Masculina 17

FIG. 1-11.Estruturas reprodutivas,


in situ, de gato, cão e cobaia. 1,
Testículo; 2, cabeça do epidídimo; 3,
cauda do epidídimo; 4, duto
deferente; 5, glândula ampolar; 7,
glândula prostática; 9, glândula
bulbouretral; 10, bexiga; 11, ureter;
12, uretra; 13, pênis; 17, báculo; 18,
corpo lipídico; 19, reto; 20, rim. (De
S. McKeever (1970). Male reproduc-
tive organs. In Reproduction and
/ Breeding Techniques for Laboratory
AnimaIs. Hafez, E.S.E. (ed.). Phila-

/ Cão
delphia, Lea & Febiger.)

Cobaia
18 Anatomia Funcional da Reprodução

Tabela 1-3. Idade e Peso da Primeira Cobertura e Características Seminais


Início da Concentração espermática
Vida Reprodutiva Volume do Ejaculado 108 por ml

Espécies Idade (meses) Peso Corpóreo Variação Média Variação Média

Gato 9 3,5 kg 0,01-0,3 0,04 1,5-28 14


Cão 10-12 varia 2-25 9,0 0,6-5,4 1,3
Cobaia 3-5 450 g 0,4-0,8 0,6 0,05-0,2 0,1
Coelho 4-12 varia 0,4-6 1,0 0,5-3,5 1,5

(De Hammer, C.E., 1970. The semen. In Reproduction and Breeding Techniques for Laboratory Ani-
mais. E.S.E. Hafez [ed.], Philadelphia, Lea & Febiger.)

(nervo perineal profundo). Aeletroejaculação Durante a ejaculação (ver Fig. 1-9), o mús-
em animais domésticos não passa de uma culo bulboesponjoso comprime o bulbo
imitação imperfeita dos complexos mecanis- peniano, bombeando sangue deste órgão para
mos naturais. Durante a monta natural, as dentro do restante do corpus spongiosum
terminações sensitivas do nervo no tegumento penis. Diferentemente do corpus cavernosum
peniano, bem como os tecidos profundos penis, este corpo cavernoso é normalmente
penianos são essenciais ao processo da drenado por veias distais; as pressões máxi-
ejaculação. Os nervos aferentes estendem-se mas registradas durante a ejaculação são
no nervo dorsal do pênis. muito menores do que aquelas no corpus
A passagem de sêmen através dos dutos cavernosum penis (Beckett, 1983). As ondas
deferentes é contínua durante a inatividade de pressão que passam por baixo da uretra
sexual. Prinz e Zaneveld (1980) sugeriram peniana podem ajudar a transportar a
que durante o descanso sexual um complexo ejaculação. As modificações de pressão no
ocasional ou um processo cíclico de remoção corpus spongiosum penis durante a ejaculação
espermática da cauda do epidídimo podem são transmitidas ao corpus spongiosum
ajudar a regulação das reservas de sêmen. A glandis; a glande peniana aumenta de tama-
excitação sexual e a ejaculação são acompa- nho no carneiro, bode e garanhão, porém não
nhadas por contrações da cauda do epidídimo no touro.
e dos dutos deferentes, aumentando propor-
cionalmente o fluxo, seguido porém por mo- ANIMAIS DE LABORATÓRIO
vimentos do fluido espermático retrograda-
Diferenças entre espécies quanto aos ór-
mente para dentro do epidídimo e por uma
gãos reprodutivos estão resumidas na Figu-
redução no nível do fluxo por 10 a 20 horas
ra 1-11. O relativamente grande canal
após a ejaculação. Apesar de tudo, a quanti-
inguinal e o processo vaginal em roedores e
dade de espermatozóides que passa pelos lagomorfos está associado com considerável
dutos deferentes não é aumentada pela ativi-
mobilidade dos testículos e epidídimos em
dade sexual.
animais adultos. Estes órgãos podem mover-
A contração muscular da parede do duto é
. se de uma total posição escrotal para uma
controlada pelos nervos simpáticos autôno- também total posição abdominal. Diferenças
mos do plexo pélvico derivado dos nervos de tamanhos relativos das glândulas acessó-
hipogástricos. Em garanhões normais, o estí- rias estão refletidas nas características do
mulo do receptor-a. e o bloqueio do receptor-~ sêmen (Tabela 1-3).
aumentam a concentração espermática no
ejaculado (Klug et aI., 1982). A emissão de REFERÊNCIAS
sêmen do duto para dentro da uretra é acom-
panhada por contração muscular das ampo- Abou-Elmagd, A. and Wrobel, K.H. (1990). The epi-
las dos dutos deferentes. theliallining of the bovine ejaeulatory duetoAeta
Anatomia da Reprodução Masculina 19

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20 Anatomia Funcional da Reprodução

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2
ANATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA
E.S.E.HAFEZ

Os órgãos reprodutivos femininos com- são do sexo genético é um processo de desen-


põem-se de ovários, ovidutos, útero, cérvice volvimento que depende do funcionamento
uterina, vagina e genitália externa. Os órgãos das gônadas fetais e,'ocasionalmente, da ati-
genitais internos (o primeiro de quatro com- vidade do córtex adrenal.
ponentes) são sustentados pelo ligamento lar- Os estrógenos e os andrógenos podem pro-
go. Este ligamento consiste do mesovário, que vocar inversão sexual em embriões masculi-
mantém o ovário; do mesossalpinge, que es- nos e femininos respectivamente, apenas du-
cora o oviduto e do mesométrio, que susten- rante um breve período no início da
ta o útero. Em bovinos e ovinos, a união do diferenciação sexual. A idade em que este
ligamento largo é dorsolateral na região do potencial bissexual é perdido completamente
ílio, de modo que o útero fica disposto como varia de acordo com as espécies animais.
os cornos de um carneiro, com a convexidade
dorsal e os ovários localizados próximos à
pelve (Fig. 2-1). O ovário, oviduto e útero são Gônadas
primariamente supridos por nervos autôno-
mos. O nervo pudendo fornece fibras sensiti- As gônadas são formadas de um grupo de
vas e parassimpáticas para a vagina, vulva e grandes células granuladas do sacovitelínico
clitóris. que invadem a crista germinativa. Duas in-
vasões ocorrem na fêmea. A primeira é
EMBRIOLOGIA abortiva, todavia a segunda resulta na for-
mação de extensões sexuais do epitélio
O sistema reprodutivo fetal consiste de germinativo que, posteriormente, avançam
duas gônadas não-sexualmente diferenciadas, para cima originando as células germinativas
dois pares de dutos, um sinus urogenital, um (oogônias).As extensões sexuais da fêmea são
tubérculo genital e pregas vestibulares (Fig. chamadas cordões medulares e as do macho
2-2). Este sistema origina-se primariamente túbulos seminíferos.
de duas cristas germinativas na parte dorsal O testículo desenvolve-se predominante-
da cavidade abdominal e que podem diferen- mente a partir da medula da gônada sexual-
ciar-se em sistemas masculino ou feminino, mente indiferenciada, enquanto que o ovário
condição esta conhecida como bissexualidade origina-se primariamente de seu córtex.
embrionária. O desenvolvimento dos rudi-
mentos sexuais para fetos masculino e femi- Dutos Reprodutivos
nino é relacionado na Tabela 2-1.
O sexo do feto depende de genes herdados, Tanto os dutos de Wolff, quanto os de
da gonadogênese e da formação e maturação Müller encontram-se presentes no embrião se-
dos órgãos reprodutivos acessórios. A expres- xualmente indiferenciado. Na fêmea, os dutos
21
22 Anatomia Funcional da Reprodução

c B Ut.

Ov.A
A

-Ob.

FIG. 2-1. Secção sagital através da região pélvica (vista do lado esquerdo) mostrando as relações dos
tratos do reto e urogenital, as bolsas do peritônio pélvico, e as uniões dos músculos abdominais ao tendão
pré-púbico na ovelha. A, aorta; B, bexiga; Br. L, ligamento largo do útero; C, cérvice; O, ovário; Ob.,
músculo oblíquo interno; Ou., trompa; Ou.A, artéria ovariana; Ou.L, ligamento ovariano; P, tendão pré-
púbico;R, reto; U, uretra; Ur, ureter; Ut. A, artéria uterina; V, vagina.

de Müller desenvolvem-se em um sistema penha duas funções, uma exócrina (liberação


duto-gonadal e os dutos de Wolff atrofiam-se, de óvulos) e uma endócrina (esteroidogênese).
ocorrendo o oposto no macho. Os dutos de
Müller femininos fundem-se caudalmente Desenvolvimento Pré-natal
para dar origem ao útero, à cérvice e à porção
anterior da vagina. O córtex é o tecido predominante do ová-
No feto masculino, o andrógeno testicular rio. As células germinativas primordiais têm
atua na persistência e desenvolvimento dos origem extragonadal e migram do saco
dutos de Wolff e na atrofia dos dutos de vitelínico mesentérico para as cristas genitais.
Müller. Durante o desenvolvimento fetal as oogônias
são produzidas por multiplicação mitótica.
Sinus Urogenital Esta é seguida pela primeira divisão meiótica
formando vários milhões de oócitos, processo
O sinus urogenital dá origem ao vestíbulo. este desenvolvido na prófase. Uma subse-
As pregas de pele que margeiam o sinus for- quente atresia reduz o número de oócitos na
mam os lábios vulvares. O falo feminino ou época do nascimento e nova redução ocorre
clitóris, homólogo ao pênis masculino, desen- na puberdade, de modo que somente algumas
volve-se pouco em tamanho. centenas estarão presentes durante a
senescência reprodutiva. Todos os óvulos ori-
OVÁRIO ginam-se da população original de células
germinativas da crista genital.
O ovário, diferentemente do testículo, per- No nascimento uma camada de células
manece na cavidade abdominal. Ele desem- foliculares circunda os oócitos primários no
Anatomia da Reprodução Feminina 23

A.T.
V.D.
A.E.
V.E.
G
5.1.
R.T. Ep.

T.A.

T.

U-G.5.

cf ~
FIG. 2-2. Diagrama representando a diferenciação embrionária dos sistemas genitais masculino e femi-
nino. (Centro) Sistema indiferenciado com grande mesonefro, duto mesonéfrico, duto de MüIler e gônada
indiferenciada. Notar que os dutos de MüIler e mesonéfrico se cruzam antes de entrar no cordão genital.
(Direita) Sistema feminino em que o ovário e os dutos de MüIler se diferenciam enquanto que os rema-
nescentes do mesonefro e dos dutos mesonéfricos se atrofiam no epoóforo, paroóforo e duto de Gartner.
(Esquerda) Sistema masculino, em que os testículos e os dutos mesonéfricos (de Wolfl) se diferenciam; os
únicos remanescentes dos dutos de MüIler são o apêndice testicular e o utrículo prostático (vagina
masculina).
A Ampola G.C. Cordão genital Paro Paroóforo
AE. Apêndice do epidídimo Gl. Glomérulo Pro. Pronefro
AT. Apêndice do testículo G.S. Sinus genital R.T. Rete tubules
B Bexiga I. Istmo S.T. Túbulos seminíferos
C Cérvice M Medula do ovário T. Testículo
Co Córtex ovariano Mes.D. Duto mesonéfrico T.A Artéria testicular
Ep. Epidídimo Mest. T Túbulos mesonéfricos U Útero
Epo. Epoóforo Mül.D. Duto de MüIler U-G.S. Sinus urogenital
Epo. D. Duto do epoóforo O Ovário VA Apêndice vesicular
F Fímbrias O.G. Duto de Gartner obliterado VD. Vaso deferente
G Gônada (indiferenciada) O.Mül. Duto de MüIler obliterado. VE. Vasos eferentes

ovário para formar os folículos primordiais. guras 2-1 até 2-7. A forma e tamanho do ová-
De início estes estão espalhados pelo ovário, rio variam com a espécie animal e com a fase
porém no recém-nascido, eles tornam-se lo- estral (Tabela 2-2). Em bovinos e ovinos o
calizados na zona cortical periférica, debaixo ovário tem forma de amêndoa, enquanto nos
da túnica albugínea e circundando a 'medula equinos ele tem forma de feijão, devido a pre-
vascular. sença de uma definida fossa de ovulação, uma
A estrutura e a ultra-estrutura do ovário chanfradura na borda unida do ovário. O ová-
dos animais domésticos acham-se resumidas rio de porcas assemelha-se a um cacho de uvas
e ilustradas nas Tabelas 2-2 e 2-3; e nas Fi- em decorrência dos folículos salientes e dos
24 Anatomia Funcional da Reprodução

TABELA2-1. Destino dos Rudimentos Sexuais nos Fetos Masculino e Feminino de


Mamíferos
Rudimento Sexual Masculino Feminino

Gônada
Córtex Regride Ovário
Medula Testículo Regride
Dutos de MüIler Vestígios Útero, trompas, parte da vagina
Dutos de Wolff Epidídimos, vasos deferentes Vestígios
Sinus urogenital Uretra, próstata, glândulas bulbouretrais Parte da vagina, uretra
'fubérculo genital (falo) Pênis Clitóris
Pregas vestibulares Escroto Lábios

(Frye, 1967. Hormonal Control in Vertebrates. New York, Macmillan.)

TABELA 2-2. Anatomia Comparada do Ovário em Fêmeas Adultas de Animais


Domésticos
Animal

Órgão Vaca Ovelha Porca Égua


Ovário
Forma Amêndoa Amêndoa Cacho de uva Rim, com fossa de
ovulação
Peso de um ovário (g) 10-20 3-4 3-7 40-80
Folículos de Graaf maduros
Número 1-2 1-4 10-25 1-2
Diâmetro do folículo(mm) 12-19 5-10 8-12 25-70
Diâmetro do óvulo sem 120-160 140-185 120-170 120-180
zona pelúcida(11)
Corpo lúteo maduro
Forma Esferóide ou ovóide Esferóide ou ovóide Esferóide ou ovóide Em forma de pêra
Diâmetro (mm) 20-25 9 10-15 10-25
Tamanho máximo 10 7-9 14 14
atingido (dias a partir da
ovulação)
Início da regressão (dias a 14-15 12-14 13 17
partir da ovulação)

corpos lúteos que obscurecem o tecido ovaria- regressão. (Tabela 2-3). O tecido conjuntivo
no subjacente. do córtex contém muitos fibroblastos, algu-
A parte do ovário não-ligada ao mesovário mas fibras colágenas e reticulares, vasos san-
fica exposta e saliente na cavidade abdomi- guíneos, vasos linfáticos, nervos e fibras mus-
nal. O ovário composto de medula e córtex, é culares lisas.
circundado pelo epitélio superficial, Fluxo Sanguíneo do Ovário. O padrão
comumente conhecido como epitélio vascular do ovário modifica-se com as dife-
germinativo (Fig. 2-3). A medula ovariana rentes situações hormonais. Variações na ar-
consiste de tecido conjuntivo fibroelástico e quitetura dos vasos permitem adaptação do
regularmente distribuído e de nervos exten- suprimento sanguíneo às necessidades do ór-
sivos e sistemas vasculares que atingem o gão. A distribuição relativa de sangue entre
ovário pelo hilo (união entre o ovário e os vários compartimentos do ovário é altera-
mesovário). As artérias são distribuídas de da sem que o suprimento sanguíneo total seja
forma espiralada definida. O córtex ovariano afetado.
contém folículos ovarianos e/ou corpos lúteos A distribuição intra-ovárica de sangue pas-
em vários estágios de desenvolvimento ou sa por notáveis modificações durante o perío-
Anatomia da Reprodução Feminina 25

H.

I.c.

FIG. 2-3. Diagrama composto do ovário de mamífero. São indicados os estágios progressivos da diferen-
ciação de um folículo de Graaf (da esquerda superior para a direita superior). O folículo maduro pode
entrar em atresia (direita inferior) ou ovular e formar um corpo lúteo (esquerda inferior).
Af, Folículo atrésico; C.a., corpus albicans; C.l., corpo lúteo; G.e., epitélio germinativo; G.f, folículo de
Graaf; H, hilo; I.c., células intersticiais; Pf, folículo primário; S.f, folículo secundário; T.a., túnica
albugínea; T.f, folículo terciário. (Parcialmente adaptado de Turner (1948). General Endocrinology.
Philadelphia, W.B. Saunders.)

do pré-ovulatório. Em ovelhas o fluxo venoso matura regressão do corpo lúteo. Por ocasião
ovariano cai de cerca de 8 ml/minuto 73 dias da luteólise em ovelhas ocorre uma redução
antes da ovulação para 2 ml/minuto durante no fluxo sanguíneo ovariano, assim como um
o cio. Uma queda correspondente no fluxo aumento na passagem entre arteríolas e
sanguíneo arterial do ovário por minuto é vênulas dentro do ovário (Niswender et aL,
concomitante a um brusco declínio no fluxo 1976).
de liIÜa do ovário (Moor et aL, 1975). O fluxo sanguíneo para o ovário bovino é
O fluxo sanguíneo arterial para o ovário maior durante a fase luteínica, diminui com
varia em proporção à atividade luteínica. As a regressão do corpo lúteo e atinge um ponto
modificações hemodinâmicas parecem ser máximo antes da ovulação. O fluxo sanguí-
importantes no controle da função e duração neo ovariano aumenta com o desenvolvimen-
do corpo lúteo (CL). Assim, modificações no to do corpo lúteo recentemente desenvolvido.
fluxo sanguíneo precedem o declínio na se- O declínio do fluxo sanguíneo parece seguir
creção de progesterona, enquanto que a res- uma queda abrupta na época de regressão do
trição do fluxo sanguíneo ovariano causa pre- corpo lúteo (Wise et aL, 1982). Os linfáticos
26 Anatomia Funcional da Reprodução

TABELA 2-3. Histologia Funcional do Ovário de Mamíferos


Unidade Anatõmica Fundamental Características Histológicas

Epitélio superficial Uma camada superficial de epitélio frouxo (comum e incorretamente conhecido
por epitélio germinativo) com abundantes microvilosidades.
Túnica albugínea Tecido conjuntivo fibroso e denso cobrindo todo o ovário logo debaixo do epitélio
superficial. As células de tecido próximas à superfície são dispostas
grosseiramente paralelas à superfície ovariana e são algo mais densas do
que as células dispostas em direção à medula.
Córtex ovariano Contém vários folículos primários (com oócitos em estado quiescente) e poucos
folículos grandes. Durante cada ciclo estral, um número variável de folículos
passa por rápido crescimento e desenvolvimento, culminando no processo
da ovulação.
Medula ovariana Tecido conjuntivo frouxo que contém nervos, linfáticos, e vasos sanguíneos
tortuosos e com parede fina, fibras colágenas e elásticas, fibroblastos e
células musculares lisas dispersas.
Estroma ovariano Pobremente diferenciado, células semelhantes às embrionárias-
mesenquimatosas capazes de sofrer alterações morfológicas complexas
durante a vida reprodutiva; as células do estroma podem originar as células
da teca interna ou as células intersticiais.
Musculatura lisa As células musculares lisas estão presentes em todo ovário, especialmente no
estroma cortical onde se entremeiam com as células da teca. As células
mióides ovarianas são similares às musculares lisas de outros tecidos.
Estas células contêm grande número de microfilamentos dispostos em feixes
característicos e também vesículas micropinocitóticas localizadas logo
abaixo do plasmalema Os receptores colinérgicos das células musculares
lisas podem mediar a contração do folículo de Graaf. Assim as células
musculares lisas e os elementos nervosos podem estar diretamente
envolvidos na ovulação. A presença de células musculares lisas,
especialmente nas regiões perifoliculares, pode estar envolvida na
"compressão do folículo" durante a ovulação.
Folículos ovarianos
Folículo primário Um oócito envolvido por uma única camada de células foliculares planas ou
cubóides e circundado por tecido intersticial.
Folículo em crescimento Oócito com diâmetro aumentado e maior número de camada de células
foliculares; a zona pelúcida está presente ao redor do oócito.
Folículo secundário Células granulosas planas do folículo primordial ou unilaminar proliferam,
assumindo uma aparência irregular, poliédrica.
Folículo terciário (vesicular) Sob a influência das gonadotrofinas hipofisárias, as células granulosas dos
folículos de múltiplas camadas secretam um fluido, o líquor folicular, que
se acumula nos espaços intercelulares. A continuada secreção e acúmulo
do líquor folicular resulta na dissociação das células granulosas, que causa
a formação de uma cavidade cheia de fluido -o antro. A zona pelúcida é
circundada por uma massa sólida de células foliculares radiais, formando
a corona radiata.
Folículo de Graaf As células foliculares aumentam de tamanho; o antro está cheio de fluido
folicular (líquor folicular). O oócito é pressionado para um lado, circundado
por um acúmulo de células foliculares (cumulus oophorus); em qualquer
parte da cavidade folicular um epitélio de espessura regularmente uniforme,
. chamado membrana granulosa, se formou. Formaram-se também a teca
interna e a teca externa.
Folículo pré-ovulatório Uma estrutura semelhante a vesículas projetando-se da superfície ovariana
devida à rápida acumulação de fluido folicular e adàgaelçamento da camada
granulosa. O viscoso líquor folicular é formado das secreções das células
granulosas e proteínas plasmáticas transportadas para dentro do folículo
por transudação. O cumulus oophorus destaca-se dentro do estrato
granuloso adelgaçado e extensivamente dissociado. O oócito permanece
livre no líquor folicular, circundado por uma massa irregular de células.
Grandes modificações ocorrem a nível subcelular, particularmente no
Anatomia da Reprodução Feminina 27

TABELA2-3. Histologia Funcional do Ovário de Mamíferos


Unidade Anatõmica Fundamental Características Histológicas

Complexo de Golgi, que é envolvido na formação da zona pelúcida e dos


grânulos corticais. O oócito na prófise da meiose (estágio dictiado), recomeça
a meios e várias horas antes da ovulação. A primeira divisão meiótica
(maturacional) está associada com a expulsão do primeiro corpúsculo polar,
que pode permanecer brevemente ligado ao oócito por uma ponte
citoplasmática.
Corpo hemorrágico A cavidade folicular está cheia de ninfa e sangue dos vasos tecais rompidos e
de sangue dos fluidos foliculares e de pequenos vasos que se rompem na
ovulação. Ele atu'a como um interruptor,"vedando" a cavidade residual após
a liberação do oócito. Vasos intactos e células do tecido conjuntivo da teca
circundante começam a proliferar.
Corpo lúteo A transformação de um folículo rompido no corpo lúteo envolve dobras
características da camada granulosa em direção à porção central da
cavidade residual; a luteinização das células granulosas ocorre sob a
influência do LH. As células luteínicas, de forma poliédrica e sem paredes
celulares definidas, são dispostas em massas irregulares. O citoplasma
pode ser claro ou granuloso de acordo com a atividade secretora funcional.
Corpus albicans Tecido fibroso branco que se forma a partir do corpo lúteo de ovulações prévias.

uterinos podem apresentar um papel no folículo desdobra-se em pregas macro e mi-


transporte de estrógenos de um corno uterino croscópicas que penetram na cavidade cen-
para o ovário ipsilateral. tral. Estas pregas consistem de uma porção
central de tecido estromático e grandes vasos
Ovariectomia venosos que se distendem. As células desen-
volvem-se poucos dias antes da ovulação e
A ovariectomia unilateral (ULO) em ratos regridem rapidamente. Dentro de 24 horas
adultos pode levar a uma compensação fun- após a ovulação todas as células tecais rema-
cional de crescimento folicular e ovulação no nescentes encontram-se em avançado estado
ovário remanescente durante o ciclo. O me- de degeneração. Após a ovulação inicia-se um
canismo compensatório envolve um aumen- processo hipertrófico e de luteinização das
to na secreção de FSH, 6 a 18 horas após a células granulosas. O tecido luteínico aumen-
ovariectomia unilateral. ta principalmente por meio de hipertrofia das
A remoção de um ovário provoca um au- células luteínicas.
mento compensador no peso do ovário rema- A progesterona é secretada pelas células
nescente (hipertrofia ovariana compensató- luteínicas sob a forma de grânulos. Na ove-
ria) na cobaia. Os nervos ovarianos podem lha, parece que este processo atinge o máxi"
participar no desenvolvimento da hipertrofia mo no dia 10 do ciclo, começando a diminuir
compensadora após ovariectomia unilateral. notavelmente no 12Qdia. A atividade secretora
Nervos adrenérgicos ovarianos podem exer- declina gradualmente até o 14Qdia.
cer normalmente uma influência inibidora Em animais de idade mais avançada as
sobre a seleção de folículos para maturação e / funções do corpo lúteo declinam em
ou ovulação (Curry, T.E., Jr., et aI., 1984), consequência de: (a) inabilidade das células
foliculares (granulosa e teca interna) em res-
Corpo Lúteo ponder integralmente aos estímulos
hormonais; (b) modificações quantitativas e/
o corpo lúteo desenvolve-se após o colapso ou qualitativas da secreção hormonal; (c) re-
do folículo na ovulação. A parede interna do dução de estímulos para a secreção hormonal.
28 Anatomia Funcional da Reprodução

Desenvolvimento. O aumento de peso do folículo de Graaf maduro, com exceção na


corpo lúteo é inicialmente rápido. Geralmen- égua, em que ele é menor (Tabela 2-2).
te o período de crescimento ultrapassa ligei- O corpo lúteo estimula o desenvolvimento
ramente a metade do ciclo estral. Na vaca, o folicular e a ovulação por meio de um meca-
peso e o conteúdo de progesterona do corpo nismo local intra-ovariano. Por exemplo, a
lúteo, aumentam rapidamente entre os dias presença de um corpo lúteo previamente for-
3 e 12 do ciclo (Fig. 2-4), permanecendo rela- mado aumenta a eficiência da gonadotrofina
tivamente constantes até o 16Qdia, quando sérica (PMSG) para induzir a ovulação em
se inicia a regressão. Na ovelha e na porca, ovelhas.
os corpos lúteos aumentam rapidamente de Regressão. Caso não se efetue a fertilização,
peso e conteúdo de progesterona do dia 2 ao o corpo lúteo regride, permitindo a maturação
dia 8, permanecendo relativamente constan- de outros grandes folículos ovarianos. À me-
te até o dia 15, quando então começa a re- dida que essas células degeneram, todo o ór-
gressão (Erb et al.,1971). O diâmetro do cor- gão diminui de tamanho, torna-se branco ou
po lúteo maduro é maior do que aquele do castanho-claro, passando a denominar-se
corpus albicans. As alterações regressivas
caracterizam-se por espessamento das pare-
Direito
des arteriais no corpo lúteo, diminuição da
Esquerdo
granulação citoplasmática, arredondamento
~
dos contornos celulares e vacuolização peri-
CiOI~ férica das grandes células luteínicas (Figs. 2-
5 a 2-7). Depois de dois ou três ciclos, perma-
logo após a
ovulação
~e <3
"", @

:",
nece apenas uma cicatriz visível do tecido
conjuntivo. Remanescentes dos corpus
albicans bovino persistem durante vários ci-

C
5 clos sucessivos. O corpo lúteo bovino do ciclo
: . '.{if',""
ovulação
2 diM 'PÓ"
ti)
~,
O- " estral começa a regredir 14 a 15 dias depois do
cio, e seu tamanho pode ser diminuído pela
metade dentro de 36 horas.

~
...,...
diestro '~
~ ~
~
. '~,.'
.~ -_:.-:--H
.,0.
. . '. . . ---LQ.
'. '. ' -: .

---t.I.
FIG. 2-4.llustração diagramática das modificações
morfológicas d~ ovário bovino durante o ciclo estral. a b c
1, Folículo maduro; 2, corpo lúteo em regressão (cor FIG. 2-5. Diagrama mostrando a organização ce-
castanho-atijolada); 3, folículo colapsado - super- lular do corpo lúteo da ovelha. a, Corpo
fície pregueada e paredes tintas de sangue; 4, cor- hemorrágico; b, corpo lúteo do segundo dia após o
po lúteo em regressão (amarelo- claro); 5, corpos cio; c, corpo lúteo do quarto dia após o cio. Os va-
lúteos gêmeos - certa hemorragia; 6; corpo lúteo sos sanguíneos são representados em negro. f. 1.,
em regressão (amarelo-claro); 7, corpo lúteo de Coleção de fluido folicular; g.l., células luteínicas
diestro; 8, o maior folículo; 9, corpus albicans. (Co- da membrana granulosa ; t.i., teca interna; t.e., teca
piado de Arthur (1964). Wright's Obstretrics. externa. (Adaptado de Warbritton (1934). J.
London, Bailliere, Tindall & Cox.) Morphol. 56, 181.
Anatomia da Reprodução Feminina 29

Superfície dias ap,ós o acasalamento. Esta época, apa-


Ge
rentemente, representa o estado em que o
Te útero inicia as primeiras providências que
irão levar à luteólise.
A PGF2a é uma luteolisina potente, de
ocorrência natural na ovelha. Várias doses e
Ti
vias de administração de PGF2a exógena são
eficientes para provocar completa regressão
Mg luteínica. Uma das vias mais eficientes é a
injeção de PGF2a dentro de um folículo bem
Co
desenvolvido presente em ovário com corpo
Lf
lúteo. A indometacina [1-(p-elorobenzoil)-5-
metoxi-2-metilindole-3-ácido acético] bloqueia
a liberação de PGF2a induzida por estrógenos
pelo útero ovino. Injeções intra-uterinas de
indometacina impedem a regressão luteínica
Células da teca interna induzi da por estrógenos nas espécies bovina
e ovina.
A principal veia uterina e a artéria ovaria-
na são os componentes proximal e distal de
um mecanismo local arteriovenoso envolvido
nos efeitos luteolíticos e antiluteolíticos. A
histerectomia elimina o efeito luteolítico e
Retículo provoca persistência do corpo lúteo. A
capilar luteólise no poro está associada com o aumen-
to de prostaglandina plasmática na veia úte-
ro-ovariana (Guthrie e Rexroad, 1981).
Modificações na Irrigação Sanguínea do
Corpo Lúteo. A presença de um corpo lúteo
funcional aumenta consideravelmente a irri-
gação sanguínea do ovário (Niswender et aI.,
Membrana 1976); o fluxo sanguíneo regional dentro do
basal
corpo lúteo utiliza 1511de microsferas radioa-
FIG. 2-6. (Acima) Ilustração de um folículo de tivas. Na ovelha, o fluxo para o ovário
Graaf. Co, cumulus oophorus; Ge, epitélio luteinizado aumenta de menos de 1 ml/min
germinativo; Lf, líquido folicular; Mg, membrana para 3 a 7 ml/min à medida que o corpo lúteo
granulosa; Te, teca externa; Ti, teca interna. (Abai- se desenvolve (Niswender et aI., 1976). Du-
xo) Estrutura da parede do folículo de Graafmos- rante a regressão, o fluxo sanguíneo para o
trando como as células granulosas são privadas
de um suprimento sanguíneo pela membrana ovário luteinizado declina bruscamente (Fig.
baBa!. (Baird (1972). In Reprodution ofMammals. 2-8).
C.R. Austin e R.v. Short (eds). Cambridge, As modificações no fluxo sanguíneo para o
Cambridge University Press.) tecido luteinizado podem ser atribuídas a al-
terações no fluxo para o corpo lúteo que rece-
Luteólise. A luteólise induzida por be a maior parte do suprimento sanguíneo. A
estrógenos, provavelmente tendo como media- irrigação sanguínea do corpo lúteo exerce um
dora a prostaglandina F2a uterina durante o papel na regulação desta glândula e no con-
ciclo estral da ovelha, é responsável pela re- trole da atividade dos hormônios
gressão normal do corpo lúteo. Para que o gonadotróficos ao nível celular luteínico. Uma
corpo lúteo seja mantido na ovelha, um em- ação secundária do LH pode ser a de aumen-
brião deverá estar presente no útero 12 a 13 tar o fluxo sanguíneo para o corpo lúteo. A
30 Anatomia Funcional da Reprodução

PGF2a afeta o componente vascular do corpo


lúteo.
Corpo Lúteo e Gestação. Os progestágenos
são necessários para a manutenção da gesta-
ção. Em parte eles atuam alterando a
permeabilidade iônica através da membrana
celular do músculo do miométrio, aumentan-
do o repouso potencial da membrana e dimi-
nuindo a condução e excitabilidade celulares.
Alguns progestágenos servem de precurso-
res imediatos para outros esteróides, igual-
mente necessários durante a gestação.
Com exceção da égua, existem necessida-
des obrigatórias de contínua atividade do cor-
po lúteo durante a gestação uma vez que a
placenta não secreta progesterona nesta es-
pécie. Na marrã a ovariectomia praticada em
qualquer época da gestação resulta em
abortamento dentro de 2 ou 3 dias. Após a
remoção de um ovário ou dos corpos lúteos de
cada ovário no 40Q dia da gestação, é neces-
sário um mínimo de cinco corpos lúteos para
mantê-Ia.
ReconhecimentoMaterno da Gestação.
Blastocistos devem estar presentes no 12Qdia
após a ovulação nas ovelhas e no 13Q dia em
marrãs para aumentar a vida útil do corpo
lúteo. O reconhecimento materno da gesta-
ção em bovinos ocorre entre o 15Q e 17Q dia
de gestação. As concentrações plasmáticas de
progesterona são maiores em vacas prenhes
dentro de 8 dias após a cobertura. Contudo,
pouco se sabe sobre os mecanismos fisiológi-
cos que controlam a manutenção do corpo
lúteo e a síntese de progesterona durante a
gestação precoce.
FIG. 2-7.A, Estrutura da zona pelúcida totalmente O corpo lúteo da gestação é conhecido por
formada (ZP) ao redor de um oócito em um folículo corpus luteum verum e pode apresentar maio-
de Graaf. As microvilosidades originando-se do res dimensões do que o corpus luteum
oócito se entremeiam com os processos das células spurium (falso corpo amarelo) do ciclo estral.
granulosas (G). Estes processos penetram dentro
do citoplasma do oócito (C) e podem subministrar
Em bovinos, ele aumenta de tamanho duran-
nutrientes e,o.proteínamaterna; (N) núcleo do oócito te 2 ou 3 meses da gestação, regride por 4 a 6
(Baker (1972). In Reproduction in Mammals. C.R meses, após o que permanece relativamente
Austin e RV Short (eds.). Cambridge, Cambridge constante até o parto, degenerando dentro de
University Press). B, Ovo após a remoção da zona uma semana após o parto.
pelúcida.
TROMPAS

Existe uma íntima relação anatômica en-


tre os ovários e as trompas. Nos animais do-
Anatomia da Reprodução Feminina 31

Artéria Ramo Tubárico


(ramo ovariano)

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Artéria Ovariana
(útero-ovariana)

FIG. 2-8. (Esquerda) Anatomia da vasculatura ovariana bovina e localização de cateter venoso com
anastomose entre a veia e a artéria ovariana. (Wise, J.H. et aI, 1982). Função ovariana durante o ciclo
estral da vaca. J.Anim. Sei. 55: 627-637.) Fluxo ovariano sanguíneo e nível de liberação de progesterona.
(Direita) Modelo hipotético simulando a interação do embrião, do útero e do corpo lúteo durante a luteólise
e o início da gestação. Grandes células luteínicas (LG); pequenas células luteínicas (SM). (Silva et aI.
(1984). Mecanismos moleculares e celulares envolvidos na luteólise e no reconhecimento materno da
gestação na ovelha. Anim. Reprod. Sei., 7: 57-74).

mésticos os ovários situam-se numa bursa no mesossalpinge, que é uma prega peritoneal
ovariana aberta, contrastando com certas es- derivada do estrato lateral do ligamento lar-
pécies (p. ex., rata e camundonga) em que ele go. O comprimento e o grau de circunvoluções
fica alojado dentro de uma bolsa. Nos animais da trompa variam nas espécies domésticas.
domésticos esta bursa é uma invaginação que A trompa pode ser dividida em quatro seg-
consiste de uma prega peritoneal do mentos funcionais: as fímbrias em forma de
mesossalpinge, ligada a uma alça suspensa franjas; a abertura abdominal próxima ao
na porção superior da trompa (Fig. 2-9). Na ovário em forma de funil - o infundíbulo; a
vaca e na ovelha a bursa ovárica é larga e ampola dilatada mais distalmente e a estrei-
aberta. Na porca ela é bem desenvolvida e, ta porção próxima da trompa, ligando-a à luz
embora aberta, envolve o ovário em grande uterina - o istmo (Fig. 2-10).
parte. Na égua ela é estreita, apresenta for- O tamanho do infundíbulo varia com a es-
ma de clave e envolve somente a fossa da ovu- pécie e idade do animal; a área de superfície
lação. é de 6 a 10 cm2 na ovelha e 20 a 30 cm2 na
vaca. A abertura do infundíbulo denominada
Anatomia óstio abdominal, situa-se no centro de uma
franja de processos irregulares que formam
A morfologia e anatomia funcional das a extremidade da trompa, as fímbrias. Estas
trompas dos mamíferos estão resumidas e são livres, exceto em um ponto no pólo supe-
ilustradas nas Tabelas 2-4 e 2-5 e nas Figu- rior do ovário, que assegura a sua íntima apro-
ras 2-10 até 2-17.As trompas estão suspensas ximação à superfície ovariana.
32 Anatomia Funcional da Reprodução

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FIG. 2-9. Relação anatômica entre o ovário ea trompa na ovelha. A, Ampola; F, fímbrias; In, infundíbulo;
Is, istmo; M.a., mesovário; O, ovário; O.a., artéria ovariana; O.b., bursa ovárica; U, útero; Utj, junção
útero-tubárica. Notar a alça suspensa à qual se une a bursa ovárica. A trompa da ovelha é pigmentada.

A ampola, que corresponde a cerca da me- tas pregasmucosas na ampola preenche qua-
tade do comprimento da trompa, funde-se com se completamente a luz de modo a existir ape-
a porção constricta conhecida por istmo. O nas um espaço potencial. O fluido é mínimo;
significado anatõmico e fisiológico desta jun- deste modo a massa de cumulu fica em ínti-
ção istmo-ampolar ainda é desconhecido. O mo contato com a mucosa ciliada (Figs. 2-11
istmo está diretamente ligado ao útero; na a 2-14).
égua ele penetra no corno uterino sob a for- A mucosa consiste de uma camada de cé-
ma de uma pequena papila. Nenhum esfincter lulas epiteliais colunares. A submucosa das
muscular bem definido apresenta-se na jun- fibras musculares lisas e do tecido conjunti-
ção útero-tubárica. Na porca, entretanto, esta vo é entremeada por finos vasos sanguíneos
junção é guarnecida por longos processos e linfáticos. O epitélio contém células cHiadas
mucosos em forma de dedos. Na vaca e na e não-ciliadas.
ovelha existe uma flexura na junção útero- Células CHiadas. As células ciliadas da
tubárica especialmente durante o cio. mucosa do oviduto possuem cílios móveis e
Existem também extensões musculares delgados (cinocílio) que se estendem para o
destas camadas para dentro do tecido conjun- interior do lúmen. A proporção de batimentos
tivo das pregas mucosas, permitindo contra- dos cílios é afetada pelos níveis de hormõnios
ções coordenadas de toda a parede. O ovarianos, com atividade máxima na ovula-
espessamento da musculatura aumenta da ção ou logo após o ímpeto do cílio na porção
extremiãade ovariana para a extremidade fimbriada das trompas estar intimamente sin-
uterina das trompas. cronizado e dirigido em direção ao óstio. A
Mucosa do Oviduto ação dos batimentos ciliares parece favore-
A mucosa do oviduto é formada por pregas cer o óvulo dentro das células circundantes
primárias secundárias e terciárias. A mucosa do cumulus a fim de ser despojado da super-
na ampola situa-se dentro de pregas altas e fície dos folículos em direção ao óstio das trom-
ramificadas que diminuem de altura em di- pas. A porcentagem de células ciliadas dimi-
reção ao istmo tornando-se baixas na junção nui gradualmente na ampola em direção ao
útero-tubárica. A complexa constituição des- istmo e atinge o máximo nas fímbrias e
Anatomia da Reprodução Feminina 33

TABELA 2-4. Anatomia Comparada do Trato Reprodutivio em Fêmeas Adultas


Vazias de Mamiferos Domésticos
Animal
Órgão Vaca Ovelha Porca Égua

Trompa
Comprimento (cm) 25 15-19 15-30 20-30

Útero
Tipo Biparlido Biparlido Bicomual Biparlido
Comprimento do como (cm) 35-40 10-12 40-65 15-25
Comprimento do corpo (cm) 2-4 1-2 5 15-20
Superfície de revestimento 70-120 CarÚllculas 88-96 Carúnculas Ligeiras Distintas
do endométrio pregas pregas
longitudinais longitudinais
Cérvice
Comprimento (cm) 8-10 4-10 10 7-8
Diâmetro externo (cm) 3-4 2-3 2-3 3,5-4
Luz cervical
Forma 2-5 anéis anulares Vários anéis anulares Saca-rolhas Pregas distintas
Entrada do útero
Forma Pequena e protrusa Pequena e protrusa Maldefinida Claramente definida
Vagina anterior
Comprimento (cm) 25-30 10-14 10-15 20-35

Hímen Maldefinido Bem desenvolvido Maldefinido Bem desenvolvido

Vestíbulo
Comprimento (cm) 10-12 2,5-3 6-8 10-12

Ai:,dimensões incluídas nesta tabela variam com a idade, raça, pariedade e plano de nutrição.

infundíbulo. Células ciliadas são encontradas estrógenos exógenos. As trompas atrofiam-se


em grande número no ápice das células e perdem os cílios durante o anestro, hiper-
mucosas. Variações na porcentagem de célu- trofiam-se e readquirem os cílios durante o
las ciliadas e secretoras, ao longo das trom- proestro e o cio e tornam a atrofiar-se e perde
pas possuem algum significado funcional. os cílios durante a gestação.
Células ciliadas são mais abundantes no lo- Infecções do trato reprodutivo feminino
cal onde o óvulo é apanhado da superfície ova- estão associadas com dramáticas associações
riana enquanto que células secretoras são na morfologia celular. Uma infecção geral-
abundantes onde os fluidos luminais são ne- mente está associada com a perda de células
cessários como um meio para a interação de ciliadas. O epitélio inflamado da trompa pos-
óvulos e espermatozóides. sui células ciliadas livres de cílios que retêm
Os cílios batem em direção ao útero. A sua um certo número de corpos ciliares basais,
atividade aliada a contrações das trompas, precursores das hastes ciliares. Uma diminui-
mantém os óvulos do oviduto em constante ção do número de cílios pode levar a um
rotação, o que é essencial para a aproxima- acúmulo de fluidos nas trompas e de
ção dos óvulos com os espermatozóides (ferti- exsudatos inflamatórios, que contribuem para
lização) e para impedir que haja uma implan- a aglutinação das pregas nas trompas e
tação no oviduto. A presença de cílios no subsequente desenvolvimento de salpingite.
oviduto é controlada por hormônios no maca- Células Não-cHiadas. As células secretoras
co rhesus: Os cílios desaparecem quase com- da mucosa do oviduto não são ciliadas e pos-
pletamente após hipofisectomia e se desen- suem característicos grânulos secretores,' cujo
volvem em resposta à administração de tamanho e número variam bastante entre as
34 Anatomia Funcional da Reprodução

Infundíbulo Ampola Istmo

FIG. 2-10. (Acima) Principal


segmento da trompa. (Abaixo)
Variabilidade anatômica dajun-
ção nas diferentes espécies.

ISTMO

EXTRAMURAL
grau de flexão
suprimento vascular
suprimento linfático
suprimento neural
LIGAMENTOS
INTRAMURAL
mesotubáricoinferior
músculo circular
mesotubáricosuperior
músculo longitudinal
glândulas endometriais

ENDOMÉTRIO PROJEÇÕES
número
MIOMÉTRIO estrutura
divertículos
ciliogênese
secretora

espécies e durante as diferentes fases do ci- Inervação. Do mesmo modo que outros seg-
clo estral. A superfície apical das células não mentos do trato genital feminino, a trompa
cHiadas é recoberta por numerosas está parcialmente servida por "curtos"
microvilosidades. Os grânulos secretores acu- neurônios adrenérgicos fisiofarmacologica-
mulados nas células epiteliais durante a fase mente diferentes dos mais comuns "longos"
folicular do ciclo são liberados dentro da luz neurônios adrenérgicos. Além de receber ner-
após a t1VU.lação,provocando uma redução na vos dos gânglios pré e paravertebrais, a trom-
altura epitelial. pa recebe uma porção de formações
Vascularização. A vascularização da trom- ganglionares da área útero-vaginal (curtos
pa deriva-se das artérias uterinas e ovaria- neurônios adrenérgicos),
nas, que juntamente suprem arcadas de va- O grau de inervação varia nas diferentes
sos ao longo de sua extensão. O notável camadas musculares e em diferentes regiões
aumento na proeminê!lcia da vascularização, da trompa. A inervação adrenérgica é parti-
bastante regulada por estrógenos ovarianos, cularmente proeminente na musculatura cir-
está parcialmente associado com a realçada cular do istmo e na junção ampola-istmo, onde
função secretora da trompa. os nervos adrenérgicos terminais estão em
Anatomia da Reprodução Feminina 35

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FIG. 2-11. Secção transversal de diferentes segmentos da trompa. (1) Representa o istmo e (8) represen-
ta o infundíbulo. Deve notar-se a variabilidade no grau de complexidade das dobras da mucosa.
36 Anatomia Funcional da Reprodução

íntimo contato com as células musculares li-


sas. A densa inervação adrenérgica permite
ao istmo agir como um esfíncter fisiológico, o
que pode ser importante para regular o trans-
porte do óvulo.

Função da Trompa

Várias técnicas in vivo e in vitro têm sido


usadas para estudar a função da trompa (Ta-
bela 2-5). Esta tem a singular função de con-
duzir os óvulos e os espermatozóides em di-
reções opostas, quase simultaneamente. A
estrutura da trompa está bem adaptada às
suas múltiplas funções. As franjas das fím-
brias transportam os óvulos liberados da su-
perfície ovariana para o infundíbulo. Os óvu-
los são conduzidos através das pregas-
mucosas para a ampola onde ocorre a fertili-
zação e os primeiros estágios da clivagem dos
óvulos fertilizados. Os embriões permanecem
nas trompas durante 3 dias antes de serem
encaminhados ao útero. O mesossalpinge e a
musculatua tubárica coordenam os hormônios
ovarianos, os estrógenos e a progesterona. A
junção útero-tubárica controla, parcialmen-
te, o transporte do sêmen do útero para as
trompas.
A trompa propicia um ótimo ambiente para
a união dos gametas, assim como para o de-
senvolvimento inicial do embrião. Este ambi-
ente proporciona nutrição e proteção para os
espermatozóides, para o oócito e para o
subsequente embrião. Os espermatozóides e
os embriões possuem antígenos estranhos que
podem ser reconhecidos e atacados pelo sis-
tema imuno-humoral materno (Oliphant et
aI., 1984).
Fluido da Trompa. O fluido da trompa
subministra um ambiente adequado para a
fertilização e clivagem dos óvulos fertilizados.
FIG. 2-12. Fotom~rografias em microscopia ele-
trônica de varredura do epitélio tubárico. A, Pre- O nível de acumulação dos fluidos da trompa
gas mucosas projetando-se na luz da ampola (37x). é regulado pelos hormônios ovarianos. Utili-
B, Pregas mucosas projetando-se na luz do istmo zando diferentes métodos de canulação para
(40x). C, Fotomicrografias do epitélio da trompa colheita contínua das secreções da trompa, é
no istmo (6.000x). possível demonstrar-se que o volume de flui-
do secretado pelas duas trompas varia duran-
te o ciclo estraI. O volume é pequeno durante
a fase luteínica, aumenta no início do cio, atin-
Anatomia da Reprodução Feminina 37

FIG. 2-13. Fotomicrografias em microscopia eletrônica de varredura da trompa. A, Epitélio da trompa


mostrando células secretoras (flexa) extremamente ligadas a microvilosidades e células ciliadas. Notar
que algumas células são totalmente ciliadas enquanto outras apresentam cílios na periferia. B, Estrutu-
ras semelhantes a rosetas de uma célula ciliada, processo esse que ocorre aleatoriamente, culminando
em completa ciliação conforme foi demonstrado em B. C, Células totalmente ciliadas nas fímbrias que
participam da captação do óvulo após sua liberação do folículo de Graaf.

gindo Omáximo um dia após e então declina e em resposta a agentes anticoncepcionais; (b)
até os níveis característicos da fase luteínica batimentos de cílios móveis nos compartimen-
(Fig. 2-17). tos da trompa e que variam em tamanho e
O fluxo de grande parte do fluido da trom- forma; (c) alterações constantes da luz da
pa é em direção ao ovário, pois o istmo blo- trompa em diferentes segmentos, resultante
queia, pelo menos parcialmente, sua entrada da contração muscular e reorientação das pre-
para o útero. gas mucosas.
Vários fatores fisiológicos podem estar en- O movimento direcional das secreções da
volvidos na criação de correntes e contracor- trompa pode contribuir para o transporte do
rentes: (a) modificações quantitativas nas óvulo fertilizado ao útero. Na ovelha, a maior
secreções da trompa durante o ciclo menstrual parte das secreções da trompa sai pelo óstio
38 Anatomia Funcional da Reprodução

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FIG. 2-14. Histologia e citologia do epitélio da trompa. A, Células secretoras com material saliente e
células ciliadas com quinocília, coradas pelo azul de toluidina. (Foto pelo Professor S. Reinius). B, Célu-
las ciliadas da trompa (direita) e útero (esquerda). Notar a presença de microvilosidades na superfície
apical da célula. C, Células secretoras mostrando a biossíntese, embalagem, armazenamento, liberação
e distribuição de material secretor, que é o principal componente do fluido luminal da trompa e do útero.
Acredita-se que a movimentação ciliar facilita a liberação de grânulos secretores da superfície das célu-
las.
Anatomia da Reprodução Feminina 39

TABELA 2-5. Técnicas ln Vitro Utilizadas para Estudo das Funções da Trompa
Função em Estudo Técnicas

Estrutura e ultra-estrutura do epitélio, atividade Microscopia eletrônica de transmissão e de varredura


secretora e cílios Cultura de fragmentos da mucosa tubárica e transferência
para câmeras de crescimento
Observações histoquímicas de cortes congelados
Identificação de receptores adrenérgicos ou Técnica histoquímica de fluorescência
colinérgicos Fisiofarmacologia da contratilidade tubárica (p. ex.,
resposta a drogas autônomas)
Contratilidade da musculatura tubárica Observação visual da trompa através da parede abdominal
ou janela abdominal
Quimografia direta
Cateter intraluminal ou microbalão colocado na luz para
registrar a pressão intratubular da trompa
Cinerradiografia
Composição bioquímica do fluido tubárico Dispositivo extra ou intra-abdominal para colheita de fluido
Ligadura da trompa na junção útero-tubárica e fímbrias
para colher fluido
Radioisótopos
Detecção da captação de proteínas pelo epitélio Imunofluorescência
tubárico Farmacologia e neurofarmacologia
Transporte de ovo na trompa Efeitos de prostaglandinas, hormônios esteróides e
anticoncepcionais orais
Lavagem segmentar da trompa após salpingectomia
Utilização de ovos substitutos
Recuperação de ovos do útero in vivo
Transporte espermático na trompa Lavagem segmentar da trompa após salpingectomia em
intervalos após inseminação artificial
Lavagem das trompas a partir das fímbrias, por
laparoscopia, em intervalos após cobertura ou
inseminação artificial
Cinética de batimentos ciliares Cinematografia de alta velocidade
Foto-ensaio para medir os batimentos ciliares opticamente
Espectroscopia de correlação de foto laser para estudar os
batimentos ciliares em células ciliadas cultivadas

tubárico precocemente no ciclo estraI. Toda- diferentes nos dois fluidos orgânicos; p. ex., a
via, no 4Qdia, quando os ovos usualmente en- quantidade de transferrina e pré-albumina
tram no útero, o fluxo através da junção úte- no fluido da trompa está muito mais relacio-
ro-tubárica aumenta consideravelmente. nado à albumina, do que à quantidade des-
O fluido do oviduto apresenta várias fun- sas proteínas no soro. Muitas proteínas
ções, incluindo a nutrição de oócitos recente- séricas não têm correspondentes no líquido
mente ovulados e a capacitação espermática, das trompas e reciprocamente, várias proteí-
a fertilização, e o desenvolvimento antes da nas são privativas do fluido tubárico. A pre-
pré-implantação. O fluido das trompas é com- sença de proteínas privativas no fluido da
posto de um transudato seletivo de soro e de trompa quer dizer que as células tubáricas
produtos secretários dos grânulos das células podem estar comprometidas com uma ativi-
secretárias do epitélio do oviduto (Oliphant dade secretora específica. O fluido tubárico
et aI., 1984). As secreções do oviduto são re- apresenta um efeito direto sobre a
guladas pelos hormônios esteróides. hiperativação dos espermatozóides, fenôme-
Vários constituintes protéicos são comuns no este recentemente reconhecido como es-
ao fluido da trompa e ao soro. No entanto, al- sencial para a interação espermatozóide-óvu-
guns destes estão presentes em proporções 10.
40 Anatomia Funcional da Reprodução

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B

FIGo 2-150 Ilustração diagramática da muscu-


latura da trompa de ungulados. A, Ampola: a
musculatura consiste de fibras espiraladas dis-
postas quase circularmente. B, Istmo: Notar di-
ferenças na morfologia das fibras musculares.
C, Junção útero-tubárica: Notar o revestimen-
to muscular longitudinal de origem uterina, as-
si~ como as fibras peritoneais. (Schilling (1962).
c
Zentralbl. Veterinaermed. 9, 805).

Musculatura Tubárica e Ligamentos


Relacionados
FIGo 2-160 Contrações das fímbrias em relação à
superfície ovariana, mecanismo pelo qual os ovos
Á13contrações tubáricas facilitam a mistu- são recolhidos para dentro do infundíbulo.
ra de seus conteúdos, ajudam a desnudar os
óvulos, promovem a fertilização facilitando o
contato entre o óvulo e o espermatozóide e
regulam parcialmente o transporte do ovo. o padrão de contratilidade tubárica é com-
Diferentemente do peristaltismo intestinal, plexo, sendo constantemente ativado devido
o peristaltismo da trompa tende a atrasar li- às fibras musculares longitudinais que pro-
geiramente a progressão do óvulo em vez de vocam encurtamento e às fibras musculares
transportá-Io. circulares que causam constrição anular. Ou-
Padrões das Contrações Tubáricas. A tros fatores adicionais de complexidade são
musculatura tubárica passa por vários tipos as atividades contráteis do mesossalpinge do
de contrações complexas: contrações localiza- miométrio e dos ligamentos suspensores,
das semelhante~ ao peristaltismo, originan- além dos movimentos ciliares.
do-se em segmentos isolados ou alças e com Á13contrações musculares das trompas são
curto trajeto; contrações segmentares e tor- estimuladas pela contração de duas membra-
ções vermicularis de toda a trompa. Contra- nas maiores que contêm musculatura lisa e
ções em direção oposta ao ovário são mais co- estão unidas às fimbrias, à ampola e ao ová-
muns do que as dirigidas para esse órgão. De rio: o mesossalpinge e o mesotubarium
um modo geral a ampola é menos ativa que o superius. Afrequência e a amplitude das con-
istmo (Figs. 2-15, 2-16). trações espontâneas variam com a fase do ci-
Anatomia da Reprodução Feminina 41

1.4 média das trompas. Os variáveis padrões da


TROMPA
1.2 contração tubárica podem estar associados
1.0 com as alterações cíclicas do conteúdo
.8 glicogênico da musculatura da trompa. O
., glicogênio tubárico é mais abundante na mus-
~
o
.6
..= .4
culatura circular interna do que na muscula-
..;< tura longitudinal externa.
~ .2
Prostaglandinas e Contratilidade
-5
w.
O
Tubárica.APGE1e a PGE2 exercem um efei-
O 81
r::4 to característico sobre a musculatura longi-
§
r:.. 6 Útero
tudinal da trompa, que é o aumento do tônus
r.:<
da porção proximal e relaxamento do resto
r::4 do órgão. A PGEs' entretanto, relaxa a trom-
r.:< 4
pa toda. Por outro lado, a PGF 1 e a PGF2
§O 2
agem como estimulante, sendo o efeito maior
:> exercido pela PGF 2 sem modificação aparen-
te na sensibilidade ou ação durante o ciclo
O
65432 menstrual. A PGF 2 apresenta um efeito
'Antes do cio relaxante sobre toda a trompa.
DIAS Ligamento Útero-ovariano e Conexos. O
FIG. 2-17. Flutuações no volume de secreções da ligamento útero-ovariano contém células
trompa e do útero durante o ciclo estral da ovelha. musculares lisas, dispostas em feixes
Os índices máximos de secreção ocorrem um dia logitudinais, que penetram no miométrio,
após o desencadeamento do cio; este período coin-
cide com a ovulação e a captação do óvulo pelas porém não no estroma ovariano. Os múscu-
fímbrias. Durante o cio o volume dos fluidos los lisos do mesovário, os vários ligamentos
uterinos excede o da trompa, enquanto que o in- do mesentério unidos ao ovário e as fímbrias
verso é verdadeiro durante a fase luteínica. contraem-se intermitentemente. Estas con-
(Perkins et aI. (1965). J. Anim. Sei. 24, 383.) trações musculares rítmicas asseguram a po-
sição das fímbrias em relação à superfície dos
elo estral. Antes da ovulação as contrações são ovários.
suaves com variações individuais na propor-
ção e padrão de contratilidade. Durante a ÚTERO
ovulação, as contrações tornam-se mais vigo-
rosas. Neste período, o mesossalpinge e o O papel do útero durante o cielo estral, a
mesotubarium superius se contraem vigoro- gestação, e as falhas reprodutivas nos animais
sa, independente e intermitentemente; o domésticos estão ilustradas nas Figuras 2-18
mesotubarium contrai-se mais vigorosamente até 2-22. O útero é composto de 2 cornos
do que o mesossalpinge. Estas contrações pu- uterinos (cornua), um corpo e uma cérvice
xam a trompa em forma crescente, deslocam (colo) (Fig. 2-18). As proporções relativas de
as fímbrias sobre a superfície ovariana e pro- cada parte, assim como a forma e disposição
vocam contínuas modificações no contorno da dos cornos variam de espécie para espécie
trompa. Na ovulação, as dobras em forma de (Tabela 2-4). O útero da porca é do tipo
franja se contraem ritmicamente e bicornual (uterus bicornis). Os cornos são do-
"massageiam" a superfície ovariana. brados ou convolutos, podendo atingir 4 a 5
O padrão e a amplitude das contrações va- pés de comprimento, enquanto o corpo uterino'
riam nos diferentes segmentos da trompa. No é curto (Fig. 2-19). Este comprimento é uma
istmo as contrações peristálticas são adaptação anatômica para carregar satisfa-
segmentais, vigorosas e quase contínuas. Na toriamente a leitegada. O útero bipartido
ampola, fortes ondas peristálticas movem-se (uterus bipartitus) é típico da vaca, ovelha e
de maneira segmentada em direção à porção égua. Estas fêmeas apresentam um septo que
42 Anatomia Funcional da Reprodução

FIG. 2-18.A, Fotomicrografia eletrôni-


ca de varredura do endométrio de ove~
lha. Carúncula circundada por abertu-
ras das glândulas endometriais. B,
Mucosa do corno uterino em ovelha não
prenhe. Notar carúnculas e pigmenta-
ção do endométrio. C, Carúncula ma-
terna de uma vaca prenhe. Notar as
criptas semelhantes a esponjas nas
quais estão alojadas as vilosidades
coriônicas.
Anatomia da Reprodução Feminina 43

separa os dois cornos e um proeminente cor- deslize para dentro da cavidade pélvica. Na
po uterino (o maior é o da égua). Em rumi- égua esta situação pode impedir a remoção
nantes o epitélio uterino possui várias dos líquidos endometriais ou mesmo permi-
carúnculas (Fig. 2-18). Superficialmente, o tir que pequenos volumes de urina atraves-
corpo do útero da vaca e da ovelha parece ser sem a cérvice durante o cio, resultando em
maior do que ele é realmente; isto porque as ligeira inflamação catarral.
porções caudais dos cornos são ligadas pelo Como a maioria dos órgãos cavitários in-
ligamento intercornual. ternos, as paredes uterinas são constituídas
Ambas as laterais do útero são unidas às de uma membrana mucosa interna, de uma
paredes pélvica e abdominal pelo ligamento camada intermediária inteira de músculos
largo. Nos animais multíparos os ligamentos lisos e de uma camada serosa externa, o
uterinos se estiram, permitindo que o útero peritônio. Do ponto de vista fisiológico ape-

~ ""

PORCA

FIG. 2-19. Anatomia comparada dos órgãos


reprodutivos na fêmea. b, Bexiga; m, glândula
mamária; T, reto; t, trompa; u, útero; u, vagina; x,
cérvice; y, ovário. Notar as diferenças entre espé-
cies na anatomia da cérvice, útero e glândula ma-
mária. (Copiado de Ellenberger e Baum (1943).
Handbuch der vergleichenden Anatomie der
Haustiere, 18th ed. Zietszchmann, Ackernecht and
Grau (eds.). Berlin, Springer.)

~
..;:~
44 Anatomia Funcional da Reprodução

nas 2 camadas são reconhecidas - o endomé-


trio e o miométrio.
VACA
Vascularização Uterina

o útero recebe o seu suprimento sanguí-


neo e venoso através do ligamento largo (Fig.
2-20). Os vasos sanguíneos são numerosos, de
parede espessa e tortuosos. A artéria uterina
média, ramo da artéria ilíaca interna ou da
artéria ilíaca externa, fornece o principal su-
primento sanguíneo ao útero na região do feto
em desenvolvimento, de modo que ela aumen-
ta bastante de diâmetro com o avançar da
gestação. A artéria uterina cranial, ramo da
artéria útero-ovariana, fornece sangue ao
ovário pela artéria ovariana e para a extre-
midade anterior do corno uterino pela arté-
ria uterina cranial.
A artéria útero-ovariana corre intimamen-
te ao longo da superfície da veia correspon-
dente, apresentando apenas um pequeno grau
de sinuosidade. Esta artéria termina dando
origem a um pequeno ramo para a extremi- ÉGUA
dade do corno uterino e trompa, a um ou mais
ramos ovarianos bastante enrolados e ainda
um ramo para o ligamento largo.
A constrição da artéria uterina com resul-
tante redução no fluxo sanguíneo é atribuída
à resposta do músculo liso vascular à
norepinefrina liberada dos nervos
adrenérgicos. As ações reguladoras dos
esteróides ovarianos sobre a artéria uterina
FIG. 2-20. Ilustração diagramática do suprimen-
de ovinos podem ser também potencializadas to sanguíneo arterial do trato reprodutivo femini-
pela prostaglandina PGF2a, que é sintetiza- no. 1, artéria útero-ovariana; 2, artéria ovariana;
da e liberada pelo útero. 3, artéria útero-tubárica; 3' artéria cornual ante-
rior ou artéria anterior do corno uterino; 4, arté-
ria uterina; 5, artéria cornual média; 6, artéria
cornual posterior; 7, artéria do corpo do útero; 8,
Glândulas Endometriais e Fluido Uterino artéria vaginal; 9, artéria cérvico-uterina; 10, ar-
téria vaginorretal; 11, artéria pudenda interna; 12,
As glândulas endometriais são estruturas artéria do clitóris. (Barone e Pavaux (1962). Bull.
tubulares delineadas com epitélio colunar, Soe. Sei. Veto Lyon W,l, 33-52).
apresentando-se sinuosas e ramificadas. Elas
se abrem para dentro da superfície do
endométrio, excetuando-se as áreas tornam-se mais sinuosas e complexas. Elas
carunculares (em ruminantes). As glândulas começam a regredir quando são também no-
apresentam-se relativamente retas durante tados os primeiros sinais de regressão uterina.
o cio; à medida que aumenta o nível de As células epiteliais da superfície do
progesterona produzida pelo corpo lúteo em endométrio são relativamente altas durante
desenvolvimento, elas crescem, secretam e o cio; em seguida a um período de ativa se-
Anatomia da Reprodução Feminina 45

creção durante o cio, elas tornam-se baixas e sentam um tipo de placentação epiteliocorial
cubóides dois dias após o cio. ou sindesmocoriaI. Sob a forma de recepto-
O volume e a composição bioquímica do flui- res, p. ex., as proteínas são responsáveis pelo
do uterino mostram consistentes variações estabelecimento da sensibilidade do útero aos
durante o ciclo estral (Fig. 2-17). Na ovelha o esteróides ovarianos. O estrógeno secretado
volume do fluido no útero excede ao da trom- durante a fase pré-ovulatória parece ser res-
pa durante o cio, enquanto que durante a fase ponsável pela indução da síntese de
luteínica o inverso é verdadeiro. progesterona e estrógeno, e é através da sín-
tese desses receptores de progesterona que o
Proteínas Uterinas. O fluido endometrial estrógeno pré-ovulatório prepara o útero para
contém principalmente proteínas séricas, mas a subsequente proliferação progestacionaI.
há também pequenas quantidades de proteí- Proteínas específicas de origem uterina e/
nas específicas. A proporção de quantidades ou do produto da concepção foram identifi-
desta proteína varia de acordo com o ciclo cadas e caracterizadas durante o início da
reprodutivo. Diferenças de concentração, bem gestação em ovelhas; todavia, não se sabe ain-
como a distribuição dos componentes nos flui- da se algumas destas proteínas podem influ-
dos uterinos, comparadas ao soro sanguíneo enciar respostas imunes mediadas por célu-
fornecem evidências que ocorre secreção e las. Uma das proteínas, de cor púrpura, uma
inclusive transudação. Na coelha, uma pro- glicoproteína contendo ferro denominada
teína denominada blastoquinina (uteroglo- uteroferrin foi purificada (Basha et aI., 1980).
bulina) pode influenciar a formação de Secreções uterinas tomam parte no controle
blastocisto a partir da mórula, enquanto que da implantação e do crescimento embrioná-
o fluido uterino da camundonga contém um rIO.
fator que inicia a implantação. As secreções O fluido uterino apresenta duas importan-
uterinas propiciam um ambiente ótimo para tes funções: subministrar um ambiente favo-
a sobrevivência e a capacitação dos esperma- rável para a capacitação espermática e for-
tozóides, além da clivagem do blastocisto pri- necer condições nutritivas para o blastocisto
mário antes da implantação. até que se complete a implantação. Na vaca,
A diesterase glicerilfosforilcolina (GPC) nas o embrião permanece livre no meio por apro-
secreções uterinas atinge uma concentração ximadamente 30 dias, durante os quais ocor-
máxima por ocasião da ovu!ação em re grande diferenciação embrionária antes
consequência de ação estrogênica. Esta que o produto se una firmemente ao
enzima hidrolisa a glicerilfosforilcolina libe- endométrio.
rando glicerol e fosfoglicerol para utilização
pelos espermatozóides. As secreções uterinas
do proestro são responsáveis pelo início da Contração Uterina
captação assim como pelo estímulo do meta-
bolismo espermático. Em complemento a es- A contração do útero é coordenada com
tas proteínas secretoras, os altos níveis de movimentos rítmicos da trompa e ovário. Há
estrógenos associados à ovulação são respon- uma considerável variação na origem, dire-
sáveis pela indução da síntese de algumas ção, grau de amplitude e frequência das con-
proteínas -incluindo mucopolissacarídeos do trações no trato reprodutivo. Na coelha em
estroma, receptores hormonais de esteróides cio, as contrações uterinas são continuações
e enzimas que executam importantes funções de contrações das trompas e se movem ao lon-
dentro do próprio endométrio. go do corpo uterino da junção útero-tubárica
As secreções podem continuar sendo uma em direção à cérvice. De um modo geral, maio-
fonte importante de nutrição para o feto em res números de contrações uterinas se mo-
crescimento durante a fase de pós-implanta- vem em direção das trompas no início do cio,
ção da gestação. Este fato é particularmente porém em direção da cérvice após cessado o
verdadeiro em animais domésticos que apre- cio.
46 Anatomia Funcional da Reprodução

A dinâmica vascular uterina e a contra- Os hormônios ovarianos apresentam subs-


tilidade são moduladas por hormônios tancial envolvimento na regulação do meta-
esteróides ovarianos e aminas biogênicas. O bolismo uterino. O crescimento do útero (tanto
plexo vascular uterino recebe uma inervação a síntese protéica como as divisões celulares)
rica vasomotora que altera o fluxo sanguíneo é induzido por estrógeno; no processo ele uti-
uterino e o volume sanguíneo. Assim, a liza grande quantidade de energia sob a for-
vasculatura uterina apresenta inervações ma de ATP. As respostas progestacionais no
vasodilatadoras (colinérgicas) e vasocons- endométrio envolvem maior crescimento, no-
tritoras (adrenérgicas) que são moduladas por tável aumento em DNA e RNA e perda de
condições cíclicas (hormonais) (Garris et aI., água. Uma rápida modificação ocorre no me-
1984). tabolismo do endométrio, mais ou menos na
Durante o ciclo estral, a frequência de con- época em que o ovo passa através da junção
trações miometrais é máxima e imediatamen- útero-tubárica.
te após o cio. No cio, as contrações uterinas
originam-se na porção posterior do trato Função do Útero
reprodutivo e mais predominantemente em
direção ao oviduto. Durante a fase luteínica, O útero apresenta uma série de funções. O
a frequência de contrações é reduzida e ape- endométrio e seus fluidos têm grande rele-
nas uma pequena porcentagem move-se em vância no processo reprodutivo: (a) transpor-
direção aos ovidutos. O estradiol aumenta a te dos espermatozóides do local de ejaculação
frequência de contrações uterinas em ove- até o ponto da fertilização da trompa; (b) con-
lhas ovariectomizadas, onde a progesterona trole da função do corpo lúteo e (c) início da
reduz a frequência. Altos níveis de proges- implantação, gestação e parto.
terona são notados quando a atividade Transporte Espermático. Durante a cober-
contrátil está relativamente quiescente. Al- tura, a contração do miométrio é essencial
tos níveis de progesterona ligados ao estro para o transporte do espermatozóide do pon-
representam um papel na quiescência de to de ejaculação para o local da fertilização.
progesterona induzi da durante a fase Um grande número de espermatozóides agre-
luteínica do ciclo estraI. ga-se nas glândulas endometriais; o signifi-
cado fisiológico e imunológico deste fenôme-
no é desconhecido. À medida que os
Metabolismo Uterino espermatozóides são transportados através
da luz uterina para as trompas eles sofrem a
o endométrio metaboliza carboidratos, "capacitação" nas secreções endometriais.
lipídios e proteínas para suprir os requeri- Mecanismos Luteolíticos. Existe um ciclo
mentos necessários à nutrição celular, à rá- útero-ovariano local no qual o corpo lúteo es-
pida proliferação do tecido uterino e ao de- timula o útero para que este produza uma
senvolvimento do produto da concepção. substância, que por sua vez destrói o corpo
Variações metabólicas cíclicas neste tecido lúteo. O útero possui um importante papel
consistem de modificações na taxa de síntese no controle da função do corpo lúteo. Os cor-
de ácido nucléico, na avaliabilidade de glicose pos lúteos são mantidos funcionalmente ati-
e na quantidade de reservas de glicogênio. vos por longos períodos seguindo-se à
Estas reações dependem de quatro fenôme- histerectomia em vacas, ovelhas ou porcas.
nos: (a) as reações enzimáticas envolvidas no Caso pequenas porções de tecido uterino per-
metabolismo da glicose; (b) aumento da cir- maneçam in situ, a regressão luteínica ocor-
culação através das arteríolas espiraladas; (c) re e os ciclos recomeçam após variados perío-
alterações morfológicas que ocorrem no dos. Em seguida à histerectomia unilateral,
efldométrio e miométrio e (d) ação estimulan- os corpos lúteos adjacentes ao corno uterino
te dos hormônios ovarianos e outros hormô- retirado são melhor mantidos do que aqueles
nios. adjacentes ao corno remanescente (Fig. 2-21).
Anatomia da Reprodução Feminina 47

É possível que o útero produza ou partici-


pe na produção de alguma substância luteo-
lítica, e esta luteolisina uterina pode ser se-
letivamente transferi da da veia útero-ovárica
para a artéria que lhe é intimamente aderen-
te, atingindo assim o ovário em concentrações
muito maiores do que no sangue periférico. A
A administração intramuscular ou intra-
uterina de prostaglandina provoca regressão
luteínica completa na vaca e na ovelha. Infu-
sões de PGF2a na veia útero-ovariana de ove-
lhas também causam rápida regressão dos
corpos lúteos e uma queda nos níveis
plasmáticos de progesterona. A PGF2a pare-
ce ser a luteolisina uterina na ovelha, trans-
mitida por um trajeto venoarterial diretamen-
te do útero para o corpo lúteo, onde provoca a
regressão luteínica. B
O corno uterino gestante exerce um efeito
antiluteolítico ao nível do ovário adjacente.
Este efeito é exercido através de um trajeto
local útero-ovariano-venoarterial.
Na ovelha não-prenhe, o útero provoca re-
gressão do corpo lúteo por um mecanismo di-
reto e local entre o corno uterino e o ovário
adjacente. O trajeto local entre um corno
uterino e o ovário adjacente na ovelha é de
natureza venoarterial, envolvendo a princi-
pal veia uterina (ramo uterino da veia ovaria-
na) como elemento uterino e o ramo ovariano
da artéria ovárica como componente ovaria-
no.
A dilatação uterina e a irritação inibem o
desenvolvimento normal e a função dos cor-
pos lúteos cíelicos em vacas e ovelhas. Este ~PARTE REMOVIDA DO ÚTERO
mecanismo pode ter influência nos distúrbios
reprodutivos. A infusão de grande quantida- ~ CORPOS LÚTEOS EM REGRESSÃO
de de bactérias não-específicas dentro do útero
e a inseminação de novilhas com sêmen con-
~ CORPOS LÚTEOS PERSISTENTES

taminado por um vírus provocam a inibi- FIG. 2-21. Diagrama mostrando o efeito da
ção luteínica e induzem cios precoces. histerectomia parcial sobre a persistência dos cor-
pos lúteos em suínos. A, Histerectomia total du-
Implantação e Gestação. O útero é um ór- rante a fase luteínica provoca a retenção do corpo
gão altamente especializado e adaptado para lúteo por um período similar ao da gestação. B,
aceitar e nutrir os produtos da concepção des- Histerectomia unilateral e remoção parcial do ou-
de a implantação até o parto. Uma "diferen- tro corno, permanecendo apenas um fragmento de
ciação" uterina bem descrita, embora obscu- 20 cm de comprimento, provoca funcionalidade
assimétrica dos dois ovários. C, Os corpos lúteos
ramente definida, ocorre sob o comando dos do lado intacto são normalmente mantidos, en-
hormônios esteróides ovarianos. Este proces- quanto que os do outro lado regridem antes do 22Q
so deve evoluir para algum estágio crítico em dia da gestação. (Dados de Du Mesnil du Buisson
que o útero esteja preparado para aceitar se- (1961). Ann. Biol. Anim. Bioch. Biophys. 1,105.).
48 Anatomia Funcional da Reprodução

letivamente o blastocisto. Caso não ocorra tal


diferenciação, o útero não estará adaptado
para permitir a implantação.
Após a implantação, o embrião depende de
um suprimento vascular adequado dentro do
endométrio para o seu desenvolvimento. Du-
rante a gestação as propriedades fisiológicas
do endométrio e seu suprimento sanguíneo
são importantes para a sobrevivência e de-
senvolvimento do feto. O útero tem capacida-
de de sofrer modificações extraordinárias no
tamanho, estrutura e posição a fim de aco-
modar as necessidades do produto em cresci-
mento.
Parto e Involução Pós-parto. A resposta
contrátil do útero permanece quiescente até
a época do parto, quando então tem a partici-
pação mais destacada para a expulsão fetal. FIG. 2-22. Ilustração diagramática das modifica-
Após o parto, o útero quase readquire seu ções de tamanho e forma do útero de ruminantes
antigo tamanho e condição por um processo durante a gestação. Três úteros são mostrados no
chamado involução (Fig. 2-22). Na porca, o diagrama; o mais interno representa um útero não
útero diminui continuamente em peso e ex- prenhe; o mais externo representa um útero pre-
tensão durante 28 dias após o parto; poste- nhe antes do parto e o do meio representa um úte-
ro em processo de involução após o parto.
riormente ele permanece relativamente imu-
tável durante o período de lactação. No
entanto imediatamente após o desmame da
leitegada, o útero aumenta de peso e tama-
nho por 4 dias.
Durante o intervalo pós-parto, a destrui- estral subsequente será encurtado ou prolon-
ção do tecido endometrial é acompanhada pela gado dependendo de quando se deu a inser-
presença de um grande número de leucócitos ção do corpo estranho e da natureza e tama-
e pela redução do leito vascular endometrial. nho do material introduzido. O fato do ciclo
As células do miométrio são reduzidas em estral não ser afetado quando o segmento
número e tamanho. Estas alterações rápidas uterino contendo o corpo estranho tiver sido
e desproporcionais no tecido uterino são a enervado, mostra que o sistema nervoso é
possível causa do baixo índice de concepção responsável por esse efeito.
pós-parto. A involução uterina não é retarda- Embora os dispositivos intra-uterinos
da pela presença dos bezerros em amamen- (DIUs) apresentem efeito antifertilidade em
tação e nem por anemia da mãe. Os tecidos vários animais domésticos, aparentemente
carunculares se destacam e são repelidos do seu modo de ação varia bastante. O maior efei-
útero 12 dias após o parto. A regeneração do to antifertilidade dos DIUs parece ser exerci-
epitélio superficial sobre as carúnculas ocor- do entre o momento que o embrião entra no
re pelo crescimento do tecido circundante e útero e o momento da implantação. Por exem-
completa-se 30 dias após o parto. plo, a inserção de DIUs de grande diâmetro
Efeitos de Corpos Estranhos e DIUs. O (que distendem o útero) em ovelhas e vacas
estímulo do útero durante o início do ciclo resulta em alteração do ciclo estral caracte-
estI"a1 apressa a regressão do corpo lúteo e rizada pelo encurtamento da atividade funcio-
provoca cio precoce. O estímulo uterino pode nal do corpolúteo. Na ovelha os DlUs de gran-
ser desencadeado pela colocação de um pe- de diâmetro inibem o transporte espermático
queno corpo estranho dentro do útero. O ciclo e a fertilização.
Anatomia da Reprodução Feminina 49

CÉRVICE UTERINA dispõem-se em forma de saca-rolhas, adap-


tando-se à extremidade torcida em espiral do
A cérvice uterina é uma estrutura seme- pênis do macho. Na égua, são características
lhante a um esfíncter que se projeta as visíveis dobras da mucosa e as alças que
caudalmente na vagina (Fig. 2-23). A cérvice se projetam para dentro da vagina.
é um órgão fibroso composto predominante- A cérvice permanece firmemente fechada,
mente de tecido conjuntivo e muito pouco de exceto durante o cio, quando relaxa-se leve-
tecido muscular presente. Desde que as pro- mente, permitindo a entrada dos esperma-
priedades do tecido conjuntivo dependem do tozóides no útero. O muco saído da cérvice é
tipo, da concentração e das interações das expelido pela vulva.
moléculas que compõem a matriz
extracelular, as características funcionais da
cérvice são alteradas dramaticamente pelas Estroma Cervical e Modificações
modificações nestes parâmetros (Fig. 2~24). Fisiológicas
A cérvice caracteriza-se por uma espessa
parede e uma luz constrita. Embora a cérvice O tecido conjuntivo do estroma cervical é
difira em detalhes entre os mamíferos domés- feito de substância básica, de constituintes
ticos, o canal cervical é caracterizado por vá- fibrosos e de elementos celulares. A substân-
rias proeminências. Nos ruminantes estas cia básica contém proteoglican e ácido
têm a forma transversa ou espiralada com hialurônico, sulfato de condroitina-4,6, sulfato
saliências fixas conhecidas por anéis anula- dermatânico, sulfato heparânico e sulfato de
res, que apresentam vários graus de desen- ceratan associados com proteínas. Os consti-
volvimento nas diferentes espécies (Figs. 2- tuintes fibrosos incluem colágeno, elastina e
25 e 2-26). Na vaca, são especialmente reticulina. Os elementos celulares compreen-
proeminentes (geralmente quatro anéis) e na dem mast células, fibroblastos, e células er-
ovelha adaptam-se um no outro, ocluindo a rantes. O colágeno é feito de cadeias de vá-
cérvice com segurança. Na porca, os anéis rios aminoácidos como a glicina, a prolina, a

FIG. 2-23. Morfologia e histologia da cérvice. A,


Cérvice (cortada de forma aberta) de uma novilha
4 dias após o cio. Notar os anéis ao redor do canal
cervical. B, Microfotografia eletrônica de varredu-
ra da cérvice bovina. Notar a complexidade das
criptas cervicais (59X).
50 Anatomia Funcional da Reprodução

RF
@
111\\ ~ Hipotálamo
hip6fise
anterior Ó)
FSH, LH
O'
Progesterona
~
Le).lcócitos
fagocitose
Miométrio
6i)\
contração 'ZV
Endométrio capacitação
secreção

Criptas cervicais
filtro espermático
barreira espermática Muco cervical
reservatório espermático
propriedades biofísicas
propriedades bioquímicas

Plasma seminal Micelas


prostaglandinas macromoléculas
Enzimas seminais micromoléculas

FIG. 2-24. Aspectos comparativos da anatomia e fisiologia da cérvice.

hidroxiprolina, a lisina e a hidrolisina. Os Durante a gestação, a cérvice pode apre-


padrões de reticulina, elastina, e substâncias sentar até oito vezes o seu tamanho em mas-
interfibrosas básicas facilitam a dilatação da sa. O crescimento aumentado e a concentra-
cérvice no momento do parto. A dissociação ção diminuída dos componentes das matrizes
das fibras colágenas, que separam-se acen- podem ser consequência de vários fatores,
tuadamente umas das outras, provoca o afrou- incluindo vascularização aumentada associa-
xamento dos tecidos cervicais e aumenta de da a um influxo de células inflamatórias e a
maneira muito clara os espaços entre os fei- um aumento na produção celular do estroma
xes de colágenos. em consequência de mitose fibroblástica ati-
Modificações macroscópicas na composição va. Ahipertrofia da musculatura lisa aumen-
bioquímica da cérvice durante a gestação in- ta nas proteínas plasmáticas que entram nos
dicam que ela está se preparando para alte- tecidos conjuntivos durante um edema e au-
rar suas propriedades funcionais, modifican- menta as concentrações de glicoproteínas.
do os parâmetros que regulam as O amadurecimento e o amolecimento
propriedades físicas das matrizes do tecido cervical não são exclusivamente devidos à
conjuntivo. Morfologicamente, estas modifi- atividade enzimática envolvendo apenas a
J;:ações relacionadas à gestação não se tornam degradação da matriz. A natureza dinâmica
aparentes até quase o final, quando a degra- da cérvice por ocasião do parto pode propor-
dação tecidual e a destruição do retículo do cionar uma base anabólica pela qual é produ-
colágeno tornam-se aparentes. zida uma nova matriz com propriedades físi-
Anatomia da Reprodução Feminina 51

Muco Cervical

o muco cervical consiste de macromo-


léculas de mucina de origem epitelial (Fig. 2-
27), que são compostas de glicoproteínas (par-
ticularmente do tipo sialomucinal) contendo
25% de aminoácidos e 75% de carboidratos.A
mucina é composta de uma longa cadeia
polipeptídica contínua com numerosas cadei-
as colaterais oligossacáridas. Os carboidratos
presentes são a galactose, a glicosamina, a
fucose e o ácido siálico. As proteínas do muco
cervical incluem a pré-albumina, a lipopro-
teína, a albumina e as ~e y-globulinas. O
muco cervical contém várias enzimas inclu-
indo glucoronidase, amilase, fosforilase,
estearase e fosfatases.
Em decorrência de suas características
biofísicas singulares, o muco cervical apresen-
ta várias propriedades reológicas, como cris-
talização em forma de folha de samambaia,
elasticidade, viscosidade, fluidificação e
espessamento. Fazendo-se um esfregaço so-
bre uma lâmina com muco cervical durante o
cio, observa-se que depois de seco, ele apre-
senta uma cristalização em forma de folha de
samambaia. Esta característica, associada ao
alto conteúdo de cloretos no muco, não ocorre
quando o esfregaço é feito nas fases do ciclo
estral em que predominam os níveis de
FIG. 2-25. (Acima) Traçado de uma secção longi- progesterona e nem durante a gestação. O
tudinal da cérvice bovina mostrando a complexi-
dade das criptas cervicais que atraem maciças fenômeno pode ter algum valor quando com-
quantidades de espermatozóides. E, externa, ou I, binado com outras observações, para o diag-
interna, ou M, mucos a secretora de muco; S, nóstico precoce da gestação. A secreção de
estroma cervical. (Abaixo) Ilustração diagramática muco cervical é estimulada pelos estrógenos
mostrando como os filetes de muco cervical fluem
ovarianos e inibida pela progesterona. As
das criptas da cérvice (C) para o epitélio da vagina
(V). As características biofísicas do muco cervical modificações dclicas qualitativas do muco
e a disposição das macromoléculas de muco facili- cervical durante o ciclo estral e as variações
tam o transporte dos espermatozóides da vagina dclicas na disposição e viscosidade dessas
para o útero (U). macromoléculas provocam alterações perió-
dicas na penetrabilidade dos espermatozóides
no canal cervical. As alterações mais favorá-
cas alteradas. As principais características da veis das propriedades do muco cervical, como
cérvice em trabalho de parto incluem (a) au- aumento na quantidade, viscosidade, crista-
mento dos níveis de proteoglican e síntese de lização e pH, assim como a diminuição da vis-
hialuronatos com concomitante diminuição na cosidade e do conteúdo celular, ocorrem du-
concentração de hexuronato, (b) aparecimen- rante o cio e a ovulação; elas se invertem
to de um novo tipo de proteoglican e (c) uma durante a fase luteínica, na qual a penetra-
degradação na estrutura e na organização do ção dos espermatozóides na cérvice é inibida.
retículo colágeno. Sob a influência dos estrógeI?-°s as
52 Anatomia Funcional da Reprodução

FIG. 2-26. (Acima) Estrutura em


lill!!! forma de saca-rolhas do canal
cervical para acomodar estrutura
similar do pênis. (Hunter, 1983).
(Abaixo) Cérvice de coelha. Notar
a complexidade do canal cervical
da dupla cérvice.

Junção a outra cérvice

macromoléculas de glicoproteínas do muco muco cervical têm importante papel na mi-


são de tal modo orientadas que o espaço en- gração espermática. A penetrabilidade au-
tre elas medem de 211a 511.Na fase luteínica, menta com a clarificação do muco, desde que
os espaços da rede de macromoléculas tor- os restos celulares e os leucócitos retardem a
nam-se cada vez menores. Assim, durante o migração espermática. Os espaços aquosos
cio e a ovulação o grande tamanho das ma- entre as micelas permitem a passagem dos
lhas permite o transporte de espermatozóides espermatozóides, assim como a difusão de
através da rede de filamentos e do canal substâncias solúveis. As enzimas proteb-
cervical. líticas podem hidrolisar a proteína da espi-
nha dorsal ou algumas conexões cruzadas de
Funções mucina, reduzindo assim a resistência das
malhas e tornando os canais mais abertos
A cérvice tem diversas funções no processo para a migração espermática. Quando o muco
reprodutivo: (a) facilita o transporte cervical e o sêmen são colocados em contato
espermático através do muco cervical para o in uitro, as fases são separadas por superfí-
interior do útero; (b) atua como reservatório cies de descontinuidade entre os dois fluidos.
de espermatozóides (ver Capítulo 6) e (c) pode Logo aparecem falanges espermáticas e de-
tomar parte na seleção de espermatozóides senvolvem-se altos graus de arborização, cujos
viáveis, impedindo assim a passagem de cé- aspectos terminais consistem de canais pelos
lulas espermáticas inviáveis e defeituosas. quais um ou dois espermatozóides podem
Transporte Espermático. Depois da passar.
ejaculação, os espermatozóides são orienta- Após a cobertura ou inseminação artificial,
dos em direção ao orifício interno do útero. quantidades maciças de espermatozóides fi-
.. Com os movimentos e vibrações do flagelo, a cam alojadas nas complicadas criptas
cabeça do espermatozóide é impulsionada em cervicais. A cérvice pode atuar como reserva-
direção aos canais de menor resistência. As tório de espermatozóides, abastecendo assim
propriedades macro e microrreológicas do o trato reprodutivo superior com subsequen-
Anatomia da Reprodução Feminina 53

za-se entre as criptas cervicais. A penetração


de espermatozóides nestes locais cervicais
depende da viabilidade e da estrutura esper-
mática e consequentemente, das proprieda-
des reológicas do muco cervical.
A Cérvice Durante a Gestação. Durante a
gestação, o muco que oclui o canal cervical é
altamente viscoso, espesso, turvo e não se cris-
taliza; deste modo, age como barreira eficien-
te contra o trânsito espermático e invasão
bacteriana no útero, prevenindo infecções
uterinas. A única vez que a cérvice se abre
secretoras novamente é antes do parto. Nesta hora o
(biossíntese) cHiares tampão cervical se liquefaz e a cérvice se di-
lata para permitir a expulsão do feto e das
membranas fetais.

secretoras (várias) VAGINA

(~~,.,~ A parede vaginal consiste de uma superfí-


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cie epitelial, de uma camada muscular e de
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uma serosa. A camada muscular da vagina
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não é tão bem desenvolvida como as partes


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externas do útero. Ela consiste de um espes-
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. , da longitudinal externa; esta última esten-
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de-se por certa distância para dentro do útero.


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I A túnica muscularis é bem suprida de vasos


"o,".GÔ!
"" sanguíneos, feixes de nervos, células nervo-
sas esparsas e tecido conjuntivo denso. So-
~~. ft(:i~f!1 mente na vaca aparece um esfíncter muscu-
lar anterior além do esfíncter posterior (na
FIG. 2-27. Cripta cervical (acima) e células
secretoras antes e após a secreção de muco (abai- junção da vagina e vestíbulo), presente em
xo). As células ciliadas à direita podem colaborar outras espécies de mamíferos domésticos.
na liberação de muco da superfície das células A superfície do epitélio apresenta células
secretoras adjacentes por meio de batimentos dos epiteliais escamosas estratificadas, sem glân-
cinocílios.
dulas, com exceção da vaca, em que estão pre-
sentes algumas células mucosas na porção
tes liberações de material seminal. É possí- cranial próxima à cérvice e a superfície
vel também que os espermatozóides presos epitelial não se transforma no tipo escamoso
nas criptas cervicais nunca sejam liberados, estratificado provavelmente devido aos bai-
impedindo assim que um número excessivo xos níveis de estrógenos circulantes.
atinja o local da fertilização. Existem diferenças interespecíficas nas
Nos ruminantes a prolongada sobrevivên- alterações vaginais durante o ciclo estral, que
cia dos espermatozóides na cérvice, proporci- provavelmente refletem diferentes níveis de
onalmente a outros segmentos do trato repro- secreção de estrógeno e progesterona e mes-
dutivo, sugere que a cérvice atua como um mo de gonadotrofinas. No entanto, os esfre-
reservatório espermático. Nas cérvices de gaços vaginais não se prestam para o diag-
vacas e cabras, a maioria dos espermatozóides nóstico das fases do ciclo estral ou de
não é aleatoriamente distribuída, mas locali- disfunções hormonais.
54 Anatomia Funcional da Reprodução

A superfície das células vaginais é feita de Células plasmáticas maturas e imaturas,


numerosas microssaliências dispostas longi- localizadas abaixo do epitélio, parecem estar
tudinalmente ou em círculos (Fig. 2-28). Nes- sob controle endócrino, pois aumentam em
te epitélio multiestratificado, as células são número durante a fase luteínica, após a
calçadas umas sobre as outras interlaçando- ovariectomia e durante a fase pós-meno-
se em microssaliências, formando deste modo páusica. É possível que estas células plasmá-
uma superfície firme. A morfologia e o padrão ticas participem na secreção de imuno-
destas microssaliências, que garantem a fir- globulinas A e G, que parecem prevenir
meza do epitélio variam durante o ciclo repro- infecções bacterianas e produzir anticorpos
dutivo. As microssaliências mostram um pa- contra espermatozóides.
drão regular durante a gestação, enquanto Fluido Vaginal. O fluido vaginal é compos-
que alguns poros aparecem dentro das célu- to primariamente de transudato da parede va-
las durante o ciclo estral. ginal, misturado com secreções vulvares das
glândulas sebáceas e sudoríparas e contami-
Respostas Fisiológicas nado com muco cervical, fluido endometrial e
tubárico e células esfoliadas do epitélio vagi-
Contrações Vaginais. As contrações vagi- nal. À medida que se aproxima o cio, aumen-
nais representam importante papel nas res- ta a vascularização da parede vaginal e o flui-
postas psiquicossexuais e possivelmente no do vaginal torna-se mais fino.
transporte espermático. A contração da vagi- Um odor específico e distinto é percebido
na, útero e trompa é ativada pelo fluido no trato urogenital de vacas durante o cio.
secreta do na vagina durante o estímulo pré- No diestro, este odor aparentemente desapa-
coital. rece ou é bastante atenuado. Existem alguns
Respostas Imunológicas. Parece que a va- resultados indicando que cães podem ser trei-
gina é o melhor local para a reação antígeno- nados para detectar e responder a esses odo-
anticorpo por estar mais exposta ao antígeno res associados com o cio em bovinos (Kiddy et
espermático do que o útero e a trompa. A pro- aI., 1978).
dução local de anticorpos aos antígenos Flora Microbiana. A flora vaginal é com-
espermáticos pode ocorrer dentro dos tecidos posta de uma dinâmica mistura de microrga-
vaginais. nismos aeróbios, facultativamente
anaeróbios, com novas linhagens sendo cons-
tantemente introduzidas. A flora de micror-
ganismos é variável durante o ciclo estral. As
várias populações de microrganismos apre-
sentam enzimas que lhes permitem sobrevi-
ver e mutiplicar-se no ambiente vaginal. Ape-
nas os mais capazes de multiplicar-se e de
competir pelos nutrientes podem se estabele-
cer e juntar-se à flora ou mesmo substituir
outros microrganismos. Durante os períodos
de alto conteúdo glicogênico os organismos
acidófilos predominam, mas outros organis-
mos estão presentes entre o grupo heterogê-
neo constituindo-se a flora normal.

Funções da Vagina.
FIG. 2-28. Microfotografia eletrônica de varredu-
ra da vagina de uma coelha mostrando rugas do Múltiplas são as funções da vagina na re-
epitélio em toda a expansão da vagina durante a produção. É um órgão copulatório onde o sê-
cópula e o parto. men é depositado e coagulado até que os
Anatomia da Reprodução Feminina 55

espermatozóides sejam transportados através O vestíbulo da vaca estende-se internamen-


das macromoléculas da coluna de muco te por aproximadamente 10 cm, onde o orifí-
cervical. A vagina dilatada como um bulbo, cio uretral externo se abre em sua superfície
atua como reservatório de sêmen para forne- ventral. Logo após esta abertura situa-se o
cer espermatozóides aos depósitos cervicais. divertículo suburetral, em fundo de saco (Fig.
As dobras vaginais e a estrutura muscular 2-19). Os tubos de Gartner (resquícios dos
de forma rombóide permitem a distensão da dutos de Wolfl) abrem-se no vestíbulo poste-
vagina durante a cobertura e o parto. Embo- rior e lateralmente aos dutos de Gartner. As
ra a vagina não possua glândulas, suas pare- glândulas de Bartholin, que secretam um lí-
des são umedecidas por transudatos do quido viscoso mais ativamente durante o cio,
epitélio vaginal (incorretamente chamado apresentam estrutura tuboalveolar similar às
mucosa), por muco cervical e por secreções glândulas bulbouretrais no macho.
endometriais. Lábios Maiores e Lábios Menores. O
Após a ejaculação o plasma seminal não é tegumento dos lábios maiores é ricamente
transportado para o útero, a maior parte é dotado de glândulas sebáceas e tubulares. Ele
expelida ou absorvida pelas paredes vaginais. contém depósitos de gordura, tecido elástico
Alguns dos componentes bioquímicos do plas- e uma fina camada de músculo liso, apresen-
ma seminal, quando absorvidos na vagina, tando a mesma estrutura superficial externa
exercem respostas fisiológicas em outras par- da pele. Os lábios menores têm tecido con-
tes do trato reprodutivo feminino. juntivo esponjoso no centro. A superfície con-
O pH da secreção vaginal não é favorável tém muitas glândulas sebáceas bem desen-
aos espermatozóides. Uma complexa intera- volvidas.
ção do muco cervical, da secreção vaginal e Clitóris. A comissura ventral do vestíbulo
do plasma seminal induz um sistema tam- encobre o clitóris, que apresenta a mesma
pão que protege os espermatozóides até que origem embrionária do pênis. Ele é composto
eles sejam transportados através das micelas de tecido erétil coberto por um epitélio esca-
do muco cervical. Condições patológicas que moso estratificado e é bem suprido de termi-
resultem em qualidade de tampões insufici- nações nervosas sensitivas. Na vaca, a maior
entes ao acúmulo seminal (p. ex., pequeno vo- parte do clitóris está oculta na mucos a do ves-
lume de ejaculação, porções escassas de es- tíbulo. Na égua, entretanto, ele é bem desen-
pesso muco cervical e escoamento do sêmen) volvido e na porca é longo e sinuoso, termi-
podem ocasionar rápida imobilização dos nando em uma pequena ponta ou cone.
espermatozóides. A vagina serve como um
duto excretor das secreções cervicais, REFERÊNCIAS
endometriais e tubáricas; ela serve também
de via natal durante o parto. Estas funções Basha,S.,Bazer, F.W., Geiser, R.D. and Roberts, RM.
são cumpridas por várias características fisio- (1980).Progesterone-induced uterine secretiom
lógicas, principalmente, contração, expansão, in pigs. Recovery from pseudopregnant and uni.
laterally pregnant gilts. J. Anim. Sei. 50, 113-
involução, secreção e absorção. 123.
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lieular development during eompensatory ovar-
ian hypertrophy in the guinea pig. J. Reprod.
O vestíbulo, os lábios maiores, os lábios Fertil. 71, 39-44.
menores, o clitóris e as glândulas vestibula- Erb, RE., Randel, R.D. and Callahan, C.J. (1971).
res constituem a genitália externa. Female sexsteroid ehanges during lhe reprodue-
Vestíbulo. A junção da vagina e vestíbulo é tive eycle.J. Anim. Sei.Suppl. 1,32, 80. (IX Bien-
marcada pelo orifício uretral externo e fre- DialSymposium on Animal Reproduetion).
Carris, D.R, Ingenito, A.}., MeConnaughey, M.M.
quentemente por uma saliência (o vestígio do and Dar, M.S.(1984). Regulation of estrogen-in-
hímen). Em certas vacas, o hímen pode ser dueed uterine hyperemia and eontractility in
tão proeminente que interfere com a cópula. guinea pig: eholinergie modulation of an alpha-
56 Anatomia Funcional da Reprodução

adrenergie response. Biol. Reprod. 30, 863-868. ian funetion. Biol. Reprod. 13, 381.
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diol bensoate or human ehorionie gonadotro- and Marta, J.S. (1984). Immunocytochemieallo-
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Nett, T.M. (1976). Blood flow: a mediator of ovar-

I~I
11. fisiologia da
reprodução
3
HORMÔNIOS, FATORES DE CRESCIMENTO E
REPRODUÇÃO
E.S.E. HAFEZ

ENDOCRINOLOGIA DA REPRODUÇÃO 1988; Griffin e Ojeda, 1988). Estes aspectos


estão resumidos nas Tabelas 3-1 a 3-5.
A endocrinologia da reprodução trata de
bioquímica, fisiologia, farmacologia e biologia Hormônios Primários e Secundários da
molecular dos hormônios e seus receptores. Reprodução
Os hormônios sintetizados e secretados pelas
glândulas endócrinas são transportados para Os hormônios da reprodução são derivados
a circulação sanguínea para estimular, inibir primariamente de quatro sistemas principais
ou interagir com a atividade funcional ou ór- (Tabelas 3-6 e 3-7):
gãos-alvo específicos produzindo grande va-
riação de respostas fisiológicas. Extensivas 1. Várias áreas do hipotálamo
investigações têm sido conduzi das para estu- 2. Lobos anterior e posterior da glândula
dar a função, estrutura e composição bioquí- pituitária
mica da actina e transmissão assim como a 3. Gônadas: testículos e ovários incluindo
aplicação clínica das glândulas endócrinas dos os tecidos intersticiais e o corpo lúteo
animais domésticos (Dickson, 1984; Genuth, 4. Útero e placenta

TABELA 3-1. Técnicas Utilizadas em Endocrinologia Reprodutiva


Procedimento Protocolo e Aplicação

Ablaçãoda glândula Remoção cirúrgica de glândulas endócrinas leva a uma deficiência de


hormônios produzidos pelas mesmas

A castração de machos remove os andrógenos resultando em uma


modificação nas características físicas

Terapia de substituição A deficiência provocada pela ablação pode ser contornada pela
implantação da glândula de novo no animal ou pela injeção de extratos
brutos da glândula removida

Isolamento do hormônio o isolamento ou separação do hormônio de outras substâncias nos


extratos brutos da glândula endócrina envolve intensos procedimentos
de separação química associados a sensíveis ensaios para quantificar o
hormônio
Uma vez isolado, o hormônio é quimicamente identificado e, se possível,
sintetizado

Controle da glândula Modificações na síntese e nível de liberação de hormônio de glândula


endócrina estudada sob condições fisiológicas por condições de técnicas de
ensaios

59
60 Fisiologia da Reprodução

TABELA 3.2. Classes de Hormônios Baseadas nas Estruturas


Estrutura Bioquímica Hormônios

Peptídios e proteínas Glicoproteínas


Hormônio folículo-estimulante (FSH)
Gonadotrofma coriônica humama (hCG)
Hormônio luteinizante (LH)
Hormônio estimulante da tireóide (TSH)

Polipeptídios
Hormônio adrenocorticotrófico (ACTH)
Glucagon
Hormônio do crescimento
Insulina
Hormônio do crescimento semelhante à insulina
Peptídios (somatomedinas)
Ocitocina
Prolactina
Relaxina
Somatostatina
Vasopressina (hormônio antidiurético-ADH)
Esteróides Aldosterona
Cortisol
Estradiol
Progesterona
Vitamina D

Aminas Epinefrina
N orepinefrina
Tiroxina (T4)
Triiodotironina (T3)

Os hormônios da reprodução são também vários aspectos da reprodução, da esper-


classificados em dois grupos, de acordo com matogênese, da ovulação, do comportamento
seu modo de ação. sexual, da fertilização, da implantação, da
1. Hormônios primários que controlam os manutenção da gestação, do parto, da lactação
vários processos reprodutivos. e do comportamento maternal. Os hormônios
2. Hormônios metabólicos, que influem in- metabólicos - necessários para o bem-estar
diretamente na reprodução. geral, estado metabólico, e crescimento do
animal, permitem o efeito pleno dos
V 'rias técnicas são conduzi das na fisiologia! hormônios primários da reprodução.

ê
b oquímica dos hormônios primários/secun- Os hormônios primários da reprodução
d 'rios da reprodução (Tabela 3-1). Os baseados em sua estrututra química, são di-
ho ônios pyimários estão envolvidos em vididos em três grupos:

TABELA 3.3. Composição Química dos Hormônios da Reprodução


Peso Molecular
Hormônios (Dáltons) Características

Esteróides 300-400 Esteróides naturais não são eficientes por administração oral
Esteróides sintéticos ou de plantas podem ser administrados por
via oral ou por injeção.
Proteínas 300-70.000 Facilmente destruídas por enzimas
Não podem ser administradas por via oral; apenas por injeção
Ácidos graxas 400 Só podem ser administrados por injeção
62 Fisiologia da Reprodução

Via nervosa

Libera ocitocina
no sangue

Alvéolos

Leite

FIG. 3.1. A descida do leite pode ser considerada um reflexo neuroendócrino. A estimulação da teta
induz um sim~! nervoso ao hipotálamo para liberar ocitocina da neuro-hipófise, que estimula as células
mioepitelÜlis para contrair os alvéolos, resultando na secreção do leite.

RELAXINA sociada com estro comportamental durante


este período pré-púbere.
LI s
22 aminoácidos Machos pré-púberes mostram um aumen-
to na amplitude de picos de LH até cerca de 3
I /
S S 26 ~inoácidos meses de idade, quando a amplitude destes
picos de LH começa a declinar. A frequência
~ INSULINA dos pulsos de LH aumenta até 4 meses de

~ S
I
S
I
21 aminoácidos
idade, quando então começa a declinar a am-
plitude destes picos de LH. A frequência dos
pulsos de LH aumenta até 4 meses de idade,
S S os níveis plasmáticos de LH aumentam de
I I 30 aminoácidos
uma forma linear. Inicialmente, as células de
FIG. 3.2. Estruturas químicas da relaxina e da Leydig requerem um alto nível de LH para a
insulina são similares, mas suas ações biológicas secreção de testosterona. Este limiar começa
são diferentes. a declinar ao redor de 6 meses de idade.
Hormônios, Fatores de Crescimento e Reprodução 63

TABELA 3-6. Principais Hormônios da Reprodução


Fonte ou Glândula Hormônios Liberadores Funções Fisiológicas
Hipotálamo Hormônio liberador do hormônio Estimula a liberação de FSH e LH
luteinizante (LH-RH)
Hormônio liberador do hormônio do Estimula a liberação do hormônio do
crescimento (GH-RH) crescimento
Hormônio inibidor do hormônio do Inibe a liberação do hormônio do
crescimento (GH-LH) (Somatostatina) crescimento.
Hormônio liberador da tireotrofina (TRH) Estimula a liberação do hormônio
estimulador da tireóide (TSH) e da
Fator inibidor da prolactina (PIF) prolactina
Hormônio liberador da corticotrofina Inibe a liberação de prolactina
(CRH) Estimula a liberação de ACTH
Hormônio folículo estimulante (FSH)
Hipófise anterior Estimula o crescimento folicular, a
espermatogênese e a secreção de
Hormônio luteinizante (LH) estrógenos
Estimula a ovulação, a função do corpo
lúteo: estimula a secreção de
Prolactina (PRL) progesterona, estrógenos e andrógenos
Promove a lactação, estimula a função do
corpo lúteo e a secreção de progesterona
em algumas espécies e promove o
comportamento materno
Ocitocina (armazenada na hipófise *Promove o crescimento ósseo e dos tecidos
Hipófise posterior posterior; produzida também no Estimula as contrações uterinas, o parto e o
ovário) transporte espermático e ovular
Facilita a ejeção do leite
Gonadotrofina coriônica humana (apenas Possível função luteolítica
Placenta primatas) (hCG) Atividade LH
Mantém o corpo lúteo da gestação em
primatas
Gonadotrofina sérica da égua prenhe
(PMSG) Atividade FSH
Estimula a formação de corpos lúteos
Lactogênio placentário acessórios na égua
Proteína B da gestação Regula o transporte de nutrientes da mãe
Estrogênios (E) para o feto, não totalmente esclarecido
Ovário Promovem o comportamento sexual;
estimulam as características sexuais
secundárias, o crescimento do trato
reprodutivo, as contrações uterinas e !:J
crescimento do duto mamário
Controlam a liberação de gonadotrofinas,
estimulam a captação do cálcio nos ossos
Progestinas (progesteronas) (P) e possuem efeitos anabólicos
Atuam sinergicamente com os estrógenos na
promoção do comportamento estral e
preparam q trato reprodutivo para a
Andrógenos implanta~iio
Testículos Desenvolvem e mantêm as glândulas
sexuais secundárias; estimulam as
características sexuais acessórias, o
comportamento sexual e a
espermatogênese; possuem efeitos
Inibina ou ativina anabólicos
Relaxina Inibe e estimula o FSH
Útero Prostaglandinas Dilata a cérvice
Provocam contrações uterinas e são
luteolíticas
64 Fisiologia da Reprodução

TABELA 3-7. Hormônios Secundários da Reprodução


Fonte Hormônio Algumas Funções
Placenta Gonadotrofina coriônica humana (hCG) Função semelhante ao LH
Estradiol Ver Ovário (Tabela 3-6)
Progesterona Ver Ovário (Tabela 3-6)
Hipófise Anterior Hormônio somatotrofina (8TH) Crescimento orgãnico; síntese de
proteínas
Estímulo da glândula tireóide.
Hormônio estimulante da tireóide (T8H) Liberação da tiroxina e captação de
iodo pela tireóide
Estímulo do córtex adrenal.
Hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) Liberação de corticóides adrenais
Hipófise Posterior Hormônio antidiurético (ADH; Vasopressina) Equilíbrio hídrico
Tireóide Tiroxina Crescimento orgânico; desenvolvimento
e maturação; oxidação de alimentos
Paratireóide Paratormônio Metabolismo do cálcio e do fósforo
Córtex Adrenal Aldosterona Metabolismo eletrolítico e hídrico
17-0H corticosteróides (cortisona; cortisol) Metabolismo de carboidratos, gorduras
e proteínas.
Pâncreas Insulina Metabolismo de carboidratos, proteínas
e gorduras

Endocrinologia da Lactação como o LH. A retroação negativa resulta quan-


do altos níveis de progesterona previnem a
Animais em lactação apresentam um perío- liberação de uma gonadotrofina.
do maior de anestro; a menos que a lactação
ou a amamentação termine, seja pela orde- Retroação Estimulatória (Uma Retroação
nha mecânica ou pela sucção de bezerros, há Positiva)
uma influência negativa na liberação de
hormônios gonadotróficos. O efeito negativo Neste sistema, um nível crescente de
está relacionado à quantidade de leite produ- hormônios provoca um aumento subsequente
zido e será diretamente relacionado a uma de outro hormônio. Por exemplo, níveis cres-
menor liberação pulsátil de LH (ver Fig. 3-1). centes de estrógenos durante a fase pré-
ovulatória acionam uma abrupta liberação de
LH hipofisário. Estes dois eventos são inti-
Mecanismos Retroativos mamente sincronizados, porque uma onda de
LH é necessária para a ruptura do folículo
A síntese, armazenamento, e liberação de ovariano.
hormônios hipotalâmicos são regulados por
hormônios pituitários e esteróides através de Mecanismo Inibidor (Uma Retroação
dois mecanismos retroativos: uma alça longa Negativa)
e uma alça curta. Mecanismo retroativo en-
volve interação entre as gônadas, pituitárias Este sistema envolve inter-relações recípro-
e o hipotálamo. No sistema retroativo curto, cas com duas ou mais glândulas e órgãos-alvo.
os níveis de gonadotrofinas pituitárias podem Por exemplo, à medida que o ovário é estimu-
. fluenciar a atividade secretora dos lado, a secreção de estrógenos aumenta, e o
1: ormônios liberadores sem mediação das nível de FSH diminui. Inclusive, quando os
gônadas. Dependendo de sua concentração no hormônios pituitários atingem um certo ní-
sangue, os hormônios esteróides podem exer- vel, alguns núcleos hipotalâmicos respondem
cer um estímulo (positivo) ou retroativo diminuindo a produção de seu hormônio
inibidor (negativo). A retroação positiva re- liberador particular. Os níveis diminuídos de
sulta quando um estrógeno ou uma progestina hormônios liberadores provocam um declínio
estimula a liberação de uma gonadotrofina, na secreção de hormônios hipofisários tráficos
Hormônios, Fatores de Crescimento e Reprodução 65

e, subsequentemente, um nível diminuído de tação aciona a síntese e secreção do hormônio


função glandular alvo. hipofisário através do sistema quinase
protéico do AMP-cíclico da célula. Os recep-
Aspectos Imunoendócrinos tores de gonadotrofinas por sua vez, são in-
fluenciados pelos níveis de estrógenos (Me
Os sistemas endócrino e imunológico Donald e Capen, 1989).
interagem extensivamente para regularizar
um ao outro. Vários órgãos endócrinos estão Ensaios Hormonais
envolvidos de alguma maneira neste proces-
so regulador: hipotálamo, hipófise, gônadas, Várias técnicas são utilizadas para estu-
adrenais, pineal, tireóide e timo. Muitos des- dar a endocrinologia: ablação de uma glân-
ses órgãos estão, eles mesmos, afetados por dula, terapia substitutiva de órgão e isola-
função imunitária. O sistema nervoso autô- mento de hormônios (Tabela 3-1). Medidas
nomo também está envolvido nesta regulação; quantitativas de hormônios são baseadas em
ele afeta o hipotálamo, a hipófise, a adrenal, ensaios biológicos, ensaios imunológicos e
o timo, o tecido linfático associado ao intesti- ensaios radiorreceptores (RIAs).
no, os nódulos linfáticos e a medula espinhal. Ensaios biológicos. Os ensaios biológicos
têm sido utilizados para medir a atividade de
Receptores Hormonais todos os hormônios. O hormônio é adminis-
trado ao animal para induzir uma resposta
Cada hormônio possui um efeito seletivo biologicamente mensurável.
sobre um ou mais órgãos-alvo. Este fenôme- Radioimunoensaios. RIA, um dos maiores
no é atingido através de dois mecanismos: avanços na endocrinologia analítica, permite
1. Cada órgão-alvo possui um método es- rápida medida de grande número de amos-
pecífico de ligar-se a um hormônio não tras contendo pequenas concentrações de
encontrado em outro tecido. hormônios. O princípio do RIA é baseado na
2. Os órgãos- alvo possuem certas vias me- teoria de que na ausência de antígeno ou
tabólicas capazes de responder às vias hormônio não-marcados (H), o hormônio
metabólicas hormonais não participan- radiativo marcado (H*) apresenta a máxima
tes de tecidos não assumidos como al- oportunidade de reagir com um número limi-
vos. tado de locais ligados a anticorpos (Ab).
Ligações específicas são os mecanismos
usuais. Por exemplo, todos os tecidos-alvo que GLÂNDULA PITUITÁRIA (HIPÓFISE)
respondem aos hormônios esteróides contêm
um receptor de proteína dentro da célula, que A glândula pituitária está localizada na
une especificamente () hormônio ativo. Den- cela túrcica, uma depressão óssea na base do
tro da célula-alvo, o hormônio esteróide é en- cérebro. A glândula é subdividida em duas
contrado no citoplasma, ligado a uma pro- partes anatômicas: um lobo anterior e um lobo
teína relativamente grande (peso molecular, posterior. Existem acentuadas variações es-
200.000 dáltons). Este complexo protéico pecíficas na anatomia da glândula pituitária.
esteróide migra através do processo, e a pro- Por exemplo, a parte intermediária é bem
teína modifica-se em forma e tamanho. O com- desenvolvida na hipófise de bovinos e equinos.
plexo recém-formado penetra no núcleo e pro- A hipófise anterior apresenta cinco tipos
voca uma sequência de respostas fisiológicas diferentes de células que secretam sete
específicas para aquela célula. hormônios:
As células-alvo da hipófise anterior pos-
suem receptores nas membranas celulares 1. Células somatotróficas, que secretam
que reconhecem e agregam seletivamente os o hormônio do crescimento
hormônios protéicos, incluindo gonado- 2. Células corticotróficas, que secretam o
trofinas (Figs. 3-3, 3-4). O fenômeno de cap- hormônio adrenocorticotrófico (ACTH)
66 Fisiologia da Reprodução

fatores exteroceptivos
A
CNS
Hipotálamo

A
#'

"
,tore, In~roreDt"re

:E1!tretroação positiva
retroação negativa
receptores
.::::.. v
gônada hipófise anterior
FIG. 3.3. A, Relações endócrinas de
fatores exteroceptivos e interoceptivos
que afetam as funções do hipotálamo,
B da hipófise e das gônadas. B,
Diagrama mostrando a formação de
~~to r~ceptores gonadotróficos afetados
pelo nível de estrógeno. C, Subuni-
~.~ I.lIgação
n='."de LH ",,", 'n~ "\ de
formação A dades de hormônios hipofisários
protéicos. Notar que a atividade
. \
mdução de receptor de ligação )
receptores de FSH
biológica é determinada por subuni-
dades-~, enquanto que as subuni-

LH n1?:!ifçj ~~ dades a são similares na estrutura.


D, As subunidades a e ~ de LR «uma
glicoproteína). Está demonstrada a
posição das unidades de polis-
subunidade subunidade sacáridos (CRO). As ligações peptí-
dicas conectando as correntes de
c hFSH Jf1 aminoácidos não estão demonstradas.

hLH e

D
HCH
hTSH -
r~ .
~~1.'
,..I!<

CHO cadeia
alfa
H2N
cadeia
H2N COOH bela

~3. Células mamotróficas, que secretam a A liberação dos hormônios hipofisários no


prolactina soro sanguíneo é cíclica. O FSH e o LH não
4. Células tireotróficas, que secretam o são liberados constantemente porém em uma
hormônio tireóide-estimulante (TSH) sequência de pequenas dosagens.
5. Células gonadotróficas, que secretam Organizações farmacêuticas obtêm glându-
o FSH e o LH (Fig. 3-5) las hipofisárias animais dos matadouros e
Hormônios, Fatores de Crescimento e Reprodução 67

dula pituitária ocasiona a atrofia gonadal.


Contudo, se o tronco da pituitária for
revascularizado, as funções gonadais podem
reabilitar-se. Por outro lado, o estímulo elé-
trico ou hormonal de núcleos específicos do

,
- 'Hormônio
hipotálamo podem regular a função gonadal.
Adenil;lto ciclase Receptor

ATP cA P+5'AMP
"' GONADOTROFINAS HIPOFISÁRIAS

\
A glândula hipofisária anterior secreta os
CITO PLASMA
quatro principais hormônios: FSH, LH,
prolactina e TSH. A prolactina e o ácido
Proteína
< propriônico podem dissociar o FSH, LH e o

T
" Esteróide
TSH em duas subunidades não idênticas de-
t
Enzima
nominadas a e l3-subunidades. A subunidade
a é idêntica dentro de espécies para FSH, LH
l'
m-RNA
l'
@
MEMBRANA CELULAR
e TSH. O peso molecular de cada um dos
hormônios glicoprotéicos é aproximadamen-
te 32.000 dáltons, com cada subunidade apre-
sentando um peso molecular de 16.000
dáltons. As subunidades a e 13de qualquer
um destes hormônios não possuem por si pró-
FIGo 3-4. Mecanismo esquemático da ação dos prias nenhuma atividade biológica. Caso a
hormônios protéicos. A sequência de eventos celu- subunidade a de um hormônio (LHa) for
lares que ocorrem após a ligação de um hormônio
protéico a um receptor na membrana de uma cé-
recombinada com a subunidade 13de outro
lula-alvo é demonstrada. hormônio (FSHI3), a molécula readquire a ati-
vidade biológica FSH ou a atividade da
subunidade 13.Se duas subunidades a ou duas
extraem vários hormônios para utilização co- subunidades 13forem combinadas, não se no-
mercial e experimental. tará atividade biológica. Estes hormônios
apresentam ação primária sobre as gônadas.
Suprimento Vascular Hormônio Folículo-Estimulanteo O FSH
estimula o crescimento e a maturação do
A conexão vascular entre o hipotálamo e a folículo ovariano. O FSH não provoca secre-
hipófise anterior é extremamente singular. O ção de estrógeno do ovário exclusivamente por
sangue arterial entra na hipófise através da sua conta, porém em presença de LH, ele es-
artéria hipofisária anterior e da artéria timula a produção de estrógenos tanto do ová-
hipofisária inferior. A artéria hipofisária su- rio, como também dos testículos. No macho, o
perior forma circunvoluções capilares na emi- FSH age nas células germinativas nos túbulos
nência medial e na pars nervosa. Destes ca- seminíferos dos testículos. O FSH é respon-
pilares, o sangue flui para os vasos sável também pela espermatogênese até a
hipotálamo-hipofisário portal, que passa abai- fase de espermatócitos secundários, após o
xo do tronco hipo:fisário para terminar em que os andrógenos responsabilizam-se pelos
capilares na hipófise anterior. O sistema por- estágios finais da espermatogênese.
tal hipotálamo-hipofisário é a via vascular que Em mulheres, após a menopausa a libera-
transporta os hormônios hipotalâmicos para ção de FSH hipofisário aumenta de maneira
a hipófise anterior (Fig. 3-4). A artéria bem acentuada, devido a falta de esteróides.
hipofisária inferior transporta o sangue para Este aumento na produção de FSH é tão sig-
a hipófise anterior e posterior. A interrupção nificativo que ele passa pelos rins e vai dire-
destes vasos sanguíneos no tronco da glân- tamente para a urina, onde é chamado de
68 Fisiologia da Reprodução

células nervosas hipotalâmicas

lexo capilar

hipófise posterior

FIG. 3-5. Complexo hipotálamo-


hipófise-gônadas. A, Células nervosas
hipotalâmicas liberando neuro-
A veia pára o sino hormônios nas veias porta para
cavernoso
transporte à hipófise anterior via vasos
portais hi potalâmicos- hi pofisários.
Partículas sólidas nas células nervosas
representam neuro-hormônios. O
sangue é transportado também pelo
sistema venoso retrógrado de volta ao
hipotálamo. B, Relação endócrina-
neuroendócrina entre o hipotálamo,
hipófise e gônadas (ovários-testículos).
Material neurossecretor hipotalâmico
(GnRH) é transportado pelos capilares
o
"C
sanguíneos portais às células da
01 hipófise anterior. O FSH e o LH
6b
'o estimulam as gônadas. Os estrógenos e
~ andrógenos secretados pelas gônadas
~
o participam com um mecanismo
S
'" retrógrado.
"§ "Q)
S

8
Hormônios, Fatores de Crescimento e Reprodução 69

gonadotrofina da menopausa hu,mana (hMG). responsáveis pela ovulação e duram de 6 a


A atividade biológica da hMG é maior que o 12 horas. A onda pré-ovulatória de LH inicia-
FSH de mulheres com ovários ativos e encon- se por um aumento na concentração de
tra-se disponível comercialmente como um estrógenos circulantes, que apresentam um
hormônio de fertilidade para mulheres efeito positivo sobre o hipotálamo, induzindo
(Pergonal). O FSH é primariamente usado a liberação de LH-RH (hormônio liberador de
para estimular o desenvolvimento folicular LH) que resulta na onda pré-ovulatória de LH
para induzir múltiplas ovulações em transfe- e FSH. Ovelhas em anestro tratadas com
rência de embriões. estradiol-17~ exibem uma onda de LH e FSH
Hormônio Luteinizante. O LH é uma dentro de 15 a 16 horas após o tratamento. O
glicoproteína composta de uma subunidade local da ação estrogênica é o hipotálamo an-
a e ~ com um peso molecular de 30.000 terior. Devido ao custo da purificação do LH
dáltons e uma vida média de 30 minutos. Os das pituitárias, a gonadotrofina coriônica
níveis tônicos ou basais agem em conjunto humana, mais barata porém igualmente efi-
com o FSH para induzir a secreção pelo gran- ciente (hCG) é utilizada em lugar do LH
de folículo ovariano. A onda pré-ovulatória de pituitário. A utilização desta molécula seme-
LH é responsável pela ruptura da parede lhante ao LH compreende a indução da ovu-
folicular e da ovulação. As células intersticiais lação, principalmente em vacas com ovários
tanto dos testículos quanto do ovário são es- císticos, ou para auxiliar na superovulação em
timuladas pelo LH. No macho, as células vacas destinadas à transferência embrioná-
intersticiais (células de Leydig) produzem ria.
andrógenos após o estímulo do LH. A cópula pode prolongar a onda de LH. O
LH Tônico e Liberação de FSH. O FSH e ato da cobertura pode modular a onda pré-
o LH séricos são liberados de maneira tônica ovulatória de LH prolongando a duração da
ou basal em ambos os sexos. Os níveis tôni- liberação deste hormônio em vez de aumen-
cos de LH e FSH são controlados por retroação tar as concentrações plasmáticas. A cobertu-
das gônadas. O nível tônico de LH não é está- ra afeta o momento da ovulação em espécies
vel apesar de mostrar oscilações a cada hora. que ovulani espontaneamente, como em ra-
Os níveis tônicos séricos de LH são elevados tos e ovinos. Em gado de corte, o estímulo do
após a castração tanto em machos quanto em clitóris acelera o desencadear da ovulação e o
fêmeas. Os níveis aumentados de LH e FSH estímulo cervical reduz o tempo do início do
após gonadectomia são devidos a falta de um estro até a ocorrência da onda de LH. Várias
mecanismo retrógrado negativo dos esteróides vias neurais existem entre o sistema
gonadais sobre o centro do controle tônico de reprodutivo e o eixo hipófise-hipotalâmico.
LH no hipotálamo. Em porcas, a cobertura natural afeta a ovu-
As ondas de LH e FSH induzem também lação pelo encurtamento do intervalo entre o
os estágios finais da maturação dos oócitos, início do cio e a ovulação e pela redução do
imediatamente antes da ovulação, para a intervalo da primeira à última ovulação. Por-
metáfase 11.Os níveis de estradiol caem após cas cobertas naturalmente apresentam con-
as ondas de LH e FSH e as manifestações centrações maiores de LH plasmático imedia-
psíquicas do cio diminuem. A ovulação ocorre tamente após a cobertura. O estímulo do coi-
24 a 30 horas após a onda inicial de máximas to ou mecânico da vagina e cérvice estimula
ondas de gonadotrofinas. Por ocasião da ovu- a liberação de LH em ratas estimuladas es-
lação, os níveis de estradiol, progesterona e pontaneamente. Os níveis de FSH, LH e
LH são baixos. prolactina aumentam 20 minutos após cober-
Liberação de LH e FSH Pré-ovulatórios. tura, tanto em ratas intactas ou
Um segundo tipo de liberação de LH e FSH, neuroectomizadas por via pélvica.
denominado onda pré-ovulatória de LH e Gonadotrofinas e Ovulação Induzida.
FSH, é evidente na fêmea antes da ovulação. Várias preparações de hormônios são usadas
As ondas pré-ovulatórias de LH e FSH são para induzir a ovulação e gestação em mu-
70 Fisiologia da Reprodução

lheres anovulatórias. Dosagens excessivas de dáltons. As moléculas de prolactina são simi-


FSH, maiores concentrações de LH do que de lares em estruturas aos hormônios do cresci-
FSH na preparação, ou tratamento prolon- mento, e em algumas espécies, estes
gado com hCG, podem provocar múltipla ovu- hormônios possuem propriedades biológicas
lação e múltiplas gestações. Para evitar ovu- similares. A prolactina é denominada como
lação múltipla, os pacientes são cuidadosa- hormônio gonadotrófico por causa de suas
mente selecionados e seus perfis endócrinos propriedades luteotróficas (manutenção do
são monitorados durante todo o tratamento. corpo lúteo) em roedores. Nos animais domés-
Efeito de Horrnônios in Vitro. O FSH e o ticos, o LH é o principal hormônio luteotrófico,
LH promovem maturação fisiológica in vitro. sendo a prolactina considerada como de me-
Oócitos de camundongos em estágio vesicular nor importância no complexo luteotrófico. A
germinal com células incluídas do cumulus prolactina age no sistema nervoso central
oophorus sofreram processo de maturação em (SNC) para induzir o comportamento mater-
meio contendo FSH ou LH com ou sem anti- nal. Em mulheres, altos níveis de prolactina
soro FSH.Amaturidade fisiológica dos oócitos suprimem a menstruação (síndrome
pode ser avaliada in vitro examinando-se seu galactorréia-amenorréia); todavia, os níveis
potencial para fertilização e desenvolvimen- de prolactina não têm sido associados com
to para blastocistos. FSH e LH aumentam falta de acasalamento em vacas e ovelhas.
significantemente a taxa de desenvolvimen-
to de blastocisto dos oócitos. Os efeitos bené- Hormônio do Crescimento
ficos de FSH e de LH sobre a maturação de
oócitos foram abolidos quando administrados O hormônio do crescimento é conhecido
simultaneamente. Em culturas de folículos in- também como hormônio somatotrófico (STH)
tegrais, quando combinado com o LH, o FSH por causa de seu efeito estimulante das célu-
inibe o efeito de indução da maturação do LH las somáticas (células corpóreas). O STH é ne-
sozinho (Jinno et aI., 1990). O FSH inicial- cessário durante toda a vida e inclusive du-
mente aumenta o nível dclico de monofosfato rante a fase de crescimento. Estes efeitos
de adenosina (cAMP) no complexo cumulus- metabólicos incluem os seguintes fatos:
oócito e na supressão do restabelecimento 1. Aumenta a proporção de síntese
meiótico. protéica em todas as células do orga-
O FSH pode estimular a produção de um nismo.
sinal positivo de maturação pelas células do 2. Aumenta a mobilização de ácidos
cumulus oophorus através de um processo graxos da gordura e aumenta a utiliza-
dependente do cAMPo O estímulo da ção dos mesmos para a energia.
maturação pelo LH pode ocorrer através de 3. Diminui o nível de utilização de glicose
uma redução no nível de um inibidor de em todo o corpo
maturação nas células do cumulus oophorus. O hormônio do crescimento não possui
Os estrógenos não realçam o nível de desen- glândula-alvo porém age em vários tecidos do
volvimento blastocitário, embora a incubação organismo. A secreção de GH é controlada
de blastocistos possa ser aumentada. Os re- principalmente, embora não exclusivamente,
sultados da maturação de oócitos nas cultu- pelo hipotálamo.
ras de folículos completos também sugerem
que precisos balanços e sequência de Hormônios da Hipófise Posterior
esteróides são necessários para a maturação
completa de oócitos. Os hormônios da hipófise posterior,
peptídios formados por corpos celulares ner-
Prolactina vosos inseridos em núcleos hipotalâmicos, são
transportados por axônios para posições ter-
A prolactina ovina é um aminoácido minais na neuro-hipófise (hipófise posterior)
protéico 198 com peso molecular de 24.000 para armazenamento. Os hormônios da
Hormônios, Fatores de Crescimento e Reprodução 71

hipófise posterior, hormônios antidiuréticos


(ADH) e ocitocina, são neurossecreções.

Ocitocina
A ocitocina e a vasopressina são sintetiza-
das no hipotálamo e armazenadas na neuro-
hipófise (hipófise posterior). Eles foram os
primeiros hormônios peptídios a serem sin-
tetizados. A arginina vasopressina, também
chamada ADH, está identificada. A lisina
vasopressina está identificada em suínos do-
mésticos.
A ocitocina e o ADH são sintetizados nos
núcleos supra-óticos e paraventriculares do
hipotálamo e são apenas armazenados e libe-
rados da neuro-hipófise. Estes hormônios
hipotalâmicos (hormônios neuro-hipofisários)
são sintetizados juntamente com o carreador
de proteínas chamado neurophysins. Do mes- m centros de controle do LH pré-ovulatório e do FSH
mo modo que outras secreções, a ocitocina e a ~ centros de controle da secreção tônica de LH e FSH
vasopressina são transportadas em pequenas
vesículas englobadas por uma membrana. FIG. 3.6. Desenho esquemático dos núcleos
Estas vesículas secretoras fluem pelos axônios hipotalâmicos e da hipófise. AlI, adeno-hipófise;
nervosos hipotalâmicos hipofisários pela cor- ARC, núcleo arqueado; AlIA, área hipotalâmica
rente axoplásmica. Eles são armazenados nas anterior; DHA, área hipotalâmica dorsal; DMN,
núcleo dorsal mediano; ME, eminência média; NH,
terminações nervosas próximos aos berços neuro-hipófise; MB, corpo mamilar; PM, núcleo
capilares da neuro-hipófise até sua liberação pré-mamilar; OC, quiasma ótico; PVN, núcleo
na circulação (ver Fig. 3-5). A ocitocina é pro- paraventricular; PON, núcleo pré-ótico; PHA, área
duzida também no corpo lúteo, Assim, a hipotalâmica posterior, PT, pars tuberalis; SCN,
núcleo supraquiasmático; SON, núcleo supra-ótico;
ocitocina apresenta dois locais de origem, o
VMN, núcleo ventro-medial. As linhas diagonais
ovário e o hipotálamo. mostram os núcleos que controlam a liberação
Função. A ocitocina apresenta várias fun- tônica de LH e de FSH pela hipófise. As áreas
ções: contração do músculo uterino, salpicadas são núcleos que controlam a onda pré-
frequência aumentada de contração do ovulatória de LH e FSH pela hipófise.
oviduto, transporte dos gametas femininos e
masculinos no oviduto e descida do leite. Os A ocitocina tem diversas aplicações. Ela
estrógenos favorecem a resposta dos múscu- induz a descida do leite nas fêmeas após o
los lisos à ocitocina. A fêmea em lactação tor- parto, induz a expulsão de placentas retidas,
na-se condicionada aos estímulos tácteis e vi- e colabora na expulsão do feto em animais
suais associados à amamentação e à lactação. jovens quando o trabalho de parto estende-se
Este condicionamento induz a liberação de além do normal.
ocitocina para a circulação, agindo nas célu-
las mioepiteliais (células da musculatura lisa) HIPOT ÁLAM O
que circundam os alvéolos na glândula ma-
mária, resultando na descida do leite (ver Fig. O hipotálamo, que ocupa apenas uma pe-
3-1). A ocitocina ovariana está envolvida na quena parte do cérebro, consiste da região do
função luteínica por sua ação no endométrio terceiro ventrículo, estendendo-se do quiasma
para induzir a liberação de prostaglandina para os corpos mamilares (Fig. 3-6). O
F2a(PGF2a), a qual apresenta uma ação hipotálamo, importante centro neuroen-
luteolítica (regressão do corpo lúteo). dócrino, libera vários hormônios. Hormônios
72 Fisiologia da Reprodução

TABELA 3-8.Nomenclatura dos Hormônios Liberadores de LH e FSH


Nome* Abreviação
Hormônio liberador do hormônio luteinizante LH-RH ou LRH
Hormônio liberador do hormônio luteinizante/ LH-RH/FSH-RH
hormônio liberador folículo-estimulante
Hormônio liberador de gonadotrofinas Gn-RH
Fator liberador de hormônio luteinizante LH-RF ou LRF
Luliberina LH-RH
Gonadoliberina Gn-RH
Cistorelina Gn-RH
Factrel Gn-RH
* Thdos os nomes dos hormônios estão de acordo com os relacionados no The Merck Index, 10th-Ed. Rahway, NJ,
Merck, 1983.

TABELA 3.9. Hormônios Hipotalâmicos que Controlam os Hormônios da Hipófise


Anterior
Número de
Nome do Hormônio Abreviação aminoácidos Função
Hormônio liberador do hormônio
luteinizante LH-RH 10 Libera LH e FSH
Hormônio liberador do hormônio do
crescimento GH-RH 44 Libera GH
Hormônio inibidor do hormônio do
crescimento (Somatostatina) GH-IH 14 Inibe a liberação de GH
Hormônio liberador da tireotrofina TRH 3 Libera TSH e prolactina
Hormônio liberador de corticotrofinas CRH 41 Libera ACTH

liberadores de ocorrência natural, extraídos ficos. Assim, o hipotálamo age como um cen-
de milhares de hipotálamos de ovinos e suí- tro processador e integrador de informações
nos têm sido utilizados para determinar a recebidas e as traduz em sintomas neuro-
estrutura bioquímica destes hormônios. Por hormonais que evocam respostas fisiológicas
exemplo, o hormônio liberador de (Tabelas 3-8, 3-9, Figs. 3-6 a 3-8).
gonadotrofinas hipotalâmicas (GnRH) é um Os principais hormônios liberados pelo
decapeptídio composto de 10 aminoácidos. hipotálamo que controlam a reprodução in-
Vários dos hormônios hipotalâmicos foram cluem o hormônio liberador de gonadotrofina
sintetizados e comercializados para utiliza- (GnRH ou LH-RH), ACTH, e o fator inibidor
ção clínica. da prolactina (PIF). O hipotálamo é também
a fonte de ocitocina e vasopressina, hormônios
Função armazenados no lobo posterior da glândula
pituitária.
o hipotálamo regula vários processos au-
tomáticos vitais, como o apetite, os batimentos Modo de Ação
cardíacos, o controle da temperatura, o com-
portamento sexual e a atividade neuroen- Específicos neurônios hipotalâmicos sinte-
dócrina. Vários centros no hipotálamo inte- tizam vários hormônios peptídios, que contro-
gram sintomas fisiológicos no organismo, lam a liberação e a síntese de hormônios do
como o SNC, estado metabólico, atividade lobo anterior da glândula pituitária. O papel
funcional de glândulas-alvo, e o ambiente in- do hipotálamo na reprodução envolve o efeito
terno. O hipotálamo então responde com a acionante dos hormônios esteróides sobre o
elaboração de hormônios liberadores especí- comportamento sexual e simultaneamente o
Hormônios, Fatores de Crescimento e Reprodução 73

FIG. 3-7. A, Características estruturais de um neurônio neurossecretor no hipotálamo. A célula orgâni-


ca nervosa Ü(núcleo) apresenta processos dendríticos e axonais (a) com retículos endoplásmicos grossei-
ros, um proeminente aparelho de Golgi, e neurotúbulos (nt). Grânulos neurossecretores limitados por
membranas e contendo hormônio (ns) são formados no aparelho de Golgi e transportados ao longo do
axônio ao local da liberação na extremidade dos capilares. Neurônios neurossecretores sintetizam a
liberação de hormônios inibidores da liberação da adeno-hipófise e os hormônios da neuro-hipófise
(ocitocina, hormônio antidiurético). A retroação para as células da teca e de Leydig pode inibir a
esteroidogênese pela diminuição do número de receptores; ela pode também interferir com a ativação do
sistema cAMP (De Capen, C.C. e Martin, S.L.: The pituitary gland. In Veterinary Endocrinology and
Reproduction. L.E.McDonald e M.R. Pineda (eds). Philadelphia, Lea & Febiger, 1989). B, Função fisioló-
gica de gonadotrofinas sobre as células de Sertoli e granulosas. (Adaptado de diferentes fontes, incluin-
do RN. Sharp (1982). J.Reprod.Fertil. 64, 517).

controle da secreção das gonadotrofinas em uma área estendendo-se levemente pos-


hipofisárias. A ação local de esteróides admi- terior ao quiasma ótico à área pré-ótica ante-
nistrados por implantes intra-hipotalâmicos rior. As vias neurais envolvidas no comporta-
ou por injeção induz o desenvolvimento de mento sexual parecem estar localizadas em
comportamento sexual no animal partes mais anteriores e superiores do
gonadectomizado. O hipotálamo executa um hipotálamo. A ativação dos padrões
papel crítico na iniciação dos mecanismos do copulatórios parece subordinar-se a vários
comportamento sexual em resposta aos graus de controles inibidores do SNC. Lesões
hormônios. Os centros hipotalâmicos que con- na junção do diencéfalo e do mesencéfalo pro-
trolam a secreção tônica de LH em ovelhas vocam um aumento no desempenho da cópu-
anéstricas respondem mais rapidamente aos la de ratos machos. O hipotálamo pode con-
efeitos estimulantes da introdução de carnei- trolar o comportamento sexual de várias ma-
ros pela manhã do que pela tarde. neiras: (a) fixação dos esteróides sexuais e
Os neurônios envolvidos em tal "centro se- elaboração de baixa ação da motivação se-
xual" não formam um núcleo anatomicamente xual, (b) controle direto da atividade sexual e
individualizado mas parecem estar dispersos (c) satisfação sexual.
74 Fisiologia da Reprodução

QuiasrÍla
ótico

Carotida I

interna 1

Veia porta
curta

área pré-ótica média


núcleo supraquiasmático injetor

dados não-avaliáveis
LH-RH
(não removíveis)
(precursor de LHRH) endopeptidases
:i
I
I
I
I
I
I
I
I
Hormônios, Fatores de Crescimento e Reprodução 75

FIG. 3-8. (Acima) Representação esquemática do LH-RH: 1. A via principal do LH-RH origina-se no
núcleo arqueado e termina na eminência média na origem do local das longas veias porta. 2. Tratos da
área pré-ótica hipotalâmica anterior ao organum vasulosum laninae terminalis (ovlt.) e para a eminên-
cia média. 3. Tratos do hipotálamo para a hipófise posterior. 4. Tratos da comissura anterior (AC) para o
interior do sistema límbico. (Ferin, M. (1982). Controle neuroendócrino da função ovariana no primata.
J. Reprod. Fert. 69, 369-381.)
(Abaixo) Alguns dos sistemas de controle que regulam a onda pré-ovulatória de LH.
(a). Antes do início da onda pré-ovulatória de LH, o estrógeno cresce na circulação e aumenta a
resposta hipofisária ao LH-RH. Este esteróide pode também alterar o limiar de excitabilidade dentro da
unidade pré-ótica tuberal e pode ser responsável, parcialmente, pela liberação inicial de LH-RH, que
prepara a hipófise (t).
(b). Na apresentação de um estímulo intrínseco (desconhecido), o LH-RH é liberado dentro do
plasma portal e ativa a descarga de LH.
(c). A liberação das primeiras quantidades de LH-RH podem também ser manifestadas por uma
diminuição na quantidade detectável de MBH-LH-RH. Posteriormente, é detectado um declínio nesta
liberação de LH-RH por um sistema intrínseco retrógrado, sendo após reabastecido. Isto pode ser acom-
panhado por um aumento na síntese de novo LH-RH sugerindo liberação pulsátil rítmica de LH-RH
dentro da circulação portal. Durante este intervalo de liberação de LH-RH, a hipófise previamente sen-
sibilizada responde pela excreção de quantidades bastante aumentadas de LH para o plasma.
(d). Quando as concentrações limiares ovarianas de LH são atingidas, ocorre a ruptura folicular
e em seguida a ovulação. Também, enquanto o LH está aumentando, o estrógeno diminui e a progesterona
aumenta no plasma. I

(e). O término da liberação do LH hipofisário pode ser a consequência de um sistema retrógrado


de LH que ativa as endopeptidases localizadas tanto na hipófise quanto no hipotálamo cuja função é
degradar o LH-RH.
(t). Os níveis de esteróides que se modificam no plasma (durante a onda de LH) podem também
alterar a liberação de MBH-LH-RH de modo que ele declina no plasma portal. Com o término da libera-
ção de LH-RH, este hormônio permanece em concentrações constantes de MBH durante o transcorrer do
ciclo até a próxima onda pré-ovulatória de LH.
A progesterona serve também para facilitar a liberação de LH-RH, possivelmente aumentando
a liberação de LH em seguida a uma exposição estrogênica. (Barraclough, C.A. (1979). Central nervous
regulation of the preovulatory release of FSH and LH from the pituitary gland. In Human Ovulation
Mechanisms, Prediction, Detection and Induction. E.S.E.Hafez (ed.). Amsterdam, North Holland.)
76 Fisiologia da Reprodução

GnRH H
N--C H
~

/ \ tIC~H
I
-NH

H, /N »-0 O C,\
c/ CH3C
M.W.-1182

9
,
N
~ HO

1
C
2 CHZ I
CHZ CHZ
C Z
(C l 13. CH

D. c. I. IH.c. I. CH.c. I.1..c. 1.1. c. I. r. c. I. CH.c. r .1.~:Cz~


c.r. r. c."",
11
o o
11
o
11 11
o
11
o
I
HO
11 11
o
\I
o
11
o
I
HO
11

1 2 3 4 6 6 7 8 9 tO
A pGlu Hil '.rp Ser Tyr Gly Leu Arg 1'1'0 Gty- Ntl2

>O
~
li. -
- - - 11$


Jj.~~

B
-
FIG. 3-9. A, Sequência de aminoácidos do honnônio liberador de gonadotrofinas (GnRH). (De Capen,
C.C., e Martin, S.L. (1989). The pituitary gland. In Veterinary Endocrinology and Reproduction. L.E.
McDonald e M.H.Pineda (eds.). Philadelphia, Lea & Febiger.) B, Sequência de aminoácidos do honnônio
da molécula da somatotrofina humana (STH) (Adaptado de Lich, 1969).

Hormônios Hipotalâmicos Hormônio liberador luteinizante (LH-


RH).
Vários hormônios hipotalâmicos foram iso- Hormônio liberador gonadotrófico
lados e identificados estruturalmente: (GnRH).
Hormônio liberador folículo-estimu- Hormônio liberado r de tireotrofina
lante (FSH-RH) (TRH).
Hormônios, Fatores de Crescimento e Reprodução 77

Hormônio inibidor do crescimento ou aplicação na indústria relacionada à repro-


somatostatina (GH-Ih). dução. O LH-RH é eficiente na resolução de
Hormônio liberador do hormônio do folículos císticos em vacas. A este propósito,
crescimento (GH-RH). 100 Ilg de LH-RH induz a liberação de quan-
Hormônio liberador de corticotrofina tidades substanciais de LH endógeno suficien-
(CRH). te para induzir luteinização ou ruptura do
Os números e funções de aminoácidos dos folículo cístico. Vacas após tratamento de ová-
hormônios hipotalâmicos estão demonstrados rio cístico apresentam cio 19 a 23 dias após,
na Fig. 3-9. podendo então ser cobertas. O TSH estimula
Em 1977, dois cientistas americanos, a síntese de colóides pelas células glandula-
Schally e Guillemin receberam o prêmio res da tireóide e estimula a liberação de
Nobel por suas pesquisas independentes na hormônio tireoidiano. Associadas com estas
determinação das estruturas químicas de funções estão o acúmulo de iodo, junção orgâ-
hormônios do hipotálamo que controlam a nica de iodo e formação de tiroxina dentro da
função hipofisária. O LH-RH é um glândula tireóide.
decapeptídio (10 aminoácidos) com peso
molecular de 1.183 dáltons. Este hormônio Utilização Clínica de Hormônios
induz a liberação tanto do LH quanto do FSH Liberadores Hipotalâmicos
da hipófise. Estimulantes análogos têm sido
sintetizados e que induzem a liberação de O GnRH tem sido utilizado para o trata-
mais LH e FSH do que o LH-RH natural. A mento de puberdade retardada e de vários
liberação de FSH e LH é controlada pelo LH- problemas de infertilidade tanto no homem
RH (ver Tabelas 3-4, 3-5). A vida média do como na mulher. O GnRH e o TRH por inje-
LH-RHé de 7 minutos na ovelha. A curta vida ção intravenosa em quantidades de micro-
média do LH-RH tem tornado difícil a sua gramas propicia valioso diagnóstico auxiliar

TABELA 3.10. Hormônios Placentários e Suas Ações Biológicas


Fluidos Orgânicos
Hormônio Espécie Presentes em Ações Biológicas

Gonadotrofina sérica Equina Sangue Ação FSH primária, alguma atividade LH


da égua prenhe (PMSG)
Gonadotrofina coriônica Macaco Sangue e urina Ação LH primária, alguma atividade FSH
humana (hCG)
Lactogênio placentário (PL) Vaca
Ovelha
Roedores Sangue Hormônio do crescimento e prolactina
Proteína B Ovelha Sangue Desconhecido
Vaca

TABELA 3.11. Hormônios Gonadotróficos Clinicamente Utilizados para Estimular


os Ovários e Induzir a Ovulação e Formação de Corpo Lúteo em Fêmeas
Anovulatórias
Hormônio Preparo Fonte de Extração

hCG Gonadotrofina coriônica humana Urina de mulheres grávidas


FSH Hormônio folículo estimulante Hipófise humana pós-morte
LH Hormônio luteinizante
hMG Gonadotrofma humana da menopausa Urina de mulheres após a menopausa
PMSG Gonadotrofina sérica da égua prenhe Soro de éguas prenhes
Várias preparações Gonadotrofma hipofisária animal Hipófise dos animais
78 Fisiologia da Reprodução

para distinguir entre defeitos hipotalâmicos 40.000 dáltons. A subunidade a possui 92


e hipofisários. O TRH é usado para aumen- aminoácidos e duas correntes de carboidratos.
tar a produção leiteira em fêmeas em lactação. A subunidade a de hCG é similar às
subunidades a do LH humano, suíno, ovino e
HORMÔNIOS PLACENTÁRIOS bovino. A subunidade ~ possui 145
aminoácidos e cinco cadeias de carboidratos.
A placenta secreta vários hormônios, sejam A gonadotrofina coriônica humana, sintetiza-
idênticos ou com atividades biológicas simi- da pelas células sinciciotrofoblásticas da pla-
lares aos hormônios da reprodução em ma- centa de primatas, é encontrada tanto no san-
míferos: a gonadotrofina sérica da égua pre- gue quanto na urina. Ela é detectada na uri-
nhe (PMSG), hCG, lactogênio placentário (PL) na 8 dias após a concepção através de sensi-
e a proteína B (Tabelas 3-10, 3-11). tivos radioimunoensaios.
Devido ao fato do hCG aparecer precoce-
Gonadotrofina Sérica da Égua Prenhe mente na gestação humana, a sua detecção
na urina é a base dos testes imunológicos de
A PMSG foi descoberta quando o sangue diagnóstico de gestação. Além disso, a ação
de éguas prenhes provocou maturidade sexual semelhante ao LH da hCG tornaram-no o
em ratas imaturas (Cole e Hart, 1930). A primeiro hormônio disponível para o trata-
PMSG é uma glicoproteína com subunidades mento de ovários císticos em bovinos. O tra-
a e ~similares ao LH e FSH, porém com con- tamento com hCG de uma vaca com ovários
teúdo maior de carboidratos, especialmente císticos geralmente requer 5.000 a 10.000 D.I.
ácido siálico. O conteúdo maior de ácido siálico de hCG, após o que ou o folículo ovula e for-
parece contribuir para a longa meia-vida de ma um corpo lúteo ou, mais frequentemente,
vários dias para a PMSG. Assim, uma única se luteiniza. Em qualquer caso, a estrutura
injeção de PMSG possui efeitos biológicos so- luteínica produz progesterona e o corpo lúteo
bre a glândula-alvo por mais de uma sema- é funcional por 20 dias e regride normalmen-
na. te, permitindo que a vaca volte a cicIar 21 dias
Esta gonadotrofrna placentária é secretada após o tratamento. Nesta ocasião, espera-se
pelo útero equino. As concavidades endome- que ela venha a reproduzir quase com o mes-
triais são formadas ao redor de 40 dias de mo sucesso de uma vaca não-cística. Certas
gestação e persistem até o 85Qdia da prenhez. moléstias, como o corioepitelioma e as molas
A secreção de PMSG estimula o desenvolvi- hidatiformes em mulheres estão associadas
mento de folículos ovarianos. Alguns destes com altos níveis de gonadotrofinas urinárias.
folículos ovulam, porém a maioria forma um
folículo luteinizado, devido à ação semelhan- Lactogênio Placentário
te à do LH pela PMSG. Estes corpos lúteos
acessórios produzem progestágenos impor- O lactogênio placentário é uma proteína
tantes para a manutenção da gestação na com propriedades químicas similares à
égua. O PMSG possui ações biológicas de FSH prolactina e ao hormônio do crescimento. Seu
e de LH, sendo dominantes as ações de FSH. peso molecular é 22.000 a 23.000 dáltons no
O PMSG é isolado do sangue de éguas pre- ovino com 192 aminoácidos. O lactogênio
nhes não sendo encontrado na urina. O PMSG placentário é isolado do tecido placentário,
foi uma das primeiras gonadotrofinas dispo- mas não pode ser detectado no soro do ani-
níveis comercialmente, sendo utilizada para mal prenhe até o último trimestre da gesta-
induzir superovulação. ção. O lactogênio placentário é mais impor-
tante por suas propriedades de hormônio de
Gonadotrofina Coriônica Humana crescimento do que por suas propriedades de
prolactina. Ele é importante na regulação dos
A glicoproteína hCG consiste de nutrientes maternos ao feto e possivelmente
subunidades a e ~ com peso molecular de é importante para o crescimento feta!. O
Hormônios, Fatores de Crescimento e Reprod1fção 79

20

~LESTEROL
OH~ cor

CIH3 I

C=O ~
FIG. 3-10. Nomenclatura de núcleos esteróides -- ~~GMrnOLWA
da International Union of Fure and Applied OH~
Chemistry (IUPAC). Letras designam anéis e nú-
meros designam carbonos.
C,H3
c=o
lactogênio placentário pode tomar parte na 1
produção leiteira porque o nível é maior em
vacas leiteiras (grandes produtoras de leite)
. ~n~E~Mm
do que em vacas de corte (menores produto-
o~
ras de leite).

Proteína B OH 1
A proteína B tem uma longa vida média
circulante de 7 dias. Ela foi isolada (Butler et o~ rn~~M~
alo, 1982) da placenta bovina, tendo-se desen-
volvido um ensaio (Sasser et alo, 1986), que é OH
capaz de detectar no sangue de vacas prenhes 1
tão precocemente quanto 22 dias após a con-
cepção. Ela não é detectada no leite ou na ESTRADIOL
urina de vacas. Um radioimunoensaio para oHff
proteína B em bovinos detecta a substância FIG. 3-U. Biossíntese dos hormônios esteróides a
em ovinos, porém não em suínos ou equinos. partir do colesterol. Este esquema proporciona uma
A ação fisiológica da proteína B pode estar visão simples de um processo altamente organiza-
envolvida na indicação de uma mensagem da do e complicado que requer múltiplos sistemas
enzimáticos.
placenta para a vaca ou ovelha, prevenindo a
destruição do corpo lúteo espúrio. Este
hormônio placentário possui o potencial de ser
o primeiro teste seguro de gestação para bo- ciclopentano de seis membros designado D
vinos. (Fig. 3-10). Em 1967, a International Union
of Pure and Applied Chemistry (IUPAC) es-
HORMÔNIOS ESTERÓIDES GONADAIS tabeleceu regras de número de carbonos em
um esteróide; sua ação biológica pode ser nor-
Os hormônios esteróides secretados pelo malmente prevista. Um esteróide carbono 18
ovário, testículos, placenta e córtex adrenal possui atividade estrogênica, um carbono 19
apresentam um núcleo básico ou comum de- possui atividade androgênica e um esteróide
nominado núcleo ciclopentanoper-hidrofenan- carbono 21 possui propriedades progeste-
trena, consistindo de três anéis fenantrenos rônicas. O colesterol, um esteróide de 27 car-
(per-hidro) com seis membros totalmente bonos, transforma-se em pregnenolona (20
hidrogenados designados A, B e C, e um anel carbonos) quando sua cadeia lateral é dividi-
80 Fisiologia da Reprodução

da. A pregnenolona é subsequentemente con- parados hipofisários ou implantes de tecido


vertida em progesterona, que por sua vez con- pituitário.
verte-se em um andrógeno e em estrógenos Estrógenos
(Fig.3-11).
Várias enzimas regulam a biossíntese de O estradiol é um estrógeno primário, pos-
hormônios esteróides a partir do colesterol em suindo outros estrógenos metabolicamente
várias glândulas endócrinas, p. ex., o ovário, ativos, a estrona e o estriol. Andrógenos são
testículos, glândulas adrenais e placenta. Os esteróides de 19 carbonos com uma hidroxila
testículos primordialmente sintetizam ou oxigênio na posição 3 e 17 e uma dupla
andrógenos, enquanto que os ovários sinteti- ligação na posição 4. Os andrógenos são cha-
zam os dois principais tipos de esteróides: mados 17 -cetosteróides quando o oxigênio
estrógenos carbono18 e progestinas carbono encontra-se na posição 17. Várias substân-
21. cias de atividade estrogênica são encontra-
No plasma sanguíneo, uma grande parte das tanto no reino animal quanto no vegetal.
de cada hormônio esteróide está ligado a No mínimo oito estrógenos são secretados pelo
albumina, uma proteína plasmática com bai- ovário.
xa afinidade e alta capacidade para Estradiol é o estrógeno biologicamente ati-
esteróides. Uma outra porção do hormônio vo produzido pelo ovário, com quantidades
esteróide está ligada a uma ou mais proteí- menores de estrona. Com exceção de uma
nas específicas com alta afinidade. A vida possível secreção de pequenas quantidades de
média dos esteróides de ocorrência natural estriol na fase luteínica do ciclo, a maior par-
no organismo é muito curta. Por este motivo, te do estriol e estrógenos urinários relaciona-
vários esteróides com estrutura bioquímica dos são produtos metabólicos de degradação
modificada têm sido utilizados para uso clí- de estradiol/estrona secretados. Todos os
mco. estrógenos secretados pelo ovário são produ-
Os hormônios esteróides provocam uma zidos de precursores androgênicos.
variedade de respostas fisiológicas nos teci- Função. Os estrógenos, como os andrógenos,
dos-alvo, tais como divisão celular, diferen- são carregados por proteínas carreadoras na
ciação tecidual, crescimento, síntese de pro- circulação. De todos os esteróides, os estró-
teínas específicas e contração de musculatu- genos apresentam a maior variação de fun-
ra lisa. Estas respostas são responsáveis por ções fisiológicas. O estrógeno age sobre o SNC
vários processos reprodutivos, incluindo com- para induzir o cio comportamental na fêmea,
portamento sexual, receptividade sexual, pre- contudo, pequenas quantidades de proges-
paro do útero para implantação do blastocisto, tágenos com estrógenos são necessárias em
preparação do desenvolvimento mamário algumas espécies como a ovelha e a vaca para
para produção leiteira e regulação das con- a indução do cio. A primeira ovulação da ove-
trações uterinas durante o parto. Os lha na puberdade ou no início da estação
esteróides sexuais desempenham um papel reprodutiva se dá sem cio porque apenas
principal na expressão fenotípica do sexo. A estrógeno está presente na circulação. Con-
diferenciação do feto masculino ou feminino tudo, na segunda ovulação, o estrógeno do
depende das proporções de produção entre folículo provoca a ovulação e a progesterona
testosterona e estrógeno durante o desenvol- do corpo lúteo induz o cio comportamental na
vimento pré-natal. ovelha. Os estrógenos agem no útero aumen-
A atividade secretora dos hormônios tando a massa do endométrio e do miométrio.
esteróides pelas gônadas está sob controle O crescimento é devido à hiperplasia e
endócrino da hipófise anterior. A hipofi- hipertrofia celular. Ele age também sobre o
sectomia antes ou após a puberdade provoca útero para aumentar a amplitude e
a atrofia das gônadas. A atividade secretora frequência de contração, potencializando os
da gônada é restabelecida por injeções de pre- efeitos da ocitocina e da PGF 2u'
Hormônios, Fatores de Crescimento e Reprodução 81

HO
9H3
C,H2
OH HO-(}C = ?-(}OH
CH2
GENISTEÍNA

CH3'
9H2
! dH 3

°H
'"
c ~ ,O I
~O~OH OH ,O
~ t C ~
CHI
2

HO ~11o DES
'CH
3

CUMESTROL FIG. 3-13. A estrutura de DES não se assemelha


aos estrógenos a não ser quando representado em
terceira dimensão.

~ to. O possível mecanismo para o aumento do

~
OH CH3
~ o crescimento parece ser que o estrógeno esti-
mula a hipófise para liberar mais hormônio
OH ~ I do crescimento.
OH Estrógenos vegetais (isoflavonas) são en-
contrados em primeiro lugar em legumes
ZERANOL como o trevo subterrâneo e a alfafa. Dois des-
FIG. 3-12. A estrutura química de estrógenos co- tes componentes, a genisteína e o coumestrol,
muns de plantas não apresenta um núcleo provocam problemas de infertilidade princi-
esteróide, embora possua ações biológicas simila- palmente em fêmeas e com menor frequência
res aos estrógenos.
em machos. O zeronal (Ralgro), um composto
o desenvolvimento físico das característi- com atividade estrogênica produzido por
cas sexuais secundárias femininas é atribuí- humo, é um implante auricular e promove o
do aos estrógenos. O estrógeno estimula o crescimento de animais em confinamento.
crescimento do duto e provoca o desenvolvi- Estes compostos agem como estrógenos po-
mento da glândula mamária. Os estrógenos rém não apresentam o núcleo esteróide de 18
apresentam um controle retrógrado negativo carbonos (Fig. 3-12). Por este motivo, eles
e positivo através do hipotálamo sobre a libe- deveriam ser chamados estrógenos vegetais
ração de LH e FSH. O efeito negativo está não-esteróides.
sobre o centro tônico do hipotálamo e o efeito Estrógenos não-esteróides sintéticos são
positivo sobre centro pré-ovulatório. utilizados na indústria animal, primariamen-
Aplicações Clínicas. Os efeitos não te como promotores do crescimento em rumi-
reprodutivos dos estrógenos estimulam o nantes. O dietilestilbestrol (DES), estrógeno
aproveitamento do cálcio e a ossificação dos não-esteróide sintético, foi utilizado para pro-
ossos. Os estrógenos provocam maturação da mover o crescimento em bovinos e ovinos (Fig.
cartilagem epifisial dos ossos longos inibindo 3-13). O DES liga-se ao receptor de estrógeno,
adicional crescimento dos mesmos. Em con- e age com a mesma potência do 17p-estradiol.
traste, nos ruminantes, os estrógenos pos- Este produto foi retirado do mercado para
suem também, um efeito anabólico protéico utilização em gado em confinamento e subs-
aumentando o ganho de peso e o crescimen- tituído por outros implantes estrogênicos.
82 Fisiologia da Reprodução

Os estrógenos têm sido utilizados para pro- los) das glândulas mamárias. Altos níveis de
vocar abortamento em vacas e ovelhas por progesterona inibem o cio e a onda ovulatória
causa de sua ação luteolítica (regressão do de LH. Deste modo, a progesterona é impor-
CL), provavelmente provocada pela PGF 2a. tante na regulação hormonal do ciclo estral.
Na porca, os estrógenos possuem uma ação A motilidade uterina sob a influência da
luteotrófica (ajuda a manutenção do CL). As- progesterona é caracterizada por contrações
sim, os estrógenos são usados para sincroni- espontâneas de baixa frequência e alta am-
zar o cio garantindo as porcas na fase luteínica plitude. A progesterona apresenta pequeno
até que o tratamento estrogênico seja retira- efeito sobre o trato genital quando adminis-
do e seguido por uma injeção de PGF 2a' que trada sozinha, porém seus efeitos são nota-
provoca a regressão do corpo lúteo. velmente aumentados quando aplicada após
estrógenos.
Progestágenos Aplicações Clínicas. A progesterona é
indica da para prevenir abortamentos em fê-
A progesterona é secretada pelas células meas suscetíveis em decorrência de secreção
luteínicas do corpo lúteo, pela placenta e pela insuficiente de progesterona endógena. A uti-
glândula adrenal. A progesterona é transpor- lização mais usual está no controle da natali-
tada no sangue por uma globulina carreadora dade através de pílulas para mulheres pre-
como andrógenos e estrógenos. A secreção de venindo a onda de LH e a subsequente ovula-
progesterona é principalmente estimulada ção. Progesteronas sintéticas estão disponí-
pelo LH. veis comercialmente para a sincronização do
Função. A progesterona prepara o ciclo estral em vacas. O acetato de melen-
endométrio para a implantação e manuten- gesterol (MGA), progestágeno sintético, é uti-
ção da gestação através do aumento das glân- lizado para aumentar o ganho de peso de no-
dulas secretoras no endométrio e também vilhas em confinamento. O MGA somente é
pela inibição da motilidade do miométrio. A eficiente em novilhas com ovários intactos. A
progesterona age sinergicamente com os administração contínua de MGA inibe a onda
estrógenos para induzir o comportamento de LH, a qual previne a ovulação, mas permi-
estrato Ela desenvolve o tecido secretor (alvéo- te o desenvolvimento de folículos ovarianos.

O~
Tecido Testicular Tecido Ovariano

Colesterol

Célula de Teca Interna


TESTOSTERONA Leydig

~ OH

O ~~ I
H
Célula de
Sertoli
Testosterona
I

i~
I

+
Estradiol17[3
Granulosa

DIIDROTESTOSTERONA
(biologicamente ativa)
FIG. 3-14. A testosterona não é a forma biologica- FIG. 3-15. Modelo hipotético de duas células e
mente ativa, porém ela é convertida em diidrotes- duas gonadotrofinas. (Modificado de Dorrington
tosterona, a qual carrega o receptor nuclear. et aI., 1978.)
Hormônios, Fatores de Crescimento e Reprodução 83

Andrógenos Relaxina

A testosterona é um dos esteróides conhe- A relaxina é um hormônio polipeptídio que


cidos como andrógenos. No macho, os consiste de subunidades a e ~ligadas por dois
andrógenos são produzidos pelas células vínculos dissulfídicos. Ela possui um peso
intersticiais (células de Leydig) dos testícu- molecular de 5.700 dáltons com estrutura si-
los, além de uma limitada quantidade produ- milar à insulina. Embora tendo uma estru-
zida pelo córtex adrenal. O equino constitui tura similar, a relaxina e a insulina apresen-
uma espécie individualizada porque os tam ações biológicas diferentes. A relaxina é
túbulos seminíferos e os epidídimos também secretada principalmente pelo corpo lúteo
produzem testosterona em altos níveis. Cria- durante a gestação. Além disso, a placenta e
dores de cavalos sabem há séculos que se par- o útero secretam relaxina em determinadas
te do epidídimo ficar junto aos vasos deferen- espécies. A principal ação biológica da
tes quando um animal é castrado, este irá relaxina é a dilatação da cérvice e da vagina
parecer e agir como um garanhão, em antes do parto. Ela inClusive inibe as contra-
consequência dos andrógenos produzidos pelo ções uterinas e provoca crescimento da glân-
epidídimo remanescente. A permissão de per- dula mamária caso seja administrada junta-
manecer parte do epidídimo denomina-se "cor- mente com estradiol. Na cobaia, a relaxina
tar o orgulho de um cavalo". Este alto nível causa a separação da sínfise púbica em 6 ho-
de andrógenos prolonga a vida dos ras após a injeção. A separação da sínfise
espermatozóides epididimários em um nível púbica ocorre normalmente durante o parto
superior do que atuando sobre as caracterís- nesta espécie.
ticas sexuais masculinas secundárias.
A testosterona (Fig. 3-14) é transportada Inibina
no sangue por uma globulina a designada
globulina carrreadora de esteróides. Cerca de A inibina, um hormônio protéico, é produ-
98% da testosterona circulante é agregada. A zida pelas células de Sertoli no macho e pelas
testosterona remanescente é livre para pene- células granulosas na fêmea. A inibina pode
trar na célula-alvo, onde uma enzima do inibir a liberação de FSH da hipófise sem al-
citoplasma converte-a em diidrotestosterona, terar a liberação de LH e é parcialmente res-
a qual pode agir sobre o receptor nuclear (Fig. ponsável pela liberação diferencial de LH e
3-15). Os andrógenos estimulam os últimos FSH pela hipófise.
estágios da espermatogênese e prolongam a
vida útil dos espermatozóides epididimários.
Eles promovem o crescimento, desenvolvi- MECANISMOS ENDÓCRINOS DO
mento e atividade secretora dos órgãos se- COMPORTAMENTO SEXUAL
xuais acessórios do macho como a próstata,
as glândulas vesiculares, as glândulas Os hormônios esteróides no macho e na fê-
bulbouretrais, vasos deferentes, e a genitália mea possuem íntimas similaridades bioquí-
externa (pênis e escroto). A manutenção das micas, mas o ritmo de sua liberação na cor-
características sexuais secundárias e do com- rente sanguínea é totalmente diferente. A
portamento sexual ou libido do macho é con- secreção de andrógenos não é permanente. No
trolada pelos andrógenos. O andrógeno sin- macho, ela se apresenta sob a forma de vá-
tético, proprionato de testosterona, é admi- rios picos dentro de 24 horas, refletindo a li-
nistrado para vacas ou bois usados como ma- beração pulsátil de gonadotrofinas hipofi-
nequins para detecção do cio. As vacas sárias. Contudo, a quantidade total secretada
androgenizadas são mais populares na indús- é praticamente constante no dia-a-dia. Algu-
tria do que.. os touros esterilizados
. para agir mas flutuações estacionais são progressivas
como anImaIS manequms. e lentas. Os garanhões produzem e excretam
84 Fisiologia da Reprodução

grandes quantidades de estrógenos compara- formas de comportamento sexual anormal


das àquelas produzidas pela maioria de ou- (Pickett et aI, 1975; Pickett and Voss, 1975).
tras espécies de mamíferos. Os estrógenos são A perda da potência de ejaculação pode ser
produzidos pelos testículos. As concentrações devido a modificações de estruturas an-
de estradiol-17 (estradiol) são estacionais em drógeno-dependentes dos órgãos copuladores.
garanhões e são paralelas às concentrações A persistência de outros padrões compor-
de LH e testosterona. Na fêmea, porém, os tamentais não pode ser atribuída à presença
níveis de estrógenos são altos durante pou- de andrógeno de origem adrenal; p. ex., a
cos dias do ciclo estral. Os efeitos da privação adrenalectomia não modifica o comportamen-
dos hormônios gonadais e a terapia em ma- to sexual de cães castrados.
chos são completamente diferentes quando Experiências sexuais de pré-castração in-
comparados às fêmeas. fluem na persistência da libido. Os padrões
de comportamento sexual reaparecem
gradativamente com tratamento diário com
Mecanismos Hormonais do Comportamento andrógenos em uma ordem inversa ao seu
Sexual Masculino desaparecimento. Sua frequência atinge um
platô similar ao nível de atividade da pré-cas-
A castração de machos é prática utilizada tração. O único efeito de aumentar a dose diá-
rotineiramente na criação animal. A ação de- ria do hormônio é acelerar a recuperação da
primente da castração varia com as espécies, atividade de pré-castração. A terapia
varia individualmente e ainda com o estado hormonal permite ao macho a recuperação do
fisiológico e comportamental do animal no estágio pré-operatório de atividade copu-
momento da operação. latória, porém as diferenças pre-existentes
Uma certa atividade de monta permanece não podem superar uma dosagem extra de
após a castração pré-puberal em touros e car- . hormônios. O balanço endócrino parece reve-
neiros, porém o subdesenvolvimento do trato lar apenas a intensidade potencial de reação
genital que resulta da falta de andrógenos sem modificá-Io. A libido e a capacidade de
durante a ontogenia, inibe drasticamente a ejaculação são perdidas gradualmente após
monta. Parece existirem amplas variações a castração. A testosterona tem capacidade
entre espécies quanto aos efeitos da castra- para restaurar ambos os aspectos do compor-
ção. Há uma atividade variável em carneiros tamento sexual dentro de duas semanas. O
castrados antes da puberdade. Em contras- estradiol restaura eficientemente a libido em
te, roedores machos e gatos raramente ten- sua maior dosagem, porém é menos eficiente
tam executar a monta se forem castrados no restabelecimento da habilidade de
antes da puberdade. Após a castração pré- ejaculação. O pH do sêmen separado do gel
púbere, a ereção, intromissão e mesmo a aumenta após a castração e é subsequente-
ejaculação podem persistir por longo tempo, mente diminuído pelo tratamento com
embora com uma frequência diminuída. Den- testosterona ou pela combinação de ambos os
tre oito bodes de região tropical, apenas um esteróides. Os pesos das vesículas seminais,
perdeu a resposta ejaculatória um ano após a das ampolas, e da próstata são maiores em
castração. O comportamento sexual normal machos castrados com testosterona ou ambos
é dramaticamente alterado pela castração. os esteróides do que naqueles animais-con-
Dois parâmetros de comportamento sexual trole ou tratados com estradiol.
normal parecem ser algo diferentes: o desejo
de monta e de estocada e a habilidade de Mecanismos Hormonais do Comportamento
ejacular. A obtenção de ereção é o último as- Sexual Feminino
pecto do comportamento sexual normal a de-
saparecer após a castração. Este padrão O comportamento sexual feminino depen-
comportamental é notado em garanhões im- de de um balanço endócrino apropriado re-
potentes e em outros que apresentam outras sultante do desenvolvimento dos folículos ova-
Hormônios, Fatores de Crescimento e Reprodução 85

rianos. A ovariectomia inibe o comportamen- Mecanismos Nervosos do Comportamento


to sexual, porém na vaca e na porca, este com- Sexual
portamento é restaurado em fêmeas
ovariectomizadas após a injeção de uma dose O sintoma fisiológico que inicia a motiva-
mínima de estrógeno em seguida a 8 a 12 dias ção sexual é a secreção de hormônios
de pré-tratamento com progesterona. Na por- esteróides. Uma vez liberados na corrente
ca e na ovelha, existe uma relação linear dose- sanguínea, os hormônios são rapidamente li-
resposta entre a duração do cio e o logaritmo gados a sítios receptores no SNC. Níveis san-
da dose de estrógeno. Há também uma rela- guíneos máximos de estrógenos na ovelha e
ção entre a duração do cio natural e o núme- na porca, ocorrem cerca de 24 horas antes do
ro de ovulações na porca e na ovelha. desencadeamento do cio. Quando o animal
A progesterona inibe a reação sexual femi- está sexualmente motivado, iniciam-se os
nina quando injetada após sequência eventos comportamentais. Estímulos sensiti-
hormonal apropriada durante o longo perío- vos específicos ou inespecíficos agindo sobre
do de latência. os órgãos dos sentidos, através de mecanis-
A ação de hormônios exógenos na fêmea mos congênitos ou adquiridos, integram-se no
não-castrada depende do seu estado fisiológi- cérebro para omitir reações motoras apropria-
co por ocasião da injeção. Quando os das. A organização nervosa do comportamen-
estrógenos são administrados durante o pro- to sexuàl, compreendendo sintomas fisiológi-
estro, a receptividade sexual é ativada. Du- cos e humorais assim como informação sensi-
rante a fase luteínica do ciclo, a ação inibidora tiva elaborada, envolve a participação dos
da progesterona impede o aparecimento de vários níveis.
sintomas de cio. Os efeitos de tratamento
hormonal durante o anestro são similares aos PROSTAGLANDINAS
observados em fêmeas castradas.
As prostaglandinas, inicialmente isoladas
dos fluidos das glândulas sexuais acessórias,
Especificidade Sexual do Controle foram assim denominadas em virtude de sua
Endócrino do Comportamento associação com a próstata. Elas são secretadas
por quase todos os tecidos orgânicos. As
A especificidade sexual de hormônios prostaglandinas, derivadas do ácido ara-
esteróides - andrógenos em machos e quidônico, apresentam ação de curta duração.
progestágenos em fêmeas - levanta a questão Algumas formas nunca aparecem no sangue,
a respeito de uma influência direta do enquanto outras sofrem degradação após cir-
hormônio sobre a resposta comportamental. cularem através do fígado e dos pulmões. A
O ritmo de secreção, todavia, difere entre PGF 2a é o agente luteolítico natural que en-
machos e fêmeas, e uma possível sexualização cerra a fase luteínica (corpo lúteo) do ciclo
do cérebro pode influenciar a reação. O trata- estral, permitindo o início de um novo ciclo
mento de animais gonadectomizados com o na ausência de fertilização. A PGF 2a é parti-
hormônio do sexo oposto demonstra que a cularmente potente na eliminação de gesta-
especificidade sexual do hormônio é limitada ções iniciais (Tabela 3-12).
à medida que as respostas comportamentais Diferentemente de outros agentes
estão envolvidas. Injeções diárias de humorais, as prostaglandinas não se locali-
estrógenos possibilitam uma completa recu- zam em nenhum tecido em particular. A maio-
peração da atividade masculina em carnei- ria das prostaglandinas atua localmente no
ros castrados, enquanto que um único trata- lugar em que são produzidas segundo uma
mento com testosterona induz uma interação de célula a célula e por este motivo
receptividade feminina normal na fêmea não enquadram-se exatamente na clássica de-
ovariectomizada. finição de hormônio. Elas são transportadas
86 Fisiologia da Reprodução

TABELA 3-12. Química, Funções e Aplicações das Prostaglandinas (PGs) em


Animais Domésticos.
Química Função Aplicações nos Animais

Ai!,PGs são encontradas sob a As PGs estão envolvidas na ovulação de Vários tratamentos com PG
forma de pelo menos seis ovelhas e vacas quando esse fenômeno são utilizados para
compostos relacionados está bloqueado pela administração de sincronização do cio visando
entre si que induzem indometacina, um inibidor da síntese de a inseminação artificial.
várias respostas prostaglandina Vacas são tratadas duas
farmacológicas A liberação de LH não é afetada, assim a vezes com 10 dias de
AS PGs são ácidos graxos ação e síntese de PG está ao nível do intervalo, após o que todas
hidroxi não-saturados de folículo ovariano envolvendo a PGF 2a e! ficam teoricamente em
20 carbonos com anel ou PGE2. condições de exibir cio, 3
ciclopentano A PGE2 estimula a contração do útero, dias após a segunda injeção.
Ácido araquidônico, um ácido dilata os vasos sanguíneos e não possui A PG é usada em cobertura
graxo essencial, é o efeito luteolítico. A PGF 2a estimula a programada em éguas e
precursor da PG mais contração do útero, ajuda no transporte para abortamento em vacas.
intimamente associado com espermático no macho e na fêmea, Nomes comerciais destes
a reprodução, provoca constrição dos vasos sanguíneos compostos são Lutalyse e
principalmente a e apresenta propriedades luteolíticas Estrumate para vacas e
prostaglandina F2a (PGF2a) Efeitos venoconstritores da PGE2a induzem Prostin para éguas,
e a prostaglandina E2 hipoxia, que em contrapartida leva à A PGF 2acontribui no
(PGE2). luteólise tratamento de infecções
As PGs estão envolvidas no Com a remoção do útero, o corpo lúteo (CL) uterinas em vacas leiteiras.
controle da pressão não regride pelo menos durante o tempo O mecanismo de ação tem
sanguínea, lipólise, da respectiva gestação. duas finalidades: (a)
secreção gástrica, Mecanismo pelo qual a PGF 2atransporta-se regressão do corpo lúteo, se
coagulação sanguínea e do útero para o ovário: presente, indução do
outros processos A PGF 2a passa diretamente através das crescimento folicular e
fisiológicos gerais incluindo paredes da veia útero-ovariana para a produção de estrógenos; (b)
as funções renais e artéria ovariana e diretamente ao corpo contração do útero sob ação
respiratórias lúteo. estrogênica.
Os níveis sanguíneos das PGs Um aumento em estrógenos, que aumenta o
geralmente são baixos, crescimento do miométrio, estimula a
aumentando porém em síntese e liberação de PGF 2a
certas condições como no Em caso de instalação de gestação, algum
parto sinal é enviado do embrião ao útero
prevenindo a liberação de PGF2a,
permitindo assim que o corpo lúteo do
ciclo transforme-se em corpo lúteo de
gestação. Na vaca e na ovelha, a PGF2a
não provoca a regressão, nem previne a
formação do corpo lúteo durante os
primeiros 5 dias de vida. Na porca, ele
não provoca regressão até o 12" dia do
ciclo.

no sangue para agirem em um tecido-alvo gulação do sangue, e outros processos fisioló-


distante do local de produção. Todas as gicos relacionados, incluindo as funções re-
prostaglandinas são ácidos graxos hidroxi nal e respiratória. Os níveis sanguíneos de
não-saturados de 20 carbonos com um anel prostaglandinas geralmente são baixos, po-
ciclopentano (revistos por Reeves, 1987). As rém elevam-se sob certas condições, tais como
prostaglandinas, em pelo menos seis compos- o parto.
tos semelhantes e numerosos metabólitos, As prostaglandinas são rapidamente de-
exibem uma grande variedade de efeitos gradadas no sangue e um efeito fisiológico
farmacológicos. As prostaglandinas estão en- mantido é notado somente após injeção de
volvidas com a pressão sanguínea, com a agente farmacológico ou de altos níveis de
lipólise, com a secreção gástrica, com a coa- prostaglandina. O ácido araquidônico, um
Hormônios, Fatores de Crescimento e Reprodução 87

OH pelo embrião para o útero, prevenindo a libe-


I
I
ração de PGF 20:'e permitindo assim que o
/\'~'\=~ COOH corpo lúteo cíclico transforme-se no corpo
~CH3 lúteo gravídico. Na vaca e na ovelha, a PGF 20:
I
, .
I
não provoca regressão nem previne a forma-
OH OH ção do corpo lúteo durante seus primeiros cin-
co dias de vida. Na porca, ela não provoca a
regressão até o 12Qdia do ciclo estral.
PGF2c( O sêmen humano contém altas concentra-
o ções de prostaglandinas. Baixos níveis de
prostaglandinas no sêmen podem estar rela-
A/,=~ COOH cionados à infertilidade masculina por causa
da concentração de PGE no plasma seminal
~CH3
I I estando ao redor de 18 J..Lg/mlem homens
I ,
OH OH inférteis e 55 J..L/mlem homens férteis.

Aplicações Clínicas
PGE2
FIG. 3-16.Estrutura química da PGF 2a e PGE2' A PGE2 estimula a contração do útero, di-
lata os vasos sanguíneos e não possui ação
ácido graxo essencial, é o precursor das luteolítica. A PGF20: estimula as contrações
prostaglandinas mais intimamente associa- do útero, colabora no transporte espermático
do com a reprodução, principalmente PGF 2a no macho e na fêmea, provoca constrição nos
e prostaglandina E2 (PGE2) (Fig. 3-16). vasos sanguíneos e apresenta propriedades
luteolíticas nos animais domésticos. As
Funções prostaglandinas são responsáveis em parte
pela regressão do corpo lúteo. Os efeitos
As prostaglandinas podem ser considera- venoconstritores da PGF 20:podem induzir
das hormônios, que regulam vários fenôme- hipoxia, que por sua vez leva à luteólise. Caso
nos fisiológicos e farmacológicos, tais como a
contração de músculos lisos nos tratos
reprodutivo e gastrintestinal, a ereção, a Trompa de
ejaculação, o transporte espermático, a ovu- Falópio
(oviduto)
lação, a formação do corpo lúteo, o parto e a
ejeção de leite. As prostaglandinas têm
envolvimento com a ovulação (DeSilva e
Reeves, 1985; Murdock e Dunn, 1983). Por
exemplo, na ovelha e na vaca, a ovulação é Prostaglandina
bloqueada pela administração de indo- na artéria Y
ovariana
metacina, um inibidor da síntese de destrói o
prostaglandina. A liberação de LH não é afe- corpo lúteo
tada nestes animais, de modo que a ação e a
síntese de prostaglandina provavelmente
ocorra ao nível do folículo ovariano envolven-
douma delas ou ambas as PGF 20:e PGE2 (Fig. FIG. 3-17. Via pela qual a prostaglándina elabo-
3-17). rada pelo útero previamente manufaturado pela
Um aumento de estrógenos, que faz cres- progesterona torna-se capaz de penetrar na arté-
ria ovariana e destruir o corpo lúteo em ovelhas.
cer o miométrio no útero, estimula a síntese (De Short, (1972). In: Reproduction in Mammals,
de PGF20: e sua liberação. Em animais pre- Book 3. Austin e Short (eds.). Cambridge,
nhes, algum sintoma desconhecido é emitido Cambridge University Press.)
88 Fisiologia da Reprodução

o útero seja removido de animais domésticos, Células de Sertoli e Células de Leydig


o corpo lúteo não regride pelo menos durante
o respectivo período de gestação. Este não é o As células de Sertoli e células germinativas
caso em primatas, porque o mecanismo de reciprocamente regulam-se umas às outras
controle da luteólise não está no útero; a quanto à secreção cíclica de proteínas ao lon-
histerectomia não altera a função cíclica. O go dos túbulos seminíferos. As células mióides
mecanismo pelo qual a PGF 2a atua do amplificam este processo pela transformação
endométrio para o ovário é bastante diferen- de fatores de crescimento, moduladores
ciado no sentido de que a PGF 2a passa dire- humorais e matrizes extracelulares. As célu-
tamente através das paredes das veias úte- las de Sertoli são providas de vias de baixa
ro-ovarianas para o interior da artéria ovaria- resistência para'o transporte intercelular de
na e diretamete para o corpo lúteo metabólitos celulares, que coordenam a ati-
(McCracken, 1980). vidade do epitélio seminífero.
As prostaglandinas são utilizadas no con-
trole reprodutivo de vacas e éguas e no Ativina e lnibina
abortamento em bovinos. Os nomes comer-
ciais destes compostos são Lutalyse e Esta fann1ia de glicoproteínas gonadais pos-
Estrumate para a vaca e Prostin para a égua. sui acentuados mecanismos de gerar algumas
A PGF 2a é utilizada no tratamento de vacas diversidades: a associação de subunidades
com úteros infectados. O seu mecanismo de diferenciais pode resultar na geração de as-
ação apresenta dois objetivos: (a) regressão pectos confusos com ações biológicas opostas
do corpo lúteo, caso presente, e assim, indução em múltiplos tecidos. Estes hormônios
do crescimento folicular e produção de heterodiméricos são compostos de uma
estrógenos, e (b) contração do útero, tanto de subunidade a e uma das duas subunidades p
sua própria ação quanto da ação de (PA ou PB) que suprimem a secreção de FSH
estrógenos. pela hipófise anterior. As ativinas são poten-
tes liberadores de FSH de características um
ANDROLOGIA E HORMÔNIOS tanto quanto confusas (aspectos confusos de
inibina p-subunidades), porém são purifica-
Os processos reprodutivos masculinos são dos a partir dos fluidos gonadais. A ativina e
regulados por alças curtas, alças longas e al- a inibina agem também dentro das gônadas
ças uItracurtas. As alças longas envolvem as e da placenta como moduladores autócrinos
interações LH-testosterona e FSH-inibina. As e parácrinos da produção de esteróides e ou-
alças curtas entre o epitélio seminífero e o tros hormônios e fatores de crescimento. A
intersticial envolvem os fatores de crescimen- inibina é um hormônio glicoprotéico produzi-
to e os hormônios. As alças uItracurtas regu- do pela gônada para regular a secreção de
lam as interações células de Sertoli-células FSH com efeito mínimo sobre a secreção de
germinativas-células mióides. Várias proteí- LH pela hipófise. A denominação inibina foi
nas circulantes são introduzidas dentro do criada em 1932 para uma substância solúvel
compartimento basal das células de Sertoli em água existente nos testículos.
através de mecanismos endócrinos:
transferrinas, proteínas ligadas a andrógenos Transferrina P2Microglobulina e Albumina
(ABP), fator de crescimento insulínico (IGF), no Plasma Seminal
e fatores relacionados ao crescimento. Proteí-
nas secretadas pelas células de Sertoli no com- Os níveis de transferrina, p-microglobulina
partimento adluminal são aproveitadas e albumina no plasma seminal são relaciona-
por um mecanismo parácrino em células dos à contagem espermática. Há uma rela-
germinativas. Os espermatócitos e as jovens ção geral entre as proteínas do plasma semi-
espermátidas são preferencialmente alvos das nal e o número de espermatozóides, e alguns
células protéicas de Sertoli nos testículos. próprios produtos dos espermatozóides regu-
Hormônios, Fatores de Crescimento e Reprodução 89

Iam o transporte das proteínas plasmáticas TABELA 3-13. Fatores de Crescimento e


para o interior do plasma seminal (Chard et Reprodução Animal
aI., 1991). A transferrina plasmática seminal
pode ser utilizada como um índice clínico das Acrônimo Termo
funções das células de Sertoli. Os níveis de bFGF Fator básico de crescimento
proteínas não-relacionadas ao plasma, a fibroblástico
microglobulina 13,e a transferrina crescem CSF Fator estimulante de colônias
EGF Fator de crescimento epidérmico
conjuntamente na transferência da circula- FGF Fator de crescimento fibroblástico
ção para o trato genital baixo. FRP. Proteína reguladora folicular
FSHBI Inibidor de ligação de FSH
G-CSF Fator estimulante de colônias de
HORMÔNIOS SECUNDÁRIOS DA
granulócitos
REPRODUÇÃO GM-CSF Fator estimulante de colônias de
gr an ul ócitos- macró fagos
HFGRP Peptídio liberador de gonadotrofina
Glândula Tireóide folicular humana
IF Inibina F (foliculostatina ou inibina do
A glândula tireóide está loca.lizada na tra- fluido folicular)
IGFS Crescimento semelhante à insulina
quéia, caudalmente à laringe. Em bovinos, ela LF Lactoferrina
consiste de dois lobos planos, localizados la- LI Inibidor da luteinização
LS Estimulante da luteinização
teralmente e unidos por um istmo. Aglându- MIS Substância MüIleriana inibidora
Ia tireóide compreende numerosos folículos NGF Fator de crescimento nervoso
delineados por simples células epiteliais e NP-Ga Neuropeptídios GnRHa
preenchidos com fluido coloidal. A área su- NP-G~ Neuropeptídios GnRH~
OMI Inibidor de maturação do oócito na
perficial do epitélio delineador é aumentada divisão meiótica
por vilosidades que se projetam para o inte- OFFP Peptídio do fluido folicular ovariano
rior do folículo. Os hormônios tireoidianos, de- PDGF Fator de crescimento derivado de
plaquetas
rivados da tiro sina aminoácida, contêm iodo TGF Fator transformador de crescimento
que está ligado organicamente na glândula VIP Peptídio intestinal vasoativo
tireoidiana. Os hormônios tireoidianos são
combinados com proteínas plasmáticas para
transporte no sangue. A principal proteína tribuídos em zonas do exterior para o inte-
plasmática é denominada globulina rior: a zona glomerular, zona fasciculata e
carreadora de tiroxina (TBG). Esta proteína zona reticular. A medula adrenal é homogê-
possui grande afinidade com os hormônios nea e contém grânulos secretários. Sete
tireoidianos. A calcitonina é um hormônio da esteróides adrenocorticais (corticosteróides)
glândula tireóide secretado pelas células C ou são formados principalmente' de colesterol,
parafoliculares nas paredes dos folículos da conforme a seguir:
glândula tireóide. A calcitonina é um Corticosteróides: corticosterona, cortisol,
polipeptídio de 32 aminoácidos. cortisona e ll-deidrocorticosterona.
As glândulas paratireóides, localizadas Mineralocorticóides: ll-deoxicorticoste-
próximas ou embutidas dentro da glândula rona, 17-hidroxi-ll-deoxicorticosterona e
tireóide, são algumas vezes tão intimamente aldosterona.
relacionadas à glândula tireóide tornando Os mineralocorticóides promovem trans-
difícil uma diferenciação. porte pela membrana entre os compartimen-
tos de fluido intracelular e extracelular. Os
Glândulas Adrenais glicocorticóides são secretados pela zona
fasciculata do córtex adrenal. A sua secreção
As duas glândulas adrenais imediatamen- é regulada pelo ACTH da hipófise anterior.
te craniais aos rins apresentam um córtex ex- Estímulos como um "estresse" provocam a se-
terno e uma medula interna. O córtex adrenal creção de ACTH, que aumentam as concen-
apresenta três tipos celulares distintos dis- trações de glicocorticóides acima dos níveis
90 Fisiologia da Reprodução

TABELA 3.14. Fatores de Crescimento e Função Reprodutiva em Animais


Domésticos (Compilados da Literatura)
Fatores de Crescimento Função
CLE (extrato de corpo lúteo) Estimula o crescimento e proliferação luteínica; ativa o mitógeno intra-ovariano (OSEO
apresenta o principal papel na morfogênese pós-ovulatória)
CSF (fator estimulante de O fator de crescimento fagocítico mononuclear aumenta dramaticamente durante a
colônia) gestação nos trofoblastos, decíduas e fluido amniótico
EGF (fator de crescimento Pode estimular o recrescimento do epitélio após a ruptura da superfície ovariana na
epidérmico) ovulação
Células miometriais humanas respondem a este fator por estimulação de sua
proliferação; suas atividades são aditivas quando usadas em combinação e
sinergisticamente aumentadas pela progesterona.
EGF-semelhante (EGF- Crescimento e desenvolvimento do útero neonatal; relação destes peptídios com a ação
semelhante a peptídios) dos estrógenos são desconhecidas?
FGF (fator de crescimento de Proteínas 18.000-Dálton estimulam a proliferação de vários tipos celulares necessários
fibroblastos) à implantação de blastocitos e desenvolvimento embrionário
GHRH (Hormônio Liberador Ação moduladora do GHRH sobre a função das gônadas é dependente do FSH
do Hormônio do Produzido localmente o GFR exerce ação sinergística durante a maturação do folículo
Crescimento) ovariano
GM-CSF (fator estimulante Secretado pelas células placentárias, autócrino dentro de certas células da placenta
da colônia granulocítica- fetal
macrofágica) Uma das principais citoquinas que serve de base para interação entre o sistema tecidual
reprodutivo imunomaternal durante a gestação de mamíferos
O tecido decidual materno produz CSF, que pode regular células trofoblásticas fetais
adjacentes na placenta (rato)
IGF (fator de crescimento Regula a esteroidogênese nas células granulosas em grandes folículos ovarianos via.a
intrafolicular) atividade aromatase. Os estrógenos iniciam a resposta das células granulosas ao
IGF-l durante o desenvolvimento folicular (saguis)
IFN (lnterferon) Cito quinas com efeitos complexos sobre as células do imuno-sistema em conceptos
ovinos e bovinos produzem IFN como principal secreção antes da implantação
IGF (fator de crescimento da Atua na gestação precoce em ruminantes
insulina) O endométrio sintetiza e secreta quatro IGF regulados pela progesterona
A progesterona afeta indiretamente a ação do IGF no endométrio pela regulação
específica da síntese de proteínas ligadas ao IGF
Supostos reguladores intra-ovarianos envolvem receptores e ligações
As células granulosas regulam seu próprio destino realçando a provisão de andrógenos
ovarianos para adaptar sua capacidade aromatizante e as necessidades estrogênicas
do folículo em desenvolvimento
A EGF testicular atua na regulação da divisão das espermatogônias e na produção de
IGF-I testicular estimulada pelo retinol sem modificações cíclicas nas concentrações
testiculares de IGF-I
IGF-I (fator-r de crescimento A remoção do feto diminui a E2 sérica e o hormônio do crescimento e eleva os níveis
da insulina) séricos de IGF-I; estes efeitos, invertidos pelo FetoAe E2, via secreção de precursores
de estrógenos, regula a produção de IGF-I e as concentrações placentária e materna
de IGF-I durante a gestação
LF (lactoferrina) Constitui 20% das proteínas uterinas totais secretadas sob influência de estrógenos
Glicoproteínas produtoras de ferro em secreções de muitos tipos de epitélio glandular
são expressadas em dois estágios: (a) glândula mamária sob rápido crescimento e
morfogênese e (b) glândulas mamárias diferenciadas, sem crescimento das mesmas
em lactação onde o LF é ativamente secretado no leite
Regula o crescimento da glândula mamária e a diferenciação
PDGF (fator de crescimento Promove a eclosão e o crescimento do blastocisto após microinjeção in uitro de anticorpos
derivado de plaquetas) anti-PDGF dentro da luz uterina.
PAF (fator ativador de Fosfolipídio (l-o-alquil-acetil-sn-gliceril-3-fosfocolina) secretado por blastocisto humano,
plaquetas) um fator de crescimento autócrino, necessário para a implantação
Antagonistas do PAF previnem a implantação
O PAF forma funções antiluteolíticas e luteotróficas durante a gestação
Relaxina Polipeptídio, estrutura estreitamente relacionada à insulina e a fatores de crescimento
semelhantes à insulina, sintetizada e secretada pelo corpo lúteo
TNF (fator de necrose Imuno-histoquimicamente localizado no ovário: células granulosas do folículo antral
tumoral) Aumenta a produção de progesterona tecal e inibe a progesterona estimulada pelo
FSH basal nas células granulosas
O TNF e o hCG aumentam a secreção de progesterona acima da dose máxima de hCG.
Sinergismo entre TNF e hCG é devido ao aumento na ligação de hCG às células
granulosas e luteínicas pelo TNF
Hormônios, Fatores de Crescimento e Reprodução 91

normais, conforme foi notado com galinhas 1. Ativador de plasminogênio do tipo


domésticas em ambientes superlotados. O uroquinase (u-PA).
excesso de secreção de ACTH provoca uma 2. Ativador de plasminogênio do tipo
hipertrofia adrenal por causa dos tecidual (t-PA).
glicocorticóides. Os hormônios da medula 3. Outros tipos de ativadores de
adrenal, conhecidos como "catecolaminas", plasminogênio (u-PA possui um peso
pertencem à classe química das aminas e são molecular de 50.000, e sua forma ativa
referidos como epinefrina (adrenalina) e é uma glicoproteína de duas correntes.)
norepinefrina (noradrenalina). As ações da As membranas celulares uterinas pos-
epinefrina e da norepinefrina são similares, suem receptores específicos e de grande afi-
e as diferenças são expressadas de acordo com nidade. O peso molecular do fator de cresci-
os receptores, que apresentam uma preferên- mento epidérmico uterino (EGF) é de 170.000
cia por um ou outro hormônio. Os dois recep- dáltons. Estes fatores de crescimento estimu-
tores adrenérgicos são receptores a e ~ lam a contratibilidade miometriaI. O efeito
do EGF é devido à liberação de ácido
araquidônico e subsequente conversão em
FATORES DE CRESCIMENTO prostaglandinas. A timosina (hormônio do
timo) é encontrada em menor concentração
Nos últimos anos, investigações destaca- no plasma seminal de homens inférteis. Al-
das têm sido conduzi das em relação aos fato- gumas frações do timo exercem um efeito so-
res de crescimento relacionando-os aos recep- bre a motilidade espermática in vitro. EDF,
tores hormonais, peptídios e reguladores plaqueta derivada do fator de crescimento
intratesticulares, clones moleculares de pro- (PDGF) e receptores insulínicos apresentam
teínas reprodutivas e peptídios, proteínas ova- profundos efeitos sobre as células
rianas e peptídios, fatores de gestação preco- endometriais e miometriais por estímulo de
ce, proteínas placentárias endometriais e pro- sua proliferação.
teínas ligadas a hormônios peptídios. Os fa-
tores de crescimento facilitam as respostas Reguladores Intra-ovarianos e Fator de
celulares juntando-as aos receptores das su- Crescimento Intra-ovariano
perfícies celulares específicas em seus teci-
dos-alvo. Os fatores de crescimento O fator de crescimento intra-ovariano (IGF)
polipeptídicos regulam a proliferação em executa três importantes funções no ovário:
muitos tipos celulares e regulam o crescimen- (a) amplificação da ação de gonadotrofina
to do trato reprodutivo (Tabelas 3-13, 3-14). requerida para a natureza exponencial do
Estes fatores apresentam uma extrema va- desenvolvimento folicular; (b) integração do
riação de tipos celulares que expressam os re- desenvolvimento folicular; (c) seleção de
ceptores apropriados do fator do crescimento folículos dominantes, assumindo ativação se-
(Earp, 1991). letiva do sistema IGF-1 para os folículos "es-
Peptídios opióides endógenos (EOP) pare- colhidos" (Adashi et aI., 1991). Pouco se co-
cem possuir uma regulação autócrina e nhece sobre a atuação do hormônio do cresci-
parácrina sobre a esteroidogênese das célu- mento na estação de monta e na estação de
las de Leydig e participar do controle anestro em animais domésticos (Fig. 3-18).
hormonal intratesticular da permeabilidade
vascular. ~-Endorphin está presente no flui- Implantação e Gestação
do intersticial testicular (TIF), em uma con-
centração muitas vezes maior do que aquela Vários fatores de crescimento estão envol-
encontrada no plasma. Duas famílias de com- vidos na implantação do blastocisto. PDGF,
postos regulam o complexo hipotálamo- uma glicoproteína (peso molecular, 30.000
hipófise-gonadaI. Ativadores plasminogênios dáltons) sustenta o crescimento de células
são encontrados em três categorias principais: soro-dependentes. A PDGF está normalmen-
92 Fisiologia da Reprodução

ESTAÇÃO DE ANESTRO ESTAÇÃO DE MONTA

DIAS LONGOS DIAS CURTOS


AMBIENTE

~
umenta a
1 sensibilidade
ao estrógeno

HIPOT ÁLAMO

t3' DimiIÍuiçã~
~I @j
LHRH LHRH
~
Estrogênio
insufl-
I.:V deLHRH- ,@
I Retr:açãO HIPÓFISE Ptinge
nível estrogênico\
limiar para ~ '"
/

~
ciente produzido
- estrogênica
pelo folículo para Hlpofise negativa
estimular o centro
pré-ovulatório de LH t:f\ stimular o centro
t~-o~atóriO de CLI~PÓfi;1~
\:V LH tônico baixo LH pré-ovulatório Aumento tónico
.J,. deLH
OVÁRIO

@
Ovulação

FIG. 3-18. Os quatro principais componentes a serem considerados no modelo de controle hipotalâmico
da estação anéstrica da ovelha são o ambiente externo (comprimento do dia), hipotálamo, hipófise e
ovário. Durante a estação anéstrica ou dias longos, a ovelha não demonstra atividade cíclica reprodutiva.
A duração de horas de luz por algum mecanismo, talvez pelo nervo ótico, sensibiliza o centro tônico de
LH no hipotálamo às concentrações circulantes de estrógenos (1). Então, o estrógeno (2) retroage nega-
tivamente sobre o centro tônico de controle de LH, diminuindo a liberação de LH-RH (3). Menos LH
tônico é liberado para a circulação (4), resultando em menor produção de estrógenos (5) do folículo ova-
riano. As concentrações de estrógenos circulantes não podem atingir um limiar para estimular o centro
pré-ovulatório do LH no hipotálamo, resultando na falha da ovulação durante a estação anéstrica. Du-
rante o período reprodutivo da ovelha, o comprimento do dia diminui (1) e o centro tônico de controle de
LH no hipotálamo torna-se refratário ao estrógeno circulante (2). O aumento dos níveis de estrógenos
não afetam negativamente o centro tônico de controle de LH nesta ocasião, resultando no aumento da
liberação de LH-RH (3), o que induz uma liberação tônica aumentada de LH da hipófise (4). A liberação
tônica aumentada de LH induz suficientes níveis de estrógenos (5) na circulação para estimular o centro
pré-ovulatório de LH do hipotálamo, resultando em liberação aumentada de LH-RH (6). A onda pré-
ovulatória resultante de LH (7) induz a ovulação (8) (Reeves, 1987.)
Hormônios, Fatores de Crescimento e Reprodução 93

te confinada às ações parácrinas e autócrinas. secretada pelas gônadas, com um padrão de


A PDGF secretada por alguns blastocistos hu- expressão de dimorfismo sexual. No macho
manos está presente nas secreções uterinas MIS é produzida inicialmente pela gônada
humanas. Os fatores de crescimento contro- fetal. Os níveis sanguíneos de MIS são atin-
lam a proliferação celular, a diferenciação, a gidos após o nascimento e caem para níveis
migração e a invasão durante o desenvolvi- basais na puberdade. Este produto das célu-
mento da pré-implantação, da implantação e las de Sertoli é responsável pela regressão do
dos subsequentes estágios da gestação. Os duto de Müller, precursor do útero, trompa,
fatores de crescimento no zigoto, na mórula e cérvice e porção superior da vagina. Na fê-
nos blastocistos incluem os seguintes: mea, MIS inibe a meiose e bloqueia a degra-
Fator transformador do crescimento dação espontânea da vesícula germinal dos
(TGFB1) oócitos ovarianos.
Fator transformador do crescimento
a (TGFF-a)
IGF (IGFII) Abreviações Usadas Neste Capítulo
PDGF
(KFGF) ACTH Hormônio adrenocorticotrófico
Interleucina-6 (IL-6) CBG Globulina ligada ao corticos-
teróide
Outros fatores de crescimento e isoformes DHEA Dei droepiandros terona
relacionados não são transcritos pela mórula EGF Fator de crescimento epidermal
e blastocisto: FGF Fator de crescimento fibroblás-
tico
IGF-1 FSH Hormônio folículo-estimulante
(bFGF) GnRH Hormônio liberado r gonado-
Fator de crescimento epidérmico (EGF) tráfico
Fator de crescimento nervoso (NGF) hCG Gonadotrofina coriônica huma-
(G-CSF) na
hCGnRH Hormônio liberador da gonado-
Fator Ativador de Plaquetas trofina coriônica humana
hCS Somatomamotrofina coriônica
O fator ativador de plaquetas (PAF) [1-0- humana
alq uil- 2 -ace til- sn -g li cero -3 -fos foco lin a hGH Hormônio do crescimento hu-
(AGEPC)] é um potente fosfolipídio mediador mano
produzido por vários tipos celulares: hPL Lactogênio placentário humano
neutrófilos, macrófagos, células endoteliais e IGFs Fatores de crescimento seme-
embriões em fase de pré-implantação. PAF lhante à insulina
induz uma grande variação de respostas fisio- LH Hormônio luteinizante
lógicas e farmacológicas envolvendo proces- PDGF Fator de crescimento derivado
sos reprodutivos (Harper, 1989), agregação de da plaqueta
plaquetas, anafilaxia e permeabilidade TRH Hormônio liberador da
vascular. O PAF é produzido pelos tireotrofina
espermatozóides e acelera a motilidade TSH Hormônio estimulante da
espermática e in vitro facilita a fertilização tireóide (tireotrofina)
do encontro do espermatozóide e do óvulo.

Substância Inibidora Mülleriana REFERÊNCIAS

A substância inibidora Mülleriana (MIS) é Adashi, E.Y., Resnick, c.E., Hernandez, E.R., Hur-
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94 Fisiologia da Reprodução

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4
CICLOS REPRODUTIVOS
E.S.E. HAFEZ

o ciclo reprodutivo refere-se a vários fenô- ocorre quando as estruturas superiores do


menos: puberdade e maturidade sexual, es- cérebro assumem a atividade hipotalâmica.
tação de monta, ciclo estral, atividade sexual Os níveis de gonadotrofina permanecem bai-
pós-parto e idade. Estes componentes são re- xos até que se manifeste a puberdade. A du-
gulados por fatores tais como ambiente, ge- ração desta "infância" é altamente variável.
nética, fisiologia, hormônios, comportamen- Ela dura poucos dias no rato, um mês em ovi-
to e psicológicos. O nível de fertilidade iniciado nos e suínos, três meses em bovinos, e seis a
na época da puberdade é mantido por alguns sete anos na espécie humana.
anos antes de começar a declinar gradualmen- No início do período da puberdade, a se-
te devido a idade. Os animais domésticos, to- creção de gonadotrofina aumenta. Este pro-
davia, de um modo geral são abatidos antes cesso ocorre em animais normais assim como
da diminuição dos níveis de fertilidade (Fig.4- naqueles que foram castrados mais cedo em
1). que o processo é mais claro, devido a ausên-
cia do mecanismo retrógrado dos esteróides
FISIOLOGIAPRÉ-NATAL E NEONATAL gonadais (Fig. 4-2). O aumento de
gonadotrofinas resulta da remoção do controle
Gonadotrofinas inibidor do sistema nervoso central quando o
desenvolvimento orgânico atinge progr~ssiva-
As secreções das gonadotrofinas FSH e LH mente um nível compatível com a reprodq:
assim como seus fatores liberadores ção.
hipotalâmicos, hormônio LH-RH, sempre co-
meçam na vida fetal. Na ovelha e na vaca o As Gônadas
início é precoce, logo após diferenciação se-
xual (um ou dois meses de gestação) e na por- Durante a vida pré-natal e neonatal, a
ca apenas quase no final da vida fetal (cerca gametogênese e a esteroidogênese parecem
de um mês e meio após a diferenciação sexu- independentes, ao passo que no início da pu-
al). berdade elas tornam-se intimamente relacio-
Esta secreção regride temporariamente; ela nadas.
é ligeiramente reduzida dois meses antes do Os Testículos. A estrutura básica dos tes-
nascimento em bovino, próxima ao parto em tículos (cordões seminíferos e tecido
ovinos e um mês após o nascimento em suí- intersticial) permanece sem modificações na
nos. O desencadeamento da secreção diferenciação sexual das gônadas no início da
gonadotrófica deve estar relacionado à vida fetal até o desencadear da puberdade.
maturação do sistema nervoso central. Ela Os cordões seminíferos estão alinhados com

95
<C
O>

Vida Fetal e Neonatal Período Puberal Vida Adulta


"'J
õ;.
c'
Secreção de
gonadotrofina / ? evolução de
acordo com a
~
p'
efeito positivo da retroação de §-
estradiol (feminino) idade
~
.g
d
"-
O E ;::
"'"'
V N ~,
c
V
/
* Á crescimento folicular
E2 R oogênese foliculogênese atresia total completo e esteroidogênese
nível de ovulação
E
I L
O H
E
C
Atividade das OVULAçÃO I
gônadas Diferenciação M
T E
E N
S T
O
T* --+T
Í
C
U
/ esteroidogênese
reativação da esteroidogênese
início da espermatogênese
/ qualidade dos
espermatozóides

L
O ESPERMATOZÓIDES

perda
completa
feminino / FERTILIDAD devido ao
Fertilidade PLENA
masculino /'
\ enveJhecimento
uterino

*E2 = estradiol, T = testosterona

FIG. 4-1 Estágios neonatal, de puberdade e de maturidade.


Ciclos Reprodutivos 97

células de suporte, enquanto que células Leydig que eram ativas durante a vida fetal
germinativas indiferenciadas ou gonócitos e neonatal, ocupam grandes áreas entre os
ocupam a parte central. A única modificação túbulos, enquanto que após a puberdade as
durante este período é um crescimento lento células peritubulares são mais ativas.
no número relativo de gonócitos. O Ovário. A estrutura ovariana inicial não é
O tecido intersticial que preenche o espaço fundamentalmente diferente daquela do tes-
entre os cordões sexuais é composto de célu- tículo. Os cordões sexuais, formados por cé-
las tipo conjuntivo alonga das e de células lulas germinativas e somáticas, estão presen-
esteroidogênicas. As células de Leydig tes no início da diferenciação ovariana e
secretam andrógenos assim que os testículos testicular. Enquanto que estas estruturas
tornam-se diferenciados e antes que a função permanecem basicamente inalteradas nos
gonadotrófica seja acionada. Contudo, as cé- testículos como os cordões seminíferos ou
lulas de Leydig são sensíveis à gonadotrofina túbulos, no ovário as células germinativas
e a sua atividade esteroidogênica contínua dividem-se ativamente, os cordões sexuais
depende da secreção gonadotrófica. Em suí- desaparecem e finalmente cada oócito é en-
nos, ocorre uma secreção transitória de volvido por poucas células somáticas para for-
progesterona ao redor do 55Qdia quando se mar o folículo primordial. No fim da oogênese
diferenciam as células de Leydig; esta secre- o ovário engloba milhões de folículos primor-
ção então cai até que o feto começa secretar diais dentro de uma estrutura de tecido
LH imediatamente antes do nascimento. Uma intersticial e é delimitado com epitélio ovaria-
outra diminuição de gonadotrofinas um mês no erroneamente chamado epitélio germina-
após o nascimento provoca uma nova regres- tivo. As oogônias e oócitos são formados du-
são da testosterona durante um curto perío- rante a primeira metade da vida fetal na
do da "infância". Em bovinos e ovinos a se- ovelha e na vaca. A formação de oócitos tam-
creção de gonadotrofina começa mais cedo; as bém começa precocemente durante a vida
células de Leydig fetais são mais rapidamen- fetal na porca; contudo, a oogênese é comple-
te estimuladas pelo LH e a testosterona é tada apenas durante as primeiras semanas
secretada até que a função gonadotrófica após o nascimento (FigA-3).
regrida (Fig. 4-2). O aparecimento precoce da prófase
N o início da puberdade a secreção de meiótica na vida é uma das principais dife-
gonadotrofina recomeça e as células de Leydig renças entre a evolução das células
são reativadas. Nos suínos as células de germinativas ovarianas e testiculares (FigA-
4). Contudo, à medida que as oogônias desa-
parecem completamente, os oócitos formados
/2 castradas durante o período fetal e neonatal são a úni-
10 ca fonte de oócitos disponíveis durante toda a
vida sexual. Assim que a reserva de folículos
S
bo
8
primordiais está constituída, ela rapidamen-
~ 6
P::
te diminui por atresia. Um feto bovino com
normais 2.700.000 oócitos no 1l0Qdia de gestação apre-
...:14 I ovariectomia
'" ",,"
senta apenas 70.000 no nascimento. A partir
2 ~ ",'" do final do período de oogênese, alguns
~"~ --"-'" ,,'" folículos primordiais continuam a crescer,
2 4 6 8 9 porém até a puberdade todos desaparecem
idade (semanas) devido a atresia (Fig. 4-4).
FIG. 4-2. Evolução comparativa dos níveis de LH
plasmático em cordeiras normais e castradas. A PUBERDADE
puberdade ocorre na mesma idade em ambos os
animais, porém o aumento é mais pronunciado nas
castradas. (De Foster et aI., (1975) Endocrinology, De um ponto de vista prático, um animal
96,15. macho ou fêmea atinge a puberdade quando
98 Fisiologia da Reprodução

Fertilização Nascimento
I
110 30 40 60 8090 110 130 150 200 280 dias
VACA
1'1"P/////ff)/'l'}{t~~'IIII'IIII"
50

10 20 30 52 65 80 90 100 120
~ 150
OVELHA
Li, '1MÍ'~/fX*f:~;!/'(;h...:..:~
50

10
~----
20 30 40:;0 64 80 90 100
PORCA

!I
10/;1,/~i~'ié1f{f1«(~;..I< ..'./;'(;'1./':. :'
50
10 16
L
21
~o30 2 5 10 14 16
L-J

f .t
so trfffflff'W&,f&&iW.."'t ~ ;}I COELHA

- 50Diferenciação Sexual
divisões das oogônias
'>.:.1 prófase meiótica
t..- atresia
FIG. 4-3. Diferenças entre espécies nos padrões da oogênese em determinados mamíferos.

estiver capaz de liberar gametas e de mani- No macho a testosterona aumenta progres-


festar uma sequência completa de comporta- sivamente desde níveis muito baixos até ní-
mento sexual. A puberdade é basicamente o veis adultos em resposta à secreção de
resultado de um ajuste gradual entre ativi- gonadotrofinas. Cada pulso de LH é seguido
dade crescente gonadotrófica e a habilidade com uma hora de intervalo por um aumento
das gônadas em assumir simultaneamente a transitório na secreção de testosterona. A se-
esteroidogênese e a gametogênese. creção de testosterona aumenta à medida que
avança a puberdade, e finalmente o nível
Mecanismos Endócrinos da Puberdade médio deste hormônio permanece definitiva-
mente alto. O aumento do nível sanguíneo de
No início da puberdade, a concentração de testosterona eventualmente provoca uma di-
gonadotrofinas circulantes aumenta, em minuição na secreção de gonadotrofinas por
consequência da elevação da amplitude e da um efeito retrógrado negativo. Na fêmea, a
frequência dos impulsos periódicos de secreção de estrógenos aumenta gradualmen-
gonadotrofinas. Este fato resulta dos te em resposta à elevação da gonadotrofina
esteróides sexuais e possivelmente de um puberal medida que começa a formação de um
aumento na resposta do hormônio LH-RH, antro folicular. Este é o caso na ovelha e na
secretado pelo hipotálamo para regular as vaca. Por outro lado o nível de estrógeno na
gonadotrofinas. Em cordeiros de 2 a 8 sema- marrã só aumenta ao redor de 11 semanas
nas de vida, a frequência do pulso aumenta após o nascimento quando aparece o primei-
de 1 para 5 em um período de 6 horas; a mag- ro antro folicular, enquanto que a secreção
nitude da onda é aumentada 3 vezes durante gonadotrófica da puberdade começa 3 sema-
este tempo. nas mais cedo, com 8 semanas de idade.
MACHO FÊMEA
Nascimento Nascimento
PERÍODO
Gonócitos FETÃL;e I Gonócito
PÓS-~ .
t Coelha
~
II

~
PRÓFASE
ME/6TICA t
Oogônia

Oócito
I (estágios em repouso
I t
por dias, meses ou anos)
Porca
I folículo primordial

I Foli,,", ~ '~ciL
'lbdos os
mamíferos
I
I Folículo com antro
/ Bovino, Ovino

GOnÓ!itos II Atresla
/ Mulher

Reserva de
células tronculares Ao

A ~
A",
\
IItA,' Espermatogônias

Espermatócito
MEIOSE
I
I
Fohculo
" /
em cresCImento
,Espermatócito" INICIO ,JI.

Espermiogênese
\ Espermio~nese
,,- "TIAPUBERDADE
I /
Folículo com antro

----- \ Degeneraçao L A
'

- ,--- - -
Espermatozóide 1I
tresla
7------------
Folículo em crescimento

"
Espermatócito

Espermiogênese
l\1E10SE I
JPUBERDADE ~
Folículo com antro
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JI
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1=;'
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As
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t FIM DA
CrescimentOfinal
Folículo de Graaf
\
~

I
I
MEIOSE /
Ovulação
-

\
Atresia
~
d
~
I::
....
c'
C
'"

FIG. 4-4. Comparação da gametogênese em mamíferos machos e fêmeas desde a vida fetal até a co
co
vida sexual ativa. Ao=reserva de células pedunculares, As= espermatogônias tronculares.
100 Fisiologia da Reprodução

Gametogênese cedo (vaca, ovelha). Todavia, o desenvolvimen-


to folicular completo, o restabelecimento da
Espermatogênese. No início da puberda- meiose dos oócitos e a ovulação são observa-
de no macho suíno, bovino e ovino, os dos apenas quando o FSH e LH atingem ní-
gonócitos migram para a periferia dos túbulos veis adultos.
e diferenciam-se em espermatogônias, en-
quanto que as células de suporte produzem Idade na Puberdade
as células de Sertoli. Estas modificações ocor-
rem quando a elevação de gonadotrofinas da Em condições de criações normais a pu-
puberdade já é evidente. As células deSertoli berdade ocorre com cerca de 3 a 4 meses de
permanecem presentes durante toda a vida idade em coelhas; 6 a 7 meses em ovinos,
sexual, e o seu número é um fator limitante caprinos e suínos; 12 meses em bovinos e 15
na produção espermática. a 18 meses em equinos.
A manipulação de certos fatores durante o A idade da puberdade é influenciada por
período pré-puberal pode retardar o início da ambiente físico, fotoperíodo, idade e raça da
puberdade ou aumentar o nível de crescimen- mãe, raça do pai, e reprodutores dentro de
to testicular. Os gonócitos desenvolvem-se ao certas raças, heterose, temperatura
acaso dentro do testículo em esperma- ambiental, o peso afetado pela nutrição e ní-
togônias-Adefinitivas. Este fato, aliado à for- veis de crescimento antes e após o desmame.
mação das células de Sertoli, marca o fim do O início da puberdade está mais intimamen-
período pré-puberal e o início da te relacionado ao peso do corpo do que a ida-
espermatogênese (Curtis e Amman, 1981). de. Bovinos leiteiros atingem a puberdade
Durante o período fetal e neonatal, o testí- quando o seu peso representa 30 a 40% do
culo cresce vagarosamente, principalmente peso adulto, enquanto que em gado de corte
através da extensão dos cordões seminíferos. esta porcentagem é maior (45 a 55% do peso
A diferenciação das espermatogônias e a for- adulto) (Roy et aI., 1975). A mesma diferença
mação da primeira linhagem esperma- ocorre em ovinos (ovelhas Romney: 40%;
togênica marca o início do rápido crescimen- Suffolk: 50%; Scottish Blackface: 63% do peso
to testicular. Após atingir a atividade corpóreo adulto) (Hafez, 1952). Os níveis
espermatogênica completa é mantido um ní- nutricionais controlam a idade na puberda-
vel de crescimento lento durante alguns me- de. Se o crescimento for acelerado por supe-
ses (carneiro) ou anos (touro) em resposta ao ralimentação, o animal atinge a puberdade
contínuo aumento da população de células numa idade mais jovem. Por outro lado, se o
primordiais. crescimento for mais vagaroso devido a
A concentração da motilidade progressiva subalimentação a puberdade será retardada.
dos espermatozóides, a concentração das pro- A puberdade e a regularidade dos ciclos
teínas seminais e a porcentagem de estrais em marrãs são afetadas pela raça, tipo
espermatozóides com cabeça, cauda e de alojamento e estação do ano durante a
acrossomos normais aumentam até 16 sema- maturação sexual. Marrãs criadas em
nas após a puberdade; rápidos aumentos na confinamento ou soltas quando expostas a um
porcentagem de espermatozóides com cabe- reprodutor atingem a puberdade numa ida-
ças morfologicamente normais (excluindo os de mais jovem do que outras criadas sem ex-
acrossomos) e a motilidade progressiva são posição ao macho.
associados com rápida diminuição na porcen- Em raças estacionais, a idade da puberda-
tagem de espermatozóides com gotas de depende da estação do nascimento. Ove-
citoplasmáticas proximais (Lunstra e lhas nascidas em janeiro alcançam a puber-
Echternkam, 1982) dade 8 meses mais tarde, enquanto que
Desenvolvimento Folicular. Os primeiros aquelas nascidas em abril tomam-se púberes
folículos antrais aparecem durante o período aos 6 meses de idade (em ambos os casos em
pré-puberal (porca, coelha) ou mesmo mais plena estação de monta dos adultos). A pu-
Ciclos Reprodutivos 101

berdade ocorre mais cedo em marrãs criadas o melhoramento genético atingido pela
em grupos do que aquelas criadas isolada- inseminação artificial em bovinos leiteiros
mente. A presença de um porco adulto acele- resultou da utilização de reprodutores testa-
ra a puberdade em ambas as situações dos e provados. A obtenção de sêmen nas ida-
(Mavrogenis e Robinson,1976). des mais precoces de tourinhos que estão sen-
A eficiência reprodutiva plena não é atin- do testados é uma prática desejável para
gida em qualquer espécie durante o primeiro acelerar a identificação de reprodutores su-
cio ou ejaculação. Há um período de "esterili- periores. Ultimamente, o impacto genético de
dade adolescente". Este período é notavelmen- um reprodutor superior é limitado pelo nú-
te curto (algumas semanas) nos animais do- mero de espermatozóides produzidos, o que é
mésticos, quando comparado à espécie uma função direta do tamanho testicular.
humana (1 ano ou mais).
Aplicações Práticas para a Idade da CICLOS ESTRAIS
Puberdade. A idade da maturidade sexual
em ovelhas está relacionada ao consumo ade- As coberturas são limitadas durante o cio,
quado de energia e ao suficiente peso corpóreo. coincidindo com o momento da ovulação. Na
A maturidade sexual precoce propicia vanta- espécie humana e em outros primatas, a re-
gens econômicas pois aumenta o período lação sexual não está restrita a qualquer épo-
reprodutivo vital. Assim, é vantajoso acele- ca do ciclo menstrual e a ovulação ocorre du-
rar os níveis de crescimento das cordeiras a rante a metade do ciclo (Fig. 4-5). A duração
serem acrescentadas ao rebanho. A aplicação do ciclo estral é de 16 a 24 dias; ovelha: 16 a
de vários sistemas de criação permite a ob- 17 dias; vaca, porca, cabra: 20 a 21 dias; égua:
tenção de cordeiros durante as várias esta- 20 a 24 dias. A duração do cio depende das
çõesdo ano. Por este motivo, o crescimento e espécies e varia levemente de uma para ou-
o amadurecimento estão sujeitos a uma va- tra fêmea dentro da mesma espécie. Este fato
riedade de influências estacionais. é também verdadeiro com respeito ao momen-

ovulação

-
menstruação
ovulação

Ciclo menstrual
menstruação

.
ovulação ovulação

CiO! cio 1

»;~---~
Ciclo estral - fase estrogênica

fase luteínica
KPitLMi::I

FIG. 4-5. Diagrama comparativo demonstrando diferenças nos padrões e estágios do 'ciclo estral de
animais domésticos em relação ao ciclo menstrual da mulher. Notara incidência de ovulação em relação
ao cio e menstruação. (Adaptado de uma ilustração do Professor C. Thibault.)
102 Fisiologia da Reprodução

TABELA 4-1. Ciclo Estral, Cio e Ovulação em Animais Domésticos


Ciclo Estral Duração do Cio
(Dias) (Horas) Hora da Ovulação
Ovelha 16-17 24-36
32-40 30-36 horas após início do cio
Cabra 21
(Também ciclos curtos)
Porca 19-20 48-72 35-45 horas após início do cio
Vaca 21-22 18-19 10-11 horas após o fim do cio
Égua 19-25 4-8 dias 1-2 dias antes do fim do cio

100

A regulação da secreção das gonadotrofinas


80 durante o ciclo estral requer um delicado
«S
13
'"
balanceamento entre complexas interações
~60
hormonais. Um componente conhecido como
tendo importante influência é o hormônio
~ liberador do hormônio luteinizante (LH-RH).
...:140
b.O Modificações nos níveis da síntese e da libe-
i::
ração de LH-RH, assim como o nível de de-
gradação deste hormônio, são fatores adicio-
nais que modificam o seu papel de influenciar
20~ /e -
íI:::::\j~-o-o_o na liberação de gonadotrofina (O'Conner et
t 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 al.,1984).
çiQ horas após o início do cio A nível ovariano, o período de estro é ca-
e-e 1 ovulação o-o 2 ovulações racterizado por elevada secreção de
FIG. 4-6. Surgimento da onda de LH na ovelha de estrógenos dos folículos pré-ovulatórios. Os
acordo com o número de ovulações (raça Ile-de- estrógenos estimulam o crescimento uterino
France). (De Thimonier e Pelletier, (1971) Ann. por um mecanismo que envolve a interação
Biol. Anim. Biochim. Biophys. 11, 559)
do hormônio com receptores e o aumento de
processos sintéticos dentro das células. Os
estrógenos também estimulam a produção de
to da ovulação, que ocorre 24 a 30 horas após prostaglandinas pelo útero. Por outro lado, a
o início do cio na maioria das ovelhas e vacas, indometacina apresenta uma ação inibidora
35 a 45 horas em porcas e 4 a 6 dias em éguas sobre a produção de prostaglandinas pelo úte-
(Tabela 4-1). ro e outros tecidos. A indometacina previne a
A duração do cio e o momento da ovulação produção de substâncias enzimáticas que in-
também variam em relação a fatores inter- fluenciam vários processos reprodutivos.
nos e externos. Em ovelhas o intervalo entre No fim do cio, ocorre a ovulação seguida
o início do cio e a onda ovulatória de LH (e pela formação do corpo lúteo e secreção de
por isso, o intervalo entre o cio e ovulação) se progesterona. O corpo lúteo é composto de dois
prolonga à medida que aumenta o número de distintos tipos celulares esteroidogênicos,
ovulações (Fig. 4-6). ambos contribuindo significativamente para
a progesterona total secretada durante a fase
Regulação Endócrina dos Ciclos Estrais luteínica do ciclo estral. As pequenas células
luteínicas secretam pouca progesterona
o ciclo estral é regulado por mecanismos exceto quando estimuladas pelo LH, enquan-
endócrinose neuroendócrinos, principalmen- to que as grandes células luteínicas secretam
te os hormônios hipotalâmicos, as espontaneamente progesterona em alta pro-
gonadotrofinas e os esteróides secretados pelo porção. O corpo lúteo de gestação é resistente
testículo e pelo ovário. ao efeito luteolítico da FGF 2a
Ciclos Reprodutiuos 103

o corpo lúteo é a fonte principal de míferos. APGF 2a uterina controla a vida útil
progesterona e de relaxina em porcas prenhes. do corpo lúteo, que por sua vez regula a ex-
Nesta espécie a relaxina exerce um papel no tensão do ciclo. Caso se instale a gestação, a
parto e no início da lactação. O ovário é a fon- influência luteolítica do útero tem que ser
te primária de relaxina em várias espécies que anulada já que a progesterona secretada pelo
requerem este órgão durante toda a gestação, corpo lúteo é necessária para a manutenção
ou seja, suínos e roedores. A relaxina está da prenhez.
uniformemente distribuída em todo tecido O período de atividade do corpo lúteo é cha-
ovariano e não somente confinada aos corpos mado de fase luteínica; ele dura de 14 a 15
lúteos. dias em ovelhas e 16 a 17 dias em vacas e
A prostaglandina F 2a (PGF 2a) é o hormônio porcas. A fase folicular, da regressão do cor-
luteolítico uterino em várias espécies de ma- po lúteo até a ovulação é relativamente cur-

CNS HIPÓFISE secreção tônica CNS HIPÓFISE

retroação negativa retroáção positiva retroação positiva retroação negativa


da progesterona e/ou do estradiol do estradiol da progesterona e/
estradiol ou estradiol

~ término da progesterona progesterona


:secreção do I e estradiol depois estradiol
; corpo lúteo

>:,j ÚTERO
UTERINO ENDOMÉTRIO ENDOMÉTRIO

menstruação fase secretária


CICLO MENSTRUAL CICLO ESTRAL

FIG. 4-7. Inter-relações entre o ovário e o hipotálamo-hipófise e entre ovário e o útero.


104 Fisiologia da Reprodução

ta: 2 a 3 dias em ovelhas e cabras e 3 a 6 dias Em sistemas modernos de produção suína,


em vacas e porcas. Esta curta fase folicular é muito importante que as porcas retomem
não reflete a verdadeira duração do cresci- ao cio rapidamente após o desmame. Vários
mento do folículo de Graaf (Fig. 4-7). Assim, fatores influenciam o desmame como o inter-
o comprimento do ciclo estral está intimamen- valo de cios, tais como tipo e quantidade de
te relacionado à duração da fase luteínica. A alimentação durante a gestação, quantidade
regressão do corpo lúteo não é causada por de lisina durante a lactação, quantidade de
uma secreção diminuída de hormônros proteína durante a gestação e lactação, tipo
luteotróficos hipofisários (LH e prolactina) de alimentação após o desmame, duração da
mas sim pela ação de um fator luteolítico, lactação e alterações nos estímulos das ma-
PGF2a madas (Reese et aI., 1982).
A alteração do padrão de amamentação de
Cio Pós-Parto e Ovulação suínos pode ser eficiente na indução do estro
na fêmea antes do desmame ou então na di-
A duração do anestro pós-parto é afetada minuição do intervalo para uma nova cober-
por vários fatores ambientais, genéticos, fisio- tura após desmame. De um modo geral, por-
lógicos e metabólicos, incluindo raça, linha- cas com prolongado intervalo de desmame até
gem, nível nutricional, amamentação, produ- o cio são magras. A assimilação energética
ção leiteira, frequência de ordenha e nível em durante a lactação é inversamente relaciona-
potencial genético de produção. A duração do da à perda de peso da porca, de modo que uma
anestro pós-parto é também afetada pelo grau baixa assimilação de energia durante a
de involução uterina, grau de desenvolvimen- lactação pode provocar retardamento do cio
to dos folículos ovarianos, concentrações de após o desmame.
gonadotrofinas periféricas e hipofisárias, ní- Fatores Endócrinos. Um nível relativa-
veis periféricos de estrógenos e progesterona, mente alto de progesterona é absolutamente
início de secreção episódica, modificaçãoJno necessário durante a gestação. A progesterona
peso corpóreo e assimilação de energia é secretada pelo corpo lúteo e em algumas
(Stevenson e Britt, 1980). Em bovinos, o ba- espécies ( vaca e ovelha) principalmente pela
lanço energético durante os primeiros 20 dias placenta. A secreção contínua de progesterona
de lactação é importante na determinação do suprime o cio e, na maioria dos mamíferos, a
reinício da atividade ovariana após o parto ovulação. .
(Butler et aI., 1981). O tempo necessário para Após o parto, a progesterona cai até níveis
a involução uterina após o parto varia de 4 a não-detectáveis e o cio e a ovulação recome-
6 semanas (Tabela 4-2). çam.Aporca exibe cio dentro de 48 horas após

TABELA 4-2. Curso Previsto Para a Involução Uterina Pós-Parto em Animais


Domésticos (Hunter, 1982).
Tempo Necessário
Espécies Características Involutivas (Dias)
Vaca Contração inicial do útero dentro de 7-10 dias após o parto 35-40
Destacamento e expulsão das carúnculas completados aos
10-12 dias
Novo epitélio formado aos 25-30 dias
Útero completamente restabelecido aos 40-45 dias
Ovelha Necrose e destacamento das carúnculas completados em 7-8 dias 25-30
Regeneração do epitélio dentro de 25-30 dias
Útero restabelecido às cíclicas dimensões em 30-35 dias; este fato pode ser
retardado devido anestro estacional
Porca Algum corrrimento até 1 semana pós-parto 25-28
Sem destacamento de tecido endometrial como em ruminantes
Epitélio colunar normal formado aos 21 dias
Útero totalmente restabelecido em tamanho aos 21-28 dias
Ciclos Reprodutivos 105

FIG. 4-8. Relações endócrinas pós-parto na por-


ca, mostrando a ativa secreção de prolactina pre-
cocemente no período de amamentação e a rela-
tiva escassez de secreção gonadotrófica
associad;:t ao anestro lactacional, 'incompleta
involução do anestro e incompleta involução do
útero. Ocorre uma modificação na secreção re-
lativa de gonadotrofinas e prolactina à medida
que diminui a incidência da amamentação com
o intervalo após Onascimento. (Hunter, R.H.F.
(1982). Reproduction of Farm AnimaIs. New
York, Longman.)

o parto, embora sem ovulação. O estrogênio mente relacionadas às concentrações de FSH


plasmático eleva-se bastante após o parto e LH circulantes (Moss et aI., 1980). Em bo-
(Shearer et aI., 1972) o que pode explicar o vinos leiteiros o intervalo entre o parto e a
comportamento de cio (Fig. 4-8). Em éguas primeira ovulação está relacionado ao nível
ocorre um cio fértil uma a três semanas após da produção leiteira e é mais longo em vacas
o parto. Em vacas, ovelhas e cabras ovula- com potenciais genéticos maiores de produ-
ções silenciosas podem ocorrer 2 a 3 semanas ção. Devido ao fato de vacas de alta produção
em seguida ao parto; todavia ciclos estrais não poderem manter um balanço energético
férteis reiniciam-se mais tarde (Casida, 1968; positivo no início da lactação e precisarem
Hunter, 1968). Fêmeas com anestro pós-par- mobilizar reservas orgânicas, a atividade ova-
to apresent-am ciclos estrais curtos em res- riana pós-parto está mais intimamente asso-
posta ao desmame. Aproximadamente 80% de ciada com a produção de leite do que com a
vacas com anestro pós-parto que exibem cio assimilação de nutrientes digestíveis totais
dentro de 10 dias após o desmame de seus (Butler et aI., 1981).
bezerros apresentam ciclos estrais de 7 a 12 A relação inibidora entre a glândula ma-
dias com um curto aumento, da progesterona mária e a função reprodutiva pode ser devido
sérica após o primeiro cio. A precoce diminui- a estímulos nervosos, secreção de uma subs-
ção de progesterona após o primeiro cio não é tância inibidora, ou influência hormonal. O
devido à falta de LH no soro. Contudo, níveis nível de nutrição também influi sobre a re-
mais baixos de FSH antes desta primeira ovu- produção pós-parto, embora o efeito da
lação podem ser devidos à reduzida vida útil amamentação não esteja relacionado ao efei-
do corpo lúteo subsequente (Ramirez-Godinez to nutricional. O intervalo do parto até a
et aI., 1982). . involução uterina pode ser encurtado pela
Parece que os corpos lúteos associados com amamentação. Vacas em amamentação exi-
ciclos curtos em bovinos possuem uma vida bem intervalos mais cúrtos para a involução
útil curta, resultando de (a) falta de suporte uterina.
luteotrófico; (b) falha do tecido luteínico para O intervalo do parto até a primeira ovula-
reconhecer uma luteotrofina ou (c) secreção ção é encurtado em vacas unilateralmente
aumentada de um agente luteolítico. ovariectomizadas quando a cirurgia é prati-
Amamentação e Lactação. A extensão cada 5 dias após o parto. Existe também uma
do anestro pós-parto depende do grau do es- interação significante entre o efeito da
tímulo mamário que a fêmea recebe e do es- amamentação e a ovariectomia unilateral. A
tado nutricional durante o final da gestação ovariectomia unilateral encurta o intervalo
e início da lactação. Durante o período de fre- para o primeiro cio pós-parto, ocorrendo uma
quentes amamentações, as concentrações hipertrofia ovariana compensadora nos ani-
séricas de prolactina são elevadas e inversa- mais que amamentam, enquanto que em ou-
106 Fisiologia da Reprodução

tros que não amamentam, a ovariectomia duração do anestro pós-parto varia de acordo
unilateral não encurta mais o intervalo já com a raça e parece ser constante para a mes-
curto (Grass e Hauser, 1981). ma fêmea durante gestações sucessivas.
Em gado de corte em amamentação, o in- A fertilidade é baixa durante o primeiro cio,
tervalo do parto até o primeiro cio varia de particularmente se a fêmea estiver amamen-
60 a 100 dias. Várias tentativas foram feitas tando. A fertilidade máxima na vaca ocorre
para iniciar os ciclos ovarianos em vacas de 60 a 90 dias após o parto (Fig. 4-9). Em por-
corte em anestro e amamentando, por meio cas a fertilidade é nula durante o desmame;
de desmame precoce, amamentação limitada, porém um cio altamente fértil ocorre poucos
tratamento com hormônio liberador dias após o desmame.
gonadotrófico e tratamento com uma combi-
nação de esteróides sexuais. O desmame pre-
coce, e a alimentação limitada, LH-RH e os ESTAÇÃO DE MONTA
esteróides induzem ovulação em vacas de cor-
te anéstricas. Todavia, a fase luteínica do pri- Em animais selvagens há uma estação de
meiro ciclo estral pós-parto e o primeiro ciclo monta bem definida com ambos os sexos apre-
estral após o desmame precoce com alimen- sentando atividade sexual. A ovelha Barbary,
tação limitada e o tratamento com LH-RH é uma raça selvagem, exibe duas estações se-
mais curta do que em ciclos estrais normais. xuais, uma de outubro a janeiro e a outra de
A importância da alimentação no anestro abril a junho. Em mamíferos domésticos, a
pós-parto é demonstrada em ovelhas através natureza e extensão da estação de monta é
de gestação experimentalmente induzida du- variável. Bovinos e suínos não exibem
rante o anestro estacional de modo que o par- estacionalidade porém ovinos, caprinos e
to ocorre durante a estação de monta. Ove- equinos apresentam uma estação de monta
lhas secas geralmente voltam ao cio depois que também varia em duração. '

de um mês, enquanto que ovelhas em ama- Natureza da Estação de Monta. Em


mentação apresentam o primeiro cio algumas ovinos e caprinos existem importantes dife-
semanas mais tarde. Em ovinos e bovinos, a renças raciais na duração da estação sexual.
Ovinos Pré-alpinos e Merino são raças de es-
,80 tação longa, enquanto que Blackface e
o
Southdown são de estação curta. A duração
...,
...
(1j
da estação sexual nestas raças é 260, 200, 139,
6' 70. e 120 dias, respectivamente. Uma estação
m sexual longa é um caráter genético dominan-
'o
~
(1j te. Todos os cruzamentos de Merino exibem
o
uma estação sexual longa como o próprio
'E' 60
<l)
m
e
'$
s 50,
/.---.-. Merino. Um cruzamento de Dorset Horn e
ovelha Persa produziu uma raça - a Dorper -
a qual apresenta apenas um mês de anestro
'>:: (Fig. 4-10).
~

./.
o
I': Ciclos ovulatórios silenciosos sempre ocor-
Q)
'g 40 rem no início e no fim da estação sexual. Es-
] tes ciclos ovarianos continuam durante o pe-
:e ríodo de anestro em um número variável de
~
30 ovelhas. Em ovelhas Ile-de-France Pré-alpi-
2 3 4 5 6 nas, a frequência de ciclos silenciosos aumen-
meses após parto ta temporariamente na primavera. Havendo
FIG. 4-9. Fertilidade de gado leiteiro no primeiro um carneiro presente, aparece o cio compor-
serviço após o parto, (De Casida, (1968) Wise, Expt. tamental, permitindo assim uma segunda
Sta. Research Bull, No. 270.) estação sexual anual nestas raças.
Ciclos Reprodutivos 107

Equinócio Dia mais Equinócio da Dia mais Equinócio Dia mais


de outono curto primavera longo de outono curto
NQde cios Estação
por ovelha reprodutiva
(média) (média) dias ='
Blackface --=-
=
=

-
==
M. 6-9 139
...-
~,
Welsh
M. 7-0 133 D=o ......
=-==
=::
B.
Leicester 7-2 131 j= =
0=0 ==-=r
Romney
======
=
M. 9-7 171

!~
Suffolk 10-2 189 1=
i=
Welsh M.
X
Dorset
10-4 179 1::=1
H. 1=1
; i

Dorset H. 12-4 223

L..l , I;' , I I ;, , I ;" I ,i I


Jul. ~ Nov. Jan. k~~. Mai. Jul. Set. Nov.

Cio = Ovulação silenciosa


FIG. 4-10. Diferenças raciais na duração da estação sexual e não-sexual em ovelhas adultas na Grã-
Bretanha. Algumas raças como a Dorset Horn tiveram uma estação sexual prolongada, enquanto em
outras como-a Welsh Mountain a estação sexual foi restrita. Praticamente em todos os casos, a estação
sexual esteve dentro de um período de equinócio de outono e equinócio primaveril, e a metade da estação
correspondeu mais estreitamente ao dia mais curto do ano, ou seja 21 de Dezembro. Isto ilustra a íntima
relação entre a estação sexual e a duração do dia. Notar que alguns ciclos estrais duplicam ou triplicam
a duração usual ocorrida, o que é devido a ovulações silenciosas ou a falhas na detecção do cio das fêmeas
não-prenhes. (After E.S.E. Hafez, (1952). J. Agric. Sei. 42, 305.)

Em cabras a estação sexual é bem definida to quando então elevam-se repentinamente


em climas temperados. Os ovários da cabra no início da estação de monta.
Alpina ficam ligeiramente ativos de feverei- Um ciclo reprodutivo anual em equinos está
ro a março e quiescentes de abril a junho; a muito bem documentado em ambos os hemis-
atividade é reassumida abruptamente em férios. Nos países temperados do norte obser-
todas as cabras em setembro. Ovulações si- vam-se de outubro a fevereiro silêncio ovaria-
lenciosas são menos frequentes que nas ove- no nas éguas e baixos níveis de LH e
lhas. Assim como os ovinos nos climas tropi- testosterona plasmática nos garanhões.
cais, as cabras Crioulas exibem atividade Em bovinos e suínos o cio ocorre regular-
sexual contínua. mente durante todo o ano e a estacionalidade
Embora os carneiros possam praticar co- é discreta. Condições locais de criação com
berturas durante todo o ano, o peso testicu- frequência mascaram a expressão da
lar, a testosterona, e os níveis de estacionalidade. Em bovinos uma variação
gonadotrofinas são mínimos de janeiro a maio estacional de fertilidade em climas tempera-
durante o anestro das fêmeas (Fig. 4-11). Si- dos apenas torna-se evidente após o estudo
milarmente no bode o nível de testosterona de um grande número de rebanhos por um
plasmático permanece baixo de janeiro a agos- período de vários anos (Fig. 4-12). A fertilida-
108 Fisiologia da Reprodução

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e\ e "'--e_. >i
64
~_r s O N
150
J F MAMJJA
meses
A M J J A S O N D F ~
meses FIG. 4-12. Variação estaciona! da fertilidade em
20 bovinos de 320.000 inseminações artificiais duran-
18 te sete anos (raça Montbéliard no Jura Francês,
B 47° N). O índice de não-retorno é mais baixo na
16.
primavera e mais alto no outono. (De Courot et
'8 14. aI., (1968). Ann. Biol. Anim. Biochim. Biophys. 8,
bb
-5 12. 209.)
'" carneiro
§.. 10.
~o 8 / --'\, ,, I
,/
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A M J J A S
meses
O N D F M ~ 9 0--0 _0_0 -
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;<:J

FIG. 4-11. A, Variação estacional do peso testicu-


lar em carneiro Ile-de- France (o peso testicular foi s'" 8]
~
~ ~_o-\/ ", 0 Marras

ajustado ao peso corpóreo) (47° N). (De Pelletier ...,


(1971). Ph. D. Thesis, University ofParis). B, Va~ 7.
riações estacionais dos níveis plasmáticos de J F M-A M J J A-S-O N D
testosterona em carneiro Ile-de-France e bode Al- meses da inseminação artificial
pino. (Carneiro: de Attal, (1970) Ph.D.Thesis,
University ofParis; bode: de Saumande e Rouger FIG. 4-13. Evolução do tamanho da leitegada em
(1972). C.R. Acad. Sei. Paris, D, 274, 89.) porcas e marrãs inseminadas artificialmente no
Oeste da França (46°N). Este estudo inclui 4.510
marrãs e 13.324 porcas e refere-se a três anos con-
secutivos. (De Courot e Bariteau (1978) Comuni-
de mínima ocorre emjunho e a máxima ferti- cação pessoal.) A fertilidade em suínos é mínima
sob condições de dias longos e altas temperaturas,
lidade em novembro. Esta variação pode es- conforme foi evidenciado pelas leitegadas de ta-
tar relacionada ao fotoperiodismo mais do que manho menor das porcas e marrãs em julho. No-
em relação à temperatura e reprodução, as tar que as porcas adultas têm 1,5 leitão a mais por
quais podem flutuar de ano para ano. As va- leitegada do que as marrãs, durante o ano todo.
cas são principalmente responsáveis pela va-
riação estacional de fertilidade, como se de- Papel do Fotoperiodismo e da Thmpe-
monstra pelos níveis de não-retorno após ratura. O fotoperíodo e as temperaturas
inseminação na primavera e outono com sê- ambientais afetam os ciclos sexuais anuais; o
men congelado colhido no outono e na prima- primeiro é o fator mais eficiente.
vera. A fertilidade na porca é mais baixa no A experiência mais conclusiva mostrando
verão do que nas outras estações, portanto o o controle da reprodução pelo fotoperiodismo
tamanho da leitegada também é menor (Fig. foi conduzida em ovinos. Usando dois ciclos
4-13). fotoperiódicos por ano, as ovelhas apresentam
Ciclos Reprodutivos 109

Dia mais Dia mais


curto longo
16 Natural

00 12
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o JJA50NDJFMAMJJA50NDJFMAMJJASONDJFMAMJJA50ND
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~
~
12

-
JJA50NDJFMAMJJA50NDJFMAMJJA50NDJFMAMJJA50ND
Meses
Estação sexual

FIG. 4-14. Períodos de atividade sexual em ovelhas de raça Limousine. Acima: Sob fotoperiodismo natu-
ral, o cio ocorre normalmente durante o período de diminuição das horas de luz diárias. Abaixo: Sob
ciclos fotoperiódicos de seis meses, o cio ocorre durante o período de aumento das horas de luz diárias.
(De Mauleon e Rougeot (1962). Ann. Anim. Biochim. Biophys. 2,209.)

duas estações anuais de reprodução (FigA- hormônio liberador de gonadotrofinas


14). Quando a ovelha é coberta regularmen- (GnRh), progesterona e estratos hipofisários
te, o parto ocorre a cada seis meses e meio, já equinos (Hart et aI., 1984).
que a gestação de 5 meses é seguida por um Manipulações similares também são efi-
anestro lactacional de um mês e meio. A égua cientes com carneiros. Usando dois ciclos
é uma reprodutora estacional de longos dias fotoperiódicos por ano, o carneiro exibe dois
com uma ciclicidade reprodutiva ocorrendo períodos de atividade espermatogênica dimi-
desde o início de maio até outubro nas latitu- nuída coincidindo com os dois períodos de
des norte. A data arbitrária de primeiro de aumento da luz diária (Ortavant e
janeiro como dia de nascimento de todos os Thibault,1956). O fotoperiodismo é basica-
potros nascidos em determinado ano criou mente um sincronizador da atividade sexual.
uma demanda na indústria equina para a Quando as ovelhas são colocadas sob 12 ho-
administração de hormônios para adiantar o ras de luz todos os dias ou sob constante ilu-
início da estação de monta natural em éguas minação por muitos anos, a estação de monta
por cerca de 3 a 4 meses. Deste modo os po- é mantida por um ou dois anos e então o cio
tros deverão nascer mais próximos ao primei- ocorre mais ao acaso durante o ano.
ro dia do ano. A variação estacional da temperatura tem
No hemisfério norte, aumentando o núme- um papel maior na regulação da função se-
ro de horas de luz diária até 16 horas em no- xual em invertebrados menores, particular-
vembro e dezembro acelera o início da esta- mente em répteis. Em mamíferos, quando as
ção sexual na égua; a primeira ovulação ocorre temperaturas ambientais permanecem den-
até 3 meses mais cedo do que sob o fotoperíodo tro de limites compatíveis com os mecanis-
natural. Ciclos induzidos são endocrinolo- mos termorreguladores, o efeito da variação
gicamente normais e férteis (Oxender et aI., da temperatura sobre a fertilidade é raramen-
1977). Vários tratamentos hormonais foram te comentado (Hafez, 1968). Não obstante, o
utilizados com sucessos diferentes, tais como período pós-fertilização parece ser crítico em
gonadotrofina sérica da égua prenhe (PMSG), fêmeas domésticas. Embriões de vacas, ove-
gonadotrofina humana coriônica (hCG), lhas e porcas são suscetíveis a danos durante
110 Fisiologia da Reprodução

os dez primeiros dias de desenvolvimento canismos neuroendócrinos que acompanham


(Ortavant e Loir, 1978). as variações estacionais desta espécie. A va-
Em suínos o fotoperiodismo e a tempera- riabilidade entre animais na secreção de
tura interagem desfavoravelmente sobre a gonadotrofinas, notada particularmente em
fertilidade. A emissão de espermatozóides, a Dorsets e Rambouillets pode ser considerada
motilidade espermática e o índice de partos útil na identificação dos indivíduos mais pro-
são gravemente diminuídos quando os líficos dentro da raça (D'Occhio et aI., 1984).
reprodutores suínos são submetidos a tem- Fatores que Regulam a Estação Repro-
peraturas de verão (35°C) durante longos dias dutÍva. Fatores ambientais, fisiológicos e
(16 horas). sociais regulam o início e a manutenção da
estação de monta. Os padrões de fotoperíodo,
Estação Reprodutiva em Machos chuvas e temperatura funcionam como estí-
mulos ambientais que, ou levam consigo um
A duração da estação reprodutiva dos ma- ritmo endógeno ou acionam diretamente as
chos é mais longa do que das fêmeas de cada modificações fisiológicas da estação de mon-
espécie. Embora os carneiros possam prati- ta (Ruiz de Elvira et aI., 1982). Estes fatos
car coberturas durante todo o ano, o peso tes- são regulados por mecanismos endócrinos e
ticular, a testosterona e os níveis de neuroendócrinos.
gonadotrofinas são mínimos de janeiro a maio Em várias espécies mamíferas a variação
durante o anestro das fêmeas (Fig. 4-11). Si- fotoperiódica, é o principal estímulo ambien-
milarmente, no bode o nível de testosterona tal na sincronização da função reprodutiva
no plasma permanece baixo de janeiro a agos- com a estação. Entre as espécies de bovinos
to, quando sobe repentinamente no início da domésticos, o gado zebu exibe a estacÍona-
estação de monta. Um ciclo reprodutivo a- lidade mais distinta na eficiência reprodutiva,
nual em garanhões está também bem docu- p. ex., a frequência de cio e ovulação, assim
mentado em ambos os hemisférios. Em paí- como a taxa de concepção no gado zebu é mais
ses temperados do norte, níveis de LH e alta durante o verão do que no inverno no
testosterona plasmático baixos são observa- Kenya (Rhodes lU et aI., 1982.). A tempera-
dos em garanhões de outubro a fevereiro. tura pode modificar o efeito estacional do
Existem diferenças raciais em carneiros fotoperíodo sobre a função reprodutiva. To-
adultos com relação aos padrões secretores davia, a duração da luz diária parece ser o
de hormônios. Diferenças raciais na principal estímulo para a estacionalidade nos
gonadotrofina sérica e na testosterona são parâmetros reprodutivos.
aparentes apenas durante os dias curtos do
ano quando o eixo hipotálamo-hipófise-testi-
cular é considerado mais ativo. Semelhante- Mecanismos Endócrinos e N euroendócrinos
mente, diferenças raciais em prolactina são
notadas durante os dias longos quando a se- O efeito do fotoperiodismo envolve pelo
creção deste hormônio está aumentada. Dife- menos dois mecanismos separados. Primei-
renças raciais na secreção de LH, FSH e ro, existe uma ação direta sobre o eixo
testosterona em carneiros durante dias cur- hipófise-hipotalâmico. No carneiro e na égua
tos podem estar relacionadas à estaciona- castrados, nos quais não ocorre o mecanismo
lidade das coberturas e/ou fecundidade ou retrógrado negativo dos esteróides sexuais, os
então tipos raciais (D'Occhio et aI., 1984). níveis de gonadotrofina atingem um máximo
Existem diferenças raciais distintas na se- durante a estação reprodutiva normal e di-
creção de hormônios em carneiros. Estas di- minuem durante a estação não reprodutiva.
ferenças parecem estar relacionadas a Secundariamente, existe uma modificação
estacionalidade das coberturas e a fecun- simultânea na sensibilidade do sistema ner-
didade dos tipos raciais. Deste modo pode-se voso central para o mecanismo negativo re-
conseguir importantes dados quanto aos me- trógrado dos esteróides.
Ciclos Reprodutivos 111

6- 15 FIG. 4-15. Modelos alternativos da


ro influência do fotoperiodismo na di-
~
"O
13 minuição da resposta da inibição ao
o estradiol na secreção tônica de LH
>~ 11 no cordeiro. Os modelos I e II são ba-
ro
... seados na idade e estação da dimi-
;;
O 9 nuição na resposta ao mecanismo re-
trógrado do estradiol e início da
alto ,~ , '-----.. ovulação em ovelhas nascidas na pri-
I \ , \
estação de I estação de I estação de I mavera e no outono em relação a (a)
ou anestro " reprodução,' anestro I fotoperiodismo natural e (b) modifi-
I I I
cações anuais na resposta e ciclici-

... baixo
:r:
Ibl
I
' '
I
~----
,
dade ovariana no adulto. A resposta
H Cordeíro
está esquematicamente ilustrada
o como o inverso das concentrações de
"O (idade em semanas) 30 O 15 50
"" alto
r:t1
LH circulante em fêmeas ovariecto-
maturidade
o desenvolvimento retardado mizadas tratadas cronicamente com
ro sexual
o ODELO 1 estradiol. A resposta é considerada
oro
u. alta quando a secreção de LH é su-
;§ baixo lei
.S primida e é baixa quando não-supri-
.ro mida; fêmeas intactas são acíclicas
o 30 O
~o alto
maturia:;;a:;- -
:'0 5.0 durante períodos de alta resposta e
p,
"' maturidade ',início da são cíclicas durante períodos de bai-
sexual
'"
p:: sexual .~ estação xas respostas. (Foster, D.L. (1981).
baíxo
ODELOII anestro \ reprodutora Mechanism for delay of first
(di estacional '.---- ovulation in lambs bom in the wrong
season. Biol. Reprod. 25, 85-92.)
Primavera Verão Outono Inverno Príma- Verão Outono
vera

A injeção de testosterona ou estradiol em posta a um fotoperíodo estimulador (Hart et


carneiros castrados provoca duas respostas: aI., 1984). O conteúdo hipotalâmico de LH-
(a) gonadotrofinas reduzidas a níveis não RH juntamente com as concentrações de LH
detectáveis fora da estação de reprodução e da hipófise anterior, excetuando-se porém o
(b) leve depressão de gonadotrofinas durante número de receptores LH-RH e a concentra-
a estação sexual normal ou sob dias curtos. ção de FSH na hipófise anterior, pode ser um
As interações entre fotoperíodo, hormônios dos fatores hipotalâmicos-hipofisários respon-
esteróides, gonadotrofinas e LH -RH estão sáveis pelo anestro estacional na égua. É pos-
demonstradas na Fig. 4-15. Similarmente, o sível que baixas concentrações de LH na
cio em ovelhas castradas é induzido mais re- hipófise disponível para a liberação retarde a
gularmente com tratamentos progesterona- ovulação durante o período de transição na
estrógeno durante a estação reprodutiva nor- estação de monta.
mal do que durante o anestro (Reardon e Como é que uma modificação na proporção
Robinson, 1961). de luz diária é percebida pelo sistema nervo-
Impulsos nervosos são gerados em so central como estímulo à função gonado-
consequência de leves incidentes sobre os trófica? Não existe evidência em mamíferos,
fotorreceptores no olho. Os impulsos são como nos pássaros, de uma percepção direta
transmitidos para a glândula pineal, onde co- da luz pelos neurônios fotossensitivos
mandam a síntese e a secreção de melatonina. hipotalâmicos; a rota mais provável parece
A glândula pineal, e possivelmente a ser a retina. A duração do período de luz diá-
melatonina, parecem mediar modificações na ria necessária para estimulação sexual não
atividade gônado-neuroendócrina em respos- quer dizer que a luz deva estimular o siste-
ta a um foto período modificado. Na égua, a ma nervoso durante todo o período de luz. A
ganglionectomia cervical superior e a luz é apenas eficiente durante um período
pinealectomia alteraram a habilidade de res- determinado do ciclo de 24 horas de luz ou de
112 Fisiologia da Reprodução

escuridão. De acordo com as espécies, este TABELA 4-3. Frequência Gemelar na


período sensitivo ocorre 10 a 24 horas após o Vaca de Acordo com a Idade (Número de
término do período de luz. O período Gestações)
fotos sensitivo é curto nos pássaros (cerca de NQda Gestações Gemelares (%)
1 hora) e bastante extenso no carneiro (7 ho- Gestação Monozigóticas Dizigóticas
ras). Em carneiros submetidos a 8 horas de 1 0,15 0,33
luz por dia, divididas em duas partes (7 ho- 2 0,17 1,36
ras mais 1 hora durante vários intervalos na 3 0,14 1,96
4 0,24 2,30
noite), o nível de LH foi maior quando o perío- 5 0,17 2,54
do de 1 hora foi administrado de 11 a 20 ho-
ras após o início do período de 7 horas de luz (Swedish breed, from Johansson L, Lindhé B. and
Pirchner F. (1974) Hereditas 78, 201.
(Fig. 4-15). Em condições naturais, os níveis
de LH são maiores no verão do que no inver- de luz foi administrado após o de 17 horas.
no. Não obstante o fotoperíodo favorecendo a se-
Estes resultados aparentemente parecem creção de gonadotrofina e prolactina ou favo-
contradizer aqueles que demonstram um au- recendo o tamanho máximo dos testículos,
mento de FSH, LH, testosterona e esperma- nunca é mantido por respostas hipofisárias e
togênese de carneiros quando submetidos a gonadais. De um modo geral segue-se um pe-
dias curtos (8U16D) após estarem sob dias ríodo refratário ou de fadiga. A frequência de
longos (16U8D) (Lincoln et al., 1977). Contu- ondas pulsáteis de LH e FSH modifica-se em
do, uma correta compreensão do mecanismo períodos críticos de atividade sexual. Por
envolvido na estacionalidade natural deve exemplo, cinco picos de LH por 24 horas fo-
incluir variáveis níveis de outros hormônios, ram observados durante os meses de verão
como a prolactina e tiroxina, os quais interfe- em carneiros, em comparação a três picos por
rem com a função gonadotrófica ou com a res- 24 horas no inverno.
posta das gônadas. A secreção de prolactina e
tiroxina também é regulada fotoperio- IDADE E FERTILIDADE
dicamente. Sob o mesmo fotoperíodo de luz
administrado em um período de 7 horas mais A fertilidade do rebanho é avaliada pela
uma, a secreção máxima de prolactina foi ob- porcentagem de fêmeas prenhes e pelo tama-
tida no carneiro quando o período de 1 hora nho da ninhada. Estes parâmetros aumentam

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HAMPSHIRE
'6 1,0,
2 3 4 5 6 7 8 9 10 5 o N D J F M A M J
idade em anos meses
FIG. 4-16. Efeito da idade sobre o número de cordeiros por parto e da estação sob o número de parição.
(Institut technique de I'Elevage ovin et caprin. Paris, França, 1972.)
Ciclos Reprodutivos 113

por uns poucos anos após a puberdade, atin- REFERÊNCIAS


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itary eontent ofluteinizing hormone and follieIe-
dade diminui na mesma proporção de 65% de
stimulating hormone in lhe maTe. Biol. Reprod.
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5
FOLICULOGÊNESE, MATURAÇÃO DO OVO E OVULAçÃO
E.S.E. HAFEZ

o ovário desempenha duas funções princi- estrógenos pelo folículo maior diminui rapi-
pais: (a) a produção cíclica de óvulos damente ao mesmo tempo que ocorre o pico
fertilizáveis e (b) a produção de um nível ba- deLH.
lanceado de hormônios esteróides que man- Bovinos ovulam um único folículo que pode
tém o desenvolvimento do trato genital, faci- ser identificado pelo seu tamanho ao redor
lita a migração do jovem embrião e assegura de 3 dias antes do início do cio, quando há
sua implantação satisfatória e desenvolvi- um ou dois grandes folículos no ovário. Em
mento no útero. O folículo é o compartimento ovelhas, um ou dois folículos grandes
ovariano que habilita o ovário a preencher sua secretam mais estrógenos e carregam mais
dupla função de gametogênese e esteroidogê- gonadotrofinas às células granulosas do que
nese. os folículos menores. Em porcas, o recruta-
mento dos folículos ovulatórios dentro da po-
FOLICULOGÊNESE pulação ovulatória continua durante a fase
folicular. Deste modo, o desenvolvimento de
Na reserva primordial de folículos, forma- folículos menores pode ser em primeiro lugar
da durante a vida fetal ou logo após o nasci- inibido por folículos maiores "dominantes". A
mento, alguns folículos primordiais começam avaliabilidade de andrógenos, mais do que
a crescer continuadamente durante a vida, células granulosas baixas ou atividade
ou pelo menos até a exaustão da reserva. Pou- aromatase pode limitar a produção de
co se sabe sobre os fatores que controlam o estrógenos que pode por si própria estar rela-
desencadeamento do mecanismo do cresci- cionada funcionalmente à ligação das células
mento folicular. A atuação do oócito no início granulosas.
deste crescimento foi enfatizada inicialmen- O crescimento final em ovelhas, vacas e
te por medidas dos diâmetros do oócito e do porcas varia entre 12 e 34 dias; a duração to-
folículo. Contudo, a ampliação do oócito se dá tal do crescimento folicular nos mamíferos
em seguida a alterações de forma da célula domésticos é maior que 20 dias, presumi-
folicular, de plana para. cubóide. Quando qual- velmente cerca de 6 meses. O crescimento do
quer folículo é libertado desta reserva, ele con- folículo até o estágio de formação de antro não
tinua a crescer até a ovulação ou até que de- é dependente estritamente de gonadotrofinas.
genere, que é o caso da maioria dos folículos Em fêmeas hipofisectomizadas, a formação de
(Tabelas 5-1 e 5-2). O folículo maior é respon- folículos continua em um nível mais ou me-
sável pela maior quantidade de secreção de nos normal. Por outro lado, a formação de
estrógenos pelo ovário no estro. A secreção de antro e o crescimento final são totalmente

115
116 Fisiologia da Reprodução

TABELA 5-1. Alguns Aspectos Morfológicos, Fisiológicos e Bioquímicos dos


Folículos Ovarianos
Componentes Características Morfológicas e Fisiológicas
Células da teca Produz andrógenos em resposta ao aumento basal de LH
Possui receptores de LH dos estágios precoces do crescimento folicular
Após a ovulação, a teca desenvolve-se em células luteínicas

Parede folicular Composta da granulosa e da teca, separada pela lãmina basal, sofre modificações de
desenvolvimento relacionadas a organogênese de uma glândula endócrina/exócrina
que sintetiza hormônios esteróides

Células granulosas Em folículos antrais, microfibrilas ligam as células granulosas à lãmina basal e células da
teca à lãmina reticular
Em folículos pré-ovulatórios, projeções da célula granulosa ligam-se através da lâmina
basal rompida
Após a ovulação, a camada granulosa é invadida por vasos e material conjuntivo
Células granulosas de folículos caprinos adquirem a habilidade de secretar ocitocina antes
da ovulação, provavelmente como resposta à onda pré-ovulatória de LH
Corona radiata Antes da ovulação o óvulo permanece em um lado do folículo ovariano, envolto em uma
sólida massa de células foliculares, o cumulus oophorus

Folículo primordial Folículos com oócitos localizados centralmente e uma única camada de células granulosas
Os folículos são separados uns dos outros pelo estroma constituído de fibroblastos, feixes
de colágenos e fibras reticulares
Diferenciam-se das células germinativas primordiais (oogônias) e permanecem em uma
prófase meiótica até reassumir a maturação preliminarmente a uma ovulação ou uma
atresia
Feito da membrana basal e/ou duas camadas de células granulosas e um oócito dictiado
Formação precoce de folículo regulado pela rete tubular ovariana
Crescimento folicular, proliferação de células granulosas, formação da zona pelúcida,
diferenciação das células da teca
Uma porcentagem constante de folículos cresce em unidades irrespectivamente ao perfil
endócrino da fêmea
Crescimento folicular monitorado preciso e sequencialmente em níveis similares

Folículo secundário Com o aumento do número de células granulosas por mitose, as células tomam forma
cuboidal

Folículo vesicular Folículos com acúmulo de fluido folicular no antro dentro das células epiteliais

Fluido folicular (no antro) O antro é separado da teca vascular pela membrana basal de permeabilidade seletiva
Contém esteróides, glicosaminogliclans e muitos metabólitos; K+ e Na+ em concentrações
similares como no soro
Alguns componentes são fisiologicamente ativos: inibidor da maturação do oócito, inibidor
do LH carreador, inibina, e várias enzimas e ácido sulfiírico condroitina
Contém, somente em grandes folículos, alta porcentagem de estradiol-17 na fase folicular
e progesterona na ovulação
Alta concentração de progesterona após a onda de LH inibe a atividade aromatase
localmente no ovário

Fluido folicular (entre as células Fluido dentro das células granulosas e especialmente no complexo do cumulus oophorus é
granulosas) viscoso e rico em ácido hialurônico
O fluido se acumula à medida que se aproxima a ovulação
Muitos oócitos velhos permanecem na superncie folicular após a ovulação até serem
removidos pelas Illllbrias
A proliferação é estimulada por estrógenos
O fluido contém receptores de FSH exclusivamente
O fluido contém receptores de estradiol
O FSH estimula o acúmulo de cAMP
O aumento da resposta das células granulosas ao FSH ocorre sem modificação no número
de receptores de FSH, porém isto requer estradiol
Os receptore.s de LH e a resposta do adenilato ciclase ao LH são adquiridos somente no
final do desenvolvimento folicular
Os andrógenos são aromatizados ao estrógeno
O estradiol-17 aumenta a habilidade do FSH para induzir receptores de LH
A separação da granulosa e da teca é provocada assim que a membrana basal é dissolvida
Células luteínicas desenvolvem-se após a ovulação e são a principal fonte de progesterona
no corpo lúteo
Foliculogênese, Maturação do Ovo e Ovulação 117

TABELA 5-2. Parâmetros Reguladores e Fisiológicos de Alguns Componentes do


Folículo
Componente Características Morfológicas Mecanismos Fisiológicos e Reguladores

I. Células A. AiJ células granulosas crescem em A. Células granulosas controlam o desenvolvimento


granulosas número durante o crescimento folicular.
folicular por mitose, possivelmente B. A meiose é prejudicada e os oócitos entram em um
em resposta ao estrógeno ou fatores estágio dictióteno no ovário feta! ou neonatal
intra-ovarianos, formando assim conforme são envolvidos pela células granulosas
folículos unilaminares, bilaminares, durante a formação do folículo primordial; os
trilaminares e multilaminares oócitos que se evadem das células granulosas
B. Com o acúmulo de fluido folicular no continuam a meiose à metáfase II e tomam-se
antro, as células granulosas são atrésicos
separadas dentro de uma membra- C. Vários mecanismos estimulam a replicação das
na granulosa adjacente à lâmina células granulosas: peptídios de baixo peso
basal e dentro de várias a muitas molecular, fator epidérmico de crescimento, fator
camadas concêntricas, formando o fibroblástico de crescimento, insulina, transferrina,
cumulus oophorus ao redor do oócito esteróides, tiroxina e fluido folicular. O FSH
C. Células ionicamente acopladas umas estimula a diferenciação das células granulosas e
às outras e ao óvulo liberam-se promove a formação do antro
quando o folículo se rompe na
ovulação

lI. Células do A. AiJ células da corona do cumulus A. AiJ células usam glicose para suprir piruvato para
cumulus oophorus interdigitam-se com o troca metabólica com o ovo; com a separação das
oócito através de processos células do cumulus oophorus, ocorre a troca
citoplasmáticos, que cruzam a zona metabólica apenas através do fluido folicular
pelúcida e fazem contato com as B. Retomada da meiose e maturação do oócito são
células adjacentes do cumulus acionadas pelas ondas pré-ovulatórias de
oophorus através de junções de gonadotrofinas; o grau de mucificação do cumulus
intervalos. oophorus e da dispersão da corona está
B. AiJ células sofrem profundas correlacionado com o estágio de maturação
modificações -de uma compacta meiótica do oócito; a maturação do oócito ocorre em
massa para uma estrutura um meio que é bioquimicamente similar ao soro
expandida e mucinosa. sanguineo, embora mais diluído
C. AiJcélulas tomam-se progressiva- C. Os componentes envoltórios do oócito protegem o
mente separadas umas das outras; ovo da fertilização polispérmica providenciando
as células do cumulus oophorus uma barreira fisica ao espermatozóide. Isto pode
ancoradas à zona pelúcida aumentar a chance de fertilização através do
permanecem circundantes ao oócito, aumento do tamanho do alvo favorecendo o
formando a corona radiata espermatozóide. Devido à constituição radial da
corona radiata, as células podem ajudar a dirigir o
espermatozóide em direção ao óvulo
D. Enquanto que a presença de um cumulus oophorus
intacto pode facilitar a penetração do
espermatozóide na dissolução dessas células por
tratamento enzimático ou mecânico, isto parece
não interferir com a fertilização in vitro

III. Crescimento A. Aumento do citoplasma do A. O oócito primário sofre duas divisões meióticas; na
do oócito deutoplasma (vitelo) primeira divisão aparecem duas células irmãs,
B. Desenvolvimento de uma zona cada uma contendo metade do complemento
pelúcida do ovo e proliferação cromossômico (2n); na segunda divisão o ovo
mitótica do epitélio folicular e adquire quase todo o citoplasma. Esta célula é
tecidos adjacentes conhecida como oócito secundário
C. Crescimento do oócito em duas fases: B. Em uma segunda divisão de maturação, o oócito
(1) rápido crescimento do oócito e secundário divide-se em ootídeo (n) e um segundo
desenvolvimento do folículo corpúsculo polar (n)
ovariano e formação do antro, (2) o C. O oócito continua a maturação até a fertilização
oócito não cresce em tamanho
enquanto o folículo ovariano estiver
respondendo aos hormônios
hipofisários e aumenta rapidamente
em diâmetro. O crescimento se
restringe aos folículos em que o
óvulo tenha atingido dimensões
plenas. O oócito amadurece. O
núcleo entra em prófase da divisão
meiótica
118 Fisiologia da Reprodução

TABELA 5-2. Continuação


Componente Características Morfológicas Mecanismos Fisiológicos e Reguladores

IV. Zona pelúcida A. Uma camada grossa acelular, gelatinosa, de A. Possui funções importantes nos estágios iniciais
glicoproteínas entre a superficie do oócito em da fertilização, pois o espermatozóide deve re-
crescimento e as células granulosas conhecer, desenvolver contato e atravessá-Ia'
B. Composta de polissacarídeos, mucopolis- antes de estabelecer contato com a membrana
sacarídeos, proteínas e glicoproteínas plasmática do óvulo
C. Em algumas espécies, a zona pelúcida consiste B. Possui propriedades fisico-químicas e antige-
de mais que uma camada, com uma composi- nicidade
ção química variável
D. Microvilosidades e processos celulares
foliculares incluídos na zona pelúcida aumen-
tam extraordinariamente em número à medi-
da que as células granulosas e o oócito se dife-
renciam, aumentando a área superficial duran-
te o crescimento do oócito
E. Uma estrutura semelhante a um retículo fibro-
so entremeada com numerosos poros; os
canalículos, fixados pelas fibras, propiciam via-
dutos pelos quais processos de células
granulosas podem atravessar a zona pelúcida
e interagir com a superficie vitelínica

dependentes do LH e do FSH (Figs. 5-1 e 5- Recrutamento e Seleção dos Folículos


2). Ovarianos

O folículo ovariano é uma unidade fisioló-


Crescimento Folicular gica balanceada cuja estrutura e função de-
pendem não somente de fatores extrace-
o crescimento folicular e a maturação re- lulares como as gonadotrofrnas, porém tam-
presentam uma série de transformações bém sobre um sistema complexo de relações
sequenciais subcelulares e moleculares de intrafoliculares. Em ovelhas, todos os folículos
vários componentes do folículo, como o oócito, saudáveis de 2 mm de tamanho são requisi-
a granulosa e a teca (Testart et aI., 1982). tados, e uma vez determinada a seleção, o
Estes estão governados por vários fatores recrutamento é bloqueado. Carneiros
intra-ovarianos, fatores intrafoliculares, e sin- Booroolas diferem dos Merinos por causa do
tomas hormonais que levam à secreção de tempo maior durante o qual se dá o recruta-
andrógenos e estrógenos (principalmente mento, a baixa incidência de seleção, e a ha-
estradiol). bilidade de folículos totalmente desenvolvi-
O crescimento folicular envolve a produ- dos capazes de obter o pico de LH. Em con-
ção hormonalmente induzida e a proliferação traste, carneiros Romanov diferem das ove-
e diferenciação das células granulosas e da lhas Ile-de-France devido ao maior número
teca, proporcionando em última análise um de folículos recrutados entre os dias 13 e 15.
aumento da habilidade dos folículos de pro- Então, é provável que sistemas diferentes de
duzir estradiol e responder às gonado- controle operam para gerar um alto nível de
trofinas. A produção de estradiol determina ovulação em raças prolíficas (Draincourt e
aquele folículo que vai receber os receptores Cahill,1984).
de LH necessários à ovulação e a luteinização.
Qualquer distúrbio na resposta das células
granulosas e da teca aos sintomas gonado- Fluido Folicular
tróficos, que estimula e mantém os padrões
máximos da biossíntese de estrógenos e O fluido folicular origina-se principalmen-
andrógenos, leva ao término do crescimento te do plasma periférico por transudação atra-
folicular e ao início de atresia. vés da lâmina basal do folículo e acumula-se
Foliculogênese, Maturação do Ovo e Ovulação 119

no antro formado pela coalescência de peque- tém altos níveis de estradiol-17 ~ na fase
nas b"ôlsas de fluido, folicular e progesterona à medida que apro-
Composição Bioquímica do Fluido . xima-se a ovulação. Todavia, ovários policís-
Folicular. O fluido folicular, um transudato ticos apresentam altos níveis de andros-
sérico modificado por atividades metabólicas tenediona, Em folículos de suíno, os lipídios
foliculares, contém constituintes específicos são menos concentrados no fluido folicul~.r do
como esteróides e glicoproteínas sintetizados que no soro, porém mais concentrados' nas
pelas células da parede folicular, Durante o secreções tubáricas. Isto está asf?ociado com
crescimento folicular, é estabelecido um equi- um declínio nos níveis de lipídios'foliculares
líbrio entre o fluido sérico e o folicular. As con- no final do crescimento dos folículos.
centrações de metabólitos nos dois comparti- Folículos ovarianos viáveis acumulam e
Illentos são similares. Estas concentrações são secretam hormônios esteróides, principal-
também similares àquelas das secreções da mente estradiol, progesterona e 4-andros-
trompa. O fluido contém vários compostos de tenediona; vários não-esteróides fisiologica-
significantes valores fisiológicos, e a maioria mente ativos tal como um inibidor de
deles são concentrações similares ao soro san- maturação do oócito (OMI), um polipeptídio
guíneo (Tabelas 5-3 a 5-5 ). pesando cerca de 1.500 dáltons; um inibidor
Em grandes folículos com antro (porém não da luteinização, uma proteína complexa; um
nos pequenos folículos), o fluido folicular con- inibidor de proteínas, uma proteína de cerca

Folículo em pré-antro

Folículo em Hipoxia
crescimento

Controle
intra-ovariano

~
a@'()
~<9' ~
Folículos primordiais

FIG. 5-1. Todos os dias alguns folículos começam a crescer. Na fêmea hipofisectomizada ocorre o cresci-
mento do folículo primordial até o estágio de pré-antro, porém em ritmo mais lento. O número de folículos
primordiais que começa a crescer diariamente é controlado por um fator intra-ovariano desconhecido. A
formação do antro e o crescimento final do folículo até o tamanho ovulatório são dependentes de
gonadotrofinas. Esta segunda fase de crescimento folicular é mais curta do que a primeira. O prossegui-
mento da meiose ocorre somente quando o oócito é liberado das células granulosas. In vivo, isto ocorre
após a onda ovulatória de gonadotrofinas, que provoca afrouxamento dasjunçães das células granulosas
e a liberação do oócito para dentro do líquido folicular. In vitro, a meios e prossegue quando os oócitos são
cultivados, isolados ou "enxertados" nas células tecais. Amaturação completa do oócito (reinício da meiose
e maturação citoplasmática) ocorre no folículo somente após a onda ovulatória de gonadotrofina. (Thibault
e Levasseur (1978). La fonction ovarienne chez les Mammiferes. Masson, Paris).
120 Fisiologia da Reprodução

p PM PM s s T

. (O
crescimento crescimento retomada da
folículo
dependente de meiose (secreção
em repouso de esteróides
independene de independente de gonadotrofinas gonadotrofinas
I crescimento
gonadotrofmas I crescimento
gonadotrofinas I dependente
(secreção dede (secreção de pelas células

FOLÍCULO
PRIMORDIAL . esteróides pelas
células da teca)
esteróides pelas
células da teca)
LÂMINA BASAL
OOCITO DICTIADO
CÉLULAS GRANULOSAS
foliculares e da
teca)

.
"'C7 LÂMINA BASAL

~
,'"
:' d:', CÉLULASGRANULOSAS
FOLÍCULO
PRIMÁRIO ~I:
"..'"'" .'"
'. : OÓCITO TOTALMENTE CRESCIDO
ZONA PELÚCIDA

-c>
LÂMINA BASAL

FOLÍCULO
ZONA PELÚCIDA
SECUNDÁRIO
OÓCITO TOTALMENTE CRESCIDO

LÂMINA BASAL
CÉLULAS SECRETORAS DE
ESTERÓIDES

FOLÍCULO
- ANTRO

VASO SANGUÍNEO
TERCIÁRIO
INICIAL
OÓCITO TOTALMENTE CRESCIDO

MÚLTIPLAS CAMADAS DE
CÉLULAS GRANULOSAS

TECA INTERNA

Fig. 5-2. Classificação fisiológica (acima) e morfológica (abaixo) dos folículos ovarianos: P, folículo pri-
mordial; PM, folículo primário; S, folículo secundário; T, folículo terciário. Notar as diferenças no núme-
ro de células granulosas e no grau de expansão do antro com acúmulo de fluido folicular. (Dvorak, M. e
Tesarik, J. (1980). Ultrastructure of human ovarian folicles. In Biology of the Ovary. P.P. Motta and
E.S.E. Hafez (eds.). London, Martinus Nijhoff,)

de 1.400 dáltons; a relaxina, polipeptídio de tir do folículo rompido e ainda na


cerca de 9.000 dáltons e a proteína com ativi- hiperativação espermática.
dade de inibina (atividade supressora do O fluido folicular sofre notáveis modifica-
FSH), e uma proteína de alto peso molecular ções durante o ciclo estral e executa várias
(Tabelas 5-3 e 5-4). funções incluindo as seguintes:
Funções do Fluido Folicular. O fluido 1. Regulação das funções das células
folicular desempenha um grande papel nos granulosas, início do crescimento
aspectos fisiológicos, bioquímicos e metabóli- folicular e esteroidogênese,
cos da maturação nuclear e citoplasmática do 2. Maturação do oócito, ovulação e trans-
oócito, e também na liberação do óvulo a par- porte do ovo para a trompa.
Foliculogênese, Maturação do Ovo e Ovulação 121

TABELA 5-3. Alguns Componentes e Metabólitos do Fluido Folicular que


Apresentam Funções Fisiológicas
Constituintes Bioquímicos Componentes

Proteínas (p. ex., albuminas, globulinas, 19A, IgM, fibrinogênio, lipoproteínas,


peptídios)

Aminoácidos ASP, Thr, Glu, Gln, Gly, Ala

Enzimas Intra e extracelulares

Carboidratos Cílicose,frutose,fucose,galactose,manose

Cílicoproteínas Cílicosamina, galactosamina, ácido hialurônico, glicosaminoglicans


sulfatado, heparina e sulfatos de heparina, plasminogênio

Cíonadotrofinas FSH, LH e suas subunidades; prolactina

Esteróides Colesterol, andrógenos, progestinas, estrógenos

Prostaglandinas PCíE, PCíF 2a

Elementos e sais Sódio, potássio, magnésio, zinco, cobre, cálcio, enxofre, cloretos, fosfato
inorgânico, fósforo

Imunoglobulinas A Ig(} é a imunoglobulina predominante. A IgA está presente em quantidades


secundárias à Ig(}. A concentração de Ig(} no fluido aumenta à medida que
o folículo se distende para o tamanho pré-ovulatório. O fluido folicular de
marrãs pré-púberes contém ligeiras concentrações maiores de IgA
comparadas ao fluido folicular em porcas, embora seu conteúdo de Ig(} seja
muito menor.

TABELA 5-4. Função Reguladora do Fluido Folicular com Respostas


Estirnuladoras ou Inibidoras
Substância Respostas Fisiológicas

Inibidoras
Inibidor da maturação do oócito (OMI) Inibe o completamento da meiose do oócito
Inibidor da luteinização Previne ou inibe a luteinização das células granulosas
Inibidor do receptor que carrega o FSH Deprime a ligação do FSH às células granulosas
Inibina (substância supressora do FSH) Deprime a secreção de FSH
Outros fatores Promovem a capacitação e a reação acrossômica do
espermatozóide
Estimuladoras
Estimulador luteinizante Estimula a luteinização das células granulosas

TABELA 5-5.Concentração de Esteróides no Fluido Folicular de Folículos de


Ovinos
Hormônios Esteróides no Fluido Folicular (Pmollml)
Diâmetros dos folículos (nm) Estradiol Testosterona Progesterona

3-6 (grande, folículos não-atrésicos) 860 70 150


3-6 (grande, folículos atrésicos) 100 190 120
2-3 (pequenos, folículos não-atrésicos) 140 280 40

Grandes folículos saudáveis são caracterizados por grande conteúdo de estradiol e relativamente
pequeno valor de testosterona. Quando grandes folículos são atrésicos, o nível de estradiol é menor do
que o de testosterona. A mesma relação baixa estradiol/testosterona é observada em pequenos folículos
saudáveis; todavia, seu conteúdo de progesterona é menor do que aquele dos grandes folículos, sejam
eles atrésicos ou não. O conteúdo de esteróide intrafolicular reflete a potência esteroidogênica destes
folículos. (De Moor et aI. (1978). J.EndocrinoI. 77, 309).
122 Fisiologia da Reprodução

3. Preparo do folículo para a formação do Esteroidogênese


subsequente corpo lúteo.
4. Fatores estimulantes e inibidores no A atividade esteroidogênica do folículo tam-
fluido que regulam o ciclo folicular (Ta- bém depende da atuação do FSH e do LH so-
bela 5-4). bre as células granulosas e tecais respectiva-
5. O volume do fluido liberado na ovula- mente. O esteróide fundamental secretado é
ção também é importante, desde que usualmente o estradiol-17~. Contudo são pro-
se trata de um componente significante duzidos também progestinas e andrógenos
juntamente com as secreções da trom- (Tabela 5-1). Os andrógenos foliculares são
pa, do ambiente no qual se dá o meta- importantes nas fêmeas. Em coelhas, os
bolismo espermático, a capacitação e andrógenos podem naturalmente ultrapassar
onde se dá o desenvolvimento embrio- a secreção de estrógenos. A proporção de
nário precoce. andrógeno-estrógeno no fluido folicular reflete
a integridade fisiológica e a viabilidade do
folículo. Em ovelhas, é normal um alto con-
ENDOCRINOLOGIA DO CRESCIMENTO teúdo androgênico em folículos pequenos e
FOLICULAR E OVULAÇÃO saudáveis, porém, em folículos grandes, isto
assinala atresia (Tabela 5-1). A imunização
O crescimento, a maturação, a ovulação e contra a androstenediona revelou o papel di-
a luteinização do folículo de Graaf dependem ferente dos andrógenos ovarianos atuando a
de padrões apropriados de secreção, concen- nível hipotálamo-hipofisário, desde que a taxa
trações suficientes e proporções adequadas de ovulatória duplica em ovelhas imunizadas.
FSH e LH no soro. Estes hormônios incluem Durante o desenvolvimento folicular, a pro-
esteróides, prostaglandinas e glicoproteínas dução de estradiol resulta da atividade
(combinações de ácido siálico e polipeptídios esteroidogênica coordenada da teca interna e
de correntes duplas), e são todos secretados das. células granulosas (Tabela 5-5). Experi-
pelas células B da hipófise anterior. mentos in vitro demonstram que as células
O FSH desempenha importante papel no tecais secretam principalmente testosterona,
início da formação do antro. Esta gonadotro- enquanto que as células granulosas conver-
fina estimula a mitose das células granulosas tem a testosterona em estradiol devido à in-
e a formação do fluido folicular. O estradiol tensa atividade aroma tas e (Fig. 5-5). Na ove-
aumenta o efeito mitótico do FSH. O FSH lha, as células granulosas somente secretam
estimula as células granulosas através dos estradiol quando a testosterona está presen-
receptores das membranas cujo número por te no meio de cultura; a secreção é aumenta-
célula permanece constante durante o cresci- da se o FSH for adicionado. Por outro lado, as
mento folicular. Contudo, o FSH induz a sen- células tecais dos grandes folículos de bovi-
sibilidade celular da granulosa, aumentando nos e ovinos sintetizam testosterona. Em vis-
o número de receptores de LH. Em porcas, os ta do FSH estimular principalmente as célu-
receptores de LH aumentam de 300 folículos las granulosas e o LH estimular as células
pequenos a 10.000 folículos grandes pré- tecais para a produção de testosterona, a pro-
ovulatórios. O aumento de receptores de LH porção FSH-LH é um importante parâmetro
prepara a luteinização das células granulosas endócrino na produção normal de esteróides
em resposta à onda ovulatória de LH (Figs. ovarianos (Fig.5-6).
5-3 e 5-4).
Por outro lado, as células da teca são esti- Desenvolvimento Folicular Durante as
muladas apenas pelo LH, e os receptores de Fases "Folicular" e "Luteínica"
LH estão presentes desde o início da forma-
ção das células tecais. Em porcas o número Corpos lúteos ativos estão presentes nos
de receptores por célula tecal duplica-se ape- ovários durante grande parte do ciclo estral,
nas durante o crescimento final do folículo. chamada fase luteínica. A fase folicular, o pe-
Foliculogênese, Maturação do Ovo e Ovulação 123

Aumento dos
receptores de LH
Formação
do antro

estação
nutrição
...... puberdade
idade
.......
lactação
gestação
tratamento com Gn
efeito do macho

FIG. 5-3. Alguns mecanismos que regulam e controlam folículos pré-antrais e antrais.

Hormônio Envolvido Mecanismo Fisiológico

I Gonadotrofina (provavelmente FSH) Início do crescimento folicular


FSH Facilitação do crescimento dos folículos pré-antrais
2FSH Formação do antro
3LH Aumento da atresia dos folículos antrais
FSH Inibição da atresia dos folículos antrais
4 Andrógenos Aumento da atresia dos folículos antrais
Estrógenos Inibição da atresia dos folículos antrais
5 Progesterona Inibição do grau de crescimento de grandes folículos antrais
6 Estrógenos Efeitos sinérgicos com o FSH sobre os folículos na formação do antro
7 Desconhecidos Aumento dos folículos para entrar na fase de crescimento após a
hemicastração.
8 Desconhecidos Regulação intra-ovariana resultando em correlações entre o número e
o nível de crescimento dos folículos

ríodo desde a regressão do corpo lúteo à relação entre os níveis plasmáticos basais de
subsequente ovulação, é aparentemente mais FSH e LH e o desenvolvimento folicular.
curta (dois dias em ovelhas e quatro a cinco A Figura 5-7 ilustra algumas diferenças en-
dias em vacas e porcas). No entanto, a pre- tre espécies relativamente a estas fases: (a)
sença de folículos em antros durante a fase espécies animais sem fase luteínica, como
luteínica sugere que a duração real da fase roedores com ciclos estrais de quatro dias; (b)
folicular é maior do que dois a cinco dias, se a primatas com fases folicular e luteínica bem
"fase folicular" se refere ao período desde a distintas; (c) mamíferos domésticos com fa-
formação do folículo com antro até a ovula- ses "folicular" e "luteínica" sobrepostas.
ção. Por esta razão, a fase luteínica nos ma- Em roedores os perfis plasmáticos de FSH
míferos domésticos se sobreporia parcialmen- diferem daqueles de LH. Após a descarga pré-
te à verdadeira fase folicular, obscurecendo a ovulatória das duas gonadotrofinas, o FSH
124 Fisiologia da Reprodução

, para o sangue

.
estrógenos
FSH

FSH

Células
J
granulosas
. .

Inibição androgênica do crescimento folicular

.""

.
LH
C' lul

e
"
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as ln ers lClalS

FIG. 5-4. (Acima) Parte do folículo mostrando locais de ação de gonadotrofinas e produção e ação de
esteróides. (Abaixo) Relações entre hormônios hipofisários e esteróides ovarianos em folículos pré-antrais
em crescimento. (Peters, H: e McNatty, K.P. (eds.). The development ofthe ovary in the embryo. In The
Ovary. Berkeley, University of Califomia Press, 1980.)

surge novamente após a ovulação. Impedin- duas semanas mais tarde e também de ou-
do-se os efeitos desta onda de FSH com tros que se tornarão atrésicos no final da pri-
anticorpos FSH, demonstra-se que a onda é meira semana da fase folicular.
responsável pela formação dos folículos com Nos mamíferos domésticos existe também
antros destinados a ovular 3,5 dias mais tar- uma segunda elevação de FSH 20 a 30 horas
de no ciclo estral subsequente. Nos primatas, após a onda pré-ovulatória de LH e FSH. Esta
uma subida de FSH começa durante a mens- elevação pós-ovulatória de FSH desencadeia
truação no final da fase luteínica. a formação de antros na população folicular
Presumivelmente, esta elevação inicia a for- que inclui candidatos à ovulação um ou dois
mação do antro do folículo que deveria ovular ciclos posteriores. Em ovelhas o segundo pico
Foliculogênese, Maturação do Ovo e Ovulação 125

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O)
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01)0 . 26 horas
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U

FIG. 5-5. (Acima) Intervalo entre a onda


de secreção de gonadotrofinas encontrada
no início do cio e ovulação dos folículos 26
a 40 horas após, de acordo com as espécies.
(Hunter, R.H.F. (1982). Reproduction of
cio
Farm AnimaIs. New York, Longman.)
Tempo
(Abaixo) Diagrama esquemático de (a) fase
Onda pré-ovulatória folicular: relações entre LH e estradiol
de gonadotrofrnas durante a fase folicular do ciclo estral na
ovelha adulta. (b) Imaturas: três eventos
endócrinos possíveis que podem falhar nas
FASE FOLlCULAR IMATUROS fêmeas imaturas e podem explicar a
... ausência de ondas de LH e a ovulação antes
(a) (b) " da puberdade. (Foster, D.L. e Ryan, K.D.
..
onda de LH sem onda de LH II
II (1981). Endocrine mechanisms governing
II
, I transition into adulthood in female sheep.
(f)p , I In Reproductive Endocrinology ofDomestic
? ? ~~ Ruminants. R.J.Scaramuzzi, D.W. Lincoln

tLHtônico
rtE2 LH tpico -o-E:2".wneronismo and B.J. Weir (eds.). J. Reprod. Fertil.
'T
hipófise
d8 aRda
::
Suppl. 30, pp. 75-90.
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hipófise
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de FSH é significativamente maior naqueles (gonadotrofinas com alta potência de FSH) é


animais com maior taxa de ovulação, e a mag- injetada logo antes do início da atresia.
nitude deste pico está altamente correla- A duração relativamente longa da fase
cionada com o número de folículos com antro folicular nos mamíferos domésticos, se com-
presente no ovário 17 dias mais tarde. A par- parada à dos roedores, resulta provavelmen-
tir de estimativas da duração de desenvolvi- te do efeito vagaroso sobre o desenvolvimen-
mento de folículos com antros, o lapso de tem- to folicular exercido pela progesterona do cor-
po entre a formação do antro e a ovulação será po lúteo. Quando é induzida plena função dos
de 17 ou 34 dias. corpos lúteos em roedores, pela estimulação
Poucos desses folículos diferenciados com cervical, a duração do ciclo estral e do desen-
antro crescem até a ovulação; os outros tor- volvimento folicular aumenta vários dias. Por
nam-se atrésicos e degeneram. Os níveis de outro lado, a redução do nível progesterônico
FSH próximos ao final da fase folicular em durante a fase luteínica em vacas e ovelhas
roedores estão relacionados com a taxa de através da enucleação do corpo lúteo ou da
atresia. A mesma regulação fisiológica é no- luteólise pela prostaglandina é seguida pelo
tada em mamíferos domésticos e uma encurtamento do ciclo; a ovulação ocorre den-
superovulação ocorre quando PMSG tro de três dias, mostrando uma imediata ace-
126 Fisiologia da Reprodução

Folículos
folículos antrais .ovulação
pré-antrais

atresia
r !
RATO

\'
\' FSH
,. \
L.LH
Proestro Estro Diestro I Diestro II Proestro

Folículos
--
pré-antrais
folículos antrais .ovulação
r
atresia
!
MULHER
*

----------------- - --.::..;:::::

28
.menstruação
1
I ,
2
j
4
. ,
6
, . 8
I I
10 '
. 12 14
dias

Folículos
pre-antrais- - folículosantrais
1
* atresia

FSH

. 2' I 4 I I 6 I . 12'

FIG. 5-6. Crescimento final dos folículos destinados a ovular. Qualquer que seja a duração da primeira
fase de crescimento folicular, os folículos atingem o estágio de pré-antro diariamente. A partir desta
população de folículos, o recrutamento daqueles destinados a ovular é assumido pela onda pós-ovulatória
de FSH (*) que ocorre antes do início da secreção pelo corpo lúteo na rata e na ovelha. Em primatas, esta
onda é adiada e ocorre depois da regressão do corpo lúteo. Alguns destes folículos entram em atresia
quando o FSH volta para baixos níveis basais. Injeções de PMSG neste estágio salvam estes folículos e
permitem a superovulação. O FSH parece a mais importante gonadotrofina para manter o crescimento
folicular, enquanto que o LH tem a principal atuação na ovulação. (Hafez et aI., 1980.)
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Foliculogênese, Maturação do Ovo e Ovulação 127

EVENTOS DE DESENVOLVIMENTO ESTÁGIO DAS CÉLULAS


0 GERMINATIVAS
Multiplicação por mitose ~ '0CÉLULAS GERMINATIVAS
0 PRIMORDIAIS
Migração da crista genital 0/~
'
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NASCIMENTO-coelho, furão, marta, rato silvestre, hamster


0't=\
~\!I
1

Interfase final
Síntese de DNA
0
Início da prófase meiótica
~ OÓCITO
0 PRIMÁRIO
'NASCIMENTO-Maioriados mamíferos> ~
Crescimento do oócito e do folículo 0
l
>
~l ~
IpUBERDADE """~',..
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( " " "' ""

Maturação folicular
'

,
,
,
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I OVULAÇÃO-cão, raposa > 3

Início da primeira divisão meiótica


Penetração espermática-cão, raposa O
< 1
Expulsão do primeiro corpúsculo polar (pode
dividir-se)
IOVULAÇÃO-Maioria dos mamíferos > Ol "{]
0,~

C:.~)
OÓCITO
SECUNDÁRIO
4'

Penetração espermática- Maioria dos

~0
ZP
mamíferos PVS
Segunda divisão meiótica, fertilização e
emissão do segundo corpúsculo polar ! OVO PRÓ-NUCLEADO

~ 0 (OOTID)
0!J-0
FIG. 5-7. Eventos de desenvolvimento, (De Baker, T.G. Oogenesis and ovulation. In Reproduction in
Mammals. C.R. Austin and R.W Short (eds.). Cambridge, University Press,)

leração do crescimento folicular. Esta é a base clear e citoplasmático, que é pré-requisito


fisiológica da bem conhecida prática da sin- para a fertilização e desenvolvimento normal
cronização do cio em bovinos após o tratamen- (Figs. 5-7 e 5-8).
to luteolítico com prostaglandina ou em ovi-
nos após a retirada de progestágenos Crescimento do Oócito
exógenos (esponja vaginal).
Quando um folículo primordial é liberado
MATURAÇÃO OVULAR da reserva, o oócito e seu folículo começam a
crescer. O crescimento do oócito já está quase
A maturação dos oócitos de mamíferos com- completo na época de formação do antro. Atra-
preende 2 estágios: (a) um período de cresci- vés de processos celulares as células do
mento e (b) um período final de preparo nu- cumulus interno cooperam ativamente para
128 Fisiologia da Reprodução

FIG. 5-8. (Acima) Folículo ova-


riano bovino antes (esquerda) e
24 horas após (direita) mostra o
edema da ovulação da teca sem
dissociação das células arredon-
dadas da teca interna. (Abaixo)
Relações anatõmicas e fisiológi-
cas entre o ovo e as células
foliculares circundantes: g, cor-
púsculo de Golgi; S, espaço
perivitelino; Z, zona pelúcida.
(Thibault, C. e Levasseur, M.C.
(1979). La Fonction Ovarienne
chez les Mammiferes. Masson,
Paris.). O vitelo compõe a maior
parte do volume com a zona
pelúcida na época da ovulação.
Após a fertilização, ele se con-
trai, formando-se um espaço
perivitelino entre a zona pelú-
cida e a membrana vitelina na
qual situam-se os corpos polares.

atingir o crescimento do oócito, pois estabele- hormonais do crescimento do oócito encon-


cem íntimo contato com a membrana celular tram-se resumidos na Tabela 5-6.
do oócito. Durante a formação da membrana A maturação dos oócitos é independente de
externa do oócito (zona pelúcida) os proces- (a) natureza do estímulo folicular, (b) diâme-
sos celu1ares do cumulus são reforçados e as tro do folículo do qual o oócito foi removido e
junções da membrana são conservadas. Os as- (c) a fonte do fluido folicular ou de seu filtra-
pectos citológicos, morfológicos, metabólicos, do de diversos folículos e diferentes fêmeas.
cromossômicos, fisiológicos, bioquímicos e A maturação é inibida quando um inibidor
Foliculogênese, Maturação do Ovo e Ovulação 129

TABELA 5-6. Principais Características Fisiológicas, Bioquímicas, Biofísicas e


Neuroendócrinas do Crescimento Folicular e Maturação
Parâmetros Mecanismos

I. Recrutamento e seleção de No decorrer do ciclo estral, cada ovário possui numerosos folículos antrais em
folículospara ovular sua superncie. Dois processos levam ao desenvolvimento destes folículos
pré-ovulatórios
A. Primeiro, o processo de recrutamento estabelece um grupo de folículos
capazes de ovular
B. Segundo, os folículos individuais são selecionados para continuar o
desenvolvimento até a ovulação de um grupo de folículos similares porém
com caracteríoticas de degeneração. Esta seleção ocorre na ausência de
modificações detectáveis nas concentrações de hormônios receptores,
níveis honnonais no soro ou sangue local

ll. Desenvolvimento de o desenvolvimento de folículos ovarianos é classificado de acordo com os


folículos seguintes princípios:
A. Tamanho do folículo
B. Número de camadas das células granulosas
C. Desenvolvimento das camadas da teca
D. Posição do oócito nos cumulus oophorus adjacentes
E. Presença de um antro (espaço preeenchido com fluido)
111.Número de folículos que A. O número de folículos que se desenvolve por ciclo estral depende de
se desenvolvem fatores hereditários e ambientais
B. Em bovinos e equinos, um folículousualmente se desenvolve mais
rapidamente do que os outros, de modo que a cada cio apenas um óvulo
é liberado, permanecendo folículos em regressão e atrofiando-se
C. Em suínos, 10 a 25 folículos amadurecem em cada cio
D. Em ovinos, um a três folículos podem atingir maturidade dependendo
da raça, idade e estágio da estação sexual
IV.Maturação nuclear A. A meiose inicia no ovário feta! porém pára antes do nascimento na
prófase da primeira divisão de redução; os oócitos entram então no
estágio de dictiato, que é um estágio de descanço nuclear. Este descanço
nuclear pode perdurar até o primeiro oócito ser ovulado na puberdade
B. Oócitos em descanço ou imaturos possuem um grande núcleo conhecido
como vesícula germinal
C. A meiose progride da vesícula germinal (prófase da primeira divisão de
redução) para a metáfase da segunda divisão redutora, onde ela pára
novamente
D. O primeiro corpúsculo polar é expelido para o espaço perivitelínico
E. Os cromossomos no primeiro corpúsculo polar, assim como os
componentes do conjunto da metáfase do fuso de maturação
secundária, são duplamente fracassados

V.Maturação citoplasmática A. A retomada da meiose resulta da liberação de um efeito inibidor


exercido pelas células foliculares sobre o oócito
B. Esta liberação inibidora coincide com o afrouxamento da granulosa e
outras células ao redor dos oócitos resultantes da estimulação de
gonadotrofrnas

VI. Maturação do óvulo Sob estimulação apropriada do FSH e LH, em algumas espécies, após
remoção dos folículos de Graaf e cultura in viera, os oócitos em estágio de
dictiados recomeçam a meiose (divisão celular reducional), resultando na
maturação final do oócito dentro do folículo maduro pré-ovulatório

VII. Formação do estigma A. Com a formação do estigma, uma fina área circunscrita do ápice
folicular, a parede apical integral torna-se fina; antes da ovulação,
camadas internas da parede folicular projetam-se através de uma
abertura para formar uma papila de um fino estigma translucente
B. O estigma torna-se mais fino, salienta-se na superncie do ovário e
torna-se completamente avascular
C. Na ovulação, a saliência do estigma rompe-se no ápice, liberando certa
quantidade do fluido folicular
130 Fisiologia da Reprodução

TABELA5-6. Continuação
Parâmetros Mecanismos

VIII. Liberação de óvulos A. O complexo cumulus-oócito libera-se do fluido folicular. As células granulosas,
a teca interna, e o estroma circundante, incluindo o epitélio superficial,
submetem-se a modificações celulares, subcelulares e moleculares em resposta
a uma onda pré-ovulatória de LH, que aproxima-se próxima à ovulação
B. A teca e as células granulosas já não são separadas como lâmina basal, que
está dissolvida
C. O cumulus oophorus é composto de várias camadas aleatoriamente dispersas
em uma matriz gelatinosa contendo o óvulo circundado com uma camada de
células da corona radiata
D. Massa gelatinosa compreendendo conteúdos do folículo é gradualmente expulsa
até ser liberada para ser captada pelos cílios das fímbrias
E. O ponto da ovulação aparece como uma região semelhante a uma cratera
localizada centralmente contendo células foliculares, eritrócitos e uma
substância semelhante a mucina

IX. Esteroidogênese A. Todos os tipos celulares do ovário, particularmente as células da granulosa e da


teca, apresentam a capacidade de fazer esteróides
B. Os hormônios esteróides secretados por um tipo particular de célula são
determinados pelo estágio do ciclo estral. Os ovários dos animais domésticos
são deficientes nas quantidades relativamente grandes de esteróides secretores
no tecido intersticial que é pronunciado nos ovários de roedores e coelhos.
C. As células da teca de animais domésticos parecem diferenciar-se quase
completamente durante o processo atrésico; assim, esses animais sofrem falta
de importante fonte de certos esteróides presentes naqueles animais com
grandes quantidades de tecido intersticial
D. Alguma progesterona produzida pelas células granulosas pode ser utilizada
pelas células da teca para síntese de andrógenos e estrógenos. Após a ovulação,
as células granulosas luteinizadas tornam-se vascularizadas e secretam
quantidades aumentadas de progesterona na veia ovariana
X. Anomalias do A. Várias anomalias ocorrem no crescimento folicular, ovulação e luteinização dos
crescimento folicular folículos rompidos. O crescimento pode ser impedido em estágios específicos,
e ovulação levando a condições nas quais os folículos liberam andrógenos e outros esteróides,
como no desenvolvimento de ovários císticos
B. Os folículos são similares a folículos não-ovulatórios e podem ter acumulado
através da ausência de efeitos retroativos de folículos maiores dentro do ovário
C. Crescimento anormal do folículo pode ocorrer através de deficiências no eixo
hi potalâmico- hi pofisário
D. Folículo luteinizado não rupturado. Aluteinização de um folículo sem a liberação
do óvulo; luteinização de folículos procede normalmente na ausência de ruptura
folicular. Esta condição é devido a sutis defeitos no perfil endócrino ou na
maturação folicular que pode acelerar, retardar ou até prevenir a ruptura do
folículo e liberação do óvulo

XI. Associação do folículo A. Associação fisiológica entre os folículos e corpos lúteos funcionais existe porque
e do corpo lúteo o desenvolvimento folicular é aumentado no ovário contendo um corpo lúteo
B. O peso do fluido folicular e o número de grandes folículos são maiores nos ovários
contendo um corpo lúteo. Em ovelhas, folículos nos ovários que contêm corpos
lúteos crescem mais rapidamente do que os folículos nos ovários opostos sem
corpos lúteos. Tal efeito pode ser mediado por diferenças nas concentrações
locais de progesterona nos dois ovários
C. A progesterona pode atuar tanto sistematicamente e localmente para alterar
as modificações dependentes do tempo quanto ao tamanho do folículo, deste
modo tomando possível a alguns folículos crescerem enquanto outros sofrem
atresia.
D. Efeito da progesterona sobre o crescimento folicular parece não ser mediado
por indução ou alteração do conteúdo de estradiol-17~
E. Os estrógenos afetam diretamente os folículos, ambos prevenindo a atresia e
estimulando o crescimento

(di Zerega e Hodgen, 1981; Draincourt e Cahill, 1984; Sluss e Reichert Jr., 1984; Hafez et aI., dados
não publicados.)
Foliculogênese, Maturação do Ovo e Ovulação 131

protease é adicionado aos fluidos; este inibidor intacta; todavia, a produção vital de leitões
pode preservar o potencial de maturação no por uma porca submetida a uma ovariectomia
fluido folicular. unilateral aparentemente é reduzida.
Em marrãs, a remoção de um ovário resul-
ta em crescimento compensatório do outro Preparo do Oócito para a Fertilização
ovário, conforme se comprova pelo número
aumentado de folículos e crescimento ovaria- Da oogênese para diante o núcleo dipló-teno
no em um volume de fluido folicular também do oócito permanece em um estágio
aumentado (Redmer et aI., 1984). Assim, a quiescente chamado núcleodictiado.Ameiose
remoção de um ovário de uma porca resulta nunca reinicia normalmente antes da onda
aproximadamente no nascimento de um mes- ovulatória de gonadotrofina (Figs. 5-9 e 5-10).
mo número de leitões como em uma porca Quando o oócito é removido do antro folicular

FIG. 5-9. Microfotografia eletrônica de varredu-


ra da zona pelúcida mostrada da superfície ex-
terna (A) e superfície interna (B). A, Notar a rede
característica da zona através da qual o
espermatozóide deverá penetrar. B, A aparência
esponjosa da superfície interna da zona (ZZ) à
medida que é descascada da camada trofoblástica
do blastocisto. As células trofoblásticas (TT) são
caracterizadas por microvilosidades. O núcleo
(NN) está abaulando-se da membrana celular.
Diferenças entre espécies são notadas na espes-
sura da zona pelúcida.

Espécies Espessura da Z.P. (Jlm)

opossum 1
camundongo 5
hamster 8
humana 13
ovinos 15
suínos 16
vaca 27
132 Fisiologia da Reprodução

FIG. 5.10. Principais modificações citológicas do ciclo ovariano. A, B, C, Disposições e conexões citológicas
entre a granulosa e a zona pelúcida do oócito. Notar algumas diferenças citológicas em camadas distin-
tas (88) das células granulosas. D, E, microfotografias eletrônicas de varredura dos folículos ovarianos
(d) e magnificações mais altas das células granulosas (e) mostrando diferenças na superncie das células
provavelmente indicando diferentes graus de maturidade celular ou um ciclo celular.

e colocado em meio de cultura livre de gonadotrófica é seguida por modificações


gonadotrofina, ele recomeça espontaneamen- metabólicas da camada folicular.
te a meiose até a metáfase I ou metáfase 11, O restabelecimento meiótico (maturação
estágio normalmente atingido por ocasião da nuclear) é apenas um aspecto da maturação
ovulação. A co-cultura de oócitos com células ovular; a maturação citoplasmática também
granulosas ou tecais, assim como a cultura deve ocorrer. Em vacas e ovelhas o desenvol-
de oócitos com folículos livres de células em vimento embrionário nunca progride normal-
um meio com extrato de tecido folicular, de- mente quando oócitos extrafoliculares, que já
monstram que a manutenção do núcleo do atingiram a segunda divisão meiótica in vitro,
oócito em estágio dictiado resulta do efeito são transferidos para fêmeas receptoras (Fig.
regressivo da granulosa sobre o oócito. 5-11). O núcleo do espermatozóide fertilizan-
O papel da descarga ovulatória de te transforma-se em um pró-núcleo anormal
gonadotrofrna é suprimir a produção do fator embora todos os outros aspectos da fertiliza-
inibidor da meiose da célula granulosa. A onda ção (formação do segundo corpúsculo polar,
Foliculogênese, Maturação do Ovo e Ovulação 133

FIG. 5.11. Oócitos maduros mostrando típicas modificações de maturação. (a) Densa massa de cromatina
na última vesícula germinativa; células do cumulus oophorus circundam o oócito. (b) Diaquinese: o nú-
cleo migrou para a periferia e sua membrana envoltória está prestes a romper-se; a corona radiata
forma-se ao redor do oócito. (c) Primeira metáfase; o eixo em forma de fuso é paralelo à superfície do
oócito. (d) Primeira telófase tardia; o fuso é perpendicular à superfície do oócito, e o corpúsculo polar está
quase separado. Um crescente "meio-corpo" persiste onde o corpúsculo polar está ainda ligado. (e) Se-
gunda metáfase; um pequeno fuso secundário é formado no oócito. A cromatina é agora separada e o
primeiro corpúsculo polar está também em mitose abortiva. O cumulus oophorus destacou-se da parede
folicular. (f) Oócitos secundários ovulados nas trompas (roedores). Segundo fuso metafásico e o primeiro
corpúsculo polar visível à esquerda. Zona pelúcida de ambos os ovos está intacta, porém as células do
cumulus oophorus estão dispersas. (Todas as marcas são de 1011; a até d no mesmo aumento). (Cortesia
dos Drs. HiU, R., Franchi, L.L. e Baker, T.G. (1980). Oogenesis and follicular growth. In Human
Reproduction: Conception and Contraception. 2nd Ed. E.S.E. Hafez and T.N. Evans (eds.). Hagerstown,
MD, Harper & Row.)
134 Fisiologia da Reprodução

1 2 3 4

Leptóteno Zigóteno Paquíteno Diplóteno

5 7 8 9 10

\~~~
"'~
//--~~--
/- ~--
_/~

Diaquinese Pró-metáfase Ml TI MIl Zigoto

FIG. 5-11. (Continuação). Modificações citogenéticas em oócitos de mamíferos mostrando típicos even-
tos cromossômicos durante a meiose. Para simplificação, apenas dois pares de homólogos são demons-
trados. (De Franchi, L.L. e T.G. Baker, (1973). Oogenesis and follicular growth. In Human Reproduction:
Conception and Contraception. E.S.E.Hafez and T.N. Evans (eds.). Hagerstown, MD, Harper & Row.)

aparecimento do pró-núcleo feminino, mo- maior volume de sangue em termos absolu-


mento da primeira clivagem) realizem-se nor- tos (mI/min), como também apresenta capi-
malmente nestes óvulos. lares que são mais permeáveis do que aque-
les presentes em outros folículos.
OVULAçÃO
Atresia Folicular
Os folículos pré-ovulatórios passam por três
modificações fundamentais durante o proces- Os folículos ovarianos sofrem modificações
so ovulatório: (a) maturação citoplasmática e degenerativas diante das quais os folículos
nuclear do oócito; (b) dilaceração da proprie- perdem a sua integridade. A maioria dos
dade coesiva das células do cumulus entre as oócitos é perdida em estágios variáveis de seu
células da camada granulosa e (c) adelgaça- crescimento, assim como durante todas as
mento e ruptura da parede folicular externa fases do ciclo ovariano. Esta perda ocorre mais
(Fig. 5-12). frequentemente nos estágios avançados do
A distribuição dos capilares para os crescimento folicular. A Figura 5-13 ilustra a
folículos de diferentes tamanhos foi medida; distribuição das células granulosas em proli-
o fluxo sanguíneo relativo parece ser inver- feração e picnóticas durante os ciclos anovu-
samente relacionado à massa do tecido latórios.
folicular. Após a onda ovulatória de gonado- A atresia está associada com várias modi-
trofinas, o fluxo sanguíneo aumenta em to- ficações morfológicas, bioquímicas e
das as classes de folículos. O folículo destina- histológicas que variam bastante com o está-
do a ovular, todavia, não somente recebe o gio do crescimento folicular, assim como as
Foliculogênese, Maturação do Ovo e Ovulação 135

FIG. 5-12. A, Secção através de um folículo de


coelha em que a ovulação foi completada. Notar
a protrusão do cumulus oophorus e matriz atra-
vés do estigma e suas aderências à superfície
(54X). B, Secção através de um folículo ovulado
na coelha 1/2 hora após a ovulação. O ovo foi pu-
xado da matriz em protrusão. O material restan-
te será removido da superfície em aproximada-
mente 1 hora pela atividade ciliar das fímbrias
(54X). (De Blandau, R.J. (1969). Gamete
transport; compara tive aspects. In The
Mammalian Oviduct. E.S.E. Hafez and R.J.
Blandau (eds.). Chicago, University of Chicago
Press). C, Oócito como aparece em (A). Notar as
células da corona radiata ao redor do oócito e o
fluido folicular (f) acumulando-se no antro
folicular.

Termo Definição
Células da corona Radiantes, levemente
expandidas, compactas
ou ausentes, uniformes
ou agrupadas
Massa expandida de Presente na matriz fina
cumulus oophorus de ácido
mucopolissacarídeo,
matriz densa ou
ausente, distribuição
uniforme ou agrupada
Células granulosas da Quantidade de
membrana folicular citoplasma, agregação
frouxa ou aparência
compacta, cor pálida
ou escura e agrupadas.
138 Fisiologia da Reprodução

Eventos Celulares

Vários extratos de tecidos separam o oócito


da parte externa do folículo. Estes são o CORPO
epitélio superficial, a túnica albugínea rica MULTIVESICULAR

em colágenos, a teca externa, a fina membra- E~LOPE NUCLEAR


NUCLÉOLO
ORO NUCLEAR
na basal separando o retículo capilar da mem-
RETÍCULO ENDOPLAS-
brana granulosa e própria membrana MÁTlCOLlSO

granulosa. Antes que possa ocorrer a ovula-


ção, todos os extratos teciduais devem ser
-RETÍCULO ENDOPLAS-
MÁTlCO RUGOSO
COMPLEXO DE GOLGI

colapsados. Além disso, o aumento necessá-


rio da elasticidade folicular durante o cresci-
mento pré-ovulatório está associado com al-
terações nas relações entre as células
granulosas e tecais. Tais alterações são tam-
bém pré-requisitos para a posterior organi-
zação do corpo lúteo.
À medida que o folículo começa a projetar-
se da superfície do ovário, a vascularização
superficial aumenta, excetuando-se a parte
central, que parece livre de vasos sanguíneos.
Esta área avascular é o futuro ponto de rup-
tura.
O mesmo processo ocorre em todas as es-
pécies de mamíferos (Fig. 5-14).
Oócito. As células do cumulus oophorus
dos folículos em crescimento são citologi-
camente indistinguíveis das células granu-
losas. Em coelhas, aparecem cavidades uma
a duas horas após o coito dentro da massa de FIG. 5-15. (Acima) Diagrama da ultra-estrutura
cumulus oophorus e as células separam-se de vários componentes de oócitos em crescimento
progressivamente uma das outras. Somente e de uma porção de sua zona pelúcida associada
com células foliculares que mostram várias
as células do cumulus oophorus ancoradas na
organelas. Processos celulares da granulosa (ou
zona pelúcida permanecem circundando o folículo). Microvilosidades são também vistas na
oócito e formando a corona radiata (Fig. 5- zona pelúcida. (De Guraya, 8.8. (1984). Recent
15). A dissociação das células do cumulus advances in the cellular and molecular biology of
oophorus liberta o oócito da camada granulosa ovarian follicles. In Human Fertility, Health and
Food: Impact of Molecular Biology and
e a meiose recomeça cerca de 3 horas após a Biotechnology. D. Pruett (ed.). New York, United
onda gonadotrófica. Este processo, chamado Nations Fund for Population Activities.) (Meio)
ma tu ração nuclear, termina uma hora antes Estrutura de zona pelúcida totalmente formada
da ovulação quando o primeiro corpo polar for (ZP) ao redor de oócito no folículo de de Graaf.
expulso. Microvilosidades oriundas do oócito interdigitam-
se com processos das células granulosas (G). Estes
As células do cumulus oophorus secretam processos penetram dentro do citoplasma do oócito
ativamente glicoproteínas que formam uma (O) e podem fornecer nutrientes e proteínas
massa viscosa encerrando o oócito e sua maternas. (N), núcleo do oócito. (De Baker (1972).
corona. Após a ruptura folicular, a massa vis- In: Reproduction in Mammals. C.R Austin and
cosa se espalha na superfície ovariana a fim RV. 8hort (eds.). Cambridge University Press).
(Abaixo) Penetração do espermatozóide através das
de facilitar a captação dos oócitos pelas fím- células granulosas (G), zona pelúcida (ZP) e oócito
brias. A ultra-sonografia é extensivamente (O). Notar enzimas do acrossomo liberadas dos
utilizada para recuperar óvulos pr~- espermatozóides (8) durante a vesiculação.
Foliculogênese, Maturação do Ovo e Ovulação 139

ovulatórios dos folículos ovarianos para se- do fator precoce da gestação (EPF) (Figs. 5-
rem utilizados na fertilização in vitro (IVF) 17 e 5-18).
(Fig. 5-16). Células Tecais. O volume folicular au-
Células Granulosas. A camada granulosa menta rapidamente nas poucas horas que pre-
é completamente dissociada somente no ápi- cedem a ovulação sem qualquer incremento
ce folicular e finalmente desaparece. Este pro- da pressão do fluido folicular, devido ao au-
cesso começa 6 horas após o coito e termina mento da elasticidade do folículo. Isto resul-
antes da ovulação, quatro horas mais tarde. ta de uma coesão mais frouxa das células da
Cerca de 2 horas antes da ovulação, os pro- teca interna, devido ao edema invasor desta
cessos de crescimento das células granulosas camada e à dissociação das fibras colágenas
penetram através da lâmina basal, preparan- que começa 4 horas após o coito. A dissociação
do a invasão das células tecais e dos vasos de feixes de fibras colágenas também resulta
sanguíneos para dentro da granulosa após a da atividade enzimática proteolítica sobre a
ovulação no corpo lúteo em desenvolvimento. matriz protéica das fibras. A atividade
Este processo está associado com a produção plasmina aumenta após a onda gonadotrófica,

Monitor
Ultra-som Bexiga
Unidade Linha pontilhada
Útero
Folículo

Ovário

FIG. 5-16. 1. Equipamento de aspiração para punção percutânea


de folículo guiada por ultra-som: T, transdutor; ng, agulha guia;
sr, frasco de amostragem. 2. Ponta da agulha com sulcos pouco
profundos (flexa) na extremidade. 3. Ilustração esquemática da
técnica de punção guiada por ultra-sonografia. 4. Ilustração da
punção de um folículo humano guiada por ultra-som. A porção
branca dentro do folículo (f) representa a extremidade da agulha
(nt). (Wikland et aI., 1983.)
140 Fisiologia da Reprodução

C~fi~
FIG. 5-17. Representação esquemática da produ-
ção do fator precoce da gestação (EPF). CL, corpo
lúteo; od, trompa; ou, ovário; z, zigotina.
(Nancarrow et aI. (1982). The early pregnancy
factor of sheep and cattle. In Reproductive
Endocrinology of Domestic Ruminants. R.J.
Scaramuzzi, D.W Lincoln and B.J. Weir (eds.). J.
Reprod. FertiI. SuppI., 30.)

EPF

FIG. 5-18. Diagrama da vasculatura útero-ova-


riana na ovelha e da rota da PGF 2a do útero para
o ovário. (Peters, H. e McNatty, K.P. (eds.) (1980).
The development of the ovary in the embryo. In
.;:---Corpo lúteo The Ovary. Berkeley, University of California
Ovário Press.)
.IArtéria ovariana, fortemente
aderida à veia uterina e
enrolada aobre ela

e esta enzima proteolítica provoca maior elas- nismos neuro-bioquímicos e farmacológicos;


ticidade na parede folicular. (c)mecanismos neuromusculares e neurovas-
Modificações Apicais. A ruptura do culares, e interações enzimáticas.
folículo para fora do ovário envolve uma A relativa importância de qualquer um
interação entre o epitélio ovariano e a parede desses fatores é ainda controvertida (Tabelas
folicular subjacente. A parede do ápice 5-7 e 5-8). Um aumento pré-ovulatório indu-
folicular torna-se excessivamente fina em zido por gonadotrofinas, de prostaglandina
uma área circunscrita chamada de "estigma". folicular produzida pelas células granulosas,
O estigma se rarefaz, projeta-se na superfí- é necessário para a ovulação. As prosta-
cie ovariana e torna-se completamente glandinas podem estimular as contrações ova-
avascular. Na ovulação o estigma projetado rianas e ativar os fibroblastos tecais para pro-
se rompe no ápice liberando algum fluido liferar e liberar enzimas proteolíticas que di-
folicular e a massa viscosa de glicoproteínas gerem a parede folicular e a lâmina basa!. Os
contendo o oócito. esteróides, especialmente a progesterona
também podem estar envolvidos. Antes da
Mecanismos da Ovulação ovulação, ocorre uma dissociação progressi-
va e decomposição de várias camadas celula-
A ovulação ocorre em resposta a uma com- res que estão ao redor do ápice do folículo pré-
binação de mecanismos fisiológicos, ovulatório, resultantes de atividades de
bioquímicos e biofísicos incluindo: (a) meca- enzimas proteolíticas, produzidas pelas célu-
nismos neuroendócrinos e endócrinos, LH- las granulosas e/ou por fibroblastos
RH, esteróides e prostaglandinas; (b) meca- circundantes em resposta ao LH, progeste-
Foliculogênese, Maturação do Ovo e Ovulação 141

TABELA 5.7. Alguns Mecanismos Neuroendócrinos e Endócrinos da Ovulação


Parâmetros Mecanismos Fisiológicos e Bioquímicos

I. Neuroendócrinos A. Estruturas dentro do hipotálamo pré-ótico e supraquiasmático regulam a descarga


ovulatória de gonadotrofinas, que exercem o controle cíclico da ovulação. O centro
tônico fica sob controle da retroação negativa de estrógenos
B. Gonadotrofinas são secretadas em modo pulsátil em resposta à liberação de LH-RH dos
neurônios neurossecretores centralizados no hipotálamo
C. Esteróides gonadais exercem seu efeito retrógrado tanto diretamente sobre a hipófise e
através da modulação do padrão pulsátil da secreção de LH-RH. Eles podem também
influenciar a atividade biológica subsequente das gonadotrofinas
D. A liberação de LH-RH está sob o controle de neurotransmissores catecolaminérgicos. A
norepinefrina atua como um agente excitador, enquanto que a dopamina inibe a
secreção de LH-RH
E. A dopamina inibe a liberação de prolactina e pode ser o fator inibidor da prolactina
F. As endorfinas são peptídios apiatos endógenos, e através de mecanismos
neurotransmissores, as endorfinas podem afetar tanto a secreção de prolactina quanto
a de gonadotrofinas

11. Endócrinos A. O LH está a um nível estável durante a fase folicular inicial e aumenta ligeiramente
antes da ovulação
B. Uma onda acentuada de LH ocorre antes da ovulação; os níveis de LH retomam a
baixos teores durante a fase luteínica
C. O número de folículos ovarianos que se desenvolve e a proporção que subsequentemente
degenera são regulados pela proporção relativa de FSH e LH
D. Modificações cíclicas nos níveis de estradiol e FSH estimulam uma ou duas ondas de
crescimento folicular e regulam o nível da ovulação (1) durante a transição do estágio
pré-antral ao antral e (2) alguns dias antes da ovulação quando a atresia reduz o
número de folículos pré-ovulatórios
E. As células granulosas secretam progesterona para dentro do fluido folicular e agem
como precursoras para a síntese de estrógenos nas células circundantes da teca interna
F. O 17-~-Estradiol e o 17-a-hidroxiprogesterona produzidos parcialmente pelas células da
teca interna, causam gradual aumento na produção de estrógenos
G. Desenvolvimento folicular sob influência de altos níveis de LH, aumento do nível de
estradiol, e a hipófise torna-se aumentativamente responsiva ao LH-RH; reservas de
LH hipofisárias podem aumentar para fornecer futuras associações hormonais
H. Na onda pré-ovulatória de LH, O LH-RH é liberado em eclosões pulsáteis para ativar a
descarga hipofisária de LH e FSH
I. À medida que o LH atinge concentrações críticas no plasma, ele exerce uma retroação
negativa dentro do CNS
J. O nível do desenvolvimento folicular e o número que atinge plena maturação por cio
dependem das gonadotrofinas hipofisárias. Em fêmeas adultas, um número limitado de
hormônios está disponível para o ovário. Durante cada ciclo estral, resultante da
liberação de suficiente FSH pela hipófise, uma multidão de folículos "em crescimento"
fica estimulada para passar a um posterior crescimento e maturação
K. Vários folículos crescem durante os primeiros estágios do ciclo estral, porém poucos
atingem a maturidade pré-ovulatória
L. Menor quantidade de FSH pode ser necessária para iniciar o crescimento de pequenos
folículos do que para manter grandes folículos dirigindo-os ao tamanho ovulatório desde
que o número de folículos que atinge a maturação possa ser bastante aumentado
(superovulação) pelo tratamento dos animais com doses farmacológicas de
gonadotrofinas

III. Prostaglandinas A. A teca é o local predomínante de produção de prostaglandinas e a capacidade das


células tecais e granulosas aumenta com o estágio de desenvolvimento folicular; a
ruptura dos folículos está associada com a síntese folicular de prostaglandinas.
B. As células granulosas suínas e o tecido tecal isolado dos folículos 1 a 3 dias após o
tratamento com PMSG produzem prostaglandina E2 (PGE), prostaglandina F 2(1(PGF) e
6-ceto-prostaglandina-F 1 em cultura de tecidos.
C. A concentração de prosta~andinas E e F no fluido folicular de folículos pré-ovulatórios
aumenta acentuadamente à medida que se aproxima a ovulação; a indometacina
bloqueia a ruptura folicular pela inibição da produção de prostaglandina.
D. O LHexógeno aumenta as prostaglandinas E e F dentro dos ovários, dos folículos de
Graaf e do fluido folicular.

Hafez et aI., 1980.


142 Fisiologia da Reprodução

TABELA 5-8. Mecanismos Biofísicos, Bioquímicos, Musculares, Neuromusculares


e Neurovasculares da Ovulação
Parâmetros Mecanismos e Algumas Funções

Biofísicos A. Intensas e repentinas modificações no fluxo sanguíneo ovariano arterial e


venoso e fluxo linfático interpretadas pela distribuição do fluxo capilar aos
folículos de diferentes tamanhos
B. O fluxo sanguíneo relativo é inversamente relacionado à massa de tecido
folicular. Um aumento no fluxo folicular próximo à ovulação ocorre em todas
as classes de folículos
C. O folículo destinado a ovular recebe o maior volume de sangue em termos
absolutos (ml/min) e possui capilares mais permeáveis do que os outros
folículos
D. A rápida resposta da microcirculação ovariana ao LH e o metabolismo
aumentado dos folículos após o estímulo gonadotrófico sugerem que a
vascularização realçada pode ser um efeito inerente do LH sobre os folículos
E. O aumento da pressão intrafolicular parece não afetar a ruptura mecãnica do
folículo

Bioquímicos A. As células granulosas elaboram o ativador plasminogênio em resposta aos


aumentos de LH e cAMP intracelular; o ativador plasminogênio converte o
plasminogênio em plasmina para enfraquecer a parede folicular
B. A força de tensão da parede folicular diminui na época da ruptura;
numerosos agentes proteolíticos podem reduzir esta força
C. Enzimas envolvidas na degradação são detectadas no fluido folicular. Isto é
realçado pela isquemia que se desenvolve no ápice folicular
D. Síntese de enzimas semelhantes à colagenase, sob influência da
progesterona, provoca distensão da parede folicular e ruptura no ápice

Musculares A. A musculatura ovariana não é indispensável para a ruptura folicular. Mesmo


que as contrações ovarianas facilitem a ruptura, esta pode ocorrer mesmo na
ausência de qualquer contratilidade
B. A contração da musculatura ovariana durante a ovulação pode influir na
liberação do cumulus oophorus, na expulsão dos conteúdos foliculares após
abertura da parede apical, e nos fenõmenos vasculares relacionados, assim
como no colapso do folículo e sua transformação em corpo lúteo

Mecanismos neuromusculares A. Camadas concêntricas da teca extema dos folículos contêm células da
e neurovasculares musculatura lisa ricamente inervadas por terminais nervosos autonõmicos
B. Processo mecãnico de ovulação é influenciado por nervos autonômicos intra-
ovarianos e/ou receptores agindo como mediadores em suas ações sobre a
musculatura folicular
C. As prostaglandinas estão envolvidas nas funções neurônicas e em outros
processos locais dentro do folículo. Isto não implica necessariamente no fato
da musculatura agir simplesmente aumentando a presão folicular para
romper a parede folicular
D. A tensão da parede folicular pode aumentar durante o desenvolvimento
folicular sem aumento da pressão intrafolicular
E. A musculatura ovariana proporciona uma base mecânica para a manutenção
da pressão intrafolicular constante antes da ruptura folicular

rona e prostaglandinas. As contrações das o folículo ovariano sofre duas modificações


células da musculatura lisa durante a ovula- principais: (a) estímulo da síntese de
ção parecem influenciar o desligamento do esteróides pelo LH e (b) ativação de uma
cumulus oophorus, a expulsão dos conteúdos enzima ovulatória pelo esteróide liberado. A
folicula-res após a abertura da parede apical sequência de eventos que leva à esteroido-
e os fenômenos vasculares relacionados, além gênese envolve a ativação de adenil ciclase
do colapso do folículo e sua transformação em por um complexo receptor de LH, talvez atra-
corpo lúteo. vés da ação local de uma prostaglandina, que
Foliculogênese, Maturação do Ovo e Ovulação 143

resulta em níveis teciduais aumentados de lação das camadas foliculares, terminando na


cAMP. formação do corpo lúteo.
A PGF 2a contribui para a ruptura dos
lisos somos de células epiteliais no ápice
Mecanismos Bioquímicos da Ovulação folicular, conforme se deduz pela relação en-
tre a elevação do nível de PGF 2 ae a ruptura
A onda pré-ovulatória de gonadotrofinas dos lisossomos e ainda pelo efeito deletério
primeiro induz um aumento imediato e tem- bem conhecido da PGF 2a sobre a membrana
porário dos níveis de esteróides devido a uma dos lisos somos. Os aumentos de PGF 2a tam-
secreção aumentada de progesterona e bém devem estar relacionados à elevação pré-
progestinas relacionadas. Mais tarde, as se- ovulatória das contrações ovarianas. APGE2a
creções de estradiol e PGF 2 também são au- estimula a produção de plasminogênio
mentadas. A inibição seja da prostaglandina ativador, aumentando assim a atividade da
ou da secreção de esteróides impede a ovula- plasmina. A plasmina está geralmente envol-
ção. Assim, a onda de gonadotrofina induz a vida na migração celular dos tecidos e prova-
ovulação por uma sequência de modificações velmente tem uma função na mistura das
bioquímicas. células tecais e granulosas durante a forma-
Alterações na Secreção de Esteróides. ção do corpo lúteo.
O aumento da secreção de esteróides e o des- Gonadotrofinas. A liberação do oócito do
vio da proporção de estradiol-progesterona folículo é a única ação gonadotrófica direta
que segue-se à onda gonadotrófica são facil- conhecida; a dissociação das células do
mente detectáveis no líquido folicular. Em cumulus oophorus in vitro é exclusivamente
folículos de porcas, a proporção estradiol- obtida pelo FSH e LH.
progesterona diminui de 2,0 para 0,15. Estas
modificações são superficialmente perceptí-
veis no sangue venoso ovariano e não são Mecanismos Neuromusculares
detectáveis no sangue periférico. A inibição
da síntese de progesterona impede a ovula- O estroma ovariano e as camadas concên-
ção. A função da progesterona é estimular a tricas da teca externa dos folículos pré-
atividade da colagenase na parede folicular. ovulatórios contêm células musculares lisas
Além disso, o edema da teca pode resultar do que são profusamente inervadas por termi-
transitório, porém importante aumento dos nações nervosas autônomas. A inibição, por
níveis de esteróides. drogas, dos receptores ~-adrenérgicos retar-
Prostaglandinas. O aumento dos níveis da a ovulação e reduz o padrão ovulatório,
de PGF 2a e PGE2 no líquido folicular não é demonstrando uma participação de sistemas
imediato à onda gonadotrófica como o são as neuromusculares na ruptura folicular. A
elevações de esteróides. Em porcas, começa frequência das contrações ovarianas espon-
um aumento de prostaglandinas somente 30 tâneas começa a aumentar duas a três horas
horas após a descarga ovulatória e o nível má- antes da ovulação, atingindo um máximo ao
ximo ocorre cerca de 40 horas mais tarde, à redor do momento da ovulação. A participa-
medida que se aproxima a ovulação. As ção da PGF 2a é evidenciada por estímulos da
prostaglandinas têm uma função fundamen- contração ovariana in vitro e pela relação
tal na ruptura folicular; a inibição de sua sín- entre as frequências crescentes de contrações
tese sempre impede a ovulação, e sua ação é e os níveis de PGF 2a aumentados no líquido
exercida ao nível da albugínea e do epitélio folicular in vivo. Assim, as contrações ovaria-
folicular. Quando a síntese de prostaglandina nas facilitam a ruptura folicular depois do
é inibida, o oócito permanece dentro do folículo adelgaçamento do ápice folicular.
em processo de luteinização ou pode ser Antes da ruptura do folículo, ele próprio
"ovulado" dentro do ovário. A PGF 2a partici- não se contrai espontaneamente e isto foi de-
pa da ruptura folicular e a PGE2 da remode- monstrado in vivo pela pressão intrafolicular
144 Fisiologia da Reprodução

estável e in vitro pela ausência de contrações Ovulação In Vitro


no folículo isolado. No entanto, tiras da pare-
de folicular contraem espontaneamente e res- Vários meios de cultura são utilizados para
pondem às drogas e à PGF 2(1 como o ovário induzir a ovulação in vitro com ou sem
inteiro o faz. Assim, após a ruptura folicular perfusão ovariana. A seleção da qualidade dos
o sistema neuromuscular tecal, estimulado folículos é favorecida pela escolha da estação
pela PGF 2(1'contribui para a expulsão do para os experimentos e inclusive pela ausên-
oócito. cia de qualquer estímulo ovariano quando o
folículo ovula; assim, a massa de células
granulosas estará bem preservada. O mesmo
Controle Neuroendócrino da Liberação de sistema de cultura é utilizado para a fertili-
Gonadotrofinas Ovulatórias zação in vivo de oócitos maturados em seus
folículos in vitro. A proporção de folículos que
Uma onda gonadotrófica pré-ovulatória ovulam, particularmente após a adição de
ocorre no início do cio coincidindo com a que- progesterona ao meio, é muito maior do que
da da progesterona a um nível sanguíneo aqueles obtidos previamente em consequência
mínimo e com os maiores valores cíclicos de da cultura de ovários integrais.
estradiol. Colheita de Óvulos Pré-Ovulatórios.A
Uma onda típica pré-ovulatória de LH é ultra-sonografia de acompanhamento de
observada somente quando a duração do tra- folículos tem sido muito utilizada para recu-
tamento com estradiol e os níveis sanguíneos perar óvulos pré-ovulatórios dos folículosova-
desse hormônio imitam estreitamente o au- rianos de mulheres, macacas, e animais do-
mento natural de estradiol antes da onda mésticos.
cíclica de LH. A administração simultânea de
progesterona sempre suprime o efeito retró- Anomalias da Ovulação e Insucessos
grado positivo do estradiol. Reprodutivos
O estradiol atua em dois níveis: hipofisário
e hipotalâmico. O estradiol aumenta a sensi- A ausência de ovulação e a subsequente
bilidade das células produtoras de formação de cistos foliculares são as princi-
gonadotrofinas da hipófise ao respectivo pais causas de insucessos reprodutivos em
hormônio hipotalâmico, LH-RH. Durante o vacas e em porcas velhas. Um tratamento efi-
anestro pós-parto em fêmeas em lactação, o ciente para prevenir a formação de cistos, res-
mecanismo retrógrado positivo do estradiol, ponsáveis pela diminuição da fertilidade em
pode ser prevenido por altos níveis de vacas, é a estimulação da liberação
prolactina relacionados ao estímulo da gonadotrófica por LH-RH ou então a
amamentação. estimulação direta do ovário com hCG. É pro-
vável que a presença de folículos císticos re-
flita um distúrbio na função gonadotrófica ao
Captação do Óvulo nível hipotalâmico.

O ovário, unido à porção posterior do liga- REFERÊNCIAS


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Dia Press.
6
TRANSPORTE E SOBREVIVÊNCIA DE GAMETAS
E.S.E. HAFEZ

o espermatozóide e o óvulo dos mamíferos porte dos gametas no trato reprodutivo femi-
sofrem várias alterações fisiológicas de nino. O transporte dos gametas é resultante
maturação em seu preparo para a fertiliza- da contratilidade inerente do trato feminino,
ção (Tabela 6-1). Enquanto que a fêmea emi- modificado por reflexos do sistema nervoso
te um ou dois óvulos (ou 10 a 15 no caso da central e pela atividade hormonal. Substân-
porca), o macho expulsa uma quantidade cias farmacologicamente ativas no sêmen,
maciça de espermatozóides em cada cópula. estimulam e regulam a contratilidade do tra-
Levando em consideração que a sobrevida dos to reprodutivo feminino. Os cílios e o fluido
espermatozóides e do óvulo é relativamente das trompas, a cérvice, a junção útero-
curta (20 a 48 horas), a fertilização depende, tubárica e a junção istmo-ampolar podem
em primeiro lugar, do sincronismo de trans- exercer ações no transporte dos gametas.

TABELA 6-1. Fenômenos Fisiológicos do Espermatozóide e do Óvulo Relacionados


com a Fertilização
Oogênese e Características dos Espermatogênese e Características dos
Parâmetros Óvulos Espermatozóides

Mitose na gãnada Cessa durante a vida fetal; novos óvulos Continua durante a vida reprodutiva do macho
não são formados após o nascimento
Meiose na gãnada Começa durante a vida fetal Começa na puberdade e continua durante a
vida reprodutiva
Primeira divisão de A primeira divisão de maturação é A primeira divisão meiótica resulta em duas
maturação no gameta completada no folículo pré-ovulatório células de igual tamanho
Segunda divisão de maturação A segunda divisão de maturação é Não comparável
completada somente quando o óvulo é
penetrado pelo espermatozóide
Números de gametas Milhares de oogãnias são encontra- Milhões de espermatozóides são produzidos em
produzidos durante das no ovário do neonato cada ejaculação a partir da puberdade, com
a vida reprodutiva número reduzido durante a senilidade
Cromossomo sexual no x XouY
gameta
Quantidade de citoplasma no À medida que o oócito amadurece, À medida que a espermátida se transforma em
gameta aumenta a sua quantidade de espermatozóide, diminui a quantidade de
citoplasma citoplasma; o cromos somo e a cauda
desenvolvem-se no estágio final da
espermátida
Motilidade do gameta Os oócitos, circundados pelas células A motilidade espermática desenvolve-se
foliculares, são imóveis gradativamente nas várias porções do
epidídimo e aumenta na ejaculação
Membrana plasmática na O óvulo adquire membranas plasmáticas O espermatozóide perde suas membranas
fertilização do espermatozóide plasmáticas para o óvulo
Sobrevivência no trato 12 a 24 horas após a ovulação A capacidade de fertilização é mantida 24 horas
reprodutivo feminino após a ejaculação

146
Transporte e Sobrevivência de Gametas 147

TRANSPORTE ESPERMÁTICO NO movidos do canal deferente e do epidídimo são


TRATO FEMININO usados com sucesso na inseminação artifici-
al, e a remoção dos vários órgãos acessórios
Existem diferenças específicas quanto ao do trato masculino, raramente diminui a fer-
local em que as ejaculações são depositadas tilidade de modo que a ejaculação ainda re-
no trato reprodutivo feminino durante a có- sulta na emissão de uns poucos milhões de
pula (Tabela 6-2). Em bovinos e ovinos, o pe- espermatozóides através da uretra.
queno volume de sêmen é ejaculado na extre- Diferentemente da vagina, o revestimento
midade cranial da vagina, ao redor da cérvice epitelial da cérvice, útero e trompa é compos-
(Fig. 6-1). Em equinos e suínos, o volume to de células secretoras não ciliadas e de cé-
ejaculado é grande e é depositado através do lulas cinociliadas. De um modo geral, as cé-
canal cervical relaxado para dentro do útero. lulas secretoras têm uma superfície côncava
Os espermatozóides são singulares no senti- coberta por numerosos microvilos e seu
do de que são transportados por meio de vá- cito plasma apresenta numerosos grânulos
rios fluidos luminais com características fisio- secretores. A porcentagem de células
lógicas e bioquímicas completamente cinociliadas no epitélio, que é variável nas
diferentes (p. ex., fluido testicular, fluido diferentes porções do trato reprodutivo é má-
epididimário, plasma seminal, fluido vaginal, xima nas fímbrias e na ampola tubárica e
muco cervical, fluido uterino, fluido tubárico mínima no útero e cérvice uterina. As células
e fluido peritoneal) (Fig. 6-1). ciliadas são cobertas por cinocílios que batem
Fatores físico-químicos e imunológicos da de forma rítmica em direção à vagina. (Figs.
vagina e da cérvice durante a inseminação 6-3 e 6-4 ).
apresentam importantes atuações na sobre-
vivência espermática e no transporte para o Distribuição Espermática no Trato
útero e trompas (Tabela 6-2 e Figs. 6-2 a 6-4 ). Reprodutivo Feminino
As secreções vaginais imobilizam os
espermatozóides dentro de 1 ou 2 horas após Três estágios são reconhecidos no transpor-
a inseminação. A rápida eliminação e imobi- te espermático no trato reprodutivo femini-
lização dos espermatozóides na vagina tor- no: um transporte espermático rápido, curto;
nam essenciais o seu rápido transporte para colonização de reservatórios; e liberação pro-
um ambiente mais favorável. longada.
O plasma seminal tem importante papel Transporte Rápido. Imediatamente após
no transporte e na fisiologia dos esper- a inseminação, os espermatozóides penetram
matozóides. No entanto, espermatozóides re- nas micelas do muco cervical, onde alguns são

TABELA 6-2. Diferenças entre Espécies Quanto ao Local da Ejaculação e


Características Seminais em Vários Mamíferos
Local da Ejaculação Características Seminais Espécies

Tampão incipiente Pequena coagulação da ejaculação Homem


{
Coelho

Vagina Tampão incipiente Coagulação instantânea da ejaculação Macaco

Pouco líquido acessório Sêmen com alta concentração espermática Touro


Carneiro
{

Volumoso Distensão da cérvice Garanhão

Útero Volumoso Retenção do pênis durante a cópula Cão


{
Varrão

Tampão vaginal Contração espasmódica da vagina Roedores


148 Fisiologia da Reprodução

ampola
vesícula seminal
próstata
glândula de Cowper epidídimo testículo
vaso deferente

(fluido (fluido
epididimário) testicular)

duto
ejaculatório

fluido vaginal fluido endometrial fluido tubárico

local de
ejaculação ~ ~~~!~~'tl~~1~~i
. L. Lido transporte espermático
... perda espermática
perda espermática
(fluido retrógrado
na vagina)
I
liberação lenta de
c: .
espermatozóides das criptas
cervicais

FIG. 6.1. Ilustração diagramática dos vários fluidos luminais em que os espermatozóides ficam suspensos
desde a sua produção nos túbulos seminíferos até a época da fertilização na trompa.

rapidamente transportados através do canal processo é facilitado pelo fato de que as mice-
cervical. Esta fase leva de 2 a 10 minutos e Ias do muco cervical ajudam a dirigir os
pode ser facilitada (Fig. 6-5) assim como a espermatozóides para as criptas cervicais,
atividade contrátil do miométrio e onde o reservatório é formado. Menor quan-
mesossalpinge durante o galanteio e o coito. tidade de leucócitos é encontrada nas secre-
Alguns espermatozóides atingem a abertura ções cervicais comparada àquelas da vagina
interna da cérvice dentro de 1,5 a 3 minutos ou do útero; este fato sugere que na cérvice
após a inseminação. Deste modo, alguns há uma menor fagocitose de espermatozóides.
espermatozóides podem atingir rapidamente Os gradientes de concentração espermática
o local da fertilização. Não se sabe se os pri- que ocorrem nos diferentes segmentos do tra-
meiros espermatozóides que entram na trom- to reprodutivo são importantes para a fertili-
pa participam da fertilização do óvulo;foi pro- dade. Quanto mais espermatozóides entrarem
posto que a fertilização somente ocorre quando para o reservatório cervical, tanto mais atin-
um número crítico de espermatozóides alcan- girão a trompa, aumentando assim a proba-
ça o local de fertilização. bilidade de fertilização. Em aditamento,
Colonização de Reservatórios Esper- quanto maior o reservatório, tanto mais tem-
máticos. Uma quantidade maciça de po uma população adequada de esperma-
espermatozóides é aprisionada nas complexas tozóides será mantida na trompa. Os
pregas mucosas das criptas cervicais. Este espermatozóides podem deixar a cérvice pela
Transporte e Sobrevivência de Gametas 149

IESTERÓIDES OVARIANOS I
CONTRATILIDADE
ÚTERO-CERVICAL I CÉRVICE I
Anatomia
Estímulo do coito Fisiopatologia
Agentes farmacológicos Respostas aos hormônios
no sêmen
Hormônios

IVAGINA I
~
Secreções vaginais cD
<D
INFECÇÕES
CÉRVICO-VAGINAIS
~-
~ =--
-<:o
<1) ~,
DEPOSIÇÃO
~
DO SÊMEN ~Á /

IMUCO CERVICAL I

Concentração Quantidade
Morfologia Características biofísicas

. .
Motilidade

Enzimas Enzimas
Interações imunológicas?
FIG. 6-2. Interações biofísicas, fisiológicas, bioquímicas e imunológicas entre os espermatozóides, muco
cervical, e vários segmentos do trato reprodutivo feminino.

sua própria motilidade ou serem passivamen- para entrarem na trompa e efetuarem a fer-
te transportados pelas contrações cervicais e tilização do óvulo. Contudo, várias barreiras
uterinas. anatômicas e fisiológicas previnem que a
Nas espécies em que a ejaculação ocorre quantidade maciça de espermatozóides
nos cornos uterinos, os reservatórios esper- ejaculados atinja o local da fertilização (Fig.
máticos estão localizados na junção útero- 6-8), provavelmente para evitar a
tubárica, como na porca, ou nas glândulas polispermia, condição esta letal para o óvulo
endometriais, como na cadela. Não existe evi- fertilizado.
dência mostrando em qualquer espécie que
os espermatozóides são liberados após sua
entrada nas glândulas endometriais (Fig.6-6). Transporte Espermático na Cérvice
O transporte espermático é afetado pela ação
das prostaglandinas (Fig. 6-7) no sêmen de A mucosa endocervical constitui-se de um
algumas espécies. sistema intrincado de fendas, estrias e crip-
Liberação Prolongada e Transporte. tas agrupadas. Várias funções são atribuídas
Depois do adequado estabelecimento dos re- à cérvice e às suas secreções: (a) ela é recepti-
servatórios espermáticos no trato reprodutivo, va à penetração espermática durante ou pró-
os espermatozóides são liberados gradati- ximo à ovulação e inibe a migração em ou-
vamente por um prolongado período. Esta li- tras fases do ciclo; (b) ela atua como um
beração lenta, que envolve a motilidade ina- reservatório espermático; (c) ela proteje os
ta dos espermatozóides e a atividade contrátil espermatozóides do ambiente hostil da vagi-
do miométrio e do mesossalpinge, assegura a na e da fagocitose; (d) ela subministra as ne-
contínua avaliabilidade de espermatozóides cessidades energéticas aos espermatozóides;
150 Fisiologia da Reprodução

ri;"--[
'8'

FSH,LH

ovário estrógeno

~
*~
. aglutinação espermática

.n"mw
acrossomo
dn ~
--;?
nn"mw do
muco cervlcal
f""""t~.
.. espermatIca..
!
macromoléculas
do muco cervical éP
r'..)'~9~
1)'i.J:\Z

..j L.- ~ /
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J >-\.-
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--
--- cordões de
espermatozóides
nos fluidos
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!i 'I,:
I, ..1,
I.
I"
- ~
..

i
I'.
.
.
I
~-~~-~
---~

- r-
~ -- endometriais

acúmulo de sêmen miométrio


contrátil

espermatozóides se agregam

r
nas glândulas endometriais

S
/ ]
C
Bb
Mr
N Sq
G Mi

Bm
5f.1

FIG. 6-3. Transporte espermático através da cérvice para o útero. Acima, O transporte espermático
através da cérvice para a luz uterina envolve mecanismos bioquímicos, assim como modificações biofísicas
e fisiológicas no muco cervical, que em contraposição são controlados por fatores endócrinos. Abaixo,
Tamanho dos espermatozóides (8) em relação às células secretoras não-ciliadas e as células cHiadas do
epitélio cervicaL Bb, Corpúsculos basais dos cílios; Bm, membrana basal do epitélio; C, cílios; G, aparelho
de Golgi; Mi, mitôcondrias; Mr, microvilosidades das células não-ciliadas; N, núcleo; 8g, grânulos
secretores.
Transporte e Sobrevivência de Gametas 151

FIG. 6-4. Microfotografias eletrônicas de varredura mostrando as relações entre os espermatozóides e o


muco cervicaI. A, Espermatozóides no epitélio cervical uma hora após o coito. Notar a disposição das
caudas espermáticas em formação paralela. (Hafez, E.8.E. (1973). J. Reprod. Med. VoI. 73, 217.), B,
Epitélio cervical mostrando células secretoras não-ciliadas (8) com microvilosidades, células ciliadas (C)
com movimento. Notar o tamanho relativo dos espermatozóides (8p) e dos cílios móveis. C, Muco cervical
(humano) durante a fase ovulatória do ciclo. Notar o largo espaço semelhante a um favo de mel que
permite o transporte do espermatozóide. Notar o tamanho relativo do espermatozóide (flexa) e a rede. D,
Muco cervical (humano) durante a fase luteínica do ciclo. Notar a estreita rede de muco que inibe o
transporte dos espermatozóides para a cavidade uterina. (C, D, de Daunter, B. e Lutjen, P.L. (1982).
Cervical mucus. In Atlas of Human Reproduction by 8canning Electron Microscopy. E.8.E. Hafez e P.
Kenemans (eds.). Lancaster, England, MTP Press.)
152 Fisiologia da Reprodução

~O'H
OH OH

~cooo
OH OH

axonema

FIG. 6-5. Organização da peça principal da cauda 8


espermática mostrando algumas das caracte- OH @
rísticas ultra-estruturais envolvidas na motilidade ~ rNH3C (CH20H>;
espermática. (De Pedersen, H. e Fawcett, D.W.
(1976). Functional anatomy of the human
spermatozoon. In Human Semen and Fertility
~
[~
\\~COO
A

CH3 "OH
J
L.: -

Regulation in Men. E.S.E.Hafez (ed.), St. Louis,


C.v. Mosby.) (15S-15-metil PGF2« THAM
PGF 2«analog.)

FIG. 6-7. Fórmulas químicas de vários tipos de


prostaglandinas encontradas no sêmen. Por
ocasião da ejaculação na vagina, algumas destas
prostaglandinas provocam aumento no tônus e nos
padrões de contratilidade da musculatura do útero
e/ou trompa. Estas respostas afetam os
componentes quantitativos e qualitativos do
transporte espermático.

(e) ela filtra os espermatozóides defeituosos e


os imóveis, e (f) possivelmente participa na
capacitação dos espermatozóides.
Muco Cervical. O muco cervical que se
acumula no fundo vaginal pode apresentar
fluidos endometriais, tubáricos, foliculares, e
peritoneais, assim como leucócitos e restos
celulares dos epitélios uterino, cervical e va-
ginal. O muco cervical é um hidrogel, consti-
tuído por água e um componente sólido com-
posto de 3 ou mais unidades formando um
retículo tridimensional. As secreções têm com-
FIG. 6-6. (Acima) Microfotografia eletrônica de posição heterogênea, devido à presença de
varredura do endométrio mostrando as aberturas dois tipos de componentes de baixa e alta vis-
das glândulas uterinas e a presença de células cosidade. O muco cervical apresenta proprie-
ciliadas próximas a essas aberturas. (Cortesia do dades reológicas, como Viscosidade, elastici-
Professor P. Motta). (Abaixo) Diagrama mostrando dade corrente, formação de filetes, tixotropia
a ação dos cílios nas porções gel e sol do muco
cervical. Os cílios movem-se como se fossem ondas e espessura. Os componentes orgânicos de
dentro da camada sol da mucosa. As extremidades baixo peso molecular incluem açúcares livres
dos cílios batem na superfície interna do gel. simples (glicose, maltose e manose ) e
Transporte e Sobrevivência de Gametas 153

glândulas endometriais
(reservatório I!)
.(barreira I!)
mucocervical
(filtração)
(seleção)
(barreira I)

t
-
. junção útero-tubárica
(barreira lI!)

istmo
local da ejaculação
(acúmulo do sêmen) local da (reservatório lI!)
fertilização do
óvulo

FIG. 6-8. Diagrama mostrando as várias barreiras anatômicas e fisiológicas que previnem um número
excessivo de espermatozóides da ejaculação de atingir o local de fertilização, presumivelmente para
evitar polispermia.

aminoácidos. O muco contém também proteí- Espermatozóides mortos de suínos quan-


nas, elementos traços e enzimas. do inseminados foram transportados para as
Um equilíbrio fisiológico dos esteróides trompas menos eficientemente do que
ovarianos é necessário para o início e manu- espermatozóides vivos; parece que a moti-
tenção de uma população cervical de lidade espermática facilita a penetrabilidade,
espermatozóides após a inseminação artifi- porém, não é absolutamente necessária.
cial, particularmente em seguida à sincroni- Embora pareça que os espermatozóides
zação do cio. movam-se aleatoriamente na secreção
Penetração dos Espermatozóides no cervical, provavelmente eles seguem a via de
Muco Cervical. Os espermatozóides melhor resistência entre os cordões do muco
ejaculados penetram rapidamente no muco cervical. Quando é impedida a migração de
cervical aquoso da metade do ciclo, ajudados um espermatozóide no muco, os esperma-
principalmente pela motilidade espermática tozóides usualmente reiniciam seu curso para
e também pelas propriedades micro e diante com um súbito desvio para uma via
macrorreológicas do muco. O padrão de pe- paralela adjacente. Quando o sêmen é mistu-
netração espermática no muco varia durante rado com muco cervical in vitro, aparece um
o ciclo estral. limite nítido entre os dois fluidos e o muco
Os espermatozóides são mecanicamente cervical é penetrado por falanges semelhan-
orientados em direção ao orifício interno da tes a dedos. A formação de falanges pode fun-
cérvice. À medida que o flagelo bate e vibra, cionar para aumentar a área de superfície
a cabeça espermática é impulsionada em di- entre o sêmen e o muco cervical, formando
reção aos canais de menor resistência. A receptáculos de sêmen dentro do muco para
frequência da cauda arma uma ressonância proteger os espermatozóides do ambiente va-
mecânica entre ela própria e a frequência de 'ginal hostil ou para facilitar a migração
oscilação do enredamento molecular. Os prin- espermática para dentro da cavidade uterina.
cípios hidrodinâmicos parecem aplicar-se à
motilidade espermática; assim, os esperma- Transporte Espermático no Útero
tozóides móveis estão em equilíbrio dinâmico
com a força viscosa do meio ao invés de se- A atividade contrátil da vagina e do
rem afetados pela força inercial que influi miométrio tem importante atuação no trans-
sobre os grandes objetos em movimentação. porte de espermatozóide dentro e através do
154 Fisiologia da Reprodução

útero. Quantidades maciças de esperma- dos ao peristaltismo e antiperistaltismo da


tozóides invadem as glândulas endometriais. musculatura e às contrações das pregas
Acredita-se que a presença de espermato- mucosas e mesossalpinges. A frequência e
zóides no útero induz uma resposta leucoci- amplitude das contrações da musculatura cir-
tária endometrial, que possibilita a fagocitose cular e longitudinal da trompa, mesossalpinge
de um número excessivo de espermatozóides e mesotubário são controladas por hormônios
vivos e provavelmente também de mortos. ovarianos, pela atividade adrenérgica e não
Espermiofagia. A captação de espermato- adrenérgica, e pelos componentes do plasma
zóides pelos fagócitos é de um significado fi- seminal como a prostaglandina.
siológico especial por causa da infiltração de O padrão e amplitude das contrações va-
leucócitos dentro da luz uterina, e sua ativa- riam em diferentes segmentos da trompa. No
ção para ingerir espermatozóides após a co- istmo, contrações peristálticas e antiperistál-
bertura parece ser o mecanismo principal ticas são segmentárias, vigorosas, e quase
para a remoção destas células do trato sempre contínuas. Na ampola, ondas peristál-
reprodutivo feminino (Koehler et aI., 1982). ticas fortes movem-se em direção à porção
Os espermatozóides no útero são levados para média do oviduto.
dentro dos vacúolos fagocitários e digeridos
pelos macrófagos (Fig. 6-9). Os esperma- Controle Endócrino do Transporte
tozóides fagocitados podem de início ser da- Espermático
nificados ou necróticos.
Existe mais conhecimento sobre o controle
Transporte na Trompa endócrino da ovulação e da espermatogênese
do que sobre a endocrinologia do transporte
A trompa apresenta a singular função de espermático nos órgãos femininos. Os
conduzir os espermatozóides e os óvulos em hormônios ovarianos afetam: (a) a estrutura,
direções opostas, quase simultaneamente. O ultra-estrutura e atividade secretora dos
padrão e a proporção do transporte esper- epitélios cervical, uterino e tubárico; (b) a
mático através da trompa são controlados por atividade contrátil da musculatura útero-
vários mecanismos, como o peristaltismo e o tubárica; (c) as características qualitativas e
antiperistaltismo da musculatura tubárica, quantitativas do muco cervical e secreções
contrações complexas das pregas mucosas da uterinas e tubáricas. Alterações são notadas
trompa e do mesossalpinge, correntes fluidas no conteúdo protéico, na atividade enzimática,
e contracorrentes criadas pela ação cHiar, e na composição eletrolítica, na tensão superfi-
possivelmente a abertura e fechamento da cial e na condutibilidade destes fluidos. Au-
porção intramural. A importância relativa mentando-se a quantidade de estrógenos du-
destes mecanismos no transporte espermático rante a fase pré-ovulatória do ciclo ou
através das trompas é desconhecido. As con- administrando-se estrógenos sintéticos, há
trações tubáricas alteram a configuração dos uma copiosa produção de secreção cervical
compartimentos tubáricos momentaneamen- fina e aquosa. A progesterona endógena du-
te, de modo que os fluidos e os espermato- rante a fase luteínica do ciclo ou durante a
zóides em suspensão podem ser transporta- gestação produz um muco cervical celular
dos em direção às ~ímbrias, de um para o escasso e viscoso com pouca formação
próximo compartimento. Nas trompas de filamentosa e pequena arborização em forma
pombas e de tartarugas, existem dois siste- de folhas de samambaia. A penetrabilidade
mas de movimentos ciliares. Um deles bate dos espermatozóides é bastante inibida no
em direção ao ovário e o outro em direção à muco cervical progestacional. É possível que
cloaca. Estes dois sistemas ciliares são capa- as modificações cíclicas que ocorrem no muco
zes de mover partículas em direções opostas. cervical sejam meios de proteção da fêmea
O padrão e a proporção do transporte contra a desnecessária exposição às proteí-
espermático através da trompa são atribuí- nas estranhas do sêmen.
Transporte e Sobrevivência de Gametas 155

FIG.6-9. 1, Microfotografias eletrônicas de varredura de uma ejaculação de um paciente com infertilidade


idiopática mostrando maciça infiltração de leucócitos. Poucos espermatozóides "livres" estão presentes; a maioria
está associada com as células brancas pregueadas. As células lisas contornadas podem ser formas imaturas de
espermátidas precoces (13.000 X).2, Microfotografia eletrônica de varredura de leucócitos pregueados com um
espermatozóide durante a espermiofagia. 3, Transmissão de porções eletrônicas micrográficas de quatro núcleos
espermáticos em vacúolos fagocitários em adição ao flagelo que se expande da célula. Esta célula é mais
propriamente um neutrófilo. (De Koehler, J.K. et aI. (1982) Spermophagy. In Atlas ofHuman Reproduction by
Scanning Electron Microscopy. E.S.E. Hafez e P. Kenemans (eds.). Lancaster, England, MTP. Press.)
156 Fisiologia da Reprodução

Hiperativação dos Espermatozóides presentes no istmo demonstram hiperati-


vação. A diminuição da motilidade espermá-
As células do cumulus oophorus, utilizan- tica no istmo pode ser acompanhada por um
do-se substâncias no meio de cultura, podem ou mais inibidores de motilidade no ambien-
propiciar ao óvulo metabólitos intermediários te do istmo. Uma supressão similar do movi-
para a maturação e/ou clivagem do zigoto. As mento espermático ocorre na luz do epidídimo
células do cumulus oophorus atuam também (Burkman et aI., 1984).
como um "reservatório" espermático, manten- O pH dos fluidos do trato reprodutivo fe-
do muitos espermatozóides dentro de uma minino varia de modo considerável. A vagina
íntima matriz celular imediatamente em con- é ácida, com pH ao redor de 4,0; o muco
tato com a zona pelúcida. cervical é básico, pH 8,4, e o útero é interme-
A velocidade dos espermatozóides e o pa- diário, pH 7,8. O pH do fluido da trompa per-
drão da motilidade espermática são altera- manece ao redor de 7,1 a 7,3 na fase folicular
dos à medida que os espermatozóides são e 7,5 a 7,8 na fase luteínica. Deste modo é
transportados nos diferentes segmentos do importante que os espermatozóides mante-
trato reprodutivo feminino. A hiperativação nham uma boa motilidade sobre uma varia-
espermática ocorre de início na trompa pró- ção relativamente grande de valores
ximo ao momento da ovulação e pode ser ins- extracelulares de pH.
trumental no final do transporte espermático,
por ocasião da capacitação espermática e da Transporte Espermático e Fertilidade
reação acrossômica. Os espermatozóides fi-
cam retidos normalmente na porção do istmo O fluxo contínuo de espermatozóides da
da trompa. Propriedades biofísicas e bioquí- cérvice está associado com a fagocitose
micas do istmo podem impedir a migração dos espermática dentro do útero e com a perda
espermatozóides para cima e facilitar o de espermatozóides dentro da cavidade
armazenamento espermático. Características peritoneal. Assim, uma população de
físicas do istmo incluem uma luz estreita, um espermatozóides férteis é mantida no local de
muco viscoso, temperaturas locais reduzidas, fertilização próximo à junção istmo-ampolar
batimento ciliar pró-uterino e contrações da trompa. A porcentagem de espermato-
musculares da trompa, as quais são dirigidas zóides morfologicamente anormais é maior
principalmente em direção ao útero. nas trompas e útero do que na ejaculação.
Interações fisiológicas entre os espermato- Alguns espermatozóides morfologicamente
zóides e o ambiente do istmo envolvem a ca- anormais podem atingir a trompa, embora em
pacidade da motilidade espermática. menor extensão do que os espermatozóides
A movimentação ativa dos espermatozóides normais. A filtração de espermatozóides mor-
é rapidamente induzida pela diluição dos con- tos, anormais e incompetentes durante sua
teúdos do istmo com o fluido das ampolas ou passagem através do trato reprodutivo, asse-
também por um meio artificial. Quando está gura maior viabilidade do zigoto.
presente o piruvato no meio estimula-se uma O transporte espermático pode ser inibido
ligação flagelar hiperativada, enquanto que também por aglutinações de cabeças com ca-
estes movimentos estão virtualmente ausen- beças ou caudas com caudas espermáticas
tes quando está presente apenas a glicose. (Fig. 6-10). O significado imunológico da
Alterações nas concentrações de K+ e piruvato aglutinação espermática em relação à
podem ter uma participação na motilidade dos infertilidade é desconhecido.
espermatozóides no istmo da trompa, no caso Efeito da Sincronização do Cio sobre
o K+ é inibidor e o piruvato um estimulador o Transporte Espermático. A sobrevivên-
(Burkman et aI., 1984). Quando meios de fer- cia e o transporte dos espermatozóides no tra-
tilização in vitro são utilizados, uma to reprodutivo feminino geralmente diminui
motilidade espermática vigorosa é notada depois de qualquer alteração no ciclo estral.
imediatamente, e muitos dos espermatozóides O númeroI de espermatozóides na trompa é
Transporte e Sobrevivência de Gametas 157

reduzido após a regulação do cio pela admi- Sobrevivência dos Espermatozóides


nistração de progestágenos e prostaglandinas
F2(Fig. 6-7),que provocam regressão dos cor- Depois de ejaculados, os espermatozóides
pos lúteos. A regulação do cio com apresentam um limitado período funcional.
progestágenos e prostaglandinas permite que Certos componentes do plasma seminal esti-
mulam a motilidade espermática, ao passo
que outros a inibem. Existem muitas infor-
mações sobre a duração da motilidade
espermática, porém pouco se sabe sobre a
duração da capacidade fertilizante, que é per-
dida muito antes da motilidade. Encontra-se
uma relação entre o pH do acúmulo seminal
intravaginal e a motilidade espermática.

~
Durante a migração no trato genital, os
espermatozóides são rapidamente separados

~ do plasma seminal e são novamente coloca-


dos em suspensão no fluido genital feminino.
Nas trompas, os espermatozóides estão alta-
FIG. 6-10. Diferentes padrões de aglutinação mente diluídos. Uma vez que apenas alguns
espermática cabeça contra cabeça e cauda contra espermatozóides aparecem nas trompas, seu
cauda, fenômeno que interfere com o transporte período de sobrevivência é de difícil estimati-
espermático. Pouco se sabe sobre o significado
imunológico da aglutinação espermática em va, e caso permaneçam móveis, eles migram
relação à infertilidade nos animais domésticos. para a cavidade peritoneal.
Durante o transporte ao local de fertiliza-
apenas números limitados de espe'rmato- ção, os espermatozóides são diluídos signifi-
zóides atinjam a trompa, causando assim uma cativamente com as secreções luminais do
fertilidade diminuída dos óvulos e uma baixa trato reprodutivo feminino e estão sujeitos a
fertilidade. modificações no pH do meio. A acidez ou a
Contrações uterinas, observadas in vivo ou excessiva alcalinidade do muco imobilizam os
medidas in vitro, diferem entre ovelhas sob espermatozóides, ao passo que um muco mo-
controle e outras com cio regulado. Três com- deradamente alcalino realça sua motilidade.
postos, quando adicionados ao sêmen utiliza- O muco cervical secretado no período de
do para inseminação ou injetados em fêmeas ovulação subministra um ambiente adequa-
próximas à época da inseminação, aumentam do à manutenção da atividade metabólica dos
o número de espermatozóides nas trompas. espermatozóides. Este muco sofre modifica-
Estes compostos incluem uma combinação de ções bioquímicas, como uma diminuição em
prostaglandina E 1 e F 2 para ovelhas e albuminas, fosfatase alcalina, peptidase,
estradiol-17~ para coelhas e ovelhas (Hawk antitripsina, esterase e ácido siálico, assim
et al., 1982). como um aumento de mucinas e cloreto e
Uma relação positiva existe entre o núme- sódio.
ro de espermatozóides nas trompas na época O transporte de espermatozóides dentro do
da ovulação e o número de espermatozóides útero pode influir na capacitação porque eles
acessórios por óvulo e a porcentagem resul- são separados de um excesso de "fator de
tante de óvulos fertilizados. O padrão aumen- decapacitação" e de outras enzimas inibidoras
tado de fertilização está associado com o nú- do plasma seminal.
mero crescente de espermatozóides por óvulo.
Não obstante, o número de espermatozóides Perda de Espermatozóides
na trompa por ocasião da ovulação fica redu-
zido em ovelhas tratadas com hormônios Embora milhões de espermatozóides sejam
quando comparadas a ovelhas não tratadas. depositados nos órgãos genitais femininos,
158 Fisiologia da Reprodução

poucos atingem o óvulo no local da fertiliza- ciliares das fímbrias. O transporte do óvulo
ção. A maioria dos espermatozóides perece através do próprio óstio e dos primeiros pou-
nas barreiras seletivas: cérvice uterina, jun- cos milímetros da ampola é efetuado pela ação
ção útero-tubárica e istmo-tubárica. Pouco se dos cílios.
sabe sobre o destino daqueles que invadem O mecanismo fisiológico pelo qual os recém-
em grande número as glândulas endome- emitidos óvulos são captados para as trom-
triais. Na cavidade uterina, os espermatozói- pas depende de quatro fatores principais:
des são fagocitados por leucócitos (Fig. 6-9). 1. As estruturas características das fím-
Uma perda contínua de espermatozóides ocor- brias do infundíbulo e suas relações
re também nas cavidades vaginal e peritoneal. com a superfície ovariana durante a
A introdução de sêmen dentro da cavidade ovulação.
uterina desencadeia a resposta leucocitária: 2. O padrão de liberação do cumulus
o aparecimento de leucócitos polimorfonu- oophorus e do óvulo pelo folículo duran-
cleares. A relação biológica entre leucócitos e te a ovulação.
espermatozóides no que diz respeito à 3. As propriedades biofísicas dos fluidos
capacitação e/ou sobrevivência espermática é foliculares que compõem a matriz do
desconhecida. Na cérvice de bovinos, a maior cumulus oophorus.
parte dos leucócitos ocorre na massa central 4. A contração coordenada das fímbrias e
da mucina, um fato que indica que a maioria dos ligamentos útero-ovarianos.
deles invadiu a cérvice a partir do útero. Durante a ovulação, as fímbrias estão
Muitos espermatozóides viáveis, alojados nas ingurgitadas com sangue e são levadas em
criptas cervicais, escapam dos leucócitos, de íntimo contato com a superfície do ovário pela
modo que sobrevive uma população adequa- atividade muscular do mesotubarium. O ová-
da. rio é movido vagarosamente de um lado para
Espermatozóides com alterações são leva- outro e em volta de seu eixo longitudinal por
dos passivamente para trás pela ectocérvice contrações do ligamento ovariano próprio.
com o auxílio das células ciliadas batendo em Esta cadeia de reações é controlada por me-
direção à vagina. Tais espermatozóides, avan- canismos anatômicos e hormonais.
çando apenas uma pequena distância dentro O ovário está localizado dentro da bursa
qa parte central do muco cervical, não atin- ovariana à qual estão unidas a ampola da
gem as criptas cervicais e diminuem bastan- trompa e parte das fímbrias. O ovário pode
te em número dentro de poucas horas após o mover-se prontamente desta localização para
coito. Desde que os espermatozóides que se a superfície das fímbrias, que estão
tornam imóveis em outros locais não são ra- posicionadas na porção aberta da bursa ova-
pidamente eliminados, a proporção que é eli- riana. Este movimento é duplamente contro-
minada é maior na cérvice do que em outros lado pelo ligamento ovariano próprio e pelo
segmentos do trato reprodutivo feminino. mesovário que sustentam o ovário e a trom-
Uma grande quantidade de muco cervical é pa em posição.
produzida e numerosos espermatozóides são As fímbrias e o infundíbulo são basicamen-
expelidos com o muco através da vulva em te compostos de uma estrutura erétil, rica em
bovinos. Os espermatozóides que alcançam as tecidos vasculares e musculares. Durante o
fímbrias caem na cavidade peritoneal. cio, as fímbrias sofrem uma distensão devido
ao fluxo sanguíneo aumentado; além disso,
RECEPÇÃO DE ÓVULOS (CAPTAÇÃO as margens das fímbrias tornam-se
OVULAR) edemaciadas e translúcidas.
As atividades contráteis das fímbrias,
A viscosa massa do cumulus oophorus que trompas e ligamentos são parcialmente coor-
contém o oócito e as células da corona, adere denadas por mecanismos hormonais envol-
ao estigma e permanece unida a ele a menos vendo a proporção estrógeno-progesterona. A
que seja removida pela ação dos movimentos recepção do óvulo é mais eficiente na época
Transporte e Sobrevivência de Gametas 159

TABELA 6-3. Resumo da Sequência dos Principais Fenômenos Fisiológicos


Associados com o Transporte Espermático no Trato Reprodutivo Masculino e
Feminino
Local Fenômenos Fisiológicos Mecanismos Envolvidos
Trato reprodutivo masculino Espermatozóides armazenados na cauda do Neuromuscular
epidídimo sofrem maturação
Na ejaculação, os espermatozóides liberados do Metabólico
epidídimo são misturados com as secreções
acessórias masculinas
Vagina Sêmen depositado em várias pulsações
ejaculadoras
Atividades motoras de cópula
Sêmen ~i~turado com secreções vaginais e
cervlCaIS
}
Cérvice Espermatozóides migram através das micelas Biofísico
do muco cervical
Espermatozóides anormais filtrados (seleção Bioquímico
grosseira de espermatozóides) através do
canal cervical
Criptas cervicais estabelecem o "reservatório Mecãnico (movimento ciliar do
de espermatozóides" ou impedem excesso de epitélio)
espermatozóides, causando grande redução
no número de espermatozóides
Útero Espermatozóides separados do plasma seminal Contração do miométrio
e transportados para a trompa
Plasma da superfície do espermatozóide Aglutinação de espermatozóides
removido
Modificações metabólicas e capacitação dos Fagocitose dos espermatozóides
espermatozóides por leucócitos
Proteinase do acrossomo (enzima tripsina) Enzimático
inativada por inibidores da tripsina do
plasma seminal
Junção útero-tubárica Seleção quantitativa de espermatozóides Mecãnico
Istmo Reduzido número de espermatozóides
Junção istmo-ampolar Controle do transporte do óvulo na trompa Nervoso
Modifica a membrana plasmática do Bioquímico
espermatozóide (reação do acrossomo),
capacitação espermática
Ampola Motilidade espermática aumenta no fluido da Mecânico
trompa para tornar capaz a penetração da
corona radiata e da zona pelúcida
Divisão de redução dos gametas completada Metabólico
Proteinases do acrossomo liberadas Enzimático
Seleção na superfície do óvulo (receptores?) Biofísico
pelos espermatozóides
Fímbrias Espermatozóides em excesso perdidos na Motilidade espermática
cavidade peritoneal

TABELA 6-4. Tempo de Transporte dos


Óvulos na Trompa de Animais Domésti- do cio, porém pode ocorrer até certo grau du-
cos Comparados com Alguns Outros Ma- rante todo o ciclo. Em algumas espécies, o
míferos mecanismo neuro-hormonal estimula tam-
Tempo na Trompa bém a atividade contrátil das fímbrias duran-
Espécies (horas)
te a cópula.
Vaca 90
Ovelha 72 TRANSPORTE DO ÓVULO NA TROMPA
Égua 98
Porca 50
Gata 148 O tempo de transporte dos óvulos na trom-
Cadela 168 pa varia de acordo com as espécies (Tabelas
Macaca, rhesus 96
Gambá 24 6-3 e 6-4). Em bovinos, ovinos e suínos, o tem-
Mulher 48-72 po varia de 72 a 90 horas (Figs. 6-11 e 6-12).
160 Fisiologia da Reprodução

Horas após o início


<30 30-40 30-70 60-80
~
do cio

Nível de clivagem
r -
A'
V
o
'"
o
A
~ 8 (I)
<ti

8
(I) 8 ~ (I)
~. (I) -

FIG. 6-11. (Acima) Padrão de transporte e clivagem de ovos em suínos. Os ovos passam rapidamente
pela primeira metade da trompa e permanecem no quarto terço, onde se localiza a junção istmo-ampolar,
até 60-75 horas após o desencadeamento do cio. (Dados de Oxenreider e Day, J. (1965) Anim. Sei., 24,
413.). (Abaixo) O istmo da trompa é demonstrado após utilização de técnica de clareamento mostrando o
tr;msporte dos óvulos.

Óvulos não fertilizados ficam retidos na trom- O transporte do óvulo através da trompa é
pa de éguas por vários meses. A chegada dos regulado por quatro forças primárias:
óvulos fertilizados ao útero em um estágio 1. A frequência, intensidade e programa-
progestacional apropriado do ciclo estral, é um ção da musculatura tubárica e dos liga-
fator crítico. mentos a ela relacionados, segundo a
O padrão de transporte ovular é mais rá- influência dos mecanismos endócrinos,
pido do infundíbulo para a junção istmo- farmacológicos e nervosos.
ampolar do que através do istmo. Esta demo- 2. A direção e padrão das correntes e
ra no transporte ovular parece ser necessária contracorrentes dos fluidos luminais, se-
para a subsequente implantação do embrião. gundo a influência do padrão e direção
A época da entrada do óvulo no útero é relati- dos batimentos dos cílios que revestem
vamente precisa, quando comparada à sua as pregas mucosas.
passagem pela junção istmo-ampolar para 3. A atividade secretora das células não
dentro do istmo. ciliadas do epitélio tubárico, segundo a
Transporte e Sobrevivência de Gametas 161

OVULAÇÃO
7-10 DIAS

3-4 DIAS
3-7 DIAS
48 HORAS ,24 HORAS

MÓRULA

BLASTOCISTO

FIG. 6-12. Relações temporais dos principais eventos que ocorrem na trompa como a captação dos óvulos
pelas fímbrias e fertilização, clivagem e formação do blastocisto no útero.

influência da proporção estrógeno- rio através da contração do miométrio, do


progesterona. músculo liso do mesossalpinge, assim como
4. As propriedades hidrodinâmicas e pelos ligamentos útero-ovarianos. Após uma
reológicas dos fluidos luminais nos perío- rápida passagem do óvulo pela ampola distal,
dos críticos em que os óvulos estão sen- em movimentos de ida e volta, o óvulo é reti-
do transportados (Figs. 6-13, 6-14). do na porção proximal da região ampolar, pró-
ximo à junção istmo-ampolar, permitindo a
Contração Tubárica realização da fertilização. Cerca de 80 horas
após a ovulação, o blastocisto atinge a cavi-
Os vários padrões da contração tubárica dade uterina. A retenção transitória do óvulo
regulam até certo ponto o modo de transpor- na junção istmo-ampolar, que parece ser um
te ovular (Tabela 6-5). Contudo, há pouca evi- efeito crucial para a realização de uma con-
dência de que os óvulos são primariamente cepção plena de sucesso, pode ser um efeito
transportados por contrações musculares. Os de uma função semelhante à de um esfíncter.
ligamentos mesovário, mesossalpinge,
mesotubárico e útero-ovariano também so- Mecanismos Neurais e Resposta
frem rigorosa atividade contrátiL Estas con- Farmacológica
trações modificam continuamente a posição
dos ovários em relação às fímbrias, assim A abundante inervação adrenérgica da
como a relação das várias subdivisões da musculatura tubárica em conjunção com sua
trompa, umas em relação às outras. Os pa- resposta a drogas adrenérgicas sugere que o
drões de contração variam significativamen- sistema nervoso simpático está envolvido no
te diversas vezes no ciclo estraL transporte ovular. A contração miossalpin-
Após a ruptura folicular, o óvulo é apanha- geana, mediada pela inervação adrenérgica
do pela extremidade final da trompa do músculo circular do istmo, é tida como en-
fimbriada, que é levada ao contato com o ová- volvida no retardamento do transporte do
162 Fisiologia da Reprodução

FSH

G)
marcapassos
ações potenciais de receptores T estrógeno ~ -~progesterona
excitação-contração
proteínas contráteis C contrações tubáricas 7\ secreções tubáricas )
interação muscular
longitudinal-circular
~

contração da
musculatura
tubárica

inervação
adrenérgica
~. transporte do ovo

FIG. 6-13. Mecanismos anatômicos e fisiológicos que controlam o transporte do ovo e dos espermatozóides
na trompa.

óvulo no istmo. Na coelha, tais explosões ocor- cional. Isto faz subentender que as forças
rem 36 horas após o coito, quando a maioria motoras fornecidas pela ação ciliar são de fato
dos óvulos estão nas trompas. Ocorre uma assimétricas. As prostaglandinas possuem um
queda na motilidade tubárica 72 horas após notável efeito sobre a musculatura lisa das
o coito, quando a maioria dos ovos já estão no trompas e do útero. A formação e liberação
útero (Aref e Hafez, 1973). Os a-adrenorre- da prostaglandina são postas em execução
ceptores (estimulantes) regulam a contração pela atividade dos nervos.
tubárica, enquanto que os ~-adrenorre-
ceptores (inibidores) regulam o relaxamento "Enlaçamento" e "Desenlaçamento" dos
tubárico. A estimulação do nervo e várias dro- Óvulos nas Trompas
gas autônomas provocam respostas variáveis
das trompas (ver Tabela 6-5). Estas respos- Vários mecanismos provocam o lento trans-
tas estão altamente relacionadas ao período porte dos óvulos através do istmo:
vital dos gametas (Tabela 6-6). peristaltismo tubárico, atividade ciliar, e flui-
Quando a atividade muscular da trompa é dos correntes e contracorrentes dentro da luz.
bloqueada farmacologicamente com Os mecanismos fisiológicos e farmacológicos
isoproterenol, o transporte ovular na ampola que podem influir no enlaçamento e no
muda seu discreto caráter típico "de um lado desenlaçamento dos óvulos, seguem-se:
para outro", tornando-se contínuo e unidire- 1. Bloqueio mecânico ( por ex., edema)
Transporte e Sobrevivência de Gametas 163

(I
':. , .;.:.:
:;:'
:.
Fímbrias . ;.;,
AIJ

----
----- -----
--- ~

Dia 1
(estrógeno)
e ovo

Batimentos ciliares movem o


ovo ao AIJ contra o fluxo de
secreção
O ':""",,',

\f7:'

Contracorrente da secreção
mais eficiente que os cílios

Fluxo débil de secreção Menos células ciliadas

Dia 3 Mais batimentos ciliares Menos secreção no istmo


(progesterona) (+20%)
FIG. 6.14. Diagrama para mostrar o modo de ação do estrógeno e da progesterona sobre o fluxo das
secreções tubáricas na ampola e no istmo (demonstrado pelas setas em direção às fímbrias), o fluxo dos
cílios tubáricos (demonstrados pelas setas em direção à junção útero-tubárica [UTJ]), e transporte do
ovo na trompa. AIJ, junção istmo-ampolar.

TABELA 6-5. Padrõesde Transporte do acoplados em tempo e espaço, de modo


Ovo na Trompa Influenciados pelo que eles não impelem os óvulos predo-
Tipo de Contratilidade 'fubárica minantemente para o útero.
Tipo de Contratilidade Padrão de Transporte do c. relaxamento local ou geral do músculo
'fubárica Ovo
de modo que não exista força motriz
Contrações peristálticas Progresso rápido do ovo para impelir os óvulos em direção ao
da ampola para a útero.
junção istmo-
ampolar
3. Bloqueio neurogênico controla um dos me-
canismos miogênicos.
Contrações peristálticas Obstrução do transporte
da junção útero- do ovo
tubárica para a
Transporte dos Gametas e Índice de
junção istmo- Concepção
ampolar

Contração segmentar Lançamento para frente e


o rápido transporte de espermatozóides,
para trás do ovo vivos ou mortos, para a porção superior da
trompa, dentro de poucos minutos, comprova
Explosões de contração Completa obstrução do
espástica da transporte do ovo em a importância das contrações da musculatu-
musculatura circular um esfíncter ra lisa neste caso. Em monta natural, os
espermatozóides são depositados durante o
Contração dos Regulação do padrão de
ligamentos transporte do ovo
cio, pelo menos 10 a 12 horas antes da ovula-
relacionados ção, e o modo de transporte espermático im-
provocando provavelmente seria um fator crítico na de-
curvaturas da
trompa
terminação da concepção. No caso da
inseminação artificial, principalmente quan-
2. Bloqueio miogênico de do decorrente de sincronização do cio e/ou de
a. contração mantida da musculatura cir- um programa de tratamento com gonado-
cular do istmo. trofina, o modo e eficiência do transporte
b. contrações dirigidas por marcapassos espermático ao local da fertilização são de
miogênicos que estão de algum modo importância fundamental.
164 Fisiologia da Reprodução

TABELA 6-6. Estimativas da Vida Fértil dos Espermatozóides e dos Óvulos, e


Tempo de Desenvolvimento Embrionário
Vida Fértil*
(horas) Dias após a Ovulaçãot

Espécie Espermatozóide Óvulo 2-Células 8-Células Dentro do Útero Blastocisto Nascimento

Bovinos 30-48 20-24 1 3 3-31/2 7-8 278-290


Equinos 72-120 6-8 1 3 4-5 6 335-345
Humanos 28-48 6-24 11/2 21/2 2-3 4 252-274
Coelhos 30-36 6-8 1 21/2 3 4 30-32
Ovinos 30-48 16-24 1 21/2 3 6-7 145-155
Suínos 24-72 8-10 16-20 horas 21/2 2 5-6 112-115

* Vida fértil é um conceito relativo desde que a fertilidade declina progressivamente sobre um período
de horas. Para os espermatozóides, inclui-se apenas o período no trato genital feminino. A vida do óvulo
é contada a partir da ovulação. Para ambos, a longevidade provavelmente depende de uma variedade de
fatores, incluindo a situação hormonal da fêmea. Por esses motivos, é impossível proporcionar figuras
precisas.
t Estas estimativas são apenas aproximadas desde que o nível de desenvolvimento está sujeito a uma
considerável variação tanto entre indivíduos como entre raças. Adicionalmente, informações precisas
sobre o momento da ovulação são falhas em várias espécies.

Em bovinos, o sêmen é ejaculado na vagi- tozóide, sob condições de monta natural. Con-
na anterior próximo à abertura externa da tudo, no caso de inseminação artificial ou sob
cérvice. A penetração dos espermatozóides regime de monta controlada, os óvulos podem
dentro do canal cervical pode depender da se deteriorar antes que os espermatozóides
atividade muscular do trato reprodutivo mas- atinjam a ampola, mesmo que a viabilidade
culino, que é realçada pela ocitocina liberada fértil dos óvulos seja de 20 a 24 horas.
durante o coito, embora a penetração também Ocorre uma descida acelerada dos óvulos
dependa da motilidade espermática. A condi- pelas trompas depois de tratamento
ção do muco cervical é crítica para uma colo- superovulatório em bovinos, embora os expe-
nização satisfatória da cérvice, cuja última rimentos com PMSG não tenham provocado
porção representa o principal reservatório, esta particular resposta. O distúrbio do trans-
após o coito, de espermatozóides em ruminan- porte ovular é bem conhecido em animais de
tes, pelo menos durante as primeiras 24 ho- laboratório sob tratamento com esteróides, de
ras. Os espermatozóides são armazenados por modo que uma produção excessiva de
2 a 3 dias nas glândulas endometriais, nas progesterona ou tratamento com proges-
pregas do istmo inferior e na região da jun- tágenos, logo após a ovulação, podem provo-
ção útero-tubárica. Deste modo, os esperma- car um resultado similar nos animais domés-
tozóides podem ser protegidos da fagocitose. ticos, levando a uma infertilidade temporária.
Uma quantidade significante de esperma-
tozóides entra nas trompas de vacas em cio 2 VIABILIDADE FÉRTIL E
horas após a cobertura, embora sejam encon- ENVELHECIMENTO DOS ÓVULOS
trados nas ampolas após 8 horas.
Apenas uma pequena fração do ejaculado A vida fértil do óvulo é o período máximo
atinge a porção superior da trompa. Este fe- em que ele permanece em condições de ser
nômeno é importante para evitar a condição fertilizado e sofrer um desenvolvimento nor-
patológica de fertilização por polispermia. mal. Em muitas espécies, o óvulo permanece
Deste modo, é extremamente baixa a pro- apto para a fertilização de 12 a 24 horas (Ta-
babilidade de envelhecimento pós-ovulatório bela 6-6). Ele vai perdendo rapidamente esta
do óvulo antes da penetração do esperma- capacidade quando estiver se aproximando do
Transporte e Sobrevivência de Gametas 165

Óvulos e espermatozóides envelhecidos.


100
Óvulo envelhecido mais espermatozóides
recém-ejaculados.
80
I Óvulo recém-ovulado mais espermato-
~'" -b,g
, oj
zóides envelhecidos.
.~ 60 '...<::
,, .~
.:
S Embriões inviáveis resultantes de qualquer
....
o
-<2.:
, oj
§
'"
40 ---:""
. ", h
:I o
"O das combinações anteriores podem provocar
(1)
'o"'" , Taman o .J1"'<:: baixos índices de concepção em certas raças e
"{ia ninhada: § rebanhos. Existe evidência de que a fertiliza-
~(1)
20 "
, ,~
I S
,~ ção por espermatozóides envelhecidos aumen-
0 Jo
ta a subsequente mortalidade embrionária em
o 8 ~ ~ ~ ~ suínos e na criação de galinhas. Atualmente
Intervalo da ovulação à inseminação (hs) existe insuficiente evidência em outros ani-
mais domésticos no que diz respeito aos rela-
FIG. 6-15. Efeito do envelhecimento dos óvulos
tivos resultados prejudiciais do envelhecimen-
(inseminação retardada) sobre a porcentagem de
gestações anormais e tamanho da ninhada em to dos gametas sobre a fertilização, a
cobaias. Notar que os óvulos foram fertilizados e implantação e o desenvolvimento pré-natal.
se implantaram quando os animais foram É possível que algumas anormalidades con-
inseminados 26 horas após a ovulação, embora os gênitas da vida pós-natal sejam consequência
embriões não prosseguissem com o desenvol- de gametas envelhecidos.
vimento. (Dados de Blandau e Young, (1939). Am.
J. Anat. 64, 303.) Se o óvulo não for fertilizado, ele se frag-
menta em vários segmentos citoplasmáticos
de tamanhos desiguais, e em certos casos pode
mesmo se assemelhar a um óvulo fertilizado.
Todos os óvulos não fertilizados eventualmen-
istmo e torna-se totalmente infértil ao atin- te desaparecem por completa desintegração
gir o útero. ou por fagocitose no útero.
O óvulo pode ser fertilizado próximo ao fi-
nal de sua vida fértil em consequência de uma
cobertura tardia. Estes ovos podem ou não se MIGRAÇÃO TRANSUTERINA E PERDA
implantar e, neste caso, embriões não viá- DE ÓVULOS
veis são produzidos na maioria das vezes. As
cobaias mostram altas porcentagens de ges- A migração transuterina do óvulo através
tações anormais e uma diminuição do núme- do corpo do útero é comum nos ungulados.
ro de filhotes nascidos à medida que aumen- Por exemplo, quando um dos ovários é remo-
ta a idade do óvulo antes da fertilização (Fig. vido de uma porca, aproximadamente meta-
6-15). A fertilização de óvulos envelhecidos em de dos embriões se desenvolve em cada corno
suínos está associada com polispermia e uterino, independentemente de qual dos ová-
consequentemente com desenvolvimento em- rios tenha sido retirado. Existe também uma
brionário anormal. Em animais uníparos, o tendência na porca normal, do número de
envelhecimento do óvulo pode causar embriões se dividir igualmente entre os dois
abortamento, reabsorção embrionária ou de- cornos. A migração transuterina é mais co-
senvolvimento anormal do embrião. Anorma- mum em suínos e equinos, do que em bovinos
lidades similares podem resultar de esperma- e ovinos. Não obstante, vacas e ovelhas com
tozóides envelhecidos. ovulação dupla em um ovário, geralmente
Geralmente, a fertilização de gametas en- desenvolvem um embrião em cada corno
velhecidos envolve uma das seguintes possi- uterino. Os mecanismos fisiológicos que go-
bilidades: vernam o movimento dos óvulos, tanto indi-
166 Fisiologia da Reprodução

vidualmente dentro de um corno como entre fluido uterino é muito diferente daquela do
os cornos, são desconhecidos. fluido tubárico. Os óvulos nos estágios ini-
A migração transperitoneal de óvulos pode ciais ,de clivagem requerem substâncias es-
ser executada em condições experimentais pecíficas fornecidas pela trompa para o seu
adequadas; por ex., a ovariectomia unilate- desenvolvimento. Por este motivo a entrada
ral, deixando intacta as fímbrias e as trom- prematura de mórulas no útero causará sua
pas, com a ligação da outra trompa. Neste degeneração. Após um certo tempo, os
caso, a trompa livre poderá captar o óvulo li- blastocistos necessitam entrar no útero para
berado pelo ovário contralateral, podendo- o desenvolvimento final e implantação.
se seguir uma gestação normal. A migração
transperitoneal pode ser evitada pelas corren-
tes e tensão superficial do fluido peritoneal. REFERÊNCIAS
O óvulo pode deixar de atingir o infundíbulo
por muitas causas. Por exemplo, os óvulos Aref, I. and Hafez, E.S.E. (1973). Oviductal contrac
aprisionados no folículo rompido podem ser tility in relation to egg transport in lhe rabbit
Obstet. GynecoL 42, 165.
encontrados no corpo lúteo em desenvolvi- Blandau, RJ. and Verdugo, P. (1976):An overview of
mento. O óvulo pode também perder-se den- gamete transport-comparative aspects. In Ovum
tro da cavidade peritoneal; este óvulo geral- Transport and Fertility Regulation. M.J.K.
mente se degenera, porém em raros casos Harper, c.J. Pauerstein, C.E. Adams, E.M. Cou-
pode resultar em uma gestação ectópica (ges- tinha, H.B. Croxatto and D.M. Paton (eds.). Co-
penhagen, Scriptor.
tação localizada fora do útero ). A perda do Burkman, L.J.,Overstreet,J.W. and Katz D.F. (1984).
óvulo na cavidade peritoneal pode ser A possible role for potassium and pyruvate in
provocada pela imobilização da trompa, re- lhe modulation of sperm motility in lhe rabbit'
sultante de uma imperfeita palpação retal dos oviductalisthmus.]. Reprod. FertiL 71,367-376.
ovários, de infecções pós-parto ou pós- Daunter, B. and Lutjen, P. (1982). Cervical mucus.
abortamentos de endometrites ou infecções In Atlas of Human Reproduction by Scanning
Electron Microscopy. E.s.E. Hafez and P. Kene-
abdominais inespecíficas. maus (eds.). Lancaster, England, MTP Press.
Hawk, H.W. and Cooper B.S.(1977).Sperm transport
lhe cervix of lhe ewe after regulation of estrous
DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO prostaglandin or progestogen. J. Anim. Sei. 44,
NAS TROMPAS 63.
Hawk, H.W., Cooper, B.S.and Conley, H.H. (1982).
Increased numbers of sperm in lhe oviducts and
A trompa tem uma participação ativa na improved fertilization rales in rabbits after ad-
manutenção dos óvulos e em seu preparo para ministration of phenylephrine or ergonovine
a fertilização e subsequente segmentação. O ficar lhe time of insemination. J. Anim. Sei. 55,
fluido tubárico é rico em substratos e cofatores 878-890.
Koehler, J.K., Berger, RE., Smith, D. and Karp L.
envolvidos no desenvolvimento ovular, como
(1982).Spermophagy. In Atlas ofHuman Repro-
o piruvato e bicarbonato, aminoácidos livres, duction Scanning Electron Microscopy. E.S.E.
oxigênio, C02' carboidratos, talvez lipídios, Hafez and Kenemans (eds.), Lancaster, England,
nucleosídeos, esteróides e outros compostos. MTP Press.
Aparentemente, estas substân-cias são McLaren, A. 1980. Fertilization and Implantation.
fomecidas pela mucosa da trompa para o meio In Reproduction of Farm Animais. Ed. E.S.E.
fluido luminal. Hafez, 4th ed., Lea & Febiger. Philadelphia.
Pedersen, H. and Fawcett, D.W. (1976). Functional
Fatores endócrinos são importantes nos anatomy of lhe human spermatozoon. In Human
estágios iniciais do desenvolvimento embrio- Semen and Fertility Regulation in Men. E.S.E.
nário na trompa. A composição bioquímica do Hafez (ed.). St. Louis, MO, C.V. Mosby.
7
ESPERMATOZÓIDE E PLASMA SEMINAL
D.L. Garner e E.S.E. Hafez

SÊMEN CÉLULAS ESPERMÁTICAS

o sêmen é um líquido ou uma suspensão Os espermatozóides são formados dentro


celular semigelatinosa contendo gametas dos túbulos seminíferos dos testículos. Estes
masculinos ou espermatozóides e secreções túbulos apresentam uma série complexa de
dos órgãos acessórios do trato reprodutivo células germinativas em desenvolvimento que
masculino. A porção fluida desta suspensão, posteriormente formam as células altamente
que é formada na ejaculação é conhecida como especializadas, os gametas masculinos. Os
plasma seminal. A comparação das caracte- espermatozóides completamente desenvolvi-
rísticas seminais de alguns animais domésti- dos são células alongadas, consistindo de uma
cos aparece na Tabela 7-1. achatada cabeça contendo o núcleo e de uma

TABELA 7-1. Características e Componentes Químicos do Sêmen de Animais


Domésticos*
Características dos componentes Touro Carneiro Varrão Garanhão Galo

Volume do ejaculado (ml) 5-8 0,8-1,2 150-200 60-100 0,2-0,5


Concentração espermática (milhão/ml) 800-2000 2000-3000 200-300 150-300 3000-7000
Espermatozóides/ejaculado (bilhão) 5-15 1,6-3,6 30-60 5-15 0,6-3,5
Espermatozóides móveis (%) 40-75 60-80 50-80 40-75 60-80
Espermatozóides morfologicamente normais (%) 65-95 80-95 70-90 60-90 85-90
Proteína (g/100 ml) 6,8 5,0 3,7 1,0 1,8-2,8
pH 6,4-7,8 5,9-7,3 7,3-7,8 7,2-7,8 7,2-7,6
Frutose 460-600 250 9 2 4
Sorbitol 10-140 26-170 6-18 20-60 0-10
Ácido cítrico 620-806 110-260 173 8-53 Nil
lnositol 25-46 7-14 380-630 20-47 16-20
Glicerilfosforilcolina (GPC) 100-500 1100-2100 110-240 40-100 0-40
Ergotioneína O O 17 40-110 0-2
Sódio 225:1:13 1781:11 587 257 352
Potássio 1551:6 89:t4 197 103 61
Cálcio 401:2 61:2 6 26 10
Magnésio 81:.3 61:.8 5-14 9 14
Cloretos 174-320 86 260-430 448 147

*Adaptado de Foote, 1980; Gilbert, 1980; Lake, 1971; White, 1980. Valores médios dos componentes
químicos (mg/100 ml :t S.E.) a não ser indicados. Valores com hífens indicam variação.

167
168 Fisiologia da Reprodução

Touro Varrão Carneiro Garanhão Homem Rato Galo

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Peça Principal

Cauda

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FIG. 7-1. Desenho comparativo dos espennatozóides de animais domésticos e outros vertebrados. Dife-
renças no tamanho e fonna relativos, assim como os tennos utilizados para descrever as principais
características estruturais são fornecidos.

cauda contendo o aparelho necessário para a de DNA do núcleo espermático é haplóide ou


motilidade celular (Fig. 7-1). O esperma- metade das células somáticas da mesma es-
tozóide é todo recoberto pelo plasmalema, ou pécie. A célula espermática haplóide resulta
membrana plasmática. O acrossoma, ou capa das divisões meióticas que ocorrem duran-
acrossomal, é uma estrutura de dupla pare- te a formação espermática.
de situada entre a membrana plasmática e a Acrossoma. A extremidade anterior do nú-
porção anterior do núcleo. O colo conecta a cleo espermático é recoberta pelo acrossomo,
cabeça do espermatozóide com a cauda uma fina cobertura com dupla camada de
(flagelo), que é subdividida em peça interme- membranas que envolve intimamente o nú-
diária, principal e terminal (Fig. 7-1). cleo durante os últimos estágios da formação
do espermatozóide (Figs. 7-2 e 7-3). Esta es-
trutura semelhante a um capuchão contém
Morfologia Espermática várias enzimas hidrolíticas incluindo pró-
acrosina, hialuronidase, esterases, e
Cabeça do Espermatozóide. A principal hidrolases ácidas, envolvidas no processo de
característica da cabeça é o núcleo achatado fertilização (Mann e Lutwak-Mann, 1981). O
de forma oval, contendo cromatina altamen- segmento equatorial do acrossoma é impor-
te compactada (Fig. 7-2). A cromatina tante porque é esta parte do espermatozóide
condensada compreende um complexo DNA que juntamente com a porção anterior da re-
com uma classe especial de proteínas conhe- gião pós-acrossômica que inicialmente funde-
cidas como protaminas espermáticas. O nú- se com a membrana do oócito durante a ferti-
mero de cromos somos e portanto do conteúdo lização.
Espermatozóide e Plasma Seminal 169

Membrana Segmento
Plasmática
} Apical
(Crista)

Conteúdos do
Acrossomo

Membrana Segmento
Externa do Principal
Acrossomo

Membrana
Interna do
Acrossomo

Peça Terminal

FIG. 7-2. Características de um espermatozóide


bovino. São representadas a cabeça com seu Membrana
capuchão acrossômico e a cauda com suas quatro nuclear
divisões anatômicas. Secções transversais da peça
intermediária, da peça principal (2) e da peça ter- Região
minal mostram o axonema central de 9 + 2 Posterior do
microtúbulos, as nove fibras grosseiras externas, Acrossomo
a camada mitocondrial, as colunas longitudinais
dorsal e ventral, e as faixas circunferenciais. Núcleo

Cauda do Espermatozóide. A cauda do


gameta masculino é composta de colo, peça
intermediária, principal e terminal (Fig.7-1).
O colo ou peça de conexão forma uma placa FIG. 7-3. Representação esquemática de uma
basal que se ajusta dentro de uma depressão secção sagital da cabeça de um espermatozóide
na superfície posterior do núcleo. A placa bovino mostrando as várias subdivisões
basal do colo é contínua com nove grosseiras anatômicas. O acrossomo inclui o segmento apical
(crista apical), e os segmentos principal e equato-
fibras que posteriormente se projetam, atra- rial. As membranas externas dos segmentos apical
vés da maior parte da cauda. e principal formam o chamado capuchão do
A região da cauda entre o colo e o annulus acrossomo.Arelação do acrossomo com suas mem-
é a peça intermediária. A parte central da branas interna e externa, com as membranas nu-
peça intermediária junto com o comprimento clear e plasmática também é mostrada.
total da cauda forma o axonema. Ele é com-
posto de nove pares de microtúbulos envol-
vendo 2 filamentos centrais. Na peça inter- Esta bainha mitocondrial disposta em forma
mediária, estes 9 + 2 arranjos de microtúbulos de hélice envolvendo as fibras longitudinais
estão circundados por nove grossas ou den- da cauda (Fig. 7-2), gera a energia necessá-
sas fibras que parecem estar associadas com ria para a motilidade espermática. A bainha
os nove pares do axonema (Fig.7-2). O mitocondrial termina no annulus.
axonema e as densas fibras associadas da A peça principal, que continua posterior-
peça intermediária são recobertas externa- mente do annulus e se estende até a parte
mente por numerosas mitocôndrias (Fig. 7-2). terminal da cauda, é composta centralmente
170 Fisiologia da Reprodução

do axonema e sua associação de fibras gros- tabilizado por conjugação com proteínas
seiras. Julga-se que a membrana fibrosa for- espermáticas específicas conhecidas coletiva-
nece a estabilidade dos elementos contráteis mente como histonas espermáticas (Mann e
da cauda. Lutwak-Mann, 1981). Núcleos espermáticos
A peça terminal, que é posterior à mem- de algumas espécies contêm principalmente
brana fibrosa, contém somente o axonema pequenas histonas espermáticas de baixo peso
recoberto pela membrana plasmática. molecular conhecidas por protaminas, en-
O axonema é responsável pela motilidade quanto que espermatozóides de outras espé-
espermática. Os pares externos de microtú- cies apresentam quantidades variáveis de
bulos de padrão 9+2 geram a curvatura da histonas ricas em maiores argininas. Estas
onda da cauda por um movimento de proteínas nucleares básicas, importantes para
deslizamento entre os pares adjacentes. a condensação e estabilização do DNA, são
A gota citoplasmática ou protoplasmática, mantidas juntamente por ligações sulfidrí-
que é destacada normalmente de esperma- licas. As ligações sulfidrílicas aumentam à
tozóides ejaculados, é constituída de cito- medida que as células passam através do
plasma residual. Embora considerada anor- epidídimo.
mal, para espermatozóides ejaculados de Durante a fertilização do espermatozóide
muitas espécies, a gota pode estar retida na ele sofre uma reação acrossômico na qual a
região do colo, onde ela é conhecida como gota maioria dos conteúdos do acrossoma são libe-
proximal, ou perto do annulus, onde é cha- rados ou expostos através de aberturas cria-
mada gota distal. das pela fusão do plasma e das membranas
externas do acrossomo (Fig. 7-3). A
hialuronidase liberada dissolve as células do
Composição Química dos Espermatozóides cumulus oophorus que circundam o óvulo re-
centemente emitido. A pró-acrosina é o pre-
O principal componente químico dos cursor para uma enzima proteolítica,
espermatozóides são ácidos nucléicos, proteí- acrosina, a qual é julgada como um agente
nas e lipídios. Aproximadamente um terço digestor através da zona pelúcida para a pe-
do peso seco de uma única célula espermática netração do espermatozóide. Contudo, o pa-
é contribuída pelo núcleo. A cromatina nu- pel específico de cada enzima envolvida com
clear é composta aproximadamente de me- o acrossomo na fertilização, não está comple-
tade de DNA e metade de proteína. A capa tamente esclarecido. O segmento equatorial
acrossomal contém uma variedade de proteí- difere da capa acrossomal no sentido de que
nas enzimáticas. Muitas proteínas enzi- os seus conteúdos não são liberados durante
máticas estruturais e lipídios são encontra- a reação inicial do acrossomo, porém julga-se
dos na cauda. que eles são expelidos quando o esperma-
tozóide penetra na zona pelúcida. No entan-
Constituintes I norgânicos to evidências biofísicas indicam que os
espermatozóides são capazes de penetrar
Espermatozóides são ricos em fósforo, ni- mecanicamente na zona pelúcida por meio de
trogênio e enxofre. A maior parte do fósforo sua própria motilidade (Green e Purves,
está associado com DNA, enquanto que o 1984).
enxofre é derivado das proteínas nucleares A membrana mitocondrial dos esperma-
básicas e dos componentes queratinóides da tozóides rica em fosfolipídios, varia bastante
cauda. (Mann e Lutwak-Mann, 1981). entre as espécies quanto ao número de
mitocôndrias e na sua configuração química.
Componentes Bioquímicos Os espermatozóides contêm enzimas do sis-
tema respiratório oxidas e citocromo-citocromo
O núcleo espermático é composto de e da via glicolítica. Outras enzimas metabó-
cromatina condensada na qual o DNA é es- licas, incluindo a deidrogenase lactato
Espermatozóide e Plasma Seminal 171

espermatozóide-específica, conhecida por meio prático de controle do sexo de animais


LDH-X também estão presentes. Os nucleo- domésticos.
tídeos guanina e adenina ricos em energia são
componentes importantes na energética
espermática, do mesmo modo que as proteí- EPITÉLIO SEMINÍFERO
nas axonemais, tubulina e dineína. A dineína
espermática, a principal proteína dos Espermatogênese: Espermatogônias,
microtúbulos axonemais foi demonstrada Espermatócitos e Espermátidas
como sendo um cátion divalente ativado
ATPase. O epitélio seminífero, delineando os túbulos
seminíferos é composto de dois tipos celula-
Cromossomos Sexuais: res básicos: as células de Sertoli e as células
Espermatozóides X e Y germinativas em desenvolvimento. As célu-
las germinativas sofrem uma série contínua
o processo de formação espermática na de divisões celulares e modificações de desen-
maioria dos mamíferos resulta em dois tipos volvimento, começando na periferia e progre-
de espermatozóides no tocante à cromatina dindo em direção à luz tubular (Fig. 7-4). As
sexual. Assim, machos mamíferos são células tronculares, chamadas espermato-
heterogaméticos já que aproximadamente gônias dividem-se por várias vezes antes de
metade dos espermatozóides contém um formarem espermatócitos. Os espermatócitos
cromossomo X e a outra metade um então passam pelo processo de meiose, redu-
cromossomo Y. Os machos de espécies aviárias zindo o conteúdo de DNA das células à meta-
todavia, são homogaméticos pois produzem de daquele das células somáticas. Esta série
espermatozóides com apenas uma espécie de de divisões celulares incluindo a proliferação
cromos somo sexual. Por este motivo a deter- das espermatogônias e das divisões meióticas,
minação sexual em pássaros ocorre com o ovo. é conhecida por espermato-citogênese. As cé-
Dos dois tipos de gametas produzidos pelos lulas haplóides resultantes deste processo são
mamíferos masculinos, os espermatozóides chamadas de espermátidas. As espermátidas
possuidores do cromos somo X produzem em- então sofrem uma série progressiva de modi-
briões femininos por ocasião da fertilização ficações estruturais e de desenvolvimento
de um oócito, enquanto que os espermato- dando origem aos esperma-tozóides. Estas
zóides transportando o cromos somo Y produ- modificações metamórficas são conhecidas por
zem embriões machos. espermiogênese. As células germinativas em
Embora a diferença em DNA entre os desenvolvimento estão intimamente associa-
espermatozóides portadores de cromossomos das com as grandes células de Sertoli ou cé-
X e Y seja apenas de 4% nos animais domés- lulas sustentaculares que as envolvem duran-
ticos, esta pequena diferença pode ser solucio- te o desenvolvimento (Fig. 7-4).
nada utilizando coloração fluorescente e
fluxocitometria (Garner et aI., 1983, 1984). Espermatocitogênese
Outrossim, citômetros de fluxo foram modifi-
cados no sentido de separar espermatozóides Durante o desenvolvimento embrionário,
viáveis em populações relativamente puras células especiais chamadas células germina-
de X e Y (Johnson et aI., 1989). Quando estes tivas primordiais migram da região do saco
espermatozóides selecionados com aproxima- vitelínico do embrião para as gônadas
damente 90% de pureza foram inseminados, indiferenciadas. Depois de atingir a gônada
a proporção de sexos dos produtos foi quase fetal, as células primordiais dividem-se vá-
idêntica àquela prevista entre esperma- rias vezes antes de formar as células chama-
tozóides X e Y inseminados no processo dasgonócitos. No macho, estes gonócitos pare-
fluxocitométrico (Johnson et aI., 1989). Este cem sofrer uma diferenciação imediatamente
fato é bastante significante em relação a um antes da puberdade para formar o tipo de
172 Fisiologia da Reprodução

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EPITÉLIO SEMlNÍFERO

FIG. 7-4. Epitélio seminífero mostrando a natureza complexa da associação entre as células de Sertoli e
as células germinativas em desenvolvimento com uma ilustração demonstrando a dissociação deste
complexo celular. As células germinativas em desenvolvimento ocupam os espaços intracelulares entre
as células adjacentes de Sertoli e movem-se da membrana basal em direção à luz durante o processo
espermatogênico. As células germinativas iniciam seu processo de desenvolvimento como espermatogônias
(Sg), tornam-se espermatócitos (Se), e então espermátidas arredondadas (RSt), e finalmente, espermátidas
alongadas (ESt). A dissociação esquemática do epitélio seminífero mostra como as células germinativas
ocupam os espaços intercelulares expandidos entre as células de Sertoli adjacentes. (Adaptado de Fawcett,
D.w. (1974) In Male Fertility and Sterility, RE. Mancini e L. Martini (eds.). New York, Academic Press.)

espermatogônia AO das quais originam-se lula A2 não apenas se divide para produzir
outras células germinativas. O tipo de muitas células germinativas que eventual-
espermatogôniaAl divide-se progressivamen- mente formam espermatozóides, porém jul-
te para formar o tipo A2, tipo A3 e tipo A4 ga-se também que haja uma divisão específi-
(Fig. 7-5). O tipo A4 divide-se novamente para ca para repor a população de células
formar espermatogônias intermediárias (tipo tronculares das espermatogônias do tipo AI.
In) e então novamente para formar o tipo B Parece que uma reserva especial de células
de espermatogônia. Estes vários tipos de tronculares tipo espeÍ'matogôniaAO, repõe a
espermatogônias que podem ser identificados população de células tronculares.
em cortes histológicos do epitélio seminífero, A espermatogônia tipo B divide-se pelo
são a base para a proliferação da linha celu- menOS uma vez e provavelmente duas para
lar germinativa. originar os espermatócitos primários. Os
Existe alguma variação em relação à clas- espermatócitos primários duplicam o seu
sificação das espermatogônias, e em algumas DNA e sofrem modificações nucleares pro-
espécies são evidentes apenas três e não qua- gressivas de prófase meiótica conhecidas por
tro tipos de espermatogônias A. O tipo de cé- pré-leptóteno, leptóteno, zigóteno, paquíteno,
Espermatozóide e Plasma Seminal 173

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FIG. 7-5. Ilustração diagramática dos vários estágios de espermatogênese no touro, começando com
uma espermatogônia tipo A. A tabela no centro indica as associações celulares particulares dos doze
estágios do ciclo do epitélio seminífero. Os vários tipos celulares são: A, I, B, estágios sucessivos de
espermatogônias; PL, espermatócito pré-leptóteno; L, espermatócito leptóteno; Z, espermatócito zigóteno;
P, espermatócitos paquítenos dos estágios I, V e X; II, espermatócito secundário; do I ao 14 são estágios
da espermatogênese mostrando a fase de Golgi (fases 1 a 3), a fase de capuchão (fases 4 a 7), a fase de
acrossomo (fases 8 a 12) e a fase de maturação (fases 13 e 14), (Adaptado de Berndtson W. E. e Desjardins,
C.(1974), Am. J. Anat., 140, 167-180.)
174 Fisiologia da Reprodução

e diplóteno antes de dividirem-se para formar Fase da Capa. A fase da capa é caracteri-
espermatócitos secundários. Sem outra sín- zada pela difusão dos grânulos acrossomais
tese de DNA, os espermatócitos secundários aderentes sobre o núcleo da espermátida (Fig.
resultantes dividem-se novamente para for- 7-5, estágio 4-7). Este processo continua até
mar as células haplóides, conhecidas por que aproximadamente dois terços da porção
espermátidas. Todo o processo de espermato- anterior de cada núcleo da espermátida seja
citogênese divisional, desde espermatogônia recoberto por um envoltório fino de dupla ca-
até espermátida, leva aproximadamente 45 mada que se adere intimamente ao envelope
dias no touro. Todavia estas divisões são in- nuclear. Durante esta fase de capa os compo-
completas desde que pequenas pontes nentes de axonemas em desenvolvimento na
citoplasmáticas ou intercelulares ficam cauda, formados de elementos do centríolo
retidas entre a maioria das células de uma distal, alongam-se além da periferia do
série ou de um "clone" de células germinativas citoplasma celular. Durante o desenvolvimen-
de células desenvolvimento (Bloom e Fawcett, to precoce o axonema assemelha-se bastante
1975). Julga-se que estas pontes sejam im- à estrutura de um cílio já que ele consiste de
portantes na coordenação do desenvolvimen- 2 túbulos centrais circundados perifericamen-
to simultâneo de células germinativas como te por 9 pares de túbulos.
um grupo. Fase de Acrossorno. A fase de acrossomo
da espermiogênese é caracterizada por modi-
Espermiogênese ficações nos núcleos, acrossomos e nas cau-
das das espermátidas em desenvolvimento.
As espermátidas arredondadas são trans- As modificações de desenvolvimento são
formadas em espermatozóides através de uma favorecidas pela rotação de cada espermátida
série de modificações morfológicas progressi- de modo que o acrossomo é direcionado em
vas conhecidas como espermiogênese. Estas direção à base ou à parede externa do túbulo
modificações incluem condensação da seminífero, e a cauda por sua vez em direção
cromatina nuclear, formação da cauda ao lúmen (Fig.7-5, estágios 8-12). As modifi-
espermática ou aparelho flagelar, e desenvol- cações nucleares incluem a condensação da
vimento da capa acrossomal (Fig.7-5). Os vá- cromatina dentro de densos grânulos e a mo-
rios estágios de desenvolvimento da transfor- dificação da forma do núcleo esferoidal em
mação espermátida são classificados através uma estrutura alongada e achatada. O
da reação do ácido periódico-Schiff(PAS) para acrossomo, extremamente aderente ao núcleo,
corar os componentes do acrossomo em de- também se condensa e se alonga a fim de
senvolvimento em cor vermelha acentuada. corresponder à forma do núcleo. Estas modi-
São notadas 4 fases neste processo de desen- ficações na forma do núcleo e do acrossomo
volvimento: a fase de Golgi, a da capa, a parecem ser "moldadas" pelas células de
acrossomal, e as fases de maturação. Sertoli circundantes. As modificações
Fase de Golgi. A fase de Golgi da esper- morfológicas são levemente diferentes para
miogênese é caracterizada pela formação de cada espécie, resultando assim em esperma-
grânulos pró-acrossomais PAS-positivos, den- tozóides e espermátidas alongadas, as quais
tro do aparelho de Golgi, a coalescência dos são características para cada espécie.
grânulos dentro de um único grânulo As modificações na morfologia nuclear são
acrossomal, a aderência do resultante grânulo acompanhadas pelo deslocamento do
acrossomal ao envelope nuclear, e os estágios citoplasma para a região caudal do núcleo,
primários do desenvolvimento da cauda no onde ele circunda a porção proximal da cau-
pólo oposto ao da aderência do grânulo da em desenvolvimento. Dentro deste
acrossomal (Fig.7-5, estágios 1-3).0 centríolo citoplasma, os microtúbulos associam-se para
proximal migra proximamente ao núcleo lo- formar uma bainha cilíndrica temporária cha-
cal onde julga-se que ele forme uma base para mada manchete, a qual se projeta posterior-
a união da cauda à cabeça. mente da porção caudal do acrossomo, onde
Espermatozóide e Plasma Seminal 175

ele circunda frouxamente o axonema. Dentro um lóbulo esferóide, chamado corpúsculo re-
da manchete cilíndrica, uma estrutura sidual. Este lóbulo de citoplasma, que perma-
citoplasmática especializada chamada corpo nece ligado à espermátida, alonga da por um
cromatóide condensa-se ao redor do axonema filete delgado de citoplasma, é também inter-
formando uma estrutura semelhante a um ligado com outros corpúsculos residuais por
anel, conhecido por annulus. O annulus em pontes intercelulares resultantes da divisão
primeiro lugar forma-se próximo ao centríolo incompleta das células germinativas duran-
proximal e então durante o desenvolvimento te a espermatocitogênese. Uma vez formado
subsequente migra posteriormente ao longo o corpúsculo residual, as espermátidas
da cauda. As mitocôndrias, previamente dis- alongadas sofrem a maturação final e estão
tribuídas através do citoplasma das prontas para serem liberadas sob a forma de
espermátidas, começam a concentrar-se pró- espermatozóides.
ximas ao axonema, formando a bainha que
caracteriza a peça intermediária da cauda. Espermiação
Fase de Maturação. A fase de maturação
da espermiogênese envolve a transformação A liberação de células germinativas forma-
final das espermátidas alongadas em células das para a luz dos túbulos seminíferos é co-
que são liberadas para dentro da luz dos nhecida por espermiação. As espermátidas
túbulos seminíferos. A modificação de forma alongadas, orientadas perpendicularmente
do núcleo e do acrossomo de cada espermá- para a parede tubular, vão sendo expulsas
tida, iniciada durante a fase prévia, produz gradativamente para a luz dos túbulos (Fig.
espermatozóides característicos para cada 7-5). Os lóbulos do citoplasma residual por
espécie. Dentro do núcleo, os grânulos de intermédio dos quais, grandes grupos
cromatina sofrem progressiva condensação sinciciais de espermátidas estão ligados por
até formarem um fino material homogêneo pontes intercelulares, permanecem embuti-
que preenche todo o núcleo dos esperma- dos no epitélio. A expulsão dos componentes
tozóides (Fig. 7-5, estágios 13-14). espermáticos continua até que apenas uma
Durante a fase de maturação, uma bainha delgada haste de citoplasma una o colo da
fibrosa contendo nove fibras grosseiras for- célula espermática ao corpo residual (Fig.7-6)
ma-se ao redor do axonema. Estas fibras gros- (Fawcett, 1975). O rompimento da haste re-
seiras parecem estar associadas individual- sulta na formação da gota citoplasmática na
mente aos nove pares de microtúbulos do região do colo dos espermatozóides e na re-
axonema e têm continuidade com colunas no tenção dos corpos residuais arredondados.
colo da peça de conexão da espermátida. A Após a liberação dos espermatozóides, as cé-
bainha fibrosa cobre o axonema desde o lulas de Sertoli se desfazem rapidamente dos
annulus até o início da peça terminal. O corpos residuais. Embora as células de Sertoli
annulus migra de sua posição adjacente ao estejam ativamente envolvidas no processo de
núcleo, distalmente ao longo da cauda, para espermiação, não está clara ainda a sua pre-
um ponto onde, subsequentemente, ele irá cisa atuação na aparente reciclagem dos com-
separar a peça intermediária da peça princi- ponentes protoplasmáticos dos corpos resi-
pal da cauda. As mitocôndrias, previamente duais. As células de Sertoli não somente
concentradas ao redor do axonema, ordenam- devem fagocitar os corpos residuais remanes-
se ao longo da peça intermediária formando centes do processo espermatogênico, como
uma bainha mitocondrial que cobre as fibras também removem um considerável número
grosseiras previamente depositadas, desde o de células germinativas em degeneração. Isto
colo até o annulus. ocorre porque o processo espermatogênico é
Durante os últimos estágios da espermio- relativamente ineficiente, no sentido de um
gênese, a manchete desaparece e a célula de grande número de células espermáticas po-
Sertoli forma então o citoplasma remanescen- tenciais degenerar-se antes de tornar-se
te após o prolongamento da espermátida em espermatozóides.
176 Fisiologia da Reprodução

Duração da Espermatogênese Onda Espermatogênica

Os vários tipos celulares presentes em Os estágios do ciclo do epitélio seminífero


qualquer corte transversal do epitélio não somente se modificam de acordo com o
seminífero formam associações celulares bem tempo, como também ao longo de sua exten-
definidas que sofrem modificações cíclicas. No são (Setchell, 1977) (Fig.7-7). Uma extensão
mínimo já foram identificadas 14 associações do túbulo em determinado estágio está usu-
ou estágios celulares distintos identificados almente em posição contígua a outras porções
em algumas espécies, enquanto que apenas correspondentes a outros estágios, imediata-
seis o foram no homem (Clermont, 1963). No mente procedente ou logo sucessivo a ela em
touro, foram descritos 12 estágios desse ciclo termos de tempo (Pereyet aI., 1961)(Fig. 7-8).
(Berndtson e Desjardins, 1974) (Fig. 7-5). O Esta modificação sequencial do estágio do ci-
ciclo completo dos estágios, dependente do clo ao longo da extensão do túbulo é conheci-
tempo e conhecido por ciclo do epitélio da por onda do epitélio seminífero. O exame
seminífero, é definido como "uma série de de uma alça do túbulo seminífero ao longo de
modificações em determinada área do epitélio sua extensão revela que a onda envolve uma
seminífero que ocorre entre dois surgimentos sequência de estágios, iniciando-se com os
do mesmo estágio de desenvolvimento" menos avançados no meio da alça, até os pro-
(Clermont, 1963). As etapas bem definidas da gressivamente mais evoluídos e mais próxi-
espermiogênese servem para classificar os mos à rete testis. Notam-se algumas irregu-
vários estágios do ciclo. O tempo necessário laridades ou interrupções na ordem
para completar um ciclo do epitélio seminífero sequencial. Estas interrupções na sequência,
varia entre as espécies domésticas. A dura- chamadas modulações, ocorrem ocasional-
ção do ciclo é de cerca de 9 dias no porco, 10 mente e envolvem extensões relativamente
dias no carneiro, 12 dias no cavalo e 14 dias curtas do túbulo.
no touro (Johnson e Everitt, 1984; Swierstra
et aI., 1968). Dependendo das espécies, de
quatro a aproximadamente cinco ciclos Barreira Sanguíneo-Testicular
epiteliais são necessários antes que as
espermatogônias tipo A do primeiro ciclo te-
nham completado a metamorfose da Junções Celulares
espermiogênese. Cada ciclo epitelial é análo-
go ao de um estudante frequentando a facul- Os túbulos seminíferos não são penetrados
dade (por ex., um calouro, um estudante de por vasos sanguíneos ou linfáticos. Além dis-
segundo ano, um júnior ou sênior) onde leva so, as células germinativas em desenvolvi-
quatro ou mais ciclos de "anos" antes de que mento dentro dos túbulos estão protegidas das
uma célula espermatogonial fundibular ou transformações químicas sanguíneas por uma
"calouro iniciante" tenha completado o pro- especializada barreira permeável. Esta bar-
cesso de espermatogênese ou "terminado o reira sanguíneo-testicular apresenta dois
ano sênior". Aespermiação, que pode ser con- constituintes principais: (1) a barreira incom-
siderada como a "graduação", ocorre por três pleta ou parcial das células mióides que cir-
cíclos prévios ou classes antes que as células cundam o túbulo e (2) as singulares junções
infundibulares completem o processo de de- entre células de Sertoli adjacentes (Setchell,
senvolvimento para tornarem-se esperma- 1980).
tozóides ou que "o calouro complete o Camada Mióide. A membrana basal ou tú-
curriculum de quatro anos". Embora existam nica própria que circunda os túbulos
diferenças no ritmo da espermatogênese en- seminíferos contém uma camada de células
tre as espécies de mamíferos, o processo é mióides contráteis (Fig. 7-9). Em algumas es-
uniforme dentro de uma mesma espécie pécies, uma grande parte das junções celula-
(Setchell, 1978). res desta camada está compacta da pelas
Espermatozóide e Plasma Seminal 177

A B c D
FIG. 7-6. Diagrama ilustrando a liberação espermática em mamíferos. Os estágios sucessivos mostram
uma extrusão gradativa das espermátidas alongadas dentro da luz com retenção dos corpos residuais de
interligação. A liberação resulta da atenuação do delgado tronco de citoplasma que liga a célula
germinativa ao corpo residual. Uma vez separada do corpo residual, a célula toma-se um espermatozóide.
(De Fawcett, D. W. (1975) In Handbook ofPhysiology, VoI.V, RO. Greep and E.B. Astwood (eds.), Bethesda,
American Physiological Society.)

membranas celulares adjacentes. No entan- municam livremente com a luz do túbulo


to, esta barreira não é bem desenvolvida no (Fawcett, 1975).
touro, carneiro e varrão e, em consequência, O compartimento basal dá livre acesso aos
pode ser relativamente sem importância nos componentes que penetraram previamente na
testículos dos animais domésticos. camada mióide. Contudo, a segunda barrei-
Junçõesdas Células de Sertoli.Acredi- ra, composta das junções oclusivas entre as
ta-se que a principal barreira sanguíneo-tes- células de Sertoli, demonstra uma grande
ticular sejam as complexas junções entre cé- variação de permeabilidade, desde a comple-
lulas de Sertoli adjacentes. Estas junções, ta exclusão de algumas substâncias até uma
situadas próximo à base celular apresentam transferência relativamente livre de outras.
múltiplas zonas de aderência, onde se fun- Esta permeabilidade diferencial parece ser
dem as membranas opostas (Fawcett, 1975). importante para a manutenção de um am-
As junções oclusivas dividem os túbulos biente apropriado para a função esperma-
seminíferos em dois compartimentos distin- togênica dos túbulos. A barreira sanguíneo-
tos: (1) um compartimento basal contendo testicular não somente impede a entrada de
espermatogônias e espermatócitos pré- certas substâncias, como também parece
leptótenos e (2) um compartimento ad- manter níveis específicos de outras, como a
luminal, contendo as formas mais avançadas ABP, inibina e enzimas inibidoras dentro do
de espermatócitos e espermátidas, que se co- compartimento luminal dos túbulos.
178 Fisiologia da Reprodução

[(o Rete Testi

o
Cabeça do n
Epidídi:àiõ d
a
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Rete e
r
Testis m
a
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Corpo do o
pidídimo g
e
n
i
Túbulos c
a
Seminíferos

Local de Inversão

FIG. 7-8. Representação esquemática da onda do


FIG. 7-7. Curvas dos túbulos seminíferos, rete epitélio seminífero mostrando a sucessão de está-
testis e sistema de duto prolongado dso carneiro. gios, o local de inversão no centro dos túbulos e
A via pela qual os espermatozóides são transpor- sua relação com rete testis. Os mais avançados dos
tados para o exterior é indica da pelas setas. ( Mo- doze estágios da espermatogênese, mostrados em
dificado de Setchell, B. P. (1977). In Reproduction algarismos romanos, estão localizados mais próxi-
in Domestic AnimaIs. H. H. Cole and P.T. Cupps mos à rete testis. Um túbulo seminífero real pode
(eds). New York, Academic Press.) conter quinze ou mais ondas espermatogênicas
completas. (Adaptado de Perey, B., Clermont, Y.
and Leblond, C.P. (1961) Am. J. Anat. The wave of
Secreções de Fluidos the seminiferous epithelium in the rat.l08,47-77.)

As espermátidas produzidas durante a fase


final da espermiogênese são liberadas duran- Sertoli é julgada como decorrente dos proces-
te a espermiação dentro da luz dos túbulos sos ativos de transporte empurrando solutos
seminíferos como espermatozóides imaturos. para dentro do compartimento adluminal,
Estas células espermáticas, imóveis, são var- formando desta maneira um gradiente
ridas dos túbulos pelas secreções de fluido osmótico. Este fluido contém várias proteínas
originadas das células de Sertoli. O trânsito especiais incluindoABP, que é secretada den-
dentro do epidídimo parece ser auxiliado pe- tro da luz do túbulo seminífero pelas células
las secreções da rete testis, pelos. elementos de Sertoli (Hansson et aI., 1976). O ABP for-
contráteis dos testículos (por ex., células ma um complexo com os andrógenos produzi-
mióides e cápsula testicular) (Hargrove et aI., dos pelas células de Leydig. O complexo re-
1977) e pelos cílios delineando os dutos sultante pode colaborar no trânsito de
eferentes. andrógenos dentro da cabeça do epidídimo.
O fluido testicular é uma composição com-
posta das células de Sertoli e das células Controle Endócrino da Espermatogênese
epiteliais que delineiam a rete testis. As célu-
las de Sertoli, todavia, são julgadas como a A função testicular normal requer
fonte predominante de fluidos que deixa os estimulação hormonal pelas gonadotrofinas,
testículos. A secreção fluida das células de que por sua vez são controladas por secreções
Espermatozóide e Plasma Seminal 179

SECÇÃO SAGITAL
'. AUMENTADA DO
TÚBULO SEMINtFERO

FLUIDO DA
RETE TESTIS FLUIDO
TESTICULAR

TÚBULOS
SEMINÍFEROS

CAUDA DO EPIDÍDIMO

CÉLULAS IJKSERTOLI CÉLULAS MIÓIDES

FIG. 7-9. Fonte do fluido testicular e da rete testis. Estes fluidos misturam-se à rete testis e são excretados
no sistema de duto excurrente do macho. O fluido testicular é secretado pelas células de Sertoli para o
interior da luz do túbulo. Um túbulo seminífero foi destacado do testículo e aumentado em secção trans-
versal para demonstrar a microanatomia do epitélio seminífero.

pulsáteis de hormônios liberadores de evidências que confirmem tal fato


gonadotrofinas (GnRH) do hipotálamo (Fig. (Schanbacher, 1984).
7-10). O suporte hipofisário é essencial por- A principal ação dos andrógenos parece ser
que a hipofisectomia, remoção cirúrgica da nas células de Sertoli e não diretamente nas
hipófise, resulta na cessação da esperma- células germinativas. As células mióides pa-
togênese. A restauração da espermatogênese recem também ser andrógeno-dependentes.
pode ser readquirida ná rata hipofisecto- A dependência aos esteróides é encontrada
mizada através de tratamento com FSH e LH pela produção pulsátil de andrógenos pela
ou com FSH e testosterona. Altas doses de células intersticiais de Leydig, que estão ad-
testosterona isoladamente mantêm a jacentes aos túbulos seminíferos (Fig. 7-7). As
espermatogênese em ratas hipofisecto- células de Leydig são estimuladas por pulsa-
mizadas, desde que o tratamento seja inicia- ções do LH hipofisário para a secreção de
do imediatamente após a remoção da hipófise. andrógenos. Os andrógenos produzidos pelas
Outras espécies, contudo, requ~rem FSH em células de Leydig difundem-se junto às célu-
adição ao esteróide para a manutenção da las de Sertoli adjacentes e são secretados den-
espermatogênese. Outros hormônios hipofi- tro do sangue, onde alimentam retrograda-
sários (por ex., prolactina, hormônio do cres- mente o hipotálamo e a hipófise para bloquear
cimento e hormônio estimulante da tireóide) a liberação de LH adicional (Fig.7-10). A ou-
podem apresentar papéis secundários no su- tra gonadotrofina principal, FSH, estimula a
porte à função testicular, embora não existam produção de ABP e inibina pelas células de
180 Fisiologia da Reprodução

Sertoli. ABP forma um complexo com


andrógeno e é transportado com os esperma-
tozóides para dentro do epidídimo (Ganjam e
Amann, 1976). As células epiteliais do
epidídimo requerem níveis relativamente al-
tos de andrógenos para uma função normal.
A inibina possui um efeito retrógrado negati-
vo sobre a secreção de FSH, porém não sobre
a do LH (Blanc et aI., 1981). Embora grande
quantidade da testosterona secretada dentro
dos túbulos seminíferos seja convertida em
diidrotestosterona (DHT) pela enzima 5 (J.-
esteróide redutase, alguma parte da
testosterona é convertida em estrógenos pela
enzima aromatase (Dorrington e Armstrong,
1975). Um nível relativamente alto de
testosterona é necessário para a maturação
das espermátidas (Hafs e McCarthy, 1978).

FATORES DE CRESCIMENTO

Pesquisas recentes têm demonstrado que


os fatores de crescimento biologicamente ati-
vos regulam alguns processos reprodutivos e
estão presentes no plasma seminal (Adashi
et aI., 1991; Earp, 1991, Rappolee et aI., 1989).
Os fatores do crescimento, que são polipe- FIG. 7-10. Controle endócrino da função testicu-
ptídeos, obtêm respostas celulares pela liga- lar em mamíferos. O hipotálamo secreta
ção à receptores na superfície de células es- gonadotrofina, hormônio liberador (GnRH), que
pecíficas em tecidos-alvo. Estes fatores de estimula a secreção de LH e FSH da hipófise ante-
rior. O LH estimula as células intersticiais de
crescimento regulam a proliferação de mui-
Leydig para produzir andrógenos, principalmente
tos tipos celulares, influindo assim o cresci- testosterona. Os andrógenos são secretados na cor-
mento do trato reprodutivo. O crescimento rente sanguínea, onde causam o desenvolvimento
celular e a diferenciação são regulados por das características sexuais secundárias do macho
interações fisiológicas entre hormônios (FSH/ e o desenvolvimento e manutenção do trato
LH, estrógenos, progestinas) e por fatores reprodutivo masculino. Os andrógenos suprimem
bioativos de crescimento. Uma extensa varia- a secreção de GnRH, LH e FSH pelo mecanismo
retrógrado sobre a hipófise e o hipotálamo. A
ção de tipos celulares expressa os receptores testosterona também é secretada dentro do túbulo
apropriados para estes fatores de crescimen- seminífero, onde é necessária para a manutenção
to. da espermatogênese. O FSH interage com os re-
O Fator de Crescimento Epidérmico (EGF), ceptores nas células de Sertoli provocando a pro-
dução de proteínas ligadas a andrógenos (ABP),
um polipeptídio de 53 aminoácidos, foi detec- conversão de testosterona a diidrotestosterona e
tado inicialmente em extratos da glândula estrógeno, estímulo da espermatocitogênese, ter-
submaxilar de camundongos. Este peptídio minação da liberação espermática (espermiação)
exerce potente ação mitogênica sobre uma e secreção de inibina. A inibina secretada na cor-
variedade de células epidérmicas e não rente sanguínea apresenta um efeito retrógrado
negativo sobre o FSH mas não sobre a secreção de
epidérmicas, tanto in vivo como in vitro. Re- LH. (De Kaltenback, C.C. e Dunn, T.G. (1980)
ceptores EGF específicos são encontrados em Endocrinology ofreproduction. In Reproduction in
células de Leydig em cultura, extratos Farm AnimaIs, 4th ed., E.S.E. Hafez (ed.).
membranosos testiculares e plasma seminal. Philadelphia, Lea & Febiger.)
Espermatozóide e Plasma Seminal 181

Embora uma atividade semelhante ao EGF As células de Sertoli e as células germi-


seja encontrada no tecido testicular e outras nativas regulam-se reciprocamente umas às
partes do trato reprodutivo masculino, pouco outras no tocante à secreção cíclica de proteí-
se conhece ainda sobre seu significado nas ao longo dos túbulos seminíferos. Este
fisiológio na reprodução masculina. processo é ampliado pela células mióides
Alguns dos fatores de crescimento envolvi- transformando os fatores de crescimento, os
dos com a regulação dos processos reprodu- moduladores humorais e modificação da ma-
tivos incluem o seguinte: triz extracelular. A ativina e a inibina,
secretadas pelas células de Sertoli, apresen-
EGF Fator de Crescimento tam marcantes características para gerar
Epidérmico uma série diversa de sintomas. A ativina,
FGF Fator de Crescimento potente liberador de FSH possui mecanismos
Fibroblástico parácrinos (hormônio inibidor do crescimen-
FRP Proteína Reguladora to e secreção adrenocorticotrófica) e
Folicular autócrinos (secreção estimulante de FSH). A
FSHBI Inibidor Carreador de FSH ativina e a inibina agem também dentro das
G-CSF Fator Estimulador de gônadas como moduladores autócrinos e
Colônias de Granulócitos parácrinos da produção de esteróides, de ou-
GM-CSF Fator Estimulador de tros hormônios e de fatores de crescimento.
Colônias de Macrófagos- O fator transformador do crescimento (TGF),
Granulócitos um peptídio multifuncional induzido em res-
IF Inibina F (Foliculostatina) posta a esteróides pode estar envolvido na
IGF Soro de Fator de regulação da função testicular. Peptídios
Crescimento Semelhante à endógenos opióides (EOPs) parecem ter uma
Insulina regulação autócrina e parácrina sobre a
LI Inibidor da Luteinização esteroidogênese e participam no controle
LS Estimulador da hormonal intratesticular da permeabilidade
Luteinização vascular. Dois grupos de compostos estão en-
MIS Substância Inibidora volvidos com a regulação do eixo hipotálamo-
Mülleriana hipófise-gonadal. Estes incluem (a)
NP-Ga GnRHa Neuropeptídios neurotransmissores, dopamina, serotonina e
NP-G~ GnRH~ Neuropeptídios norepinefrina e (b) opióides cerebrais e ou-
OFFP Peptídio do Fluido do tros peptídios. A timosina, hormônio do timo,
Folículo Ovariano é encontrada em concentrações mais baixas
PDGF Fator de Crescimento no plasma seminal de machos inférteis ou
Derivado de Plaquetas subférteis. Outros moduladores fisiológicos da
TGF Fator Transformador do proliferação celular como as chalonas influem
Crescimento sobre o ciclo celular do epitélio seminífero.
VIP Peptídio Intestinal Vasoativo
TRÂNSITO EPIDIDIMÁRIO, MATURAÇÃO
ESPERMÁTICA E ARMAZENAMENTO
A Substância Inibidora Mülleriana (MIS),
uma glicoproteína sintetizada e secretada Os espermatozóides são transportados do
pelas gônadas, exibe um padrão sexualmen- testículo por meio de um duto bastante eno-
te dimórfico de expressão. No testículo fetal, velado, que é o epidídimo (Fig.7-7). O
o MIS é produzido pelas células de Sertoli e epidídimo não apenas transporta os
provoca regressão do duto de Müller. No feto espermatozóides distalmente do testículo
feminino, o MIS inibe a meiose do oócito e para dentro do vaso deferente, como também,
bloqueia a degradação espontânea da vesícula durante este trânsito, eles sofrem um proces-
germina!. so de maturação no qual adquirem a habili-
182 Fisiologia da Reprodução

dade potencial de fertilizar os óvulos. Esta nados. O processo de maturação pelo qual os
maturação envolve várias modificações fun- espermatozóides do epidídimo atingem a ca-
cionais, incluindo o desenvolvimento da pacidade de motilidade progressiva parece
potencialidade para manter a motilidade, a implicar em modificações progressivas na fle-
progressiva perda de água, a migração distal xibilidade e nos padrões de movimento de seus
e a eventual perda da gota citoplasmática. A flagelos. Uma rápida progressão para a fren-
capacidade funcional das várias células te aparece primeiro no meio do corpo do
epiteliais que forram o epidídimo, e daqui sua epidídimo em poucos espermatozóides e tor-
influência sobre o processo de maturação na-se um padrão de motilidade predominan-
espermática, é mantida pelos andrógenos tes- te nos espermatozóides da cauda e vasos de-
ticulares. ferentes (Bedford, 1975).
Os componentes secretores das células
Mecanismos de Transporte epiteliais delineando o epidídimo, como a
"imobilina" em alguns animais de laborató-
A passagem dos espermatozóides através rio (Usselman e Cone, 1983) e o "fator
do epidídimo depende de contrações localiza- quiescente" no touro (Acott e Carr, 1984), pro-
das na parede do duto. Estas contrações, ob- vavelmente prolongam a sobrevivência
servadas in vitro nos epidídimos de ratos, espermática ao prevenir um metabolismo
podem ser estimuladas com prostaglandinas desnecessário. A motilidade protéica para di-
e progredir em uma direção a uma frequência ante parece ser importante para atingir uma
de cerca de três por minuto (Cosentino et aI., motilidade progressiva dos espermatozóides
1984). Os espermatozóides são transportados epididimários em bovinos (Acott et aI., 1983).
através dos epidídimos em cerca de 7 dias no O trânsito pelo epidídimo está associado a
touro, 12 dias no cachaço (Swierstra, 1968) e significantes modificações na cromatina do
16 dias no carneiro (Amann, 1981). O tempo núcleo espermático. Este complexo DNA-pro-
de trânsito pode ser reduzido em cerca de 10 teína, que era julgado relativamente inerte
a 20% com um aumento na frequência da após sua condensação durante as últimas fa-
ejaculação. Os elementos contráteis da pare- ses da espermatogênese, sofre uma redução
de do epidídimo apresentam diferenças re- qualitativa na reatividade à coloração de
gionais de tal modo que os componentes das Feulgen durante o trânsito pelo epidídimo
células musculares lisas aumentam progres- (Gledhill, 1971).
sivamente a partir da cauda do epidídimo Durante o trânsito epididimário, a gota
para o vaso deferente (Bedford, 1975). citoplasmática migra da região do colo para
uma posição próxima ao annulus. A presença
Maturação e Armazenamento de da gota em número considerável nos
Espermatozóides espermatozóides ejaculados é um sinal de
imaturidade.
As modificações funcionais que ocorrem du- Modificações associadas com a maturação
rante o trânsito dos espermatozóides pelo do acrossomo foram notadas na maioria das
epidídimo implicam na maturação de várias espécies durante a passagem pelo epidídimo.
e diferentes organelas celulares. Por exem- Embora ocorram marcantes modificações em
plo, o desenvolvimento da capacidade da pro- algumas espécies, aquelas pertinentes aos ani-
gressiva motilidade espermática reflete pro- mais domésticos são limitadas a sutis reduções
cessos de maturação associados com nas dimensões do acrossomo (Bedford, 1975).
modificações qualitativas e quantitativas nos
padrões metabólicos do aparelho flagelar. Desenvolvimento da Capacidade Potencial
Embora os espermatozóides maduros do Fertilizante no Epidídimo
epidídimo estejam em estado relativamente
quiescente, eles demonstram rapidamente Os espermatozóides desenvolvem sua ha-
seu caráter móvel quando retirados e exami- bilidade inicial de fertilizar os óvulos duran-
Espermatozóide e Plasma Seminal 183

te o transporte através dos epidídimos. Sua os espermatozóides não são preservados in-
capacidade fertilizante é considerada poten- definidamente.
cial pois eles devem sofrer a capacitação no
trato feminino antes que possam penetrar nos Destino dos Espermatozóides Não-Ejaculados
óvulos. Os espermatozóides testiculares são
inférteis mesmo quando inseminados em nú- A maioria dos espermatozóides não-
meros relativamente grandes (Setchell et aI., ejaculados são gradualmente eliminados por
1969). A falta de fertilidade dos esperma- excreção para a urina. Aqueles esperma-
tozóides da cabeça do epidídimo pode estar tozóides não eliminados na urina sofrem uma
relacionada à motilidade. Os esperma- gradual senescência. Primeiro eles perdem a
tozóides da cabeça do epidídimo apresentam habilidade de fertilização, depois a sua
ativos movimentos natatórios circulares, po- motilidade e finalmente desintegram-se.
rém são ainda incapazes de movimentos vi- Ejaculados obtidos após um prolongado des-
gorosos unidirecionais dos espermatozóides canso sexual usualmente contêm uma alta
que possuem habilidade de executar uma ro- porcentagem de espermatozóides em degene-
tação longitudinal. Modificações que ocorrem ração ou "velhos".
durante o transporte no epidídimo, tais como
o movimento e a perda da gota citoplasmática Destinos dos Espermatozóides no Trato
e ainda o aumento da gravidade específica são Reprodutivo Feminino
difíceis de interpretar sob o ponto de vista
funcional. Modificações na motilidade, na es- Vários mecanismos fisiológicos estão envol-
trutura da cromatina, na morfologia do vidos na locomoção dos espermatozóides no
acrossomo ou da membrana plasmática po- trato reprodutivo feminino. Em animais de
dem ser rapidamente interpretadas como pré- laboratório, o número de leucócitos
requisitos para o processo de fertilização. intraluminais aumenta abruptamente logo
O desenvolvimento da habilidade fertili- após o coito. Os leucócitos infiltrados
zante está associado com modificações em fagocitam os espermatozóides excedentes,
vários aspectos da integridade funcional dos removendo a maioria 20 horas após o coito.
espermatozóides: (a) desenvolvimento do po- Os espermatozóides são mais rapidamente re-
tencial para manter a motilidade progressi- movidos do útero se a fêmea tiver sido imu-
va, (b) alteração dos padrões metabólicos e a nizada previamente contra espermatozóides.
situação estrutural de específicas organelas Embora muitos espermatozóides sejam sim-
da cauda, (c) modificações na cromatina nu- plesmente eliminados pelo fluxo retrógrado
clear, (d) modificações na natureza da super- da vagina, a captação de espermatozóides
fície da membrana plasmática, (e) movimen- pelos fagócitos, ou espermiofagia é de um sig-
tação e perda da gota protoplasmática e (f) nificado fisiológico muito especial. A infiltra-
modificação, pelo menos em algumas espécies, ção de leucócitos dentro da luz uterina e sua
da forma do acrossomo (Bedford, 1975). ativação para ingerir espermatozóides em
seguida à cobertura, parece ser o principal
mecanismo para a remoção espermática da
Armazenamento de Espermatozóides cavidade uterina. (Koehler et aI., 1982). Os
espermatozóides dentro do útero são levados
O principal local de armazenamento de para dentro de vacúolos fagocitários e digeri-
espermatozóides dentro do trato reprodutivo dos pelos leucócitos.
masculino é a porção caudal ou cauda do
epidídimo. A cauda do epidídimo contém 70% PLASMA SEMINAL
do número total de espermatozóides nos dutos
prolongados, enquanto que o vaso deferente O significado funcional do plasma seminal
contém apenas 2% (Amann, 1981). Embora o é questionável uma vez que uma gestação
ambiente seja favorável à sua sobrevivência, pode ser induzi da em algumas espécies por
184 Fisiologia da Reprodução

inseminação com espermatozóides do IgA (Ablin, 1974), são constituintes do plas-


epidídimo. Ele, porém, parece ser um compo- ma seminal. Em adição, uma variedade de
nente essencial na monta natural porque ser- substâncias hormonais incluindo andrógenos,
ve como transporte e proteção para os estrógenos, prostaglandinas, FSH, LH, ma-
espermatozóides. A importância deste papel terial semelhante a gonadotrofina coriônica,
varia porque os espermatozóides são hormônio do crescimento, insulina, glucagon,
ejaculados diretamente no útero de algumas prolactina, relaxina, hormônios liberadores
espécies (por ex., porca e égua). O plasma se- da tireóide e encefalinas foram detectadas no
minal parece ser mais importante na cober-
tura natural de ovelhas e vacas em que o sê-
men é depositado na vagina.

GLÂNDULAS ACESSÓRIAS

A fonte dos constituintes do plasma semi-


nal varia com as espécies assim como o nú-
mero e tamanho dos órgãos acessórios.
A próstata, e as glândulas bulbouretrais e
vesiculares despejam suas secreções para
dentro da uretra onde na época da ejaculação,
são misturadas com a suspensão fluida dos
espermatozóides e com as secreções
ampolares dos dutos deferentes. Todas as
glândulas acessórias são lobulares e
ramificadas tubularmente com músculos li- GLÂNDULA GLÂNDULA
sos proeminentes dentro do tecido intersticial. VESICULAR VESICULAR
O plasma seminal é uma secreção compos-
ta de substâncias oriundas de uma série de
fontes incluindo os testículos, os epidídimos e
as glândulas acessórias do macho (Fig. 7-11).
A única glândula acessória comum a todos os
mamíferos é a próstata. Os epidídimos ou seus
análogos funcionais além dos vasos deferen- GLÂNDULA
tes são os únicos órgãos acessórios presentes BULBO-
em elementos masculinos de pássaros e rép- URETRAL
teis.

Constituintes Bioquímicos do Plasma


Seminal
SÊMEN
O plasma seminal contém não usualmente
FIG. 7-11. O sêmen ejaculado da maioria dos ani-
altos níveis de ácido cítrico, ergotioneína,
mais domésticos é composto de, além de um fluido
frutose, glicerilfosforilcolina e sorbitol (Tabe- testicular de pequena quantidade, contribuições
la 7-1). Quantidades apreciáveis de ácido de vários órgãos acessórios incluindo o epidídimo
ascórbico, ácidos graxos, aminoácidos, (CAPUT-CORPUS EPID e CAUDA EPID), glân-
peptídios, proteínas, lipídios e numerosas dulas ampolares (AMP), glândulas vesiculares,
glândula prostática e glândulas bulbouretrais. A
enzimas acham-se também presentes (White,
relativa contribuição das glândulas varia não so-
1980). Constituintes antimicrobianos incluin- mente entre espécies como também individualmen-
do seminalplasmina (Shivaji et aI., 1984) e te dentro de uma espécie e ainda entre ejaculações
imunoglobinas, principalmente a da classe do mesmo animal.
Espermatozóide e Plasma Seminal 185

plasma seminal (Mann e Lutwak-Mann, prostática são rapidamente detectáveis pelo


1981). reto. Todavia as glândulas bulbouretrais dos
Além de propiciar um veículo líquido para bovinos não são identificáveis por estarem
o transporte espermático, as funções das glân- recobertas por músculos. Em porcos, o tama-
dulas acessórias ainda não são totalmente nho das glândulas bulbouretrais pode ser usa-
compreendidas. Os espermatozóides da cau- do para diferenciar animais castrados dos
da do epidídimo são capazes de fertilizar óvu- criptorquídeos. Porcos castrados antes da
los sem a adição das secreções das glândulas puberdade apresentam pequenas glândulas
acessórias. Apenas alguns componentes bulbouretrais, com 5 cm de comprimento e
bioquímicos do sêmen podem ser utilizados pesando menos de uma grama. Suínos
comoindicadores de funções glandulares aces- criptorquídeos, todavia, possuem glândulas
sórias específicas. A frutose e o ácido cítrico de tamanho normal, com aproximadamente
são componentes importantes das secreções 10 cm de comprimento e pesando 45 gramas.
glandulares vesiculares em ruminantes. O
ácido cítrico é encontrado sozinho nas glân-
dulas vesiculares de cavalos, enquanto que METABOLISMO ESPERMÁTICO
as glândulas vesiculares do porco apresentam
pouca frutose, mas são caracterizadas por um O caráter móvel dos espermatozóides pro-
alto conteúdo de ergotioneína e inositol. A picia um método bastante fácil de avaliar o
glicerilfosforilcolina é um componente distinto seu estado fisiológico. Amotilidade porém, por
da secreção epididimária. A ergotioneína é si própria não é um método seguro de predi-
uma característica singular das glândulas zer a sua capacidade fertilizante potencial. A
ampolares no cavalo. A fração gel do ejaculado energia requerida para a motilidade deriva
do porco forma um tampão na vagina e no aparentemente de depósitos intracelulares de
útero de porcas acasaladas. Esta fração ge- ATP. O uso do ATP parece ser regulado pelo
ralmente é removida do sêmen por filtração nível endógeno de monofosfato de adenosina
antes de ser utilizada na prática da insemi- cíclico (cAMP). O cAMP não apenas regula a
nação comercial. O cavalo também produz degradação doATP, mas tem também umefei-
uma fração substancial de gel durante a es- to direto sobre a motilidade espermática. Este
tação da primavera. efeito complexo do cAMP sobre a motilidade
As glândulas acessórias do touro e do ca- espermática foi demonstrado in vitro seja pela
valo podem ser palpadas pelo reto. No touro, adição aos espermatozóides de dibutiril cAMP
as vesículas seminais e o corpo da glândula ou inibidores como as metilxantinas que blo-

TABELA 7-2. Idade, Peso e Características Seminais na Primeira Cobertura


Volume do Concentração
Ejaculado Espermática
Início da Vida Reprodutiva (ml) (108 por ml)
Espécie Idade (Meses) Peso Corpóreo Variação Variação
Varrão 5-8 250 kg 100-150 0,1-0,2
Touro 12-14 500 kg 3-5 0,8-1,2
Carneiro 6-8 Varia 0,3-1,0 1,2-2,0
Garanhão 20-24 500 kg 50-100 0,1-1,5
Galo 4-6 Varia 0,10-0,3 50-90
Gato 9 3,5 kg 0,01-0,3 1,5-28
Cão 10-12 Varia 2-25 0,6-5,4
Cobaia 3-5 450 g 0,4-0,8 0,05-0,2
Coelho 4-12 Varia 0,4-0,6 0,5-3,5

(Adaptado de Foote, 1980; Garner & Hafez, 1986; Hamner, 1970).


186 Fisiologia da Reprodução

TABELA 7-3. Avaliação do Sêmen Relacionada à Infertilidade Sem Explicação


Avaliação inicial Padrões de motilidade e concentração Componentes do plasma seminal
Agregação e aglutinação Contaminantes microbiológicos
Restos celulares e outros componentes
celulares

Motilidade espermática Padrões de motilidade espermática Tempo de duração da motilidade (% de


espermatozóides móveis)
Avaliação computadorizada da Movimentos progressivamente móveis e
motilidade espermática vibráteis, circulares e rolantes,
movimentos rápidos, rotacionais,
cabeças asssimétricas e/ou flagelos.
Movimentos patológicos (circulares,
oscilatórios, estremecidos), motilidade
tipo açoite com pequeno raio de ação.
Motilidade dentro de raios moderados de
cerca de 20 m
Curvilíneo
Padrão de marcha progressiva 4-6 horas
após a colheita; 24 horas após a colheita.

Componentes celulares não Leucócitos


espermáticos Eritrócitos
Células epiteliais
Células arredondadas, formação de
medusa

Integridade espermática e Zona livre do ovo de hamster Bovino, humano, in vivo, in vitro.
fertilização Ensaio da hemizona Defesa imunológica
Penetração no muco cervical

TABELA 7-4. Manipulação do Espermatozóide In Vitro


Técnica Procedimento Análise Racional
Lavagem espermática Meio de Ham modificado F-10, solução Ejaculação retrógrada
salina de Tyrode, ou outros meios Sêmen criopreservado e baixa motilidade
isotônicos, pré-aquecidos e filtrados espermática
antes da utilização Oligozoospermia
Presença de anticorpos antiespermáticos
Sentido natatório dos Patologias espermáticas, aumento Motilidade diminuída
espermatozóides para de leucócitos
cima

Sentido natatório para Contagem espermática racional o ligozoospermia


baixo Qualidade espermática aumentada
Aditivos do sêmen Arginina, heparina, ionóforo PGE1 e PGE2

Modo de ação dos aditivos Estabiliza a membrana espermática Aumenta a motilidade espermática
Inicia a capacitação

Manipulação do sêmen Sentidos natatórios para cima e para Possível separação dos espermatozóides Xe
para IVF baixo Y
Capacitação in vitro Criopreservação

Micromanipulação do Microfertilização Micromanipuladores utilizados para


espermatozóide introduzir um ou mais espermatozóides
na vesícula pró-nuclear do óvulo; sob a
zona pelúcida
Microinseminação Transferência espermática múltipla usando
perfuração da zona para transferência do
espermatozóide
Distribuição do fluxo Distribuição viva dos espermatozóides X e Y
IVF = Fertilização in vitro.
Espermatozóide e Plasma Seminal 187

-
~
Cauda
(Peça Principal)
Cabeça ~
~ ~

Ligação imuno anti-IgA Ligação IgA sobre a cauda Ligação IgG sobre a cabeça Ligação imuno anti-IgG

FIG. 7-12. Desenho esquemático do teste de captação imunológica para detecção de anticorpos
antiespermatozóides. Anti-IgAou anti-IgG ligados por covalência aos grânulos de poliacrilamida unem-
se ao IgA ou IgG presos à superfície espermática. A quantidade de anticorpos antiespermáticos é deter-
minada pelo número de grânulos ligados à superfície espermática. (Bronson, 1990.)

queiam a degradação intracelular normal do da frutólise de açúcares para fornecer dióxido


cAMP (Hoskins e Casillas, 1973). de carbono e água (Mann,1975). Esta via
Embora os espermatozóides não possuam oxidativa, localizada nas mitocôndrias, é con-
muitas das organelas associadas com o pro- sideravelmente mais eficiente na produção de
cesso metabólico, eles são ativos metabolica- energia do que a frutólise. Usando estes pro-
mente porque possuem as enzimas necessá- cessos catabólicos, os espermatozóides conver-
rias para produzir as reações bioquímicas da tem a maior parte de energia em ATE Embo-
glicólise (ciclo de Embden-Meyerhof), o ciclo ra muito do ATP seja utilizado no processo de
ácido tricarboxílico, a oxidação ácido graxo, o consumo de energia para a motilidade, algum
transporte eletrônico e possivelmente o des- é usado para manter a integridade dos pro-
vio monofosfato hexose (Mann, 1975). cessos de transporte ativo das membranas
espermáticas. Estes processos de transportes
Glicólise ativos impedem a perda de componentes
--"'"
iônicos vitais das células espermáticas. Na
Sob condições anaeróbias - i.é, na ausência ausência de substrato exógeno, os esperma-
de oxigênio - os espermatozóides degradam a tozóides utilizam seus depósitos intrace-
glicose, a frutose ou a manos e em ácido lático. lulares de plasmalogênio para fornecer ener-
Esta atividade glicolítica - ou mais correta- gia por um curto período de tempo (White,
mente, atividade frutolítica porque a frutose 1980).
é o principal açúcar animal - permite que os
espermatozóides sobrevivam sob condições
anaeróbias. Esta característica é importante ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DOS
durante o armazenamento dos ESPERMATOZÓIDES
espermatozóides para a utilização na
inseminção artificial. Antigenicidade dos Espermatozóides

Respiração Uma importante função da barreira san-


guíneo-testicular é a isolação imunológica do
Os espermatozóides utilizam-se de uma desenvolvimento dos gametas. É importante
variedade de substratos na presença de oxi- que os espermatócitos, espermátidas, e
gênio. A atividade respiratória propicia o meio espermatozóides sejam realmente reconhe-
de utilizar o lactato ou o piruvato resultante cidos como células estranhas pelo sistema
188 Fisiologia da Reprodução

imune dos machos adultos. Entretanto, o afas- tados usando ligações imunológicas com
tamento de células germinativas em desen- antiglobulinas radiomar-cadas ou então uti-
volvimento atrás de uma barreira lizando a imobilização espermática ou ensai-
imunológica previne um macho adulto de de- os de aglutinação (Fig.7-12).
senvolver anticorpos contra sua própria cé- Anticorpos antiespermáticos podem inter-
lula espermática. ferir com as funções espermáticas através de
várias vias (Bronson, 1990 ):
Auto-imunidade
1. Os anticorpos podem interferir com vá-
A imunização de um macho contra rios processos interativos de célula para
espermatozóides ou antígenos espermáticos célula, incluindo a capacitação
isolados resulta em variáveis graus de espermática e a hiperativação, a liga-
orquites auto-imunes (inflamação do testícu- ção espermática à massa do cumulus
lo) e na interrupção da espermatogênese oophorus, a reação do acrossomo e a pe-
(Setchell, 1980). Danos provocados na barrei- netração da zona pelúcida.
ra sanguíneo-testicular ou na porção 2. Anticorpos ligados à superfície
epididimal do sistema duto-excretor por le- espermática podem inibir a sobrevivên-
são traumática ou infecção, frequentemente cia e a penetração do muco cervical.
resultam em orquite auto-imune afetando 3. Auto-anticorpos dos espermatozóides
ambos os testículos. A vasectomia, transecção podem interferir com a esperma-
e ligação dos vasos deferentes, também re- togênese.
sulta em vários graus de orquite auto-imune. As quantidades de imunoglobulinas liga-
A gravidade das orquites depende das espé- das aos espermatozóides ejaculados de-
cies e do tempo pós-operatório. A resposta pendem de vários mecanismos:
auto-imune de machos vasectomizados é tida 1. A concentração de anticorpos antiesper-
como consequência de distensões intermiten- matozóides nas secreções das glându-
tes e a ruptura de dutos que foram ligados las acessórias masculinas.
resulta na liberação de espermatozóides den- 2. Produção local de anticorpos compara-
tro da cavidade peritoneal. dos com a transudação do sangue.
Como resultado de auto-imunidade, a con- 3. Ligação de anticorpos aos esperma-
centração de anticorpos antiespermatozóides tozóides no epidídimo antes da ejacu-
no fluido seminal pode estar alta. Os lação versus o que ocorre quando os
anticorpos são transportad~para o sêmen espermatozóides são misturados com
do plasma sanguíneo nas secreções das fluido seminal.
vesículas seminais e próstata. Estes 4. Tempo decorrido desde a última
anticorpos, entretanto, não podem entrar nos ejaculação.
túbulos seminíferos por causa da barreira 5. Afinidade do anticorpo à superfície
sanguíneo-testicular. Entretanto, machos com espermática.
túbulos seminíferos histologicamente normais
podem ser inférteis como resultado de danos
pelos anticorpos no fluido seminal. Células AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO SÊMEN
espermáticas que ligam anticorpos sobre sua IN VITRO
superfície podem reter sua motilidade mas ser
incapazes para penetrar no muco cervical. Os Os machos devem ser avaliados quanto a
anticorpos antiespermatozóides podem resul- qualidade seminal antes de serem utilizados
tar em aglutinação de espermatozóides e for- como reprodutores (Tabela 7-2). Uma vez co-
mação de grandes massas. Anticorpos dirigi- lhido o sêmen, vários métodos podem ser usa-
dos contra antígenos de espermatozóides dos para avaliar a qualidade da amostra. Téc-
obviamente podem influenciar a fertilidade nicas clássicas de avaliação de sêmen, assim
no macho. Estes anticorpos podem ser detec- como as novas tecnologias automatizadas
Espermatozóide e Plasma Seminal 189

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8
FERTILIZAÇÃO, CLIVAGEM E IMPLANTAÇÃO
F.W.BAZER, RD. GEISERT e M.T. ZAVY

FERTILIZAÇÃO Capacitação. Chang (1951) e Austin


(1951) foram os primeiros a observar que os
Maturação do Óvulo espermatozóides devem permanecer no trato
reprodutivo feminino antes de tornarem-se
O óvulo resume o processo da meios e desde capazes de se unirem e penetrarem no óvulo.
a prófase I da primeira divisão meiótica assim Este processo foi denominado capacitação
que ele começa a sofrer maturação durante a espermática e acredita-se que se inicie no úte-
foliculogênese. Na maioria das espécies o ro; todavia, o principal local da capacitação
óvulo está na metáfase II da segunda divisão parece ser a trompa, especificamente, a re-
meiótica quando ovulado; contudo, os óvulos gião do istmo. Os componentes da superfície
de éguas, cadelas e raposas, no momento da espermática podem ser modificados ou remo-
ovulação, estão em apenas sua primeira vidos pelas secreções do trato genital, provo-
divisão meiótica. A maturação ovular e a cando a desestabilização da bicamada
meiose não estão completas até depois da fosfolipídica, permitindo a ativação
fertilização, quando o óvulo torna-se um acrossômica. Tais modificações podem incluir
zigoto. depleção do colesterol espermático na super-
fície, alterações nas glicosaminoglicans e
Maturação Espermática modificações iônicas à medida que os
espermatozóides atravessam o trato genital
Os espermatozóides requerem modificações (Fig. 8-1). A capacitação acarreta modifica-
de maturação que ocorrem durante a passa- ções no acrossomo necessárias para a pene-
gem de 10 a 15 dias através do epidídimo, tração do espermatozóide no óvulo. Por este
depois do que torna-se possível a fertilização. motivo, as funções da capacitação previnem
As modificações de maturação dos esperma- a ativação prematura do acrossomo até que o
tozóides dependem das secreções espermatozóide atinja o local da fertilização
epididimárias e do tempo de transporte, que entrando em contato com o óvulo. A verda-
são essenciais para que os espermatozóides deira reação do acrossomo envolve a fusão da
fertilizem o óvulo. A maturação espermática membrana plasmática espermática com a
é um dos três eventos que os espermatozóides membrana externa do acrossomo (Fig. 8-2)
sofrem antes que a fertilização possa ser efe- seguida por uma extensa vesiculação sobre o
tuada. Embora essencial, a capacitação segmento anterior do acrossomo (Bedford,
espermática e a reação acrossômica são dois 1983). Isto difere da "falsa" reação do
eventos separados necessários para a fusão acrossomo que ocorre durante a senescência
espermatozóide-óvulo. ou degeneração dos espermatozóides. A fusão
191
192 Fisiologia da Reprodução

Baixos níveis de coles te rol e


glicosaminoglicans com a presença de cálcio
propiciando ambiente para a ativação do
acrossomo
OVÁRIO

Q TROMPA
Armazenamento
espermatozóides
de
no
istmo
Incubação de espermatozóides com plasma
seminal recoloca a cobertura superficial
DECAPACITAÇÃO /-------

~
l
~
------- CAPACITAÇÃO
Remoção de colesterol,
SÊMEN EJACULADO .: ~ glicosaminoglicans e outros
Com altos níveis de constituintes da superfície
MUCO CERVICAL
colesterol, celular
glicosaminoglicans e Remoção do plasma
outros constituintes do seminal e
SECREÇÕES UTERINAS
plasma seminal espermatozóides
imóveis Sob domínio estrogênico
contribui na remoção dos
componentes da superfície
celular
FIG. 8-1. Eventos da capacitação espermática durante o transporte pelo trato genital feminino.
(Desenhado pelo Dr. Geisert.)
,--,
Saliência Apical
Membrana Plasmática
Membrana Externa do
Acrossomo
Acrossomo

Membrana Interna
do Acrossomo
. 'I
Segmento
Equatorial

Região Pós-
Acrossomo

A 8 c
FIG. 8-2. Sequência de eventos durante a reação do acrossomo em espermatozóides de mamíferos. A,
Plasma intacto e membrana do acrossomo de um espermatozóide sem reação. B, Início da reação do
acrossomo mostrando múltiplos pontos de fusão entre a membrana plasmática e membrana externa do
acrossomo. A fusão toma uma aparência de numerosas vesículas sobre a superfície celular. Notar que a
fusão está ausente nas regiões equatoriais e pós-acrossomo. As enzimas acrossômicas envolvidas na
penetração ovular são liberadas e demonstradas na membrana intema do acrossomo. C, O acrossomo
aumenta de tamanho e pode eventualmente ser perdido durante a penetração da zona pelúcida, deixando
apenas a membrana interna do acrosssomo exposta na porção superior da cabeça do espermatozóide.
(Adaptado de RG. Saacke e J.M.White, (1972) Proc. 4th Tech. Conf. A. L and Reprod., Trinto, Italy pp.
22-27.)
Fertilização, Clivagem e Implantação 193

TABELA 8-1. Horário dos Eventos no Início do Desenvolvimento Embrionário


Espécies
Parâmetro Bovino Equino Ovino Suíno

Longevidade do Gameta (horas)


Ij:spermatozóide 30-48 72-120 30-48 34-72
Ovulo 20-24 6-8 16-24 8-10

Desenvolvimento Embrionário (dias)*


2 células 1 1 1 6-8
4 células 1,5 1,5 1,3 1
8 células 3 3 1,5 2,5
Blastocisto 7-8 6 6-7 5-6
Incubação 9-11 8 7-8 6

Transporte do blastocisto ao útero


Horas 72-84 140-144t 66-72 46-48
Estágio celular 8-16 Blastocisto 8-16 4

Prolongamento do blastocisto
(dias) 13-21 NEt 11-16 11-15

Placentação inicial (dias) 22 37 15 13

Nascimento (dias) 278-290 335-345 145-155 112-115

* Dias após a ovulação


t Óvulos não fertilizados permanecem nas trompas.
* Não ocorre prolongamento para formar blastocistos.

e a vesiculação do acrossomo libera enzimas espermatozóides estiverem presentes na


hidrolíticas, por ex., hialuronidase e acro-sina trompa logo antes da ovulação. Inseminações
envolvidas na penetração do óvulo. muito precoces reduzem os índices de concep-
ção, resultantes da perda da viabilidade
Interação dos Espermatozóides e dos espermática e do número de espermatozóides
Óvulos no local da fertilização, enquanto que a per-
da da viabilidade do óvulo pode resultar da
A vida fértil dos espermatozóides e dos óvu- inseminação após a ovulação, mesmo que
los (Tabela 8-1) impõe sincronismo entre ocorra fertilização.
inseminação e ovulação a fim de atingir altos Embora o reprodutor ejacule bilhões de
níveis de concepção. As fêmeas ovulam em espermatozóides no trato reprodutivo femi-
tempos variados após o início do cio. A nino, aproximadamente 1.000 a 10.000 estão
longevidade dos espermatozóides no trato presentes no istmo e apenas 10 a 100
reprodutivo feminino parece relacionada à espermatozóides poderão estar na ampola
duração do cio. Por exemplo, espermatozóides após 4 a 12 horas. Pequeno número de
de suínos e equinos apresentam uma espermatozóides na trompa não resulta de
longevidade maior do que dos carneiros e tou- transporte lento, mas sim de um movimento
ros. A longevidade dos espermatozóides no controlado dentro da ampola pela junção úte-
porco e no cavalo aumenta a probabilidade ro-tubárica e mais baixo no istmo (na porca),
dos espermatozóides estarem viáveis no mo- assim como de seu movimento da vagina e
mento da ovulação, mesmo que a inseminação cérvice para dentro do útero (em ruminan-
tenha ocorrido antes do evento. Independen- tes). Esta relação regula o número de
temente do momento da ovulação, altos índi- espermatozóides no local da fertilização (pre-
ces de concepção podem ocorrer se os venindo a polispermia), enquanto que propi-
194 Fisiologia da Reprodução

cia um reservatório espermático a fim de ga- um papel secundário no encontro


rantir que espermatozóides capacitados este- espermatozóide-óvulo desde que contrações
jam presentes até a ovulação. peristálticas da ampola aumentem a chance
A habilidade do espermatozóide em aderir de contato entre o óvulo e o espermatozóide
e liberar-se do delineamento epitelial da am- (Yanagamachi, 1981). Embora necessário em
pola pode auxiliar no sentido de manter nú- roedores, o papel das células do cumulus
meros adequados de espermatozóides no lo- oophorus na união espermática tem sido de-
cal da fertilização (Suarez et aI., 1990). batido em animais domésticos (especialmen-
Quando presentes na ampola, os esperma- te na vaca), já que elas usualmente estão au-
tozóides tornam-se superativados, o que au- sentes 3 a 4 horas após a ovulação. A
menta a probabilidade de seu contato com o hialuronidase, presente no acrossomo do tou-
óvulo. Muito embora a completa atuação da ro, permite a penetração do cumulus
trompa e de seus conteúdos luminais no sen- oophorus. A arilsulfatase do acrossomo de
tido de assegurar a fertilização não estejam suínos também provoca a dispersão das célu-
suficientemente claros, o processo é eficiente las do cumulus oophorus. Por este motivo, as
uma vez que os níveis de fertilização em to- enzimas necessárias para a penetração ou
das as espécies domésticas excedem a 90%. dispersão do cumulus oophorus estão presen-
Encontro Espermatozóide-Oócito. A tes nestas espécies.
fertilização em mamíferos requer três even- União Espermática. A união da cabeça
tos críticos: (a) migração espermática entre espermática à zona pelúcida parece ser regida
as células do cumulus oophorus (se presen- por locais receptores da superfície. O trata-
tes); (b) união espermática e migração atra- mento de óvulos anticorpos antizona ou a
vés da zona pelúcida e (c) fusão das membra- enzima proteolítica tripsina bloqueiam a
nas plasmáticas do espermatozóide e do óvulo. união dos espermatozóides ou a zona pelúcida
Existem evidências de que uma substân- (Fig. 8-3). A união dos espermatozóides à zona
cia produzida pelo cumulus oophorus de óvu- pelúcida pode também ser inibida pelo pré-
los de coelhas pode estimular a motilidade tratamento dos espermatozóides com
espermática. Este fator pode desempenhar anticorpos antiespermáticos ou glicoproteínas

FERTILIZAÇÃO IN
VITRO
RECEPTORES ESPERMÁTICOS

FIG. 8-3.AproteínaZP3 na zona


pelúcida é o receptor espermático.
A exposição dos espermatozóides
a óvulos não fertilizados resulta
na ligação dos espermatozóides
ao ZP3 (acima). No ensaio compe-
ESPERMATOZÓIDE ÓVULO NÃO
titivo (abaixo) os espermato-
LIGAÇÃO, LEVANDO Ã zóides são incubados com ZP3 de
FERTILIZADO FERTILIZAÇÃO
início e depois expostos aos
ENSAIO óvulos; contudo, os espermato-
COMPETITIV e zóides não são capazes de ligar-
ee
:.ee ..,
""J!Io
.e .
.
,--iI>
e. . e e e
se às proteínas do ZP3 na zona
pelúcida porque as suas proteínas
de ZP3 já estão ocupadas
(bloqueadas) pelo ZP3 livre ao
RECEPTORES LIVRES qual os espermatozóides foram
introduzidos antes da introdução
AUSÊNCIA DE LIGAÇÕES aos óvulos. (Reprodução de Paul
M. Wassarman (1988). Scientific
American December, p.83).
Fertilização, Clivagem e Implantação 195

extraídas da zona pelúcida. Por este motivo, Desde há muito a acrosina foi considerada
anticorpos aos espermatozóides ou à zona como zona essencial de lise para a penetra-
pelúcida, bloqueiam ou mascaram os locais ção espermática, porém o número de enzimas
receptores espermáticos nos espermatozóides presentes ou ligadas à membrana do
e nas superfícies da zona. acrossomo sugere que uma combinação de
O receptor espermático específico na zona enzimas atue sinergicamente durante a pe-
pelúcida foi identificado como uma das três netração. Este fato é consistente com a estru-
principais glicoproteínas que formam a ma- tura heterogênea glicoprotéica da zona
triz extracelular da zona pelúcida. As três pelúcida. As enzimas expelidas durante a rea-
glicoproteínas, identifica das como ZP1, ZP2 ção do acrossomo são necessárias para a pas-
e ZP3 são sintetizadas por oócitos em sagem dos espermatozóides através da zona,
maturação, e embora exista variação entre contudo a motilidade espermática também é
estas proteínas, elas parecem estar presen- necessária (Yanagimachi, 1981). Assim que os
tes em todas as espécies de mamíferos. As espermatozóides capacitados iniciam a pene-
funções ZP3 agem como receptores tração da zona pelúcida, a glicoproteína ZP2
espermáticos aos quais apenas espermato- pode servir como um receptor espermático
zóides com acrossomos intactos podem se li- secundário para manter a união espermática
gar. A ligação de espermatozóides aos recep- durante a passagem através da zona.
tores espermáticos ocorre através de uma Fusão dos Garnetas. A membrana
interação com oligossacarídeos O-ligados no vitelina pode apresentar menos especificidade
ZP3. A presença de glicosil transferase, do que a zona pelúcida em carregar
preoteinases, e glicosidades na membrana espermatozóides estranhos; contudo, é apa-
plasmática que recobre a cabeça do rente certo grau de seletividade uma vez que
espermatozóide pode resultar na ligação ao a membrana citoplasmática do óvulo vai pro-
ZP3 através de um mecanismo de bloqueio curar unir competitivamente mais
como se fosse aquele de uma enzima e seu espermatozóides homólogos.
substrato (Wassarman, 1990). A reação do acrossomo é um pré-requisito
Penetração Espermática. A penetração para a fusão entre as membranas plasmáticas
da zona pelos espermatozóides ocorre dentro do óvulo e do espermatozóide. A zona livre do
de 5 a 15 minutos após a união do esperma- óvulo não pode sofrer fusão com esperma-
tozóide. A reação do acrossomo pode ocorrer tozóides ativados sem acrossomo mesmo que
antes ou depois da união da cabeça do ocorra uma união sobre a superfície da mem-
espermatozóide aos receptores glicoprotéicos brana. A ativação do acrossomo in vivo, toda-
da zona, porém um espermatozóide com o via, ocorre na época da união espermática e
acrossomo intacto é esssencial para a união. penetração da zona. Uma vez que o
A ligação da cabeça espermática à ZP3 per- espermatozóide tenha atravessado a zona
mite interações com outras zonas componen- pelúcida, a cabeça move-se para dentro do
tes que estimulam a ativação do acrossomo. espaço vitelino e entra em contato com a mem-
A reação do acrossomo permite a liberação de brana vitelina (Fig.8-4). A motilidade da cau-
zona lisina pela qual os espermatozóides di- da do espermatozóide impulsiona-o para den-
gerem uma abertura através da zona pelúcida tro do espaço vitelino, circundando a
para atingir a membrana vitelina. O membrana vitelina dentro da zona pelúcida.
acrossomo de mamíferos contém enzimas A membrana vitelina é recoberta por den-
como a hialuronidase, a proacrosina (uma for- sa microvilosidade, exceto em uma área ele-
ma inativa da acrosina), esterases, fosfolipase vada adjacente à ~;uperfície onde o segundo
A2, fosfatases ácidas, aril-fosfatases, j3-N- corpúsculo polar será eliminado após a ferti-
acetil glucosaminidase, aril amidase e lização. A união espermática é raramente
proteinases ácidas não específicas; todavia, observada nesta área da membrana vitelina.
diferenças qualitativas e quantitativas exis- A ligação do espermatozóide ocorre inicial-
tem entre as espécies. mente no segmento equatorial da cabeça seja
196 Fisiologia da Reprodução

o
Zona pelúcida
sobre o segmento equatorial e região pós-
Membran .o . Cumulus OOPhorU ': .o . acrossomal da cabeça espermática. Subse-
Vltelma .
. Espaço
{Q) quentemente, a superfície da região equato-
~
Divisão
.
~
. .
perivitelínico

Corpúsculo polar
livre
Q .
.
.
rial do espermatozóide
membrana plasmática
é incorporada
do óvulo. A região
na

nuclear equatorial da membrana plasmática do


secundária
espermatozóide torna-se entremesclada com
a membrana plasmática do óvulo e pode ser

~ -Q

Segundo
identificada na membrana ovular até o está-
gio de oito células.
Bloqueio à Polispermia. Imediatamen-
te após a fertilização, a superfície do ovo mo-
difica-se para impedir a fusão de
corpúsculo
polar espermatozóides adicionais. Quando falha

g
COrpÚSCUIO
polar Pró_nÚcleo
este mecanismo, pode resultar em fertiliza-
!;' expulso Q? ". femíníno
Pró-núcleo ção polispérmica com formação de embriões
Descondensação da masculíno
Ecabeça espermática F poliplóides (Hunter, 1976) que sofrem morta-
lidade embrionária ou desenvolvimento anor-
mal. O bloqueio à polispermia se dá na zona
pelúcida na maioria dos mamíferos (por ex.,
~
~ ~ -~
H
ovinos, suínos) com um bloqueio fisiológico
secundário na membrana vitelina em algu-
mas espécies (por ex., coelhos). O início do
bloqueio está na penetração espermática do
óvulo quando os grânulos corticais são libe-
FIG. 8.4. Fases durante a fertilização. A, O
rados dentro do espaço perivitelínico. A libe-
espermatozóide encontra de início e penetra o
cumulus oophorus. O primeiro corpúsculo polar ração do conteúdo destes grânulos resulta em
está presente no espaço perivitelino com o fuso extensa reorganização da zona pelúcida e/ou
metafásico do oócito secundário presente no superfície vitelínica referida como "reação
cito plasma. B, O espermatozóide, sob ativação cortical". A reação cortical resulta na libera-
acrossômica, e membrana interna do acrossomo
ção de enzimas que provocam endurecimen-
contatando a zona pelúcida, onde as enzimas
expostas na superfície da membrana, permite a to da zona pelúcida e inativação de recepto-
,~ penetração no espaço perivitelino (C e D). E, A res espermáticos (ZP3). A digestão enzimática
região equatorial da cabeça espermática liga-se dos oligossacarídeos O-ligados sobre o ZP3
com a membrana vitelina estimulando a realização removem os carboidratos específicos na zona
da segunda divisão meiótica. F, O grande pró- de ligação dos espermatozóides. A proteólise
núcleo masculino e o menor pró-núcleo feminino
formam-se em seguida a extrusão do segundo de ZP2 pode também alterar as característi-
corpúsculo polar. G, O pró-núcleo migra para o cas físicas da zona para prevenir outras pe-
centro do oócito, onde o envelope nuclear se netrações de espermatozóides acessórios.
dispersa e inicia-se a divisão da primeira mitose Embora a polispermia fisiológica seja co-
da prófase (F). Adaptado de McLaren, A. (1980). mum em pássaros e répteis, a incidência de
In Reproduction in Farm AnimaIs 4th Ed.,
E.S.E.Hafez (ed.) Philadelphia, Lea & Febiger, p. polispermia na maioria das espécies
229.) mamíferas é de apenas 1 ou 2% (McLaren,
1974). O suíno parece mais suscetível à
polispermia, especialmente em consequência
com as microvilosidades ou com a área de de coberturas atrasadas ou de inseminações
intervilosidades da membrana vitelina. A fu- quando acima de 15% dos óvulos são pene-
são do espermatozóide e do óvulo não envol- trados por mais de um espermatozóide. Em
ve a membrana acrossomal interna da região ovelhas, Killeen e Moore (1970), descobriram
anterior, mas sim a membrana plasmática que a inseminação mais tardia, i.é, 36 a 48
Fertilização, Clivagem e Implantação 197

horas após o início do cio estava associada com tozóide são liberados dentro do ooplasma. A
ovos anormalmente fertilizados, nos quais importância e o destino destes produtos
39% eram polispérmicos ou contendo espermáticos são desconhecidos. O centríolo
blastômeros multinucleares. proximal da cauda espermática forma um dos
Desenvolvimento de Pró-núcleos e centríolos do zigoto. Embora, em teoria seja
Singamia. Na penetração da membrana possível, tentativas de produzir diplóides
vitelínica pelo espermatozóide, o ovo ativado homozigotos em camundongos (dois pró-nú-
completa a meiose e expele o primeiro e/ou cleos masculinos ou femininos) não obtiveram
segundo corpúsculo polar dentro do espaço sucesso (Surani e Barton, 1983). Parecem
perivitelino (Fig. 8-4). Os cromossomos necessárias para um desenvolvimento embri-
haplóides maternos remanescentes são então onário normal contribuições de ambos, o pró-
englobados por um pró-núcleo. núcleo masculino e o feminino.
Após a fusão com a membrana plasmática Fertilização Interespécies. A fertiliza-
do ovo, o envelope nuclear do espermatozóide ção interespécies foi demonstrada apenas
desintegra-se e a cromatina liberada passa entre a lebre das neves e o coelho, visão e fu-
por uma descondensação (Fig. 8-4). O envelo- rão, ovino e caprino e cavalo e jumento. Além
pe nuclear dos espermatozóides é rapidamen- disso, Bos taurus e Bos indicus, bovinos do-
te substituído por um novo envelope dentro mésticos Europeus e Asiáticos, produzem com
do citoplasma do ovo, formando o pró-núcleo rapidez híbridos férteis que demonstram
masculino. A descondensação do envelope maior resistência a doenças e tolerância ao
nuclear espermático parece requerer compo- calor do que o Bos taurus. Bovinos domésti-
nentes específicos no citoplasma do ovo. cos e o Bisão Americano (Bison bison) tam-
Oócitos imaturos de vacas são incapazes de bém têm sido cruzados com sucesso no senti-
descondensar os núcleos espermáticos mes- do de produzir um híbrido com superior
mo quando forem amadurecidos in vitro. O resistência ao frio e maior capacidade de uti-
fator necessário para a descondensação foi lização de forragens. Pode ocorrer falha no
denominado de fator do crescimento pró-nu- processo de hibridização durante a fertiliza-
clear masculino ou, no hamster, fator de ção e/ou clivagem de modo que a fertilização
descondensamento nuclear dos esperma- interespécies torna-se rara. O desenvolvimen-
tozóides. to dos métodos de colheita de sêmen e de óvu-
Pró-núcleos masculinos e femininos mi- los acrescidos das técnicas de fertilização in
gram para o centro do ovo, o que é devido pro- vitro permitem que estes problemas sejam
vavelmente aos rearranjos na estrutura contornados. Resultados com a utilização des-
citoesquelética do ovo após a ativação. Estan- tas técnicas indicam que a partir do momen-
do os pró-núcleos masculinos e femininos su- to das divisões iniciais de clivagem para a for-
ficientemente próximos, os envelopes nuclea- mação de blastocistos, o ovo de mamífero é
res se dispersam, permitindo a integração dos tolerante a um ambiente estranho. Depois
cromossomos. disto, os híbridos sucumbem, indicando sua
Associada com estes eventos está a inicia- dependência por condições altamente especí-
ção da síntese de DNA a partir dos precurso- ficas durante o período pós-blastocisto.
res citoplasmáticos. Então os cromossomos Quando se demonstra uma hibridização
agregam-se em prófase da primeira divisão satisfatória, existem marcantes diferenças no
de clivagem, resultando na formação de um sucesso de cruzamentos recíprocos de modo
zigoto e na restauração do estado diplóide. que um alto nível de fertilização é possível
Assim, o processo de fertilização permite uma em uma direção, porém não em outra; i. é,
combinação dos elementos hereditários ma- um macho lebre das neves e uma coelha ob-
ternos e paternos. têm sucesso, porém uma fêmea lebre das ne-
Durante a fusão do espermatozóide e do ves e um coelho diminuem grandemente esta
óvulo, os constituintes espermáticos das mem- possibilidade. A falha de fertilização entre
branas celulares e da cabeça do esperma- espécies diferentes não é primariamente um
198 Fisiologia da Reprodução

resultado de diferenças na constituição gené- um pequeno aumento no nível metabólico,


tica do espermatozóide ou do óvulo, mas é porém ocorre um aumento agudo entre os es-
atribuída a diferenças geneticamente deter- tágios de mórula e blastocisto.
minadas na constituição fisiológica destes
gametas no trato genital. Curso Normal de Tempo
A importância do trofoblasto na manuten-
ção da gestação foi demonstrada em estudos A clivagem do zigoto se dá por divisão ver-
envolvendo espécies diferentes, e o envol- tical através do eixo principal do ovo do ani-
vimento imunológico foi implicado na falha mal (local da extrusão do corpúsculo polar)
de uma porção dessas gestações. Este proble- ao pólo vegetal (área de reserva de vitelo). O
ma foi contornado com a utilização de técni- sulco da clivagem dirige-se com frequência
cas de micromanipulação embrionária. através da área onde o pró-núcleo se situava
Blastômeros iniciais (quatro e oito células) de no início da singamia. As células irmãs resul-
embriões de ovelhas e cabras foram utiliza- tantes são chamadas blastômeros. O plano da
dos para construir quimeras. Os blastômeros segunda divisão também é vertical e passa
foram posicionados de modo que as células através do eixo principal porém em um ân-
externas pertenciam às espécies para as quais gulo direito ao plano inicial de clivagem, pro-
os embriões seriam transferidos. Os compo- duzindo quatro blastômeros. A terceira divi-
nentes trofoblásticos, originados da camada são de clivagem ocorre aproximadamente a
celular externa, foram capazes de proteger as um ângulo reto ao segundo, produzindo oito
células das espécies estranhas posicionadas blastômeros. Esta sequência dupla é execu-
na camada celular interna, a qual origina o tada sobre o remanescente da clivagem pre-
tecido embrionário apropriado. Assim, a re- coce. As divisões iniciais da clivagem de um
jeição imune das células maternas das espé- modo geral ocorrem simultaneamente em to-
cies "estranhas" pode ser impedida e a gesta- dos os blastômeros, porém a sincronização é
ção mantida. inevitavelmente perdida e os blastômeros co-
meçam a dividir-se independentemente um
CLIVAGEM do outro.
As divisões de clivagem sempre são
Depois do estágio de zigoto, os embriões mitóticas com cada célula irmã (blastômero)
sofrem uma série de divisões mitóticas. O recebendo o surtimento completo de cromos-
zigoto, estágio de uma célula, é suficientemen- somos. Os mamíferos e outros vertebrados
te grande, possuindo uma proporção nuclear/ exibem um plano indeterminado de clivagem
citoplasmática baixa. Para alcançar uma pro- em que a habilidade de desenvolvimento dos
porção similar à das células somáticas, as di- blastômeros precoces não está firmemente
visões celulares não possuem aumento da controlada como nas espécies de pequenos
massa celular. Este processo é referido como animais. Os bl~tômeros de um embrião de
clivagem. O crescimento durante este perío- duas células apresentam uma latitude de de-
do pode ser considerado negativo desde que a senvolvimento para formar duas descendên-
massa celular diminui de 20% na vaca a 40% cias saudáveis; enquanto que em animais
na ovelha; todavia, os núcleos crescem em menores com um de . ado plano de
tamanho, e a quantidade apropriada de áci- clivagem, esta ma 'pulação r sultaria em
do nucléico é mantida nos cromossomos embriões anormais ou parcialm nte forma-
(McLaren, 1974). Considerando que as célu- dos.
las dos embriões de mamíferos possuem pou- Os blastômeros nos estágios ~ 2 a 8 célu-
co vitelo (com exceção de suínos e equinos), las são muito potentes, i. é, totalmente capa-
eles contam com a mãe para muitas de suas zes de dar origem a um embrião íntegro. A
necessidades durante o início da gestação. Isto potência total dos blastômeros de ovelha é
é favorecido pelas secreções da trompa e do mantida até o estágio de 8 células
útero (histotrofos). No início da clivagem há (Papaioannou e Ebert, 1986). Em embriões
Fertilização, Clivagem e Implantação 199

de 4 células não mais do que 3 a 4 blastômeros terísticas morfológicas e comportamentais


são totalmente potentes e em embriões de 8 diferentes. Contribuindo para esta hipótese,
células não mais do que 1 dos 8 blastômeros Sutherland et aI. (1990) demonstraram que
atingem esta condição. Todavia, depois deste durante a quarta divisão de clivagem em ca-
tempo os blastômeros parecem diferenciar-se mundongos, haviam 3 planos de orientação
de acordo com sua posição na mórula. de divisão principais; anticlinal (perpendicu-
Enquanto que os blastômeros estão encai- lar à superfície externa do blastômero);
xados dentro da zona pelúcida eles próprios periclinal (paralelo à superfície externa do
devem acomodar-se a esta área limitada. Uma blastômero); e oblíqua (em um ãngulo entre
vez que o embrião tenha formado 8 a 16 os dois) (Fig.8-5). O número relativo de célu-
blastômeros, e em certos casos até mais, ele é las internas e externas na mórula de 16 célu-
denominado como mórula, por causa da sua las, por esse motivo depende da proporção dos
semelhança a uma amora. A segregação das tipos de divisões durante a quarta clivagem.
células internas e externas do embrião de Ao traçar as linhagens de blastômeros de 4 e
camundongo de 16 células (ou mórula) pode 8 células, Sutherland et aI encontraram que
ser iniciada por modificações morfogênicas a ordem de divisão dos blastômeros durante
que ocorrem no estágio de 8 células. Por esta a terceira ou quarta clivagem estava assbcia-
ocasião, os blastômeros tornam-se planos em da com a ordem de divisão dos blastômeros
relação aos outros para formar um embrião antecedentes durante a clivagem prévia.
arredondado e componentes celulares inter- Blastômeros dividindo-se precocemente em 8
nos, e as microvilosidades superficiais tor- células atingiram uma tendência levemente
nam-se as simetricamente posicionadas em maior para sofrer divisões periclinais ou oblí-
um processo que é denominado de polariza- quas em vez de divisões anticlinais, e isto pode
ção. Os processos combinados de achatamen- contribuir ligeiramente com mais descenden-
to dos blastômeros e polarização são conheci- tes para a população celular interna da
dos como uma "compactação". Antes do mórula e eventualmente para a massa celu-
estágio de 16 células, existe uma variabilida- lar interna (TCM) do blastocisto. Estudos si-
de quanto ao nível de compactação entre em- milares não foram conduzidos com embriões
briões assim como na época de sua aparição de espécies domésticas; todavia, alguns em-
(Sutherland et aI., 1990). O processo de briões suínos pré-implantados possuem célu-
compactação é gradual e pode tanto começar las internas no estágio de 12 a 16 células.
no estágio de 4 células ou mais tarde no es- (Papaioannou e Ebert, 1988). A proporção de
tágio de 16 células em cujo final ele está nor- células internas foi baixa em mórulas porém
malmente completado. A variabilidade em cresceram durante a diferenciação do TCM e
que ocorre a compactação aparentemente não do trofoderma nos blastocistos jovens. A pro-
está relacionada à viabilidade do embrião. porção de células TCM diminuiu então à me-
A hipótese da polarização estabelece que a dida que os blastocistos se expandiram.
as simetria entre os aspectos apicais e basais Junções compactas formam-se dentro da
dos blastômerosna estágio de 8 células for- camada de trofoblasto com 8 a 16 células em
nece a base para as diferenças entre as célu- embriões de camundongos (Ducibella, 1977)
las internas e externas da mórula. O cami- quando os blastômeros estão em íntima
nho no qual ocorre o pIa ivisão durante aposição durante o processo de compactação
a quarta divisão de c vagem, i. " estágio de (Fig.8-6). A formação de junções compactas
8 a 16 células, poderia segregar a regiões es- proporciona uma permeabilidade que permi-
truturalmente diferentes dos blas ômeros de te que o fluido se mova de fora para dentro do
8 células em populações heterogêneas. Nesta blastocisto sem um escoamento substancial e
situação, os planos de divisão que ocorreram para formar a blastocele. A formação de jun-
paralelamente à superfície do blastômero ou ções compactas e com certa abertura entre as
através do eixo de polaridade romperia o células trofoblásticas também parece ter um
blastômero em duas células filhas com carac- papel importante na separação das células do
200 Fisiologia da Reprodução

contato com o ambiente materno, permitindo


deste modo ao blastocisto diferenciar-se
posicionalmente em duas populações de cé-
lulas. Uma população forma a massa celular
interna e origina propriamente o embrião, e
a outra dá origem ao trofectoderma ou
trofoblasto, o qual forma o córion. Depois que
ocorreu esta segregação e o blastocisto esti-
ver formado, as células trofoblásticas tornam-
se altamente atenuadas e organizadas em um
simples epitélio escamoso, o trofectoderma, e
adquirem a capacidade de translocar solutos
orgânicos e inorgânicos e água do ambiente
uterino para dentro da cavidade blastocélica.

Níveis e Variação da Clivagem

A região mais inferior da ampola é o local


de fertilização na maioria das espécies
mamíferas. Quando o embrião desenvolve 8 a
16 células (estágio de 4 células no porco) ele é
transportado para dentro do útero onde con-
tinua a proliferar. O tempo que os embriões
permanecem na trompa permite ao útero pre-
parar-se para a função nutritiva desde que o
embrião venha para o seu interior (Tabela 8-
1).
A proporção na qual o embrião em desen-
volvimento se move na trompa e no útero é
uma função julgada como totalmente mater-
na e controlada por fatores que afetam a fun-
ção muscular do istmo, tal como o sistema
adrenérgico local, o qual pode ser modificado
por estrógenos e progesterona. As
prostaglandinas da série F, agindo localmen-
te parecem impedir o trânsito do embrião den-
tro do útero, ao passo que as prostaglandinas
da série E parecem acelerar a sua liberação
para o útero.
Os ovos são transportados da trompa para
útero, tenha ou não ocorrido fertilização,
sen o uma exceção o equino. Na égua, óvulos
FIG. 8-5. Representação diagramática da "hip(stese infe ilizados permanecem dentro do istmo e
de polarização", indicando a linhagem de células deg neram vagarosamente durante vários
que contribuem para o trofectoderma e massa meses, enquanto que os embriões em desen-
celular interna durante os estágios precoces de volvimento passam por eles e entram no úte-
clivagem do embrião. (De Sutherland, AE., Speed, ro (Van Niekerk e Gerneke, 1966). O nível em
T.P. e Calarco, P.G. (1990). Dev. Biol. 137, 13-25.)
Os blastômeros podem dividir-se em três planos que progridem as divisões de clivagem pode
principais, chamados anticlinal (A), periclinal (B) ser influenciado pelo ambiente e influências
e oblíquo (C). genéticas. Warner et aI. (1987) descreveram
Fertilização, Cliuagem e Implantação 201

prolificidade normal. Estes resultados suge-


rem que os embriões Meishan possuem genes
Grandes Espaços que favorecem um rápido e uniforme desen-
Intercelulares volvimento resultando em maiores níveis de
sobrevivência embrionária.

CÉLULA B JOVEM Expressão do Genoma

f
~

.
..~T
-
-
clunçoes A expressão gênica durante o desenvolvi-
Compactas e mento precoce dos mamíferos tem sido prin-
. Mkrofilam,ntoo
cipalmente estudada em embriões de camun-
dongos e coelhos nos quais o conteúdo de RNA
puro permanece constante durante os está-
gios iniciais da clivagem. Na ovulação os óvu-
los da camundonga contém rRNA, mRNA,
tRNA, e ribossomos estão totalmente equipa-
Complexo de Conexão dos para sintetizar proteínas. Uma série or-
denada de modificações na síntese de trans-
formações de proteínas ocorre durante a
maturação do oócito, a fertilização e o desen-
volvimento até o estágio de 2 células. Os em-
- DesmossomQ briões prosseguem no seu desenvolvimento
desde a primeira divisão da clivagem - a qual
está sob controle de macromoléculas acumu-
BLASTOCISTO ladas durante a oogênese - ao estágio de
blastocisto, onde há uma ativa transcrição e
FIG. 8-6. Desenvolvimento de junções acúmulo de novo mRNA do genoma do zigoto
intercelulares na pré-implantação de embriões de (ver Schultz, 1986). Em camundongos, o em-
camundongos. Junções compactas atuam como
pontos de foco para a fusão das membranas, brião torna-se dependente da transcrição logo
enquanto que as junções com abertura permitem após a primeira divisão de clivagem com um
comunicações intercelulares. (De T. Ducibella aumento concomitante na proteína sintetiza-
(1977). Development in Mammals. Vol I. M.R. da pelo estágio de duas células (Bolton et aI.,
Johnson (ed.). Amsterdam, North Rolland.) 1984). Em carneiros, (Crosby et aI., 1988) a
síntese total de proteína é alta durante as
duas primeiras divisões de clivagem, dimi-
um gene nos embriões pré-implantados de nuindo em cerca de 95% na terceira divisão
camundongos (desenvolvimento de embriões de clivagem, permanece baixa na quarta di-
pré-impiantados, ou gene Ped) o qual está visão (8 a 16 células) e aumenta novamente
associado com o complexo de histocom- na quinta divisão (16 a 32 células). Estes re-
patibilidade murina (MHC, ou complexo H- sultados indicam que a completa ativação da
2) o qual in i no nível de clivagem de em- transcrição em embriões de ovelhas ocorre na
br'oes de camu dongos. Este gene apresenta quarta divisão da clivagem. Resultados simi-
dois alelos func onais, um para uma clivagem lares foram comunicados para embriões de
rápida e outnYlJara uma clivagem lenta. Até vacas (King et aI., 1988). Imediatamente após
o presente, o gene Ped não foi documentado o início da embriogênese, inicia-se a síntese
em espécies domésticas. Contudo, Bazer et de todas as classes de RNA comumente
aI. (1988) comunicaram que o desenvolvimen- identificadas. ORNA ribossomal, 4S-RNA
to embrionário em marrãs Chinese Meishan (presumivelmente tRNA) e 5S-RNA são sin-
conhecidas por sua alta prolificidade, foi mais tetizados pelo estágio de 4 células, enquanto
rápido e uniforme do que em marrãs de que o RNA nuclear heterogêneo (provável
202 Fisiologia da Reprodução

precursor do mRNA) e oRNA poliadenil pa- ção e da pós-transcrição. Sintomas regulado-


rece ser produzido tão precocemente quanto res extra-embrionários tais como hormônios,
o estágio de duas células na camundonga. Em metabólitos e íons podem também estar rela-
adição, a RNA polimerrase tipo II, uma cionados com o programa de desenvolvimen-
enzima associada com a síntese de mRNA foi to de células embrionárias. Embriões suínos
identificada no estágio de duas células, en- em fase de pré-implantação expressam a
quanto que poliribossomos contendo RNA re- proto-oncogênese tos (c-tos) e receptores do
centemente sintetizado (possivelmente fator I de crescimento semelhante a insulina
mRNA) foram isolados de blastocistos e de e o fator de crescimento epidérmico estão pre-
estágios de mórula. sentes no trofectoderma de embriões suínos.
O RNA mensageiro é um molde para a sín- Simmen e Simmen (1991) sugerem que os
tese de proteína. O aparecimento de produ- fatores de crescimento peptídico, suas proteí-
tos do gene durante o desenvolvimento em- nas associadas (proteínas carreadoras e re-
brionário implica em primeiro lugar na ceptores de membrana), eproto-oncogênese
síntese de seus correspondentes mRNAs e da (o normal, contrapartidas celulares da
presença do aparelho de translação. Os pro- oncogênese retroviral) podem exercer um
dutos embrionários de genes podem ser pro- importante papel nos aspectos críticos do cres-
duzidos de diferentes maneiras. Por exemplo, cimento do embrião e nas interações uterina-
estas proteínas poderiam ser produzidas em concepto durante o período de perimplan-
todos os estágios em sua maioria ou tudo nas tação. Todavia a função exata destas proteínas
células embrionárias. As proteínas nesta ca- no desenvolvimento embrionário ainda é des-
tegoria incluem enzimas essenciais para a conhecida.
atividade metabólica normal assim como pro-
teínas estruturais ubíquas tais como a actina, Partenogênese
tubulina e espectrina. Em contraste, outras
proteínas são sintetizadas em períodos especí- Partenogênese, desenvolvimento de um ovo
ficos durante o desenvolvimento e são cita- sem intervenção do espermatozóide, ocorre
das como produtos temporais de genes. Por em muitas espécies invertebradas e em algu-
exemplo, o ativador plasminogênio protease mas espécies vertebradas. Estágios precoces
serina está presente no trofoblasto e nas cé- de partenogênese podem ser induzidos ou
lulas endodérmicas primitivas, ausente nas ocorrer espontaneamente; todavia, os ovos
células ectodérmicas primitivas, e é produzi- ativados usualmente não se dividem mais do
do apenas por roedores durante a fase que duas vezes antes de morrer.
invasiva de implantação. Esta protease foi Oócitos e ovos de mamíferos ocasionalmen-
identificada também como um produto tem- te podem sofrer processos de desenvolvimen-
poral de embriões de suínos, bovinos e ovinos to até embriões na ausência completa de qual-
durante o desenvolvimento e pe' ~ação quer estímulo detectado. Em tais casos, as
(ver Menino et aI., 1989). ' células germinativas femininas podem pos-
Proteínas encontradas e embriões podem suir uma tendência inerente de dividir-se e
também representar uma tr slação de trans- diferenciar-se, o que é realçado pela fertiliza-
critos sintetizados durante a gênese e não ção ou indutores da resposta partenogenética.
durante o período inicial de desenvolvimen- A estimulação elétrica, o choque da tempera-
to. Alternativamente os genes podem ser tura, e o tratamento com hialuronidase re-
transcritos durante a oogênese, porém os seus sultaram no desenvolvimento para o estágio
mRNAs podem não ter sido traduzidos até de blastocisto. Ovos não fertilizados de algu-
após a fertilização. mas espécies de mamíferos iniciam a
Estudos relativos aos mecanismos de con- partenogênese à medida que envelhecem e
trole da expressão de produtos de genes em com frequência formam um segundo corpús-
espécies domésticas são poucos, porém pare- culo polar porém são incapazes de multipli-
ce que eles estão tanto ao nível da transcri- carem-se por causa do estado degenerativo do
Fertilização, Cliuagem e Implantação 203

ovo. Evidências disponíveis indicam que a Duas ou três destas duplas foram transferidas
partenogênese espontânea jamais resultou a uma mãe receptora e algumas desenvolve-
em gestação a termo em qualquer espécie de ram-se a termo. Estes resultados demonstra-
mamífero. ram pela primeira vez que a participação do
Estudos com camundongos demonstraram genoma paterno não é requerido antes do es-
que o desenvolvimento com sucesso da uni- tágio de oito células do desenvolvimento em-
dade fetal-placentária até o término requer brionário para obter o desenvolvimento a ter-
contribuições genéticas dos genomas mater- mo final de fetos de camundongo.
nos e paternos. Por exemplo, a ativação dos
oócitos para gerar um embrião partenogené- Gêmeos e Manipulação Embrionária
tico diplóide com apenas um genoma mater-
no, na melhor das hipóteses, irá desenvolver O nascimento de gêmeos em espécies do-
até o estágio de 25 somitas e depois morre. A mésticas monotocos é mais frequente do tipo
geração de embriões de uma célula utilizan- dizigótico onde mais de um óvulo é liberado
do transferência nuclear com dois pró-núcle- sendo então fertilizados por diferentes
os masculinos para formar "androgenones" ou espermatozóides, resultando no nascimento
com dois pró-núcleos femininos para formar de gêmeos não idênticos. O nível de nascimen-
"ginogenones" pode ser realizada experimen- to de gêmeos em animais domésticos é afeta-
talmente, porém ambos falham em chegar a do por fatores tais como a raça, idade e am-
termo (Surani et aI., 1987). As contribuições biente.
paterna e materna ao genoma diplóide de cé- Dentre os bovinos, as raças leiteiras apre-
lulas embrionárias são necessárias porque sentam uma proporção de nascimento de
elas realizam papéis complementares no pro- 3,5%, ao passo que nas raças de corte, a mé-
cesso de desenvolvimento. Surani et aI. (1987) dia é menor do que 1,0%. Gestações gemela-
demonstraram que a origem parental dos res, com um concepto em cada corno, não re-
cromossomos determina sua influência du- presentam efeitos deletérios na viabilidade do
rante a embriogênese, e por isto as contribui- bezerro; por isso, em bovinos o principal fa-
ções dos genomas parentais não são funcio- tor limitante ao aumento de nascimentos
nalmente equivalentes durante o múltiplos parece ser o nível da ovulação. As
desenvolvimento do concepto. Os ginogenones gestações gemelares em bovinos resultam em
formam aparentemente blastocistos normais uma circulação sanguínea comum conse-
mais frequentemente do que os androgenones. quente à fusão das cório-alantóides dos em-
Na gestação mais tardia, os ginogenones apre- briões adjacentes. Por este motivo, 91% das
sentam desenvolvimento placentário defici- novilhas nascidas com um macho são
ente e fetos razoavelmente bem desenvolvi- freemartins estéreis. Embora raramente, con-
dos, enquanto que os androgenones dições similares têm sido comunica das em
apresentam placenta bem desenvolvida po- ovelhas, cabras e porcas.
rém fetos pobremente desenvolvidos. Deve- Ovelhas altamente prolíficas como as
se notar que as células partenogenéticas e as Finnsheep e Booroola Merino produzem com
células embrionárias normais podem ser com- frequência dois ou mais cordeiros por parto.
binadas para formar "quimeras" que podem Estas ovelhas apresentam um alto nível de
sobreviver a termo. Recentemente, Renard et ovulação que, no caso da ovelha Booroola
aI. (1991) usaram técnicas de reconstrução Merino, tem sido relacionado a um gene maior
embrionária com embriões de camundongo F (fecundidade) (Bindon e Piper, 1984). Este
para produzir embriões haplóides ginoge- gene pode ser responsável pelos elevados ní-
néticos e androgenéticos dos quais os veis de FSH tanto em ovelhas jovens como
blastômeros foram obtidos no estágio de qua- em adultas, observação esta comunicada tam-
tro células. Blastômeros únicos de androgeno- bém para outras raças prolíficas de ovinos.
nes e ginogenones foram então fusionados, A incidência de gêmeos dizigóticos é de 1 a
permitindo a formação de duplas diplóides. 2% em raças puro-sangue de éguas e aproxi-
204 Fisiologia da Reprodução

madamente 3% em éguas do tipo de tração. três a quatro vezes no nível de ovulação em


Ovulações duplas em éguas são razoavelmen- ovelhas e um aumento de 35% no nível de
te comuns, porém um ou ambos os embriões ovulação em porcas (ver Brown et aI., 1990).
morrem logo no início do desenvolvimento, Os gêmeos podem também ser monozigó-
enquanto que aqueles que continuam a de- ticos, em cujo caso um único óvulo fertilizado
senvolver-se estão propensos a abortamentos, origina dois descendentes idênticos. A inci-
mumificação ou, se nascerem vivos, à morte dência de gêmeos monozigóticos de ocorrên-
neonatal.Amorte fetal entre gêmeos in utero cia natural é rara com ocorrências bem docu-
é frequentemente atribuída à insuficiência mentadas em poucas espécies tais como a
placentária ou capacidade uterina inadequa- humana e a bovina. Em bovinos, gêmeos
da desde que a superfície total da placenta homozigóticos representam 10% ou menos de
para gêmeos é apenas ligeiramente maior do gêmeos nascidos. Gêmeos monozigóticos ge-
que aquela para um único feto. Gêmeos que ralmente originam-se após a implantação
ocorrem naturalmente refletem diferenças no quando a massa celular interna diferencia-
padrão da ovulação, do mesmo modo que a se em duas linhas primitivas, originando dois
habilidade da fêmea em manter uma gesta- produtos idênticos.
ção gemelar. O transplante nuclear envolve a transfe-
O principal fator que regula as gestações rência de núcleos individuais de embriões pré-
gemelares é o número de óvulos liberados. O implantados para oócitos maduros não ferti-
nível de ovulação pode ser aumentado por lizados e tem sido usado com sucesso na
gonadotrofinas exógenas (usualmente gona- "clonagem" de embriões de ovelhas, vacas e
dotrofina coriônica equina, ECG) administra- coelhas, resultantes de descendências viáveis.
das em bovinos e ovinos; todavia, a resposta A descendência produzida pela transferência
ovariana é variável e não tendente à produ- nuclear pode não representar verdadeiros
ção de gêmeos. Quando duas ovulações ocor- dones, porque a maioria dos genomas
rem unilateralmente, o padrão de gestação mitocondriais origina-se do citoplasma do
. gemelar é baixo, enquanto que uma única oócito recipiente. O princípio por trás deste
ovulação ocorre em cada ovário, a incidência procedimento é que os núcleos dos embriões
de gêmeos é maior. Esta diferença tem sido contêm todas as informações genéticas neces-
atribuída à competição entre embriões já que sárias para originar um indivíduo completo
a transferência de dois embriões para o mes- com a mesma constituição genética. À medi-
mo corno uterino leva a um reduzido número da que o desenvolvimento embrionário pros-
de ligações cotiledonárias, se comparado aos segue, o potencial genético dos núcleos tor-
resultadô's de quando apenas um embrião é na-se aumentativamente restrito em
transferido para cada corno uterino. Uma consequência da diferenciação, e não são mais
porcentagem de gêmeos de cerca de 60% pode totalmente potentes podendo originar ape-
ser atingida utilizando-se transferência em- nas tecidos específicos dentro do embrião. Os
brionária bilateral. núcleos podem ser transplantados para o
A imunização contra os esteróides ovaria- citoplasma de um oócito maduro. Fatores den-
nos, particularmente a androstenediona ou tro do citoplasma de oócitos maduros
estrona, leva a um dramático aumento no ní- "reprogramam" os núcleos transplantados a
vel de ovulação em ovelhas e a um menor grau fim de permitir o desenvolvimento de um novo
em vacas. Em ovelhas, o nivel médio de ovu- embrião. O citoplasma de embriões pró-nu-
lação foi aumentado por cerca de 0,6 ovula- cleares ou de duas células não é capaz de
ções por ovelha, resultando no aumento de "reprogramar" o núcleo transplantado. Resul-
cordeiros criados. Este processo, todavia, re- tados iniciais de clonagem em coelhos e va-
sulta em aumento das mortalidades embrio- cas indicam que menos de 4% e 1%, respecti-
nárias em ovelhas (Boland et aI., 1986). A vamente, dos embriões desenvolvem-se a
imunização contra a subunidade a recom- termo. Mais recentemente, Willadsen et aI.
binante inibina resulta em um aumento de (1991) trabalhando com bovinos, e Conas e
Fertilização, Clivagem e Implantação 205

Robl (1990), trabalhando com coelhos, aumen- camada zonal por células de sustentação do
taram estas porcentagens a 33% e 21%, res- trofoblasto. Na camundonga a perda da zona
pectivamente. pode envolver expansões e contrações rítmi-
A produção de gêmeos monozigóticos pode cas do blastocisto auxiliadas pela produção
também ser atingida por separação microci- de uma lisina do epitélio uterino sensibiliza-
rúrgica dos blastômeros de embriões de duas do por estrógenos. Modificações na integrida-
células. Os detalhes desta técnica serão dis- de da zona devido a fatores enzimáticos pro-
cutidos em outro capítulo. duzidos pelo embrião ou pelo útero estão
implicadas na eclosão de blastocistos suínos
DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO (Linder e Wright, 1978). A exposição ao am-
PRECOCE biente uterino estimulado por estrógenos pode
provocar um amolecimento da zona pelúcida
e permitir a expansão do blastocisto e o rom-
Formação do Blastocisto pimento da camada da zona. A expansão e a
contração do blastocisto na vaca parece de-
O desenvolvimento de junções interce- sempenhar o principal papel na eclosão à
lulares compactas da mórula durante a medida que a zona se rompe por distensão do
compactação é seguido pelo acúmulo de flui- blastocisto, embora as enzimas envolvidas
dos dentro da cavidade central que forma a com o enfraquecimento da zona também pos-
blastocele. O acúmulo de fluidos na blastocele sam atuar. A zona se rompe no plano equato-
resulta do gradiente de soluto estabelecido por rial, permitindo que o blastocisto fique com-
transporte ativo de íon (Na+ / K+ ATPase) e primido entre as duas bordas da abertura.
formação de complexos compactos de junção A expansão do blastocisto envolve tanto a
entre as células externas. hiperplasia celular quanto o acúmulo de flui-
A diferenciação das duas populações celu-
lares distintas ocorre após a formação do
blastocisto (Fig. 8-7). A maioria das células
forma a camada cuboidal periférica externa,
denominada trofoblasto ou trofectoderma,
recoberta por densa microvilosidade e funções
na captação de nutrientes seletivos. Mais tar-
de no desenvolvimento, o trofoblasto irá for-
mar o córion. Um segundo grupo de células
existentes em um pólo abaixo do trofoblasto
forma o embrioblasto (massa celular interna),
que se desenvolve em três camadas
germinativas primárias do embrião (ecto-
derma, mesoderma e endoderma) durante o
processo de gastrulação. O embrioblasto não
permanece abaixo do trofectoderma no suíno
porém após a incubação remove ou digere o
excesso de trofoblasto (camada de Rauber).
FIG. 8-7. Incubação do blastocisto. A, Blastocisto
Zona de Eclosão começando a penetrar na zona pelúcida. B,
Blastocisto escapando da zona pelúcida. C,
A liberação (eclosão) do blastocisto da zona Blastocisto colapsado após sua expansão mas não
pelúcida (Fig. 8-7) ocorre no útero 4 a 8 dias submetido a processo de incubação. D, A zona
pelúcida vazia permanece após a incubação. (Todas
após a ovulação (Tabela 8-1). Na coelha, a re- as figuras são aproximadamente 240X.) (De D.L.
moção da zona ocorre por dissolução Davis e B.N.Day. (1978) Cleavage and blastocyst
enzimática (denominada blastolemase) da formation by pigs in vitro. J. Anim. Sei. 46, 1043.)
206 Fisiologia da Reprodução

do na blastocele. O acúmulo de fluido dentro a 40 mm/hora) em uma fina forma filamen-


da blastocele parece ser essencial para a tosa que mede aproximadamente 20 cm de
eclosão de blastocistos de camundongo. Evi- comprimento. Isto ocorre mais pela reorgani-
dências circunstanciais sugerem que as zação celular do que pela hiperplasia celular.
prostaglandinas (especialmente da série E) Após esta fase inicial de alongamento, o
estão envolvidas com o processo de eclosão blastocisto suíno continua a crescer em com-
uma vez que antagonistas desses elementos primento e diâmetro em consequência da
impedem tanto a expansão do blastocisto hiperplasia celular e atinge comprimentos de
quanto a eclosão (Biggers et aI., 1978). Deste 800 a 1000 mm no 162 dia. O rápido alonga-
modo, a expansão do blastocisto parece ser mento do blastocisto suíno coincide com a pro-
um processo vital na zona de eclosão com a dução estrogênica blastocitária e com a libe-
produção de fatores enzimáticos blastocísticos ração de cálcio do epitélio endometrial, que
ou uterinos assumindo um papel de susten- pode estimular o processo de alongamento. A
tação. produção do blastocisto do ativador da enzima
plasminogênio pode também regular o movi-
Alongamento do Blastocisto mento celular durante o alongamento.
O rápido alongamento do blastocisto em
O rompimento da zona pelúcida é seguido suínos é particular para cada blastocisto in-
por uma rápida fase de desenvolvimento e tegrante da leitegada. Aqueles que atingem
crescimento do blastocisto. Durante esta fase, mais precocemente o estágio tubular podem
uma camada interna de células endodérmicas apresentar uma borda competitiva de sobre-
extra-embrionárias originárias do embrio- vivência em relação aos blastocistos de desen-
blasto envolve a blastocele, formando um volvimento mais lento pela obtenção de áreas
blastocisto bilaminar (Fig. 8-8). As células da superfície uterina suficientes e necessárias
endodérmicas extra-embrionárias desenvol- para garantir o contínuo desenvolvimento.
vem-se em uma membrana contínua que irá Blastocistos de equinos não sofrem uma
se tornar um constituinte do saco vitelínico. modificação morfológica esférica para uma
No 112dia após o cio em ovelhas e porcas e filamentosa no início de seu desenvolvimen-
no 132 dia na vaca, o blastocisto sofre uma to. O diâmetro da vesícula embrionária au-
fase de alongamento logarítmico. O blasto- menta de 2 a 3 mm por dia e retém sua forma
cisto da vaca transforma-se de uma forma esférica até os dias 17 a 19, quando então
esférica de 3 mm aproximadamente no 132dia adapta-se à forma da luz uterina.
para uma forma filiforme de 25 cm no 172dia.
Nói82 pia de gestação, o blastocisto já se ex- Migração Intra-uterina e Espaçamento
pandiu para o corno contralateraI. Este rápi-
do alongamento lateral do concepto em ove- A migração intra-uterina e o espaço
lhas e vacas ocorre por hiperplasia contínua equidistante entre os embriões é essencial
do trofectoderma e do endoderma extra-em- para a sobrevivência embrionária nas espé-
brionário. O embrioblasto em desenvolvimen- cies com grande número de filhotes. Os em-
to, que ainda é pequeno em comparação às briões suínos são encontrados próximos à ex-
camadas extra-embrionárias, permanece no tremidade dos cornos uterinos 5 a 6 dias após
corno ipsilateral ao corpo lúteo. o começo do cio e então migram em direção
O rápido crescimento dos blastocistos de ao corpo uterino, quando os embriões entram
vacas e ovelhas ocorre em vários dias, mas o e misturam-se com os embriões do corno opos-
nível de alongamento do blastocisto suíno é to ao redor do 92 dia. A migração e o
incomparável. Os blastocistos suínos desen- espaça~ento dos embriões termina aproxima-
volvem-se de esferas de 2 mm aproximada- damente no 122 dia, quando ocorre um rápi-
mente no 102dia de gestação para blastocistos do alon~amento do blastocisto. A migração
tubulares de 10 mm do 112ao 122dia (Fig. 8-9). intra-uterina e o espaçamento parecem ser
Os blastocistos tubulares transformam-se (30 modulados por contrações peristálticas do
Fertilização, Clivagem e Implantação 207

ICM T
ICM

DE

BC

:~E
}BO B
!f
EE

c
PS PE

YS

FIG. 8.8. Gastrulação na ovelha. A, Secção de blastocisto ovino 10 dias após o coito. O endoderma pode
ser visto revestindo a metade superior da cavidade blastocitária. B, Blastocisto em estágio um pouco
mais avançado do que em A. A massa celular interna está se intercalando no trofoblasto. C, Secção do
disco embrionário de um blastocisto ovino 12 dias após o coito. O ectoderma embrionário está agora se
projetando sobre o nível do trofoblasto adjacente. D, Secção através do nódulo de Hensen, 14 dias após o
coito. O saco vitelínico está completamente formado, as células mesodérmicas estão intercaladas entre o
ectoderma e endoderma embrionário, e o celoma extra-embrionário pode ser visto de ambos os lados. BC,
cavidade blastocitária; BO, onfalopleura bilaminar; DE, endoderma distal; EC, celoma extra-embrionário;
EE, ectoderma embrionário; ICM, massa celular interna; M, mesoderma; PE, endoderma primário; PS,
goteira primitiva; T, trofoblasto; YS, cavidade do saco vitelínico.

miométrio estimuladas pelo embrião em de- em vacas quando existem ovulações múltiplas
senvolvimento. Estrógenos, histaminas, no mesmo ovário. A falha na migração intra-
prostaglandinas são produtos embrionários uterina quando ambas as ovulações ocorrem
que podem estimular a atividade do no mesmo ovário é o principal problema quan-
miométrio. do se utiliza superovulação para aumentar o
A migração transuterina é rara em ovelhas nível de gêmeos em bovinos.
e vacas mono-ovulatórias. Todavia, a migra- Utilizando ultra-som para monitorar o
ção intra-uterina ocorre em ovelhas mas não movimento embrionário em éguas, migrações
208 Fisiologia da Reprodução

et aI., 1982) e envolve fases de aposições ce-


lulares epiteliais uterinas. O trofoblasto suí-
no, todavia, exibe propriedades invasoras
quando colocado em locais ectópicos, como a
cápsula renal. Esta propriedade invasora pa-
rece resultar da produção blastocística de
enzimas proteolíticas como o ativador
plasminogênico; porém a implantação inva-
sora é prevenida pela secreção epitelial
uterina de protease (inibidores plasminal
tripsina) que acobertam os blastocistos e pro-
tegem o útero desta protease.
Blastocistos suínos começam a ligar-se à
superfície uterina no 132 dia, com ligação to-
tal completa na superfície trofoblástica entre
os dias 18 e 24. A ligação é completada por
interdigitação das microvilosidades uterinas
e trofoblásticas que recobrem a interface en-
tre as duas camadas, exceto onde o trofoblasto
circunda as aberturas das glândulas uterinas.
FIGo 8-9. Colagem mostrando o rápido A superfície trofoblástica nestas áreas modi-
desenvolvimento dos conceptos suínos através da
esférica precoce (A, Dia 10,5), esférica tardia (B, fica-se para formar estruturas especializadas
Dia 11),tubular (C, Dia 11,5)e forma filamentosa absorventes (aréolas) que permitem a absor-
precoce (D, Dia 12). (De Rodney Geisert e Fuller ção de nutrientes pelo concepto em desenvol-
Bazer.) vimento.
transuterinas ocorreram aproximadamente A ligação placentária em ruminantes en-
13 vezes por dia entre os dias 10 a 16 de ges- volve tanto as áreas carunculares quanto as
tação (Leith e Ginther, 1984). A fixação do em- intercarunculares do endométrio uterino.
brião dentro da luz uterina ocorre no 162 dia, Uma ligação transitória ocorre primeiramen-
embora a migração seja possível até 25 a 30 te à medida que os trofoblastos bovinos e ovi-
dias de gestação. A estabilização da vesícula nos desenvolvem vilosidades semelhantes a
na luz uterina resulta do espessamento da dedos (papilas) que se projetam para dentro
~rede uterina e do tônus aumentado do da luz das glândulas uterinas (Fig. 8-10).
miométrio (indução estrogênica) que começa Estas papilas propiciam uma estabilidade
no dia 16 e torna-se mais intensa no dia 25. temporária e uma estrutura absorvente para
o conceptos à medida que progridem mais ele-
Implantação mentos de união. Aperda de microvilosidades
superficiais do trofoblasto permite um ínti-
Roedores e primatas apresentam blasto- mo contato superficial com as microvilo-
cistos que penetram a mucosa uterina (Perry, sidades epiteliais uterinas. O epitélio uterino
1981) através da penetração e fagocitose do pressiona a superfície trofoblástica,
epitélio uterino luminal à medida que eles interlaçando-se com as projeções citoplas-
migram para dentro do estroma uterino. Este máticas da superfície trofoblástica até que as
processo invasivo é acompanhado por trans- microvilosidades trofoblásticas desenvolvam-
formação e proliferação de células uterinas se novamente, formando uma união mais
estromáticas (referidas como decidualização) complexa.
na vizinhança do blastocisto em desenvolvi- A união é caracterizada pelo aparecimen-
mento. to de células binucleadas provenientes das
Em contraste, a implantação em animais células uninucleadas do trofoblasto. As célu-
domésticos é superficial e não invasiva (King las binucleadas aparecem primeiro no dia 17
Fertilização, Cliuagem e Implantação 209

e permanecem presentes durante toda a ges-


tação. Estas células migram e fusionam-se
com as células epiteliais superficiais uterinas
formando células multinucleares ou um
sincício. O sincício pode estar envolvido na
proteção imunológica do concepto ou na trans-
ferência de lactogênio placentário sintetiza-
do pelas células binucleadas.
A implantação ou união não ocorre até os
dias 24 a 40 na égua. Uma união precoce se
dá através da interdigitação entre o epitélio
superficial da vesícula seminal e o delinea-
mento uterino. Células coriônicas especia-
lizadas em circunferência formam-se ao re-
dor da vesícula esférica, destacam-se mais ou
menos no dia 38, e invadem o endométrio
uterino para formar as concavidades
endometriais que produzem as gonado-
trofinas equinas coriônicas. A formação de
concavidades endometriais pode proteger o
trofoblasto do ataque imunomaternal. As jun-
ções de microvilosidades tornam-se mais com-
plexas à medida que os ramos dão origem a
milhares de estruturas microcotiledonárias
que mantêm a placenta firmemente no local.
Durante a implantação em animais domés-
ticos, um crescimento do mesoderma extra-
embrionário origina-se do embrioblasto e mi-
gra entre o trofectoderma e o endoderma ((Fig.
8-8). Esta camada mesodérmica vai fracionar-
se e combinar-se com o trofectoderma para
formar o córion e o endodernp, que por sua
vez vai formar o saco vitelínico. O mesoderma
irá contribuir também para a formação do
âmnio e da alantóide. Estas membranas ser-
vem para proporcionar ao embrião uma fon-
te de união e nutrição do sistema materno.

INTERAÇÃO DO CONCEPTO E DO
AMBIENTE UTERINO

O endométrio uterino de fêmeas gestantes


é dominado pela progesterona, que estimula
o desenvolvimento do epitélio glandular. O
epitélio glandular torna-se altamente
secretário e produz histotrofos, que acredita-
se serem essenciais para o desenvolvimento FIG. 8-10. A, Trofectoderma do concepto bovino
mostrando papilas bem desenvolvidas (870 X). B,
do produto da concepção (Bazer e First, 1983).
Extensão das papilas trofectodérmicas para dentro
Vesículas secretoras acumulam-se no epitélio de uma glândula uterina (250X). (De M. Guillomot
das glândulas endometriais uterinas entre os e P. Quay. (1982) Anat. Rec. 315, 282).
210 Fisiologia da Reprodução

dias 10,5 ao 12 da gestação em suínos. Com o ratos); fator de crescimento de fibroblastos


início da produção de estrógenos pelos ácidos (a) e básicos (13) (suínos); fator
blastocistos de suínos nos dias 11 e 12, há um epidérmico de crescimento (EGF, camundon-
aumento marcante na recuperação de cálcio, go e rato); e mitógeno fluido luminal uterino
proteínas, e prostaglandinas na luz uterina. (ULFM, suíno), de acordo com Simmen e
Os estrógenos estimulam a liberação de cál- Simmen (1991). Os fatores do crescimento são
cio do plasmalema e/ou mitocôndrias, que es- produzidos também pelos tecidos feto-
timula a fosfolipase A2' Isto resulta na pro- placentários. A presença de abundantes
dução de ácido araquidônico e lisofosfolipídios, mRNAs para IGF-I e IGF-II no endométrio
que promovem a fusão das membranas uterino sugere uma regulação autócrina e/ou
vesículo-secretórias com a membrana celular parácrina do desenvolvimento do embrião por
que por sua vez proexocitose. tais fatores.
As proteínas liberadas das vesículas Quais são os papéis dos fatores em cresci-
secretoras para dentro do útero servem como mento secretados pelo útero? São os fatores
proteínas transportadoras, enzimas, e proteí- de crescimento específicos responsáveis pelo
nas reguladoras. No suíno a uteroferrina é desenvolvimento morfológico dos conceptos
uma proteína púrpura induzida pela desde a forma esférica a tubular ou
progesterona, que transporta ferro do filamentosa e ao início de eventos que levam
endométrio uterino para o embrião durante a secreção de esteróides e/ou proteínas res-
a gestação. Foram também demonstrados o ponsáveis pelo reconhecimento materno da
retinol e as proteínas carreadoras de ácido gestação? Logo antes do início da secreção de
retinóico e proteínas carreadoras de estrógenos e da transição morfológica da for-
progesterona. ma esférica para tubular ou filamentosa há
Enzimas identificadas nas secreções um crescimento mesodérmico do disco embrio-
uterinas de suínos incluem fosfatase ácida nário dos embriões de suínos. Durante este
(resultante da uteroferrina), aminopep- período, dias 10 a 12 da gestação, o IGF-I é
tidases, isomerase glicosefosfatadas, maior nas secreções tanto das porcas prenhes
lisozimas, e várias proteases. Estas enzimas quanto nas porcas ciclando. Outrossim, os
podem estar envolvidas na regulação das vá- embriões dos porcos prolíficos Chinese
rias atividades metabólicas dos embriões. Meishan desenvolvem-se mais rapidamente,
Proteínas reguladoras secretadas pelo secretam mais estrógenos, e estão expostos a
endométrio suíno incluem um inibidor quantidades maiores de IGF-I nas secreções
plasminatripsina, o qual pode impedir uma uterinas do que para os suínos menos prolífi-
implantação invasora. O blastocisto suíno é cos Large White. O fator de crescimento as-
invasor quando transferido para um local sociado com mesoderma indutor em anfíbios
extra-uterino, porém in utero o inibidor é o l3-fibroblasto fator de crescimento (13FGF)
protease proteje o trofectoderma e o e ambos, o a FGF e o 13FGF estimulam a pro-
endométrio uterino dos eventos proteolíticos liferação de células derivadas do mesoderma
que podem ser iniciados pelo ativador (Kimelman et aI., 1988). Os fatores de cresci-
plasminogênio produzido pelo trofectoderma. mento de fibroblastos estão presentes no
O inibidor protease pode também prevenir a endométrio e nas secreções uterinas de suí-
degradação de proteínas em histotrofos de nos, porém associações entre a secreção de
modo que eles poderão estar disponíveis à FGF, modificações morfológicas nos embriões
captação do embrião. e o início da secreção de estrógenos pelos
Fatores de crescimento conhecidos, presen- conceptos de suínos não foram estabelecidos.
tes nos tecidos e fluidos uterinos incluem o Proteínas secretoras do endométrio da
fator do crescimento semelhante a insulina vaca, da porca e da ovelha possuem também
(IGF)-I (suínos, ovinos e bovinos); IGF-II (suí- fatores imunossupressivos (Bazer e First,
nos, ovinos e bovinos); fatores a e 13de trans- 1983). Em adição, glicoproteínas de alto peso
formação do crescimento (TGF a e TGF 13, molecular de conceptos de porcas, vacas e
Fertilização, Cliuagem e Implantação 211

ovelhas são imunossupressivas. A atividade ção. A PGF2a uterina é produzida pelo


imunossupressiva é baseada na evidência de endométrio de vacas, ovelhas, éguas e porcas
que estas proteínas do endométrio uterino e (Bazer et aI., 1981) e provoca regressão
do embrião podem ser responsáveis pela so- morfológica do corpo lúteo e término da pro-
brevivência do concepto alo gráfico dentro da dução de progesterona. O potencialluteolítico
luz uterina, que por outro lado seria rejeita- da PGF2a endometrial é bloqueado se hou-
do imunologicamente. A progesterona e seus ver a instalação de uma gestação, desde que
metabólitos e as protaglandinas Ev E2, A e um corpo lúteo funcional é essencial para o
F 1podem estar também envolvidas na supres- início e manutenção da gestação em todos os
são do sistema imunomaternal durante a ges- animais domésticos. O efeito do concepto é
tação. luteostático desde que a produção de
A teoria do imunotropismo (Wegmann et progesterona é mantida a um nível compará-
aI., 1989) é contrária àquela da imunossu- vel àquele do diestro durante a gestação. A
pressão durante a gestlação. Evidências re- secreção basal de LH da hipófise anterior é
centes sugerem queleucócitos e linfócitos os também essencial para a manutenção do cor-
quais se sabe são atraídos para o útero em po lúteo durante a gestação.
gestação secretam citocinas e linfocinas que
são estimuladoras para o desenvolvimento do Suínos
concepto (imunotrófico) e benéficas à gesta-
ção. As citocinas e as linfocinas podem esti- A PGF2a uterina é luteolítica, e os
mular o desenvolvimento e a função do estrógenos produzidos pelos embriões propi-
trofoblasto-córion e em contrapartida podem ciam o sinal para o reconhecimento materno
beneficiar o desenvolvimento fetaI. da gestação que ocorre entre os dias 11 e 12.
Um segundo período de produção de
RECONHECIMENTO MATERNO DA estrógenos ocorre entre os dias 16 e 30 da
PRENHEZ gestação. A injeção de estrógenos exógenos
(valerato de estradiol, 5 mg /dia) nos dias 11
Todos os Animais Domésticos até o dia 15 do ciclo estral permite também a
manutenção do corpo lúteo por um período
A implantação permite que o embrião e o equivalente ou ligeiramente mais longo do
endométrio uterino atinjam um contato ínti- que durante a gestação. Esta condição é co-
mo para a troca de nutrientes e a comunica- nhecida por pseudogestação.
ção endócrina. Na época apropriada, o em- Concentrações de PGF2a na veia útero-
brião produz hormônios esteróides e/ou ovariana são elevadas entre os dias 12 e 16
proteínas para assinalar a sua presença no do ciclo e levam à luteólise. APGF2a no plas-
sistema materno. Este "sinal" é necessário ma da veia útero-ovariana de marrãs prenhes
para a manutenção do corpo lúteo, produção e pseudoprenhes, todavia é significantemente
de progesterona e para a continuação do de- menor do que aquelas cicIando normalmen-
senvolvimento do endométrio e da atividade te, porém quantidades maiores de PGF2a são
secretora. Este período crítico quando o recuperadas em lavagens uterinas de marrãs
concepto assinala a sua presença para per- prenhes e pseudoprenhes do que naquelas que
mitir o estabelecimento de uma gestação é estão cicIando. Por este motivo, os estrógenos
denominado reconhecimento materno da ges- não inibem a produção de PGF2a pelo
tação. Caso o concepto falhe em assinalar a endométrio uterino, porém permitem que a
sua presença no exato tempo correto, a fun- PGF2a seja separada dentro da luz uterina.
ção do corpo lúteo termina pela ação A PGF2a é um produto endócrino que quan-
luteolítica da prostaglandina F2a (PGF2a) do do bloqueado não fica disponível para a
útero. Isto assegura que a fêmea deverá luteólise do corpo lúteo (Fig. 8-11). Os
retornar ao cio e ser açasalada em intervalos estrógenos induzidos aumentam nos recepto-
frequentes até que se estabeleça uma gesta- res endometriais para o ciclo da prolactina e
212 Fisiologia da Reprodução

do cálcio induzido pela prolactina através do te ativo nos homogenatos seja uma proteína.
epitélio endometrial podendo ser responsáveis Uma proteína produzida por conceptos ovi-
pela secreção exócrina de PGF durante a ges- nos do dia 12 ao 21 da gestação foi purificada
tação (Young et aI., 1989). Os embriões de e denominada de proteína I trofoblasto ovina
suínos secretam uma coleção de proteínas (oTP-1). A oTP-1 possui uma alta sequência
durante o período de reconhecimento mater- de aminoácidos homóloga ao a- e ú)-interferon
no da gestação, incluindo o tipo I de interferon e é atualmente referida como conceptos
e interferon y, todavia, a infusão intra-uterina interferon Tipo I. A oTP-1 possui atividades
de proteínas secretoras dos embriões de 15 biológicas antiviróticas, imunossupressivas,
dias não afeta a vida útil dos corpos lúteos e antiproliferativas, em adição a atividade
(Harney e Bazer, 1989). antiluteolítica descrita (Bazer et aI., 1991). A
Os conceptos devem estar presentes em oTP-1 une-se à superfície e às células
ambos os cornos uterinos de porcas, e pelo epiteliais glandulares superficiais do
menos dois em cada corno para que a gesta- endométrio e propicia seletivamente a secre-
ção seja estabelecida. Não havendo embrião ção de proteínas pelo endométrio uterino. As
em um corno uterino, a PGF2a liberada do proteínas secretoras do concepto ovino e o al-
endométrio do corno uterino não prenhe irá tamente purificado oTP-1 são igualmente efi-
provocar a luteólise dos corpos lúteos de am- cientes em aumentar a vida útil do corpo lúteo
bos os ovários. A falha de suínos em manter quando introduzidos dentro da luz uterina de
uma gestação unilateral indica que os em- ovelhas cíclicas entre os dias 12 e 14.
briões em desenvolvimento em um corno A introdução de oTP-1 altamente purifica-
uterino não produzem um fator que atua sis- do dentro da luz uterina de ovelhas não pre-
tematicamente para permitir a manutenção nhes inibe a produção de PGF em resposta à
de corpos lúteos bilaterais. produções de estrógenos e ocitocinas e previ-
ne o desenvolvimento de respostas
Ovelha endometriais à produção de PGF uterina
induzi da pela ocitocina. A secreção de
Na ovelha, a PGF uterina é a luteolisina e significantes quantidades de oTP-1 começa no
a proteína secretada pelo concepto entre os dia 12, i.é, antes que os receptores endome-
dias 12 e 21 da gestação inibindo a produção triais para a ocitocina sejam sintetizados.
de PGF pelo endométrio uterino. Em ovelhas Evidências disponíveis sugerem que a oTP-1
cicIando, a produção episódica de PGF entre inibe a síntese de receptores endometriais
os dias 14 e 16 aumenta em frequência até para ocitocina e, por isso, previne a produção
atingir 5 picos episódicos em 25 horas, ocor- uterina de pulsos luteolíticos de PGF. Isto
rendo então a regressão do corpo lúteo. Os poderá explicar por que os receptores
estrógenos podem estimular o aumento de endometriais para ocitocina permanecem bai-
receptores para ocitocina no endométrio ovi- xos em ovelhas prenhes e em ovelhas cíclicas
no. A ocitocina da hipófise posterior e /ou cor- recebendo infusões intra-uterinas do oTP-1
po lúteo pode estimular picos episódicos de entre os dias 12 e 14 (Bazer et aI., 1991). A
PGF (McCracken et aI., 1984). Uma média PGE2 na veia útero-ovariana aumenta 4 ve-
de 7,6 picos episódicos de PGF. ocorre entre zes entre os dias 12,5 e 14,5 da gestação e
os dias 14 e 15 em ovelhas não prenhes versus pode refletir uma produção aumentada pelo
apenas 1,3 pulsos durante o período para ove- endométrio e/ou concepto. Embora a PGE2
lhas prenhes. não seja o hormônio antiluteolítico da gesta-
A infusão intra-uterina contínua de ção ela pode facilitar o reconhecimento ma-
homogenatos de conceptos de ovelhas do dia terno de gestação exercendo um efeito
14 a 15 estende a vida útil do corpo lúteo luteínico protetor. A oTP-1 não estimula a se-
nesta espécie; contudo, a infusão de creção uterina de PGE2'
homogenatos de conceptos dentro da veia A hipótese corrente contrasta os eventos
uterina não é efetiva. Acredita-se que o agen- associados com a luteólise em ovelhas cíclicas
Fertilização, Clivagem e Implantação 213

LUZ UTERINA PGF

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NÃOPRENHE PRENHE
FIG. 8-11. Mecanismos propostos para o reconhecimento materno da gestação na porca. PGF2a é liberada
em uma direção endócrina durante o ciclo estral (não prenhe) para provocar a regressão do corpo lúteo.
Contudo, a secreção dirige-se a uma direção exócrina durante a gestação e a PGF2a, por este motivo, não
está habilitada a exercer seu efeito luteolítico sobre o corpo lúteo. (De Fuller Bazer.)

e o reconhecimento materno da gestação. Em tre os dias 16 a 19 em vacas (Thatcher et aI.,


ovelhas cíclicas, o estrógeno endometrial e os 1989). O plasma periférico 15 ceto-13,14
receptores de progesterona tornam-se altos diidro PGF2a (PGFM) propicia um meio acei-
entre o cio e o dia 12, e então os receptores de tável para estudar a secreção de PGF2a pelo
progesterona diminuem enquanto que os re- útero bovino. Em vacas vazias, a liberação
ceptores de estrógenos aumentam. Com a episódica de PGFM está intimamente relacio-
perda de receptores de progesterona e o au- nada com a luteólise. Em vacas prenhes, to-
mento do número de receptores de estrógenos, davia, os níveis de PGFM são acentuadamen-
inicia-se a síntese endometrial de receptores te reduzidos resultando na manutenção do
de ocitocina, possivelmente estimulada pelos corpo lúteo. Um aumento de 3 a 4 vezes de
estrógenos ovarianos, e o endométrio torna- PGFM pode ser detectado 6 horas após a in-
se suscetível à ocitocina liberada dos corpos jeção IV de 3 mg de estradiol no dia 13 do
lúteos e/ou da hipófise posterior resultando ciclo estral, porém esta resposta é significati-
em liberações episódicas de pulsos luteolíticos vamente reduzida quando o estradiol é inje-
de PGF. Em ovelhas prenhes, oTP-1 pode es- tado nos dias 18 e 20 da gestação. O intervalo
tabilizar o receptor de proges-terona e/ou pre- entre os períodos de cio é aumentado de 20 :t
venir aumentos nos receptores de estrógenos 8 dias quando os embriões bovinos são remo-
para inibir a síntese de ocitocina. vidos no dia 15, para 25 :t 1 di, quando o
Consequentemente a ocitocina não é capaz de concepto é removido no dia 17. A infusão intra-
estimular secreções episódicas de PGF, e um uterina de homogenatos de conceptos bovinos
corpo lúteo funcional persiste nas ovelhas também alonga o intervalo interestros.
prenhes. O concepto bovino produz um número de
proteínas ácidas de baixo peso molecular, in-
Vaca cluindo a proteína-1 do trofoblasto (bTP-1) a
qual como a oTP-1, é um tipo I de concepto
A luteolisina uterina é a PGF2a e o reco- interferon. A introdução da disposição total
nhecimento materno de gestação ocorre en- das proteínas secretoras do concepto bovino
214 Fisiologia da Reprodução

ou uma preparação altamente enriquecida em tudo, a produção endometrial de PGF2a é


bTP-l dentro da luz uterina de vacas dclicas marcadamente reduzida.
entre os dias 15 e 21 prolonga a vida útil do O concepto equino migra dentro do útero
corpo lúteo (Thatcher et aI., 1989). As proteí- de um corno para outro de 12 a 14 vezes por
nas secretoras do concepto bovino, quando dia entre os dias 12 a 14 da gestação, possi-
introduzidas na luz uterina entre os dias 15 velmente para inibir a produção endometrial
e 18 inibem a produção de PGF em resposta de PGF2a e deste modo protegendo o corpo
a uma injeção de estradiol no dia 18. O mode- lúteo. O concepto equino suprime a produção
lo para o reconhecimento materno da gesta- de PGF2a pelo endométrio, mas o agente não
ção em vacas é bastante similar ao de ove- foi identificado (Sharp et aI., 1989). O concepto
lhas. O endométrio de vacas prenhes não equino produz também quantidades crescen-
responde à produção de PGF induzida por tes de estradiol entre os dias 8 e 20 da gesta-
estradiol e ocitocina e apresenta níveis mui- ção. Um mecanismo similar porém de maior
to baixos de receptores de ocitocina nos dias magnitude foi encontrado para estrona. Ten-
14 a 21 comparadas a vacas dclicas (Fuchs tativas para prolongar a vida útil do corpo
et aI., 1990). Em adição, o endométrio de va- lúteo em éguas através da injeção de
cas prenhes produz um inibidor sintetase de estrógenos deram resultados conflitantes.
prostaglandina endometrial (EPSI), o qual Conceptos equinos secretam três proteínas
diminui especificamente a produção de PGF. principais entre os dias 12 e 14 da gestação
Não existe evidência de que o endométrio de com pesos moleculares acima de 40.000,
ovelhas prenhes produza EPSI. Os conceptos 50.000 e 65.000. Não obstante, os papéis des-
bovinos também produzem PGE2, o qual pode tas proteínas são desconhecidos. Os
ter um papelluteínico protetor na função do estrógenos e/ou as proteínas secretoras do
corpo lúteo. concepto podem proporcionar o reconhecimen-
to materno da gestação na égua através da
inibição da produção endometrial da PGF2a
Égua direta ou indiretamente.

A substância luteolítica uterina na égua é REFERÊNCIAS


a PGF2a parecendo que o concepto inibe sua
produção pelo endométrio uterino (Sharp et Austin, c.R (1951).Observations on lhe penetration
of lhe sperm fito lhe mammalian egg. Aust. J.
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9
GESTAÇÃO, FISIOLOGIA PRÉ-NATAL E PARTO
M.R. JAINUDEEN e E.S.E. HAFEZ

GESTAÇÃO TABELA 9-1. Diferenças nos Períodos


de Gestação em Animais Domésticos
Excetuando-se os Monotremata, os mamí-
Animal Média (Variação)
feros são vivíparos, i. é, o desenvolvimento
embrionário e fetal é completado dentro do
Bovinos (raças leiteiras)
útero. Este período de desenvolvimento intra- Ayrshire 278
uterino é denominado prenhez ou gestação e Suiça Parda 290 (270-306)
relaciona-se primariamente com a nutrição Shorthorn leiteiro 282
Holandesa 276 (240-303)
do feto em desenvolvimento e com as adapta- Guernsey 284
ções maternas dirigidas a esta finalidade. Holandesa (americana) 279 (262-309)
Jersey 279 (270-285)
Holandesa (sueca) 282 (260-300)
Duração da Gestação Zebu 292 (271-310)

A duração da gestação é calculada como o Bovin6s (raças de corte)


Aberdeen-Angus 279
intervalo entre o serviço fértil e o parto (Ta- Hereford 285 (243-316)
bela 9-1). A duração da gestação é genetica- Shorthorn de corte 283 (273-294)

mente determinada, embora possa ser modi-


Ovinos 148 (140-159)
ficada por fatores maternos, fetais e
ambientais (Fig. 9-1).
Fatores Maternos. A idade da fêmea in- Suínos
Domésticos 114 (102-128)
fluencia a duração da gestação nas diferen- Selvagens (124-140)
tes espécies. Uma extensão de dois dias além
do normal ocorre em ovelhas de oito anos de
EqÜinos
idade. Novilhas que concebem com uma ida- Arabe 337 (301-371)
de relativamente jovem apresentam um pe- Belga 335 (304-354)
ríodo de gestação um pouco mais curto do que Clydesdale 334
Morgan 344 (316-363)
aquelas mais velhas. Percherrão (321-345)
Fatores Fetais. Uma relação inversa en- Shire 340
tre a duração da gestação e o número de pro- Puro sangue inglês 338 (301-349)

dutos está bem documentada em várias es-


pécies multíparas, excetuando-se a suína.
Fetos múltiplos em espécies uníparas tam- Bezerros gêmeos nascem de três a seis dias
bém têm períodos de gestação mais curto. antes que os bezerros únicos. A interação en-

217
218 Fisiologia da Reprodução

Variações na duração da
gestação

I
~~
Fator materno Fatores fetais Fatores genéticos Fatores ambientais

1. idade da mãe 1. tamanho da 1. espécie, raça 1. nutrição


leitegada 2. genótipo fetal 2. temperatura
2. sexo do feto 3. estação
3. funções
hipofisárias e
adrenais

FIG. 9-1. Representação esquemática das variações na duração da gestação, devidas a fatores mater-
nos, fetais, genéticos e ambientais. Enquanto muitos destes fatores dentro de uma espécie causam vari-
ações mínimas, a hipofunção do eixo hipófise-adrenal do feto está associada com gestação prolongada na
ovelha e na porca.

tre os tamanhos fetais e da placenta pode in- plesmente refletir a influência do tamanho
fluir na gestação do equino. O sexo do feto do feto.
pode também determinar a duração da ges- A raça do embrião determina o tempo de
tação; bezerros e potros machos levam um ou gestação em bovinos (King et aI., 1982). Isto
dois dias a mais do que as fêmeas para nas- foi estabelecido pela transferência de em-
cerem. A duração da gestação pode ser influ- briões de raças com ge!;tação mais curta do
enciada pelas funções endócrinas do feto. que as doadoras e vice-versa. Fatores genéti-
Fatores Genéticos. As pequenas varia- cos são também responsáveis por diferenças
ções na duração da gestação entre raças (Ta- na duração da gestação entre as ovelhas
bela 9-1) podem ser devido a efeitos genéti- mutton e as produtoras de lã.
cos, estacionais ou locais. A expressão extre- Fatores Ambientais. Dos fatores
ma de gestação geneticamente prolongada é ambientais, a estação pode influir na dura-
concebida entre vacas leiteiras portadoras de ção da gestação. Potros concebidos no final
~ feto homozigótico para um gene recessivo do verão e outono apresentam períodos signi-
autossômico. ficativamente mais curtos de gestação do que
A influência do genótipo fetal equino sobre aqueles concebidos no início da estação de
a duração da gestação pode ser observada nos monta no início da primavera. A duração da
híbridos entre equinos e asininos. Por exem- gestação é mais curta 4 dias aproximadamen-
plo, a duração da gestação de uma égua co- te em éguas bem alimentadas em
berta por garanhão é de 320 a 360 dias. Éguas contraposição àquelas mantidas com uma
cobertas por jumentos, e portanto portadoras ração de manutenção.
de híbridos, apresentam uma tendência de
exibir gestações maiores (360 a 380 dias), FISIOLOGIA MATERNA DA GESTAÇÃO
enquanto que jumentas cobertas por um
garanhão apresentam uma gestação menor, O início da gestação é marcado por proces-
similar à da égua. Esta influência pode ser sos que prolongam o período funcional do cor-
mediada por um mecanismo hormonal ou sim- po lúteo cíclico. Estes processos sugerem a
Gestação,Fisiologia Pré-Natal e Parto 219

existência de um reconhecimento materno no os corpos lúteos acessórios regridem ao redor


estado de gestação. do sétimo mês de gestação.
Ligamentos Pélvicos e Sínfise Púbica.
Modificações dos Órgãos Reprodutivos O relaxamento dos ligamentos pélvicos que
ocorre gradativamente durante o curso da
Modificações Vulvares e Vaginais. Du- gestação, é acelerado com a aproximação do
rante a última metade da gestação, ocorrem parto. Este relaxamento é mais notado na
modificações no trato genital, particularmen- vaca e na ovelha do que na égua, e está rela-
te na vulva e na vagina. A vulva torna-se al- cionado aos altos níveis de estrógenos no fi-
tamente edematosa e vascular. Estas modifi- nal da gestação e à ação da relaxina. A parte
cações vulvares, mais notadas em vacas do caudal do ligamento sacrociático, semelhan-
que em éguas, ocorrem ao redor do quinto mês te a um cordão na vaca vazia, torna-se mais
de gestação em novilhas e do sétimo mês em relaxado e flácido na proximidade do parto
vacas. A mucos a vaginal fica pálida e seca
durante a maior parte da gestação, tornan-
do-se edemaciada e flexível mais para o final Égua, Ovelha Vaca, Porca, Cabra
da gestação.
Cérvice. Durante a gestação, o feto em de- CqRPO
LUTEO
senvolvimento é retido dentro do útero por I

fechamento compacto do orifício externo e por


secreção de muco altamente viscoso que oclui I PLACíNT~ I
Progesterona
o canal cervical. Este é o chamado tampão ~

~
mucos o da gestação e se liquefaz antes do
parto quando é eliminado sob forma fila-
mentosa.
Modificações Uterinas. À medida que
progride a gestação, o útero aumenta Gestação
gradativamente para permitir a expansão do FIGo 9-2. Progesterona secretada pelo corpo lúteo
feto, porém o miométrio permanece quies- é essencial para a manutenção da gestação preco-
cente para prevenir uma expulsão prematu- ce em todas as espécies domésticas. Os ovários,
ra. Três fases podem ser identificadas na contudo, podem ser removidos (ovariectomia) du-
rante a última metade da gestação sem sua inter-
adaptação do útero: proliferação, crescimen-
rupção na égua e na ovelha porque a placenta pro-
to e dilatação; a duração de cada uma varia duz progesterona nestas espécies.
com as espécies. Os mecanismos que permi-
tem o enorme aumento de tamanho são des-
conhecidos, mas provavelmente hormonais. TABELA 9-2. Estrógenos e Compostos
Modificações Ovarianas. O corpo lúteo Relacionados na Urina Durante a
regride em um ciclo estral não fértil; ele per- Gestação
siste, como um corpo lúteo de gestação (corpus
luteum verum) e consequentemente, os ciclos 17- 17a-
estrais ficam suspensos. No entanto, algumas Fêmea Estrona Estradiol Estradiol
vacas podem mostrar sintomas de cio na ges-
Vaca + - +
tação precoce, devido à atividade folicular dos
ovários. De 10 a 15 folículos desenvolvem-se Ovelha - - +
Cabra - - +
em éguas entre o 40Qe o 160Qdia de gestação.
Estes folículos se luteinizam formando cor- Égua* + + +
pos lúteos acessórios. Porca +
O corpo lúteo gravídico na vaca persiste em
um tamanho máximo durante toda a gesta- * A urina da égua contém também equilina,
ção, porém na égua, tanto o primitivo quanto equilenina, 17a e 17~-diidroequilenina.
220 Fisiologia da Reprodução

Hormônios da Gestação urinário total (estrona) mostra um aumento


entre a segunda e quinta semana de gesta-
Manutenção da Gestação. A proges- ção, um declínio entre a quinta e a oitava e
terona é o hormônio chave necessário para a um rápido aumento atingindo um pico na
manutenção da gestação. O corpo lúteo (CL) época do parto, que cai rapidamente logo após.
persiste durante a gestação em todos os ani- Na vaca, a excreção máxima de 17[3estradiol
mais domésticos, excetuando-se a égua. As- e, em menor grau, a estrona, ocorre aos nove
sim, as espécies domésticas podem ser classi- meses de gestação.
ficadas de acordo com a fonte de progesterona O nível sanguíneo de progesterona perma-
durante a última metade da gestação com pla- nece constante durante toda a gestação da
centas dependentes (égua, ovelha) ou corpos ovelha e da vaca e alcança um alto nível na
lúteos dependentes (vaca, cabra e porca) (Fig. porca precocemente na gestação. O
9-2). pregnanediol, metabólito urinário da proges-
Concen~açõesSanguineaseUrinárias terona na égua, não foi detectado em outras
de Hormônios. Existem diferenças entre es- espécies domésticas. Na égua, as concentra-
pécies na secreção urinária de estrógenos (Ta- ções de progesterona (Fig. 9-3) até o 352 dia
bela 9-2). Na égua, as concentrações de reflete m a secreção do corpo lúteo primitivo.
estrógeno plasmático (Fig.9-3) permanecem Um aumento do nível ocorre então com o de-
baixas durante os três primeiros meses de senvolvimento dos corpos lúteos secundários
gestação, então sobem constantemente até e esta concentração é mantida até que estes
atingir um pico entre o nono e o décimo-pri- comecem a regredir no 1502 dia, época em que
meiro mês, e depois declinam rapidamente até a placenta está suficientemente desenvolvi-
o final da gestação. Na porca, o estrógeno da para desempenhar seu papel.

concavidades
~ endometriais -1
100
união
inicial
FIG. 9-3.- Relações das modifica-
C"E ções que ocorrem no útero e ová-
00, A rios da égua e as gônadas fetais
::g :j ~ com os eventos endócrinos duran-
p..:.:;
te a gestação. A, O nível de PMSG
reflete a atividade funcional das
o 50 100 concavidades endometriais. B,
dias de gestação
parto Com a regressão do corpo lúteo
.~ I 1" corpo lúteo ---j J o primário (lQ) e secundários (2Q)
;t;j20
S
00
r 1-2"scorpos lúteos--I '1 'as
iJ durante a gestação, o nível
as- S~ plasmático de progesterona cai,
P."E
as...... ~S
p.M
porém a gestação é mantida pe-
I:i o- -p. los proges-tágenos placentários
o....-c: o~
Q) ~ (---n ). C, As gônadas fetais
..-
00 as
.... respondem à secreção de
Q) ....
~O
.... 200 300
00
Q) estrógenos aumentada pela uni-
p. dias de gestação parto dade feto-maternal, através do
00 50 crescimento em tamanho e peso.
o
.>:: c Notar que, no parto, o nível de
'as
I:i progestágenos permanece alto ao
.>:: -=
::1 E passo que os níveis de estrógenos
00""" cai. (Adaptado de Hay & Allen
o o-
I:i E (1975). J. Reprod. Fertil..SuppI.
Q)-
b()
'o
....
23, 557; Squires et., 1974. J.
..-
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Q) o 100 (1973). J. Anim. Sci 37, 962.)
dias de gestação
Gestação,Fisiologia Pré-Natal e Parto 221

Subsequentemente, o nível plasmático de de nutrientes do organismo materno por in-


progesterona permanece baixo, porém duran- termédio da placenta. A placenta é uma jus-
te os dois últimos meses de gestação, contra- taposição, ou fusão das membranas fetais ao
riando o que se supunha anteriormente, ele endométrio que permite trocas fisiológicas
sofre aumento constante atingindo um segun- entre o feto e a mãe. A placenta difere de ou-
do pico, bem maior do que as concentrações tros órgãos em muitos aspectos. Ela se origi-
prévias. na em consequência de vários graus de
Entre 40 e 130 dias de gestação, altas con- interações materno-fetais e está ligada ao
centrações de gonadotrofina coriônica equina embrião por um cordão de vasos sanguíneos.
(eCG) (denominada gonadotrofina sérica da O tamanho e função da placenta se alteram
égua prenhe ou PMSG) estão presentes no continuamente durante o curso da gestação,
sangue materno, porém não no sangue feta!. e o órgão é eventualmente expulso. Para o
O eCG, secretado pelas células trofoblásticas feto, a placenta consiste na combinação, em
e não pelo endométrio como se acreditava apenas um órgão, de muitas atividades fun-
anteriormente, luteiniza os folículos e man- cionais, que no adulto são separadas.
tém a função dos corpos lúteos secundários.
Devido as concavidades endometriais se- Desenvolvimento Placentário
rem de origem fetal e não materna, o genótipo
fetal exerce um efeito significante sobre o Membranas Fetais.Amorfogenia da pla-
desenvolvimento dessas concavidades e sobre centa durante a gestação inicial está intima-
a resultante secreção de eCG. Por exemplo, mente relacionada às membranas fetais ou
éguas domésticas (Equus caballus) extra-embrionárias, que são diferenciadas em
acasaladas com jumentos (Equus asinus), âmnio, alantóide, córion e saco vitelínico (Ta-
produzindo híbridos mulos, possuem concen- bela 9-3). As membranas fetais participam da
trações menores de eCG, e o período de sua formação da placenta, separadamente ou em
secreção é mais curto do que nas éguas por- certas combinações e dão origem a três tipos
tadoras de fetos equinos. de placentação, que diferem em relação à
identidade das membranas fetais envolvidas:
Adaptações Maternas placentação coriônica, corioalantóide e saco
, vitelínico. Dentre estes tipos, a placentação
Durante o curso da gestação, a mãe pro- corioalantóide é característica de todos os
duz um ajustamento metabólico e de cresci- animais domésticos (Perry, 1981). Pela fusão
mento para prover um adequado suprimento da camada externa da alantóide ao córion na
de nutrientes para o desenvolvimento do feto. placenta corioalantóide, os vasos fetais da
A composição do corpo materno, ingestão de alantóide entram em íntima justaposição às
alimento, consumo de energia, e metabolis- artérias e veias umbilicais, localizadas no te-
mo são alterados durante a gestação, mas os cido conjuntivo entre a alantóide e o córion.
mecanismos responsáveis não estão totalmen- (Fig.9-4).
te estabelecidos. Recentes evidências têm Vilosidades Coriônicas. Uma caracterís-
envolvido fatores de crescimento semelhan- tica da placenta corioalantóide é a área bas-
tes a insulina (IGFs) e suas proteínas tante aumentada na junção materno-fetal
marcadas como regra de jogo importante na seja pela formação de vilosidades coriônicas
adaptação materna, que garante um supri- proeminentes nas criptas uterinas ou pela
mento adequado de substratos para o desen- formação de labirintos coriônicos. As
volvimento do feto (Owens, 1991). vilosidades coriônicas consistem de cones
mesenquimatosos vasculares, circundados
PLACENTA por células trofoblásticas cubóides e células
gigantes binucleadas. As vilosidades ou pe-
Uma característica singular do desenvol- netram diretamente dentro do endométrio ou
vimento precoce dos mamíferos é a provisão simplesmente se entremeiam com pregas
222 Fisiologia da Reprodução

TABELA 9-3. Membranas Fetais dos Animais Domésticos


Membrana Origem Funções
Saco vitelínico Primitiva camada endotérmica Vestigial
Âmnio Formação de cavidade da massa celular Envolve o feto em uma cavidade cheia de líquido
interna
Alantóide Divertículo do intestino posterior Vasos sanguíneos ligam a circulação fetal com a
placentária
Funde-se com o cório para formar a placenta
corioalantóide
Cório Cápsula trofoblástica do blastocisto Envolve o embrião e outras membranas fetais
Intimamente associado com a delimitação
interna do útero para formar a placenta
Cordão Envoltórios amnióticos ao redor do saco Envolve os vasos alantóides e atua como ligação
umbilical vitelínico vascular entre a mãe e o feto

em proximidade com os vasos sanguíneos


maternos.

Classificação das Placentas

cório As placentas podem ser classificadas, de


acordo com a morfologia, com as característi-
cas microscópicas da barreira materno-fetal
e com a perda de tecido materno por ocasião
do parto (Tabela 9-4).
Forma Macroscópica. A forma definiti-
va da placenta é determinada pela distribui-
ção das vilosidades sobre a superfície
FIG. 9.4.- Diagrama das membranas fetais de um
feto bovino com 105 dias para mostrar as cavida- coriônica (Fig.9-5). Em ruminantes, os
des alantóide e amniótica. Os cotilédones são dis- cotilédones fetais se fundem com as
tribuídos sobre a membrana corioalantóide e so- carúnculas ou projeções especializadas da
bre o amniocório. mucosa uterina, formando os placentomas ou
unidades funcionais. As carúnculas são con-
vexas na vaca e côncavas na ovelha e na ca-
vasculares da superfície endometrial (p. ex., bra (Fig.9-5). No início da gestação da égua,
em animais domésticos). A função das a placenta consiste de uma simples justapo-
vilosidades é colocar os vasos fetais (alantóide) sição dos epitélios fetal e materno, porém en-

TABELA 9-4. Classificação de Placentas Corioalantóides


Classificação
Espécies Padrão das Vilosidades Barreira Materno- Perda de Tecido Matemo no Parto
Coriônicas Fetal

Porca Difusa Epiteliocorial Nenhuma (não-deciduada)


Égua Difusa e Epiteliocorial Nenhuma (não-deciduada)
Microcotiledonária
Ovelha, cabra, vaca, Cotiledonária Epiteliocorial Nenhuma (não-deciduada)
búfalo
Cadela, gata Zonária Endoteliocorial Moderada (deciduada)
Mulher, macaca Discóide Hemocorial Extensa (deciduada)
Gestação, Fisiologia Pré-Natal e Parto 223

A
placenta difusa placentomas desenvolvem-se ao redor do feto
égua porca e progridem em direção ao limite distal da
placenta zonária corioalantóide no corno vazio (Fig. 9-4). Du-
(cadela, gata) rante a gestação estes placentomas aumen-
tam em diversas vezes seu diâmetro original.

placenta cotiledonária
(vaca, cabra, ovelha)
g
placenta discóide
Normalmente a corioalantóide estende-se
para dentro do corno vazio, porém o grau em
que as carúnculas se hipertrofiam é usual-
(mulher, macaca) mente menor do que aquele do corno gestan-
te.
~ Os envoltórios coriônicos de fetos adjacen-
tes de suínos estão em aposição, de modo que
B
encontra-se frequentemente uma união
vaca ovelha égua coriônica entre um ou mais fetos. Embora
ocorra uma alta incidência de fusão coriônica

convexa concava
cotiledonária
:~ durante gestações múltiplas, a anastomose
vascular entre as circulações alantóides é de
ocorrência rara em ovelhas. Em contrapo-
FIG. 9.5. A, Distribuição das vilosidades
sição, encontra-se uma alta incidência de
coriônicas como base para classificação da forma anastomose vascular entre fetos bovinos gê-
placentária. B, Placenta epiteliocorial da égua, meos, originando a condição bastante conhe-
ovelha e vaca. A placenta da égua é difusa e cida do "freemartinismo".
microcotiledonária; das ovelhas e das vacas são
cotiledonárias. chA, corioalantóides; end, Barreira Placentária
endométrio; F, fetal; M, maternal. (Redesenhados
de Silver et alo (1973). In Proceedings ofSir Joseph
Barcroft Centenary Symposium, K.S. Comline et As membranas que separam as circulações
alo (eds.). Cambridge, Cambridge University fetal e materna são conhecidas coletivamen-
Press.) te por barreira placentária. Esta barreira é
denominada de acordo com os tecidos fetal e
tre o 752 e o 1102 dias de gestação na égua, o -materno realmente em contato, na ordem do
complexo pregas e ramos das duas superfí- materno para os tecidos fetais.
cies origina a formação dos microcotilédones. As características ultra-estruturais da zona
As concavidades endometriais são carac- de junção entre os tecidos fetal e materno da
terísticas únicas da placenta equina. Elas são placenta epiteliocorial, mostra uma inter-
discretas, com áreas de poucos milímetros a digitação das microvilosidades fetais e mater-
vários centímetros de diâmetro e alinhadas nas com pouco contato direto entre as mem-
de modo circular na porção caudal do corno branas celulares do feto e da mãe. Extensas
uterino grávido. Estas concavidades são for- variações estruturais ocorrem na placenta
madas pela invasão do endométrio através de epiteliocorial das espécies domésticas. Por
uma camada de células trofoblásticas exemplo, o epitélio uterino forma um sincício
especializadas (circunferência coriônica) que parcial na ovelha, enquanto que grandes cé-
despe as membranas fetais ao redor do dia lulas binucleadas são uma característica do
38. As concavidades endometriais são a fonte epitélio coriônico da vaca e da ovelha (Steven,
da gonadotrofina coriônica (eCG) presente em 1975).
altas concentrações no sangue de éguas en-
tre 40 e 130 dias de gestação (Allen et aI., Circulação Placentária
1973).
Na ovelha, o número de placentomas varia N a placenta, duas circulações situam-se
de 90 a 100 e é igualmente distribuído entre paralelamente às circulações fetal e mater-
os cornos gestante e vazio. Na vaca, 70 a 120 na, todavia o sangue fetal ou materno não se
224 Fisiologia da Reprodução

mistura nas placentas epiteliocoriais dos ani- O padrão do fluxo umbilical aumenta com
mais domésticos. o avançar da gestação para satisfazer as de-
Suprimento Sanguíneo Placentário. O mandas do feto em crescimento. O aumento
suprimento sanguíneo materno da placenta global no fluxo umbilical é atingido por uma
é derivado das artérias e veias uterinas. À resistência vascular umbilical diminuída no
medida que avança a gestação, a proporção início da gestação e por uma pressão sanguí-
do fluxo sanguíneo uterino aumenta na ove- nea arterial aumentada posteriormente.
lha e relaciona-se com o peso feta!. Cerca de Microcirculação Placentária. Vários
84% do fluxo uterino total próximo ao parto modelos teóricos têm sido propostos para ex-
passa para os placentomas; o suprimento re- plicar a direção do fluxo sanguíneo materno
manescente vai para as camadas e fetal na placenta. O fluxo sanguíneo nos
endometriais e miometriais da placenta. canais vasculares materno e fetal adjacentes
Fluxo Sanguíneo Umbilical. As artérias pode ser contracorrente, concorrente, entre
umbilicais levam sangue do feto para a pla- correntes (multivilosidades), ou acumulado.
centa, e as veias umbilicais retomam o san- No fluxo acumulado, o sangue materno entra
gue da placenta para o feto. A maioria do san- em um grande espaço no qual ele é exposto
gue umbilical é distribuída para os aos capilares fetais.
cotilédones, enquanto apenas 6% suprem a O padrão do fluxo sanguíneo na placenta
corioalantóide. da ovelha ou é entre correntes ou uma mistu-

Corioalantóide
Vasos umbilicais
Lado retal do
microcotilédone -..,.,
Abertura das
glândulas uterinas

Lado matemo
do microco-
tilédone

Artéria
uterina

FIG. 9-6. Diagrama de placenta madura de equino ilustrando a estrutura dos microcotilédones, que são
formados entre os 75 e 100 dias da gestação. (De Steven e Samuel, (!975). J. Reprod. Fertil. Suppl. 23,
580).
Gestação, Fisiologia Pré-Natal e Parto 225

1:9
D
U GJ
L
T
O
e:,
()
t t t
qp
t
hormônios respiração digestão excreção
~ ~ ~
F
E
T
O
r placenta

FIG. 9-7. Funções da placenta. A placenta concentra em um órgão muitas atividades


I
da respiração,
digestão e excreção feto-hormonais-as quais são separadas nos adultos.

ra de entre corrente e contracorrente. Na endométrio para a passagem de oxigênio e


égua, os microcotilédones, como os cotilédones nutrientes do sangue materno para o fetal e
da ovelha e da vaca, são altamente vascula- de produtos de excreção na direção oposta.
rizados. Artérias retas e longas passam en- Gases. Existem muitas semelhanças en-
tre as glândulas uterinas para o endométrio, tre a troca de gases da placenta e a dos pul-
onde elas ramificam-se (Fig.9-6). Do lado mões. A maior diferença, todavia, é que na
fetal, as vilosidades coriônicas são supridas placenta trata-se de um sistema fluido com
por ramificações das artérias e veias umbili- fluido, enquanto que nos pulmões é um siste-
cais. O fluxo sanguíneo dos capilares fetais ma gás com fluido. As artérias umbilicais le-
dirige-se da extremidade para a base de cada vam sangue não oxigenado do feto para a pla-
vilosidade e opõe-se ao fluxo dos capilares centa, enquanto que as veias umbilicais car-
maternos (contracorrente). regam sangue oxigenado na direção inversa.
A eficiência da troca de oxigênio varia de-
pendendo do sistema. Ela atinge o máximo
Funções Placentárias no sistema contracorrente e o mínimo no sis-
tema concorrente. A eficiência do sistema de
A placenta desempenha muitas funções e multivilosidades é intermediária entre os sis-
substitui o trato gastrintestinal do feto, os temas previamente mencionados.
pulmões, os rins, o fígado e as glândulas O dióxido de carbono difunde-se livremen-
endócrinas. Em aditamento, a placenta sepa- te da circulação fetal para a materna além de
ra os organismos materno e fetal, asseguran- ser facilitado por certos mecanismos fisioló-
do o desenvolvimento em separado do feto gicos. Por exemplo, o sangue fetal apresenta
(Fig.9- 7). uma afinidade menor para o CO2 do que o
Transporte Placentário. O sangue do sangue materno durante a transferência
feto e da mãe nunca entram em contato dire- placentária de oxigênio. Este fato favorece a
to, embora as duas circulações sejam sufici- difusão do CO2 do sangue fetal para o mater-
entemente íntimas na junção do córion e do no.
226 Fisiologia da Reprodução

Nutrientes. A placenta permite o trans- hormônios tireoidianos ou hormônios estimu-


porte de açúcares e aminoácidos, vitaminas e lantes da tireóide. Provavelmente, também a
minerais para o feto como substratos para seu insulina apenas cruza vagarosamente e em
crescimento. O transporte placentário de nu- quantidades insignificantes.
trientes é baseado no fluxo líquido seja da mãe O cortisol é transferido da mãe para o feto
para o feto ou na direção oposta. Ele pode ser em muitas espécies, porém não em cabras e
devido a uma diferença de concentração ou ovelhas. Os esteróides não conjugados, a
de um transporte unidirecional dirigido pelo progesterona e os estrógenos atravessam a
carreador. Muitos nutrientes tais como a barreira placentária rapidamente. Muitos
glicose, os aminoácidos, os eletrólitos e vita- esteróides sofrem alterações enzimáticas na
minas são transportados por sistemas movimentação através da placenta, sendo que
carreadores localizados no trofoblasto tais alterações têm importante atuação em
(Schneider,1991). seu transporte.
A placenta contém grandes quantidades de Hormônios. A placenta é um órgão
glicogênio sintetizado principalmente da endócrino transitório como o corpo lúteo. Ela
glicose materna. A frutose fetal é produzida secreta hormônios tróficos e esteróides que
pela placenta a partir da glicose, porém a sua são liberados na circulação fetal e também na
função no feto é obscura. A frutose compreen- circulação materna. O conceito de uma uni-
de cerca de 70 a 80% do açúcar no sangue dade feto-placentária foi proposto para expli-
fetal, ao passo que a glicose é predominante car os vários mecanismos pelos quais gran-
no sangue materno. Os valores de frutose des quantidades de progesterona e estrógenos
fetais são correlacionados com os níveis de são produzidas durante a gestação. Tanto a
glicose maternos, e a manutenção de altas placenta quanto o feto são falhos em certas
concentrações fetais pode ser um indicador funções enzimáticas que são essenciais para
da função placentária. Ácidos grax~s livres a esteroidogênese, porém as enzimas ausen-
(FFA) são transportados através da placenta tes da placenta estão presentes no feto e vice-
por simples difusão. Os níveis maternos e versa. Assim, pela integração sequencial das
fetais de FFA são intimamente correla- funções esteroidogênicas do feto e da placen-
cionados no equino, porém a transferência de ta, a unidade feto-placentária pode elaborar
FFA através da placenta de ruminantes é a maior parte, se não todos os esteróides
mínima. hormonalmente ativos.
Proteínas não são transferidas como tais. Algumas espécies (ovelha e égua) e não
Os aminoácidos cruzam rapidamente contra outras (vaca, cabra e porca) são capazes de
o gradiente de concentração e são encontra- sintetizar quantidades suficientes de
dos em maiores concentrações no plasma fetal progesterona para manter a gestação, pela
do que no materno. As imunoglobulinas são utilização de acetato e colesterol derivados da
transmitidas na espécie humana e em alguns circulação materna. Durante a segunda me-
animais, porém não nos animais domésticos. tade da gestação, um alto nível de produção
Isto pode ser explicado por diferenças estru- de estrógenos ocorre nas placentas da égua,
turais nos vários tipos de placenta. vaca, porca e ovelha. A placenta depende do
As vitaminas lipossolúveis (A, D e E) são cortisol fetal para induzir a atividade das
impedidas pela placenta; deste modo, no nas- enzimas placentárias e assim sintetizar
cimento as suas concentrações são menores estrógenos a partir da progesterona.
no feto do que na mãe. As vitaminas O lactogênio placentário (PL), conhecido
hidrossolúveis (B e C) cruzam a barreira também como somatomamotropina coriônica,
placentária mais rapidamente do que as que é um hormônio peptídico da gestação encon-
são lipossolúveis. Os polipeptídios cruzam a trado em muitas espécies de mamíferos e co-
placenta vagarosamente. Na ovelha, embora nhecido por apresentar efeitos tróficos e se-
o iodo atravesse a placenta rapidamente, há melhantes ao hormônio do crescimento tanto
pouca ou nenhuma transferência de na mãe quanto no feto.
Gestação,Fisiologia Pré-Natal e Parto 227

que provocam rejeição são denominados de


antígenos de transplante ou de histocom-
patibilidade. A rejeição é qsualmente media-
da mais por linfócitos- T do que por anticorpos
(Fig. 9-8). Estes antígenos de transplante es-
tão presentes na superfície celular e direta-
mente expostos aos linfócitos-T do sistema
circulatório recipiente.
O feto propicia um desafio antigênico ao
sistema imunomaterno que seria capaz de
provocar reações de rejeição imunológica, po-
rém diferentemente da destruição imu-
nológica de alo-implantes em outras partes
do organismo, a placenta não é rejeitada até
o parto, permanecendo portanto, por um pe-
ríodo muito maior do que aquele necessá-
Sistema imunológico materno rio para provocar uma reação de alo-implan-
Linfócitos Células te (geralmente em duas ou três semanas). A
(Celular) plasmáticas falta de rejeição da placenta pelo tecido ma-
células "T" (Humoral) terno tem confundido os imunologistas e le-
células "B"
vado ao estabelecimento de muitas teorias
O" o- para explicar a singular relação entre mãe e
Linfócitos Anticorpo feto. Discussões detalhadas das muitas teo-
sensibilizados imunoglobulina rias propostas para explicar este fenômeno
são encontradas em várias revisões
Fig. 9-8. Processos que ocorrem para proteger o (Anderson, 1988; Beer e Sio, 1982; Cooper,
feto de um ataque imunológico pelos linfócitos sen- 1980; Hogarth, 1982). Já foram propostas as
sibilizados da mãe. Os antígenos presentes no
trofoblasto ou células fetais sensibilizam o siste- seguintes teorias: o feto é antigenicamente
ma imunológico materno propiciando o apareci- imaturo; as atividades imunológicas mater-
mento de anticorpos e linfócitos sensibilizados. A nas estão reduzidas ou suspensas durante a
acão de células exterminadoras (linfócitos sensi- gestação; o útero é um local imunologicamente
bilizados) sobre a unidade feto-placentária pode privilegiado; uma barreira física materno-
ser bloqueada por: (1) "encarecimento imunológico"
fetal está presente.
envolvendo a combinação de anticorpos humorais
com locais nas células trofoblásticas, bloqueando A natureza exata dos mecanismos
deste modo os linfócitos sensibilizados que atin- imunorreguladores é extremamente contro-
gem estas células; e (2) síntese de proteínas sin- vertida, não havendo uma única explicação
gulares e hormônios esteróides produzidos pelo para a imunocoexistência entre a mãe e o feto.
trofoblasto.
A chave para a manutenção da gestação pode
Relação Imunológica entre a Mãe e o Feto residir no trofoblasto (Billington, 1989).
Antígenos presentes no trofoblasto ou nas
o Feto como um Alo-implante. A pre- células fetais presumivelmente sensibilizam
sença de um feto em desenvolvimento no o sistema imunomaterno (Fig. 9-8), originan-
ambiente intra-uterino significa um grande do anticorpos ou linfócitos sensibilizados. To-
problema. O feto herda do pai características davia, o tecido trofoblástico age como uma
genéticas que são estranhas à mãe, podendo barreira, impedindo a entrada de linfócitos
assim ser considerado um alo-implante ou maternos ao feto. Esta proteção de um ata-
tecido de um indivíduo diferente da mesma que imunológico materno pode ser devido à
espécie. Se o doador tiver antígenos não pos- especial estrutura da superfície celular
suídos pelo recipiente, este de um mogo geral trofoblástica (sialomucina) e/ou à síntese de
irá rejeitar o tecido transplantado. Antígenos fatores que a tornam sensível a um anticorpo
228 Fisiologia da Reprodução

ou uma lise imunológica com mediação celu- FISIOLOGIA PRÉ-NATAL


lar.
Durante os anos de 1980, verdadeiras ges- Períodos Pré-natais
tações interespecíficas, com a mãe e o concepto
sendo de espécies diferentes, foram produzi- O desenvolvimento pré-natal dos animais
das por meio de manipulação embrionária e domésticos pode ser dividido em três perío-
transferência. Estas gestações foram usadas dos principais. O período de ovo culmina com
para estudar os mecanismos que permitem a a união inicial do blastocisto porém é ante-
sobrevivência do alo-implante fetal sem re- rior ao estabelecimento da circulação intra-
jeição imunológica (Anderson, 1988). Experi- embrionária. O período embrionário se esten-
mentos com modelos equinos (cavalo domés- de do 15Qao 45Qdia de gestação na vaca, do
tico e jumento) e com modelos bovídeos (ca- 12Qaté cerca do 34Qdia na ovelha e do 12Qao
bras e carneiros domésticos) revelaram a pre- 60Qna égua. Neste período, ocorre um rápido
sença de uma barreira imunológica que res- crescimento e diferenciação, durante o qual
tringe a gestação interespecífica. Aparente- os principais tecidos, órgãos e sistemas (Fig.
mente, todavia, existem diferenças entre es- 9-9) são estabelecidos e as principais carac-
pécies na manifestação da barreira. Uma res- terísticas da forma externa do corpo são reco-
posta imunológica com mediação celular pode nhecidas. O período fetal se estende a partir
ser necessária para prevenir a rejeição do 34Qdia na ovelha, do 45Qdia na vaca e do
trofoblástica no modelo equino, enquanto que 60Qdia na égua até o nascimento. Este perío-
uma interação inadequada do trofoblasto com do caracteriza-se pelo crescimento e modifi-
o endométrio, em vez da resposta imunoló- cações da forma do feto.
gica, pode ser importante no modelo bovídeo
(Anderson, 1988). Vários mecanismos devem Nutrição e Metabolismo Fetais
também existir para proteção dos embriões
na pré-implantação contra a destruição do Ao passo que o blastocisto e o embrião jo-
sistema imunomaternaL Um destes mecanis- vem são nutridos pelo fluido endometrial, o
mos a nível celular pode ser a zona pelúcida, feto recebe seu suprimento de nutrientes da
atuando como uma barreira física entre a mãe circulação materna através da placenta. O
e o feto (Warner et aL, 1988). feto pode ser considerado um parasita viven-

Zona pelúcida
(desnuda)
ECTODERMA
C EPiderme, pêlo, cascos
Sistema nervoso

Somitos, tecidos musculares


-, (liso, estriado, cardíaco)

r
: - MESODERMA Órgãos circ~latórios~co~~ção,
vasos sangumeos e ImfatIcos
Tecido conjuntivo (ossos,
cartilagens, ligam~ntos e
tendões)
Trofoblasto Massa celular
intema

ENDODERMA C Glândulas, fígado


Revestim~nto ~ntemo do
sistema dIgestivo

FIG. 9-9. Derivação dos vários órgãos do corpo por diferenciação progressiva e especialização divergen-
te. A origem de todos os órgãos fetais pode ser retrocedida às camadas germinativas primárias que se
originam da massa celular interna.
Gestação, Fisiologia Pré-Natal e Parto 229

do dentro da mãe e ele tem prioridade no vinos, mais da metade do aumento do peso
evento de uma nutrição materna insuficien- fetal ocorre durante os dois últimos meses da
te de modo que seu desenvolvimento pode gestação. O peso do feto, a termo, contribui
prosseguir sem alteração. Ele requer carboi- com aproximadamente 60% do peso total do
dratos, proteínas, vitaminas e minerais para produto da concepção.
manutenção, diferenciação e subsequente Os padrões de crescimento do feto e de seus
desenvolvimento e crescimento. órgãos e tecidos variam durante os diferen-
O feto recebe um suprimento contínuo de tes estágios da vida intra-uterina. Por exem-
glicose da mãe através da placenta. A glicose plo, durante o desenvolvimento fetal precoce,
é o principal combustível metabólico do feto. a região cefálica cresce rapidamente,
No final da gestação, o feto normal acumula consequentemente, a cabeça do feto é
glicogênio no fígado e músculos esqueléticos desproporcionalmente grande. No final da
para ajudá-lo a vencer o período de transição gestação, o crescimento cefálico diminui. No
após o nascimento até o estabelecimento de nascimento, a cabeça e os membros são rela-
amamentação eficiente. Embora a frutose tivamente mais desenvolvidos que os múscu-
represente cerca de 70 a 80% do açúcar no los.
sangue de fetos de ungulados (bovinos, ovi- Fatores que Metam o Desenvolvimen-
nos e caprinos), sua utilização é desprezível, to Fetal. O padrão do crescimento fetal de-
exceto quando os níveis sanguíneos de glicose pende primariamente do suprimento alimen-
estejam baixos. Em fetos de ruminantes, o tar e da habilidade do feto em utilizar a ali-
acetato, o lactato e os aminoácidos podem ser mentação (Fig. 9-10). Diferenças de espécies,
importantes substratos energéticos. raças e linhagens no tamanho fetal são devi-
O feto sintetiza todas as suas proteínas dos do a diferenças no padrão de divisão celular,
aminoácidos derivados da mãe; as proteínas o qual é determinado geneticamente. Assim,
são usadas principalmente para a síntese do existe uma integração íntima entre o supri-
que para a oxidação ou gliconeogênese. mento alimentar para o feto (fatores
Durante a gestação, a retenção de cálcio, ambientais ), o padrão de divisão celular (fa-
fósforo e ferro aumenta em relação ao peso tores genéticos) e, portanto, o padrão de cres-
corpóreo fetal. O feto tem a singular habili- cimento.
dade de esgotar as reservas de cálcio do es- Fatores Genéticos. Fetos da raça holan-
queleto materno caso os alimentos sejam po- desa no nascimento pesam cerca de 35% a
bres nesse mineral. O ferro é usado para a mais que bezerros Jersey e cerca de 15% a
síntese de hemoglobina, porém pouco se sabe mais do que a média de bezerros leiteiros. Si-
sobre sua distribuição e metabolismo. milarmente, fetos ovinos da raça Romney
crescem mais rápido do que os fetos da raça
Crescimento Fetal Merino. A contribuição materna para a va-
riabilidade do tamanho fetal é maior do que
Padrão de Crescimento. À medida que a contribuição paterna.
cresce, desde óvulo fertilizado esférico até o Fatores Ambientais. Os principais fato-
feto a termo, o embrião não apenas aumenta res que afetam o crescimento pré-natal são
de tamanho e peso, como também sofre mui- representados pelo tamanho, número de par-
tas modificações morfológicas. O padrão de tos, nutrição da mãe, número de filhos, ta-
crescimento, i. é, o aumento porcentual em manho da placenta e estresse climático. Des-
peso e dimensões por unidade e tempo (cres- tes fatores é importante o tamanho da mãe.
cimento relativo), é muito mais rápido nos O tamanho dos recém-nascidos de cruzamen-
estágios iniciais e diminui à medida que a tos recíprocos entre raças grandes de cavalos
gestação progride, enquanto que o incremen- Shire com as pequenas raças de pôneis
to absoluto por unidade de peso (crescimento Shetland depende principalmente do tama-
absoluto) aumenta exponencialmente, atin- nho da mãe. O tamanho do pai somente co-
gindo o máximo no final da gestação. Em bo- meça exercer influência sobre o crescimento
230 Fisiologia da Reprodução

fatores que influem no FIG. 9-10. Resumo dos fatores que


crescimento fetal influenciam o crescimento feta!. Dife-

.-------
genéticos
!
ambiente
~ hormônios fetais
renças de espécies e de raças quanto
ao tamanho do feto são devido ao pa-
drão de divisão celular que é geneti-
camente determinado. O padrão do
espécie mãe crescimento fetal depende do ambien-
tireóide te intra-uterino. Os hormônios fetais
raça nutrição
tamanho da insulina
tamanho, podem influir no crescimento do feto.
hormônio do
leitegada paridade As somatomedinas e os fatores de cres-
placenta crescimento
genótipo
somatomedinas? cimento semelhantes à insulina esti-
fluxo sanguíneo mulam o crescimento das células
tamanho
fetais in vitro, embora seja desconhe-
cida a sua participação no feto.

após o nascimento. Observações similares fo- Este impedimento do crescimento é um efei-


ram feitas em bovinos e ovinos. to da temperatura e não devido a ingestão
A nutrição materna exerce importante in- reduzida de alimento durante a gestação.
fluência sobre o crescimento fetal, notavel- Hormônios Fetais. Os hormônios fetais
mente em ovinos. A subnutrição da ovelha provavelmente influem no crescimento do feto
durante a última fase da gestação leva à pro- (Colenbrander et aI., 1984; Jost, 1979). O
dução de cordeiros subdesenvolvidos, mesmo hormônio do crescimento pode estimular o
que tenha havido antes um nível normal de
nutrição. Reciprocamente, um tipo invertido
de programa de alimentação resulta em cor-
deiros de tamanho normal.
Em espécies multíparas, como a suína du-
rante a gestação precoce, o alimento e a aco- i , Veia porta
modação uterina são adequados, porém nos Duto venoso
i Fígado I
.. ~ .J
estágios finais, o número de fetos participan- .,...
Veia cava caudal
do do suprimento sanguíneo uterino pode
exercer uma profunda influência sobre seu Crista dividens
tamanho no nascimento. A duração da gesta-
ção em suínos não é reduzida pelo aumento
da leitegada, o que sugere que o baixo peso
ao nascer e as grandes leitegadas devem es-
tar relacionados à avaliabilidade de nutrição
aos fetos individualmente. Nas espécies
uníparas, principalmente bovinos, os fetos
gêmeos geralmente são menores que os fetos
únicos, provavelmente porque a duração da Coração e
cabeça
gestação é reduzida. Em ovinos, o peso fetal
está relacionado ao peso da placenta. Em vá-
rias espécies incluindo a humana, a diferen-
ça no tamanho fetal entre gêmeos e um só
feto no final da gestação não é totalmente res-
ponsável pela diferença de peso da placenta. Artérias umbilicais para a placenta
Altas temperaturas ambientais durante a
gestação afetam o tamanho do feto. A exposi- FIG. 9-11. Representação esquemática da circu-
ção de ovelhas prenhes ao estresse térmico lação feta!. O duto venoso, a crista dividens, o
forame oval e o duto arterioso desviam o sangue
reduz o crescimento fetal, sendo o grau de re- oxigenado do fígado, ventrículo direito e pulmões
dução proporcional ao tempo de exposição. afuncionais, respectivamente.
Gestação, Fisiologia Pré-Natal e Parto 231

crescimento do feto, embora não pareça que para dentro da aorta distante dos pulmões
seja essencial para isso. afuncionais.
A insulina tem importância no crescimen- O sangue que deixa a aorta sobre o duto é
to fetal, exercendo seus efeitos através de distribuído para a aorta descendente. As duas
aumento da avaliabilidade de substratos artérias umbilicais são longas, altamente
energéticos, além de estimular o crescimento contráteis, com espessas camadas muscula-
placentário. A tireóide fetal é dispensável em res e originam-se da porção caudal da aorta
algumas espécies (coelhos, humana), enquan- descendente. Elas carregam sangue para a
to que em outras (macacos, ovinos), a sua placenta.
ausência resulta em maturação retardada dos A pressão sanguínea mais alta no lado di-
músculos e esqueleto. reito do que no lado esquerdo do coração fetal
Fatores de Crescimento Semelhantes mantém patente o forame oval. A pressão do
à Insulina. Os fatores de crescimento seme- ventrículo direito é maior do que a do
lhantes à insulina (IGF-I e -11) ou ventrículo esquerdo. A maior pressão da ar-
somatomedinas são hormônios polipeptídios téria pulmonar do que da aorta, provavelmen-
similares à insulina. Eles ocorrem em teci- te é devido à alta resistência vascular exis-
dos fetais e placentários (Falconer et aI., tente nos pulmões fetais, o que provoca o flu-
1991). O IGF-II parece não apenas mediar o xo sanguíneo da artéria pulmonar para den-
crescimento fetal de acordo com a tro da aorta através do duto arterioso.
avaliabilidade de glicose, como também, atu- Em geral, os batimentos cardíacos são
ando em conjunto com os hormônios maiores no feto do que no adulto. Os
placentários, regula as atividades metabóli- batimentos cardíacos fetais diferem em vá-
cas da mãe de modo que fique disponível um rias espécies, assim como em diferentes está-
suprimento contínuo de substratos para o gios da gestação dentro de cada espécie. Os
desenvolvimento fetal (Owens, 1991). batimentos cardíacos do feto variam de 170 a
220 por minuto em ovinos e de 120 a 140 por
Circulação Fetal minuto em bovinos.

A circulação fetal (Fig. 9-11) é essencial-


mente similar à do adulto, com exceção de que Fluidos Fetais
a oxigenação do sangue ocorre na placenta e
não nos pulmões. A circulação apresenta vá- Origem. A origem dos fluidos fetais
rios desvios ou subpassagens que dirigem o (amniótico e alantoidiano) e as secreções que
sangue oxigenado aos tecidos. Afim de evitar para eles contribuem são complexas (Tabela
o metabolismo pelo fígado, a maior parte do 9-5). Existem pelo menos quatro locais em que
sangue da veia umbilical é desviada através podem ocorrer a absorção e a secreção: os sis-
do duto venoso do fígado para a veia cava cau- temas respiratório, urinário e digestivo, e
dal. No suíno e no equino, nunca se desenvol- também a pele fetal. No feto ovino, a urina
ve um duto venoso e o sangue venoso umbili- formada nos mesonefros passa para dentro
cal passa através das sinusóides hepáticas. da cavidade alantoidiana através do úraco,
A crista dividens, projeta da borda do até cerca do 90Qdia da gestação. Depois dis-
forame oval e separa o fluxo da veia cava cau- so, a urina passa em quantidades crescentes
dal em duas correntes separadas antes que para a cavidade amniótica devido à oclusão
os átrios sejam alcançados; a corrente de duto do úraco e à franquia da uretra. Deste modo,
venoso é dirigida através do forame oval em a urina fetal forma a maior fonte do fluido
grande porção para dentro do átrio esquerdo, amniótico na última fase da gestação em ovi-
dirigindo assim sangue oxigenado para a ca- nos.
beça e desenvolvendo o ventrículo esquerdo Em outras espécies, outras fontes podem
no período neonatal. O duto arterioso desvia influir sobre a quantidade e a composição do
a maior parte do sangue arterial pulmonar líquido amniótico, p. ex., secreções das glân-
232 Fisiologia da Reprodução

TABELA 9-5. Origem, Composição e Funções dos Líquidos Fetais em Animais


Domésticos

Líquido Origem Composição Funções


Amniótico Urina fetal Solução com partículas Protege o feto contra choques
Secreções do trato respiratório suspensas externos
e da cavidade bucal Baixos níveis de K+, Mg++, Impede aderências entre a pele fetal
Circulação materna glicose, creatinina, ácido e membranas amnióticas
úrico e uréia Auxilia na dilatação da cérvice e
Altos níveis de Na+, Cl-, lubrifica a passagem durante o
p+++ e frutose parto
Enzimas, ferro, placas
amnióticas, células
Alantóide Urina fetal Ultrafiltrado Promove a íntima posição do alanto-
Atividade secretora da Baixos níveis de Na+, Cl-, cório com o endométrio durante
membrana alantóide P+++, glicose as fases iniciais da união
Altos níveis de K+, Mg++, Armazena produtos excretórios
Ca++, frutose, creatinina, fetais que não são rapidamente
ácido úrico e uréia transferidos de volta para a mãe
Auxilia a manter a pressão osmótica
do plasma fetal

dulas salivares fetais, da mucos a bucal, dos ção, com exceção da ovelha no período médio
pulmões e traquéia; intercâmbio dinâmico da gestação.
entre os compartimentos materno, fetal e de Funções. O líquido amniótico não é um re-
líquido amniótico. Nos suínos, o acúmulo ini- servatório estagnado mas sim um meio vital
cial de líquido alantoidiano é resultante da que banha o feto e desempenha várias fun-
atividade secretora da membrana alantóide; ções (Tabela 9-5). O líquido alantoidiano, com-
contudo, no final da gestação a urina fetal posto de urina hipotônica, mantém a pressão
subministra a maior parte do líquido osmótica do plasma fetal e impede a saída de
alantoidiano (Tabela 9-5). fluidos para a circulação materna. Em suí-
Uma rápida troca de água ocorre entre a nos, a membrana corioalantóide possui pro-
circulação materna, a circulação fetal e o lí- priedades secretoras e é capaz de remover
quido amniótico, no seguinte sentido: mãe - ativamente sódio da cavidade alantoidiana,
feto - líquido amniótico - mãe. O feto pode mantendo por esse meio o líquido alantoidiano
também retirar líquido por deglutição ou por hipotônico em relação a bexiga e ao soro.
ingestão de líquido amniótico para os pulmões Composição. Os líquidos amniótico e
fetais, durante os movimentos respiratórios. alantoidiano contêm constituintes metabóli-
Volume. Os volumes relativos de líquidos cos, eletrólitos, enzimas, hormônios, células
nas cavidades amniótica e alantóide mostram e outras estruturas.
muita flutuação durante a gestação. Estas Em ruminantes, o revestimento interno do
variações refletem provavelmente as contri- âmnio, particularmente próximo ao umbigo,
buições dos compartimentos fetal e materno. apresenta numerosos focos em relevo, sepa-
O controle dos compartimentos de fluidos é rados, arredondados, chamados placas
provavelmente regulado pelo sistema amnióticas, que são ricas em glicogênio e de-
endócrino fetal e pelos rins fetais. Os líqui- saparecem tardiamente na gestação. O líqui-
dos fetais aumentam durante a gestação em do amniótico contém também células que po-
todas as espécies, porém nos suínos eles ten- dem ser utilizadas para o diagnóstico pré-
dem a diminuir próximo ao final. O volume de natal do sexo. Hipomanes são massas lisas,
líquido alantoidiano é relativamente maior discóides, semelhantes a borracha e de cor
do que o líquido amniótico durante a gesta- castanho-escura, flutuando no líquido
Gestação, Fisiologia Pré-Natal e Parto 233

TABELA 9-6. Algumas Teorias Sobre o Início do Parto


Teoria Possíveis Mecanismos

Queda na concentração de Bloqueia as contrações do miométrio durante a gestação; próximo ao fmal a


progesterona ação bloqueadora da progesterona diminui
Aumento na concentração de Supera o bloqueio progesterônico da contratilidade espontânea do miométrio
estrógeno
Aumento do volume uterino Supera os efeitos do bloqueio progesterônico da contratilidade do miométrio
Liberação de ocitocina Leva a contrações em miométrio sensibilizado por estrógeno
Liberação de prostaglandinas Estimula as contrações do miométrio; induz a luteólise levando a uma queda
(PGF2a) na concentração de progesterona (espécies dependentes do corpo lúteo)
Ativação do eixo fetal hipotálamo- Os corticosteróides fetais provocam uma queda da progesterona, um aumento
hipófise-adrenal de estrógeno e liberação de PGF2a' Estes eventos levam à contratilidade
do miométrio

alantoidiano, tratando-se provavelmente de Início do Parto


agregações de pêlos fetais e mecônio.
O parto é iniciado pelo feto e completado
PARTO por uma complexa interação de fatores
endócrinos, neurais e mecânicos (Tabela 9-6),
Parto ou trabalho de parto é definido como porém suas atuações precisas e inter-relações
o processo fisiológico pelo qual o útero ges- não são totalmente conhecidas.
tante libera o feto e a placenta do organismo Várias revisões têm discutido o controle do
materno. parto em animais domésticos e individual-
mente nas espécies como a ovina (Liggins et
Sintomas da Proximidade do Parto aI., 1973), caprina (Thorburn, 1979), bovina
(Hoffman et aI., 1979), suína (First e Bosc,
A maioria dos sintomas da proximidade do 1979) e equina (Allen e Pashen, 1981).
parto relaciona-se às modificações nos liga-
mentos pélvicos, aumento e edema da vulva Mecânica do Parto
e atividade mamária. Tais sintomas são úteis
como um guia, porém são extremamente va- O sucesso do parto depende de dois proces-
riáveis para uma previsão mais acurada da sos mecânicos: a habilidade de contração do
data do parto. útero e a capacidade de dilatação suficiente
Um aumento óbvio da glândula mamária da cérvice para facilitar a passagem do feto
ocorre em todas as espécies domésticas. As (Fig. 9-12).
tetas tornam-se inflamadas podendo ocorrer Contrações do Miométrio. A atividade
a saída de secreções pelos orifícios. Na égua, do músculo uterino (miométrio) está sob a in-
o colostro extravasa do orifício da teta, for- fluência da progesterona, que assegura um
mando uma gota de material ceroso em cada ambiente propício para o feto em desenvolvi-
orifício das tetas. A formação de cera ocorre mento. Contrações miometrais de baixas
na maioria das éguas entre 6 e 48 horas an- amplitude e frequência ocorrem durante a
tes do parto, sendo substituída por gotas ou maior parte da gestação, mas no início do tra-
fluidos de leite 12 a 24 horas mais tarde. balho de parto elas são substituídas por ca-
A construção de ninhos é uma característi- racterísticas formas expulsivas. Os mecanis-
ca de parto iminente em espécies pluríparas mos bioquímicos que controlam as contrações
como a suína, embora uma expressão deste do miométrio são similares aos da muscula-
comportamento possa ser suspensa por siste- tura lisa.
mas intensos de manejo. Bovinos e ovinos em Existem controvérsias quanto aos papéis
regime de pastagem permanecem com o re- dos estrógenos e da progesterona no controle
banho, porém procuram isolamento logo an- da atividade uterina durante a gestação e o
tes do início do parto. parto (Tabela 9-6). Estes hormônios influen-
234 Fisiologia da Reprodução

ÚTERO CÉRVICE FIG. 9-12. Atuações do útero e da


Relaxado GESTAÇÃO Fechada cérvice durante a gestação e o traba-
lho de parto. Durante o estágio pré-
trabalho de parto, o miométrio perde
suas inibições e gera contratilidade,
Excitação do enquanto que a cérvice "amadurece"
miométrio PR&1MMO e se dilata, permitindo o início nor-
mal do trabalho de parto. (Rede-
senhado de Calder, A.A. (1990).
Reprod. Ferti!. Dev. 2, 553.)
DEPrO
Contrátil TRABALHO Dilatação
DE PARTO

ciam a motilidade uterina através da libera- tais subsequentes em espécies domésticas for-
ção de PGF2a; esta interage com o sistema neceram evidências convincentes de que o feto
adenil ciclase da musculatura lisa para bai- coordena os eventos que levam ao início de
xar os níveis de cAMP e causar contrações do sua própria expulsão (First e Lohse, 1984).
miométrio. O feto possui uma série de mecanismos
Dilatação da Cérvice. A principal fun- para assegurar a quiescência do miométrio
ção da cérvice durante a gestação é reter o de modo a não atrasar o seu desenvolvimen-
concepto em crescimento dentro do útero. A to. A produção placentária de progesterona
cérvice é mais firme e mais rígida do que a impõe uma condição de bloqueio sobre o
parede uterina, fato este devido ao maior con- miométrio (Tabela 9-6). Um aumento
teúdo de tecido conjuntivo (colágeno) na significante nas concentrações plasmáticas
cérvice. A dilatação da cérvice deve-se mais a fetais de cortisol ocorre durante os estágios
modificações nas características físicas do finais da gestação em ovinos, que é devido a
colágeno cervical ("amadurecimento") do que um sinal originado no eixo hipotalâmico-
ao aumento da pressão intra-uterina. Isto é hipofisário do feto; não foi ainda estabelecido
claramente evidente em espécies como a ovi- se trata-se de hormônio adrenocorticotrófico
na, caprina e bovina que apresentam uma (ACTH), ou de algum outro estímulo trófico
cérvice rígida (Fitzpatrick e Dobson, 1979). da hipófise fetaI. Thorburn (1991) opinou que
Poucas horas antes de começarem as contra- a necessidade metabólica crescente sobre a
ções do trabalho de parto, a cérvice amolece, placenta durante a fase de rápido crescimen-
torna-se mais complacente e se dilata gradu- to fetal (último trimestre) estimula a produ-
almente. O amadurecimento da cérvice de- ção placentária de prostaglandina E2, que por
pende de hormônios e pode ser influenciado sua vez ativa o eixo adrenal-hipófise-
por fatores como elevados níveis de hipotalâmico-fetal, promovendo um aumento
estrógenos, secreção de relaxina (suínos) e na concentração de cortisol fetal (Fig. 9-13).
PGF 2a no início do parto. Um aumento similar na secreção de cortisol
aciona o parto em cabras, vacas e porcas
Início do Parto (Thorburn et aI., 1977). Algum aumento na
atividade adrenal provavelmente ocorre no
Mecanismos Fetais. Uma das mais inte- feto de equino a termo, porém um grande
ressantes descobertas na biologiareprodutiva aumento de cortisol no plasma fetal não ocor-
é que o feto, e não a mãe, domina os mecanis- re antes do nascimento.
mos que estimulam o início do parto na maio- Os mecanismos que se seguem à liberação
ria das espécies mamíferas. de cortisol diferem entre as espécies depen-
Anormalidades fetais congênitas que ocor- dendo da fonte de progesterona que mantém
rem em gestações prolongadas de ovinos e a gestação. Na ovelha, o cortisol estimula a
bovinos induzem o reconhecimento do papel placenta para converter progesterona em
fetal no início do parto. Estudos experimen- estrógeno. Os elevados níveis de estrógenos
Gestação,Fisiologia Pré-Natal e Parto 235

estimulam a secreção de PGF2a e o desenvol- manejo tais como a própria alimentação po-
vimento de receptores de ocitocina. Nas es- dem também influenciar o momento do parto
pécies dependentes de corpo lúteo, o cortisol em bovinos, equinos e ovinos. Assim, pode-
em adição à síntese de estrógenos provoca mos concluir que o feto determina o dia do
uma liberação de PGF 2a do endométrio, que parto, enquanto que a mãe decide a hora do
por sua vez causa a regressão dos corpos mesmo.
lúteos.
Mecanismos Maternos. A contribuição Trabalho de Parto
materna, embora menos dramática do que a
do feto, torna-se claramente evidente no mo- o trabalho de parto começa com o início de
mento do parto. Por exemplo, a predileção das contrações uterinas peristálticas, regulares,
éguas de parirem durante o período noturno acompanhadas por uma progressiva dilata-
e a habilidade de retardar o parto até que ela ção da cérvice.
não esteja sofrendo qualquer perturbação é Estágios do Trabalho de Parto. Com fi-
muito bem reconhecida. A ansiedade, o nalidades descritivas podemos reconhecer 3
estresse, ou o medo prolongam o ato do parto estágios de trabalho de parto: (a) dilatação
em várias espécies por meio de uma diminui- da cérvice, (b) expulsão do feto, e (c) expulsão
ção nas contrações do miométrio induzidas da placenta (Tabela 9-7). O tempo requerido
por uma liberação de epinefrina. Rotinas de

Demandas
utricionais do Feto

FIG. 9-13. Modelo placentário-


Concentração de PGE2 no Plasma Fetal nutricional para o parto em ovelhas.
As necessidades fetais e placentárias
de nutrientes em PGE2' levando a
Secreção Fetal de Cortisol maiores concentrações deste
hormônio na circulação fetal e a um
aumento na secreção fetal de
Matema cortisol. O cortisol fetal altera a re-
lação estrógeno-progesterona no
sangue materno, aumentando a li-
beração de PGF2a da placenta ma-
terna, que por sua vez proporciona
uma contratilidade miométrica e o
parto. (Adaptado de Thorburn, G.D.
(1991). Reprod. Fertil. Dev. 3,277.)

PARTO
236 Fisiologia da Reprodução

TABELA 9-7. Estágios do Trabalho de Parto e Eventos Relacionados em Animais


Domésticos
Estágio do Trabalho
de Parto Forças Mecânicas Período Eventos Relacionados
I Contrações uterinas Início das contrações uteri- Intranquilidade materna,
Dilatação da cérvice peristálticas constantes nas até que a cérvice ritmo respiratório e pulso
esteja completamente elevados
dilatada e em conti- Modificações na posição e
nuidade com a vagina postura do feto
11 Fortes contrações uterinas Da completa dilatação A fêmea se deita e faz
Expulsão do feto e abdominais cervical ao fim da esforços
expulsão do feto Rompimento do alantocórion
com saída de fluido pela
vulva
Aparecimento do âmnio
(bolsas d'água) na vulva
Rompimento do âmnio e
expulsão do feto
III Contrações uterinas Da saída do feto à expulsão Terminam as contrações
Expulsão da placenta diminuindo em da placenta maternas
amplitude Desprendimento das
vilosidades coriônicas das
criptas maternas
Inversão da corioalantóide
Esforços e expulsão das
membranas fetais

TABELA 9-8. Duração Média dos Três desconforto abdominal. À medida que o feto
Estágios de Trabalho de Parto em Ani- progride através da cérvice, a alantocórion se
mais Domésticos (Horas) rompe, liberando um fluido parecido com uri-
EstágiodoTrabalhode Parto na que marca o fim do primeiro estágio do
trabalho de parto.
I 11 III
Dilatação Expulsão Expulsão A distensão da cérvice e da vagina pelo feto
da does) da(s) inicia o reflexo neuro-humoral (reflexo de
Animal cérvIce Feto(s) Placenta(s) Ferguson), o qual produz a força expulsiva das
Égua 1-4 0,2-0,5 1 contrações musculares abdominais (esforço)
Vaca,búfalo 2-6 0,5-1,0 6-12 e a liberação de ocitocina, que por sua vez
Ovelha 2-6 0,5-2,0 0,5-8 acentua as contrações do miométrio. As for-
Porca 2-12 2,5-3,0 1-4
ças combinadas de pressão intra-abdominal
e intra-uterina marcam o início do segundo
para a expulsão do feto é o mais curto dos 3 estágio do trabalho de parto. Os esforços con-
estágios nas espécies uníparas (Tabela 9-8). sistem de poucas contrações seguidas de al-
Forças de Expulsão. As contrações guns minutos de descanso. O feto envolvido
miométricas começam no ápice dos cornos nas pelo âmnio é impulsionado pela via natal e
espécies uníparas, enquanto que nos suínos aparece na vulva. À medida que continuam
elas começam em ambas as extremidades dos os esforços, o âmnio se rompe. O maior esfor-
cornos uterinos e subsequentemente se ço está associado com a impulsão da cabeça e
distendem em direção à cérvice ou em dire- do peito. Todas as espécies domésticas assu-
ção oposta. O efeito "mugidos" no porco mem uma posição lateral com os membros
(Taverne, 1982) reduz a distância entre os estendidos durante a expulsão. O cordão
sucessivos leitões evitando assim que os mes- umbilical se rompe com o movimento do re-
mos se amontoem na cérvice. Durante o pri- cém-nascido ou da mãe.
meiro estágio, as contrações uterinas são do- Contrações uterinas rítmicas originadas no
lorosas provocando inquietação e sinais de ápice do corno uterino continuam após o nas-
Gestação,Fisiologia Pré-Natal e Parto 237

cimento (terceiro estágio) e causam a inver- fatais ou reduzir a possibilidade de sobrevi-


são da corioalantóide em ruminantes. A pre- vência do recém-nascido (Randall, 1984).
sença da placenta destacada inicia então mais Modificações Cardiovasculares. Du-
contrações e expulsão da mesma. A expulsão rante a vida fetal o sistema cardiovascular é
da placenta é rápida na égua porém é mais modificado por um desvio para os pulmões
lenta em ruminantes em consequência do tipo inativos. Assim, quando a placenta funciona
cotiledonário de placentação. As placentas de como órgão respiratório, os pulmões estão si-
leitões adjacentes geralmente estão ligadas e tuados paralelamente com o sistema circula-
frequentemente são expulsas como uma ou tório; o forame oval permite a passagem do
mais massas intercaladas com o nascimento sangue da aurícula direita para a esquerda,
dos leitões. A maior massa de placenta toda- e o duto arterioso desvia o sangue da artéria
via, geralmente é expelida 3 a 4 horas do nas- pulmonar para a aorta.
cimento do último leitão. Com o término da circulação umbilical e o
início da ventilação pulmonar por ocasião do
Indução do Parto nascimento, o fluxo no duto arterioso é rever-
tido e termina. O fechamento do duto
Existe um interesse de manejo em induzir arterioso é um dos mais importantes acertos
o parto principalmente em bovinos e suínos. para a vida extra-uterina e permite o fluxo
Glicocorticóides exógenos podem ser utiliza- do sangue pelos pulmões durante cada circui-
dos para induzir o parto em bovinos, caprinos to do corpo.
e ovinos porém não em equinos e suínos. A O rápido declínio da pressão sanguínea da
PGF2a. induz o parto na porca, cabra e vaca aurícula direita resultante da interrupção do
porque dependem da progesterona do corpo fluxo umbilical e a pressão crescente da
lúteo durante a gestação. aurícula esquerda, provoca o fechamento do
forame oval dentro de poucas horas no potro
Adaptações Perinatais e ao redor do final da primeira semana de vida
no cordeiro.
o feto, que dependia da placenta para a Maturação Pulmonar. Após a separação
respiração, nutrição e excreção executa uma do recém-nascido da placenta, a sua sobrevi-
série complexa de ajustes fisiológicos e estru- vência depende de um rápido estabelecimen-
turais para a vida extra-uterina. Durante o to de modificações gasosas eficientes nos pul-
nascimento o feto enfrenta vários problemas mões. Isto requer a expansão mantida dos pul-
tais como asfIxia ou trauma, que podem ser mões, movimentos respiratórios rítmicos e al-

-,I '--- FIG. 9-14. Diagrama de-


monstrando os vários proces-
~o L.en relaro sos que ocorrem no útero e
nos ovários. A involução e o
contração eliminação endométrio
e atrofia de bactérias restabelecimento do ciclo
estral ocorrem durante o
puerpério, antes de que se es-
tabeleça uma nova gestação.
238 Fisiologia da Reprodução

terações do fluxo sanguíneo para os padrões impermeabilidade da placenta epiteliocorial


adultos. A expansão dos pulmões é facilitada dos animais domésticos aos anticorpos ma-
pela secreção de um material ativo superfici- ternos. Imediatamente após o nascimento,
al (surfactante), o qual reduz a tensão super- contudo, as imunoglobulinas são transferidas
ficial dentro dos alvéolos. aos recém-nascidos por l:leio do colostro; o
Ajustes Termorreguladores. No nasci- intestino delgado é permeável às
mento o recém-nascido deve adaptar-se às imunoglobulinas por um período de 24 a 36
condições termorreguladoras variáveis horas após o nascimento.
ambientais, em contraste à temperatura re-
lativamente constante e suprimento PUERPÉRIO
nutricional presentes no útero durante a ges-
tação. A eficiência destas adaptações depen- As fêmeas após o parto enquanto estão
de primariamente do grau de imaturidade fi- amamentando um ou mais filhotes passam
siológica da espécie no nascimento, das reser- por uma série de reajustamentos fisiológicos
vas de glicogênio e da presença de tecido e anatômicos tanto no útero como nos ovários
adiposo acastanhado. Os suínos e os ovinos para a restauração da capacidade reprodutiva
são particularmente suscetíveis a tempera- (Fig.9-14). O puerpério, ou período pós-parto,
turas ambientes baixas; a temperatura retal é definido como o período desde o parto até
de cordeiros cai de 2 a 3°C, enquanto que a que o organismo materno retorne ao seu es-
de leitões declina 2 a 5°C na primeira hora tado normal não gestante. Em equinos e bo-
após o nascimento. vinos novas coberturas precoces são pratica-
Os recém-nascidos não estão bem adapta- das, então uma definição mais adequada de
dos para enfrentar altas temperaturas no iní- puerpério seria o intervalo entre o parto e a
cio da vida, sendo especialmente suscetíveis ocorrência do primeiro cio (período "aberto")
os cordeiros e os bezerros. Por exemplo, cor- no qual pode ocorrer a concepção. Em espé-
deiros entre 2 e 7 dias de idade não conse- cies estacionais como a ovelha, os ciclos ova-
guem sobreviver mais do que 2 horas a 38°C rianos pós-parto ficam suspensos até a próxi-
ou mais do que 3 horas de exposição à radia- ma estação de monta.
ção solar.
Metab.gJj~mo Energético Após o Nas- Involução Uterina
cimento. Durante o período entre o nasci-
mento e a amamentação, o recém-nascido A restauração do útero até seu tamanho
depende de suas próprias fontes de glicogênio de não prenhe e a função após o parto é deno-
armazenadas no fígado e nos músculos cardía- minada involução uterina. Ela depende das
cos e esqueléticos para o metabolismo contrações do miométrio, da eliminação de
energético. A rápida queda na concentração infecção bacteriana e da regeneração do
de glicogênio hepático sugere que ele é mobi- endométrio (Fig.9-13).
lizado rapidamente para manter os níveis O lóquios ou corrimento uterino que ocor-
sanguíneos de glicose. re normalmente durante o puerpério, é com-
Estado Imunitário. Os recém-nascidos posto de muco, sangue, restos de membranas
nascem sem suprimentos de anticorpos ma- fetais, tecidos maternos e fluidos fetais. O
ternos ou imunoglobulinas no sangue. Duran- lóquios termina ao redor da primeira sema-
te a vida pré-natal o feto sintetiza poucos ou na após o parto. A expulsão do lóquios e a re-
quase nenhum anticorpos. Ele adquire dução do tamanho uterino são causadas por
anticorpos da mãe (imunidade passiva) en- contrações do miométrio. Isto é devido a uma
quanto ainda está no útero (rato, coelho e liberação contínua de PGF 2a após o parto, que
humanos), ou os anticorpos são secretados aumenta o tônus uterino promovendo assim
pelas glândulas mamárias e adquiridos atra- a sua involução. A duração da liberação da
vés da amamentação (animais domésticos). PGF2a é maior nas espécies com o tipo
Esta diferença pode estar relacionada à cotiledonar de placenta (vaca, cabra e búfala)
Gestação, Fisiologia Pré-Natal e Parto 239

do que naquelas com um tipo difuso (égua e reassumem os ciclos ovarianos, enquanto que
porca) (Kindahl et aI., 1984). o mesmo acontece em apenas 40% das vacas
As condições estéreis do útero durante a de corte (Peters e Riley, 1982). A
gestação são interrompidas no parto. Bacté- amamentação e o aumento da frequência de
rias patogênicas e não patogênicas entram no ordenha (quatro ordenhas vs. duas ordenhas
útero pela cérvice dilatada multiplicando-se por dia) prolongam este intervalo, enquanto
rapidamente no ambiente uterino favorável. que a remoção do bezerro de sua mãe o en-
O útero normal possui mecanismos de defesa curta.
que incluem uma maciça infiltração de A maioria das éguas exibe o cio do potro
linfócitos para impedir a invasão bacteriana. dentro de 6 a 13 dias após o parto. É uma
A atividade aumentada do miométrio com o prática rotineira cobrir as éguas no cio do
início da atividade estrogênica dos ovários potro, apesar dos menores índices de concep-
também auxilia o útero na eliminação da in- ção e da maior incidência de abortamentos e
fecção pela cérvice. O tempo necessário para potros não viáveis.
limpar o útero de bactérias depende da ex- As porcas frequentemente exibem um cio
tensão da contaminação durante o parto, da anovulatório 3 a 5 dias após o parto, porém o
retenção de membranas fetais e da produção cio e a ovulação geralmente ficam inibidos
de estrógenos. durante a lactação na maioria dos animais. A
A regeneração do endométrio é completa- retirada dos leitões ou o seu desmame a qual-
da mais precocemente em espécies com pla- quer época induzem o cio e a ovulação dentro
centa difusa do que naquelas com uma pla- de 3 a 5 dias.
centa cotiledonária. O endométrio fica total- A aciclia durante o período pós-parto pode
mente regenerado entre a segunda e a tercei- ser devido à inibição do eixo hipotálamo-
ra semanas na égua e na porca e entre a quar- hipófise-ovariano em vários níveis (Peters e
ta e quinta semanas em ruminantes. Lamming,1990). A atividade ovariana pode
ser bloqueada pelo impedimento da liberação
Restabelecimento dos Ciclos Estrais do hormônio liberador de gonadotrofinas
(hipotálamo), hormônio folículo-estimulante
o cio e a ovulação geralmente ficam e hormônio luteinizante (hipófise anterior) ou
suspensos durante a lactação (anestro pós- folículos ovarianos para responder ao estímu-
parto) em várias espécies de mamíferos, po- lo gonadotrófico. A maioria das evidências
rém os efeitos inibidores da lactação têm sido sugere que a aciclia pós-parto é causada por
parcialmente ou completamente eliminados uma falha na liberação do GnRH, resultando
em animais domésticos através de seleção, numa secreção deficiente de gonadotrofinas.
melhoramentos na nutrição e desmame. A O evento endócrino mais consistente que
função ovariana pós-parto tem sido bastante precede a primeira ovulação após o parto é o
considerada em bovinos com a finalidade de aparecimento de um padrão pulsátil do
produzir um bezerro por vaca e por ano. Vá- hormônio luteinizante LH em ovinos, suínos
rias revisões são disponíveis sobre a e bovinos. Também um pequeno aumento na
endocrinologia pós-parto em bovinos secreção de progesterona precede o primeiro
(Lamming, 1982; Malven, 1984) ovinos cio pós-parto em bovinos e ovinos. A
(Novoa, 1984), e búfalos (Jainudeen, 1984). amamentação ou o ato da ordenha aparente-
Em bovinos, o corpo lúteo da gestação an- mente inibem a liberação de GnRH necessá-
terior regride rapidamente após o parto. A rio para a restauração do padrão pulsátil da
primeira ovulação com frequência não é pre- liberação de LH.
cedida por um cio evidente. Em bovinos o pe-
ríodo de aciclia geralmente é mais curto em REFERÊNCIAS
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240 Fisiologia da Reprodução

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10
COMPORTAMENTOREPRODUTNO
E.S.E. HAFEZ

A conduta dos animais representa impor- com nascimentos e cuidados maternos, e com
tante papel na reprodução, afetando tanto o as tentativas dos recém-nascidos para mamar
sucesso do acasalamento, como a sobrevivên- apresentam uma dramática qualidade que
cia dos jovens produtos. Os padrões de com- tem atraído os estudiosos da conduta dos
portamento, associados com cortejo e cópula, mamíferos (Fig. 10-1).

HOMEM
EXPERIMENTOSE
MANEJO

f
~
Seleção
Programas Reprodutivos
Consanguinidade
Gradeamento
Abrigos
Abrigos
Arrebanhar
Proporçãoentre
Fêmeas e Machos
~ Descarte

i Hibridização Transporte

, ,
I
~
,
ICONSTITUiÇÃO GENÉTICA I ~ AMBIENTE FÍSICO
Descema
II AMBIENTE SOCIAL I IDADE

'§ Espécie Tamanho do rebanho


~ Nutrição
::! Raça Clima Homogeidade
Linhagem Estresse
Doenças

~
i
I -HÃii~;;;~;-
[ ----\\~D.IDES
CAP.
~
;; ,
---- J
SENSITIVAS
I --------
COMPETITIVA
1

.s

j
i
O
.g
~
~ Pastagem seletiva Alimentação
~ I Pastagem__- seletiva
MACHO
Ereção
FÊMEA
Proestro
Parto
Cuidados
Liderança
Dominãncia
Medo
Temperamento
'" nlvel, duração Apetite sexual Cio__- Alimentação Agnóstico Eliminativo
Ruminação- -- Competição Frustração Duração Produção comportamento comportamento
nlvel, duração Intensidade leiteira Comunicação
Propriedade territorial

FIG. 10-1. Interação entre ambientes físicos e sociais e o desenvolvimento reprodutivo e outros
comportamentos em animais domésticos.

241
242 Fisiologia da Reprodução

Este capítulo trata dos padrões peculiares machos e as fêmeas dos cabritos monteses e
que têm sido modificados pelo processo de dos antílopes vivem em uma área limitada,
domesticação e limitados por condições im- cujas fronteiras são defendidas contra qual-
postas de acordo com as necessidades quer intruso do mesmo sexo. Os territórios
zootécnicas. Estas necessidades incluem o dos machos e das fêmeas são comuns, com
confinamento em piquetes, parques ou abri- permanente associação entre os potenciais
gos internos, a segregação dos sexos, a cober- parceiros sexuais. Em outras espécies, como
tura controlada, a operação cesariana, o des- o coelho selvagem e o castor, o território é ocu-
mame forçado, a imposta proximidade de pado por um par permanente ou um harém,
outros indivíduos e a inevitável presença do e o macho evita qualquer encontro fora de seu
homem, seus cães e suas máquinas. território. Este padrão persiste mesmo nos
ambientes artificiais. Por exemplo, os coelhos
COMPORTAMENTO SEXUAL machos criados em gaiolas somente exibem
interesse sexual por fêmeas receptivas depois
Vários padrões de cortejos, ostentações, de ocupar a gaiola por um tempo suficiente-
atividades motoras e atitudes são mente longo para considerá-Ia como seu ter-
direcionados no sentido de aproximar os ritório. O comportamento territorial é inten-
gametas masculino e feminino a fim de asse- sificado durante a estação da reprodução, e
gurar a fertilização, a gestação e a propaga- de fato em um certo número de espécies, como
ção das espécies. A coordenação dos padrões a foca, ele existe apenas nesta época.
motores que levam à inseminação da fêmea Sob condições selvagens, os animais domés-
tem sido alcançada pela evolução de uma sé- ticos não defendem territórios definidos con-
rie ordenada de respostas a estímulos especí- tra intrusos, porém os rebanhos tendem a
ficos. Em contrapartida, cada resposta se ocupar um "limite de posse". A unidade bási-
transforma em um estímulo, levando assim ca é matriarcal, consistindo de uma fêmea,
a outras respostas e outros estímulos, fenô- de suas filhas adultas e de seus descenden-
meno esse conhecido por cadeia ou sequência tes imaturos. Tal rebanho matriarcal é nota-
de conduta. velmente estáveL Ele persiste depois de uma
O comportamento sexual promíscuo em dispersão temporária de seus membros e
animais é uma vantagem na domesticação de mesmo depois de uma mistura com grupos
uma espécie e também na execução de um maiores compostos por várias centenas de
programa reprodutivo baseado na utilização indivíduos (antílope africano, bisão). Esta
de reprodutores pouco desejáveis. Uma vez estabilidade é consequência de fortes víncu-
que qualquer fêmea pode ser acasalada a los interindividuais resultantes de contatos
qualquer macho, as chances de uma cobertu- ocorridos durante a infância. Experimental-
ra adequada são aumentadas sobre outras mente, as vacas criadas juntas desde o nasci-
possíveis ligações entre macho e fêmea e de- mento, formam um grupo suficientemente
vem ser estabelecidas com antecedência. estável, mesmo no meio de um grande reba-
nho. Este vínculo, limitado às mães e filhas,
Aspectos Psicofisiológicos da Reprodúção poderia ser a base da organização social dos
ungulados.
O encontro dos parceiros sexuais é o pri- O aumento da densidade populacional pode
meiro passo do comportamento reprodutivo. levar a um comportamento anormal como a
Nos animais de vida ao ar livre, isto ocorre mordedura das caudas, canibalismo e aumen-
em grande parte sob a influência de uma es- to no padrão agressivo. Estes comportamen-
trutura social preexistente e do comportamen- tos anormais podem ser prejudiciais de modo
to territorial ou do limite de posse dos ma- que o desempenho de alguns animais de bai-
chos e das fêmeas, que levam a um organizado xo estado social dentro do grupo poderá de-
padrão de reprodução que varia com as ca- clinar devido ao estresse (Randolph et aL,
racterísticas sócio-territoriais da espécie. Os 1981).
Comportamento Reprodutiuo 243

Machos Em equinos, cada rebanho matriarcal é o


. velhos
(solitários) harém permanente de um garanhão dominan-
te, enquanto que os machos mais jovens for-
mam um rebanho permanente de "solteiros"
(Klingel, 1967). Em outras espécies, ou os
machos se agregam em grupos (carneiros e
cabritos selvagens), ou permanecem solitá-
rios, com ocasionais contatos com animais da
mesma espécie (bisões, porcos selvagens) (Fig.
10-2). Em tais casos, os rebanhos de machos
são apenas associações temporárias nas quais
se perdem os vínculos interindividuais.
O característico odor do corpo dos cachaços
é produzido pelas secreções das glândulas da
pele. As glândulas do carpo são bem diferen-
ciadas nos membros anteriores (Fig. 10-3). No
macho, as secreções da bolsa prepucial, res-
ponsáveis pelo típico odor do "cachaço" estão
FIG. 10-2. Diagrama da evolução da organização relacionadas ao comportamento sexual.
social em suínos. (Por Dr. J. P. Signoret.)
Sequência da Conduta Sexual

Os padrões motores da conduta do cortejo


são estereotipados e não são alterados pela
experiência, que age principalmente sobre a
latência e eficiência do acasalamento. Os com-
ponentes dos padrões copulatórios são o des-
pertar sexual, o cortejo (exibição sexual), a
ereção, a protrusão do pênis, a monta, a in-
trodução, a ejaculação, a desmonta e a
refratariedade (Fig. 10-4). A duração do cor-
tejo e da cópula varia com as espécies, ambos
os eventos são mais curtos em bovinos e ovi-
nos do que em suínos e equinos.
Macho. No macho, os atos de fungar e lam-
ber a fêmea são os padrões mais frequentes,
sugerindo uma importante função de comu-
nicação química por meio do olfato. Com ex-
ceção dos suínos, o macho dos ungulados do-
mésticos cheira a urina da fêmea e então
levanta a cabeça, com os lábios torcidos, na
Pênis Bolsa
ritual reação de "Flehmen". Em ovinos,
prepucial
caprinos e bovinos, o estímulo táctil da fêmea
é feito pelo ato de fossar e lamber a região
perineal, ao passo que nos equinos, o
garanhão frequentemente morde o pescoço da
FIG. 10-3. Glândulas especializadas em relação ao
égua enquanto que nos suínos, o varrão
cheiro dos suínos. Glândulas do carpo ocorrem em
afocinha os flancos da fêmea.
ambos os sexos. Glândulas prepuciais ocorrem
apenas no cachaço e são responsáveis pelo odor. Fêmea. Na maioria das espécies, a fêmea
(Cortesia da foto pelo Dr. J. P. Signoret.) em cio mostra uma atividade motora aumen-
244 Fisiologia da Reprodução

TABELA 10-1. Padrões do Comportamento Sexual Masculino


Animal Aspecto Medido Técnica Comentários
Ovinos Latência de sucessivas Libido medida pelo tempo Estresse ou aspectos não
ejaculações; número total de requerido para produzir comportamentais, p. expl.,
ejaculados como medida de sucessivos ejaculados e pelo análise do sêmen, registros de
direção sexual. número de ejaculações em 30 nascimentos; ausência de
minutos; os carneiros estudos do comportamento do
permanecem com as ovelhas em reprodutor.
currais ou pequenos piquetes
Bovinos Latência à ejaculação, Períodos de testes padronizados, Os animais devem ser
frequência; estímulo de vagina artificial, constantes treinados para colheitas em
saciedade, período de estímulos animais. Respostas ambientes fechados. O conceito
recuperação; reação a novas medidas em contagens de tempo da pressão do estímulo é
situações de estímulo. e frequência; novos estímulos apresentado.
animais.
Bovinos Resposta ejaculatória Ejaculação artificial com Para estudo de ejaculações
utilização de vagina artificial fisiológicas; medidas da ereção
transparente; eletroejaculadores. e do comprimento do pênis;
efeitos de drogas na resposta,
etc.
Bovinos Variabilidade no desempenho Índice de comportamento sexual Determinações de coeficientes
sexual; efeitos da idade; baseado na performance do de consanguinidade em 3 ou 4
herdabilidade; efeitos na padrão sexual. 'Iburos expostos e gerações para medir a
consanguinidade mensurados 3 vezes com influência da consanguinidade
cobertura natural. e da herdabilidade do
desempenho. Seleção de
aspectos mensuráveis de
comportamento para estudar as
causas de variações.
Equinos Tempo de reflexo de ereção; Comparação entre garanhões Garanhões jovens não reagem à
efeito da eliminação da visão e jovens e "velhos" experientes em apresentação de manequins,
supressão do olfato sobre a testes com olhos tapados; olhos enquanto que garanhões mais
ereção e reflexo do salto. tapados, máscara nasal e velhos respondem com
substãncias odoríferas. comportamento sexual normal.

Denenberg and Banks, 1969.

tada, ficando impaciente e movendo-se ao panhada por desvio da cauda e certas carac-
menor distúrbio. As vacas, cabras e porcas terísticas específicas menores como o ato de
procuram montar e são montadas por outras virar a cabeça para trás na cabra e na ove-
fêmeas, porém esta atitude é excepcional em lha, o retesamento das orelhas na porca e a
ovelhas e éguas. Na presença de um macho, exposição do clitóris na égua.
a fêmea cheira seu períneo' ou a região Acasalamento. As atitudes da fêmea se-
escrotaL O ato mútuo de fungar leva ambos xualmente receptiva terminam com o corte-
os parceiros a movimentos circulares em uma jo, quando permite o acasalamento. A fêmea
posição paralela inversa. As porcas recepti- permanece imóvel e o macho a monta e
vas também demonstram interesse na cabe- ejacula (Fig. 10-5).
ça do reprodutor. O contato frontal da vaca Monta. Em presença de uma fêmea na
ou da porca em cio com o reprodutor pode es- fase de proestro, o macho faz várias tentati-
tar associado com a "falsa luta". As éguas em vas de monta; o pênis fica parcialmente ere-
cio apresentam uma tendência de urinar fre- to e se projeta do prepúcio. Estas montas ge-
quentemente na presença de um garanhão. ralmente não se completam. Durante esta
Quando são acercadas e estimuladas pelo atividade, o macho, especialmente o touro,
macho, as fêmeas unguladas domésticas as- excreta "respingos" de fluido acessório, deri-
sumem uma postura de acasalamento. Isto vado das glândulas de Cowper, que difere do
acarreta imobilização, frequentemente acom- plasma seminal emitido pelas vesículas se-
Comportamento Reprodutivo 245

FIG. 10-4 . Padrões de cortejo pré-cópula em equinos e bovinos.

minais durante a ejaculação. Todavia, quan- normal, podendo abnmger introdução retal e
do a fêmea está receptiva, a cópula pode ocor- ejaculação, enquanto que o macho passivo
rer rapidamente. O macho repousa o queixo permanece quieto. Estabelecendo-se tal rela-
sobre a fêmea, que responde imobilizando-se. ção de modo natural, o coito homossexual ocor-
O macho monta, "fIXa" seus membros dian- re mesmo na presença de fêmeas em cio.
teiros ao redor da fêmea, agarra-a firmemen- Introdução. Na monta, os músculos ab-
te e executa arremetidas pélvicas rítmicas dominais do macho, particularmente os mús-
(Fig. 10-5). culos reto-abdominais, contraem-se repenti-
As reações de monta do macho, evidencia- namente. Em consequência, a região pélvica
das por um simples estímulo visual, podem do macho é rapidamente colocada em direta
explicar as montas anormais e a homossexua- justaposição à genitália externa da fêmea. O
lidade frequentemente observadas em suínos. varrão, com o pênis parcialmente fora do
Frequentemente, suínos criados em pares ou prepúcio, impulsiona a pelve até a extremi-
em conjunto de machos habituam-se a rela- dade do pênis penetrar a vulva; somente en-
ções homossexuais. Estas relações persistem tão o pênis fica completamente exposto e com-
por muitos meses, embora alguns tenham pleta-se a introdução.
relações repetidas com fêmeas. A identidade Quando a introdução é vaginal, raramente
do parceiro ativo e passivo é mantida. O pa- o cachaço desmonta e ocorre então a
drão comportamental do agressor é idêntico ejaculação. Uma série de impulsos pélvicos
ao que ocorre em uma cópula heterossexual pode ocorrer após uma introdução retal, po-
246 Fisiologia da Reprodução

bovinos e ovinos, dentro do útero em suínos e


parcialmente dentro do útero em equinos.
Ejaculações malsucedidas podem ocorrer se
a fêmea rejeita a introdução ou se o pênis não
conseguir penetrar na vulva. Uma intensa
contração muscular generalizada tem lugar
P 0\,
durante a ejaculação do carneiro, do bode e
do touro. Com frequência, a força é tão pos-
sante no touro que os membros posteriores
chegam a elevar-se do solo, dando a impres-
são de um verdadeiro salto. Durante a
ejaculação propriamente dita o varrão perma-
nece quieto, apresentando apenas ligeiras
contrações rítmicas do escroto; estes períodos
de imobilidade são seguidos de algumas esto-
cadas em intervalos irregulares. Depois da
ejaculação, o macho desmonta e o pênis é logo
retraído para dentro do prepúcio.
Refratariedade. A maioria dos machos
não demonstra atividade sexual imediata-
FIG. 10-5 Diferenças entre espécies: postura de mente após a cópula. A duração do período
cópula em bovinos e roedores. refratário é extremamente variável e aumen-
ta gradativamente quando várias coberturas
são praticadas sucessivamente com a mesma
fêmea.
rém na maioria das vezes o pênis é retirado Frequência de Coberturas. A frequência
sem ejaculação. Ejaculações abortivas podem de coberturas varia de acordo com a espécie,
ocorrer se a porca recusa a introdução ou se o raça, proporção de machos e fêmeas presen-
cachaço falhar em penetrar qualquer dos tes, espaço disponível, período de descanso
oríficios. sexual, clima e natureza dos estímulos sexu-
Entre os animais domésticos, o maior tem- ais. O número máximo de ejaculações é mais
po de ejaculação é peculiar do cachaço. A có- alto em touros e carneiros do que em
pula é executada dentro de 3 a 20 minutos garanhões e varrões; alguns touros foram
com uma média de 4 a 5 minutos. Geralmen- observados copulando mais de 80 vezes den-
te a fêmea permanece completamente imóvel tro de um período de 24 horas ou 60 vezes em
até o cachaço desmontá-Ia (Fig. 10-6). Às ve- seis horas; uma média de 21 cópulas antes
zes as fêmeas se movem no final da cópula, da exaustão foi observada.
porém este fato muito raramente perturba a Depois de um longo descanso sexual, um
ejaculação. Após a cobertura, a porca perma- carneiro pode copular até 50 vezes no primei-
nece ao redor do cachaço e com frequência ro dia em que é colocado junto às ovelhas,
lambe o corrimento floculento que se acumu- porém esta frequência é bastante reduzida
la no pênis. nos dias subsequentes. O bode, o garanhão e
O garanhão oscila a pelve várias vezes re- o varrão atingem a exaustão depois de um
sultando na distensão sanguínea do pênis, tor- menor número de ejaculações do que o car-
nando-o rígido para uma introdução máxima. neiro e o touro (Tabela 10-2).
Em contraposição, a ejaculação em várias es- Duração do Cio. A duração do cio é influ-
pécies de roedores é precedida por uma série enciada pela espécie, raça, clima e manejo. O
de montas e introduções. cio se limita a cerca de um dia em ovinos e
Ejaculação. O sêmen é ejaculado próxi- bovinos, porém tem períodos mais longos em
mo ao orifício externo da cérvice no caso de suínos e equinos (Tabela 10-2). Nas espécies
Comportamento Reprodutivo 247

FIG. 10-6. Dentre as espécies domésticas, as fêmeas suínas sexualmente receptivas são mais facilmente
identificáveis; aquelas no cio respondem à pressão na região posterior, especialmente na presença de um
macho adulto; imobilizando-se, arqueando o dorso e "retesando" as orelhas. Este teste não é aplicável em
vacas e ovelhas nas quais o cio é melhor identificado na presença de um rufião. (Hunter, R.H.F. (1982).
Reproduction of Farm AnimaIs. New York, Longman.) -----

em que o período de receptividade sexual é gramados de acordo com circuitos de


curto a ovulação ocorre após o seu final, po- neurônios específicos preexistentes.
rém nas espécies que permanecem receptivas As interações de conduta que levam à có-
por longos períodos, a ovulação ocorre duran- pula podem ser divididas em quatro fases
te o cio. principais: procura mútua do parceiro sexu-
al; identificação do estado fisiológico do par-
MECANISMOS DA CONDUTA SEXUAL ceiro; sequência de interações compor-
tamentais que resultam na adoção da posição
O sinal fisiológico que origina a motivação de cobertura pela fêmea; e a reação de monta
sexual é o equilíbrio de esteróides nas pelo macho, levando à cópula.
gônadas. Transmitidos pela corrente sanguí- A "postura para cópula" da porca-clara, de
nea, os hormônios ativam o sistema nervoso longa duração e fácil de ser observada-é es-
central. O sinal humoral é transformado em pecialmente adaptável para o estudo de um
motivação sexual ou impulso sexual. Os pa- mecanismo de liberação. Durante a "reação
drões motores da atividade da cópula são pro- de estabilidade" a porca receptiva fica abso-
248 Fisiologia da Reprodução

TABELA lO-2.Padrões de Acasalamento em Mamíferos Domésticos


Bovinos Ovinos Ca,p.rinos Suínos Eguinos

Duração do cio 15 hs (5-30) 24 hs (12-50) 32 hs (24-96) 50 hs (24-72) 7 dias (2-10 dias)


Momento da 4-15 hs após o 30 hs após o 30-36 hs após o 40 hs após o 24-48 hs antes do
ovulação início do cio início do cio início do cio início do cio fim do cio

Anatomia
masculina

Pênis Fibroelástico Fibroelástico Fibroelástico Vásculo-


com processo filüorme com extremidade muscular
em espiral

Escroto Penduloso Próximo ao corpo

Acasalamento
Duração Breve (um 5 minutos 40 segundos
segundo ou menos)
Local da Próximo à aber- Cérvice e útero Útero
ejaculação tura da cérvice
do sêmen
Numero de 20 10 7 3 3
ejaculaçães
para atin-
gir a exaus-
tão (média)

Máximo 60-80 30-40 14 8 20

Alexander et al.,1980

lutamente imóvel, arqueia sua porção poste- pIo, Otouro ou Ovarrão reagem rapidamente
rior e aproxima as orelhas, sendo que esta a um macho contido ou a um manequim.
reação é exibida quando uma fêmea é tocada O liberador sexual para a monta pode ser
em sua região posterior (Fig.l0-6). Todavia, a figura total da fêmea ou então a sua imobi-
apenas 48% das marrãs em cio,permanecem lidade. Outros fatores visuais, olfatórios ou
"imóveis" na ausência de um macho. A gra- acústicos das fêmeas em cio poderão ser de
vação de "grunhidos do cortejo" é similarmen- importância menor, porém complementares
te eficiente em 50% das fêmeas previamente (Fig.l0- 7). -----
negativas. Assim, os estímulos emitidos du-
rante as interações pré-copulatórias facilitam Córtex e Capacidades Sensitivas
a liberação das respostas da liberação
postural das fêmeas. A privação da capacidade sensitiva pode
As fêmeas na postura de cobertura são inibir o comportamento sexual, reduzir a ca-
imediatamente montadas, e esta reação pa- pacidade de detectar um parceiro e pertubar
rece ser liberada principalmente por indícios a sua orientação. Machos não experientes são
visuais e tácteis. Uma fêmea contida, embo- comprometidos a um maior grau do que aque-
ra não em cio, é imediatamente montada les já com alguma experiência. Se algum es-
mesmo por um touro ou carneiro sexualmen- tímulo estiver inibido, um outro poderá estar
te experimentado. Similarmente, um carnei- aumentado. Assim, a eliminação dos estímu-
ro não irá copular seletivamente com uma los aos receptores visuais nos machos resulta
ovelha em cio quando apresentado com duas na utilização de receptores tácteis e olfatórios.
ovelhas em anestro, porém contidas. As rea- A cópula nos animais domésticos não é elimi-
ções sexuais do macho no tocante àquelas nada com a ausência da visão, do cheiro, ou
emanadas das fêmeas são comuns. Por exem- da audição do contato com o parceiro. Estí-
.
Comportamento Reprodutivo 249

-inclusive àreas destufdas


-Areas comuns às lesões
GARANHÕES JOVENS GARANHÕES ADULTOS

EM PRESENÇA DE ÉGUA

~~1\
NORMAL
~~ ~
00%

~~,
~MO~ VENDADOS
EM PRESENÇA DE MANEQUIM
8 00%
MACHOS ACEITOS
3 ANIMAIS
MACHOS NÃO ACEITOS
9 ANIMAIS

FIG. 10-8. Efeitos de lesões hipotalâmicas sobre a


conduta de cio na ovelha, O macho foi aceito quan-
do as lesões foram praticadas na massa interme-
diária ou no quiasma ótico do hipotálamo. (Clegg
et alii, 1958. Endocrinology 62, 790.)
(\/4~
~ NORMAL
)-~.. ~
Mecanismos Nervosos da Ereção e da
Ejaculação

A ereção está predominantemente sob a

0í~,
~MO~ VENDADOS o
0~ influência do sistema paras simpático. Os ner-
vos parassimpáticos no touro, que suprimem
a genitália externa, derivam dos segmentos
sacrais e da corda espinhal.
Os padrões de cópula dos machos são pri-

~
NORMAL d'
\ mariamente governados pela anatomia

Q I
1/'/ .

/. ,;" MANEQUIM
BORRIFADO
I

:
neuromuscular e pelo suprimento sanguíneo
do pênis. O touro, carneiro e o varrão pos-

.
37 % ' (} COl\1URINA .
DE EGUA EM CIO suem um pênis fibroelástico que é relativa-
mente pequeno em diâmetro e rígido quando
~E REAÇÃO DE GARANHÕES -- não em ereção. Embora o pênis fique mais
rígido numa ereção rápida, ele aumenta pou-
FIG. 10-7. Efeitos da experiência sexual nas co, e a quantidade de tecido contrátil é liIni-
respostas das cópulas de garanhões sob condições tada. A protrusão é efetivada principalmente
normais e experimentais. Garanhões jovens não
reagem sexualmente ao manequim. A porcentagem pelo estiramento da flexura em forma de S e
de garanhões adultos mostrando respostas sexuais pelo relaxamento do músculo retrator (Fig.l0-
aos manequins foi menor em garanhões com os 8).
olhos vendados. Em garanhões jovens, a resposta Por outro lado, o garanhão possui um pê-
sexual aumentou em relação ao manequim quando nis tipicamente vascular sem flexura
este foi espargido com urina de uma égua em cio.
(Adaptado de dados de S. Wierzbowski.) sigmóide. A função do pênis como um órgão
de introdução depende do poder de ereção e
consequentemente de uma excitação sexual.
O tamanho, forma e comprimento do pênis
variam acentuadamente entre os estágios
mulos tácteis estão envolvidos na organiza- flácidos e eretos (Fig.l0-9).
ção das respostas posturais da cópula (p.ex., A introdução e a ejaculação são facilitadas
imobilização da porca em cio e a lordose da por estímulos táteis (aquecimento da vagina
. rata em resposta à palpação do flanco). e deslizamento do muco) atuando sobre os
250 Fisiologia da Reprodução

TOURO SEM EREÇÃO TOURO COM EREÇÃO


c

G S
G

"'\...,.
-.'-
,- '\
R
p p

GARANHÃO SEM EREÇÃO GARANHÃO COM EREÇÃO

G G'

FIG. 10-9. Diagrama da anatomia do tipo fibroelástico de pênis (touro) e do tipo vásculo-muscular
(garanhão) nas condições sem ereção e com ereção. A anatomia do pênis determina, em grande parte, as
respostas ejaculadoras da espécie. C, Músculo cavernoso; G, glande; P, prepúcio; R, músculo retrator do
pênis; S, flexura sigmóide.

receptores do pênis. O pênis do touro e do car- Reprodutores suínos da raça Yorkshire são
neiro é sensível à temperatura, enquanto que mais fáceis de serem treinados para colheita
o do garanhão é mais sensível à pressão de sêmen do que os Duroc. Ocorrem mais di-
exerci da pelas contrações das paredes vagi- ferenças nos padrões do comportamento se-
nais. No varrão a extremidade em forma de xual entre pares de touros gêmeos idênticos
saca-rolhas do pênis adapta-se na cérvice do que membros do par (Fig.lO-lO). Diferen-
durante a cobertura. A pressão exerci da é ças raciais quanto a duração do cio em ove-
suficiente para promover a ejaculação, mes- lhas e porcas podem ser parcialmente devi-
mo sem qualquer estímulo térmico. das às diferenças quanto ao padrão da
ovulação. Diferenças individuais no montan-
FATORES QUE AFETAM O te da estimulação sexual necessárias para
COMPORTAMENTO SEXUAL assumir a "reação de imobilização" na porca,
são independentes de experiência sexual.
Os padrões e a intensidade do comporta-
mento sexual são influenciados por fatores Fatores Ambientais
genéticos, fisiológicos e ambientais, do mes-
mo modo que por experiências prévias. O efeito do estímulo externo sobre o com-
pOJ;tamento sexual é mais pronunciado no
Fatores Genéticos macho que na fêmea.
Efeitos da Inovação dos Estímulos Fe-
Diferenças raciais e de linhagens na libido mininos (Efeito Coolidge). A atividade se-
são observadas frequentemente. Repro- xual do macho aumenta quando novas fê-
dutores de raças leiteiras são mais ativos do meas no rebanho tornam-se receptivas. Caso
que reprodutores de raças de corte, enquanto 4 ovelhas receptivas estiverem disponíveis, o
que touros Brahman são mais vagarosos. carneiro acasala 3 vezes tanto quanto se ape-
Comportamento Reprodutivo 251

Porcentagem de cópulas Presença de Outros Animais. Apresen-


o 20 40 60 80 100
ça de outros machos durante a excitação de
'"
r I I I I I ' I 1
o uma fêmea ou mesmo da cópula aumenta a
...
m libido sexual do macho. A hierarquia social,
....
= ES::J
<CI)
"C
contudo, pode interferir com a atividade se-
... I;"W..::@:':?::::C.: :m
'" xual quando vários machos competem com
o
CI)
S
<CI)
bII
CI)
"C
4

2
h", ,",::;::::C::M::"":;::',

--
':::::,:::'Z:;'J

uma fêmea receptiva. O macho dominante


executa a maioria das cópulas e restringe o
desempenho sexual de seus subordinados.
'" I:".',;,;,,':' ,':.C',C:' ','" ,] Todavia, quando existem fêmeas em excesso,
CI)
5 I', ,;c,.,::~::" :',"'" ",.,', :: /: ,'I os machos dominantes não podem efetiva-
CI)
mente controlar a atividade dos seus inferio-
"C [J
'"
CI)


z
:3

6
-J:1 [J
:m
JZI
res. Carneiros adultos geralmente dominam
os reprodutores jovens, e o grau desta
dominância é maior do que a destes sobre
outros animais mais jovens. Infelizmente a
L 1 1 1 1 1 dominância social não está correlacionada
o 20 40 60 80 10C com a fertilidade dos machos. Assim um ma-

-
~
' Cópula completa
Monta sem ereção do pênis
cho "predominante" que é infértil ou doente
pode diminuir o padrão de concepção de todo
o rebanho. O tamanho da pastagem também
afeta a competição entre machos e o número
c:::::JMonta sem impulso
de acasa.lamentos por fêmeas.
FIG. 10-10. Conduta de ejaculação em touros lei- Estação e Clima. Variações estacionais no
teiros gêmeos idênticos mostrando a distribuição comportamento sexual de carneiros, cabras e
porcentual de cópulas completas, montas sem ere- cavalos são devido em sua maior parte à
ção do pênis e montas sem impulso. Notar as gran-
estacionalidade da função hipofisária que con-
des semelhanças de ejaculação de irmãos gêmeos e
a grande variabilidade entre os pares de gêmeos. trola a secreção de hormônios das gônadas.
(Adaptado de Bane, A. 1954, ActaAgric. Scand. 4,95.) As modificações estacionais são também
comunicadas na resposta de ovelhas e porcas
ovariectomizadas aos hormônios exógenos,
nas uma ovelha estiver em cio. O efeito au- mostrando um efeito direto da estação sobre
mentado de um novo estímulo animal deve as respostas do sistema nervoso. A intensi-
ser considerado sob condições modernas de dade do comportamento sexual é reduzida nos
criação. Por exemplo, o fato de retirar uma climas quentes. O plano de nutrição parece
vaca manequim é um método efetivo para não afetar o comportamento sexual. Todavia,
aumentar o desejo sexual de um macho indo- qualquer problema físico pode afetar seria-
lente. mente a expressão sexual (p. ex., inflamação
Estímulos Não-Específicos. Estímulos dos cascos ou das articulações, modificações
externos não específicos podem levar a uma nos dentes, eczema, dores originadas por aci-
atividade sexual durante o período refratário dentes ou determinadas doenças).
que se segue às ejaculações em machos com
baixa libido. No rato, tanto estímulos doloro- Efeitos das Experiências
sos como um choque elétrico assim como uma
manipulação delicada aumentam a A eficiência da cópula de machos e fêmeas
frequência de ejaculações e reduzem o inter- é melhorada pela experiência. Contatos indi-
valo pós-ejaculatório. A substituição do local viduais antes da puberdade podem proporcio-
da colheita de sêmen movendo o animal ma- nar um efeito organizador sobre o desempe-
nequim, ou "encorajando" o touro, são méto- nho sexual subsequente. A privação social
dos eficientes em touros vagarosos. durante a infância deprime drasticamente o
252 Fisiologia da Reprodução

comportamento sexual em primatas. Em ou- contato é necessário para a sincronização do


tros mamíferos, o comportamento sexual fe- primeiro cio na estação de monta em ovelhas.
minino não parece modificado pela privação A amamentação retarda o cio quando com-
de contatos sociais. Contudo, uma privação parada a vacas e ovelhas submetidas a orde-
social durante a ontogenia pode contribuir nha. A presença do carneiro resulta em um
para alguns casos de inibição sexual em ma- cio pós-parto precoce nas ovelhas em
chos domésticos. Em porcos e carneiros, a cria- amamentação fazendo com que o cio pós-par-
ção em isolamento ou em grupos unissexuais to se assemelhe àquele em fêmeas secas ou
contribui para um efeito detrimental na libi- ordenhadas.
do subsequente. Machos inexperientes, jo- A introdução de um varrão logo antes da
vens, são geralmente desajeitados no seu puberdade espontânea de um grupo de
primeiro contato com uma fêmea receptiva: marrãs previamente isoladas resulta em apa-
eles se aproximam hesitantemente, gastam recimentos precoces de cios.
um longo tempo explorando a genitália, mon-
tam sem ereção, descem, e tentam montar Macho
novamente. A ereção e a ejaculação são fra-
cas, e o volume de sêmen é pequeno. Depois O estímulo pré-coital afeta tanto a compo-
da primeira ejaculação, os padrões motores sição da ejaculação como a secreção de
são rapidamente organizados e é conseguida andrógenos. Um período de contenção por 2 a
uma cobertura normal. 20 minutos provoca aumento do volume de
Motilidade Uterina e Transporte sêmen e da concentração e número de
Espermático. Coberturas estéreis com um espermatozóides em touros, não sendo afeta-
macho vasectomizado podem estimular o da a motilidade espermática. Montas falsas
transporte espermático no coelho, porém não causam posteriores aumentos nas caracterís-
em carneiros. O estímulo da genitália ou es- ticas seminais. A presença de outro touro, a
tímulo pré-coito provoca contração da cérvice troca do manequim, ou a utilização do touro
e do útero na ovelha e na vaca, resultante da como excitador antes da colheita não apre-
liberação de ocitocina. A distensão vaginal e sentam tal efeito de aumento sobre as carac-
o estímulo pré-coito provocam uma liberação terísticas seminais, apesar do grande aumen-
máxima de ocitocina em ovelhas e cabras. A to da excitação sexual. Assim, os estímulos
liberação de ocitocina ocorre frequentemente que influenciam a composição do sêmen, di-
antes do coito. ferem daqueles que provocam a excitação se-
Efeito do Macho em Fêmeas xual.
Anéstricas. Muitas fêmeas domésticas pas-
sam por períodos de anestro. No final do CONDUTA SEXUAL ANORMAL
anestro estacional em ovelhas e cabras, a in-
trodução de um macho resulta no aparecimen- A homossexualidade, a hipersexualidade,
to precoce e sincronizado dos ciclos estrais. a hipossexualidade e o comportamento auto-
Mesmo o carneiro Merino, que reconhecida- erótico não são comuns. Estas síndromes po-
mente se reproduz durante o ano inteiro, dem ser devido a fatores genéticos,
ovula e se acasala espontaneamente durante desequilíbrios do sistema endócrino e nervo-
apenas um período restrito durante o outo- so ou a falhas de manejo. Reações sexuais
no. O pico do cio observado 17 a 18 dias após inadaptadas são mais frequentes entre ani-
a introdução do macho representa de fato o mais domésticos e sob condições de cativeiro
segundo ciclo, o que permite uma fertilização nos jardins zoológicos do que na vida selva-
normal. gem. A homossexualidade refere-se à condu-
Um ferormônio andrógeno-dependente do ta sexual entre machos, particularmente na
macho é responsável pela sincronização si- puberdade e quando os machos jovens são
milar do cio em camundongos e possivelmen- alojados juntos. Os estímulos que levam à
te em ovelhas. Nenhum estímulo visual ou resposta sexual masculina são essencialmen-
Comportamento Reprodutivo 253

te visuais. Um estimulador de forma e tama- masturbação é menos comum em carneiros e


nho apropriados, apresentado a um macho mais comum entre touros alimentados com
extremamente motivado pode induzir a mon- rações altamente protéicas (p.ex., touros pre-
ta. Uma fêmea imóvel em anestro, um outro parados para exposição). Em consequência de
macho ou um objeto inanimado podem libe- tais dietas, a mucosa periférica do pênis tor-
rar as reações sexuais. A maioria dos machos na-se mais sensível ao estímulo tátil.
homossexuais torna-se heterossexual quan- O comportamento anormal mais comum
do colocados com fêmeas e novamente homos- em bovinos é a ninfomania.
sexuais quando agregados. Cios "irregulares" ou prolongados são co-
A hipersexualidade em machos consiste de muns em éguas. No cio irregular a sua mani-
crescente excitação sexual, frequência aumen- festação termina por um curto período segui-
tada de cópulas e tentativas de cobertura de do por uma receptividade sexual durante a
machos e fêmeas jovens da mesma ou de es- qual evIdencia-se um período estral comple-
pécie diferente. A hipossexualidade é carac- to. O cio prolongado pode durar de 10 a 40
terizada por anormalidades no padrão da dias. Este cio prolongado geralmente ocorre
ejaculação. Certos machos podem deixar de em éguas que não conceberam ou abortaram
ejacular apesar da protrusão da ereção, en- ou então naquelas utilizadas em tração pesa-
quanto que outros não conseguem montar ou da.
exibem ausência de desejo sexual por variá-
veis períodos de tempo. CONDUTA MATERNA E NEONATAL
Em garanhões belgas, a falha na ejaculação
pode ser manifestada na primeira estação de Os eventos comportamentais no nascimen-
monta ou no pico de qualquer estação suces- to e logo após (Tabela 10-3) têm importante
siva. Em alguns casos, a ejaculação é inibida influência sobre a sobrevivência do recém-
quando o sêmen é coletado por vagina artifi- nascido, e portanto sobre os resultados
cial, porém nenhuma inibição ocorre com a satisfatórios dos processos reprodutivos. Esta
monta natural. Tal inibição é temporária e afirmação é especialmente verdadeira quan-
devida principalmente a falhas na aplicação do a amamentação e o desenvolvimento da
da vagina artificial. Uma outra anomalia é a mãe e do jovem produto ocorrem em ambien-
introdução incompleta e a falta de oscilações te externo, frequentemente sob condições ad-
pélvicas após a intromissão. Esta irregulari- versas como um tempo inclemente e a pre-
dade, parcialmente hereditária, pode apare- sença de predadores, ou então em condições
cer em garanhões jovens no início de sua vida artificiais de confinamento totalmente inter-
sexual, podendo persistir nos anos seguintes. nas.
Mordeduras excessivas da égua durante a Vários experimentos têm sido utilizados
cópula podem estar associadas com distúr- para avaliar o comportamento materno, tais
bios nos mecanismos copulatórios, quando o como (a) se cada recém-nascido é amamenta-
garanhão executa as usuais oscilações do, (b) se cada recém-nascido é lambido pela
pélvicas sem ejaculação ou com ereção incom- mãe, (c) frequência de amamentação ou ten-
pleta. Mordeduras excessivas da égua podem tativas de procurar amamentação em mães
ser causadas por inibição. estranhas e (d) outras interações entre a mãe
O comportamento auto-erótico refere-se a e a ninhada relevantes para o desmame e o
respostas sexuais próprias, chamadas de desenvolvimento sob condições intensivas de
masturbação nos machos. Os padrões moto- manejo (Price et al.,1981).
res variam com as espécies. O garanhão roça Algumas práticas-padrão interferem com
o seu pênis ereto e rígido contra o hipogástrio a formação de ligações entre a mãe e os re-
(porção média anterior do abdômen) e abaixa cém-nascidos.Aseparação precoce dos recém-
a região do lombo rapidamente. Este ato é nascidos das mães como na prática em gado
seguido por vários movimentos da pelve cul- leiteiro ou na produção de leitões
minando com a ejaculação abortiva. A gnotobióticos, induz modificações no compor-
254 Fisiologia da Reprodução

tamento de jovens animais. Em muitas espé- de outros recém-nascidos neste momento. O


cies de bovídeos selvagens, as fêmeas partu- contato imediato e contínuo é importante pois
rientes abandonam o rebanho afastando-se as fêmeas podem rejeitar seus próprios cor-
durante o parto e durante o período pós-na- deiros ou cabritos caso sejam separadas de-
tal imediato. Muitos procedimentos de ma- les por algumas poucas horas imediatamen-
nejo impedem esta possibilidade, aumentan- te após o parto.
do a probabilidade de interferência por outros Durante e imediatamente após o nasci-
membros do rebanho. A troca de cordeiros é mento, as mães mastigam e lambem a pla-
uma consequência comum e deletéria de alo- centa e seus componentes (fenômeno denomi-
jar grande número de ovelhas prenhes con- nado deplacentofagia).Amãe pode consumir
juntamente. O desmame precoce e a alimen- parte dela e prepara o recém-nascido. O ato
tação artificial afetam adversamente o de lamber e o preparo materno apresentam
comportamento de amamentação em cordei- várias funções. O estímulo materno facilita o
ros e leitões. desenvolvimento da orientação da ama-
mentação das crias. O ato da amamentação
Amamentação pelas crias, por sua vez, provavelmente apre-
senta uma influência estimulante sobre a mãe
O leite é secretado em resposta à de modo a reduzir a tensão sobre o úbere e
amamentação, à massagem do úbere, ou à proporcionar oportunidades de novas sucções
injeção de hormônio da hipófise posterior. A dos recém-nascidos. Os padrões de resposta
amamentação provoca um reflexo nervoso que da mãe e das crias tornam-se rapidamente
aumenta a secreção de hormônios da hipófise mutuamente dependentes. Por ocasião do
posterior. O medo ou injeções de adrenalina parto, o ato de lamber apresenta uma função
inibem a descida do leite. higiênica além de estimular o recém-nascido
O recém-nascido <:pnsegue alcançar o úbe- a permanecer em pé e eventualmente ama-
re em poucos segundos após o nascimento, mentar-se. Nesta ocasião, a mãe "rotula" seu
mf:)smo ç9W o cordão umbilical ainda ligado. filho em reconhecimento natural, assumindo
Eles expressam a resposta de sugar logo que assim um mecanismo de ação discrimi-
seu nariz entra em contato com outros obje- natória. Posteriormente, à medida que os fi-
tos. Leitões criados e alimentados com leite lhotes crescem, o significado do reconheci-
em condições de laboratório devem ser cuida- mento do recém-nascido vai sendo
dos individualmente durante a primeira se- gradualmente substituído por funções sociais
mana. Quando dois ou mais leitões forem relacionadas ao estabelecimento e manuten-
unidos no nascimento, um irá sugar o outro ção de uma relação entre a mãe e os filhotes.
em alguma parte macia disponível. A remoção da ninhada, sob certas condições,
leva à rejeição dos recém-nascidos. Elas po-
dem rejeitar suas próprias crias no caso de
Interações Entre Pais e Filhos serem retiradas logo após o nascimento, man-
tendo-as afastadas por várias horas. Um
Após o nascimento, os jovens têm capaci- envolvimento social muito rápido é formado
dade para se mover quase imediatamente e entre a mãe e o recém-nascido. Cabritos re-
reagir para uma variedade de objetos como movidos da mãe imediatamente após o parto
substitutos das mães. Durante este período, e mantidos isolados por cerca de uma hora
os recém-nascidos estabelecem uma ligação são posteriormente rejeitados. A rejeição ma-
com sua própria espécie e quando adultos di- terna, todavia, não é uma consequência ine-
rigem seu comportamento sexual em direção vitável da separação precoce do cordeiro re-
aos membros da própria espécie. cém-nascido de sua mãe. Uma forte união
O reconhecimento dos recém-nascidos em materna-cria se forma em ovinos mesmo
ovinos e caprinos logo após o parto é estabe- quando a interação pós-parto é retardada por
lecido e pode ser adotado o reconhecimento um período até 8 horas após o nascimento.
Comportamento Reprodutivo 255

TABELA 10-3. Conduta Maternal e Neonatal em Ungulados Domésticos

Ovinos Caprinos Bovinos Equinos Suínos


Conduta pré-parto
lntranquilidade + + + +
Procura isolar-se :!: Provavelmente :!: (?) +
Ejeção de leite Iguais aos OVInOS :!: :!: -
Construção de ninho - - - +

Expulsão da placenta
Tempo entre a expulsão dos recém-nascidos Várias Várias Várias 1(?) Várias
e a expulsão da placenta (horas aproximadas)
Ato da fêmea comer a placenta :!: :!:(?) :!: - :!:
Tempo para a fêmea permanecer de pé após o <1 <1 <1 10 3
nascimento (se já não parir de pé) (minutos
aproximados)
Solicitude maternal para produtos alheios - (?) :!: (?) +
Conduta maternal anormal
Deserção dos filhos + + (?) +
Movimenta-se para impedir a amamentação + Provavelmente + + NA
Ataque aos filhos + igual aos ovinos + + NA
Canibalismo - - - NA
Frequência de amamentação (vezes por dia
aproximadamente)
Primeiros quatro dias 30 (?) 4(?) (?) 10
A meio termo da lactação 15 (?) 3(?) (?) 25

Conduta Materna em Ovinos Parto

Conduta Pré-parto Não existe um pico consistente de partos a


qualquer hora particular do dia. A conduta
As ovelhas param de se alimentar mais ou durante o parto depende em grande parte da
menos uma hora antes do parto e vagueiam facilidade do processo, geralmente porém, a
como se estivessem à procura de um cordeiro. intranquilidade inicial é substituida por pe-
O parto, pelo menos na raça Merino, usualmen- ríodos em que a ovelha se deita e apresenta
te inicia-se enquanto a ovelha se encontrajun- contrações abdominais. A maioria dos cordei-
to ao rebanho, depois ela é deixada para trás ros nasce em apresentação anterior. O parto
e o rebanho adianta-se nas pastagens. geralmente se dá com a ovelha deitada, em-
Função dos Fluidos Fetais. O local do bora ela possa também permanecer em pé; a
nascimento parece ser determinado fortuita- maior parte das ovelhas levanta-se dentro de
mente onde caem os primeiros fluidos um minuto após o parto. O cordão umbilical
placentários. Estes fluidos atraem as ovelhas é rompido por estiramento. A placenta fetal é
próximas ao parto e aí elas permanecem, lam- eliminada 2 a 5 horas após, sendo frequente-
bendo e dando patadas no solo. Os fluidos mente comida por certas raças, porém rara-
parecem assumir um papel crítico na atração mente por outras.
da ovelha para o seu cordeiro recém-nascido. A duração do nascimento varia extrema-
Ovelhas ainda não paridas são atraídas para mente dentro de um rebanho. Algumas vezes
os fluidos e para os recém-nascidos de outras um nascimento prolongado é associado com
ovelhas, levando ao "roubo do cordeiro". Al- um único cordeiro grande demais em relação
gumas vezes esta adoção resulta em cordei- à vagina, com cordeiros gêmeos colidindo no
ros abandonados sem cuidados maternos, e a canal, ou com uma apresentação anormal re-
criação por ovelhas que não são suas mães sultando no aumento do diâmetro efetivo do
naturais. cordeiro. O nascimento tende a ser também
256 Fisiologia da Reprodução

mais prolongado nas ovelhas primíparas e Encontro das Tetas pela Primeira Vez.
naquelas doentes ou subnutridas. O parto A maior parte dos cordeiros consegue man-
prolongado pode levar a ovelha à exaustão e ter-se de pé dentro de 15 minutos após o nas-
ter efeitos adversos sobre a conduta materna cimento, e com o aumento da coordenação fa-
e a viabilidade do cordeiro. zem aproximações exploratórias, movendo a
O nascimento de gêmeos geralmente é mais cabeça para as laterais da mãe e encostando
rápido por causa do menor tamanho dos cor- o nariz nos ângulos do corpo da ovelha. Du-
deiros em relação ao nascimento de apenas rante as aproximações iniciais a mãe tenta
um, porém o intervalo entre o nascimento dos manter o cordeiro defronte de sua cabeça para
dois varia extremamente desde poucos mi- facilitar as lambidas, porém dentro de uma
nutos até uma hora ou mais. ou duas horas, a maioria das ovelhas permi-
te que ele se dirija em direção ao úbere.
Conduta Pós-parto Tanto a orientação materna como o ato de
lamber parecem facilitar o encontro das te-
Vigorosas lambidas e ingestão de algumas tas pela primeira vez, porém nenhum destes
membranas amnióticas ou alantóides aderen- fatores é essencial. As tetas são encontradas
tes ao cordeiro, geralmente iniciam-se imedia- por tentativas e enganos. Por exemplo, em
tamente após o nascimento. Durante esta fase cabras as tetas são encontradas com igual
de intenso contato olfatório e gustativo, que êxito se o úbere estiver em sua posição nor-
persiste por pouco mais de uma hora, a ove- mal ou se tiver sido implantado na região do
lha aprende a distinguir seu próprio filho de pescoço. A orientação visual não é essencial,
outros, que são logo rejeitados por vigorosas pois os cordeiros conseguem mamar pela pri-
marradas. Experimentos com ovelhas partu- meira vez em compartimentos à prova de luz;
rientes em que os bulbos olfatórios foram contudo, sinais visuais parecem facilitar a
destruí dos confirmam que esta atração é ex- amamentação subsequentemente. Não exis-
tremamente olfatória. No entanto, a conduta te qualquer informação sobre a atuação do
materna não é aboli da pela destruição do sen- odor.
tido do faro. Outros fatores, como o calor e os Conduta Aberrante. Ovelhas exaustas
movimentos, podem ser importantes para por um parto difícil podem ficar prostradas
manter a atração da mãe para o cordeiro re- por algumas horas após o nascimento e o cor-
cém-nascido; as ovelhas perdem rapidamen- deiro pode se extraviar. Certas ovelhas
te o interesse em cordeiros imóveis e frios. primíparas mostram pouco interesse e aban-
Este "período crítico" de apego da ovelha ao donam seus filhos recém-nascidos. Outras
cordeiro é curto; se o cordeiro for removido formas de mau comportamento em ovelhas
logo após o nascimento ele será rejeitado pela inexperientes incluem a aplicação de
mãe quando novamente apresentado a ela marradas no recém-nascido à medida que este
seis a doze horas após. se movimenta, e uma tendência de movimen-
O ato de lamber da ovelha pode remover tação para manter a orientação inicial de ca-
certa quantidade de 0,5 kg de fluido presente beça contra cabeça. Quando estes padrões de
no pêlo ao nascimento, reduzindo assim a conduta persistem, as oportunidades do cor-
perda de calor. O ato de lamber tem também deiro de achar as tetas e mamar podem ser
importante atuação para estimular o cordeiro reduzidas, desde que a atividade de procura
a manter-se de pé e mamar pela primeira vez. das tetas declina rapidamente cerca de duas
A conduta materna parece estar sob con- horas após o nascimento quando não é
trole endócrino; ela pode ser induzida em ovi- conseguida uma amamentação satisfatória.
nos sob as influências de um rápido declínio Alguns cordeiros, particularmente após uma
do nível de progesterona e rápido aumento nutrição fetal deficiente, um longo processo
do nível de estrógenos, condições que normal- de nascimento, danos físicos devidos ao parto
mente se encontram na época do nascimen- ou resfriamento, são lentos para se mante-
to. rem de pé e para mamar.
Comportamento Reprodutivo 257

Padrões aberrantes são mais comuns no evitam ativamente a aproximação do cordei-


parto gemelar do que quando nasce apenas ro mascarado quando inicialmente apresen-
um cordeiro, especialmente entre os ovinos tadas a ele, mesmo que ele seja o seu próprio
da raça Merino. Por exemplo, se os gêmeos filho. Experimentos semelhantes pintando
nascem separados por alguns metros de dis- várias partes do cordeiro com cor preta mos-
tância, um deles pode ser negligenciado ou tram que vários sinais críticos visuais dele
se perder, ou ainda ser repelido como um in- emanam (Fig.10-11). O cheiro do cordeiro
truso se o contato for refeito depois que te- também é importante, porém apenas em ín-
nha passado o período crítico receptivo da tima vizinhança. O cheiro parece ser o crité-
mãe; o apego a um cordeiro não garante a rio final pelo qual uma ovelha identifica um
aceitação de outros da mesma cria. A condu- cordeiro como seu próprio filho.
ta aberrante no período pós-parto é uma Inicialmente, os cordeiros são insensíveis
significante causa de mortalidade de cordei- para identificar os sinais transmitidos pela
ros. mãe e tentam mamar em qualquer ovelha.
Existe uma atração não específica inicial das
Amamentação vozes das ovelhas, porém a especificidade
aumenta com a idade. Os sinais visuais tor-
As ovelhas com cordeiros tendem a formar nam-se mais importantes do que os auditi-
grupos distintos separados do rebanho prin- vos quando o cordeiro tem cerca de três se-
cipal, e por alguns dias após o nascimento elas manas de idade. Se o odor da ovelha tem
permanecem ao alcance do ouvido de suas alguma atuação no reconhecimento pelo cor-
crias. Uma separação acidental resulta em deiro não se tem conhecimento.
considerável agitação tanto da mãe quanto Conduta de Amamentação. Depois que
do filho de modo que é importante que haja o cordeiro recém-nascido tiver se saciado, a
mecanismos eficientes para a reunião dos frequência de amamentação se estabiliza em
dois. uma ou duas vezes por hora (Fig. 10-12). Du-
ReconhecimentoMútuo pelas Ovelhas rante a primeira semana, a amamentação é
e Cordeiros. Os meios pelos quais as ove- usualmente iniciada e terminada pelo cordei-
lhas e os cordeiros sé'reconhecem mutuamen- ro. Cordeiros gêmeos podem mamar indivi-
te têm sido objeto de muita pesquisa. Os ex- dualmente e mais frequentemente do que os
perimentos foram em grande parte baseados únicos.
na manipulação dos meios de reconhecimen- À medida que o cordeiro se torna mais ve-
to fornecidos pelo parceiro (Alexander, 1977). lho e se estabelece um melhor reconhecimen-
As vezes foram bloqueadas por anestesia lo- to mútuo, mãe e filho se desgarram e a ove-
cal e os meios visuais removidos pela coloca- lha tende a terminar com a amamentação,
ção de anteparos ou manchando-se o velo com embora ela possa induzi-Ia aproximando-se e
pigmentos ou ainda pela tosquia. Os efeitos chamando o cordeiro. Depois de mais ou me-
foram observados em um pequeno recinto fe- nos uma semana os gêmeos não têm permis-
chado, quando uma ovelha e um cordeiro fo- são para mamar a não ser que ambos este-
ram simultaneamente colocados em extremi- jam presentes, e deste modo a ovelha já
dades opostas. reconhece que possui dois cordeiros. Com o
Os experimentos demonstraram que as avançar da idade, a frequência e duração da
ovelhas são atraídas pelo balido de um cor- amamentação diminuem (Fig.10-12). Sob con-
deiro e a atração é particularmente forte para dições naturais estas modificações culminam
a própria mãe do cordeiro, porém que não é com o desmame, sendo a solicitude materna
essencial para uma ovelha ouvir a voz de seu substituída repentinamente por um compor-
cordeiro para que ela o aceite. A aparência do tamento antagônico.
cordeiro é de suprema importância, por ex., Na ovelha não existe uma conduta mater-
se os cordeiros forem dissimulados por na protetora impetuosa; a simples presença
escurecimento ou coloração, muitas ovelhas da fêmea parece agir como um fator
258 Fisiologia da Reprodução

25 Ovinos
.; x-x Gêmeos
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8--'" Único

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Olhos pretos 7/10
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Membros anteriores
pretos 0/10
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Corpo preto 6/10


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Garupa preta 1/10
E
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15
Suínos _Dia
Noite

'"
E ~~~~ ==
FIG. 10-11. Efeito do escurecimento de várias 2'"
E 5
regiões do corpo de cordeiros sobre a incidência de '::J
Z
hesitação ou abandono pelas mães quando
confrontadas pela primeira vez com seus cordeiros 00 1 2 3 4 5 6 7 8
parcialmente escurecidos. O número de ovelhas Idade aproximada em semanas
que reagiu de dez provadas em cada tratamento é
FIG. 10-12. Frequência de tentativas de
indicado. (Adaptado de G. Alexander e Shillito, R.
amamentação em ovinos e suínos. A frequência
(1977). AppI. Anim. EthoI. 3,137) máxima é atingida mais tarde em suínos do que
em ovinos. (De Ewbank, E. (1967). Anim. Behav.
dissuasivo com predadores como as raposas 15, 251, e dados de Niwa et aI. (1951). Bull. Nat.
e corvos. O cuidado materno consiste prima- InstAgric. Sei. Tokyo (Ser. G) 1,135.)
riamente em suprir o leite exclusivamente
para seu próprio cordeiro. Uma pequena mi- Conduta Materna em Bovinos
noria de ovelhas permite que um cordeiro
alheio mame nelas, e alguns cordeh'os tor- Os padrões de comportamento normais e
nam-se adeptos em roubar leite de uma ove- anormais da vaca e do bezerro são bastante
lha alheia; estes padrões anormais podem ser similares aos dos ovinos, embora existam al-
devidos ao rompimento da sequência normal guns pontos de diferença. Um ou dois dias
dos eventos imediatamente após o nascimen- antes do parto, a vaca fica impaciente e per-
to. manece em uma pequena área isolada que ela
defende contra outras vacas. O confinamento
Conduta Materna em Caprinos e a interferência neste período pode resultar
em um nascimento prolongado e uma sobre-
A conduta materna e neonatal em caprinos vivência dificil do bezerro. As vacas tendem a
é similar à dos ovinos, Todavia, as cabras po- comer a placenta mais frequentemente que
dem ser mais eficientes do que as ovelhas no as ovelhas. A maioria dos bezerros novos leva
reconhecimento de cabritos gêmeos. A cabra pelo menos 45 minutos para se manter em pé
também leva mais tempo lambendo e orien- e pode levar mais de 4 horas para mamar pela
tando o primeiro recém-nascido, de modo que primeira vez.
o segundo, que geralmente é o mais fraco dos
dois, tem maior oportunidade de mamar. As Amamentação
vozes dos cabritos são similares quando ana-
lisadas por um sonógrafo, e as fêmeas não Os bezerros recém-nascidos começam a
conseguem distinguir os filhotes por meios mamar dentro de 2 a 5 horas após o nasci-
auditivos até que os sons começam a divergir mento. Até que seja localizada uma teta o be-
ao redor de 4 dias de idade. zerro fica sugando qualquer protuberância no
Comportamento Reprodutivo 259

corpo da mãe. A mãe procura auxiliar o be- ra estes sintomas não estejam relacionados
zerro para encontrar a teta posicionando seu ao período pré-parto imediato. Nas éguas, a
corpo apropriadamente, lambendo-o, aconche- maior parte dos nascimentos é registrada à
gando-o e cutucando o bezerro. noite, porém não está claro se isto é devido a
O parto gemelar em bovinos não afeta a pro- efeitos fotoperiódicos ou a técnicas zootécnicas
babilidade da mãe amamentá-Ios pela manhã de rotina. Os atrasos do parto têm sido atri-
e a tarde. Os gêmeos são amamentados duran- buídos à presença e interferência humanas,
te um tempo maior do que os bezerros únicos, assim como à presença de um grupo
presumivelmente por causa de um suprimen- expectador de éguas.
to de leite menor. Os gêmeos são menos lambi- O parto anormalmente prolongado está
dos pela mãe do que os bezerros únicos. usualmente associado com má apresentação
A amamentação envolve ambos, a mãe e o do feto, embora éguas mais velhas não consi-
bezerro. Conforme já foi mencionado de iní- gam sustentar esforços para parir. As éguas
cio, a vaca ajuda o bezerro para localizar os tendem a permanecer mais tempo deitadas
tetos. Enquanto o bezerro está mamando, a do que as ovelhas, frequentemente não se le-
mãe lambe as áreas perineais e prepuciais do vantando até por mais de 10 minutos após o
bezerro, estimulando-o a urinar ou defecar. parto. A maioria dos potros leva uma hora ou
Vacas sem bezerros ou recentemente paridas mais para manter uma posição estável sendo
porém separadas das crias apresentam pou- que praticamente todos amamentam-se den-
co interesse em bezerros posteriormente apre- tro de 3 horas após o nascimento. A parturição
sentados. continua por várias horas. Os potros prema-
Frequentemente, fêmeas podem parir na turos são mais comuns do que em ruminan-
companhia de outras prenhes ou com recém- tes, sendo que eles têm uma tendência de se-
nascidos. Isto pode aumentar padrões de com- rem fracos e lentos para o crescimento,
portamento materno aberrante como o aban- embora o reflexo para a amamentação seja
dono ou roubo do bezerro e uma amamentação bem desenvolvido.
cruzada.
Uma amamentação deficiente aumenta um Conduta Materna em Suínos
suprimento energético baixo, dietas pobres
em proteínas, o que sugere uma relação com A conduta dos suínos, com suas grandes
a dieta. Bezerros amamentados pela própria leitegadas de produtos pequenos e quase des-
mãe recebem mais do que os animais alimen- providos de pêlos, contrasta com a de outros
tados no balde, dentre os quais a incidência ungulados domésticos. Padrões apropriados
de subnutrição é alta. A deficiente alimenta- de comportamento são de particular impor-
ção apresenta consequências importantes, tância por causa da suscetibilidade dos recém-
particularmente se ela prosseguir na vida nascidos à inanição, resfriamento e danos
adulta. Esta atividade diminui de maneira acidentais pela porca.
marcante o consumo de matéria seca dos be-
zerros e retarda o crescimento. Massas de pêlo Conduta Pré-parto
ocorrem comumente no rúmen de bezerros
que exibem uma lambição não nutricional. Em condições de campo a aproximação do
Estas massas podem atingir um tamanho de parto é indicada pela característica ativida-
3788 g podendo ser fatal caso bloqueiem a de de construção do ninho, porém na prática,
entrada do rúmen e impeçam a eructação as porcas sofrem restrição pela falta de ma-
(Fig.l0-13). terial para fazer o ninho e pelos modernos
abrigos para o parto, desenvolvidos para a
Conduta Materna em Equinos proteção dos leitões, de modo que esta ativi-
dade fica inibida e as porcas podem ficar per-
A aproximação do parto pode ser indicada turbadas. À medida que o parto se aproxima,
pela ejeção de leite e intranquilidade, embo- torna-se evidente uma característica
260 Fisiologia da Reprodução

1 A duração média do parto é de cerca de 3


I
horas, porém pode variar de meia a 8 horas
i ou mais. O intervalo entre o nascimento de 2

i
of
leitões sucessivos varia de menos de um mi-
nuto a três ou mais horas, e os leitões da últ~-
ma metade da leitegada correm o risco de
J nascerem mortos, provavelmente devido a
!
;
ruptura prematura do cordão umbilical e à
I hipoxia prolongada.
"I

1 Conduta Pós-parto

Os leitões recém-nascidos tornam-se qua-


"1 B se imediatamente móveis. Eles encontram
rapidamente o caminho para as tetas e po-
FIG. 10-13. Amamentação não-nutritiva de dem estar mamando dentro de 5 minutos; a
bezerros. Formações globosas de pêlos colhidas no maioria consegue alimentar-se dentro de meia
rúmen de um bezerro com 41 dias de idade criado
hora após o nascimento. Neste estágio preco-
individualmente. Os pêlos acumularam-se pelas
próprias lambidas do bezerro. ce, o leite é abundante possivelmente devido
a ocitocina circulante associada ao processo
do nascimento. A condllta dos leitões imedia-
tamente após o nascimento é variável e eles
vocalização e a área do "ninho" é defendida podem ser atraídos para aquecedores
como se os leitões estivessem presentes. infravermelhos antes de se moverem para o
úbere. A atração para os aquecedores prova-
Parto velmente é indesejável neste estágio precoce
quando está sendo estabelecida uma ordem
o parto da porca é mais frequente durante das tetas, porém subsequentemente pode ser
as horas após o pôr do sol. Embora a maior desejável a fim de evitar que a porca se deite
parte das porcas domésticas tolerem a pre- sobre eles. Na procura das tetas, os leitões
sença de um observador durante o parto, ou- tendem a se concentrar na região peitoral do
tras ficam extremamente perturbadas. Nor- úbere e exploram as superfícies verticais com
malmente as porcas parem deitadas sobre um seus focinhos até que uma teta seja contatada,
lado, e o nascimento é acompanhado d~;mui- agarrada e sugada. Os leitões que não encon-
to menos esforço aparente do que em ólltros trem uma teta funcional logo após o nasci-
animais domésticos. mento, rapidamente esgotam suas reservas
O rompimento das membranas e a expul- de energia e em climas frios morrem de
são dos líquidos fetais não são bem definidos hipotermia.
como nos outros ungulados. A maior parte dos
leitões nasce envolto nas membranas fetais, Amamentação
e em contraste com os produtos maiores de
outros ungulados, o leitão deve libertar-se Tendo mamado inicialmente, os leitões ten-
delas sem o auxílio materno ou então morre. dem a experimentar várias tetas da mesma
O cordão umbilical é rompido pela movimen- fileira que aquela mamada em primeiro lu-
tação do leitão ao se afastar da vulva. No fi- gar; eles localizam prontamente estas tetas,
nal do parto a porca usualmente fica de pé aprendendo rapidamente a orientação apro-
para urinar, e quando se deita novamente e priada e a altura da teta. O contato com ou-
também durante os primeiros acessos de tro leitão pode agora resultar em luta empur-
intranquilidade, os leitões correm o risco de rando-o ou mordendo-o com o aguçado dente
ficarem por baixo e serem machucados. canino.
Comportamento Reprodutivo 261

A ordem das tetas torna-se instável diante com os fluidos podem resfriar-se em tempe-
de grandes leitegadas ou então com um su- raturas de 20°C com períodos de ventos de 5
primento deficiente de leite. A identificação km por hora, apesar de uma resposta
das tetas pelos leitões parece não estar basea- termogênica vigorosa. Os leitões juntam-se
da no paladar ou odor. Em pequenas entre eles oujuntani-se à mãe para minimizar
leitegadas alguns leitões utilizam regular- a perda de calor; leitões selvagens são mais
mente as tetas adjacentes, embora uma de- resistentes ao frio que os domésticos.
las seja usualmente a preferida. Existe uma A termorregulação aumentada dos leitões
definida preferência pelas tetas anteriores. selvagens é parcialmente devido a uma
Embora seu controle seja geralmente ganho pelagem extra e a uma resposta metabólica
pelos leitões maiores e dominantes, parece mais madura ao frio. A mortalidade de lei-
não haver maior vantagem quanto à tões é atribuída a infecções, resfriamentos, má
amamentação através delas. nutrição e esmagamento. Estas causas de
Os turnos de amamentação são iniciados mortalidade podem ser secundárias a um de-
pela porca, seja espontaneamente ou pelos senvolvimento inadequado de reservas
grunhidos dos leitões e suas tentativas para energéticas pré-natais e também a um meta-
mamar. A porca emite uma característica cha- bolismo inativo após o nascimento (Kasser et
mada para a alimentação, uma série de gru- aI., 1981). Mortes provenientes de efeitos di-
nhidos suaves aos quais a leitegada se torna retos ou indiretos de resfriamentos são co-
rapidamente condicionada e que inicia a muns em baias de parição não aqueci das, po-
amamentação. Os turnos podem ser estimu- rém a resistência ao frio aumenta após 2 a 3
lados por um distúrbio na baia ou pela dias que os leitões permanecem no ninho. Os
amamentação de uma porca vizinha (Tabela leitões expostos ao frio gastam mais em sua
10-4). As posições da amamentação tendem a termorregulação do que quando estão se ama-
ter características individuais segundo a por- mentando. O comportamento na
ca; a posiçijp em pé é mais comum nos suínos
selvagens do que nos domésticos.
A chamada para alimentação inicia um
período que dura vários minutos, de intensa TABELA 10-4. Comportamento de
massagem do úbere pelos focinhos dos leitões; Amamentação e Sucção em Suínos
ao mesmo tempo, a porca deitada gira o cor- Valores
Padrão de Sucção
po para expor as tetas. A frequência de gru-
nhidos aumenta até um máximo e a fase de Tempo tomado pela porca para 11-17
movimentação ativa dos leitões é subitamen- deitar-se após aproximação dos
leitões (seg)
te substituída por uma fase mais calma de
descida do leite e amamentação que dura ape- Frequência de sucção (períodos/dia) 18-28
nas um ou dois minutos. Os leitões parecem 51-63
Intervalo entre sucções (min.)
não discriminar as porcas. A adoção de lei- (acima de
tões de outra ninhada não é difícil e eles po- 160 é raro)
dem ser criados juntos, inclusive com leitões 4-8
Duração da amamentação
mamando em mais de uma porca. As porcas Duração da sucção (seg)
em lactação podem se tornar agressivas se os Fase nasal 55-140
leitões forem molestados ou ameaçados. Fase de silêncio 16-23
Verdadeira sucção 13-37

Consumo de leite do leitão/período de 24-28


Anormalidades de Conduta, amamentação(g)

Termorregulação e Mortalidade Neonatal Consumo de leite do leitão/dia (g) 546-676

Os leitões recém-nascidos de pequeno ta- Consumo de leite do leitão/período de 30-37


lactação (kg)
manho, pelagem esparsa e pele umedecida
262 Fisiologia da Reprodução

FIG. 10-14. Teste de ordem e in-


tervalos de amamentação em lei-
tão.

termorregulação provoca uma redução na REFERÊNCIAS


quantidade consumida de colostro. Este fe-
nômeno representa uma diminuição induzida Alexander, C. (1975). Body temperature contrai in
mammalian young. Br. Med. Bull. 31, 62.
pelo frio na ingestão de imunoglobulinas Alexander, C. (1977). Role of auditory and visual cues
colostrais. Alternativamente, a exposição ao in mutual recognition between ewes and lambs
frio pode também reduzir a capacidade do lei- in Merino sheep. Appl. Anim. Etbol. 3, 65.
tão de localizar, captar e transportar Alexander, C., Signoret, J.P., and Hafez, E.S.E.
imunoglobulinas colostrais através das célu- (1980). Sexual maternal and neonatal behavior.
In Reproduction in Farm Animais, 4th ed. E.SoE.
las epiteliais intestinais e no sangue (Kelly
Hafez (ed.). Philadelphia, Lea & Febiger.
et aI., 1982). Bronson, F.H. (1984). Energy allocation and repro-
Algumas porcas ocasionalmente matam e ductive development in wild and domestic
comem seus leitões durante o parto. Se este house mice. Biol. Reprod. 31, 83-88.
comportamento agressivo for deteetado pou- Denenberg, V.H., and Banks, E.M. (1969). Tech-
Diques of measurement and evaluationo In The
co antes do parto, os leitões poderão ser re- Behavior of Domestic Animals. E.S.E. Hafez
movidos ao nascerem e retomados em relati- (ed.). London, England, Bailliere, Tindall &
va segurança depois de terminado o parto, Cassell.
embora o canibalismo possa também ocorrer Kasser, T.R., Martin, R.J., Gabagan,J.H., and Wangs-
mais tarde durante a lactação. . . ness, P.J. (1981). Fasting plasma hormones and
metabolites in feral and newborn pigs. J. Anim.
A inanição contribui por cerca de metade Sic. 53, 420-426.
da mortalidade calculada em 10% dos leitões Kelley, K.W., Blecha, F., and Regnier, J.A. (1982).
domésticos nascidos vivos. Os leitões sugam Cold exposure and absorption of colostral immu-
qualquer órgão que entre em contato com seus noglobulins by neonatal pigs. J. Anim. Sei. 55,
focinhos, incluindo a vulva materna e outros 363-368.
Klingel, H. (1967). Soziale Organization and Verhal-
leitões. O número de tetas disponíveis é re- ten freilebender Steppenzebras. Z. Tierpsychol.
duzido em algumas porcas, particularmente 34, 580.
em animais mais velhos em que elas ficam Price, E.O., Thos, J., and Anderson, C.B. (1981). Ma-
embutidas no úbere. Leitões que forem desa- ternal responses of confined beef caule to single
lojados da sua posição estabelecida no úbere versus twin calves. J. Anim. Sei. 53, 934-939.
Randolph, J.H., Cromwell, C.L., Stahly, T.S., and
depois do primeiro ou segundo dia não acei- Kratzer, D.D. (1981). Effects of group size and
tam uma outra teta disponível e podem mor- space allowance on performance and behavior
rer. of swine. J. Anim. Sei. 53, 922-927.
111. distúrbios
reprod li ti vos
11
DISTÚRBIOS REPRODUTIVOS NAS FÊMEAS
M.R. JAINUDEEN e E.S.E HAFEZ

A esterilidade é um fator permanente que rianos, estão intimamente relacionadas e são


impede a procriação e a infertilidade ou este- direcionadas para o sucesso da reprodução.
rilidade temporária e a inabilidade de produ-
zir descendentes viáveis dentro de um tempo Anestro
estipulado característico para cada espécie.
Neste capítulo são examinadas as fases do O anestro traduz um estado de completa
processo reprodutivo que são mais vulnerá- inatividade sexual, sem manifestações de cio.
veis e são demonstrados como desequihôrios Não é uma doença mas sim um sintoma de
hormonais ou ambientes adversos e os fato- uma variedade de condições (Tabela 11-1).
res genéticos e hereditários exercem suas in- Embora o anestro seja observado durante al-
fluências (Fig. 11-1). gumas condições fisiológicas, por ex., antes
da puberdade, durante a gestação e lactação
DISFUNÇÃO OVARIANA e nas espécies de reprodução estacional, com
frequência ele é um sintoma de temporária
As duas funções prinCipais do ovário, pro- ou permanente depressão da atividade ova-
dução de óvulos e secreção de hormônios ova- riana (anestro verdadeiro), provocado por al-
FATORES
Ambientais
Hormonais
Genéticos
Infecciosos

~~
CICLO ESTRAL I ,tO
o GESTAÇÃO LACTAÇÃO

Cio Ovulação I Embrião Few Neonaw


18
~ ' ". + /" + ~ "
ANESI'RO INFERTILIDADE MORTALIDADE MORTALIDADE
FETAL PERIe
NEONATAL
abortamento
mumificação

FIG.ll-l. Representação esquemática dos fatores que afetam adversamente os processos reprodutivos.
Tipos comuns de falhas reprodutivas são o anestro, a infertilidade fetal e perinatal e mortalidade neonatal.
Notar que a infertilidade pode resultar da falha de fertilização ou mortalidade embrionária.

265
266 Distúrbios Reprodutivos

TABELA 11-1. Anormalidades do Cio


Anormalidade Causas Mecanismos Fisiológicos
Espécie
Bovinos Anestro Piometra, mumificação Manutenção do corpo lúteo
Lactação O estímulo da sucção inibe a liberação de
gonadotrofina
Ovários císticos Deficiências de LH e/ou GnRH
Hipoplasia ovariana e Falhas na produção de estrógenos ovaria-
freemartinismo nos
Deficiências nutricionais e Produção de gonadotrofinas pela hipófise
vitamínicas anterior
Subestro, cio silencioso Alta lactação Desequilíbrio endócrino
(ovulação silenciosa)
Ninfomania Ovários císticos

Ovinos Anestro Estação,lactação Efeito do fotoperí<;>do sobre a secreção


gonadotrófica
Suínos Anestro Lactação Igual ao bovino
Equinos Anestro Estação, dieta, hipoplasia Igual ao ovino
ovariana
Cio prolongado Precocemente na estação Falha folicular ao redor de 2 cm no desen-
reprodutiva volvimento, devido a inadequado estímu-
lo endócrino
Cio irregular, cio silen-
cioso
Ausência de cio Pseudoprenhez Falha precoce de gestação com persistência
do corpo lúteo
Diestro prolongado após o Persistência do corpo lúteo
parto
GnRH = hormônio liberador de gonadotrofinas

terações estacionais no ambiente físico, defi- devido a uma redução da secreção do


ciências nutricionais, "estresse" da lactação hormônio liberador gonadotrófico (GnRH).
e envelhecimento (Fig. 11-2). Determinadas Com o aumento da luz após o solstício de in-
condições patológicas dos ovários ou do útero verno, a secreção de GnRH é estimulada, o
também suprimem o cio. FSH é liberado, que em contrapartida esti-
Anestro Estaciona!. Durante o anestro mula o desenvolvimento folicular resultando
estacional não se produzem alterações cíelicas em cio e ovulação. Vários métodos são utili-
nos ovários e no trato reprodutivo. A duração zados para contornar o anestro estacional,
do anestro estacional varia de acordo com as incluindo a administração diária de
espécies, raças e ambiente físico, sendo mais progesterona, a exposição artificial de luz (16
pronunciado em ovinos e equinos do que em horas por dia) e o GnRH. Devido às desvan-
bovinos, suínos e na maioria dos mamíferos tagens do tratamento artificial com a luz, a
de laboratório. O anestro estacional em ovi- utilização de GnRH para adiantar a estação
nos e caprinos na zona temperada é influen- reprodutiva está sendo pesquisada em diver-
ciado principalmente pelo fotoperíodo e en- sos laboratórios.
volve modificações na secreção tônica de LH. Anestro Durante a Lactação. Em vá-
Embora a porca e a vaca sejam poliéstricas, rias espécies, a ovulação e a atividade
existe uma evidência de um controle reprodutiva a ela relacionada são suprimidas
estacional de sua eficiência reprodutiva. O por um variável período de tempo após o par-
anestro da égua ocorre durante o inverno e to e durante a lactação. A incidência e dura-
primavera quando as horas de luz são mais ção do anestro variam bastante entre as dife-
curtas. Os ovários tornam-se pequenos e en- rentes espécies e raças, sendo também
durecidos, sem folículos ou corpos lúteos e as influenciadas pela época estacional do parto,
concentrações séricas de LH, progesterona e pela quantidade da produção leiteira, pelo nú-
estradiol são baixas. O anestro estacional é mero de descendentes que está sendo ama-
Distúrbios Reprodutiuos nas Fêmeas 267

fatores ambientais anormalidades ovarianas fatores uterinos


1. estação 1.hipoplasia 1.gestação
2. lactação 2.ovários císticos 2. "pseudociese'
3. nutrição (bovinos) (equinos, suínos,
3. freemartinismo caprinos)
(bovinos) 3.mumificação
maceração
piometra

I
insuficiência persistência do
gonadotrófica corpo lúteo

falha de
desenvolvimento
folicular no ovário
/
1
I anestro I

FIG. 11.~. Esquema ilustrando as possíveis causas determinantes de uma falha do desenvolvimento
folicular :,10ovário e anestro em animais domésticos. Notar que a gestação é uma importante caUsa para
a ausência de cio.

mentado e pelo grau de involução do útero N a ovelha, o anestro lactacional dura de


após o parto. cinco a sete semanas. Algumas ovelhas em
O cio e a ovulação são totalmente suprimi- amamentação entram em cio, porém a maio-
dos durante a lactação na porca, embora esta ria mostra cio cerca de duas semanas após o
inibição possa ser devido ao reflexo de sucção desmame dos cordeiros. A nutrição e a esta-
e/ou à presença da leitegada ao invés da ção do ano podem modificar os efeitos da
lactação propriamente dita. O desmame é amamentação e da lactação sobre o retorno
seguido pelo cio e pela ovulação dentro de 4 a da atividade ovariana após o parto. Por exem-
8 dias. Normalmente, a atividade ovariana é plo, o.anestro é mais pronunciado no final do
restabelecida em vacas leiteiras dentro de 30 que no início da estação reprodutiva quando
dias após o parto (Lamming et aI., 1981). Por a nutrição é inadequada. Similarmente, as
outro lado, experiências com vacas e búfalas condições do verão podem prolongar o inter-
em amamentação aumentam o período pós- valo do desmame até o primeiro cio em por-
parto. Durante o período de altas temperatu- cas primíparas (Britt et aI., 1983). A maioria
ras e dietas pobres, vacas Brahman em das éguas entra em cio dentro de 5 a 15 dias
amamentação ficam particularmente sujeitas após o parto, todavia certas éguas nervosas
ao anestro. A duração do anestro em vacas poderão apresentar anestro lactacional mais
em amamentação é maior do que naquelas devido a distúrbios psicológicos do que ao
vacas ordenhadas duas vezes por dia; este fato "estresse" da lactação.
sugere que a amamentação ou a frequência A endocrinologia do anestro lactacional em
da ordenha podem influir sobre a atividade animais domésticos tem sido extensivamen-
gonadotrófica hipofisária. te revisada (Peters e Lamming, 1990). O blo-
268 Distúrbios Reprodutivos

queio inicial à ciclicidade parece ser devido adultas. Baixos níveis de energia levam à ina-
aos efeitos inibi dores dos esteróides tividade ovariana e anestro em vacas de cor-
secretados durante a gestação ao nível te amamentando e em porcas após o desma-
hipotalâmico e hipofisário que prosseguem no me. É possível encurtar o período anovulatório
período pós-parto. Contudo, o hipotálamo co- em novilhas de corte primíparas aumentan-
meça a secretar GnRH suficiente para libe- do a ingestão de dieta energética no final da
rar FSH mais cedo do que a liberação de LH. gestação (Echternkamp et aI., 1982), restrin-
O desenvolvimento folicular ocorre, levando gindo a amamentação a uma vez por dia a
ao controle retrógrado negativo do estradiol partir de 30 dias do parto até o primeiro cio
e a indução da onda pré-ovulatória de LH. A (Randel, 1981), e fazendo desmame precoce
amamentação e a subnutrição inibem a se- ou removendo o bezerro por 72 horas com ou
creção tônica de GnRH e LH. A ordenha re- sem progestágenos (Walters et aI., 1984).
gular de vacas leiteiras é menos inibidora à Em gado leiteiro, as inter-relações entre o
liberação espontânea de LH do que a combi- balanço energético e a reprodução pós-parto
nação de lactação e amamentação (Carruthers foram intensivamente revisadas por Butler e
et aI., 1980). Além disso, o término da Smith (1989). Foi proposto que um balanço
amamentação em vacas de corte realça a energético negativo provavelmente deprime
quantidade de liberação de LH em resposta a atividade ovariana pela inibição da libera-
ao LH-RH (Troxel et aI., 1983). Alternativa- ção pulsátil de LH. Baixos níveis de glicose e
mente, a liberação de LH pode ser causada de insulina no início da lactação podem de-
pelos altos níveis de cortisol que ocorrem du- primir a secreção pulsátil de LH ou agir dire-
rante a amamentação ou ordenha (Wagner e tamente sobre o ovário para deprimir a se-
Li, 1982). Novas evidências sugerem que um creção de esteróide. Por outro lado, a liberação
mecanismo relacionado a qpióides pode ser de opióides endógenos com o aumento da
responsável pela supressão do LH induzido ingestão alimentar ou de outros hormônios
pela amamentação nas vacas nessa condição associados com a lactação poderiam inibir a
(Whisnant et aI., 1986). liberação pulsátil de LH e deprimir a função
Anestro Devido ao Envelhecimento. Os ovariana.
animais domésticos, com exceção da espécie Deficiências de minerais ou vitaminas pro-
equina, raramente são mantidos até idade vocam anestro. A deficiência de fósforo em
avançada por razões econômicas e, embora bovinos a campo e em ovinos provoca
mais raramente, têm oportunidade de se re- disfunção ovariana, que em contrapartida
produzirem tardiamente. Em roedores, a in- leva ao retardamento da puberdade, depri-
cidência de ciclos irregulares ou anovulatórios me os sintomas de cio e eventualmente pro-
aumenta constantemente com a idade, e mes- voca o seu completo desaparecimento. Toda-
mo quando as fêmeas já não são férteis, a co- via, nem o comportamento estral nem os
bertura frequentemente resulta em níveis sanguíneos de progesterona, estradiol
pseudociese. Corpos lúteos anormais e ová- ou de LH medidos na ép'oca do cio foram alte-
rios sem corpos lúteos contribuíram para mais rados em novilhas das raças Holandesa e
de 80% dos casos de infertilidade em vacas Jersey submetidas a uma dieta deficiente em
com 14 a 15 anos de idade. Indiferentemente fósforo, apesar de uma redução na concentra-
quanto ao mecanismo envolvido, o anestro ção de fósforo inorgânico plasmático (Hurley
devido à idade provavelmente altera a rela- et aI., 1982). Marrãs e vacas !?ubmetidas a
ção funcional do eixo hipotálamo-hipófise-ova- uma dieta deficiente de manganês são aco-
riano. metidas de distúrbios ovarianos que variam
Deficiências Nutricionais. O nível desde débeis sintomas de cio até o anestro.
energético possui um efeito significante so- Deficiências de vitaminasAou E podem oca-
bre a atividade ovariana. Uma nutrição ina- sionar ciclos estrais irregulares ou anestro.
dequada suprime com mais frequência o cio "Estresse". O "estresse" ambiental como
em fêmeas jovens em crescimento do que em o clima, a alta densidade populacional, ou o
Distúrbios Reprodutivos nas Fêmeas 269

excessivo manejo durante o período pré-co- (luteotrofina embrionária) no final da fase


bertura podem deprimir o cio, a ovulação, e a luteínica do ciclo estral também induzem
função luteínica na ovelha, na porca e na vaca. pseudociese na porca. Apseudociese na coelha
O "estresse" ambiental deprime a função ova- não está relacionada ao acasalamento. O ab-
riana através da ação em diferentes locais e dômen da coelha aumenta como na gestação,
por mecanismos diversos (Armstrong, 1986). porém o desenvolvimento do úbere e a sensa-
Estes estados de "estresse"podem romper o ção de parto não ocorrem.
sistema hipotálamo-hipofisário, provocando O termo cloudburst é utilizado quando um
alterações no padrão normal da secreção de corrimento espontâneo de fluido uterino tur-
gonadotrofinas, ou podem alterar a função vo ocorre ao redor da época do parto espera-
ovariana direta ou indiretamente através de do, em animais que foram acasalados. Os ní-
outros órgãos. Estas alterações metabólicas veis de progesterona são elevados,
modificam o equilíbrio do controle retrógra- dificultando a diferenciação desta situação
do do sistema hipotálamo-hipofisário-ovaria- com a gestação; isto pode ser facilmente diag-
no. nosticado pela ultra-sonografia, demonstran-
Anormalidades Ovarianas e Uterinas. do ausência de placentomas no útero com pre-
A hipoplasia ovariana ocorre em bovinos sue- sença de fluidos. Os fatores que provocam a
cos montanheses. Os animais afetados apre- pseudociese em cabras ainda não foram esta-
sentam tratos reprodutivos infantis e nunca belecidos, porém a prolactina apresenta um
exibem sintomas de cio.A morfologia do ová- importante papel luteotrófico durante a
rio difere daquela encontrada no anestro pseudociese em cabras (Taveme et aI., 1988).
estacional. Folículos de diâmetros variáveis Tanto os tratamentos com prostaglandina
chegando até o tamanho pré-ovulatório, que quanto as repetições com ocitocina resultam
comumente estão presentes nos ovários de em um declínio nos níveis de progesterona,
animais em aÚestro, não são encontrados na no comportamento de cio e no corrimento de
hipoplasia ovariana. A hipoplasia ovariana fluidos intra-uterinos (Pieterse e Taveme,
está associada à cor branca da pelagem, sen- 1986), condições estas que poderiam ser con-
do herdada através de um gene recessivo fundidas com gestação. Em todas as espécies,
autossômico. Algumas éguas com pequenos a PGF2a termina com a pseudociese em
ovários inativos apresentam complementos consequência da persistência do corpo lúteo.
sexuais anormais (por ex., XO), assim como Diestro prolongado, aparentemente espe-
baixos níveis de estrógeno plasmático e altos cífico das éguas, resulta de prolongamento
níveis de LH. espontâneo do corpo lúteo cíclicoalém dos 14
As freemartins, ou novilhas nascidas gê- a 15 dias normais e é a principal causa de
meas com machos, apresentam ovários pre- anestro durante a estação de monta natural.
cariamente desenvolvidos sem sintomas de A persistência do corpo lúteo pode ser atri-
cio. Ovários císticos em vacas podem levar a buída a uma falha na liberação de PGF 2a'
prolongados períodos de anestro.
A distensão uterina em vacas e porcas de- Cio Atípico
vido a condições patológicas (por ex.,
piometra, mucometra, mumificação e Os cios curtos, prolongados, irregulares
maceração fetal) ou a pseudociese na égua, ("split"), ninfomania e cios "silenciosos" são
porca e na coelha estão associadas com a re- deveras comuns (Tabela 11-1). O cio pode ser
tenção do éorpOlúteo e consequentemente le- de curta duração e sem sintomas bem defini-
vando à supressão do ciclo estral. . dos. Ele pode passar despercebido em animais
A pseudociese na espécie suma caracteri- jovens na ausência de um macho ou pode ocor-
za-se por corpos lúteos funcionais e com o úte- rer durante a noite, particularmente em bo-
ro contendo secreções glandulares vinos. O cio prolongado, persistindo de 10 a
endometriais ou resíduos de tecidos embrio- 40 dias, e sem ovulação caracteriza a transi-
nários ou fetais. Injeções de estrógenos ção do anestro estacional para a retomada da
270 Distúrbios Reprodutivos

atividade cíclica em éguas durante a estação O cio anovulatório é mais comum em suí-
de monta. O cio irregular ("split"), i. é, aquele nos e equinos do que em bovinos e ovinos. O
com sintomas visíveis, porém interrompido animal demonstra comportamento de cio nor-
por um ou dois dias de não receptividade, tam- mal e os folículos ovarianos atingem o tama-
bém é observado em éguas, especialmente no nho pré-ovulatório, mas não se rompem. Os
início da estação de monta. folículos anovulatórios tornam-se parcialmen-
A ninfomania ocorre com mais frequência te luteinizados e regridem durante o ciclo
em bovinos leiteiros do que em bovinos de estral, exatamente como o corpo lúteo normal.
corte e equinos. Aninfomania é um dos sinto- A degeneração cística ovariana ou "cistos
mas de ovários císticos em bovinos. Vacas ovarianos", comum em vacas leiteiras e por-
ninfomaníacas mostram intenso ardor se- cas, são de rara incidência em vacas de corte
xual, persistentemente ou em intervalos fre- e outras espécies. Ovários císticos são anor-
quentes, porém irregulares, diminuição da malidades endócrinas frequentemente encon-
produção leiteira, frequente corrimento copio- tradas em vacas leiteiras de alta produção. A
so de muco claro pela vulva, edema e relaxa- maioria dos cistos ovarianos provavelmente
mento dos ligamentos sacrociáticos e cauda desenvolve-se antes da primeira ovulação pós-
elevada. As éguas ninfomaníacas são parto uma vez que o maior número foi detec-
excitáveis, traiçoeiras e intratáveis. Elas não tado em vacas 30 dias após o parto em vez de
toleram a aproximação de outro animal da após a cobertura ou o comportamento anor-
mesma espécie e não se sujeitam à cobertu- mal de cio (Erb e White, 1981). Embora algu-
ra. A ocorrência de cistos ovarianos na égua mas vacas possam exibir intenso comporta-
de um modo análogo à condição em vacas é mento sexual (ninfomania), a maioria falha
duvidosa, considerando que a ovariectomia na exibição de cio (anestro). Apenas um ou
não surte efeito sobre o padrão a:g.ormal de ambos os ovários apresentam múltiplos pe-
comportamento. quenos cistos ou um ou mais grandes cistos.
Cio "silencioso" (ovulação silenciosa), i. é, Estes podem ser cistos foliculares ou
a ocorrência de ovulação sem cio evidente se luteínicos. Cistos foliculares passam por mo-
manifesta em todos os animais domésticos, dificações cíclicas, i. é, eles crescem e regridem
particularmente nos jovens e subnutridos. alternativamente, porém sem chegar à ovu-
Suspeita-se de sua ocorrência quando o in- lação. Cistos luteínicos apresentam uma fina
tervalo entre dois cios consecutivos apresen- margem de tecido luteínico, também não che-
ta a duração normal duplicada ou triplicada. gam a ovular, porém persistem por um pro-
Alta incidência de cio silencioso ocorre em longado período.
ovelhas durante o primeiro ciclo estral da es- As concentrações plasmáticas de
tação de monta, aparentemente relacionado progesterona são mais baixas com cistos
com a ausência de um corpo lúteo do ciclo pré- foliculares do que com cistos luteínicos, mas
vio, e no final da estação de monta, provavel- as concentrações de estradiol não mostram
mente devido a uma deficiência de estrógeno. relação com o tipo de cisto. Os níveis de
Vários cios silenciosos ocorrem em vacas de testosterona nas vacas afetadas são simila-
corte que amamentam seus bezerros e em res aos encontrados durante o ciclo estral
vacas leiteiras que são submetidas a três or- (Kesler e Garverick, 1982). Algumas vacas
denhas diárias. O cio silencioso apresenta-se com ovários císticos podem mostrar caracte-
frequentemente em éguas virgens e naque- rísticas masculinas. O fluido cístico contém
las com potro ao pé. alta concentração de progesterona e baixa de
estrógeno, porém estas concentrações
Distúrbios Ovulatórios hormonais não se relacionam aos padrões
comportamentais (ninfomania ou anestro).
Os distúrbios ovulatórios podem ser cau- Em porcas, os ovários císticos representam
sados por falhas no processo da ovulação du- importante causa de distúrbios reprodutivos,
rante um ciclo normal ou a ovários císticos. sendo a principal razão de descarte, particu-
.
Distúrbios Reprodutiuos nas Fêmeas 271

ficações estacionais, à predisposição heredi-


tária e a disfunções hipofisárias (Fig. 11-3). A
relação entre causa e efeito entre a produção
leiteira e a degeneração cística ovariana não
está bem definida, porém a elevada produção
.. Fatores
Genético de leite pode ser uma resposta a modificações
..
Alta lactação
Idade
Estrógenos nos
hormonais em vacas portadoras de cistos mais
do que a causa da doença (Kesler e Garverick,
alimentos
1982). Em bovinos leiteiros, o desenvolvimen-
to de ovários císticos tem sido relacionado a
infecções uterinas após o parto. Endotoxinas
produzidas por microrganismos no útero po-
dem acionar a liberação de prostaglandina
F 2a (PGF 2a)' que em contrapartida estimula
a secreção de cortisol. Os elevados níveis de
cortisol suprimem a liberação pré-ovulatória
de LH e levam ao desenvolvimento de cistos
(Bosu e Peter, 1987). Existe uma relação en-
tre a degeneração cística ovariana e a heredi-
tariedade, uma vez que houve um declínio
Anestro Ninfomania
acentuado em vários rebanhos ao descartar
touros cujas filhas apresentavam o problema
FIG. 11-3. Sequência endócrina, tipos de cistos e ovariano (Kirk et aI., 1982). Ová-rios císticos
manifestações comportamentais associadas com são também frequentemente encontrados em
ovários císticos na vaca. A secreção inadequada de vacas leiteiras alimentadas com altos níveis
LH resulta em falha ovulatória e formação de cistos
nutricionais e durante o inverno.
foliculares ou luteínicos. Notar que vacas afetadas
podem ser ninfomaníacas ou anéstricas. Vários métodos são disponíveis para o tra-
tamento da degeneração cística ovariana em
larmente de porcas mais velhas. Grandes e bovinos. A ruptura manual do cisto através
múltiplos folículos luteinizados são mais co- da palpação retal é um dos métodos mais an-
muns do que múltiplos cistos pequenos, to- tigos. O hCG e o GnRH são igualmente efi-
dos contendo progesterona. Ciclos estrais ir- cientes para o tratamento de cistos foliculares,
regulares por períodos prolongados podem porém o GnRH, tendo menor peso molecular,
ser confundidos com gestação (Wrathal, 1980). provavelmente estimula menos a formação de
Os sintomas de cio são pronunciados, po- anticorpos.Aprostaglandina F2a ou seus aná-
rém não'há ocorrência de ninfomania. Não se logos são eficientes para o tratamento de cis-
pode afirmar se os ovários císticos em bovi- tos luteínicos. Injeções de progesterona ou
nos e suínos resultam de uma falha do meca- dispositivos intravaginais com progesterona
nismo ovulatório, de uma hiperfunção do também são capazes de restaurar os ciclos
córtex adrenal ou de um distúrbio do eixo ovarianos em vacas com cistos ováricos.
hipotálamo-hipofisário. Em bovinos, evidên-
cias disponíveis (ver Kesler e Garverick, 1982) DISTÚRBIOS DA FERTILIZAÇÃO
indicam que eles podem ser determinados por
uma falha no mecanismo liberador de LH. Os distúrbios da fertilização incluem falhas
Esta falha não é devido a uma deficiência ou de fertilização e fertilização atípica.
liberação de GnRH, mas sim a uma insensi-
bilidade do eixo hipotalâmico-hipofisário aos Falha de Fertilização
elevados níveis de estradiol. O desenvolvi-
mento de ovários císticos em bovinos tem sido A falha de fertilização pode resultar da
relacionado à alta produção leiteira, a mo di- morte do óvulo antes da penetração do
272 Distúrbios Reprodutivos

TABELA 11-2. Causas Funcionais e Estruturais da Falha de Fertilização


. Mecamsmos Com
Causa Anormalidade Espécies Metadas Interferência de

Obstruções estruturais
Congênitas Cistos mesonéfricos Mais comuns em suínos, Transporte espermático
ovinos e bovinos do que em
equinos
Útero unicómio
Cérvice dupla
Adquiridas Aderências da trompa Todas as espécies, particular- Captação do ovo,
mente ovinos e suínos fertilização

Hidrossalpinge Transporte ovular


Comos uterinos ocluídos
Funcional
Hormonal Ovários císticos Bovinos e suínos Ovulação
Secreções anormais cervicais e Bovinos; ovinos em pastagens Transporte de gametas
uterinas estrogênicas
Manejo Inseminação retardada Em todas as espécies; equinos Morte do ovo
e suínos particularmente
Inseminação muito antecipada Bovinos Morte do esperma-tozóide
Enganos na detecção do cio Bovinos Falha de fertilização

espermatozóide, de anormalidades estrutu- ternamente no acrossomo, parece ser impor-


rais e funcionais do óvulo .-
e do
espermatozóide, de barreiras físicas no trato
tante para a penetração da zona pelúcida do
óvulo. Já se postulou que os inibidores da
genital feminino impedindo o transporte dos acrosina presentes no plasma seminal com-
gametas ao local da fertilização, de falhas binam com a acrosina somente em
ovulatórias e ovários císticos, conforme dis- espermatozóides portadores de danos no
cutido anteriormente (Tabela 11-2). acrossomo, impedindo assim que esperma-
Óvulos Anormais. Vários tipos de anor- tozóides defeituosos fertilizem o óvulo. No
malidades morfológicas e funcionais têm sido touro, carneiro e cachaço existe uma boa cor-
observados em óvulos não fertilizados, como relação entre a fertilidade e a integridade do
por ex., óvulos gigantes, óvulos de forma oval, acrossomo.
óvulos com forma de lentilha e zona pelúcida O envelhecimento espermático durante
rompida. A falha na fertilização e um desen- armazenamento prolongado tem sido atribuí-
volvimento embrionário normal podem ser do ao escoamento dos constituintes intrace-
devidos a anormalidades inerentes do óvulo lulares vitais como o AMP cíclico ou à forma-
ou a fatores ambientais. Por exemplo, a ferti- ção de peróxidos lipídicos do plasma-Iogênio
lização é menor em animais expostos a eleva- espermático, quando os espermatozóides são
da temperatura antes do acasalamento. Em armazenados sob condições anaeróbias. O
ovelhas, algumas das falhas de concepção no envelhecimento dos espermatozóides no tra-
início da estação de monta estão associadas to genital masculino é tipicamente acompa-
com uma alta incidência de óvulos anormais. nhado por diminuição da fertilidade sem efei-
Espermatozóides Anormais. O signifi- tos sobre a descendência, ao passo que o
cado fisiológico de espermatozóides anormais envelhecimento espermático no trato genital
em relação à falha de fertilização somente foi feminino é acompanhado por uma gradual
estudado em bovinos. Determinadas formas diminuição na capacidade fertilizante. A in-
de infertilidade masculina estão relacionadas compatibilidade antigênica entre os
a defeitos estruturais do complexo protéico do espermatozóides e os óvulos pode levar a uma
DNA. rejeição espermática e à falha na fertilização.
O envelhecimento e danos espermáticos Barreiras Estruturais da Fertilização.
podem causar alterações no capuchão do Defeitos congênitos ou adquiridos do trato
acrossomo. A acrosina, enzima presente in- genital feminino interferem com o transpor-
Distúrbivs Reprodutivos nas Fêmeas 273

ISOFLAVONAS ESTRADIOL
presentes nos trevos (genisteína e biocanina

GENISTEÍNA: R=H, R'= OH


BIOCANINA-A:R = METIL, R' = OH
~ OH
A) são convertidas em metabólitos não
estrogênicos no rúmen. Ovelhas em pastagens
com altos níveis de formonetina podem exi-
bir infertilidade temporária ou permanente,
embora os mecanismos sejam distintamente
DAIDZEÍNA:R = R'= H diferentes. Ovelhas em pastagens estro-
FORMONETINA: R = METIL, R' = H gênicas no período de monta ovulam menos e
FIG. 11-4. Estruturas de plantas estrogênicas apresentam reduzida oportunidade de concep-
(isoflavonas) e estradiol. As isoflavonas são ção. A fertilidade melhora dentro de 3 sema-
encontradas em muitas espécies de forragens da nas, quando as ovelhas são removidas para
família Leguminosae; a formonetina possui baixa
atividade estrogênica, enquanto que a biocanina-
pastagens não estrogênicas. As modificações
A, genisteína e daidzeína são metabolizadas no patológicas da infertilidade temporária são
rúmem de ovinos em compostos não estrogênicos. devido às ações do estrógeno sobre o eixo
hipofisário-ovariano e sobre o transporte
te dos espermatozóides e/ou dos óvulos para espermático. Ovelhas mantidas durante vá-
o local da fertilização (Tabela 11-2).Os defei- rias estações em pastagens estrogênicas
tos congênitos são resultantes do desenvolvi- acasalam-se e ovulam, porém o nível de ferti-
mento imperfeito dos diferentes segmentos do lização diminui em consequência da falha do
duto de Müller (trompa, útero e cérvice) ou transporte espermático provocada por graves
de uma fusão incompleta destes dutos modificações que ocorrem na cérvice. A
caudalmente. genitália externa torna-se masculinizada.
Uma anomalia congênita clássica, associa- Estas modificações causadas pelos estrógenos
da a um gene para cor branca da pelagem é a têm sido consideradas como irreversível di-
"white heifer disease" em bovinos, na qual o ferenciação do trato reprodutivo direcionado
desenvolvimento dos dutos de Müller sofre um ao sexo masculino (Adams, 1990).
distúrbio e o canal vaginal fica obstruído pela Anormalidades anatõmicas comuns são
presença de um hímen anormalmente desen- aderências do infundIôulo ao ovário ou cor-
volvido. O grau e a área da hipoplasia dife- nos uterinos; isto interfere com a captação do
rem, de modo que se formam várias anomali- óvulo ou causa uma obstrução mecânica de
as das trompas, útero, cérvice e vagina. Esta uma parte do sistema do duto reprodutivo. A
anomalia congênita pode ser diferenciada da falta de segmentos bilaterais ou unilaterais
síndrome freemartin pela presença de ová- do trato reprodutivo também provoca uma
rios, vulva e lábios vulvares normais nos ani- esterilidade anatõmica.
mais portadores da doença da novilha bran-
ca. Defeitos adquiridos são causados por Fertilização Atípica
traumas ou infecções,particularmente duran-
te o parto. O complexo processo da fertilização é su-
Falhas reprodutivas ocorrem mais em ovi- jeito a várias aberrações, principalmente
nos do que em bovinos quando em pastagens polispermia, fertilização monospérmica de um
que contêm compostos com atividade óvulo contendo dois pró-núcleos femininos,
estrogênica, por ex., o trevo subterrâneo falha na formação dos pró-núcleos, ginogênese
(Trifolium subterraneum) e o trevo vermelho e androgênese. A fertilização atípica pode
(Trifolium pratense). A atividade estrogênica ocorrer espontaneamente como resultado do
é devido às isoflavonas da planta e substân- envelhecimento dos gametas ou elevação da
cias relacionadas com os grupos hidroxila temperatura ambiente. Ela tem sido induzida
(Fig. 11-4).A principal substância responsá- experimentalmente por raios-X ou pela ad-
vel é a isoflavona formonetina, que é conver- ministração de certas substâncias tóxicas.
tida no rúmen de ovinos a equol, um fraco O envelhecimento do óvulo é gradual, du-
estrógeno. As outras isoflavonas estrogênicas rante o qual várias funções são sucessivamen-
274 Distúrbios Reprodutiuos

TABELA 11-3. Idade dos Gametas e Fertilização Atípica


Gameta Mecanismo Anormalidade

Espermatozóide Redução ou perda de DNA Viabilidade reduzida do embrião


Ovo Maturação incompleta com falha de Embrião triplóide
liberação do segundo corpúsculo polar
Inibição do bloqueio à polispermia Embrião triplóide ou heteroplóide

te perdidas (Tabela 11-3). Um efeito precoce triplóides são causados pela falha de expelir
do envelhecimento do óvulo é que o embrião o segundo corpúsculo polar ou se pela
resultante não é viável, sendo reabsorvido polispermia, que pode resultar da falha do
antes do nascimento. Outros efeitos do enve- bloqueio à polispermia durante o envelheci-
lhecimento levam a anormalidades na ferti- mento do óvulo. A incidência de polispermia
lização, particularmente envolvendo os pró- aumenta quando a cobertura ou a
núcleos. As reações biofísicas e bioquímicas inseminação são retardadas, resultando em
associadas com a penetração do embriões triplóides que não sobrevivem. Isto
espermatozóide no óvulo tornam-se vagaro- significa que em éguas e porcas com um cio
sas, uma condição que leva a uma polispermia relativamente longo, o momento da cobertu-
aumentada (entrada de mais de um ra em relação à ovulação é crítico para a fer-
espermatozóide). tilização normal e sobrevivência embrionária.
A polispermia ocorre em várias espécies de
animais domésticos e de laboratório. Em suí- MORTALIDADE PRÉ-NATAL
nos, um atraso na cópula ou a injeção de
progesterona 24 a 36 horas antes da ovula- A mortalidade pré-natal, responsável pela
ção provoca a ocorrência de alguns óvulos maior parte das falhas da gestação, pode ser
apresentarem mais de dois pró-núcleos. Não dividida em mortalidade embrionária e fetal.
está muito claro se estes potenciais embriões Uma pequena porcentagem de perda pré-na-

TABELA 11-4. Causas da Mortalidade Embrionária


Período da Máxima Mortalidade
Dias de Estágio de
Espécies Gestação Desenvolvimento Possíveis Causas

Bovina 8 a 16 Incubação do blastocisto e início Deficiência de progesterona; consanguinidade;


do alongamento e início da gestação múltipla; grupo sanguíneo homo-
implantação zigoto; antígeno J no soro; parição; época da
inseminação; aberrações cromossômicas

Ovina 9 a 15 Transição do saco vitelínico para Consanguinidade; aumento da idade materna;


a placentação alantóide tipos de hemoglobinas; superalimentação;
gestação múltipla; elevadas temperaturas
ambientais.
Suína 8 a 16 Espaçamento dos embriões; Consanguinidade; aberrações cromossômicas;
migração transuterina; superpopulação; superalimentação; aumento
reconhecimento materno da da idade materna; elevadas temperaturas
gestação ambientais; transferinas
Equina 30 a 36 Corpo lúteo da gestação regride e Lactação; gêmeos; nutrição; aberrações cromos-
forman;l-se corpos lúteos sômicas
acessórios; modificação de
um saco vitelínico em uma
placentação alantocórion
Distúrbios Reprodutivos nas Fêmeas 275

tal está envolvida no processo reprodutivo


normal e pode ser considerada como inevitá-
vel.

Mortalidade Embrionária

A mortalidade embrionária representa a


morte de óvulos fertilizados e de embriões até
o final da implantação. Aproximadamente 25
a 40% dos embriões são normalmente perdi-
dos nas espécies domésticas. A mortalidade é
mais comum no início do que no período em-
brionário mais tardio (Tabela 11-4). A morta-
lidade embrionária precoce deveria ser enca-
rada como um processo normal de eliminação
de genótipos inadequados em cada geração,
particularmente em grandes leitegadas de
suínos e em gestações múltiplas em bovinos
e ovinos. FIG. 11-5. Fatores que afetam a mortalidade em-
brionária.
Aproximadamente 25 a 40% dos embriões
bovinos, ovinos e suínos são perdidos entre a
época da penetração do óvulo pelo
espermatozóide e o final da implantação (Ta- tanto a vaca quanto a ovelha 'repetem o cio
bela 11-4). A maioria das perdas ocorre antes no tempo normal. A morte de um embrião em
ou imediatamente após a implantação, resul- ovelhas com dupla ovulação pode não ser de-
tando em completa reabsorção do concepto. tectada, já que a gestação irá prosseguir. As-
O fenômeno é também observado nas gran- sim, pode-se obter uma melhor estimativa
des leitegadas de suínos e nas gestações múl- examinando-se embriões coletados no mata-
tiplas de bovinos e ovinos. douro ou pela lavagem in vivo do trato
A mortalidade embrionária após monta reprodutivo em diferentes dias após o
natural ou inseminação artificial contribui acasalamento. A perda de embriões únicos em
para a maioria das falhas reprodutivas em ovelhas pode ser avaliada contando-se o nú-
bovinos, com um índice de mortalidade aci- mero de ovulações por laparoscopia.
ma de 40% de todos os óvulos fertilizados Acima de dois terços da perda reprodutiva
(Sreenan e Diskin, 1986). Nos bovinos, em na porca ocorrem antes de 8 a 16 dias de ges-
virtude da maioria das mortes embrionárias tação (Wettemann et aI., 1984). Os efeitos da
ocorrer entre os dias 8 e 16 durante a eclosão mortalidade embrionária sobre o ciclo estral
do blastocisto e sua implantação, a duração da porca são determinados pelo número de
do ciclo estral não é afetada. Em ovinos, como embriões que sobrevivem e pelo estágio da
a maioria dos embriões morre entre os dias 9 gestação. Por exemplo, se todos os embriões
e 15, as ovelhas inférteis podem apresentar forem perdidos no 4Qdia da gestação, a porca
ciclos normais ou prolongados. repete o cio após um ciclo normal, porém se
Deve-se tomar cuidado na estimativa da um a quatro embriões sobrevivem além do 4Q
mortalidade embrionária baseando-se na du- dia, a gestação pode até terminar, porém o
ração dos ciclos após a cobertura. Por exem- próximo período de cio é retardado por 6 dias.
plo, um ciclo mais longo pode ser devido a Para que a gestação prossiga além do 10Qdia,
outros motivos que não a mortalidade embrio- pelo menos um total de 4 embriões deve es-
nária. Mortalidades embrionárias precoces tar presente em ambos cornos uterinos, en-
antes da regressão do corpo lúteo não são quanto que para prosseguir além de 12 dias,
distinguíveis da falha de fertilização nas quais é suficiente apenas um embrião.
276 Distúrbios Reprodutivos

Éguas normais e subférteis apresentam hormônio luteotrófico circulante pode contri-


índices similares de fertilização, porém éguas buir para a mortalidade embrionária em va-
subférteis sofrem maior nível de perdas em- cas subférteis (Shelton et aI., 1990).
brionárias antes do 14Qdia após a ovulação Lactação. A mortalidade embrionária
(Ball et aI., 1987). ocorre em vacas, ovelhas e éguas durante a
lactação e caracteriza-se por ciclos estrais
prolongados após o acasalamento. A cobertu-
Causas ra de éguas no cio do potro leva à mortalida-
de embrionária precoce, o que tem sido atri-
A mortalidade pré-natal pode ser devido a buído à reduzida eficiência dos mecanismos
fatores maternos, a fatores embrionários ou de defesa uterinos, ao "estresse" da lactação
a interações materno-fetais. A falha materna e à incompleta regeneração do endométrio.
tende a afetar uma leitegada inteira, resul- Porcas cobertas após desmame aos 7 dias de
tando em completa perda da gestação. Em lactação sofrem altas perdas embrionárias
contraste, a falha embrionária afeta os em- entre os dias 9 e 20 de gestação.
briões individualmente, com frequência dei- Nutrição da Mãe. A absorção calórica e
xando os outros ilesos. Em outros casos o as deficiências nutricionais específicas afetam
ambiente materno pode ser insuficiente, per- a taxa de ovulação e de fertilização. Em suí-
mitindo a permanência de apenas alguns nos, uma alta absorção calórica ou uma ali-
embriões mais fortes. A perda embrionária é mentação contínua ilimitada aumentam a
influenciada por váriob'. fatores (Fig. 11-5). taxa de ovulação, promovendo assim também
Aberrações cromossômicas e fatores genéti- incidência maior de mortalidade embrioná-
cos que contribuem para a mortalidade em- ria antes da implantação. No entanto, em se-
brionária são discutidos no Capítulo 13. guida à implantação, a mortalidade fetal é di-
Fatores Endócrinos. O transporte ace- minuída por alimentação ilimitada. Em
lerado ou retardado do ovo, resultante de um ovinos, a superalimentação antes das cober-
desequilíbrio estrógeno-progesterona, resul- turas também aumenta a taxa de ovulação,
ta em morte antes da implantação. Um como também a mortalidade embrionária.
concepto de menor tamanho pode não ser ca- Más condições corpóreas de ovelhas por oca-
paz de impedir o efeito luteolítico uterino, com sião da cobertura aumentam a incidência de
consequente regressão do corpo lúteo e tér- mortalidade embrionária, ao passo que uma
mino da gestação. Em suínos, segundo já foi restrição alimentar moderada do 20Qao 100Q
explanado anteriormente, são necessários dia da gestação provavelmente reduz as por-
pelo menos quatro blastocistos vivos ao redor centagens de partos. A subnutrição afeta mais
do 10Qdia da gestação para impedir os efeitos as ovulações duplas do que as únicas, porque
luteolíticos uterinos. no primeiro caso são perdidos ambos os em-
Um período crítico da sobrevivência em- briões, enquanto que no segundo caso, o em-
brionária é o estágio final de blastocisto. Nor- brião sobrevive. Deste modo, ovelhas com ten-
malmente, o corpo lúteo em desenvolvimento dência a duplas ovulações são mais
secreta progesterona, que age no trato' femi- infecundas do que aquelas com ovulação úni-
nino em íntimo sincronismo com o desenvol- ca. Na égua, o período crítico de reabsorção
vimento dos embriões. A relação de causa e embrionária está situado entre o 25Qe o 31Q
efeito entre a luteólise e as mortes embrio- dias após a ovulação. Não ocorre reabsorção
nárias é controvertida. Aparentemente, a se as éguas são mantidas em plano adequado
mortalidade embrionária em bovinos não é de nutrição até 35 dias após a cobertura.
provocada por uma deficiência de Um aminoácido (mimosina) extraído de
progesterona durante a fase luteínica do ci- uma leguminosadas pastagens (Leucaena
clo; a regressão luteínica se dá em seguida e leucocephala) provoca diminuição de respos-
não anteriormente à mortalidade embrioná- ta ovariana às gonadotrofinas e também um
ria. Todavia, uma resposta diminuída ao aumento da mortalidade embrionária.
Distúrbios Reprodutivos nas Fêmeas 277

Várias plantas comuns possuem atividade to Oembrião é diretamente afetado pela tem-
estrogênica, por ex., o grão de cevada peratura aumentada do organismo matemo,
(Hordeum vulgare), o grão de aveia (Avena devido ao "estresse" térmico. O embrião suí-
sativa), as maçãs (Pyrus malus), as cerejas no é mais suscetível ao "estresse" térmico du-
(Prunus avium), o tubérculo da batata rante as duas primeiras semanas de gesta-
(Solanum tuberosum) e o grão de bico de Ben- ção, particularmente durante a implantação.
gala (Cicer arietinum). Uma maior incidência de mortes embrionári-
Idade da Fêmea. Uma maior incidência as foi notada entre marrãs submetidas a al-
de mortalidade embrionária é observada em tas temperaturas 8 a 16 dias após a cobertu-
porcasdepois da quinta gestação. Em ovelhas, ra do que entre aquelas expostas durante Oa
a incidência de perda embrionária tardia é 8 dias após a cobertura.
maior nas primíparas e naquelas com mais Os efeitos do "estresse" térmico sobre o em-
de 6 anos, do que nas ovelhas consideradas brião inicial não são aparentes até os últimos
adultas e isto está mais relacionado com fa- estágios de seu desenvolvimento. Óvulos fer-
tores associados ao embrião do que propria- tilizados de ovelhas e vacas, quando subme-
mente ao ambiente uterino. tidos a altas temperaturas, seja in vitro ou in
Superpopulação Uterina. Devido ao fato vivo, são danificados porém continuam a se
do nível de desenvolvimento placentário ser desenvolver, morrendo apenas durante os es-
principalmente influenciado pela tágios críticos da implantação. A reduzida fer-
avaliabilidade de espaço e suprimento tilidade de vacas leiteiras estressadas durante
vascp.lar dentro do útero, aumentando o nú- o calor do verão pode resultar da diminuição
mero de implantações, o suprimento vascular da viabilidade e capacidade de desenvolvi-
diminui em cada local e restringe o desenvol- mento de embriões com 6 a 8 dias de idade
vimento placentário. Isto resulta em altos (Montye Racowsky, 1987; Putney et aI., 1988)
níveis de mortalidades embrionárias e fetais e contribui com a redução estacional já bem
e, provavelmente, explica a alta incidência de documentada da eficiência da inseminação
mortalidade embrionária em bovinos e ovi- artificial (IA) durante o verão. O "estresse"
nos após ovulações duplas ao invés de úni- térmico entre os dias 8 e 17 da gestação pode
cas. Contudo, deve ser ressaltado o fato de também alterar o ambiente uterino, assim
que a capacidade uterina não limita a possi- como o crescimento e a atividade secretora
bilidade da vaca ou da ovelha de procriar gê- do concepto (Geisert et aI., 1988).
meos,desde que cada um esteja localizado em Sêmen. Uma parte da ocorrência de mor-
cornos uterinos separados. talidade embrionária pode ser atribuída ao
Em vacas e ovelhas com ovulações múlti- macho e ao sistema de acasalamento. Fato-
plas, o número de embriões que sobrevive é res genéticos transmitidos pelo macho ao
reduzido a um número regularmente constan- embrião podem ser herdados, podendo origi-
te (2,5 a 3 embriões por fêmea) dentro das nar-se no tecido testicular, ou podem ocorrer
primeiras três ou quatro semanas de gesta- nos espermatozóides após sua saída dos tes-
ção, o que subentende que as perdas embrio- tículos. O genótipo herdado do macho pode
nárias aumentam à medida que aumenta o incluir uma variedade de fatores genéticos
número de óvulos desprendidos. A mortali- que levam à incompatibilidade e morte em-
dade não parece ser devido a uma deficiência brionária precoce. Pode haver incompatibili-
de progesterona. Em raças prolíficas de ovi- dade entre os espermatozóides e a mãe, en-
nos, mortalidades embrionárias tardias ocor- tre os espermatozóides e o óvulo, ou entre o
rem nas ovelhas com mais de cinco ovulações. zigoto e a mãe. Coberturas inférteis resultan-
Estresse Térmico. A mortalidade embri- tes de touros altamente férteis são primaria-
onária aumenta em várias espécies após ex- mente devido à mortalidade embrionária, ao
posição da mãe a elevadas temperaturas passo que touros de baixa fertilidade resul-
ambientais, especialmente nas áreas tropi- tam em falhas de fertilização e mortalidade
cais. Nos estágios iniciais de desenvolvimen- embrionária. Em suínos, o sêmen armazena-
278 Distúrbios Reprodutivos

INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL
qualidade do sêmen
técnica de inseminação
detecção do cio
hora da inseminação

GENÉTICA AMBIENTE
hereditariedade alta temperatura
defeitos cromossômicos alta umidade
consanguinidade abrigos
nutrição

ÚTERO FUNÇÃO OVARIANA


infecção ovulação retardada
deficiência de
modificações
bioquímicas progesterona?

FIG.11-6. Causas de repetição de cio em vacas.

do por 3 dias antes da inseminação produziu dutores férteis. Uma vaca repetidora de cio
zigotos muito mais suscetíveis à mortalidade exibe sintomas normais de cio a cada 18 a 24
embrionária precoce, presumivelmente devi- dias, porém apenas tornam-se prenhes de-
do ao conteúdo reduzido de DNA em pois de mais de três coberturas. Muitas per-
espermatozóides envelhecidos. das embrionárias ocorrem em época muito
Incompatibilidade. As incompatibilida- mais precoce do que se acreditava anterior-
des imunológicas podem bloquear a fertiliza- mente. Embriões colhidos não cirurgicamente
ção (seleção pré-zigótica), ou causarem mor- de vacas repetidoras de cio revelaram que a
te embrionária, fetal ou neonatal. Em bovinos, maioria das anormalidades embrionárias
a homozigose para certos grupos sanguíneos ocorrem na trompa porém não se tornam
e certas substâncias relacionadas à aparentes até cerca de 6 a 7 dias após a co-
transferrina (~-globulina) e antígeno J no soro bertura ou do estágio blastocitário (Linares
foram associadas com aumentada perda em- et aI., 1980).
brionária, assim como com taxa diminuída de Tanto a falha de fertilização quanto as
fertilização. mortes embrionárias ocorrem a um nível
muito maior do que em vacas normais, 5 a 6
Fêmeas Repetidoras do Cio - "Repeat- semanas após a inseminação.Acausa da per-
Breeders" da de aproximadamente 50% dos embriões
durante as 3 primeiras semanas de gestação
Fêmeas "repeat-breeders" repetem o cio nas vacas repetidoras de cio é obscura, embo-
seguidamente após coberturas por repro- ra com suspeitas de vários fatores (Fig. 11-6).
TABELA 11-5. Causas Não-Infecciosas de Abortamento em Animais Domésticos
Causas Vaca Égua Porca Ovelha e Cabra

Agentes químicos, Nitratos Nada Dicumarina Alfatoxina Chumbo, nitrato, astrágalo,


drogas e plantas N aftalenos graxoclorados Preservação de madeiras lupinos, trevo doce, capim,
tóxicas Arsênico Creosoto cebola, veratro
Giestas Pentaclorofenóis
Folhas de pinheiro
Hormonais Altas doses de estrógeno glico- Altas doses de estrógenos Altas doses de estrógenos ou Altas doses de estrógenos,
corticóides, PGF2a ou cortisona (?) PGF2a cortisol ou ACTH, PGF2a
Deficiência de progesterona Deficiência de progesterona
Nutricionais Inanição, má nutrição Redução de energia Deficiência de vitamina A, ferro Falta de TDN ou energia,
e cálcio deficiência de vitamina A,
cobre, iodo e selênio
Deficiência de vitamina A ou
iodo
Genéticas ou Mortalidade embrionária Anomalias fetais Mortalidade embrionária Defeitos genéticos letais
cromossômicas Anomalias fetais Defeitos congênitos ou genéticos
letais
Físicas Duchas uterinas ou inseminação Dilatação manual da "Estresse"(transporte, lutas, Grave "estresse" físico
de útero prenhe, "estresse" cérvice durante a ges- lesão)"estresse" por calor ti
1;;'
(transporte, febre, cirurgia) tação (?), palpação retal E:
da vesícula ..,
Q<
blastodérmica jovem õ'
'"
Miscelânea Gêmeos Mau manejo Gêmeos (?)
Gêmeos, alergias, anafilaxia ~
~
dR.
~
ACTH = hormônio adrenocorticotrófico; PGF 2a = prostaglandina F2a; TDN = nutrientes digestíveis totais. ~.
c
'"
;::!
.,'"
~
;!
'"
.,'"

tV
-'J
<!>
280 Distúrbios Reprodutiuos

A incidência de "repeat-breeders" é maior antes de 20 semanas de gestação. Cerca de


em rebanhos leiteiros sob inseminação artifi- dois quintos das anormalidades citogenéticas
cial do que em monta natural. Enganos na estão associadas com a presença de um
detecção do cio também contribuem para o cromossomo extra (trissomia). As anormali-
retorno ao serviço em vacas leiteiras (O'Farrel dades cromossômicas causam perdas embrio-
et aI., 1983). A mortalidade embrionária di- nárias em suínos (ver Capítulo 13),porém sua
minui até a quinta gestação, depois aumenta importância sobre o abortamento de outros
novamente. Recentes descobertas sugerem animais domésticos é desconhecida. Uma in-
que o desenvolvimento precoce de embriões vestigação citogenética em fetos abortados ou
bovinos é prejudicado no ambiente uterino de mortos logo após o nascimento e os defeitos
novilhas repetidoras de cio (Albihn et aI., congênitos em vários animais domésticos re-
1989). A maior incidência de mortalidade velou uma incidência geral de 8,7% de ano-
embrionária em vacas velhas pode ser devi- malias cromossômicas, particularmente
do a um ambiente uterino deficiente. A repe- mosaicismo. Não foi encontrada trissomia ou
tição de cio pode também ser devido a anor- poliploidia (Berepubo e Long, 1983). Os
malidades numéricas dos cromossomos (ver abortamentos ocasionalmente são induzidos
Capítulo 13). com altas doses de estrógenos, PGF 2a.ou
A repetição do cio devido à mortalidade glicocorticóides, particularmente em fêmeas
embrionária precoce ocorre em éguas afeta- jovens de corte, cobertas precocemente.
das por metrite equina contagiosa. Esta doen- A gestação gemelar é a causa mais comum
ça venérea contagiosa é causada pelo de abortamento em éguas; cerca de dois ter-
Taylorella equigenitalis, sendd transmitida ços de gestações gemelares terminam em
por garanhões portadores. abortamento. A inabilidade de uma égua para
manter uma gestação gemelar até o fim pode
Abortamento estar relacionada a uma insuficiência
placentária, oriunda de competição entre as
Abortamentos são gestações que terminam placentas. Isto pode levar à morte de um feto
com a expulsão do feto de tamanho conside- e eventualmente ao abortamento de ambos.
rável, porém antes do período de viabilidade, No passado, abortamentos habituais dos 3
que é arbitrariamente definido como260 dias aos 4,5 meses de gestação em cabras Angorá
na vaca, 290 dias na égua e 110 dias na por- eram atribuídos a um defeito hereditário da
ca. A morte fetal não é um precedente essen- hipófise anterior. Estes abortamentos estão
cial para o abortamento. associados com duas síndromes diferentes
Os abortamentos podem ser espontâneos ou (Wentzel, 1982).A primeira destas síndromes
induzidos, infecciosos ou não infecciosos. O está relacionada ao "estresse" nutricional. A
abortamento espontâneo é mais frequente em hipoglicemia que ocorre na cabra e no feto
bovinos, particularmente leiteiros, do que em ativa o eixo hipotalâmico-hipofisário fetal e
ovinos e equinos. As causas não infecciosas altera a função endócrina da placenta. A
de abortamento espontâneo podem ser gené- PGF2a.'liberada pela placenta, causa a regres-
ticas, cromossômicas, hormonais ou por fato- são do corpo lúteo da gestação e a expulsão
res nutricionais (Tabela 11-5).O abortamento de um ou mais fetos recentemente mortos.
espontâneo pode também ocorrer em animais Estas perdas podem ser reduzidas melhoran-
acasalados imediatamente após a puberdade do o estado nutricional das cabras. A outra
ou logo após o parto. As éguas parecem ser síndrome, resultante da hiperatividade do
endocrinologicamente suscetíveis ao córtex adrenal materno, leva a uma acumu-
abortamento entre o quinto e o décimo mês lação excessiva de fluidos fetais por um longo
de gestação. período. O feto abortado mostra vários graus
Pelo menos 90% das concepções humanas de decomposição.
cromossomicamente anormais por ocasião da Abortamentos Causados por Infec-
fertilização são perdidas espontaneamente ções.Vários agentes infecciososcausadores
Distúrbios Reprodutivos nas Fêmeas 281

TABELA 11-6. Causas de Abortamentos Esporádicos


Bovinos Ovinos Equinos Suínos

Vírus da parainfluenza Babesiose Arterite virótica equina Febre aftosa


Febre catarral dos bovinos Vírus Wesselsbron Anemia infecciosa equina Picorna vírus
("Bluetongue") Febre do Rift Valley Durina Influenza
Febre catarral maligna Doença de Nairobi Piroplasmose Vírus japonês B
Diarréia virótica bovina Peste ovina Vírus hemaglutinante
Febre aftosa Febre suína africana
Rinotraqueíte infecciosa bovina Febre Q (Coxiella burnetti)
Febre aftosa
Peste ovina
Babesiose
Febre petequial bovina
Anaplasmose
Piroplasmose
Tripanossomose
Toxoplasmose
Globidiose
(Kendrick e Howarth, 1980).

de abortamentos infecciosos ou um substan- te o segundo trimestre da gestação com car-


cial número dessa ocorrência estão descritos rapato, Ornithodoros coriaceus.
no terlO. Outros agentes, esporadicamente as- Sintomas Clínicos. A maioria dos
sociados com abortamentos, estão relaciona- abortamentos ocorre no último trimestre da
dos na Tabela 11-6.Os sintomas clínicos, diag- gestação e, porque quase todos se dão em gado
nóstico e controle de várias infecções de corte sob um programa de reprodução
reprodutivas que provocam abortamentos fo- estacional, há também uma incidência
ram extensivamente revisados por Kendrick estacional de abortamentos. O mecanismo
e Howarth (1980). para ocorrência de abortamento sob estas cir-
cunstâncias é provavelmente o "estresse", que
Abortamento Epizoótico Bovino causa hiperplasia cortical adrenal, que em
contrapartida libera hormônios corticais para
O abortamento epizoótico bovino (EBA, iniciar o parto.
"foothill abortion") refere-se a uma condição Não existe vacina desde que o agente
clínica bem definida que ocorre principalmen- etiológico não foi identificado. Ajustando a
te nas regiões aos pés das montanhas e nas época dos partos de modo que o trimestre
áreas montanhosas ao redor dos Vales Cen- médio da gestação não coincida com a esta-
trais da Califórnia. Ocorre mais comumente ção dos carrapatos tem sido uma prática que
em gado de corte pois estes animais pastam tende a reduzir a incidência de abortamentos.
com mais frequência nas áreas endêmicas. A Animais que sofreram a doença não abortam
maior incidência é em novilhas, porém ani- novamente, devendo portanto ser mantidos
mais mais velhos transportados para as á- no rebanho. Não existe evidência de que esta
reas endêmicas pela primeira vez podem doença seja transmitida de uma vaca para
subsequentemente abortar. Usualmente uma outra.
vaca aborta apenas uma vez, recupera-se com-
pletamente e a fertilidade é normal na gesta- Rinopneumonite Equina (Aborto a Vírus, In-
ção seguinte. O índice de abortamento pode fecção Equina por Herpesvírus I)
exceder 80% quando grande número de ani-
mais é exposto pela primeira vez. A infecção equina por herpesvírus I é pri-
Suspeita-se que a causa seja um vírus. A mariamente uma doença do trato respirató-
doença pode ser produzida experimentalmen- rio superior. O equino é exposto pela primei-
te infestando-se os animais suscetíveis duran- ra vez a este vírus ainda como potro próximo
282 Distúrbios Reprodutiuos

ao desmame no outono. Esta doença sétimo mês em todas as raças de bovinos. As


epizoótica nos potros produz uma sólida ex- vacas afetadas concebem normalmente no
posição de éguas que estão na metade da ges- período subsequente de reprodução. Ocasio-
tação. nalmente, os fetos bovinos mumificados são
O abortamento usualmente ocorre depois abortados espontaneamente, porém na maio-
do oitavo mês de gestação e, devido à estação ria dos casos permanecem muitos meses além
de monta, a maior parte dos abortamentos do período de gestação.
ocorre entre janeiro e abril. A causa epizoótica A síndrome da mumificação ocorre em nu-
mais frequente de abortamento em éguas é o merosas vacas com "pedigree" e em gerações
herpesvírus I equino, devendo-se sempre sus- consecutivas de vacas acasaladas com
peitar dela até sua eliminação. O abortamento reprodutores sem relacionamento genético.
provocado por esta infecção raramente ocor- Uma alta incidência de mumificação fetal nas
re em anos sucessivos, e na ausência de ou- raças Jersey e Guernsey também influem
tros métodos de controle, pode não ocorrer em para a possibilidade de influências hereditá-
um grupo isolado de éguas por vários anos. A rias. Ovelhas prenhes de gêmeos podem abor-
imunização é o melhor método de prevenção. tar um feto mumificado no final do período
de gestação e manter o outro cordeiro a ter-
Abortamento Enzoótico em Ovinos mo, ou então podem parir um feto mumifica-
do anexado a um produto viável.
O abortamento enzoótico em ovinos (EAE) Embriões de suínos que morrem nas pri-
ocorre em muitas partes dtrinundo tendo sido meiras seis semanas de gestação são total-
diagnosticado no oeste dos Estados Unidos. mente reabsorvidos. Os fetos que morrem
O nível de abortamento em um rebanho re- durante os últimos estágios são retidos e ex-
centemente infectado pode atingir a 30%. Em pelidos como fetos mumificados junto com lei-
rebanhos com reinfecção, o nível é menor que tões normais durante o parto. Os fetos mu-
5%. As ovelhas abortam durante o último mês mificados prevalecem nas grandes leitegadas
de gestação. Os abortamentos continuam até em relação às pequenas, nas porcas velhas
a época normal do parto, alguns fetos nas- em relação às marrãs e ocorrem mais em al-
cem vivos a termo, porém já doentes. O agen- gumas raças do que em outras.
te causal da EAE é um membro do grupo A mumificação pode ser devido a interfe-
Chlamydia. Esta doença deve ser diferencia- rências com o suprimento sanguíneo fetal, a
da da vibriose. deficiência na placentação, a anomalias do
O diagnóstico da EAE depende do encon- cordão umbilical ou a infecções no útero
tro de corpos elementares do agente infeccio- grávido. Os vírus que provocam natimortos
so em esfregaços dos cotilédones ou do exsuda- (8), mumificação (M), mortalidade embrioná-
to placentário. A doença produz imunidade. ria (ED) e infertilidade (1) em suínos são de-
Uma simples infecção produz imunidade por nominados vírus SMEDI. Estes vírus são
toda a vida e a doen~a pode ser prevenida por importante causa de mumificação em marrãs
vacinação. e porcas jovens suscetíveis. A infecção
transplacentária leva ao estabelecimento do
vírus em um ou dois fetos. Estes fetos afeta-
Mumificação Fetal dos subsequentemente morrem depois da in-
fecção ter sido transmitida aos fetos adjacen-
A mumificação fetal caracteriza-se por tes, que também acabam morrendo
morte fetal, ausência de abortamento, posteriormente.
reabsorção dos fluidos placentários, desidra- A retenção de um feto mumificado dentro
tação do feto e de suas membranas, e do útero pode ser devido a uma influência fetal
involução do útero. É mais comum em bovi- sobre o endométrio, suprimindo o mecanis-
nos e suínos do que em ovinos e equinos. A mo luteolítico uterino e causando a persistên-
síndrome ocorre principalmente do quinto ao cia do corpo lúteo.
Distúrbios Reprodutivos nas Fêmeas 283

Fig.~1.7. Fatores que afetam a mortalidade perinatal.

Tabela 11-7. Mortalidade Neonatal Devido a Deficiências Nutricionais


Doença Espécie Causa Descrição
Doença do "músculo Cordeiros e bezerros Deficiência de selênio Formas agudas e crônicas,
branco" degeneração de músculos
cardíacos e esqueléticos,
morte
Hipomagnesemia Bezerros alimentados Diminuição no Mg++ lrritabilidade, nervosismo e
com leite do soro tetania
Anemia dos leitões Leitões na primeira Deficiência de ferro Baixos níveis de hemoglobina no
semana sangue, fraqueza, prostração,
inabilidade de mamar.
Goiter Potros e cordeiros Deficiência de iodo Aumento da tireóide
Ataxia enzoótica Cordeiros Deficiência de cobre Locomotor incoordenação
levando à paralisia
Hipoglicemia neonatal Leitões recém- Pouca glicemia Perda de apetite, coma
nascidos sanguínea

MORTALIDADE PERI E NEONATAL em bovinos e equinos e de 20 a 30% em ovi-


nos e suínos (Randall, 1984). A maioria das
A mortalidade perinatal refere-se à morte perdas ocorre dentro de 72 horas após o nas-
dos produtos logo antes, durante, ou dentro cimento. Asfixia, inanição, resfriamento e
das primeiras 48 a 72 horas de vida a termo malformações congênitas são os principais
normal. A mortalidade perinatal, incluindo fatores contribuintes (Fig. 11-7). Existem di-
natimortos, contribui com a maioria das per- ferenças entre espécies na importância d~s:
das entre o nascimento e o desmame. A ex- tes tipos de "estresse". Por exemplo, traumas
tensão das perdas perinatais varia de 5 a 15% durante nascimentos prolongados ou assisti-
284 Distúrbios Reprodutivos

dos ocorrem mais frequentemente em bovi- segundo tipo, devido a causas não infeccio-
nos do que em suínos, enquanto que a asfixia sas, os leitões morrem durante o parto. A pre-
ocorre mais provavelmente no suíno em sença do mecônio sobre a pele, na boca e na
consequência da ruptura prematura do cor- traquéia do leitão diferencia o último do pri-
dão umbilical. meiro. Alta incidência de morte de leitões é
A utilização de drogas para indução do par- observada com inércia uterina, com o prolon-
to pode afetar adversamente a sobrevivência gamento do trabalho de parto, com o interva-
neonatal. Por exemplo, a indução do parto em lo de tempo de nascimento dos leitões, em
porcas com PGF2a.antes do 111Qdia de gesta- leitegadas com menos de quatro ou mais de
ção e na vaca com corticosteróides antes do nove leitões, e entre os leitões pertencentes
265Qdia de gestação pode resultar em maior ao último terço da leitegada. Estas mortes
incidência de mortalidade perinatal. intraparto podem ser devido à baixa tolerân-
Leitões natimortos assemelham-se aos vi- cia dos leitões à anoxia e estão g~ralmente
vos da mesma leitegada, porém seus pulmões associadas com a ruptura do cordão umbili-
não flutuam na água. Um ou dois leitões em cal antes do nascimento. Uma vez que os lei-
aproximadamente um terço de todas as tões sofrem lesões irreversíveis no cérebro
leitegadas estão mortos ao nascer numa pa- dentro de cinco minutos após a ruptura do
ridade constante em relação aos números ex- cordão umbilical ou se houver um obstáculo
tremos do tamanho da leitegada e em à corrente umbilical, o trabalho de parto de-
leitegadas cujo período de gestação é menor verá ser completado com rapidez.
do que 110 dias. Dois tipos de natimortos são Em ovelhas, a maioria das perdas entre a
observados em suínos. No primeiro tipo, ge- implantação e o desmame ocorre durante o
ralmente devido a causas in~ciosas, os fe- período perinatal, devido à inanição do
tos morrem antes do parto, enquanto que no neonato ou à distocia de cordeiros nascidos

DISTOCIA
(trabalho atípico ou patológico)

CAUSAS MATERNAS CAUSAS MECÂNICAS CAUSAS FETAIS


1. inércia uterina 1. desproporção feto-pélvica 1. apresentação anormal, posição
a. primária 2. torção uterina e postura
b. secundária 3. estenose de cérvice e vagina 2. defeitos de desenvolvimento
2. espasmo cervical, dilatação 4. anomalias congênitas 3. feto superdesenvolvido,
incompleta gêmeos

1. trabalho de parto
prematuro
2. trabalho de parto
prolongado
3. trabalho de parto
retardado

Fig. 11-8. Representação esquemática das causas maternas e fetais que originam várias formas de
distocia. Causas mecânicas feto-maternais; apresentação fetal anormal, posição, postura, e causas ma-
ternas que podem levar ao trabalho de parto prematuro, trabalho prolongado e retardamento do traba-
lho de parto.
Distúrbios Reprodutivos nas FêTMas 285

A B j;,

E F
.-/

FIG. 11-9.Má apresentação em equinos (A, B, C) e bovinos (D, E, F). A, Apresentação ventrotransversal
comdeslocamento ventral do útero. B, Apresentação ventrotransversal; gestação uterina no corpo. (A,B
e C de Arthur (1964). Wright's Veterinary Obstetrics. London, Bailliere, Tindall & Cow.D, E, e F copia-
dos de D.S.D.A., Special Report (1942). Diseases of Cattle.)

de ovelhas jovens, à permanência das ovelhas cém-nascido humano, é causada por um


em pastagens precárias ou ainda daquelas surfactante (fosfolipídio),e seu diagnóstico é
com a "doença do trevo". baseado nos níveis de fluido amniótico de dois
Mortalidade neonatal- a morte do neonato fosfolipídios - lecitina e esfingomielina.
durante as primeiras semanas de vida está A mortalidade neonatal pode também re-
relacionada à hereditariedade, fatores sultar de um trabalho de parto prolongado,
ambientais, nutrição e infecção. Várias defi- má nutrição materna, fraqueza da mãe ou do
ciências nutricionais podem contribuir para recém-nascido, infecção bacteriana do recém-
a mortalidade neonatal (Tabela 11-7). nascido através do cordão umbilical, mau
Síndrome de distresse respiratório (RDS) é comportamento materno ou retardamento do
caracterizada por uma falha dos pulmões início da lactação. A exposição do leitão re-
fetais de produzir surfactantes necessários cém-nascido a uma baixa temperatura
para manter a estabilidade dos espaços aé- ambientalleva à hipotermia, hipoglicemia e
reos terminais do pulmão após o nascimento. morte. A prostração ao calor e algumas mor-
O RDS ocorre em prematuros humanos sen- tes ocorrem em cordeiros recém-nascidos ex-
do invariavelmente fatal. Ele já foi comuni- postos a altas temperaturas ambientais. Uma
cado em potros, bezerros e leitões. Bezerros outra fonte de perigo aos recém-nascidos é a
nascidos por cesariana próximos ao termo ou presença de predadores mamíferos ou aviá-
nascidos antes de 270 dias de gestação fre- rios, tais comoo porco selvagem (Suis scrofa),
quentemente apresentam RDS (Eigenmann a raposa (Vulpes vulpes), o dingo (Canis
et aI., 1984). A RDS em bezerros, como no re- dingo), o corvo (Corvus coronoides),águia com
286 Distúrbios Reprodutiuos

cauda em forma de cunha (Aquila audax) e anormalidades ou fraturas da pelve e estenose


águia marítima (Haliaetus leucogaster). ou obstrução da cérvice, vagina ou vulva),
enquanto que outro grupo de anormalidades
DISTÚRBIOS DA GESTAÇÃO, PARTO E impede a entrada do feto na via reprodutiva
PUERPÉRIO (por ex., falha de dilatação da cérvice ou tor-
ção do útero).
Distocia A desproporção feto-pélvica contribui com
cerca de 30% de toda a distocia em bovinos.
A distocia, parto difícil ou obstruído, pode Os fatores que contribuem à desproporção
ser devido a causas fetais, maternas ou me- feto-pélvica são a insuficiente área pélvica da
cânicas (Figs. 11-8 e 11-9). mãe e o grande tamanho do bezerro. A distocia
Distocia Fetal. A distocia fetal resulta de devido à desproporção feto-pélvica pode ser
anormalidades na apresentação ou posição do contornada com coberturas planejadas para
feto e de irregularidades de postura da cabe- evitar o nascimento de bezerros despro-
ça ou dos membros; pode ser devido a um re- porcionalmente grandes em vacas com áreas
lativo ou absoluto excesso de tamanho do feto pélvicas de pequeno tamanho. Outras precau-
ou a monstruosidades fetais. A distocia fetal ções envolvem o acasalamento de novilhas em
é comum em certas raças de gado leiteiro, em relação ao peso em preferência à idade, redu-
bovinos e ovinos com gestações múltiplas e zindo os pesos no nascimento pela utilização
em porcas com leitegadas pequenas. Os des- de touros da mesma raça, ou touros de raças
vios da cabeça e a flexão das várias articula- diversas reconhecidamente como geradores
ções na apresentação anterior, a flexão dos de bezerros pequenos ou ainda selecionando
membros posteriores (nádegas) na apresen- fêmeas com habilidade de limitar o peso ao
tação posterior, ou a prese~ de gêmeos po- nascimento. As dificuldades do parto afetam
dem causar distocia. o futuro desempenho reprodutivo em bovinos
Distocia Materna. A distocia materna é aumentando os dias vazios, o período até a
mais frequente em gado leiteiro e ovinos do próxima cobertura e o número de serviços.
que em equinos e suínos. Ela ocorre frequen-
temente em animais primíparos e em animais
com múltiplos fetos. A ausência de contrações Retenção de Placenta
uterinas ou inércia pode ser primária ou se-
cundária. A inércia uterina primária devido A retenção da placenta, ou a falha das
à excessiva dilatação é comum nas gestações membranas fetais em serem expeli das duran-
múltiplas em bovinos e nas grandes te a terceira fase do trabalho de parto, é uma
leitegadas em suínos. A inércia uterina secun- complicação pós-parto comum em ruminan-
dária é devido a exaustão do músculo uterino tes, particularmente em bovinos. A retenção
em decorrência de distocia obstrutiva. A não da placenta além de 12 horas em bovinos é
dilatação apropriada da cérvice leva a um "es- considerada patológica e é primariamente
pasmo" desse órgão em bovinos. devido a inércia uterina ou a uma inflama-
DesproporçãoFeto-pélvica. O evento ção da placenta, que em contrapartida resul-
significa uma disparidade entre o tamanho ta na falha das vilosidades fetais em destaca-
do feto e o da pelve da mãe. A desproporção rem-se das criptas maternas (Arthur et aI.,
feto-pélvica é uma causa comum de distocia 1982). As membranas fetais retidas invaria-
em vacas e ovelhas prenhes de um único pro- velmente acompanham os abortamentos no
duto e em porcas com leitegadas de pequeno final da gestação devido a infecções como a
tamanho. Não é comum na égua. Anomalias brucelose, leptospirose, rinotraqueíte infeccio-
das partes moles da via reprodutiva ou dos sa bovina, nascimentos prematuros associa-
ossos pélvicos são causas ocasionais de dos a gestação gemelar, parto induzido com
distocia. Um grupo de anomalias provoca corticosteróide, distocia obstrutiva e operação
estreitamento do canal do nascimento (por ex., cesariana.
Distúrbios Reprodutivos nas Fêmeas 287

A retenção de placenta ocorre mais frequen- gestação. A síndrome tem sido atribuída à in-
temente em bovinos leiteiros do que nos de compatibilidade materno-fetal e a .disfunção
corte. Fatores como higiene deficiente ou placentária. Ela também foi comunicada em
"estresse" afetam a vaca leiteira na época do equino após o sétimo mês de gestação, com
parto sendo implicado particularmente o tipo associação a anormalidades fetais.
do alojamento. Desde que a placenta retida
leva a uma infecção do útero (metrite) e a um Gestação Múltipla
atraso da involução uterina, a fertilidade fu-
tura do animal poderá ser afetada negativa- Em bovinos, equinos, ovinos e caprinos, a
mente. Existem controvérsias entre a remo- frequência de gestações múltiplas é maior do
ção e o método mais conservador de deixar as que os nascimentos múltiplos, devido à alta
membranas fetais in situo Bolinder et aI., incidência de abortamentos e reabsorções
(1988) comunicaram que a remoção manual fetais. Na vaca, as sequelas da gestação múl-
provocou um grande e imediato aumento tipla incluem período de gestação encurtado,
embora de curta duração na liberação do abortamento, natimortos, distocias e retenção
metabólito da prostaglandina PGF 2w o que de placenta. As perdas econômicas estão re-
provavelmente foi devido ao dano físico do lacionadas com diminuição da fertilidade,
tecido uterino. A remoção manual também mortalidade neonatal, diminuição do peso dos
prolongou o intervalo desde o parto até o apa- bezerros recém-nascidos, intervalos entre
recimento do primeiro corpo lúteo funcional partos mais longos e menor produção de gor-
ao redor de 20 dias. Os mecanismos e a tera- dura no leite. Em aditamento, acima de 90%
pia para a retenção de membranas fetais na das fêmeas nascidas com gêmeos machos são
vaca foram intensivamente revisados por estéreis (freemartins).Amortalidade neonatal
Paisley et aI. (1986). em ovinos é maior nos gêmeos do que nos pro-
A retenção da placenta em outros ruminan- dutos nascidos sozinhos. As ovelhas gestan-
tes tais como búfalos, ovinos e caprinos é tes de gêmeos são mais suscetíveis à toxemia
menos comum que em bovinos. Na égua, a gravídica (doença do cordeiro gêmeo). Em
retenção de placenta significa um sério pro- éguas, grande porcentagem de fetos gêmeos
blema porque com frequência provoca é abortada.
laminite. Ela é comumente tratada com inje-
ções de ocitocina com remoção manual, caso Gestação Prolongada
não seja expelida até 24 horas após o parto.
Gestações anormalmente prolongadas, de-
Hidroâmnios e Hidroalantóide vido a anormalidades fetais em bovinos, ovi-
nos e suínos, resultam de fatores genéticos e
O acúmulo excessivo de líquido amniótico não genéticos.
é menos comum do que o acúmulo de líquido Existem dois tipos gerais da síndrome em
alantóide. O hidroâmnios, mais frequente em bovinos, cada um governado por um único
bovinos do que em ovinos e suínos, está rela- gene recessivo autossômico. No tipo observa-
cionado com certas anormalidades craniais do do nas raças Holandesa e Ayrshire, os fetos
feto. Nestes fetos defeituosos, a absorção é grandes não apresentam anormalidades
prejudicada provocando o acúmulo de líquido faciais, e quando retirados cirurgicamente,
amniótico à medida que progride a gestação. são fracos, incapazes de mamar e morrem
Fetos de vacas das raças Guernsey e Jersey dentro de 6 a 8 horas de grave hipoglicemia.
com gestação prolongada apresentam Há uma hipoplasia da adeno-hipófise e do
hidroâmnios. córtex adrenal. O nível plasmático de
O hidroalantóide ocorre em bovinos espe- progesterona em uma vaca portadora de um
cialmente em gestações gemelares, e carac- bezerro afetado não cai antes do parto, como
teriza-se externamente por um enorme au- em uma vaca normal. No segundo tipo de
mento do abdômen após o sexto mês de síndrome, observado nas raças Guernsey e
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Tabela 11-8. Distúrbios da Gestação, do Parto e do Puerpério

Síndrome Espécies Causas Descrição

Retenção de placenta Bovinos, búfalos, ovinos, caprinos, Distocia, infecções Falha na expulsão da placenta após o parto
equinos e suínos
Prolapso vaginal Bovinos e ovinos Excessivo relaxamento dos ligamentos pélvicos, Gestação atrasada
exercício restrito, gêmeos
Prolapso uterino Bovinos e ovinos Distocia, retenção de placenta Em seguida ao parto
Hidropsia das membranas Bovinos, ovinos e equinos Anomalias fetais, disfunção placentária, Acúmulo excessivo de fluidos dentro das
fetais cavidades amnióticas ou alantóides.
incompatibilidade materno-fetal
Gêmeos Bovinos, ovinos e equinos Abortamento
Espontâneo ou induzido
Gestação prolongada Bovinos Anormalidades genéticas e fetais Mortalidade fetal
Ovinos Mortalidade fetal
Ingestão de teratógenos no início da gestação
Suínos Mortalidade fetal
Genéticas, em certas linhagens consanguíneas
Síndrome respiratória aflitiva Bezerros, potros e leitões Deficiência de surfactantes pulmonares Falha de expansão pulmonar no nascimento
(fosfolipídios)
Distúrbios Reprodutivos nas Fêmeas 289

Jersey, os fetos são pequenos, muitos exibem citária diminuída. No caso de vacas com in-
anormalidades faciais e hidroâmnios, não fecções uterinas reassumirem a ciclicidade
apresentam adeno-hipófise e sobrevivem in precocemente em relação ao período pós-par-
utero por longos períodos após o período nor- to, provavelmente pode ocorrer piometra
mal de gestação, porém sobrevivem apenas quando elevados níveis de progesterona coin-
poucos minutos quando retirados cirurgica- cidirem com a presença de elevado número
mente. Um resumo dos distúrbios da gesta- de bactérias patogênicas. Por este motivo, a
ção e do parto é apresentado na Tabela 11-8. prática de tratar vacas com GnRH para
indução precoce da ciclicidade no período pós-
Infecções Uterinas parto deve ser evitada, já que pode ocasionar
piometra.
A13infecções uterinas após o parto ocorrem
habitualmente na vaca e na égua como se- REFERÊNCIAS
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290 Distúrbios Reprodutivos

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Putney, D.}., Drost, M. and Thatcher, W.W. (1988).
12
DISTÚRBIOS REPRODUTIVOS NOS MACHOS
M.R. JAINUDEEN e E.S.E. HAFEZ

A fertilidade de um reprodutor está relacio- sociada com um acúmulo localizado de


nada a vários fenômenos: (1) produção esper- espermatozóides dentro do epidídimo
mática; (2) viabilidade e capacidade fertilizan- obstruído, condição conhecida por esperma-
te dos espermatozóides ejaculados; (3) desejo tacele.
sexual; e (4) habilidade de cobertura. O ma- Criptorquidismo. A descida dos testícu-
cho estéril é rapidamente identificado, porém los envolve sua migração para o anel inguinal
aquele com fertilidade reduzida acarreta sé- interno, passagem através do canal inguinal
rios proplemas e causa perdas econômicas aos e finalmente migração dentro do saco escrotal.
criadores e à indústria da inseminação artifi- No criptorquidismo, um ou ambos os testícu-
cial. O propósito deste capítulo é revisar os los deixam de descer da cavidade abdominal
aspectos funcionais dos distúrbios para dentro do saco escrotal.
reprodutivos masculinos (Fig. 12-1). Fatores A descida testicular nos mamíferos resul-
genéticos e anormalidades cromossômicas ta de uma inchação e subsequente regressão
associadas aos distúrbios reprodutivos do do gubernáculo. Precocemente neste proces-
macho são discutidos no Capítulo 13. so o gubernáculo se estende do pólo caudal do
testículo para o anel inguinal externo. A tra-
MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS ção que se desenvolve da inchação da porção
extra-abdominal do gubernáculo força o tes-
Aplasia Segmentar dos Dutos de Wolff. tículo para dentro do canal inguinal. A
Neste defeito, segmentos pequenos ou gran- subsequente regressão do gubernáculo habi-
des de um ou de ambos os dutos de Wolff (p. lita o testículo a descer mais para dentro da
ex., epidídimo, canal deferente ou ampola) posição escrotal. O desenvolvimento anormal
estão ausentes. Reprodutores com deficiên- do gubernáculo tem sido associado com
cias ou oclusões unilaterais dos canais, com criptorquidismo em suínos.
frequência, apresentam fertilidade normal, A incidência de criptorquidismo é maior em
porém aqueles em que a condição é bilateral suínos e equinos do que em outros animais
são estéreis. Ela é mais comum entre os des- domésticos. Provavelmente, trata-se de um
cendentes de certos touros que também exi- defeito hereditário transmitido pelo macho;
bem a condição. Ela se caracteriza em bovi- ele é dominante no equino e recessivo em ou-
nos por uma au~ência total ou parcial de um tras espécies. Um ou ambos os testículos po-
ou de ambos os epidídimos, porém com mais dem estar localizados na cavidade abdominal
frequência do epidídimo direito. A aplasia ou, mais frequentemente, no canal inguinal.
segmentar do epidídimo está comumente as- O testículo esquerdo é mais afetado do que o

291
292 Distúrbios Reprodutivos

+
-I En-;a 1- , I
..
Testicular 1==9Seminal
..
Distúrbios Deficiência de Criptorquidismo Distúrbios da Segmentos
da ereção e LH elou hipoplasia espermatogênese, ausentes
ejaculação, testosterona degeneração defeitos trauma
impotência infecção espermáticos, infecção
trauma motilidade
espermática e
anticorpos
antiespermáticos
FIG.12-1. Várias causas de falhas reprodutivas em animais machos domésticos.

direito em equinos de grande porte, ao passo porque seus testículos secretam testosterona
que qualquer deles pode estar afetado com em níveis aproximadamente normais devido
frequência aproximadamente igual em aos elevados níveis de LH.
pôneis. A raridade de criptorquidismo em ca- A função esteroidogênica do testículo
valos mais velhos pode ser devido ao fato de criptorquídeo é discutível. O testículo
alguns testículos inguinais descerem ao criptorquídeo apresenta menor habilidade do
escroto com o avançar da idade. que o testículo escrotal normal no carneiro e
Animais criptorquídeos bilaterais são es- no touro para secretar testosterona em res-
téreis devido à supressão térmica da posta a gonadotrofina exógena. Ao contrário,
esperma to gênese, enquanto que os a produção de esteróide in vitro pelas células
criptorquídeos unilaterais apresentam de Leydig foi similar para ambos os testícu-
espermatogênese normal no testículo escrotal. los abdominal e contralateral escrotal em por-
Os animais criptorquídeos unilaterais são cos e cavalos criptorquídeos unilaterais (Ryan
geralmente férteis porém apresentam concen- e Raeside, 1984).
tração espermática reduzida; eles exibem ca- Apesar da capacidade de um macho
racterísticas sexuais secundárias normais criptorquídeo em se reproduzir, elenãodeve-
Distúrbios Reprodutivos nos Machos 293

rá ser utilizado para a reprodução porque a DISTÚRBIOS DA EJACULAÇÃO


condiçãopode ser transmitida para seus des-
cendentes. Os distúrbios da ejaculação são de dois ti-
Hipoplasia Testicular. A hipoplasia dos pos: ausência de impulso sexual ou libido e
testículos, defeito congênito em que o poten- imperfeição de cópula, que inclui distúrbios
cial de desenvolvimento do epitélio esperma- de ereção, de monta, de intromissão e de
togênicoestá ausente, ocorre em todos os ani- ejaculação.
mais domésticos, particularmente em touros
de várias raças. Falta de Libido
A hipoplasia testicular herdada é mais co-
nhecida nos bovinos Swedish Highland e é A libido ou desejo sexual é um importante
causada por um gene autossômico recessivo aspecto da função reprodutiva masculina. A
de penetrância incompleta (cerca de 50%).A falta de libido (impotentia coeundi) pode ser
hipoplasia testicular ocorre também em ou- hereditária ou originar-se de distúrbios
tras raças de bovinos, porém uma base gené- psicogênicos, desequilíbrio endócrino ou fato-
tica ainda não foi bem documentada, embora res ambientais. Mesmo que as característi-
uma distribuição entre famílias haja sido no- cas seminais possam ser satisfatórias, a fer-
tada (Gallowaye Norman, 1976).Ahipoplasia tilidade pode ser adversamente afetada
testicular ocorre também no Bos indicus, par- devido à fraca libido.
ticularmente em touros Brahman e mestiços Touro. Tanto a libido quanto a habilidade
Brahman. de monta em touros são influenciadas por fa-
A hipoplasia testicular é suspeitada ape- tores genéticos. Ficou provada libido similar
nas ria puberdade ou mais tarde por causa entre touros gêmeos monozigóticos submeti-
da fertilidade reduzida ou esterilidade. Acon- dos a diferentes tipos de manejo e nutrição. A
dição pode ser uni ou bilateral. Em touros ausência de desejo sexual é mais frequente
estéreis, o sêmen é aquoso e contém poucos em algumas linhagens ou raças de bovinos
ou nenhum espermatozóides. Nas formas me- do que em outras, p. ex., raças de corte e gado
nos graves, o sêmen, libido e habilidade de Bos indicus.
cobertura não são afetados, porém a concen- Alguns touros tornam-se apreensivos com
tração espermática pode estar reduzida. súbitas modificações no ambiente, comoa tro-
Histologicamente, os túbulos seminíferos são ca de fazendas, de estábulo, de tratador ou
caracterizados por ausência de elementos do local de colheita de sêmen. Desde que o
germinativos, predominância de células de medo e a apreensão são hostis à expressão
Sertoli e uma falha da espermatogênese. sexual, a intensidade do comportamento se-
O testículo hipoplásico é reduzido em ta- xual declina até que o touro se acostume à
manho. Embora graves causas de hipoplasia nova situação. A inibição pode se desenvol-
testicular possam ser diagnosticadas por ver como resultante de frustração repetida,
medidas escrotais e testiculares, os casos falhas de manejo, técnicas erradas durante a
menos óbvios são de dificil diagnóstico. Aaná- colheita de sêmen, distração durante o coito
lise do cariótipo pode ajudar o diagnóstico, já e retirada muito rápida do animal manequim
que uma alta incidência de constrições após a cópula. A inibição é caracterizada pela
cromossômicas secundárias está presente nas recusa em copular e ereção ou ejaculação in-
culturas de leucócitos do sangue de touros com completas.
hipoplasia testicular (Galloway e Norman, Os touros apresentam consideráveis dife-
1976). renças nas características seminais e libido.
Como no touro, a hipoplasia testicular em Não existe associação entre libido e qualida-
porcos e carneiros é caracterizada por testí- de do sêmen ou com a circunferência escrotal.
culos pequenos e sêmen de baixa concentra- Sêmen de boa qualidade pode ser obtido por
ção espermática (suíno) ou alta porcentagem meio de eletroejaculador de touros de baixa
de espermatozóides anormais (ovino). libido, porém o método não deve ser utilizado
294 Distúrbios Reprodutivos

em programas de inseminação artificial por libido pode também ser seriamente prejudi-
causa da probabilidade de disseminação de cada por manejo inadequado de cachaços jo-
genes associados a essa deficiência. A libido vens durante a cobertura.
insuficiente é tida como devida a uma defi-
ciência de andrógenos circulantes, porém em Inabilidade de Cobertura
touros Holandeses, a concentração de
testosterona circulante não está relacionada Inabilidades físicas podem impedir ou evi-
à libido ou às características seminais. tar a cobertura, provocando falhas no com-
Garanhão. O comportamento anormal na portamento da cópula, i. é, na monta, na in-
monta de garanhões é mais frequentemente tromissão, ou na ejaculação.
devido ao manejo inadequado por ocasião das Distúrbios da Monta. A inabilidade para
coberturas. A superutilização, o tratamento a monta é um distúrbio comum encontrado
brusco na cobertura ou ejaculações demasia- em touros e porcos velhos. Ela está associada
damente frequentes durante o inverno podem com disfunção locomotora proveniente de
exercer um efeito deprimente sobre o compor- deslocações, fraturas, torceduras e lesões
tamento de animais jovens. As sensações do- osteoartríticas dos membros posteriores e das
lorosas resultantes de machucaduras duran- vértebras. Modificações degenerativas na su-
te a cópula ou associadas com tentativas de perfície articular da rótula e do jarrete e
monta também são causas comuns de impo- exostoses das vértebras toracolombares inter-
tência. As variações estacionais na libido e a ferem com a movimentação e habilidade de
atividade secretora e gametogênica da ativi- monta, particularmente em touros mais ve-
dade do trato reprodutivo doI animal são go- lhos.
vernadas, pelo menos em párte, pelo padrão Distúrbios para Conseguir a Penetra-
de secreção de testosterona. A maior produ- ção. Esta é uma condição em que o pênis não
ção espermática em garanhões ocorre duran- consegue penetrar na vagina. Pode resultar
te o mês de julho, dois meses após o pico de uma protrusão insuficiente do pênis do
estacional dos níveis de testosterona prepúcio ou de desvios do pênis.
plasmática. Fimose ou estenose do orifício prepucial
Carneiro. Apesar da produção de quanti- devido a causas congênitas, traumáticas ou
dade normal de espermatozóides férteis, os infecciosas podem impedir a protrusão nor-
carneiros podem apresentar baixa fertilida- mal do pênis. O prolapso penduloso que ocor-
de por causa da inabilidade de cobrir suficien- re em raças de Bos indicus (Santa Gertrudis
te número de ovelhas. Esta baixa frequência e Brahman), ou a tendência inerente para
de serviço resulta de uma falta de libido, pou- eversão prepucial que ocorre em algumas ra-
ca destreza ou interferência de outros carnei- ças desprovidas de chifres (Hereford e
ros. Aberdeen Angus) podem levar a traumas,
Fatores estacionais, como a luz do dia e a modificações inflamatórias e eventualmente
temperatura, influenciam o desempenho a prolapso prepucial e fimose (Fig. 12-2).
reprodutivo dos carneiros de diferentes raças Quando em serviço, os touros afetados são
sob uma grande variedade de condições na- incapazes de impelir o pênis mais do que duas
turais ou experimentalmente controladas. ou três polegadas, ou mesmo não conseguem
Uma diminuição nas horas de luz geralmen- expô-Io nos casos mais graves. A condição pode
te favorece o desempenho sexual, embora as ser corrigida pela amputação cirúrgica da
evidências de tal relação sejam conflitantes. mucosa prepucial prolapsada. Uma reprodu-
A fertilidade do carneiro é também adversa- ção seletiva e o descarte de touros B. taurus
mente afetada durante períodos de altas tem- com predisposição ao prolapso prepucial po-
peraturas. dem auxiliar na redução da incidência.
Porco. A fraca libido no porco está asso- Outro caso grave de inabilidade para ex-
ciada com obesidade, tensão térmica ou pla- posição do pênis é o hematoma do pênis re-
no de nutrição demasiadamente elevado. A sultante de ruptura do corpo cavernoso (Fig.
Distúrbios Reprodutivos nos Machos 295

~ Freio
~ Anéis de pêlos
~J---
Tecido
../
cicatricial

fr
~ ~_.
)?
é/r~
~.--
Tumores Lacerações Fístula uretral

,~

~t
Prolapso prepucial Hematoma Espiral

FIG. 12-2. Anormalidades congênitas e adquiridas do pênis e prepúcio que interferem com a intromissão
de touros e causam baixos níveis de concepção. (As duas fileiras superiores são copiadas de Sorensen,
AM. (1979). In Animal Reproduction: PrincipIes and Practice. New York, McGraw-Hill.)

12-2). O hematoma do pênis ocorre Tumores da glande podem ocasionalmente


comumente em touros durante a cobertura, impedir a protrusão do pênis. Fibropapilomas
quando o pênis é impelido contra o períneo de origem virótica são encontrados frequen-
da vaca. O hematoma desenvolve-se temente na extremidade do pênis de touros
distalmente à flexura sigmóide, embora al- de dois anos de idade. Os touros afetados fi-
guns possam ser encontrados proximalmente, cam relutantes para servir ou incapazes de
provocando inflamação que pode ser palpada conseguir a introdução. Embora possa ocor-
na região anterior ao escroto. rer uma regressão espontânea do tumor, a
A drenagem venosa anormal do corpo ca- extirpação cirúrgica ou a vacinação com um
vernoso no touro pode provocar flacidez do tecido vacínico são empregadas para contro-
pênis impedindo a introdução apesar da boa le da condição.
libido. Isto ocorre porque a ereção no touro As deformidades congênitas do pênis ou do
não é, como se acredita comumente, devido à prepúcio podem tornar difícil ou impossível a
rigidez dos componentes fibroelásticos e re- introdução do pênis. Uma destas deformida-
laxamento do músculo retrator do pênis, mas des é a persistência do freio, encontrada
principalmente às altas pressões geradas den- comumente em touros de corte das raças
tro do corpo cavernoso. Esta anormalidade no Shorthorn e AberdeenAngus (Fig. 12-2). Nes-
touro parece ser congênita, embora possa ser ta condição, o freio une a porção ventral da
devido a traumas da túnica albugínea em tou- glande à mucosa prepucial. Durante o coito,
ros mais velhos (Ashdown et aI., 1979). a deformidade é notada como um desvio ven-
296 Distúrbios Reprodutivos

traI do pênis. Raramente a introdução é reduzida está relacionada com característi-


conseguida. A deformidade pode ser corrigida cas defeituosas dos espermatozóides ou a er-
pela ligação e secção da tira de tecido. ros na técnica de criação.
Três tipos distintos de desvios congênitos
do pênis são encontrados em touros. O desvio Patologia dos Testículos e das Glândulas
em espiral dopênis ocorre na maioria dos tou- Acessórias
ros normais após a introdução. Um tipo espi-
ral semelhante ocorre no tipo de desvio co- As condiçõespatológicas dos testículos, epi-
nhecido por "saca-rolhas" (Fig. 12-2),condição dídimos e vesículas seminais (Tabela 12-1)
que precede a introdução e impede o coito. podem interferir com a fertilização provocan-
Tipos menos comuns de desvios do pênis são do distúrbios na espermatogênese ou na
o ventral ou em "arco-íris e o desvio em for- maturação espermática, causando caracterís-
ma de S, que é mais benigno. ticas seminais anormais, ou impedindo a pas-
No porco,as anormalidades do pênis, p. ex., sagem de espermatozóides dos testículos para
a persistência do freio, hipoplasia peniana e a uretra.
aumento do divertículo prepucial, frequente-
mente resultam em dificuldade de conseguir "Estresse" Calórico
a introdução e são as principais causas de mau
desempenho reprodutivo. Com estes defeitos, A temperatura é um dos importantes fato-
o cachaço é incapaz de tornar o pênis ereto, res ambientais que interfere com a reprodu-
de penetrar na vagina ou de ajustá-lo na ção. Temperaturas corpóreas elevadas, duran-
cérvice. te períodos de alta temperatura ambiente ou
Distúrbio da Ejaculação. Esta condição pirexia por doenças, levam à degeneração tes-
é ocasionalmente observada em touros, mes- ticular e reduzem a porcentagem de
mo quando acompanhada de vigoroso impul- espermatozóides normais e férteis na
so na introdução. Técnicas deficientes de co- ejaculação.
lheita de sêmen, p. ex.,temperatura ou Em várias espécies, existem variações
pressão impróprias da vagina artificial, fre- estacionais na qualidade e na fertilidade do
quentemente causam falhas da ejaculação em sêmen. Touros submetidos a altas tempera-
touros utilizados em inseminação artificiaL turas ambientais apresentam reduzida qua-
No garanhão, os distúrbios da ejaculação, lidade do sêmen. Carneiros podem manter um
variando desde introdução sem ejaculação até nível satisfatório de fertilidade durante o ano
um padrão copulatório anormal acompanha- todo, porém em muitas circunstâncias, a fer-
do ou não de ocasional ejaculação, são fre- tilidade é deprimida quando as coberturas
quentemente encontrados. Estes distúrbios ocorrem durante os meses quentes do ano. A
provavelmente são causados por um dese- falha de concepção em ovelhas cobertas por
quiHbriofuncional dos mecanismos nervosos um carneiro com "estresse" calórico está mais
que regulam o processo ejaculatório. Ambi- relacionada à falha de fertilização do que à
entes estranhos, obesidade, más condições ou mortalidade embrionária.
exaustão resultantes de coberturas frequen- Quando o conteúdo escrotal de carneiros é
tes podem exercer um efeito depressivo sobre aquecido a aproximadamente 40°C por 1,5 a
estes mecanismos nervosos. 2 horas, há um aumento agudo na proporção
de espermatozóides morfologicamente anor-
mais nas ejaculações 14a 16 dias mais tarde.
DISTÚRBIOS DA FERTILIZAÇÃO Os espermatozóides que estavam em desen-
volvimento por ocasião do aquecimento mos-
A falha de fertilização é uma importante traram alterações (p. ex., espermatozóides
causa de infertilidade em reprodutores com mortos e sem cauda), enquanto que os
libido normal e capazes de cobertura e espermatozóides do epidídimo não foram afe-
ejaculação. Esta capacidade ou capacidade tados. As alterações do acrossomo são carac-
296 Distúrbios Reprodutivos

traI do pênis. Raramente a introdução é reduzida está relacionada com característi-


conseguida. A deformidade pode ser corrigida cas defeituosas dos espermatozóides ou a er-
pela ligação e secção da tira de tecido. ros na técnica de criação.
Três tipos distintos de desvios congênitos
do pênis são encontrados em touros. O desvio Patologia dos Testículos e das Glândulas
em espiral do pênis ocorre na maioria dos tou- Acessórias
ros normais após a introdução. Um tipo espi-
ral semelhante ocorre no tipo de desvio co- As condições patológicas dos testículos, epi-
nhecido por "saca-rolhas" (Fig. 12-2),condição dídimos e vesículas seminais (Tabela 12-1)
que precede a introdução e impede o coito. podem interferir com a fertilização provocan-
Tipos menos comuns de desvios do pênis são do distúrbios na espermatogênese ou na
o ventral ou em "arco-íris e o desvio em for- maturação espermática, causando caracterís-
ma de S, que é mais benigno. ticas seminais anormais, ou impedindo a pas-
No porco, as anormalidades do pênis, p. ex., sagem de espermatozóides dos testículos para
a persistência do freio, hipoplasia peniana e a uretra.
aumento do divertículo prepucial, frequente-
mente resultam em dificuldade de conseguir "Estresse" Calórico
a introdução e são as principais causas de mau
desempenho reprodutivo. Com estes defeitos, A temperatura é um dos importantes fato-
o cachaço é incapaz de tornar o pênis ereto, res ambientais que interfere com a reprodu-
de penetrar na vagina ou de ajustá-lo na ção. Temperaturascorpóreaselevadas, duran-
cérvice. te períodos de alta temperatura ambiente ou
Distúrbio da Ejaculação. Esta condição pirexia por doenças, levam à degeneração tes-
é ocasionalmente observada em touros, mes- ticular e reduzem a porcentagem de
mo quando acompanhada de vigoroso impul- espermatozóides normais e férteis na
so na introdução. Técnicas deficientes de co- ejaculação.
lheita de sêmen, p. ex.,temperatura ou Em várias espécies, existem variações
pressão impróprias da vagina artificial, fre- estacionais na qualidade e na fertilidade do
quentemente causam falhas da ejaculação em sêmen. Touros submetidos a altas tempera-
touros utilizados em inseminação artificial. turas ambientais apresentam reduzida qua-
No garanhão, os distúrbios da ejaculação, lidade do sêmen. Carneiros podem manter um
variando desde introdução sem ejaculação até nível satisfatório de fertilidade durante o ano
um padrão copulatório anormal acompanha- todo, porém em muitas circunstâncias, a fer-
do ou não de ocasional ejaculação, são fre- tilidade é deprimida quando as coberturas
quentemente encontrados. Estes distúrbios ocorrem durante os meses quentes do ano. A
provavelmente são causados por um dese- falha de concepção em ovelhas cobertas por
quih'brio funcional dos mecanismos nervosos um carneiro com "estresse" calórico está mais
que regulam o processo ejaculatório. Ambi- relacionada à falha de fertilização do que à
entes estranhos, obesidade, más condições ou mortalidade embrionária.
exaustão resultantes de coberturas frequen- Quando o conteúdo escrotal de carneiros é
tes podem exercer um efeito depressivo sobre aquecido a aproximadamente 40°C por 1,5 a
estes mecanismos nervosos. 2 horas, há um aumento agudo na proporção
de espermatozóides morfologicamente anor-
mais nas ejaculações 14a 16 dias mais tarde.
DISTÚRBIOS DA FERTILIZAÇÃO Os espermatozóides que estavam em desen-
volvimento por ocasião do aquecimento mos-
A falha de fertilização é uma importante traram alterações (p. ex., espermatozóides
causa de infertilidade em reprodutores com mortos e sem cauda), enquanto que os
libido normal e capazes de cobertura e espermatozóides do epidídimo não foram afe-
ejaculação. Esta capacidade ou capacidade tados. As alterações do acrossomo são carac-
TABELA 12-1. Resumo das Doenças dos Orgãos Reprodutivos Masculinos com Sêmen Infértil
Espécie
Doença Afetada Causas Lesões Alterações Seminais

Degene- Touro,car- Térmicas, infecções localizadas ou Reduzido tamanho testicular; fibrose; Aumento de espermatozóides imaturos e
ração neiro sistêmicas; nutrição (vitamina A); distúrbios da espermatogênese; túbulos anormais com motilidade normal; a última
testicular lesões vasculares; envelhecimento; seminíferos destruídos em casos ejaculação é rala e aquosa devido à redução da
lesões obstrutivas da cabeça do avançados concentração espermática; células gigantes;
epidídimo; agentes nocivos; fatores azoospermia ou necrozoospermia em casos
hormonais graves

Orquite Touro, car- Brucelose, tuberculose Alterações inflamatórias no testículo Astenozoospermia; oligozoospermia;
neiro, varrão levando à degeneração dos túbulos teratozoospermia; células gigantes; eritrócitos e
seminíferos leucócitos; volume de sêmen normal

Epidi-
dimite Touro, car- Brucelose, infecções a vírus Inflamação do epidídimo; infiltração de Características seminais pobres; sêmen
neiro contaminado por exsudato inflamatório t:::1
linfócitos e neutrófilos; espermatozóides 1;).
mortos e células gigantes .....
!,:,
..,
o-
Vesiculite Touro Brucelose Inflamação unilateral das vesículas Exsudato purulento no sêmen, normozoospermia, õ"
'"
seminal seminais; glândulas aumentadas e astenozoospermia; conteúdo de frutose ~
fibrosadas diminuído ~
Ó
P...

(Adaptado de R. Jubb e K. Kennedy,(1970). Pathology ofDomestic Animais. New York, Academic Press; Laing (1970), Fertility and Infertility in Domestic ~
c"
Animais. London, Bailliere Tindall and Cassei!.) ~
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298 Distúrbios Reprodutivos

terizadas por inchação, vesiculação e even- Manejo Reprodutivo. Em programas de


tual desintegração. monta natural, a frequência de coberturas e
Variações estacionais ocorrem na fertilida- a proporção de fêmeas destinadas a cada
de de porcos, sendo os níveis baixos imedia- reprodutor dependem da espécie, idade, libi-
tamente após os meses mais quentes do ano. do, fertilidade e nutrição do reprodutor, da
O volume de sêmen e o número total de duração da estação de monta, do sistema de
espermatozóides por ejaculação de porcos são manejo e do tamanho e variação das pasta-
maiores durante o tempo frio. Os reprodutores gens.
suínos submetidos a elevadas temperaturas A espermatogênese é um processo contínuo,
ambientais diariamente durante 90 dias mos- no entanto as ejaculações frequentes e repe-
tram diminuição na concentração esper- tidas afetam adversamente a libido do ma-
mática e na motilidade, assim como um au- cho e as características do sêmen. Embora a
mento das anormalidades espermáticas e libido volte ao normal após uma semana de
alterações do acrossomo. descanso sexual, as características seminais
A exposição de cachaços por períodos de 4 não são restauradas aos limites normais até
a 5 dias a temperaturas ambientes acima de pelo menos seis semanas. Similarmente, de-
35°C e a variações diurnas que prevalecem pois de um período de prolongada inativida-
nas regiões tropicais e subtropicais afeta a de, as características do ,sêmen e a fertilida-
qualidade, porém não o volume do sêmen. de permanecem baixas durante as primeiras
Efeitos adversos são evidentes 3 a 5 semanas poucas coberturas.
mais tarde, particularmente pa morfologia As variações estacionais são especialmen-
espermática (Cameron e Blackshaw, 1980). A te importantes nas espécies de reprodução
alta incidência de gotas citoplasmáticas pode estacional, como os equinos e ovinos; modifi-
ser provocada pelo efeito a longo termo de ele- cações na proporção de horas de luz e de es-
vadas temperaturas ambientes sobre os curidão refletem na qualidade e quantidade
epidídimos, os quais, devido à especiallocali- do sêmen.
zação no escroto de suínos, são mais sensí- Infertilidade e Inseminação Artificial.
veis à temperatura (Stone, 1981). O reprodutor contribui sensivelmente para os
Também, as moléstias infecciosas resultan- distúrbios reprodutivos em um programa de
do em uma reação febril provavelmente afe- inseminação artificial, pooex., sêmen defi-ci-
tam a fertilidade subsequente do porco por ente, técnicas inapropriadas de inseminação
um período de 5 a 6 semanas. A diminuição e distúrbios no transporte do sêmen no trato
do índice de concepção em marrãs feminino. Estes e outros fatores que interfe-
inseminadas e mantidas sob elevadas tem- rem com a fertilidade no processo de
peraturas ambientais, é aparentemente de- inseminação artificial são considerados em
vido à mortalidade embrionária. outro capítulo. Alterações da fertilidade de
sêmen congelado durante a conservação são
Técnicas de Reprodução importantes no aspecto da utilização eficien-
te e nos objetivos dos programas de
Os distúrbios da fertilização atribuídos ao inseminação artificial.
reprodutor podem ser resultantes de manejo
inadequado da criação ou de falhas nas téc- Fatores Imunológicos
nicas de inseminação artificial. Também, a
sincronização do ciclo estral em bovinos e ovi- A habilidade dos espermatozóides para in-
nos com compostos progestacionais, a duzir anticorpos foi reconhecida desde o iní-
ingestão de plantas com princípios cio deste século. Apesar de tentativas sem
estrogênicos pelas ovelhas, ou a imposição de sucesso para utilizar a imunidade contra os
"estre.sse" durante a inseminação podem in- espermatozóides como método anticoncepcio-
terferir com o transporte espermático e pro- nal masculino, existe evidência suficiente que
vocar distúrbios de fertilização. implica os anticorpos espermáticos como cau-
Distúrbios Reprodutivos nos Machos 299

sa de falha reprodutiva humana (Jones, 1980; permatozóides também foram encontrados no


Bronson et aI., 1984). Em contraste, conhece- soro e fluido seminal de touros, porém não há
se ou compreende-se relativamente pouco so- associação entre sua presença e a classifica-
bre a infertilidade imunológica nos animais ção de touros com potencial reprodutor
domésticos. satisfatório ou não (Purswell et aI., 1983).
Os componentes antigênicos do sêmen ori- Anticorpos antiespermáticos podem impe-
ginam-se nos testículos, epidídimos, vasos dir a fertilização pela imobilização dos
deferentes e glândulas acessórias. Eles podem espermatozóides, prejudicando a sua pene-
ser amplamente classificados como aqueles tração no muco cervical, inativando as
presentes no plasma seminal e aqueles liga- enzimas do acrossomo julgadas como essen-
dos aos espermatozóides. Os espermatozóides ciais para a fertilização, inibindo a fixação do
carregam uma mistura de antígenos, incluin- espermatozóide à zona pelúcida ou interferin-
do aqueles específicos dos espermatozóides, do com a mortalidade embrionária (Menge,
antígenos de histocompatibilidade (i. é, aque- 1980). Estes efeitos dos anticorpos foram de-
les responsáveis pela rejeição de tecidos de monstrados experimentalmente com a
implantes), antígenos de grupos sanguíneos isoimunização de fêmeas de várias espécies,
e outros antígenos de tecidos somáticos. Os incluindo vacas, com espermatozóides ou pre-
antígenos espermáticos podem ser parações de "membrana plasmática" de
antigênicos no sistema reprodutivo do macho espermatozóides. Coelhas inseminadas com
(auto-antígenos) ou da fêmea (isoantígenos). sêmen tratado com anti-soro contra um auto-
Dos antígenos espermáticos, aqueles sobre a antígeno de membrana espermática apresen-
suPerncie da membrana plasmática provavel- taram diminuição da fertilidade resultante da
mente são responsáveis pelas falhas inabilidade do espermatozóide em penetrar
reprodutivas. Para se tornarem eficientes, os a zona pelúcida (O' Rand, 1981). Todavia, este
anticorpos contra os espermatozóides devem efeito pode ter sido devido a mais de um me-
entrar no fluido seminal ou no muco cervical canismo porque o soro imune poderia conter
em seguida à deposição no trato feminino. anticorpos contra diferentes antígenos
Uma resposta auto-imune normalmente é espermáticos. Este problema foi contornado
evitada pelo isolamento relativo dos túbulos com o desenvolvimento de anticorpos
seminíferos do resto do corpo - barreira san- monoclonais contra os componentes da super-
guíneo-testicular. Se a barreira for rompida, fície espermática de várias espécies de labo-
anticorpos antiespermáticos são produzidos ratório e do homem. Dois destes anticorpos
e podem atacar os espermatozóides. A orquite monoclonais mostraram significante inibição
alérgica experimental é uma síndrome auto- da fertilidade pós-fertilização na coelha (Naz
imune organo-específica produzida em ani- et aI., 1983).
mais experimentais, como a cobaia, pela in- Anticorpos espermáticos foram implicados
jeção de testículos ou espermatozóides como causa de repetição do cio em bovinos,
autólogos ou homólogos em adjuvante com- porém não houve evidência para indicar que
pleto de Freund, que potencializa a resposta os anticorpos antiespermáticos fossem res-
imune (Jones, 1980). O dano testicular resul- ponsáveis pela fertilidade reduzida em um
ta na destruição das células germinativas e grupo de vacas repetidoras de cio (Farhani et
azoospermia (completa ausência de al., 1981).
espermatozóides na ejaculação) nos animais A gema de ovo e o leite usados nos dilui-
imunizados. Tratamento similar resultou em dores de sêmen podem atuar como antígenos.
aglutininas espermáticas em touros, porém Anticorpos contra antígenos da gema de ovo
apenas um mostrou modificações signi- têm sido detectados no muco e tecidos uterinos
ficantes nas características seminais (Wright, de vacas que foram inseminadas repetida-
1980). Auto-anticorpos contra esper- mente (Griffin et aI., 1971). Em vacas
matozóides foram comunicados no soro de inseminadas com diluidores contendo gema
homens inférteis. Anticorpos anties- de ovo, o índice de fertilidade foi mais baixo
300 Distúrbios Reprodutivos

naquelas com títulos antigênicos uterinos tados. Dietas ricas em proteínas não são es-
para gema de ovo, do que em outras sem títu- senciais para uma ótima produção
los antigênicos uterinos. espermática em carneiros.
Deficiências de Vitaminas. A deficiên-
NUTRIÇÃO E INFERTILIDADE cia de vitamina A ou caroteno na dieta leva a
MASCULINA uma degeneração testicular em todos os ani-
mais domésticos. O efeito da vitamina A so-
Os efeitos de restrições nutricionais sobre bre os testículos provavelmente é indireto e
a fertilidade são mais marcantes na fêmea do devido à supressão de liberação de gona-
que no macho. Deficiências nutricionais re- dotrofinas hipofisárias. Injeções de hormônios
tardam o início da puberdade e deprimem a gonadotróficos ou de vitamina restauram a
produção e características do sêmen. O ani- espermatogênese, com exceção dos casos em
mal jovem em crescimento é muito mais sus- que o dano aos testículos seja permanente.
cetível ao "estresse" nutricional do que os Enquanto que bezerros machos mantidos com
adultos. Além disso, a nutrição afeta mais a dieta baixa de vitamina A mostram modifica-
função endócrina do que a espermatogênica ções degenerativas no epitélio germinativo
dos testículos. Fatores nutricionais comuns dos testículos e azoospermia, touros adultos
incluem deficiências calóricas, protéicas e não apresentam efeitos adversos na esper-
vitamínicas, embora os minerais e agentes matogênese.
tóxicos também possam ser importantes. Bovinos são mais resistentes à deficiência
Subalimentação. .iWesar da capacidade de vitamina A do que os suínos. Por exemplo,
de um reprodutor adulto manter a produção a cegueira noturna e a incoordenação dos
espermática e secreção de testosterona sob movimentos precedem o reconhecimento da
baixos níveis de nutrição, os machos jovens redução da fertilidade em touros adultos, en-
mostram desenvolvimento sexual e puberda- quanto que a degeneração testicular é um dos
de retardados. Isto se deve à supressão da sintomas mais precoces de avitaminose A no
atividade endócrina dos testículos e porco adulto. A vitamina E (tocoferol ou óleo
consequentemente há um retardamento do de germe de trigo) é importante para a repro-
crescimento e da função secretora dos órgãos dução normal, porém seu papel na fertilida-
masculinos da reprodução. Quando touros, de de animais machos domésticos é obscuro.
carneiros e porcos adultos são alimentados Deficiências Minerais. Há uma escassez
com rações de baixo conteúdo energético por de informações relacionadas aos efeitos das
períodos prolongados, a libido e a produção deficiências de minerais traços nas funções
de testosterona são afetadas muito mais pre- reprodutivas masculinas. A deficiência de iodo
cocemente do que as características seminais. foi suspeitada como uma causa de libido po-
Os efeitos da subnutrição podem ser corrigi- bre e características seminais em touros. Uma
dos em animais adultos, enquanto que em melhoria na produção espermática e na ferti-
animais jovens há menos sucesso por causa lidade também foi notada após alimentação
do dano permanente causado ao epitélio suplementar com cobre, cobalto, zinco e
germinativo dos testículos. manganês.
A obesidade e a superalimentação reduzem Agentes Tóxicos. Os estrógenos das plan-
a libido e a atividade sexual em carneiros, tas exercem efeitos adversos sobre os órgãos
porcos e touros, particularmente durante as masculinos acessórios, mas a infertilidade de
estações quentes. ovinos e bovinos em pastagens estrogênicas
A deficiência de proteína afeta mais os ani- está relacionada a modificações no muco
mais jovens do que os adultos. Touros jovens cervical e a uma falha do transporte
submetidos a uma dieta deficiente de proteí- espermático' no trato feminino. Muitos ele-
nas mostram diminuição da libido e das ca- mentos químicos, raros sais metálicos e radia-
racterísticas seminais, enquanto que touros, ções ionizantes interferem com a esperma-
carneiros e porcos adultos são raramente afe- togênese em uma variedade de espécies de
Distúrbios Reprodutivos nos Machos 301

mamíferos, mas sua contribuição à infer- ti~os in bulls. 8th Internat. Congr. Animal Re-
tilidade masculina ainda não foi estabelecida. prado AI. VoI. IV, 710.
Griffin, J.F.T., Nunn, W.R and Hartigan, P.J. (1971).
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humanas. Do ponto de vista reprodutivo, é Menge, A.C.(1980).Clínical immunologic infertility:
importante eliminar os machos afetados por diagnostic measures, incidence of antisperm an-
aberrações cromossômicas, particularmente tibodies; fertility and mechanisms. ln Immuno-
aquelas que resultam em fertilidade diminuí- logical Aspects ofInfertility and Fertility Regula-
da (Capítulo 13). ti~o. D. Dhindsa and G.F.B. Schumacher (eds.).
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13
GENÉTICA DOS DISTÚRBIOS REPRODUTIVOS
M.R. JAINUDEEN e E.S.E. HAFEZ

Várias anormalidades da reprodução mas- somo X na fêmea (sexo homogamético) e um


culina e feminina são determinadas geneti- X ou um Y no macho (sexo heterogamético).
camente, embora o preciso mecanismo gené- A constituição do cromos somo de um ani-
tico não seja bem compreendido. Distúrbios mal pode ser determinada durante a metáfase
genéticos podem ser herdados ou provocados em células que se dividem ativamente tais
por aberrações cromossômicas, fertilização como linfócitos sanguíneos ou fibroblastos da
anormal e mutação. Devido às referências pele. Os cromos somos são fotografados e sis-
feitas neste capítulo sobre mecanismos gené- tematicamente demonstrados (cariótipo) para
ticos, uma breve revisão de alguns conceitos o estudo de seu número, tamanho e morfo-
básicos precede uma descrição dos fatores ge- logia. Cromossomos individuais podem ser
néticos que provocam anormalidades na es- identificados por coloração com quinacrina
trutura e funções do sistema reprodutivo. (banda-Q) ou com Giemsa (banda-G). Os
cromossomos podem ser metacêntricos,
submetacêntricos, acrocêntricos ou telocên-
CONCEITOS GENÉTICOS BÁSICOS tricos (Fig. 13-1), dependendo da posição do
centrômero e do comprimento relativo de seus
Cromossomos braços.

Os cromossomos em todas as células de Genes


mamíferos ocorrem em pares (diplóides) com
exceção dos gametas em que apenas um mem- O material genético carregado pelos
bro de cada par está presente (haplóide). Cada cromossomos é dividido em unidades básicas
membro de um par é similar em tamaqho, conhecidas por genes. Cada gene determina
forma e proporcional ào seu parceiro uma ou mais características ou traços. Um
(cromossomos homólogos). O número diplóide traço, que é determinado por um gene, é her-
(2n) de cromossomos é constante em indiví- dado como um autossomo ou traço ligado ao
duos normais dentro de uma espécie. Um par sexo. Adicionalmente, um traço pode ser do-
de cromossomos em cada célula é conhecido minante ou recessivo. Traços dominantes
como cromossomos sexuais (XX na fêmea e ~ autossômicos afetam tanto os machos, como
no macho), enquanto que os pares não sexu- as fêmeas. Eles tendem a variar considera-
ais são conhecidos por autossomos. Os velmente em sua gravidade (expressividade)
gametas são haplóides e contêm metade do e raramente pulam uma geração (não pene-
número de cromossomos (n) com o cromos- trância). Traços recessivos autqssômicos afe-

302
Genética dos Distúrbios Reprodutivos 303

a produção de dois tipos de indivíduos ou cé-


lulas, euplóides e aneuplóides. As euplóides
possuem números de cromos somos que são
exatamente múltiplos do número haplóide (n)
(Tabela 13-1). As poliplóides são múltiplos
maiores do que o número diplóide e usual-
mente resultam de uma falha da célula em
dividir-se (citoquinese) após o núcleo ter se
dividido (carioquinese). A poliploidia pode
a b c d resultar da fertilização do óvulo por mais de
FIG. 13-1. Tipos de cromossomos: a, metacêntrico; um espermatozóide (poliandria) ou de um
b, submetacêntrico; c, acrocêntrico; e d, telocêntrico. óvulo que falhou na extrusão do segundo cor-
púsculo polar (poliginia) por um único
tam irmãos e irmãs (irmãos perfeitos), porém espermatozóide. O envelhecimento dos
os pais são normais. Desde que não se encon- gametas devido à fertilização retardada pode
tram genes nos cromossomos Y, a hereditarie- aumentar a incidência de embriões
dade ligada ao sexo é sinônima de hereditari- poliplóides. Poliplóides verdadeiros em ani-
edade ligada ao cromos somo X. Traços mais parecem ser letais.
dominantes ligados ao X são raros, enquanto Aneuplóides são indivíduos ou células com
que distúrbios recessivos ligados ao X afetam números irregulares de cromossomos. Eles
,machos e raramente fêmeas. podem ser monossômicos (2n - 1) ou trissô-
micos (2n + 1). Células aneuplóides resultam
MECANISMOS GENÉTICOS da falha de cromátides emparelhadas, usual-
mente um par, em passar para os pólos opos-
Traços Herdados tos do fuso na anáfase de mitose ou de meiose.
Refere-se a isto como uma não disfunção, re-
As anormalidades estruturais e funcionais sultando em trissomia em uma célula e
do sistema reprodutivo podem ser determi- monossomia na outra. Ocasionalmente, a não
nadas geneticamente. Como a maioria resul- disjunção resulta de uma falha de uma
ta de uma interação entre ambiente e cromátide, que se move vagarosamente para
genótipo, é difícil classificá-Ias rigorosamen- o pólo (anáfase tardia), para ser incluída no
te em distúrbios hereditários ou adquiridos. núcleo de qualquer célula filha. Nesta situa-
Experimentos reprodutivos, p. expI., grupos ção, uma célula filha é uma diplóide normal e
de filhas de reprodutores sob diferentes con- a outra é uma monossômica.
dições ambientais, podem ser necessários Um animal que possui duas ou mais popu-
para determinar se o defeito é hereditário ou lações de células pode ser um mosaico ou uma
adquirido. A maioria das anormalidades her- quimera (Tabela 13-1). O mosaicismo ou
dadas sobrevêm de simples herança mixoploidia é comumente devido a diferen-
mendeliana, poucas são adquiridas como li- ças numéricas e é usualmente devido à não
g~das ao s~, e outras como traços poligê- disjunção na mito se. A quimera resulta de
mcos. ) uma transferência placentária ou de troca de
células entre gêmeos dizigóticos, particular-
Aberrações Cromossômicas mente em bovinos.
Aberrações Estruturais. Resultam de
As aberrações cromossômicas podem ser rompimento transverso em um ou mais
divididas em tipos numéricos e estruturais cromos somos com a subsequente reunião das
(Tabela 13-1). . extremidades quebradas de tal modo que a
Aberrações Numéricas. Surgem de dis- ordem linear dos genes fica alterada. Estas
túrbios na distribuição de cromos somos ou alterações podem advir por processos de
cromátides durante a meiose ou mitose com deleção, inversão e translocação (Fig. 13-2).
304 Distúrbios Reprodutivos

TABELA 13-1. Definição de Tipos Comuns de Aberrações Cromossômicas


Tipo de Aberração Definição Exemplo Animais

Numérica Perda ou ganho de cromossomos


Aneuplóide Perda (monossomia, 2n-l) ou ganho (trissomia, 63,XO Égua
2n+1) de um membro de um par homólogo de
cromossomos
Poliplóide Ganho de um (triplóide, 3n), ou dois (tetraplóide, 65,XXY Garanhão
4n) conjuntos de cromossomos homólogos
Mosaico Animal possuidor de duas ou mais populações 60,xx/6O,XY Touro
celulares (diferentes cariótipos) derivadas de
um zigoto
Quimera Animal possuidor de duas ou mais populações 60,XXI60,XY Novilha
celulares (diferentes cariótipos) derivadas de
dois ou mais zigotos
Estrutural Troca de material genético entre cromossomos
não-homólogos
Translocação recíproca Rompimentos em dois cromossomos e troca de 38,XYt(7q-;l1q+) Varrão
segmentos
Translocação robertsoniana Fusão cêntrica de dois cromossomos 59,XYt(lp;2q) Touro
acrocêntricos resultando em um cromossomo
metacêntrico ou submetacêntrico
Fusão tandem Translocação resultando em um grande
cromossomo acrocêntrico
Deleções Modificações estruturais resultando em
rompimento de um cromossomo e perda de
~" material genético

~
.I~ .1
. ~
a
~ ~ O"
O '~ c r~

bU
-

..'

O
I
.
U d
I .I\ J C

FIG. 13-2. Desenvolvimento de aberrações estruturais de cromossomos: a, deleção; b, inversão; c,

translocação recíproca; d, translocaç~obertsOniana.


As duas primeiras usualmente afetam ape- modo que os genes nele ocorrem em ordem
nas um cromos somo, enquanto que a inversa em relação à sua sequência original.
translocação pode envolver um, dois ou mais A translocação envolve o rompimento si-
cromossomos (Figs. 13-3 a 13-5). multâneo dos braços de dois cromossomos não
A deleção é uma modificação estrutural homólogos com troca dos segmentos quebra-
resultante no rompimento de um cromossomo dos, formando dois novos cromossomos.
com uma perda do material genético. A in- Translocações recíprocas envolvem a mútua
versão é o rearranjo de um cromossomo de troca de segmentos entre dois cromossomos.
Genética dos Distúrbios Reprodutiuos 305

configuração meiótica durante o resultado


tipo
pareamento de homólogos

A
inversão cromos somo dicêntrico
paracêntrica ::!1 + fragmento acêntrico
.....

inversão dois cromossomos não-


pericêntrica :lOi ..... JOb balanceados, contendo
duplicações e deleções

FIG. 13-3. Exemplos de falhas meióticas devido a aberrações no balanço cromossômico. Falhas resul-
tantes de inversões paracêntricas e pericêntricas. Diagramas simplificados, é mostrada apenas uma
cromátida de cada cromos somo. Desde que um dos homólogos contém uma região invertida, o pareamento
com o homólogo normal só é possível pela formação de uma alça. Se ocorrer recombinação nessa alça,
formar-se-ão vários cromossomos não-balanceados e fragmentos dicêntricos e acêntricos. A flecha pe-
quena indica o ponto de recombinação (Husslein et aI., 1984).

PARES DE CROMOSSOMOS MEIÓTICA


FIG. 13-4. Pareamento de cromosso-
A & B QUADRIVALENTE
mos homólogos carregando translo-
rações recíprocas durante a primeira
A divisão meiótica. As regiões cromos-
sômicas pertencentes ao cromossomoA
~ estão em branco; aquelas pertencentes
ao cromossomo B estão em preto. Des-
~ B de que todas as regiões homólogas ten-
dem a formar pares, forma-se um
quadrivalente durante a preparação
para a primeira divisão meiótica
A B
(Husslein et aI., 1984).

A translocação robertsoniana ou fusão ANORMALIDADES HEREDITÁRIAS DO


cêntrica é um tipo de translocação recíproca SISTEMA REPRODUTIVO
que ocorre entre dois cromossomos acrocên-
tricos. Defeitos Morfológicos
Nomenclatura. As anormalidades
cromossômicas são expressadas (em ordem) Os defeitos morfológicos do sistema
pelo número de cromossomos seguido pela sua reprodutivo incluem o criptorquidismo,
constituição sexual e depois a aberração hipoplasia das gônadas, defeitos espermá-
cromossômica. A aberração é descrita utili- ticos, anomalias de desenvolvimento dos
zando p e q pa~ os braços curtos e longos, dutos de Müller e aplasia dos dutos de Wolff
respectivamente) do cromos somo; t é utiliza- (Tabela 13-2). O criptorquidismo ocorre mais
do para translocação (rep = recíproco,rob = frequentemente em cachaços e garanhões do
robertsoniana).Os sinais + e - são utilizados que em outras espécies domésticas. Criptor-
para indicar a perda de todo ou de uma por- quídeos bilaterais são estéreis, enquanto que
ção de um cromos somo. Se ela envolve todo o criptorquídeos unilaterais são férteis.
cromossomo, o sinal é colocado antes do Os bovinos Swedish Highland apresentam
cromos somo, enquanto que para uma parte uma forma hereditária de hipoplasia gonadal.
do cromossomo ele é colocado após (Tabela 13- Esta é uma condição em que os testículos ou
1). ovários são total ou parcialmente subdesen-
306 Distúrbios Reprodutivos

falha diagrama resultado

recombinação entre
cromossomos homológos nas
regiões não-homólogas
><

. v~ dupli~ação e deleção
intersticial

recombinação entre
cromossomos não-homólogos
x . ~~ Y",/
".

'...
,'"

translocação recíproca

j
-
recombinação entre os
braços curtos de dois
cromos somos acrocêntricos
./
/, . *
o---
translocaçãorobertsoniana
(fusã?cêntricade dois
cromossomos acrocêntricos
forma um (sub)
cromossomo metãcêntrico

~ ~
o centrômero segmento invertido
11111111111",
segmento duplicado
j ruptura ou recombinação
!-...... segmento translocado
* segmento perdido
Y região ausente
FIGo 13-50 Origem de aberrações cromossômicas devido a falhas envolvendo dois cromos somos (sejam
cromossomos homólogos ou não-homólogos). Duplicação e deleções intersticiais podem resultar pela
recombinação entre cromossomos homólogos em regiões não-homólogas. O segmento perdido por um
cromos somo é inserido dentro do outro homólogo, resultando em duplicação do segmento envolvido. A
translocação recíproca é devido a troca de segmentos cromossômicos entre cromossomos não-homólogos
após um evento de recombinação irregular. Na translocação robertsoniana, dois cromossomos acrocêntricos
fundem-se pela perda dos braços pequenos e curtos. Apenas um dos centrômeros permanece ativo (Husslein
et aI., 1984).

volvidos e sem células germinativas. Touros machos pode levar à esterilidade ou infer-
e vacas afetados são estéreis ou apresentam tilidade, dependendo se for bi ou unilateral.
fertilidade reduzida (Leipold et aI., 1983).
Vários defeitos estruturais dos esperma-
tozóides podem causar esterilidade ou Distúrbios Funcionais
subfertilidade em touros (Tabela 13~) pela
interferência com a fertilização. Algghs des- Alguns distúrbios funcionais apresentam
tes defeitos espermáticos são hereditários; uma predisposição genética. Os animais sus-
contudo, a maneira da herdabilidade não é cetíveis desenvolvem o problema somente sob
suficientemente clara porque apenas poucos certas condições ambientais, p. ex., cistos ova-
animais e parentes dos afetados foram inves- rianos e libido em bovinos. Vacas afetadas
tigados. As anormalidades de desenvolvimen- apresentam a tendência de produzir uma alta
to dos dutos de Müller resultam em uma bar- proporção de filhas com a mesma condição.
reira estrutural à fertilização em novilhas, Um efeito por parte do macho já foi também
enquanto que a aplasia dos dutos de Wolff em comunicado. Na Suécia, a condição foi con-
Genética dos Distúrbios Reprodutiuos 307

TABELA 13-2. Algumas Anormalidades Herdadas do Sistema Reprodutivo


Masculino e Feminino
Animais
Anormalidade Metados Modo de Herança Problema Reprodutivo

Criptorquidismo Varrão Traço limitado ao sexo Distúrbio na


espermatogênese
Garanhão
Hipoplasia gonadal Touro Gene recessivo autossômico de E sterili dade/inf ertili dad e
penetrância incompleta
Vaca
Defeitos do sistema do duro de Vaca Gene único recessivo limitado Esterilidade
Müller (doença da novilha branca) ao sexo para pelame branco
Pseudo-hermafrodita masculino Cabra Gene autossômico dominante Esterilidade
para ausência de chifres
Porca Herdado (?) Esterilidade
Defeitos espermáticos Varrão Herdado (?) Infertilidade
Touro
Ovários císticos Vaca Herdado (?) Anestro/ninfomania

TABELA 13-3. Alguns Defeitos Espermáticos Herdados que Metam a Fertilidade


de Bovinos
Defeito Descrição do Defeito Fertilidade

,Diadema defeito Formação de bolsas nucleares Infertilidade


Knobbed sperm Espessamento do acrossomo Esterilidade
Decapitados Anormalidade ultra-estrutural no colo do espermatozóide Esterilidade
Coto esterilizante da cauda Defeito da cauda Esterilidade
Dag defect Peça principal fortemente enrolada Infertilidade
Pseudogota Espessamento arredondado ou alongado da peça intermediária Esterilidade
Saca-rolhas Defeito da cauda Infertilidade

trolada pela restrição da utilização de touros ticularmente aqueles que transmitem fertili-
cujas filhas apresentavam alta incidência de dade diminuída.
ovários císticos. A impotência em touros pode
ter um fundo hereditário porque existem Malformações Congênitas
grandes diferenças entre raças na frequência
de impotência em touros suecos. Estas varia- Algumas malformações do sistema
ções indicam que a má libido está bastante reprodutivo presentes ao nascimento (congê-
condicionada pelo genótipo do animal. nitas) são causadas por aberrações cromos-
sômicas, usualmente associadas com os
ABERRAÇÕES CROMOSSÔMICAS cromos somos sexuais.
Hipoplasia Testicular. A hipoplasia tes-
Qualquer aberração cromossômica, seja ticular associada a urna constituição
transmitida por gametas ou originada em cromossômica sexual anormal (XXY) no ho-
embriões, pode resultar em defeitos mem é conhecida por síndrome de Klinefelter.
fenotípico~u pode provocar urna falha na A duplicata desta síndrome foi comunicada
reprodução. f\berrações estruturais e numé- em touros, carneiros e porcos inférteis (Tabe-
ricas dos cromos somos sexuais ou dos la 13-4).
autos somos representam um papel importan- Hipoplasia Ovariana. A monossomia do
te em falhas reprodutivas no homem e em cromos somo X (XO) ou síndrome de Turner
animais domésticos (Hare e Singh, 1979; de mulheres ocorre em éguas. A condição é
Gustavsson, 1984). Do ponto de vista resultante da não-disjunção durante a
reprodutivo, é importante eliminar machos gametogênese. O zigoto aneuplóide é forma-.
afetados por aberrações cromossômicas, par- do quando um óvulo normal une-se com um
308 Distúrbios Reprodutivos

espermatozóide com falta de um cromossomo (Long, 1979). Alternativamente, estas célu-


sexual (Tabela 13-4). Estas éguas (63,XO) são las germinativas não são viáveis e podem re-
caracterizadas por genitália externa normal, sultar em infertilidade (Dunn et aI., 1979).
baixa estatura, útero flácido, pequenos ová- Aproximadamente 18% de novilhas
rios inativos, ausência completa de atividade repetidoras de cio apresentaram anormalida-
ovariana e, consequentemente, anestro. Este des cromossômicas numéricas (Swartz e Vogt,
é uma causa importante de esterilidade na 1983) que incluíam mosaicos tetraplóides/
égua (ver Bruere, 1980). Éguas com mosaico diplóides, quimeras, mosaicos trissômicos X
(Tabela 13-4) apresentam um padrão irregu- e mixoplóides (Tabela 13-4). Uma fertilidade
lar de ciclos estrais sem ovulação; fêmeas diminuída foi comunicada em novilhas com
fenotípicas podem apresentar um histórico de Trissomia X e translocação 1/29, em novilhas
anestro ou atividade irregular do ciclo estral. inférteis (Pinheiro et aI., 1987) e em vacas que
Em geral, elas possuem úteros pequenos e apresentaram ser heterozigóticas para a
ovários inativos destituídos de atividade translocação cromossômica 1/29 (Maurer e
folicular. A trissomia-X, associada com ová- Vogt, 1988). Estas aberrações podem causar
rios hipoplásicos também foi comunicada em infertilidade.
éguas com fenótipos normais e em novilhas. As translocações são de interesse conside-
rável na citogenética animal, desde que são
Esterilidade e Infertilidade as formas mais comuns de rearranjos cromos-
sômicos em animais domésticos (Bruere,
o mosaicismo .(60 XX/60 XY) e o 1980).
quimerismo (60 XX/60 XY) causam hipoplasia
testicular em bovinos e, dependendo da gra- Mortalidade Pré-natal
vidade da condição, infertilidade ou esterili-
dade. Touros quiméricos (Tabela 13-4) nas- Aberrações cromossômicas são causas im-
cem gêmeos com novilhas ou sozinhos, com a portantes da maioria dos abortamentos es-
morte da fêmea gêmea in utero (ver a seção pontâneos em mulheres durante o primeiro
seguinte sobre freemartinismo). A presença trimestre. Muitas destas anormalidades
de células germinativas XX nos testículos do cromossômicas incluem monossomias
touro gêmeo não leva a um excesso de autossômicas, triploidia, translocações
espermatozóides portadores de X, que muda- (ambas recíprocas e robertsoniana em um dos
ria a proporção sexual a favor das fêmeas progenitores), inversões e mosaicos.

TABELA 13-4. Falhas Reprodutivas Associadas com Aberrações Cromossômicas


Falha Aberração
Reprodutiva Espécie Cromossômica Cariótipo

Hipoplasia testicular Bovina Trissomia-X 61,XXY


Quimera 60,XX/XY
Ovina Trissomia-X 55,XXY
Suína Trissomia-X 39,XXY
Hipoplasia ovariana Equina Monossomia-X 63,XO
Trissomia-X 65,XXX
Mosaico 63,XO/64,xx
)vina Trissomia-X 61,XXX
Repetição do cio ~Zvina Mosaico 60,xxJ60,XY
Mosaico 59,xO/60,XX
Mixoploidia 59,XO/60,XX/61,XXX
Infertilidade Bovina Robertsoniana 59XY,tOq;29q)
Translocação
Mortalidade embrionária Suína Recíproca 38,XY,t(7q-;llq+ )
Translocação 38,XY,t(13q-;4q+ )
(Dados de Blue et aI., 1978; Bongso et al., 1981; Bruere, 1974; Chandley et aI., 1975; Dunn et aI., 1981; Gustavsson,
1984; Hancock and Daker, 1981; King et al., 1981; Norbert et aI., 1976; Swartz and Vogt, 1983).
Genética dos Distúrbios Reprodutivos 309

Aberrações cromossômicas são relaciona- (Tabela 13-5). Nenhum dos animais exibia
das a mortalidade embrionária. Aproximada- comportamento semelhante ao do garanhão
mente 10% dos blastocistos suínos mostram (Dunn et aI., 1981). Provavelmente o
anormalidades cromossômicas comotriploidia quimerismo resultou de fertilização dupla ou
e tetraploidia. Uma monossomia foi descrita fusão de blastocistos, enquanto que o
em suínos (Gustavsson, 1984), que em mui- mosaicismo resultou da perda de um
tos aspectos é similar à sindrome de Turner cromossomo Y pelo retardamento da anáfase
descrita em mulheres nas quais o componen- das células embrionárias precoces XY.
te genético é com frequência letal ao feto, re- Pseudo-hermafroditas. Nos pseudo-
sultando em abortamento espontâneo. Pelo hermafroditas, existe uma discrepância en-
menos 14 translocações recíprocas foram tre a genitália externa e o sexo gonadal ver-
registradas no suíno doméstico (Gustavsson, dadeiro. Assim, um pseudo-hermafrodita
1984).Amaioria delas é encontrada em cacha- masculino possui testículos e genitália exter-
ços que produzem leitegadas pequenas (Fig. na feminina, enquanto que um pseudo-
13-6). hermafrodita feminino possui ovários e
Em bovinos, a translocação robertsoniana genitália externa masculina. Os pseudo-
1/29 foi registrada no sentido de aumentar a hermafroditas são mais comuns do que os
incidência de retornos atrasados ao cio (mor- verdadeiros hermafroditas.
talidade embrionária) entre filhas de touros Pseudo-hermafroditas masculinos possuem
portadores. testículos retidos e várias combinações de
estruturas masculinas e femininas de modo
Intersexualidade que a genitália externa frequentemente é
bastante ambígua. O complemento cromos-
Um intersexo é um animal com malfor- sômico sexual pode ser XY ou XX. Como o
mações congênitas do desenvolvimento sexu- desenvolvimento dos órgãos genitais acessó-
al que confunde o diagnóstico do sexo. Os rios depende de substâncias produzidas pe-
intersexos são divididos de um modo amplo las gônadas, o pseudo-hermafrodita masculi-
em três grupos: hermafroditas verdadeiros, no pode resultar de uma falha de produção
pseudo-hermafroditas masculinos e femininos normal pelos testículos ou de uma falha da
e freemartins, embora alguns intersexos po- resposta a estas substâncias pelos órgãos-
dem classificar-se em mais de um grupo (Ta- alvo.
bela 13-5). A síndrome de feminização testicular no
Hermafroditas Verdadeiros. Apresen- homem (46 XY) é um exemplo de um pseudo-
tam várias combinações de ovários, testícu- hermafrodita masculino XY. Nestes casos, o
los e ovotestes. Existem vários graus de bis- sexo genético e gonádico é masculino, porém
sexualidade nos órgãos sexuais acessórios, o fenótipo, o comportamento e o sexo legal são
presumivelmente dependendo da produção femininos. Alguns casos similares à
hormonal pela gônada embrionária. O feminização testicular foram descritos em
hermafroditismo verdadeiro ocorre mais fre- bovinos (Tabela 13-5).
quentemente em suínos e caprinos do que em Pseudo-hermafroditas masculinos com
bovinos e equinos. Seria de esperar que os constituição cromossômica sexual XX ocorrem
hermafrod.i\as verdadeiros fossem mosaicos frequentemente em caprinos e suínos (Tabe-
XX/XY.Alg$s são, porém a maioria possui la 13-5). A condição é associada com um gene
uma constituição cromossômica sexual XX autossômico dominante para ausência de chi-
normal. fres em caprinos. As gônadas consistindo de
Os hermafroditas equinos verdadeiros são tecido testicular são localizadas dentro do
raros. Dois hermafroditas equinos verdadei- abdômen ou no canal inguinal. Todos os ani-
ros com quimerismo apresentavam ovoteste mais são fêmeas geneticamente, e o comple-
bilateral, um pênis subdesenvolvido, mento cromossômico pode ser 38,xx, 38,XX/
vesículas seminais bilaterais e tecido uterino XY ou 38,XXY.
310 Distúrbios Reprodutivos

FIG. 13-6. A, Cariótipo de um varrão com a t(9p+;l1q-), produtor de pequenas leitegadas, porém com
comportamento sexual e qualidade do sêmen normais; B, Cariótipo da porca com a rcp(lp-;8q+) que
produziu a leitegada. (Gustavsson, r. et aI. (1983). Ocorrência de duas translocações recíprocas diferen-
tes na mesma leitegada de porcos domésticos. Hereditas, 99, 257.)
Genética dos Distúrbios Reprodutivos 311

FIG. 13.6 (cont.). C, A translocação rcp(lp-;8q+) da porca foi transmitida para toda a descendência,
enquanto que a translocação t(9p+;l1q-) do varrão foi encontrada em apenas dois leitões.

)
312 Distúrbios Reprodutivos

FIG. 13.6 (cont.). D, cariótipo de um embrião sem balanço cromossômico, der(1l)t(9p+;llq-), rcp(lp-
;8q+), recolhido no 21Qdia de gestação. A escala indica 10 /.lm. (Gustavsson, I. et aI. (1983). Ocorrência de
duas translocaçães recíprocas diferentes na mesma leitegada de porcos domésticos. Hereditas, 99, 257.)

J
~

TABELA 13-5. Números de Cromossomos e Anormalidades Reprodutivas em Intersexos


Síndrome Espécie* Cariótipo Gônadas Genitália Externa Comportamento Sexual
Hermafroditismo Caprina 60,XX/60,XY; 60,XX Ovotestes Feminina Feminino
verdadeiro Suína 38,XX;38,XX/38,XY Ovotestes Feminina Feminino
38,XY;38,XX/39,XXY Ovotestes Feminina Feminino
37,XO/38,XX/38,XY Ovotestes Feminina Feminino
Equina 64,XX/64,XY; 63,XO/64 Ovotestes Pênis subdesenvolvido Ausência de
Comportamento masculino
Pseudo-hermafrodita Bovina 60,XX/60,XY; 60,XX/90,XXY Ovário e ovotestes Pênis Masculino

Masculino Caprina 60,XX; 60,XY Testículos hipoplásicos Feminina Masculino


60,XX/60,XY
Suína 38,XX; 38,XX/XY Testículos Feminina Masculino
39,XXY
Equina 64,XX; 64,XX/64,XY Testículos retidos Clitóris aumentado e pênis Masculino
rudimentar
Bovina 60,XY; 60,XX/XY Testículos criptorquídeos Clitóris aumentado Masculino
tBovina 60,XY Testículos abdominais Feminina Anestro ~
~
<,:>,
tOvina 54,XY Testículos Feminina Anestro ....

Feminino (raro) 2n,XX Ovário Masculina ? 2'


Freemartin Bovina 60,XX/XY Ovotestes Clitóris aumentado Anestro R-
o
'"
* As espécies estão distribuídas em ordem decrescente de incidência para cada síndrome. t::J
;;.
tSíndrome de feminização testicular. ~
....
(Bishop, 1972; Dunn et aI., 1981; Hare & Singh, 1979; Marcum, 1974) o-
õ'
'"
~
~
d
R-
I::
....
;:;.
o'"

c.o
......
c.o
314 Distúrbios Reprodutivos

A maioria dos intersexos nos equinos é Contudo, tentativas de induzir experimental-


pseudo-hermafrodita masculino. Esta condi- mente a síndrome freemartin não obtiveram
ção foi confundida com criptorquidismo uma sucesso.
vez que os testículos frequentemente ficam A teoria celular para indução do freemar-
retidos. Os animais afetados apresentam um tinismo é baseada na troca de células que ori-
clitóris aumentado ou um pênis pequeno lo- ginam o sangue e células germinativas entre
calizado na região perineaI. Os cariótipos são os fetos. Como resultante desta troca recípro-
aqueles de fêmeas normais ou mosaicos (Ta- ca entre os gêmeos dizigóticos, ocorrem idên-
bela 13-5). Os testículos não contêm células ticos tipos de antígenos eritrocitários em
germinativas, portanto os animais afetados ambos os gêmeos e aparece um quimerismo
são estéreis. sexual cromossômico (60,XX/XY) nos
Freernartinisrno Bovino. O freemarti- leucócitos mononucleares sanguíneos. Ainci-
nismo resulta da modificação sexual de uma dência de gêmeos em bovinos é baixa. Apro-
fêmea gêmea pela troca sanguínea in utero ximadamente 92% das fêmeas gêmeas hete-
de um feto macho (Fig. 13-7). A síndrome rossexuais são freemartins. Nos outros casos,
freemartin é conhecida desde tempos muito as anastomoses vasculares alantóides ou dei-
antigos. Um freemartin é uma fêmea genéti- xam de desenvolver-se ou aparecem após o
ca na concepção porém torna-se uma quime- estágio crítico na organogênese.
ra 60,XX/XY devido a seus tecidos hemato- Ocasionalmente, um animal que nasce de
poéticos e possivelmente gonadais. As parto único, é uma quimera (Wijeratne et aI.,
gônadas do freemartin, que variam desde ová- 1977). É possível que um dos gêmeos degene-
rios modificados até estruturas lembrando re no início da gestação e o gêmeo sobrevi-
testículos, são intra-abdominais e raramente vente exiba quimerismo.
migram através do canal inguinaI. Não há A síndrome freemartin geralmente refere-
evidência de espermatogênese e a testoste- se a bovinos, todavia ela foi descrita também
rona parece ser o principal esteróide produ- em outros animais domésticos, como caprinos,
zido pela gônada do freemartin. ovinos e suínos.
Duas teorias foram propostas para expli-
car o freemartinismo: a teoria hormonal e a Híbridos
teoria celular. De acordo com a teoria
hormonal, os hormônios do macho gêmeo que Híbridos são produtos resultantes do
alcançam a fêmea através de anastomoses acasalamento de duas espécies intimamente
vasculares entre as placentas unidas provo- relacionadas, p. ex., égua e jumento, bovino e
cam masculinização da gônada feminina. bisão. Alguns híbridos interespecíficos são
férteis, outros são subférteis e muitos são es-
téreis. Os híbridos de interesse são aqueles
@+@ resultantes do cruzamento de bovinos domés-
honnonios masculinos
ticos (Bos taurus) com gado Zebu (Bos
gônoda aiterada indicus), bovinos com bisão (Bison bison) e o
Ó/9siste~a búfalo de rio (Bubalus bubalis) com o búfalo
. de dueto
9 ge ' ália extema do pântano (B. bubalis).
0----
j9 Tanto o B. taurus quanto o B. indicus pos-

~
t

.I~
v suem um número cromossômico diplóide de
60, consistindo de 58 autos somos acrocên-
tricos e os cromossomos sexuais. Há uma di-
ferença aparente entre os cariótipos das duas
espécies. O cromossomo Y é acrocêntrico no
B. indicus e submetacêntrico no B .taurus.
FIG. 13-7. Ilustração esquemática da etiolo- Duas formas de cromossomos Y são encontra-
gia do bovino "freemartin". das no híbrido, dependendo da raça do
Genética dos Distúrbios Reprodutivos 315

TABELA 13-6. Anormalidades Cromossômicas em Diferentes Estágios de


Desenvolvimento
Estágio Anomalias Citogenéticas
Gametogênese materna Divisão somática das oogônias antes do início da meiose ou durante a primeira ou
segunda divisão meiótica
Gametogênese patema Divisões mitóticas enquanto o macho está in utero ou durante a pós-puberdade;
primeira ou segunda divisão meiótica após a puberdade
Fertilização Cromos somos normais com erros durante a fertilização; fertilização de um ovo normal
por dois espermatozóides normais
Zigoto Divisão imprópria de um ou mais cromossomos, retardamento da anáfase ou não
disjunção; falha na divagem de blastômeros ou embrião mosaico

reprodutor utilizado para estabelecer o reba- mulus mulus, 2n = 63), proveniente de um


nho fundamental (Potter et aL, 1979). A "li- jumento (2n = 62) e de uma égua (2n = 64)
nha" híbrida de bovinos baseada em touros geralmente é estéril em ambos os sexos.
Brahman possui um cromos somo Y Uma gestação híbrida que usualmente não
acrocêntrico, enquanto que os bovinos basea- se desenvolve até o final ocorre entre o ovino
dos em touros Africander apresentam um doméstico COuis aries, 2n = 54) e caprino do-
cromos somo Y submetacêntrico. méstico (Capra hircus, 2n = 60).
Os bovinos domésticos e o bisão têm um
" número 2n de cromos somos = 60. A única di-
ferença cromossômica é que o cromos somo Y REFERÊNCIAS
é acrocêntrico no bisão e submetacêntrico no
bovino. A fêmea híbrida FI é fértil, ao passo Bishop, M.W.H. (1972). GeneticalIy determined ab-
que o macho é estéril. Catalos e beefalos são normalities of the reproductive system. J. Re-
produtos de pais com proporções variáveis de prod. Fertil. 8uppl. 15, 51.
sangue de bovinos e de bisão. Blue, M.G., Bruere, A.N. and Dewes, H.F. (1978). The
Em muitos países, os programas de cruza- significance of the XO syndrome in infertility of
the mare. N.Z. Veto J. 26, 137.
mento estão progredindo a fim de fertilizar o
Bongso, T.A. and Jainudeen, M.R (1979). The karyo-
tipo de búfalo do pântano com sêmen do tipo type of the cross-breed between the Murrah and
de búfalo do rio. O número cromossômico Malaysian Swamp buffalo (Bubalus bubalis). Kaj-
diplóide dos tipos pântano e rio é 48 e 50, res- ian Veto 11, 6.
pectivamente (Bongso e Jainudeen, 1979). A Bongso, TA, Jainudeen, M.R and Lee,J.Y.S. (1981).
Testicular hypoplasia in a buli with XX/XY chi-
redução de 2 no número diplóide nO tipo pân- merism. ComelI Veto 70,376.
tano é devido a uma fusão do cromossomo 9 Bruere, A.N. (1974). Normal behavioUr patterns and
ao cromossomo 4 (Di Berardino e Iannuzi, libido in chromatin-positive Kleinfelter sheep.
1981). O híbrido FI pântano x rio possui um Vet. Rec. 95, 436.
cariótipo intermediário de 2n = 49 com um Bruere, A.N. (1980). The application of cytogenetics
to domestic animais. Vet. Ano. 20, 29-40.
dos cromos somos unido (4/9). Todavia, dife- Chandley, A.c., Fletcher, J., Rossdale, P.D., Peace,
rentemente de outros moridos interespecíficos c.K., Ricketts, S.W., McEnery, RJ.. Thome,J.P.,
que possuem complementos cromossômicos 8hort, RV. and AlIen, W.R (1975). Chromosome
diferentes das espécies de seus progenitores, abnormalities as cause of infertility in mare. J.
Reprod. Fertil. Supp. 23, 377.
ambos os mac~os e fêmeas FI são férteis. Ano-
Di Berardino, D. and Iannuzi, L. (1981). Chromo-
malias crom}ssômicas parecem ocorrer em some banding homologies in swamp and Murrah
diferentes estágios do desenvolvimento (Ta- buffaloes. J. Heredity 72, 183.
bela 13-6). Dunn, H.O., McEntee, K. and Hansel, W. (1970). Dip-
Os equídeos são notáveis pelo grande nú- loidtriploid chimerism in a bovina true ber-
mero possível de moridos viáveis, mesmo com maphrodite. Cytogenetics 9, 245.
Dunn, H.O., McEntee, K., HalI, C.E., John50n, RH.
grandes diferenças cromossômicas entre es- and Stone, W.H. (1979). Cytogenetics and repro-
pécies. A maioria destes híbridos interes- ductive studies of bulls bom co-twin with free-
pecíficos são estéreis. O híbrido mula (Equus martins. J. Reprod. Fert. 57, 21.
316 Distúrbios Reprodutivos

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)
IV. ciclos
reprod li ti vos
14
BOVINOS E BUBALINOS

M.R. JAINUDEEN e E.S.E. HAFEZ

Os bovinos domésticos (Bos taurus, Bos A idade do primeiro cio em novilhas varia
indicus), os bubalinos (Bubalus bubalis), o consideravelmente, na maioria devido à raça
búfalo selvagem africano (Syncerus caffer) e e à diferença no grau de crescimento. Uma
o "búfalo" norte-americano (Bison bison) são baixa ingestão no nível de nutrientes e um
da família Bovidae, porém pertencem a dife- crescimento vagaroso retardam a puberdade
rentes gêneros e possuem diferentes núme- em novilhas durante semanas, ao passo que
ros de cromossomos. um nível alto de nutrição e um rápido cresci-
Os bovinos e os bubalinos foram domesti- mento aceleram a puberdade. A idade média
cados para tração, leite e carne ao redor do da puberdade para grupos. de novilhas sob
mesmo período na história. O búfalo aquáti- níveis recomendados de nutrição situa-se en-
co, como o próprio nome demonstra, possui tre 10 e 12 meses para raças leiteiras e entre
predileção pela água; várias características o 11 a 15 meses para raças de corte. Novilhas
distinguem dos bovinos. Muitos aspectos da zebus atingem a puberdade do& 18 aos 24
reprodução são similares em bovinos e meses. Todavia, diferenças raciais da idade
bubalinos, porém a extrapolação indiscrimi- na puberdade não são afetadas pela nutrição.
nada dos fenômenos reprodutivos e da eficiên- A estação do ano afeta a idade da puberdade.
cia dos bovinos para os bubalinos deve ser Condições de inverno durante o período pré-
evitada. puberal atrasam a puberdade. Se as novilhas
forem nutridas adequadamente, o cio normal-
BOVINOS mente ocorre regularmente após o cio da pu-
berdade.
Puberdade
Macho
Fêmea
A puberdade no macho é a idade em que a
Puberdade é a idade em que ocorre o pri- ejaculação contém espermatozóides suficien-
meiro cio acompanhado de ovulação espontâ- tes para fecundar uma vaca. Em bovinos, ela
nea. Uma ou mais ovulações "silenciosas" ocorre quando a primeira ejaculação contém
podem ocorrer antes das novilhas apresenta- 50 milhões de espermatozóides com pelo me-
rem sintomas típicos de cio acompanhado de nos 10% de motilidade progressiva.
ovulação, porém a frequência das ovulações Enquanto bezerro, o pênis fica firmemen-
"silenciosas" pode depender em larga escala te aderente dentro da bainha pelo freio
da eficiência de detecção do cio. prepucial, impedindo-o de estender-se; 2 a 4

319
320 Ciclos Reprodutivos

meses antes da puberdade, ocorre uma expostas a fotoperíodos mais prolongados


protrusão parcial do pênis durante a monta, durante o final da gestação e parindo no ve-
seguida da separação do pênis da bainha e rão e inverno reassumem a ciclicidade ovaria-
completa ereção, e eventualmente por cober- na mais cedo do que aquelas cujo parto ocor-
tura e ejaculação. re na primavera (King e Macleod, 1984; Peters
A diferenciação celular ocorre gradualmen- e Riley, 1982).
te no epitélio seminífero dos testículos duran-
te a infância, com espermatozóides maduros Modificações Cíclicas
presentes nos túbulos seminíferos ao redor de
5 meses de idade. Os testículos produzem Modificações morfológicas, endócrinas e
crescente número de espermatozóides à me- secretoras ocorrem nos ovários e na genitália
dida que se aproxima a puberdade. tubular da vaca durante o ciclo estral (Fig.
Uma das primeiras modificações no início 14-1). O conhecimento destas modificações é
da puberdade do touro é um aumento na útil na detecção e sincronização do cio, na
frequência da liberação pulsátil de LH entre superovulação e na inseminação artificial.
12 e 20 semanas. Estas descargas de LH esti- Vários milhões de folículos estão presen-
mulam as células de Leydig a secretar tes em cada ovário da vaca, porém apenas um
testosterona, que é necessária para a diferen- ovula por ciclo estral. Duas ondas de ativida-
ciação das células de Sertoli e para a esper- de ovariana ocorrem durante o ciclo estral
matogênese. bovino. A primeira ocorre precocemente no
As raças diferem na idade e no peso ciclo e a segunda na metade do ciclo. Da pri-
corpóreo na puberdade. Touros holandeses meira onda, um pequeno folículo (menos de 5
atingiram a puberdade antes do que mm) cresce dentro de um grande folículo
Herefords e Angus, estando os touros (mais de 10 mm) entre o quinto e o décimo-
Charoleses situados entre os outros. Touros primeiro dia, entrando então em atresia.
de corte provenientes de cruzamentos geral- Embora este folículo não ovule, ele secreta
mente atingem a puberdade mais cedo que níveis similares de estradiol como um folículo
outros de raças puras. Touros zebus atingem ovulatório. Da segunda onda, grandes folí-
a puberdade em idade mais avançada do que culos produtores de estrógenos rapidamente
a maioria das raças bovinas de zonas tempe- regridem (Matton et aI., 1981; Staigmiller e
radas. Presumivelmente esta diferença está England, 1982). Assim, pelo menos um gran-
associada com o crescimento mais rápido de de folículo fica presente no ovário bovino du-
touros cruzados. Depois que os touros atin- rante o ciclo estral, aparentemente controlan-
gem a puberdade, os testículos continuam a do o destino de outros folículos no ovário.
crescer e o número de espermatozóides por Apenas um ou dois grandes folículos, pre-
ejaculado aumenta até 18 a 24 meses de ida- sentes proximamente ao início do estro, atin-
de em touros leiteiros e de corte. gem o jato final de crescimento que leva aos
folículos de Graafmaduros, aptos à ovulação
Estação Reprodutiva (Staigmiller e England, 1982).
O folículo se colapsa após a ovulação. Nes-
Muitas espécies selvagens de bovídeos são te local não ocorre hemorragia; em vez disso,
reprodutoras estacionais sendo que os meses a cavidade preenche-se gradualmente com
de primavera e verão são os mais apropria- células luteínicas. O corpo lúteo atinge a ma-
dos do ano para os partos. Durante o curso turidade cerca de 7 dias após a ovulação e age
da domesticação, tanto as raças leiteiras ativamente por mais 8 a 9 dias antes de fi-
quanto as de corte foram selecionadas contra nalmente .regredir.
a estacionalidade, facilitando-as no sentido de O crescimento folicular, a ovulação e a fun-
ovular e conceber durante o ano todo. Toda- ção luteínica são regulados pelo eixo hipo-
via, vacas de corte podem ainda ser sensíveis tálamo-hipófise-ovariano. O folículo de Graaf
ao fotoperiodismo. Por exemplo, vacas de corte secreta estrógenos, particularmente o
Bovinos e Bubalinos 321

G~
onda de LH

FIG.14-1. Modificações endócrinas,


fisiológicas e comportamentais re-
lacionadas com o "cio em estação"
(imobilidade para ser montada) na
vaca. Durante o proestro, o folículo
pré-ovulatório secreta quantidades
crescentes de estradiol; nesta fase,
a vaca pode montar outras vacas e
começar a secreção de muco cervical.
-3 -2 2 3 4 5 6 7 8 Por ocasião do início do cio, níveis
dias máximos de estradiol desencadeiam
,-, uma onda de LH que provoca a ovu-
-s.~/ \ lação cerca de 10 a 12 horas após o
fim do cio; o tônus uterino é máxi-
r}<'~// \
~/ \ mo e o muco cervical copioso e aquo-
--/' ..,. \ ""'- so. Enquanto o corpo lúteo em cres-
!f.e'(o~ "
cimento secreta quantidades
~ICO~,e"} crescentes de progesterona, ocorrem
duas ondas de folículos, uma preco-
cemente no início do ciclo e a outra
ovulação
na metade da fase luteínica. (Níveis
I . hormonais adaptados de Hansel, W.
8 ~f) e Convey, E.M. (1983) J. Anim. Sei.
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57, Suppl. 2, 404.)

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cio em
estação
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estradiol-17~ Os crescentes níveis de estradiol estrógenos. Alterações na viscosidade, na con-
induzem o cio comportamental e, em combi- figuração de samambaia e na resistência elé-
nação com os níveis em declínio de trica são a base para alguns métodos de
progesterona, acionam a onda de LH. Estan- detecção do cio na vaca (Tabela 14-1). O muco
do presente um folículo maduro, esta onda de cervical é menos viscoso no dia do cio e apre-
LH irá induzir a ovulação cerca de 24 horas senta-se como um filamento de muco claro
após. saindo da vulva. O estrógeno também dilata
As propriedades físico-químicas do muco a cérvice durante o cio de modo que um cate-
cervical ficam alteradas sob a influência de ter pode ser introduzido no útero mais rapi-
322 Ciclos Reprodutivos

TABELA 14-1. Métodos de Detecção do Cio em Bovinos


Princípio Método de detecção Comentários

Comportamento Observações duas vezes ao dia


sexual (imobilização
para ser montada) Observações À noite (valor limitado)
Visual
Videotape
Rufiões com dispositivos Rufiões são (a) touros preparados cirurgicamente para
marcadores evitar a liberação de espermatozóides ou a cópula;
(b) novilhos tratados com testosterona e (c) vacas
com cistos ovarianos ou tratadas com
androstenediona.

Dispositivo de cobertura Um arreio com um reservatório de corante que é


"chin-ball" liberado por um mecanismo tipo bola e marca uma
linha na porção traseira da vaca.
Graxa Espalhada no peito
Coleira Um coxim embebido em corante ou gr~a
Detectores sobre as vacas Aplicados no ponto de pressão máxima durante a
monta - coluna sacral (a detecção é contínua)
Detector de cio com monta Liberação de corante sob pressão (inviável em clima
(KaMaR) úmido)

Modificações Tinta na cauda Remove o pêlo do local quando montada


fisiológicas
relacionadas ao cio Progesterona Níveis basais no leite ou plasma;
confirmação retrospectiva do cio
Muco cervical Alterações nas propriedades físico-químicas
Folha de samambaia Máximo em muco seco sobre uma lâmina

Viscosidade Diminuída

Resistência elétrica Diminuída quando medida por um eletrodo vaginal

pH vaginal Diminuído

Tônus uterino Máximo na palpação retal

Odores relacionados ao cio Cães treinados para detectar odores no muco vaginal,
leite ou urina

Temperatura do corpo Um aumento de 0,5 a 0,8°C durante o cio mas cai na


ovulação; medida radiotelemétrica da temperatura
vaginal
Atividade física Aumentada quando medida por pedômetros eletrônicos

(Adaptado de Foote (1975). J. Dairy Sei. 58, 248; Britt (1977 ). J. Dairy Sei. 60, 1345; Kiddy et aI.
(1983). J. Dairy Sei. 67, 388; Vasquez et aI. (1984). Proe. 10th Int. Congr. Anim Reprod. & AI, III,298;
Zartman et aI. (1983). Theriogenology 19, 541).

damente do que em qualquer estágio do ciclo passo que seu tônus atinge o pico durante o
estral. cio e então diminui após a ovulação. Desde
O estrógeno aumenta a contratilidade e a que o tônus uterino é um bom indicador do
tonicidade do útero. O útero é flácido e não cio e pode ser detectado por palpação retal,
apresenta tônus durante a fase luteínica, ao ele é utilizado pela maioria dos inseminadores
Bovinos e Bubalinos 323

para certificarem-se que as vacas submetidas quer distração em relaçãO aos bovinos como a
à inseminação estão no cio. hora da alimentação, deverá ser evitada. A
Os estrógenos aumentam o crescimento detecção do cio é melhorada pela utilização
vascular do endométrio. A rápida suspensão de touros; eles poderão ser vasectomizados ou
da secreção de estrógenos após a ovulação com o pênis desviado cirúrgica e mecanica-
causa hemorragias petequiais no endométrio mente dentro da bainha prepucial. Outros
(sangramento do metaestro) e a presença de complementos para detecção de cio incluem
sangue no corrimento vulvar. A maioria das indicadores sensíveis à pressão na garupa das
vacas e novilhas tem sangramento no segun- fêmeas e marcadores "chin-ball" ou
do ou terceiro dia após o cio. Aparentemente, marcadores de arreios nos touros. Quando
o sangramento do metaestro não relaciona- touros equipados com "chin-ball" ou arreios
se à concepção; ele é apenas uma indicação especiais montam uma fêmea em cio, uma
de que a vaca esteve em cio. Vacas demons- marca facilmente visível de corante ou graxa
trando muco apresentando sangue corado no pigmentada fica impressa na garupa ou na
momento da inseminação provavelmente têm base da cauda da fêmea. Embora fêmeas que
menos oportunidades de concepção. não estão em cio possam ser ocasionalmente
As ações da progesterona, secretada pelo marcadas, as marcas identificam vacas que
corpo lúteo (CL) sobre o útero são opostas deverão ser melhor observadas para a confir-
àquelas do estrógeno. Durante a fase mação do cio.
luteínica, o muco cervical é espesso e viscoso,
o canal cervical está firmemente fechado, e o Ovulação
miométrio relaxa. Os níveis de progesterona
no plasma estão intimamente relacionados Os bovinos são os únicos dentre os animais
com o crescimento, manutenção e regressão domésticos que ovulam 10 a 12 horas após o
do corpo lúteo. fim do cio ou seja 30 horas após o início do cio
A maioria dos períodos estrais pode ser (Tabela 14-2). Excetuando-se o primeiro ciclo
detectada por observação cuidadosa dos bo- estral após o parto, a ovulação é precedida
vinos pelo menos duas vezes ao dia (Tabela por sintomas comportamentais de cio. Os bo-
14-1). Durante as observações do cio, qual- vinos apresentam ovulação espontânea, em-

TABELA 14-2. Características Reprodutivas Femininas de Bovinos e Bubalinos


Parâmetro Bovino Bubalino
Média (variação) Média (variação)

Estação sexual Poliéstrica Poliéstrica


Idade da puberdade (meses) 15 (10 a 24) 21 (15 a 36)
Ciclo estral
Duração (dias) 21 (14 a 29) 21 (18 a 22)
Cio (horas) 18 (12 a 30) 21 (17 a 24)
Ovulação
Tipo Espontânea Espontânea
Tempo após o início (horas) 30 (18 a 48) 32 (18 a 45)
Número de óvulos liberados 1 1
Duração do corpo lúteo (dias) 16 16
Duração da fertilidade dos óvulos (horas) (20 a 24) ?
Entrada dos ovos dentro do útero (horas pós-ovulação) 90 (64 a 96) ?

Duração da gestação (dias) 280 (278 a 293) 315 (305 a 330)


Idade no primeiro parto (meses) 30 (24 a 36) 42 (36 a 56)
Intervalo pós-parto (dias)
Involução uterina 45 (32 a 50) 35 (16 a 60)
Primeira ovulação 30 (10 a 110) 75 (35 a 180)
Intervalo entre partos (meses) 13 (12 à 14) 18 (15 a 21)
324 Ciclos Reprodutivos

bora esta possa ser antecipada cerca de 2 ho- frequência de ejaculações. Normalmente, os
ras na monta por um touro vasectomizado. espermatozóides totais por ejaculação aumen-
Similarmente, a massagem manual do clitóris tam com a idade do touro até cerca de 7 anos
por 10 segundos após a inseminação artifi- e então declina. Existem grandes diferenças
cial em vacas de corte diminuiu o intervalo nas características seminais entre touros,
entre o início do cio e o aparecimento da onda assim como as primeiras e segundas
de LH por mais de 4 horas, encurtou o tempo ejaculações e entre os intervalos entre as co-
do início do cio até a ovulação em 4 horas e lheitas.
aumentou o nível de concepção em 6%.
Normalmente, um folículo ovula no ciclo Acasalamento
estral em bovinos. Dois folículos ovulam em
aproximadamente 10% dos casos, enquanto O pênis do touro é do tipo fibroelástico, re-
que três folículos não são frequentes. lativamente pequeno em diâmetro e rígido
Os folículos ovulam em cerca de 60% no quando não ereto. Embora o pênis seja mais
ovário direito e 40% no ovário esquerdo. A rígido durante a ereção, ele não apresenta
primeira ovulação após o parto ocorre mais grande aumento. A protrusão é atingida des-
frequentemente no ovário oposto ao corno fazendo a flexura em forma de S. O sentido
uterino previamente gestante. da visão parece mais importante do que o ol-
fato na estimulação de um touro. O touro iden-
Produção e Liberação Espermáticas tifica a vaca em cio, lambendo e cheirando a
genitália externa e dobrando o lábio superior
A duração de um ciclo do epitélio seminífero de um modo característico - "Flehmen". An-
é de 13,5 dias em touros, independentemente tes da cobertura, o touro orienta-se atrás da
da raça. Aproximadamente 61 dias (4,5 ciclos vaca e adapta o queixo e a garganta sobre a
do epitélio seminífero) são necessários para garupa da fêmea. As vacas em cio respondem
completar uma espermatogênese. Assim, um a essa atitude permanecendo receptivas.
distúrbio nos testículos resultante de febre, O acasalamento em bovinos é rápido (me-
"estresse" calórico ou "estresse" de transpor- nos de 5 segundos) quando comparado ao de
te pode interferir com a espermatogênese e equinos e suínos. À medida que o pênis ereto
com a produção espermática; deve levar pelo se projeta da bainha e as glândulas acessó-
menos 2 meses antes da qualidade rias começam a gotejar, o touro monta sobre
espermática voltar ao normal. a vaca. Após a penetração do pênis na vagina
A produção espermática diária, o número (intromissão), repentinas contrações dos mús-
de espermatozóides potencialmente férteis culos abdominais do touro levam à introdu-
produzido diariamente pelos testículos, são ção plena e ejaculação. A força da contração
altamente correlacionados com o tamanho muscular eleva os membros posteriores como
testicular, que pode ser estimado pela largu- . um salto para a frente. Este impulso
ra e comprimento ou circunferência escrotal ejaculador deposita o sêmen na vagina ante-
(Foote, 1984). Tanto o tamanho testicular rior próximo à abertura externa da cérvice.
quanto a circunferência escrotal, todavia, são A maioria das raças leiteiras nos Estados
influenciados pelo genótipo e pela idade. As- Unidos é servida por inseminação artificial,
sim, não é possível ter medidas padrões para mas nas raças de corte em 90% é utilizada a
todas as idades e raças. A produção esper- cobertura natural. Usualmente, um touro é
mática também varia muito individualmen- destinado para cerca de 30 a 60 vacas seja
te entre os touros com alguma variação entre em pastagens únicas ou com mais de um tou-
raças. ro. Sob condições de campo, o número de fê-
O touro ejacula 4 a 10 ml de sêmen conten- meas cobertas por unidade de tempo depen-
do 0,8 a 2,0 bilhões de espermatozóides por de de muitos fatores inter-relacionados como
mililitro. A produção de sêmen é influencia- a proporção macho/fêmeas e das interações
da pela idade do touro, estação do ano, e agressivas entre touros.
Bovinos e Bubalinos 325

A classe social de touros, extremamente TABELA 14-3. Peso Corpóreo Ótimo (e


controlada pela idade e superioridade entre Idade) Para Novilhas Reprodutoras
Peso Corpóreo Idade
os grupos, pode influir sobre a atividade se-
Raça (kg) (meses)
xual. Bezerros nascidos de rebanhos de va-
cas em companhia de três ou quatro touros Holandesa 340 15
mostraram que o mais velho ou o segundo 340 15
Suiça Parda
touro mais velho do grupo padrearam cerca
de 60% dos bezerros enquanto que os touros Jersey 225 13
mais jovens padre aram menos de 15% 225 13
Jersey
(Chenoweth, 1981). Diferenças raciais exis-
tem quanto à libido dos touros. Touros holan- Guernsey 250 13
deses reagem mais rapidamente ao estímulo 275 13
Ayrshire
na colheita de sêmen do que a maioria das
raças; touros Zebus têm uma reação mais len- Hereford 270 15
ta do que as raças européias. 250 13
Angus
A maioria das raças de corte apresenta es-
tações de reprodução restritas de 9 a 12 se- Charolesa 330 14
manas de modo que as vacas parem na pri-
mavera quando contam com alimentação
abundante. Novilhas são cobertas quando o Durante o primeiro estágio do trabalho de
peso é considerado ótimo, o que varia com as parto (dilatação da cérvice), as novilhas, mas
raças (Tabela 14-3). As coberturas devem ser não as vacas, podem ficar inquietas e mos-
planejadas a fim de evitar o nascimento de trar sintomas de dor abdominal. Assim que o
bezerros desproporcionalmente grandes de bezerro atinge o canal de nascimento, come-
fêmeas com áreas pélvicas pequenas. çam as contrações abdominais e o animal dei-
ta-se em posição lateral ou esternal. O âmnio
ou a "segunda bolsa de água" aparece na
Gestação e Parto vulva. Após novas contrações, o bezerro é ex-
pulso; a maioria dos bezerros leva pelo me-
A duração da gestação varia de 276 a 295 nos 45 minutos para ficar em pé e podem le-
dias, sendo maior nas raças Parda Suíça e var poucas horas para mamar pela primeira
Brahman. As diferenças no período de gesta- vez. As vacas demoram cerca de 4 a 6 horas
ção estão associadas ao nascimeto de gêmeos, para expelir a placenta. A tendência de co-
ao sexo do bezerro e à ordem de parição da mer a placenta é mais frequente do que nas
vaca. ovelhas.
Várias modificações clínicas da fêmea pre-
nhe indicam a aproximação do parto. Os mús- Puerpério
culos e ligamentos da garupa e da base da
cauda ficam relaxados, sendo que a base da O período pós-parto é aquele que se segue
cauda eleva-se 24 a 48 horas antes do parto e ao parto e durante o qual inicia-se a lactação
a vulva se incha. À medida que o parto se e os ciclos reprodutivos são restabelecidos.
aproxima, aparece um corrimento vulvar de
muco espesso e filamentoso, o úbere aumen- lnvolução Uterina
ta de tamanho, e os tetos ficam distendidos
com leite. Um ou dois dias antes do parto, a Entre o parto e o primeiro cio, o útero deve
vaca fica mais vagarosa e permanece em uma involuir para ocorrer nova concepção. Imedia-
pequena área isolada, a qual ela defende con- tamente após o parto, o corno uterino que
tra outras vacas. O confinamento e a interfe- abrigou o feto (corno grávido) é consideravel-
rência nessa época pode resultar no prolon- mente maior do que o corno oposto não
gamento do parto. grávido. Ambos os cornos são deficientes em
326 Ciclos Reprodutivos

tônus muscular. O peso e o tamanho do útero TABELA 14-4. Medidas de Eficiência


logo diminuem, o número e tamanho das cé- Reprodutiva
lulas miometrais diminuem, e o tônus mus- Traço Definição
cular do útero aumenta gradualmente. O úte-
ro involui mais rapidamente nas vacas Primeiro parto Idade (meses)
primíparas e naquelas que amamentam os Dias abertos Dias desde o parto à concepção
bezerros (Tabela 14-2).
Primeiro serviço N2prenhes no primeiro serviço x 100
Função Ovariana índice de N2de cobertas em primeiro serviço
concepção (%)

O intervalo desde o parto até a primeira ovu- Intervalo entre Dias entre partos sucessivos
lação é extremamente variável (Tabela 14-2). partos (dias) Total de vacas
Vacas multíparas ovulam mais precocemen-
Serviços por N2 de serviços em todas as vacas x 100
te do que vacas primíparas. A amamentação concepção Concepções totais
e o plano de nutrição atrasam a época da pri-
meira ovulação pós-parto em vacas de corte. Índice de
N2 de vacas prenhes x 100
gestação (%) Total de vacas no rebanho
A incidência da primeira ovulação pós-parto
sem comportamento de cio é relativamente Índice de N2 de bezerros nascidos x 100
alta. Assim, o primeiro cio pode não refletir a nascimentos Total de vacas no rebanho
retomada da atividade ovariana. Usualmen- (%)
te, o cio é observado pela primeira vez cerca
Lucro líquido com Total de bezerros desmamados x 100
de 35 dias após o parto em vacas leiteiras. O a safra de Total de vacas no rebanho
nível de concepção é mais baixo no primeiro bezerros (%)
cio pós-parto do que nos períodos estrais
subsequentes. Vacas leiteiras são cobertas 50 rias precoces, à venda ou morte de vacas e ao
dias após o parto e devem conceber aos 80 retorno das vacas para nova inseminação ao
dias a fim de manter um intervalo entre par- redor de um período 60 a 90 dias.
tos de 12 meses. O intervalo entre o parto e a nova concep-
ção ou "dias abertos" é um índice valioso que
Desempenho Reprodutivo reflete a eficiência da detecção do cio e a ferti-
lidade tanto das fêmeas quanto dos machos
Medidas de Eficiência Reprodutiva em um rebanho. Desde que a duração da ges-
tação é um intervalo fixo, tanto o intervalo
A eficiência reprodutiva de bovinos de cor- entre partos como os dias abertos usualmen-
te e de leite pode ser avaliada por vários mé- te são influenciados por fatores similares; este
todos (Tabela 14-4). Os índices de não retor- último apresenta a vantagem de detecção pre-
no de 60 a 90 dias avaliam a fertilidade dos coce das vacas com problemas.
touros e a eficiência dos inseminadores nos A porcentagem de vacas prenhes, o índice
programas das centrais de inseminação artifi- largamente utilizado em rebanhos de corte,
cial. Os índices de concepção no primeiro ser- apresentam maior significância quando a es-
viço são baseados no diagnóstico retal de ges- tação de monta é curta. Uma estação de mon-
tação efetuado 6 a 8 semanas após a ta de duração ao redor de três ciclos estrais
inseminação. Embora ambos os índices de não proporciona à vaca pelo menos duas ou três
retorno e de concepção estimem a proporção coberturas. O número de bezerros nascidos
de vacas prenhes, há muito se reconhecem as mede as perdas de gestação e a mortalidade
diferenças entre eles. O índice do não retorno de bezerros, enquanto que a porcentagem de
superestima o nível de concepção em cerca de bezerros desmamados reflete a eficiência
10 a 15%. Grande parte desta diferença está reprodutiva da estação de monta, facilidade
relacionada à falha na detecção do cio, ao de partos, habilidade materna e sobrevivên-
anestro, a algumas mortalidades embrioná- cia de bezerros.
Bovinos e Bubalinos 327

Fertilidade Geral rios císticos foi reduzida em função de pro-


gramas de saúde reprodutiva, os índices de
o intervalo ótimo entre partos tanto para concepção foram maiores e os dias abertos
as raças de corte quanto as leiteiras é de 12 foram mais curtos em vacas cobertas aos 50
meses, embora esse intervalo seja raramente dias após o parto do que naquelas cobertas
atingido. A fertilidade é frequentemente me- em intervalos pós-parto posteriores (Heider
dida pelos bezerros de corte efetivamente nas- et aI., 1980; Stevenson et aI. 1983).
cidos de cobertura natural e no caso de bovi- Os dias abertos podem ser reduzidos au-
nos de leite, a porcentagem de bezerros mentando-se a eficiência de detecção do cio.
nascidos em função da primeira inseminação. Assim, um número maior de vacas seria sub-
A produção de bezerros de corte ou a porcen- metido à inseminação artificial entre 55 e 85
tagem de desmame por ano é estimada em 70 dias após o parto. A maioria das vacas em cio
a 75%. Para gado leiteiro a porcentagem de pode ser detectada por cuidadosa observação
vacas parindo em função do primeiro serviço pelo menos duas vezes ao dia ou com auxilia-
é de apenas 50%. res de detecção (Tabela 14-1), e tabelas de
predição ou ainda pelo monitoramento da ati-
Melhoramento do Desempenho Reprodutivo vidade ovariana através da progesterona no
leite ou pela palpação retaI. Estes métodos
Em virtude de 95% das fêmeas de corte nos aumentaram a eficiência de detecção de cio
Estados Unidos serem servidas por monta em alguns rebanhos em cerca de 50 a 90%.
natural, o touro deve produzir sêmen de alta Também, o contato com um. touro resulta em
fertilidade potencial e possuir libido suficiente aumento da incidência de cio podendo esti-
e resistência física para a detecção do cio e mular a atividade ovariana em bovinos de
coberturas repetidas (Chenoweth, 1981). O corte mais precocemente no período pós-par-
desempenho reprodutivo de bovinos de corte to (Alberio et aI., 1987).
pode ser frequentemente aumentado através Vários hormônios têm sido empregados
da avaliação clínica da saúde dos reprodutores para aumentar a incidência de cio e ovulação
(Fig. 14-2). durante o segundo mês após o parto. Injeções
A falha da fêmea de corte em exibir o cio de hormônios liberadores de gonadotrofinas
na puberdade ou após o parto precocemente (GnRH) no início do período pós-parto ou junto
na estação de monta é um sério problema. A com técnicas de indução de cio apresentaram
concepção precoce na estação de monta tanto resultados variáveis.
para novilhas quanto para vacas permite par- A fertilidade relacionada à inseminação
to precoce e desmame de bezerros mais de- artificial pode ser aumentada pela inse-
senvolvidos. O gado de corte deve receber minação de apenas vacas em cio, adequados
nutrição adequada de modo que as novilhas procedimentos na descongelação do sêmen,
atinjam a puberdade e o máximo crescimen- deposição do sêmen no útero em vez de na
to pélvico em uma idade precoce e as fêmeas cérvice ou vagina, massagem no útero e no
após o parto exibam cio e fertilidade aceitá- clitóris após a inseminação e colocando as
vel na estação de monta. vacas inseminadas em temperaturas abaixo
Para manter um intervalo de 12 meses de 23°C no dia seguinte à inseminação
entre partos em rebanhos leiteiros, pelo me- (Gwazdauskas et aI., 1980).
nos 90% das vacas devem mostrar cio típico O tratamento com gonadotrofina coriônica
ao redor de 60 dias e conceber aos 85 dias após humana (hCG) não melhorou o índice de con-
o parto (Fig. 14-3). Índices de concepção fo- cepção à primeira inseminação, porém pode-
ram menores quando as vacas foram cober- rá ser benéfico para vacas que repetem o cio
tas antes de 60 dias de intervalo pós-parto (Helmer e Britt, 1986). A administração de
em relação a outros intervalos posteriores GnRH ou de seus análogos Oa 6 horas antes
(Berger et aI. 1981). Em rebanhos onde a in- da inseminação artificial apresenta poucos
cidência de infecções uterinas, aciclias, e ová- efeitos benéficos nos níveis de concepção ao
328 Ciclos Reprodutivos

estação de monta
limitada avaliabilidade de
forragem
ESTAÇÃO DE MONTA

MANEJO FERTILIDADE DO
TOURO
facilidade de macho: fêmea
registros nutrição

MUDE DO SAFRA LÍQUIDA DE NOVILHAS


REBANHO BEZERROS REPRODUTORAS
controle de doenças nutrição
cobertura em idade
mais jovem

GESTAÇÃO
nutrição
condição de registro

reduzir as perdas
perinatais e distocias

FIG. 14-2. Métodos para aumentar a safra líquida de bezerros em bovinos de corte.

registros
nutrição
detecção do cio

redução da idade ao
controle das doenças genitais primeiro parto
diagnóstico de gestação aumento da % de vacas
cicIando
tratar vacas problemas

melhorar a técnica de IA
usar sêmen de boa qualidade
cobrir as vacas com cio em estação
FIG. 14-3. Métodos para melhorar a eficiência reprodutiva em bovinos leiteiros. Para um rebanho leitei-
ro atingir um intervalo entre partos de 12 meses, pelo menos 90% das vacas devem estar cicIando cerca
de 60 dias após o parto e conceber dentro de 85 dias (dias abertos)

primeiro serviço em bovinos leiteiros. Pode até Os efeitos da nutrição sobre a função ova-
haver um efeito antifertilidade, recomendan- riana, particularmente em vacas leiteiras
do-se a sua não aplicação no primeiro serviço lactantes, foram estudados extensivamente.
de gado leiteiro (Mee et aI., 1990). Todavia, o O problema da alimentação de vacas com al-
GnRH pode aumentar a fertilidade de fêmeas tas produções é estimular o seu apetite para
repetidoras de cio quando administrado no aumentar a ingestão para minimizar o rigor
momento da inseminação artificial e duração do balanço negativo de energia.
(Stevenson et aI., 1990). Durante o período pós-parto, a fertilidade con-
Bovinos e Bubalinos 329

funde-se com a produção leiteira. A ingestão Os testículos do búfalo descem para o


nutricional não influi sobre o comportamen- escroto aos 2 a 4 meses de idade, embora pos-
to de cio desde que a restrição dietética não sam estar presentes ao nascimento em alguns
resulte em perda de peso (Knutson e Allrich, animais. A quiescência testicular em búfalos
1988). Vacas com altas produções em anestro estende-se de O a 7 meses de idade, seguida
ou dclicas entre os dias 40 e 60 após o parto por um período de rápido crescimento testi-
angariaram mais energia das reservas orgâ- cular e considerável atividade androgênica
nicas para a produção de leite durante as duas (Ahmad et aI., 1989). A espermatogênese co-
primeiras semanas de lactação do que outras meça aos 12 a 15 meses, embora o ejaculado
vacas que ciclaram antes do 40Q dia após o contenha espermatozóides viáveis apenas
parto (Staples e Thatcher, 1990). Em vacas quando os animais estão com cerca de 24
de corte após o parto, o estatus lipídico meta- meses de idade.
bólico pode influir sobre a atividade luteínica
com uma atividade luteínica de Ciclos Estrais
hiperlipidemia aumentada (Williams, 1989).
Uma atividade luteínica reduzida associada Estação de Monta
a um balanço energético negativo no período
precoce após o parto em vacas leiteiras pode Os búfalos, como os bovinos, são poliéstricos
estar relacionada a níveis reduzidos do fator e cruzam durante o ano todo. Padrões
de crescimento I semelhante à insulina no estacionais de nascimentos comunicados em
soro (Spicer et aI., 1990). O hormônio do cres- vários países são atribuídos à temperatura
cimento recombinante bovino (rbSt) utiliza- ambiente, ao fotoperiodismo e ao suprimento
do para estimular a lactação pode afetar ad- alimentar. Aparentemente, o efeito do
versamente a função reprodutiva na vaca fotoperiodismo sobre a ciclicidade do cio é si-
leiteira se administrado antes da primeira milar em bovinos e em búfalos. As búfalas que
ovulação após o parto (Schemm et aI., 1990). parem no verão ou no outono reassumem a
ciclicidade ovariana mais cedo do que aque-
BÚFALO las que dão cria no inverno ou na primavera
(Ahmad et aI., 1981). Provavelmente, a dimi-
A população mundial de 130 milhões de nuição da duração do dia e as temperaturas
búfalos domésticos, Bubalus bubalis, está ambientes mais frias favorecem a ciclicidade.
amplamente classificada nos tipos de pânta- Durante o verão, quando a temperatura am-
no e de rio. O búfalo de pântano (2n = 48 biente e o fotoperíodo estão no máximo, os
cromossomos) é o animal de tração nos cam- níveis de prolactina são mais altos (Kaker et
pos de arroz na metade oriental da Ásia e é aI., 1982) e os níveis de progesterona
manejado sob condições semelhantes ao gado plasmática são mais baixos (Rao e Pandey,
de corte. O búfalo de rio (2n = 50 1982). Altas temperaturas ambientes podem
cromossomos) é um animal leiteiro em paí- também contribuir com esta estacionalidade
ses que vão desde a Índia e Paquistão aos paí- deprimindo a libido masculina.
ses mediterrâneos e Egito.
Modificações Cíclicas
Puberdade
Muitas modificações cíclicas nos ovários, na
O búfalo atinge a puberdade em idade mais genitália tubular e secreções hormonais no
avançada que o bovino (Tabela 14-2). O tipo búfalo são comparáveis aos bovinos. A contri-
de rio exibe o primeiro cio mais cedo (15 a 18 buição da atividade ovariana é baseada na
meses) do que o tipo de pântano (21 a 24 me- combinação da detecção diária do cio com um
ses). A primeira concepção ocorre com um peso macho vasectomizado, palpação retal ou ob-
corpóreo médio de 250 a 275 quilos, geralmen- servação laparoscópica dos ovários e ensaios
te atingido com 24 a 36 meses de idade. em progesterona plasmática. Os níveis de
330 Ciclos Reprodutivos

progesterona no plasma e no leite, como nos te aderente ao corpo no búfalo de pântano e


bovinos, refletem a atividade endócrina do mais pendulosa no tipo de rio.
corpo lúteo, embora os níveis sejam menores. O búfalo, dentre os animais' domésticos
A prostaglandina exógena (PGF 2a) provoca a excetuando-se o porco, apresenta um dos ci-
regressão do corpo lúteo cíclico; a PGF 2a de clos espermatogênicos mais curtos. A dura-
origem uterina, como nos bovinos, provavel- ção do ciclo epitelial seminífero e da esper-
mente é a luteolisina no búfalo. matogênese é de 8,6 e 38 dias, respectivamen,te
(Sharma e Gupta, 1980). Geralmente, a
Cio e Ovulação frequência dos estágios celulares no búfalo e
no bovino são similares. A curta duração da
A duração do ciclo estral é de cerca de 21 espermatogênese, o pequeno tamanho testi-
dias, e o cio dura de 12 a 30 horas (Tabela 14- cular e o baixo nível de produção espermática
2). Sinais evidentes de cio são menos inten- diária, se comparados aos bovinos, refletem
sos do que nas vacas. A aceitação do macho é diferenças de espécies na duração da estação
o sintoma mais seguro de cio na búfala. Me- sexual e no comportamento de cobertura.
nos de um terço das búfalas em cio são detec- O ejaculado normal é de coloração acin-
tadas por comportamento homossexual. O zentada a leitosa, raramente excede 5 ml e
corrimento de um muco claro da vulva, apresenta uma concentração espermática
inquietude, aumento da frequência de urinar, entre 300 a 1500 milhôes de células por mili-
a vocalização e uma queda na produção de litro. A motilidade espermática é mais baixa
leite não são sintomas seguros de cio. A for- do que em bovinos.
mação máxima do muco em forma de samam-
baia ocorre durante o cio porém não substitui Acasalamento
a atitude de paralização do cio. A
receptividade sexual ao macho pode ser de- O comportamento sexual masculino é si-
terminada como no bovino (Tabela 14-1) por milar embora menos intenso do que o do tou-
um macho vasectomizado ou por uma fêmea ro. A libido fica suprimida durante os perío-
androgenizada providos com um dispositivo dos mais quentes do dia, particularmente no
de "chin-ball" ou com detectores de cio de búfalo do pântano. O ato de cheirar a vulva
monta. A eficiência destes detectores de cio, ou a urina da fêmea e a reação de "Flehmen"
todavia, pode ser reduzida devido ao hábito antecedem a monta da fêmea em cio. A mon-
de espojamento dos búfalos. ta é rápida durando poucos segundos, e o im-
O cio começa no final da tarde com ativida- pulso ejaculador é menos marcante do que nos
de sexual máxima entre 6 horas da tarde e 6 bovinos. Depois da ejaculação, o búfalo des-
horas da manhã. As coberturas continuam até monta vagarosamente e o pênis se retrai gra-
o final da manhã no búfalo de rio e usual- dualmente para dentro da bainha.
mente param durante as horas do dia no bú- A inseminação artificial em búfalos é simi-
falo 'de pântano. A ovulação, como no bovino, lar à dos bovinos porém é menos praticada
ocorre 15 a 18 horas após o fim do cio ou cer- devido à dificuldade de detecção do cio. Em
ca de 35 a 45 horas após o início do cio (Tabe- países como o Egito, Índia e Paquistão, toda-
la 14-2). A ovulação é precedida por uma onda via, há centros de inseminação artificial que
de LH no início do cio. Um único óvulo é ex- proporcionam um serviço com sêmen resfria-
pulso durante um ciclo. do ou congelado de búfalos leiteiros. Sêmen
congelado está sendo exportado da Índia e do
Paquistão para búfalos indígenas cruzados ou
Produção e Liberação Espermáticas selecionados em vários países.
As diferenças numéricas de cromossomos
Os testículos, as glândulas sexuais acessó- nos dois tipos de búfalos resultam em produ-
rias e o pênis do búfalo são menores do que os tos de cruzamento com um cariótipo interme-
dos bovinos. A bainha do pênis é estreitamen- diário de 2n = 49. Embora, tanto os machos
Bovinos e Bubalinos 331

quanto as fêmeas cruzadas produzam cortisol plasmático ocorre no dia do parto;


gametas não balanceados (n =24 ou 25), eles porém sua fonte, fetal ou materna, e o papel
são férteis, diferentemente de outros híbri- no início do trabalho de parto da búfala, são
dos que possuem complementos cromossô- desconhecidos.
micos diferentes de seus pais. Os sintomas da aproximação do parto, o
processo de nascimento e a duração dos vá-
Gestação e Parto rios estágios do trabalho de parto são simila-
res aos da vaca. O primeiro estágio do traba-
o corpo lúteo é mantido durante a gesta- lho de parto leva de 1 a 2 horas, sendo mais
ção, porém o seu papel na manutenção da longo nas primíparas do que nas búfalas
mesma ainda não foi estabelecido. Os níveis pluríparas. Durante o segundo estágio, que
plasmáticos de progesterona permanecem ele- dura de 30 a 60 minutos, fortes contrações
vados durante a gestação, declinando para abdominais provocam a ruptura do âmnio e
níveis basais no dia do parto. O cio geralmen- a expulsão do feto em apresentação anterior
te fica suspenso, porém poucos animais ges- com os membros totalmente distendidos. As
tantes podem exibir um ou mais períodos de membranas fetais são expelidas 4 a 5 horas
cio anovulatório. após a expulsão do feto. Gêmeos são raros,
A placenta epiteliocorial da búfala é do tipo com ocorrência menor do que 1 por 1000 nas-
cotiledonária. Carúnculas maternas convexas cimentos.
fundem-se com os cotilédones fetais forman-
do os placentomas que são distribuídos tanto Puerpério
no corno gestante quanto no corno não ges-
tante. A involução uterina completa-se ao redor
A búfala apresenta um período de gesta- de 28 dias na búfala de pântano em
ção mais longo do que a vaca (Tabela 14-2). A amamentação e em 45 dias para a búfala de
duração da gestação varia de 305 a 320 dias rio ordenhada manualmente (Tabela 14-5).
no búfalo de rio e de 320 a 340 dias no búfalo Vários fatores influem no grau de involução
de pântano. Uma búfala de pântano coberta uterina pós-parto da búfala. Ainvolução ocor-
por um búfalo de rio apresenta uma duração re mais cedo após partos normais do que nos
de gestação intermediária (315 a 325 dias). anormais, mais rapidamente naquelas que
Búfalas que produziram bezerros pesando amamentam ou são ordenhadas e mais cedo
cerca de 35 quilos apresentaram períodos naquelas de baixa produção, com crescente
mais curtos (cerca de 308 dias) e outras pro- paridade durante o inverno e primavera
duzindo filhos pesando mais ou menos 35 (Jainudeen, 1984).
quilos tiveram períodos mais longos de ges- O tempo ótimo de cobertura em relação à
tação. Os bezerros búfalos no nascimento são involução uterina não foi estabelecido na
mais pesados que os bovinos (Usmani et aI., búfala. A oportunidade de cobertura ou
1987). inseminação antes de completar a involução
O mecanismo endócrino que inicia o parto uterina é limitada por causa que a primeira
na búfala não é totalmente conhecido, porém ovulação pós-parto ocorre muito mais tarde
cerca de 15 dias antes do parto, os níveis do que a involução.
plasmático& de estrona e metabólitos da
PGF 2a aumentam e atingem valores máximos Atividade Ovariana
aos 3 a 5 dias antes do parto. Os elevados ní-
veis de progesterona plasmática durante a Um aumento da atividade folicular ocorre
gestação caem rapidamente a níveis basais particularmente no ovário oposto ao lado pre-
no dia do parto, enquanto que os níveis de viamente gestante, entre os dias 30 a 60 após
estrona e de metabólitos da PGF2a declinam o parto, embora poucos animais ovulem.
gradualmente a níveis basais aos 7 a 14 dias A progesterona permanece em níveis basais
após o parto. Um marcante crescimento de no plasma entre o parto e o reinício da
332 Ciclos Reprodutivos

TABELA 14-5. Involução Uterina e Atividade Ovariana em Búfalas:l'


Búfala de Rio Búfala de Pântano
Intervalo Pós-parto (Dias) Média Variafão Média Yari.!!Ç.ão
Involução uterina 45 15-60 28 16-39
Primeiro cio detectado 75 35-185 90 40-275
Primeira ovulação 59 35-87 96 52-140
Concepção 125 85-150 180 40-400
* Búffalo de rio: Chauhan et aI. (1977). Ind. J. Dairy Sei. 4, 286; EI-Sheikh and Mohamed (1977). Ind. J.
Anim. Sei. 47, 165; EI-Fadaly (1980). Veto Med. J. Egypt. 28, 399; búfala de pântano: Jainudeen et aI.
(1983). Anim.,Reprod. Sei. 5,181.

ciclicidade ovariana. Após a primeira ovula- 60% com monta natural. Os índices de gesta-
ção após o parto, os níveis plasmáticos de ção após uma estação de monta restrita a 2 a
progesterona estão intimamente correla- 3 meses em rebanhos de búfalos de pântano
cionados com a atividade morfológica e funcio- variam de 30 a 75% dependendo do "status"
nal do corpo lúteo. nutricional e lactacional das fêmeas na épo-
O intervalo pós-parto até a primeira ovu- ca da cobertura. Uma produção de bezerros
lação é mais longo na búfala do que na vaca igual a 80% foi comunicada em rebanhos de
(Tabela 14-2) O intervalo é mais longo na elite de muitos países.
búfala de pântano em amamentação do que O intervalo entre partos é o índice de ferti-
na búfala de rio em regime de ordenha (Ta- lidade bastante utilizado a nível de pequenas
bela 14-5). A maioria das primeiras ovulações fazendas. Sob condições de campo, uma búfala
pós-parto não é precedida por cio. O primeiro usualmente produz dois bezerros em 3 anos.
cio é observado 2 a 3 meses após o parto Porém em fazendas de búfalas leiteiras com
(Jainudeen et aI., 1983). bom manejo, o intervalo entre partos de 14 a
Dentre os fatores fisiológicos, a condição 15 meses foi conseguido. O intervalo entre
corpórea, lactação, amamentação e a idade partos é influenciado individualmente pela
afetam adversamente a função ovariana. As búfala, pelo ano e estação da concepção, e pela
búfalas em más condições de corpo e as fê- ordem de parição. A concepção durante janei-
meas jovens em primeira lactação possuem ro a março leva a um intervalo mais curto, e
ovários inativos e períodos prolongados de mais longo durante outubro a dezembro. A
anestro pós-parto. A amamentação aumenta maior porcentagem de concepção ocorreu 2 a
significativamente o intervalo do parto ao 5 meses após o pico das chuvas (Lundstrom
primeiro cio e ovulação na búfala. A ciclicidade et aI., 1982). A paridade influi no intervalo
ovariana é restaurada mais precocemente nas entre partos, que é maior nas primíparas do
fêmeas que não amamentam do que em que nas búfalas pluríparas.
búfalas de pântano e de rio em amamentação
(Jainudeen, 1984). Incrementando o Desempenho Reprodutivo

Desempenho Reprodutivo A idade retardada no primeiro parto, pro-


blemas relacionados à detecção do cio, o perío-
Eficiência Reprodutiva do aberto nas fêmeas, e a perda de libido no
macho são os principais obstáculos ao aumen-
A eficiência reprodutiva de búfalos pode ser to dos índices reprodutivos nos búfalos.
medida com os critérios semelhantes aos dos Melhorias na nutrição poderiam aumentar os
bovinos, particularmente em rebanhos índices de crescimento e acelerar a puberda-
bubalinos leiteiros utilizando inseminação ar- de. Similarmente, práticas de manejo como a
tificial ou monta dirigida. Os índices de con- desmama precoce, a indução do cio com
cepção são de 50 a 60% com sêmen resfriado, prostaglandinas ou dispositivos liberadores
25 a 45% com sêmen congelado e acima de de progesterona intravaginais, e melhor nu-
Bovinos e Bubalinos 333

trição têm acelerado a atividade ovl:).rianapós- Ahmad, N., Shahab, M., Khurshid, S. and Arslan, M.
parto e reduzido os dias em aberto na búfala. (1989). Pubertal development in the male buf-
falo: LongitudinaI analysis ofbody growth, testic.
A natureza estacional do ciclo reprodutivo ular size and serum premes of testosterone and
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nascimentos ocorram em época que água e ali- pareci with traditional praetices. J. Am. Veto
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testados quanto às condições de saúde antes Postpartum ovarian aetivity and uterine involu-
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com cerca de 20 a 30 fêmeas. Caso haja pla- balis). Anim. Reprod. Sei. 5, 181.
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334 Ciclos Reprodutivos

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15
OVINOS E CAPRINOS
M.R. JAINUDEEN e E.S.E. HAFEZ

o ovino doméstico (Ovis aries) e caprinos ESTAÇÃO SEXUAL


(Capra hircus) são duas espécies distintas da Fêmea
família Bovidae. Eles encontram-se dentre os
primeiros a serem domesticados: ovinos para Tanto as ovelhas quanto as cabras são
lã e carne e caprinos para leite, carne e fibra. poliéstricas estacionais de modo que os filho-
O caprino é importante porque pode ser a tes nascem durante a época mais favorável
principal fonte de proteína animal nos trópi- do ano, a primavera. A duração da estação
cos. A população mundial de ovinos excede sexual varia com o comprimento do dia, raça
aproximadamente 2,5 vezes a de caprinos. e nutrição. Esta estacionalidade é governada
Cada espécie possui certas características sin- pelo fotoperiodismo com a atividade estral
gulares (Tabela 15-1). A reprodução da ove- começando durante o período em que a dura-
lha e da cabra é comparada neste capítulo. ção de luz diária começa a diminuir. Nas lati-

TABELA 15-1. Características Genéticas e Físicas de Ovinos e Caprinos


Característica Ovinos Caprinos
NQ de cromossomos 54 60

Taxonomia Quis aries Capra hircus

Acasalamentos
Bode x fêmea Estéril Fértil
Carneiro x fêmea Fértil Mortalidade embrionária

Habitat Zona temperada Tropical árido

População mundial 1,2 bilhões 500 milhões

Características físicas
Comprimento da cauda Curta Curta
Comportamento da cauda Para baixo Para cima
Glândulas masculinas com cheiro Ausentes Presentes
Glândulas faciais e podais Presentes Ausentes
Fossas lacrimais Presentes Ausentes
Barba Ausente Presente
Revestimento do corpo Lã Pêlo

335
336 Ciclos Reprodutivos

tudes das zonas temperadas, a maioria das Durante o verão, os ovários de ovelhas em
raças de ovinos e caprinos tornam-se anestro desenvolvem folículos e secretam
anovulatórias e anéstricas durante a prima- estradiol quando estimulados com LH. A ati-
vera e o verão, passando a cicIar à medida vidade folicular modifica-se no decorrer do ano
que a duração de luz diária diminui durante em sincronia com os padrões circanuais da
o outono. secreção de prolactina e com a luz diária, apa-
Nas zonas tropicais, onde há menor varia- rentemente porém, as flutuações da pro-
ção na luz diária, as ovelhas e cabras indíge- lactina não estão relacionadas, em ovinos, à
nas tendem a se reproduzir durante o ano estacionalidade das coberturas.
todo. Por esse motivo, quando raças de zonas A importância da duração do dia no con-
temperadas são levadas para os trópicos, elas trole estacional da atividade reprodutiva da
perdem gradativamente a estacionalidade, ovelha desde há muito foi reconhecida. Jul-
seguindo os padrões reprodutivos caracterís- gava-se que a diminuição do dia estimulava
ticos do novo ambiente. A temperatura am- modificações endócrinas associadas com a
biente elevada e a falta de alimento podem ciclicidade, porém estudos posteriores de-
restringir a atividade sexual durante alguns monstraram que a estação sexual reflete uma
meses do ano nos trópicos, porém logo após o perda de uma inibição ativa da secreção tôni-
início da estação chuvosa, a atividade sexual ca de LH. A frequência das descargas de LH
aumenta, provavelmente devido à uma mo- depende da resposta ao efeito retrógrado ne-
dificação na disponibilidade de alimento. Em gativo de estradiol; a resposta é baixa duran-
Marrocos, a raça D'Man apresenta um te a estação de monta, aumenta durante a
anestro estacional muito curto, o que permi- transição para o cio e permanece elevada até
te dois partos por ano, enquanto que todas as o início da próxima estação de monta, quan-
outras raças apresentam uma estação sexual do então diminui novamente (Fig. 15-2).
limitada começando em junho e terminando O modo como os sintomas fotoperiódicos são
em dezembro. convertidos em mensagens neuroendócrinas
O genótipo influi na estação sexual da ove- não é totalmente compreendido. Provavel-
lha e da cabra. Com algumas ovelhas que exi- mente, os ovinos detectam estas modificações
bem cio durante o ano todo, as raças Dorset, de luz por meio de um relógio biológico inter-
Merino e Rambouillet, originadas perto do no localizado no hipotálamo, e esta informa-
equador, apresentam estações sexuais mais ção é transmitida ao eixo hipotálamo-gonadal
longas do que as raças britânicas, como a através da glândula pineal. A melatonina, um
Southdown, Shropshire e Hampshire. Cabras hormônio da pineal, age como mediador na
leiteiras como as Toggenburg, Saanen, Alpi- resposta a modificações no fotoperiodismo em
na Francesa e LaMancha exibem restrita es- ovinos. Os níveis de melatonina são altos du-
tação sexual entre agosto e fevereiro na maio- rante os períodos escuros e baixos durante os
ria das regiões da América do Norte. A raça períodos de luz; provavelmente estas diferen-
Anglo-Ndbiana, desenvolvida na Inglaterra ças no padrão de secreção da melatonina agem
pelo cruzamento entre cabras inglesas com como um sinal indicador da duração do dia
bodes da Núbia no Egito Superior e da para o eixo neuroendócrino.
Etiópia, é menos restrita à reprodução no ou- Provavelmente, os ovinos detectam estas
tono, embora a atividade sexual seja maior modificações de luz por meio de um relógio
. durante essa estação. A estação sexual da circadiano de 24 horas localizado no hipo-
cabra leiteira Alpina pode também estender- tálamo, e esta informação é transmitida ao
se sob manejo intenso, excetuando-se além de eixo hipotálamo-hipófise-gonadal através da
abril. Na parte sul dos Estados Unidos (300 glândula pineal. A melatonina (N-acetil,5-
latitude N), cabras do tipo carne ficam em metoxitriptamina), que é sintetizada e libe-
anestro entre março e maio enquanto menos rada pela glândula pineal exclusivamente à
de 40% das ovelhas Rambouillet estão anés- noite, é tida como mediadora dos efeitos do
tricas durante o mesmo período (Fig. 15-1). fotoperiodismo sobre a atividade cíclica da
Ovinos e Caprinos 337

-- - - - - - Cabras espanholas
Ovelhas Rambouillet
-0-00 _0- Rambouillet x Finn

s
cj
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o 90 ,, /.,..-0-:::0-.0:0...
<1)
,, ,, ,
" ,, FIG. 15-1. Ciclo estacional da ati-
::I 80
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C1'
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~ vidade reprodutiva em cabras e
o'.'. ,:
70
,, em dois tipos de ovelhas.
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Meses do ano

ovelha. Uma longa duração da secreção de carneiros adultos em resposta às modificações


melatonina assinala um dia curto, enquanto na duração do dia. Estas diferenças são apa-
que uma duração curta dessa secreção assi- rentes durante os dias curtos quando o eixo
nala um dia longo. hipotálamo-hipófise-testicular torna-se mais
O modo como a melatonina codifica a du- ativo.
ração do dia é desconhecido. Duas teorias fo- A atividade sexual do bode também é in-
ram propostas: a duração da secreção notur- fluenciada pela duração do dia. O pico da ati-
na de melatonina e a fase de liberação de vidade sexual ocorre durante o outono e coin-
melatonina com respeito ao ciclo diurno-no- cide com o agudo aumento do nível de
turno. De acordo com esta última hipótese, testosterona plasmática durante a estação de
ocorre uma resposta fotoperiódica quando o monta do outono.
período de secreção de melatonina coincide
com o ritmo de sensibilidade à melatonina
levada pelo ciclo diurno-noturno. Em ovinos, PUBERDADE
porém, a evidência favorece a primeira hipó-
tese. Sob condições de ambiente natural, uma Fêmea
perda de resposta ao sinal da melatonina con-
tribui para o término da estação de monta. A puberdade, idade da primeira ovulação,
ocorre aos 5 a 7 meses na cabra e de 6 a 9
Macho meses na ovelha (Tabela 15-2). As raças de lã
fina ou Merino e a cabra Angorá não atingem
O carneiro não apresenta uma estação de a puberdade durante a primeira estação se-
coberturas restrita, mas a atividade sexual é xual. Consequentemente, elas podem estar
maior no outono, declinando no final do in- com 18 a 20 meses no primeiro cio. Raças de
verno, primavera e verão. A diminuição (ou maturação precoce como a cabra Pigmy ou a
encurtamento) do dia estimula a secreção de ovelha Finn podem atingir a puberdade logo
FSH, LH e testosterona em carneiros, en- com 3 a 4 meses.
quanto que o aumento (ou alongamento) do A chegada da puberdade em ovinos é in-
dia inibe estes hormônios. fluenciada por fatores genéticos e ambientais
As raças diferem na magnitude da secre- tais como diferenças de raças e linhagens,
ção de gonadotrofina sérica e testosterona de planos de nutrição e época do nascimento. O
338 Ciclos Reprodutivos

píneal
n)("
"-
\ielatonina
FOTOPERÍODO
Outono
24 FIG. 15-2.A. Eventos que levam
V à primeira ovulação de cordeiras
na puberdade ou em ovelhas
IJUU1fUUl1
18~}'õ12
adultas no início da estação se-
xual. (De Foster et aI. (1985).
Neuroendocrine regulation of
puberty by nutrition on
photoperiod. In Adolescence in
Females. S. Venturoli et aI.
(eds.). Chicago, Year Book
Medical Publishers.)
B. Efeitos do fotoperíodo sobre a
atividade ovariana da ovelha e
da cabra a uma latitude de 38,5°
norte (Califórnia). As barras
abertas representam períodos de
inatividade ovariana (anestro).
A transição de anestro para
A estro (frequentemente irregular)
é demonstrada pela porção em
ovário
traços cruzados das barras para
equinos, ovinos e caprinos. (De
DEZ 21
Stabenfeldt, G.R. e Edqvist, L.
(1984). Female reproductive pro-
cesses. In Dukes Physiology of
Domestic AnimaIs. 10th Ed.
M.J. Swenson (ed.). Ithaca, NY,
ComeU University Press.)

SET 21 MAR 21

B
JUN 21

primeiro cio ocorre quando a fêmea pesa de cerca de 30 a 35 semanas de idade. Em con-
30 a 50 quilos (50 a 70% do peso adulto). traste, cordeiras nascidas no outono estarão
Muitos dos mecanismos endócrinos que le- com 30 semanas de idade durante a estação
vam à ovulação e primeiro cio são capazes de de anestro das ~~ultas, mas as ovulações são
estarem agindo muito antes de serem chama- retardadas até fogo após a chegada da esta-
dos à função. Cordeiras nascidas na prima- ção de monta, época em que estarão com 50
vera apresentam métodos tônicos e ondas de semanas de idade.
secreção de LH, podendo atingir a puberdade Os eventos fisiológicos que levam à puber-
com 20 semanas de idade, porém a estação dade da cordeira são análogos àqueles que
atrasa a puberdade de cordeiras nascidas na regulam a chegada da estação sexual da ove-
primavera até o outono quando elas estão com lha adulta (Figs. 15-2 e 15-3). Fatores inter-
Ovinos e Caprinos 339

TABELA 15-2. Parâmetros Reprodutivos nos e externos determinam a época da puber-


de Ovelhas e Cabras dade; a dieta afeta o alcance da puberdade
Parâmetro Ovelha Cabra através de modificações da secreção de LH.
Satisfeitas as necessidades de crescimento
Estação sexual Outono Outono para a maturidade sexual, elementos do
Idade na puberdade fotoperiodismo são utilizados para ajustar o
(meses) 6-9 5-7 alcance da puberdade à estação de encurta-
Ciclo estral
Duração (dias) 17 21 mento do dia. Apenas cordeiras expostas a
(14-19) (18-22) longas horas de luz, logo após a curtas horas
Cio (horas) 24-36 24-48 de exposição, podem acelerar seu desenvolvi-
Ovulação
Tipo Espontâneo Espontâneo
mento sexual (Colas et aI., 1987).
Tempo desde o
início (horas) 24-27 24-36 Macho
Número por
ciclo 1-3 2-3
Vida útil do corpo A puberdade no carneiro e no bode está
lúteo (dias) 14 16 associada a um marcante aumento na secre-
Período fertilizável
do óvulo (horas) 10-25 ? ção de testosterona, na espermatogênese e no
Entrada do óvulo comportamento sexual. O tamanho dos testí-
dentro do útero culos aumenta quando os cordeiros atingem
(horas após ovulação) 72 ?
Duração da gestação 8 a 10 semanas de idade e peso corpóreo de
(dias) 149 149 16 a 20 quilos. Estes fatos coincidem com o
Intervalo pós-parto aparecimento de espermatócitos primários e
(dias) aumento da luz dos túbulos seminíferos. Em
Involução
uterina 27 ? ambas as espécies, a cópula com ejaculação
Primeira ovulação >20 ? de espermatozóides viáveis ocorre ao redor de
4 a 6 meses de idade com peso vivo de 40 a
60% do peso adulto.
Do mesmo modo que com a cordeira, a ex-
posição de cordeiros nascidos no outono a lon-
2.0 gas horas de luz diária, depois a curto perío-
do de luz, acelera o desenvolvimento sexual,
(li
..c:
'i
.~ dependendo da raça (Colas et aI., 1987). A
I> 1.8 testosterona sérica aumenta em idade mais
l precoce no cabrito (17 a 20 meses) do que no
QI

-;a 1.6 .ot '


""'"
0,,\.' 140 % cordeiro (25 a 28 meses) (Chakraborty et aI.,
1989). Como em bovinos, a maturidade se-
~ "~o
f' --, -nrc 6001 '0
xual é melhor correlacionada com o peso
8 1.4 -, corpóreo do que com a idade, em ambas as
,-
~ .., espécies.
No carneiro, estudos foram feitos sobre o
Z 1.2
comportamento reprodutivo (Hogg, 1984),
30 60 90 120 150
perfil hormonal (Hoaglund e Bolt, 1986), con-
Dias
trole fotoperiódico da secreção de LH
(Pelletier, 1986), anastomoses funcionais
arteriovenosas entre a artéria testicular e o
FIG. 15-3. Efeito de dois níveis de alimentação e plexo pampiniforme do cordão espermático
antecipação da estação de monta sobre o número (Noordhuizen-Stassen et aI., 1985), os efeitos
médio de corpos lúteos por ovelha (níveis de nutri-
ção de 60% e 140% recomendados para manuten- do fotoperiodismo e da nutrição sobre o ta-
ção de acordo com o National Research Council; manho testicular (Lindsay et aI., 1984), ca-
dia 1 =9 de setembro). racterísticas seminais após a vasectomia
340 Ciclos Reprodutivos

(Thwaites, 1982) e o fluxo retrógrado de cio é de dificil detecção tanto na cabra, quan-
espermatozóides para a bexiga (Pineda et al., to na ovelha.
1987).
Influência do Macho sobre o Cio

CICLO ESTRAL A introdução de reprodutores junto às ove-


lhas durante a transição entre o anestro e a
Duração do Ciclo estação de monta, as estimula a ovularem
dentro de 3 a 6 dias, e a atividade estral ocor-
A duração do ciclo estral normal é de 17 re 17 a 24 dias mais tarde. O corpo lúteo da
dias para ovinos e 21 dias para caprinos, em- primeira ovulação regride prematuramente
bora uma considerável variação devido a di- em cerca da metade das ovelhas, seguindo-se
ferenças raciais, estágio da estação de monta uma segunda ovulação associada com ativi-
e "estresse" ambiental ocorram em ambas as dade luteínica normal. Não se sabe comoesse
espécies (Tabela 15-2). Ciclos anormalmente "efeito carneiro" estimula a ovulação da fê-
curtos observados na ovelha e na cabra logo mea, porém a ovulação é precedida por picos
no início da estação de monta podem estar de LH que ocorrem dentro de 48 horas após a
associados com a regressão prematura do cor- introdução do reprodutor. A resposta anovu-
po lúteo (CL) ou anovulação. latória de ovelhas ao carneiro é devido a um
ferormônio andrógeno-dependente secretado
Duração do Cio pelas glândulas sebáceas do carneiro.
A introdução de um bode junto a um grupo
O cio dura de 24 a 36 horas na ovelha e de de cabras leiteiras em anestro estacional não
24 a 48 horas na cabra (Tabela 15-2).A dura- apenas pode acelerar a chegada da estação
ção do cio é influenciada pela raça, idade, es- de monta em vários dias, como também pode
tação e presença do macho. As raças produto- efetivamente sincronizá-Ias. A maior parte
ras de lã apresentam períodos estrais mais das cabras em anestro estacional é detectada
longos do que as raças de corte. Cabras em cio dentro de 6 dias após a introdução do
Angorá apresentam uma duração de ciomais bode, seguido de ovulação e função normal do
curta (22 horas) do que as raças leiteiras. O corpo lúteo. Um período de isolamento sexual
cio é de duração mais curta em ambas as es- é necessário para obter o efeito do macho em
pécies no início e no fim da estação de monta, ovinos, porém breves contatos das ovelhas
na presença do macho e na primeira estação com carneiros não irá comprometer uma
de monta de fêmeas jovens. subsequente utilização do efeito do macho
(Cohen-Tannoudji et aI., 1987).Assim, a ovu-
Sintomas de Cio lação induzida pelo "efeito do macho" é mais
eficiente na cabra do que na ovelha.
Os sintomas de cio são mais distintos nas
cabras do que nas ovelhas. A cabra em ciofica OVULAÇÃO
inquieta, berra frequentemente, e balança a
cauda constante e rapidamente; pode apre- Ambas as espécies, ovina e caprina, são de
sentar pouco apetite e diminuição da produ- ovulação espontânea (Tabela 15-2).A ovelha
ção leiteira. O cio da ovelha é relativamente normalmente ovula próximo ao fim do cio,
pouco pronunciado e não é evidente na au- cerca de 24 a 27 horas após o início do cio.A
sência doreprodutor. Avulva fica edemaciada, maioria das raças de caprinos ovula entre 24
com corrimento mucoso através da vagina, e 36 horas após o início do cio, com exceção
evidentes em ambas as espécies. Ocasional- da Nubiana que ovula mais tarde, possivel-
mente, a cabra pode apr~entar um compor- mente devido ao ciclo estral mais longo nesta
tamento homossexual, o que não ocorre com raça. A ovulação sem cio ocorre antes do iní-
a ovelha. Sem a presença do macho, porém, o cio da estação de monta nas Nubianas e ou-
Ovinos e Caprinos 341

essas raças de grande fecundidade, existe


uma associação positiva entre a taxa de ovu-
", ;
,~ lação e o FSH plasmático no período
OO \
~O \
\
periovulatório (Bindon et aI., 1986).
\
~ 00 \ Driancourt et aI. (1985) investigaram a
~I população folicular ovariana e a extensão pré-
ovulatória em ovelhas Booroola e Merino;
~O .0
~
f;I;l 20 Murdoch (1985) avaliou os determinantes
~~
O<f;I;l
foliculares da ovulação. Vários parâmetros da
~ r:.. O
FMAMJJA.ONOJF8 fisiologia reprodutiva da ovelha foram estu-
MÊs dados em profundidade; o papel dos fotorre-
FIG. 15-4. Efeitos de dois ambientes nutricionais ceptores da retina no controle fotoperiódico
sobre a incidência de ovulação em cordeiras acima
de 15 meses. (De Hulet et a!. (1986). Effects of da estação de monta (Legan e Karsch, 1983);
nutritional environment and ram effect on as modificações ultra-estruturais no epitélio
breeding season in range sheep. Theriogenology do oviduto (Hollis et aI., 1984); transporte
25, 317). espermático e liberação nas trompas, e isola-
mento pré-ovulatório de células no istmo cau-
tras raças de cabras. A sequência de eventos dal (Hunter et aI., 1982; Hunter e Nichol,
hormonais durante o cicloestral é similar em 1983); o tempo necessário de permanência dos
ambas as espécies, mas a cabra apresenta espermatozóides na vagina para garantir a
uma fase progesterônica mais longa do que a concepção (Tilbrook e Pearce, 1986); diagnós-
ovelha. tico de gestação (Trapp e Slyter, 1983); e ati-
vidade antiluteolítica do concepto no início da
Taxa de Ovulação gestação (Lacroix e Kann, 1986). Cummins
et aI. (1986) aumentaram a taxa de ovulação
Em muitas raças de ovinos e caprinos, dois através da imunização de ovelhas Merino com
ou mais óvulos são liberados durante o cio.A uma fração de fluido folicular bovino conten-
taxa de ovulação é de 1,2 para os Merinos e 3 do atividade de inibina.
para a raça Finnish Landrace. Em ambas as
espécies, a taxa de ovulação aumenta com a ACASALAMENTO E CONCEPÇÃO
idade e atinge um máximo dos 3 aos 6 anos,
declinando gradualmente então. A maior parte da população mundial de
Dentre os fatores ambientais que influem ovinos e caprinos é manejada sob condições
sobre a taxa de ovulação, a estação e o nível livres em pastagens onde a cobertura natu-
de nutrição são importantes. Geralmente, as ral é extensivamente praticada. Diferente-
taxas de ovulação são maiores no início da es- mente dos bovinos, a inseminação artificial
tação de monta do que mais tarde (Fig.15-4). (IA) de ovinos e caprinos tem sido geralmen-
O "flushing" ou aumento do nível de nutrição te limitada, devido ao alto custo de trabalho,
antes da cobertura, é praticado comumente dificuldade de identificação acurada de
em ovinos para aumentar a taxa de ovula- reprodutores superiores e baixos níveis de
ção, porém fatores tais como tamanho concepção, especialmente com sêmen conge-
corpóreo, peso, condição e genótipo também lado.
podem contribuir para o aumento da taxa de Tanto o bode como o carneiro ejaculam pe-
ovulação. queno volume de sêmen com alta concentra-
Raças altamente férteis de ovinos incluem ção de espermatozóides (Tabela 15-3). Os car-
a Finnish Landrace, Romanov, Booroola neiros podem copular duas ou três vezes em
Merino e D'Man. A alta taxa de ovulação da poucos minutos quando colocados pela primei-
ra vez com fêmeas no cio. Eles geralmente
ra~Booroola Merino é devido à ação de um
ÚillCOgene, enquanto que na Romanov, a ovu- cobrem com maior frequência quando mais
lação está sob controle poligênico. Em todas de uma ovelha está no cio. O número de co-
342 Ciclos Reprodutivos

TABELA 15-3. Características Reprodu- espécies, os ovos entram no útero cerca de 72


tivas do Carneiro e do Bode horas após a ovulação.
Característica Carneiro Bode
Idade na puberdade (meses) GESTAÇÃO E PARTO
(espermatogênese) 4-6 4-6
Estação sexual Nenhuma Nenhuma
Duração do ciclo
Gestação
seminífero epitelial (dias) 10,3 ?
Sêmen A duração normal da gestação para ambas
Volume (rol) 0,8-1,2 0,1-1,5
1,5 2-6 as espécies é de cerca de 149 dias; a duração
Concentração (bilhões/rol)
Coberturas (macho:fêmeas) 1:30 1:50 varia entre raças e indivíduos (Tabela 15-4),
Em ovinos, as raças de reprodução precoce e
as raças altamente prolíficas têm períodos de
gestação mais curtos do que as raças de lã de
maturação lenta. Períodos individuais de ges-
tação dentro de uma raça variam até em 13
berturas por dia varia individualmente com dias. A duração da gestação para a maioria
os machos, com o clima e época em que os car- das raças de caprinos está dentro de 2 dias
neiros são colocados para reprodução. Certas da média da espécie, com exceção da raça
raças copulam mais frequentemente do que Black Bengal, cuja média é de 144 dias (Ta-
outras. Normalmente, um carneiro adulto é bela 15-4).
indicado para 30 ovelhas e um bode para 50 A hereditariedade tem um importante pa-
cabras. pel na determinação da duração da gestação.
Carneiros continuadamente em serviço O genótipo do feto contribui para quase dois
produzem volumes de sêmen e número de terços da variação na duração da gestação em
espermatozóides por ejaculado que situam-se ovinos. Cordeiros machos implicam em ges-
bem mais abaixo daqueles considerados ade- tações maiores do que cordeiras, cordeiros
quados para inseminação artificial. Ovelhas nascidos na primavera levam mais tempo do
que são cobertas mais de uma vez provavel- que os nascidos no outono, e os nascidos úni-
mente terão mais oportunidade de conceber
do que aquelas cobertas uma única vez. Apa-
rentemente, uma ovelha deve acumular um
número adequado de espermatozóides de vá- TABELA 15-4. Duração da Gestação e
rias coberturas com o mesmo ou com diferen- Número de Filhotes em Diferentes Raças
tes carneiros antes que ocorra a concepção. de Ovinos e Caprinos
A introdução repentina do bode pode indu- Gestação N2de
zir ciosem muitas cabras em um dia. Isto pode Espécie Raça (Dias) filhotes
resultar em muitas cabras não cobertas. Ovina Raças de lã
Reprodutores podem servir cabras até 20 ve- Rambouilette 150 1,3
Corriedale 150 1,5
zes por dia. Merino 150 1,0
A cópula usualmente ocorre antes da ovu- Raças de corte
lação, e por este motivo os espermatozóides Dorset 144 1,4
Suffolk 147 1,4
estarão presentes nas trompas por essa épo- 145
Hampshire 1,4
ca. Outros espermatozóides são armazenados Raças prolíficas
na cérvice (até 3 dias) e são continuamente Finnsheep 144 2,7
liberados no útero, onde sobrevivem cerca de Romanov 145 2,3
Caprina Alpina 152 1,8
30 horas. Os óvulos podem permanecer viá- Anglo-Nubiana 148 2,1
veis por 10 a 25 horas, porém o desenvolvi- Angorá 150 1,2
Saanen 154 1,8
mento anormal e a vÜj.bilidade diminuída Toggenburg 152 1,8
parecem aumentar cOm a idade, seja do Jamnapari 150 1,1
espermatozóide, seja 'do óvulo. Em ambas as Black Bengal 144 2,1
Ovinos e Caprinos 343

cos mais tempo do que os gêmeos. A duração para os cordeiros recém-nascidos de outras
da gestação também aumenta com a idade da ovelhas, levando ao "roubo do cordeiro".
mãe. A maioria dos cordeiros fica de pé dentro
O corpo lúteo da gestação persiste durante de 15 minutos após o nascimento, e dentro de
todo o período, porém as duas espécies dife- uma ou duas horas, a maior parte das ove-
rem quanto à fonte de progesterona para a lhas permite que o cordeiro dirija-se para o
manutenção da gestação. A ovelha é uma es- úbere. A cabra dispende mais tempo limpan-
pécie placenta-dependente, enquanto que a do vigorosamente e orientando o primeiro
cabra é uma espécie corpo lúteo-dependente. nascido, de modo que o segundo, que geral-
Durante o primeiro trimestre, ambas as es- mente é o mais fraco dos dois, tem maior opor-
pécies dependem do corpo lúteo. Mais tarde, tunidade para mamar.
a placenta torna-se a fonte primária de O "período crítico" de união da ovelha ao
progesterona na ovelha, enquanto que o cor- cordeiro é curto; se o cordeiro for removido
po lúteo continua como a principal fonte na logo após o nascimento, ele será rejeitado pela
cabra. Por este motivo, a ovariectomia na ca- mãe quando apresentado a ela 6 a 12 horas
bra em qualquer fase da gestação, provoca mais tarde. Algumas ovelhas primíparas de-
abortamento. monstram pouco interesse e abandonam seus
cordeiros recém-nascidos. O comportamento
Parto materno aberrante é mais comum com nasci-
mentos gêmeos, especialmente entre Merinos.
O feto representa o papel chave no início O ovino é um exemplo clássico de "espécie
do parto em ambas as espécies, porém o par- seguidora", diferentemente do caprino, uma
to é precedido pela regressão do corpo lúteo "espécie que esconde": i. é, o filhote tende a
na cabra. seguir suas mães desde o nascimento ao in-
Os partos são distribuídos durante o dia. vés de permanecerem deitados e escondidos
O comportamento da ovelha depende muito por vários dias enquanto as mães estão au-
da facilidade do parto, mas geralmente, a in- sentes. As cabras parecem ser "escondedoras"
quietação inicial é substituída por períodos nos primeiros dias após o parto, conforme se
em que a ovelha fica deitada, devido a dores deduz das cabras selvagens dos países mon-
abdominais. A maior parte dos cordeiros e tanhosos, havendo uma clara preferência para
cabritos nascem em apresentação anterior, i. o isolamento materno na época do nascimen-
é, cabeça e membros anteriores. A duração to.
do parto varia muito, particularmente com
um cordeiro ou cabrito superdesenvolvidos, Adiantando a Estação de Monta
com gêmeos imprensados na pelve ou com
apresentação anormal. Uma gestação com cerca de 150 dias per-
O nascimento de gêmeos geralmente é mais mite que a ovelha e a cabra produzam mais
rápido do que o de um único animal, porém o de uma vez por ano. Porém, devido ao anestro
intervalo entre a expulsão de gêmeos varia estacional das ovelhas e cabras nas latitudes
desde poucos minutos até uma hora ou mais. da zona temperada, elas não ciclam após o
As cabras são mais eficientes do que as ove- parto na primavera até o outono, resultando
lhas no reconhecimento de que pariram gê- na possibilidade de nascimento de apenas um
meos. cordeiro ou cabrito por ano. Se ambas as es-
Vigorosas lambidas (ato de limpar) e a pécies pudessem ser induzidas à reprodução
ingestão de membranas fetais aderentes ao durante o anestro estacional, elas dariam cria
neonato começam imediatamente após o nas- na estação.de monta,. e com isso parindo duas
cimento. Os fluidos fetais parecem desempe- vezes ao ano.
nhar um papel crítico para atrair a ovelha Vários métodos podem ser usados para in-
-pafa o seu cordeiro. Ovelhas que ainda não duzir a reprodução durante o anestro esta-
tenham parido são atraídas para os fluidos e cional da ovelha. Eles incluem uma combina-
344 Ciclos Reprodutivos

ção de progesterona e eCG, o "efeito do car- DESEMPENHO REPRODUTIVO


neiro", alterando a duração do dia com luz
artificial (8 horas de luz seguida de 16 horas Eficiência Reprodutiva
de escuridão), e mais recentemente com
melatonina exógena. A avaliabilidade comer- A eficiência reprodutiva depende da taxa
cial de implantes subcutâneos de melatonina de concepção (fertilidade) ou proporção de
propicia um método prático de obtenção fora ovelhas cobertas que concebem, da taxa de
da estação de monta em raças de ovelhas em parição (fecundidade) ou número de cordei-
anestro estaciona!. O implante expõe a ove- ros nascidos e da porcentagem de partos ou
lha à melatonina por 30 a 40 dias, o que re- número de cordeiros nascidos por 100 ovelhas
sulta em ciclicidade ovariana normal na maio- expostas. Estas taxas dependem da taxa de
ria delas. Assim, a melatonina irá avançar a ovulação (número de óvulos expulsos por cio),
estação de monta normal de modo que as ove- que estabelece o limite superior para a por-
lhas podem ser cobertas na primavera ou iní- centagem de partos. Prolificidade é o número
cio de verão, porém ela não estenderá a esta- relativo de descendentes vivos produzidos em
ção de monta se for administrada no meio determinado intervalo, tal como um ano.
desta. Nas raças de cabras éom anestro Métodos similares são utilizados para medir
estacional, a administração de melatonina o desempenho reprodutivo na cabra.
não irá adiantar significativamente a esta- As taxas de concepção são cerca de 85% na
ção de monta. ovelha e cabra adultas nas zonas tempera-
das durante a estação média de reprodução.
A taxa média de partos é de cerca de 150%.
PUERPÉRIO Diferenças marcantes ocorrem na taxa de
ovulação, resultantes da raça, idade, estação
As modificações que ocorrem no sistema e nutrição. A fertilidade diminui próximo do
reprodutivo durante o puerpério incluem equador, no início e no fim da estação de mon-
involução uterina e retorno da atividade ova- ta. A fertilidade também diminui durante a
riana. A maioria dos dados de puerpério refe- época quente, em fêmeas desnutridas ou
rem-se à ovelha com uma carência de infor- muito gordas, em fêmeas jovens e velhas,
mações sobre a cabra. quando o conteúdo estrogênico das forragens
Na ovelha, a involução uterina está com- está alto, quando as fêmeas estão muito
pletada aos 27 dias e precede o primeiro cio parasitadas ou sofrendo de alguma doença ou
pós-parto. Não há informações sobre a cabra. estressadas. A taxa de ovulação pode ser au-
Desde que as ovelhas e as cabras são repro- mentada pela modificação do plano de nutri-
dutoras estacionais, os intervalos pós-parto ção ("flushing"). Ovelhas em condições
ao primeiro cio e ovulação são marcadamente corpóreas normais respondem ao "flushing"
afetados pela estação do parto. O intervalo durante o início e o final da estação de mon-
pode ser tão curto quanto 5 a 6 semanas na ta, mas não no meio da mesma. O cruzamen-
ovelha e na cabra ou tão longo quanto 10 se- to com raças que possuem alta taxa de ovula-
manas na ovelha e 27 semanas em algumas ção (p. ex., Booroola, Finn e Romanov) pode
raças caprinas. Se os partos ocorrem durante aumentar o número de cordeiros nascidos de
a estação de monta, as ovelhas e cabras 250 a 400%, podendo também encurtar o in-
reassumirão a atividade ovariana e concebe- tervalo entre partos.
rão. A primeira ovulação pós-parto em ove- As cabras nos trópicos II).antêmaltos níveis
lhas que parem durante a estação de monta de fertilidade e de nascimento de gêmeos. O
ocorre dentro de 20 dias'e não está associada calor estressante e a nutrição insuficiente
com cio evidente. Fatores outros que não a diminuem o desempenho reprodutivo de ra-
estação e que influem sobre o retorno da ati- ças temperadas de ovinos e caprinos. Esta
vidade ovariana incluem a amamentação, a diminuição do desempenho reprodutivo pode
raça, a nutrição e a temperatura ambiente. ser contornada pelo cruzamento destas raças
Ovinos e Caprinos 345

com outras raças tropicais. Raças de cabras Número de Animais Nascidos. Métodos
selvagens nos trópicos parem a intervalos de práticos estão disponíveis para aumentar a
240 a 390 dias, porém certas raças indianas taxa de ovulação que determina o limite su-
como a Jamnapari e Barbari têm mais de um perior para o número de animais nascidos. O
parto por ano. "flushing" é bastante usado para aumentar a
taxa de ovulação. Ovelhas em condições nor-
mais respondem ao "flushing" no início e no
Regulação Artificial da Reprodução fim da estação de monta, porém não no meio
desta.
A estacionalidade na reprodução limita a Gonadotrofinas exógenas (eCGIPMSG) são
taxa reprodutiva da ovelha e da cabra a um empregadas para induzir múltiplas ovulações
parto por ano. A manipulação da reprodução em ambas as espécies, porém a resposta à
por métodos genéticos, fisiológicos e dose é altamente variável e leva a perdas
ambientais pode aumentar a frequência de embrionárias. Uma abordagem alternativa à
montas por ano assim como o número de des- terapia com gonadotrofinas (gêmeos) é a imu-
cendentes nestas espécies. nização esteróide, que apresenta respostas
Frequência de Montas. Uma gestação de consistentes. A imunidade à estrona ou à
aproximadamente 150 dias torna possível à androstenediona leva a um aumento da
ovelha e à cabra darem mais de uma cria por frequência de pulsos de LH em ovelhas
ano. Vários métodos têm sido investigados anéstricas e a elevados níveis de FSH no caso
visando reduzir o intervalo entre partos de da estrona; a taxa de ovulação é aumentada
uma vez por ano para três vezes em dois anos em cerca de 0,6 ovulações por ovelha. A técni-
(8 meses de intervalo) ou duas vezes ao ano ca envolve duas injeções com 3 a 4 semanas
(intervalo entre partos de 6 meses). de intervalo antes da introdução do carneiro.
Progestágenos combinados com gona- O aumento na taxa de ovulação refletiu-se no
dotrofina coriônica equina (eCGIPMSG) foi aumento de 30 a 40% de cordeiros criados;
um dos primeiros métodos para indução da esta técnica pode ter futura aplicação na cria-
atividade ovariana em ovelhas anéstricas fora ção de ovinos.
da estação de monta; os índices de fertilidade Embora a herdabilidade da fertilidade e da
apresentaram média de 30 a 60% no cio in- fecundidade pareça baixa, a prolificidade de
duzido. Mais tarde, o "efeito do carneiro" men- ovinos tem sido aumentada através da sele-
cionado previamente foi aplicado fora da es- ção. Os traços mais importantes das ovelhas
tação de monta. Por exemplo, o Merino das raças Finn e Romanov são sua alta
Australiano, French Prealpes e Ile de France, prolificidade de 250 a 400% no nascimento
que apresentam uma estação de monta res- de cordeiros e seus intervalos entre partos
trita, podem ser colocados em reprodução em mais curtos. Por este motivo, o cruzamento
resposta ao estímulo do macho em outras épo- sistemático com estas raças poderia alongar
cas do ano. a estação de monta natural e aumentar o
Alterando-se o padrão da extensão do dia número de cordeiros nascidos de raças tradi-
com luz artificial pode-se aumentar a cionais.
frequência reprodutiva em ovinos, porém a Extensas investigações foram conduzidas
aplicação deste método é limitada. A desco- em cabras leiteiras e de corte com ênfase no
berta de que a melatonina pode substituir a seguinte: reprodução estacional em cabras
escuridão pode ser utilizada para imitar as leiteiras (Mohammad et aI., 1984), sincroni-
~odificações na atividade reprodutiva dos zação do cio (Ott et aI., 1980), eficiência
dias encurtados. Alimentando-se ovelhas reprodutiva (Erasmus et aI., 1985; Thompson
anéstricas estacionais com melatonina, a es- et aI., 1983); níveis hormonais (Forsyth et aI.,
tação de monta foi acelerada; este método 1985; Wathes et aI., 1986); técnicas de colhei-
pode apresentar futura aplicação na repro- ta de sêmen (Memon et aI., 1986); caracterís-
dução ovina. ticas seminais (Ali e Mustafa, 1986); emissão
346 Ciclos Reprodutivos

de espermatozóides, reserva espermática tes- Cooke, RG. and Knifton, A. (1980). Removal of eor-
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~
16
SUÍNOS
L.L. Anderson

DESENVOLVIMENTO E MATURAÇÃO autossômico no qual TDF deve estar presen-


SEXUAL te foi identificada como um novo gene no
cromossomo Y humano (Sinclair et aI., 1990).
O sexo genético determina o desenvolvi- Este gene é preservado e Y específico entre
mento do sexo das gônadas, que em uma grande variação de mamíferos (incluin-
contrapartida determinam as capacidades do os suínos) e codifica uma reprodução testi-
fenotípicas e reprodutivas. O cromossomo Y cular específica.
e os genes localizados nos autos somos são crí- Na organogênese testicular, as células
ticos para o desenvolvimento das gônadas germinativas são atraídas e encapsuladas por
eventualmente capazes para desenvolver a células somáticas, inicialmente em disposi-
espermatogênese. Esta é necessária indire- ções como cordões seminíferos, que são deli-
tamente para o desenvolvimento normal do neados por tecido conjuntivo. Os cordões ce-
sistema reprodutivo masculino, do sexo orgâ- lulares eventualmente fazem concavidades
nico e das características típicas do compor- dentro dos túbulos seminíferos com conexões
tamento masculino. O embrião suíno possui aos túbulos mesonéfricos. As células
38 (2n) cromossomos. somáticas dentro dos túbulos seminíferos di-
Ai!,gônadas se originam do aspecto interno ferenciam-se em células sustentaculares (cé-
dos mesonefros, que consiste do epitélio lulas de sustentação ou células de Sertoli).
celômico, do mesênquima subjacente e das Entre os túbulos seminíferos, as células do
células germinativas primordiais. As células mesênquima diferenciam-se em células
germinativas têm origem extra-regional. A intersticiais (células de Leydig). Os testícu-
diferenciação sexual dos primórdios não dife- los então produzem hormônios que induzem
renciados começa quando as gônadas se dife- o desenvolvimento fenotípico masculino nor-
renciam em machos genéticos (Tabela 16-1). mal.
O gene Y codificado determinante do sexo foi Na fêmea genética, a oogênese ocorre mais
denominado TDF (fator determinante dos tes- tarde, cuja característica óbvia é a ausência
tículos) na espécie humana e Tdy (determi- dos padrões de indução testicular da orga-
nante testicular do cromossomo Y) em camun- nogênese. O epitélio superficial do presumi-
dongos. Em mamíferos euterianos, a do ovário torna-se separado da massa celular
evidência sugere que a determinação do sexo central. O córtex ovariano prolifera e células
é equivalente à determiIlação testicular. Uma germinativas (oogônias) dentro desta região,
região 35-quilobase da sequência Y específi- transformam-se em oócitos e iniciam as fases
ca imediatamente adjacente ao limite pseudo- iniciais de pré-meiose antes de ficarem sepa-

348
Suínos 349

TABELA 16-1. Desenvolvimento Gonadal de Embriões Suínos


Dia Macho Fêmea

21 Primórdios das gônadas Primórdios das gônadas

22-24 Células primitivas do cordão Células primitivas do cordão


Células germinativas primordiais Células germinativas primordiais

26 Epitélio superficial Epitélio superficial


Mesênquima Mesênquima
Cordões testiculares Blastema gonadal
Interstício
Produção de testosterona

27 Células de Sertoli

29 Produção de AMH

30 Células de Leydig

31 Ninhos de óvulos

35 Produção de 3B-HSD
Testosterona máxima
40 Meiose das células germinativas

60 Descida testicular Folículos primordiais

70 Folículos primários

90 Testículos no escroto Folículos secundários

AMH = Síndrome anti-Müller.

radas do mesênquima por uma única cama- orgânicos porque eles impõem masculinida-
da de células foliculares em diferenciação. de no trato genital em desenvolvimento e so-
Presumivelmente, os folículos impedem que bre as características sexuais secundárias e
os oócitosentrem em processos meióticos além o comportamento. Na sua ausência, ou na pre-
da fase diplótena. Os folículos primordiais sença ou ausência dos ovários, o trato genital
permanecem neste estágjo quiescente até a e as características sexuais secundárias de-
puberdade. senvolvem-se como uma fêmea normal. Em-
Os túbulos mesonéfricos estabilizam-se no bora a produção de andrógenos pelas gônadas
embrião masculino normal como dutos de embrionárias influencie o desenvolvimento da
Wolff (p. ex., epidídimos, canais deferentes, genitália interna e externa, a secreção do
vesículas seminais, próstata e glândulas hormônio antidutos de Müller (AMH,ou subs-
bulbouretrais), ao passo que no embrião fe- tância inibidora de Müller [MISDpelos testí-
minino os túbulos paramesonéfricos persis- culos parece essencial para induzir a regres-
tem como dutos de Muller (p. ex., trompas, são dos dutos müllerianos.AMIS é composta
ú~ro, cérvice e porção cranial da vagjna). Os de duas subunidades de 70.000 dáltons cada,
dois sistemas de dutos estão presentes no de- sendo ligada por dois vínculos dissulfídicos
senvolvimento embrionário precoce e são ap- (Donahoe et aI., 1987), e é sintetizada pelas
tos para se desenvolverem na genitália inter- células de Sertoli precocemente no 27Qdia e
na e externa, masculina e feminina. Parece antes do aparecimento das células de Leydig
que os testículos são diferenciadores sexuais no 30Qdia da vida fetal suína. As MISs bovi-
350 Ciclos Reprodutivos

no e humano compartilham alto grau de as características ultra-estruturais que são


homologia (78%) nas sequências aminoácidas similares em ambos os sexos.
primárias. A gametogênese e o desenvolvimento ova-
A gônada primordial (crista genital) nos riano dos embriões de suínos do 13Qdia após
embriões suínos aos 21 e 22 dias é composta a cobertura até o nascimento e durante o pe-
de epitélio superficial, tecido em proliferação ríodo neonatal precoce indicam padrões de
dos cordões primitivos das gônadas e de atividades mitóticas e meióticas durante es-
mesênquima. O epitélio superficial consiste tes períodos. O número de células
de células colunares variáveis em um único germinativas aumenta dramaticamente de
estrato e células cubóides menores dispostas aproximadamente 5.000 no 20Qdia a um pico
em dois ou três estratos. Os cordões celulares de 5.000.000 no 50Qdia. Depois disso, a ativi-
primitivos são derivados das células epiteliais. dade mitótica germinativa diminui e aumen-
Os cordões são primeiro encontrados na por- ta a necrose das células germinativas. No
ção posterior da crista genital e ao redor do nascimento, a população de células
22Qdia aumentam em número e prolongam- germinativas é de aproximadamente 400.000.
se mais profundamente para dentro do Durante o desenvolvimento embrionário, a
mesênquima. Estes cordões são contínuos com atividade mitótica somática apresenta um
o epitélio superficial. As células germinativas nível maior, porém com um padrão similar à
primordiais são arredondadas ou alongadas atividade mitótica germinativa. A síntese pré-
com diâmetros de 10 a 20 j.!m(Fig. 16-1c e e). meiótica de DNA e a transformação de
Estas células germinativas agora sofrem di- oogônias em oócitos continua pelo menos até
visões mitóticas na crista genital. O núcleo o 35Qdia de vida após o nascimento. A meios e
destas células germinativas é arredondado (i. inicia-se precocemente no 40Q dia do desen-
é, 10 j.!m)e contém um ou dois nucléolos com volvimento embrionário. O estágio quiescente
cerca de 3 j.!mde diâmetro. A morfologia fina pré-meiótico (diplóteno) dos oócitos de suínos
das células germinativas é similar em ambos aparece primeiro perto do 50Q dia de vida em-
os sexos aos 21 e 24 dias da vida embrionária brionária e quase todas as células
(Fig. 16-1e e D. germinativas dos ovários são diplótenas aos
Aos ~4 dias, as gônadas de ambos os sexos 20 dias após o nascimento. A escassez de
mostram novo desenvolvimento dos cordões oogônias e a ausência de oogônias em mitose
primitivos em continuidade com o epitélio indicam o acabamento do processo de
superficial (Fig. 16-1c e d). O blastema oogênese no 100Q dia do desenvolvimento
goI1~dal ocupa espaço entre o epitélio e o embrionário.
mesênquima na porção basal da gônada. Na O crescimento celular e nuclear das célu-
região central, o blastema gonádico consiste las germinativas aumenta bastante do está-
primariamente de células irregularmente or- gio de oogônias (13 j.!m de diâmetro) para o
ganizadas e é chamado de blastema próprio. de oócitos dentro de um folículo primordial
Aos 26 e 27 dias, as gônadas apresentam (27 j.!m de diâmetro). O tamanho celular du-
protrusões longitudinais ao longo da superfí- rante os estágios precoces da prófase meiótica
cie mesonéfrica medial em ambos os sexos (leptóteno, zigóteno e paquíteno) é maior do
(Fig. 16-1a e b). Os cordões testiculares e o que o das oogônias. O oócito permanece no
interstício são derivados do blastema gonádi- estágio diplóteno até a época da ovulação,
co. Células sustentaculares dos cordões testi- porém ele continua a aumentar de diâmetro
culares assemelham-se às células do cordão durante a maturação folicular; os folículos em
primitivo e as espermatogônias são similares crescimento aumentam aproximadamente
às células germinativas primordiais. As célu- três vezes. O oócito aumenta até um diâme-
las intersticiais ainda não se diferenciaram tro máximo de 120 j.!m nos folículos de Graaf
em células de Leydig. As células do epitélio próximo à época da ovulação, e a zona
superficial, cordões primitivos, mesênquima pelúcida consiste de uma matriz homogênea
e células germinativas primordiais conservam de aproximadamente 8,6 j.!m de espessura
Suínos 351

(Legenda aparece na próxima página)


352 Ciclos Reprodutivos

(Fig. 16-1h). A área superficial da membrana oogênese; elas transportam seus materiais
celular (membrana vitelínica) fica aumenta- nutritivos por meio destes extensivos proces-
da pelas microvilosidades irregularmente dis- sos citoplasmáticos. Estas células desapare-
postas em contato com processos celulares que cem logo após a ovulação. As mitocôndrias
vêm da corona radiata rodeando a zona formadas nos oócitos podem incluir contribui-
pelúcida. Grânulos corticais com cerca de 0,20 ções de materiais precursores das células da
J.lmde diâmetro são numerosos imediatamen- corona radiata, porém estes mecanismos não
te abaixo da parede membranosa do oócito e estão claramente definidos. Os grânulos
próximos ao complexo de Golgi. Outras carac- corticais são expulsos através da membrana
terísticas proeminentes do citoplasma do vitelínica ao contato com o espermatozóide
oócito incluem glóbulos homogêneos de vitelo, fertilizante.
mitocôndrias frequentemente localizadas pró- O desenvolvimento testicular normal no
ximas a esses glóbulos e retículo endoplas- suíno desde o período fetal precoce até a ma-
mático granular e agranular. O núcleo con- turidade sexual indica que o crescimento tes-
siste de uma membrana nuclear interna e ticular é retardado em relação ao crescimen-
outra externa com numerosos poros na mem- to do corpo de 7 a 14 semanas após a
brana nuclear. Dentro do núcleo, um nucléolo cobertura. De 14 semanas após a cobertura a
excentricamente localizado (aproximadamen- três semanas após o parto, o crescimento tes-
te 7 J.lmde diâmetro) contém fibrilas, grânu- ticular excede o crescimento do corpo, prima-
los e vacúolos esféricos. riamente por causa do desenvolvimento das
As células da corona radiata são células células de Leydig. Embora o peso testicular
granulosas suínas no aspecto externo da zona aumente no período pré-natal, uma
pelúcida, que estão dispostas em um padrão significante diminuição ocorre três a sete se-
radial. Estas células granulosas usualmente manas após o parto em consequência da re-
aderem umas às outras e projetam longos gressão das células de Leydig. Sete semanas
processos celulares (microvilosidades) através após o parto, o crescimento testicular excede
da zona e espaço perivitelínico, e estas novamente o crescimento do corpo, em gran-
microvilosidades terminam como bulbos ter- de parte devido aos aumentos no comprimento
minais em contato com a parede membranosa e diâmetro dos túbulos seminíferos. A partir
do 'oócito. Elas são tidas como células que de 14 semanas após o coito até 3 semanas após
nutrem o oócito em crescimento durante a o nascimento, o número de células

FIG. 16-1. a. Fotomicrografia de testículo fetal de suino no 26Qdia. b. Fotomicrografia de ovário fetal de
suíno no 27Qdia. c. Fotomicrografia de gônada masculina de embrião suíno no 24Qdia. d. Fotomicrografia
de gônada feminina de embrião suíno no 24Qdia. e. Microfotografia eletrônica de uma porção cortical de
uma gônada masculina de embrião suíno no 24Qdia. f Microfotografia eletrônica de uma célula germinativa
primordial com nucléolo proeminente de gônada feminina em embrião suíno no 21Qdia. g. Oócito suíno
em diplóteno; notar grande núcleo excêntrico. Uma única camada de células foliculares frouxas circunda
o oócito, formando assim um folículo primordial. h. Espermatozóide suíno no espaço perivitelínico com a
cabeça unida à membrana vitelínica do óvulo. i. Blastocisto suíno esférico (8,5 mm de diâmetro com
cavidade cheia de fluido) no 12Qdia. A seta indica o disco embrionário. B, Superncie epitelial da lâmina
basal; CA, capilares; E, célula epitelial superficial; GB, blastema gonádico; GR, retículo endoplasmático
granular; IC, célula intersticial; IS, interstício; L, cavidade celômica; M, mitocôndria; MS, mesênquima;
PC, cordões primitivos; PG, células germinativas primordiais; PS, pseudópodo de citoplasma; SE, epitélio
superficial. (a e b. De Pelliniemi, L.J. (1975). Am. J. Anat. 144, 89. c, d, e e. De Pelliniemi, L.J. (1976).
Cell Tissue 8, 163. f De Pelliniemi, L.J. (1975). Anat. Embryol. 147, 19. g. De Black, J.L. e Erickson,
B.H. (1968). Anat. Rec.161, 15. h. De Hunter, R.H.F. e Dziuk, P.J. (1968). J. Reprod. Fertil.15, 199. i. De
Anderson, L.L. (1978). Anat. Rec. 190, 143).
Suínos 353

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Índice d~ Ovulação Dias Após a Cobertura

(Legenda aparece na próxima página)


354 Ciclos Reprodutivos

germinativas por testículo mostra um cons- 492 ao 802 dia após o coito, o LH sérico, FSH e
tante nível duplicador, porém o número por a prolactina permanecem baixos. Estas
túbulo em corte transversal diminui em gonadotrofinas aumentam após o 902 dia,
consequência do comprimento tubular. A atingem níveis de pico durante a primeira
morfogênese está aproximadamente comple- semana após o nascimento, e então diminu-
ta às 25 semanas após o nascimento. em gradualmente na sétima semana. A pro-
dução de testosterona tardia na vida fetal tor-
CONTROLE HORMONAL DO na-se gonadotrofina dependente. O
REPRODUTOR SUÍNO alongamento dos túbulos seminíferos prova-
velmente é maior nessa época por estímulo
Os blastocistos suínos são capazes de sin- do FSH das células de Sertoli.
tetizar estrógenos no 122 dia (Fig. 16-1i). Os A descida testicular começa ao redor do 602
testículos de fetos suínos contêm .ó.3-3B - dia após o coito, com crescimento do
hidroxiesteróide deidrogenase (3P-HSD) e gubernáculo na época em que os níveis san-
deste modo possui capacidade esteroidogênica guíneos de testosterona e gonadotrofinas es-
antes da diferenciação das células de Leydig. tão baixos. Os testículos atravessam o canal
Evidências histoquímicas sugerem a presen- inguinal em cerca de 85 dias e movem-se para
ça de 3B-HSD nas células de Leydig ao redor a base do escroto logo após o nascimento. Pa-
do 352 dia. drões de LH e concentrações de testosterona
As concentrações de testosterona no soro igualam-se ao desenvolvimento testicular
da artéria umbilical são maiores no 352 dia (4 durante estes períodos pré e pós-natal.
a 5 ng/ml) do que nas concentrações anterio- Durante a hipertrofia pré-puberal, as cé-
res ou posteriores (menos de 0,5 ng/ml) no lulas de Leydig atingem diâmetros de 30 Ilm
desenvolvimento fetal. Os testículos fetais e mostram finas características estruturais
secretam testosterona durante a diferencia- típicas que incluem um aumento do número
ção da genitália interna e externa. A diferen- de mitocôndrias, desenvolvimento de retículo
ciação dos dutos de Wolff e o desenvolvimen- endoplasmático agranular e numerosos
to das vesículas seminais, próstata, glândulas filamentos citoplasmáticos. Estas e outras
bulbi:>uretrais e genitália externa ocorre en- organelas citoplasmáticas assemelham-se
tre os dias 26 e 50. No 292 dia, os testículos àquelas encontradas em reprodutores suínos
suínos produzem suficiente AMH para indu- adultos. A hipofisectomia em porcos imatu-
zir a regressão dos dutos de Müller, e esta ros provoca regressão dos testículos,
produção de AMH persiste até após o nasci- epidídimos, próstata, vesículas seminais e
mento. glândulas bulbouretrais. Em porcos sexual-
As concentrações de testosterona sérica são mente maduros, a hipofisectomia resulta em
baixas durante a última metade do desenvol- regressão testicular, diminuição do diâmetro
vimento fetal e aumenta a níveis máximos ao dos túbulos seminíferos com ablação da
redor de 2 semanas após o nascimento. Do espermatogênese, redução do número de cé-

FIG. 16-2.A. Peso médio de pares de testículos de porcos com 40 a 240 dias de idade. B. Co~entrações
no plasma sanguíneo periférico de pro~esterona, estrógeno, FSH e LH durante o cicloestral na porca. C.
Desempenho reprodutivo em relação à ordem de parto na porca. D. Tamanho da leitegada em relação ao
índice de ovulação em marrãs primíparas. E. Concentrações plasmáticas periféricas de progesterona,
relaxina e prolactina no final da gestação, no parto e início da lactação em marrãs Yorkshire. (A. Adap-
tado de Allrich, RD. et aI. (1982). J. Anim. Sei. 55, 1139. B. Adaptado de Parvizi, N. et aI. (1976). J.
EndocrinoI. 69, 193; Guthrie, H.D. et aI. (1972). Endocrinology 91,675. C. Adaptado de Lush, J.L. e
Molln, A.E. (1942). Tech.Bull.D.S. Dept. Agric., 836; Rasbech, N.O. (1969). Br.Vet. J. 125, 599. D. Adap-
tado de Rhodes, M.T. et aI. (1991). J.Anim. Sei. 69, 34. E. Adaptado de Li, Y.et alo(1991). Endocrinology
129,2907.)
Suínos 355

lulas de Leydig e regressão das glândulas se- veis plasmáticos de LH. Assim, os andrógenos
xuais acessórias. Inj eções diárias de modulam a secreção de hormônios
gonadotrofina coriônica humana (hCG) res- hipotalâmicos, que em contraposição contro-
tabelecem as células de Leydig nesses animais lam a liberação de LH da adeno-hipófise no
hipofisectomizados, porém o efeito é transi- porco.
tório e essencialmente perdido após um mês.
De 40 a 250 dias de idade, o peso do par de PRODUÇÃO ESPERMÁTICA
testículos aumenta acentuadamente (Fig. 16-
2A). As concentrações de testosterona no soro O comportamento em suínos apresenta
periférico aumentam à medida que progride dimorfismo sexual logo com um mês de ida-
o desenvolvimento puberal, diminuindo com de. A monta da leitegada é observada com
a aproximação da maturidade. Os níveis mais frequência nos machos que nas fêmeas
séricos de estradiol-17B aumentam constan- (Ford, 1990). Os porcos atingem a puberdade
temente durante todo o desenvolvimento com cerca de 125 dias de idade. Os
puberal, ao passo que o LH permanece rela- espermatozóides estão presentes nos testícu-
tivamente constante. Os sulfatos esteróides, los, porém pode haver um certo atraso antes
tais como o sulfato de deidroepiandrosterona de se tornarem capazes de fertilizar os óvu-
e os 16-androstenes podem atuar como pre- los. A atividade de monta ocorre precocemen-
cursores dos hormônios androgênicos no te (a ereção ao redor de 4 meses), porém os
reprodutor suíno. O estradiol-17B no macho padrões sequenciais de comportamento sexu-
pode representar um papel sinergístico com al culminam após 5 meses. As primeiras
a testosterona no comportamento sexual e ejaculações ocorrem de 5 a 8 meses de idade.
agir sobre as glândulas sexuais acessórias, O número de espermatozóides e o volume de
assim como realçar a síntese testicular de sêmen continuam aumentando durante os
testosterona. primeiros 18 meses de vida. A duração de um
Em porcos púberes e sexualmente madu- ciclo do epitélio seminífero requer 8,6 dias.
ros, a injeção endovenosa de hormônio Com base em características histológicas das
liberador do hormônio LH (LH- RH) provoca células, oito estágios podem ser descritos den-
uma imediata liberação de LH hipofisário a tro deste período, com duração do primeiro
valores máximos dentro de 10 minutos. As ao oitavo de 0,9; 1,2; 0,3; 1,0; 0,8; 1,7; 1,6 e
hipófises do macho púbere e adulto têm sen- 1,0 dias, respectivamente. A duração do ciclo
sibilidades similares ao estímulo do LH -RH, espermatogênico (de espermatogônia até
e os níveis circulantes de testosterona no adul- espermatozóide maduro) é de aproximada-
to não modificam apreciavelmente esta res- mente 34,4 dias no porco; assim, quatro ci-
posta. Em machos castrados, o LH plasmático clos de epitélio seminífero ocorrem durante
é mantido nos maiores níveis basais, porém um ciclo espermatogênico. A vida útil dos
a imediata liberação de LH em resposta ao espermatócitos primários é de 12,3 dias; os
LH-RH segue um padrão similar àquele dos espermatócitos secundários, 0,4 dias; das
porcos púberes e maduros. A testosterona e espermátidas com núcleos arredondados, 6,3
seus metabólitos, 5a-diidrotestosterona (5a- dias; das espermátidas com núcleos alonga-
DHT), subministra efeitos estimulantes e dos, 1,5 dia e dos espermatozóides, 6,2 dias.
inibidores sobre a secreção de LH no porco. A A duração para o trânsito dos esperma-
implantação intracerebral direta de grandes tozóides através dos epidídimos é de cerca de
quantidades de 5a-DHT ou de testosterona 10,2 dias. Este período dentro dos epidídimos
no hipotálamo médio basal ou amígdala ini- é necessário para a maturação dos
be a liberação de LH da hipófise, conforme se espermatozóides e para adquirir a habilida-
reflete nos níveis plasmáticos diminuídos de de de fertilizar os óvulos. Maiores níveis de
gonadotrofina no sangue periférico, enquan- fertilização resultam de espermatozóides ob-
to que a implantação de quantidades meno- tidos das porções proximal e distal da cauda
res destes esteróides no cérebro eleva os ní- do epidídimo. A testosterona sustenta a ati-
356 Ciclos Reprodutivos

vidade secretora das glândulas acessórias (p. de, embora elas respondam diferentemente à
ex., vesículas seminais, próstata, glândulas remoção dos ovários. Os níveis séricos de LH
bulbouretrais), e estes fluidos seminais cons- aumentam dentro de 2 dias após ovariectomia
tituem uma grande proporção do ejaculado de marrãs pré-púberes (120 dias de idade) e
total do porco. após a puberdade (210 dias de idade). O au-
mento da secreção de LH é atrasado em pré-
púberes quando comparado a marrãs pós-
HORMÔNIOS E PUBERDADE EM puberdade durante os primeiros 14 dias após
MARRÃS a ovariectomia. Outrossim, o modo como au-
mentam as secreções de LH após a
A gônada fetal diferencia-se em um ovário ovariectomia não é influenciado pela idade
ao redor do 35Qdia de gestação pelo apareci- cronológica, mas antes reflete o estágio pré e
mento de ninhos de óvulos (Tabela 16-1). pós-puberdade do desenvolvimento. A sensi-
Folículos primários e secundários aparecem bilidade do eixo hipotalâmico-hipofisário que
na gestação tardia. A atividade regula a secreção de LH à ação retrógrada
esteroidogênica do ovário fetal ocorre mais negativa do estradiol-17B também diminui à
tarde do que nos testículos. Células secretoras medida que as marrãs progridem do estado
de FSH foram identificadas em fetos com 70 pré para o de pós-puberdade. A infusão de LH-
dias, e as concentrações de LH na artéria RH induz um aumento significativo nas con-
umbilical aumentam em resposta ao LH-RH centrações séricas de LH, levando a valores
entre o 70Qe o 100Qdia. Níveis séricos de FSH, de pico ( > 6 ng/ml) 15 minutos depois, sendo
LH e de prolactina aumentam precedendo o seguido por um declínio a níveis basais de LH.
nascimento. Durante as primeiras 5 semanas Durante o período pré-púbere, os ovários
após o nascimento, as concentrações de LH e contêm numerosos pequenos folículos (2 a 4
de prolactina diminuem, enquanto que o FSH mm de diâmetro) e vários (8 a 15) de tama-
permanece elevado até cerca de 10 semanas nho médio (6 a 8 mm). O útero responde à
de idade. Cerca de 2 semanas após o nasci- crescente atividade esteroidogênica ovariana
mento, a amplitude dos pulsos de LH aumen- durante os últimos estágios do período de pré-
ta, e ao redor de 10 semanas ocorre esponta- puberdade; o útero pesa de 30 a 60 g durante
neamente a liberação episódica desse os estágios infantis e de 150 a 250 g em
hormônio. Folículos terciários desenvolvem- marrãs pré- púberes. À medida que os folículos
se na 8" semana após o nascimento e podem ovarianos se desenvolvem em marrãs pré-
indicar o período quando o desenvolvimento púberes, dá-se um aumento correspondente
folicular torna-se dependente das no peso dos ovários. A puberdade se caracte-
gonadotrofinas. riza pelo primeiro cio, ovulação dos folículos
Em suínos, a partir de 10 semanas de ida- de Graaf e pela liberação de óvulos capazes
de até a puberdade (i. é., 25 semanas), a de serem fertilizados.
frequência e magnitude dos picos de LH sérico A idade da puberdade pode ser influencia-
são maiores na 16!! semana, enquanto que da pelo nível de nutrição, ambiente social,
picos secretores de FSH não mudam. Picos peso corporal, estação do ano, raça, doenças,
de FSH e de prolactina ocorrem mais em infecções parasitárias e práticas de manejo.
sincronia ao acaso durante este período. O A limitação do consumo energético à metade
mecanismo retrógrado estimulador de daquele ingerido por controles com alimen-
estrógeno é essencial para a chegada da ati- tação completa atrasa a puberdade por mais
vidade cíclica ovariana, porém o controle re- de 40 dias. A presença do reprodutor reduz a
trógrado negativo de liberação de LH pelos idade (191 vs 232 dias) e o peso corporal (105
esteróides ovarianos está ausente no nasci- vs 116 kg) para a puberdade. A pubertade é
mento e desenvolve-se ao redor da 8!! semana também retardada em marrãs criadas indi-
de idade. Uma influência negativa é eviden- vidualmente quando comparadas com aque-
te nos ovários de marrãs pré e pós-puberda- las criadas em grupos de 30 animais.
Suínos 357

Concentrações de progesterona no plasma ovulatório requer 3,8 horas. As ovulações ocor-


periférico durante o período pré-puberdade de rem cerca de 4 horas mais cedo nas porcas
> 20 dias são baixas (p. ex., 2 ng/ml) e perma- cobertas do que nas que não o foram.
necem baixas através do proestro, estro e iní- A duração do ciclo é de cerca de 21 dias
cio do metaestro do primeiro cio. Desde que (variação: 19 a 23 dias). A porca é poliéstrica
as marrãs pré-púberes não possuem corpos durante o ano todo; apenas a gestação ou uma
lúteos, a origem da progesterona pode pelo disfunção endócrina interrompe esta
menos parcialmente ser da adrenal. Os per- ciclicidade.
fis de progesterona durante a fase luteínica
dos primeiros ciclos estrais seguem um pa- Morfologia Ovariana e Secreção Hormonal
drão típico de marrãs com ciclos normais.
A maturação dos folículos ovarianos e as Existem cerca de 50 pequenos folículos (i.
ovulações podem ser induzi das por é, 2 a 5 mm de diâmetro) por animal durante
gonadotrofinas exógenas em marrãs pré- as fases luteínicas e inicial da folicular. Du-
púberes após 60 dias de idade. Por exemplo, rante as fases de proestro e estro cerca de 10
uma única injeção de gonadotrofina sérica de a 20 folículos aproximam-se do tamanho pré-
égua prenhe (PMSG) seguida de hCG induz ovulatório (8 a 11 mm), enquanto que o nú-
a ovulação em 90% das marrãs com 90 a 130 mero de folículos menores declina (aqueles <
dias de idade, porém poucas delas exibem cio 5 mm). Entre os dias 5 e 16, a fase luteínica
nem entram em gestação. Em marrãs de 9 a do ciclo, o número de folículos com 2 a 5 mm
12 meses que não exibiram um cio prévio, a de diâmetro (com poucos até 7 mm) aumen-
progesterona permanece baixa (p.ex., 2 ng/ml) ta, enquanto que após o 182 dia (fase de
até o proestro; um regime gonadotrófico si- proestro) ocorre um aumento primariamente
milar induz cio, ovulação, ciclos estrais peri- no crescimento de folículos pré-ovulatórios
ódicos e fertilização normal em uma alta por- (aqueles ~ 8 mm de diâmetro).
centagem. A injeção de LH-RH também induz Logo após a ovulação há uma rápida proli-
ovulações em marrãs pré-púberes, e os cor- feração primária de células granulosas e de
pos lúteos dessas ovulações mantêm as ges- poucas células da teca revestindo a parede
tações. folicular. Estas células tornam-se luteinizadas
para formar o tecido luteínico, e portanto o
CICLO ESTRAL corpo lúteo. Inicialmente, o corpo é conside-
rado um corpo hemorrágico por causa da ca-
A chegada do cio é caracterizada por modi- vidade central cheia de sangue, porém den-
ficações graduais nos padrões compor- tro de seis a oito dias o corpo lúteo é uma
tamentais (p. ex., inquietação, monta de ou- massa sólida de células luteínicas com um
tros animais, resposta com lordose), respostas diâmetro geral de 8 a 11 mm. A relativamen-
vulvares (p. ex., inchação, coloração rósea te longa fase luteínica (cerca de 16 dias) é
avermelhada), e ocasionalmente um corri- caracterizada por rápido desenvolvimento do
mento mucoso. Areceptividade sexual dura corpo lúteo até seu peso máximo (i. é, 350 a
uma média de 40 a 60 horas. O período 450 mg) do 62 ao 82 dia, manutenção da inte-
puberal de estro usualmente é mais curto (47 gridade celular e função secretora até o 162
horas) do que os posteriores (56 horas), sen- dia, e então uma rápida regressão até um cor-
do que de um modo geral as marrãs apresen- po albicans não secretor.
tam um período mais curto de cio do que as Perfis citológicos característicos de uma
porcas. A raça, a variação estacional (p. ex., célula secretora de esteróides incluem um
cio mais longo no verão e mais curto no inver- grande complexo de Golgi, poucos contornos
no) e anormalidades endócrinas afetam a em forma de cisterna do retículo
duração do cio. endoplasmático granular (rugoso) e extenso
Os óvulos são liberados 38 a 42 horas após retículo endoplasmático agranular (liso), en-
o início do cio, e a duração deste processo quanto que uma célula secretora de proteína
358 Ciclos Reprodutivos

contém um retículo endoplasmático granular estrógeno, cAMP, proteoglicans e LH (Adashi


proeminente com cisternas bem desenvolvi- et aI., 1985; Haseltine e Findlay, 1991).
das. Modificações estruturais microscópicas Gonadotrofinas, estrógeno e cAMP podem
na célula luteínica indicam uma íntima cor- estimular a secreção de IGF-I por estas célu-
relação entre sua morfologia e secreção de las (Hsu e Hammond, 1987). O fator-fi de cres-
esteróides durante o ciclo estral. cimento epidérmico (EGF) e o fator-~ de cres-
Durante a luteinização (dia 1) as células cimento transformador (TGF-B) podem
granulosas da periferia do folículo rompido modular a esteroidogênese na teca porcina e
são cubóides para colunares e separadas por nas células granulosas (Caubo et aI., 1989).
espaços extracelulares irregulares que con- Por exemplo, o EGF inibe a produção de
têm líquido folicular precipitado. O estradiol pelas células da teca porém tem pou-
cito plasma nessas células periféricas contém co efeito sobre a secreção de progesterona e
retículo endoplasmático granular e andrógenos. Estes fatores de crescimento são
polissomos livres. No dia 4 aproximadamen- produzidos pela teca e células granulosas e
te, a luteinização está essencialmente com- parecem modular, em um sentido parácrino
pleta; as células são hipertrofiadas com mas- e autócrino, a esteroidogênese e a diferencia-
sas de retículo endoplasmático agranular. ção folicular. A vida útil e a função secretora
Estas células tipificam a fase secretora (dias desta estrutura efêmera no suíno podem ser
4 a 12) por sua produção de proteína e prolongadas pela gestação ou pela
esteróide. Durante a regressão celular (dias histerectomia. As concentrações de estrógenos
14 a 18) há um aumento das gotas lipídicas no plasma periférico começam a aumentar
citoplasmáticas, desorganização citoplasmá- coincidentemente com o declínio e o desapa-
tica e vacuolização do retículo endoplasmático recimento da progesterona (Fig. 16-2B). Va-
agranular. Na fase terminal do ciclo há um lores de pico ocorrem 2 dias que precedem o
aumento do número de lisossomos, cio e refletem rápido crescimento e maturação
vacuolização do retículo endoplasmático dos folículos de Graaf durante a fase final do
agranular e invasão de tecido conjuntivo; es- proestro. Logo após o cio, o estrógeno declina
tes eventos resultam na formação do corpo e permanece baixo durante a fase luteínica
albicans. do ciclo. As concentrações sanguíneas crescen-
A atividade secretora de esteróides dos cor- tes de estradiol secretado pelos folículos pré-
pos lúteos é indicada pelas concentrações de ovulatórios estimulam a onda pré-ovulatória
progesterona e estrógenos durante o ciclo (Fig. de gonadotrofinas (Kraeling e Barb, 1990).
16-2B). Os níveis de progesterona são baixos Os folículos ovarianos dependem da secre-
no cio (dia O), começam a aumentar abrupta- ção de gonadotrofinas adeno-hipofisárias para
mente após o dia 2 para atingirem valores seu crescimento e maturação; a
máximos nos dias 8 a 12, e então caem em hipofisectomia ou a transecção do tronco
rápido declive depois disso até o dia 18. Estes hipofisário (Anderson et aI., 1967) resultam
níveis seguem um padrão similar ao desen- em abrupta regressão destes folículos. O FSH
volvimento morfológico e declínio do corpo no soro periférico atinge níveis máximos nos
lúteo, assim como modificações estruturais dias 2 e 3 após o início dos sintomas de cio e
nas células luteínicas. O LH e o dibutiril podem refletir uma utilização diminuída do
dclico de monofosfato de adenosina (c-AMP) FSH pelos folículos ovarianos remanescentes
estimulam in vitro a produção de e pequenos nessa época (Fig. 16-2B). O fluido
progesterona pelo tecido luteínico porcino folicular ovariano de porcas contém inibina,
(Felder et aI., 1988; Huang et aI., 1991). Fa- um hormônio protéico, que pode suprimir a
tores de crescimento semelhantes à insulina secreção de FSH. Concentrações de inibina
(i. é, IGF-I) promovem diferenciação e no soro aumentam durante a parte final da
replicação de células granulosas cultivadas, fase folicular, enquanto que os níveis de FSH
assim como aumenta a produção estimulada estão inversamente relacionados à inibina por
por FSH de receptores de progesterona, essa época. As concentrações de inibina dimi-
Suínos 359

nuem com o aparecimento da onda de LH. A da área pré-ótica abole a secreção episódica
ativina e a ativina-A são dímeros das de LH, enquanto que o LH-RH causa libera-
subunidades-B da inibina (BABA e BA~B) e ção aguda de LH nesses animais (Molina et
são equipotentes em sua habilidade de esti- aI., 1986). Em contraposição, a secreção de
mular a secreção de FSH sem afetar a secre- prolactina permanece consistentemente ele-
ção de LH (Haseltine e Findlay, 1991). A vada após a transecção do tronco hipofisário
folistatina é uma cadeia peptídica simples de de marrãs, quando comparada com animais-
32.000 a 35.000 de peso molecular distinta controle com suposta operação (Anderson et
da inibina e da ativina, e que pode inibir a aI., 1982). A transecção do tronco hipofisário
liberação de FSH mas não de LH de culturas deprime a secreção episódica do hormônio do
de células hipofisárias. A proteína regulado- crescimento e resulta em concentrações basais
ra do folículo (FRP) isolada do fluido folicular sanguíneas elevadas do hormônio, quando
da porca possui um peso molecular de 15.000 comparadas aos controles (Klindt et aI., 1983).
e inibe as atividades da aromatase e do 3B- Assim, o hipotálamo é requerido para a
HSD nas células granulosas. A FRP inibe a inibição tônica da secreção de prolactina e
secreção de progesterona e de estradiol nas para a regulação de ambas, a liberação
células granulosas porcinas, assim como al- episódica e a inibição tônica da secreção basal
tera a ligação de gonadotrofinas e atividades do hormônio do crescimento em suínos. O fa-
adenil ciclase por estas células. Embora a FRP tor de liberação do hormônio do crescimento
tenha pouco efeito sobre as atividades (GRF) causa um pico maior de liberação do
aromatase ou 3B-HSD nas células da teca hormônio do crescimento em marrãs subme-
porcina dos folículos medianos, ela inibe as tidas à transecção do tronco hipofisário do que
atividades basais da teca aromatase e 3B-HSD controles intactos (Anderson et aI., 1991).
dos grandes folículos, sugerindo que os efei- A relaxina permanece baixa na fase
tos dependem do estágio da maturação luteínica e durante o ciclo estral e não de-
folicular. monstra relação com os altos níveis de
Os níveis plasmáticos periféricos de LH progesterona secretada por estas mesmas
mostram um pico agudo no cio e uma queda células durante este breve período (Anderson,
para baixos níveis durante o restante do ciclo 1987).
(Fig. 16-2B). Não há um desvio característico As concentrações de prostaglandina F
na secreção de LH em relação ao início da (PGF) no plasma venoso útero-ovariano au-
regressão luteínica. O sangramento mentam durante o ciclo estral até valores de
sequencial dos dias 12 ao 15 do ciclo estral pico entre os dias 12 e 16, um período coinci-
em marrãs revela um padrão episódico de dente com o início da regressão luteínica. A
secreção de FSH e LH, assim como de PGF e a PGE2 nas lavagens uterinas aumen-
estradiol (Flowers et aI., 1991).As concentra- tam dos dias 10 a 14 do ciclo estral (Roberts e
ções de prolactina no plasma periférico atin- Bazer, 1988). O endométrio porcino também
gem um pico durante o cio e permanecem sintetiza in vitro os maiores níveis de PGF 2a
baixas durante a fase luteínica do ciclo estraI. durante o meio da fase até seu final, se com-
Os níveis de prolactina atingem um pico quan- parado com estágios mais precoces do ciclo, e
do o estrógeno é mais alto, e durante o cio, os a indometacina bloqueia sua produção.
perfis prolactínicos coincidem mais com o pico
de FSH do que com o pico pré-ovulatório de ÍNDICE DE OVULAÇÃO
LH. Os sangramentos sequenciais revelam
um padrão episódico de secreção de LH que é O índice de ovulação está associado com a
abolido após a transecção do tronco raça (linhagem ou cruzamentos), porcenta-
hipofisário, porém a injeção de LH-RH nes- gem de consanguinidade, idade e peso na épo-
sas marrãs induz a liberação de pico de LH ca da reprodução. Em linhagens
dentro de 15 minutos (Anderson et aI., 1991). consanguíneas existe um aumento médio de
O ensurdecimento do hipotálamo anterior e 0,8 óvulos do primeiro para o segundo perío-
360 Ciclos Reprodutivos

do estral; a ovulação continua a aumentar (1,1 número de ovulações seja predominantemen-


óvulos a mais) no terceiro cio, porém pouco te afetado por um fundo genético, o índice de
ou nenhum aumento adicional ocorre depois ovulações é usualmente afetado de modo po-
do quarto cio pós-puberdade. A experiência sitivo pelo aumento dos níveis energéticos. Os
reprodutiva correlaciona-se com o índice de níveis de restrição de energia antes de pro-
ovulação; as ovulações aumentam com o nú- porcionar uma dieta alta de energia para os
mero de partos até sete ou mais leitegadas suínos é um fator importante que influi so-
(Fig. 16-2C). A consanguinidade reduz o ín- bre o índice de ovulação. Dm baixo nível
dice de ovulação, enquanto que nas linhagens energético (p. ex., 3.000 a 5.000 kcal) é geral-
de cruzamentos o número de ovulações au- mente proporcionado antes do nível alto (p.
menta. A idade da reprodução em marrãs jo- ex., 8.000 a 10.000 kcal). A duração ótima
vens é positivamente correlacionada com o desse regime parece ser 11-14 dias antes do
índice de ovulação. O peso na época do cio esperado ou da cobertura. Existe pouca
acasalamento está positivamehte associado evidência de que um aumento protéico duran-
com o índice de ovulação quando comparado te breves períodos aumente o índice de ovu-
ao peso no desmame ou peso aos 154 dias. lação.
Experimentos de seleção baseados em uma A administração de insulina de curta ou
coleção de genes controlados sobre sete gera- longa duração em combinação com uma die-
ções, indicam que a herdabilidade do índice ta de alta energia aumentou consistentemen-
de ovulação é 0,40 sobre o diferencial de sele- te o índice de ovulação, reduziu a atresia
ção cumulativa dos pesos (Johnson et aI., folicular e aumentou as concentrações
1985). plasmáticas de estradiol (Cox et aI., 1987). O
altrenogest (17B-hidroxi-17-(2-propenil)
Métodos para Aumentar o Índice de estra-4, 9, 11-trieno-3-ona) administrado por
Ovulação via oral durante 14 dias para marrãs, mos-
trou tendência de aumento do índice de ovu-
As ovulações podem ser induzidas por in- lação, porém seus efeitos diferiram daqueles
jeção de PMSG ou de PMSG seguida de uma do "flushing" (Rhodes et aI., 1991).
injeção de hCG. A resposta ovulatória depen-
de primariamente da dosagem de PMSG. O ÍNDICE DE CONCEPÇÃO
hCG induz ovulação em marrãs que estejam
cicIando, porém provoca pouco ou nenhum O índice de fertilização em suínos é geral-
aumento no índice de ovulação. Depois de uma mente alto (>90%). Índices de ovulação altos
injeção intramuscular de hCG (i. é, 500 DI) ou baixos têm pouco ou nenhum efeito sobre
durante o proestro, ovulações ocorrem na o índice de fertilização. A perda de toda a
maior parte dos animais 44 a 46 horas após. leitegada pode ser resultante de falhas de fer-
A injeção de PMSG induz respostas tilização ou morte de todos os embriões. Esti-
superovulatórias quando aplicada no 15Qou mativas indicam que aproximadamente 5%
16Qdia do cicIo.As gonadotrofinas usualmen- das leitegadas se perdem durante o restante
te reduzem a duração do ciclo, aumentam a da gestação. A mortalidade embrionária pre-
duração do cio e podem aumentar a incidên- coce resulta na reabsorção dos produtos, en-
cia de folículos císticos, porém os óvulos libe- quanto que as perdas que ocorrem após o 50Q
rados são capazes de índices aceitáveis de fer- dia podem resultar em abortamento,
tilização. mumificação fetal ou parto de natimortos a
termo.
Nutrição e Índice de Ovulação
SOBREVIVÊNCIA EMBRIONÁRIA
Dietas altas em energia induzem maior
índice de ovulação em suínos quando admi- A perda embrionária é um fator importan-
nistradas por um período restrito. Embora o te no suíno. Pelo menos 40% dos embriões são
Suínos 361

perdidos antes do parto e a maior parte des- cruzamento das raças Yorkshire e Duroc mos-
tas perdas ocorre durante a primeira metade traram uma relação direta entre o índice de
da gestação. Dentro dos primeiros 18 dias a ovulação e o de suínos totais (Fig. 16-2D).Nem
sobrevivência embrionária é reduzida de 17%. a análise de covariância ou de regressão
Pelo 25Qdia aproximadamente 33% dos em- mostrarou evidência de que a sobrevivência
briões morrem e isto aumenta para 40% ao pré-natal tenha sido afetada pelo índice de
redor do 50Qdia. Embora as porcas tenham ovulação (Rhodes et aI., 1991),
maior fecundidade do que as marrãs, elas
também perdem uma proporção maior de seus GESTAÇÃO
embriões durante os primeiros 40 dias. Para
cada 10% de consanguinidade da fêmea re- Crescimento dos Produtores
sulta 0,55 a 0,76 óvulos fertilizados, e 0,8
embriões a menos pelo 25Qdia. O cruzamento Os óvulos são fertilizados na ampola da
dessas linhagens consanguíneas resulta em trompa e sua chegada a esta região pode ser
mais 0,55 óvulos, aumento de 0,33 óvulos fer- auxiliada pelos batimentos rápidos, em dire-
tilizados e 0,8 embriões a mais no 25Qdia. ção descendente, dos cílios da superfície
mucosa; na região do istmo da trompa há uma
TAMANHO DA LEITEGADA corrente ciliar extensa ascendente que pode
ajudar a subida dos espermatozóides. Os
O desempenho reprodutivo é medido pelo embriões estão usualmente no estágio de qua-
número de leitões vivos no nascimento ou pelo tro células quando entram no útero. A divi-
número total de nascidos ou desmamados são aumenta para o estágio de mórula pelo 5Q
produzidos pela fêmea durante um ano. Os dia e então há a formação dos blastocistos do
índices de ovulação continuam a aumentar 6Qao 8Qdia. A incubação representa pelo me-
com as gestações subsequentes, porém o ta- nos um escape parcial do embrião da zona
manho da leitegada atinge os níveis máximos pelúcida e ocorre no sexto dia; os blastocistos
pela quarta ou quinta gestação (Fig. 16-2C). suínos podem atingir 150 células ou mais
O número de leitões nascidos aumenta entre antes da incubação. Os blastocistos são desi-
a primeira e a quarta leitegada, porém pela gualmente distribuídos pelos cornos uterinos.
oitava o número de nascidos vivos declina O rápido desenvolvimento dos produtos é in-
enquanto que o número de natimortos aumen- dicado pela migração intra-uterina dos em-
ta. Quando o tamanho da leitegada é relacio- briões, pelo seu espaçamento e pela transi-
nado à idade da mãe, o desempenho ção dos blastocistos de formas esféricas para
reprodutivo começa a diminuir após 4,5 anos. formas extremamente alongadas e pela
A contribuição genética (herdabilidade) para subsequente embriogênese. Ao redor do 11Q
o tamanho da leitegada é estimada em 0,17; dia metade dos blastocistos rapidamente se
a maioria das variações é atribuída a fatores alongam em formas filamentosas, frequente-
ambientais. A avaliação de várias combina- mente excedendo 60 cm, e pelo 13Qdia a mai-
ções de raças proporciona estimativas de or parte dos embriões já completou este pro-
heterose e a média direta e efeitos maternos cesso (Anderson, 1978). Estes embriões ficam
das raças. Por exemplo, linhagens puras de regularmente espaçados sem sobreposição
animais Duroc e Yorkshire têm em média 13,8 das membranas tubulares dos outros em-
corpos lúteos, e quando fêmeas Duroc são briões naquele corno. O conteúdo protéico in-
acasaladas com um reprodutor de outra raça, dividual dos embriões denota um crescimen-
o tamanho da leitegada aumenta em cerca de to exponencial entre os dias 9 e 18, e é
1,44 leitões no nascimento. Os índices de so- independente do estágio de desenvolvimento
brevivência no dia 30, o parto e o desmame ou da perda potencial dos embriões vizinhos.
da progênie de cruzamentos de três raças ex- Padrões de crescimento embrionário e fetal
cedem aqueles obtidos da progênie de cruza- normais do 20Qao 100Qdias de gestação au-
mentos de duas raças. Marrãs resultantes do mentam exponencialmente de 0,06 a 1000 g.
362 Ciclos Reprodutivos

o peso úmido fetal é altamente correlacionado lores de pico (400 pglml) logo antes do parto
com a extensão da placenta (r = 64), área de (Anderson, 1987). Dois picos de sulfato de
superncie da placenta (r =72) e total supern- estrona ocorrem no 30Qe no 112Qdia, respec-
cie areolar por placenta (r = 65). Proteínas tivamente, e caem então quando se anuncia
específicas derivadas do útero e do produto o parto. A unidade feto-placentária é a prin-
durante a diferenciação endometrial e desen- cipal fonte de produção de estrógeno, segun-
volvimento do concepto incluem mitógenos do é indicado pelo encontro de padrões
(lGF-I e -11e EGF); proteínas de ligação e excretores na urina, similares em testemu-
transporte (uteroferrina, proteínas de ligação nhas intactas e em porcas após a
de IGF e retinol); inibidores da protease ovariectomia, hipofisectomia ou adrena-
(inibidor de plasmina e tripsina); e proteínas lectomia.
trofoblásticas relacionadas ao interferon Provas imunocitoquímicas e ultra-estrutu-
(Simmen e Simmen, 1990). Sua expressão rais na hipófise suína indicam que a maior
diferencial no início da gestação pode impli- parte das células gonadotróficas secretam
car uma importância funcional durante o pe- FSH e LH. Em marrãs hipofisectomizadas no
ríodo de reconhecimento materno de gesta- 4Qdia, a gestação e a função luteínica são
ção e implantação. A síntese destas proteínas mantidas até o 12Qdia, porém a gestação é
está relacionada à diferenciação dependente interrompida logo após a hipofisectomia do
de progesterona das células endometriais cuja 70Qao 90Qdia. A gestação é mantida pelo me-
atividade secretora pode agir como sintomas nos 20 dias, contudo, após transecção do tron-
de início da diferenciação embrionária. Além co hipofisário no 70Qou no 90Qdia, o suíno
disso, é possível que a atividade secretora seja requer uma manutenção luteotrófica adeno-
iniciada por fatores implicados na ativação hipofisária durante a maior parte da gesta-
da expressão gênica durante os estágios ini- ção. A prolactina é luteotrófica no suíno. Em
ciais de clivagem dos embriões (Braude et aI., marrãs hipofisectomizadas e histerecto-
1988). mizadas às quais se administram injeções
diárias de prolactina suína purificada, ambas
Hormônios Durante a Gestação as concentrações plasmáticas de progesterona
e de relaxina são mantidas por um período
Os corpos lúteos são essenciais para a ma- de 10 dias, do 110Qao 120Q(Li et aI., 1989).
nutenção da gestação até o fim em suínos. O No início da gestação (dias 10 a 14), a re-
corpo lúteo se desenvolve até seu peso máxi- cuperação de estrona, estradiol-17B e sulfato
mo pelo 8Qdia e é mantido até o final da ges- de estrona foi maior nos lavados uterinos com
tação. Duas populações de células luteínicas blastocistos tubulares e filamentosos, ao passo
em suínos de 30 a 50 J.Lmde. diâmetro e 15 a que em marrãs não prenhes, não houve mo-
20 J.Lmde diâmetro ocorrem durante a gesta- dificações nesses esteróides (Bazer et aI.,
ção. A produção de progesterona parece estar 1984). Do 12Qao 2P dia, concentrações
associada com o tamanho celular e o estágio endógenas de prostaglandina F no plasma
da gestação. Após o dia 114, logo após o par- útero-ovariano permanecem mais baixas em
to, há uma diminuição acentuada no peso marrãs prenhes do que nas não prenhes. Há
luteínico. As concentrações de progesterona também uma maior frequência de picos de
no sangue periférico atingem valores máxi- PGF em porcas não prenhes do que nas pre-
mos no 12Qdia, diminuindo gradativamente nhes durante esta época. Além disso, as con-
a níveis de 20 a 25 nglml no dia 104. Arelaxina centrações de estradiol no plasma venoso úte-
acumula-se gradativamente no tecido ro-ovariano são maiores nos dias 12 a 17 de
luteínico até atingir valores máximos no fi- gestação quando comparadas com animais
nal da gestação (dias 105 a 110). Concentra- não prenhes. Os blastocistos mantêm a fun-
ções de estradiol-17B não conjugado no san- ção luteínica durante as fases críticas do iní-
gue periférico aumentam de 10 pglml do 8Q cio da gestação, impedindo a ação luteolítica
ao 60Qdia e aumentam rapidamente até va- uterina, e podem contribuir para o efeito
Su{nos 363

luteotrófico por sua produção de estrógeno é correlacionada com modificações no núme-


(Ford e Stice, 1985). O fluxo sanguíneo arte- ro de grânulos e níveis de relaxina. As con-
rial do útero aumenta de duas a quatro vezes centrações de relaxina no plasma periférico
do 11Q ao 13Qdia de gestação. Em porcas pre- permanecem consistentemente baixas (::;;2 ng!
nhes existe uma relação temporária entre o m!) durante os primeiros 90 dias de gestação,
alongamento do blastocisto e quantidades então aumentam para valores máximos dois
crescentes de PGE2 e PGF2a, assim como dias antes do parto e indicam a descarga de
estrógenos nos lavados uterinos (Geisert et relaxina acumulada dos corpos lúteos (Fig. 16-
aI., 1982). Os blastocistos suínos produzem 2E). Há um declínio abrupto da relaxina logo
PGF2 a e PGE2. Em marrãs não prenhes, antes do parto. A onda dos níveis de relaxina
estrógenos exógenos administrados do 11Q ao que ocorre em suínos submetidos ao retarda-
15Qdia do ciclo mantêm os corpos lúteos por mento do parto com progesterona não é um
períodos prolongados, presumivelmente por estímulo suficiente para iniciar o parto. Em-
sua ação sobre o endométrio. Quando o útero bora as células luteínicas produzam tanto
é removido (histerectomia), os corpos lúteos progesterona como relaxina, seus perfis de
são mantidos por um período que excede àque- secreção são diferentes durante os últimos
le da gestação, e eles produzem progesterona dias de gestação (Fig. 16-2E). A relaxina
e relaxina de um modo similar ao encontrado mRNA usando a análise Northern e a
em marrãs prenhes (Anderson, 1987). A hibridização in situ revela a expressão do gene
PGF2a é luteolítica e induz abortamento a relaxina no tecido luteínico não apenas na
partir do 23Qdia em diante. gestação, mas também no ciclo e no início da
No final da gestação, as concentrações de lactação (Bagnell et aI., 1990). A relaxina e o
corticosteróides aumentam dentro de 24 ho- estrógeno são necessá-rios para a remodela-
ras antes do parto e diminuem durante o iní- ção do colágeno, e a dilatação da cérvice e para
cio da lactação. Os níveis de progesterona o crescimento do tecido parenquimatoso ma-
declinam durante os últimos dias da gesta- mário de marrãs no final da gestação
ção e caem abruptamente para 0,5 ng/ml um (Eldridge-White et aI., 1989; lIurley et a.I.,
dia após o parto (Fig. 16-2E). A estrona au- 1991).
menta para concentrações máximas até 2 dias A infusão de relaxina suína durante o fi-
antes do parto e então cai para níveis basais nal da gestação da porca inibe as contrações
após o nascimento dos produtos. O aumento miometriais uterinas. O parto prematuro em
de estrona e de estradiol está associado com marrãs intactas ou porcas pode ser induzido
a maturidade fetal e é primariamente de ori- pela administração de PGF 2a exógena. Inje-
gem placentária. O número de células fetais ções de dexametasona induzem parto prema-
adrenocorticais aumenta acentuadamente do turo, enquanto que colocando-se metalibure
105Qao 113Qdia, assim como a habilidade des- na alimentação das fêmeas há atraso do
tas células na secreção de cortisoI. desencadeamento do parto. A atuação das
A relaxina é produzida e acumulada nos glândulas hipófise e adrenais no desenca-
corpos lúteos de suínos durante a gestação, deamento do processo do parto é envolvida
sendo então liberada antes do parto (Fig. 16- pelos efeitos da hipofisectomia ou da decapi-
2E) (Huang et aI., 1991; Li et aI., 1991). O tação fetais no prolongamento da gestação
acúmulo de grânulos citoplasmáticos e a ati- além do termo. A antiprogesterona RU 486
vidade da relaxina nos corpos lúteos, come- administrada por via oral nos dias 111Q e 112Q
çando aproximadamente no 28Qdia, e o desa- induz o parto dentro de 31 horas (Li et aI.,
parecimento desses grânulos correlacionam-se 1991). A RU 486 diminui abruptamente as
com o aumento e a queda da atividade da concentrações circulantes de progesterona e
relaxina no sangue venoso ovariano logo an- provoca a liberação de um pico precoce de
tes do parto. A localização imunocitoquímica relaxina nessas marrãs. O efeito luteolítico do
da relaxina nas células luteínicas da RU 486 provavelmente resulta da ligação pre-
granulosa, ao nível ultra-estrutural, também ferencial ao receptor da progesterona no útero.
364 Ciclos Reprodutivos

Cio Pós-parto amamentação ou o desmame. Os estrógenos,


sejam de origem endógena ou exógena, cau-
Imediatamente após o parto, os níveis san- sam o aparecimento de ondas de LH, FSH e
guíneos periféricos de progesterona, estrona, prolactina na porca após o parto.
estradiol e relaxina declinam para níveis
basais no início da lactação (Fig. 16-2E). O
cio ocorre frequentemente dentro de 1 a 3 dias A Porca no Desmame
após o parto. Caso seja coberta, a porca não
concebe neste cio porque os folículos ovaria- A retirada da leitegada da porca após 3 a 5
nos são imaturos e usualmente não ocorre a semanas de lactação resulta em desenvolvi-
ovulação. O cio pós-parto é observado em por- mento folicular, cio e ovulação dentro de 4 a 8
cas com baixas concentrações de estrógenos dias. No desmame, um aumento transitório
no plasma periférico e pode resultar de ní- ocorre no LH plasmático e no conteúdo de LH-
veis de picos de estrógenos feto-placentários RH hipotalâmico. Durante o período pós-des-
logo anteriores ao parto. A restrição da dieta mame, as concentrações plasmáticas de
de porcas primíparas durante a lactação não estradiol-17B aumentam gradativamente e
surtiu efeito sobre as concentrações de LH ou terminam por ocasião da onda pré-ovulatória
estradiol plasmáticos ou sobre o desempenho de LH no cio. Aumentos dos níveis de FSH
reprodutivo subsequente (Armstrong et aI., plasmático coincidem com a onda de LH, pelo
1986). menos em alguns animais. A secreção de
prolactina aumenta ao redor do cio em por-
cas desmamadas, podendo estar associada
LACTAÇÃO mais com o cio do que com o processo
ovulatório (Fig. 16-2E).
Com exceção do cio pós-parto, as porcas
raramente exibem cio durante a lactação. A
morfologia ovariana durante o período de REFERÊNCIAS
anestro indica uma ausência de estímulos
gonadotróficos. Os diâmetros médios dos Adailii, E.Y., Resnick, c.E., D'Ercole, AJ., Svoboda,
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folículos ovarianos diminuem (i.é, de 4,6 a 2,7 growth factors as intraovarian regulators of gra-
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mm) pela quinta semana de lactação. O peso Anderson, L.L. (1978). Growth, protein content and
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por 21 a 28 dias seguintes ao parto; depois Anderson, L.L. (1987). Regulation of relaxin secre-
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no plasma periférico são altas no parto, au- tion in pigs following hypophysial stalk transec-
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mentam em resposta à amamentação dos lei- 1188.
tões e declinam logo após o desmame (Fig. Anderson, L.L., Ford, J.J., Klindt, J., Molina, J.R.,
16-2E). Após ovariectomia praticada durante Vale, W.W. and Rivier, J. (1991). Growth hor-
a lactação, as concentrações séricas de LH mone and prolactin secretion in hypophysial
permanecem baixas, enquanto que o FSH stalk-transected pigs as affected by growth hor-
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Suínos 365

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17
EQUINOS
E.S.E. HAFEZ

As várias raças de equinos domésticos cial sobre as primeiras e posteriores


(Equus caballus) são membros da família ejaculações é notado na maioria das caracte-
Equidae, que pertence à ordemPerissodactyla. rísticas seminais (Pickett et aI., 1975).
Os equinos apresentam vários aspectos sin-
gulares da endocrinologia da reprodução e da Égua
gestação. Enquanto outras grandes espécies
domésticas como os bovinos, suínos e ovinos O ciclo reprodutivo da égua está sujeito à
têm sido altamente selecionadas para efici- maior variabilidade de todos os animais do-
ência reprodutiva, e outros aspectos produti- mésticos. Algumas éguas parecem ser verda-
vos, a única seleção praticada com equinos deiras poliéstricas; elas podem ter suas crias
tem sido a habilidade para andar ou correr. em qualquer época do ano. Contudo, a gran-
A idade dos cavalos de corrida é usualmen- de maioria da população de éguas é poliéstrica
te determinada no dia 1Qde janeiro do ano estacional. Embora muitas éguas no hemis-
em que eles nascem, e a prática tem sido fério norte mostrem sintomas de cio em feve-
acasalá-Ios tão precocemente quanto possível reiro, março e abril, durante esta época o cio,
no ano, de modo que, com dois anos de idade, frequentemente, não é acompanhado de ovu-
os produtos apresentem as máximas vanta- lação, e os índices de concepção dos animais
gens físicas. cobertos durante este período são baixos. No
hemisfério norte, os melhores índices de con-
ESTAÇÃO DE MONTA cepção usualmente ocorrem em éguas cober-
tas de maio ajulho. A mesma orientação ocor-
Garanhão re em éguas no hemisfério sul para estações
correspondentes. Éguas criadas primaria-
A estação de monta dos garanhões não é mente em pastagens, normalmente se repro-
bem definida, podendo o sêmen ser colhido duzem apenas durante o verão e entram em
durante o ano todo. Todavia, notáveis varia- anestro no inverno, enquanto que aquelas
ções estacionais são notadas quanto ao tem- bem alimentadas e estabuladas tendem a
po de reação, número de montas por ciclar durante o ano todo. O início da estação
ejaculação, volume de sêmen livre da porção de monta fértil está intimamente associado
gelatinosa, número total de espermatozóides com o maneJo.
por ejaculação, aglutinação dos espermatozói- As éguas podem ser classificadas em 3 ca-
des e motilidade no sêmen fresco e diluído. tegorias de acordo com a estação de monta:
Os efeitos da estação sobre o plasma semi- 1. Estação de monta definida: As raças de
nal são maiores do que sobre os espermatozói- equino selvagens manifestam vários ciclos
des. Os espermatozóides das primeiras estrais durante uma estação de monta
ejaculações são menos afetados pela estação restrita que coincide com os dias mais lon-
do que os das posteriores. Este efeito diferen-
366
Equinos 367

gos do ano; os potros nascem durante um nascidos em um determinado ano estimulou


período estacional restrito. uma demanda na indústria equina para a
2. Estação de monta transitória: Algumas administração de hormônios a fim de adian-
raças domésticas e algumas éguas indivi- tar a estação de monta natural de éguas por
dualmente manifestam ciclos estrais du- 3 a 4 meses; assim, os potros nasceriam mais
rante o ano todo, porém o cio é acompa- próximos ao primeiro dia do ano. Vários tra-
nhado de ovulação somente durante a tamentos hormonais foram utilizados com
estação de monta, nascendo os potros tam- sucesso variável tais como: gonadotrofina
bém em uma estação limitada. sérica da égua prenhe (PMSG), gonadotrofina
3. Reprodução durante o ano: Algumas ra- coriônica humana (hCG), extrato hipofisário
ças domésticas e algumas éguas indivi- equino, hormônio liberador de gonadotrofinas
dualmente exibem ciclos estrais acompa- (GnRH), progesterona e prostaglandinas.
nhados de ovulação durante o ano todo. Impulsos nervosos são gerados em virtude
Deste modo, é evidente que embora algu- da incidência de luz sobre os fotorreceptores
mas éguas, em determinadas latitudes pos- no olho. Os impulsos são transmitidos para a
sam mostrar ciclos estrais durante o ano, elas glândula pineal onde regulam a síntese e a
necessariamente não concebem durante to- secreção de melatonina. A glândula pineal e
dos os períodos de cio. possivelmente a melatonina parecem
Nas localidades onde há uma estação de . intermediar modificações da atividade
monta longa, os dois períodos transitórios neuroendócrina-gonadal em resposta a mo-
precedente e subsequente à estação de mon- dificações do fotoperiodismo. Na égua, tanto
ta são caracterizados por variabilidade da a ganglionectomia cervical superior como a
atividade ovariana e do comportamento se- pinealectomia alteraram a habilidade de res-
xual. Nesta época, os folículos ovarianos de- posta a um fotoperíodo estimulador.
senvolvem-se apenas até um grau limitado e
então sofrem atresia. Existe também uma alta PARÂMETROS REPRODUTIVOS EM
frequência de cios prolongados ou de curta GARANHÕES
duração, assim como ciclos estrais irregula-
res durante estes períodos. Maturidade Sexual
Próximo ao equador, há pouca variação
estacional quanto à extensão do ciclo estral. Os testículos do garanhão descem para o
Nas regiões temperadas, as éguas são poliés- escroto no período de uma a três semanas de
tricas estacionais, com estação de monta e de idade. Em poucos casos, os testículos já se
repouso ocorrendo durante o verão e meses encontram na bolsa escrotal no nascimento.
de inverno, respectivamente. O fotoperio- O crescimento pós-natal do testículo começa
dismo é talvez o sintoma ambiente mais im- durante o 11Q mês, e o testículo esquerdo de-
portante que acarreta o eixo hipófise-gônadas, senvolve-se mais precocemente e cresce mais
desde que o fotoperiodismo artificial acelera rápido do que o direito. Nesta época, há tam-
o desenvolvimento folicular e o início da esta- bém um desenvolvimento superficial
ção de monta. A égua exibe um padrão gradativo dos túbulos seminíferos ao redor do
estacional de secreção de LH motivada pelo testículo direito (Fig. 17-1). A idade em que
fotoperiodismo. A conduta reprodutiva cíclica os garanhões serão utilizados pela primeira
durante a estação de monta é regulada pelas vez para a cobertura natural ou inseminação
ações estimulantes e inibidoras do estradiol artificial é determinada primariamente por
e da progesterona (Garcia e Ginther,1978). A condições de manejo.
exposição de éguas a horas adicionais de luz
durante o inverno induz o cio e antecipa o Produção de Sêmen
início da estação de monta.
A atribuição arbitrária de 1Q de janeiro O ciclo do epitélio seminífero pode ser divi-
como data de nascimento de todos os potros dido em 8 estágios com fundamento nas divi-
368 Ciclos Reprodutivos

ejaculação varia consideravelmente e não é


uma característica individual do garanhão.
Este fato contrasta com o gel obtido das
(A) 5-IOgm ejaculações de porcos, nos quais é uma ca-
racterística constante. As ejaculações conten-
do gel parecem requerer menos montas e um
tempo de reação mais curto, e possuem um
volume ligeiramente maior de sêmen livre de
gel do que as ejaculações sem geL
A frutose está presente em quantidades
(B) 20gm desprezíveis no sêmen de garanhão, ao passo
que relativamente grandes quantidades de
ergotioneína e de ácido cítrico estão presen-
tes. Embora a maior parte dos lipídios dos
espermatozóides equinos sejam fosfolipídios,
a porcentagem destes é muito mais baixa do
que no touro ou no porco. A porcentagem mais
(C) 40-50gm baixa de fosfolipídios pode estar relacionada
à grande sensibilidade dos espermatozóides
equinos ao "estresse" quando comparada aos
espermatozóides de outras espécies.
FIG. 17-1. Modificações de desenvolvimento na As caracteristicas do sêmen são influenci-
união do epidídimo com o testículo em relação a
maturidade sexual. Os números a direita indicam adas pelo grau de estimulação sexual, pela
o peso testicular, e., epidídimo; m., membrana fina; frequência de ejaculações, idade, tamanho tes-
tn., tendão; t8., testículo. A, União frouxa entre tes- ticular e método de colheita de sêmen. A es-
tículo e epidídimo; notar o tendão de união na ca- tação do ano influencia as características fí-
beça do epidídimo; B, prolongamento do epidídimo; sicas e bioquímicas do sêmen assim como os
C,epidídimo totalmente desenvolvido e completa-
mente unido ao testículo. (Adaptado de Nishikawa
níveis hormonais sanguíneos, a conduta se-
(1959). Studies on Reproduction in Horses.) xual e a fertilidade de ambos os sexos. A pro-
dução de espermatozóides e a libido dos
garanhões são mais acentuadas durante a
primavera e o verão e menores durante o ou-
sões meióticas, forma dos núcleos das tono e o inverno. Estas modificações na capa-
espermátidas e localização das espermátidas cidade reprodutiva coincidem com a estação
com núcleos alongados. As características do de monta natural das éguas. A concentração
sêmen e da espermatogênese encontram-se de testosterona plasmática também é influ-
resumidas nas Tabelas 17-1 e 17-2 e na Figu- enciada pela estação e pode regular os padrões
ra 17-2. das características seminais e de comporta-
A ejaculação é constituída de 6 a 9 jatos mento.
resultantes das contrações da uretra. O volu- O número mínimo de espermatozóides mó-
me de cada jato subsequente da ejaculação veis necessário para um índice de concepção
reduz-se a cerca de 50% de seu valor inicial; máximo ainda não foi estabelecido, embora
70% ou mais dos espermatozóides e os cons- sejam recomendados 500 x 106 de
tituintes bioquímicos básicos estão presentes espermatozóides móveis por inseminação.
nos 3 primeiros jatos.
O material gelatinoso do sêmen, secretado Ejaculação
pelas vesículas seminais, não tem efeito so-
bre a motilidade ou sobre a capacidade ferti- Durante a ejaculação o divertículo uretral
lizante dos espermatozóides. O volume de gel do pênis fica em íntima aposição com o orifí-
compreendendo cerca de um terço da cio cervical externo da égua. O sêmen é
Equinos 369

TABELA 17-1. Alguns Parâmetros Reprodutivos no Garanhão


Parâmetros Reprodutivos ou Características Valores (Média)

Crescimento pós-natal do testículo 1 ano


Maturidade Aparecimento de espermatozóides no testículo 1 ano
sexual Aparecimento de espermatozóides na ejaculação 13 meses
Maturidade sexual 2 anos

Peso testicular (g) 150-170 g


Morfologia Peso do epidídimo (g) 20-30 g
Testicular e Volume dos túbulos/testículo 55-70%
Epididimária Comprimento dos túbulos/testículos 2300-2600 m
Peso (sem a túnica albugenia) 14-20 m

Duração do ciclo do túbulo seminífero (calculada por injeção de 3H-timidina) 13 dias


Vida útil dos espermatócitos primários 19 dias
Espermatogênese Vida útil dos espermatócitos secundários 0,7 dias
e Transporte de Vida útil das espermátidas com núcleos arredondados 8,7 dias
Esperma no Vida útil das espermátidas com núcleos alongados 10 dias
Macho Intervalo para espermatozóides marcados entrarem no epidídimo 35 dias
Intervalo da injeção de isótopos até que apareçam na ejaculação 40 dias
Tempo de transporte de espermatozóides nos dutos eferentes 8-11 dias

(Dados recolhidos de Swierstra, E.E., Gebauer, M.R, e Pickett, B.W., 1974. (Reproductive physiology
ofthe stallion, I. Spermatogenesis and testis composition. J. Reprod. Fertil. 40,113.)

TABELA 17-2. Características Bioquímicas das Frações Seminais do Garanhão


Fração de Características
Sêmen Origem Físicas Características Bioquímicas

Pré-espermatozóides Glândulas uretrais Aquosa Alto conteúdo de NaCL, sem


ergotioneína, ácido cítrico ou GPC

Rica em Epidídimo e glândulas Leitosa, não viscosa Alta concentração espermática, de


espermatozóides ampolares ergotioneína e GPC; pouco NaCI e
ácido cítrico

Pós-espermatozóides Vesícula seminal Altamente viscosa Baixa concentração espermática


Alto conteúdo de ácido cítrico
Ergotioneína e GPC baixos

Gotejamento peniano Amostra final Aquosa Sem espermatozóides, falta qualquer


produto secretor do epidídimo, ampola
e vesículas seminais (p.ex., GPC, ácido
cítrico)

GPC= diesterase gliceril fosforilcolina.


(Adaptado de Mann, T., Leone, E., e Polge, C. (1965). The composition ofthe stallion's semen. J. Endocrinol.
13, 279; Mann, T., Short, Rv. e Walton, A. (1957). The tail-end sample of stallion semen. J. Agri. Sei.
Camb. 49, 301)

ejaculado sobre alta pressão diretamente den- O processo de emissão é variável, desde que
tro do útero. Os jatos seminais finais o número de jatos por ejaculação varie de 5 a
ejaculados quando está diminuindo a erecção 10 com média de 8. Os primeiros jatos ocor-
e o pênis está sendo retirado, provavelmente rem sob alta pressão em uma corrente com
são depositados na vagina. Os padrões da pingos característicos. Os últimos jatos, acom-
ejaculação e da emissão foram estudados cui- panhados da diminuição da erecção e retira-
dadosamente (Tischner et aI., 1974). da do pênis da vagina estão associados com
370 Ciclos Reprodutivos

FIG. 17-2. Fotomicrografia


eletrônica de varredura de
testículo equino. A., Notar a
forma irregular dos túbulos
seminíferos e as causas dos
espermatozóides projetando-
se na luz (440x). B.,
Espermiação: esperma to-
zóides com gotas citoplas-
máticas são liberados das cé-
lulas de Sertoli (5.280x).
(Cortesia do Dr. Larry
Johnson,(1978). Fertil. Steril.
17,21.)

baixa pressão. Do tempo total de ejaculação CICLOS ESTRAIS


24% envolvem a real emissão do sêmen;.o res-
to compreende intervalos entre sucessivos A Tabela 17-3 mostra algumas da caracte-
jatos terminais. Os 3 primeiros jatos contêm rísticas singulares e notáveis da reprodução
80% dos espermatozóides ejaculados. O nú- em equinos (Allen, 1984; Allen e Pashen,
mero total de espermatozóides e o conteúdo 1984).
de ergotioneína diminuem gradativamente
nos jatos sucessivos (Tischner et aI., 1974). Cio
Os jatos terminais de 4 a 10, com baixa con-
centração de células espermáticas e de ergo- Durante o cio a vulva aumenta de volume
tioneína consistem principalmente da assim e fica edemaciada; as pregas labiais se afrou-
chamada fração mucosa e correspondem à xam e permitem um fácil afastamento para
fração 3 descrita por Mann et aI. (1957). exame. Avulva fica avermelhada ou alaranja-
Equinos 371

TABELA 17-3. Características Singulares Anatõmicas, Fisiológicas e Endócrinas


da Reprodução em Equinos
Parâmetros Características Reprodutivas Singulares
Desenvolvimento do ovário Durante a vida fetal, o tecido cortical circunda totalmente a porção medular.
Durante a vida neonatal, o tecido cortical torna-se confinado a uma área e é aproximadamente
circundado pelo tecido medular.

Local da ovulação sobre a superncie Os folículos somente podem ovular na superncie ovariana adjacente ao tecido cortical ("fossa da
ovariana ovulação").

Ovulação acessória durante a fase Ocorre ovulação sem cio.


luteínica do ciclo estral

Padrão de crescimento folicular Um pequeno grupo de folículos desenvolve-se no final do diestro, alguns dos quais aumentam
diferencialmente para ovular durante o cio subsequente; os folículos remanescentes podem
ovular durante o início da fase luteínica e outros regridem sem ovulação.
Corpo lúteo primário O corpo lúteo primário da gestação declina em sua atividade secretora de 14 a 16 dias após a
ovulação (similar à época em que a luteólise completa ocorreria normalmente na égua que está
ciciando). Isto causa uma vagarosa e constante queda na concentração de progesterona
plasmática periférica durante os próximos 20 a 25 dias até o início da elevação secundária aos
35-45 dias. Isto coincide com o início da secreção de gonadotrofina coriônica equina (eCG),
antes conhecida gonadotrofina sérica da égua prenhe (PMSG).

Corpos lúteos acessórios Uma progesterona secundária surge da formação dos primeiros do que eventualmente se torna
uma completa coleção de corpos lúteos secundários que se desenvolvem no ovário de éguas
entre os dias 40 a 150. Ao redor do 120' dia, 3 a 30 estruturas luteínicas acessórias formam-se
a partir de ovulações normais e da luteinização de folículos não rompidos. Thdos os corpos
lúteos primários e secundários regridem e deixam os ovários pequenos e completamente inativos
durante o restante da gestação.

Gonadotrofinas associadas com ovulação Prolongado aumento da onda de LH durante o cio que continua após a ovulação.

Vida útil do corpo lúteo durante a Prolongamento espontâneo da vida útil do corpo lúteo é comum; os corpos lúteos que falham na
ausência de gestação regressão na época normal persistem por 2 meses.
Conteúdo hipofisário de FSH Alto

Resposta ovariana ao FSH Baixa

Transporte ovular para a trompa As éguas podem discriminar entre óvulos fertilizados e não fertilizados, que podem ficar retidos
nas trompas durante a gestação e ausência de gestação até 7 meses.
Presença de hormônio placentário PMSG é encontrada em grande quantidade secretada pelas concavidades endometriais no início
(PMSG). da gestação.

Progesterona placentária O tecido placentário contém quantidades apreciáveis de progesterona, e a placenta secreta suficiente
progesterona para manter a gestação ao redor do 100' dia.
Concavidades endometriais As concavidades endometriais, uma série de pequenas protuberâncias em forma de úlcera, formam
um círculo ao redor do concepto no corno uterino grávido. Elas aparecem de início como placas
pálidas levemente implantadas no endométrio do 38' ao 40' dia após a ovulação e aumentam
constantemente durante os próximos 20 a 30 dias. Elas tornam-se côncavas em forma de pires
sobre a superfície, e regridem na região central da estrutura. Após os dias 70 a 80, as
concavidades em degeneração tornam-se pálidas e de aparência caseosa e a superncie côncava
se enche de uma secreção exócrina filamentosa e cor de mel. Entre os dias 100 a 140, cada
concavidade necrótica e sua secreção exócrina é descartada da superfície do endométrio ficando
livre na luz uterina.

Acasalamento interespécies Várias espécies de equídeos podem cruzar-se, produzindo descendência viável, porém infértil.
O genótipo fetal exerce uma profunda influência tanto na quantidade total de eCG secretada durante
a gestação, como no grau de desaparecimento do sangue materno após a concentração de pico.
Em éguas cobertas por jumento, portant, um feto interespecífico (mula), as concentrações de
pico de eCG no soro de apenas 8 a 30 DI atingidas do 45' ao 55' dia são de cinco a dez vezes
mais baixas do que aquelas de éguas prenhes com concepto normal intra-espécie. A atividade
de e CG desaparece novamente do sangue logo aos 70 a 80 dias, e por isso muito antes na
gestação do que o período de 120 a 140 dias que é usual na gestação normal equina.
Transferência com sucesso de um embrião equino para uma jumenta e vice-versa.
l
(Adaptado de Stabenfeldt, G_R., Rughes, J.P., Evans, J.W., e Geschwind, LL 1975). Unique aspects of
the reproductive cycle ofthe fiare. J. Reprod, Fertil. Suppl. 23, 155.
372 Ciclos Reprodutivos

da, úmida, brilhante e coberta por um muco


transparente. A mucosa vaginal fica altamen-
te vascularizada e um muco fino e aquoso pode
acumular-se na vagina. Os componentes ce-
lulares do esfregaço vaginal não têm valor
para a detecção. Durante o cio, a cérvice dila-
ta-se suficientemente dando passagem para
2 a 4 dedos; durante o diestro pode-se inserir
apenas 1 dedo.
Durante o cio, a égua assume uma atitude
característica do ato de urinar. A cauda fica
levantada, a urina é expelida em pequenas
quantidades e o clitóris é exposto por prolon-
gadas contrações rítmicas.
A duração do cio varia individualmente e
também entre os ciclos estrais do mesmo ani-
mal. Uma longa duração do cio na égua pode O folículo rompido pode ser palpado 24
ser devido aos seguintes fatores: (1) O ovário horas após a ovulação, como uma macia área
é circundado na maior parte por um revesti- flutuante. O corpo lúteo em desenvolvimento
mento seroso e alguns folículos são obrigados porém, não pode ser detectado por palpação
a migrar para atingirem a fossa da ovulação retal 48 horas após a ovulação porque ele se
para se romperem; (2) O ovário é menos sen- desenvolve dentro do estroma ovariano.
sível ao FSH exógeno (p. expl., bovinos, ovi- O corpo lúteo atinge apenas de metade a
nos), de modo que o folículo pré-ovulatório três quartos do tamanho do folículo na época
requer um tempo maior para atingir o tama- da ovulação. O tamanho máximo é alcançado
nho máximo; (3) O nível de LH é baixo com- aos 14 dias, quando as células luteínicas au-
parado com o de FSH e isto retarda a ovula- mentam de tamanho e apresentam uma
ção. A intensidade do comportamento estral vacuolização periférica (Figs. 17-3 e 17-4). O
varia durante o período estral e também in- prolongamento espontâneo do corpo lúteo
dividualmente e em estágios comparáveis do acompanhado por atividade folicular e sem
período. qualquer sintoma de cio por períodos de 2 a 3
A duração do cio é prolongada em éguas meses é comum (Hughes et aI., 1975). Os cor-
velhas, em éguas subnutridas durante a fase pos lúteos que não regridem na época normal
inicial da estação de monta e durante ovula- persistem cerca de 2 meses e são caracteriza-
ções duplas. dos por uma porção central de tecido conjun-
tivo branco. A maior parte das células
Corpo Lúteo granulosas que sofrem luteinização 24 horas
após a ovulação tornam-se secretoras.
A maior parte das ovulações ocorre nos dias
3, 4 ou 5 do cio, 24 a 48 horas antes do cio Controle Endócrino dos Ciclos Estrais
manifesto (i. é, o momento da ovulação está
mais intimamente relacionado ao fim do que FSH. Em éguas que ciclam normalmente,
ao começo do cio). O tamanho folicular e o dia 2 ondas de FSH ocorrem aproximadamente
da ovulação são consistentes em éguas de um 20 e 11 dias antes da ovulação. Ambas as con-
ciclo para outro. A ovulação ocorre depois da centrações de FSH e LH surgem por volta da
primeira divisão meiótica. A fertilidade da época da ovulação. As ondas de FSH e LH
cobertura aumenta gradualmente até atingir provocam o desenvolvimento dos folículos de
um pico ao redor de 2 dias antes do fim do cio menos que 2 mm de diâmetro até a ovulação.
e então cai agudamente no último dia. A onda de FSH relativa ao fim do cio e início
do diestro parece iniciar o desenvolvimento
Equinos 373

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FIG. 17-4. Secção transversal de ovários (desenhados em escala) de égua em diferentes estágios da
reprodução. A, Fora da estação de monta. O ovário é pequeno e contém folículos primários (p.f) e cicatrizes
(c.s.) de corpos lúteos em degeneração. B, Estação de monta. Durante o cio, o ovário contém um folículo
de Graaf maduro (g.f.) e o corpus albicans (c.a.) da ovulação anterior. C, Três dias após a ovulação. O
corpo hemorrágico (c.h.) desenvolve-se das paredes do folículo de de Graafrompido. D, Dez dias após a
ovulação. Corpo lúteo totalmente desenvolvido (c.l.); folículos de de Graaf(g.f.) começam a se desenvolver
para o ciclo seguinte. E, Gestação - 60 dias. O corpo lúteo da gestação (c.l.) é mantido e os folículos de de
Graaf (g.f.) desenvolvem-se em consequência de PMS circulante. F, Gestação - 80 dias. Corpos lúteos
acessórios (c.a.) desenvolvem-se a partir de folículos não rompidos.

de até 20 folículos. A onda da metade do para promover o desenvolvimento folicular.


diestro pode ser importante para o desenvol- A administração de hCG encurta o cio e ace-
vimento subsequente de folículos destinados lera a ovulação. A injeção de hCG é frequen-
a ovular 10 a 13 dias mais tarde. temente utilizada na tentativa de diminuir o
O ovário da égua é menos sensível ao FSH número de inseminações ou coberturas por
que o da vaca, ovelha e cabra. Injeções de do- ciclo e para sincronizar a época da ovulação
ses maciças de PMSG fora da estação de mon- mais acuradamente com a cobertura.
ta são ineficientes para a indução de ovula- LH. A regulação da secreção de LH envol-
ção dos folículos. A injeção de PMSG mais ve dois mecanismos: (1) um componente
para o fim do ciclo estral também é ineficiente hipofisário do sistema nervoso central respon-
374 Ciclos Reprodutivos

sável por um ritmo basal permanente de li- o momento da ovulação com a cobertura, na
beração de LH, ligado a um parâmetro tentativa de diminuir o número de
ambiental (mais provavelmente o inseminações ou de coberturas por ciclo. A
fotoperiodismo) e independente das influên- repetição de injeções de hCG não provoca es-
cias ovarianas; e (2) um componente ovaria- tado refratário. .
no (esteróide) que modifica o ritmo primário Na égua, o útero exerce seu efeito luteolítico
de LH durante a estação de monta (Garcia/e sobre o corpo lúteo primariamente através de
Ginther, 1978). Em éguas ovariectomizadas, uma via útero-ovariana sistêmica. Esta con-
as concentrações de LH seguem um padrão clusão é sustentada pelas seguintes descober-
estacional (baixas concentrações basais no tas em éguas: (1) a histerectomia prolongou
inverno; altas concentrações basais no verão). a vida do corpo lúteo, porém a histerectomia
As modificações cíclicas nas concentrações de unilateral não indicou o envolvimento de uma
LH durante a estação de monta parecem re- relação local útero-ovariana; (2) a adminis-
sultar da modulação das altas concentrações tração local de prostaglandina F 2a (PGF 2a),
basais de LH pelos esteróides ovarianos. uma postulada luteolisina uterina, dentro do
Os níveis de LH aumentam no início do útero não aumentou sua eficiência luteolítica
estro, atingindo um máximo de um a dois dias sobre a administração sistêmica por via
após a ovulação. Este aumento de LH pode intramuscular; (3) a anatomia vascular do
estimular a maturação do folículo durante o útero e ovários subministra um potencial li-
cio. Uma relação inversa entre os níveis de mitado para a transferência local de uma
progesterona e de LH ocorre, sugerindo um luteolisina entre o útero e o ovário por meio
mecanismo retrógrado negativo, porém não de uma via artério-venosa (Douglas et aI.,
existe esta relação entre as concentrações de 1976).
FSH e de progesterona. Os níveis de LH mos- Progesterona. Na ausência de ovulação,
tram um aumento prolongado durante o cio e com ou sem crescimento folicular, existem
que continua após a ovulação. Uma diminui- períodos prolongados de baixos níveis de
ção significante dos níveis máximos não é progesterona. Injeções intramusculares diá-
observada até o terceiro dia após a ovulação, rias de 100 mg ou mais de progesterona du-
a partir de quando os níveis continuam a de- rante a fase média do ciclo impedem o cio e a
clinar até os valores típicos do diestro. ovulação, porém uma dose de 50 mg por dia
O padrão de LH plasmático na égua difere inibe apenas o cio. O intervalo entre o térmi-
daquele de outras espécies e é possível que a no do tratamento e o cio parece depender da
persistência das altas concentrações de LH dosagem. Para impedir o abortamento habi-
resulte de uma longa meia vida do LH tual na égua, é usual administrar 250 a 500
endógeno. Isto, em contrapartida, pode ser mg a cada 10 a 30 dias.
responsável pelo número relativamente gran-
de de segundas ovulações detectadas em mui- Indução do Cio e Ovulação
tos ciclos estrais (Geschwind et aI., 1975).
Parece que o LH pode ser sensível ao contro- Infusão Salina. A técnica de infusão sali-
le retrógrado da progesterona no sentido de na intra-uterina tem sido usada rotineira-
que os níveis não começam a subir até depois mente para induzir cios em éguas em anestro.
que o corpo lúteo tenha regredido completa- As éguas em anestro são afetadas apenas pró-
mente. Por outro lado, altos níveis de ximo ao início ou ao fim da estação de monta,
progesterona circulante aparentemente não quando cios anovulatórios são induzidos. As
constituem um eficiente mecanismo de con- éguas em diestro, tratadas entre o 5Qe o 9Q
trole retrógrado negativo, uma vez que a li- dia, retornam ao cio quatro dias mais cedo do
beração de LH tenha começado. que o esperado, e o cio induzido é acompa-
A administração de 2.000 UI de hCG en- nhado de ovulação. As éguas em diestro pro-
curta o cio e acelera a ovulação. A injeção de longado podem mostrar cios ovulatórios den-
hCG é usada para sincronizar acuradamente tro de 3 a 9 dias após a infusão (Arthur, 1975).
Equinos 375

As infusões repetidas são clinicamente ino- é a mínima dose eficiente sistêmica para
fensivas, porém culturas bacteriológicas do indução de luteólise. A administração intra-
útero após a infusão são positivas. uterina ou diretamente dentro do corpo lúteo
Sincronização do Cio. As éguas são não melhora a eficiência luteolítica da inje-
costumeiramente cobertas ou inseminadas ção intramuscular de PGF 2a'
artificialmente depois do cio ter sido detecta- Óvulos e Transporte Ovular. Na ovula-
do por rufião e o desenvolvimento folicular ção, o óvulo não tem a corona radiata, porém
for avaliado por palpação retal dos ovários. A está cercado por uma massa gelatinosa gran-
sincronização do cio e da ovulação permite que de e irregular de origem ovariana, que se se-
as éguas sejam inseminadas em horário pré- para dentro de dois dias. Os óvulos fertiliza-
determinado sem a necessidade de detectar o dos são transportados para o útero, enquanto
cio ou palpar os ovários. que os óvulos não fertilizados são aprisiona-
Dois tratamentos influenciam eficiente- dos no istmo da trompa, por vários meses. O

.
mente a atividade ovariana na égua: (1) a óvulo sofre degeneração e fragmentação du-
indução da luteólise com prostaglandina F 2a rante os meses seguintes. Se uma égua apre-
(PGF2a) ou com análogos da PGF2a e (2) a
indução da ovulação durante a fase folicular
com uma injeção de hCG. 1Q corpo polar
Prostaglandinas. Das espécies domésti-
espaço perivitel(nico
cas estudadas, a égua é a mais sensível, so-
bre uma base do peso corpóreo, aos efeitos .<o
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luteolíticos
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histerectomizadas como em intactas, indican- ovo em ovulação 5Qdia mórula nas
trompas de Falópio
do que o local principal de ação da PGF2a 32-64 células
exógena não é a nível uterino.
A prostaglandina F2a (PGF2a) e seus aná- ~: ,'::0":,-'"
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clo estral da égua. O tratamento provoca uma
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FIG.17-5. - Óvulo normal de equino antes e depois
pode ser induzida tão precocemente quanto da fertilização, e óvulos em degeneração nas
no 52 dia em seguida à ovulação natural trompas, variando de 1 dia a 7,5 meses de idade.
(Oxender et aI., 1975). A prostaglandina F2a O mecanismo pelo qual os óvulos não fertilizados
(PGF2a) e seus análogos sintéticos são de equino são aprisionados na trompa é
desconhecido. (De van Niekerk e Generke (1966).
luteolíticos em éguas e provocam
Onderstep. J. Veto Res. 33, 195; copiado por Short
abortamentos.
(1972). In: Reproduction in Mammals, Austin and
A administração intramuscular é tão efici- Short (eds.). Cambridge, Cambridge University
ente quanto a subcutânea e 1,25 mg de PGF 2a Press.)
376 Ciclos Reprodutivos

senta uma sucessão de ciclos estrais estéreis materno, genótipo fetal e estágio da estação
seguidos por uma cobertura fértil, o embrião de monta quando ocorre a concepção. O de-
em desenvolvimento pode passar sobre os senvolvimento in utero pode também ser afe-
óvulos não fertilizados aprisionados na trom- tado pelas modificações de desgaste e
pa, e atingir o útero. dilaceração do endométrio como fibrose cística
Os óvulos não fertilizados podem ficar re- e atrofia glandular (Allen e Pashen, 1984). O
tidos nas trompas de éguas prenhes ou não crescimento fetal é retardado em
prenhes até por sete meses (Fig. 17-5). Isto consequência da prejudicada função
indica que a égua pode discriminar entre óvu- placentária em éguas que apresentem tais
los fertilizados e não fertilizados, permitindo modificações podendo a gestação ser prolon-
a passagem dos óvulos fertilizados para o úte- gada.
ro, ao mesmo tempo que retém os óvulos não
fertilizados. Óvulos retidos são mais comuns Diagnóstico de Gestação e Futuro
em raças pesadas do que nas leves, sendo mais Desenvolvimento
frequentemente encontrados na gestação ini-
cial do que na final. Vários métodos são utilizados para o diag-
Pouco se sabe sobre a função da cápsula nóstico de gestação na égua (Tabela 17-4). O
acelular, que substitui a zona pelúcida no diagnóstico de gestação por palpação retal dos
equino e então circunda o embrião até sua pré- ovários e útero é seguro 40 a 50 dias após a
implantação no útero. A passagem de uma concepção. Um teste biológico com camundon-
substância através da cápsula para o embrião go que depende do PMSG para estimular os
é influenciada pelo tamanho e pela natureza ovários de camundongas imaturas de 21 dias
química da molécula da substância. de idade é acurado depois de 35 dias de ges-
A época em que os óvulos fertilizados che- tação. Um teste qualitativo de inibição por
gam ao útero na égua é muito mais tardia hemaglutinação para PMSG no soro é rápido
(> 144 horas) do que na vaca, e a fase e disponível comercialmente (MIP test,
divisional de clivagem da célula ovo dos Diamond Labs). Este teste demanda na es-
equinos na chegada é mais avançada do que pera do aumento de PMSG no soro, porque
nos bovinos.Amigração transuterina dos ovos não é utilizável até 35 a 40 dias após a con-
ocorre em 50% dos casos, cepção. O diagnóstico precoce de gestação
Profundas investigações conduzidas sobre pode ser feito por ultra-som com 15% de diag-
a fisiologiae manejo da reprodução de equinos nósticos falso-negativos.
abrangeram as seguintes modificaçõesovaria- Os principais meios de desenvolvimento do
nas durante a ovulação e a gestação (Genther, feto equino no futuro estão resumidos na Ta-
1979; Squires et aI., 1974); perfil endócrino bela 17-5.
em éguas prenhes e após o parto e garanhões
criptorquídeos e após o aumento do Gêmeos
fotoperiodismo (Ganjam et aI., 1974, 1975;
Oxender et aI., 1979);subnutrição energética A ocorrência de gêmeos é rara. A ocorrên-
durante o desmame (Ellis e Lawrence, 1978); cia natural de gêmeos idênticos na égua é vir-
e manipulação do ciclo estral e função tualmente impedida por sua incapacidade
luteínica da ovulaçãopela prostaglandina F2m geral de levar conceptos gêmeos a termo. Isto
pelo hCG e GnRH, e por infusão salina intra- é primariamente devido à competição da pla-
uterina (Kenney et aI., 1975; Neely et aI., centa para contatar com o endométrio mater-
1974, 1979; Michel e Rossdale, 1986). no, resultando em líquida insuficiência
placentária para ambos os conceptos (Allen e
GESTAÇÃO Pashen, 1984). O resultado usual é que o feto
em maior desvantagem morre durante a se-
O período de gestação na égua varia de 315 gunda metade da gestação e assim inicia o
a 360 dias e é influenciado pelo tamanho abortamento. Gêmeos monozigóticos (idênti-
Equinos 377

TABELA 17-4. Diagnóstico de Gestação na Égua (Ginther, 1979)


Dias Após a
Ovulação Critérios Método Comentários

16-24 Sem sintomas Detecção do cio Poucas éguas prenhes demonstram cio (éguas
comportamentais, não prenhes podem não mostrar cio
físicos ou hormonais devido à pseudogestação ou cio silencioso)
de cio As membranas mucosas e a cérvice estão
dispostas para o estro e o diestro
O tônus tenso é um bom indicador
presumível antes da detecção do
abaulamento; não se diferencia da
pseudogestação
Altos valores (1 ng/ml) são indicadores
presumíveis mas não diferenciam da
pseudogestação ou ciclos de duração
irregular

16-17 Presença (não prenhe) Única injeção de Falso-positivos na pseudogestação ou


ou ausência (prenhe) estrógeno, detecção mortalidade embrionária precoce
de cio em resposta ao de cio
estrógeno

28-termo Modificações no muco Teste da mucina Resultados positivos precoces no 20Qdia;


vaginal corado efetivos após o 80Qdia, falso-positivos de
pseudogestação

45-90 PMSG no sangue Testes imunológicos e Precaução especial para diferenciar de


biológicos anestro
"Kits" de hemoaglutinação são disponíveis
em alguns países
Testes biológicos envolvem injeção de soro em
roedores ou sapos
Acurácia de aproximadamente 90%, porém
falso-positivos podem resultar da
manutenção de concavidades
endometriais após abortamento

60-termo Conteúdo uterino Palpação retal Rechaço e palpação do feto

90-termo Batimento cardíaco Ultra-sonografia Transdutor colocado no reto; ocasionalmente


fetal pulso fetal detectado precocemente no 40Q
dia, consistentemente entre os dias 90 e
240.

150-termo Estrógenos na urina Testes químicos Adição de substãncias químicas na urina e


(Cuboni) e biológicos observação de fluorescência; seguro após o
dia 150.

PMSG =gonadotrofina série a da égua prenhe.

cos) apresentam notável arma para pesqui- mento e da tendência de desenvolvimento pre-
sas em vários tipos de investigações biológi- cário após o nascimento dos poucos gêmeos
cas. Enquanto que gêmeos monozigóticos que sobrevivem a termo. Assim, a maioria dos
ocorrem naturalmente em bovinos, ovinos e gêmeos que é concebida é deliberadamente
na espécie humana, não obstante em baixa abortada no início da gestação, e a égua é co-
frequência, eles até o momento não foram berta novamente na tentativa de gerar um
reportados em equídeos. Em 2.673 éguas produto único na mesma estação de monta.
puro-sangue, o índice de concepção de gêmeos N a maioria das gestações de gêmeos
dizigóticos espontâneos foi de 2%. dizigóticos, ocorre uma invaginação dos
A gestação gemelar em equinos não é de- alantocórions adjacentes. Grupos sanguíne-
sejável por causa do alto índice de aborta- os idênticos são encontrados em potros gême-
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TABELA 17-5. Horizontes do Desenvolvimento do Feto Equino
Dias de Orgãos
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Gestação Cabeça Pernas Reprodutivos Pêlos Confonnação 1';'

40 Orelhas rudimentares Codilhos e curvilhões Começa a migração do tubérculo Nil


~
Cabeça entre os membros ::o
Pálpebras genital anteriores 'ê
Narinas externas CJ
45 Sexo detenninável Nil R.
55 As pregas dos triângulos 'Jarretes e boletos Vulva ou pênis proeminente Nil
~
auriculares cobrem a
Caixa craniana proeminente <;'
c
Papilas mamárias (pontos de 0,25 '"
abertura das pálpe-bras mm)
fechadas com exceção de
uma fenda de 1 mm.
60 Pálpebras fechadas ou
narinas quase fechadas- Solas e ranilhas Nil Equino inconfundível
fenda de 1 x 0,5 mm

80
Pontos da espádua e ancas Papilas mamárias desenvolveram Nil Cabeça e pescoço em posição
botões nonnal
100 Orelhas com 1 cm de Escroto; discreta protuberância, 2
comprimento e torcida cm atrás do umbigo
para a frente e para Cascos; ligeiramente amarelados, Clitõris em reentrância à posição Nos lábios Grupos musculares
baixo desenvolvimento de alça pós-natal facilmente reconhecíveis
Olhos abaulados coronária
120

Lábios vulvares encontrados na No lábio inferior, focinho e pálpebras


150 comissura ventral
Prepúcio penduloso
Esporões, 5 mm Mamas com fonnas glandulares Pestanas
180 na fêmea
Gubernáculo palpável no escroto
210
Suspensão da glândula mamária Crineira precoce e pêlos na cauda
na fêmea
240 Suspensão da glândula mamária Pêlos na crineira, 2,5 mm
na fêmea
Nos ouvidos, cabeça, parte posterior da
cauda
270
Vibrissas na garganta, lábio inferior e
focinho
Corpo recoberto de pêlo fino
300 Cauda enrolada

Coxim proeminente cobrindo a sola Pelame final

(Dados de Ginther, 1979, 1984).


Equinos 379

os, indicando quimerismo e anastomoses no plasma periférico é intimamente


macro e microscópicas entre ambos os córions. correlacionada com as modificações
A ocorrência de natimortos é frequente nas morfológicas nos corpos lúteos. Semelhanças
gestações gemelares, e apenas metade dos e diferenças na função ovariana, observadas
potros nascidos sobrevive. Gestações entre éguas prenhes e histerectomizadas,
gemelares não são desejáveis tendo em conta sugerem que, enquanto a PMSG parece não
as altas perdas peri e pós-natais e a péssima estimular o desenvolvimento folicular, por
viabilidade e desempenho de corrida dos gê- outro lado ela prolonga a vida útil e estimula
meos. O índice de concepção subsequente não a atividade secretora do corpo lúteo primário
é afetado pelo nascimento de gêmeos se a ges- e a ovulação induzida e/ou a luteinização dos
tação for a termo, mas ele diminui se ocorrer folículos secundários nas éguas prenhes
abortamento. (Squires e Ginther, 1975). Aovariectomia não
provoca abortamento se praticada depois do
Função Ovariana 70Qdia da gestação.

Quatro estágios distintos da função ovaria- Placenta


na são reconhecidos.
1. No início da gestação, está presente um A placenta da égua é classificada como
único corpo lúteo verdadeiro; acreditava-se difusa, microcotiledonária e epiteliocorial
que este regredisse aproximadamente no 40Q (Figs. 17-6 e 17-7). A superfície externa do
dia da gestação, porém de acordo com obser- córion é completamente guarnecida com tu-
vações subsequentes (Squires et aI., 1974), o fos de vilosidades ramificadas que penetram
corpo lúteo primário persiste além do 40Qdia. em invaginações correspondentes do
2. Entre o 40Qe o 150Qdia de gestação ocor- endométrio, formando pequenas estruturas
re a atividade ovariana. Cerca de 10 a 15 globulares conhecidas como microcotilédones.
folículos (acima de 1 cm de diâmetro) sofrem Os microcotilédones, que são uma caracterís-
luteinização para formarem os corpos lúteos tica diferencial da placenta equina madura,
acesSórios. A recuperação de óvulos recente- estão completamente formados ao redor do
mente expelidos nas trompas sugere que al- quinto mês de gestação. As pregas primárias
guns destes folículos ovulam mesmo que óvu- de trofoblasto tomam-se elaboradamente sub-
los não fertilizados estejam retidos nas divididas à medida que progride a gestação.
trompas por vários meses. Usualmente, cada Estas modificações se refletem na estrutura
ovário contém três a cinco corpos lúteos aces- das criptas maternas, que recebem as
sórios (Fig. 17-4). vilosidades fetais.
3. Do quinto ao sétimo mês, embora tanto Dentro de cada microcotilédone, os epitélios
os corpos lúteos primários e secundários, como coriônico e uterino estão em íntimo contato e
os grandes folículos regridam completamen- uma junção microvilosa se forma na transi-
te, a égua não demonstra sintomas de cio de- ção materno-fetal.
vido à secreção placentária de progesterona Barreira Placentária. Os mecanismos
até o fim da gestação. seguintes controlam a passagem de gases, nu-
4. Do sétimo mês em diante, estão presen- trientes, íons e hormônios através da barrei-
tes apenas vestígios dos corpos lúteos e ra placentária: (1) aqueles relacionados com
folículos pequenos, porém durante as duas a difusão através dos tecidos placentários, i.
últimas semanas de gestação a atividade é, permeabilidade, distâncias de difusão, área
folicular começa na preparação do cio pós- superficial total e gradientes de concentração
parto ("cio do potro"). entre os vasos sanguíneos maternos e fetais;
Os corpos lúteos primários e secundários e (2) relações de suprimento e remoção de am-
a placenta contribuem para o acúmulo total bos os lados da placenta, presença ou ausên-
de progesterona durante a gestação. A con- cia de áreas de troca especializada, direção
centração de progesterona dos corpos lúteos do fluxo sanguíneo nessas áreas e a existên-
380 Ciclos Reprodutiuos

Mesoderma em desenvolvimento
cia de desvios ou fluxos desiguais; (3) meca-
nismos especializados que ajudam a passa-
gem de substâncias e, no caso do oxigênio,
diferenças na afinidade de hemoglobina O2 e
capacidade de O2 entre o feto e a mãe (Silver
e Comline, 1975).
O corpo lúteo primário que se desenvolve
no local da ovulação fértil regride ao redor do
160Qdia da gestação e é substituído pelos cor-
pos lúteos secundários. Os corpos lúteos pri-
mário e secundário e a placenta contribuem
para a reserva total de progesterona durante
a gestação. A concentração de progesterona
luteínica no plasma periférico é intimamente
correlacionada com as modificações morfoló-
gicas do corpo lúteo.
Dia 14
Saco
~ Ectoderma
~ vitelínico
Perfil Endócrino
A -
Endoderma
Mesoderma
Esteróides. Os níveis plasmáticos de
progestágenos declinam no período médio da
Placenta gestação e permanecem baixos até poucos dias
alantocoriônica antes do parto, quando aumentam novamen-
te. Durante a gestação existem dois picos
máximos de progestágenos plasmáticos. O
primeiro, que ocorre durante o terceiro mês,
coincide com altos níveis de PMSG e é prova-
Cinto
Alantocoriônico velmente produzido pelas concavidades
endometriais ou pelos corpos lúteos secundá-
rios. O segundo pico ocorre no 11Q mês e pro-
Saco vitelínico
vavelmente representa a secreção dos
progestágenos placentários. Os níveis sanguí-
B Sinus terminalis
neos de estrógeno são os maiores no período
médio da gestação e diminuem significante-
mente antes do parto. A égua prenhe, além
FIG. 17-6. A. Concepto equino de 2 semanas de disso, excreta alguns outros estrógenos que
gestação (diâmetro, 16 mm) esférico, localizado no
corpo uterino, não está ,unido à sua eventual
lhe são peculiares assim como a outros
localização na porção caudal de um corno uterino. equídeos.
O tecido mesodérmico cresce a partir do disco Do quarto ao oitavo mês, os níveis de
embrionário para dentro da área entre o trofoblasto estrona excedem a 100 ng/ml e então decli-
(de origem ectodérmica) e o endoderma do saco nam na aproximação do parto. As altas con-
vitelínico. O mesoderma dá origem ao mesênquima
de suporte ou vasos sanguíneos do tecido
centrações de estrona no período médio da
conjuntivo. Algumas ilhas de vasos rudimentares gestação estão associadas com concentrações
já são visíveis histologicamente (De Ginther, 1979). gradativamente crescentes de equilina, que
B. Concepto equino com 7 semanas de gestação, tendem a estabilizar-se após o sexto mês em
com tamanho de uma laranja. As células destacam- 100 ng/ml, declinando apenas no último mês
se ao redor do cinto alantocoriônico invadindo o
endométrio e formando as concavidades da gestação.
endometriais. (De Short (1972). InReproduction Gonadotrofinas (PMSG). As conca-
in Mammals. C.R. Austin e V. Short (eds.). vidades endometriais, que estão presentes do
Cambridge, Cambridge University Press). segundo ao quarto mês de gestação, são a fon-
Equinos 381

Intestino posterior
Somatopleura
do âmnio
-
Alantóide em
desenvolvimento

A B
Dia 21

-=-=' 81 Saco vitelínico


.....
-
Ectoderma
Endoderma
Mesoderma
Cavidade amniótica
Saco alantóide

sI

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- -=-=
Saco vitelínico
Cavidade amniótica
Saco Alantóide -
. Ectoderma
Endoderma
Mesoderma

FIG. 17-7. A e B, Concepto esférico de uma égua pônei: e, embrião; vasculatura do saco vitelínico (vv,
veia vitelínica; va, artéria vitelínica); st, sinus terminalis; proeminente veia coletora que circunda a
vesícula. A vesícula tem 2,6 cm de diâmetro quando submersa e levemente flácida com um diâmetro de
3,5 cm na remoção do fluido no qual estava submersa. Notar o acabamento da cavidade amniótica e o
aparecimento da alantóide do mesentério posterior. A alantóide cresce para dentro do exocolo entre a
somatopleura e a esplancnopleura. C e D. A vesícula exposta vista do pólo embrionário. A mancha preta
no centro da vesícula é o embrião. Vasos proeminentes estão no alantocórion. O sinus terminalis ainda
está proeminente. O córion (flecha) entre a alantóide (direita) e o saco vitelínico (esquerda) é o local do
cinto coriônico. O mesoderma permanece avascular. A alantóide continua a crescer e o saco vitelínico
regride. Devido ao saco vitelínico permanecer ligado à onfalopleura bilaminar, o embrião é puxado pelo
saco vitelínico em regressão (De Ginther, 1979).
382 Ciclos Reprodutivos

te da gonadotrofina PMSG que circula no san- A PMSG pode representar o principal pa-
gue materno entre o 40Qe o 130Qdia de gesta- pel na estimulação do desenvolvimento fo-
ção. Os ovários maternos são assim estimu- licular secundário e corpos lúteos acessórios
lados, formando folículos ovarianos, muitos durante a primeira metade da gestação, po-
dos quais ovulam e formam corpos lúteos aces- rém semelhanças no desenvolvimento
sórios, enquanto outros se luteinizam sem folicular de éguas histerectomizadas e pre-
ovular. Os corpos lúteos acessórios persistem nhes indicam que outros fatores podem ser
até cerca de 180 dias de gestação e então de- responsáveis pelo desenvolvimento folicular
generam. Durante o período restante da ges- em éguas prenhes (Squires et aI., 1974).
tação, nenhum tecido luteínico é formado. Se
uma égua aborta ao redor do 35Qdia da ges- PARTO
tação, quando as células fetais já tiverem in-
vadido o endométrio, as concavidades A hora do parto, que usualmente se dá en-
endometriais continuam a se desenvolver tre o anoitecer e o nascer do dia, parece ser
normalmente e secretam PMSG, e os corpos influenciada pelo fotoperiodismo e o silêncio
lúteos presentes podem ser mantidos. do estábulo. Na Inglaterra, 86% dos partos
Vários fatores influenciam os níveis de ocorrem entre 19:00 e 7:00 horas (7:00 P.M. e
PMSG: estação, tamanho materno, número 7:00 AM.), com uma incidência máxima en-
de partos e genótipo fetaI. Um alto nível de tre 22:00 e 23:00 horas (10:00 P.M. e 11:00
PMSG ocorre no soro de uma égua prenhe de P.M.).
gêmeos se uma série de concavidades endo- A iminência do parto é sugerida pelo grau
metriais se desenvolver em ambos os cornos de hipertrofia mamária, presença de cerume
uterinos. Aqueda repentina dos níveis sanguí- nas tetas e possivelmente saída de leite do
neos deste hormônio em uma égua que abor- úbere. A melhor indicação de que começou o
ta, comparada à manutenção de um alto nível primeiro estágio é a presença de sudorese por
sanguíneo em outra em que ocorreu reabsorção, trás dos codilhos e nos flancos. Esta sudorese
sugere que o produto pode ser necessário para começa cerca de quatro horas antes do parto
a função continuada deste hormônio. e aumenta na medida que progride o estágio.
O genótipo fetal tem um efeito pronuncia- A cauda fica frequentemente levantada ou
do sobre a concentração de PMSG na mãe. O afastada para um lado.
sorg sanguíneo de éguas cobertas por jumen-
~9 contém apenas cerca de 10%da concentra- Parto Induzido
ção de PMSG de éguas cobertas por garanhão.
Parece que a alantocórion pode subministrar O parto pode ser induzido por várias doses
um estímulo, possivelmente de natureza quí- de estrógeno, prostaglandinas (PGF2a) e
mica, que regula a atividade secretora das ocitocina. O momento do aparecimento e o
concavidades endometriais. grau de expressão dos principais sintomas
A PMSG desaparece do sangue de éguas clínicos'do parto, e o momento para a comple-
prenhes de jumento ao redor do terceiro mês ta expulsão e a passagem da placenta são in-
de gestação, portanto muito mais precocemen- fluenciados por doses crescentes de ocitocina.
te do que naquelas prenhes de garanhão. A O estrógeno é útil para amolecer e relaxar a
concentração de PMSG é alta em umajumen- cérvice quando ela está túrgida, porém não é
ta prenhe de garanhão. Na remoção cirúrgi- essencial para a indução quando a cérvice já
ca do produto do útero após ou no 38Qdia de está descontraída e relaxada.
gestação, ou a morte fetal ocorrendo após o A progesterona (500 mg/dia) administra-
40Q dia, a produção de PMSG continua nor- da diariamente a partir de 318 dias de gesta-
malmente como se a égua ainda estivesse pre- ção encurtou-a, enquanto que estrógenos (50
nhe (Hay e Allen, 1975). As concavidades mg/dia) administrado com o mesmo critério
endometriais, uma vez funcionais, têm uma da progesterona, não surtiu tal efeito. O par-
vida útil que é independente do produto. to pode ser induzido em raças de grande por-
Equinos 383

te por tratamento diário com 100 mg de Jumento x égua =burro ou mula


dexametasona durante quatro dias. Todavia, Zebra macho x jumenta = zebronkey
o parto não tem sido satisfatoriamente indu- Zebra macho x égua = zebróide
zido em éguas pôneis. Uma única ou baixas
doses de dexametasona não induzem o parto. Estes híbridos de ambos os sexos são
O modo de ação da dexametasona para pro- inférteis porque os equinos, asininos e zebras
vocar o nascimento prematuro no equino é possuem diferentes números de cromossomos
desconhecido. A dexametasona parece indu- e os híbridos apresentam um número inter-
zir um parto normal desde que todos os sin- mediário entre seus pais. As células
tomas pré-parto, incluindo a dilatação da germinativas dos híbridos seguem pela
vulva, o desenvolvimento mamário e o apa- mitose, porém há um bloqueio na meiose, por-
recimento do vazio do flanco sejam normais. que o pareamento de cromossomos homólogos
As indicações para indução do parto na é impossível em consequência de números
égua incluem o parto retardado por atonia ímpares de cromossomos (McDonald, 1989).
uterina, a gestação prolongada, a prevenção A testosterona (células de Leydig) é produzi-
de machucaduras durante o parto, as cólicas da no macho havendo libido, porém o bloqueio
pré-parto, danos à égua e iminente ruptura à espermatogênese provoca infertilidade (ver
do tendão pré-púbico, e a obtenção de potros Fig. 17-5). O estrógeno não é produzido pelo
privados de colostro com finalidades de pes- ovário híbrido, contudo, a meios e deve ocor-
quisa. A fertilidade não é adversamente afe- rer para o folículo se desenvolver suficiente-
tada pelo parto induzido. mente para elaborar estrógenos. Conse-
quentemente, poucas mulas produzem
Cio Pós-parto (Cio do Potro) esteróides sexuais suficientes para exibirem
cio.
O cio pós-parto usualmente ocorre 5 a 15
dias após o parto. Algumas éguas, contudo,
podem mostrar cio até 45 dias após o parto; DISTÚRBIOS REPRODUTIVOS EM
este cio pode ter sido precedido por uma ovu- ÉGUAS
lação silenciosa. O intervalo entre o cio pós-
parto e o cio seguinte pode ser afetado pela As porcentagens de concepção e de parição
produção leiteira. A cobertura no cio pós-par- diferem grandemente. Em poucos haras de
to pode provocar um aumento da porcenta- criação de pôneis, os índices de concepção e
gem de abortamentos, distocias, natimortos de parição são 100%. Na maior parte dos
e retenção de placenta. Isto pode ser devido à haras o índice de parição é muito mais baixo
introdução de bactérias dentro do útero an- do que o índice de concepção. De um modo
tes que ele esteja completamente involuído e geral, o índice de concepção é influenciado
ainda sem contratilidade. pela raça, nutrição e idade da mãe e pelas
A involução do útero depois de um parto práticas de manejo. Por exemplo, o índice de
normal é rápida. A regressão em tamanho es- concepção ao primeiro serviço é mais baixo
tá quase comp!eta por ocasião do primeiro dia nas éguas puro-sangue inglês do que na maio-
do "cio do potro". O índice relativamente bai- ria das outras raças. O índice de concepção
xo de concepção das coberturas durante este de éguas servidas durante o cio do potro é
período parece indicar que a involução do mais baixo do que o daquelas servidas depois
endométrio não é completa em todas as éguas. do cio do potro.
A eficiência reprodutiva em equinos é bai-
xa quando comparada à de outros animais
HÍBRIDOS EQUINOS domésticos. Os distúrbios reprodutivos em
éguas podem ser devido a disfunção
Existem vários híbridos equinos: hormonal, infecção genital, manejo inadequa-
Garanhão x jumenta =bardoto do e imprópria detecção do cio.
384 Ciclos Reprodutivos

Irregularidades do Cio em éguas acíclicas (anéstricas) a sequência


de modificações do FSH e LH plasmáticos que
Ai,;irregularidades do ciclo estral estão as- ocorre no ciclo normal, na tentativa de indu-
sociadas com modificações estacionais no zir desenvolvimento folicular culminando em
fotoperiodismo, nutrição e clima. Ai,;variações ovulação. Uma única injeção de GnRH em
nos padrões de comportamento cíclico inclu- éguas anéstricas provoca um aumento de 3,7
em a extensão do ciclo e a conduta do cio, fa- vezes o valor basal de FSH no soro, que é com-
lha de ovulação e de desenvolvimento parável aos aumentos máximos que ocorrem
folicular, e prolongamento espontâneo dos durante o ciclo estral; todavia, o aumento in-
corpos lúteos. A "ovulação silenciosa", o cio duzido de LH é muito menor do que aquele
anovulatório, o "cio fracionado" e o cio pro- do pico cíclico. O GnRH em combinação com
longado são comuns. um tratamento apropriado de progesterona
O cio fracionado é comumente observado na égua acíclica tratada mais no final da es-
em éguas sadias durante o início daprimave- tação não reprodutiva, pode induzir constan-
ra. Em tais casos, o comportamento de cio é temente a atividade cíclica normal da hipófise
interrompido por um intervalo de não e dos ovários, terminando em ovulação (Evans
receptividade sexual. Frequentemente o e Irvine, 1977).
folículo presente no início da primeira parte
do cio fracionado continua seu crescimento Mortalidade Pré-natal
normal durante todo o período e termina
ovulando. O cio prolongado, com duração de A mortalidade pré-natal é frequente em
10 a 40 dias, pode também ocorrer no início éguas em lactação e que são cobertas preco-
da primavera em éguas utilizadas para tra- cemente na estação de monta ou após o cio do
ção pesada. potro. A mortalidade pré-natal é também co-
A infusão intra-uterina de solução salina mum em determinadas faInl1ias de equinos.
pode induzir cio em algumas éguas com ati- A maior porcentagem de mortalidade pré-
vidade ovariana irregular ou inativa. A natal em éguas jovens comparada com a de
distensão uterina pela solução salina atua éguas adultas pode ser devido aos níveis ina-
como um estímulo para liberação das dequados de progestágenos para manter a
gonadotrofinas hipofisárias. A infusão intra- gestação, à imaturidade das éguas jovens,
uterina de solução salina no diestro encurta suas maiores necessidades nutricionais para
o intervalo ovulatório pela indução prematu- crescimento e manutenção e às tensões fisi-
ra de luteólise, porém durante o cio ela tem cas impostas sobre elas pelos procedimentos
pouco efeito sobre a extensão do ciclo. zootécnicos. A infecção do feto in utero é uma
causa significante de mortalidade pré-natal
Anestro nos últimos meses de gestação.

Existem três formas de anestro: (1) um Neoplasmas Ovarianos


anestro de inverno que dura 11 semanas, em
que os folículos raramente atingem 35 mm Os neoplasmas dos órgãos reprodutivos
antes de regredirem sem ovulação e os níveis equinos são raros, enquanto que os teratomas
plasmáticos de progesterona são 1 nglml; (2) e os tumores das células granulosas são co-
um corpo lúteo que persiste por 5 a 13 sema- muns. Os tumores ovarianos foram classifi-
nas com elevados níveis plasmáticos de cados de acordo com a origem histogenética:
progestágenos, usualmente em novembro e (1) tumores do estroma e derivados do centro
dezembro; (3) padrões ovulatórios cíclicos mesenquimatoso da crista genital, com pos-
desacompanhados de cio (Hughes et aI., 1975). síveis contribuições dos tecidos conjuntivo e
Evans e Irvine (1977) estabeleceram um vascular do hilo; (2) células epiteliais diferen-
regime de hormônio liberador de gona- ciadas, como as células granulosas, da teca e
dotrofina exógena (GnRH) para reproduzir luteínicas, uma síndrome associada com
Equinos 385

desequilíbrio hormonal; (3) disgerminoma, no parto; excesso de trabalho durante a esta-


um tumor raro similar ao seminoma dos ção de monta, especialmente no cio; atonia
garanhões e (4) cistoadenoma derivado da do útero em decorrência de distocia; debili-
superfície do epitélio celômico e dos cresci- dade geral ou idade avançada; e retenção par-
mentos tubulares para dentro no córtex das cial da placenta no abortamento ou no parto.
gônadas. O prognóstico e o tratamento de éguas
O tumor das células granulosas é um inférteis são baseados na história
neoplasma comum que afeta apenas um ová- reprodutiva, nos dados clínicos e achados
rio. Sua incidência aumenta com a idade, e histopatológicos da biópsia endometrial e do
está geralmente associado com a superpro- muco cervical.
dução de hormônios esteróides levando a sin- Os órgãos reprodutivos internos podem ser
tomas clínicos de excessiva estrogenização. A examinados por endoscopia. Um rinola-
superfície do tumor das células granulosas é ringoscópio humano pode ser utilizado. A
lisa, a superfície de corte pode ser sólida ou indução de pneumoperitônio artificial e a ins-
cística, e sua coloração branca ou amarela talação de um dispositivo fistular peritoneal
depende da quantidade de lipídios ovarianos. endoscópico são utilizados para prolongar o
O teratoma, um verdadeiro tumor composto período de observação. Novos conceitos de
de tecidos múltiplos estranhos à porção em instrumentação endoscópica e técnicas cirúr-
que ele cresce, notado em éguas com um a gicas têm aumentado o escopo da endoscopia
cinco anos de idade. médica nas pesquisas básicas e clínicas.
Infusão uterina excessiva ou prolongada de
Cistos Endometriais e Condições antibióticos no tratamento de endometrite
Patológicas Relacionadas crônica em éguas é usualmente seguida pelo
estabelecimento de fungos e leveduras no tra-
Focos aumentados do útero, palpáveis atra- to genital.
vés da parede do reto, têm várias causas. Crescimento Retardado Intra-uterino. A
Lacunas linfáticas parecem ser comuns em infecção por vírus do feto pode levar ao sub-
éguas mais velhas e podem ocasionalmente desenvolvimento em algumas espécies, em-
dar origem a um grande cisto endometrial ou bora os vírus não tenham ainda sido implica-
provocar modificações difundidas nos cornos dos na patogenia do crescimento retardado
uterinos. Nos casos de atonia do miométrio e fetal em equinos. Contudo, a infecção
atrofia do endométrio, infusões uterinas re- placentária crônica pode interferir com as tro-
petidas de solução salina quente (40° a 45°C) cas placentárias e deste modo prejudicar o
com ou sem antibióticos podem aumentar o crescimento fetal. Por exemplo, o peso ao nas-
tônus do miométrio. A resposta é rápida po- cer é bastante reduzido em casos de
rém transitória. rinopneumonite e placentite por fungos.

Infecções Genitais Comprimento Excessivo do Cordão


Umbilical
As infecções uterinas provocam encurta-
mento dos ciclos estrais. A inoculação intra- O comprimento do cordão umbilical não é
uterina experimental de Streptococcus correlacionado com o estágio da gestação, com
zooepidemicus em éguas durante o diestro o peso corporal do potro, sexo ou viabilidade,
pode encurtar a extensão do ciclo estral. A idade da mãe ou número de parições, ou área
endometrite crônica inclui tipos latente, pu- superficial, comprimento e largura do alanto-
rulento, hipertrófico e atrófico e piometra. córion. Todavia, o comprimento do cordão é
Vários fatores podem provocar endometrite correlacionado com o peso do alantocórion e o
na égua: cobertura em fase inadequada do comprimento do corno vazio. Várias condições
ciclo estral; coberturas muito frequentes du- patológicas de origem desconhecida provocam
rante o cio; falta de higiene na cobertura ou um excessivo comprimento do cordão umbili-
386 Ciclos Reprodutivos

cal. Os distúrbios reprodutivos associados com Anormalidades Neonatais e Mortalidade


estas condições incluem: (1) estrangulamen- Neonatal
to pelo cordão ao redor do feto; (2) torção ex-
cessiva ao redor da porção amniótica ou A microftalmia (olhos em botão) e o
alantóide do feto, provocando oclusão vascular entrópio são anormalidades congênitas regu-
e/ou retenção urinária e; (3) necrose da cório- lares no puro-sangue inglês. O grau de
alantóide na cérvice. O estrangulamento do microftalmia é variável e pode ser tão grave
feto pode provocar abortamento, com profun- que o globo fica oculto atrás de uma terceira
das cavidades presentes ao redor da cabeça, pálpebra bem desenvolvida. A córnea com
pescoço, tórax e porção posterior com edema frequência é distorcida e pigmentada e a aber-
local aparente. tura palpebral é usualmente menor do que o
Uma obstrução leve do úraco é compatível normal; a condição pode ser bi ou unilateral.
com gestação normal. O cordão umbilical pode O entrópio é congênito e hereditário, e pode
estar torcido com múltiplas dilatações do levar a uma opacidade da córnea e ulceração.
úraco que impedem o fechamento normal do Síndrome de Barker (Síndrome
ápice da bexiga no nascimento. Uma torção Convulsiva do Potro, ou Síndrome de Má
excessiva do cordão umbilical ameaça a inte- AdaptaçãoNeonatal).
Esta síndrome afe-
gridade do úraco e dos vasos umbilicais; os ta os potros puro-sangue inglês, com
efeitos dependem da totalidade, duração e frequência aqueles que tiveram um nascimen-
local da compressão. to fácil, e ocorre dentro de minutos após o
parto ou até 24 horas mais tarde. Os sinto-
mas clínicos incluem movimentos espasmó-
Abortamento dicos da cabeça, dos membros e musculatura
do corpo, hiperexcitabilidade, inabilidade em
O índice médio de abortamento em éguas manter-se de pé, convulsões, opistótono e ere-
é alto (10%). Isto pode ser devido a peculiari- ção da cauda. Pode haver também colapso das
dades do equilíbrio hormonal da égua duran- narinas externas, movimentos inspiratórios
te a gestação. O abortamento ocorre menos profundos e som de latido. Quando consegue
entre três e seis anos de idade e a maior par- manter-se em pé, o potro pode andar em cír-
te, devido a infecções, ocorre durante os últi- culos, desgovernadamente. A recuperação
mos estágios da gestação. Entre o quinto e o ocorre em cerca de 50% dos casos, sendo ge-
décimo mês de gestação, as éguas são ralmente completa.
endocrinologicamente suscetíveis ao A síndrome é associada com necrose do
abortamento devido a deficiências hormonais. córtex cerebral, do tronco cerebral e do
Recomenda-se evitar modificações repentinas diencéfalo, e com grave hemorragia da subs-
na dieta ou na quantidade de exercícios físi- tância branca e cinzenta do córtex cerebral e
cos neste período. O índice de concepção pós- no cerebelo.
abortamento é baixo, especialmente em éguas Modificações Oculares. O olho do potro, que
mais velhas. está aberto no nascimento, tem uma córnea
O abortamento em éguas mais velhas pode clara e ocular média. O fundo é diferenciado
ser devido a insuficiências uterinas. O em tapetum lucidum e tapetum nigrum e é
endométrio normal apresenta pregas mais ou similar ao fundo do equino adulto. As modifi-
menos longitudinais que variam em tamanho cações oculares na síndrome convulsiva do
de acordo com o ciclo estral. A implantação potro incluem assimetria das pupilas, ceguei-
ocorre na junção do corpo e cornos uterinos e ra aparente, tamanho pupilar variável,
as pregas nesta região podem sofrer atrofia esclerótica turva e retina com petéquias. Es-
depois de uma série de gestações. As áreas tes sintomas clínicos nem sempre estão pre-
atróficas parecem ter um reduzido número de sentes, mesmo nos casos graves. Pequenas
glândulas endometriais e, em alguns casos, hemorragias arredondadas da retina podem
contêm colágeno e/ou células inflamatórias. ocorrer e que são claramente visíveis como
Equinos 387

pontos vermelhos contra o fundo do olho. Es- Conduta Sexual Anormal e Distúrbios da
tas hemorragias ocorrem com um ou dois dias Ejaculação
de idade nos potros convulsivos e persistem
apenas por poucos dias. A conduta sexual anormal de garanhões
Mortalidade Neonatal. A mortalidade inclui: (1) falha em atingir ou manter ereção
neonatal pode ser resultante de fraqueza da com libido fraca ou excelente; (2) introdução
mãe ou do potro ou infecção bacteriana atra- incompleta ou falta de impulsos pélvicos de-
vés do cordão umbilical. O manejo apropria- pois da introdução, libido fraca ou dor
do, estábulos limpos para o parto e precau- provoca da por danos sofridos durante a co-
ções sanitárias no parto são métodos bertura; (3) desmonta no início da ejaculação
preventivos comuns da mortalidade neonatal. devido a dano ou dor; (4) ausência de
ejaculação apesar de uma ereção completa e
prolongada e introduções repetidas; (5) boa
Recomendações Para as Técnicas de ejaculação durante um curto período, porém
Reprodução não forçar ejaculação adicional sem um des-
canso sexual, mesmo que a libido permaneça
Uma cuidadosa prova de cio com o alta; (6) masturbação (Pickett e Voss, 1975).
garanhãp, o exame de rotina da vagina e Garanhões impotentes respondem bem ao
palpação retal dos órgãos reprodutivos podem retreinamento e a recuperação pode ser
ajudar a melhorar o índice de concepção. Sem- alcançada sem tratamento farmacológico. A
pre que possível, o momento da ovulação de- masturbação em garanhões reprodutores,
verá ser previsto, desde que a duração do cio uma conduta sexual anormal, pode ser trata-
e o momento da ovulação a partir do início do da pela utilização de um anel ao redor do pê-
cio possam variar individualmente. O índice nis, porém isto pode causar hemospermia.
de concepção depende primariamente da hora Os distúrbios da ejaculação são manifes-
e número de inseminações. tados diferentemente em cada indivíduo, des-
Em algumas ocasiões, a égua pode fazer de cópula normal com ou sem ejaculação oca-
esforços expulsivos (como para urinar ou de- sional. Na maioria dos casos, a ereção do pênis
fecar) após a cobertura e eliminar a maior está associada com vários movimentos
parte do sêmen do útero. Isto pode ser preve- copulatórios que terminam em completa ou
nido fazendo a égua andar um pouco após a incompleta falha de ejaculação. Os distúrbios
cobertura. A égua é suscetível a endometrites, da ejaculação - transitórios, intermitentes ou
especialmente após o parto, pois a cérvice permanentes -podem ocorrer durante as duas
desta espécie não é uma forte barreira à en- ou três primeiras estações de monta ou após
trada de bactérias. A égua é mais propensa a várias estações de atividade normal. Para se
uma deficiência de LH do que outros animais assegurar de que ocorreu ejaculação após a
domésticos; esta deficiência pode ser suavi- introdução pode-se colocar a mão sob a base
zada pela utilização de LH exógeno. Uma in- do pênis. Em ausência de ejaculação, poucas
jeção endovenosa de 1.500 a 3.000 VI de hCG ou fracas ondas uretrais podem ser percebi-
pode provocar ovulação durante o cio das, porém quando há ejaculação tem-se a
anovulatório, desde que o folículo ovariano impressão do conteúdo de uma seringa de 10
tenha pelo menos 3 cm de diâmetro. ml estar sendo transportado ao longo da
uretra. Em um garanhão de boa fertilidade é
comum sentir-se cerca de cinco destas ondas;
DISTÚRBIOS REPRODVTIVOS EM em garanhões de baixa fertilidade, sente-se
GARANHÕES às vezes apenas uma onda e meia.
Os distúrbios da ejaculação podem origi-
Os distúrbios reprodutivos em garanhões nar-se de bloqueio direto dos impulsos nervo-
incluem conduta sexual anormal, distúrbios sos, de obesidade, más condições e exaustão
da ejaculação e más características do sêmen. por coberturas frequentes. Os garanhões usu-
388 Ciclos Reprodutivos

almente reagem fortemente aos ambientes Recomendações para Técnicas de


não familiares ao seu redor, e fatores psíqui- Reprodução
cos desta natureza podem inibir a estimulação
normal dos centros supra-espinhais. O dis- O efeito detrimental das ejaculações fre-
túrbio da ejaculação pode ser devido à falha quentes sobre o número de espermatozóides
de contração dos músculos lisos do trato por ejaculação é pronunciado no garanhão.
reprodutivo em consequência de refra- Em cobertura natural onde várias éguas po-
tariedade destas células à norepinefrina, ou dem exibir cio simultaneamente, um
falha de liberar norepinefrina das termina- garanhão pode copular várias vezes no mes-
ções nervosas simpáticas. mo dia; isto provoca um declínio da fertilida-
de. A utilização de inseminação artificial du-
rante estes períodos deverá melhorar o índice
Más Características do Sêmen de concepção. O garanhão ejacula diretamen-
te dentro do útero e na maioria dos casos,
Estas podem incluir uma das seguintes: muito pouco sêmen é deixado na vagina. A
azoospermia, ausência de espermatozóides na transferência do sêmen da vagina para o úte-
ejaculação; oligozoospermia, diminuição da ro em seguida à inseminação é raramente
concentração espermática por mililitro de sê- necessária, porém isto é recomendado para
men; teratospermia, porcentagem aumenta- éguas agitadas ou se um garanhão é apto para
da de espermatozóides morfologicamente desmontar a égua com o pênis ainda ereto, o
anormais; astenospermia, diminuição da que provoca a tração do sêmen para trás den-
motilidade espermática; ou hemospermia, tro da vagina.
presença de sangue no sêmen.
A hemospermia resulta de uretrite nos REFERÊNCIAS
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rer ocasionalmente em amostras isoladas ou Allen, W.R (1984). Hormonal control of early preg-
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em cada ejaculação independentemente da 304.
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Equinos 389

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18
AVES DOMÉSTICAS
M.R BAKST e J. M. BAHR

Este capítulo apresenta uma breve visão mancha de coloração branco-acinzentada, com
dos processos reprodutivos das aves domésti- 3 mm de diâmetro, contendo no ovo infértil o
cas. Devido à sua importância econômica, a pró-núcleo haplóide feminino. Diferentemente
galinha (Gallus domesticus) e o peru (Meleagris dos mamíferos, a ave fêmea é o sexo
gallopavo) constituem o principal foco da dis- heterogamético.
cussão. O disco germinativo flutua sobre um cone
de gema de coloração clara ("gema branca")
A FÊMEA que se estende para baixo finalizando em uma
esfera, a latebra (Fig. 18-1). A composição
O Ovo química da gema branca difere da gema ama-
rela: ela contém uma proporção maior de pro-
o ovo é uma estrutura complexa química e teínas e sua estrutura apresenta certas pe-
fisicamente; a sua complexidade é determi- culiaridades. A maior parte da" massa central
nada pelas necessidades de proteger e de vitelo" é composta do conhecido fluido vis-
subministrar subsistência para o embrião. O coso de cor laranja-amarelada (gema de ovo),
ovo é basicamente formado de três componen- que tem sido descrita como uma emulsão
tes: a "massa central de vitelo", que é equiva- hidro-oleosa com uma fase ininterrupta na
lente ao ovo dos mamíferos, a "clara" e a cas- forma de proteína aquosa. Espalhadas no
ca (Fig.18-1), embora nenhum componente meio dela estão várias gotas e esferas de
seja homogêneo estrutural ou quimicamente gema.
(Tabela 18-1). Além disso, as características A função da gema é proporcionar o mate-
físicas dos ovos são difíceis de definir preci- rial para a embriogênese. Quimicamente, ela
samente porque elas variam de espécie para é uma massa heterogênea contendo proteínas,
espécie e mesmo dentro das espécies (Gilbert, lipídios, pigmentos e uma variedade de subs-
1971a, 1979). tâncias menores orgânicas e inorgânicas. A
A "massa central do vitelo" é circundada fração de baixa densidade contém aproxima-
pela membrana perivitelina e pesa cerca de damente toda a fração lipídica como lipopro-
19 g na galinha, embora sua massa seja de- teínas e muito fósforo. A fração hidrossolúvel
pendente da idade. Pesos menores estão re- Oivetina) que corresponde a 10% da massa,
lacionados com frangas. A porção contém cerca de 30% da proteína principal-
citoplasmática viva da célula, o blastodisco mente com albumina plasmática, uma das
(ou blastoderma se o ovo é fértil) ocupa uma glicoproteínas plasmáticas, plasma e y-glo-
pequena fração do ovo. Ele é uma pequena bulina. A fração granular é formada de

390
Aves Domésticas 391

Núcleo de Pander
Látebra
~ÓVULO (gema)
"Membrana vitelina"
Gema

Cutícula
Casca
Membrana
Casca externa da
casca
Câmara de ar
Membrana -
interna da casca

Ligamento de albume
Calazas
,Camada calazífera
,Clara finamedIa
Clara de i;>terna ALBUME (clara)
'espessura
Clara fina externa
Ligamento de albume
j
FIG. 18-1. Diagrama dos componentes do ovo, (Gilbert, A. B. (1971 a). The egg: its physical and chemical
aspects. In Physiology and Biochemistry ofthe Domestic Fowl. D. J. Bell and B. M. Freeman (eds.). New
York, Academic Press.)

TABELA 18-1. Algumas Características das Principais Proteínas da Clara do Ovo


de Galinha
Componente Porcentual Peso Molecular Propriedades Biológicas
Ovoalbumina 54,0 46.000
Ovotransferina 12-13 76.600-86.000 Fixa o ferro, cobre, manganês, zinco; pode inibir
bactérias
Ovomucóide 11,0 28.000 Inibe a tripsina
Globulinas 8,0 Entre 36.000 e 45.000
Lisozima 3,4-3,5 14.300-17.000 Frações específicas de ~-(1-4)-D-glicosaminidas; lisa
bactérias
Ovomucina 1,5-2,9 Hemaglutinação antivirótica
Flavoproteína 0,8 32.000-36.000 Fixa riboflavina
Ovomacroglobulina 0,5 760.000-900.000
Ovoglicoproteína 0,5-1,0 24.400
Ovoinibidor 0,1-1,5 44.000-49.000 Inibe proteases, incluindo tripsina e quimiotripsina
Avidina 0,05 68.300 Fixa biotina
Inibidor de papaína 0,1 12.700 Inibe proteases, incluindo papaína e ficina

fosvitina e inclui a maior parte do fósforo re- sa pura e contém cerca de 40 proteínas (Ta-
manescente assim como a maioria do cálcio e bela 18-1). Desde que o albume circunda o
lipovitelinas. embrião em desenvolvimento, ele forma uma
Ao redor da massa central de gema e cons- capa aquosa que impede a dessecação. Sabe-
tituindo cerca de dois terços do ovo em peso, se também que ele contribui com material
há uma camada de albume que possui pelo para o embrião durante o desenvolvimento
menos 7 regiões maiores, que possivelmente final. Outras funções têm sido atribuídas a
são produzidas pela rotação do ovo no oviduto proteínas específicas, desde que muitas das
(Fig. 18-1). O albume é quase proteína aquo- proteínas in vitro apresentam propriedades
392 Ciclos Reprodutivos

bactericidas, enquanto outras possuem ativi- rante a embriogênese, porém um fato carac-
dade enzimática e algumas são inibidoras de terístico das aves é a usual supressão do de-
enzimas. senvolvimento posterior destes órgãos do lado
A casca é composta de 3 estruturas: as direito (Gilbert, 1979; Mittwoch, 1983). A pro-
membranas, a porção mineralizada e a cu- dução de substâncias inibidoras do duto de
tícula. As duas membranas são lâminas re- MüIler pelo ovário resulta na regressão ape-
sistentes de proteína fibrosa, medindo juntas nas do duto direito (Hutson et aI., 1983). A
cerca de 70 flm de espessura. Em uma extre- remoção do ovário esquerdo resulta em um
midade elas se separam para formar a câma- ovoteste com tecido masculino e feminino. O
ra de ar. Funcionalmente, as membranas da ovário esquerdo funcional (Fig. 18-2) produz
casca proporcionam a superfície na qual pode óvulos e age como um órgão endócrino
ocorrer a mineralização; a partir delas, fibras' secretando os hormônios esteróides.
penetram para o exterior a fim de produzi- O ovário consiste de uma medula, que con-
rem a matriz orgânica da casca. Elas podem tém tecido conjuntivo, vasos sanguíneos, ner-
reduzir a velocidade de penetração bacte- vos e um córtex. O córtex contém as oogônias
riana, permitindo que as propriedades que dão origem aos oócitos. O ovário imatu-
bactericidas da clara atuem mais eficiente- ro, em forma de pêra, possui cerca de 15 mm
mente. de comprimento por 5 mm de largura, situa-
A casca do ovo apresenta cerca de 350 flm do na cavidade peritoneal ventralmente à
de espessura e é composta de cristais em for- aorta e cranialmente ao rim, próximo às duas
ma de raios de quase calcita pura (carbonato glândulas adrenais. O suprimento sanguíneo
de cálcio). Dispostos verticalmente através da deriva da artéria gônado-renaI. Duas veias
casca existem poros que permitem a passa- drenam o sangue do ovário. Ele é extensiva-
gem de gases. A casca forma uma barreira mente enervado da cadeia simpática por meio
física a substâncias que possam afetar adver- do plexo adrenal-ovariano (Gilbert,1979).
samente o microambiente do embrião. Ela Desenvolvimento Folicular e Gameto-
proporciona também um fortalecimento mecâ- gênese. No desencadeamento da maturida-
nico e um rígido suporte para manter a orien- de sexual, o peso ovariano aumenta. Na gali-
tação dos heterogêneos componentes internos. nha este aumento varia de 0,5 g para 40 a 60
O seu fortalecimento é determinado princi- g; a maior parte deste aumento provém dos 4
palmente por sua curvatura e espessura, a 6 folículos em desenvolvimento, o maior dos
embora outros fatores também estejam en- quais pesa cerca de 20 g, com um diâmetro
volvidos. Ela também subministra cálcio aproximado de 40 mm.
para o embrião em desenvolvimento. A cober- Dos milhares de oócitos presentes, muitos
tura externa do ovo, a cutícula proteínica, aumentam de tamanho até 4 a 10 mm de diâ-
reduz a perda de água e a contaminação metro. A maioria dos folículos deste tamanho,
bacteriana. contudo, não se desenvolvem posteriormente
e tomam-se atrésicos. A cada 25 a 27 horas
Formação do Ovo um destes pequenos folículos aumenta e pas-
sa a hierarquia folicular. Na galinha, este
A formação do ovo envolve o transporte de folículo continua crescer e ovula 5 a 7 dias
grandes quantidades de material através de após. O crescimento de pequenos folículos
numerosas membranas biológicas e a forma- parece ser regulado primariamente pelo FSH
ção de muitas substâncias novas, particular- (Palmer, 1989). A maturação do pró-núcleo fe-
mente proteínas e lipídios específicos. O ta- minino começa no folículo e completa-se no
manho e a composição do ovo são afetados por oviduto. O acabamento da primeira divisão (re-
numerosos fatores genéticos, ambientais e fi- dução) ocorre 2 horas antes da ovulação, possi-
siológicos. velmente sob controle do LH; a segunda divi-
Ovário. Nas aves como nos mamíferos, são (maturação) ocorre no oviduto e pode ser
dois ovários e dois ovidutos são formados du- iniciada pela penetração do espermatozóide.
Aves Domésticas 393

20
I
40. , .
80 80 100
~.

111111

Estigma

Folículo pós-
ovulatório

Infundíbulo

Istmo

Magno

Vagina

Cloaca
B

FIG. 18-2. A, Ovário de galinha doméstica in situo B, Ovário e oviduto de galinha doméstica.

o desenvolvimento do oócito e a deposição o oócito. Capilares da teca são fenestrados, e


de vitelo podem ser considerados em 3 fases, a camada celular adjacente ao oócito, a ca-
embora outros pesquisadores tenham sepa- mada granulosa, é caracterizada por largos
rado as fases diferentemente (Gilbert,1979). canais intercelulares. A superfície do oócito é
A primeira, durando muitos meses ou anos, é bastante aumentada pelo oolema extrema-
caracterizada por uma lenta deposição de mente enrolado (também referido como mem-
material consistindo principalmente de gor- brana vitelínica), que é ativamente ligado na
dura neutra. Durante o segundo período, que pinocitose.
pode durar várias semanas, o tamanho do
folículo aumenta de cerca de 1 a 6 mm. Du- O Oviduto: Estrutura e Função
rante o último estágio (a fase de rápido cres-
cimento) de 7 a 8 dias, a massa principal de O oviduto, que mede cerca de 700 mm de
material vitelínico está estabelecida e o peso comprimento na galinha, está suspenso pelo
folicular aumenta quase linearmente. A pro- ligamento dorsal peritoneal, que continua ao
dução de precursores vitelínicos no fígado é redor dele para formar o ligamento ventral
regulada por estrógenos, enquanto que a cap- (Gilbert, 1979).
tação de proteínas vitelínicas pelo folículo é As funções do oviduto incluem deposição
controlada por gonadotrofinas. de albume, membranas e casca ao redor do
O fígado, e não o ovário, é a principal fonte ovo; o movimento do ovo ao longo do oviduto;
de proteínas vitelínicas e fosfolipídicas e o armazenamento e transporte dos esper-
(Griffin et aI., 1984). A estrutura do folículo matozóides (Fig. 18-6). A extremidade ante-
durante a fase de crescimento facilita a trans- rior do oviduto é também o local da fertiliza-
ferência de vitelo do plasma sanguíneo para ção. A parede do oviduto consiste de uma
394 Ciclos Reprodutivos

. FIG. 18-3.A. Corte transversal de um folículo em maturação (galinha) mostrando a teca externa (e), a
teca interna (i), a camada de células granulosas (g), a camada perivitelina (pontas de flechas) e esferas
de vitela (y). B. Microfotografia eletrônica de varredura da face basal de várias células granulosas. Nu-
merosos processos citoplasmáticos atravessam largos espaços intercelulares e interligam células
granulosas adjacentes. (De Bakst, M.R. (1979). Scanning electron microscopy of hen granulosa cells
before and after ovulation. Scan. Electron Microsc. lU, 307).

mucos a luminal com muitas dobras, uma ca- A maior parte das 40 proteínas encontra-
mada circular interna e uma longitudinal das no albume é formada na mucosa do
externa de musculatura lisa, e uma cobertu- oviduto; uma possível exceção é a
ra externa de epitélio peritoneal. ovotransferina (conalbume), que parece ser
Infundíbulo. O infundíbulo apanha ati- similar à transferina do soro. A proteína
vamente o óvulo liberado e, caso haja avidina é formada nas células epiteliais em
espermatozóides no local, torna-se o local da forma de taça e as proteínas ovoalbumina e
fertilização. lisozima são produzidas pelas glândulas
Depois de passar pela região inicial em for- tubulares. A ovotransferina e a ovomucóide
ma de funil do infundíbulo, o ovo atinge a "re- podem também ser produzidas nas células das
gião calazífera", a mais estreita porção glan- glândulas tubulares.
dular deste segmento (Fig. 18-2). A secreção As proteínas do oviduto são secretadas à
desta região forma uma camada perivitelina medida que a massa do ovo em desenvolvi-
"externa" e provavelmente contribui para a mento desce para o magno. Embora o estí-
formação das calazas. A região calazífera é mulo preciso para secreção destas proteínas
um dos dois conhecidos armazenamentos de seja desconhecido, existem três possibilida-
espermatozóides no oviduto. des: (1) o ovo em desenvolvimento provoca li-
O magno é a região secretora de albume. beração de albume por meios mecânicos ou
Ele é o segmento mais longo do oviduto e dis- outros, (2) mecanismos hormonais sincroni-
tingue-se do infundíbulo e do istmo pelo seu zam a liberação e (3) algum mecanismo coor-
diâmetro externo maior, paredes mais espes- denador nervoso está envolvido.
sas e dobras luminais mais volumosas (Figs. O istmo, que forma a membrana da casca
18-2 e 18-6). ao redor do ovo em desenvolvimento, é carac-
Aves Domésticas 395

Lâmina basal

Teca externa

Teca interna

o o o
o
Epitélio Oócito

A 8
FIG.18-4.A, Secção transversal de um folículo em maturação. (Copiado de Gilbert,A R (1979). Female
genital organs. In Form and Function in Birds. AS. King and J. McLelland (eds.). New York, Academic
Press.)
B. Diagrama da superfície do oócito e da camada granulosa.

Membranas da casca Calcificação da casca Oviposição


formadas
,/
Ovulação
Ovo entra

I
I

no oviduto "lnchamento"
Ovário
& O A~ de água ao ovo
Oviduto ç;:-] Ovoentra
VI na glândula
da casca
Albume
formado
J

o 2 4 li 8 10 12 14 18 18 20 22 24 28 hra

FIG. 18-5. Formação do ovo desde a ovulação até a oviposição. (De Gilbert, AR (1971). The female
reproductive effort. In Physiology and Biochemistry of the Domestic Fowl. D.J. Bell e D.M. Freeman
(eds.). New York, Academic Press).
396 Ciclos Reprodutivos

Glândula da casca

Sp

Sg

10 20 30 40 50
L I I I I I

G Ovo membranoso mm

FIG. 18-6. A. A superfície luminal do magno e do istmo. B, A superfície luminal da glândula da casca e
sua junção com o istmo. C, Superfície luminal da vagina. D, Vista com maior poder de resolução das
pregas mucosas do magno. E, Vista com maior poder de resolução das pregas mucos as da glândula da
casca. F, Glândulas "hospedeiras de espermatozóides" da junção entre a glândula da casca e a vagina. G,
Um ovo in si tu no istmo. Notar o único envoltório membranoso e a típica forma do ovo. C, Cloaca; E,
epitélio; I, istmo; L, luz do oviduto; M, magno; Sg, "glândulas hospedeiras de espermatozóides"; Sh,
glândula da casca; Sp, espermatozóides; V, vagina.

terizado por paredes mais estreitas e mais to o ovo albuminoso está entrando no istmo,
finas, e por dobras luminares menos volumo- uma membrana é depositada naquelas par-
sas do que aquelas encontradas no magno. tes em contato com o tecido glandular. Na
Pouco se sabe sobre os mecanismos envolvi- galinha, a forma típica do ovo é produzida
dos na formação das proteínas da membrana pelas membranas e não pela casca calcificada,
da casca ou de sua liberação e deposição so- que é depositada sobre uma forma já pronta.
bre o ovo. Observou-se, contudo, que enquan- Neste estágio, as membranas estão frouxa-
Aves Domésticas 397

mente aplicadas sobre o ovo, que apresenta desenvolvimento gasta cerca de 15 minutos
cerca de 50% de sua massa final. no infundíbulo. No magno sua velocidade
A glândula da casca, também referida como média é de cerca de 2 mm por minuto, levan-
o útero, é caracterizada por uma secção em do portanto cerca de 2 a 3 horas para atra-
forma de bolsa ligada ao istmo por um "colo" vessar esta região (Fig. 18-5). O ovo leva cer-
curto e por extensa muscularização (Fig. ca de 1 a 1,5 hora para atravessar o istmo.
18-2). O ovo permanece na glândula da casca Cerca de 20 horas de seu tempo total de per-
por aproximadamente 20 horas. Durante as manência no oviduto (cerca de 26 horas) são
primeiras 6 horas ou aproximadamente, um gastas no útero. A passagem através da vagi-
fluido aquoso produzido pela região do colo na leva poucos segundos. Embora o mecanis-
passa para dentro do ovo, resultando em um mo de transporte do ovo ao longo do oviduto
aumento de duas vezes na massa da clara do não seja totalmente compreendido, a
ovo. Contudo, essa "inchação" pode continuar distensão do oviduto induzida pelo ovo foi
durante o tempo em que o ovo permanece na demonstrada pela excitação da musculatura
glândula da casca. Depois disso, o principal lisa e pelo aumento do ritmo de transporte do
processo é a calcificação. Durante seu está- ovo em codornas.
gio na glândula da casca, a rotação do ovo ao Não se conhece precisamente como é ini-
redor do eixo polar leva ao acabamento da ciada a oviposição, porém ambos os mecanis-
formação das calazas, que se iniciou no mos hormonal e nervoso estão envolvidos
infundíbulo, e à estratificação do albume (ver (Shimada e Saito, 1989). A contração da mus-
Fig. 18-1). culatura da glândula da casca força o ovo for-
A calcificação da casca provavelmente co- mado através da vagina na oviposição. Isto
meça no istmo, onde pequenas projeções da pode estar sob controle nervoso, pois o estí-
membrana, os centros mamilares, são forma- mulo do sistema nervoso central pode afetá-
dos. No útero, o crescimento de cristais de cal- Ia, porém hormônios também estão envolvi-
cita continua em um padrão constante de dos.
mineralização (cerca de 300 mg de cálcio por A vasotocina arginina, que é liberada da
hora). O oviduto não armazena cálcio, e cerca hipófise posterior, e prostaglandinas, originá-
de 20% do cálcio sanguíneo são removidos à rias do folículo pós-ovulatório formado há 26
medida que ele passa através da glândula da horas, também contribuem para a contração
casca. As células específicas responsáveis pela e para expulsão do ovo da glândula da casca.
transferência de cálcio para a luz parecem ser Com a contração da musculatura uterina,
as células epiteliais superficiais e não as cé- ocorre um relaxamento do "esfíncter" útero-
lulas epiteliais da glândula tubular. A tarefa vaginal, possivelmente análogo à cérvice dos
final do útero é a formação da cutícula e a mamíferos. O ovo é então empurrado à fren-
pigmentação; esta última consiste de te para dentro da vagina, e a distensão geral
porfirinas depositadas logo antes da postura. das paredes vaginais provoca o reflexo da
A vagina parece ser relativamente curta, postura. Isto envolve modificações da respi-
primariamente porque sua metade cranial é ração e posição, e a contração dos músculos
firmemente dobrada e intimamente ligada por abdominais.
tecido conjuntivo (Fig. 18-2). A camada mus- Armazenamento Espermático, Trans-
cular é bem desenvolvida e as pregas lumi- porte e Fertilização. Diferentemente da
nares são altas e estreitas. A vagina serve de maioria dos mamíferos em que os
passagem para o ovo formado do útero para a espermatozóides gastam considerável quan-
cloaca na oviposição. Ela possui também uma tidade de tempo no trato masculino e relati-
importante função na seleção, transporte e vo tempo curto no trato feminino, os
armazenamento de espermatozóides. espermatozóides de galo e de peru provavel-
Transporte do Ovo e Oviposição. O mente ficam armazenados não mais do que 4
transporte do ovo ao longo do oviduto é simi- a 5 dias nos dutos deferentes. Depois da có-
lar em todas as aves domésticas. O ovo em pula ou inseminação artificial, contudo, os
398 Ciclos Reprodutiuos

espermatozóides permanecem por períodos de galo e de peru são de forma filiforme e pra-
prolongados de tempo (até 32 dias na gali- ticamente indistinguíveis em microscopia óti-
nha, 70 dias na perua), alojados dentro dos ca ou eletrônica de varredura.
túbulos de armazenamento de sêmen do Comparadas aos espermatozóides de ma-
oviduto localizados na junção útero-vaginal míferos, as cabeças dos espermatozóides de
(Fig. 18-6). O modo como os espermatozóides galo e de peru são morfologicamente simples
entram, sobrevivem e obtêm êxito nesses (Bakst, 1980; Lake, 1981). O acrossomo em
túbulos de armazenamento é desconhecido. forma de cone contém material homogêneo e
O transporte dos espermatozóides para a é envolvido por uma membrana acros-
junção útero-vaginal é rápido, menos de uma somática contínua. Não há segmento equato-
hora; todavia, somente espermatozóides viá- rial ou lâmina densa acrossomática tipica-
veis entram nos túbulos de armazenamento. mente observados em espermatozóides de
Embora de início se julgasse estar associada mamíferos. Separando o acrossomo do núcleo
com oviposição, evidências atuais sugerem há um espaço subacrossomático, ocupado pelo
que a liberação de espermatozóides armaze- perforatorium. O núcleo consiste de grânulos
nados seja contínua ou episódica (Bakst, de cromatina condensada e é envolvido por
1981). Estes espermatozóides sobem para o uma membrana nuclear dupla. A região do
oviduto por meio de contrações da muscula- colo, que junta a cabeça ao segmento da cau-
tura lisa e/ou atividade ciliar e acumulam-se da, é formada por um complexo centriolar. O
nas pregas da mucos a e glândulas tubulares axonema, componente motor da cauda, origi-
curtas no infundíbulo dista!. Por ocasião da na-se do centríolo dista!. Circundando o com-
ovulação, os espermatozóides são liberados plexo centriolar estão cerca de 30 mitocôn-
(provavelmente por distensão do infundíbulo) drias, que formam a peça intermediária. O
para fertilizar os óvulos. Os espermatozóides annulus, um denso anel, marca o limite distal
que fazem contato com a camada perivi- da peça intermediária e o limite proximal da
telínica sofrem uma reação do acrossomo, peça principal. A peça principal dos
presumivelmente pela ação da enzima seme- espermatozóides de galo e de peru não apre-
lhante à tripsina, a acrosina, hidrolisando a senta bainha fibrosa e densas fibras externas
camada perivitelínica. Os espermatozóides observadas nos espermatozóides de mamífe-
passam então através deste sítio, tomam con- ros. O axonema, entretanto, é envolvido por
tato e subsequentemente fusionam-se com o uma bainha amorfa.
oolema (Howarth, 1984). Composição do Plasma Seminal e dos
A polispermia é observada no ovo da gali- Espermatozóides.Acomposição química do
nh~, mesmo que apenas um pró-núcleo mas- plasma seminal apresenta entre 50 e 60 cons-
culino se una ao pró-núcleo feminino. Estu- tituintes (Lake, 1971, 1981). O plasma semi-
dos in vitro indicam que os espermatozóides nal é essencialmente uma solução aquosa de
de galo e presumivelmente de peru não re- sais, proteínas e alguns aminoácidos. Na au-
querem um período de "capacitação" antes de sência do "fluido transparente" (um
penetrarem no óvulo (Howarth, 1970). É fato transudato cloacal), o plasma seminal do gálo
desconhecido se os espermatozóides liberados difere consideravelmente daquele dos mamí-
dos túbulos de armazenamento do oviduto feros. Ele é pobre em cloretos e quase com-
requerem um período de capacitação antes de pletamente ausente de frutose, citrato,
penetrarem no óvulo in vivo. ergotioneína, inositol, fosforil colina e glicero-
fosforil colina. O principal ânion é o glutama-
O MACHO to.

Sêmen: Propriedades Físicas e Químicas Testículos e Sistema de Dutos

Morfologia dos Espermatozóides de No macho aviário, os testículos juntos pe-


Galo e de Peru. Espermatozóides ejaculados sam entre 14 e 60 g, dependendo da espécie.
Aves Domésticas 399

Eles estão suspensos na parede dorsal do cor- para os dutos dos epidídimos. Em conjunto
po, posteriormente ao pulmão e ventralmen- estes dutos são denominados de região
te ao rim. O suprimento sanguíneo é feito pela epididimária. O duto do epidídimo abre-se
artéria renal anterior e pela artéria testicu- dentro do duto deferente o qual é o primeiro
lar, não havendo plexo pampiniforme como local de armazenamento no macho. O duto
nos mamíferos (Lake, 1981). deferente é um tubo bastante enrolado, o qual
Em contraste com a disposição nos mamí- na sua extremidade distal, torna-se reto e
feros, os túbulos seminíferos não são agrupa- dilata-se levemente, passa através da parede
dos em lóbulos evidentes circundados por te- da cloaca e termina como extensão semelhan-
cido conjuntivo, mas sim ramificam-se e te a uma papila que se projeta dentro da
anastomosam-se livremente dentro da túni- cloaca (Fig.18-7). Não existem órgãos
ca albugínea. No galo adulto, extensões da reprodutivos acessórios tais como vesículas
túnica penetram entre os túbulos para agi- seminais, próstata, glândula de Cooper e glân-
rem como uma estrutura de suporte. O teci- dulas uretrais associados ao duto deferente.
do intersticial é desprezível, porém contém No galo que não tenha ejaculado, os
as células de Leydig secretoras de andrógenos. espermatozóides atravessam o duto deferen-
Os túbulos seminíferos de machos imaturos te em cerca de 84 horas, ao passo que em
são alinhados por uma camada simples de machos que já ejacularam, os espermato-
células de Sertoli e espermatogônias zóides requerem 24 a 48 horas.
pedunculadas, enquanto que os machos adul- O macho não tem um órgão penetrador (p.
tos possuem túbulos de formas irregulares ex., pênis), porém um falo que faz contato com
alinhados por um epitélio germinativo de a vagina em eversão durante a cópula. A ere-
múltiplas camadas. As espermatogônias dão ção do falo resulta do ingurgitamento com um
origem aos espermatócitos primários, fluido semelhante a linfa derivado do corpus
espermatócitos secundários e espermátidas. vascularis paracloacalis (corpo vascular),
Estas últimas progressivamente se transfor- uma extensão craniolateral do falo localiza-
mam em espermatozóides (espermiogênese). do na parede da cloaca.
O tempo necessário para a maturação dos Os espermatozóides testiculares recupera-
espermatozóides nos testículos depende da dos de galos são férteis porém apenas quan-
espécie aviária. Usualmente, as do cirurgicamente introduzidos dentro da
espermatogônias multiplicam-se ao redor da porção média anterior do oviduto
quinta semana após a incubação, e os (Howarth,1984). O sêmen removido da por-
espermatócitos primários aparecem ao redor ção proximal do duto deferente é altamente
da sexta semana. Ao redor da décima sema- fértil após inseminação vaginal (Bakst e Cecil,
na, estas células multiplicam-se rapidamen- 1981).
te, aparecem os espermatócitos secundários
e os túbulos aumentam de tamanho. As CONTROLE DA PRODUÇÃO DE
espermátidas logo depois aparecem e ocorre GAMETAS
um contínuo desenvolvimento nos túbulos até
a vigésima semana. Depois disto, os testícu- A Fêmea
los são capazes de produzir espermatozóides
em grandes quantidades. Início da Produção de Ovos
Os galos e os perus não possuem os carac- A galinha atinge a maturidade sexual com
terísticos epidídimos enrolados e subdividi- 18 a 20 semanas de idade. Ela começa a bo-
dos como a maioria dos mamíferos. Esperma- tar ovos nessa época atingindo produções má-
tozóides testiculares passam dos túbulos ximas de 90% dentro de várias semanas. A
seminíferos através da rete testis para os dutos galinha jovem bota muitos ovos em sequência
eferentes. A partir dos dutos eferentes os de dias antes de falhar um dia. Este padrão
espermatozóides atravessam uma série de de postura diária seguido da falha de um dia
dutos conectados e são então transportados é chamado de uma sequência ou ninhada. À
400 Ciclos Reprodutivos

Estigma

Parede
Camada
-1da
Folicular
Teca
Teca
Externa: ~ ~}m~l-
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Aromatase
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Interna
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amada Granulosa
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Celula
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FIG. 18-7, Estrutura anatômica do folículo pré-ovulatório. A fina parede folicular consiste da teca e
camadas granulosas. A camada da teca é dividida em teca externa e teca interna. A teca externa consiste
de células aromatases (células produtoras de estrógenos), fibroblastos e matriz extracelular. A teca in-
terna consiste primariamente de células intersticiais (locais de síntese de progestina e de andrógenos).
A camada granulosa, separada da camada da teca pela membrana basa!, é uma camada celular simples
e é o local primário da síntese de progesterona nos folículos pré-ovulatórios.

medida que a galinha envelhece o tamanho é constituída de uma camada única de célu-
da sequência encurta; p. ex., ela vai cair de las, enquanto que células intersticiais,
uma sequência de 10 a 20 ovos para uma ni- fibroblastos e células aromatases estão pre-
nhada de 4 a 5 ovos e o índice de produção vai sentes nas camadas da teca interna e exter-
diminuir para 60 a 70%.Esta diminuição gra- na. A camada granulosa produz primariamen-
dual do número de ovos de uma ninhada é o te progesterona com pequenas quantidades
resultado do aumento no tempo requerido de andrógenos. As células intersticiais da teca
para o maior folículo se tornar capacitado interna produzem alguma progesterona e
para ovular e de um intervalo maior entre principalmente andrógenos, enquanto que as
ovulações. Para uma revisão mais extensa células aromatases da teca externa são o lo-
deste tópico, veja Bahr e Palmer (1989). cal da produção de estrógenos (Nitta et aI;
1991). À medida que os folículos pré-
Anatomia e Função do Ovário ovulatórios crescem (F5-Fl), há um aumento
significativo na produção de progesterona
o ovário da galinha poedeira contém nu- pela camada granulosa e uma diminuição
merosos folículos pequenos (1 a 10 mm de diâ- gradual na secreção de andrógenos e
metro), 5 a 6 folículos maiores pré-ovulatórios estrógenos pela camada da teca (Bahr et al.,
alinhados hierarquicamente e vários folículos 1983; Etches e Duke, 1984). Estas modifica-
pós-ovulatórios. Os folículos pré-ovulatórios ções dramáticas na produção de esteróides são
são numerados de acordo com seu tamanho o resultado de uma troca em resposta às
sendo FI o maior folículo e o próximo a ovular; gonadotrofinas (isto é, a camada granulosa
F2, o segundo maior folículo deverá ovular no torna-se mais suscetível ao LH à medida que
dia seguinte ao FI e assim por diante. O o folículo FI aproxima-se da ovulação) e da
folículo consiste do oócito e de diversas cama- remoção de uma inibição da camada da teca
das de tecido, principalmente, a membrana (especificamente, andrógenos e esttógenos)
vitelínica e a zona radiata (as camadas mais sobre a produção de progesterona pela cama-
internas); a camada perivitelínica; a camada da granulosa (Johnson et aI., 1987).
granulosa; a camada da teca (interna e ex- A produção de esteróides pelo ovário é es-
terna); tecido conjuntivo frouxo e o epitélio sencial para a reprodução e a postura das
superficial (a camada mais externa) (veja galinhas (Fig.18-8). A progesterona induz a
Figs.18-3, 18-4 e 18-7). A camada granulosa onda pré-ovulatória de LH de uma maneira
Aves Domésticas 401

A 8 c 'ginina Vasotocina

Progesterona
IProstaglandinas

Glândula
da Casca

'l!."!\~~'\'"'-Istmo

CaCO.
Proteína da Gema

~m1
'Estrógeno
CRESCIMENTO SECREÇÃODACLARA FORMAÇAO
DACASCA
FOLICULAR E OVULAçÃO E OVIPOSIÇÃO
FIG. 18-8. Resumo do controle endócrino de, A, crescimento folicular e ovulação; B, secreção de albume;
C, formulação da casca e oviposição na galinha. Nota: A, B e C representam estágios separados do ciclo
ovulatório. (De Nitta, H., Osawa, Y. and Bahr, J.M. (1991). Multiple steroidogenic cell populations in the
thecallayer ofpreovulatory follicles ofthe chicken ovary. Endocrinology 129, 2033.)

retrógrada positiva e é necessária para a fun- Ciclo Ovulatório


ção do trato reprodutivo, especificamente, a
produção de albume. Os andrógenos são ne- A galinha, diferentemente dos mamíferos,
cessários para a expressão dos caracteres se- possui apenas uma fase folicular. Em virtude
xuais secundários e são precursores da pro- da galinha não gestar, não há necessidade de
dução de estrógenos. Os estrógenos, um corpo lúteo. Por este motivo o ciclode cres-
produzidos primariamente pelos pequenos cimento folicular e as modificaçõeshormonais
folículos (1 a 10 mm de diâmetro) induzem a que culminam na ovulação é chamado de ci-
síntese de proteínas da gema pelo fígado, clo ovulatório. Aproximadamente a cada 25 a
interagem (sinergismo) com a progesterona 27 horas, é botado um ovo (Fig.18-5). Duran-
causando a secreção de albume, mobilizam o te este ciclo há um pequeno aumento no LH
cálcio dos ossos medulares e promovem a se- sanguíneo ao escurecer ("crepuscular" signi-
creção de cálcio pela glândula da casca para ficando anoitecer) e uma onda pré-ovulatória
formar a casca do ovo. 4 a 6 horas antes da ovulação (Johnson e van
Outros hormônios, além dos esteróides, são Tienhoven, 1980a, 1980b; Wilson e Sharp,
necessários para a produção de ovos. As 1973). Contrastando com as modificações de
catecolaminas, especificamente a norepine- LH, os níveis sanguíneos de FSH são relati-
frina, podem ter um papel na ovulação. A vamente constantes durante o ciclo, com ex-
arginina vasotocina de origem hipofisária ceção de níveis mais baixos 9 a 3 horas antes
posterior e as prostaglandinas produzidas da ovulação.
pelos maiores folículos pré e pós-ovulatórios A galinha bota um ovo em um horário mais
provocam contrações da glândula da casca e tardio a cada dia até que o ovo seja posto, no
a oviposição do ovo. fim da tarde (Fig.18-9). Este ovo será o últi-
402 Ciclos Reprodutivos

mo botado na sequência. Em contraste aos beração do LH hipofisário. A muda é precedi-


ovos prévios botados em sequência durante a da por uma diminuição gradual da produção
qual a oviposição é seguida por ovulação do de ovos. Fala-se em hipótese que o desenvol-
próximo ovo 10 a 30 minutos mais tarde, a vimento de uma insensibilidade gradual do
ovulação não ocorre. Em consequência, no hipotálamo aos estímulos da luz diária e à
próximo dia nenhum ovo é botado. Este dia é ação retrógrada positiva da progesterona so-
chamado de "dia de pausa". A galinha vai re- bre a liberação de LH pode provocar esta di-
tomar seu relógio endócrino e irá botar o pri- minuição do número de ovulações e, em últi-
meiro ovo da próxima sequência logo no dia ma análise, da produção de óvulos (Williams
seguinte. Assim, a galinha começa uma nova e Sharp, 1978). A muda é caracterizada pelo
sequência pondo um ovo a cada dia em horá- desaparecimento das ovulações e da postura,
rios mais tardios. pela regressão do trato reprodutivo, diminui-
ção dos níveis sanguíneos de LH e proges-
Muda terona e de um aumento de tiroxina. Geral-
mente, a muda dura de 4 a 6 semanas após o
Uma vez por ano a galinha sofre a muda, que a galinha volta a botar. A produção e a
ou perde as penas quando expostas a luz na- qualidade dos ovos serão melhoradas q1J.ando
tural do dia. A muda pode ser artificialmente comparadas ao desempenho de antt18 da
induzi da por estresse ou pelo bloqueio da li- muda. Nas unidades de produção comercial

1900

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Onda de LH
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0930 do Ovo A 1100
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Dia 2Itr:~r~
FIG. 18-9. Descrição em diagrama dos eventos durante o ciclo ovulatório de uma galinha botando uma
sequência de quatro ovos. A área sombreada indica o período sem luz. C1 (primeiro ovo botado), C2
(segundo ovo botado), Ct-l (terceiro ovo botado) e Ct (ovo terminal) referem-se à posição do ovo na sequência.
As concentrações de LH no sangue são ligeiramente elevadas por ocasião da ausência de luz (crepuscu-
lar) seguidas pela onda de LH. O folículo FI ovula 6 horas mais tarde e é oviposto aproximadamente 26,5
horas após. A onda de LH ocorre mais tarde e a cada noite até que eventualmente não mais ocorra onda
de LH. Consequentemente, a ovulação e a oviposição não ocorrem. O dia em que não há postura de ovo é
chamado de dia de pausa. (De Nitta, H., Osawa, Y. and Bahr, J.M. (1991). MuItiple steroidogenic cell
populations in'the thecallayer ofpreovulatory follicles ofthe chicken ovary. Endocrinology 129,2033.)
Aves Domésticas 403

as galinhas sofrem a muda quando a produ- patibilidade física, baixa libido e problemas
ção de ovos diminui para 50 a 60%. A muda de pernas e de pés. As desvantagens da IA
também pode ser efetiva e humanamente são devido a questões econômicas e incluem:
induzida administrando às galinhas um o associado alto custo do trabalho; a necessi-
hormônio liberador de gonadotrofinas dade de usar gaiolas em oposição às
(GnRH), um agonista que bloqueia a libera- reprodutoras criadas no chão; a necessidade
ção de LH causando regressão do trato de trabalho habilidoso; e a falta de documen-
reprodutivo (Dickerman e Bahr, 1989). Uma tação ilustrando os lucros potenciais deriva-
revisão mais completa da endocrinologia dos de um programa de IA.
reprodutiva é apresentada por Bahr e
Johnson (1991). COBERTURA NATURAL

o Macho Nos pássaros a colocação do sêmen dentro


da fêmea está associada com um complexo
Geralmente acredita-se que o FSH contro- comportamento de cortejo. Existe um ritmo
la o crescimento e diferenciação dos túbulos diurno da frequência de cobertura nos ma-
seminíferos e que o LH afeta as células inters- chos que está correlacionado com a produção
ticiais de Leydig, as quais produzem os de sêmen. Todavia, a libido no macho não está
hormônios esteróides. Níveis aumentados de necessariamente correlacionada com alta fer-
testosterona e de androstenediona acompa- tilidade, e existe uma tendência para os que
nham os últimos estágios da espermatogênese praticam cópulas frequentes de produzir
e o início da produção de sêmen em galos muitas ejaculações com aspermia. Em adição,
(Culbert et aI., 1977; Sharp et aI., 1977). O o macho dominante por causa do seu tama-
aumento da testosterona plasmática prosse- nho pode não ser o mais ativo sexualmente,
gue após o início da produção de sêmen (ao porém ele pode impedir outros machos de pra-
redor de 20 semanas) e finalmente estabiliza ticar coberturas com sucesso.
após 35 a 36 semanas (Culbert et aI., 1977). A libido na fêmea é afetada pelo seu am-
A sobrevivência dos espermatozóides dos biente de criação (se estiveram ou não ma-
dutos deferentes não é dependente de chos presentes) e pela sua posição social. A
andrógenos, todavia o falo e os corpos receptividade (agachamento) varia de galinha
vasculares, estruturas associadas com a for- para galinha, e isto afeta a chance de uma
mação do fluido transparente, parecem ser cobertura com sucesso porque a fêmea pro-
dependentes de andrógenos. Pouco se sabe vavelmente determina ou não avanços se-
sobre o papel de hormônios na manutenção xuais do macho que levam à cópula.
dos dutos deferentes.
INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL
PRÁTICAS DE REPRODUÇÃO E
APLICAÇÃO DE INSEMINAÇÃO A inseminação artificial é basicamente um
ARTIFICIAL procedimento de duas fases. Primeiro, o sê-
men é colhido do macho; e segundo, o sêmen
As vantagens da inseminação artificial (IA) é depositado dentro do trato reprodutivo da
incluem: redução do número relativo de ma- fêmea. O preparo do sêmen para conservação
chos para fêmeas; aceleramento do progresso por curto tempo (estado líquido; 24 horas ou
genético pela permissão de maiores pressões menos) ou por períodos longos (congelado;
de seleção; redução da disseminação de indefinidamente) é um reflexo das necessida-
patógenos reprodutivos (particularmente os des e da preferência do criador. Embora al-
micoplasmas); contornar períodos de produ- guns criadores de perus possam inseminar
ção baixa de sêmen devido a doenças ou com sêmen puro (não-diluído), a grande maio-
estresse ambiental; contornar problemas as- ria usa sêmen diluído. Um dilui dor é uma
sociados com cobertura natural, p. ex., incom- solução tamponada contendo vários substra-
404 Ciclos Reprodutiuos

tos com a finalidade de diluir o sêmen e de por números degenerativos dentro das espé-
garantir a viabilidade dos espermatozóides. cies.
Procurar referência em Bakst (1990) para Colheita de Sêmen, Avaliação e
explicaçõesdetalhadas de diluentes do sêmen Inseminação. A técnica da massagem abdo-
e técnicas de conservação (armazenamento minal para colheita de sêmen envolve suave
líquido e criopreservação). massagem do abdômen enquanto que a mão
Em consequência da conservação satis- oposta simultaneamente faz movimentos rít-
fatória por curto período do sêmen de peru, micos na parte baixa do posterior e penas da
foram estabelecidos centralizados "postos em cauda do reprodutor contido. Quando a
fazendas" por muitos criadores de perus. Com tumescência fálica é atingida, as mãos do téc-
facilidades centralizadas, os machos são sub- nico são colocadas ao redor da cloaca e o pole-
metidos a protocolos de manejo com a finali- gar e dedo indicador da mão superior pressio-
dade de otimizar a produção de sêmen e di- nam levemente a cloaca para baixo, enquanto
minuir os custos de produção. Benefícios a mão superior exerce suave pressão para
econômicos incluem lucros na alimentação cima. Para minimizar a disseminação de
porque os reprodutores requerem menos pro- agentes patogênicos, deve-se tomar cuidado
teínas (10 vs. 17%) e lucros em energia por- para não tocar as estruturas da cloaca. O sê-
que os machos exigem menor intensidade de men, que surge no falo após cada pressão da
luz do que as peruas (20 lux ou mais vs. 50 cloaca, é recolhido em um tubo seco e limpo.
lux ou mais) para permanecer na produção Geralmente, podem-se realizar duas colhei-
de sêmen. O número total de machos pode ser tas semanais sem afetar o volume de sêmen
reduzido com 1 macho para 20 fêmeas, o que e a concentração espermática.
diminui os custos de produção e permite tam- A avaliação do sêmen começa por ocasião
bém maior pressão de seleção para melhorar da colheita. Sêmen de boa qualidade deve ser
o desempenho do mercado aviário. Finalmen- viscoso (o sêmen de galo é menos viscoso que
te, os custos do trabalho são mais baixos por- o do peru) e branco-cremoso. A utilização de
que a mesma equipe frequentemente colhe o sêmen descorado, aquoso ou contaminado por
sêmen de manhã e insemina mais tarde no material fecal, uratos ou sangue, leva a dimi-
dia. nuição da fertilidade, particularmente se o
A conservação por longos períodos do sê- sêmen for submetido à conservação por perío-
men a -196°C (nitrogênio líquido) é conse- dos curtos ou longos. Se possível, uma ava-
guida pelo congelamento em diluidor conten- liação crítica deve ser feita em uma base in-
do um crioprotetor adequado. A fertilidade dividual, particularmente quando se
resultante de galinhas inseminadas com selecionam reprodutores. Os parâmetros as-
espermatozóides descongelados é ao redor de sinalados anteriormente - assim comoo volu-
60 a' 70%, enquanto que nas peruas é geral- me seminal, concentração espermática,
mente menos de 50%. Embora exista um po- motilidade, morfologia e porcentagem de
tencial para a distribuição mundial de mate- espermatozóides vivos - devem todos ser usa-
rial genético, a aplicação comercial da dos para avaliar uma amostra de sêmen.
tecnologia de sêmen congelado tem sido limi- A inseminação envolve a colocação de um
tada primariamente devido ao congelamento volume predeterminado (geralmente menos
de sêmen de linhagens genéticas selecionadas de 0,1 ml) de sêmen com um mínimo de 100 a
de aves para subsequente reprodução com 200 milhões de espermatozóides viáveis na
"pedigrees". Todavia, as técnicas de criopre- vagina da galinha. O sêmen é colocado den-
servação estão sendo usadas para preservar tro de uma palheta fina (cerca de 5 mm de
sêmen de aves não-domesticadas e em risco diâmetro externo), seja manualmente ou com
de extinção. A manutenção de um "pool" ge- um dispositivo mecânico, sendo a palheta
nético diverso pelo uso de crioprotetores de montada em uma seringa dosificadora ou de
sêmen contribuiria para atenuar problemas borracha. O orifício vaginal é exteriorizado
associados com consanguinidade provocados para a inseminação com um procedimento
Aves Domésticas 405

conhecido por "breaking" ou "exteriorização". número de ovosférteis determinados pelo foco


A exteriorização implica na aplicação de pres- de luz. Fatores que diminuem a eclodibilidade
são manual ao redor da região da cloaca da incluem o manejo da fazenda (manipulação
galinha. Da mesma maneira que para a co- inadequada, manuseio, transporte, armaze-
lheita de sêmen, as mãos não devem tocar a namento de ovos antes da incubação e mane-
cloaca. Quando a vagina estiver exteriorizada, jo impróprio da incubadora), doenças trans-
a palheta inseminadora é rápida e suavemen- mitidas dentro do ovo, genética, estado
te inserida até sentir-se resistência (cerca de nutricional e idade da galinha. O pico da mor-
4 a 6 cm). A pressão manual é liberada ao talidade embrionária na galinha e na perua
redor da cloaca, e o inseminador ejeta o sê- ocorre durante os primeiros 5 dias e os últi-
men à medida que a vagina retorna à sua mos 3 dias (dias 18 a 21 na galinha e 24 a 27
posição normal. na perua) de incubação. A Tabela 18-2 mos-
Fertilidade e Eclodibilidade. Todos os tra os tratos reprodutivos de algumas aves
óvulos fertilizados pelos espermatozóides não de importância doméstica.
se desenvolvem durante a incubação. Os ovos
são examinados através de um focode luz (um Produção de Sêmen
intenso feixe de luz é transmitido através do
ovo que ilumina o desenvolvimento vascular Muitos fatores influenciam a produção de
do embrião) dentro dos primeiros 5 a 10 dias sêmen pelos reprodutores. Existem grandes
de incubação para estabelecer a fertilidade diferenças no início da produção de sêmen e
pela luz. Para determinar a fertilidade ver- na sua qualidade entre as espécies, linhagens
dadeira, os ovos que não mostrarem sinais de dentro das espécies e individualmente den-
desenvolvimento embrionário pela luz são tro das linhagens. Geralmente, os galos e pe-
abertos e seus blastodiscos são examinados rus ejaculam em média ao redor de 0,25 ml
para evidenciar o desenvolvimento embrioná- de volume com cerca de 5 bilhões e 9 bilhões
rio precoce. Estes procedimentos distinguem de espermatozóides por ml, respectivamen-
entre problemas de fertilidade e eclodibi- te. O melhoramento genético com tais
lidade. parâmetros importantes como o volume de
A eclodibilidade é expressada como o nú- sêmen e a concentração espermática parecem
mero de descendentes eclodidos dividido pelo ser praticáveis com o peru mas menos prova-

TABELA 18-2. Desempenho Reprodutivo Comparativo* de Algumas Aves de


Importância Comercial
Idade de Número de Ovos
Período de Maturidade Botados no Eclodibilidade
Espécies Incubação Sexual Peso do Primeiro Ano de Fertilidade dos Ovos
(Dias) (Meses) Ovo (g) Postura (%) Férteis (%)

Galinha (Gallus gallus)


Poedeiras 21 5-6 58 300 97 90
Corte 21 6 65 180 92 90
Perua (Meleagris gallopavo) 28 7-8 85 90 90 84
Pata (Anas platyrhynchos)
Poedeira 27-28 6-7 60 300 95 75-80
Tipo carne 28 6-7 65
Gansa (Anser anser)
Tipo pequeno 30 9-10 135 30-70 70 70
Tipo grande 33 10-12 215
Faisão (Phasianus colchicus) 24-26 10-12 30 50-75 95 85
Galinha d'Angola (Numida meleagris) 27-28 10-12 40 80-200 90 95
Codorna (Coturnix coturnix) 15-16 1,5-2 10 300 90 75-85
* São fornecidas apenas figuras gerais pois os valores são extremamente afetados pela raça, local e nutrição.
Particularmente os valores apresentados nas três últimas colunas dependem muito das práticas de manejo, e prova-
velmente a fertilidade e a eclodibilidade são as mesmas para todas as espécies.
406 Ciclos Reprodutiuos

velmente com o galo (Sexton, 1983). Infeliz- of spermatogenesis in lhe cockereL J. Reprod.
mente, usando tratos de qualidade de sêmen FertiL 51, 153.
como os precedentes para predizer a fertili- Dickerman, RW. and Bahr,lM. (1989). Molt induced
by gonadotropin-releasing hormone agonist as
dade do sêmen produziram observações con- a model for studying endocrine mechanisms of
traditórias (Wilson et aI., 1979). molting in laying bens. Poult. Sci. 868, 1402.
Um detalhe importante para um progra- Etches, RJ. and Duke, C.E. (1984). Progesterone, an-
ma de IA satisfatório é a seleção de repro- drostenedione and oestradiol content of theca
and granulosa tis sue of lhe falir largest ovarian
dutores machos. Com o peru, programas de
foHicles during lhe ovulatory cycle of lhe hen
luz e alimentação deverão começar suficien- (Gallus domesticus). J. EndocrinoL 103, 71.
temente precoces para garantir a total expres- Gilbert, A.B. (1971a). The egg: its physical and chemi-
são de seu potencial de crescimento para a cal aspects. In Physiology and Biochemistry of
idade de mercado (cerca de 18 semanas). Após lhe Domestic FowL D.J. BeH and B.M. Freeman
(eds.). New York, Academic Press.
a seleção para tamanho, conformação, apti-
Gilbert, A.B. (1971b). The ovary. In Physiology and
dão das pernas e outros importantes traços Biochemistry of lhe Domestic FowL D.J. Bell
econômicos, os machos deverão ser mantidos and B.M. Freeman (eds.). New York, Academic
com uma dieta restrita, resultando em um Press.
peso corpóreo com 30% a menos do que os Gilbert, A.B. (1979). Female genital organs. In Form
machos intensamente alimentados, às 30 se- and Function in Birds. A.S. King and l McLel-
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manas de idade. Nesta época, 10 a 12 ma-
Griffin, H.D., Perry, M.M. and Gilbert, A.B. (1984).
chos para 100 peruas podem ser selecionados Yolk formation. In Physiology and Biochemistry
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tions in stored and plasma eoneentrations of an- 95.
V. técnicas para
melhorar a
eficiência
reprodutiva
19
AVALIAÇÃO DE SÊMEN
E.S.E. HAFEZ

o espermatozóide é singular em sua for- apenas quando houver total ausência de


ma, função e densidade. A célula espermática espermatozóides móveis e o sistema
madura é uma célula terminal, produto final reprodutivo tiver sido examinado cuidadosa-
de um complexo processo de desenvolvimen- mente em relação a doenças, é que se pode
to, e não pode sofrer nova divisão celular ou considerar o touro estéril.
diferenciação. O método ideal para avaliar a A avaliação do sêmen deve ser rápida e efi-
fertilidade do reprodutor, além de sua habili- ciente de modo que as amostras cuidadosa-
dade de produzir a gestação, é pelo exame de mente coleta das possam ser processadas pre-
seu sêmen. servando a qualidade inicial e a fertilidade.
A avaliação do ejaculado é uma parte im- Nenhum teste único foi desenvolvido para
portante do exame físico de um macho infértil. predizer acuradamente a fertilidade de um
Uma análise de sêmen é fácil de ser executa- ejaculado individualmente, mas quando vá-
da, e importantes conclusões podem ser obti- rios testes são combinados cuidadosamente,
das a partir dos resultados (Tabela 19-1). Os os ejaculados podem ser selecionados para uti-
padrões para cada espécie podem ser estabe- lização com potencial de apresentar a mais
lecidos, e qualquer desvio destes "padrões alta fertilidade. Amostras seminais são ava-
normais" pode ser reconhecido e correla- liadas tendo em vista várias características
cionado com fertilidade. Determinados termos físicas incluindo (Figs.19-1 a 19-3; Tabela 19-
são utilizados para expressar os desvios das 3) cor; odor (a amostra é examinada para qual-
características seminais (Tabela 19-2). quer odor não usual); viscosidade (a amostra
é pipetada e assoprada duas vezes ao lado do
AVALIAÇÃO E FERTILIDADE tubo de teste e se ela não escorrer é classifi-
cada como viscosa) e pH (papel de pH é utili-
A avaliação do sêmen em relação à fertili- zado).
dade é conduzida com mais frequência em Uma montagem úmida da amostra é colo-
touros do que em outras espécies. Geralmen- cada sobre uma lâmina de vidro limpa, ob-
te, os padrões mínimos para uma classifica- servando-se o seguinte: células brancas e ver-
ção de um espécime "provavelmente fértil" de melhas do sangue, células espermatogênicas,
sêmen de touro são os seguintes: acima de 500 cristais, restos celulares e aglutinação (Fig.
milhões de espermatozóides por mililitro, 19-3). Já foi estabelecido um esquema padrão
mais de 50% de espermatozóides móveis com de análise de sêmen (Tabela 19-2).
motilidade retilínea e mais de 80% de
espermatozóides com morfologia normal. Fa- Aparência e Volume
lhando algum destes critérios, particularmen-
te em amostras de três ou mais ejaculados, o O sêmen deve possuir uma aparência opa-
touro é suspeito de infertilidade. Todavia, ca e uniforme, indicativo de alta concentra-
411
412 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

TABELA 19-1. Avaliação do Ejaculado


Parâmetro Dados da Colheita

Colheita do sêmen Data e hora da colheita Método da colheita


Lugar da colheita Frequência dos ejaculados nas últimas 4
semanas

Avaliação macroscópica Volume (rnL) Cor Odor


Viscosidade pH Contagem de espermatozóides por mililitro
Restos celulares Cristais Centrifugação se o resultado da contagem
espermática for baixo

Duração (% motilidade) 4,6 horas após a colheita 24 horas após a colheita

Avaliação (% espermática) Movimento progressivo muito Movimento progressivo lento


rápido
Motilidade sem progressão Imóveis
Padrões 1. Motilidade progressiva 7. Espermatozóides aglutinados
2. Circular vibratório 8. Movimento patológico (circular, oscilatório,
3. Rápido e brusco trêmulo)
4. Rotatório 9. Movimentos ondulantes
5. Cabeça assimétrica ou 10. Movimento de chicotada dentro de um
flagelada pequeno raio
6. Espermatozóide com gota
citoplasmática
Cálculos CellSoft-CASA Concentração espermática Porcentagem de células móveis
Concentração de células Velocidade verdadeira de amostras
móveis espermáticas
Movimento retilíneo e Velocidade verdadeira de células com e sem
. progressivo verdadeiro
Indice de motilidade
movimento progressivo retilíneo
Porcentagem de tipos morfológicos
Histograma da distribuição da Histograma da distribuição de movimentos
velocidade progressivos
Objetivos quantitativos na Impresso dos resultados completos da análise
avaliação de agente e do sêmen
técnicas que aumentam ou Dados em arquivos sobre os pacientes e
inibem a motilidade respectivos médicos
Programas para banco de sêmen Armazenamento e Sistema de armazenamento de dados com
comunicações sobre as listagem para os médicos e resutados de
características do doador e teste dos doadores
histórico
Inventário dos espécimes e
registro atualizado do
consumo e localização
específica de cada palheta
no botijão

Programa de contador celular A contagem computadorizada Porcentagens de avanço automático sobre


computadorizado dos tipos morfológicos cálculos de tipos morfológicos
padrão e constituintes Sons tônicos para cada 100 células contadas
celulares não-espermáticos Alarmes distintos para sinais perdidos nas
tornam obsoleto o contador chaves do contador
de batimentos Extinção para eliminar batidas erradas
Comunicações impressas sobre
dados morfológicos

TABELA 19-2. Nomenclatura de Análise de Sêmen


Parâmetro Critério de Avaliação Nomenclatura
Volume Nenhum Aspermia
Reduzido Hipospermia
Aumentado Hiperspermia
Concentração espermática Zero Azoospermia
Reduzida Oligozoospermia
Normal Normozoospermia
Aumentada Polizoospermia
Motilidade espermática Diminuida Atenozoospermia
Viabilidade espermática 'lbdos mortos N ecrozoospermia
Espermatozóides anormais Alta porcentagem Teratozoospermia
Avaliação de Sêmen 413

nos não são prejudiciais, porém se acompa-


nhados por baixa concentração espermática,
o número de espermatozóides disponíveis é
limitado.

Concentração Espermática

Uma determinação acurada do número de


espermatozóides por mililitro de sêmen é ex-
tremamente importante porque esta é uma
característica extremamente variável. Quan-
do combinada com o volume do ejaculado, esta
quantidade de espermatozóides determina
quantas fêmeas podem ser inseminadas, cada
uma com o número ótimo de células esper-
máticas. A contagem espermática é feita com
hemocitômetros.

Contagem Espermática

1. Uma diluição de 20 vezes é feita mistu-


rando o sêmen com uma solução espermicida
em uma das seguintes maneiras: (a) uma gota
de sêmen é adicionada a 19 gotas de
espermicida, ou (b) 0,1 ml de sêmen é adicio-
FIG. 19-1. Interação celular entre granulócitos,
nado a 1,9 ml de espermicida, ou (c) utilizan-
monócitos, linfócitos, e espermatozóides. Estas
interações causam aglutinação espermática, do uma pipeta para células sanguíneas bran-
suspensão da motilidade, fagocitose, interação cas, o sêmen é aspirado até a marca 0,5 na
antígeno-anticorpo, e reações enzimáticas. (Corte- metade acima da coluna e subsequentemente
sia do Professor A. Riedel). a solução espermicida até a marca 11 na ex-
tremidade da câmara. Soluções comuns de
ção espermática. Amostras translúcidas pos- espermicida incluem cloreto de trifeniltetrazol
suem poucos espermatozóides. A amostra a 5% em solução fisiológica, 5% de clorazene
deve estar livre de pêlos, sujeiras e outros (cloramina T) em solução fisiológica, 5 g de
contaminantes. Sêmen de aparência coagu- NaHCO3 e 1 ml de 35% de formaldeído con-
lada, contendo grumos de material (a não ser centrado completado a 100 ml de solução fisio-
o gel no sêmen de suíno e de equino) não deve lógica.
ser utilizado; isto indica infecção do sistema 2. As preparações são intensamente mis-
reprodutivo. Alguns touros produzem consis- turadas em agitadores padronizados de
tentemente sêmen amarelo, devido à presen- pipetas, então uma gota é adicionada em
ça do inofensivopigmento riboflavina. Isto não ambos os lados de um hemocitômetro padrão
deve ser confundido comurina, que possui seu de células sanguíneas.
próprio odor distinto. 3. Aguarda-se a precipitação dos
Geralmente, animais jovens e aqueles de espermatozóides colocando o hemocitômetro
menor tamanho dentro de uma espécie pro- em uma câmara úmida por 1 hora. Pode-se
duzem menores valores de sêmen. Frequen- construir uma câmara úmida colocando uma
tes ejaculações resultam em menor volume esponja umedecida dentro de uma caixa de
médio, e quando dois ejaculados são obtidos plástico razoavelmente impermeável. Aincu-
consecutivamente, o segundo usualmente bação por 1 hora não é essencial porém au-
apresenta o menor volume. Volumes peque- menta a acurácia da contagem porque todos
414 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiua

FIG. 19-2. DUra-estrutura espermática após a técnica de congelamento. Incidência geral da região pós-
acrossomo. Ruptura da membrana plasmática por fratura mostrando numerosas partículas (P).
Diferenciação fundamental da lâmina pós-acrossõmica está visível; recorte anterior (8), estriação (lII) e
fileiras paralelas posteriores de partículas orientadas em várias direções (R). Caudalmente a lâmina
pós-acrossõmica está limitada pelo anel posterior (PR) (37.000x). (Fotografia cedida pelo Dr. J. Flechon.)

os espermatozóides estarão mais precipitados malmente, são contados todos os esperma-


do que flutuantes. tozóides no quadrado maior E ou apenas aque-
4. Os espermatozóides nos quadrados apro- les nos quadrados pequenos de E1 a E5. Ao
priados do hemocitômetro são contados em se contar, deve-se incluir todos os esperma-
microscopia ótica a X100 ou X400, utilizando tozóides dentro dos quadrados designados e
um contador manual para conveniência. So- aqueles que se posicionam sobre as linhas
mente são contados os quadrados do meio e superior e do lado direito.
externos, e apenas aqueles no próprio qua- O quadrado maior E possui 1 mm de com-
drado e na parte superior e lado direito (Fig. primento por 1 mm de largura, e a espessura
19-4). Ambos os lados do hemocitômetro são do fluido entre a lamínula e o hemocitômetro
contados, computando-se a média deles. é de 0,1 mm. Então, o volume total represen-
5. A concentração espermática refere-se ao tado pelo quadrado maior E é 0,1 mm3 ou 104
número de espermatozóides por mililitro de ml. O fator de multiplicação do quadrado
sêmen. A contagem espermática é o número maior E é por isso 104 ou 10.000. Se todos os
total de espermatozóides no ejaculado. Ambas espermatozóides no quadrado maior E são
são importantes e devem ser calculadas. O contados e o número é multiplicado pelo fa-
hemocitômetro possui uma grade contendo tor de multiplicação (10.000), obtêm-se o nú-
cinco quadrados maiores: A, B, C, D e E. O mero de espermatozóides por mililitro de so-
quadrado central "E" é subdividido em 25 lução aplicado ao hemocitômetro. Quando este
quadrados menores. Os quatro quadrados é multiplicado com o fator de diluição
pequenos nos ângulos são rotulados como E1, espermática, normalmente 20, obtêm-se a
E2, E3 e E4, e o quadrado central é E5. Nor- concentração de espermatozóides na amostra
Avaliação de Sêmen 415

original de sêmen. A partir desta informação,


o número total de espermatozóides no sêmen
(contagem espermática) é calculado multipli-
cando-se a concentração espermática pelo
volume do ejaculado.
Se foram contados apenas os esperma-
tozóides dos quadrados menores (El, E2, E3,
E4 e E5), o fator de multiplicação é cinco ve-
A zes maior do que se o quadrado maior inteiro
E fosse contado, sendo portanto 50.000. Se
todos os quadrados maiores forem contados,
como nos casos de concentrações muito bai-
xas, o fator de multiplicação é cinco vezes
menor, i. é, 2.000.
Quando o número de espermatozóides for
maior de 200 por campo, deve-se fazer uma
diluição de 1:100. Esta é feita tomando-se 0,1
ml de sêmen, misturando-o com 9,9 ml de
espermicida em uma pipeta graduada. Alguns
clínicos usam rotineiramente uma diluição de
B 1:100 a 1:200 achando que dá resultados mais
acurados. O fator de diluição para sêmen não
diluído é 1; para sêmen diluído 100 vezes, é
100; e para sêmen diluído 200 vezes, é 200.
A câmara contadora de Makler está sendo
utilizada extensivamente em vários centros
FIG. 19-3. A e B mostram diferentes padrões e de pesquisa e de fertilização in uitro (FIV)
intensidades de aglutinação espermática. (Fig. 19-5).

TABELA 19-3. Padrão de Motilidade de Espermatozóides de Machos Fertéis e Machos


Suspeitos de Infertilidade
Padiilo ele Motilidade Cauda do Espermatozóide Cabeça do Movimentos Espermáticos e
eoMorf(ilogia Espermatozóide Progressão
Cifcu!af vibratório Lento ou rápido tremor de um Imobilidade ou vibração Motilidade sem progressão;
lado para outro; vibrações no mesmo lugar perpendicular, oblíqua ou
de vários tipos e frequência horário horizontal ou
de formas curvas e movimento anti-horário
enroladas; imobilidade
Movimento Brusco Vibração com alta velocidade Irregular; induzido; sem Mínimo e errático;
rotação perambulante
Rot;iÇão Ondulações de pequena Todo o espermatozóide Rápido progresso para a
amplitude passam abaixo sofre rotação ao redor frente em linha reta
da cauda do seu eixo; efeito
"lampejar" periódico
Cabeça assimétrica e! Amplitude da onda da cauda é Irregular; propulsão; Órbitas circulares se a rotação
Ou flagelo as simétrica de ambos os usualmente sem estiver ausente
lados rotação
Espermatozóides com Amplitudes das ondas da Irregular, balanços Perpendicular, oblíquo,
gota citoplasmática cauda desiguais; vibrações frequentes; raramente raramente progressivo
rápidas em rotação
Aglutinação Diminuindo,movimento Devagar propulsão Depende do tipo de
espermática vibratório; vagaroso, irregular; balanços aglutinação
movimento de vibração
416 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

A
~ ~ p

L ~ .11
d ondensado

.
e B
FIG. 19-4. a, Lâmina de hemocitômetro utilizada FIG. 19-5. (Acima) Câmara após a cobertura ser
para estimar a concentração de espermatozóides colocada na base inferior. (Abaixo) Secção trans-
em amostra de sêmen e por isso seu potencial de versal da câmara de contagem. C = cobertura de
dil].lição para utilização em inseminação artificial. vidro; L = parte inferior; P = pino elevado de quart-
b, c, d, Cada quadrado possui área conhecida e a zo. A área escura indica a porção metálica da câ-
espessura entre a lamínula e a lâmina também é mara. A. Antes uma gota do espécime aplicado na
conhecida, possibilitando o cálculo das células por porção inferior é coberta. B. Após colocação da co-
unidade de volume (e). bertura de vidro. A gota foi espalhada no espaço
de 10 Jlm da câmara.

MORFOLOGIA ESPERMÁTICA associadas com infertilidade. Grandes núme-


ros de espermatozóides anormais podem ser
o sêmen da maioria dos machos apresen- detectados em amostras na estimativa da
ta alguns espermatozóides anormalmente for- porcentagem de células móveis. Um filme do
mados. Usualmente, isto não está associado sêmen é feito cuidadosamente (Fig. 19-6).
com níveis de fertilidade diminuída até que a Uma estimativa mais precisa é feita com con-
proporção de espermatozóides anormais ex- traste de fase e particularmente a ótica de
ceda cerca de 20%; mesmo que, embora, cer- interferência de fase de Normarski, salien-
tos tipos de anormalidades possam não estar tando os tipos de espermatozóides anormais
Avaliação de Sêmen 417

FIG. 19-6. Preparo de um esfregaço de sêmen. A.


Uma gota de sêmen é colocada sobre uma lâmina.
B, C. Outra lâmina é utilizada para preparar o
esfregaço sem dano à amostra. Estimativa da
motilidade espermática quando colocada contra o
muco cervical bovino.

e sua incidência pode ser avaliada com lâmi-


nas coradas com Tinta da China e coloração
supravital.
Várias misturas de corantes são utilizadas FIG. 19-7. Desenhos das anormalidades
para avaliar a porcentagem de esperma- morfológicas maiores em espermatozóides de
tozóides vivos. Estes métodos estão sujeitos mamíferos (Fujita, 1975).
a variações entre grupos de corantes e são
influenciados pelo pH do corante e pela tem- apropriados de fase ou interferência ou com
peratura e duração da coloração. Colora- preparações especialmente coradas.
ções diferenciais e morfológicas revelam anor- As anormalidades morfológicas dos
malidades estruturais dos espermatozóides espermatozóides podem ser primárias, secun-
(Fig. 19-7). A coloração de Papanicolaou é co- dárias ou terciárias. As anormalidades pri-
locada sobre um esfregaço da amostra seco márias são devido à falha da esperma-
ao ar, por 2 minutos. A lâmina é lavada para togênese, enquanto que as anormalidades
remover o excesso de corante e deixada secar secundárias ocorrem durante a passagem dos
ao ar. A observação de formas normais e anor- espermatozóides através dos epidídimos. Os
mais é realizada e a porcentagem de cada tipo danos aos espermatozóides que ocorrem du-
é anotada (Fig. 19-8). rante ou após a ejaculação ou ainda do mane-
Deve-se dar atenção especial ao acrossomo, jo inadequado para inseminação artificial (IA)
que representa importante papel na fertili- são designados como anormalidades terciá-
zação. A saliência apical do acrossomo do tou- rias.
ro e do cachaço parece deteriorar-se com a Para o exame de rotina em centrais de IA,
idade ou lesão da célula, podendo perder a os espermatozóides anormais são classifica-
enzima acrosina. Eventualmente, o acros- dos da maneira a seguir: cabeças anormais
somo pode destacar-se e perder-se. Isto ape- ou destacadas; gotas citoplasmáticas aderidas
nas pode ser evidenciado com microscópios às porções anterior, média ou distal da peça
418 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

, i
\ 0
l~! ~It~~~f@ 8peça Anormali-
dupla dade da
cauda

~ o
G--'

Efeito espermatozóide cabeça coto de cauda dag pseudogota defeito em


diadema de "Knobbed" decapitada esterilizante defeito saca-rolhas

FIG. 19-8. Anomalias morfológicas de espermatozóides. (Acima) Tabela para registro de anormalidades
espermáticas. Esta tabela pode ser desenhada em um rótulo enquanto se faz a avaliação microscópica
das amostras de sêmen. (Abaixo) Algumas anormalidades espermáticas herdadas associadas com falhas
reprodutivas em touros. A, Efeito diadema; B, espermatozóide de "knobbed"; C, cabeça decapitada; D,
coto de cauda esterilizante; E, dag defeito; F, pseudogota; G, defeito em saca-rolhas.

intermediária, caudas enroladas e outras tudo, o modo de herdabilidade não é claro por
anormalidades (Fig. 19-8). causa do pequeno número de animais inves-
tigados. O defeito, confinado ao limite ante-
Defeitos Espermáticos Herdados rior da porção pós-nuclear, resulta de
invaginações da membrana nuclear e é um
Uma variedade de defeitos estruturais de sintoma de distúrbio da espermatogênese. d
espermatozóides pode provocar esterilidade defeito "knobbed sperm", encontrado princi-
ou subfertilidade em touros ou cachaços in- palmente em touros holandeses, toma a for-
terferindo com a fertilização. Alguns destes ma de um acrossomo; ele afeta todos os
defeitos espermáticos são hereditários; con- espermatozóides do ejaculado e os touros afe-
Avaliação de Sêmen 419

tados são estéreis. É uma característica he- Técnica Supravital de Tripla Coloração
reditária devido a um gene recessivo
autossômico. Um "knobbed sperm" similar foi A análise rotineira de sêmen inclui usual-
encontrado no sêmen de suínos Large White. mente a avaliação da morfologia espermática,
Após a inseminação, os espermatozóides afe- desde que uma baixa porcentagem de formas
tados não fertilizaram os óvulos. de cabeças normais está correlacionada com
O defeito de decapitação é uma anormali- o potencial de fertilidade diminuída. A
dade da cauda espermática no sêmen de tou- morfologia espermática geralmente é deter-
ros Guernsey estéreis (Fig.19-8). Ele está minada utilizando-se métodos de coloração
associado com uma anormalidade ultra-es- que não distinguem entre espermatozóides
trutural no colo ou região de implantação vivos e mortos. Todavia, a morfologia dos
do espermatozóide. Estes espermatozóides de- espermatozóides vivos correlaciona-se melhor
feituosos desintegram-se em cabeças e cau- com a fertilidade potencial do que com a
das isoladas na cabeça do epidídimo. No dag morfologia espermática total de um ejaculado.
defeito notado no sêmen de 3 touros inférteis Nas técnicas de coloração, é importante que
da raça Jersey dinamarquesa, a peça princi- as reações normais do acrossomo sejam cla-
pal é fortemente dobrada e enrolada sobre a ramente distinguidas da reação degenerativa
peça intermediária, dando a impressão de de espermatozóides mortos. Uma técnica de
uma cauda curta. Este defeito é devido a ele- tripla coloração, permitindo uma direta con-
vados níveis de zinco nos espermatozóides, tribuição da reação normal do acrossomo de
assim como no plasma seminal. Acima de 60% espermatozóides fixados pode ser utilizada
das cabeças espermáticas apresentavam cur- para avaliar espermatozóides que reajam em
tos troncos de cauda, com 2 a 3 ~m de com- sêmen fresco e capacitado, normal ou anor-
primento. Um outro defeito espermático en- mal (Plachot et al.,1984, Jager et aI., 1985)
contrado em touros holandeses estéreis é a (Fig.19-9).
pseudogota caracterizada por um espessa-
mento arredondado ou alongado da peça in- Mortos "Vivos"
termediária. Um defeito raro da cauda branco
espermática notado em touros idosos, especi- rosa
almente na raça Vermelha Dinamarquesa, é
uma peça intermediária em forma de saca-
rolhas em 15 a 50% dos espermatozóides; es- \ /
azul escuro
tes espermatozóides estavam mortos. preto

Espermatozóides Vivos/Mortos

A proporção de células vivas em relação às


mortas pode ser estimada por coloração
supravital através de uma mistura de ia ib ic Id
corantes como a eosina-nigrosina. As células
que estavam vivas quando o corante foi apli-
FIG. 19-9. Ilustração esquemática de padrões
cado não o captam, e as células mortas se co- corantes de espermatozóides corados com a técnica
ram de vermelho com eosina contra o fundo de coloração tripla. a. Espermatozóide morto com
escuro de nigrosina. Os resultados são alta- acrossomo intacto. b. Espermatozóide morto sem
mente correlacionados com as estimativas acrossomo intacto. c. Espermatozóide "vivo" com
visuais de células progressivamente móveis, acrossomo intacto. d. Espermatozóide "vivo" sem
acrossomo intacto. (De Jager, S., Kuiken, J. and
porém as últimas médias são mais baixas do Kremer, J. (1985). Triple staining of spermatozoa
que a porcentagem de espermatozóides não- for routine investigation of human semen.
corados. Technical aspects. Arch. Androl. 13.)
420 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

Frações de sêmen de 200 /lI são incubadas A. ~:


,'i C'

~
a 37°C por 15 minutos com igual volume de B'
f ; ,:' o ' ,
2% de azul tripan em solução salina "buffer" .,;.' ,o'~ 'o
!,! :i
fosfatada, pH 7,4 (PBS). Em misturas do azul j:A' ('o "

'" 0000

de tripan, a porcentagem de coloração o"'"

x""
supravital é determinada diretamente após
a incubação. Antes da fIXação, as misturas de
coloração supravital e sêmen são pré-trata- o. ,../(~r:"i "'7,.~o~\,~~,
das à temperatura ambiente, conforme se se- Cif,.o.or~
gue: S::-" 'o,..
A. Um esfregaço é feito de sêmen não di-
luído ou então de uma mistura 5 a 10
';; :~;?"'f" ",;:[1"
vezes diluída (10 misturas).
B. A mistura é diluída com 2 ml de PBS, FIG. 19-10. Vários padrões de motilidade
cuja suspensão é colocada para sedimen- espermática da ampola e do ejaculado. A.
tação por 4 horas. Espermatozóides ejaculados em balanço; B.
C. A mistura é centrifugada entre 400 a Espermatozóides ejaculados que não balançaram.
1800 g por 10 minutos. Os "pellets" são C. Espermatozóides ampolares em c'rculo pequeno;
D. Espermatozóides ampolares em círculo de raio
novamente suspensos em 2 ml de PBS e moderado, cerca de 20 /lm. (De Suarez, D.S., Katz,
centrifugados à mesma velocidade (12 D.F. and Overstreet, J.W. (1983). Movement
misturas). characteristics and acrosomal status of rabbit
As lâminas triplamente coradas são exa- spermatozoa recovered at the site and time of
minadas ao microscópio com aumento de fertilization. Biol. Reprod. 29, 1277-1287.)
1000x a 1250x com filtro claro. Examinam-se
duas preparações de cada amostra de sêmen, Fatores que Afetam a Motilidade
e em cada preparação, são contados 100 Espermática
espermatozóides classificados de acordo com
a presença ou ausência de acrossomo, A motilidade é essencial para a fertilida-
espermatozóides vivos ou mortos e formas de. Todavia, a motilidade, muito embora seja
normais ou anormais da cabeça (Fig.19-9). uma característica essencial de esperma-
Nas preparações de coloração tripla deve-se tozóides saudáveis, não é necessariamente
prestar particular atenção às anormalidades indicativa da capacidade fertilizante.
da cauda e à presença ou ausência de gotas Espermatozóides normais perdem sua habi-
citoplasmáticas e células arredondadas. lidade fertilizante antes de perder sua
motilidade. Além disso, espermatozóides
anormais podem apresentar movimentos nor-
MOTILIDADE ESPERMÁTICA mais e ao mesmo tempo serem incapazes de
fertilizar o óvulo. Enquanto que a motilidade
Os espermatozóides são células altamente pode colaborar no transporte de esperma-
especializadas, muito bem destinadas a cum- tozóides do local de deposição para o local da
prir um único objetivo: fertilização de um óvu- fertilização, ela provavelmente é secundária
lo. Para conseguir a fertilização, entretanto, a outros mecanismos de transporte, tais como
o esperma precisa primeiro ter acesso ao óvu- contratilidade muscular e movimentação
lo. Durante seu transporte no trato repro- ciliar do trato reprodutivo feminino. A
dutivo do macho e da fêmea, os esperma- motilidade espermática por si toma-se crucial
tozóides encontram diferentes ambientes nos ao facilitar a passagem através da cérvice e
quais eles devem sobreviver. A capacidade da da junção útero-tubárica; ainda mais impor-
motilidade progressiva desenvolve-se à me- tante, ela possibilita a penetração das célu-
dida que a morfologia e a função metabólica las do cumulus oophorus e da zona pelúcida
dos espermatozóides amadurece (Fig.19-10). do óvulo. Vários fatores endógenos e exógenos
Avaliação de Sêmen 421

fatores
EXÓGENOS

morfológica
fisiológica
bioquímica

FIG. 19-11. Alguns fatores endógenos e exógenos que influem sobre a motilidade espermática.

exercem influência sobre a motilidade Os espermatozóides são sensíveis às con-


espermática (Fig.19-11). dições ambientais, e assim como em outras
células e tecidos excitáveis, a membrana ce-
lular em suas duas faces ambientais pode ser
Padrões na Motilidade Espermática equipada adaptando-se com locais receptores
específicos.
Os espermatozóides são guiados por um Os espermatozóides exibem um vasto es-
aparelho de propulsão, o flagelo, equipado com pectro de diversidade mesmo em um único
proteínas contráteis estrategicamente distri- ejaculado, não sendo as variáveis evidentes à
buídas em organelas longitudinais, as fibras forma e à velocidade individual do esperma-
grosseiras com subfilamentos associados e tozóide (Figs. 19-12 e 19-13). Esta diversida-
microtúbulos, para impulsionar a força pro- de apresenta significância fisiológica e
pulsora necessária para vencer a resistência morfológica e por este motivo provavelmente
estrutural interna e a drenagem viscosa de representa um papel crucial nO processo de
fluidos extracelulares. O flagelo propaga seleção durante o desenvolvimento,
repetitivas ondas sinusoidais (ou aproxima- maturação e transporte dos espermatozóides
damente) em uma sequência coordenada para (Tabela 19-3).
baixo das fibras grosseiras alternando os ci-
clos de contração e de relaxamento. Para que Técnicas para a Medida da Motilidade
a célula espermática atinja um movimento Espermática
progressivo efetivo, a coordenação das ondas
deve ser atingida e mantida como uma Dentre os aspectos mais importantes, a
consequência de processos de desenvolvimen- motilidade é que tem atraído a maior aten-
to efetuados por modificações programadas ção dos pesquisadores. Várias técnicas têm
nOmeio. sido imaginadas para estudar e descrever a
422 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

~ 01020
~
FIG. 19-12.A, B e C. Traços da junção cabeça-colo
de espermatozóides móveis do epidídimo. Ajunção
espermática

Motilidade
cabeça-colo foi marcada
disposições consecutivas
em 150
(1 segundo total). A.
de uma típica cabeça espermática
incubada por 15 minutos a 37°C em ensaio
tamponado com teofilina sem padrão de motilidade
c progressiva (FMP). B. Mostra o traçado de uma
cabeça de espermatozóide incubada identicamente,
porém com a adição de uma concentração saturada
n de FMP puro. C. Mostra o traçado de uma típica
cauda espermática incubada similarmente sem
adição de teofilina ou de FMP. A escala em A está
C em micrômetros, e os X's marcam os pontos nos
quais começam os traços. (De Acott et aI. (1983).
Movimentos característicos de espermatozóides
a epididimários de touro; efeitos de motilidade
progressiva protéica e maturação epididimária.
D BioI. Reprod. 29, 389-399). D, E e F. As vias
líquidas, curvilíneas e médias de três típicos rastos
de 2 segundos de movimento espermático (61
n n pontos a 30 unidades por segundo). n,
Deslocamento líquido ligando o primeiro e o último
ponto; c, via curvilínea da junção cabeça-peça
intermediária; a, média de movimento em cinco

c~ cr pontos da via curvilínea. As vias foram


redesenhadas de imagens gerais de computador.
(De Tessler, S. and Olds-Clarke, P. (1985). Linear

ar: and nonlinear mouse sperm motility pattems: A


quantitative classification. J. AndroI. 6, 37.)

E
a~ F

motilidade quantitativa dos espermatozóides. centagem de motilidade espermática, seu tipo


A mais simples delas envolve uma avaliação de motilidade, e sua morfologia grosseira po-
visual da porcentagem do esperma e da qua- dem ser avaliadas. Apesar da natureza sub-
lidade da motilidade individual do esperma- jetiva de tais avaliações, a porcentagem de
tozóide. motilidade espermática é positivamente
A motilidade espermática no ejaculado ou correlacionada com a fertilidade. A baixa cor-
em suspensões diluídas é estimada visual- relação entre motilidade espermática e ferti-
mente em vários campos usando luz micros- lidade pode resultar de uma baixa acuraci-
cópica. A porcentagem de células com dade e precisão do método para a avaliação
motilidade progressiva poderia ser avaliada da motilidade espermática, a influência de
usando um microscópio em aumento (400x) outros atributos da qualidade do esperma
com uma platina pré-aquecida de 37°C a 40°C. sobre a fertilidade, a imprecisão na medida
O sêmen fresco poderia ser preparado atra- de ejaculados individuais, e a influência de
vés de fino esfregaço numa lâmina microscó- muitos fatores não-relatados do ~êmen tais
pica, ou diluído com solução fisiológica (como como parição das fêmeas, estação do ano, mês
a salina) de tal modo que as células individu- em que o sêmen foi usado, e manejo do reba-
ais são visíveis. Com aumento de 400X, a por- nho.
Avaliação de Sêmen 423

5
A[ eiJo O ]--111 DI

~; B[ @ O ]--1 ~
o sêmen
O I
@ muco cervical

;6 .

o
D .(;)

rA~
, F
0102010
I. I. I . I

FIG. 19-13. Traços de espermatozóides móveis da


cabeça mostrando típica propagação em onda. As
caudas espermáticas foram traçadas de sequências
selecionadas tomadas da cabeça espermática
incubadas por 15 minutos a 37°C em ensaio
tamponado mais teofilina em, A, ausente e B,
presença de FMP puro. A escala está em FIG.19-14. A, B. Teste de contato espermatozóide-
micrômetros. (De Acott et aI. (1983) Movement muco cervicaI. O teste da lâmina para penetração
characteristics ofbovine epididymal spermatozoa: espermática in vitro no muco cervical. C. Uma gota
efIects offorward motility protein and epididymal de sêmen e uma gota de muco cervical são coloca-
maturation. BioI. Reprod. 29, 389-399.) das sobre uma lâmina de vidro. D. Coloca-se uma
lamínula sobre a lâmina pressionando-se levemen-
te. E. Avaliação quantitativa (número de
espermatozóides em microscópio de alto poder, 400
Motilidade no Plasma Seminal e Fluidos X) da penetração espermática no muco cervical,
Biológicos HPFl; HPF2; HPF3 campos microscópicos conse-
cutivos de alto poder do interfato. Modificação no
padrão de motilidade dos espermatozóides resul-
A motilidade e sobrevivência dos esperma- tante de aglutinação espermática no teste de con-
tozóides depende de uma ótima proporção tato espermatozóides-muco cervicaI. F. Esperma-
entre fluidos prostáticos e vesiculares. A se- tozóides carregados com espermaglutininas fazem
creção das vesículas seminais contém um ou aderir com filamentos de glicoproteínas assim que
entram em contato com o muco cervicaI. G. Muco
mais fatores que exercem efeitos deletérios
cervical contendo espermaglutininas subministra
sobre a motilidade espermática e sobrevivên- aos espermatozóides penetrantes com esperma-
cia do espermatozóide. O fluido prostático, de glutinina provocando aderência com os filamentos
outra maneira estimula a motilidade. Em con- de glicoproteína.
424 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

tato com o fluido prostático, os esperma- penetração do muco na metade do ciclo, há


tozóides são protegidos contra influências uma pequena mudança na proporção da
negativas exercidas pelo fluido vesicular. motilidade progressiva; entretanto, a propor-
Como o espermatozóide se move do plas- ção de batimento flagelar e rotação da cabeça
ma seminal para o muco cervical, o padrão são bastante reduzidos. Num muco altamen-
de movimento da cauda se altera. Durante a te viscoso, a velocidade de transmissão do

(Legenda aparece na próxima página)


Avaliação de Sêmen 425

movimento é reduzida ou cessada definitiva- espermática incluem a cinematografia e o


mente e o flagelo forma um amplo arco. videotape, dispersão de um raio de luz e aná-
Uma vez atravessado o canal cervical, o lise de imagens por computador.
espermatozóide encontra o ambiente intra- Técnicas dimensionais de rasteamento (p.
uterino. Pouco se sabe concernente a alguma ex., fotografia de múltipla exposição, cinema-
influência que o fluido uterino exerce sobre a tografia e videomicrografia) que seguem a
motilidade espermática. Entretanto, o padrão posição da junção cabeça-peça intermediária
de motilidade parece ser responsável para revelam diferenças entre os padrões de
metabólitos nos vários fluidos do trato motilidade espermática. Um método quanti-
reprodutivo da fêmea. Por exemplo, a veloci- tativo é utilizado para distinguir tipos de
dade do movimento espermático aumenta na motilidade espermática por meio de um novo
presença de fluidos do oviduto e peritoneais. parâmetro, o índice linear. Utilizando este
O padrão e a proporção de motilidade esper- método, os espermatozóides são rasteados por
mática podem ser avaliados quando uma gota videomicrografia, calculando-se o seguinte:
de sêmen é misturada numa lâmina com uma velocidade líquida de deslocamento; velocida-
gota de muco cervical ou vaginal (Fig.19-14). de curvilínea da cabeça do espermatozóide;
O melhoramento da qualidade do sêmen velocidade "média" (média de movimento de
para uso em programas de fertilização in vitro cinco pontos do rasteamento); a proporção da
e a separação de espermas portadores de progressão e um índice linear (Tessler e Olds-
cromossomos X e Y, padrão de penetração Clarke, 1985).
espermática em muco cervical e outros flui- Com a crescente utilização das técnicas de
dos biológicos estão sendo estudados. fotografia de múltipla exposição, cinemato-
grafia e videomicrografia, procurou-se pres-
Métodos Eletrônicos e Fotoelétricos tar atenção aos padrões de forma dos
espermatozóides em movimento. Modificações
Foram desenvolvidos métodos eletrônicos das características de movimento de
e fotoelétricos para observação da velocidade espermatozóides de mamíferos parecem ser
da célula espermática, os padrões natatórios importantes, se não necessárias, entre o mo-
e a proporção de espermatozóides móveis à mento da inseminação e o local da fertiliza-
medida que eles atravessam um fototubo. ção. Tipicamente, a maioria dos esperma-
Contudo, a instrumentação é cara e não dis- tozóides móveis movimentam-se em
ponível para utilização geral. Outros méto- trajetórias lineares (espermatozóides com di-
dos objetivos para avaliar a motilidade reção "progressiva" ou com "movimentos

FIG. 19-15. Reação de espermatozóides humanos (A,B,C,D) e de macaco (E,F,G) com zona livre de
óvulos de hamster. A. Micrografia em varredura eletrônica de zona livre de oócito de hamster com
espermatozóides morfologicamente anormais associados às microvilosidades do oócito. B. Micrografia
em varredura eletrônica de um espermatozóide com cabeça redonda unido às microvilosidades do oócito.
C. Micrografia eletrônica de transmissão de um espermatozóide humano com gota citoplasmática (flecha)
que já sofreu a reação do acrossomo. Este espermatozóide está associado com as microvilosidades do
oócito de hamster preliminarmente ao processo de fusão da membrana. D. Secção através de uma cabeça
espermática anormal associada com a zona livre do oócito de hamster. Notar que esta cabeça de
espermatozóide apresenta dois componentes nucleares e que a cromatina parece anormalmente
condensada. (De Barros et aI. (1985). Selection of morphologically abnormal spermatozoa by human
cervical mucus. Arch. AndroI.16) E,F,G. Zonas livres de óvulos de hamster (fixados e corados com Lacmoid)
após incubação com espermatozóide de hamster (E) ou espermatozóide de macaco (F,G). Cabeça
espermática inchada, indicando fases iniciais de fertilização, é vista em A. Nenhum sinal de penetração
foi observado com sêmen de macaco. (De Kreitmann et aI (1982). Ovum collection transfer in primates.
In In vitro Fertilization and Embryo Transfer. E.S.E. Hafez and K. Senin (eds.). Lancaster, UK, MTP
Press.)
426 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiua

natatórios para a frente"), ao passo que TABELA 19-4. PenetraçãoIn Vitro da


espermatozóides do oviduto nadam seguindo Zona Livre de Oócito de Mamíferos por
padrões erráticos e não-progressivos. Espermatozóides Heterólogos
Filmes de movimentos figurados de suspen- Porcentagem
sões de espermatozóides são preparados para Espermatozóide Oócito de Penetração
avaliar a motilidade espermática. Uma gota Cobaia Hamster 100
de sêmen é misturada com uma gota de citrato P. Maniculatus Hamster 100
P. Ceocopus Hamster 2
de sódio 99-mm em uma lâmina recoberta por Gerbo Hamster 8
uma lamínula. Quando da avaliação de sê- Camundongo Hamster 100
men diluído, o material de várias palhetas é Rato Hamster 83
transferido a um frasco e misturado. Uma Humano Hamster 95
Porco Hamster 36
alíquota de 10 /.!lé colocada sobre uma lâmi- Coelho Hamster 63
'na, coberta, e avaliada (O'Conner et aI., 1982). Rato Camundongo 9
Hamster Camundongo 2
A avaliação do rasto deixado pelos Hamster Rato 14
espermatozóides móveis sobre o negativo pre- Camundongo Rato 100
parado com uma exposição de curto tempo Camundongo Coelho 81
Rato Coelho 37
proporciona informação precisa, porém é Bovino Hamster 90
muito monótona.
Compilado por Barros e Leal, 1982
O nível de movimento pode ser estimado
em uma escala arbitrária por observação mi-
croscópica. Movimentos circulares ou inver- técnicos que frequentemente não são adequa-
sos frequentemente indicam choque frio ou damente descritos na literatura.
consequente a um meio que não é isotônico O método mais comumente utilizado é o
com o sêmen. Movimentos oscilatórios fre- teste de Hamster. A avaliação da fertilidade
quentemente ocorrem em espermatozóides espermática é baseada na penetrabilidade do
velhos e corados. espermatozóide dentro da zona livre do óvulo
de hamster. Esta técnica foi bastante utiliza-
HABILIDADE DE FERTILIZAÇÃO DOS da para avaliar a capacidade de fertilização
ESPERMATOZÓIDES de espermatozóides humanos em centros de
fertilização in vitro. Outro teste recentemen-
Os procedimentos-padrão para a análise de te descrito é a inchação hipo-osmótica (HOS),
sêmen (contagem espermática, morfologia baseado na avaliação da integridade funcio-
espermática e motilidade espermática) são nal das membranas espermáticas (Jeyendran
indicadores relativamente pobres da capaci- et aI., 1985), mas são necessárias futuras pes-
dade fertilizante dos espermatozóides. Pou- quisas para a aplicação de ambas estas téc-
cas técnicas de laboratório foram desenvolvi- nicas para avaliação do sêmen de bovinos e
das para avaliar a integridade fisiológica dos OVInos.
espermatozóides tais como a sobrevivência,
transporte e habilidade de fertilização. Um Teste do Hamster (Teste da Zona Livre do
teste ideal deve ser simples, rápido e objeti- Óvulo de Hamster)
vo, com alta correlação com a fertilidade.
Numerosos testes têm sido propostos, muitos Este teste envolve uma série de fases in-
com significantes correlações com a fertilida- cluindo o preparo e a capacitação in vitro de
de. Infelizmente, com a maioria destes proce- espermatozóides a serem testados,
dimentos biofísicos, há uma porcentagem de superovulação de fêmeas de hamster com
resultados "falso-positivos" e "falso-negati- subsequente remoção da zona pelúcida dos
vos". Isto é principalmente devido à falta de óvulos usando tripsina, incubação dos
controles apropriados, para possibilitar espermatozóides com a zona livre dos óvulos
interações com contaminantes microbiológi- de hamster, e avaliação da penetração
cos do sêmen, e à variabilidade nos detalhes espermática nos óvulos.
Avaliação de Sêmen 427

TABELA 19-5. Ciclo Reprodutivo da Fêmea de Hamster


Hora Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4

Meia-noite
IAM.
2 Final do diestro Cio Meio-diestro Final do diestro
3 Ovulação
4,5,6
7 Corrimento vaginal Corrimento pós- Corrimento vaginal
claro, fluido fino ovulatório com amarelado; às vezes
8 em pequena quantidade copiosa um tampão ceroso
quantidade de material espesso
9 cremoso branco opaco
e odor acre de queijo

10 Esfregaço vaginal não


distinto Animais raramente
11 cruzados após este
dia
Tarde Metaestro (4 hrs.)
Esfregaço vaginal com
células ovais
nucleadas
lP.M. Proestro (3 hrs.)
Esfregaço vaginal Esfregaço vaginal com Esfregaço vaginal
2 com células não- muito poucas células com células
nucleadas esparsas
escamosas Início do diestro (o
3 tempo total para o
diestro é mais do que
70 horas)
4
5 Leucócitos são caracterís-
ticos no esfregaço va-
6 ginal
7 Cio (12 hrs)
Animais podem ser Animais não se Animais não se Animais não se
8 cruzados neste cruzam cruzam cruzam
9 estágio
10 Esfregaço vaginal não
mostra leucócitos;
células nucleadas,
11 tipo epitelial
Meia-noite

(H. Magalhães, 1970)

As zonas livres dos óvulos de hamster pre- pressão atmosférica por poucas horas. Os óvu-
paradas são adicionadas a 0,2 a 0,3 ml de los cultivados são lavados com meio fresco
espermatozóides capacitados suspensos sob de BWW para remoção dos espermatozóides.
óleo de silicone em uma placa de petri esteril. Os óvulos são então transferidos para uma
As zonas livres dos óvulos são incubadas a lâmina de vidro e fIXados em uma mistura de
37°C ou 38°C sob 5% de C02: 95% de ar em etanol e ácido acético por 2 a 3 horas e então
corados com corante de acetolacmóide a 0,3%.
TABELA 19-6. Indicadores Químicos da Os óvulos corados são examinados em
Atividade Secretora microscopia de fase (400 X a 1000
de contraste
Secreções de Marcadores Bioquimicos paraAvaliar X) para verificar ocorrência de penetração
Órgãos a Atividade de Órgãos
espermática (presença de cabeças
Próstata Ácido cítrico, fosfatase ácida, zinco espermáticas inchadas com a cauda sobrepos-
Epidídimo Glicerilfosforilcolina ta ou extremamente associada dentro do
Vesícula seminal Frutose, proteínas, prostaglandinas vitelo), Os óvulos são considerados penetra-
428 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

FIG. 19-16. Imobilização e aglutinação dos espermatozóides por indução da Echeveria gibbiflora,
comumente conhecida por "Orelha de Burro" (OBACE), planta mexicana utilizada como anticoncepcio-
nal em mulheres. A. Fotografia: das folhas de Echeveria gibbiflora em arranjo de roseta. B. Aumento de
um grumo de espermatozóides lavados aglutinados de coelho, em microscopia de contraste de fase (830
X). C. Padrão de aglutinação de espermatozóides lavados de homem tratados com OBACE (350 X). D.
Micrografia em contraste de fase do padrão de aglutinação de espermatozóides de suíno e bovino induzida
pelo OBACE (350 X). (De Huacuja et aI. (1985). Immobilization and agglutination effect of Echeveria
gibbiflora aqueous crude extract on human spermatozoa. Arch. AndroI., 40,71-79.)
Avaliação de Sêmen 429

dos quando uma cabeça inchada de mente encontrada no vale do México e


espermatozóide (ou cabeças), ou pró-núcleo adjacências e é popularmente utilizada como
masculino ou pró-núcleos e correspondente um extrato aquoso diluído de folhas frescas
cauda (s) espermática são encontrados den- para uma lavagem após o coito (Fig. 19-2).
tro do vitelo (Fig. 19-15).

Teste de Expansão Hipo-osmótico REFERÊNCIAS

É um teste simples e econômico utilizado Aeott, T.S., Katz, D.F. and Hoskins, D.D. (1983).
como auxiliar adicional na avaliação da ha- Movement eharaeteristies of bovine epididymal
spermatozoa: effeets of forward motility protein
bilidade fertilizante de espermatozóides hu- and epididymal maturation. Bio!. Reprod. 29,
manos (Jeyendran et aI., 1985) e da integri- 389-399.
dade funcional da membrana espermática. Barros, C. and Leal, J. (1982). ln vitro fertilization
Para realizar este teste, 0,1 ml de ejaculado and its use to study gamete interaetions. ln ln
Vitro Fertilization and Embryo Transfer. E.S.E.
não-diluído é misturado com 1 ml de solução
Hafez and K. Semm (eds.). Laneaster, England,
consistindo de partes iguais de frutose e MTP Press.
citrato de sódio a 150 mOsm em água. Após Barros, C., Vigil, P., Herrera, E., Arguello, B. and
incubação por 30 a 60 minutos a 37°C, os Walker, R (1985). Seleetion of morphologiea!l}
espermatozóides são observados em micros- abnormal spermatozoa by human eervieal mu.
cópio de contraste de fase, determinando-se eus. Areh. Andro!. 16, 255-260.
Fujita, T. (1975). Abnorrnal spermatozoa and infertil-
a proporção de espermatozóides exibindo a ity (man). ln Seanning Eleetron Microseopial
inchação da cauda. Atlas of Mammalian Reproduction. E.S.E Hafez
O teste HOS apresenta alta correlação com (ed.). Tokyo, Japan, Igaku Shoin.
a habilidade dos espermatozóides humanos Huacuja, L., Taboada, J., Ortega, A., Merchant, H.,
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de tornarem-se capacitados e penetrarem os tion and agglutination effects of &heveria gib-
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hamster), enquanto que existe menor corre- tozoa. Arch. Andro!. 40, 71-79. .
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parâmetros-padrão do sêmen. O HOS testa staining of spermatozoa for routine investigation
of human semen. Technical aspects. Arch. An-
os parâmetros-padrão do sêmen em relação a dTO!. 13. .
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oócitos humanos in vitro. Se os resultados do Pelaez, P., Diedrich, K. and Zaneveld, L.J.D.
teste HOS forem utilizados em combinação (1985). The hypoosmotic swelling (HOS) test as
an indicator of the fertilizing capacity ofhuman
com os parâmetros-padrão do sêmen, os fal-
spermatozoa, current clinicaI and basic investi-
so-negativos podem ser evitados e os falso- gations. ln ACOG, 33rd Clinieal Meeting. New
positivos podem ser mais minimizados. Vári- York, Elsevier.
os métodos são aplicados para avaliar a Kreitmann, O., Lynch, A., Nixon, W.E. and Hodgen,
G.D. (1982). Ovum collection, induced luteal
viabilidade e a capacidade de fertilização dos
dysfunetion, in vitro fertilization, embryo deve!-
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Aglutinação Induzida de Espermatozóides
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and Breeding Techniques for Laboratory Ani-
Existem cerca de 200 espécies de plantas maIs. E.S.E. Hafez (ed.). Philadelphia, Lea &.
cujos extratos ou infusões têm sido utilizados Febiger.
como anticoncepcionais. Uma destas plantas O'Connor, M.T., Amann, RP. and Saacke, RG.
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spermatozoaI motility with standard laboratory
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430 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

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Movement characteristics and acrosomal status Zaneveld, L.J.D. and Polakoski, K.L. (1977). Collec-
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time of fertilization. Biol. Reprod. 29, 1277- Techniques of Human Andrology. E.S.E. Hafez
1287. (ed.) Amsterdam, North Holland, EIsevier.
20
INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL
E.S.E. HAFEZ

A inseminação artificial (IA) é a técnica sin- sexos, por meio da separação dos
gular mais importante já idealizada para o espermatozóides portadores dos cromossomos
melhoramento genético dos animais. Isto tor- XeY.
na-se possível porque poucos reprodutores Quando praticada corretamente, as des-
altamente selecionados produz~m vantagens são poucas. Contudo, é necessário
espermatozóides suficientes para inseminar contar com pessoal suficientemente bem trei-
milhares de fêmeas por ano, enquanto q-q.ere- nado para proporcionar serviço apropriado, e
lativamente poucos descendentes de fê:rn~as possuir instalações adequadas para reunir as
selecionadas podem ser obtidos por ano, mes- fêmeas para detecção do cio e inseminação,
mo pela transferência de embriões. Já foram particularmente em condições de campo.
desenvolvidos métodos para inseminação de A inseminação artificial nos animais do-
bovinos, ovinos, caprinos, suínos, equinos, mésticos oferece várias vantagens pelo me-
cães, gatos, aves domésticas e uma varieda- lhoramento genético, controle de doenças e
de de animais de laboratório e insetos. A do- aspectos ecoIÚ>micos:
cumentação cuidadosa mais antiga sobre a 1. Facilita a utilização ampla de reprodu-
utilização da inseminação artificial (IA) sur- tores selecionados e disseminação de
giu em 1780 quando Spallanzani, um material genético valioso mesmo nas
fisiologista italiano, conseguiu o nascimento pequenas fazendas.
de cães por este método. Outras comunica- 2. Facilita o teste de progênie sob várias
ções esporádicas aparecem no século 19, po- condições ambientais e de manejo, e por
rém somente a partir de 1900 é que começa- isso o aumento do nível e da eficiência
ram estudos extensos com animais domésticos da seleção genética.
na Rússia e logo após no Japão. 3. Acarreta melhor desempenho e o poten-
As maiores vantagens da IA são: (1) me- cial do rebanho nacional, permitindo co-
lhoramento genético, (2) controle das doen- ordenação de um policiamento
ças venéreas, (3) possibilidade de registros reprodutivo em base nacional.
precisos sobre a reprodução, necessários ao 4. Permite cruzamentos para modificação
bom manejo do rebanho, (4) serviço econômi- da ênfase de produção, tal como a tro-
co e (5) segurança pela eliminação de ca de leite por carne.
reprodutores perigosos da fazenda. A IA é 5. Acelera a introdução de material gené-
praticamente essencial em conjunção com os tico novo pela exportação de sêmen e
programas de sincronização do ciclo estral, e reduz os custos de transporte interna-
já foi proposta como um meio de controle dos cional.

431
432 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

6. Facilita a utilização de sêmen congela- siderável melhoramento genético que pode ser
do após a morte do doador, colaboran- alcançado com características altamente
do assim na preservação de linhagens herdáveis usando touros de desempenho pro-
selecionadas. vado, sem inseminação artificial.
7. Permite a utilização de sêmen de ani-
mais incapacitados ou de machos MANEJO DOS REPRODUTORES E
oligospérmicos. COLHEITA DE SÊMEN
8. Reduz o risco de dispersão de doenças
transmitidas sexualmente. A produção de sêmen de alta qualidade
9. Usualmente é essencial após sincroni- depende de reprodutores que são mantidos
zação do ciclo estral em grande núme- sob boas condições. Quando os machos jovens
ro de animais. são adequadamente alimentados e maneja-
10. Proporciona a oportunidade necessária dos, o sêmen pode ser colhido satisfatoria-
de pesquisa para investigar muitos as- mente nas seguintes idades aproximadas: tou-
pectos da fisiologia reprodutiva mascu- ros, 12 meses; carneiros, bodes e porcos, 7 a 8
lina e feminina (Hunter, 1982). meses: garanhões, 24 meses. (Tabelas 20-1 a
20-3).
o melhoramento genético atingido pela IA
de gado leiteiro resultou da utilização de Condições Físicas dos Reprodutores
reprodutores testados provados. A obtenção
de sêmen em idade o mais precocemente pos- A alimentação tem um efeito notável so-
sível de touros em prova é desejável para ace- bre o padrão de desenvolvimento sexual em
lerar a identificação de reprodutores superio- todos os animais domésticos. Quando a
res. Por último, o impacto genético de um ingestão de energia é restrita, o padrão de
reprodutor superior está limitado ao número crescimento diminui, o desenvolvimento tes-
de espermatozóides produzidos, que é uma ticular é retardado, a idade da puberdade é
função direta do tamanho testicular. aumentada e a produção espermática pode ser
Touros leiteiros jovens devem ser cuidado- reduzida. Deficiências prolongadas de nutri-
samente selecionados tão logo quanto possí- entes essenciais podem provocar infertilidade.
vel e devem ser rigidamente descartados após Por outro lado, uma alimentação excessiva é
o teste de progênie. Apenas poucos repro- supérflua e pode tornar os reprodutores obe-
dutores que se projetam necessitam ser sele- sos e indolentes.
cionados para servir uma grande população O tamanho testicular é importante consi-
de vacas, desde que procedimentos apropria- derando a alta correlação entre o tamanho
dos de preparo sexual, colheita e proces- testicular e a produção espermática poten-
samento de sêmen sejam utilizados para co- cial. O tamanho testicular aumenta rapida-
lher e preservar um número máximo de mente à medida que se aproxima a puberda-
espermatozóides viáveis de cada reprodutor. de, e ao redor de um ano de idade, os touros
Tipos similares de desempenho e de progra- atingem aproximadamente 50% de sua ma-
mas de teste de progênie são importantes para turidade potencial. O tamanho testicular é um
o máximo progresso genético do animal do- caráter também altamente herdável e facil-
méstico para produção de carne. As facilida- mente avaliado pela medida da circunferên-
des do cruzamento por IA incluem a perma- cia escrotal.
nência de apenas uma raça na fazenda.
O desenvolvimento da IA em bovinos de Colheita do Sêmen
corte tem sido mais lento nos Estados Uni-
dos e em muitos outros países por causa da A correta colheita do sêmen é da maior
dificuldade de detecção de cio e da insemi- importância em um programa de inseminação
nação sob condições de campo, legislação artificial. Ela envolve a catalogação dos
restritiva das associações de criadores e o con- reprodutores para a colheita do sêmen em
lnseminação Artificial 433

AnrflR
FIG. 20-1. Manequins e montas usa-
dos para colheita de sêmen em animais
domésticos. A, Direita para a esquer-
da, manequim de vaca construído de
tubos de aço. Manequim pronto cober-
to e bem almofadado. B, Manequim
almofadado para varrão. O aparelho
está provido de um piso adequado para
os membros posteriores. C, Esquerda
para a direita, égua adequadamente
contida e com bandagem na cauda an-
tes de ser utilizada como monta; ma-
nequim almofadado. D, Esquerda para
a direita, vista lateral de um manequim
portátil para carneiros. Visão inferior
mostrando uma vagina artificial con-
tida para a colheita do sêmen.

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intervalos ótimos, o preparo sexual e técni- nequins vivos no sentido de proporcionarem


cas corretas de colheita de sêmen. estabilidade, e quanto às fêmeas, particular-
Manequins e Procedimentos de Exci- mente, por permitirem controle de doenças.
tação. Como fêmeas, outros machos ou ma- Em qualquer caso, um manequim suficiente-
chos castrados - já se provou que constituem mente forte deve proporcionar um suporte
as técnicas mais satisfatórias para a colheita adequado. Manequins vivos devem ser conti-
de sêmen de rotina. Alguns reprodutores, es- dos para diminuir movimentos laterais e para
pecialmente cachaços, podem ser treinados a frente e ainda proporcionar fácil acesso para
para montar em dispositivos apropriados e a colheita do sêmen. Um bom piso é necessá-
inertes igualmente bem (Fig. 20-1). Uma fê- rio. Mourões convenientes devem ser incluí-
mea tratada com estrógeno pode proporcio- dos para a contenção dos touros durante o
nar incentivo adicional durante o período de preparo sexual.
treinamento.Estes dispositivos podem ser O preparo sexual antes da colheita do sê-
construídos de modo a alojar a vagina artifi- men de touros aumenta o número de células
cial em seu interior. Estes manequins mecâ- espermáticas obtidas em até 100%.A permis-
nicos apresentam a vantagem sobre os ma- são de falsas coberturas por várias vezes e/ou
434 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

uma excitação intensa por 5 a 10 minutos sem aumentar a resposta sexual de touros in-
falsa cobertura também é eficiente. Os flui- cluem: troca do manequim, mudança de local
dos das glândulas sexuais acessórias do manequim, apresentação de um outro tou-
secretados durante este período preparatório ro na área de colheita e falsas coberturas. Vá-
podem eliminar material contaminante da rias combinações devem ser experimentadas
uretra. Os estímulos que são eficientes para com reprodutores indolentes para conservar

TABELA 20-1. Frequência da Colheita de Sêmen e Preparo da Vagina Artificial


Espécie Frequência da Colheita Preparo da Vagina Artificial
Bovinos Colher sêmen duas vezes por dia, 2 dias/semana A temperatura da VA é mais importante do que a pres-
para obter mais espermatozóides para conge- são que ela exerce sobre o pênis
lar a um só tempo Água é utilizada para controlar ambas, porém a pres-
Com sêmen líquido, os touros podem ser ejaculados são final pode i3er ajustada injetando-se ar
três vezes por semana, propiciando sêmen con- A temperatura dentro da VA é próxima a 45°C, embo-
tinuamente utilizado por um período de 2 a 3 ra 38°C-55°C tenham sido utilizadas
dias Colocar a VAem incubadoras a 45°C ou pouco mais se
Touros são ejaculados diariamente sem redução ocorrer resfriamento antes da colheita de sêmen.
da fertilidade, porém o número de O tubo de colheita é mantido próximo à tempera-
espermatozóides por ejaculação se reduz e mais tura do corpo para impedir danos aos esperma-
estímulos são frequentemente requeridos para tozóides devido a superaquecimento ou choque tér-
um preparo sexual adequado mico

Ovinos Os carneiros são ejaculados muitas vezes por dia A temperatura da VA e a técnica de colheita são simi-
por várias semanas antes de uma grave lares às dos bovinos
depleção das reservas espermáticas dos O impulso para a frente do carneiro é menos vigoroso
epidídimos. Isto é devido a pequenas reservas mas rápido
epididimárias O coletar de sêmen deve coordenar os movimentos ra-
Os carneiros frequentemente cobrem ou são pidamente com os do carneiro
ejaculados muitas vezes por dia durante a es- A VApode ser adaptada a um manequim
tação
Bodes são ejaculados menos frequentemente do
que carneiros
Suínos Os machos produzem grande quantidade de A pressão é especialmente importante para a colheita
espermatozóides em cada ejaculação e esgotam de sêmen. O cachaço ejacula quando a extremida-
suas reservas epididimárias mais rapidamen- de retorcida do pênis fIXa-se firmemente na cérvice
te. Colheitas regulares de sêmen não mais do da porca, na VA ou na mão do operador
que dia sim dia não são recomendáveis Quando utilizando a VA ou a mão enluvada, a pressão
Caso sejam necessárias ejaculações por vários dias, é exercida sobre a extremidade retorcida distal do
um curto repouso sexual de 2 a 3 dias é reco- pênis durante a ejaculação. Uma vez iniciada a
mendado ejaculação, o cachaço permanece quieto durante os
poucos minutos em que ela persiste
A ejaculação consiste de três frações: (1) fração pré-
espermática, (2) a fração rica em espermatozóides
e (3) a fração pós-espermática. Ambas as frações
pré e pós-espermática contêm principalmente flui-
dos seminais com material gelatinoso semelhante
a "pellets" das glândulas de Cowper. Este material
tende a selar a cérvice da porca durante a cobertu-
ra, prevenindo a perda de sêmen
A fração pré-espermática é descartada antes da colhei-
ta da fração rica em espermatozóides e o gel pode
ser filtrado

Equinos O garanhão expele grande quantidade de Antes da ejaculação deve-se lavar o pênis com água
espermatozóides em cada ejaculação e esgota morna ensaboada e enxaguar com água limpa para
rapidamente suas reservas epididimárias. Co- remoção do esmegma e outros detritos celulares so-
lheitas regulares de sêmen não mais do que bre a superfície do membro. A égua deve ser peada.
dia sim dia não são recomendadas A VA é maior do que a de outros animais para aco-
Caso sejam necessárias ejaculações diárias por vá- modação do pênis vascular ereto do garanhão
rios dias, recomenda-se um repouso sexual de
2a3dias
lnseminação Artificial 435

alta a intensidade dos estímulos sexuais. De frequência do que dia sim dia não. Caso se-
um modo geral, os touros de corte exibem jam necessárias ejaculações diárias por vá-
melhor libido do que os touros leiteiros e re- rios dias, recomenda-se um curto descanso se-
querem mais habilidade para proporcionar xual de 2 a 3 dias.
estímulos sexuais apropriados antes da co- Vagina Artificial; A melhor técnica de co-
lheita de sêmen. lheita de sêmen é pela utilização da vagina
Frequênciade Colheita de Sêmen.Au- artificial (VA). A vagina artificial é de cons-
mentando-se a frequência de colheita de sê- trução simples e simula a cópula natural. O
men há diminuição do número de esperma- esboço básico está ilustrado com uma vagina
tozóides obtidos por unidade de tempo. Assim, artificial para touros (Fig. 20-2). A unidade
a ejaculação frequente de reprodutores supe- proporciona temperatura, pressão e lubrifi-
riores proporciona mais espermatozóides para cação adequadas para facilitar a ejaculação,
inseminar mais fêmeas. Bilhões de esperma- colocando-se um tubo calibrado para colheita
tozóides podem ser obtidos por reprodutores do sêmen. A higiene e a habilidade técnica
normais por semana de qualquer animal do- tanto de quem colhe o sêmen como de quem
méstico se manejado adequadamente duran- manobra o reprodutor são importantes. Esta
te a colheita do sêmen (Tabela 20-1). habilidade deve levar à obtenção de sêmen
Touros. Sob condições práticas as organi- de alta qualidade e reduzir ao mínimo a pos-
zações de inseminação artificial com sibilidade de danos durante a colheita. Para
frequência preferem fazer duas colheitas por cada amostra de sêmen colhido deve-se usar
dia em dois dias da semana para juntar mais uma vagina artificial esterilizada. A
sêmen a ser congelado ao mesmo tempo. Com frequência da colheita do sêmen e a prepara-
este procedimento, a maioria do sêmen pro- ção da VAestão resumidas (Tabela 20-1 e Figs.
duzido pode ser colhida. Com programas de 20-1 e 20-2).
sêmen líquido, pode-se fazer três colheitas por A VA deve ser lubrificada cuidadosamente
semana, deste modo há uma disponibilidade com lubrificante estéril. Durante a colheita a
contínua de sêmen a ser usado por um perío- VA deve ser segura paralelamente e junto à
do de dois ou três dias. As colheitas de sêmen vaca de modo inclinado linearmente com a
podem ser diárias sem redução da fertilida- direção do pênis do touro. O pênis deve ser
de, porém o número de espermatozóides por guiado para dentro da VA segurando a bai-
ejaculação é reduzido e frequentemente são nha com a mão imediatamente por trás do
necessários mais estímulos para um preparo orifício prepucial (Fig. 20-3).
sexual adequado. Consegue-se melhor a inserção do pênis
Carneiros. Nesta espécie é possível obter com um movimento para frente assim que o
muitas ejaculações por dia e durante várias touro monta. É necessário um tempo preciso.
semanas antes que as reservas epididimárias Assim que o touro impulsiona para frente
sejam gravemente esgotadas de esperma- para a ejaculação, o operador permite que a
tozóides. Isto se deve ao pequeno volume das VA também se mova para frente de acordo
ejaculações (Tabela 20-2) e às grandes reser- com o impulso de um modo alinhado com o
vas epididimárias. Os carneiros praticam co- pênis. Logo depois ele dirige a vagina para
berturas ou fornecem ejaculações muitas ve- baixo de modo que o sêmen possa escorrer
zes por dia durante a estação de monta. Os para o tubo de colheita. O operador experien-
bodes apresentam características seminais te pode alterar as condições da VA, assim como
similares porém não ejaculam tão frequente- a técnica da colheita de acordo com o compor-
mente como os carneiros. tamento individual de determinados
Cachaças e Garanhões. Estes animais ex- reprodutores.
pelem grande número de espermatozóides em A VA para garanhões deve ser maior do que
cada ejaculação e esgotam as reservas do a de outros animais domésticos para acomo-
epidídimo mais rapidamente. É melhor não dar o pênis vasculomuscular em ereção do
tentar colheitas de sêmen regulares com mais animal. Muitos tipos de VAs têm sido desen-
436 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

TABELA 20-2. Detecção do Cio e Técnicas de Inseminação


Espécies Detecção do Cio Técnicas de Inseminação
Bovinos Vacas ao ar livre são observadas bem cedo pela A inseminação é recomendada durante a imobilização
manhã e a tarde, todos os dias, notando-se a em um pilar ou no estábulo
imobilização quando montadas por outras va- Vacas de corte em cio são levadas para o curral e con-
cas. Vacas não..prenhes são observadas de ma- tidas em um tronco compressor durante a
nhã e a tarde durante 20 a 30 minutos para a inseminação
imobilização do cio O "estresse" deve ser evitado. O sêmen é depositado
na cérvice com auxílio de um espéculo
A técnica retovaginal é mais eficiente e mais usada
Manipulando-se a cérvice com a mão no reto, o ca-
teter de inseminação é inserido através dos anéis
anulares. Parte do sêmen é depositada através da
cérvice dentro do útero e o restante na cérvice en-
quanto o cateter é retirado
Com a palheta de inseminação são transferidos mais
espermatozóides para a vaca. O sêmen é deposita-
do vagarosamente para evitar perdas no cateter.
Um erro comum é penetrar além do corpo do útero
para dentro dos cornos uterinos
Ovinos Difícil de detectar. Carneiros vasectomizados com A ovelha é mantida com os membros posteriores sobre
substâncias marcadoras ou graxa colorida apli- um trilho ou em um tronco elevado durante a
cadas na parte inferior do peito ou contida em inseminação
um arreio. Mudar o carneiro e/ou a cor Um arranjo com plataformas giratórias e o insemi-
nador em um fosso pode inseminar mais de 100
ovelhas por hora. Este arranjo comporta uma pes-
soa para colocar a ovelha na plataforma, uma ou-
tra para inseminar e uma terceira para liberar a
ovelha
Inseminação com aUXIlio de um espéculo e uma fonte
luminosa permite a deposição do sêmen dentro ou
através da cérvice em vez de na vagina
Suínos O som, a visão e o odor de um macho vasectomi- A inseminação pode se dar sem contenção da porca
zado ou inteiro em um curral adjacente são para evitar perda de sêmen. Esfregando-se e pres-
medidas úteis. Porcas em cio focinham o sionando a parte posterior, a porca permanece cal-
cachaço e assumem uma postura rígida ma durante a IA
(lordose), suas orelhas ficam eretas quando A pipeta de inseminação é guiada para dentro da
montadas, ou similarmente quando as mãos cérvice porque a vagina continua-se diretamente
do operador são firmemente pressionadas em para dentro dela
sua porção posterior Não é possível passar o cateter para dentro do útero,
A vulva fica intumescida e avermelhada à medi- porém com o balão inflado, mais de 50 ml são força-
da que aumenta o fluxo sanguíneo. As porcas dos para dentro desse órgão
entram em cio 3-8 dias após o desmame da São necessários um grande volume de sêmen e alto
leitegada. A época do desmame é usada como número de espermatozóides
método de sincronização do cio

Equinos Éguas são rufiadas diariamente pelo garanhão em A égua é contida por peias, empurrada contra fardos
piquetes especiais de rufiação de feno ou anteparo de madeira, ou colocada em
As indicações de aceitação do garanhão são ele- um tronco de cobertura para proteger o inseminador
vação da cauda, afastamento das pernas, imo- A área ao redor da vulva é escovada antes da
bilização, micção frequente e contrações da inseminação para minimizar contaminação
vulva "piscando" Com uma luva de plástico, levemente lubrificada, o
braço é inserido dentro da vagina e o dedo indica-
dor é inserido na cérvice
O cateter de inseminação é guiado para dentro do úte-
ro para depositar 20 a 30 ml de sêmen puro ou di-
luído

volvidos (Fig. 20-4). Uma alça para manter garanhão. A VA é parcialmente preenchida
firmemente agarrada a VA é necessária por com água a fim de fornecer uma temperatura
causa do tamanho e do impulso vigoroso do de 45°C a 50°C. Um espaço com ar ligado a
lnseminação Artificial 437

uma válvula de expansão pennite a dilata- minação no prepúcio. Ondas sinoidais são
ção da mucosa quando o pênis penetra na VA iguais ou melhores do que ondas pulsáteis
e aumenta a pressão. Esta pressão e a fricção para a estimulação.
estimulam a ejaculação do garanhão. Quan- O excesso de material fecal deve ser remo-
do começam as pulsações na base do pênis, vido do reto nele inserindo-se o eletrodo lu-
características da ejaculação, a extremidade brificado ou a mão enluvada. A voltagem é
da VAcom o frasco de colheita deve ser abai- aumentada gradativamente, com períodos de
xada suficientemente para que o sêmen es- estimulação rítmica repetida alternados com
corra para dentro do frasco de colheita. A curtos períodos de descanso. É necessária cer-
ejaculação completa-se em cerca de 25 segun- ta experiência para conseguir a combinação
dos. Vaginas artificiais para colheita de sê- apropriada para ereção seguida de ejaculação.
men em coelhos são bastante usadas com ob- A secreção das glândulas sexuais acessórias
jetivos de pesquisas (Fig. 20-5). ocorre com voltagens mais baixas e a
Eletroejaculação. O estímulo elétrico é o ejaculação com voltagens mais altas. As amos-
método preferido, apenas quando os repro- tras de sêmen obtidas com eletroejaculador
dutores não podem ser treinados ou recusam geralmente são de maior volume com menor
servir na vagina artificial (frequentemente concentração de espermatozóides, porém a
em condições de campo); machucaduras e fertilidade e o número total de
enfennidades também podem tornar a mon- espennatozóides são equivalentes às amos-
ta impossível. Este método pode ser usado tras obtidas com a vagina artificial.
satisfatoriamente no touro, carneiro e bode, Os touros têm sido submetidos à
e é possível obter uma amostra de sêmen de eletroejaculação por um período de vários
volume reduzido do porco. Não é desejável anos sem qualquer efeito prejudicial aparen-
colher e usar sêmen de machos incapazes de te. Contudo, geralmente ocorre certa
servir porque provavelmente trata-se de um estimulação dos nervos motores com exten-
defeito genético. Eletroejaculadores portáteis são dos membros, de modo que um tronco de
de 110 volts ou que podem funcionar com um contenção com bom piso deve ser usado.
sistema de bateria de carro de 12 volts são Carneiros. O carneiro responde excepcio-
disponíveis com eletrodos de diferentes tama- nalmente bem à estimulação elétrica, e a res-
nhos para diferentes espécies animais. posta é mais rápida do que no touro. Reco-
Touro.Um aparelho retal com eletrodos em menda-se que os estímulos sejam aplicados a
fonna de anéis ou retos, ou mesmo eletrodos cada sete segundos com aumentos de 1 volt.
para serem colocados nos dedos pode ser usa- A ejaculação geralmente ocorre com 4 a 7 es-
do para proporcionar a estimulação elétrica. tímulos. O sêmen pode ser colhido com o car-
O pênis geralmente entra em ereção e o sê- neiro em pé ou deitado de lado sobre uma
men é coletado sem a possibilidade de conta- mesa. A glande do pênis deve ser levemente
segura com uma gaze estéril de modo que o
apêndice filiforme e a uretra sejam dirigidos
para dentro do tubo de colheita antes da
ejaculação para diminuir a perda de sêmen.
O volume de ejaculação é levemente superior
do que das amostras colhidas com vagina ar-
tificial e a concentração espermática é
correspondentemente mais baixa. Os bodes
podem ser tratados de maneira semelhante.
Cachaça. O eletroestimulador idealizado
Tubo de colheita ~ para carneiro pode também ser usado em por-
cos. Devido ao isolamento da gordura poderá
FIG. 20-2. Vagina artificial para touros em secção ser necessário aplicar 10 volts ou mais para
longitudinal para ilustrar a construção. iniciar a ejaculação. Isto resulta em descon-
438 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

FIG. 20-3.A,Vaginas artificiais montadas em uma estufa. B, Técnica adequada da colheita de sêmen de
touro com vagina artificial. C, Atingindo ereção e colheita de sêmen por eletroejaculação em touro. O
tubo de colheita de sêmen é protegido por um tubo maior com água aquecida. D, Colheita de sêmen de
varrão por pressão manual exercida em uma vagina artificial curta. E, Colheita de sêmen de garanhão.
O encarregado da contenção do garanhão segura o membro anterior para prevenir que a pessoa que
colhe o sêmen seja atingida. (Cortesia de B.w. Pickett.)
lnseminação Artificial 439

nis de modo que um auxiliar pode colher o


~.
sêmen com um mínimo de contaminação
bacteriana. O sêmen colhido desta maneira

u- usualmente apresenta uma menor concentra-


ção espermática do que as ejaculações obti-
das com a vagina artificial.

INSEMINAÇÃO DA FÊMEA

Uma alta fertilidade com inseminação ar-


tificial depende de (1) alta qualidade do sê-
men, (2) técnicas adequadas de descongela-
mento e de inseminação, (3) fêmeas hígidas
em boas condições de reprodução e (4)
inseminação no momento apropriado do ciclo
estral. Este último é extremamente importan-
te. Espermatozóides viáveis devem estar nas
proximidades do óvulo e capa.citados (pelo
menos na maioria das espécies) logo após a
ovulação. Em virtude da ovulação ser difícil
de detectar, a inseminação deve ser regulada
em relação ao cio (Fig. 20-7).

Detecção do Cio

A melhor indicação de cio é quando a fê-


mea se imobiliza ao ser montada pelo macho
ou por outras fêmeas. Todavia, esta prova com
frequência não é prática para inseminação
artificial. Vacas, cabras, porcas e éguas ciclam
FIG. 20-4. (Acima) Vagina artificial (modelo japo- a cada 20 ou 21 dias aproximadamente e as
nês modificado) para garanhões. (No meio) Tubo ovelhas a cada 16 ou 17 dias. Vários procedi-
grande de colheita provido de filtro para remoção mentos para detecção do cio são usados (Ta-
da porção gelatinosa. (Adaptado de Komarek et aI. bela 20-2).
(1965). J. Reprod. FerliI. 10, 377). (Abaixo) Outro Inquietação, mugidos e tentativas de mon-
tipo de vagina artificial para garanhões.
ta podem ser sintomas de que o cio se aproxi-
ma em bovinos leiteiros e de corte. Existem
forto e contrações do animal; por este motivo, muitos auxílios para a detecção do cio. Estes
recomenda-se um analgésico ou anestésico incluem dispositivos sensíveis de pressão co-
para imobilizar o cachaço. Usualmente obtêm- locados no posterior dos animais e que mu-
se um pequeno volume de sêmen. A técnica dam de cor quando um animal se imobiliza
não pode ser recomendada para o porco. A para a monta, a utilização de touros esterili-
eletroe-jaculação é utilizada em primatas não zados cirurgicamente carregando dispositivos
humanos (Fig. 20-6). para marcar as fêmeas que se imobilizam,
Método da Massagem. Caso não se dis- eletrodos eletrônicos, e o corrimento de muco
ponha de um eletroejaculador, a massagem claro da vagina. Muco avermelhado na cau-
das glândulas vesiculares através do reto pode da é uma indicação de que o cio ocorreu a 1
induzir o fluxo de sêmen no touro. A massa- ou 2 dias anteriores. Inclusive, vacas em cio
gem da flexura sigmóide também pode ser são mais ativas, e esta atividade pode ser
interessante para causar a protrusão do pê- monitorada por pedômetros colocados nas
440 Técnicas para Melhorar a Eficiéncia Reprodutiva

A
I_I

FIG. 20-5. A, Pele, vagina artificial, gel K-Ye outros equipamentos usados para colheita de sêmen e
inseminação artificial em coelhos. B, Um método de colheita de sêmen com uma vagina artificial empre-
ga uma pele de coelho, na qual o coelho monta. C, Segurando a vagina artificial dentro da pele de coelho.
D, Posicionando o coelho para uma injeção intravenosa em veia auricular: a garupa do coelho fica contra
um objeto firme e os olhos estão cobertos. Uma técnica simples para colher sangue da veia auricular. E,
Frasco com balão fervente de 500 ml modificado dentro de um reservatório a vácuo para colheita de
sangue. F, O reservatório a vácuo é colocado contra a cabeça do coelho; um tubo de centrífuga é adaptado
a ela. (E, F, De Hoppe et aI. (1970). Lab. Anim. Care.)
lnseminação Artificial 441

FIG. 20-6. A, Eletrodos retais usados para eletroejaculação de várias espécies de primatas. B, Eletrodos
retais mostrando eletrodos horizontais de anéis usados para eletroejaculação de babuínos. Estes podem
ser selecionados em qualquer combinação de dois utilizando a caixa de interruptores na parte superior
da figura, e eletrodos longitudinais. C, Eletroejaculação de um macaco usando um laço e faixas para
segurar o animal em uma posição conveniente. D, Eletroejaculação de um babuíno deitado de lado em
posição de extensão. E, Coágulo seminal de babuíno de um macaco rhesus mostrando uma massa amorfa
característica de coagulação após ejaculação e uma massa com a forma da uretra formada durante a
ejaculação. F, Sêmen colhido de babuínos mostrando uma fração líquida e dois tipos de coágulo. A massa
amorfa coagulada após ejaculação e os filamentos de coágulos formados durante a ejaculação. (A de
Fussel et aI. (1967). Lab. Anim. Care 17, 528; C e E de Roussel e Austin (1968). J. Inst. Anim. Tech. 19,
22).
442 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

Hora da Ovulação
porca ovelha vaca
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Horas antes do fim do cio - - Horas
após
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FIG. 20-7. Relação entre momento da inseminação e fertilidade na vaca, ovelha e porca.
- Vaca; porca; ovelha.

pernas. Odores podem ser detectados por cães vezes por dia e inseminar no mesmo dia to-
especialmente treinados. das as vacas observadas pela manhã. As va-
Devido à dificuldade de detecção de cio em cas observadas em cio à tarde deverão ser
grandes rebanhos, particularmente em climas inseminadas na manhã seguinte. Não existe
frios, um programa de regulação do ciclo o "melhor" momento precisamente definido.
estral pode ser vantajoso. Várias técnicas que Em bovinos, a ovulação ocorre cerca de 24
produzem uma alta sincronização e cios fér- horas após o pico da concentração de LH. As-
teis foram desenvolvidas; porém nem todas sim, o momento ótimo para a inseminação
as drogas utilizadas nestas técnicas foram está ao redor de 14 horas antes da ovulação.
aprovadas pela "Food and Drug Adminis- À ovulação segue-se a onda de LH ao redor
tration" para a utilização em bovinos nos Es- de 24 horas em novilhas injetadas diariamen-
tados Unidos. te com progesterona por 9 ou 18 dias.
Idealmente, a onda de LH precede a
Momento Ideal de Inseminação inseminação ao redor de 10 horas (Kazmer et
aI., 1981). A variação de tempo entre a ocor-
Os animais não devem ser inseminados rência do pico de LH, a hora da inseminação
após o parto até que o útero esteja totalmen- e o momento da ovulação ocorrem em animais
te involuído e as fêmeas estejam cicIando nor- não-tratados assim como naqueles sincroni-
malmente. Então, a inseminação próxima ao zados (Tabela 20-1 e Fig. 20-7).
momento da ovulação é importante. Conside- Na ovelha, a inseminação deve ser feita na
rando que a duração do cio e o momento da metade ou durante a segunda fase do cio.
ovulação são variáveis, é necessário dar uma Inseminações duplas durante o cio, particu-
variação de horários que produza resultados larmente com sêmen congelado, aumentam a
"ótimos". As vacas não devem ser inseminadas fertilidade. As cabras podem ser melhor inse-
antes de 50 dias após o parto para alcançar minadas cerca de 12 horas após o início do
os melhores índices de concepção; de outro cio, e deverão ser inseminadas novamente no
modo, mais inseminações por concepção se- dia seguinte se ainda estiverem no cio. As
rão necessárias. O índice de concepção é tam- porcas entram em cio cerca de 3 a 5 dias após
bém mais baixo quando as vacas são o parto, porém elas não ovulam neste cio e
inseminadas durante a primeira parte do cio. não devem ser cobertas. Elas entram em cio
Um procedimento prático é observar o cio 2 3 a 8 dias após o desmame e podem ser
Inseminação Artificial 443

FIG. 20-8. Técnicas de inseminação


artificial. A, Acima, Maneira erra-
da de segurar a cérvice na técnica
reto-vaginal de inseminar vacas.
Abaixo, Utilizando a técnica corre-
ta, é relativamente fácil depositar
o sêmen através da cérvice. (Copia-
do de Bonadonna, 1957. Nozioni di
Fisiophatologia della Reproduzione
::::;Ç
e di Fecondazione Artificiale degli
Animali Domestici. Milan, cortesia
de T. Bonadonna.) B, Fosso e tron-
co de contenção facilitando a
Cova abaixo do inseminação da ovelha. C, Compa-
A B nível do solo ração entre a deposição cervical do
sêmen na cobertura natural e
inseminação artificial da porca. As
setas indicam o fluxo do sêmen den-
"rn""'~'~~ tro do útero. D, Para a inseminação
de éguas o dedo indicador auxilia a
orientação do cateter, seguro pela

~
outra mão, dentro do útero.
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...;.""",."",., ",.,..,.",.,.,.""",.,.",.,..."""..:'>1.

.. Inseminação artificial
c D

inseminadas nesta época. Desde que as por- Frasco de


cas ovulam cerca de 30 a 36 horas após o iní- Cateter adaptado às
polietileno
pregas da cérvice
cio do cio, com rápida perda de fertilidade após
a ovulação, o melhor é inseminar seja mais
tarde no primeiro dia ou mais cedo no segun-
do dia do cio. Ganha-se uma vantagem de cer-
ca de 10% pela inseminação dupla, i. é, no
primeiro e no segundo dia do cio.
A inseminação da égua durante o primeiro
cio (cio do potro), cerca de 9 dias após o parto,
não é aconselhável porque o útero não está FIG. 20-9. Técnica geral de inseminação em suí-
completamente involuído e o índice de con- nos usando um cateter de borracha flexível e fras-
cepção é mais baixo. As éguas podem ser co de polietileno. A ponta espiralada é introduzida
na vagina e dentro dos anéis da cérvice com movi-
inseminadas no próximo cio cerca de 30 dias mento anti-horário, após o que o material é libera-
após o parto. Considerando que as éguas apre- do suavemente dentro do útero apertando-se o fras-
sentam um cio longo e variável, é melhor co. (De Hunter, R.H.F. (1982). Reproduction of
inseminar pelo menos dia sim dia não duran- FarmAnimals. NewYork, Longman.)
te o cio, a partir do segundo dia. Quando as
éguas são palpadas diariamente, a inse-
minação pode ser praticada para coincidir com A identificação da fêmea é a primeira provi-
a ovulação a qual precede o fim do cio de um dência. O registro reprodutivo deve ser con-
ou dois dias. ferido em relação à data do parto, coberturas
prévias são anotadas, e a inseminação atual
Procedimentos de lnseminação é registrada. Registros básicos de coberturas
são importantes para todas as espécies.
Vários procedimentos são aplicados para a O número de células espermáticas reque-
inseminação das várias espécies (Fig. 20-8). rido para um índice de concepção ótimo com
444 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

sêmen congelado é maior do que aquele com exames de saúde periódicos e seguir todos os
sêmen líquido. Os "pellets" requerem o mes- códigos de saúde.
mo equipamento de inseminação que as am- A região inferior dos reprodutores, parti-
polas. cularmente ao redor do prepúcio, deve estar
A gestação é uma possibilidade em uma limpa por ocasião da colheita do sêmen. Todo
vaca previamente inseminada, e assim o ca- o equipamento usado na colheita, no
teter não deve ser forçado dentro do útero; processamento e na inseminação deve ser lim-
aproximadamente 3 a 5% das vacas prenhes po e estéril. Traços das soluções de lavagem
mostram sintomas de cio. A utilização de um devem ser removidos por enxaguadura apro-
corante no dilui dor durante o treinamento de priada. Enxaguando-se as mucosas com água
técnicos em tratos reprodutivos e em vacas destilada fervente, seguida de álcool
normais para deposição nos locais específicos, isopropílico, elas tornam-se limpas e estéreis,
parece ser um método extremamente útil para e secam rapidamente antes de serem usadas.
melhorar a precisão de disposição do sêmen e Todo o material de vidro deve ser lavado cui-
a eficiência dos técnicos. dadosamente, enxaguado em água destilada
Em ovinos, osêmen diluído congelado deve e esterilizado em estufa a 150°C pelo menos
ser reconcentrado de modo que cerca de 200 por uma hora. Precauções sanitárias espe-
milhões de células espermáticas móveis se- ciais são necessárias para a colheita do sê-
jam inseminadas. Com sêmen não-congelado, men. A pessoa que colhe o sêmen deve usar
50 milhões de espermatozóides móveis são su- luvas de plástico descartáveis. O manequim
ficientes. Com tratamento de progestágenos deve ser coberto ou desinfetado entre as co-
em ovelhas para indução de cio em tempo sin- lheitas.
cronizado, as necessidades de número de Somente o sêmen de alta qualidade deve
espermatozóides pode ser até 1500 milhões ser processado para inseminação. Antibióti-
de células. Inseminações repetidas após 12 cos devem ser adicionados ao sêmen. O sê-
horas aumentam a fertilidade. men congelado deve ser examinado após o
Uma técnica de inseminação para IA em processo de congelação, descartando-se as
suínos está demonstrada na Figura 20-9. amostras de qualidade inferior. O sêmen pode
ser armazenado satisfatoriamente por longo
FATORES QUE AFETAM O ÍNDICE DE tempo quando mantido continuamente em
CONCEPÇÃO NA INSEMINAÇÃO nitrogênio líquido a -196°C. Contudo, a falta
ARTIFICIAL de nitrogênio líquido mesmo que por poucas
horas, pode resultar na completa destruição
A acurada avaliação da fertilidade é uma de um banco de sêmen.
importante parte de qualquer programa or- O manejo inadequado do sêmen durante a
ganizado de inseminação artificial. Os prin- estocagem também diminui a fertilidade. A
cipais fatores que determinam a fertilidade colocação de espermatozóides através da
em inseminação artificial são: (1) a fertilida- cérvice ou fazendo-se fluir células através dela
de dos reprodutores utilizados para fornecer (suínos) são medidas importantes. Habilida-
o sêmen, (2) o cuidado com que o sêmen é co- de e experiência são necessárias. A penetra-
lhido, processado e armazenado, (3) a habili- ção da cérvice de ovelhas e cabras é particu-
dade do técnico inseminador e (4) o manejo larmente difícil. A fêmea deverá estar em
das fêmeas. Os reprodutores devem ser cui- ótimas condições de reprodução e a detecção
dadosamente selecionados, isolados e prova- apropriada do cio são de extrema importân-
dos antes de serem aceitos nos centros de cria- cia. Mais de uma inseminação por cio aumen-
ção. Eles devem apresentar testículos ta o índice de concepção. Isto resulta da difi-
completamente normais, produzir sêmen de culdade de predizer a ovulação e praticar a
alta qualidade e serem livres de doenças. inseminação em momento apropriado.
Aqueles que fogem aos padrões devem ser As organizações comerciais de inseminação
descartados. Eles devem ser submetidos a artificial devem controlar a fertilidade e ava-
Inseminação Artificial 445

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(Legenda aparece na próxima página).


446 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

liar todos os fatores possíveis de contribui- ossos púbicos. O objetivo é induzir um refle-
ção. O ideal seria juntar informações comple- xo ejaculatório. Um recipiente adequado para
tas sobre os produtos nascidos, porém isto não o sêmen, béquer ou cilindro graduado é segu-
é prático. Um boletim útil quando todos os ro na palma da mão direita, deixando livres
serviços são comunicados é o registro de 60 a os dedos para executar os estímulos. Simul-
90 dias tabulado em uma base mensal. Dois taneamente, a mão esquerda inclina as pe-
meses após cada mês em que as inseminações nas da cauda e pressiona levemente a região
foram praticadas (que corresponde também do uropígio. Quando ocorre o reflexo
a cerca de 90 dias após o início daquele mês), ejaculatório, o polegar e o dedo indicador de
os registros de todas as vacas inseminadas ambas as mãos "ordenham" o macho até o
são conferidos para determinar que propor- desaparecimento do reflexo. Os dedos da mão
ção foi comunicada para reinseminação. Com esquerda são utilizados também para escoar
computadores seria praticável adotar um tem- a extremidade inferior dos vasos deferentes
po mais preciso, como o intervalo de 60 ou 75 para garantir completa ejaculação. Um apa-
dias. relho de sucção especialmente desenhado é
O diagnóstico de gestação pode ser obtido frequentemente utilizado para colher o sêmen
por palpação dos órgãos reprodutivos pelo reto diretamente do órgão copulador masculino
em vacas e éguas, pela avaliação da para uma garrafa térmica mantida de 10 a
progesterona no leite em vacas e cabras, por 15°C.
uma prova imunológica no sangue em éguas O intervalo entre a ejaculação e a inse-
e por determinação de ultra-som em ovelhas minação não deve exceder a 30 minutos. Os
e porcas. As informações sobre o tamanho da espermatozóides permanecem imóveis en-
leitegada em suínos também são importan- quanto nos duros excurrentes do macho, po-
tes. rém em contato com o ar, imediatamente eles
tornam-se extremamente agitados. Esta úl-
tima atividade envolve tanto processos
INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL EM AVES oxidativos quanto glicolíticos, levando a uma
rápida exaustão química do substrato em que
O macho deve ser contido sobre uma su- vivem os espermatozóides. Caso sejam utili-
perfície de suporte por um operador, seguran- zados diluidores, geralmente estes são adicio-
do a ave pelas pernas, imobilizando as asas nados logo antes da inseminação. Um diluidor
para bflixo para impedir agitação. O opera- prático consiste de solução fisiológica a
dor estimula então o macho com a mão direi- 1,025% tamponada a pH 7,0 a 8,0. Os melho-
ta massageando ritmicamente a porção cau- res resultados são obtidos quando diluído 1:1
dal extrema do corpo da ave logo abaixo dos com o sêmen.

FIG. 20-10. A, Tumescência fálica conseguida por suave massagem do abdômen com uma mão enquanto
simultaneamente o posterior inferior e penas da cauda são alisados com a outra mão. As mãos do técnico
estão posicionadas para um "alisamento cloacal". B, Durante o "alisamento cloacal" o polegar e dedos
indicador e médio da mão superior friccionam suavemente a cloaca com pressões para baixo e para
dentro enquanto a mão mais baixa exerce leve pressão para cima. O sêmen que surge na ranhura do
aspecto medial do falo, é colhido dentro de um frasco limpo. Para minimizar a chance de disseminação de
doenças venéreas, o pessoal envolvido na colheita deve evitar contato com o falo. C, O orificio vaginal é
exteriorizado para a inseminação por uma técnica referida como "fenda" ou "abertura". A pressão manu-
al ao redor (sem tocar) da cloaca provoca a eversão da vagina. D, E, Um número predeterminado de
espermatozóides contido na palheta de inseminação é inserido gentilmente dentro da vagina até sentir
resistência (2 a 4 em). A pressão manual ao redor da cloaca é diminuída à medida que o inseminador
libera o sêmen dentro da vagina. (Fotografias por cortesia do Dr. M.R. Bakst). Estes procedimentos são
usados quando um número relativamente pequeno de galinhas é inseminado. Equipes de inseminação
artificial comercial com equipamentos mecanizados podem inseminar 1000 peruas por homem/hora, e a
fertilidade é mantida acima de 90% durante uma estação de produção de ovos de 22 semanas.
Inseminação Artificial 447

As dosagens para inseminação variam de medida visa impedir que o sêmen seja expeli-
acordo com as espécies. Existe uma relação do para fora com a retração da vagina.
inversa entre a concentração de esperma- Uma vez iniciada, a IA deve ser repetida
tozóides no sêmen e a dosagem requeri da. em intervalos semanais na galinha e a cada
Dosagens para inseminação com sêmen não- 2 a 3 semanas na perua. Quando as galinhas
diluído para galinha - 0,1 ml; para a perua- em período de intensa postura são
0,05 ml; para a pata - 0,3 ml e para a gansa - inseminadas artificialmente com esperma-
0,05 ml. tozóides altamente funcionais, elas irão bo-
A ave, contida na mão esquerda do opera- tar o primeiro ovo fértil 48 horas após a
dor, é induzida a revirar o oviduto por gentil inseminação. Alguns detalhes da IA em pe-
pressão com as palmas de ambas as mãos nas ruas são mostrados na Figura 20-10.
regiões doacal e visceral. Somente as aves em
tempo de postura respondem facilmente a
este tratamento. Quando a extremidade in- REFERÊNCIAS
ferior da vagina ficar exposta, uma seringa Hunter, RH.F. (1982). Reproduetion of Farm Ani-
contendo o sêmen é rapidamente inserida a mais. London, Longman.
uma profundidade de cerca de 3 cm, deposi- Ji(:azmer, G.W., Barnes, M.A. and Halman, RD.
tando-se o sêmen. Antes da retirada da se- . (1981). Endogenous hormone response and fer-
tility in dairy heifers treated with norgestomet
ringa, a pressão sobre o abdômen é relaxada and estradioi valerate. J. Anim. Sei. 53, 1333~
para permitir a retração do oviduto. Esta 1340.
21
ESPERMATOZÓIDESPORTADORES
DE CROMOSSOMOS X E Y
E.S.E. HAFEZ

As fêmeas dos animais possuem dois te os cromossomos através de técnicas de


cromossomos sexuais similares (X e X), en- cariotipagem (Forsling, 1984).
quanto que os machos apresentam dois
cromos somos sexuais diferentes (um Este capítulo transmite quatro conceitos:
cromossomo X e outro menor, o cromos somo
Y). Os gametas (óvulo e espermatozóide) são 1. Diferenças morfológicas, fisiológicas,
células haplóides que contêm o cromos somo biofísicas e imunológicas entre os
X ou o cromos somo Y. Células somáticas espermatozóides X e Y
diplóides de fêmeas (sexo homogamético) con- 2. Fatores que afetam a proporção sexual
têm um par de cromossomos X, porém as cé- primária e secundária
lulas somáticas de machos (sexo heteroga- 3. Técnicas para a separação dos
mético) possuem cromos somos sexuais XY. O espermatozóides X e Y baseadas na
sexo genético é determinado na trompa no mo- avaliação estatística válida dos resul-
mento da fertilização, e o sexo dos descenden- tados
tes é determinado pelo cromos somo sexual 4. Tentativas para alterar a proporção se-
dentro do espermatozóide. xual utilizando espermatozóides "se-
Extensas investigações têm sido feitas so- xuados"
bre a pré-seleção e completa separação dos
espermatozóides X e Y antes da inseminação BIOLOGIA DOS ESPERMATOZÓIDES
artificial (IA). O sexo dos descendentes pode
também ser predeterminado em embriões Quando os espermatozóides são transpor-
oriundos de transplante nuclear diplóide e tados através do trato reprodutivo feminino,
haplóide em óvulos recipientes, ativação eles sofrem a capacitação para adquirir seu
partenogênica de óvulos ou fusão de dois potencial fertilizante. Os espermatozóides li-
oócitos. Diferentes técnicas citogenéticas e beram e/ou adquirem várias micromoléculas
citológicas são empregadas para examinar as e macromoléculas em seu plasmalema à me-
células diplóides em adequado estágio de fer- dida que migram através das secreções vagi-
tilização para diagnosticar o sexo genético do nais, muco cervical, secreções endometriais e
embrião. Por exemplo, a microscopia de fluidos da trompa e peritoneais.
fluorescência é utilizada para detectar a pre- O grau de maturação e a idade dos
sença de um cromos somo Y. A análise espermatozóides em uma ejaculação pode in-
cromossômica é feita em culturas de leucócitos fluir na densidade. O volume compacto celu-
ou células fetais para estudar individualmen- lar dos espermatozóides de bovinos é acen-

448
Espermatozóides Portadores de Cromossomos X e Y 449

tuadamente afetado pela osmolaridade do Plasmalema Espermático


meio. Espermatozóides vivos de touro coloca-
dos em uma solução salina hipo-osmótica au- O plasmalema externo tem características
mentam em três vezes seu tamanho normal. diferentes em diversas partes dos esperma-
Espermatozóides mortos não aumentam de tozóides. Os espermatozóides X e Y apresen-
tamanho nem reagem osmoticamente. tam diferentes características superficiais na
Espermatozóides vivos colocados em meio espermiação do epitélio germinativo. Exami-
hiperosmótico contraem-se a partir de um nando-se espermatozóides ejaculados, tais
volume de 25 ~m3 para 20 ~m3. diferenças podem ser mascaradas pelos com-
ponentes absorvidos do plasma seminal.
Citogenética dos Espermatozóides X e Y
Cariotipagem de Espermatozóides
Existem muitas diferenças potenciais en-
tre os espermatozóides que contêm os A distinção dos espermatozóides X e Y ba-
cromossomos X ou Y (Tabela 21-1). Os seada na fluorescência do cromos somo Y é
cromos somos sexuais são responsáveis por facilitada por (a) coloração dos esperma-
quaisquer diferenças no conteúdo de DNA. A tozóides com quinacrina, que causa fluores-
presença de um cromossomo X ou de um cência no braço comprido do cromossomo Y e
cromos somo Y (Fig. 21-1) pode provocar uma (b) uma mancha fluorescente (corpo F), que
diferença de tamanho e forma do aparece em 39 a 47% dos espermatozóides em
espermatozóide, em seu peso, densidade, esfregaços corados com quinacrina. Técnicas
motilidade (tipo e velocidade), carga superfi- de bandeamento são recomendadas: métodos
cial, bioquímica superficial e bioquímica in- da banda G e da banda Q. Tais métodos per-
terna (Foote, 1982a,b). O grau de diferença mitem a identificação acurada dos
pode também ser afetado por outros fatores cromossomos individuais. A coloração dos
como a idade do sêmen, repetições de cio (pos- cromossomos é feita com uma mistura de
sível mortalidade embrionária diferencial) e Giemsa.
utilização de touros nascidos gêmeos de novi-
lhas (com leucócitos XX circulantes). TÉCNICAS DE SEPARAÇÃO
Existem variações de espécies na massa ESPERMÁTICA
diferencial dos cromossomos X e Y.A presen-
ça de grandes cromossomos X pode resultar As técnicas utilizadas para separar esper-
em maior peso e densidade do espermatozóide matozóides estão discutidas na Tabela 21-2.
portador do X se o tamanho e outros consti- Tentativas experimentais têm sido dificulta-
tuintes são os mesmos. das pela falta de testes laboratoriais para

TABELA 21-1. Algumas Diferenças entre os Espermatozóides X eY


Parâmetro Diferença Avaliação
DNA Menos no espermatozóide Y Mensurável e aceito
Tamanho Espermatozóide X é maior O espermatozóide Y medido pode ou não ser
representativo da população espermática ao acaso
Identidade Cromossomo Y fluoresce Espécie específico
Motilidade Espermatozóide Y mais rápido Evidência primariamente dependente da acurácia da
técnica de coloração do corpo F
Carga superficial Espermatozóide X migra para Sem diferença de carga entre os espermatozóides X e Y
o catado

(De Ericsson, RJ., e Glass, RH. (1982). Functional differences between sperm bearing the X- or Y-
chromosome. In Prospects for Sexing Mammalian Sperm. RP. Amann and G.E. Seidel, Jr. (eds.). Boulder,
Colorado University Associated Press.)
450 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiua

de (sedimentação ao nível onde gravidades es-


pecíficas de espermatozóides e o meio são
iguais). Estas técnicas empregam a simples
gravidade ou centrifugação e são baseadas na
lei de Stoke de sedimentação de uma esfera
rígida através de um líquido fluido viscoso,
incompressível, em baixo número de Reynolds
(condições não-turbulentas). A agregação de
células no tampão é avaliada, e a concentra-
ção escolhida na qual a agregação é desprezí-
vel.
Apenas dois métodos de laboratório para a
separação de espermatozóides X e Y animal e
humano parecem válidos, reproduzíveis e cli-
nicamente aplicáveis: separação de albumina,
que separa 75 a 80% de espermatozóides Y e
a filtração em Sephadex, que separa 70 a 75%
de espermatozóides X (Beernink, 1986). A
separação de espermatozóides X e Y é basea-
da no seguinte:

~'
~ 1. Diferenças no peso, densidade e tama-
nho dos cromos somos X e Y como re-
sultado de diferenças no tamanho de
diferentes componentes dos
Espermatozóide Bucal Sangue
espermatozóides.

B \
FIG. 21-1. A, Esfregaço corado de cromossomos
2. Diferenças na expressão haplóide dos
cromossomos X e Y como resultado de
diversidades na natureza dos compo-
em metáfase mitótica para revelar a banda G. A,
cromossomos de uma fêmea XY". A flecha grande nentes espermáticos: alocação defeituo-
mostra o X e a pequena o cromossomo yX (De sa (não-disjunção) dos cromossomos
Eicher, E.M., 1982, Primary sex determining genes sexuais seja nos gametas ou após ferti-
in mice. In Prospects for Sexing Mammalian lização, para produtos precoces
Sperm. RP. Amann e G.E. Seidel, Jr. (eds). Boulder,
de clivagem, que resultarão em indiví-
Colorado, University Associate Press.) B, localiza-
duos com células somáticas contendo
ção do corpo Y em tipos celulares. Células bucais:
o corpo Y é usualmente encontrado em qualquer apenas um único cromossomo X
local dentro do núcleo. Células sanguíneas: corpo (XO) (YO é letal) ou um cromos somo X
Y linfócito geralmente encontrado próximo à peri- extra ou Y (XXX, XXY ou XYY).
feria do núcleo, aparece em forma crescente.
Espermatozóide: corpo Y usualmente encontrado
em posição equatorial dentro da cabeça do Separação em Camada sobre Colunas de
espermatozóide (Lueck e Zaneveld, 1977). Albumina

avaliar o grau de separação espermática. A Quando o sêmen é espalhado sobre colu-


presença do corpo- F parece estar associada nas de albumina, números crescentes de
com o cromos somo Y (Fig. 21-1). espermatozóides Y são recuperados das ca-
A maior parte das técnicas empregadas madas de albumina. Alíquotas de sêmen de
para a separação espermática é baseada na 0,5 ml (diluído 1:1 em solução de Tyrode) são
sedimentação não-equilibrada (baseada na distribuídas por 1 hora sobre uma solução a
velocidade de queda) ou na sedimentação 7,5% de albumina sérica em uma coluna de
equilibrada sobre um gradiente de densida- vidro (8 x 75 mm). A camada inicial de
Espermatozóides Portadores de Cromossomos X e Y 451

TABELA 21-2. Técnicas Empregadas para Separar Cromossomos Portadores de


Espermatozóides XeY
Técnicas Resultados

Sedimentação de espermatozóides Inseminação com espermatozóides que sedimentaram a maior


imobilizados no meio distância produzindo 70% de fêmeas

Leite desnatado em pó, glicina, citrato de Aumento do número de descendência masculina quando
sódio, glicerol espermatozóides das camadas superiores foram utilizados
Coluna de albumina Resultados com sucesso com sêmen congelado de bovino pré-
selecionado na coluna de albumina antes da criopreservação

Velocidade de sedimentação Índice de sedimentação depende do tamanho, densidade e forma


dos espermatozóides
Diferença do tamanho celular é fator predominante na separação
de tipos. A forma usualmente é o último fator importante
As cabeças espermáticas possuem formas extremamente
esféricas

Centrifugação através de gradientes de Espermatozóides separados de acordo com a sedimentação por


densidade centrifugação através dos gradientes de densidade, desde que
a densidade do material gradiente é menor do que a dos
espermatozóides. A vantagem é que o tempo necessário para a
separação é muito mais curto. O tempo mais curto não
melhora a resolução teórica da separação porque a difusão é
insignificante

Motilidade e separação eletroforética Espermatozóides imóveis são atraídos ao ânodo em pH neutro.


Quando a separação eletroforética está sob condições
consistentes com a motilidade espermática, os
espermatozóides migram ao cátodo. Os espermatozóides são
orientados pelo campo elétrico e nadam em direção à
orientação da cabeça. Se carregados negativamente, os
espermatozóides podem ser orientados de modo que a cauda
se orienta ao ãnodo em virtude de sua maior densidade de
carga negativa e sua motilidade intrínseca é maior do que a
mobilidade eletroforética

Foco isoelétrico Separação executada em colunas com o fluido estabilizado


usando gradientes de densidade
Espermatozóides dispostos em camadas, ou suspensos, esta
solução migra eletroforeticamente até atingir um ponto
isoelétrico

Antígenos H-Y Espermatozóides tratados com anti-soro H-Y. Inseminação com


espermatozóides de rato tratados com anti-soro a um antígeno
de histocompatibilidade ligado a Y produziram 45,4% de
machos comparados a 53% dos controles

Escolha pelo fluxo do conteúdo de DNA A escolha de Y apresenta 72-80% de sucesso. Desvantagens:
baixo nível de classificação e falta de viabilidade espermáica
após a escolha

Coluna de Sephadex Cerca de 70% de espermatozóides X encontrados em certas


frações do filtrado quando os espermatozóides foram colocados
na extremidade superior de uma coluna de Sephadex
65-85% de espermatozóides x foram encontrados em certas
frações do filtrado

(Dados de Beernink, 1984; Bennett and Boyce, 1973; Bhatacharya et aI., 1966; Corson et aI., 1984;
Ericsson and Glass, 1982; Hafs and Boyd, 1971; James, 1980; Meistrick, 1982; Moore and Hibbitt, 1975;
Pinkel and Gledhill, 1982; Sherbet et aI., 1972.)
452 Técnicaspara Melhorar a Eficiência Reprodutiva

espermatozóides é então removida com 5. Evitar intersexos nos nascimentos múl-


pipeta, a albumina centrifugada a 2.800 a tiplos.
3.200 rpm por 10 minutos e o disco A seleção sexual em equinos fornece mais
espermático é ressuspenso em solução de progênie para venda ou para reposição de
Tyrode. Os espermatozóides ressuspensos são éguas reprodutoras. Uma boa fertilidade de
então colocados sobre uma coluna de espermatozóides sexuados é importante com
albumina sérica de dupla camada. Depois de finalidade comercial. O nível de fertilidade
uma hora, a camada espermática é removi- deve também ser considerado quando da de-
da, e passada outra meia hora, é removida a terminação de quantas coberturas são neces-
camada a 13%. A albumina sérica a 20% é sárias para produção do número desejado de
então centrifugada por 10 minutos e o disco progênie sexuada. O número de inseminações
espermático é ressuspenso em 0,25 ml de so- necessário para obter uma taxa acurada de
lução de Tyrode, que é então inseminado no habilidade reprodutiva de bovinos não é pre-
útero (Beernink e Ericsson, 1982). cisamente conhecido (Foote e Oltenacu, 1980).
Várias milhares de inseminações são neces-
Citometria de Fluxo e Escolha sárias para avaliar a verdadeira eficiência
reprodutiva dentro de uma pequena porcen-
Com citometria de fluxo, medidas de alta tagem de pontos.
velocidade de componentes e propriedades de
células individualmente são feitas em uma PESQUISAS FUTURAS
suspensão líquida. O laser é utilizado para
iluminação monocromática de células coradas São necessárias pesquisas adicionais nas
com corantes fluorescentes. Detectores lumi- seguintes áreas:
nosos amostram a fluorescência produzida
pela interação da luz com o corante e produ- 1. Motilidade espermática: Isolamento
zem sinais elétricos proporcionais à intensi- próprio dos espermatozóides baseado
dade da luz fluorescente de cada objeto. Esta em diferentes motilidades progressivas.
técnica é útil na avaliação do grau de separa- 2. Dimensões ou densidade espermáticas:
ção necessário para produzir populações Células migrando através de um dis-
enriqueci das em espermatozóides X ou Y positivo suficientemente sensível para
(Foote, 1982 a, b). detectar diferenças de minutos.
3. Citogenética espermática: Produtos
químicos ou reação imunológica capa-
Aplicação Prática zes de selecionar o conteúdo sexual do
cromossomo.
A seleção sexual nos animais domésticos é 4. Ambiente espermático: Condição
utilizada com vários propósitos: hormonal ou química resultando na pe-
1. Produzir mais progênie feminina de fê- netração do óvulo por um
meas superiores para reposição de re- espermatozóide X ou Y (Ericsson e
banhos bovinos e ovinos, aumentando Glass, 1982).
a produção de leite, carne e peles. 5. Procura de rearranjos cromossômicos
2. Produzir mais machos para a produção robertsonianos que inclui um
de carne de fêmeas descartadas e es- cromossomo sexual: A avaliabilidade
quemas de cruzamentos, p. ex., cruza- de tais cromossomos pode facilitar es-
mentos entre raças leiteiras e de corte. quemas específicos de reprodução ava-
3. Assegurar progênie masculina como liáveis para a seleção a favor ou contra
reprodutores, resultantes de pais e uma fêmea ou macho.
mães superiores. 6. Detecção de um sistema t-like associa-
4. Assegurar progênie apropriada nos tes- do com uma translocação robertso-
tes de progênie de touros jovens. niana. ~
Espermatozóides Portadores de Cromossomos X e Y 453

7. Sexuagem citogenética de células iso- pects for Sexing Mammalian Sperm. RP. Amann
ladas de um embrião e transferência do and C.E. Seidel,Jr. (eds.).Boulder, Colorado Uni-
versity Associated Press.
embrião selecionado após curta cultu- Foote, RH. (1982b). Prospects for sexing: present
ra in vitro. status, future prospects and overall conclusivos.
8. Seleção dos últimos fetos após diagnós- In Prospects for Sexing Mammalian Sperm. RP.
tico pré-natal nas células amnióticas. Amann and C.E. Seidel,Jr. (eds.).Boulder, Colo-
fado University Associated Press.
9. Imunosseleção de embriões. Foote, RH., and Oltenacu, E.A.B.(1980). Increasing
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Foote, RH. (1982a). Functional differences between the surface of cells using natural pH gradients.
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~
22
DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO
M.R JAINUDEEN e E.S.E. HAFEZ

o reconhecimento do estado de gestação ou cie, estágio da gestação, custos, precisão e


não de um animal represeQta considerável rapidez do diagnóstico.
valor econômico. Geralmente, o diagnóstico
precoce da gestação é requerido logo após a MÉTODOS CLÍNICOS DE DIAGNÓSTICO
cobertura ou inseminação para identificação DE GESTAÇÃO
o mais cedo possível dos animais não-gestan-
tes de modo que o tempo de produção perdido Os métodos clínicos dependem da detecção
em função de infertilidade possa ser reduzi- do concepto - feto, membranas fetais e flui-
do com tratamento adequado ou descarte. O dos fetais. Os métodos incluem exame retal,
diagnóstico de gestação também é necessário radiografia e técnicas de ultra-som.
para emissão de certificados de animais colo-
cados à venda com finalidades de seguro, para Exame Retal
a redução de gastos em programas de repro-
dução utilizando técnicas hormonais caras e O exame retal é o método de escolha para
para ajudar no manejo econômico da produ- o diagnóstico de gestação em vacas, búfalas e
ção animal. éguas. Nesta técnica, o útero é palpado atra-
Durante a gestação, o concepto inibe a re- vés da parede retal para detectar o aumento
gressão do corpo lúteo (CL) e impede o retor- uterino que ocorre durante a gestação, o feto
no do animal ao cio. Por este motivo, um ani- ou as membranas fetais (Fig. 22-2, Tabela 22-
mal que não repete o cio, é tido como prenhe. 1). Esta técnica, que pode ser executada em
Este conceito é extremamente utilizado por um período precoce da gestação, é precisa e o
fazendeiros e centrais de inseminação artifi- resultado é conhecido imediatamente.
cial (IA) como indicativo de gestação, porém Devido à pequena cavidade pélvica, a ove-
a credibilidade do método depende da lha e a porca não são adequadas para a ex-
acurácia de detecção de cio no rebanho. Tan- ploração retal dos conteúdos uterinos. As ar-
to o anestro, quanto o cio durante a gestação, térias uterinas médias, particularmente em
podem também afetar a confiabilidade deste porcas multíparas, contudo, são facilmente
método. acessíveis à palpação pela parede retal. A
Métodos clínicos e de laboratório são dis- detecção de um frémito em uma ou ambas as
poníveis para o diagnóstico de gestação (Fig. artérias é um teste rápido e simples de gesta-
22-1). A escolha do método depende da espé- ção na porca a partir do 28' dia. Uma técnica

454
Diagnóstico de Gestação 455

técnicas de diagnóstico
de gestação l

clínicas
~ ~ laboratoriais

palpação retal imunológicas


hormônios
ultra-som FIG. 22-1. Técnicas de diagnós-
fator de gestação precoce (?)
efeito Doppler proteínas associadas à tico de gestação em animais do-
som de eco gestação (?) mésticos.
modo-A
modo-B tempo real biópsia
vagina
radiografia (?)

c;
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FIG. 22-2. Esquerda. Diagnóstico


de gestação na vaca por palpação
retal no 70Qdia (A), 90Qdia (B) e
llOQ dia (C). (Copiado de Arthur,
E 1964. ln Wright's Obstetrics.
London, Bailliere, Tindall & Coxo)
Direita. Diagnóstico de gestação na
égua no 40Qdia (D) e 60Q dia (E).
Notar o tamanho e posição do cor-
no uterino prenhe.

de palpação reto-abdominal tem sido utiliza- porcas. Ela baseia-se na identificação do es-
da na ovelha. queleto fetal sobre uma chapa de raios-X.
Dentre as desvantagens deste método está o
Radiografia fato de que ele pode ser aplicado apenas du-
/ rante o terço final da gestação, além de ser
A radiografia pode ser empregada para a caro e necessitar de contenção, e representar
detecção da gestação em ovelhas, cabras e risco de radiação para o operador.
456 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiua

Ultra-sonografia

As ondas ultra-sônicas são inaudíveis ao


ouvido humano e operam a uma frequência T MODO-A
de 1 a 10 megahertz (MHz). Dois tipos de
ultra-som são empregados na medicina hu-
mana e veterinária: o fenômeno Doppler e o
princípio pulso-eco.
Fenômeno Doppler. No fenômeno
. !.j MODO - B
Doppler, as ondas sonoras que penetram em
um objeto em movimento são refletidas à fonte
transmissora com uma frequência levemen-
te alterada. O detector do pulso fetal ultra-
sônico que é baseado no fenômeno Doppler FIG. 22-3. Dispositivos de modo-A e modo-E. Um
consiste de um transdutor e um amplificador. modo-A (amplitude) é formado movendo-se o fa-
O transdutor (eletrodo) quando aplicado na cho eletrônico (E) ao longo do eixo y proporcional
parede abdominal do animal ou inserido den- ao sinal de força, e distância ou tempo (1') ao longo
tro do reto, emite um feixe de luz estreito de do eixo x. O dispositivo modo-B modula a intensi-
dade do facho em proporção ao sinal de força po-
ondas de alta frequência (ultra-sônicas). Os rém mantém distância sobre o eixo x. Os números
movimentos do coração fetal ou o fluxo san- mostram sinais correspondentes do modo-A e
guíneo da circulação fetal (vasos umbilicais) modo-E. (De Powis, RL. (1986). Ultrasound science
ou materno (artéria uterina) alteram a for the veterinarian. In Veto Clin. North Am.
frequência destas ondas, que são refletidas Equine Pract. 2, 3-27.)
para trás ao eletrodo, onde se convertem em
som audível e amplificados (fones de orelha

TABELA 22.1. Diagnóstico de Gestação na Vaca, Búfala e Égua por Palpação Reta!
Mês da
Animal Gestação Principais Achados
Vaca Primeiro Útero quiescente e um corpo lúteo completamente desenvolvido em um ovário.
Búfalat Segundo* Aumento e formação de bojo dorsal do corno prenhe devido aos líquidos fetais;
aplicando pressão digital há uma sensação elástica. "Deslizamento
da membrana fetal" ou palpação do alantocórion; vesícula amniótica presente
anteriormente ao ligamento intercornual.
Terceiro* Começa a descida do útero; deslizamento da membrana fetal presente e o feto é
palpável.
Quarto ao Sétimo Útero no assoalho abdominal, feto difícil de palpar; cotilédones com 2 a 5 cm de
diâmetro, palpáveis como áreas circunscritas na parede uterina; as artérias
uterinas médias se hipertrofiam e o pulso passa a ter um frêmito distinto.
Do sétimo ao final Cotilédones, frêmitos e porções fetais palpáveis.
Égua Primeiro Cérvice contraída e firme; cornos uterinos túrgidos.
Segundo* A vesícula corioalantóide (tamanho de uma laranja) projeta-se ventralmente no
terço inferior do corno uterino; os cornos uterinos são túrgidos.
Terceiro A vesícula corioalantóide cresce rapidamente e desce para o corpo uterino,
modifica-se de esférica para oval e a tensão é gradativamente perdida. O útero
começa a descer.
Quarto A superfície dorsal do útero é sentida como uma cúpula distendida entre os
ligamentos largos estirados. Feto e/ou porções fetais palpáveis.
Quinto ao Sétimo O útero repousa profundamente na cavidade abdominal. Geralmente é possível
palpar o feto, com exceção em éguas pluríparas.
Sétimo ao final Feto mais fácil de palpar. O útero começa a subir.

* Período em que a gestação pQde ser precisamente diagnosticada.


t Os achados ocorrem mais tarde do que na vaca em virtude do período de gestação mais longo.
Diagnóstico de Gestação 457

ou alto-falante) ou ainda iluminados TRANSDUTOR

(osciloscópio). L..I
Ultra-som Pulso-Eco. As pulsações do ordão ,
ultra-som, geradas por cristais piezoelétricos longo(3 Tecido
metros) l!j:rrir :
em um transdutor, ao contatarem tecidos de
l,'!II:i'lo 'o J
várias impedâncias acústicas (resistência à I
I Console
transmissão) são refletidas (fazem eco) ao I
I
I
transdutor, e então convertidas em energia I
I ,r
elétrica e manifestadas sobre um osciloscópio :'--- Pulsador Regulador de TV ecoo
I
I
de raio cátodo em várias direções. Os modos
A e B são as formas básicas correntemente
,,
I
I
,
Receptor
.\ J
I
em uso (Fig. 22-3). O modo-A (amplitude) é L--_- Conversor
um dispositivo unidimensional de amplitude -'\/'v-J\J\r r digital da
.. exposição
de eco versus distância, enquanto que o modo Botões de roatrole

B (brilho) produz uma imagem bidirecional Total


Campo
distante
precisa de corte transversal de tecido mole. A Campo próximo

.
O brilho dos pontos no osciloscópio é projeta- ~-
do em várias sombras de coloração --~.~
acinzentada, comparáveis a fotografias em
preto e branco. Se estas imagens forem pro-
:6V:1
duzidas e extinguidas em rápida sucessão,
elas revelarão qualquer movimento no tecido
ReWri~..-!~~:~,":~
5a ~\l'I~~ -- " '
:'
'

~~
,:!~~
'.'.'
""
'

-
submetido ao processo. Esta é a base do modo-
~j: 1
, "
, '." "
,
',',
,
B para exposição de uma imagem "no tempo
real".
Ultra-som de Tempo-Real Modo-B. O
~~
Feixe
direcioaal
---': ,:'o
:,
,, ,

. ",',
,, ,

'
I
):
""'
"

""'",'
.:. --
ultra-som de tempo-real modo-B, desenvolvi- seguido pelo:
(trajeto :
I I Direçao
. da roclução I
' sequeuCl al Pdo feixe:
do na década de 1970 para o diagnóstico de
gestação e anormalidades fetais em medici- pulso) :: direcioaal I:
na humana, foi aplicado com sucesso para o B :: ::
10
,

diagnóstico precoce de gestação da égua cer-


ca de 10 anos depois. Desde então, a técnica FIG. 22-4. A. Componentes básicos do seletor ele-
trônico de ultra-som; um gerador de pulsação,
tem sido extensivamente usada em haras e
transdutor, um conversor de exploração e um dis-
na indústria de ovinos e a uma limitada ex- positivo de vídeo. B. Desenvolvimento de uma ima-
tensão em cabras, porcas e vacas. A tecnologia gem móvel de um feto bovino de 48 dias por ultra-
do diagnóstico por ultra-som proporciona um sonografia transretaI. (De Pierson et aI. (1988).
Theriogenology 29,3-20.)
meio rápido e não-invasivo de detecção de pre-
nhez, além da estimativa do número de fetos,
viabilidade e sua idade em ovelhas e outras
espécies domésticas.
A base física e o princípio diagnóstico da elétrico, um transdutor, um conversor de ex-
ultra-sonografia foram revisados por outros positor de imagem, e um dispositivo de vídeo
autores (Pierson et aI., 1988; Powis, 1986; (Fig. 22-4). Um pulsador elétrico de alta vol-
Taverne e Willemse, 1989). Esta discussão tagem de poucos microssegundos faz com que
fornece uma breve visão dos equipamentos o transdutor piezoelétrico vibre e converta a
básicos, técnicas e imagens de tempo-real da energia elétrica em mecânica (ultra-som). O
ultra-sonografia para diagnóstico de gestação reflexo destas ondas (ecos) das superfícies dos
em animais domésticos. tecidos ao atingir o transdutor produz um si-
Os principais componentes de uma máqui- nal elétrico que é processado por um conversor
na de ultra-som são um gerador de pulsação de expositor e projetado no monitor do vídeo.
458 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

Dependendo dos padrões de exposição que fetais aparecem escuros; o esqueleto fetal,
eles produzem, os transdutores são de dois branco; e as membranas fetais e tecidos ma-
tipos. Um transdutor linear produz uma ima- ternos, em várias sombras de cinza.
gem retangular, enquanto que o transdutor Égua. A técnica de tempo-real modo-B ofe-
de setor produz uma imagem setorial similar rece um diagnóstico mais precoce de gesta-
àquela de uma "fatia de torta". Os trans- ção do que qualquer um dos métodos atual-
dutores comumente usados em animais do- mente disponíveis para animais domésticos
mésticos são do tipo de ordem linear e apre- (Tabela 22-2). Na égua, ele não apenas forne-
sentam uma variação de frequência de 3,5 a ce um diagnóstico precoce de gestação (do dia
7,5 MHz. Os transdutores de baixa frequência 10 ao 15) com quase 100% de precisão, como
(3,0 a 3,5 MHz) penetram mais profundamen- também detecta gêmeos, que são indesejáveis
te e tomam imagens de tecidos mais profun- e usualmente abortados.
dos do que os de frequências mais altas (5,0 a Vaca. O concepto bovino é alongado e
7,5 MHz) que tomam imagens mais próximas filamentoso em contraste à forma vesicular
à superfície. As imagens produzidas por do concepto equino, fazendo com que o pri-
transdutores de baixa e alta frequência são meiro seja difícil de visualizar com um
comparáveis à visão de um tecido sob um transdutor de 3,5 MHz usado para a égua.
microscópio com magnificações baixa e alta, Todavia, com eletrodos transretais de maior
respectivamente. frequência (5,0 a 7,5 MHz) a vesícula embrio-
Para a exposição do útero, o transdutor é nária pode ser detectada já aos dias 9 a 10, a
colocado na parede ventrolateral abdominal qual se expande em uma área localizada den-
(transabdominal) ou no reto (transretal) do tro do corno ipsilateral nos dias 18 a 20
animal a ser examinado. O transdutor de 3,5 (Curran et alo, 1986; Boyd et aI, 1990). O em-
MHz é usado na abordagem transabdominal brião, o batimento cardíaco embrionário, e as
(cabra, ovelha, porca) e os transdutores de 5,0 membranas fetais podem ser visualizadas ao
a 7,5 MHz para a via transretal (égua, vaca, redor do 30Qdia (Fig. 22-5B). O índice de diag-
ovelha). O contato entre o transdutor e a pele nóstico correto é baixo (33%) até 16 dias após
ou a parede retal é feito aplicando-se um gel a inseminação, porém melhora significativa-
ou óleo vegetal. As imagens de tecidos vistas mente até atingir quase 100% ao redor do 20Q
na tela ou são escuras (não-ecogênicas) ou com dia com o eletrodo retal de 7,5 MHz. Ahabili-
várias sombras acinzentadas (ecogênicas). A dade de contribuir com a viabilidade do em-
bexiga, a vesícula embrionária e os fluidos brião precoce abre novas fronteiras em nosso

TABELA 22-2. Técnicas de Ultra-Som de Diagnóstico de Gestação em Animais


Domésticos

Espécie Técnica Local do Dia Mais Cedo Critério de Precisão


Transdutor Após a Monta Diagnóstico (%)

Equina Modo-B RT Transretal 9 Vesícula embrionária 100


Bovina Modo-B RT Transretal 12 Vesícula embrionária 33
20 Embrião, batimento do coração 100
Búfalo Modo-B RT Transretal 30 Embrião, fluidos fetais ?
Ovinos e caprinos Doppler Transabdominal 60 Sons do coração fetal 90
Modo-A Transabdominal Fluidos fetais 70-90
Modo-B RT Transabdominal 45-50 Feto (os), placentomas 100
Transretal 20-22 Fluidos fetais < 20
Suína Doppler Transabdominal 60 Sons do coração fetal 90
Modo-A Mesma 60 Fluidos fetais 70-90
Modo-B RT Mesma 22 Fluido alantóico

RT =Tempo real.
Transdutor, 3,5 MHz (traisabdominal); 5,0-7,5 MHz (transretal).
Adaptado da literatura c~tada no texto.
Diagnóstico de Gestação 459

FIG. 22-5. illtra-sonografias de úteros prenhes. A. Égua, concepto de 17 dias (vesícula). B. Vaca, dia 31,
embrião (flecha preta), âmnio (flecha branca) circundando o feto. C. Búfala, dia 50, placentomas. D.
Ovelha dia 37, gêmeos (flechas). E. Cabra, dia 45, placentomas. F, Porca no dia 37, fluido alantóico
dentro do útero. (A, de Squires et aI. (1988). Theriogenology 29, 55-70; B, de Kastellic et aI. (1988).
~riogenology 29, 39-54.)
460 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

entendimento da mortalidade embrionária pregada de diagnóstico de gestação pelos cria-


precoce em bovinos. A detecção do tubérculo dores de suínos após a ausência de retorno ao
genital entre o 542 e o 582dia (Curran et aI., cio. O analisador ultra-sônico modo-A de am-
1989) ou a turgescência escrotal e as tetas plitude profunda juntamente com um
mamárias ao redor do 902 dia (Muller e transdutor de 2 MHz tem sido utilizado para
Wittkowski, 1986) com alto grau de precisão o diagnóstico de gestação na porca (Fig. 22-
(85 a 95%) oferecem esperanças renovadas 6). Uma faixa de ecos é obtida de uma pro-
para as aspirações do produtor de leite em fundidade de 15 a 20 cm em animais prenhes,
obter apenas bezerras fêmeas. A técnica de comparada com apenas cerca de 5 cm em ani-
ultra-sonografia na búfala é similar à da vaca mais não-prenhes. Uma precisão de 95% pode
(Fig. 22-5C). ser alcançada em porcas e marrãs entre 30 e
Ovelha. O detector do pulso fetal Doppler 90 dias de gestação.
diagnostica a gestação em ovelhas ao redor A ultra-sonografia de tempo-real pode tam-
do 602 dia com uma precisão acima de 90% bém ser usada para diagnosticar gestação logo
(Thwaites, 1981); Trapp e Slyter, 1983) mas no 182dia, porém é mais precisa no 222 dia de
sem a precisão de contar o número de fetos. gestação (Fig. 22-5F). Mais erros de diagnós-
Ao contrário, a abordagem transabdominal tico ocorrem entre o 182e o 212dias em porcas
pela exposição das imagens de tempo-real que eventualmente venham a parir menos de
ultra-sônica, oferece um método preciso, se- 5 leitões.
guro e prático de diagnóstico de gestação e
determinação do número de fetos na ovelha
(Fig. 22-5D) após o 402 dia de gestação MÉTODOS DE LABORATÓRIO
(Gearhart et aI., 1988; Taverne e Willemse,
1985). Embora a gestação possa ser O diagnóstico de gestação de laboratórios
diagnosticada no 202 dia da gestação e o nú- baseia-se na detecção de modificações que
mero de fetos no 312 dia com um eletrodo ocorreram nos tecidos maternos carregando
intra-retal de 5,0 MHz (Buckrell et aI., 1986; um concepto ou em substâncias produzidas
Gearhart et aI., 1988), mais diagnósticos fal- pelo concepto e detectadas por ensaios imu-
so-negativos de gestação e menor probabili- nológicos no sangue materno, urina ou leite.
dade de identificação correta do número de
fetos estão associados com a abordagem de
exploração transretal do que com a transab- Biópsia Vaginal
dominal.
Cabras. A gestação pode ser diagnosticada, A mucosa vaginal responde às modificações
como na ovelha (Fig. 22-5E) com as técnicas endócrinas que ocorrem durante a gestação
de modo-A e Doppler na metade da gestação, por uma redução do número de camadas do
porém muito mais precocemente com a ultra- epitélio escamoso estratificado. Isto forma a
sonografia de tempo-real. As técnicas de ultra- base para um teste de gestação na ovelha e
sonografia são similares àquelas na ovelha. na porca (Fig. 22-7). Uma pequena amostra
Uma vantagem da ultra-sonografia de tem- da mucosa vaginal é obtida com um instru-
po-real está no diagnóstico da pseudogestação mento de biópsia e é submetida a técnicas
(hidrometra) onde acumulam-se fluidos no histológicas de rotina, tais como fIXação em
útero, sem detecção de fetos ou placentomas. formalina, engaste em parafina-cera, colora-
A idade do feto entre os dias 40 e 105 pode ção com hematoxilina e eosina e exame mi-
ser determinada pela ultra-sonografia de tem- croscópico.
po real, medindo-se a largura do diâmetro Como o método envolve amostragem,
biparietal (BPD) da cabeça com os compassos processamento e exame microscópico, que
de distância linear eletrônicos (Haibel, 1988). consomem tempo e são caros, a técnica de
Porca. A ultra-sonografia modo-A provavel- biópsia vaginal tem aplicabilidade prática li-
mente é a técnica mais frequentemente em- mitada.
Diagnóstico de Gestação 461

---

FIG. 22-6. Diagnóstico de gestação em suínos pela


análise ultra-sônica da amplitude de profundida-
de. A, Colocação do transdutor no flanco inferior
da porca em pé, a cerca de 5 cm posteriormente ao
umbigo e lateralmente à linha de mamilos. B, Pa-
drão da disposição de uma porca ou marrã não-
cobertas ou com menos de 30 dias de gestação. C,
Padrão de disposição de uma porca ou marrã en-
B tre 30 e 90 dias de gestação. A primeira série de
pontos (0-15) representa as diferentes camadas da
parte abdominal, o intervalo entre os pontos é de-
vido aos líquidos fetais, e a segunda série de pon-
tos (90-105) representa os ecos da parede distal do
Útero cheio de útero e intestinos adjacentes. Notar que o interva-
Üquido lo entre os pontos e a segunda série de pontos es-
tão ausentes no animal vazio. (Scanoprobe, Ithaco,
Inc., Ithaca, N.Y.)

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Polegadas

Diagnóstico Imunológico durante a gestação. Algumas destas substân-


cias são produtos que se originam no concepto,
As técnicas imunológicas para diagnóstico enquanto outras podem ser secretadas em
de gestação baseiam-se na detecção ou medi- níveis mais altos durante a gestação; assim,
da do nível de substâncias originadas no elas podem ser usadas como indicadoras de
concepto, útero ou ovários, que passam para gestação.
o sangue materno, urina ou leite. Os testes Fator Precoce de Gestação. Um fator
imunológicos são de dois tipos. O primeiro precoce de gestação (EPF) foi primeiramente
mede substâncias que são específicas da ges- comunicado na circulação de mulheres grávi-
tação e aparecem no sangue materno das (estágio de pré-implantação) e
(gonadotrofina coriônica equina - [eCGD ou subsequentemente na porca, ovelha e vaca.
na urina (gonadotrofina coriônica humana - O EPF, que apresenta propriedades
[hCGD em fase precoce da gestação. O segun- imunossupressoras, pode ser detectado no
do tipo de substâncias não é específico, po- soro na redução do número de rosetas forma-
rém seus níveis no sangue materno, urina ou das no teste de inibição de rosetas (Fig. 22-8)
leite modificam-se durante a gestação, p. ex., (Smart et aI., 1981). O EPF, identificado por
a progesterona (Tabela 22-3). atividade imunossupressora, é detectado den-
tro de poucos dias após a concepção em por-
Substâncias Associadas com a Gestação cas, ovelhas e vacas. Além de diagnosticar a
concepção, uma potencial aplicação para o
v~as substâncias semelhantes a proteí- teste do EPF poderia ser a detecção precoce
na têm sido identificadas no sangue materno da falha de fertilização ou mortalidade em-
462 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

Uma proteína B específica da gestação par-


cialmente purificada (bPSPB) foi isolada de
tecido placentário bovino (Butler et aI., 1982).
Um radioimunoensaio (RIA) foi desenvolvido
e detecta bPSPB no soro de vaca prenhe do
242 dia de gestação até o parto (Sasser et aI.,
.' 1986). Este RIA foi mais preciso do que o RIA
... de progesterona na detecção de gestação e au-

.. sência de gestação em vacas leiteiras 30 dias


após a IA porque o bPSPB é específico de ges-
tação, enquanto que o ensaio com

Prenhe
. progesterona (ver próxima seção) não o é.
Além disso, diferentemente do ensaio com
progesterona, a época do teste com bPSPB é
independente da data do serviço. As desvan-
tagens são que ele não é detectável no leite
ou urina da vaca e também que persiste no
sangue por vários meses após o parto, o que
pode interferir com o diagnóstico precoce da
gestação subsequente.
A somatomamotropina coriônica é um
lactógeno placentário (LP) encontrado no te-
,." . cido placentário de várias espécies de mamí-
feros. Ele é primeiro detectado no dia 16 na
. . ovelha e entre os dias 17 e 25 na vaca. Ele
não tem sido empregado como teste de gesta-
Não-prenhe ção em bovinos porque não pode ser detecta-
do no sangue materno até a última metade
FIG. 22-7. Diagnóstico de gestação em porcas por da gestação. A gestação, todavia, pode ser
meio de biópsia vaginal e exame do estado do diagnosticada durante a metade na ovelha
epitélio. Este é em multicamada em animais com base nos níveis de PL com uma precisão
delicos comparado com duas ou três camadas ce- de 97 a 100% para gestação e não-gestação,
lulares do epitélio vaginal de gestação. (De respectivamente (Robertson et aI., 1980).
Hunter, R.H.F. (1982). Reproduction of Farm
AnimaIs. New York, Longman.)
Hormônios

Radioimunoensaios sensíveis e enzimaimu-


brionária precoce. Contudo, o EPF é um noensaios são disponíveis para a medida de
bioensaio baseado na inibição da formação de hormônios dependentes de gestação nos flui-
ros~ta (Fig. 22-8), que é demorado e tem uso dos orgânicos. Por exemplo, a gestação pode
limitado nos testes de gestação de rotina em ser diagnosticada nos animais domésticos em
animais domésticos. fase muito mais precoce utilizando a
Antígenos Associados à Gestação. progesterona plasmática ou do leite, o que é
Antígenos específicos da gestação têm sido possível com métodos clínicos.
comunicados em tecidos maternos de várias Progesterona. A determinação de
espécies incluindo ovelhas, vacas e éguas progesterona tem sido até agora o método
(Findlay, 1980). Estes ;mtígenos são.detecta- mais extensivamente utilizado para detecção
dos no sangue materno durante a última da gestação em animais domésticos. Embora
metade da gestação e são de valor limitado não-específica da gestação, a progesterona
nos testes de gestação. pode ser usada como um teste de gestação
Tabela 22-3. Métodos Imunológicos de Diagnóstico de Gestação em Animais Domésticos

Teste de Gestação Princípio Estágio da Amostra Técnica Espécies


Gestação

Fator de gestação precoce Detecta fator imunossupressor Pré-implantação Soro RIT Bovina, OVIna,suína
(EPF) resultante de fertilização
Progesterona Prediz atividade luteínica Implantação Soro/leite RINEIA Bovina, ovina, equlna,
caprina, suína, búfalo
Sulfato de estrona Determina a função feto-placentária Pós-implantação Soro/leite RIA/EIA Bovina, suína, equina,
ovina, caprina
Lactogênio placentário Determina a função feto-placentária Pós-implantação Soro RIA Bovina, ovina
eCG(PMSG) Determina a função placentária Pós-implantação Soro RI Equina
Antígenos associados à Identificam os antígenos específicos Pós-implantação Soro RI Bovina, ovina, equina
gestação da gestação

EIA= enzimaimunoensaio; HI = inibição por hemaglutinação; RIA = radioimunoensaio; RIT =teste de inibição de roseta.

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k
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a,
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...
a>
""
464 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

porque o CL persiste durante o início da ges-


[ soro teste
tação em todos os animais domésticos. Os ní-
veis de progesterona são determinados nos
+ fluidos biológicos como o sangue e o leite,
leucócitos quando a progesterona está declinando nos
complemento animais não-gestantes. Normalmente, a
eritrócitos amostra é colhida durante um ciclo estral após
a inseminação ou cobertura, p. ex., 22 a 23
+ dias na vaca, 17 a 18 dias na ovelha e 21 dias
na porca. Na época da amostragem, a
soro antilinfócito progesterona está baixa no animal não-pre-
nhe, enquanto que ela está elevada no ani-
mal gestante (Fig. 22-9).
O leite é preferido ao sangue, particular-
mente porque os níveis de progesterona são
formação de consideravelmente mais altos do que no plas-
ma e as amostras podem ser colhidas na hora
/' . roseta" da ordenha, sem impor muito desconforto ou
dor no animal. Serviços comerciais de testes
Inibido Ocorre
de gestação baseados na progesterona do lei-
EPF (+) EPF (.)
te são disponíveis para gado leiteiro em vá-
rios países.
Para o diagnóstico de gestação em vacas
FIG. 22.8. Princípio do teste de inibição de roseta leiteiras, colhe-se uma amostra de leite entre
para detecção do fator precoce de gestação (EPF). os dias 22 e 24 após a inseminação. A concen-
(De Smart et aI. (1981). Early pregnancy factor. tração de progesterona está correlacionada
Its role in mammalian reproduction. FertiI. SteriI. com o conteúdo de gordura no leite; o nível
35,397.)
será mais alto à tarde do que no leite da ma-
nhã e maior no leite individual de uma vaca

teste de
gestação
-
FIG. 22-9. Progesterona no leite
como método de diagnóstico de
~ gestação na vaca em lactação. O
...
.... teste é conduzido do 22Qao24Qdia
-~
P após o cio (E) e inseminação (IA).
8 O nível de progesterona na amos-
'" tra de leite declina na vaca não-
§
...
gestante (NP), enquanto que per-
~ manece elevado na vaca prenhe
...
li)
(P). O "?" é o nível de progesterona
~ 7 em uma vaca 2 a 3 dias antes ou
ep,..
NP após o cio e em gestação duvido-
sa.
-5 o 5 10 15 202224

dia do ciclo
Diagnóstico de Gestação 465

Concentração de
hormônio no líquido
orgânico

oj
§
...
Q)~
..., Q)
gJ 61
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... oj
Il..~
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,," ,
,," I Es~rógeno ",
--
.,

Dia da gestação
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I I L-. Químico
Método Biológi C?
I

I
L ~
[I l
muno OgIco
L - --- -- -- -- - - ~ Radioimunoensaio

FIG. 22-10. Métodos de laboratório de diagnóstico de gestação nos vários estágios na égua. (Copiado de
Walker, D. 1977. Laboratory methods of equine pregnancy diagnosis. Veto Rec. 100, 396.)

do que no leite misturado de várias ordenhas tes qualitativos para a detecção precoce do
e no colostro. A técnica de amostragem varia estado de não prenhez não-apenas melhora o
de um laboratório para outro, porém a maio- desempenho reprodutivo do rebanho como
ria prefere amostras do leite da tarde. Para também é economicamente praticável.
prevenir a deterioração do leite durante o Um nível elevado de progesterona neces-
transporte para o laboratório, adiciona-se um sariamente não significa gestação. Se uma
preservativo, p. e., dicromato de potássio ou vaca apresentar um ciclo estral mais longo
cloreto de mercúrio. do que o normal (p. ex., 28 dias) após a
A concentração de progesterona em que se inseminação, um CL deve estar presente no
baseia um diagnóstico positivo depende se o dia da amostragem (22 dias) e os níveis de
nível foi medido em leite integral, gordura ou progesterona deverão ser altos. Uma outra
leite desnatado. As amostras de leite são tes- possibilidade é a ocorrência de mortalidade
tadas para progesterona usando radioimu- embrionária precoce entre a amostragem e a
noensaios automatizados e os resultados che- confirmação da gestação por palpação retal.
gam ao fazendeiro dentro de 2 a 3 dias. Estes Assim, a vaca será incorretamente diagnos-
métodos são precisos porém relativamente ticada como prenhe (falso-positiva). Por es-
caros, requerem utilidades laboratoriais e os tas razões, a precisão de predição da gesta-
resultados ficam disponíveis somente após ção variou de 75 a 90%. Pelo contrário, a
vários dias. "Kits" de uma fase qualitativa de precisão para não-gestação será de 100% por-
progesterona no leite "para vacas" estão em que as vacas com baixa progesterona no leite
desenvolvimento e deverão contornar alguns não estarão prenhes (Tabela 22-4). Por este
destes problemas. Um ensaio imunoabsor- motivo, o teste de progesterona no leite é mais
vente ligado a enzimas (ELISA) e "kits" de seguro para diagnosticar ausência de gesta-
ensaio de aglutinação de látex estão disponí- ção do que gestação e pode identificar animais
veis para testes em fazendas, levando ape- não-prenhes em tempo muito mais precoce do
nas alguns minutos. A utilização destes tes- que é possível por palpação retal.
466 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

TABELA 22-4. Ensaio de Progesterona para Diagnóstico de Gestação em Animais


Domésticos

Precisão Diagnóstica (%)


Espécie Amostra Dia mais Precoce Após a
Monta Gestante Não-gestante
Bovina Leite/plasma 21-24 85 100
Caprina Leite/plasma 20-21 98 100
Búfalo Leite/plasma 21-24 67 97
Equina Leite/plasma 24 85 100
Ovina Plasma 17-19 87 98
Suína Plasma 19-24 86 100

Nos rebanhos em que não se dispõe das (dia 40) do que na cabra e ovelha (dia 40 a 50)
datas de cobertura, p. ex., em rebanhos de ou na vaca (dia 72) (Tabela 22.3).
corte, um teste de gestação para rebanho pode O sulfato de estrona pode ser detectado no
ser baseado nos níveis de progesterona de três plasma materno da porca logo no dia 17 após
amostras de leite colhidas com 8 dias de in- a cobertura, subindo a um pico no dia 26 a 29
tervalo (Laing et aI., 1980). Para um teste e declinando depois disso.
positivo de gestação, o nível de progesterona O teste do sulfato de estrona apresenta a
deve permanecer elevado pelo menos nas duas vantagem sobre outros métodos correntes de
últimas amostras.
O mesmo princípio básico de utilizar o tes-
te de progesterona para diagnóstico precoce soro teste
de gestação em bovinos é também aplicável
em outras espécies domésticas. O teste é mais +
seguro para ausência de gestação do que para
gestação, como em bovinos (Tabela 22-4). Em anticorpo
alguns países asiáticos, os níveis de
progesterona no leite ou no sangue são usa- +
dos em uma base experimental como teste indicador
precoce de gestação em búfalas (Perera et aI.,
1980; Singh e Puthiyandy, 1980). As limita-
ções do teste são similares àquelas de bovi-
nos.
aglutinação
O teste de progesterona no leite encontrou
aplicação limitada em outras espécies. As ove-
lhas não estão em lactação na época de cober-
tura e o teste deve ser conduzido em amos- '
~
inibida ocorre
tras de sangue. A inabilidade para diferenciar
gestação de ausência de gestação é um gran-
prenhe não-prenhe
de obstáculo na cabra. A precisão do teste/é
baixa na porca e égua como resultante da
persistência do CL no animal não prenhe.
Sulfato de Estrona. O sulfato de estrona FIG. 22-11. Princípio do teste de hemaglutinação
é o principal estrógeno produzido pelo para detecção da gonadotrofina coriônica equina
(eCG, PMSG). O anticorpo é colocado contra o eCG
concepto e pode ser medido no plasma mater- e o sistema indicador é sensibilizado com eritrócitos
no, leite ou urina em todas as espécies do- de ovinos. Notar que a inibição de hemaglutinação
mésticas. O sulfato de estrona é detectável é positiva para gestação e ocorrência de
no plasma mais cedo na porca (dia 20) e égua hemaglutinação é negativa para gestação.
Diagnóstico de Gestação 467

diagnóstico de gestação na porca. Ele é mais resultado positivo (Fig. 22-11). Este teste
preciso no início da gestação e é um melhor imunológico é mais preciso entre 50 e 100 dias
detector de porcas não prenhes do que o ultra- de gestação. Se o feto morrer durante este
som Doppler (Atkinson et aI., 1986). Embora período, todavia, os níveis plasmáticos de eCG
exista uma relação entre o tamanho da permanecem elevados. Por este motivo, se o
leitegada no nascimento e os níveis de sulfa- eCG for medido após a morte fetal, serão ob-
to de estrona no soro e urina no dia 28, predi- tidos resultados falso-positivos.
ções quantitativas do tamanho da leitegada
usando níveis do soro ou da urina são relati-
REFERÊNCIAS
vamente imprecisas (Frank et aI., 1987). A
principal desvantagem do procedimento é a Atkinson, s., Buddle, J.R, Williamson, P., Hawkins,
dificuldade de colher sangue ou urina, porém c.D. and Wilson, RH. (1986). A eomparison be-
isto pode ser contornado medindo o sulfato tween plasma Destrone sulphate eoneentration
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bras prenhes podem ser identificadas por ní- for detecting early pregnaney in eows. Veto Ree.
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for early pregnaney diagnosis in sheep. Therio-
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usados para diagnosticar gestação na égua pregnaney-speeifie prateias. Bio!' Reprod. 26,
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desenvolvimento libera grandes quantidades Bamberg, E. (1987). Pregnaney diagnosis. in sows
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de estrona tem a vantagem sobre o eCG para Determining sex of the bovine fetus by ultraso-
nographie assessment of the relative loeation of
a determinação da viabilidade do feto the genital tubereule. Anim. Reprod. Sei. 19,
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equina (eCG ou PMSG) aparece no sangue de eeptus from days 10 through 20. J.V.M.A. 189,
1289-1294.
éguas logo aos 40 dias após a concepção (ver
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Fig. 22-9), e a sua detecção tem sido conside- pregnaney. 1n Immunologieal Aspeets of Repro-
rada como evidência de gestação. Níveis de duction and Fertility Contra!. }.P. Hearn (ed.).
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picos são encontrados entre 50 e 120 dias Frank, G.R., Noble, RC., Esch, M.W., Green, C. and
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indieators of litter size at birth. Anim. Reprod.
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éguas é baseado no princípio de que a eCG Cearhart, MA, Wingfield, W.E., Knight, A.P., Smith,
quando presente em amostra de sangue a ser }.A., Dargatz, D.A., Boon, }.A. and Stokes, C.A.
testada, impede a aglutinação das células (1988). Real-time ultrasonography for determin-
vermelhas de ovino sensibilizadas por anti- ing pregnaney status and viable fetal numbers
in ewes. Theriogenology 30, 323-338. .
eCG (teste de inibição de hemaglutinação ou
Haibel, C.K. (1988). Real-time ultrasonie fetal head
RI). A aglutinação das células vermelhas sig- measurement and gestational age in dairy goats.
nifica um resultado negativo (i. é, ausência Theriogenology 30, 1053-1058.
de gestação), e a inibição da aglutinação, um Holdsworth, R.}. and Chaplin, V.M. (1982). A direet
468 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

radioimmunoassay for Destrone sulphate in milk. 27.


Br. Vet. J. 138, 455. Robertson, H.A. et aI.(1980). Diagnosis ofpregnancy
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23
TECNOLOGIA REPRODUTIV A ASSISTIDA:
MANIPULAÇÃO DA OVULAÇÃO, FERTILIZAÇÃO
IN VITRO / TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÃO
(FIV/TE)
E.S.E. HAFEZ

As extensas investigações sobre embriões cerca de 0,25 ml de solução fisiológica estéril.


de mamíferos durante as duas últimas déca- Na fêmea do hamster, a ovulação ocorre re-
das aumentaram a profundidade de conheci- gularmente a cada 4 dias. O momento da ovu-
mentos dos eventos biofisiológicos normais lação é estimado em relação ao tempo do iní-
que se passam durante a fertilização e o de- cio do cio, i. é, quando a fêmea permite a
senvolvimento inicial do embrião. A formula- primeira cobertura pelo macho, e em relação
ção de meios que sustentam estes processos ao fotoperíodo no ambiente. Notam-se dife-
in vitro até o estágio inicial de blastocisto e o renças entre espécies quanto às característi-
refinamento de procedimentos para a trans- cas do ciclo estral, mecanismos de ovulação,
ferência rotineira de embriões para o trato hora da ovulação, viabilidade do ovo (Tabela
genital de fêmeas recipientes adequadamen- 23-1), tempo dos estágios de clivagem e loca-
te preparadas são as duas realizações funda- lização das mórulas e blastocistos no trato
mentais das duas décadas passadas. reprodutivo feminino (Tabela 23-2).
Embora o ovário de mamíferos apresente
INDUÇÃO DA OVULAçÃO E centenas de milhares de oócitos, o número de
SINCRONIZAÇÃO progênie que uma fêmea produz é pequeno.
Nos animais domésticos, o número de vezes
A ovulação pode ocorrer espontaneamente que uma fêmea pode tomar-se gestante é gra-
ou como um reflexo a um estímulo. A coelha, vemente limitado pela longa duração da ges-
a fêmea do furão e alguns outros mustelídeos, tação. Além disso, apenas um ou dois óvulos
a gata e a fêmea do musaranho não ovulam são expelidos por ciclo estral em espécies que
espontaneamente (Tabela 23-1). Na coelha, a não procriem extensas ninhadas. O número
ovulação ocorre 10 a 13 horas após a cópula de descendentes que uma fêmea pode produ-
ou após ~lgum outro estímulo, p. ex., injeção zir durante a vida pode ser extremamente
de LH, saIs ou cobre e cádmio, estímulo elé- aumentado, permitindo que ela fique tempo-
trico da cabeça ou da região lombar da colu- rariamente prenhe por repetidas vezes, reco-
na espinal, ou orgasmo induzido pelo contato lhendo-se os embriões no início da gestação e
com outras fêmeas. Todavia, a ovulação usu- transferindo-os para os tratos reprodutivos de
almente não pode ser provocada por estímu- outras fêmeas que completarão a gestação. O
lo mecânico da cérvice, como acontece com a processo pode ser mais ampliado se a doado-
gata. A ovulação é comumente induzi da na ra for superovulada.
coelha por injeção intravenosa de 20 a 25 UI A primeira transferência embrionária fei-
de gonadotrofina coriônica humana (hCG) em ta com sucesso foi comunicada em coelhas.

469
470 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

As primeiras transferências embrionárias em administração de hCG, um hormônio seme-


animais domésticos também com sucesso fo- lhante ao LH.
ram comunicadas durante a década de 1970. O crescimento de folículos ovarianos em
A tecnologia reprodutiva assistidalandrologia fêmeas anéstricas pode ser induzido utilizan-
(ARTA) é um novo campo das ciências do-se vários hormônios.; FSH com ou sem LH;
biomédicas em animais domésticos e na es- gonadotrofina sérica da égua prenhe (PMSG)
pécie humana. Um grande volume de litera- com ou sem hCG. O FSH e o LH têm meias-
tura sobre pesquisas básica e clínica apresen- vidas biológicas mais curtas do que as
ta-se resumidamente nas Tabelas 23-2 a 23-8. gonadotrofinas placentárias (PMSG e hCG).
Houve várias limitações no desenvolvimen- Assim, é geralmente necessário dar múltiplas
to das técnicas de transferência de embriões injeções de FSH ou FSH e LH para estimular
em uma escala prática comparável à o mesmo crescimento folicular que resultaria
inseminação artificial. Anteriormente, não- de uma simples injeção de PMSG ou de PMSG
haviam métodos seguros de superovulação e com hCG. Uma grande dose de GnRH nor-
produção de óvulos fertilizados em grande malmente irá provocar a ovulação de um
escala, não havendo também uma técnica não folículo maduro através da liberação de LH e
cirúrgica simples para colheita de embriões. FSH endógenos. Na vaca e na ovelha, não há
Alguns destes problemas estão sendo resol- exibição de cio em resposta à injeção de
vidos e a transferência de embriões, como a gonadotrofina somente. O cio ocorre apenas
inseminação artificial, pode apresentar um depois de exposição prévia à progesterona ele-
significativo papel na reprodução animal. vada ou progestágeno sintético.
Companhias comerciais para transferência de N a vaca, uma onda pré-ovulatória de LH
embriões em animais domésticos estabelece- resulta da retroação positiva de estrógenos.
ram-se na Austrália, Argentina, Canadá, Um aumento transitório da progesterona e
Nova Zelândia, Estados Unidos e vários paí- do LH frequentemente segue-se à onda de LH.
ses da Europa (Church e Shea, 1977). A fonte deste aumento transitório de
Este capítulo trata dos conceitos básicos, progesterona é o LH ou um pequeno corpo
mecanismos fisiológicos, tecnologia moderna lúteo (CL) não-palpável. Não há manifesta-
de superovulação, colheita de óvulos, exame ção de cio antes deste aumento transitório
dos óvulos para fertilização e normalidade, inicial de progesterona. Quando o aumento
manejo e armazenamento de embriões, ferti- transitório de progesterona diminui, o cio e a
lização in vitro (FN), transferência de em- ovulação ocorrem dentro de poucos dias. A
briões e engenharia genética. ovulação pode ser induzida em algumas va-
cas com anestro pós-parto pela administra-
lndução da Ovulação Durante o Anestro ção de uma única dose de GnRH (Tabelas 23-
3 e 23-4). Para que haja resposta da vaca a
Vários hormônios são utilizados para in- uma simples dose de GnRH, um folículo ma-
duzir ovulação durante o cio. Uma onda na- duro deve estar presente em pelo menos um
tural de LH ocorre em decorrência de ovário (Roche et aI., 1981). O GnRH provoca
retroação positiva de secreção de estrógeno uma onda de LH semelhante à pré-ovulatória,
pelo folículo em desenvolvimento. Pode ser que então causa a ovulação do folículo madu-
apropriado estimular uma onda de LH pela ro (Tabela 23-5).
administração de hormônio liberador de Uma combinação de progestágenos e
gonadotrofinas (GnRH), ou uma onda artifi- estrógenos é utilizada satisfatoriamente para
cial semelhante a LH pode ser provocada pela a indução da ovulação em vacas anéstricas.
O estrógeno conjugado (5 mg de valeriato de
estradiol), é seguido 7 a 12 dias mais tarde
Seções deste capítulo foram extraídas da quarta edição. pela administração de progestágenos sob a
Agradecimentos sinceros aos Professores T. Sugie e G. forma de implante auricular ou um pessário
Seidel, Jr. intravaginal. Uma resposta melhorada a esta
Tecnologia Reprodutiua Assistida 471

TABELA 23-1. Diferenças de Espécies em TIpos, Estação e Características Princi-


pais do Ciclo Sexual de Mamiferos de Laboratório
Tipo e Duração do Viabili-
Mecanismo Estação do Ciclo Sexual Duração do Momento da dade do
Ovulatório Espécie Ciclo (Dias) Cio Ovulação Ovo
(Horas)

A. Ovulação Cão No cio com 4 Pró-estro, 7-13 dias 2"-3" dias Poucos
espontânea a 8 meses de 9 dias; cio, do cio dias
intervalo na 7a9dias
primavera e
outono,
dependendo
da raça;
monoéstrica

Gerbo Poliéstrica 4-6 12-18 horas

Cobaia Poliéstrica 16-19 6-15 horas 10 horas 20


.a partir
do início
do cio

Hamster Poliéstrica 4 4-23 horas Início 10


do cio

Camundonga Poliéstrica 4-5 9-20 horas 2-3 horas 10-12


(a qualquer a partir do
tempo) início do cio

Gambá Poliéstrica 22-38 1-2 dias Início do cio


(estaciona!)

Rata Poliéstrica 4-6 (pseudo- 9-20 horas 8-11 horas a 8-12


(a qualquer gestação dura partir do iní-
tempo) 13 dias) cio do cio

B. Ovulação Gata Poliéstrica 15-28 (pseudo- 4-10 dias 24-36 horas


reflexa (estacional na gestação dura após a cópula
primavera e 36 dias)
outono)

Furão Poliéstrica Na ausência 30 horas 30


(Abril a Agosto) do macho, 5 após a cópula
meses

Bisão Poliéstrica 8-9 42-50 horas


após a cópula

Coelha Poliéstrica Pseudoges- Periodo não 10,5 horas 8


(a qualquer tação dura claramente após a cópula
tempo) 14-16 dias definido

(De Fox, RR e Laird, C.W (1970). Sexual cycles. In Reproduction and Breeding Techniques for
Laboratory Animals.E.S.E. Hafez (ed.). Philadelphia, Lea & Febiger.)
472 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

TABELA 23-2. Período Mais Precoce em que os Estágios de Clivagem e


Blastocistos Podem Ser Encontrados com Certa Rearolaridade
Dia em que são Encontrados

Animal Estágio de Estágio de Estágio de Blastocisto Implantação


2 Células 4 células 16 Células

Gata Início 3 Tardio 3 4 5-6 13-14

Furão 3 Tardio 3 4-5 6-7 11-12

Cobaia 2 4 5 Tardio 5 6

Gerbo 2 3 Tardio 4 5 6

Hamster 2 3 Início 4 4 5

Bisão 3 4 5-6 6-7 Retardada

Camundonga 2 Início 3 Tardio 3 Início 4 Início 5

Gambá 3 3 4 Início 5 6

Coelha 2 Tardio 2 Início 3 Tardio 3 7

Rata 2e3 Tardio 3 Tardio 4 5 Tardio 5

(De Enders, A.C., 1970. Fertilization, cleavage, and implantation. In Reproduction and Breeding
Techniques for Laboratory AnimaIs. E.S.E. Hafez (ed.). Philadelphia, Lea & Febiger)

TABELA 23-3. Hormônios Utilizados para Indução e Sincronização da Ovulação


Tipo de Hormônio Método de Administração Atividade Biológica

Gonadotrofinas
Gonadotrofina sérica da égua Injeção Imita o FSH e estimula o crescimento
prenhe folicular
(PMSG)
Gonadotrofina coriônica humana Injeção Imita o LH e induz a ovulação
(hCG)
PMSG + hCG Injeção Combina as ações do FSH e do LH
Hormônio liberador de Injeção Induz a liberação de LH e de FSH da
gonadotrofinas (GnRH) hipófise anterior

Progestágenos
Progesterona Injeção, implante, pessário Imita ação do corpo lúteo (CL)
Progestágenos sintéticos* Injeção, implante, pessário, Imita ação do CL
oral

Estrógenos
Estradiol conjugadot Injeção, implante Induz regressão prematura do CL e
realça a resposta aos
progestágenos
Prostaglandinas
Prostaglandina F2a ou análogos Injeção Induz regressão do CL durante as
fases suscetíveis
da PGF2a

* Exemplos incluem Norgestomet, medroxiacetato de progesterona (MAP), acetato de melengestrol


(MGA), acetato de fluorogestona (FGA, Cronolone) e Altrenogest.
t Exemplos incluem valeriato de estradiol, benzoato de estradiol e cipionato de estradiol (Britt, 1986)
ThcnologiaReprodutiva Assistida 473

TABELA 23-4. Métodos Práticos de Indução do Cio e Ovulação em Animais Domés-


ticos em Anestro
Espécie Tratamento Resposta
Bovina
Pré-púberes ou vacas pós- Estrógeno no dia 1 seguido por 7 a 12 A maioria exibe cio dentro de 5
parto em amamentação dias de progestágenos, PMSG dias após o tratamento
administrado no último dia (opcional)
Vacas pós-parto em GnRH no dia 14 pós-parto A maioria ovula 1 dia após o
ordenha tratamento

Ovina e caprina
Pré-púberes ou em anestro Progestágenos por 12 a 21 dias com A maioria exibe cio 2 a 4 dias após
estacional PMSG administrado próximo ao fim o tratamento com PMSG
do tratamento com progestágenos necessário para uma boa
resposta
Suína
Pré-púberes ou em só PMSG
anestro pós-parto PMSG no dia 1 com hCG administrado A maioria exibe cio 3 a 5 dias após
48-96 horas mais tarde o tratamento
PMSG + hCG administrado no dia 1
Equina
Anestro estacional Aumento do fotoperíodo 4 horas por dia A maioria ciela 4 a 6 semanas
mais cedo do que o normal
Anestro tardio Progestágeno por 15 dias A maioria ciela dentro de 1
semana após o tratamento

GnRH = hormônio liberador de gonadotrofinas; hCG = gonadotrofina coriônica humana; PMSG =


gonadotrofina sérica da égua prenhe. (Britt, 1986)

combinação de estrógenos mais progestágenos início da estação de monta normal irá esti-
ocorre quando o PMSG (400 a 800 DI) é ad- mular aproximadamente dois terços das fê-
ministrado no último dia do tratamento com meas em anestro a cicIar mais cedo do que o
progestágenos. A separação dos bezerros de normal. A indução hormonal da ovulação ba-
suas mães (2 a 3 dias) após a retirada dos seia-se na utilização de progestágenos para
progestágenos resulta também em resposta imitar uma fase luteínica normal.
aumentada em termos de porcentagens de Progestágenos (MAP, Cronolone, progestero-
vacas que são induzidas a cicIar (Wiltbank e na), administrados por 12 a 21 dias, são se-
Spitzer, 1978). A separação temporária do guidos por gonadotrofinas (400 a 800 DI de
bezerro remove a supressão da amamentação PMSCG) aplicadas por ocasião da retirada
induzida da secreção de gonadotrofinas deles. Se as fêmeas induzi das forem servidas
hipofisárias. Este regime de indução irá fa- por inseminação artificial (IA), geralmente
zer com que a maioria das fêmeas tratadas são feitas duas inseminações em períodos pre-
exibam cio dentro de 5 dias após a retirada determinados de 48 e 60 horas após o fim do
do progestágeno. tratamento. Vários métodos têm sido aplica-
Em ovelhas e cabras, é vantajoso avançar dos para a detecção e sincronização dos cios.
a estação de monta normal por 2 a 4 sema- (Figs. 23-1 e 23-2).
nas. Ovelhas e cabras anéstricas podem ser
induzi das a cicIar pela manipulação do SDPEROVULAÇÃO E TRANSFERÊNCIA
fotoperíodo. Esta abordagem é prática ape- DE EMBRIÕES
nas quando as fêmeas são confinadas em
ambientes internos em produção intensiva Superovulação
porque é necessário reduzir o fotoperíodo dia-
riamente (Ashbook, 1982; Corteel et aI., 1982). Os tratamentos superovulatórios são am-
A introdução de carneiros ou bodes sexual- plamente utilizados nos programas de trans-
mente ativos cerca de 4 a 6 semanas antes do ferência de embriões para aumentar o fome-
474 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

TABELA 23-5. Métodos Práticos de Sincronização do Cio em Animais Domésticos


Cíclicos
Espécie Método Regime de Tratamento Resposta
Bovina Prostaglandina Detectar cio e IA por 5-6 dias; dar PGF A maioria é coberta uma vez em um
aos animais remanescentes nos dias período de 10 a 12 dias
6-7 e IA no cio
Dar PGF no dia 1 e IA a animais em A maioria é coberta uma vez durante os
cio durante os próximos 5 dias; dar dois períodos de 3 a 5 dias
PGF aos animais não cobertos no
dia 11 ou 12 e IA no cio ou IA em
horário predeterminado
Dar 2 injeções de PGF com 11 a 12 dias A maioria é coberta dentro de um
de intervalo e IA no cio ou em período de 3 a 5 dias; ciclos repetidos
horário predeterminado após a são sincronizados
segunda PGF

Estrógeno mais Injeção de estrógeno mais proges- A maioria é coberta dentro de um


progestágeno tágeno no dia 1 com implante de período de 3 a 5 dias; ciclos repetidos
progestágeno por 9 dias começando são sincronizados
no dia 1, IA no cio ou em horário
predeterminado

Progestágeno mais Progestágeno por 7 dias com PGF dada A maioria é coberta dentro de um
prostaglandina no dia 6, IA no cio ou em em horário período de 2 a 3 dias; ciclos repetidos
predeterminado são sincronizados

Ovina Progestágeno mais Progestágeno por 12-14 dias com A maioria é coberta dentro de um
PMSG PMSG dada na retirada do período de 2 dias
progestágeno, cobertura no cio ou IA
dupla

Prostaglandina Dar 2 injeções de PGF com 9 dias de A maioria é coberta dentro de um


intervalo, cobertura no cio ou IA período de 2 ou 3 dias
dupla

Caprina Progestágeno mais Progestágenopor 18-21 dias, PMSGna A maioria é coberta dentro de um
PMSG retirada do progestágeno; cobertura período de 2 ou 3 dias
no cio ou IA dupla

Prostaglandina Dar 2 injeções com 11-12 dias de A maioria é coberta dentro de um


intervalo; cobertura no cio ou IA período de 2 a 3 dias
dupla
Suína Progestágeno Progestágeno por 14-18 dias, cobertura A maioria é coberta dentro de um
no cio período de 4 a 7 dias

Equina Progestágeno Progestágeno por 15 dias; cobertura no A maioria é coberta dentro de um


cio período de 4 a 7 dias

Prostaglandina Uma dose para éguas em diestro; A maioria é coberta dentro de um


cobertura no cio período de 3 a 5 dias

Prostaglandina mais PGF no dia 1, hCG no dia 7 ou 8, PGF A maioria é coberta dentro de 'um
hCG no dia 15, hCG no dia 21 ou 22 período de 2 a 4 dias

IA = inseminação artificial; hCG = gonadotrofina coriônica humana; PGF =Prostaglandina F; PMSG =


gonadotrofina sérica de égua prenhe. (Britt, 1986)
Tecnologia Reprodutiva Assistida 475

cimento de embriões de animais de mérito A proporção de óvulos superovulados ca-


genético superior. A resposta ovariana e a pazes de amplo desenvolvimento pode variar
produção de embriões viáveis após a entre as grandes espécies, que frequentemen-
superovulação nestas espécies permanecem te são monótocas, com ciclos mais longos e
altamente variáveis, e quando se recuperam espécies polítocas, com ciclos muito mais cur-
embriões retardados ou anormais, é dificil tos. A superovulação nestas últimas espécies,
determinar se o defeito primário ocorreu an- tal como hamster, produz um grupo homogê-
tes ou após o momento da ovulação (Miller e neo de óvulos expelidos de uma grande cole-
Armstrong, 1982). ção de folículos que já atingiram um certo
A resposta ao tratamento superovulatório grau de maturidade. Estes folículos já adqui-
pode ser prevista qualitativamente, mas não riram habilidade para responder ao estímulo
quantitativamente, a partir do padrão de gonadotrófico antes da exposição às
progesterona no leite. Um tratamento gonadotrofinas exógenas. Em contraste, nas'
superovulatório em termos de taxa de ovula- espécies com ciclos mais longos relativamen-
ção e número de embriões colhidos pode ser te poucos folículos podem estar em cada clas-
detectado pela determinação das concentra- se de folículos em desenvolvimento, especial-
ções de progesterona no leite antes da colhei- mente nos últimos estágios próximos à
ta dos embriões bovinos. ovulação. Grande parte da maturação
folicular e do óvulo pode ocorrer durante a
fase folicular mais longa de cada ciclo
25
ovulatório. Nestas últimas espécies, o trata-
20 mento superovulatório ou pode forçar menos
(n = 76)
16
folículos maduros, que não tenham habilida-
de de responder plenamente ao estímulo
10
gonadotrófico, ou pode expelir óvulos imatu-
5 ros; ou se iniciado após a transformação dos
~ folículos em desenvolvimento em subgrupos
o o
ovulatórios ou atrésicos, o tratamento pode
Ü 35
::s induzir a expulsão de óvulos excessivamente
~ 30 (n = 87) maduros ou em degeneração (Fleming, 1982).
Cf1
~
"'"
25 A seguir são enumerados efeitos de trata-
mento superovulatório que podem resultar em
~ 20 distúrbios dos próprios óvulos ou do ambien-
Z
15 te materno do qual eles dependem para sua
sobrevivência.
10
1. Defeitos genéticos nos óvulos
5 2. Super ou submaturidade dos óvulos
3. Desequilíbrio endócrino materno levan-
o 32 40 48 56 64 72 ao a"a 96 IÓ4 1;2 12(
do a um transporte alterado na trompa
HORAS APÓS A INJEÇÃO DE PG e assincronia entre os estágios de desen-
volvimento embrionário e a sensibilida-
FIG. 23-1. Porcentagem de novilhas holandesas de endometrial para a implantação
detectadas em cio após dois tratamentos diferen-
tes de sincronização do cio. Foram aplicadas duas
4. Limitação na capacidade do útero para
injeções de prostaglandina F (PGF) com 11 dias suportar um número aumentado de fe-
de intervalo (acima) ou com um dispositivo tos (Fleming, 1982).
intravaginal liberador de progesterona (PRID)
durante 7 dias aplicando-se PGF no dia 6 (abai- Métodos de Superovulação
xo). (De Smith, RD. et aI. (1984). lnsemination of
Holstein heifers at a preset time after estrous cycle
synchronization using progesterone and Usualmente, injeções subcutâneas ou
prostaglandin. J. Anim. Sei. 58, 792.) intramusculares de PMSG ou FSH são apli-
476 Técnicaspara Melhorar a Eficiência Reprodutiva

ESTRÓGENO
J. PROGESTÁGENO
+--
TRATAMENTO
- FIG. 23-2. Bovinos podem ser
sincronizados com uma combinação
de estrógeno e progestágeno. As letras
A, B, C, D representam quatro vacas
em diferentes dias do ciclo estral
A
. "/t\/\
~
I -~~~
,l
I
:~i/"~'.o'
quando foi iniciado o tratamento. A
linha sólida representa a secreção de
progesterona do corpo lúteo (CL). A
B linha interrompida representa um
o
~ ~ I ..1..
:
r
./..,....
. . , . ,. ,\. ~~ '..1" progestágeno de um implante. Notar
que o tratamento com estrógeno causa

c . ... . ... .\1. , , , . . . . . \.


, . , . . . . . .o.
'"
~ a regressão do CL precocemente nas
vacas B e D. O progestágeno previne
o cio (E) e a ovulação (DO) até que
seja retirado. (Britt, 1986.)
D
C,..I..12\\. ~ . ~ ... . . . . ~ .
:..~~.%'.,
EO
/

cadas para estimular um crescimento cies existem extremas variações individuais


folicular adicional. Com frequência, este tra- nas respostas. Muitas doadoras não produ-
tamento é seguido pela administração zem nenhum embrião normal, enquanto que
intravenosa de LH ou hCG vários dias após poucas produzem grandes números. Por
para induzir a ovulação dos folículos, embora exemplo, aproximadamente metade dos em-
LH ou hCG exógenos não sejam necessários briões recuperados de um grande grupo de
para vacas, ovelhas e cabras adultas. Méto- doadoras superovuladas são tipicamente pro-
dos de superovulação estão resumidos na Ta- duzidos por um quarto das doadoras. Infeliz-
bela 23-8.Alguns pesquisadores injetam 3 mg mente não é possível predizer como irá res-
de estradiol 17~ no dia 19 repetindo no dia ponder uma determinada doadora; este é o
20, quando as vacas são tratadas com PMSG maior obstáculo para uma aplicação mais
no dia 16 do ciclo estral. satisfatória.
Com os processos atuais, a superovulação O único maior avanço na metodologia da
aumenta a produção de embriões normais em superovulação na última década foi a utiliza-
aproximadamente 5 vezes na vaca, cabra, ção de prostaglandina F2a ou de análogos
ovelha e coelha porém apenas levemente em PGF2a, como o c1oprostenol, porque o trata-
porcas e éguas (Fig. 23-4). Em todas as espé- mento superovulatório pode ser iniciado a

TABELA23-6. Porcentagens de Ovelhas em Cio Após Várias Vias de Administra-


ção de Progestágeno

Via de Horas Entre Fim do Tratamento e Início do Ciot


Administração* 24 36 48 60 72 84

FGA Oral - - 29 54 4 4
Esponja vaginal (FGA) 9 40 41 8 2
Implante de Norgestomet 51 49

* Administrada a todos os animais gonadotrofina sérica de égua prenhe no último dia do tratamento.
t FGA oral, 9 mg/dia; esponja vaginal com 40 mg de FGA; implante de Norgestomet com 3 mg de esteróide implantado
subcutaneamente.
(De Quinlivan, T.D. (1980).Estrous synchronization and contrai ofthe estrous cycle.In Current Therapy in Theriogenology.
DA Morrow (ed.). Philadelphia, W.B. Saunders.)
TecnologiaReprodutiva Assistida 477

TABELA 23-7. Resumo Histórico do Desenvolvimento de '&ansferência de


Embriões e Técnicas Relacionadas
Autor Evento Espécie

Heape,1890 Primeira transferência embrionária com sucesso Coelho


Beidl et aI., 1922 Transferência embrionária com sucesso Coelho
Nicholas,1933 Transferência embrionária com sucesso Rato
Warwick e Berry,1949 Transferência embrionária com sucesso Ovelhas e cabras
Kvansnickii,1951 Transferência embrionária com sucesso Porco
Willett et aI. 1951 Transferência embrionária com sucesso Vaca
Marden e Chang,1952 Primeiro transporte intercontinental de embriões conservados a Coelho
10° C
Alberta Livestock Primeira companhia comercial fundada para transferência de Vaca
Transplants, Ltd.,1971 embriões em animais domésticos
Whittingham et al.,1972 Obtenção de produtos a partir de embriões congelados por longo Camundongo
tempo
Wilmut e Rowson,1973 Obtenção de produtos a partir de embriões congelados Vaca
Fundada a International Embryo Transfer Society
Steptoe e Edwards,1978 Nascimento de uma criança do sexo feminino após transferência Homem
de embrião

TABELA 23-8. Doses de Gonadotrofinas para Superovulação

Gonadotrofina p'ara Crescimento Folicular Gonadotrofina para Ovulação


Dia do
Animal Ciclo Estral PMSG (VI) ou FSH (mg) hCG (VI) LH (mg)

Vaca 15-16 1500-3000 20-50 1500-2000 75-100


Bezerra - 1000-2000 20-50 1000-1500 50-75
Cabra 16-17 1000-1500 12-20 1000-1500 50-75
Cabrita - 1000-1200 10-15 1000-1500 50-75
Ovelha 12-14 1000-2000 12-20 1000-1500 50-75
Cordeira - 1000-1200 10-15 1000-1500 50-75
Porca 15-16 750-1500 10-20 500-1000 25-50
Coelha - 25-75 2-3 25-75 2-3

"
hCG =gonadotrofina coriônica humana; PMSG =gonadotrofina sérica de égua prenhe.

Receptoras
Doadora valiosa
"" r;T
W ~"
.

.f .

Superovulação
Sincronização
.I es t rms
dos CICos
. .........
FIG. 23-3. Vantagens
transferência de embriões.
da

1
.

Embriões de uma doadora


t @ Cio valiosa coberta por um

~
Reprodutor
Cobertura no cio
I
~@ ~
:: t@ ::r\
.
Transferência
reprodutor valioso são trans-
plantados a receptoras
pedigree que agem como mães
sem

valioso Recuperação
de embriões
~ ~@)/ ; LI
""-
de embriões
.
adotivas
vimento
para o desenvol-
de bezerros com
pedigree. (De Hunter, R.H.F.
. @ Gestação
(1982). Reproduction of Farm
Reprodução normal ou
retorno após dois a três
. AnimaIs. NewYork, Longman.)

meses para uma outra


operação de transferência WW
prprW
Descendentes valiosos
478 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiua

Dia Procedimento ção de 400 a 1200 UI de PMSG induz o cio na


maioria das porcas e marrãs em anestro. Uma
injeção de 500 a 1000 UI de hCG 48 a 96 ho-
o Cio
ras após a injeção de PMSG induz uma ovu-
lação bem sincronizada. A ovulação também
pode ser induzida em porcas em anestro por
10 I . PMSD
uma única injeção de uma combinação de
PMSG (400 UI) e hCG (200 UI). A resposta a
este tratamento conjugado é similar àquela
12 I . PG que ocorre quando as gonadotrofinas são apli-
cadas separadamente. A vantagem desta com-
14 L-.') Cio
binação é que são necessárias doses menores
...... .. AI
de cada gonadotrofina. A indução de ovula-
ção em marrãs com menos de 160 dias de ida-
de não é recomendada, porque elas com
frequência não conseguem manter a gestação.
A gestação falha porque o CL nesses jovens
animais regride durante a terceira semana
após a ovulação. A regressão do CL é devido à
20 . CL inabilidade dos embriões em desenvolvimen-
to em fornecer suficiente sustentação
luteotrófica para vencer o efeito luteolítico da
FIG. 23-4. Procedimento de superovulação com prostaglandina do útero.
gonadotrofina e prostaglandina. PMSG =
gonadotrofina sérica de égua prenhe; PG = Inseminação
prostaglandina F2a; A I = inseplinação artificial;
CL = observação de corpos lúteos. (De Kanagawa
et aI. (1982). Ovulation rate in beef cattle after As doadoras superovuladas são
repeated treatments with gonatrophins and inseminadas mais frequentemente e com
prostaglandin. In In-vitro Fertilization and mais espermatozóides por inseminação do que
Embryo Transfer. E.S.E. Hafez and K. Semm (eds.). outras doadoras. Mesmo assim, os índices de
Lancaster, England, MTP Press.)
fertili~Jlção dos óvulos provenientes de doa-
doras superovuladas de modo geral são con-
qualquer hora entre o dia 6 do ciclo estral e a sideravelJ1lente mais baixos do que os índi-
regressão natural do CL. Contudo, a época ces dos óvulos de doadoras não tratadas
ótima para o tratamento é entre os dias 8 e (Elsden et aI., 1976). Isto pod~ ser parcial-
12 do ciclo na vaca (Betteridge, 1977). A mente devido ao transporte espermático
PGF 2a não apenas aumenta a flexibilidade subótimo, ovulação sobre um período de tem-
da época da superovulação, como é também po, oócitos defeituosos ou outras causas.
um tratamento excelente para a produção de
grande número de embriões normais. A maio- Superovulação Repetida
ria das doadoras entra em cio 2 a 3 dias após
a injeção de prostaglandina. Experimentos com superovulação t'!,!petida,
As porcas geralmente permanecem em algumas vezes são difíceis de interpretar por-
anestro durante as primeiras 6 semanas de que confundem-se frequentemente com as
lactação. No fim do verão e início do outono, a sequelas de cirurgia repetida (~aurer e Foote,
incidência de anestro em porcas desmama- 1971). Em média as doadoras respondem si-
das aumenta. O cio e a ovulação podem ser milarmente ao primeiro, segundo e terceiro
induzidos em porcas e marrãs em anestro por tratamentos superovulatórios. A resposta a
gonadotrofina: PMSG é administrada sozinha tratamentos subsequentes, todavia, é menor
ou em combinação com hCG. Uma única inje- em alguns indivíduos, provavelmente em
TecnologiaReprodutiva Assistida 479

consequência da produção de anticorpos con- ovulação e falha de recuperar todos os ovos


tra as gonadotrofinas. Isto pode ser evitado presentes.
até certo ponto, ap.mentando-se o intervalo Técnicas cirúrgicas têm sido utilizadas
entre os tratamentos hormonais. A produção para colher ovos de animais de laboratório
de anticorpos pode ser minimizada pelo em- (Daniel, 1971) e de outros animais (Dzuik,
prego de gonadotrofinas derivadas da mes- 1971; Murry, 1978). Os ovos permanecem nas
ma espécie daquela que está sendo tratada. trompas por 3 a 4 dias após o cio, migrando
então para o útero. A lavagem da trompa 1 a
3 dias após o cio produz mais ovos do que a
Transporte do Ovo lavagem 5 ou mais dias após o cio. Embriões
uterinos, porém, são colhidos com frequência
Diferenças entre espécies são notadas porque resultam em índices mais elevados de
quanto ao transporte do ovo na trompa e no gestação (Newcomb e Rowson, 1975) e podem
índice de clivagem. Na camundonga e na rata ser congelados com mais sucesso em algumas
os ovos movem-se em poucos minutos atra- espécies do que embriões mais jovens. Vários
vés da primeira curvatura da trompa para métodos de cateter são usados para colher
atingir a porção dilatada da ampola. Na ovos cirúrgica ou não cirurgicamente (Fig. 23-
camundonga, em que o transporte dos ovos é 5).
relativamente rápido, a mórula final ou o
blastocisto inicial são transportados para o Métodos Cirúrgicos
útero na manhã do terceiro dia após a fertili-
zação, e na tarde deste dia, todos os Os ovos presentes nas trompas podem ser
blastocistos estão no útero. Na rata o trans- colhidos a partir da fímbria em direção ao
porte dos ovos leva meio-dia a mais que na útero ou a partir da junção útero-tubárica em
camundonga. Na coelha, um revestimento direção à fimbria. Em espécies que não a
concêntrico de secreções da trompa é forma- suína e equina, a lavagem em dir~ção a fím-
do ao redor dos ovos fertilizados ou não en- bria é o método preferido porque pode-se re-
quanto na trompa. cuperar uma alta porcentagem d€!.ovos com
pouco dano ao trato reprodutivo, empora ocor-
Colheita e Manipulação de Oócitos ram aderências periovarianas em alguns ani-
mais (Fig 23-6).
Os embriões podem ser colhidos das trom- Em consequência da estrutura semelhan-
pas ou do útero após o sacrifício do animal ou te à válvula dajyp.ção útero-tubárica da por-
excisão do trato reprodutivo, ou podem ser ca e da égua, o meio de lavagem é introduzi-
removidos cirúrgica ou não cirurgicamente do do dentro da ampola da trompa através do
animal intacto (Tabela 23-9). Os ovos repre- óstio da fímbria com um pequeno tubo de vi-
sentando 40 a 80% dos corpos lúteos podem dro ligado a uma seringa. O meio é impulsio-
ser recuperados de animais intactos nado em direção à extremidade do corno
superovulados. Os índices de recuperação sf\o uterino e colhido através de uma agulha
levemente mais altos nos tratos excisados. Em romba ou um fino tubo de vidro polido a fogo
alguns casos não se sabe a razão porqu('\ o puncionando a parede uterina. Uma desvan-
número de ovos recuperados com frequência. tagem deste método é a formação frequente
é consideravelmente mais baixo do que o nú- de aderências pós-operatórias do úterp ou
mero de corpos lúteos. trompa.
Alguns dos oócitos podem não ser apanha- Os ovos podem ser recuperados dos cornos
dos pelas fímbrias devido a um ovário uterinm~ após deixarem as trompas, geral-
superovulado e bastante aumentado. Outras mente 5 tlias após o cio ou mais tarde. O meio
possibilidades incluem a perda de ovos do tra- de lavag-tlpl é introduzido na base do corno
to reprodutivo resultante de níveis alterados uterino e <li:r~cionado em direção à extremi-
de esteróides, a formação de corpos lúteos sem dade, onde o meio é colhido através de uma
480 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

TABELA 23-9. Técnicas de Colheita de Ovos


Técnica Espécies

Colheita do trato reprodutivo isolado:

Remover os órgãos reprodutivos e retirar o tecido adiposo adjacente e ligamentos. Todas as espécies
Lavar cada trompa e corno uterino, evitando contaminação do líquido de lavagem Todas as espécies
com o sangue.

Métodos cirúrgicos:

Lavar com 2-20 ml de meio a trompa a partir da porção superior do corno uterino Vaca, ovelha, cabra,
em direção às fímbrias usando uma seringa e uma agulha de ponta romba; coelha
colher o líquido de lavagem através de um pequeno tubo de vidro inserido no
infundíbulo.
Lavar com 15-20 ml de meio através da trompa a partir do infundíbulo, pela Porca, égua, alguma
junção útero-tubárica, e dentro da porção superior do corno uterino usando um utilização em
pequeno tubo de vidro ligado a uma seringa; colher os líquidos de lavagem outras espécies
através de uma agulha de ponta romba ou fino tubo de vidro inserido dentro
da luz uterina por uma pequena incisão.
Lavar o útero a partir da base do corno uterino em direção à junção útero- Todas as espécies
tubárica ou na direção inversa, usando 10 a 100 ml do meio, dependendo do
tamanho do útero; colher o líquido de lavagem através de uma agulha de ponta
romba ou pequeno tubo de vidro inserido na luz uterina por uma pequena
incisão.

Métodos Não-cirúrgicos:

Dilatar a cérvice (novilhas) com dilatador; inserir o cateter de Foley, o Vaca, égua
instrumento de Sugie, ou dispositivo similar dentro do corno uterino com
orientação manual pelo reto; inflar o balão com ar; irrigar o corno uterino com
100-800 ml do meio de lavagem; para éguas, inflar o balão na cérvice e lavar
ambos os cornos uterinos simultaneamante.

------ Um volume de 2 a 20 ml é usado para lavar


as trompas, enquanto 10 ml para lavar o úte-
~_::::;,c-\
J ro, dependendo de seu tamanho (Fig. 23-7).

Métodos Não-cirúrgicos

Para muitas aplicações, técnicas não-cirúr-


gicas de colheita de ovos são desejáveis por-
que todas as técnicas cirúrgicas podem levar
à formação de aderências e também porque
há menos riscos para a vida e a saúde da doa-
dora com métodos não-cirúrgicos. Existem
FIG. 23.5 Técnica não-cirúrgica para colheita de dois tipos de cateteres para colheita não ci-
ovos do útero bovino, desenvolvida por T. Sugie. rúrgica em bovinos: um sistema de lavagem
de dupla corrente e um sistema circulante de
agulha romba ou um pequeno tubo de vidro tripla corrente. Este último sistema minimiza
inserido na luz através de uma punctura na o tempo de lavagem e o volume de fluido usa-
parede uterina. A técnica pode também ser do e proporciona excepcional penetração
executada na direção inversa. Menos ovos são cervical. Ele pode também ser empregado em
recuperados com estas técnicas do que pela novilhas virgens (Fig. 23-8).
lavagem das trompas, e sérios danos podem Métodos não-cirúrgicos têm mostrado
resultar da formação de aderências uterinas. praticidade na recuperação repetida da mes-
Tecnologia Reprodutiua Assistida 481

e o processo repetido. O mesmo princípio é


~-'10 .
';'
.
usado para recolher ovos de éguas, com exce-
--
--'
/
t c':.;;);
,', -'.:J' ) ção que o balão é inflado na cérvice e ambos
.
'-.: "'-,' os cornos são lavados simultaneamente.
1f!l
.../ ~~.'////--
-., .6-
Uma seringa e uma agulha podem ser usa-
'
das para aspirar o fluido folicular com os

~
oócitos de vacas, éguas, ovelhas e marrãs aba-
./'
tidas (Figs. 23-9, 23-10). Cerca de 50% dos
oócitos recuperados são morfologicamente
/~';'" normais. O baixo índice de recuperação pode
A ser devido às dificuldades na separação da
camada celular de cumulus do oócito do
cumulus oophorus. Assim, é possível que os
melhores oócitos para cultura in vitro não
sejam recuperados. A ruptura de folículos iso-
lados fornece um índice de recuperação de
quase 100% e ajuda a distinguir folículos
atrésicos de não atrésicos.
Várias técnicas foram estabeleci das para
a perfusão do ovário in vitro, tentando-se en-
tender o mecanismo fisiológico da ovulação
(Koos et aI., 1984). Várias técnicas foram de-
senvolvidas para a perfusão do ovário isola-
do, com a intenção de estudar a ovulação.
Nestes sistemas, a ovulação se dá in vitro
quando os ovários são estimulados pela ad-
ministração de hCG in vivo ou de LH in vitro
(Koos et aI., 1984) (Fig. 23-11).
....
Preparo das Doadoras

1. A vaca doadora é colocada em um tron-


co apertado e sua parte traseira tos-
quiada antes da colheita de embrião.
2. A parte traseira da doadora é escova-
FIG. 23-6.Técnicas cirúrgicas de recuperação de da. Anestesia local e relaxante muscu-
ovos. A. Lavagem da trompa em direção à fímbria;
B. Lavagem da trompa em direção à junção útero-
lar são injetados ao redor da base da
tubárica; C. Lavagem do útero em direção à base cauda para a colheita de embrião.
do corno uterino. 3. Introduz-se um espéculo na doadora
guiado por uma vareta com extremida-
ma doadora. Uma consequência é que os ovos de arredondada para facilitar ao ope-
são agora recuperados de éguas e vacas sem rador a localização da cérvice. Um
superovulação (Oguri e Tsutsumi, 1974; introdutor é inserido através da cérvice
Elsden et aI., 1976). Cada corno uterino é pre- para facilitar a localização precisa. O
enchido com 30 a 60 ml do meio, que é reco- introdutor é então removido da cérvice
lhido dentro do vaso de colheita enquanto o e deixado dentro do útero da doadora.
útero é suavemente massageado através do 4. Um cateter de tripla corrente é passa-
reto. Isto é repetido até 300 a 800 ml do meio do através do introdutor dentro do cor-
terem sido utilizados. O cateter de Foley é no uterino. O cateter é feito de três tu-
então inserido dentro do outro corno uterino bos separados (colocado em uma bainha
482 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiua

~
Superovulação da doadora lnseminação artificial (5 dias Recuperação não cirurgica de embriões
com PMSG após o início da (6 a 8 dias após a inseminação
superovulação) artificial)

-J~ "~al

0
...~C ..

.,,
, /; o_"~"~"~"~
~ .

"

Cateter de Foley para Isolamento e


~
Transferência de embriões para
recuperação de embriões classificação de receptoras (a) cirúrgica ou (b) não-
embriões cirúrgica.

FIG. 23-7. Estágios que compõem a recuperação não-cirúrgica de embriões de uma vaca doadora
superovulada e respectiva transferência para uma receptora por técnica cirúrgica e não-cirúrgica. (De
Hunter, R.H.F. (1982). Reproduction ofFarmAnimals. NewYork, Longman.)

de plástico), cada um com uma abertu- com um microscópio composto a 40x a 200x
ra externa do lado de fora da doadora e de magnificação. Os embriões devem ser con-
que pode ser usado para introduzir ou servados em um recipiente que previna a eva-
colher líquidos. poração do meio de cultura. Óleo de parafina
5. O balão de plástico na outra extremi- pode ser usado frequentemente para cobrir o
dade é inflado para selar o corno do meio a fim de prevenir evaporação e conta-
útero dentro do qual o cateter está in- minação com microrganismos.
troduzido. Usando o cateter introdu- Usualmente, apenas ovos morfologi-
zido dentro do corno uterino, os em- camente normais são transferidos; todavia,
briões são trazidos para fora imersos alguns poucos que pareçam morfologicamente
no meio de cultura e coletados em tra- anormais podem desenvolver-se em produtos
vessas. normais (Shea et aI., 1976a, Elsden et aI.,
6. Os embriões colhidos são examinados 1978). Estágios de desenvolvimento embrio-
ao microscópio para avaliação de suas nário normalmente encontrados em várias
condições. épocas após a ovulação são apresentados na
Tabela 23-10 e Figura 23-12. Ovos em qual-
quer estágio, de uma célula ao blastocisto
Seleção de Ovos para Transferência eclodido, podem desenvolver-se a termo em
seguida à transferência para um ambiente
Após a colheita da doadora, os ovos são iso- adequado, porém índices de sucesso podem
lados sob um microscópio com magnificação ser mais baixos com estágios iniciais e muito
de 10x a 15x. Uma pipeta fina é usada para tardios. Sob a maioria das condições, os em-
movê-Ios dentro de meio de cultura fresco a briões entre os estágios de oito células (qua-
fim de examinar a morfologia, usualmente tro células em suínos) e o de blastocisto re-
TecnologiaReprodutiva Assistida 483

Cateter de Foley no útero

cérvice corpo do útero


cânula
3-cateter flexível
triplo

corno uterino

balão inflável selando a


extremidade do corno

FIG.23-8. Utilização do cateter de Foley, de borracha, com balão inflável para recuperação de embriões
em bovinos. Um meio fisiológico é introduzido através do cateter, faz a lavagem em todo o corno uterino,
retomando também através do cateter para um frasco coletor (Hunter, 1982). A vulva é desinfetada e
um espéculo é introduzido na vagina em direção à cérvice. A parte central do espéculo é removida, e
substituída por um introdutor. O espéculo é então retirado e o introdutor é passado através da cérvice,
usando a técnica retal; ele é inserido dentro do corno uterino apropriado até o ponto que possa ser
facilmente atingido sem causar trauma. O introdutor é seguro em posição enquanto que a vareta central
de inserção é retirada, e o triplo cateter estéril Bovino é passado através dele. Se houver resistência
para uma movimentação livre do cateter, um assistente deve segurá-Io em posição enquanto que o operador
solta o introdutor e corrige a causa da obstrução. Então o operador recoloca o introdutor, e o cateter é
passado tanto quanto possível em direção àjunção útero-tubárica. (De Hunter, R.H.F. (1982). Reproduction
ofFarmAnimals. NewYork, Longman.)
484 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

TABELA 23-10. Estágios do Desenvolvimento Embrionário em Vários Thmpos Após


a Ovulação
Estágio de Dias Após a Ovulação, por Espécie
Desenvolvimento
Embrionário Vaca Égua Ovelha Cabra Porca Coelha
1 célula 0-1 0-1 0-1 0-1 0-1 0-1
2 células 0-2 0-2 0-1 0-1 0-1 0-1
4 células 1-2 1-2 1-2 1-2 2-3 1
8 células 2-4 2-3 2-3 2-3 3-4 1
Mórula inicial 3-5 2-4 2-4 2-4 3-4 2
Mórula compacta 4-6 4-5 4-5 4-5 3-5 2
Blastocisto inicial 6-7 5-6 5-6 5-6 4-5 3
Blastocisto 6-8 6-7 6-7 6-7 5-6 3
Blastocisto expandido 7-9 7-8 7-8 7-8 5-7 4-6
Blastocisto em eclosão 8-10 8-9 8-9 7-9 6-8 7

(Adaptado de Betteridge, 1977)

sultam nos índices de gestação mais altos. 3. Ocorre a ruptura do folículo e a ovula-
Embriões mais velhos podem tolerar manejo ção.
in vitro melhor do que embriões mais jovens Na égua e certos carnívoros, a ovulação pro-
(Fig.23-13). vavelmente ocorre antes da formação do oócito
Embriões defeituosos mostrando qualquer secundário. Em 1935, Pincus e Enzmann des-
uma das anomalias morfológicas abaixo de- cobriram que os oócitos removidos dos
vem ser descartados. . folículos de Graaf de coelhas antes da onda
1. Blastômeros de tamanhos variáveis, de LH, e colocados em um meio de cultura
não uniformes adequado, entravam em maturação esponta-
2. Restos celulares na mórula neamente. Mais recentemente, isto foi con-
3. Colapso do blastocisto degenerado den- firmado em várias espécies; todavia, uma alta
tro de uma zona pelúcida de forma incidência de anormalidades cromossômicas
oblonga (McGaughey e Polge, 1971) e deficiências
4. Figura de desintegração mitótica citoplasmáticas (Moor e Trounson, 1977) in-
5. Blastômeros espumosos indistintos dicam que o processo não é sempre normal.
6. Fragmentação do material citoplas- Os oócitos podem ser total ou parcialmen-
mático e nuclear te amadurecidos in vitro e então fertilizados,
7. Forma anormal da mórula ou usualmente in vivo. Em alguns destes estu-
blastocisto (Fig. 23-14) dos, a fertilização foi claramente anormal e
pode assim tê-Io sido na maioria deles. Uma
Maturação In Vitro de Oócitos e Embriões descendência normal, contudo, resultou de
dois dos estudos. Melhores resultados foram
Os folículos de Graaf contêm oócitos pri- obtidos quando o folículo inteiro foi cultivado
mários que normalmente completam o desen- com hormônios apropriados (Moor e
volvimento morfológicona sequência a seguir, Trounson, 1977). Aparentemente, este méto-
em resposta à onda pré-ovulatória de LH: do não produz as anormalidades associadas
1. A membrana nuclear (vesícula com maturação in vitro de oócitos isolados.
germinativa) se degrada. O desenvolvimento embrionário ocorre em
2. O oócitosecundário é formado pelo aca- várias condições de cultura, meios e suple-
bamento da primeira divisão meiótica mentos, e atmosferas gasosas. As culturas em
e extrusão do primeiro corpúsculo po- tubos fechados produzem resultados iguais
lar. A placa de metáfase para a segun- aos notados em microgotas de meios sob óleo
da divisão meiótica é formada logo de- de parafina. Uma atmosfera reduzida de oxi-
pois. gênio de 5% CO2, 5% O2, 90% N2 é pelo me-
Thcnologia Reprodutiva Assistida 485

-
".i
18 em.
- 23.5 em.

Balão de silicone 14GAgulha

A ~&
Tampa de Infusão
Silicone

~
18.0 em.

12G cãnul!i
)r>
!:>-
Disco de Manuseio
do Trocarte 23.5 em.
.
Configuração da Extremidade

14G Agulha
Balão de silicone
Tampa de
Silicone

9.0 em
1-3.sem-I1.01.. .I-s.oem-I

j c~ !
0.6
t B~ :~
c.,,;l D

c :~A

(Legenda aparece na próxima página),


486 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiua

~ A
~
~
terrompida no estágio de diplóteno no nasci-
mento até ser reassumida pela onda
superovulatória de gonadotrofinas. Enquan-

.-< - I:/;:
B
~
~
to a meiose está interrompida, os oócitos são
selecionados continuamente para crescerem
a partir da coleção de oócitos primordiais. Re-
sultantes da onda pré-ovulatória de gonado-

~ c
~
~
trofinas, os oócitos plenamente crescidos nos
folículos sofrem meiose, completam a primei-
ra divisão meiótica, entrando então em um

~ D
~
~
segundo período de interrupção na metáfase
lI. A sequência de modificações no oócito en-
tre os dois períodos de interrupção meiótica é
chamada de maturação do oócito, que consis-
te de modificações nucleares, citoplasmáticas
e de membranas (Wassarman, 1988). A con-
~ clusão destas modificações de maturação leva
à fertilização normal e ao desenvolvimento
embrionário.
FIG. 23-10. Fases A, B, C e D mostram a colheita Quando oócitos totalmente crescidos são
pós-morte de ovos e embriões de suínos. removidos dos folículos antes da onda de
gonadotrofina e cultivados em meio, eles so-
nos igual e, em algumas espécies, superior a frem meios e e completam a primeira divisão
5% CO2 em ar na promoção do desenvolvi- meiótica in uitro. Estes oócitos, amadureci-
mento embrionário (Wright e Bondioli, 1981). dos "espontaneamente" in uitro, mostram um
Os níveis de fertilização, clivagem e gesta- potencial muito pobre para fertilização nor-
ção em oócitos imaturos são mais baixos do mal e desenvolvimento embrionário. A remo-
que em oócitos maduros. A meios e começa ção de oócitos do ambiente inibidor da meiose
durante o período fetal precoce, então é in- dentro dos folículos não é suficiente para a

FIG. 23-9. Conjunto de agulhas para aspiração de óvulos. A. Aço inoxidável, calibre 14 com extremidade
em biseI de 60°. A porção utilizável mede 23,5 cm, permitindo a projeção de 4,5 cm a partir da cânula.
Teflon transparente reveste a agulha desde 2 a 3 mm dentro da ponta até a porção final encurvada da
extensão de 75 cm que passa através da rolha de silicone. A rolha é adaptada a uma agulha de vácuo
para aspiração controlada e a um eixo Luer-Lok de metal ao redor da tubulação externa para infusão de
meio de cultura. O diâmetro da luz do revestimento de Teflon é 1,2 mm:t 1 mm, equivalente à luz de uma
agulha padrão de calibre 18 (Catálogo N2 OPS-2). B. Cânula de aço inoxidável polido de 16,0 cm de
comprimento com eixo Luer- Lok, calibre 12. A ponta de um trocarte de aço inoxidável prolonga-se 1 mm
além do revestimento, uma extremidade em forma de disco com as partes laterais serrilhadas facilita
uma segura manipulação com uma só mão. (N eedle Assembly) Aço inoxidável, calibre 14 com extremidade
especial em biseI de 60°. A porção utilizável mede 23,5 cm, permitindo a projeção de 4,5 cm a partir do
revestimento. Teflon transparente reveste a agulha desde 2 a 3 mm dentro da ponta até a porção final
encurvada da extensão de 75 cm que passa através da rolha de silicone. A rolha é adaptada a uma
agulha de vácuo para aspiração controlada e a um eixo Luer-Lok de metal ao redor da tubulação externa
para infusão de meio de cultura. O diâmetro da luz do revestimento de Teflon é 1,2 mm:t 1 mm, equivalente
à luz de uma agulha padrão de calibre 18 (Catálogo NQOPS-3). C. Diagrama do aparelho usado para
colheita não-cirúrgica de ovos de coelha, na vagina. O líquido de lavagem aquecido é impulsionado para
dentro de um tubo injetor estreito: (a) o líquido flui através do cateter para a porção anterior do lúmen
vaginal; (b) então, o lavado volta ao cateter através dos orifícios (c), sendo recuperado no tubo de ensaio;
(d) as flechas mostram a direção do fluxo. (A, B de Tsutsumi et aI. (1976). J. Reprod. FertiI. 48, 393; C de
Y. Tsutsumi (1980). Nonsurgical embryo recovery from rabbit vagina. Arch. AndroI. 5, 111-113.)
Tecnologia Reprodutiva Assistida 487

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DETALHE DO TUBO ACANALADO
FIXADO NA TROMPA

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~ RECIPIENTE PARA OBSERVAÇÃO
EMBRIOLÓGICA

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ESPÉCULO
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,- TUBULAÇÃO- VAGINAL
. PLÁSTICA
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3',--- - B 4 li! ~

PLACA DE PETRI

FIG. 23-11. Colheita de ovos em macacos. I, Lavagem retrógrada das trompas de macaco rhesus para
recuperação de ovos tubáricos. lI, Lavagem uterina no macaco rhesus. lll, Colheita de embriões pré-
implantação de babuíno (a uma espátula é usada para separar o endométrio do miométrio; (b) o útero é
invertido (flecha) e o saco endometrial contendo os embriões é cortado na cérvice uterina. N, Colheita de
embriões pós-implantação de babuíno. (1 e U de Brackett et aI. (1971). Cleavage ofrabbit ova inseminated
in vitro after removal of follicular cells and zonae pellucidae. FertiI. Steril 22, 816-828; lU e IV de
Hendricks, AG. (1971) Embriology of the baboon. Chicago, University of Chicago Press.)

maturação fisiológica dos mesmos. A adição ram induzir gestação resultante de oócitos
de gonadotrofinas e esteróides ao meio de bovinos amadurecidos e fertilizados in vitro.
maturação promove a maturação in vitro de
oócitos extrafoliculares e leva a um aumento Transferência de Embriões
do potencial de fertilização e desenvolvimen-
to embrionário. Inclusive, a cultura de oócitos Transferência Não-cirúrgica
em folículos isolados intactos (cultura do
folículo integral) confere ao oócito maturação Resultados de transferência de embriões
fisiológica in vitro. Xu et aI. (1987) consegui- não-cirúrgica foram resumidos por Foote e
488 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

ponta romba e os embriões são expelidos da


extremidade da pipeta capilar inserida den-
dias após o dias após o tro da luz uterina.
cio cio
Para a transferência de embriões bovinos,
~1 ~ Mórula a laparotomia pode ser praticada sob
5 - 7 'e compacta anestesia local. A extremidade do corno
O- 2 ~célUla
uterino é exposta através de uma incisão no
~2
1 - 3 ~c~lulas
7-8 ~
~
.

..
. Blastocisto

precoce
flanco. O ovo é então depositado
uterina.
na luz

Em ovinos e caprinos, a recuperação e


transferência de embriões podem ser execu-

2 -3 eCé~as -
7 9 O Bl"""'",
tadas por técnicas cirúrgicas sob anestesia
geral ou local com o animal contido em uma
goteira para laparotomia. A abordagem é in-
variavelmente por incisão medioventral, com
3 -5 @céfulas
8 - 10
() Blastocisto
e~ expan-
exposição do trato genital, e as trompas ou os
cornos uterinos são lavados para a colheita
sao
~16 dos ovos. Os embriões são transferidos com
uma ou duas gotas de meio dentro das trom-
4 - 5 Vcélulas
pas ou dos cornos uterinos expostos fora da
~ ~Blastocisto
incisão (Sugie et aI., 1982) (Fig. 23-15).

5 -6 .Mórula 9 - 11 ~em eclosão Seleção e Preparo de Receptoras


FIG. 23-12. Embriões de bovino morfologicamente
normais recolhidos em vários estágios de A taxa de gestação após a transferência de
desenvolvimento. embriões é bastante influenciada pelas con-
dições e preparo das receptoras. Um animal
Onuma (1970). Com a técnica desenvolvida incapaz para o serviço natural não pode ser
por Sugie (1965), a cérvice não é transpassa- utilizado para transferência de embriões. As
da. Correntemente, o método mais comum é fêmeas seleciona das como receptoras devem
depositar os ovos no útero através da cérvice ser boas reprodutoras, apresentar trato
com uma palheta de IA, 6 a 12 dias após o cio genitallivre de infecções e com 3 meses após
(Sreenan, 1978; Trounson et aI., 1978a). o parto (e não em amamentação). Além disso,
as receptoras devem ser sexualmente madu-
Transferência Cirúrgica ras, com ciclos normais, em boas condições e
sem peso excessivo. Vários cateteres têm sido
Os embriões geralmente são transferidos utilizados para a transferência de óvulos fer-
cirurgicamente. A laparotomia medioventral tilizados para as receptoras.
sob anestesia geral é o método mais comum,
embora as vias de acesso do flanco e lombar Sincronização do Cio entre Doadora e
sejam com frequência utilizadas em bovinos Receptora
e em coelhos. O trato reprodutivo é exposto
como para a colheita de ovos. Na transferên- Para uma transferência de embriões bem-
cia para as trompas, a extremidade de uma sucedida, é necessária a sincronização entre
pipeta capilar contendo os embriões é inserida o estágio do ovo e o trato reprodutivo da
dentro do infundíbulo e ampola da trompa, receptora (Fig. 23-16). Isto é realizado usual-
onde os embriões são então depositados em mente pela seleção de receptoras que estive-
uma ou duas gotas do meio. Quando a trans- ram em cio ao mesmo tempo que a doadora,
ferência é feita para o útero, a parede do cor- seja naturalmente ou em consequência de sin-
no uterino é puncionada com uma agulha de cronização do cio (Sreenan et aI., 1975). Para
Tecnologia Reprodutiva Assistida 489

J
FIG. 23-13. A, Desnudo e B, ovos de coelha não tratados com células foliculares cerca de 5 horas após
inseminação com espermatozóides epididimários que haviam sido expostos a um meio definido por 15
minutos e pré-incubados por 1 hora. Muitos espermatozóides penetraram no espaço perivitelino do ovo
desnudo do que dentro daquele do ovo com células foliculares. Os ovos estão ligeiramente comprimidos
sob uma lamínula e examinados sem coloração sob contraste de fase. Quando examinados após coloração,
o corpúsculo polar secundário, pró-nucleos masculino e feminino, e a cauda espermática penetrante
foram observados claramente. C, Embrião ovino de oito células recuperado da trompa 3 dias após o fim
do cio. D, Embrião equino, blastocisto precoce, recuperado do útero 7 dias após a ovulação. E, F. Micrografia
eletrônica de varredura de embrião de duas células (E) e mórula (F) após remoção da zona pelúcida. (A
e B cortesia do Professor Niaw et aI., 1983; C, D cortesia do Professor N. Ogiri.)
490 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

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FIG. 23-14. Ovo de uma célula em degeneração,


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~
que não deve ser utilizado para transferência de
embriões rotineira.

resultados ótimos, a receptora deve estar em


cio com um limite de 12 horas em relação à
doadora. A taxa de gestação cai drasticamen-
te se a diferença for maior de 24 horas em
vacas e de 48 horas em ovelhas e cabras. As
FIG. 23-15. (Acima) Laparoscopia em macaco.
receptoras de embriões congelados ou arma-
(Abaixo) Técnica de transferência laparoscópica de
zenados em baixa temperatura devem ser embriões no sagui. (De Kuehl, T.J. e Dukelow, WR.
selecionadas para estarem em sincronia fisio- (1977). Methods in mammalian reproduction. J.
lógica com o estágio de desenvolvimento do Med. Primatol. 20, 31.)
embrião. Assim, se os embriões estiverem con-
gelados por 2 dias, eles deverão ser transferi-
dos para receptoras que estiveram no cio 2
dias após a doadora. As perdas de gestação
por transferências não sincronizadas são pro- recuperadas cirurgicamente e conservadas
vavelmente devido à colocação dos embriões nas trompas ligadas de três coelhas em cio
em ambiente adverso, ou à inabilidade de por 40 a 49 horas, foram transferidas com
embriões não sincronizados para exercer uma sucesso para o corno ipsilateral ao CL em três
ação luteotrófica sobre o corpo lúteo da éguas receptoras. Embriões recuperados ci-
receptora. rurgicamente da trompa ou útero de éguas e
transferidos também cirurgicamente ao local
Transferências de Embriões Interespécies correspondente de receptoras, continuaram a
Recíprocas se desenvolver; e cinco de sete embriões re-
cuperados não-cirurgicamente foram trans-
As transferências de embriões interes- feridos não-cirurgicamente através da cérvice,
pécies recíprocas (recuperados cirúrgica ou obtendo-se sucesso (Oguri e Tsutsumi, 1982).
não-cirurgicamente) entre equinos e asininos Outras transferências de embriões interes-
têm sido bem-sucedidas. Mórulas de égua, pécies estão resumidas na Tabela 23-11.
TecnologiaReprodutiva Assistida 491

100 brevivem. Sob certas condições ideais, até 80%


dos embriões sobrevivem a termo após trans-
ferência para uma fêmea receptora sincroni-
ao zada. Os maiores índices de gestação em ove-
o
'01
u.
""
lhas, vacas e cabras são obtidos com a
Q)
'" transferência de um embrião em cada corno
§
'" 60
Q)
uterino da receptora. Isto resulta frequente-
"O mente no nascimento de gêmeos. Em porcas
Q)
'"
;a 40 e coelhas, 6 a 10 embriões devem ser transfe-
,..5
ridos em cada lado para se obter uma ninha-
da de tamanho normal, pois apenas cerca da
20 metade dos embriões transferidos são repre-
sentados por produtos viáveis ao nascer.
Os índices de gestação e de sobrevivência
o
2 3 4 5 6 7
dos embriões que têm sido determinados pre-
Idade dos ovos (dias) cocemente na gestação, usualmente são ape-
nas ligeiramente diminuídos em relação aos
100 índices de gestação a termo. Experimentos
foram realizados com transferências de em-
~ briões de animais doadores jovens para
"
~80
~
J:
.------
I
"'-"
Ovelha

,
receptoras mais velhas, de jovem para jovem,
e de animais velhos para jovens. A porcenta-
60 I ," gem mais baixa de sobrevivência embrioná-
I
I '.
\ ria foi encontrada quando embriões jovens
I \
40 I \ foram transferidos para mães velhas, indican-
I do que a pobre implantação em fêmeas ido-
I
I sas é devido a um ambiente materno defeituo-
20 - I

,
I
so.

-3 -2 -1 O +1 +2 +3 Registros de Transferências de Embriões


Sincronização doadora-receptoras (dias)

FIG. 23-16. (Acima) Índices ótimos de concepção As seguintes estatísticas devem ser com-
após técnicas de transplante de embriões em bovi- piladas nos registros de transferência de em-
nos são obtidos com blastocistos de 6 dias de ida- briões:
de. A seleção de embriões a serem transplantados Número de ovos aspirados
sem dúvida, contribui para o índice de sucesso
neste estágio. (Abaixo) A importância do íntimo Número de ovos/número de folículos aspi-
sincronismo entre os ciclos estrais da doadora e rados (%)
das receptoras para altos índices de concepção após Número de gestações/número de ciclos de
o transplante de embriões. (Hunter, R.H.F. (1982). tratamento (%)
Reproduction of Farm AnimaIs. New York, Número de ciclos com onda de LH endógeno
Longman.)
(%)
Número de ovos fertilizados que sofreram
clivagem
Manutenção da Gestação Após a Número de gestações clínicas/número de
Transferência de Embriões ciclos de reposição (%)
Número de gestações bioquímicas
Os índices de gestação, porcentagem de diagnosticadas por método sensível
receptoras prenhes, não devem ser confundi- Número de abortamentos clínicos/número
dos com a porcentagem de embriões que so- de gestações clínicas (%)
492 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

TABELA 23-11.Transferência de Ovos entre Espécies


Estágio de Intervalo Entre a
Desenvolvimento ou Transferência e o
Local da Idade dos Ovos Exame
Doadora Receptora Transferência na Transferência (Dias)

Camundonga Coelha Trompa 31/2 3


Rata Cápsula ovariana 11/2,21/2,31/2 1-2
Rata ompa, útero 2 células, blastocisto 5-11
Cobaia Utero 31/2 1-2
Rata Camundonga ompa 2 a 8 células 7-13
Camundonga Utero 6 11/2
Coelha Útero 41/2 1-2
Coelha ompa 5,7, a 11 2
Hamster Utero 4 a 5 ou pró-nuclear, ?
mórula

Hamster Rata Útero 4 a 5 ou pró-nuclear, ?ou2-3


mórula

Rata silvestre Camundonga Trompa 2 a 8 células

Cobaia Camundonga Útero 5 1-2

Coelha Rata Útero 1,2, e 3 1-2


Cobaia Útero 1 1-2
Camundonga Útero 1/4,3 1-2
Furão Útero 1 célula, mórula, 2-4
blastocisto
Vaca Útero 2a3 1/2 ou 2
Lebre das neves Coelha Trompa Pró-nuclear, 6 ou 13
2-4 células

Furão Coelha Trompa 4 2-4


Marta 6-7 5-23

Marta Furão Útero 6-8 6-25

Vaca Coelha Trompa 4 5


Ovelha Cabra 3 ou4 4-5
Coelha Trompa 8 células 4

Cabra Ovelha 5 Meio-termo


Porca Coelha Trompa 8, 32, 56 ou 80 1, 2, ou 3
horas após
fertilização

Esquilo Coelha Trompa Oócitos foliculares 2ou3


10-12 horas
após hCG :t 24
horas de cultura
(Cortesia do falecido Dr. C. Adams, Cambridge).

FERTILIZAÇÃO IN VITRO desenvolvimento e aplicação da FIV em ani-


mais domésticos foram revistos extensiva-
Os primeiros estudos sistemáticos de fer- mente por Wright e Bondioli (1981). A FIV é
tilização de ovos de coelha in vitro por de significado prático para obter grande nú-
espermatozóides recuperados do trato femi- mero de embriões para investigações cientí-
nino foram comunicados por Dauzier et alo ficas ou para transferência subsequente a
(1954) e Thibault e Dauzier (1960, 1961). O receptoras apropriadas (Tabela 23-12).
TecnologiaReprodutiva Assistida 493

TABELA 23-12. Espécies em que Foram Realizadas Fertilizaçãoln Vitro*


Fertilização Clivagem Nascimentos Após
Espécie in Vltro in Vltro Transferências de Embriões
Camundonga, rata, coelha + + +
Mulher + + +
Gata + +/-
Hamster +
Cobaia, cão +
Primatas não-humanos +/- +/-
Vaca, porca +/-
Ovelha, égua
* Realizadas (+); não comunicada ou não realizada (-); não realizada rotineiramente e/ou não demonstrada conclusivamente
(+ / o). (Compilado por Bavister, 1982).

ESPERMATOZÓIDE OÓCITO
Colheita e Capacitação de Espermatozóides

Os espermatozóides não atingem sua ca-


pacidade total de fertilização até depois de
serem transportados no trato reprodutivo fe-
minino. Os espermatozóides devem passar

penetração
.. ovulação

do cumulus oophorus e zona pelúcida


por novas modificações fisiológicas antes de
poderem penetrar na zona pelúcida e fundi-
rem-se com o vitelo dos óvulos (capacitação
espermática) (Fig. 23-17). O desenvolvimen-
fusão espermatozóide X oócito
to de condições definidas em que a fertiliza-
~ ção pode tomar lugar fora do organismo au-
modificações iônicas mentou rapidamente a profundidade de
~
,~-;~
"' . libe~aç~o de grânulos
COrtIcaIS
compreensão da capacitação espermática e a
da reação do acrossomo dos espermatozóides.
.

~ A maior parte dos experimentos iniciais com


bloqueioà ~./: .. FIV não foi bem-sucedida porque os
polispermia~ .. .
espermatozóides não estavam capacitados,
~
retomada meiótica
termo que se refere a uma modificação dos
4'- extrusão
'"f~~;" do 2"-
corpúsculo polar
espermatozóides ejaculados no trato repro-
dutivo feminino, tornando-os capazes de fer-
~ tilizar os oócitos.
formação ~ O mecanismo molecular de capacitação é
pró-nuclear 16.\1
desconhecido. Uma teoria é que as membra-
~
nas da célula espermática não capacitada são
~ síntese de DNA especificamente estabilizadas para proteger
~ contra danos no trato reprodutivo feminino e
troca metabólica que a capacitação é o inverso desta estabili-
~
zação. Uma outra é que a capacitação consis-
pares de cromossomos haplóides emergindo no fuso mitótico
te na remoção de inibi dores das enzimas
retomada meiótica acrossômicas. Em cada espécie, a capacitação
é completada pelo maior tempo que os
espermatozóides entram em contato com os
@) clivagem
oócitos. Uma provável explicação da capaci-
tação invoca o fator de decapacitação, o qual
FIG. 23-17. Cadeia dos principais eventos que julga-se seja produzido nos epidídimos ou
ocorrem na fertilização do ovo in uiuo e in uitro. glândulas sexuais acessórias do macho e jun-
494 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

tado aos espermatozóides. A capacitação pode mais, o desenvolvimento embrionário é anor-


envolver a remoção do fator das membranas mal ou a fertilização pode não ocorrer de ma-
celulares dos espermatozóides. Esperma- neira nenhuma. Diferentemente do
tozóides capacitados são obtidos frequente- espermatozóide, o oócito p,tio requer exposi-
mente do trato reprodutivo de uma fêmea ção ao trato reprodutivo após a liberação da
acasalada. Um método comum é injetar um gônada, para ser fértil. Sob certas condições,
meio através do útero. As trompas também porém, a fertilização in vitro é favorecida pela
contêm espermatozóides capacitados. presença de células da corona radiata e do
Para algumas espécies, a capacitação pode cumulus oophorus (Seidel et aI., 1976).
ser conseguida in vitro, embora o mecanismo A co-cultura de mórulas bovinas com
assim como a duração do processo possam di- fibroblastos bovinos provou superioridade na
ferir do fenômeno in vivo. Meios com alta for- sustentação in vitro da eclosão do embrião
ça iônica parecem promover a capacitação in (Kuzan e Wright, 1982). A co-cultura de em-
vitro. briões de camundongos com outros tipos ce-
lulares mostrp~ que uma porcentagem maior
de blastocistos de camundongo eclodiu da
Colheita e Fertilização de Oócitos zona pelúcida quando cultivado com uma ca-
mada alimentadora de células HeLa irradia-
Oócitos para FIV são obtidos usualmente das e outros tipos celulares.
das trompas logo após a pvulação, porém po- Em outros sistemas, a FIV prossegue nor-
dem também ser conseguidos de folículos ou malmente quando estas células tenham. sido
da superfície do ovário. Enquanto que os removidas mecanicamente ou enzimatica-
espermatozóides podem penetrar os oócitos mente com hialuronidase.
com idade variável do estágio primário ima- EJIl comparação à FIV, a porcentagem de
turo antes do rompimento da membrana nu- Aócitos fertilizados in vitro é usualmente mais
clear até oócitos envelhecidos recuperados a baixa. Além disso, a fertilização pode levar
lllais de um dia após a ovulação, o desenvol- mais tempo para se completar in vitro e a in
vimento embrionário normal não resulta da cidência de polispermia pode ser aumentada.
fertilização de oócitos em qualquer extremo.
Os espermatozóides rapidamente ligam-se Pré-requisitos e Critérios da FIV
à superfíGi~ qa zona pelúcida. O
espermatozóide fertilizante atravessa essa Existem vários pré-requisitos para a FIV:
membrana, deixando uma pequena fenda 1. Maturação nuclear e citoplasmática de
notada muitas horas após a penetração den- gametas nas gônadas
tro d~ óvulo. A passagem através da zona é 2. Desenvolvimento da fertilidade de
r4nipa. Os espermatozóides sofrem modifica- gametas nos tratos reprodutivos mas-
ções marcantes com o óvulo incluindo (a) per- culino e feminino
da da aspereza do contorno da cabeça do 3. Um número ótimo de espermatozóides
espermatozóide e (b) aparecimento dos fertilizáveis com motilidade vigorosa
nucléolos primários dentro do núcleo 4. Um pyulo fertilizável com um primeiro
espermático aumentado. O pró-núcleo mas- corpúsculo polar
culino cresce mais rapidamente do que o pró- A prova da FJV é o nascimento de produ-
núcleo feminino. tos normais, geneticamente marcados pelo
Vários tipos de placas de cultura têm sido ancestral masculino e resultante da transfe-
utilizados pará a FIV. A interação in vitro rência do ovo fertilizado para um receptor fe-
entre o espermatozóide e o óvulo é mostrada minino. Resultante do tempo e do empenho
na espécie humana (Fig. 23-18) e primatas requerido para transferir embriões, porém,
não-humanos. outros critérios são frequentemente utiliza-
Em oócitos envelhecidos, a incidência de dos, tais comoa penetração do espermatozóide
polispermia é alta. Se o oócito for velho de- dentro do ooplasma, inchação da cabeça
Tecnologia Reprodutiua Assistida 495

(Legenda aparece na próxima página).


496 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

TABELA 23-13. Maturação de Oócitos e Capacitação Espermática para Fertilização


In Vitro
Maturação
do Oócito *
Espécie (Horas) Locais de Capacitação Espermática Locais de Fertilização

Bovina 20-30 Útero (vaca, coelha) Krebs-Ringer + BSA Trompa (coelha, ovelha, porca)
Trompa ou útero de vaca abatida ou fluido In viera
folicular de coelha
In viera em meio de alta força iônica

Ovina 24-28 Trompa ou útero de ovelha Trompa de ovelha


In viera In viera
Nenhum

Suína 20-27 Trompa ou útero de porca abatida Trompa de porca


Espermatozóides do epidídimo no útero ou In viera
trompa de porca abatida
* Fonte de oócitos: folículo ovariano, trompa, e maturados in vitro.
BSA = albumina sérica bovina.

espermática, formação pró-nuclear, clivagem Cromossomos e Genes


morfologicamente normal, formação de
blastocisto, demonstração de um cromossomo Os arranjos cromossômicos durante a
Y no embrião, ruptura dos grânulos corticais mitose e meiose estão ilustrados na Figura
e evidência de uma cauda espermática no 23-19. Normalmente, o óvulo (X) é fertilizado
ooplasma. Nenhum destes sozinho é prova pelo espermatozóide X ou Y. Em casos anor-
suficiente de fertilização normal; embriões mais de não-disjunção de oogênese ou
partenogenéticos, p. ex., também exibem al- espermatogênese, a fertilização pode ocorrer
guns destes tratos. entre um espermatozóide anormal e/ou um
óvulo anormal resultando em várias anoma-
lias cromossômicas (Tabelas 23-15 e 23-16).
ENGENHARIA GENÉTICA Anomalias estruturais dos cromossomos in-
cluem translocação, deleção, anéis e inversões
A fertilização envolve a união do DNA do de cromossomos durante a mitose ou a meiose.
núcleo na cabeça espermática com o DNA do Tais anomalias afetam autos somos indivi-
núcleo do óvulo. O ovo sofre modificações de duais ou cromossomos sexuais.
maturação complexas conhecidas por meiose A célula animal compreende um núcleo,
antes de estar pronto para a fertilização. Es- unidades manufaturadoras de proteínas e
tas modificaçõescomeçam durante a vida feta! pontos de produção de energia. Cordões
e são completadas apenas após a ovulação e espiralados duplos de átomos são o DNA (áci-
a penetração espermática (Tabelas 23-13, 23- do desoxirribonucléico), a química mestre de
14). genes. A sequência ou esquema daqueles áto-

FIG. 23-18. Microfotografias eletrônicas de varredura de óvulos humanos passando por fertilização in
vitro. A. Oócito pré-ovulatório parcialmente circundado por células da corona. Caudas de espermatozóides
podem ser vistas entre as células da corona. B. Cerca de 100 espermatozóides podem ser notados sobre
os oócitos não-ovulatórios. C. A superfície da zona pelúcida pode parecer lisa. Isto pode facilitar a
observação de espermatozóides sobrepostos e penetrantes. D, E, F, G. Interação espermatózoide-óvulo.
Processos citoplasmáticos de células granulosas estendem-se ao redor da cabeça do espermatozóide. A
maioria dos espermatozóides estão planos sobre a zona pelúcida, a maioria dos espermatozóides unidos
perderam seus capuchões acrossômicos, embora alguns dos unidos estejam sofrendo a reação do acrossomo
porque a parte anterior das cabeças está vesiculada. Inicialmente, a parte anterior da cabeça dos
espermatozóides penetra do poro da zona quase tangencialmente. (A, B, C, cortesia do Professor P.
Sundstrom da Suécia; D, E, F, G, cortesia dos professores H. Hoshiai, A. Tsuiki, K. Takahasi e M. Suzuki
do Japão.)
TecnologiaReprodutiva Assistida 497

TABELA 23-14. Procedimentos e Parâmetros Fisiológicos dos Gametas e Fertiliza-


ção
Estágios e Procedimentos Parâmetros Fisiológicos e Mecanismos Reguladores

Aspiração de oócitos Tamanho do folículo


Maturação do oócito, técnicas e ritmo
Fluido folicular
Bioquímica
Hormônio
Massa do cumulus oophorus
Superovulação

Espermatozóides Maturidade espermática, motilidade e concentração no meio


Capacitação espermática
Reação do acrossomo, modificações na superncie espermática
Concentração de íons e atividade enzimática no meio

Fertilização in vitro Quantidade e qualidade dos espermatozóides em cultura


Capacitação espermática
Meio básico de cultura
Aditivos
Fonte de energia
Estimulantes espermáticos
Hormônios
pH
Fase de gás (tensão de °2)
Ausência de plasma seminal
Características microscópicas de óvulos fertilizados

Critérios de fertilização in vitro Penetração dos espermatozóides dentro do vitelo


Presença de cauda espermática no vitelo
Presença de pró-núcleos masculino e feminino no ovo
Presença de dois corpúsculos polares no espaço perivitelino
Clivagem e formação de dois blastômeros de igual tamanho, forma e sem
fragmentação

Transferência de embriões Situação do embrião


Nível de clivagem e regularidade de blastômeros
Estágio de desenvolvimento do endométrio
Técnica de transferência
(McLaren, 1980)

mos contém todas as instruções que a célula de sódio 0,9% em tubos siliconizados de cen-
precisa para funcionar. Avanços recentes na trífuga por 10 minutos e dissociados delica-
engenharia genética propiciam aos cientistas damente por aspiração com uma pipeta
condições para descobrir, rearranjar e fazer Pasteur siliconizada. Após nova incubação por
cópias, ou clones, de genes. Por exemplo, cada 10 minutos, o tubo teste é centrifugado a 800
célula humana contém cerca de 100.000 rpm por 5 minutos e o sobrenadante removi-
genes. Pelo menos 22.000 desses genes foram do e substituído por álcool acético fixador.
isolados, e algumas de suas funções específi- As preparações são guardadas durante
cas foram identificadas. uma noite a 40 C e após remoção do flXador
por centrifugação, adiciona-se 45% de ácido
Avaliação de Cromos somos de Óvulos acético aquoso. As células dissociadas são
ressuspensas após uma segunda troca de áci-
Mórulas ou blastocistos são incubados por do acético, e pequenas gotas da suspensão são
2 horas a 370 C em meio 199 de cultura de colocadas em uma lâmina aquecida a 560 C
tecido (CT), ao qual foi adicionado Colcemid sobre uma platina quente. As lâminas são
(0,5 gim!). Então eles são colocados em citrato então coradas com carbol fucsina.
498 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiua

Meiose do Oócito
I' divisãomeiótica
2' divisão meiótica
1
Prófase Retomada da meiose

~~
1 ~::~fase

Interfase
M~ Prófase
púscul
.

'0@
22i""" @
r-;;"'
8Metáfase
12 Anáfase
1
Ovulação

i:
3Paquíteno
@ "::fi)"
- o 1
3 Telófase
o
~

'~~
N"
4D" 1 (3 . :: "!>
tO
"
""

5 Estágio dictiado
0J
10 Telófase
~

14 Ovo pró-nuclear

Telófase
BII
Vesícula germinativa
@

c
FIG. 23-19. Arranjo cromossômico durante a mitose e a meiose. A. Arranjo cromossômico durante a
mitose. (Feingold, M. e Pashaya, H., 1983). B. Meiose de oócitos. Para simplificar, apenas três pares de
cromossomos estão representados. Estágios de prófase (1 a 4) da primeira divisão meiótica que ocorre
na maioria dos mamíferos durante a vida fetal. O processo meiótico é impedido no estágio de diplóteno
(primeiro impedimento meiótico), e o oócito entra nos estágios dictiados (5 a 16). Quando recomeça a
meiose, a primeira divisão de maturação está completada (7 a 11). A ovulação usualmente ocorre na
metáfase 11(11) e a segunda divisão meiótica (12 a 14) se dá na trompa apenas seguindo a penetração
espermática. (Tsafriri, A., et al., 1983). C. Microfotografias eletrônicas de varredura de cromossomos.
Tecnologia Reprodutiva Assistida 499

(Legenda aparece na próxima página).


500 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

TABELA 23-15. Tipos e Mecanismos Fisiológicos de Anomalias Cromossômicas


Tipos de anomalias cromossômicas Monossomia Ausência de um cromossomo
Trissomia: simples Um cromossomo adicional
dupla Dois cromos somos adicionais
Poliploidia Um ou dois conjuntos haplóides
adicionais
Anomalia estrutural Constituição cromossômica não
de cromossomos balanceada

Mecanismos fisiológicos de anomalias Erros durante a oogênese causando óvulos


cromossômicas cromossomicamente anormais
Erros durante a espermatogênese causando espermatozóides
anormais
Erros durante os estágios iniciais de clivagem do zigoto

Tabela 23-16. Constituições Normais e Anormais de Cromossomos Sexuais que


Surgem na Fertilização
ÓVULOS

Normal Não-disjuntivo
Normal x XX O
x XX (=f'êmea normal) XXX xo
y XY (=macho normal) XXY YO
Não-disjunção XY XXY
espermática XX XXX
yy XYY
O XO
Um espermatozóide ou óvulo O é aquele que não carrega nem um cromos somo X ou Y. Gametas não-
disjuntivos aparecem através de uma falha de divisão (não-disjunção) dos cromossomos sexuais. Indivíduos
YO provavelmente não são viáveis; indivíduos XXX, na espécie humana, são fêmeas anormais. (McLaren,
1980).

Micromanipulação de Gametas, Embriões e capazes de desenvolver-se desde a clivagem


Zona Pelúcida inicial (Willadsen e Polge, 1981) até a forma-
ção de blastocisto COzi!et aI., 1982). A sim-
A micromanipulação de embriões tem de- ples bissecção de mórulas totalmente compac-
monstrado que os mesmos, apesar de uma tas ou de blastocistos iniciais permite a
grande redução no seu número celular, são produção de gêmeos idênticos na técnica ro-

FIG. 23-20. Método de bissecção de blastocistos de vaca por micromanipulação. 1, Seis microinstrumentos
são colocados no campo ótico de um microscópio invertido. Duas micropipetas controladas por
micromanipuladores tipo B seguram o blastocisto e a zona pelúcida vazia por pressão negativa. 2,
Instrumentos com ponta aguda em frente ao blastocisto são controlados por um micromanipulador tipo
A. A micropipeta à esquerda e o microescalpelo à direita são controlados por um micromanipulador tipo
B. Este equipamento permite a bissecção de 6 a 8 blastocistos por hora. (De Willadsen, S.M., (1982).
Micromanipulation of embryos of the large domestic species. In Mammalian Egg Transfer. C.E. Adams
(ed.). Boca Raton, FL, CRC Press.) 2, 3. As duas microagulhas agudas cortam a zona pelúcida a uma
distância tão curta quanto possível ao longo da porção média. O blastocisto é subsequentemente
rotacionado a 90° C com as duas microagulhas para mostrar a fenda. 4, 5. A micropipeta é introduzida
através da fenda dentro da zona enquanto que um pequeno volume do meio é injetado para expelir o
embrião. 6, 7. A bissecção do blastocisto é conseguida usando o microescalpelo ao longo do plano sagital.
8,9. Com auxílio da sucção da micropipeta, cada "meio" embrião é colocado de volta dentro de uma zona
pelúcida vazia. 10. "Meios" (demi) embriões são então incubados a 37° C por 2 horas. Eles reconstituem
suas blastoceles, e é possível distinguir novamente a massa celular interna em cada "meio" blastocisto.
As células destruídas durante a bissecção aderem à superfície externa do "meio" blastocisto. (De Ozil,
J.P. (1983). Production ofidentical twins by bisection ofblastocysts in the cow. J. Reprod. Fertil. 69, 463.)
TecnologiaReprodutiva Assistida 501

~ c
A
d

~
~~
,
FIG. 23-21. Micromanipulação de gametas e embriões. A. Remoção da zona pelúcida. B. Separação de
blastômeros. C. Inserção de blastômeros únicos dentro da zona pelúcida evacuada. D. Primeira embebição
em ágar. E. Pedaço de ágar antes de transferir para a trompa de ovelha após recuperação da mesma. A
posição individual do embrião dentro do pedaço permite que ele seja rapidamente identificado após a
cultura. (Willadsen, 1982).
502 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

TABELA 23-17. Interação Espermatozóide-ovo na Presença de VItelo (Ovo Intacto)


e Quando o VItelo está Ausente (Zona Pelúcida Isolada)
Vitelo Ausente (Zona Isolada) Vitelo Presente (Ovo Intacto)

Protease(s) espermáticas liberam peptídios Protease(s) espermáticas liberam peptídios


J. J.
Peptídios difundem-se através da zona Peptídios difundem-se através da zona
J.
"Componente central" do peptídio reage com o vitelo
J.
Vitelo altera o peptídio ou um mecanismo é acionado e
libera um novo peptídio
J.
Peptídios vitelino-dependentes difundem-se para fora em
direção à zona interface dos espermatozóides
J.
Ativação espermática/mecanismos de penetração e inibição
são iniciados
J.
Rápida ligação é iniciada Rápida ligação é impedida, resultando em união, seguida
J.
de ligação
Rápida ligação é completada
J.
Não ocorre a penetração

(Adaptado de Hartman, 1983)

tineira de transferência de embriões. Méto- ginogenéticos, que possuem dois pró-núcleos


dos de produção de gêmeos idênticos, contu- femininos, desenvolvem-se de forma anormal;
do, podem apenas ser inteiramente explora- isto é especificamente evidente em seus teci-
dos em associação com técnicas de dos extra -embrionários. A micromanipulação
criopreservação, que permite a transferência é utilizada também para estabelecer óvulos
de cada "metade" do mesmo embrião em ho- de mamíferos contendo dois pró-núcleos mas-
ras diferentes (Fig. 23-20). Após a primeira culinos.
diferenciação celular irreversível que ocorre Várias técnicas de micromanipulação em-
no estágio de blastocisto, ainda é possível pro- brionária têm sido empregadas para produ-
duzir gêmeos bovinos idênticos por bissecção zir gêmeos idênticos em bovinos, ovinos e suí-
do blastocisto de 8 dias (Ozil, 1983). nos (Willadsen, 1981, 1982, 1983; Willadsen
Extensas investigações foram feitas quan- e Polge, 1981). O sucesso da técnica depende
to às propriedades da superfície da zona da utilização de ágar gel para selar as inci-
pelúcida (Phillips e Shalgi, 1980), da sões feitas na zona pelúcida durante a
especificidade das interações espermatozóide- micromanipulação: o ágar protege os
óvulo (Yanagimachi, 1977) e da mecânica da blastômeros dos danos causados pelas secre-
fertilização (Shalgi e Phillips, 1980). A trans- ções uterinas e leucócitos até que o embrião
ferência de pró-núcleos entre óvulos foi em- tenha se desenvolvido suficientemente para
pregada para contribuir com as modificações sobreviver in utero sem uma zona pelúcida
induzi das no desenvolvimento de embriões (Fig. 23-21, Tabela 23-17).
em seguida a um histórico pró-nuclear raro. Óvulos são obtidos por superovulação e
Óvulos com dois pró-núcleos femininos podem desnudados das células do cumulus oophorus
resultar de várias formas de ativação com 0,1% de hialuronidase. As zonas pelú-
partenogenética, ou pelo uso de micromani- cidas são então isoladas quando os ovos são
pulação para remover e inserir pró-núcleos aspirados por uma micropipeta com diâme-
específicos dentro dos oócitos. Embriões tro interno de aproximadamente 60 11me os
TecnologiaReprodutiva Assistida 503

conteúdos são então expelidos. As zonas são críticas a problemas de genética, citologia,
separadas do vitelo e lavadas várias vezes reprodução animal, imunologia, evolução e
(Hartman, 1983). fisiologia e bioquímica da reprodução. Por
Embriões equinos com blastômeros de duas exemplo, a técnica pode ser usada para ava-
a oito células recuperados cirurgicamente 1 liar as contribuições relativas do oócito e do
a 3 dias após a ovulação de éguas pônei, fo- trato reprodutivo em crescimento com a di-
ram separados mecanicamente e transferidos, minuição da reprodução em animais mais
em várias combinações, para zonas pelúcidas velhos (Maurer e Foote, 1971).
evacuadas de suíno para fazer "meio" (demi) A transferência de embriões bem-sucedida
e "um quarto" de embriões micromanipulados. depende de vários fatores incluindo
Estes são então imersos em ágar e cultivados superovulação, detecção do cio da doadora e
in vivo nas trompas ligadas de ovelhas por das receptoras, inseminação da doadora, re-
3,5 a 5 dias a fim de permitir o desenvolvi- cuperação de embriões, armazenamento a
mento ao estágio final de mórula e início de curto prazo de embriões in vitro, transferên-
blastocisto. Transferências subsequentes ci- cia embrionária, manejo apropriado da
rúrgicas ou não de "meio" ou "um quarto" de receptora até o parto e conservação da saúde
embrião para éguas resultou em gestações, dos produtos até que sejam usados ou
incluindo pares monozigotos (Allen e Pashen, comercializados. Se apenas um destes requi-
1984). sitos for mal executado, todo. o processo pode
falhar. Quando são consideradas todas as doa-
USO E LIMITAÇÕES DA TRANSFERÊN- doras tratadas, o número médio de bezerros
CIA DE EMBRIÕES E TÉCNICAS RELA- produzidos por superovulação situa-se entre
CIONADAS 3 e 4, mesmo com a melhor tecnologia. O nú-
mero médio é 2 e a moda, zero. Ocasional-
A transferência de embriões é uma técnica mente, são produzidas progênies de mais de
útil que permite abordagens experimentais 20 bezerros, porém isso ocorre menos do que

FIG. 23-22. Dispositivo para micropipetar: a linha de calibração permanente codificada em cor permite
a operação com uma única mão e elimina a aspiração com a boca.
504 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiua

uma vez em 100 tentativas. A maior contri- briões em suínos, todavia, é a introdução de
buição a esta variabilidade é a resposta material genético novo em rebanhos específi-
imprevisível à superovulação; o segundo mai- cos de agentes patogênicos.
or problema é que muitos óvulos não foram A superovulação não é muito eficiente em
fertilizados ou são anormais. Devido à possi- equinos. Um único ovo contudo, usualmente
bilidade de induzir superovulação em vacas pode ser recuperado não-cirurgicamente du-
4 ou 5 vezes por ano, mais de 10 bezerros po- rante cada ciclo estral 6 a 7 dias após a ovu-
dem ser obtidos por vaca e por ano, em mé- lação. Além disso, a transferência não cirúr-
dia. gica tem sido bem-sucedida em éguas (Oguri
e Tsutsumi, 1974). Parece que a transferên-
Aplicação cia de embriões pode ser especialmente útil
para a obtenção de descendentes adicionais
A transferência embrionária pode ser usa- de éguas reprodutoras inférteis e velhas.
da para aumentar rapidamente linhagens
sanguíneas raras, para obter maior descen- Desenvolvimento Futuro
dência de fêmeas valiosas, e para acelerar o
progresso genético facilitando o teste de pro- Algum progresso já foi conseguido com a
gênie de fêmeas, reduzindo assim o intervalo superovulação de animais pré-púberes
entre gerações. Os métodos de transferência (Onuma et aI., 1970; Wright et aI., 1976;
de embriões, todavia não são tão eficientes Trounson et aI., 1977), embora os índices de
como a IA para fazer o progresso genético gestação provenientes da transferência de
(Land, 1977). Um dos problemas é que os ín- embriões de bezerras sejam baixos (Seidel et
dices reprodutivos das doadoras são aumen- aI., 1971). Uma outra área excitante é a
tados às custas dos índices reprodutivos di- sexuagem de embriões, que possui um signi-
minuídos das receptor as porque estas ficado especial porém é muito cara e consu-
frequentemente permanecem não-prenhes midora de tempo. Aproximadamente dois ter-
por períodos prolongados até receberem um ços de embriões mais velhos de bovinos pode
embrião por transferência (Seidel e Seidel, ser sexuado com sucesso antes da transferên-
1978). cia (Hare e Betteridge, 1978). A produção de
O transporte de embriões congelados a lon- cópias genéticas exatas de animais seleciona-
ga distância é um meio barato de exportar dos através da clonagem também é possível.
rebanhos. Os primeiros transportes bem-su- Outros problemas ainda permanecem para
cedidos de embriões congelados de bovinos serem resolvidos antes que as técnicas de
foram da Nova Zelândia para Austrália transferência de embriões atinjam uma esca-
(Hilton e Moor, 1977). la prática comparável à IA.
A transferência de um único embrião para
cada corno uterino de uma vaca não coberta INSTRUMENTAÇÃO, FILTRAÇÃO DE
ou de um segundo ovo para o corno ÁGUA E AR, MEIOS DE CULTURA
contralateral ao CL de uma vaca receptora
que concebeu há poucos dias é mais eficiente Equipamentos e suprimentos laboratoriais
do que a simples ovulação para a produção para a transferência de embriões, FIV, e ma-
de gêmeos em bovinos (Rowson et aI., 1971; nipulação embrionária estão relacionados nas
Anderson, 1978). Tabelas 23-18 a 23-20 e Figura 23-23.
Na criação de suínos, a transferência de
embriões é de valor limitado. A transferência Água Ultrapura
de grande número de embriões para fêmeas
não cobertas ou de embriões adicionais para A água destilada e engarrafada favorece a
receptoras previamente cobertas não aumen- formação de novos elementos orgânicos logo
ta apreciavelmente o tamanho da leitegada. após o armazenamento. Infelizmente proble-
Um importante uso da transferência de em- mas de armazenamento são justamente um
Tecnologia Reprodutiva Assistida 505

TABELA 23-18. Equipamento e Material de Laboratório para 'Iransferência de


Embriões

Material de vidro Placas de Petri, pipetas, placas para embriões, garrafa térmica para conservação
por curto período de embriões e material variado de laboratório de vidro ou não

Instrumentos e Kits de instrumentos para receptoras Incubador de CO2


equipamentos Congelador Máquina de lavar, secadora, autoclave,
esterilizador quente a seco
Refrigerador Unidades destiladoras para produzir
água destilada ultrafiltrada
Pias Pequeno esterilizador a gás e cargas
Banho-maria Recipiente para nitrogênio líquido com
base móvel
Microscópio e bulbos Instrumento rolante
Termômetros Lâmpada operadora
Fomo de ar quente

Câmaras de segurança Câmaras ventiladas de proteção pessoal, com fluxo interior sem atingir o operador
biológica Câmara ventilada para proteção pessoal e dos produtos com a frente aberta e fluxo
de ar interior, massa HEPA-filtrada, fluxo de ar recirculado para proteção de
produtos; ar filtrado por exaustor
Câmara de frente fechada ventilada, filtrada com luvas de borracha, pressão
negativa com ar compacto

Esterilização e limpeza Sacos de esterilização Aventais e gorros cirúrgicos, aventais e


máscaras para partos
Fitas indicadoras estéreis de mercado Máquinas para depilação e lâminas
Aventais, gorros e máscaras de laboratório Escovas para esfregar, dispensadores
com líquido para esfregar

dos empecilhos à utilização de água destila- terminado se move com velocidade uniforme
da ou engarrafada. Existem também proble- em uma única direção ao longo de linhas pa-
mas de altos custos operacionais e de manu- ralelas de circulação. Gabinetes de seguran-
tenção, além do transporte de contaminantes. ça biológica para o fluxo laminar são disposi-
A purificação de água para laboratório sofreu tivos projetados para minimizar os riscos
dramáticas modificações na década de 1980. biológicos inerentes em trabalhos com agen-
Químicos, cientistas e médicos atualmente tes biológicos de baixo e moderado risco. Aca-
estão rotineiramente familiarizados com os pela de retenção do fluxo laminar fornece não
níveis de impureza que eram impossíveis de apenas proteção ao produto pela utilização de
serem medidos há 10 anos. Hoje, a ar filtrado em fluxo para baixo, como fornece
deionização, a osmose invertida, a absorção também proteção ao operador através de uma
carbônica e a microfiltração em membrana barreira de ar com pressão negativa criada
são em alguns aspectos superiores à destila- ao longo da abertura frontal. Com condições
ção. Vários sistemas de ultrafiltração de água as sépticas apropriadas e bom manejo de la-
são disponíveis atualmente no comércio. Es- boratório os níveis de risco são substancial-
tes sistemas custam menos do que a água mente reduzidos.
destilada ou engarrafada e não há transpor-
te de contaminantes. Diferentemente dos
destiladores, que requerem regulares limpe- CULTURA, CO-CULTURA, E CULTURA
zas com ácidos, os cartuchos de ultrafiltração DE ÓRGÃOS
podem ser substituídos em minutos.
Secreções das Trompas
Filtração a Ar
As células epiteliais das trompas de ovi-
o fluxo laminar é um dispositivo no qual nos e bovinos secretam duas classes de pro-
todo o volume de ar dentro de um espaço de- teínas. A primeira classe é uniformemente
506 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

TABELA 23-19. Manipulação e Micromanipulação de Ovos e Mórulas


Técnicas Definições/Aplicações

Micromanipulação Remoção do excesso de pró-núcleos


da zona Zona perfurada por força mecânica
pelúcida e "Punctura" com Tryod ácido, pronase ou solução de tripsina com micropipeta
técnicas "Rachamento" com dois finos ganchos de vidro controlados por micromanipulador
relacionadas "PZD" abertura parcial usando apenas força mecânica, seguida de microinseminação
Transferência de Transferência de células germinativas masculinas dentro de PVS, cromos somos de gametas
células masculinos e femininos passam pelas características da espécie
germinat,ivas
precoces

Transferência Transferência de parte da célula e especialmente de núcleos ou da célula inteira (fusão de


nuclear, citoblastos e carioplastos com a célula hospedeira é inibida por eletrofusão ou vírus Sendai)
celular e do
blastômero

Biópsia do 1 ou 2 blastômeros são removidos (para diagnóstico pré-implantação do sexo ou anomalias


blastocisto genéticas), permitindo aos embriões remanescentes desenvolverem-se em descendência
individual

Clonagem Transplante nuclear em ovo enucleado, para facilitar a propagação contínua de genes
(substituição particulares, trato e espécies (para preservar espécies em perigo)
nuclear)

Animais Genes clonados introduzidos em células somáticas ou embriões (para análise de mecanismos
transgênicos moleculares de animais domésticos e de laboratório)
Genética Embriões haplóides de remoção microcirúrgica de um pró-núcleo
Embrião haplóide de bissecção de ovo fertilizado de uma célula
Produção microcirúrgica de descendente uniparental homozigoto-diplóide
Análise genética antes da implantação
Transplante nuclear do e no embrião pré-implantação
Enucleação microcirúrgica de zigoto tripronuclear
Manipulação de Uso de microfilamento inibidor de "citocalasina B" para inibir a citoquinese
gametas e Uso de inibidores citoesqueléticos para remoção pró-nuclear
embriões Diagnóstico pré-natal e terapia de gene
Hibridização in situ e reação em cadeia de polimerase (amplificação da sequência de DNA a
partir de uma única célula)

secretada durante o ciclo estral e representa rante o cio. Depois da ovulação, apesar das
uma pequena proporção da produção total de células circundantes do cumulus oophorus e
proteína, enquanto que a segunda classe exi- da corona radiata, quantidades significativas
be um padrão cíclico de secreção composta de glicoproteínas das trompas ligam-se firme-
principalmente de polipeptídios. Estas duas mente à zona porcina; todavia, as
proteínas, detectadas logo após o cio, perma- glicoproteínas não formam uma cobertura de
necem no fluido das trompas pelo mesmo tem- mucina, como se verifica nos ovos localizados
po que os ovos (Gandolfi et aI., 1989). Os ní- nas trompas de coelha.
veis das trompas de novas proteínas A trompas dos mamíferos possuem a habi-
sintetizadas são mais altos durante o cio e lidade de sustentar o desenvolvimento de
declinam logo após. Aproximadamente 30 a embriões em muitas espécies, indicando que
40 polipeptídios individuais são secretados, muitos dos efeitos benéficos do ambiente
alguns dos quais em uma proporção maior du- tubárico podem na verdade ser não específi-
TecnologiaReprodutiva Assistida 507

TABELA 23-20. Tecnologia de ReproduçãoAssistida eAndrologia (ARTA)


Reprodução Fertilização in vitro e transferência embrionária uterina (FIV-TE)
assistida Transferência de gameta intrafalopiana (TGIF)
Transferência tubárica de estágio pró-nuclear (TTPN)
Transferência de zigoto intrafalopiana (TZIF)
Transferência de estágio de embrião tubárico (embriões em estágios de clivagem pré-
mórula (TEET) (TTE)
Maternidade substituta (MS)
Doação de oócitos de embriões (frescos ou criopreservados)
Criopreservação de oócitos ou embriões; bancos de embriões
Gestação precoce in vitro usando útero artificialmente aspergido

Inseminação Inseminação intra-uterina (IIU)


Inseminação intraperitoneal (IIP)

Microsseparação e Perfuração da zona pelúcida


micromanipulação Transferência espermática por microinseminação no espaço perivitelino ou dissecção
zonária parcial ou rachamento da zona
Separação de um embrião em gêmeos idênticos
Isolamento de blastômeros

Microrremoção e Remoção de um pró-núcleo acessório


microfusão Remoção de um ou mais blastômeros (biópsia embrionária)
Remoção da zona pelúcida
Fusão de embriões de 2, 4 e 8 blastômeros e/ou mórulas
Enucleação de blastômeros

Técnicas de Fluxo sanguíneo uterino


sustentação Ultra-sonografia
Cirurgia com pelvioscopia, microcirurgia e cirurgia com laser
Procedimentos laparoscópicos e transcervicais

cos em relação às espécies. Extensas investi- Cultura eCo-cultura


gações foram conduzidas utilizando as trom-
pas in vivo ou in vitro (cultura de células ou Vários meios de cultura e co-cultura têm
órgãos). Embriões de suínos em estágio inici- sido utilizados para a maturação fisiológica
al (uma a oito células) cultivados em "co-cul- in vitro e subsequente clivagem em vários
tura de órgãos" em trompas excisadas de graus: Krebs-Ringer bicarbonatado modifica-
camundongas, podem desenvolver-se aos es- do, Dulbecco modificado, TC 199, Ham F-10
tágios de mórula e blastocisto (Krisher et aI., modificado, meio de Whitten, meio basal de
1989). O nível deste desenvolvimento embrio- Eagle com sais de Hank e meio essencial mí-
nário de embriões de suínos é realçado quan- nimo modificado (MEM) com sais de EarI.
do a trompa é retirada de camundongas co- Em centros de FIV humana, tecidos ani-
bertas por machos férteis ou vasectomizados. mais são usados em sistemas de co-cultura
Os embriões podem ser diretamente transfe- humana para avaliar os índices de gestação
ridos para a trompa, ou serem colocados em após a substituição do embrião. Monocamadas
ágar antes de removê-Ios para as trompas. de fibroblastos do útero de fetos bovinos são
Embriões de bovinos podem desenvolver-se utilizadas para avaliar in vitro o desenvolvi-
em co-culturas in vivo nas trompas de ove- mento e a implantação de embriões humanos.
lhas e coelhas (Westhusin et aI., 1989). A via- Revestimentos endometriais do útero de fe-
bilidade do embrião é similar em ambos os tos foram obtidos de fetos bovinos saudáveis
hospedeiros; porém a recuperação do embrião e as células após várias subculturas são usa-
foi ligeiramente menor na coelha quando com- das para a co-cultura. Embriões humanos co-
parada à ovelha. cultivados com monocamadas de bovinos são
508 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiua

Monitor
Unidade de
Ultra-som Bexiga
Linha de
punctura
Útero
Folículo

Ovário

FIG. 23-23. (Esquerda) Equipamento de aspira-


ção para punção folicular percutânea guiada por
ultra-sonografia. T, transdutor; ng, agulha guia;
sr, frasco de amostragem. (No destaque à esquer-
da) Ponta da agulha com sulcos na depressão (fle-
cha). (Direita) Ilustração esquemática da técnica
de punção guiada por ultra-som. (Abaixo) Ilustra-
ção da punção guiada por ultra-som de um folículo
humano. O eco branco dentro do folículo (f) repre-
senta a ponta da agulha (nt). (Cortesia de R.
Wikland.)

transferidos de volta para as pacientes. O ín- soro que impede a reação de liberação de
dice de gestação aumenta quando os em- plaquetas.
briões humanos co-cultivados com células Vários meios biológicos de cultura têm sido
ampolares humanas são recolocados de volta utilizados para a manipulação de embriões
nas pacientes. (ver apêndice). Usualmente, 50 mg de sulfa-
to de estreptomicina e 100.000 UI de penici-
lina G potássica são adicionadas por litro,
Suplementação Macromolecular porém outras concentrações, outros antibió-
ticos e agentes antifúngicos são também fre-
O preparo de soro adicionado ao meio de quentemente utilizados. Os meios devem ser
maturação requer uma atenção especial. O forçados através de um filtro de 0,45 ~m ou
soro obtido após a coagulação de sangue inte- ainda menor para remover as bactérias.
gral (soro centrifugado retardado [DC]) con- Os meios podem conter albumina sérica
tém substâncias tóxicas ao embrião. A bovina (BSA) ou soro sanguíneo (com
toxicidade do soro DC pode ser completamen- frequência de fetos bovinos) que tenha sido
te evitada por um método de preparação do inativado pela exposição a 56°C por 30 minu-
TecnologiaReprodutiva Assistida 509

tos. Geralmente BSA é adicionado a 0,3 a 1%, nário e a viabilidade são superiores àqueles
porém concentrações de 0,1 a 50% também atingidos in vitro para o estágio de clivagem
são usadas. Todos os meios com exceção da precoce de embriões de cabras e vacas. Em
solução tampão fosfatada modificada, são outras técnicas, os embriões bovinos (ou
tamponados com bicarbonatos e por este mo- blastômeros) são colocados dentro de câma-
tivo necessitam de uma atmosfera de 5% de ras de hidrogel, que são então transferidas
CO para manter um pH adequado. Isto é para a cavidade peritoneal de roedores.
acompanhado de uma mistura de 5% de CO2 Devido ao fato da maioria dos ambientes
em ar, ou melhor, 5% CO2, 5% 02 e 90% N2' intercelulares de mamíferos funcionarem com
Um incubador de CO2 ou um recipiente pe- pH de 7,2 a 7,35, as soluções de meios comer-
queno, pleno de gás e impermeável ao ar po- ciais para recuperação de embriões e cultura
dem ser utilizados. Quando o meio deve ser são ajustados dentro desta variação. A
conservado em ambiente de ar (sem C02) por osmolaridade é semelhantemente monitorada
longos períodos, 25 ml de tampão HEPES é para cada bateria de meio para manter um
usualmente adicionado e o NaCI diminuído constante controle de qualidade. Os meios
para manter a osmolaridade apropriada. biológicos são preparados usando água esté-
O vermelho fenol, 1 a 20 mg/L é frequente- ril deionizada e destilada, processados atra-
mente adicionado como um indicador de pH. vés de uma membrana de filtro de 0,2 11m.
O pH do meio pode variar de 7 a 8, porém Garrafas recipientes são esterilizadas em
melhores resultados são obtidos entre 7,2 e autoclave com 2600F a 20 psi por 45 minu-
7,6. A osmolaridade pode ser ajustada de 250 tos. O objeto destes meios é direcionado espe-
a 320 mOsm/kg variando-se a concentração cificamente à manutenção do embrião e à
de NaCl. Osmolaridades entre 270 a 300 habilidade de promover o crescimento. As so-
mOsm/kg são mais comum ente utilizadas luções de meios são controladas quanto à qua-
para embriões. A água é o principal ingre- lidade por ensaios de cultura de embriões
diente e a sua pureza é importante. A desti- entre cada 24 a 32 horas.
lação dupla ou destilação em vidro de água
deionizada usualmente é adequada.
Soluções modificadas e balanceadas com REFERÊNCIAS
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24
PRESERVAÇÃO E CRIOPRESERVAÇÃO DE GAMETAS E
EMBRIÕES
E.S.E. HAFEZ

A principal vantagem da criopreservação TABELA 24-1. Primeiras Criopreser-


de embriões ao invés dos espermatozóides ou vações de Embriões de Mamüeros Bem-
oócitos é que o embrião possui o genoma com- Sucedidas
pleto, i. é, a quota de cromos somos individual, Espécies Autor
que pode ser transferida para uma mãe ado- Camundonga Whittingham et al., 1972, 1979; Kassai
tiva de fundo genético conhecido ou não sem et al., 1980; Wood e Farrant, 1980
Rata Whittingham, 1975a, 1975b
o risco de modificação genética. A criopreser- Coelha Bank e Maurer, 1974
vação de embriões facilita aos centros de cria- Vaca Wilmut e Rowson, 1973; Willadsen et
ção animal de possuir maior variação de es- al.,1978
Ovelha Willadsen et al., 1976; Willadsen, 1977
toques, inclusive para uso não-imediato, Cabra Bilton e Moore, 1976, 1979
salvando deste modo espaço e dinheiro, as- Mulher Trounson et al., 1982
sim como oferecendo proteção contra perdas
por fogo, doenças e outros riscos. Linhagens
consanguíneas, mutações e combinações ge-
néticas especiais podem ser preservadas; crioprotetores utilizados, o padrão de descon-
este é um recurso valioso para a pesquisa gelamento e o protocolo de diluição da con-
avançada em genética animal. Além disso, centração do crioprotetor após o descongela-
padrões de pedigree genéticos podem ser es- mento. O transporte de embriões congelados
tabelecidos e testados para uma direção ge- a longas distâncias é um meio barato de ex-
nética em gerações subsequentes. portar animais domésticos. O transporte bem-
Desde os esforços pioneiros de Audrey sucedido da Nova Zelândia para a Austrália
Smith em 1952 relacionados ao efeito da bai- é um exemplo (Bilton e Moore, 1976a, 1976b).
xa temperatura sobre o desenvolvimento dos
ovos de mamíferos, ocorreu muito progresso
'na criopreservação de embriões (Tabela 24- PRINCÍPIOS DA CRIOBIOLOGIA
1). A criopreservação de embriões de diferen-
tes espécies de mamíferos foi tentada com va- Os princípios biofísicos que se aplicam à
riáveis graus de sucesso. Estas diferenças são criopreservação de células e tecidos vivos apli-
devido à resposta variada de certos estágios cam-se também à criopreservação de em-
de desenvolvimento embrionário aos diferen- briões. Os embriões podem sofrer danos duran-
tes parâmetros biofísicos e físico-químicos, te a criopreservação e/ou descongelamento,
tais como os meios de resfriamento, a natu- seja pela formação de grandes cristais de gelo
reza e protocolo de concentração dos intracelulares ou pela concentração intrace-

513
514 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

lular aumentada de solutos e modificações lamento, ou pelo impacto osmótico sobre as


correlacionadas que resultam da desidrata- células quando o gelo intracelular derrete.
ção das células durante a criopreservação Embriões de mamíferos podem ser preser-
(efeitos da solução). Enquanto que o congela- vados por períodos prolongados em um esta-
mento rápido minimiza os danos dos efeitos do de animação suspensa se forem capazes de
da solução, ele leva à formação de grandes resistir à criopreservação em temperaturas nas
cristais de gelo que causam graves danos quais não ocorra outra atividade biológica. O
mecânicos. Por outro lado, enquanto que o nitrogênio líquido a -196°C satisfaz esta condi-
congelamento lento impede a formação de ção. Embriões de bovinos, ovinos e camundon-
grandes cristais de gelo, ele eleva os danos gos podem sobreviver a um rápido desconge-
dos efeitos da solução. Por este motivo, os ín- lamento desde que um lento resfriamento
dices ótimos de congelamento para um deter- termine entre -30°C e -50°C por transferência
minado tecido dependem de sua tolerância re- direta ao nitrogênio líquido a - 196°C.
lativa aos danos dos cristais de gelo e à
toxicidade dos efeitos da solução.
Quando uma suspensão celular é resfria- CRIOPRESERVAÇÃO DE EMBRIÕES
da abaixo de O°C, formam-se cristais de gelo
extracelulares, resultando em concentração Várias técnicas têm sido utilizadas para a
de solutos no líquido aquoso remanescente. A criopreservação e descongelamento de em-
membrana celular age como uma barreira briões de bovinos, ovinos, suínos e equinos
para prevenir a entrada de cristais de gelo (Tabela 24-2). Embriões selecionados para a
dentro dos compartimentos intracelulares. criopreservação devem ser da maior qualida-
A facilidade do transporte de água depen- de e devem estar no estágio correto de
de da permeabilidade da membrana à água a clivagem. Eles são manipulados com técnicas
qualquer temperatura determinada, à propor- estéreis usando um microscópio de dissecção.
ção superfície-volume da célula, e ao índice Os embriões são transferidos para meios de
de congelamento. Se a célula é suficientemen- cultura estéreis e recém-preparados para a
te permeável à água ou o índice de congela- classificação microscópica e armazenamento
mento for suficientemente baixo, a pressão até a utilização. Se os embriões forem guar-
permanece pequena resultando desidratação dados por mais de 2 horas antes da transfe-
à medida que a água sai da célula para con- rência, deverão ser transferidos para meios
gelar extracelularmente. Embora os cristais frescos a cada 2 horas. Os embriões são aspi-
de gelo extracelulares deformem a célula, o rados em pipetas contendo pequeno volume
gelo extracelular não rompe a membrana do meio (menos de 0,2 rnl) para prevenir con-
plasmática e não causa danos irreversíveis. taminação do meio fresco. As classificações
A adição de crioprotetores como o glicerol morfológicas dos embriões acham-se resumi-
ou o dimetil sulfóxido ao meio resulta em con- das na Tabela 24-3.
gelamento a temperaturas mais baixas. Isto Os embriões são manipulados com delica-
provavelmente retarda a desidratação das deza para evitar qualquer dano físico. A ma-
células e os resultantes maus efeitos da solu" nipulação e a avaliação são acompanhadas tão
ção; assim, os embriões podem ser resfriados depressa quanto possível para retornar os
vagarosamente o suficiente para prevenir a embriões a um ambiente estável de cultura.
formação de grandes cristais de gelo. Para ganhar experiência com o manejo de
As variações críticas de temperatura das embriões, os operadores são treinados a usar
quais são necessários baixos índices para so- micropipetas disponíveis comercialmente
brevivência ótima são de -4°C a -60°C duran- para apanhar partículas de sephadix com di-
te o resfriamento e de -70°C a -20°C durante âmetro similar aos ovos de mamíferos. Frag-
o reaquecimento. Os maus efeitos do gelo mentos de restos celulares, óvulos não-ferti-
intracelular são causados ou pelo seu cresci- lizados ou ovos em degeneração também
mento e recristalização durante o desconge- podem ser usados para a prática.
Preservação e Criopreservação de Gametas e Embriões 515

TABELA 24-2. Resumo de Pré-resfriamento, Resfriamento, "Seeding", Imersão,


Armazenamento e Descongelamento de Embriões
Processo Técnicas Empregadas

Colheita de embriões Seleção e superovulação de doadora, inseminação durante o cio


Colheita de embriões do trato reprodutivo feminino ou dos ovários (cirúrgica,
não-cirúrgica ou pós-morte)
Lavagem de embriões em meios de cultura estéreis
Avaliação microscópica e classificação de embriões

Soluções crioprotetoras Concentração gradual de crioprotetores (DMSO, glicerol ou crioprotetores pron-


tos disponíveis comercialmente)
Volumes pequenos são preparados a fresco
Soluções com soro não são estocadas por mais de 3-5 dias, porque ocorre
desnaturação protéica mesmo sob temperaturas ótimas
Soluções são conservadas sob refrigeração ou congeladas até o uso

Preparo pré-resfriamento Embriões transferidos em série em concentrações de crioprotetores


Palhetas ligadas a seringas com adaptador de borracha para aspirar o meio/
bolhas de ar e embriões/bolhas de ar
Palhetas e hastes rotuladas para futura identificação
Palhetas aqueci das ou preenchidas com solução salina tampão-fosfatada
Palhetas imersas em PVS azul ou vermelho em ambas as extremidades

Técnicas de resfriamento Nível lento de resfriamento varia de 0,5 a1,6°C por minuto
Nível rápido de resfriamento varia de 17 a 30°C por minuto
Nível de resfriamento -l°C/min. da temperatura ambiente a -7°C
Nível de resfriamento 0,3°C/min. a -35°C
Nível de resfriamento O,l°C/min. a -38°C

Congelamento,"seeding" e imersão Palhetas colocadas em congelador a -6°C e mantidas por 10 minutos


Pinça resfriada em nitrogênio líquido
Palhetas pegadas próximas aos embriões com a pinça resfriada até formar cris-
tais de gelo
Palhetas "seeded" colocadas dentro de congelador programável e aplicação de
regime de resfriamento
Garrafa térmica preenchida com nitrogênio líquido
Haste com embriões congelados removida do congelador e imersa em nitrogênio
líquido
Palhetas colocadas em hastes de alumínio e estocadas em botijão de nitrogênio
líquido a-196°C

Descongelamento - O descongelamento varia de 20°C/min. em aquecimento lento a 360-500°C para


o descongelamento rápido; a temperatura ótima para o descongelamento de
criopreservadores varia entre 20 e 37°C
Temperatura do banho-maria ajustada a 37°C
Hastes coloridas marcadas identificadas e palhetas removidas da haste para
pequenos canisters contendo nitrogênio líquido; rótulos são checados antes
da remoção do nitrogênio líquido
Palhetas são seguras pelo colo, colocadas em banho-maria a 37°C e suavemente
torcidas até desaparecimento do gelo
Embriões permanecem no fundo do recipiente e podem ser observados ao mi-
croscópio, contados e removidos com micropipeta para evitar perda ocasional
por lavagem deles fora da palheta
Palhetas são descongeladas por 4 segundos em banho-maria a 37°C e removi-
das quando o gelo é dissolvido
A água é retirada das palhetas

Remoção dos crioprotetores Cortar selo aquecido ou a rolha de PVC das extremidades das palhetas
Embriões lavados com gotas de diluições em série de mistura de crioprotetores
em uma placa de Petri estéril (diâmetro de 35 mm)
Embriões são examinados em estereoscópio para avaliação da qualidade
516 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

Recipientes de Embriões Os embriões frequentemente continuam a se


desenvolver por 2 a 3 dias ou mais, embora
Os embriões são guardados em recipientes os índices de gestação sejam usualmente re-
transparentes, selados, inertes, convenientes duzidos se forem transferidos após mais de
e de pequeno volume (menos de 5 ml). Tubos 24 horas in vitro (Davis e Day, 1978).Acultu-
de teste pequenos e arrolhados podem ser ra de embriões bovinos em estágio de uma a
utilizados, embora devam ser esvaziados em duas células até o estágio de quatro células, e
outro recipiente para a localização dos em- de mórula para blastocisto foi bem-sucedida.
briões sob o estereoscópio. O meio pode ser Em ovinos e suínos, embriões com 4 a 32 cé-
coberto por uma fina camada de óleo de para- lulas são cultivados em meio de cultura rela-
fina para impedir a evaporação, reduzir a con- tivo.
taminação bacteriana e relacionar o índice de Embriões podem ser mantidos em cultura
troca gasosa entre o meio e a atmosfera. desde várias horas a um dia, entre a colheita
e a transferência em temperatura ambiente
Cultura e Armazenamento Entre Oe 37°C (15°C a 25°C). Se forem resfriados de O°C a
10°C ou transferidos para as trompas liga-
Para manipulações experimentais e das de uma coelha, eles podem ser armaze-
armazenamento entre recuperação e trans- nados por vários dias, com pouca redução da
ferência, os embriões são conservados em viabilidade (Hafez, 1971; Lawson et aI., 1972;
meios de cultura a 37°C. O desenvolvimento Boland et aI., 1978). Embriões de suínos são
de embriões in vitro é mais vagaroso em cer- uma exceção e não sobrevivem ao
ca de dois terços do padrão normal in vivo. resfriamento abaixo de 15°C. O desenvolvi-

TABELA 24-3. Classificação Morfológica de Embriões Antes e Após


Criopreservação e Descongelamento
Parâmetros Classificação
Não-fertilizado (NF) Blastocisto
Estágio do desenvolvimento 2-12 células Blastocisto expandido
embrionário Mórula precoce Blastocisto eclodido
Mórula Blastocisto eclodido em expansão
Blastocisto precoce

Condensamento de blastômeros Presença de células expelidas


Regularidade da forma do embrião Diâmetro
Critérios para classificação Variação no tamanho da célula Regularidade da zona pelúcida
do embrião Cor e textura do citoplasma Presença de restos celulares
Presença de vesículas
Excelente Embrião perfeito para seu estágio: Blastômeros de tamanho similar,
cor e textura; não são nem muito claros nem muito escuros.
Citoplasma não é granular ou irregularmente distribuído contendo
algumas vesículas de tamanho moderado. Espaço perivitelino vazio
e diâmetro regular; zona pelúcida regular, nem dobrada nem
colapsada

Bom Imperfeição trivial como zona oval, poucos e pequenos blastômeros ex-
cluídos, leve assimetria

Qualidade do embrião Regular Problemas deCIDidos mas não graves, como moderado número de
blastômeros excluídos, de pequeno tamanho e pouca degeneração
Pobre Células vesiculadas, parcialmente degeneradas, tamanho celular alta-
mente variável, muito poucos e/ou problemas similares

Muito pobre Gravemente degenerado, provavelmente não transferível, não fertili-


zado, somente zona, semelhante a fantasma, 3 células, restos celu-
lares, contaminação bacteriológica
Artefatos Bolha de ar, restos celulares, zona pelúcida vazia, epitélio das trompas desnudo
Preservação e Criopreservação de Gametas e Embriões 517

mento dos embriões continua normalmente Tabela 24-5. Técnicas de Resfriamento,


na trompa de coelha, porém é aprisionado Congelamento e Descongelamento de
durante o armazenamento de 0° a 10°C. Embriões Bovinos
Para armazenamento por longo tempo e Adição de glicerol em (5%, 10%)
duas fases
facilidade de transporte, embriões em está- i Colocar a -6°C
gio de mórula final e blastocisto inicial po- -6°C Manter por 5-10 minutos
dem ser criopreservados à temperatura do i "Seed"
-33°C 0,3°C/min
nitrogênio líquido. Imersão em
Meios de Cultura de Tecido. Meios de nitrogênio líquido
cultura de tecido (TCM 199) ou solução fisio- i
lógica tampão-fosfatada Dulbecco's (PBS) Descongelar a 37°C
i
(que não requer 5% de atmosfera) são dispo-
níveis e fáceis de usar. O TCM 199 com sais Avaliar e registrar
resultados
de Hanks (sem vermelho fenol para facilitar i
a localização dos embriões) é utilizado para Diluir para retirada de ou 2 fases com sucrose
lavagem a fim de retirar os embriões. Os mei- crioprotetores em 4
fases
os para armazenamento de embriões contêm:
7,5% de glicerol em PBS
25 mM de tampão HEPES, 10 a 20% de soro com soro
de bezerro ou novilho, filtrado em Milipore e 5,0% de glicerol em PBS
com soro
inativado por aquecimento por 30 minutos a ou sucrose em PBS com
2,5% de glicerol em PBS
56°C; estas macromoléculas impedem a ade- com soro soro
rência dos embriões ao vidro ou plástico. 0% de glicerol em PBS PBS com soro
com soro

Técnicas de Criopreservação de Embriões i


Lavar 3 vezes em PBS
Avaliar e registrar
resultados
O meio utilizado para a criopreservação é
o Dulbecco's PBS modificado e suplementado PBS = salina fosfatada tamponada (Dados de
com albumina sérica bovina ou soro. O Elsden e Pickett, Comunicação Pessoal, 1984).
crioprotetor é adicionado em fases seja a O°C
ou a 20°C. Os embriões são resfriados rapi- (seeding). O "seeding" minimiza as flutuações
damente a O°Cà razão de l°C/min a -7°C, em de temperatura resultantes do calor de fusão.
cujo ponto é iniciado o congelamento adicio- Os embriões são então resfriados muito va-
nando-se um pequeno cristal de gelo ao meio garosamente (menos de 3dgC/min) a cerca de

TABELA 24-4. Algumas Características Biofísicas de Alguns Crioprotetores


Parâmetros DMSO Glicerol Etileno glicol

Fórmula química C3H5(OH)3


Peso molecular (CHg>2S04
7 ,13 92,10 (CHiiOH)2
2,07
Gravidade específica (9/cm3 a 20°C) 1,10 1,25 1,11

Massa (gm!L)
1,OM 78,13 92,10 62,07
3,OM 234,39 276.30 186,21
Volume (ml/L)
1,OM 71,00 73,70 55,90
3,OM 213,10 221,10 167,70

Laboratório Laboratório
Grau Grau Grau Grau
Sigma Chemical Co.
Catálogo N° D-5879 G-7757 E-9129
Gravidade específica: a razão de um peso de determinado volume de uma substância comparado ao peso do mesmo
volume de água a O°C.
518 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

TABELA 24-6. Registro de Criopreserva- bioquímicos e biofísicos da criopreservação de


!:ão sêmen, oócitos e embriões precoces de animais
Modelo de código de criopreservação domésticos (Tabelas 24-6 até 24-11; Figuras
Registro de doadora
Botijão Data do congelamento e criopreservação 24-1 até 24-4). Inclusive, vários tipos de vi-
Número do botijão draria e congeladores computadorizados são
Contagem e número de registro usados comercialmente para a criopreser-
Dia de colheita do embrião
Número de embriões criopreservados vação e armazenamento de sêmen e embriões
Crioprotetores e concentração (Figuras 24-1 até 24-4).
Certificado Meio usado
Código da haste
Tanque de estocagem (localização) Criopreservação de Embriões Bovinos
Técnica de resfriamento
Técnica de descongelamento Extensas investigações sobre a criopre-
Qualidade do embrião
Data de colheita de embriões servação de embriões bovinos têm sido
Código de identificação conduzidas pelos Drs. R. Peter Elsden, George
Tratamentos de superovulação E. Seidel, Jr., Tetsuo Takeda, e seus colabo-
PMSG, hCG, prostaglandinas radores no Laboratório de Transferência de
Intervalo do hCG à recuperação do
embrião Embriões na Universidade do Estado de
Doadora Recuperação prévia de embriões Colorado. Suas recomendações específicas são
do embrião Meio utilizado para recuperar embrião
Número, qualidade e tipo de embrião as seguintes:
recuperado 1. Começar com embriões de qualidade boa
Crioprotetores: glicerol ou dimetil a excelente, recuperados 6 a 8 dias após o cio
sulfóxido (DMSO)
Padrão de resfriamento, técnica de
da doadora.
criopreservação 2. Colocar os embriões em três banhos de
Criopre- Estocagem em nitrogênio líquido Dulbecco's PBS + 10% de soro estéril aqueci-
servação Técnicas de descongelamento
Remoção de crioprotetores do (soro de novilho, soro de bezerro recém-
nascido, ou soro de feto bovino, todos são
hCG = gonadotrofina coriônica humana; PMSG = satisfatórios). Concentrações de antibióticos-
gonadotrofma sérica de égua prenhe.
padrão devem ser utilizadas; a adição de
piruvato e glicose é opcional.
-33°C, e finalmente, depositados no nitrogê- 3. Colocar os embriões em PBS + 10% de soro
nio líquido. + 5% de glicerol por 5 minutos; então trans-
Para impedir o aumento dos pequenos e feri-Ios para PBS + 10% de soro + 10% de
inofensivos cristais de gelo, os embriões são glicerol por 10 a 20 minutos. Todas as fases
descongelados rapidamente em banho-maria precedentes são executadas em temperatura
a 25°C; o crioprotetor é então removido por ambiente. Provavelmente os embriões podem
diluição criteriosa em temperatura ambien- ser adicionados ao glicerol a 10% sem passar
te. Os índices de gestação podem ser melho- pela fase de 5%, porém o Dr. Elsden e colabo-
rados até certo ponto se os embriões forem radores, geralmente recomendam duas fases.
cultivados por várias horas antes da transfe- 4. Colocar os embriões em palhetas france-
rência e descartando-se aqueles morfologi- sas pré-rotuladas de 25- ou 5-m! (Evitar reci-
camente anormais. pientes de vidro para resultados ótimos). A
As características biofísicas dos principais palheta é preenchida até a metade com o meio
crioprotetores estão demonstradas na Tabe- de congelamento (PBS + 10% de soro + 10%
la 24-4. O resfriamento e a criopreservação de glicerol). Uma bolha de ar de 3 a 4 mm é
de embriões bovinos estão resumidos na Ta- adicionada, seguida por outra coluna de meio
bela 24-5. Os suprimentos, meios de cultura de congelamento contendo o embrião de modo
e registros de criopreservação estão relacio- que a palheta fique 90% cheia quando a ex-
nados na Tabela 24-6. tremidade de algodão é umedecida. Finalmen-
Extensas investigações têm sido condu- te, adicionar 1,5 a 2 mm de óleo de parafina e
zidas quanto aos parâmetros fisiológicos, selar a extremidade. Elsden et aI. utilizam
Preservação e Criopreservação de Gametas e Embriões 519

FIG. 24-1. Vidraria usada para criopreservação de embriões.

um selo aquecido, embora outros selos sejam banho em 2 segundos ou menos. Usar uma
satisfatórios. A palheta é então colocada na vasilha intermediária contendo nitrogênio lí-
máquina de congelamento com a extremida- quido de modo que esta fase possa ser execu-
de selada pelo calor para baixo de modo que o tada dentro de 2 segundos. Após o desconge-
embrião mergulha e permanece sobre o óleo lamento, executar todas as fases em
de parafina. A quantidade de óleo de parafi- temperatura ambiente.
na não deve exceder 2 mm; danos físicos po- 9. O glicerol pode ser removido de duas ma-
dem ocorrer no embrião com quantidades neiras. O método padrão é diluí-Io em seis
maiores de óleo de parafina em consequência fases: PBS + 10% de soro + 8,3% de glicerol,
dos coeficientes de expansão térmica diferen- diminuindo-o gradativamente: 6,7%, 5%,
tes do PESo O óleo de parafina pode ser des- 3,3%, 1,7% e finalmente 0%, levando 6 a 7
necessário se as palhetas forem congeladas minutos por fase. O método alternativo utili-
em posição horizontal. za quatro fases: 6% de glicerol + 10,3% (3M)
5. Resfriar as palhetas de -5°C a -6°C a uma de sucrose, 3% de glicerol + 10,3% de sucrose,
razão de 2° a 4°C/min. O resfriamento mais 10,3% de sucrose (tudo em PBS + 10% de
rápido de -5°C a -6°C provavelmente não cau- soro), e então PBS + 10% de soro sem sucrose
sa danos. e sem glicerol. Cada fase dura de 6 a 7 minu-
6. "Seed" as palhetas após terem estado de -5°C tos. Cada procedimento de diluição leva a re-
a -6°C por 5 minutos, mantendo-as nessa tem- sultados similares, porém a quarta fase é mais
peratura por mais 10 minutos. rápida.
7. Resfriar as palhetas de -6°C a -30°C a 5°C/ 10. Avaliar o embrião e transferi-Io tão logo
mino Quando as palhetas atingirem -30°C são que praticável, preferivelmente dentro de 30
mergulhadas em nitrogênio líquido imedia- minutos. Obviamente descartar embriões de-
tamente (dentro de 2 a 3 minutos). generados (devem ser menos de 5% se a téc-
8. Descongelar palhetas em banho-maria a nica for executada apropriadamente). Haven-
37°C por não mais do que 20 segundos. Fazer do disponibilidade de receptoras, transferir
a transferência do nitrogênio líquido para o embriões degenerados de qualquer maneira
520 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

Haste de
alumínio para
ampolas

Palheta contendo meio e embrião

C '" ~Embri" C '"

~HLm Jr'<.'~r I
Tampao
FIG. 24-2. Vários tipos de palhetas, ampolas e hastes de alumínio usadas para criopreservação e os
métodos usados para transferir embriões para palhetas.

(não-cirurgicamente). Alguns poucos poderão ordem alfandegária. Embriões congelados são


desenvolver-se em bezerros. vendidos com pedigree, registros de saúde,
certificados de embriões e formas de registro
Mercado Internacional de Embriões de raças requeridas.
Congelados de Bovinos A seleção da doadora do embrião e do
reprodutor é orientada pela habilidade dos
Embriões congelados de várias raças de pais em aumentar significativamente a mé-
bovinos e padrões de produção estão disponí- dia do rebanho na próxima geração. A utili-
veis. Em gado leiteiro, p. ex., embriões de zação de embriões nos países em desenvolvi-
Suíça Parda, Holandesa e Jersey possuem mento pode substituir 25 a 30 anos de criação
produção de 14.000 a 18.000 e até lactação de em uma geração. O congelamento facilita o
305 dias. Embriões congelados também estão manejo e o transporte de embriões, tornan-
disponíveis em várias raças de corte, como a do-os superiores ao mercado animal entre pa-
Angus, Beefmaster, Brangus, Brahman, íses. Compradores prospectivos podem obter
Charolesa, Chianina, Gelbvieh, Hereford, listagens de embriões disponíveis de qualquer
Limusina, Maine Anjou, Pinzgauer, Polled país de origem no mundo todo a partir de seus
Hereford, Red Angus, Red Brangus, Salers, afiliados distribuidores locais. Técnicos expe-
Santa Gertrudis, Simmental e Texas rientes em inseminação artificial podem
Longhorn. Os preços de embriões congelados aprender a descongelar e inseminar embriões
são baseados nos registros de produção e congelados em um reduzido tempo de treina-
pedigrees. Outras raças estão disponíveis por mento. Isto proporciona um método mais ecI~-
Preservação e Criopreservação de Gametas e Embriões 521

o~o~... Álça
,..':: ,°":°:: I
Vácuo e
:':0:0:0:0:0: isolamento
,,'-0"0 :0:°:0:0=0:0

,°:.:::.
1,°'-'0'.
Área de ,~<:}~{
~'.::'o
armazenagem ':.°::
0°' .
crio O
:°:'=0:°:':0
..°00°
0°0°
0o 0°0 ° : 00 °
,. °0°
[
':':':0:0:°:. '0:':"::0:°:1
o : °° .
:::0:'- Absorvente
°oo~
~o:o=o:.:o:o:
0° 00°, , °° :
° I
I

o'-°oo'-~ ::°0::1 Vasilha.


,:oo="':"'~ :°:: =:oo~
° 00

Recipiente
interno
FIG. 24-3. Botijões de nitrogênio líquido, mostrando a construção interna e incluindo área de estocagem,
absorvente, vácuo e isolamento. A capa de alumínio altamente resistente é durável e ao mesmo tempo de
peso leve.

nômico de introdução de um estoque superi- Placas de cultura de vários tamanhos


or através de um sistema manejável. Palhetas e ampolas (Fig. 24-2) e dispositi-
vos seletivos para selar ampolas
Equipamentos, Vidraria e Acessórios para
Criopreservação Congeladores Programáveis

o equipamento necessário, vidraria e aces- Máquinas eletronicamente programadas


sórios para a criopreservação inclui o seguin- são utilizadas para monitorar a temperatura
te: na fase crítica da curva de resfriamento an-
Congelador programável para a tes que os recipientes contendo os embriões
criopreservação de embriões sejam mergulhados dentro do nitrogênio lí-
Refrigerador para meios, soluções e quido. Vários tipos são completamente
hormônios automatizados e capazes de obter padrões
Recipiente para nitrogênio líquido com controlados de criopreservação com ou sem
varetas de alumínio nitrogênio líquido e sem dispositivos mecâni-
Microscópio e estereoscópio cos de refrigeração ou de refrigeradores con-
Capela de fluxo laminar vencionais. Os três maiores sistemas são:
Pipetas quantitativas para preparo de so- L Congeladores com uma câmara cilíndri-
luções crioprotetoras ca e ar circulante resfriado por micro-
Cateteres e pipetas para manipulação de processador controlado por células
embriões termoelétricas.
522 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

FIG. 24-4.A, Palheta de 0,5 ml e copo contendo 36 palhetas em comparação com uma ampola de 1 ml em
uma estante para seis ampolas. B, Conservação de palhetas em nitrogênio líquido a -196°C. C, Equipa-
mento de inseminação para porcas, éguas, vacas, ovelhas e cadelas (de cima para baixo).
Preservação e Criopreservação de Gametas e Embriões 523

2. Congeladores operados com nitrogênio briões permanecem no fundo do frasco e po-


líquido. dem ser observados facilmente sob um micros-
3. Congeladores operados com álcool cópio, contados e removidos com uma
Alguns destes sistemas requerem apenas micropipeta. Esta técnica evita a perda oca-
uma fonte de 115 volts para operação normal. sional de embriões quando são lavados fora
As células termoelétricas, que fornecem a do frasco. As palhetas podem também ser
capacidade de resfriamento da unidade, ope- descongeladas diretamente em banho-maria
ram na base do efeito Peltier. Quando dois a 37°C.
metais dissimilares são conectados em série A diluição em série inicia-se com a solução
e uma corrente elétrica é passada através crioprotetora; permite-se 10 minutos para
deles, um diferencial térmico é estabelecido cada fase. Então os embriões são colocados
em cada junção da célula. O diferencial entre em PBS + 20% de soro fetal bovino (SFB) por
o lado "quente" e o "frio" pode ser realçado 30 minutos, e os embriões sobreviventes são
com a aplicação de amperagem elétrica adi- transferidos. Os embriões nas palhetas são
cional. O controle sobre a taxa de redução da ejetados e tratados conforme já foi menciona-
temperatura é alcançado por um micropro- do ou diluídos em uma ou duas fases dentro
cessador que monitora constantemente a tem- da palheta. As várias concentrações de
peratura da câmara e correlaciona a corren- crioprotetores são separadas por bolhas de ar.
te requerida conforme indicado pelo programa O embrião pode ser transferido de uma solu-
de resfriamento. Características importantes ção para a próxima dando um leve golpe na
de unidades de criopreservação incluem o se- palheta.
guinte: O nível ótimo de descongelamento depen-
1. Portátil (dispositivos termoelétricos são de da técnica de criopreservação. Vma curva
resfriados a ar, que excluem o uso de de descongelamento precisa deve ser também
nitrogênio líquido ou qualquer outro seguida e o embrião reidratado banhando-o
gás comprimido) em soluções progressivamente mais fracas do
2. Manutenção baixa sem dispositivos me- crioprotetor. Vsando esta técnica, índices de
cânicos de refrigeração gestação de mais de 50% podem ser obtidos
3. Segurança sem perigo de rápida congelando-se os melhores ovos, enquanto que
volatilização de gás ou compressores os de qualidade pior são transferidos a fres-
mecânicos co.
4. Capacidade de aquecimento (pode ser O aquecimento rápido limita a quantidade
aquecido mais que resfriado pela ati- de crescimento de cristais de gelo nas amos-
vação de um botão protegido) tras congeladas e frequentemente resulta em
5. Termômetro digital para monitoração sobrevivência. Se as amostras forem conge-
segura e subsequente controle do pro- ladas lentamente o suficiente para as células
grama criogênico. ficarem em equilíbrio osmótico com o meio
circundante, o nível de aquecimento não pre-
Descongelamento de Embriões cisa ser rápido. Os embriões são sensíveis ao
aquecimento rápido, presumivelmente em
No descongelamento, as palhetas com em- consequência da grande tensão osmótica tran-
briões criopreservados são transferidas do sitória que ocorre durante o aquecimento.
botijão de armazenamento com nitrogênio lí- Esta tensão ocorre à medida que o gelo se con-
quido para um recipiente pequeno de boca verte em água, resultando na exposição tran-
larga e cheio de nitrogênio líquido. O rótulo é sitória a uma solução, que é hipertônica em
conferido antes de descongelar a palheta. As relação ao interior das células. Os embriões
palhetas são seguras pelo colo, rapidamente devem absorver água do ambiente para per-
colocadas em banho-maria a 37°C, e cuidado- manecer em equilíbrio osmótico e retornar a
samente agitadas na água até o desapareci- seu volume isotônico normal. Devido à maio-
mento do gelo. Tomando-se cuidado, os em- ria das reações metabólicas serem impedidas
524 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

ou drasticamente diminuídas durante a 1. Viabilidade embrionária após descon-


criopreservação, elas são especialmente sus- gelamento é primeiramente avaliada
cetíveis ao aquecimento ou ao choque de di- testando a habilidade do embrião de
luição neste estágio. Para muitos tipos celu- desenvolver-se sob condições in vitro
lares é importante contar com soro ou outros até o estágio de blastocisto expandido
polímeros de alto peso molecular no meio de 2. Uma segunda fase inclui a avaliação da
descongelamento para reduzir qualquer cho- habilidade dos embriões congelados-
que osmótico. Quando derretem os cristais de descongelados desenvolverem-se em
gelo, os embriões estão ainda expostos a con- fetos viáveis quando aqueles em está-
centrações multimolares de crioprotetores que gio de blastocisto são transferidos para
devem ser gradualmente diluídas para fazer receptoras pseudoprenhes.
os embriões voltarem ao meio isotônico. 3. Embriões não-congelados são cultiva-
dos até o estágio de blastocisto e depois
transferidos para receptoras
Procedimentos para Testar a Sobrevivência pseudoprenhes.
Embrionária 4. A sobrevivência de embriões congela-
dos-descongelados é comparada à so-
Os principais parâmetros usados para ava- brevivência de controles não-congela-
liar a sobrevivência embrionária são basea- dos do mesmo animal.
dos no seguinte: (a) características
morfológicasantes e após congelamento / des-
congelamento, (b) sobrevivência embrionária Fatores que Afetam a Sobrevivência do
pós-descongelamento, (c) porcentagem de Embrião Após o Descongelamento
embriões que permanecem viáveis na cultu-
ra e (d) tratamento x interação de tempo de b Vários fatores maternos, técnicos e
e c. Um sistema de contagem é recomendado operacionais influenciam o índice de sobrevi-
para classificar os embriões após a criopre- vência dos embriões:
servação. 1. Características fisiológicas e biofisicas
Vários métodos eficientes são usados para e estágio de desenvolvimento de em-
avaliar a sobrevivência após o congelamento, briões
principalmente, a aparência morfológica no 2. Intervalo de tempo e tratamento in
descongelamento e desenvolvimento em cul- vitro da colheita do embrião ao início
tura; estes são intimamente correlacionados da criopreservação
com o resultado de sobrevivência dos em- 3. Tipo de congeladores computadorizados
briões congelados. Em espécies onde o exame e programa de criopreservação
morfológico e as técnicas de cultura são in- 4. Choque osmótico durante várias fases
certos, outros métodos indiretos são valiosos, de criopreservação
i. é, transferência para trompas inespecíficas 5. Número de embriões em cada palheta
e exame histológico. O desenvolvimento do e porcentagem de albumina sérica em
teste de corante fluorescente para o exame Dulbecco's PBS
destes últimos embriões faria a avaliação da 6. Exposição de embriões à luz excessiva
viabilidade muito mais simples. Deve-se con- durante o exame microscópico
siderar o desenvolvimento de testes metabó- 7. Pressões osmótica e colóideosmótica de
licos para sobrevivência assim como estudos fluidos, meios preparados e
ultra-estruturais mais detalhados de em- crioprotetores
briões congelados para averiguar o tipo e a 8. Natureza e extensão do "seeding" e
extensão do dano após o congelamento e o des- "mergulhamerito"
congelamento. Os principais procedimentos 9. Contaminantes microbiológicos na vi-
usados para embriões de animais domésticos draria, congelador e no armazenamento
são os seguintes: 10. Botijão de nitrogênio líquido
Preservação e Criopreservação de Gametas e Embriões 525

11. Falhas do congelador, computador ou energia, (b) proteger contra o efeito deletério
operador de resfriamento rápido, (c) proporcionar um
12. Sincronismo e natureza da receptora tampão para prevenir mudanças danosas de
nas reposições embrionárias (Schneider pH à medida que é formado o ácido lático, (d)
e Maurer, 1983) manter apropriada pressão osmótica e balan-
Em virtude de todas estas variáveis afeta- ço eletrolítico, (e) inibir crescimento
rem o índice de sobrevivência do embrião, a bacteriano, (f) aumentar o volume de sêmen
influência de cada fator deve ser considerada de modo que possa ser usado em múltiplas
individualmente e em relação aos outros fa- inseminações e (g) proteger as células
tores. espermáticas durante o congelamento
(Berndtson e Pickett, 1978; Foote, 1975;
Pesquisa Futura Graham, 1978).

Futuras pesquisas são necessárias para Diluidores de Sêmen


melhorar o índice de gestação de embriões
criopreservados de animais domésticos. Téc- Substâncias puras e equipamento limpo
nicas fisiológicas e cito lógicas podem ser em- devem ser usados para excluir materiais tó-
pregadas para avaliar a sobrevivência pós- xicos do ambiente espermático. Os diluidores
descongelamento de embriões com ênfase no devem ser preparados assepticamente e es-
índice de criopreservação e descongelamen- tocados por menos de uma semana, a não ser
to, a aplicação de congeladores programáveis, que congelados. Um carboidrato simples,
a maturação de ovos transferidos em folículos comoa glicose, usualmente é adicionado como
substitutos de animal, o número ótimo de con- fonte de energia para os espermatozóides.
centrações em série e de diluição de criopro- Tanto a gema do ovo como o leite são usados
tetores, o critério de avaliação do índice de
sobrevivência embrionária, os possíveis efei- TABELA 24-7. Algumas Modificações
tos da cultura de embriões antes dos efeitos Morfológicas em Embriões Após
da criopreservação de concentração relativa Criopreservação e Descongelamento
de soro, meios de cultura e crioprotetores (al- Modificações Morfológicas Após Conge-
guns lotes de soro, meios de cultura e em- Estágio lamento e Descongelamento
briões podem ser inferiores), o papel funcio- Aparência assimétrica
nal relativo do fluido blastocélico, zona Coloração desigual de blastômeros
pelúcida e junções direitas entre as células 2-16 células Blastômeros expelidos
trofoblásticas. Blastômeros irregulares
Massa celular irregular
Técnicas citogenéticas podem ser usadas
Blastômeros expelidos
para a sexuagem de embriões congelados/des- Dano extenso e reorganização
congelados. Várias técnicas biofísicas e bio- Perda de coesão (frouxidão) entre
Mórula blastômeros
químicas podem ser utilizadas para avaliar
características moleculares de membranas de Perda da zona pelúcida
Cor mais clara ou mais escura
blastômeros, consequência osmótica da Presença de restos celulares
permeabilidade de crioprotetores e significa- Áreas vacuolizadas no citoplasma (pou-
do relativo da osmolaridade e pH do meio cas ou extensas)
crioprotetor durante diferentes estágios de Blastômeros expelidos
Blastocisto Colapsado
criopreservação. Colapsado e reexpandido após descon-
gelamento
CRIOPRESERVAÇÃO DE SÊMEN Redução de tamanho
Eclosão precoce
Rachada
Os agentes que compreendem bons meios Rompida
diluidores apresentam as seguintes funções: Zona pelúcida Perda da forma esférica e lisa
(a) proporcionar nutrientes como fonte de Forma oval
526 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

para proteger contra o choque frio das célu- A adição de ácido cítrico não é necessária por-
las espermáticas à medida que elas são res- que o componente da gema de ovo (20% por
friadas da temperatura do corpo para 5°C. volume) tem sufiéiente capacidade-tampão
Estas substâncias também contêm nutrien- para retomar o pH ao neutro. O leite desna-
tes utilizados pelos espermatozóides. Uma va- tado é preferível aos diluentes de citrato para
riedade de tampões pode ser usada para man- sêmen de carneiro. O Tris é incluído apenas
ter um pH aproximadamente neutro e uma como componente tampão; outros sais e açú-
pressão osmótica de aproximadamente 300 cares são necessários para manter a
miliosmois, que é equivalente ao do sêmen, osmolaridade. Outros tampões orgânicos
do plasma sanguíneo e do leite. Para inibir o (Tricien, TES, MES, HEPES) oferecem uma
crescimento de microrganismos no sêmen, são alternativa melhor ao citrato para tamponar
adicionados penicilina, estreptomicina, . diluentes de sêmen especialmente naguelas
polimixina B ou outras combinações de anti- espécies em que o citrato é um meio pobre.
bióticos que cobrem um largo espectro Há um aumento progressivo na utilização
bacteriano. Procedimentos similares foram de sêmen de cachaço que tem sido adicionado
desenvolvidos para criopreservar embriões como diluente adequado e usado para
(Tabelas 24-7 e 24-8). inseminação artificial. O sêmen é diluído e
O sêmen bovino é usualmente diluído com usado no mesmo dia ou guardado até 6 dias
solução de gema de ovo-citrato, leite integral em temperatura variável de 5 a 23°C. Uma
homogeneizado, leite desnatado fresco e em temperatura de estocagem de 15 a 18°C apre-
pó, leite de coco e solução de lactose. O sêmen senta melhor sucesso com sêmen de cachaço.
foi diluído com bons resultados em diluentes Vários diluentes são utilizados como o "Kiev"
baseados em tampão orgânico, Tris (também conhecido por Guelph), o "Beltsville
(hidroximetil) aminometano. Liquid Extender" (BL-1), o "Illinois Variable
Soluções-tampão como o fosfato ou 3,2% de Temperature" e o "Zorlesco" (ver Tabela 24-3).
diidrato citrato trissódico-2,9 ajustado a pH Um volume de armazenamento e inseminação
6,9 pela adição de ácido cítrico são comumente de 100 ml é recomendado para a maioria dos
utilizadas em combinação com gema de 'ovo. diluentes. O armazenamento de sêmen diluí-

TABELA 24-8. Sistema de Pontos Recomendado para Graduação de Embriões


Após Criopreservação e Descongelamento
Estimativa
Parâmetros Características de Pontos

Blaswmeros 1. Forma; variabilidade de tamanho 15


2. Número em relação ao estágio de desenvolvimento (retardamento),
material expulso
Vitellus 3. Homogeneidade, granulações 20
(citoplasma) 4. Cor: preto, âmbar ou cinza (muito escuro, muito claro)
Restos celulares expulsos 5. Material expulso ou blastômeros 20
Membranas celulares 6. Plasma intacto membrana de citoplasma 15
7. Vesículas com ou sem membranas ou parcialmente preenchidas com
lipídios e glicogênio
Espaço perivitelino 8. Tamanho em relação ao estágio de desenvolvimento 10
Zona pelúcida 9. Forma; integridade (intacto) 10
Outros 10. Miscelânea de anomalias 10
Total de pontos TãO
Anomalias menores, maiores, não-consequentes e múltiplas são notadas em embriões de mamíferos
após a criopreservação.
Em um sistema computadorizado graduado de embriões congelados-descongelados, baseado nos pontos
para anomalias, o embrião pode apresentar as seguintes categorias: "pobre", "regular", "duvidoso", "bom"
e "excelente".
Preservação e Criopreservação de Gametas e Embriões 527

do em BL-1, contudo, é melhor sucedido usan- a motilidade espermática. Um crioprotetor


do um volume de 25 ml seguido de diluição a instantâneo (CPI) foi comercialmente desen-
100 mllogo antes da inseminação. volvido. Seu efeito na criopreservação de sê-
A meta final de preservação de sêmen é men pode estender-se a 6 semanas.
obter gestações após inseminação artificial tão Preparações antibióticas são adicionadas
eficientemente como após a monta natural. aos diluidores para controlar a proliferação
Isto depende de vários fatores além da quali- de quaisquer contaminantes microbiológicos.
dade do sêmen. O sêmen de animais domés- Uma combinação de penicilina (500 a 1000
ticos foi criopreservado com resultados UI/ml) e estreptomicina (500 a 1000 Ilg/ml)
satisfatórios há 30 anos atrás; todavia, as téc- proporciona um largo espectro de atividade
nicas foram continuamente modificadas e antibacteriana. Os antibióticos não são tóxi-
melhoradas. A criopreservação do sêmen, ini- cos para os espermatozóides. Antibióticos
cialmente em dióxido de carbono sólido (gelo mais novos são adicionados em baixas con-
seco a-79°C) foi substituída pelo nitrogênio centrações sem qualquer efeito adverso sobre
líquido (-196°C) com a vantagem de uma con- os espermatozóides; contudo, não há evidên-
dição mais estável do sêmen criopreservado. cia de que alguns sejam mais eficientes do
A aplicação de técnicas de criopreservação foi que a tradicional combinação de penicilina-
melhor sucedida em bovinos do que em ou- estreptomicina.
tras espécies de animais domésticos. A A calicreína e a cafeína parecem estimular
congelabilidade (sobrevivência pós-desconge- a motilidade espermática quando adicionadas
lamento de sêmen criopreservado) varia en- ao sêmen após o descongelamento. A ação da
tre espécies e entre indivíduos machos da cafeína, provavelmente, se dá por seu estímu-
mesma espécie. Estas variações individuais lo nos níveis de monofosfato de adenosina
e entre espécies estão relacionadas às carac- cíclica (cAMP) nos espermatozóides. Tais
terísticas biofísicas e bioquímicas das mem- aditivos são de valor duvidoso porque seriam
branas espermáticas. A integridade funcional removidos durante o transporte espermático
do sêmen criopreservado-descongelado é ava- através do trato reprodutivo feminino.
liada por sua capacidade de fertilizar o óvulo O glicerol usualmente é adicionado para
e de garantir a embriogênese. proteger os espermatozóides, por outro lado
A sobrevivência dos espermatozóides contra os efeitos letais do congelamento. O
ejaculados só no plasma seminal é limitada a di me til sulfóxido (DMSO) e açúcares tais
poucas horas. Para manter os esperma- como a lactose e rafinose também podem ser
tozóides por períodos maiores e para resfriar benéficos, pois servem como agentes
ou criopreservar o sêmen, é necessária a di- de sidratante s.
luição com uma solução protetora. Diferen- Composição de Diluidores. Praticamen-
tes soluções têm sido utilizadas como te todos os diluidores para sêmen líquido ou
diluentes de sêmen, a maioria das quais são congelado, têm gema de ovo ou leite fervido,
variações de poucas fórmulas principais. ou ainda uma combinação dos dois como in-
O preparo do meio de gema de ovo-citrato gredientes básicos. A gema de ovo simples-
para a criopreservação do sêmen é demora- mente combinada com citrato de sódio ou tam-
do, particularmente se for preparado a fresco pões orgânicos e o leite fervido ou leite
para o uso. A gema de ovo pode ser uma fonte desnatado têm sido usados em grande escala
prospectiva de infecções a vírus ou reações para sêmen de touro, e com modificações para
alérgicas. Assim, é importante desenvolver sêmen de carneiro, bode, cachaço e garanhão.
um novo crioprotetor que seja mais fácil de Por muitos anos a ênfase dos programas
manipular e em cuja fórmula não entre gema de inseminação artificial (IA) foi na utiliza-
de ovo. Com base em extensivas investigações ção de sêmen não-congelado. Numerosas fór-
sobre meios de preservação espermática mulas de diluidores foram recomendadas
(Mahadevan e Trounson, 1983) houve a des- (Salisbury et aI., 1978). Os mais intensiva-
coberta sobre o uso de calicreína para realçar mente utilizados foram a gema de ovo
528 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

Tabela 24-9. Composição dos Diluentes com Gema de Ovo para Sêmen Congelado.
Para semêm congelado (-196°C)
Ampolas ou Palhetas Congelamento em "Pellets"
Ingredientes* Touro Touro Bode Touro Carneiro Varrão Garanhão T

Citrato de sódio dihidratado (g) 23,2


Tes-N-Tris (g) - - 12
Tris(g) - 24,2 24,2 - 36,3 2
Ácidocítrico monoidratado - 13,4 13,4 - 19,9 -
Glicose ou frutose (g) - 10,0 10,0 - 5,0 32 50
Lactose (g) - - - 3
Rafinose (g) - - - 139 - - 3
Caserna (g) - - - - - -
Penicilina (unidades/ml) 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000
Estreptomicina (l1g!ml) 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000
Polimixina B (unidades/ml) 500 500 - 500 - - -
Glicerol (ml) 70 70 80 47 50 10 50
Gema do ovo (ml) 200 200 100 200 150 200 50
Orvus ES paste (ml)
- - - - - 5 -
Água destilada para o volume final 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000

*Usualmente os ingredientes são dissolvidos em água destilada e depois o glicerol, adiciona-se mais
água e gema de ovo para atingir o volume final para um litro. Dois tampões e diluidores são frequentemente
preparados, pois o nível de glicerol no meio inicial misturado com espermatozóides usualmente tem uma
concentração mais baixa de glicerol do que o diluidor no qual os espermatozóides são congelados. Os
níreis de antibióticos também variam.
Também congelados em palhetas. Até 0,5 g de fosfato de sódio e de tartarato de sódio e potássio são
incluídos no meio, de acordo com os pesquisadores japoneses (Nishikawa et al., 1972). Contudo, não
existe um diluente completamente satisfatório para o congelamento de sêmen de garanhão.

tampo nada com citrato de sódio ou tris, ou uma grande variedade de escolha. A técnica
diluidores com leite fervido para o sêmen de permite que o sêmen seja colhido em uma
touro. Estes foram adapatados para utiliza- época e lugar e seja utilizado em outros, mes-
ção em outras espécies. Com a notável desco- mo após longos períodos de estocagem, desde
berta de Polge e colaboradores, do efeito pro- que seja mantido continuamente a -196°Ccom
tetor do glicerol durante o congelamento, a um bom suprimento de nitrogênio líquido.
ênfase mudou para a utilização de sêmen con- Assim, é necessário que não haja desperdício
gelado. deste sêmen. Exemplos de diluidores para
Mesmo com as melhores técnicas de con- sêmen congelado são mostrados na Tabela 24-
gelamento, mais espermatozóides devem ser 9.
colocados em cada unidade de reprodução do A confecção de "pellets" com sêmen diluído
que com sêmen diluído (não-congelado) por de touro e seu congelamento em dióxido de
causa da perda de algumas células viáveis carbono sólido (gelo seco) é praticada em pou-
durante o congelamento. cos países. Um açúcar comoa rafinose ou 11%
Em áreas onde é disponível pouca refrige- de lactose podem ser usados. Os "pellets" re-
ração, o sêmen pode ser estocado na tempe- presentam um meio não dispendioso de pre-
ratura ambiente. Um diluidor de gema de ovo servação dos espermatozóides, porém há di-
carbonatada chamado Illinois Variable ficuldades de identificação adequada quando
Temperature (IVT), e o leite de coco tem re- são envolvidos grandes números de touros.
sultado em fertilidade satisfatória quando o Todavia, em algumas espécies cujo congela-
sêmen é armazenado por poucos dias em tem- mento das células espermáticas é difícil, o
peraturas ambientes moderadas. A maioria método dos "pellets" tem se mostrado mais
dos animais da espécie bovina é inseminada satisfatório. O sêmen de bode pode ser conge-
com sêmen congelado. Isto oferece ao usuário lado em leite desnatado com cerca de 9 g de
Preservação e Criopreservação de Gametas e Embriões 529

glicose por litro e 7% de glicerol por volume com sêmen congelado de equinos tem dado
(Corteel, 1977). resultados satisfatórios.
O sêmen de carneiro congelado em diluidor Os agentes antibacterianos são especial-
(Salamon, 1976) ou em leite fervido, pode ser mente úteis no controle dos microrganismos
usado satisfatoriamente. Contudo, ele não é presentes em sêmen diluído conservado a
tão fértil como quando usado não-diluído ou temperaturas mais altas. É importante a uti-
não-congelado em baixas diluições. Muito do lização de antibióticos apropriados para con-
sêmen usado nos países onde é praticada a trolar os diferentes tipos de organismos que
inseminação artificial de ovinos não é conge- podem ser encontrados nas diferentes espé-
lado. O sêmen de cachaço tem se mostrado cies. O glicerol pode interferir parcialmente
difícil de congelar satisfatoriamente. Todavia, com a ação inibidora dos antibióticos sobre os
uma variedade de diluidores tem sido desen- microrganismos. Corantes vegetais podem ser
volvida (Larson, 1978). O glicerol é prejudi- incluídos no diluidor em concentrações sufi-
cial à fertilidade do cachaço (Wilmut e Polge, cientes para distingui-Ios com a cor. Isto não
1977), e 2% ou menos por volume é acrescen- prejudica os espermatozóides e facilita a iden-
tado ao sêmen diluído durante o congelamen- tificação do sêmen de diferentes reprodutores
to. Algum sêmen congelado de suínos já é dis- ou raças.
ponível comercialmente. Muito do sêmen
suíno utilizado para inseminação na Europa Processamento do Sêmen
é não-congelado, preservado até 3 dias em um
diluidor com glicose, bicarbonato e gema de O processamento do sêmen por meio do
ovo gaseificada com C02' resfriamento a 5°C é similar seja para conge-
O sêmen de garanhão também pode ser lamento ou não. O sêmen deve ser colhido à
congelado em "pellets" ou em palhetas. temperatura do corpo. Em seguida à colheita
Diluidores com gema-tris e creme-gelatina ele deve ser conservado aquecido (30°C) an-
têm sido usados (Pickett et aI., 1975). O tes da diluição para evitar o choque frio. Isto
glicerol deprime a fertilidade do sêmen de pode ser feito colocando o sêmen e o diluidor
equino; o sêmen de alguns garanhões conge- em banho-maria a 30°C. Uma alíquota de
la com dificuldade, de modo que os métodos sêmen deve ser retirada para avaliação da
de congelamento de sêmen de equinos são amostra, e o restante pode ser misturado com
menos que ótimos (Sullivan, 1978). Não três ou quatro partes do diluidor a 30°C. Re-
obstante, a inseminação artificial comercial comenda-se que o sêmen seja mantido por 30
minutos a 30°C para aumentar a ação dos
TABELA 24-10. Características de Espécies em Relação à Criopreservação de
Sêmen
Espécie Características

Bovina o sêmen foi originalmente criopreservado em ampolas de vidro de 1 ml; todavia, a introdução de
congelamento em "pellets" e palhetas de plástico resultou na utilização de volumes menores de sêmen
contendo menos espermatozóides, de modo que mais fêmeas podem ser inseminadas a partir de uma
única ejaculação.
Equina O sêmen não pode ser diluído mais do que cerca de dez vezes sem significante redução da fertilidade,
embora a motilidade em diluições até 40 vezes não seja afetada.

Suína A inseminação artificial de espermatozóides criopreservados de suínos sob condições usuais de manejo
resulta em fertilidade mais baixa e redução do número de leitões. A fertilidade diminuída de sêmen
criopreservado é causada por reduzido tempo de sobrevivência dos espermatozóides no útero, junção
útero-tubárica e trompas, comparada à sobrevivência de espermatozóides a fresco.

Ovina O sêmen tem sido congelado em grandes ampolas (2,5 a 10 ml), em "pellets", em palhetas e como um fino
filme em sacos plásticos. O sêmen criopreservado é menos fértil do que o sêmen fresco não-diluído,
porém o sucesso atingido até agora, juntamente com a relativa falta de danos ultra-estruturais que
ocorrem com a criopreservação e descongelamento é promissor.
530 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiua

antibióticos do diluidor. A mistura é resfria- lizado no próprio dia da colheita ou no dia


da gradativamente a 5°C para todas as espé- seguinte.
cies, com exceção do sêmen não congelado de Adição de Glicerol para Congelamen-
cachaço, que usualmente é mantido a 15°C. to de Sêmen de Thuro. O glicerol é usado
O sêmen de bode frequentemente é quase universalmente como agente
centrifugado antes para impedir possível coa- crioprotetor para congelamento de sêmen. A
gulação (Corteel, 1977). O resfriamento deve quantidade e os métodos de adição do glicerol
ser lento, levando pelo menos uma hora para variam, dependendo dos diluidores, dos mé-
resfriar a mistura de 30°C a 5°C. O resfria- todos de congelamento e das espécies (Tabela
mento usualmente é feito dentro de um reci- 24-10) e das fórmulas desenvolvidas pelos la-
piente com água para prevenir o choque frio. boratórios individualmente (Foote, 1975;
Diluição do Sêmen. O sêmen é diluído Graham, 1978).
segundo padrões específicos de modo que o Usualmente o glicerol é adicionado ao sê-
volume da dose contenha espermatozóides su- men depois do resfriamento a 5°C; no entan-
ficientes para proporcionar alta fertilidade to, ele proporciona maior proteção quando
sem desperdício de muitas células. Os níveis adicionado logo antes do congelamento. A
aproximados de diluição possíveis com as quantidade final varia de menos de 5% em
ejaculações médias, o número conveniente de alguns meios de gema-açúcar a 10% em leite.
espermatozóides para inseminar e outros da- Alguns adicionam o glicerollentamente por
dos relevantes sob boas condições dI:)manejo gotejamento ou pela adição de pequenas
encontram-se resumidos na Tabela 24-10. O quantidades por um período de uma hora;
número de células espermáticas requerido outros recomendam a adição de uma só vez.
para a inseminação varia, dependendo do lo- O sêmen diluído é normalmente mantido por
cal de deposição. Quando o sêmen diluído pode várias horas a 5°C antes do congelamento. Os
ser colocado através da cérvice, o número de tampões tris e os tampões açúcares usados
espermatozóides necessário é menor do que no congelamento de "pellets" oferecem a van-
aquele para a inseminação intracervical ou tagem do glicerol poder ser incluído no meio
vaginal. Quando estas técnicas e a variação inicial usado para o resfriamento do sêmen.
de concentração das células espermáticas são Em muitos outros diluidores, os esperma-
levadas em consideração, os níveis reais de tozóides sofrem danos morfológicos pela adi-
diluição podem ser mais extremos do que ção de glicerol na temperatura ambiente. Com
aqueles relacionados na Tabela 24-10. o glicerol adicionado no diluidor inicial, vá-
Os níveis de diluição são maiores com sê- rios laboratórios que usam diluidor com tam-
men não-congelado do que com congelado. O pão tris processam o sêmen antes do congela-
sêmen de touro, não-congelado, pode ser di- mento na temperatura ambiente, evitando a
luído 200 a 300 vezes com menos de 6 milhões necessidade de grandes ambientes resfriados.
de células móveis por inseminação, para uma A mistura de sêmen com o diluidor é con-
boa fertilidade. O processamento do sêmen servada por várias horas antes do congela-
líquido após o resfriamento a 5°C (ou 15°C mento para permitir que as células espermá-
para o sêmen de cachaço) é simples. Os tubos ticas se equilibrem com o diluidor
de sêmen diluído devem ser quase preenchi- (usualmente a 5°C). Cerca de 4 a 6 horas é
dos totalmente para evitar ar em excesso e um período ótimo, dependendo do meio utili-
agitação na remessa. Eles devem ser acondi- zado. Originalmente, julgou-se que isto era
cionados de modo a manter a temperatura parcialmente necessário para o equilíbrio dos
constante e evitar exposição à luz. Com sê- espermatozóides com o glicerol. Contudo, já
men não congelado de touro, bode, carneiro, está suficientemente claro que pouco tempo,
cachaço e especialmente de garanhão, a fer- ou nenhum, é requerido para o equilíbrio com
tilidade decai dentro de poucos dias após a glicerol, e ele pode ser adicionado logo antes
colheita. Recomenda-se que o sêmen seja uti- do congelamento. Outras modificações ocor-
Preservação e Criopreservação de Gametas e Embriões 531

rem a 5°C que aumentam a sobrevivência palhetas. (Pace e Sullivan, 1978). A sobrevi-
espermática durante o congelamento. vência pós-congelamento dos espermatozóides
Os espermatozóides de touros são acondi- é afetada pelo padrão de congelamento, as-
cionados de 3 modos: (a) palhetas de cloreto sim como do descongelamento e da concen-
de polivinil contendo 0,25 a 0,5 ml de sêmen tração de glicerol.
diluído; (b) ampolas de vidro com capacidade O sêmen em "pellets" é preparado
para 0,5 a 1,0 ml; (c) "pellets" contendo apro- pipetando-se gotas de cerca de 0,1 ml de sê-
ximadamente 0,1 e 0,2 ml. Quando os volu- men diluído dentro de depressões
mes menores são congelados como uma uni- hemisféricas feitas em um bloco de gelo seco.
dade, a concentração espermática por ml é A sobrevivência espermática é boa em segui-
aumentada correspondentemente, de modo da ao congelamento. Os "pellets" ocupam pou-
que o total de espermatozóides por dose de co espaço quando guardados em lotes; eles
inseminação é mantido. Por exemplo, o sêmen oferecem o método mais barato de estocagem.
congelado em recipientes de 0,1 ml deve pos- A principal desvantagem é a dificuldade de
suir 10 vezes quantos espermatozóides por colocar a identificação do touro em cada
unidades de volume quanto o sêmen congela- "pellets", embora isto tenha sido feito incor-
do em recipientes de 1,0 ml para conter o porando-se um pequeno disco de papel im-
mesmo número total de espermatozóides. presso durante o congelamento. A contami-
À medida que se desenvolveu a tecnologia nação cruzada por outros espermatozóides ou
para congelamento de sêmen de bovinos, as por microrganismos também é possível. Os
ampolas de vidro foram utilizadas quase em "pellets" podem ser colocados em botijões
exclusividade. As ampolas proporcionam um grandes que são rotulados e então
envasamento estéril que pode ser automati- recondicionados a baixas temperaturas em
camente rotulado, preenchido e fechado. Este outros botijões individuais também rotulados
último impede qualquer contaminação cruza- antes da distribuição pelo campo. Outra téc-
da. Cada ampola contém espermatozóides nica de acondicionamento é colocar o sêmen
suficientes para uma única inseminação. Seis diretamente dentro dos cateteres usados
a oito ampolas são fIXadas a uma estante de eventualmente para a inseminação e congelá-
metal (Fig. 24-2) que também leva a identifi- los como unidades de inseminação.
cação do touro. Congelamento de Sêmen Bovino. Con-
Subsequentemente, palhetas de cloreto de geladores mecânicos e congeladores com gelo
polivinil foram desenvolvidas por Cassou, seco, ar líquido, 02 líquido e N2líquido, todos
baseado nas palhetas dinamarquesas e japo- têm sido experimentados satisfatoriamente.
nesas usadas nos primeiros tempos da O N2líquido tem aumentado em popularida- .
inseminação artificial com sêmen líquido. A de porque ele é também o agente refrigeran-
palheta exige menos espaço para estocagem te de escolha para a conservação por longo
do que a ampola, apresenta características de período do sêmen em baixas temperaturas.
congelamento ligeiramente melhores, e pode O sêmen diluído, congelado como "pellets", em
ser rotulada, preenchida e fechada automati- palhetas ou em ampolas é conservadoao re-
camente. Inclusive, os espermatozóides po- dor de 5°C antes do congelamento. As
dem ser transferidos para a vaca durante a palhetas usualmente são congeladas em va-
inseminação com uma perda mínima de célu- pores de nitrogênio e conservadas a -196°C.
las. A configuração geométrica de uma Por causa da grande área da superfície da
palheta como uma unidade para a palheta e de sua fina parede, a transferência
criopreservação de espermatozóides bovinos de calor é rápida e o sêmen congela rapida-
proporciona uma flexibilidade nos procedi- mente, geralmente dentro de poucos minu-
mentos de congelamento e descongelamento. tos. As ampolas frequentemente são congela-
Padrões mais rápidos de descongelamento das a cerca de 3°C por minuto até -15°C. Neste
resultam em sobrevivência maior de ponto, a velocidade de congelamento é aumen-
espermatozóides criopreservados em tada até atingir -150°C. As ampolas naR es-
532 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

tantes são então transferidas para o N2líqui- menor espaço. As grandes unidades de
do a -196°C. Os "pellets" começam a congelar armazenamento das centrais têm capacida-
dentro de poucos segundos após a colocação de para até 750.000 "pellets" de 0,1 ml, e pos-
sobre um bloco de gelo seco. Em poucos mi- sivelmente proporcionam um banco de sêmen
nutos eles atingem -79°C e são rapidamente econômico de touros jovens em programas de
transferidos para dentro de recipientes seleção. Em alguns países, depois que um
imersos em nitrogênio líquido a -196°C. grande número de "unidades de reprodução"
A natureza exata do processo de congela- é congelado, os touros são sacrificados, dimi-
mento - que permite aos espermatozóides sob nuindo assim os custos totais.
uma série de condições de serem rapidamen- É extremamente importante verificar os
te congelados ("pellets") ou com uma rapidez botijões periodicamente para ver se o nível
moderada (palhetas) e sob outras séries de de nitrogênio está mantido. A perda de todo
condições requerem um padrão mais lento nitrogênio líquido, permitindo que a tempe-
(ampolas) - não é compreendida. O congela- ratura suba consideravelmente, pode resultar
mento rápido demais pode provocar choque na morte dos espermatozóides, mesmo quan-
térmico e formação interna de gelo. O conge- do o sêmen pareça estar ainda congelado.
lamento lento provoca aumento das concen- Descongelamentodo Sêmen de Tou-
trações de sais à medida que a água se conge- ros. O sêmen congelado deve ser conservado
la externamente. Este aumento na pressão continuamente em baixas temperaturas até
osmótica por um prolongado período de con- a sua utilização. Depois de descongelados, os
gelamento lento pode danificar as proteínas espermatozóides não sobrevivem tanto quan-
e lipoproteínas das células espermáticas e do to aqueles não-congelados, e são recongelados
acrossomo. O padrão de congelamento pode dificilmente. Por este motivo deve se estar
afetar a formação de cristais de gelo e isto certo de que o sêmen irá ser usado logo uma
deve ser levado em conta ao escolher o ritmo vez que tenha sido descongelado. As palhetas
de descongelamento. têm sido satisfatoriamente descongeladas em
Armazenamento de Sêmen Congelado. temperaturas variáveis desde àquela da água
O sêmen congelado colocado inicialmente em com gelo até 65°C ou mais. Nas temperatu-
gelo seco e mais recentemente em nitrogênio ras mais altas de descongelamento, a reten-
líquido tem sido utilizado satisfatoriamente ção de acrossomos normais e a proporção de
depois de mais de 20 anos de armazenamento. espermatozóides progressivamente móveis
Com a temperatura mais baixa do N2líquido são maiores. O tempo de descongelamento
deveria ser possível guardar o sêmen conge- deve ser cuidadosamente controlado para evi-
lado indefinidamente. Contudo, é mais bara- tar a morte das células por superaquecimen-
to e geneticamente vantajoso usar um sêmen to. Recomenda-se que sob condições de cam-
dos reprodutores diferenciados prontamente, po as ampolas sejam descongeladas em água
mais do que guardá-Io por longos períodos. com gelo; isto leva cerca de 8 minutos. Tem-
Uma variedade de botijões de N2 líquido peraturas mais altas (37°C) podem ser supe-
fechado a vácuo são disponíveis para arma- riores para palhetas, porém podem depender
zenar .sêmen congelado. Eles variam de ta- do diluidor. Os "pellets" são melhor descon-
manho desde as unidades das centrais com gelados em um meio líquido a 40°C, porém
uma capacidade de armazenamento de vá- sob condições práticas de campo, o desco-
rias centenas de milhares de "minipalhetas" gelamento em água com gelo é mais fácil de
de 0,25 mIou "palhetas médias" de 0,5ml com manter e muito satisfatório.
uma reserva de N2 que dura cerca de 6 me- Sêmen Congelado de Outras Espécies
ses, até as unidades comuns de campo que Domésticas. Os mesmos princípios gerais
contêm até vários milhões de palhetas e uma descritos para sêmen de bovinos parecem apli-
reserva de N2 que dura até 6 semanas. As car-se ao manejo de sêmen congelado de ou-
ampolas necessitam de mais espaço; os tras espécies (Tabela 24-11).Todavia,a IAcom
"pellets" armazenados em grupos ocupam o sêmen congelado não tem sido desenvolvida
Preservação e Criopreservação de Gametas e Embriões 533

TABELA 24-11. Necessidades de Diluição, Armazenamento e Inseminação com


Sêmen Congelado (Baseadas em Condições Médias)
Todo Sêmen Congelado
Pariâmetro Bovinos Ovinos Caprinos* Suínos Eqüinos*

Temperatura de conservação (OC) -196 -196 -196 -196 -196


Tempo de conservação (anos) >1 >1 >1 >1 >1
Nível de diluição de 1 ml de sêmen (ml) 10-75 5-10 10-25 4 2
Dose de inseminação
Volume (ml) 2-1 0.5-2t .5 50 20-50
Espermatozóides móveis (106) 15 200 200 5000 1,500*
Melhor hora de inseminação durante o 9 horas após o 10-20 hs 12-36 hs 15-30 hs A cada
cio início para o após o após o após o dois dias,
fim do início do início do início do
partindo
cio cio cio cio do 22dia
de cio
Local de deposição do sêmen Útero Útero Útero Cérvice Útero
e cérvice se se dentro
possível possível do útero
N2de unidades de cobertura por macho
Por ejaculação 300 15 15 10 5
Por semana 1000 150 150 30 15
Concepçãona primeira inseminação 60 50 60 65 30-50
(% de gestação)
*Reprodutores estacionais; refere-se a inseminação artificial durante a estação normal de reprodução.
tSão preferíveis pequenos volumes com uma alta concentração de espermatozóides; os espermatozóides
em sêmen diluído devem ser reconcentrados por centrifugação.
:j:Baseado em três inseminações por cio com 500 milhões de espermatozóides móveis em cada
inseminação. Menores quantidades de espermatozóides têm sido usadas com sêmen congelado, porém
há dúvidas se o número de espermatozóides para melhores resultados seja menor do que o necessário
com sêmen fresco.

extensivamente em escala comercial para es- lulas espermáticas (Tabela 24-10)


tas espécies. Ou o sêmen é mais dificil de con- inseminadas, se possível através da cérvice.
gelar, resultando em reduzida fertilidade, ou A fertilidade é consideravelmente maior e
os problemas com o manejo das fêmeas, in- menos espermatozóides são requeridos com
cluindo detecção do cionão têm tornado atra- a inseminação intra-uterina.
tivos ou econômicos os programas de Os espermatozóides de bode também po-
inseminação artificial com sêmen congelado, dem ser congelados com boa sobrevivência
em uma base extensa. quando o sêmen é colhido durante a estação
O sêmen de carneiro pode ser trabalhado de monta. O sêmen é pré-diluído, centrifugado
em "pellets" ou congelado em palhetas com e ressuspendido em leite fervido (Corteel,
um diluidor de leite gema-Iactose ou gema-
tris. O sêmen colhido durante a estação de TABELA 24-12. Composição dos
monta normal congela bem. No método de Diluidores BL-l e Kiev paraSêmen de
"pellets", o sêmen é resfriado a 5°C, o glicerol Cachaço
é adicionado o necessário e o sêmen mantido Quantidade (g)
por cerca de 2 horas antes do congelamento Ingrediente* BL-1 Kiev
em gelo seco sob a forma de "pellets" de 0,1 a 29,7 60,0
Glicose-1H20
0,4 m!. A conservação é feita em nitrogênio Citrato de sódio-2-H20 10,0 3,75
líquido a -196°C. Os "pellets" são descongela- Bicarbonato de sódio 2,0 1,20
EDTA 3,70
dos em uma solução similar ao diluente de Cloreto de potássio ,3
congelamento, omitindo-se porém o glicerol e Penicilina G sódicat ,6 ,6
a gema de ovo.Os espermatozóides devem ser Düdroestreptomicina 1,0 1,0
concentrados por centrifugação e um peque- * Diluído a 1.000 ml em água deionizada.
no volume contendo o número desejado de cé- t 1.000.000VI.
534 Técnicas para Melhorar a Eficiência Reprodutiva

1967) ou meio de gema-tris (Fougner,1976). adicionado logo antes do congelamento. O


A centrifugação remove o plasma seminal que armazenamento é feito a -196°C. Afertilida-
contém uma enzima que pode provocar coa- de do sêmen de garanhão é diminuída pelo
gulação. Depois do resfriamento, o sêmen é congelamento.
congelado em palhetas e armazenado a -196°C.
O descongelamento deve ser feito rapidamen- Avaliação da Motilidade Espermática
te e a inseminação intra-uterina é altamente
desejável, se possível. A motilidade espermática é avaliada an-
O sêmen de porco tem sido difícil de conge- tes da criopreservação e novamente após o
lar, porém existem vários métodos bem-suce- descongelamento. Para avaliação da
didos (Pursel e Johnson, 1975; Larsson, 1978). motilidade espermática antes da
A sobrevivência espermática é aumentada criopreservação, as amostras de sêmen são
conservando-se o sêmen puro por duas horas diluídas 1:20 no mesmo meio utilizado para
para expor as células espermáticas ao plas- a criopreservação. O hemocitômetro é preen-
ma seminal. Então a concentração celular é chido e então colocado em uma atmosfera
aumentada por centrifugação, o diluidor é úmida por 3 minutos para estabilizar antes
acrescentado e o sêmen diluído é resfriado a da observação. A porcentagem de
5°C (Tabela 24-12). Adiciona-se cerca de 2% espermatozóides com motilidade progressiva
de glicerol por volume e são feitos os "pellets" retilínea, importante indicador da capacida-
conforme descrito anteriormente. Em segui- de de fertilização, é avaliada. O número de
da ao armazenamento a -196°C, um número espermatozóides com movimentos retilíneos
suficiente de "pellets" é rapidamente descon- é dividido pelo número total de esperma-
gelado em uma solução como a indicada na tozóides (móveis e imóveis) e multiplicado por
Tabela 24-13 para proporcionar os 100.
espermatozóides necessários para a Quando o sêmen criopreservado é descon-
inseminação. gelado, ele é transferido do botijão de nitro-
O sucesso de congelamento de sêmen de gênio líquido para um banho-maria controla-
garanhão varia consideravelmente. O diluidor do a 37°C por 3 a 5 minutos ou para uma
tipo Nagase de gema-Iactose-glicerol ou gema- unidade de descongelamento. A motilidade é
rafinose-glicerol (similar àquele para touro na estimada imediatamente após o descongela-
Tabela 24-9), ou um diluidor mais complexo mento e após incubação a 37°C por 30 a 60
(Nishikawa et aI., 1972) podem também ser minutos. A motilidade espermática é compa-
utilizados em palhetas. Somente a fração rica rada após a criopreservação com a motilidade
de espermatozóides é colhida, ou grande por- antes da mesma para avaliar o efeito de
ção do plasma seminal é removida por crioprotetores sobre a crio-sobrevivência:
centrifugação. O sêmen é diluído e resfriado Padrão de Recuperação
a 5°C. Os espermatozóides de garanhão são
sensíveis ao glicerol e este composto pode ser = Motilidade após o congelamento
Motilidade inicial antes do congelamento
TABELA 24-13. Solução para Descon- x 100
gelamento de Espermatozóides de
Suínos Danos ao Sêmen por Criopreservação
Ingredientes Quantidade
Destrose anidra (g) 37 As seguintes são anormalidades do sêmen
Citrato de sódio diidratado (g) 6 que podem resultar da criopreservação; es-
Bicarbonato de sódio (g) 1,25 tão também relacionados métodos para
Tetra-acetato de etilenodiamina dissódico 1,25
(g) 0,75 detecção dessas aberrações:
Cloreto de potássio (g) 1000 1. Certas organelas espermáticas, como o
Água bidestilada para volume (m!) acrossomo, podem mostrar modificações
Adaptado de Pursel e Johnson, 1975. estruturais.
Preservação e Criopreservação de Gametas e Embriões 535

2. A ruptura do acrossomo é observada em Corteel, I.M. (1977). Production, storage and insemi-
luz microscópica em esfregaços de sêmen nation of goat semen. Proc. Symposium },(anage-
corados por Giemsa. ment of Reproduction in Sheep and Goatt: Am.
Soe. of Anim. Sei. 41-57.
3. Modificações degenerativas podem ocor- Davis, D.L. and Day, B.N. (1978).Cleavage and bIas-
rer no acrossomo similares àquelas co- tocyst formation by pig eggs in vitro. J.Anim.
radas pelo Giemsa, observadas em mi- Sei. 46, 1043.
croscopia de interferência de fase Foote, RW. (1975). Semen quality from the bulI to
diferencial em espermatozóides não fi- the freezer: an assessment. Theriogenology 3,
219.
xados.
Foote, RW. (1980).Artificial insemination./n Repro-
4. Podem resultar rupturas na membrana duction in Farm Animais. E.S.E. Hafez (ed.).
plasmática sobre o acrossomo: o Philadelphia, PA, Lea & Febiger.
acrossomo aumenta de tamanho e Fougner, U.A.(1976). Uterine insemination with fro-
a subsequente ruptura da membrana zen semen in goats. VllIth Internato Congr.
Anim. Reprod. Artif. Insem. Krakow, 4, 987.
externa é associada com a perda da subs- Grabam, E.F. (1978). Fundamentais afilie preserva-
tância do acrossomo. tion of spermatozoa. /n The Integrity of Frozen
5. As mitocôndrias perdem sua estrutura Spermatozoa. Froc. Conf. Nat!. Acad. Sei.Wash-
interna e são mais levemente coradas do ington, D.C., 4-44.
que os controles não-congelados. Notá- Larsson, K. (1978). Deep-freezing of boar semen.
Cryobiology 15, 352.
veis diferenças entre espécies aparecem Nishikawa, Y., lritani, Aoand Shinomiya, S. (1972).
em resposta de espermatozóides à Studies on the protective effects of egg yolk and
criopreservação. glycerol on the freezability Df.horse spermato-
6. O escoamento das enzimas espermáticas zoa. VIIth Internato Congr. Anim. Reprod. Artif.
pode ser usado para avaliar o dano aos Insem., Munich, J, 154~.
Face, M.M.and Sullivan,lJ. (1978).A biological eom-
espermatozóides. Uma diminuição em parison of the .5 ml ampule and .5 ml French
uma ou duas isoenzimas fosfatase dos straw systems for packaging bovine spermato-
espermatozóides está associada com um zoa. NAAB Froc. 7th Tech. Conf. Artif. Insem.
aumento das mesmas enzimas no meio Reprod. 22-32.
extracelular. PickeU, B.W., et al. (1975). Effect of seminal exten-
ders on equine fertility. J. Anim. Sei. 40, 1136.
7. A redução do azul de metileno, a capta- Pursel, V.G. and Johnson, L.A. (1975). Freezing of
ção de oxigênio, a frutólise e o piruvato boar spermatozoa: fertilizing capacity with con-
usam os espermatozóides como testes de centrated semen and new thawing proeedure. J.
sua função. Anim. Sei. 40, 99.
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Frozen Spermatozoa. Washington, D.C., Conf. Sullivan, J.J. (1978). Characteristics and cryopreser-
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the viability of frozen stored caUle embryos. izing capacity of frozen and thawed semen.
Aust. J. Bio!. Sei. 32, 101-107. Cryobiology J4, 483.
GLOSSÁRIO DE
BIOLOGIA REPRODUTIVA *

Acrossomo Anticorpos
Organela em forma de bolsa na porção ante- Proteínas no sangue, modificadas por conta-
rior da cabeça do espermatozóide contendo to com uma substância estranha (antígeno)
várias enzimas utilizadas durante a penetra- de modo que exercem uma ação antagônica
ção das membranas do óvulo pelo ou neutralizante contra substâncias específi-
espermatozóide. cas. Os anticorpos são principalmente asso-
ciados com a "fglobulina no sangue, sendo
Aderência elementos-chave dos mecanismos de imuni-
Conjunto de tecidos e aderências anormais dade do organismo. A reação antígeno-
que deslizam livremente uns sobre os outros. anticorpo é protetora.
Aderências nas cavidades abdominal e pélvica
podem ocorrer após intervenções cirúrgicas,
particularmente se houver vazamento de pus Antígenos
de um abscesso rompido. Qualquer substância que estimula a produ-
ção de anticorpos.
Adiposo, tecido
Tecido conjuntivo adiposo, comumente na Antiprostaglandinas
parte do corpo em que há acúmulo de gordu- Drogas que impedem a formação de substân-
ra. cias químicas responsáveis (prosta-
glandinas).
Adrenalina
Nome patenteado da epinefrina, hormônio Atresia
produzido pela porção interna, ou medula, da Fechamento ou falha de desenvolvimento de
glândula adrenal. uma abertura normal ou de canal no orga-
nismo.
Âmnio
A mais interna das membranas fetais, for- Auto-imune, doença
mando a bolsa de águas que circunda e pro- Várias doenças de causa desconhecida podem
tege o feto. refletir uma inabilidade estranha do organis-
mo em "reconhecer" a si próprio, de modo que
Antibióticos os mecanismos que normalmente criam imu-
Substâncias químicas produzidas por certas nidade contra invasores estranhos de algu-
células vivas, tais como bactérias, fermentos ma maneira estabelecem uma sensibilidade
e fungos, que são antagonistas ou deletérias específica a certos tecidos do próprio organis-
para determinadas outras células vivas, como mo.
bactérias produtoras de doenças. Diferen'tes
antibióticos podem matar germes causadores Axônio
de doenças ou impedi-Ios de crescerem e mul- Fibra única e fina que conduz impulsos de
tiplicarem-se. uma célula nervosa para fora do organismo.
A maioria dos axônios é coberta por uma ca-
*As palavras em itálico também são deCIDidas no glos-
mada de material esbranquiçado chamado
sário. mielina.

537
538 Glossário de Biologia Reprodutiva

Azoospermia Cílios
Ausência de espermatozóides no sêmen. Processos minúsculos semelhantes a pêlos de
células especializadas que batem ritmicamen-
Biópsia te e mantêm fluidos carregados com restos
Remoção de tecido do organismo vivo para celulares seguindo em uma direção, por exem-
diagnóstico. A amostra de tecido pode ser sub- plo, para fora dos pulmões. A palavra signifi-
metida a testes bioquímicos; mais frequente- ca também cílios (dos olhos).
mente, ele é fixado em um bloco de parafina,
cortado em finas fatias, corado e estudado sob Cisto
microscópio. Cavidade normal ou anormal com uma pare-
de definida, contendo líquido ou material
Blastocisto semi-sólido.
Estrutura embrionária côncava resultante do
acúmulo de fluido blastocélico dentro da Citologia
mórula em expansão e encontrado no útero Estudo científico da estrutura, elementos e
do dia 3 ao dia 7 de gestação. funções das células.

Cânula Citoplasma
Tubo côncavo para inserção em uma passa- Substância de uma célula por fora de seu
gem ou cavidade do organismo. Dentro da núcleo. Transformações de energia, síntese de
cânula usualmente há um trocarte, instru- proteínas e incontáveis modificações quími-
mento deslizante com uma extremidade apon- cas que nos conservam vivos ocorrem inces-
tada, projetado para puncionar uma cavida- santemente no citoplasma.
de e liberar fluido, após o que o trocarte é
retirado e o fluido drena através da cânula. Clitóris
Órgão sexual erétil da fêmea situado acima
Capacitação da vagina; homólogo do pênis.
Maturação final dos espermatozóides no tra-
to reprodutivo feminino levando à fertiliza- Clivagem
ção do óvulo. O ovo fertilizado cpmeça a se dividir. Não
aumenta de volume. Primeira clivagem: o
Castração plano passa através da área onde estão si-
Remoção dos testículos ou ovários. O poder tuados os pró-núcleos masculino e feminino.
funcional dos ovários pode ser destruído por Segunda clivagem: ocorre nos ângulos di-
radiação, algumas vezes necessária no trata- reitos. Terceira clivagen: ocorre próxima
mento de doenças; esta é chamada castração aos ângulos direitos. A divisão pode não ser
não cirúrgica. perfeitamente sincronizada. As divisões são
mitóticas. Cada célula contém o número
Cateter diplóide de cromossomos (2n). Ocorre a
Tubo côncavo para inserção através de um compactação: a célula toma a forma de cu-
canal estreito dentro de uma cavidade para nha. Há coleção de fluidos nos espaços
drenar líquidos. intercelulares. Aparece a blastocele.

Centígrado (C) Colostro


Escala termométrica bastante utilizada em "Primeiro leite" secretado pela glândula ma-
ciência e medicina, em que a água congela a mária logo após o nascimento. O colostro não
OoCe ferve a lOOoC. Para converter em graus é um "verdadeiro" leite, mas um fluido claro
Fahrenheit, multiplicar os graus centígrados ou levemente turvo contendo gorduras e açú-
por nove quintos e acrescentar 32. cares que possuem leve efeito laxativo sobre
Glossário de Biologia Reprodutiva 539

o recém-nascido. O colostro contém também um óvulo maduro. Produz a progesterona,


imunoglobulinas que passam para o recém- hormônio que prepara o revestimento do úte-
nascido parte das imunidades adquiridas pela ro para receber o óvulo fertilizado. Ocorren-
mãe; a imunidade passiva assim transmiti- do a fertilização, o corpo lúteo aumenta de
da não é de longa duração. tamanho e continua a produzir o hormônio
que sustenta a gestação por vários meses. Não
Concepção ocorrendo a concepção, o corpo lúteo degenera.
Termo confuso. Termo não recomendado, em-
bora alguns o utilizem para referir-se ao iní- Crânio
cio da fertilização do óvulo na trompa. Crânio, contém o cérebro.

Concepção (produto da) Cremaster


Todas as estruturas que se desenvolvem a Músculos que retraem os testículos.
partir do blastocisto, incluindo o feto, as mem-
branas placentárias e o fluido. Criocirurgia
Utilização do frio extremo para destruir ou
Congelamento congelar e posteriormente reviver tecidos.
Conversão de uma solução não congelada em Instrumentos que aplicam precisamente o frio
forma sólida. extremo nos tecidos são usualmente super-
resfriados por nitrogênio líquido.
Congelamento, ponto de
Temperatura na qual as fases sólida e líqui- Criogênico, fluido
da do meio podem existir em equilíbrio. Fluido ou gás liquefeito que permanece não
congelado em temperaturas muito baixas.
Congelamento, ponto de depressão
O ponto de congelamento de uma solução di- Crioprotetor, agente
minui à medida que a molaridade de todas as Compostos como o dimetilsulfóxido e o glicerol
substâncias dissolvidas naquele fluido au- que são acrescentados às soluções biológicas
menta. Quando são adicionados sais ou para minimizar os efeitos deletérios dos pro-
crioprotetores à água, o ponto de congelamen- cedimentos criobiológicos.
to é diminuído em proporção à concentração
destes agentes. . Cripta
Cavidade ou fossa tal como uma depressão
Congelamento programado natural na cérvice.
Sequência de padrões de resfriamento contro-
lados automaticamente para a preservação de Criptorquidismo
células em equipamentos automáticos ou Falha na descida dos testículos para o escroto
semi-automáticos. durante o desenvolvimento fetal; o testículo
permanece na cavidade abdominal ou no ca-
Congênitas, malformações nal inguinal.
Anormalidades presentes por ocasião do nas-
cimento. Cromossomo
Corpos filamentosos no núcleo de uma célu-
Córion la, contêm os genes e DNA. Os cromossomos
A mais externa das membranas fetais. A por- separam-se durante um estágio da divisão
ção feta! da placenta desenvolve-se a partir dela. celular. Espécimes corados e preparados po-
dem ser estudados sob microscopia. Cada pro-
Corpo lúteo genitor contribui com um cromos somo para o
O "corpo amarelo" que se desenvolve a partir par. Um dos pares contém os cromossomos
de um folículo no ovário após a expulsão de sexuais. A mãe contribui com o cromos somo
540 Glossário de Biologia Reprodutiva

X (determinante feminino) para o par, e o pai DMSO


contribui com o cromossomo X ou Y. Dimetil sulfóxido. Solvente que pode penetrar
a pele ou a membrana celular intactas e car-
Decídua regar drogas ou agentes químicos com ele.
Parte dorevestimento do útero que é modifica-
da durante a gestação e expulsa após o parto. Embrião
O concepto desde o momento da implantação
Descalcificação até os blastômeros 2, 4, 8 e 16, mórula,
Retirada de cálcio dos ossos onde foi deposi- blastocisto e blastocisto implantado até a
tado. Pode ser causada por um suprimento organogênese estar completa. Posteriormen-
inadequado de cálcio na ração de modo que te, ele é denominado de feto.
ele pode ser retirado dos ossos; pode também
ser causada por desequilíbrio hormonal. Epitélio
Células que formam a camada externa da
Dewar, frasco pele, i. é, aquelas que delineiam todas as por-
Frasco isolante utilizado para conter fluidos ções do corpo em contato com o ar externo
criogênicos. O frasco contém uma camada (olhos, orelhas, nariz, garganta, pulmões), e
interna e outra externa usualmente separa- tecidos especializados para secreções como o
das por um espaço vazio. A superfície interna trato urogenital.
geralmente é recoberta com prata ou alumí-
nio para minimizar a perda de calor. Escroto
Bolsa que cobre os testículos.

Diagnóstico Esfregaço
A arte e ciência de identificar uma doença; Secreções ou sangue expandido sobre uma
um pré-requisito ao tratamento, é perigoso lâmina para exame sob microscópio. Os
quando feito por destreinados em esfregaços frequentemente são corados com
autodiagnóstico negligente. Alguns aUXl1ios vários corantes para contrastar detalhes.
diagnósticos são tão antigos quanto
Hipócrates: histórico, sintomas, sinais flsicos, Espéculo
leves golpes e audição, tato, inspeção e apli- Instrumento para examinar o interior de uma
cação de todos os sentidos treinados. Instru- passagem ou cavidade orgânica, p. expl., a va-
mentos amplificam e transmitem movimen- gina.
tos detalhados do coração, cérebro e músculos.
Espermatocele
Disfunção Inflamação do escroto causada por dilatação
Anormalidade ou dano das atividades nor- cística (bolsa cheia de fluido) dos túbulos con-
mais de um órgão ou processo corpóreo. dutores de espermatozóides dos testículos.

Distocia Esteróide
Trabalho de parto ou nascimento doloroso e Hormônios naturais ou drogas sintéticas
dificil. cujas moléculas participam de um esqueleto
comum de quatro anéis de átomos de carbo-
Distrofia no (o núcleo esteróide), mas que possuem
Degeneração, desgaste e desenvolvimento ações diferentes de acordo com a ligação de
anormal. outros átomos. Vários esteróides sintéticos
desenvolvidos pela pesquisa farmacêutica
Dizigótico aumentam a potência, realçam os efeitos de-
Desenvolvimento ao mesmo tempo de dois sejados, minimizam efeitos colaterais ou, de
óvulos fertilizados (gêmeos fraternos) outra parte, melhoram as ações de uma mo-
Glossário de Biologia Reprodutiva 541

lécula desviando, acrescentando ou retiran- FSH


do alguns átomos. Hormônio folículo-estimulante.

Estocagem,temperatura Garneta
Temperatura em que as amostras são Óvulo ou espermatozóide.
mantidas congeladas antes do uso. Para
amostras biológicas, a estocagem pelo menos Gelo seco
até -800C é necessária e quando em nitrogênio Dióxido de carbono sólido com temperatura
líquido (-196°C) é altamente recomendável. de -77oC. Utilizado como congelante seja di-
retamente ou misturado em álcool como o
Estrógeno etanol e o metanol.
Hormônio produzido nos ovários para estimu-
lar o crescimento do revestimento interno do Gêmeos idênticos
útero. Gêmeos, sempre do mesmo sexo e com a mes-
ma hereditariedade, desenvolvidos a partir de
Estroma um único óvulo fertilizado.
Tecido de sustentação de um órgão, em oposi-
ção a seu tecido "produtor" ativo, Gene
Unidade máxima na transmissão de caracte-
Fagocitose rísticas hereditárias contidas nos
Célula branca do sangue com propriedades cromossomos.
de absorver, digerir e invadir bactérias ou
outras partículas estranhas. Gestação (prenhez; gravidez)
Período da implantação do blastocisto no
Fertilização endométrio até o término da prenhez.
Penetração do óvulo pelo espermatozóide e
completada pela fusão dos ocromossomosfe- Gônada
mininos e masculinos com subsequente for- Glândulas sexuais primárias, ovários ou tes-
mação dos pró-núcleos masculino e feminino tículos.
e expulsão do segundo corpúsculo polar,
singamia levando à clivagem a dois Graaf, folículo de
blastômeros. Folículo ovariano transparente, arredondado,
contendo um óvulo imaturo. Sob a influência
Feto (em inglês: foetus) do FSH da hipófise, uma das vesículas é esti-
Descendente não nascido de organogênese mulada a crescer e o seu óvulo amadurece na
completada ao final de 8 semanas, até com- preparação para a fertilização.
pletar a gestação. O termo é aplicado a des-
cendentes não nascidos desde a data da im- Gram-positivo, Gram-negativo
plantação até o término da gestação. Classificação das bactérias de acordo com a
aceitação ou não de um corante denominado
Fímbria para Hans Gram, um bacteriologista dina-
Estrutura semelhante a franjas; especialmen- marquês. Diferentes processos vitais e
te, fímbrias da abertura dos ovidutos, próxi- vulnerabilidade dos germes são refletidos por
mas ao ovário. As projeções semelhantes a suas características gram-positivas ou gram-
franjas são cobertas de cílios. negativas.

Fimose Granulócito
Alongamento e estreitamento da pele anteri- Células brancas do sangue contendo grânu-
or do pênis, impedindo a retração da cabeça los que tomam-se manifestos quando mortos.
do órgão. Eles são fabricados na medula vermelha dos
542 Glossário de Biologia Reprodutiva

ossos. Uma de suas funções é digerir e des- organelas celulares mecanicamente, levando
truir bactérias invasoras. à perda da viabilidade.

Hemocitômetro Intra-uterino, dispositivo (DIU)


Dispositivo para contar células sanguíneas. Pequeno dispositivo que é inserido e deixado
dentro do útero para impedir a gestação.
Hiperplasia
Supercrescimento de um órgão ou tecido pelo Lábios
aumentado número de células que estão em Lábios ou órgão em forma de lábios. Lábios
padrões normais. maiores: dobras de pele de cada lado da en-
trada da vulva. Lábios menores: dobras de
Hipertrofia tecido cobertas por membrana mucosa den-
Aumento de tamanho de um órgão devido ao tro dos lábios maiores.
supercrescimento de células sem aumento do
número de células. O supercrescimento celu- Laparoscopia
lar se dá em resposta à atividade aumentada Operação na qual os órgãos dentro do orga-
ou às demandas funcionais. nismo podem ser vistos através de um tubo
iluminado.
Hipófise
A glândula pituitária. Lesão
Alteração de tecido ou função devido a lesão
Hipotálamo ou doença, p. expL, pústulas, fratura, absces-
Uma parte do cérebro relacionada com várias so, arranhões e verrugas.
funções como o apetite, procriação, sono, tem-
peratura corpórea. Intimamente associado Leucócito
com a hipófise. Células brancas do sangue.

Hormônio Leucocitose
Substânci~ química especial produzida pelo Aumento anormal do número de células bran-
organismo e que provoca modificações no cor- cas do sangue. A contagem celular normal-
po. mente aumenta ligeiramente após ingestão
Implantação de alimentos e na gestação, porém a palavra
O blastocisto adere, penetra e estabelece su- implica em aumento anormal, frequentemen-
porte nutricional com os tecidos maternos, te associado com defesas orgânicas contra
normalmente o endométrio. infecção e inflamação.

In vitro Leydig, célula


Em vidro; relativo a estudos feitos em tubos Células intersticiais dos testículos produto-
de teste ou vidraria de laboratório, fora do ras de testosterona, o hormônio masculino (e
organismo vivo. pequenas quantidades de hormônio femini-
no). As células são estruturas separadas da-
Inseminação quelas produtoras de espermatozóides. Assim,
Introdução de sêmen dentro da vagina por machos inférteis cuja produção de
meios naturais ou por inseminação artificiaL espermatozóides estiver prejudicada, podem
produzir quantidades adequadas de hormônio
masculino e serem totalmente potentes.
Intracelular, formação de gelo
Efeito deletério predominante à sobrevivên- LH
cia de células resfriadas rapidamente. Os cris- Hormônio luteinizante da hipófise. Ele pro-
tais de gelo rompem as membranas e as voca umfolículo de Graafque liberou um ovo
Glossário de Biologia Reprodutiva 543

"amadurecido" a tomar-se um corpo amarelo Ovulação


que produz progesterona, um hormônio que Liberação do óvulo do folículo ovariano.
ajuda a preparar o revestimento do útero para
implantação de um óvulo fertilizado. Óvulo
Célula ovular. O óvulo é a maior célula hu-
Ligamento mana, ligeiramente visível a olho nu. Ele é
Faixa de tecido consistente, flexível e fibroso cerca de um quarto do tamanho do período
que liga os ossos ou sustenta órgãos. no final desta sentença. Ele é uma célula ar-
redondada com uma cápsula clara em forma
Monozigótico de concha, de consistência de gelatina
Desenvolvido a partir de um único óvulo fer- enrijecida, pesando cerca de 50 bilionésimos
tilizado, como os gêmeos idênticos. de uma onça - o "peso original" de cada ser
humano (o peso do extremamente menor
Mortalidade (fetal) espermatozóide fertilizante raramente conta).
Término da viabilidade fetal até a expulsão Como o espermatozóide, o óvulo contém cro-
completa ou extração de um produto de con- mossomos, que por ocasião da concepção "em-
cepção, sem levar em consideração a duração parelham-se" com os dos espermatozóides a
da gestação. fim de proporcionar ao embrião um comple-
mento normal de cromossomos. Embora o
Mórula óvulo seja cerca de 90.000 vezes maior do que
Embrião com 16, 32 ou 64 blastômeros resul- o espermatozóide, ambos contêm o mesmo
tante da clivagem do zigoto, usualmente en- número de genes.
contrado nas trompas de Falópio ou no útero.
Palheta
Nitrogênio líquido Fino tubo de vidro ou plástico utilizado para
Gás de nitrogênio líquido comumente utiliza- congelamento de embriões e espermatozóides.
do para resfriamento ou estocagem de amos-
tras biológicas. Sua temperatura é -1960C. Peristalse
Movimentos como ondas criados pela
constrição e relaxamento, que impulsionam
Osmose materiais ao longo do tubo. O músculo
Fenômeno de transferência de materiais atra- circundante se contrai para forçar o material
vés de uma membrana semipermeável que para diante, enquanto que os músculos à fren-
separa duas soluções, ou entre um solvente e te do material se relaxam.
uma solução, com tendência de igualar suas
concentrações. pH
Símbolo que expressa a concentração hidro-
Osmótico, efeito gênio iônica. Praticamente, é uma escala de
Alteração na força osmótica de suspensão de acidez ou alcalinidade das substâncias. O
meios causada por conversão da água em gelo ponto neutro é pH 7; abaixo de 7, aumenta a
ou do gelo em água. Isto resulta em um fluxo acidez e acima de 7, aumenta a alcalinidade.
substancial de água através das membranas
de células não congeladas, causando o Polispermia
enrug~mento das células ou dilatação durante Um ou mais espermatozóides supemumerá-
o congelamento e o descongelamento. rios formam os pró-núcleos. Os pró-núcleos
são reduzidos em tamanho; isto normalmen-
Oviduto te leva à triploidia.
Tub{>satravés dos quais o ovo é transportado
parfl o útero e onde usualmente ocorre a fer- Prenhez
tilização. O período desde a implantação do blastocisto
544 Glossário de Biologia Reprodutiva

até a expulsão e extração do feto e das mem- neamente no ponto de congelamento da solu-
branas fetais. ção e, de fato, a solução usualmente resfria-se
muitos graus abaixo de seu ponto de congela-
Prostaglandina mento antes do início espontâneo da formação
Agente químico produzido pelo organismo que de gelo, resulta o supercongelamento.
provoca contrações da musculatura uterina.
Superovulação
Purulento Aumento no número de ovulações em relação
Conteúdo, exsudato ou produção de pus. ao característico das espécies induzidas pela
injeção de várias gonadotrofinas.
Rugas
Pregas, dobras, elevações, saliências de teci- Tatuagem
dos, como as dos revestimentos da vagina. Inserção de cores permanentes na pele atra-
vés de picadas com uma agulha, por exem-
Salpingite plo.
Inflamação de uma ou ambas as trompas
(trompas de Falópio). Tecido, cultura
Crescimento de células em frascos ou tubos
"Seeding" de ensaio com nutrientes adequados, fora do
Introdução artificial de nucleação de cristal organismo.
de gelo em uma amostra aquosa. Isto é feito
usualmente para minimizar a amplitude do Tendão
super-resfriamento permitido na amostra. Ele Faixa de tecido fibroso claro e resistente que
pode ser executado tocando-se a superfície da liga um músculo a um osso. Fibras muscula-
amostra com um cristal de gelo através de res fundem-se em uma extremidade do ten-
uma sonda fria, ou por vibração mecânica. dão, enquanto a outra extremidade é ligada
a um osso.
Septo
Tabique ou parede entre dois compartimen- Teratologia
tos ou cavidades. Ciência relacionada com malformações e
monstruosidades.
Silástico
Forma de borracha de silicone.
Térmico,choque
Singamia Dano que ocorre nas células em consequência
Quando os pró-núcleos masculino e feminino de modificações na temperatura (na ausên-
entram em contato, eles começam a enrugar cia de congelamento ou modificações na força
e unir-se; por ocasião da primeira clivagem, iônica do meio).
dois grupos de cromossomos tomam-se visí-
veis, o matemo e o paterno, e unem-se e for- Termopar
mam um único grupo. Fio elétrico bimetálico que produz uma vol-
tagem dependente da temperatura em sua
Soro junção; a modificação de voltagem pode ser
Fluido cor de âmbar do sangue que permane- eletronicamente produzida para indicar
ce após a coagulação do sangue e o coágulo amostra de temperatura.
contraído. Ele contém anticorpos que comba-
tem doenças do hospedeiro. Testosterona
Hormônio masculino. Hormônio esteróide pro-
Supercongelamento duzido pelas células do testículo, independen-
Devido o gelo raramente formar-se esponta- te das células que produzem espermatozóides.
Glossário de Biologia Reprodutiva 545

Tripsina vírus vivos e de vírus mortos. Vacinas de ví-


Enzima digestora de proteínas produzida pelo rus vivos contêm os mesmos atenuantes de
pâncreas. modo que não conseguem causar doenças
significantes, podendo porém estimular fra-
TSH camente o organismo a fabricar anticorpos
Hormônio estimulante da tireóide. protetores contra uma doença em particular.
As vacinas de vírus mortos contêm vírus tra-
Ultra-som tados por meios fisicos e químicos para matá-
Ondas sonoras de alta frequência acima do los ou inativá-los de modo que não possam
alcance da audição. Dispositivos ultra-sônicos causar doença mas, não obstante, podem es-
de vários projetos e modificações possuem timular os mecanismos produtores de imuni-
muitas aplicações em veterinária e medicina dade do animal. As vacinas de vírus vivos são
humana. mais potentes e criam imunidade mais dura-
doura do que as vacinas de vírus mortos.
Umbilical, cordão
'fubo longo e flexívelligado à placenta em uma Vagina
extremidade e ao abdome do feto na outra. É Uma bainha. Órgão feminino de cópula, ca-
o salva-vidas do feto. Através dos vasos do nal muscular que se abre na superficie do cor-
cordão, o feto recebe nutrientes e elimina re- po e estende-se para dentro até a cérvice do
síduos. O cordão permite liberdade de movi- útero.
mentos no fluido escuro do âmnio. O cordão
continua a funcionar até ser atado e cortado Vaso deferente
no nascimento. Duto através do qual os espermatozóides são
transportados dos testículos até as vesículas
Uréia seminais e uretra.
Substância no sangue e na urina, contendo
nitrogênio, formada principalmente de gru- Vasoconstritor
pos de nitrogênio removidos no fígado de Droga ou substância orgânica natural ou
aminoácidos de alimentos protéicos. Certa mecanismo que comprime pequenos vasos
quantidade é formada a partir de nitrogênio sanguíneos, estreitando seus calibres e redu-
liberado pela depreciação de tecidos orgânicos. zindo o volume de sangue que flui através
deles. Esta ação aumenta a quantidade de
Ureter sangue nos reservatórios das grandes arté-
'fubo estreito através do qual a urina dos rins rias dilatáveis e aumenta a pressão sanguí-
passa para a bexiga. nea até o equilíbrio.

Uretra Vasodilatador
Canal desde o colo da bexiga até o meio exte- Agente que dilata pequenos vasos sanguíneos
rior e através do qual passa a urina. de modo que mais sangue flui através deles;
a pressão sanguínea é usualmente diminuí-
Úrico, ácido da.
Composto contendo nitrogênio presente no
sangue normal e na urina. É derivado de subs- Vasomotor
tâncias do núcleo das células, chamadas Mecanismos fisiológicos que controlam a di-
purinas. latação ou constrição das paredes dos vasos
sanguíneos e desse modo o volume de sangue
Vacina flui através deles. Impulsos dos centros do
Qualquer material bacteriano ou virótico para cérebro dirigem-se às fibras musculares nas
inoculação contra uma doença específica. Va- paredes dos vasos sanguíneos sobre nervos
cinas de vírus são de dois tipos: vacinas de de ação oposta: constrição ou dilatação.
546 Glossário de Biologia Reprodutiva

Vesícula seminal Vitrificação


Glândulas acessórias do sistema reprodutivo Solidificaçãode solução em estado semelhante
masculino; contínua à glândula prostática a vidro. Ocorre em graus extremos de conge-
lamento ou pressões muito altas.
Viabilidade X, cromossomo
A habilidade de funcionar de gametas conge- Cromossomo determinante do sexo feminino;
lados e descongelados. A viabilidade usual- as temeas possuem dois deles, os machos ape-
mente é expressada na habilidade das célu- nas um. Ver cromossomos. O cromossomo X é
las em se reproduzirem, metabolizar, excluir maior do que o cromossomo Y e contém al-
corantes vitais ou executar algumas outras guns genes para os quais não existem com-
funções metabólicas. A viabilidade dos plementos no cromossomo Y.
gametas congelados e descongelados deve
sempre ser comparada à habilidade das célu- Y, cromossomo
las não congeladas obtidas ao mesmo tempo Cromossomo determinante do sexo masculi-
para executar a mesma função. no. Ver cromossomos.

Vllos Zigoto
Projeções minúsculas semelhantes a dedos da Óvulo fertilizado, após a penetração do
superfície de uma membrana mucosa. O espermatozóide no vitelo, e formação dos pró-
córion, uma membrana placentária, contém núcleos em singamia, até o término da pri-
milhões de vilos (vilosidades coriônicas) que meira clivagem e formação do ovo com dois
aumentam a superficie da área. blastômeros.
GLOSSÁRIO DE ABREVIAÇÕES COMUNS

ACTH hormônio adrenocorticotrófico


ADH hormônio antidiurético
AFP a-fetoproteína
AI inseminação artificial
AIDS síndrome de deficiência imunoadquirida (HIV)
AMH hormônio anti-Mülleriano
AMP monofosfato de adenosina
ARC complexo relacionado à AIDS
ATP trifosfato de adenosina
BBB barreira sanguíneo-cerebral
BBT temperatura basal do organismo
bFGF fator básico de crescimento de fibroblasto
BP pressão sanguínea
BSA albuminaséricaboTIna
cAMP AMP cíclico
cDNA DNA complementar ao RNA
CDP fosfato-5' de citidina
CIC complexos imunocirculantes
CL corpo lúteo (singular)
CRH hormônio liberador de corticotrofina
CSF fator estimulante de colônias
CT tomografia computadorizada
D&C dilatação e curetagem
D&E dilatação e evacuação
DES dietilestilbestrol
DHEA dei droe p ian dro ste ro na
DMB diazobenziloximetil
DMSO dimetil sulfóxido (Me2S0)
DNA ácido deoxirribonucléico
EF fator de alongamento
EGF fator de crescimento epidérmico
ELISA ensaio imunoabsorvente ligado a enzimas
FCS soro fetal bovino
FGF fator de crescimento de fibroblasto
FHR gradiente do coração fetal
FRP proteína reguladora do folículo
FSH hormônio folículo-estimulante
FSH-RH hormônio liberador do hormônio folículo-estimulante
GnRH hormônio liberador de gonadotrofinas
GH-RH hormônio liberador do hormônio do crescimento
GLC cromatografia líquido-gasosa
GM-CSF fator estimulante de colônia granulócito-macrófago
GTT teste de tolerância à glicose
547
548 Glossário de Abreviações Comuns

hCB cordão sanguíneo humano


hCG gonadotrofina coriônica humana
hMG gonadotrofina da menopausa humana
hMT tumor mamário humano
HIV vírus da imunodeficiência humana
HMD doença da membrana hialina
hPL lactogênio placentário humano
HPLC cromatografia líquida de alta pressão
H8V vírus do herpes simples
IF técnicas de imunotluorescência
IFN interferon
Ig imunoglobulina
IGF8 soro de fator de crescimento semelhante à insulina
1M intramuscular
IUGR retardamento de crescimento intra-uterino
IUGR-LBW retardamento de crescimento intra-uterino com baixo peso ao nascimento
IV intravenoso
IVF fertilização in vitro
kDa kilodalton
LBW peso baixo ao nascimento
LH hormônio luteinizante
LH-RH hormônio liberador do hormônio luteinizante
LH-RF fator liberador do hormônio luteinizante
LI inibidor luteinizante
MI8 substância inibidora-MüIleriana
MRI imagem de ressonância magnética
mt mitocôndria
NA anticorpo neutralizante
NGF fator de crescimento de nervo
NK exterminador natural
PAF fator ativador de plaquetas
PAGE eletroforese de gel-poliacrilamida
PBL linf6citos sanguíneos periféricos
PB8 solução fisiol6gica tampão-fosfato
PDGF fator de crescimento derivado de plaquetas
PG prostaglandinas
PGF2 prostaglandina F2
PIF fator inibidor de prolactina
PM8G gonadotrofina sérica de égua prenhe
PV8 espaço perivitelínico
RNA ácido ribonucléico
RRA ensaio radiorreceptor
rRNA RNA ribossômico
8MC somatomedina-c
8TH hormônio somatotr6fico
TBG globulina ligada à tiroxina
TDF fator determinante dos testículos
TGF fator de crescimento transformador
VIP peptídio intestinal vasoativo
Glossário de Abreviações Comuns 549

UNIDADES
mg miligrama (10-3 g)
~g micrograma (10-6 g)
ng nanograma (10-9 g)
pg pico grama (10-12 g)
UI unidade internacional
Apêndice I
Números de Cromossomos das Espécies Bovinae, Equinae e Caprinae
NQde Número
Nome Comum Nome Científico
Cromos somos (2N) Fundamental

Bovino doméstico Bos taurus 60 62


Banteng Bos banteng 60 62
Zebu Bos indicus 60 62
Iaque Bos grunniens 60 62
Bisão europeu Bison bonasus 60 62
Bisão americano Bison bison 60 62
Gaur Bos gaurus 58 62
Niala Tragelaphus angasi 55 58
Búfalo do Congo Syncerus caffer nanus 54 60
Búfalo africano Syncerus caffer caffer 52 60
Búfalo asiático Bubalus bubalis 48 58
Búfalo de Célebes Anoa depressicornis 48 60
Nilgó Boselaphus tragocamelus 46 60
Antílope de quatro cornos Tetracerus quadricornis 38 38
Sitatunga ou antílope aquático Tragelaphus spekei 30 58

Cavalo selvagem Equus przewalskii 66 94


Cavalo doméstico Equus caballus 64 94
Jumento Equus asinus 62 104
Jumento africano Equus asinus africans 62 104
Hemíono Equus hemionus 56 104
Hemipo ou Quiang Equus kiang 56 104
Onagro Equus onager 56 104
Zebra listrada ou de Grevy Equus greuyi 46 78
Zebra africana Equus burchelli 44 82
Zebra de Grant Equus burchelli boehmi 44 82
Zebra de montanha Equus zebra 34(?) 60

Cabra doméstica Capra hircus 60 60


Cabrito montês Capra ibex 60 60
Marcor Capra falconeri 60 60
Saiga Saiga tatarica 60 60
Ovelha barbari ou ovelha de crina Ammotragus leruia 58 60
Ovelha do Afeganistão (Argali) Quis ammon cycloceros 58 60
Ovelha Kara-Tau (Argali) Quis ammon nigimontana 56 60
Ovelha doméstica Quis aries 54 60
Muflon Quis musimon 54 60
Ovelha oriental ("Red sheep") Quis orientalis 54 60(?)
Carneiro de grandes cornos Quis canadensis 54 60
Argali Quis ammon laristanica 54 60
Boi almiscarado Ouibos moschatus 48 60
Cabra de cornos curtos Hemitragus jemlahias 48 60
Cabra de Montanhas Rochosas Oreamnos americanus 42 60

551
Apêndice 11
Número de Cromossomos e Habilidade Reprodutiva de Híbridos Equinos, Bovinos
e Caprinos
Espécies e Número de Cromossomos (2N) Híbridos
Número de Cromos somos
Pai Mãe (2N) Habilidade Reprodutiva
Cavalo selvagem, 66 Égua doméstica, 64 65 Fertilidade (?)
(E. przewalskii) (E. caballus)
Jumento, 62 Égua doméstica, 64 63 Estéril
(E. asinus) (E. caballus) (Burro ou mula)
Cavalo doméstico, 64 Jumenta, 62 63 Machos estéreis, fêmeas
(E. caballus) (E. asinus) (Bardoto) férteis somente em
casos muitO excepclO-
nais
Jumento africano, 62 Jumenta, 62 62 Fértil
(E. asinus africanus) (E. asinus)
Hemíono, 56 Jumenta, 62 59 Fértil(?)
(E. hemionus) ,(E. asinus)
Zebra listrada, 46 Egua doméstica, 64 55 Estéril
(E. grevyi) (E. caballus) (Zebróide)
Zebra africana, 44 Jumenta, 62 53 Estéril
(E. burchelli) (E. asinus) (Zebril)
Jumento, 62 Zebra de montanha, 34 (?) 48 Estéril
(E. asinus) (E. zebra)

Bisão americano, 60 Zebu, 60 60 Fêmeas férteis


(Bison bison) (Bos indicus)
Bisão americano, 60 Vaca doméstica, 60 60 Machos Fi estéreis
(Bison bison) (Bos taurus) (Catalo)
Touro doméstico, 60 Bisão americano, 60 60 Machos Fi estéreis
(Bos taurus) (Bison bison) (Catalo)

Bode doméstico, 60 Ovelha barbari, 58 59 (?) Fetos a termo, porém os


(Capra hircus) (Ammotragus lorvia) moridos não sobrevivem

Bode doméstico, 60 Ovelha doméstica, 54 57 Embriões reabsorvidos ou


(Capra hircus) (Ovis aries) abortados com seis
semanas de gestação
Carneiro doméstico, 54 Muflon, 54 54 Ambos os sexos férteis
(Ovis aries) (Ovis musimon)
Carneiro de grandes cornos, 54 Ovelha doméstica, 54 54 Fertilidade reduzida
(Ovis canadensis) (Ovis aries)

552
Apêndice 111

Doenças da Reprodução de Origem Virótica, Protozoária e Bacteriana


Diagnóstico
Doença Espécie Etiologia Clínico Outros Controle
Aborto epizoótico Bovina Desconhecida Abortamento no final Lesões microscópicas Mudar a estação
bovino da gestação, lesão no de inflamação de monta
tecido linfóide do feto crônica

Doença venérea Bovina Reação linfóide Vulvite nodular, - Nenhum


granulosa balanite

Vulvovaginite Bovina Herpesvírus Vulvite fibronecrótica e Isolamento do vírus, Parada da


pustular infecciosa bovino vaginite prova de soro reprodução,
(lPV) (neutralização) vacinação

Rinotraqueíte Bovina Herpesvírus Doença respiratória, Isolamento do vírus, Vacinação


infecciosa bovina bovino abortamento prova de soro
(lER) (neutralização)

Diarréia bovina a Bovina Vírus Abortamento no início Prova de soro Vacinação


vírus (BVD) da gestação, defeitos (neutralização)
de nascimento

Vaginite catarral Bovina Vírus Vaginite catarral Isolamento do vírus Nenhum

Dermatite ulcerativa Ovina Vírus Ulceração dos lábios, Inoculação em cordei- Inspeção dos
pernas,vulva,e ro carneiros
prepúcio comprados
antes da
reprodução e
dos carneiros
vendidos

Peste suína Suína Infecção Leitões natimortos, História de vacinação Quarentena e


virulenta ou porcos mortos de porcas prenhes ou sacrificio de
vacinação edematosos, leitões com infecção rebanhos
com vírus fracos infectados
vivo modifi-
cado

SMEDI Suína Vírus Nascimento de fetos Isolamento do vírus Permitir


mumificados, mortali- exposição antes
dade embrionária, da reprodução,
infertilidade manter
rebanho
fechado

Peste suina africana Suína Vírus Doença semelhante à Exposição aos javalis Quarentena e
peste suína, africanos ou outros sacrificios de
abortamento de porcas suínos infetados rebanhos
prenhes infectados

Rinopneumonite Equina Herpesvírus Abortamento no final da Necrose focal do fíga- Vacinação


equina equino I gestação, doença do e edema pulmonar
respiratória nos jovens no feto, corpúsculo de
inclusão, isolamento
do vírus

Arterite viral equina Equina Vírus Infecção respiratória, Isolamento do vírus e Isolamento dos
celulite, abortamento prova de soro rebanhos
(neutralização) infectados

553
554 Apêndice

Apêndice 111(cont.)
Doenças da Reprodução de Origem Virótica, Protozoária e Bacteriana
Diagnóstico
Doença Espécie Etiologia Clínico Outros Controle
Exantema Equina Vírus Pústulas na vulva, Nenhum Isolamento,
vesicular coita! vagina, prepúcio parada da
e pênis reprodução

Aborto enzoótico Ovina Chlamydia Abortamento,íntegro Corpúsculos Vacinação


(não autolisado) elementares
corados na
placenta, prova de
fIXação de comple-
mento

Tricomonose Bovina Trichomonas Infertilidade, Cultura da cavidade Repouso sexual,


fetus piometra e prepucial para inseminação
abortamento em tricomonídeos artificial e
vacas tratamento
dos touros

Thxoplasmose Ovina 1bxoplasma Encefalite, Histopatologia, Isolamento


Suína gondii abortamento prova de corante
para anticorpos

Listeriose Listeria Sintomas nervosos, Isolamento da Evitar tensões e


Bovina monocyto- movimentos bactéria alimentação
Ovina genes circulares, com silagem
abortamento

Vibriose Campylobacter Infertilidade Prova de Inseminação


fetus varo mucoaglutinação, artificial,
Bovina venerealis isolamento, vacinação
anticorpo fluores-
cente

Campylobacter Abortamento Isolamento da Vacinação


fetus varo bactéria
Ovina intestinalis

Leptospirose Leptospira Anemia hemolítica, Prova de aglutinação Vacinação,


pomona abortamento no eliminação de
Bovina Leptospira fmal da gestação, I portadores
hardjo agalactia com tratamen-
to antibiótico
Leptospira Abortamento no Isolamento do
pomona final da gestação, Leptospira
Suína Leptospira nascimento de
grippotyphosa leitões fracos
Leptospira
canicola

Leptospira Abortamento no
pomona final da gestação,
Equina Leptospira oftaImia periódica
grippotyphosa
Leptospira
ictero-
hemorrhagiae

Leptospira Anemia hemolítica,


pomona abortamento no
Ovina fmal da gestação
Apêndice 555

Apêndice 111(cont.)
Doenças da Reprodução de Origem Virótica, Protozoária e Bacteriana
Diagnóstico
Doença Espécie Etiologia Clínico Outros Controle
Brucelose Bovina Brucella Abortamento no final Isolamento da Vacinação, prova e
abortus da gestação, bactéria, provas abate
esterilidade em de aglutinação
touros no soro e no leite

Suína Brucella suis Abortamento, leitões


fracos, esterilidade
em varrões

Ovina Brucella Abortamento


Caprina melitensis

Ovina Brucella Quis Epididimite em


carneiros,
abortamento

Canina Brucella canis Abortamento

(Mshar, 1965. Veto Buli. 35, 165; Blood and Henderson, 1963, Veterinary Medicine, 2nd Ed. Baltimore, Williams
& Wilkins; Howarth, 1960, Proc. U.S. Livestock Sanit. Assoe. 64, 401.)

'\
Apêndice IV
Preparo de Soluções Fisiológicas

SOlUÇÃO FISIOlÓGICA TAMPÃO COMPOSiÇÃO DE ALGUNS TAMPÕES E


DE FOSFATO DUlBECCO'S (PBS) SOlUÇÕES COMUNS
Para fazer 10 L:
1,32 g A
CaCI2.2HP 1,21 g
MgSO4.7H2O Solução de Baker:
NaCI 80g Glicose 3g
KCl 2g Na2HPO4 0,6 g
Na2HPO( 11,5 g
2g B KH2PO4 0,01 g
KH2PO 4 1Og NaCI 0,2 g
Glicose
.5g Adicionar água destilada para 100 ml
Sulfato de estreptomicina .36g
Piruvato de Na 1.000.000 unidades
Penicilina G sódica

A: Pode ser pesada com antecedência e esto- Solução de Joel:


cada indefinidamente em frasco estéril sob 80 ml de dextrose 5,42% em água destila-
da
refrigeração.
B: Pode ser pesada com antecedência e esto- 20 ml de NMgCl20,125 em água destilada
cada em frasco estéril sob refrigeração por
1 mês. Não misturar com CaCl2e MgSO4
até logo antes do uso. Solução de Locke:
CaCl2 0,24 g
Antes do uso: KCI 0,42 g
1. Dissolver NaCI, KCI, Na2HPO4,KH2PO4, NaHCOa 0,1 g
glicose, estreptomicina, piruvato de Na e NaCI 9,0 g
penicilina em 8 L de água deionizada e Adicionar água destilada para 100 ml
destilada.
2. Dissolver CaCl2 e MgSO4.7HP em 2 L de
água deionizada e destilada. Solução fisiológica:
3. Adicionar 2 L a 8 L com movimento cons- NaCI 0,85 g
tante. (Outros métodos de dissolver estes Adicionar água destilada para 100 ml
..
ingredientes com frequência levam à for-
mação de um precipitado). Solução tampão de Ringer modificada:
4. Adicionar soro bovino tratado pelo calor NaCI 120 mM
(1%)imediatamente antes do uso para re- KCI 5 mM
cuperar embriões e adicionar 10% de soro
KH2PO4 10 mM
para estocagem de embriões.
MgSO4HP 5 mM
Tris HCI 1 mM
Preparo de Soluções-Estoque
Solução de Ringer-Locke:
Duas soluções-estoque são feitas: NaCI 9,5 g
1. Solução fisiológica tampão de fosfato
modificada 4000 KCI 0,075 g
Soro fetal bovino (FCS) 1000 CaCl2 0,1 a 0,2 g
PBS + 20% FCS 5000
2. PBS + 20% FCS 4500 NaHCOa 0,1 a 0,2 g
Glicerol 500 Glicose (opcional) 1,0 g
Meio de resfriamento (glicerol1O%, v/v) -50 00 Água 1000,0 g
556
Apêndice 557

Solução de Ringer-Tyrode: Dexametasona 1 mg/ml (100 X):


NaCI 8,0 g Já vem estéril em recipientes de vidro. Para
KCI 0,2 g dissolver, adicionar 5 ml de água com serin-
CaCl2 0,2 g ga ao recipiente, remover e diluir para obter
MgSO 4 0,1 a 0,2 g uma concentração de 1 mg/ml. Fazer
NaHCOa 0,5 a 1,0 g alíquotas e guardar a -20.C.A betametasona
Glicose (opcional) 1,Og e a metilprednisolona podem ser preparadas
Água 1000,0 ml da mesma maneira.

Solução de Scott:
Bicarbonato de sódio 3,5 g Penicilina (p.expl., cristapen benzilpenicilina
Sulfato de magnésio 20,0 g sódica):
Água destilada 1000 ml 1.000.000 unidades por recipiente
A solução de Scott deve ser usada apenas Usar 4 recipientes e 400 ml de Hank's BSS
quando a água de torneira é "dura" e deve ser Preparar como para kanamicina; concen-
trocada frequentemente, por exemplo, depois tração final 10.000 unidades/ml
da lavagem de 20 a 25 lâminas. Solução salina tampão fosfatada (PBS)
(Dulbecco "A"):
Hanks BSS sem bicarbonato (previamente Oxoid tabletes, CódigoBR14a, 1tablete por
esterilizada por autoclavagem): 100 ml de água destilada
Penicilina 250 unidadeslml Repartir e autoclavar
Estreptomicina 250 ~g/ml Estocar em temperatura-ambiente, pH 7,3,
Kanamicina 100 ~g/ml osmolaridade 280 mOsm/Kg
ou gentamicina 50 ~g/ml PBSB contém cálcio e magnésio e deve ser
Anfotericina B 2,5 ~g/ml preparado e esterilizado separadamente. Mis-
(Todas as preparações estéreis, guardar a turar com PBSA, se preciso, imediatamente
-20.C.) antes douso.

~
Apêndice V
Preparo de Corantes de Espermatozóides

GORANTE DE PAPANIGOLAOU
* Conferir a acidez da água antes de preparar os
o corante de Papanicolaou distingue diferentes graus de etanol. O pH deve ser 7,0.
tUm dip corresponde a aproximadamente 1 segundo.
claramente entre componentes celulares tt A solução de Scott é usada quando a água de torneira
basófilos e acidófilos e permite um exame for "dura".
detalhado do padrão da cromatina nuclear. § O corante de Papanicolaou preparado (EA50 e OG6)
pode ser obtido comercialmente. As mesmas companhias
Este método, por este motivo, tem sido usualmente manufaturam o preparado de hematoxilina.
comumente utilizado para o diagnóstico Os corantes comercialmente disponíveis geralmente são
citológico de rotina. A técnica do corante de satisfatórios, porém os corantes podem ser preparados
no laboratório com uma economia substancial. Os
Papanicolaou provou também ser útil na corantes podem ser preparados da seguinte maneira:
análise da morfologiaespermática e no exame
Eosina Y
de células germinativas imaturas. Castanho Bismarck Y
10 g
lOg
Verde claro SF, amarelado 10 g
1. Preparo do Espécime. O esfregaço deve Água destilada 300 ml
ser levemente seco ao ar e então fixado em Etanol95% 2000 ml
Ácido fosfotungstico 4g
partes iguais de etanol (95%) e éter por 5 a Solução saturada de carbonato de lítio 0,5ml
15 minutos. (em água destilada)

Belsey, M.A, Elliasson, R, Gallegos, AJ., Moghissi,


2. Técnica de Coloração. Esfregaços fixados K.S., Paulsen, C.A., and Prasad, M.RN. (1980). Labora-
devem ser corados de acordo com a seguinte tory Manual for the Examination ofHuman Semen and
técnica: Semen-Cervical Mucus Interaction. WHO Special
Programme of Research, Development and Research
Etanol 80%* 10 dipst Training in Human Reproduction. Singapore, Press Con-
Etanol 70% 10 dips cem.
Etanol 50% 10 dips
Água destilada 10 dips
Hematoxilina de 3 minutos exatamente SOLUÇÕES-ESTOQUE
Harris ou Mayer
Água corrente 3 a 5 minutos
Etanol ácido 2 dips Preparar soluções separadas a 10% de cada
Água corrente 3 a 5 minutos um dos seguintes corantes:
Solução de Scotttt 4 minutos
Eosina Y 10 g em 100 ml de água destilada
Água destilada 1 dip
Etano150% 10 dips Castanho Bismarck Y 10 g em 100 ml.de
Etanol 70% 10 dips água destilada
Etano180% 10 dips
Etanol 95% 10 dips
Orange G 6' 2 minutos Verde-claro SF 10 g em 100 ml de água
Etanol 95% 10 dips destilada
Etanol 95% 10 dips
EA-50§ 5 minutos
Etanol95% 5 dips Para preparar 200 ml de corante, misturar
Etanol 95% 5 dips a solução-estoque precedente da seguinte
Etanol 95% 5 dips maneira:
Etanol 99,5% 2 minutos
Eosina Y 50ml
Xilol (3 recipientes Aproximadamente 1 minuto
com corantes) em cada recipiente Castanho Bismarck Y 10ml
Verde-claro SF 12,5 ml
Trocar o xilol se tornar-se leitoso. Montar
imediatamente com Depex ou qualquer meio Aumentar para 2000 ml com etanol 95%;
de montagem. adicionar 4 g de ácido fosfotungstico e 0,5 rol
558
Ap~ndice 559

de solução de carbonato de lítio. Misturar bem quando a solução estiver fria. Estocar em
e guardar a solução em temperatura- frascos de cor castanho-escura à temperatura-
ambiente em frascos recobertos compacta- ambiente e deixar descansar por 48 horas.
mente de cor castanho-escura. A solução é Diluir a quantidade requerida com uma parte
estável por 2 a 3 meses. Filtrar antes do uso. igual de água destilada e filtrar novamente.

Constituintes de OG6: Corante de Giemsa:


Colocar álcool metílico não diluído sobre a
Cristais de Orange G 10 g lâmina
Água destilada 100 ml
Etanol95% 1000 ml Deixar descansar por 10 minutos
Ácido fosfotungstico 0,15 g Drenar e secar ao ar
Cobrir a lâmina com corante de Giemsa (17
Solução-estoque número I: gotas da solução-estoque de Giemsa em
Preparar solução aquosa a 10%da seguinte água destilada suficiente para tomar um
maneira: Orange G cristal 10 g em 100 ml de volume final de 5 m!)
água destilada. Agitar bem e deixar em Deixar descansar por 20 minutos
recipiente castanho-escuro à temperatura- Lavar com água destilada
ambiente por uma semana antes do uso.
Corante de hematoxilina de Meyer:
Solução-estoque número II (Orange G, solução Colocar formaldeído a 10% sobre a lâmina
a 0,5%): Deixar descansar por 1 minuto
Solução-estoque número I 50 ml Lavar com água destilada
Preparar com etanol 95% a 1000 ml Corar por 2 minutos em hematoxilina de
Meyer
Para preparar a solução final de 1000 ml do Lavar em água destilada
corante, adicionar 0,15 g de ácido fosfo-
tungstico a 1000 ml da solução-estoque Corante de cristal violeta-rosa bengala
número lI; misturar bem e guardar em frascos Colocar Clorazene (cloramina T) (5% em
fechados de cor castanho-escura à tem- água destilada) sobre a lâmina
peratura-ambiente. Filtrar antes do uso. A Deixar descansar por 5 minutos
solução é estável por 2 a 3 meses. Lavar com álcool 95%
Imergir em cristal violeta (25% em água
Hematoxilina de Harris sem ácido acético: destilada)
Deixar descansar por 8 minutos
Hematoxilina (cristais escuros) 8g Lavar com álcool 95%
Etanol95% 80ml
Sulfato de amônia alumínio 160 g Imergir em rosa bengala (1 % em água
Água destilada 1600 ml destilada) por 8 segundos
Óxido de mercúrio 6g Lavar com água destilada

Para preparar a mistura corante, dissolver Corante de Bryan para espermatozóides,


o sulfato de amônio alumínio em água corante de Graham e Leishman para sangue*:
destilada por aquecimento. Dissolver os
cristais de hematoxilina em etanol 95%. Fixar a lâmina em formalina (10% por 3
Adicionar a solução de hematoxilina à solução minutos, e subsequentemente em etanol
de sulfato de amônio. Aquecer a mistura a
950C. Remover da chama, e enquanto em
movimento, adicionar vagarosamente o óxido
de mercúrio. A solução ficará de cor púrpura * IDstein, M., Capell, P., Holmes, K and Paulsen, C.A.
(1976). Nonsymptomatic genital tract infection and mala
escura. Imediatamente mergulhar o infertility. In Human Semen and Fertility Regulation in
recipiente em um banho-maria frio e filtrar Men. St. Louis,Mosb~
560 Apêndice

95% por 3 minutos e em etanol 70% por 3 a 37°C)por 2 dias.


minutos; trocar a cada um terço do tempo). A solução-estoque. está pronta para uso e
Lavar com água destilada por 3 minutos e deve ser estocada em frasco escuro
submergir em alfanaftol por 4,5 minutos. fIrmemente arrolhado, distante do calor e
Lavar com água de torneira por 15 minutos da luz.
e adicionar pironina B por 2 minutos. Soluções-estoque de corantes para sangue
Imergir 3 vezes em água de torneira. alternativas,. comercialmente disponíveis,
Adicionar o corante modificado de Bryan denominam-se corante para sangue de
por 15 minutos (descrição a seguir). Jenner e corante para sangue de Wright.
Imergir 3 vezes em ácido acético a 1%. O tempo envolvido com estes corantes deve
Lavar com água de torneira por 1 minuto e ser variado de acordo com o "Leishman"
adicionar corante de Leishman para para conseguir resultados comparáveis.
sangue durante 5 minutos. SoluçãoTampão: Reunir 2 tabletes-tampão,
Imergir 3 vezes em água de torneira e secar pH 6,8, com 200 ml de água destilada. (Se
ao ar. não utilizada imediatamente, testar o pH
antes do uso).
Corante modificado de Bryan para
espermatozóides: Corante de Leishman para Sangue (Solução
de Trabalho): Reunir 10 ml de solução de
Ácido acético 1% 1500 ml formaldeído com 90 ml de EI0H 95%, (0,1 g
Eosina amarela 0,5 g de acetato de cálcio pode ser adicionado por
Fast green 0,5 g 200 ml de solução para garantir pH neutro
Naftol amarelo S 0,5 g de 7,0).
FormalinaAlcoólica: Reunir 10 ml de solução
Mexer bem e conservar em frasco fechado, de formaldeído com 90 ml de EI0H 95%; 0,1
filtrar o corante antes do uso. g de acetato de cálcio pode ser adicionado por
200 ml de solução para garantir pH neutro
Corante de Leishman para Sangue de 7,0.
(Solução-Estoque): Alfanaftol: Dissolver 1 g de alfanaftol em 100
ml de álcool etílico 40% (EOH). Imedia-
Reunir 0,5 g de azul de metileno eosinatado tamente antes do uso inicial, adicionar 0,2 ml
e 300 ml de álcool metil absoluto (meOH). de solução de peróxido de hidrogênio a 3%.
Mexer vigorosamente e deixar envelhecer Pironina Y: Reunir 1 g de pironina, 4 ml de
no escuro à temperatura-ambiente por 7 anilina e 96 ml de EtOHa 40%. ~
dias. Citrato de sódio-tampão: Misturar 7 g de
Colocar o corante em uma incubadora (35 citrato de sódio com 1 L de 0,9 de NaCI e
ajustar o pH a 7,5.
Corantes Bryan/Leisbman para esfregaços morfológicos em fluido seminal
Nota: Usar corante recentemente feito, esfregaços secos ao ar de amostras recentes em lâminas limpas.
Formalina alcoólica 10% 1min Fresca de cada vez
Álcool etílico (EtOH) 80% 5min Trocar a cada terceira vez*
EtOH 70% 5min Trocar a cada terceira vez
EtOH 50% 5min Trocar a cada terceira vez
Alfanaftol 4min Trocar a cada 3 dias

Adicionar 0,4 ml de peróxido de hidrogênio a 3% em 200 rol de alfanaftol imediatamente antes.do uso inicial; a
solução permanece ativa por 3 dias em temperatura-ambiente.

Água de torneira corrente 15 min Correndo lentamente


Pironina Y 4min Fresca a cada semana
Água de torneira corrente 3 dipst Correndo lentamente
Apêndice 561

Citrato de sódio tampão 3 min pH 7,5; fresco de cada vez


Água destilada 1 mm Fresca de cada vez
Corante Bryan modificado 15 min Fresco a cada duas vezes
Ácido acético a 1% 2 dips Fresco de cada vez
Água de torneira corrente 1 min Correndo lentamente
Corante Leishman tampão 30 mm Fresco de cada vez
Filtrar 50 ml do estoque Leishman, adicionar 150 ml de tampão pH 6,8, filtrar novamente imediatamente
antes do uso.
Água de torneira corrente 1a2 Correndo lentamente
dips
Secar ao ar (não borrar)

* Trocar após cada 30 lâminas caso se utilize recipiente para 10 lâminas.


t Cada dip deve ter aproximadamente 1 segundo de duração.

CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS

1.A Pironina Y, os corantes modificados de Bryan e de Leishman devem ser filtrados antes do
uso inicial. Além disso, o tampão e o corante de Leishman devem ser filtrados antes do uso
para a remoção de corante precipitado.
2. A intensidade do corante final pode ser aumentada, corando-se por um tempo maior no
corante tamponado de Leishman, ou pode ser diminuída por lavagens repetidas. Testar a
intensidade desejada ao microscópio antes de montar a lâmina.
3. O peróxido de hidrogênio deteriora-se rapidamente na presença da luz; assim, a solução-
estoque a 3% deve ser guardada em recipiente âmbar no escuro.
4. O corante-estoque de Leishman deve ser envelhecido antes do uso por 7 dias na temperatu-
ra- ambiente e no escuro, seguido de incubação de 35 a 37°Cpor 2 dias no escuro. A solução
envelhecida é estável por um mês se conservada em recipiente selado no escuro.
Apêndice VI
Meios de Cultura
Preparo de Meios de Cultura para Ovos de Mamíferos, Embriões e 1ecidos
Meio-3 de
Brinster Meio* de Mistura F- Fluido Meio de
Cultura de Meio B-2 Dulbecco's 10 de Sintético Cultura de
Eagle
Ovos de de Mínimo Modificado Ham's de Tecido Meio de
Ingredientes (mg/l) Camundongo Menezo Essencial PBS Nutriente Trompas 199t Whitten's

Sais inorgânicos:
NaCI 5546 5250 6800 8000 7400 6300 8000 5140
KCI 356 800 400 200 285 533 400 356
CaC 189 - 200 100 33 190 140
MgC.6H2O - - - 100 - 100 -
MgSO.,7HP 294 200 200 - 153 - 200 294
NaHCOg 2106 2500 2200 - 1200 2106 350 1900
NHPO. - 61 - 1150 154 - 48
NaH2PO..H2O - - 140 - - - -
KH2PO. 162 60 - 200 83 162 60 162
Carboidratos:
Glicose 1000 1.200 1000 1000 1100 270 1000 1000
Piruvato de Na 56 250 - 36 110 36 - 36
Lactato de Na (DL) 2253 - - - - 370 - 2416
Ca (lactato)2,5H2O - 664 - - - - - 527
Ribose - - - - - - .5
Deoxirribose - - - - - - .5
Aminoácidos nenhum contém contém nenhum contém nenhum contém nenhum
23 13 20 21
Vitaminas nenhum contém contém nenhum contém nenhum contém nenhum
1 8 10 16
Ácidos nucléicos e nenhum nenhum nenhum nenhum contém nenhum contém nenhum
precursores 2 8
Elementos-traço nenhum nenhum nenhum nenhum contém nenhum contém nenhum
3 " 1
Outros componentes:
Albumina sérica 5000 10,000 varia varia varia varia varia 3000
bovina
Colesterol - 125 - - - - .2
Acetato de Na - 50 - - - - 50
Ácido lipóico - - - - .2 - -
Tween 80 - 50 - - - - 20
Glutationa - - - - - - .05
a-tocoferol PO.(Na)
- - - - - - .01
PO.<Na)
* Formulaçãocomsais de Earle.
t Formulação com sais de Hank.
GIBCO catalog (1976-1977),Grand Island, NY,Grand Island Biological Company.

562
Apêndice 563

Constituintes de Meios Completos Usados para Cultura de Embriões


MEM* Meio-199t
(sais de Earle), (sais de Earle),
Componentes mg/L mg/L
Sais inorgãnicos
CaC12.2H2O 200,00 200,00
CuSO4.5HP
FeSO4.7H2O
KCI 400,00 400,00
KH2PO4
.72
Fe(NO 3)p.9H2 O
MgSO4 \anhyd.) 97,67 97,67
MgSO4.7H2O
NaCl 6.800,00 6.800,00
NaHCO3 2.200,00
140,00 140,00
NaHlO4.H2O
NaH.t'O4.7H2O
ZnSO4.7Hpc
Outros componentes
Glicose 1.000,00 1.000,00
Hipoxantina .300
Ácido lipóico
Fenol vermelho 10,00 20,00
Piruvato de Na
Timidina
Aminoácidos
L-alanina 50,00
L-arginina HCl 126,00 70,00
L-asparagina.H2 O
L-ácido aspártico 60,00
L-cisteína 20,00
31,29 .110
L-cisteína HCl.Hp
L-ácido glutãmico 150,00
L-glutamina 292,00 100,00
Glicina 50,00
L-histidina HCl.H2O 42,00 21,88
L-hidroxiprolina 10,00
L-isoleucina 52,00 40,00
L-leucina 52,00 120,00
L-lisina HCl 72,50 70,00
L-metionina 15,00 30,00
L-fenilalanina 32,00 50,00
L-prolina 40,00
L-serina ~... 50,00
L-treonina 48,00 60,00
L-triptofano 10,00 20,00
L-tirosina 52,10 40,00
L-valina 46,00 50,00
Vitaminas
Biotina 0,10
D-Ca pantotenato 1,00 0,10
Cloreto de colina 1,00 .500
Ácido fólico 1,00 .010
i-inositol 2,00 .050
Niacinamida 1.00 .025
Piridoxina HCl 1,00 .025
Riboflavina .10 .010
Tiamina HCl 1,00 .010
Vitamina B12
*MEM =mínimo meio essencial.
tMeio-199 contém numerosos outros componentes não encontrados nos outros três meios.
(Compilado por R.w. Wright Jr. and K.R. Bondioli (1981). Aspects ofin vitro fertilization and embryo culture in
domestic animals. J. Anim. Sei. 53, 701.)
564 Apêndice

Meio de Cultura-Padrão Para Ovos


Biggers, Whitten e Whittingham (Meio BWW) (Solução de Kreb's Ringer's Modificada)
Peso
Componente Molecular g/L mM Miliosmol
NaCI 58,4 5,540 94,59 189,19
KCl 74,6 0,356 4,78 9,56
308,3 0,527 1,,71 5,13
Ca-Lactato-5Hp
136,1 0,162 1,19 2,38
KH2PO, 246,5 0,294 1,19 2,38
MgSO,.7Hp 84,0 2,106 25,07 50,14
110,0 0,028 0,25 0,50
NaHCO3
Piruvato de Na 112,1 2,416 21,58 43,10
Lactato de Na (3,68 mI/L de xarope)
180,2 1,0 5,56 5,56
Glicose
Cristalino bovino
Albumina 1,0
Antibiótico estoque
Solução* 1,0m!
Água destilada 1000 ml 308 (osmolaridade
Total
aproximada do
meio)t
* 100.000 UI/m! de penicilina e 50 mglml de estreptomicina. Esta solução-estoque é conservada congelada em
porções de 1 ml.
tO pH do meio é 7,4-7,5 quando equilibrado com 5% de CO2em ar.
Nota: A albumina humana é usada no meio para gametas humanos, e a albumina bovina é usada no meio para
gametas de hamster e ovos de outras espécies.

Osmolaridades de Meios de Cultura Completos e Simples, Utilizados para a Cultu-


ra de Embriões de Animais Domésticos*t

Meio Suplementado Com


BSA, wlvtt Soro Fetal Bovino, v/v
Sem suplemento 1% 3% 10% 20%
Item Médiat SD Médiat SD Médiat SD Médiat SD MédiatSD
Meio Complew 314t 6 306t 5 301 t 4
Ham's F-lO 293t 5 303t 6 298t 4 285t 4 286:t 3
MEM 289t 5 294t 3 304t 4 291 t 4 284t3
TCM-199 302t 6 304t 4
Ham's F-IO Modificado 270t 6 \-
Meio simples
BMOC-3 316t 4 -
PBS 283 t 3 284t3 286t4 281 t 4 282t 3
SOF 276 t 3
Whitten's 290t 3
* As médias representam 10 medidas de cada meio em miliosmóis determinados por um osmômetro de pressão à
vapor.
t Todos os meios continham 1% (v/v) de solução antibiótica-antimicótica, Santa Clara, CA, Grand Island Biological
Company.
tt Albumina sérica bovina, Fração V.
~ MEM = Meio Essencial Mínimo; PBS = Solução-Tampão de Fosfato; SOF = Fluido Sintético de Trompa.
(Adaptadode Wright,R.w.,Jr. and Bondioli,K.R.(1981).Aspectsof in vitro fertilizationand embryoculture in
domesticanimaIs.J. Anim.Sci.53, 701.)
Apêndice 565

Meios de Cultura Disponíveis Comercialmente* para Manipulação e Criopreservação


de Gametas e Embriões
Meios: Soro:
Dulbecco's fosfato Soro de bezerro recém-nascido (inativado pelo calor)
Solução fisiológica tampão Antibióticos! an timicóticos:
Dulbecco's fosfato solução fisiológicatampão + Antibiótico-antimicótico, LYO
D-glicose 1000 mgIL 10.000 unidades penicilina/rol
Piruvato de Na 36 mgIL 10.000 !1gestreptomicina/ml
Mistura de Nutriente F-10 25 !1gFungizona/rol
(com Ham's) P eni cilina -e stre p to mi cina
(L-glutamina) 10.000 unidades penicilina/rol
10.000 M estreptomicina/rol
*Cryo-Genetics, Inc., 3S00ASouth Park Drive, Tyler, Texas 75703.

Concentração de Crioprotetores vs. Metanol Acético:


Temperatura do Ponto de Congelamento Acético glacial 1 parte
Porcentagem de Temperatura do Metanol 3 partes
Crioprotetores Ponto de
(DMSO ou Glicerol) Congelamento Toda vez que usar deve-se fazê-Io a fresco e
O O°C conservá-Io a 4°C
5 -2°C
7,5 -3°C
10 -4°C Soluções Salinas Balanceadas (BSS):
12,5 -5°C Dissolver cada componente separadamen-
15 -6°C
20 -soc te, adicionando CaCl2por último e aumen-
30 -12°C tar para 1 L.
Ajustar o pH a 6,5.
Hank.s' BSS, sem fenoI vermelho: usar a
Fase de modificação ou ponto de congela- receita regular mas omitir o fenoI verme-
mento é definido como um processo em que lho.
um líquido é modificado para sólido em tem-
peratura constante. Amostras biológicas,com- Esterilizar em autoclave. Marcar o nívellí-
postas basicamente de água, têm uma tem- qui do antes de autoclavar. Guardar em tem-
peratura do ponto de congelamento de OoC peratura-ambiente. Levar até a marca com
quando nenhuma outra substância é adicio- água deionizada estéril antes do uso, se ne-
nada ao sis.t.ema. A adição de um agente cessário.
crioprotetor, comoo dimetilsulfóxido (DMSO)
ou glicerol, irá abaixar a temperatura do pon- Sulfato de Estreptomicina (1 g por frasco):
to de congelamento. A CryoMed observou esta Tomar 2 mI de um recipiente contendo 100
relação entre a"porcentagem de agentes ml de Hank.s BSS estéril e adicionar 1 g de
crioprotetores adicionados a um espécime bio- estreptomicina por frasco.
lógico e a temperatura do ponto de congela- Quando a solução estiver completa, devolver
mento. 2 ml ao Hank.s' com98 mI.
Apêndice VII
Crioprotetores
Preparo de Crioprotetores (Soluções-Estoque e Diluídas)

Duas soluções-estoque são preparadas:


A. Medir 54 ml de PBS e adicionar 6 ml de soro tratado pelo calor. Isto completa 60 ml de
solução de 10% de soro em PBS (solução A). Colocar em placa de cultura de 25 cm2
(cobertura de cor laranja).
B. Medir 27 ml de PBS + 10% de soro (solução A) e adicionar 3 ml de glicerol usando uma
agulha calibre 14 e uma seringa de 20 ml. Isto completa 30 ml de uma solução
crioprotetora a 10% (solução B).
Colocar em placa de cultura de tecido com cobertura escura. Passar ambas as soluções por
um filtro para esterilizar.

Diluições Crioprotetoras
PBS + Soro (m!) PBS + Soro + Glicerol (m!) Porcentagem de
(Solução A) (Solução B) Diluente
0,0 4,0 10
1,0 3,0 7,5
2,0 2,0 .5
3,0 1,0 2,5

Preparo de Solução de Sucrose 1,0 M


Sucrose 34,2 g
Adicionar PBS até um volume total de 100 ml
Usar seringa de 6 ml e agulha de calibre 18

Esta solução é 1,0 M ou 534,2% de peso/volume. Misturar a solução por 30 minutos em placa
em movimento.

PREPARO DE SOLUÇÕES DILUíDAS

As diluições de crioprotetores a seguir são preparadas em meios de cultura usando uma


seringa estéril de 60 ml e uma agulha hipodérmica de calibre 14. 'fubos Vacutainer de 15 ml
são de utilidade para o envãsamento dessas soluções.

Diluições de Glicerol em PBS + 20% FCS Requeridos para Congelamento e Descongelamento

PBS Modificado PBS Modificado


+ 20% FCS + 20% FCS
+ 10% Glicerol % Aprox.
Estoque A Glicerol
Estoque B
2 ml 10 ml 8,3%
4ml 8ml 6,7%
6ml 6ml 5,0%
8ml 4ml 3,3%
10 ml 2ml 1,7%

566
Apêndice VIII Nota: A tripsina é disponível em forma bru-
ta (p. expl., Difco 1:250) ou purificada (p. expl.,
Preparo de Tripsina para a Zona Livre de Sigma (3 X recristalizada). As preparações em
Ovos de Hamster forma bruta contêm várias outras proteases
que podem ser importantes na dissociação
Tripsina diluente-tampão celular, mas também podem causar danos às
Cloreto de sódio 6,0 g células mais sensíveis. Na prática usual uti-
Citrato trissódico 2,9 g liza-se a tripsina em forma bruta a menos que
Tricina [N-Tris (hidroximetil) 1,79 g o dano celular reduza a viabilidade ou um
metil glicina] crescimento reduzido seja observado, utilizan-
Fenol vermelho 0,005 g do-se então a tripsina purificada. A tripsina
Água destilada para 1000 ml pura possui uma atividade específica maior e
por isso deve ser utilizada em concentração
Mexer os ingredientes até dissolução e ajus- proporcionalmente mais baixa, por exemplo,
tar o pH a 7,8 0,05 ou 0,01%.
Filtrar em papel de filtro Whatman NQ1
Repartir e autoclavar Tripsina Verene Fosfato (TVP)
Osmolaridade = 290 mOsm/kg Tripsina (Difco 1:250) 25 mg (ou 1
ml Flow ou
Tripsina-Estoque (2,5% em 0,85% (0,14 M) Gibco 2,5%)
Na Cl) Solução fisiológica fosfatada
tampão (PBS) 98 ml
Soluções de tripsina podem ser compradas EDTA dissódico (2HP) 37 mg
no comércio. Alternativamente, para fazer Soro de pintainho (Flow) 1 ml
uma solução 2,5% em 0,85% NaCI, agitar por Misturar PBS e EDTA e autoclavar, então
uma hora na temperatura-ambiente ou 10 adicionar o soro de pintainho e a tripsina.
horas a 4°C. Se a tripsina não dissolver com- No caso de usar tripsina em pó, esterilizar
pletamente, clarificar por filtração em papel por filtração antes de adicionar o soro de
de filtro Whatman NQ1. pintainho. Fazer alíquotas e guardar a -200C.
Esterilizar por filtração, fazer alíquotas e
guardar a -20°C

567
Apêndice IX
Kits Usados para Imunométodos de Ensaios Hormonais
Kit Ensaio Incubação Variação de Teste
Aldosterona Extração 1 hr 0-1,28 ng/ml
Androstenediona Extração 30 min 0-12,8 nglml
Cortisol Direto 30 min 0-64 J.1g/dl
DHEA-S DA Direto 30 min 0-8000 nglml
Digoxina Direto 15 min 0-8 nglml
Estradiol direto Direto lhr 0-5120 pglml
Estradiol (método de extração) Extração 30 min 0-1280 pglml
Estriol Extração 30 min 0-32 nglml
FSH4H Equilíbrio 4 hrs 0-200 mIU/ml
Gastrinas lhr 0-3200 pglml
Fase p quant hCG Padrão humano 1 hr 0-200 mIU/ml
Fase p Teste de gestação Padrão humano 1 hr Qualitativo
hCG Toda a noite O-50 nglml
17a-hidroxiprogesterona Extração 1 hr 0-20 nglml
Insulina 1 hr 0-200 I!IU/ml
LH Equih"brio 4hrs 0-200 mIU/ml
Progesterona direta Direto lhr 0-80 nglml*
Progesterona (método de extração) Extração 1 hr 0-32 nglml
Prolactina Equilíbrio 3 hrs 0-100 nglml
Testosterona direta Direto 30 min 0-25,6 nglml
Testosterona (método de extração) Extração 30 min 0-25,6 nglml
T4 (tiroxina) 30 min 0-32 I!gldl
Tiroxina livre Sephadex sep. 30 min 1.0-2,3 ngldl
T-3 (triiodotironina) 1 hr 0-800 ngldl
T-3 tomada Adsorvente sep. 10 min 25-36%
TSH Eq Equilíbrio 2 hrs 0-160 j.1lU/ml
TSH (método sequencial) Sequencial 4hrs 0-80 j.1lU/ml
* Variação normal.
Disponível em Pantex: 21st St., Santa Mônica, CA 90404, Fone: (213) 828-7423; (800) 421-6529, Telex: 652-412.

...

568
ÍNDICE
Números de página seguidos por "f' denotam figuras; os seguidos por "t" denotam tabelas.
Abortamento, 279t, 280-282 origem do, 231-232, 232t
aberrações cromossômicas e, 307-309, 310f-312 volume de, 231-232
em equinos, 386-387 Ampola, da trompa, 31, 34f
rinopneumonia equina e, 280-282 Anatomia reprodutiva feminina, 21-55, 22f
espontâneo, 280 Cerviz uterina e, 49f-52f, 49-53
induzido, 280 estroma cervical e modificações fisiológicas e, 49-51
infecções provocadoras de, 280-282 funções da, 52-53
abortamento enzoótico de ovelhas e, 282 muco e, 51-52, 53f
abortamento epizoótico de bovinos e, 280-282 embriologia e, 21-22, 23f, 24t
rinopneumonia equina e, 280-282 das gônadas, 21
não infeccioso,280, 279t do sinus urogenital, 22
Acasalamento dos dutos reprodutivos, 21-22
de bovinos, 324-325, 325t genitália externa e, 55
de búfalos, 330-331 ovário e, 22-30
de ovinos e caprinos, 34lt, 341-343 corpo lúteo e, 27-30
frequência de, 344-346 desenvolvimento pré natal do, 22-25, 24t, 25f, 26t-
Acrossomo, 168-169, 169f 27t, 27
Acrossômica, fase, da espermiogênese, 174-175 ovariectomia e, 27
ACTFl,71-72,89,91 trompa e, 31-41, 32f, 33t, 34f-38f, 39t, 40f-41f
ADFl (vasopressina arginina função da, 36-37, 39
Adluminal, compartimento, junções celulares de mucosa da, 32-36
Sertoli, 177-178 musculatura e ligamentos e, 40-41
Adrenais, glândulas, hormônios da, 64t, 88-89, 91 útero e, 41, 42f-44f, 43-49, 47f-48f
Agentes tóxicos, infertilidade masculina e, 300-301 contração do, 45-46
Água ultrapura, 504-506 função do, 46-49
Alantoidiano, fluido, 231-233 glândulas endometrais e fluido uterino e, 44-45
comportamento maternal pré parto na ovelha e, 255- metabolismo do, 46
256 vasculatura do, 44
composição do, 232-233 vagina e, 53-55, 54f
função do, 231-232 funções da, 55
hidroalantoide e, 286-287 respostas fisiológicas da, 54
origem do, 231-232, 232t Anatomia, reprodutiva do macho. Ver também órgãos
volume de, 231-232 específicos
Alantóide, 222t desenvolvimento e, 4-6
Albumina, andrologia e, 88-89 descida testicular e, 5,5t
Amamentação pós natal, 5-6
cio pós parto e ovulação e, 105-106, 1O5f, 238-240 pré natal, 4-5
comportamento materno e neonatal e, 253-254 em animais de laboratório, 17f, 18, 19, 18t
na ovelha, 256-257, 258f epidídimo e duto deferente e, 3, 8-12, 9f-10f
na porca, 260, 26lt glândulas acessórias e, 11-12, 14, 12f-13f
na vaca, 258, 260f pênis e prepúcio e, 12, 14-19
Ambientais, fatores testículos e escroto e, 3, 5, 5t, 6f, 6-8, 7f, 8t
comportamento sexual e, 250-252 Andrologia
efeito favorável de novos estímulos animais e, 250- hormônios e. Ver Flormônios, andrologia
251 tecnologia da reprodução assistida e, 507t
estação e clima e, 251-252 Andrógenos, 83, 82f
estímulos não específicos e, 250-251 espermatogênese e, 180f, 178-181
presença de outros animais e, 250-252 Anestro, 265-267
crescimento fetal e, 229-230 anormalidades ovarianas ou uterinas e, 268-270
duração da gestação e, 2318-219 deficiências nutricionais e, 268-269
Ambientais, fatores, devido ao envelhecimento, 268-269
Amnion, 222t durante a lactação, 266-269
Amnióticas, placas, 232-233 efeito do macho e, 251-253
Amniótico, fluido, 231-233 estacional, 265-267
comportamento maternal pré parto na ovelha e, 255- na égua, 384-385
256 Aneuploidia, 303-304t
composição do, 232-233 Antigenicidade, dos espermatozóides, 187-188
funções do, 231-232 Antígeno(s), histocompatibilidade (transplantes), 226-
hidroamnios e, 286-287 227

569
570 lndice

Anulares, anéis, 49, 5lf, 52f Basal, compartimento, junções das células de Sértoli,
Ânulus,174-175 176-177
AI, filtração, 504-506 Bioensaios, de hornlônios, 65-67
AIginina vasopressina (ADH Bissexualidade embrionária, 21, 24t
ARTA (tecnologia da reprodução assistida e Blastocisto
andrologia), 507t alongaD1entos do, 205-208, 207f
Assistida, reprodução. Ver técnicas específicas fornlação do, 205f, 204-205
Assistida, tecnologia da reprodução e andrologia incubação do, 205-206
(ARTA), 507t Blastodisco, 390-391
Ativina, 181-182 Blastolemase, 205-206
andrologia e, 88-89 Blastoquinina, 45
Autoerótico, comportamento, 253-254 Blastômeros,198-199
Autoimunidade, espernlatozóides e, 187-189, 187f Boi. Ver Bovinos
Autossomos,302-303 Bovinos, 319-329
Avaliação de sêmen, 406t 411-430, 412t ciclo estral em
fertilidade e, 411, 413-416, 413f-415f, 415t detecção do cio e, 320-321, 322t
aparência e volUnle e, 411-413 modificações cíclicas e, 320-324, 321f, 322t
concentração espernlática e, 413-415 comportamento matemo em, 258-259
habilidade fertilizadora dos espernlatozóides e, 426- amamentação e, 258-259, 260f
430 criopreservação de embriões de, vendas
aglutinação induzida dos espernlatozóides e, 429- internacionais
430 de embriões congelados e. ~19-521
prova do haD1ster e, 424f, 426-427 desempenho reprodutivo de, 325-329
teste de expansão hipo osmótica e, 426t, 429, 427t, fertilidade geral e, 326-327
428f,430 medidas da eficiência reprodutiva e, 325-327, 326t
morfologia espernlática e, 415-421, 417f, 418f melhorando, 326-329, 328f
defeitos espernláticos herdados e, 417-420 doença da novilha branca, 272-273
espernlatozóides vivos/mortos e, 419-421 estação reprodutiva e, 320-321
técnica supravital de tríplice coloração e, 419f, 419- gestação e parto em, 324-326
421 diagnóstico de gestação e, 458, 460
motilidade espernlática e, 420f, 420-427 reconhecimento matemo da gestação e, 213-214
fatores que afetam a, 420, 421f ovulação e, 323-324, 323t
padrões de, 420-422, 42lf-423f produção e liberação espernláticas e, 323-325
técnicas para avaliar a, 421-427 puberdade em, 319-321
Aves, 390-407 fêmea, 319-320
cobertura natural em, 403 macho, 319-321
hornlônios em, 399-403 puerpério e, 325-326
anatomia e função do ovário e, 400-404, 40lf função ovariana durante, 325-326
ciclo ovulatório e, 401-402, 402f involução uterina durante, 325-326
início da produção de ovos e, 399-400 reconhecimento matemo da gestação e, 213-214
macho, 403 reprodução e, 324-325, 325t
muda e, 402-403 bPSPD (proteína B específica da gestação), diagnóstico
inseminação artificial em, 403-407, 444, 445f, 446- de gestação e, 461-464
447 Bulboesporijoso,músculo, 11-12, 14
colheita de sêmen, avaliação, e inseminação e, 404- Bulbouretral, glândulas, anatomia comparada de, 1
406 Búfalo, 328, 333
fertilidade e eclodibilidade e, 405-406, 405t ciclos estrais e, 329-330
produção de sêmen e, 405-407 estação reprodutiva e, 329-330
oviduto de, 393-394, 395f-396f, 396-398 estro e ovulação e, 329-330
arD1azenaD1ento de espernlatozóides, transporte, e modificações cíclicas e, 329-330
fertilização e,..397-398 desempenho reprodutivo de, 331-333
infundI'bulo do, 393-394, 396-397 aUnlentando,332-333
transporte do ovo e oviposição e, 397 eficiência reprodutiva e, 331-333
ovos de, 390-394, 391f, 391 gestação e parto em, 330-332
fornlação de, 392-394 produção e liberação de espernlatozóides em, 329-331
práticas de reprodução com, 403 acasalaD1ento e, 330-331
sêmen de, 398 puberdade em, 328-330
morfmogiaespernláticae,398 puerpério em,331-332, 332t
plasma seminal e composição espermática e, 398 atividade ovariana durante, 331-332
testículos e sistema de dutos de, 398-399, 40Of Cabeça, epidídirno, 8
Barker, síndrome, em equinos, 386-387 Cabra, 335t, 335-346
Barreira placentária, 223-224 ciclo estral em, 339-341
Barreira sanguíneo-testicular, 176-181 duração do cio e, 340-341
junções celulares e, 176-178 duração do, 339-341
caD1ada mióide e, 176-177, 179f influência do macho sobre o cio e, 340-341
célula de Sértoli, 176-178 sintomas de cio e, 340-341
comportaD1ento matemo na, 258-259
tndice 571

comportamento reprodutivo da, 344-346 fracionado, 253-254, 269-270


controle artificial da reprodução e, 344-346 na égua, 384-385
eficiência reprodutiva e, 344, 345 pós parto, 104-107, 104t, 238-240
criopreservação do sêmen e, 533-534 amamentação e lactação e, 105-107, 106f
estação reprodutiva da, 335-338 fatores endócrinos em, 104-106, 105f
antecipação, 343-344 na égua, 383-384
fêmea, 335-338, 337-338f na porca, 363-364
macho, 337, 338 prolongado, 253-254, 269-270
estação reprodutiva na, antecipação, 343-344 silencioso, 270-271
gestação na, 342-343, 342t sincronização do. Ver Ciclos estrais, sincronização
diagnóstico da, 460-461 Circulação placentária, 223-225
número de filhotes na, 345-346 fluxo sanguíneo uterino e, 223-225
ovulação na, 340-342 microcirculação placentária e, 224-225, 224f
índice de, 340-342, 341f umbilical, 223-224 .

parto na, 342-344 Circulação. Ver também Vasculatura


puberdade na, 337-340 fetal, 230f, 230-232
fêmea, 337-339, 339f, 339t ovárica, desenvolvimento pré natal e, 24-25, 27
macho, 339-340 para o corpo lúteo, 29-30, 31f
puerpério na, 343-345 placentária, 223-225
reprodução e concepção em, 34lt, 341-343 fluxo sanguíneo uterino e, 223-225
Cap, fase, da espermiogênese, 174-175 microcirculação e, 224-225, 224f
Captação do ovo, 158-159 CLE (extrato do corpo lúteo), 90t
ovulação e, 143-144 Clima, comportamento sexual e, 251-252
Características hereditárias, 303-304 Clitóris, 55
Cardiovascular, sistema, adaptações perinatais do, Clivagem, 197-205
236-238 curso do tempo normal da, 198-201,200f-20lf
Carneiro. Ver também Ovinos expressão genômica e, 201-203
colheita de sêmen e obtenção de gêmeos e manipulação embrionária e,
eletroejaculação e, 437 203-205
frequência de, 435, 436t partenogênese e, 202-204
estação de monta e, 337-338 proporção de, 200-202
falta de libido em, 294-295 "Cloudburst", corrimento espontãneo de fluido uterino
puberdade em, 339-340 turvo
Cauda, epidídimo, 8 que ocorre nas proximidades do parto, 269-270
Cerviz, útero, 49f-52f, 49-53 "Cloudburst", corrimento espontãneo de fluido uterino
dilatação da, 233-235 turvo
estroma da, 49-51 Co-cultivo, meios, 507-508
funções da, 52-53 Cobertura, 244-245, 246f. Ver também Cópula
durante a gestação, 53 Colônia, fator estimulante (CSF), 9Ot
transporte espermático e, 52-53 Comportamento reprodutivo, 24lf, 241-262. Ver
modificações durante a gestação, 219-220 também Comportamento sexual
modificações fisiológicas na, 49-51 materno, 253-261, 255t. Ver também Gestação,
muco cervical e, 51-52, 53f reconhecimento materno da
transporte espermático e, 152-154 amamentação e, 253, 256-258, 258f, 258, 260f, 260,
transporte espermático na, 149, 152-154 260t
muco cervical e, 152-154 em cabras, 258-259
penetração espermática no muco cervical e, 153-154 em éguas, 258-260
Chôco, produção de ovos pelas aves e, 399-400 em ovelhas, 255-258
Ciclopentanoperhidrofenantreno, núcleo, 78-79 em porcas, 259-262
Ciclos reprodutivos, 95-114, 96f. Ver também estação em vacas, 258-259
de monta aaa, interações pais e filhos e, 253-256
Cio do potro, 383, 384 parto em porcas e, 259-260
Cio. Ver também Anestro, Ciclos estrais pós parto, 255-257, 259-261
anovulatório, 270-271 pré parto, 255, 260
detecção do, 437, 439, 442 neonatal, 253-254
diestro prolongado e, 269-270 amamentação e, 253, 256-258, 258f, 258-259, 260f,
duração do, 246-247 26lt
em bovinos, detecção de, 320-321, 322t anomalias comportamentais, termoregulação e
em búfalos, 329-330 mortalidade neonatal e, 260-262
em éguas, 269-272 Comportamento sexual, 242-247
cio fracionado, 285 anormal, 252-254
indução de, 273-276 no garanhão, 387-388
sincronização do, 374-376 aspectos psico-sociais da reprodução e, 242-244,243f
em ovinos e caprinos, 340-341 fatores que afetam o, 249-253
duração do, 340-341 ambientais, 250-252
influência do macho sobre, 340-341 experiência como, 251-252
sinais de, 340-341 genéticos, 249-251, 25lf
572 indice

machos e, 252 Cópula. Ver também Acasalamento


mecanismo do, 246-250, 247f, 249f frequência da, 246-247, 248t
córtex e capacidade sensitiva e, 248-249 inabilidade para copular e, 294-296, 298
endócrino, 83-85 falha de ejaculação e, 296, 298
mecanismo neurológico da ereção e ejaculação e, falha para a monta e, 294-295
248-250, 249f, 250f falha para conseguir a introdução e, 294-296, 295f
mecanismo endócrino do, 83-86 Córion, 222t
especificidade sexual do, 84 Crescimento, fatores do, 89-91, 89t, 178-182
mecanismo neurológico e, 84-85 implantação e gestação e, 91, 93
nas fêmeas, 84-85 no tecido e fluido uterino, 209-211
nos machos, 83-85 reguladores intraováricos e, 91, 93, 92f
seqüência do, 243-247, 244t, 245f Crescimento, hormônio do (GH
cobertura e, 244, 246f Crescimento, hormônio inibidor do hormônio do
duração do cio e, 246 crescimento GH-Ih
ejaculação e, 246 CRH (hormônio liberador de corticotrofinas), 77
frequência de cópulas e, 246, 248t Criopreservação, 513t, 513-535
introdução e, 245-247, 247f de embriões, 514-526, 515t-516t
monta e, 244-246 comércio internacional de embriões bovinos
nas fêmeas, 243-245 congelados e, 519-521
nos machos, 243, 244t congeladores programados para, 520-521, 523-524
refratariedade e, 246 containers para embriões, 514-516
Concentração espermática, 413-416 cultivo e estocagem entre o e oC e, 516-517
contagem espermática e, 413-416, 416f descongelamento de embriões e, 523-524
Concepção descongelamento e, 524-525
em ovinos e caprinos, 341-343 direções de futuras pesquisas para, 524-526
em suínos, 360-3611 equipamentos, vidraria e acessórios para, 520-521
índice de fatores que afetam a sobrevivência embrionária
em inseminação artificial, fatores que afetam, 444, após
446 meio de cultura de tecido para, 516-517
transporte de gametas e, 163-165 procedimentos para testar a sobrevivência
Concepto embrionária e, 514, 524-525
crescimento do, em suíno, 360-362 procedimentos para, 516-518, 517t, 518t, 519f-522f,
interação com o ambiente uterino, 209-211 525t-526t, 528t, 529t, 533t
Congênitas, malformações. Ver também Aberrações de sêmen, 525-535
cromossômicas adição de glicerol e, 530-531
Convulsiva, síndrome do potro, 386-387 armazenamento de sêmen e, 531-532
Coolidge, efeito, 250-251 avaliação da motilidade espermática e, 533-535
Cordão umbilical, 222t danos ao sêmen e, 534-535
comprimento excessivo do, em equinos, 385-386 diluição do sêmen e, 530
Coriônicas, vilosidades, 221-222 diluidores de sêmen e, 525-529
Corona radiata, 116t processamento de sêmen e, 529-534
Corpo albicans, 26t, 27 princípios de, 513-516
Corpo cavernoso do pênis, 12, 14 Criptorquidismo, 291-293
Corpo do epidídimo, 8 Cromatídeo, corpo, 174-175
Corpo esponjoso da glande, 14-15 Cromossomo Y determinante dos testículos (Tdy), em
Corpo esponjoso do pênis, 12, 14 suínos, 348
Corpo hemorrágico, 24t Cromossomos sexuais, 302
Corpo lúteo espúrio, 30 dos espermatozóides, 170-172, 448-453
Corpo lúteo, 27t, 27-30 biologia de espermatozóides e, 448-450
controle do ciclo estral e, 102-104 direções de pesquisas futuras para, 448
desenvolvimento d90,28, 28f técnicas de separação espermática e, 449-453, 45lt
em equinos, 372-373, 372f-373f Cromossomos. Ver também aberrações cromossômicas,
fluxo sanguíneo para o, 29-30, 31f Genética
gestação e, 30 Cromossômicas, aberrações, 303-305
reconhecimento matemo da, 30 estrutural, 303-305, 304f-306f
luteólise e, 29 falha reprodutiva e, 307-315
regressão do, 28-29, 28f-30f esterilidade e infertilidade e, 307-308
Corpo lúteo, extrato (CLE), 90t híbridos e, 314-315, 315t
Corpo lúteo verdadeiro, 30 intersexualidade e, 309, 314
Corpo residual, 175-176 malformações congênitas e, 307-308
Corpo vascular paracloacal, 399 mortalidade pré natal e, 307-309, 31Of-312f
Corpos estranhos, útero e, 48-49 nomenclatura de, 304-305
Corticosteróide(s). Ver também corticosteróides numéricas, 303-304, 304t
específicos Crura, 12, 14
Corticosteróides, 88-89, 91 CSF (fator estimulante de colônia), 90t
Corticotrofina, hormônio liberador (CRH), 77 Cultura, meio, 507, 508
indice 573

para criopreservação de embriões, 516-517 anestro e, 384-385


suplementação macromolecular e, 507-510 anormalidades neonatais e mortalidade neonatal e,
Cumestrol, 80-81, 8lf 386-387
Cumulus, células, parâmetros reguladores e cistos endometriais e condições patológicas
fisiológicos das, 117t relacionadas e, 385-386
Decidualização,207-208 comprimento excessivo do cordão umbilical e, 385-
Deleção, cromossômica, 303-304, 304t 387
DES (dietilestilbestrol), 80-891, 8lf infecções genitais e, 380
Desempenho reprodutivo irregularidades do cio e, 383, 384
em bovinos, 325-329 mortalidade pré natal e, 384-385
fertilidade geral e, 326-327 neoplasias ovarianas e, 384-386
medidas de eficiência reprodutiva e, 325-327, 326t recomendações técnicas de reprodução e, 386-388
melhoramento, 326-329, 328f gestação na, 376-382
em búfalos, 331-333 diagnóstico da, 376-377, 377t-378t, 58, 460, 458t
eficiência reprodutiva e, 331-333 função ovariana e, 379-380
melhoramento, 333 gêmeos e, 376-380
em ovinos e caprinos, 344-346 horizontes de desenvolvimento e, 376-377, 377t-
controle artificial da reprodução e, 344-346 378t
eficiência reprodutiva e, 344-345 perfil endócrino e, 380, 382
Diagnóstico de gestação, 154-468 placenta e, 379-380, 380f-38lf
biópsia vaginal, 460-461, 462f reconhecimento materno da gestação na, 213-215
exame retal em, 454-455, 455f, 456f rinopneumonite equina na, abortamento e, 280-282
hormônios em, 462, 464-468 virregularidades do, 383-385
imunológico, 460-461, 463t Ejaculação, 16, 18-19,246-247
na égua, 393, 369t-377t, 458-460, 458t de garanhões, 268-270
na porca, 458, 460-461, 46lf distúrbios da, 293-298
na vaca, 458-460 em garanhões, 387-388
radiografia em, 454-455 falta de libido e, 293-295
substâncias associadas à gestação em, 460-464 inabilidade de cópula e, 294-298
ultra-sonografia em, 456-461 eletroejaculação e, 435-439
Fenômeno Doppler e, 456-457 falha de ejaculação e, 296-298
Modo B Tempo real, 457f, 457-461 mecanismos neurológicos e, 248-250, 249f-250f
Pulso eco e, 456f, 456-458 Eletroejaculação, colheita de sêmen e, 435-439
Dictiato, núcleo, 131-132 Embrião(ões). Ver também Desenvolvimento pré natal
Diestro, prolongado, 269-270 classificação morfológica antes e após a
Dietilestilbestrol (DES), 80-81, 8lf criopreservação
Diluidores, de sêmen, 525-528, 530 criopreservação de. Ver Criopreservação, de embriões
composição de, 527-529 desenvolvimento do, 204-210
Diplóide, número de cromossomos, 302-303 alongamento do blastocisto e, 205-206, 207f-208f
Diplóteno, 171-172 formação do blastocisto e, 205f, 204-206
Distocia, 284f, 285-286, 285f implantação e, 47-48, 91, 93, 207-210, 209f
desproporção feto-pélvica e, 285-286 incubação do blastocisto e, 205-206
fetal, 285-286 migração e espaçamento uterino e, 206-208
materna, 285-286 na trompa, 166
distúrbios reprodutivos e, 307-308 zona de incubação e, 205-206
Doença da novilha branca, 272 e descongelamento, 516t
Duto deferente, 3 maturação in vitro do, 484, 486-488
anatomia do, 9-12, 10f micromanipulação do, 496-502, 499f, 50lf
Dutos reprodutivos. Ver também Duto deferente mortalidade do, 264t, 274-280, 278f
EAE (abortamento enzoótico ovino), 282 causas de, 275f, 275-280
EBA (abortamento epizoótico bovino sobrevivência de, em suíno, 360-361
Eclodibilidade, de ovos de aves, 405-406, 405t Embriologia, do trato reprodutivo feminino. Ver
Eficiência reprodutiva. Ver também Inseminação Anatomia reprodutiva feminina, embriologia e
Artificial bbb, ccc, Emissão, 16, 18-19
EGF (fator de crescimento epidérmico), 90t Endocrinologia. Ver também Hormônios, hormônios.
EGF peptideos semelhantes a, 9Ot específicos tipos de hormônios, glândulas endócrinas
Égua técnicas em, 59t
ciclo estral da, 370-377, 371t Endometriais, cistos, nas éguas, 385-386
cio e, 370-376, 384-385 Endometriais, concavidades, 222-223
controle endócrino do, 372-375 Endometriais, glândulas, 44-45
corpo lúteo e, 372-373, 373, 372-373f Endometrite, 289
indução do cio e ovulação e, 374-377 Endógenos, peptídeos opióides, 89, 91, 181-182
comportamento materno da, 258-260 Endorfina, 89, 91
estação de monta da, 366-367 Energético, metabolismo, adaptação peri natal do, 237-
falha reprodutiva na, 383-388 238
abortamento e, 386-387 Engenharia genética, 494-503, 496t, 497t
574 lndice

avaliação dos cromossomos do ovo e, 496-497 Estral, ciclo, . Ver também Anestro o,
cromossomos e gens e, 494, 496-497, 498f, 500t Estresse, calórico
equipamentos e suprimentos para, 504-510, 505t- falha de fertilização masculina e, 296, 298
507t-508f mortalidade embrionária e, 276-280
micromanipulação de gametas, embriões e zona Estrona, sulfato, diagnóstico de gestação e, 467-468
pelúcida e, 496-503, 499f, 50lf, 502t Estrógenos, 80-82
Envelhecimento aplicações clínicas de, 80-82, 81f
anestro devido ao, 268-267 funções dos, 80-81
dos ovos, 164-165, 165f regulação do ciclo estral e, 102-103
fertilidade e, 112f, 112t, 112-114 Euploidia, 303-304
Enzoótico, abortamento ovino, 282 Exame retal. no diagnóstico de gestação, 454, 455f,
EOPs (peptídeos opióides endógenos), 89, 91, 181-182 456t
EPF (fator precoce de gestação) Falha de fertilização na fêmea, 271-274, 272t
Epidérmico, fator de crescimento (EGF), 90t barreiras estruturais à fertilização e, 272-274, 273f
Epididimária, região, em aves, 399 espermatozóides anormais e, 271-273
Epidídimo, 3 ovos anormais e, 271-272
anatomia do, 8-9, 9f Falha de fertilização no macho, 296-300
cabeça, 8 doenças dos testículos e glândulas acessórias e, 296,
cauda, 8 298, 297t
corpo, 8 estresse calórico e, 296, 298
transporte espermático no, 181-182 fatores imunológicos e, 298-300
desenvolvimento do potencial fertilizador e, 182-183 técnicas de reprodução e, 298-299
mecanismos do, 181-182 infertilidade e inseminação artificial e, 298-299
Epitélio superficial, 26t, 97-98 manejo reprodutivo e, 298-299
desenvolvimento pré natal do, 24, 25f Falha reprodutiva da fêmea, 265f, 265-289
Epizoótico, abortamento bovino (EBA n, anestro e. Ver Anestro
Equina, rinopneumonite (infecção por herpesvírus cio e, atípico, 269-271
equino I) distocia e, 284f, 285-286, 285f
Equinos. Ver também Égua desproporção feto-pélvica e, 285-286
Ereção, 14-16, 18, 16f fetal, 285-286
mecanismos neurológicos da, 248-250, 249f, 250f materna, 285-286
Escroto. Ver também Testículos falha de fertilização e, 271-274, 272t
anatomia do, 6, 6-8, 7f barreiras estruturais à fertilização e, 272-274, 273f
Espermatocele, 291-292 espermatozóides anormais e, 271-273
Espermatocitogênese, 171-172, 172f ovos anormais e, 271-272
Espermatogênese. Ver também Gametogênese falha ovulatória e, 270-272, 271f
controle endócrino da, 180f, 178-181 fertilização atípica e, 273-274, 274t
duração da, 175-176 gestação múltipla e, 286-287
puberdade e, 97-99 gestação prolongada e, 286-287, 288t, 289
Espermatogônia, 8t, 171-172 hidroâmnios e hidroalantóide e, 286-287
espermatocitogênese e, 171-174, 173f infecções uterinas e, 289
Espermatozóides, 167t, 167-172. Ver também mortalidade perinatal e neonatal e, 282-286, 283f,
Gametogênese . 283t
Espermatócitos em equino, 386-387
primário, 8t mortalidade pré natal e, 273-282
secundário, 8t abortamento e, 280-282, 279t
Espermátidas, 8t, 171-172 abortamento enzoótico ovino e, 282
Espermiação, 175, 177f abortamento epizoótico bovino e, 280-282
Espermiogênese,171-176 causas da, 275f, 275-280
fase acrossômica da, 174-175 embrionária, 274t, 274-280
fase cap da, 174-175 mumificação fetal e, 282
fase de GoI~ da, 174-175 repetidoras de cio e, 277-278, 278f
fase de maturação da, 174-176 rinopneumonite equina e, 280-282
Espermofagia, transporte espermático e, 153-154, 155f retenção placentária e, 286-287
Estação Falha, reprodutiva masculina, 291-301, 292f
de monta. Ver Estação de monta aberrações cromossômicas e, 300-301
Estação sexual. Ver Estação de monta. distúrbios da ejaculação e, 293-298
Estaçãocomportamento sexual e, 251-252 falta de libido e, 293-295
Esterilidade. Ver Infertilidade inabilidade para copular e, 294-298
Esteroidogênese, crescimento folicular e, 122, 125f, falha de fertilização e. Ver Falha, reprodutiva
126f masculina
Esteróides, hormônios, 78-84. Ver também hormônios malformações congênitas e, 291-294
específicos nutrição e, 299-301
na gestação, na égua, 380 Falhas reprodutivas
ovulação e, 142 anomalias da ovulação e, 144-145
Estradiol, 80-81 em equinos. Ver Égua, falha reprodutiva na
indice 575

falha de fertilização e. Ver Falha de fertilização na Fluido testicular, secreção de, 177-178
fêmea Fluxo sanguíneo, Ver Circulação
genética da, 302-305 Folicular, fluido, 116t, 118-123
aberrações cromossõmicas e. Ver Aberrações composição bioquímica do, 118-120, 12lt
cromossômicas funções do, 119-123
anormalidades herdadas do sistema reprodutivo e, Foliculogênese, 115-123, 116t-118t, 119f-120f. Ver
305-307 também Gametogênese
nas fêmeas. Ver Falha reprodutiva na fêmea crescimento folicular e, 115, 118-119
nos machos. Ver Falha reprodutiva no macho fluido folicular e, 118-123, 116t
Fator de descondensação do núcleo espermático, 196- composição bioquímica do, 118-120, 12lt
197 funções do, 119-123
Fator determinante dos testículos (TDF), em suínos, puberdade e, 100-101
348 recrutamento e seleção de folículos e, 118-119
Fator inibidor da prolactina (PIF), 71-72 Folículo(s). Ver também Foliculogênese w,
Fator transformador do crescimento (TGF), 181-182 Folículo, hormônio estimulante (FSH), 67-71
Fêmea (s). Ver também Ciclos estrais ciclo estral e, na égua, 372-374
Fertilidade. Ver também Falha de fertilização na crescimento folicular e, 122-127, 123f-124f, 126f-127f
fêmea efeitos in vitro do, 69-71
Fertilização, 191-198 espermatogênese e, 180f, 178f-183
armazenamento de, 398 liberação pré ovulatória do, 69-70
atípica, 273-274, 274t liberação tônica do, 67, 69-70
falha de. Ver Falha de fertilização na fêmea Folículo, hormônio liberador estimulante (FSH-RH),
fisiologia dos gametas relacionada a, 146t, 146-147 72-73, 76
fusão de gametas e, 196f, 195-197 Foothill, abortamento (EBA)
habilidade fertilizante dos espermatozóides e, 426- Fossa da ovulação, 136-137
430 Fotoperiodismo, estação de monta e, 108-110, 109f
aglutinação induzida dos espermatozóides e, 429- mecanismos endócrinos e neuroendócrinos e, 110-113,
430 l1lf
teste de expansão hipo-osmótico e, 426t-427t, 428f, Freemartinismo, 269-270, 314, 314, 314f
429-430 teoria celular do, 314
teste do hamster e, 424f, 426-427 teoria hormonal do, 314
in vitro. Ver In vitro, fertilização Freezers, programáveis, 520-524
interação de espermatozóide e óvulo e, 191-198, 193t FSH-RH (Hormônio liberador do hormônio folículo
aderência espermática e, 194-195, 194f estimulante), 72-73, 76
bloqueio à polispermia e, 196-197 FSH. Ver Folículo estimulante, hormônio
desenvolvimento de pró núcleos e singamia e, 196- funções da, 70-72
198 Fusão tandem, 304t
encontro do espermatozóide com o oócito e, 193-195 Galinha, Ver Aves
fusão de gametas e, 196f, 195-197 Gametas. Ver Ovo(s)
penetração espermática e, 194-196 Gametogênese. Ver também Foliculogênese
interespécies. Ver também Hibridização Garanhão
maturação espermática e, 191-192 colheita de sêmen e, frequência de, 435
capacitação e, 191-192, 192f criopreservação do sêmen e, 533
maturação ovular e, 191-192 ejaculação do, 368-370
preparação do oócito para, 131-134, 13lf-134f estação de monta do, 366
Fetais, membranas, placenta e, 221-222, 222f, 222t falha reprodutiva no, 387-389
Fetal, mumificação, 282 comportamento sexual anormal e distúrbios da
Feto-pélvica, desproporção, 285-286 ejaculação e, 387
Feto. Ver também Pré natal, desenvolvimento más características seminais e, 387-389
adaptações perinatais do, 236-238 recomendações técnicas de reprodução e, 388-389
cardiovascular,236-238 falta de libido no, 293-294
imuno estado e, 237-238 maturidade sexual no, 367, 368f
maturação pulmonar e, 237-238 produção de sêmen do, 367-388, 369t, 370f
metabolismo energético após o nascimento e, 237- Gasosas, trocas, placentária, 229-226
238 Gêmeos, 203-205
termoreguladora,237-238 abortamento e, 280
como alo-implante, 226-228, 227f na égua, 376-377, 379-380
distocia e, 285-286 Genética. Ver também Cromossomos y,
duração da gestação e, 217-218 Genéticos, fatores. Ver também Genética
início do parto e, 234-235, 235f comportamento sexual e, 249-291, 25lf
mortalidade do. Ver também Abortamento crescimento fetal e, 229-230
em equinos, 384-385 duração da gestação e, 217-219
mumificação fetal e, 282 Genisteína, 80-81, 8lf
Fibroblasto, fator de crescimento (FGF), 90t Genitália externa. Ver órgãos específicos
Fímbrias, 31, 34f Genitália, Ver órgãos específicos
Flora microbiológica,vaginal, 54 Genômica, expressão, clivagem e, 201-203
576 lndice

Gens, . Ver também Genéticos, fatores utilização clínica dos, 77-78


Germinativo, epitélio, 26t, 97-98 modo de ação do, 7-73, 76
desenvolvimento pré natal, 24, 29f Hipófise, 65-72, 68f
Gestação, . Ver também Embrião(ões) tt, uu, vv, anterior, hormônios da, 63t-64t, 67, 69-72
Gestação. Ver Gravidez. diagnóstico de gestação e, 455
GH (hormônio do crescimento. Hormônio somatotrófico posterior, hormônios da, 63t-64t, 70-72
GH-Ih (hormônio inibidor do hormônio do crescimento suprimento vascular da, 65-67, 69
Glândulas acessórias, 11, 12, 12f, 13f, 183-185, 184f Histocompatibilidade, antígenos, 226-227
anatomia comparada das, 1 Homogamético, sexo, 302-303
constituintes bioquímicos do plasma seminal e, 183- Homossexualidade, 292-253
185 Hormônios, 59t-6lt, 59-91 . Ver também hormônios
doenças das, falhas de fertilização e, 296, 298, 297t específicos, tipos de hormônio, glândulas endócrinas
função das, 12, 14 e animais
Glicerol, criopreservação do sêmen e, 530-531 andrologia e, 88-89
Glicocorticoides, 89, 91 ativina e inibina e, 88-89
Glicólise, espermática, 187-188 células de Sértoli e células de Leydig e, 88-89
Globulina portadora de esteróides, 83 transferina, microglobulina  e albumina e, 88-89
GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas), 71-73, aspectos imunoendócrinos e, 64-65
76-78,76f ciclo estral
espermatogênese e, 178-179, 180f controle do, 101-104, 103f
Golgi, fase da espermiogênese, 174-175 em suínos, 353f, 356-360
Gonadal, hormônios esteróides. Ver hormônios comportamento sexual e. Ver Comportamento sexual,
específicos hormônios esteróides mecanismos endócrinos de
Gonadotrofma sérica da égua prenhe (PMSG), 77t, 77- composição química de, 60t
79,220-221,380,382 crescimento folicular e, 122-123, 125f-126f
Gonadotrofma(s). Ver também hormônios específicos da gestação, 219-222
diagnóstico de gestação e, 466f, 466-468 concentrações sanguíneas e urinárias de, 219t, 219-
hipófise, 67, 69-72 222, 220f
na gestação, na égua, 380, 382 manutenção da gestação e, 219-220, 219f
ovulação e, 143-144 na égua, 380, 382
controle neuroendócrino da, 143-144 primário, 59-64, 62f, 63t, 64t
secreção pré natal e neo natal de, ciclos reprodutivos secundário, 59-64, 62f, 63t, 64t, 88-91
e, 95, 97-98 da reprodução
Gonadotrófico, hormônio liberador (GnRH), 71-73, 76- diagnóstico de gestação e, 462, 464-468
78 durante a gestação, em suínos, 353f, 361-364
espermatogênese e, 178-179, 180f e, em aves, 400-401, 40lf
Gonócitos, 171, 172 ensaios de, 65-67
Gônada(s). Ver órgãos específicos espermatogênese e, 180f, 178-181
Granulosas, células, 116t estrutura de, 60t
ovulação e, 138-140, 140f fetal, crescimento fetal e, 230-231
parâmetros reguladores e fisiológicos das, 117t freemartinismo e, 314
Gubernáculo,testes,5 lactação e, 61-64
Hamster, teste do, 418, 420, 424f, 426-427 mecanismos retrógrados e, 64-65
Haplóide, número de cromossomos, 302-303 retroação estimulante e, 64-65
hCG (gonadotrofina coriônica humana), 77t, 78-79 modo de ação de, 6lt
Herdadas, anormalidades, do sistema reprodutivo, modos de transmissão de, 6lt
305-307 ~ mortalidade embrionária e, 275-276
defeitos morfológicos e, 305-306, 307t muda de penas e, em aves, 402-403
distúrbios funcionais e, 307 placentários, 63t, 64t, 77t, 77-79, 226-227, 462-464
Herdadas, características, 303-304 produção de ovos e, em aves, 399-400
Hermafrodita, verdadeiro, 309 puberdade e, 61-62, 64
Heterogamético, sexo, 302-303 receptores para, 64-67, 66f-67f
Hibridação transporte espermático e, 154, 156
em equinos, 383-384 Humana, gonadotrofina coriônica (hCG), 77t, 78-79
falha reprodutiva e, 314-315, 315t Idade
fertilização interespécies e, 197-198 da mãe, mortalidade embrionária e, 276-277
Hidroalantóide, 286-287 da puberdade, ciclos reprodutivos e, 100-102
Hidroamnios, 286-287 IFN (interferon), 90t
Hipersexualidade, 252-253 IGF-I (fator insulínico de crescimento-r), 90t
Hipo-osmótico, teste de expansão, 426t, 429, 427t, IGF. Ver fatores de crescimento semelhantes à insulina
428f, 429-430 Implantação, 47-48, 207-210, 209f
Hipomanes, 232-233 fatores de crescimento e, 91, 93
Hiposexualidade, 252-254 Impotentia coeundi. Ver Libido, falta de
Hipotálamo, 71f, 71-78 Imuno, estado, adaptação perinatal, 237-238
função do, 71-76, 72t, 73f-74f, 76f Imunoendocrinologia, 64-65
hormônios do, 63t, 72-78, 76f Imunológicas, respostas, vaginal, 54
indice 577

Imunológico, diagnóstico de gestação, 460-461, 463t Inversão, cromossômica, 303-304


Imunológicos, fatores Involução, pós parto, do útero, 48, 238-239
falha de fertilização masculina e, 298-300 em bovinos, 325-326
incompatibilidade e, mortalidade embrionária e, 277- Isquiocavernoso,músculo, 12, 14
278,280 Istmo, da trompa, 31-32, 34f
relação materno-reta! e, feto como implante e, 226- IUDs (dispositivos intra-uterino), 48-49
228,227f Labor. Ver Parto
In vitro, fertilização, 491-496, 492t-493t Laboratório, animais de, anatomia reprodutiva
colheita de oócitos e fertilização e, 493-496, 495f masculina de, 17f, 18-19, 18t
colheita de sêmen e capacitação para, 491, 494, 493f Lactação
equipamentos e suprimentos para, 504-510, 505t- anestro durante, 266-269
507t, 508t cio pós parto e ovulação e, 105-107, 106f, 339-341
pré requisitos e critérios de, 494, 496 em suínos, 363-364
Infecção(ões), Ver também infecções específicas desmame na porca e, 363-364
abortamento provocado por, 280-282 endocrinologia da, 61-64
genita!, na égua, 385-386 mortalidade embrionária e, 279-277
mumificação feta! e, 282 Lactoferrina (LF), 90t
uterina, pós parto, 289 Lactogênio placentário (PL), 77t, 78-79
Infertilidade diagnóstico de gestação e, 455
malformações congênitas e, 307-308 Latebra, 385, 386
Infertilidadefêmea. Ver também Falha de fertilização Lábios maiores, 55
na fêmea Lábios menores, 55
Infertilidademacho. Ver também Falha de fertilização Leptóteno,171-172
no macho Leydig, células, andrologia e, 88-89
inseminação artificial e, 298-299 LF Oactoferrina), 90t
Infundibulum, da trompa, 31, 34f LH-RH (hormônio liberador do hormônio luteinizante),
Inibina, 83-84, 181-182 72-73,76-78,74f
andrologia e, 88-89 regulação do ciclo estral e, 101-103
Inseminação artificial, 431-437, 439, 442-444, 446-447 LH. Ver Hormônio luteinizante
colheita de sêmen e, 432-437, 439 Libido, falta de, em machos, 293-295
eletroejaculação e, 435-437, 439 Ligamentos
em aves, 404, 406 das trompas, 41
frequência de, 434-437, 434t pélvico, modificações durante a gestação, 219, 220
método da massagem para, 437, 439 Ligamentum ovarii proprium, 158-159
montas e métodos de rufiação e, 432-435, 433f Luteinizante, hormônio (LH), 67-71
vagina artificial para, 435-437, 437f-440f ciclo estral e, na égua, 373-375
condição física dos machos e, 432-433 crescimento folicular e, 122-123, 123f-124f
de doadoras superovuladas, 478 durante as fases luteínica e folicular, 122-27, 127f
detecção do cio e, 437, 439, 442 efeitos in vitro do, 69-71
em aves, 403-407, 444, 446-447, 445f espermatogênese e, 180f, 178-181
colheita de sêmen, avaliação, e inseminação e, 404- liberação pré ovulatória de, 69-70
406 liberação tônica de, 67, 69-70
fertilidade e eclodibilidade e, 405-406, 405t Luteinizante, hormônio liberador do hormônio (LH-
produção de sêmen e, 405-407 RH), 72-73, 76-78, 74f
fatores que afetam o índice de concepção na, 444-446 regulação do ciclo estral e, 101-103
infertilidade masculina e, 298-299 Luteínica, fase, 102-103
procedimento da, 442-444, 443f crescimento folicular durante, 122-127, 127f
tempo ótimo de inseminação e, 439-442, 443-444 Luteólise
Insulina, fator de crescimento semelhante à, 90t corpo lúteo e, 29
crescimento feta! e, 230, 231 uterina, 46-47
Insulina, fator de crescimento-r (lGF-I), 9Ot Macho. Ver também Ejaculação hh,
Interferon (IFN), 90t Macromolecular, suplementação, 507-510
Interferon, concepto tipo I (oTP-I Manchete, 174-175
Intersexualidade, 309, 314 Manequim(ns), para colheita de sêmen, 432-435, 433f
freemartinismo e, 314, 314f Manipulação, do embrião, 203-205
teoria celular do, 314 Massagem, método de, para colheita de sêmen, 437,
teoria hormonal do, 314 439
hermafroditas verdadeiros e, 309 Masturbação, 253-254
pseudohermafrodita e, 309, 313t, 314 Materno, comportamento. Ver Comportamento
Intrafolicular, fator de crescimento (lGF), 90t reprodutivo,materno
Intraovárico, fator de crescimento (lGF), 91, 93 Materno, reconhecimento da gestação. Ver Gestação,
Intrauterino, dispositivos (lUDs), 48-49 reconhecimento materno da
Intrauterino, retardamento do crescimento, em Maternos, fatores, inicio do parto e, 234-235
equinos, 385-386 Maturação, fase da espermiogênese, 174-176
Intromissão, 16, 18,245-247, 247f Medulares, cordões, 21
falha de conseguir, 294-296, 295f Membrana granulosa, 26t
578 lndice

Metabolismo Neurofisinas,70-71
de energia, adaptação perinatal do, 237-238 Ninfomania, 269-271
espermático, 185-188 Ninhada, tamanho
glicólisee,187-188 em ovinos e caprinos, 345-346
respiração e, 187-188 em suínos, 353f, 360-361
fetal, 228, 230 Nuclear, maturação, 138-139
uterino, 46 Nutrição
Microcotilédones, 379-380 da mãe
Microglobulina  andrologia e, 88-89 anestro devido a deficiências na, 268-269
Minerais, deficiências, infertilidade masculina e, 300- índice ovulatório e, em suínos, 359-360
301 mortalidade embrionária e, 276-277
Mineralocorticóides, 88-89, 91 falha reprodutiva masculina e, 299-301
Mióide, camada, barreira sanguínea-testicular e, 176- agentes tóxicos e, 300-301
177, 179f deficiências minerais e, 300-301
MIS (substância inibidora mulleriana), 91, 93,179-182 deficiências vitamínicas e, 300-301
em suínos, 349-350 subalimentação e, 299-300
Modulações, no epitélio seminífero, 176 fetal, 228-230
Monossômica, aneuploidia, 303-304 Nutrientes, transporte placentário de, 225-227
Monta, 244-246 Ocitocina, 70-76
falha na monta e, 294-295 Olho, do potro, 386-387
Morfológicos, defeitos, do sistema reprodutivo, 06cito(s)
herdados, 305-306, 307t colheita e manipulação de, 479-482, 48Ot,48Of
Morte métodos cirúrgicos de, 479-481, 481f-483f
neonatal. Ver Neonato, morte de métodos não cirúrgicos de, 480-481, 483f, 485f-487f
pré natal. Ver também Distúrbios reprodutivos das para fertilização in vitro, 493-496, 495f
fêmeas, mortalidade pré natal e preparo da doadora para, 481-482
embrionária, 274t, 274-280, 278f seleção de ovos para transferência e, 482, 484, 484t,
causas da, 275f, 275-278 488f-491
fetal, Ver também Abortamento fertilização e, encontro espermatozóide-oócito e, 193-
Mosaicismo, 303-304, 304t 195
esterilidade e infertilidade e, 307-308 maturação de, 127-132, 129t-130t, 486
Motilidade espermática, 420, 420-426 in vitro, 484
avaliação da, criopreservação do sêmen e, 533-535 parâmetros reguladores e fisiológicosde, 117t
fatores que afetam a, 420, 421f ovulação e, 138-139, 138f-139f
padrões de, 420-422, 421f-423f preparo para fertilização, 131-132, 134, 131f-134f
técnicas para avaliar a, 421-427 Opice, modificações, ovulação e, 139-140
fotoelétrica e eletrônica, 425-426 Ovariana, hipoplasia, anestro devido a, 268-270
motilidade no plasma seminal e fluidos biológicos e, Ovário(s), . VertambémFolículo(s)
422-426, 423f Ovelha. Ver também ovinos
Mórula,198-199 abortamento enz06tico das ovelhas e,
micromanipulação da, 505t-506t ciclo estral das, 282
Muco, cervical, 51-52 53f comprimento do, 340-341
transporte espermático e, 152-154 duração do cio e, 339-341
Muda, hormônios e, em aves, 402-03 influência do macho sobre o cio e, 339-341
Muleriana, substância inibidora (MIS), 91, 93,179-182 sintomas de cio e, 340-341
em suínos, 349-350 comportamento materno na, 255-258
Muller, dutos de,embriologia de, 21-22 aberrante,357-358
Musculatura ~ amamentação e, 256-258, 258f
da trompa, 40-41 parto e, 356-357
ovariana, 26 pós parto, 356-358
Músculo liso, ovariano, 25t pré parto, 356-357
Natimorto, 282-283 estação de monta de, 335-338, 337f, 338f
Natural, cobertura, em aves, 403 gestação da, 342-343, 342t
Não disjunção, 303-304 diagnóstico de, 458-461
Não esteróides, estrógenos de plantas, 80-81 número de filhotes na, 345-346
Neonatal, síndrome da má adaptação, em equinos, ovulação na, 340-342
386-387 índice de, 340-342, 341f
Neonato, 253, 254. Ver também Amamentação parto da, 342-344
anormalidades do, em equínos, 386-387 puberdade na, 337-339, 339f, 339t
morte do, 283t, 285-286 puerpério da, 343-345
anomaFas de comportamento e termoregulação e, reconhecimento mútuo de ovelhas e cordeiros e, 256-
256-257 258, 258f
em equinos, 386-387 Ovina, proteínado trofoblasto (oTP-
falha reprodutiva na fêmea e, 282-286, 283t Ovinos, . Ver também Ovelha
síndrome do distress respiratório e, 285-286 Oviposição, em aves, 397
Neoplasias, ovarianas, na égua, 384-386 Ovo(s). Ver também 06cito(s)
indice 579

anormal, distúrbio da fertilização e, 271-272 em búfalos, 331-332


avaliação de cromossomos do, 496-497 fatores endócrinos em, 104-106, 105
de aves, 390-394, 391f, 39lt Ovulatório, cilo, nas aves, 401-402, 402f
fertilidade e eclodibilidade, 405-406, 405t PAF (fator ativador de plaquetas), 90T, 93
formação do, 392-394, 399-400 Paquíteno, 171-172
de equino, 375f, 375-377 Paratireóide, glândulas, 88-89
envelhecimento do, 164-166, 165f hormônios da, 64t
fertilização e. Ver Fertilização Partenogênese, 202-204
fisiologia relacionada à fertilização, 146, 146t Parto, 232-238
fusão com o espermatozóide, 196f, 195-197 adaptação perinatal e, 236-238
maturação do, 125, 127f, 127-134, 128f distocia e, 284f-289f, 285-286
crescimento do oócito e, 127-131, 129t-13Ot, 132 desproporção feto-pélvica e, 285-286
preparo do oócito para a fertilização e, 131-134, fetal, 285-286
131f-134f materna, 285-286
micromanipulação do, 506t em bovinos, 325-326
migração transuterina do, 165-166 em búfalos, 230-232
perda do, 165-166 em ovinos e caprinos, 382-384
transporte do, 158-165, 159t, 160f-163f, 479 estágios do trabalho e,234-235, 236t
contração da trompa e, 160-162, 163t forças de expulsão e, 236-237
em aves, 392 indução do, 236-237
mecanismos neurológicos e resposta farmacológica na égua, 284-284
e, 161-163, 164t início do, 232-233, 233t-234t
na égua, 375-377 mecanismos fetais e, 234-235, 235f
"enlaçamento" e "desenlaçamento" do ovo e, 162-163 mecanismos maternos e, 234-235
transporte espermático e índice de concepção e, 163- mecânica do, 229, 229-230
165 contrações do miométrio e, 233-234
vida fértil do, 164-166, 165f dilatação da Cerviz e, 233-235
Ovos. Ver Oócito(s) na égua, induzido, 382-384
Ovulação, . Ver também Superovulação. 132, 134, 136- sintomas do, 232-233
145,135f trabalho e, 234-237
anomalias da, 144-145 estágios do, 234-235, 236t
atresia folicular e, 134, 136-137, 136f forças de expulsão e, 236-237
fatores que afetam a, 134, 136-137 útero e, 48
captação do ovo e, 143-144 Pâncreas, hormônios do, 64t
ciclo ovulatório e, nas aves, 401-402, 402f PDGF (fator de crescimento derivado das plaquetas),
controle neuroendócrino da descarga gonadotrófica 90t
ovulatória e, 143-144 Perinatal, mortalidade, 282-285
em bovinos, 323-324, 323t Peru. Ver aves
em búfalos, 329-330 Pélvico, ligamento, modificações durante a gestação,
em ovinos e caprinos, 340-342 219-220
índice de, 340-342, 341f Pênis, 12, 14-19
em suínos, 353f, 359-360 corpo cavernoso, 12, 14
índice aumentado de, 399-360 corpo esponjoso, 12, 14
nutrição e índice de, 359-360 emissão e ejaculação e, 16, 18-19
eventos celulares e, 137f, 138-140 ereção e protrusão e, 14-16, 18,16f
células da teca e, 139-140 mecanismos nervosos do, 248-250, 249f-250f
células granulosas e, 138-140, 142f-143f estrutura do, 12, 14-15, 14f-15f
modificações no ápice e, 139-140 PGF (prostaglandina Fa)
oócito e, 138-139, 138f-139f reconhecimento materno da gestação e
in vitro, 143-145 na égua, 213-214
colheita de óvulos pré ovulatórios e, 144-145 na porca, 211-214
indução da, 469-475, 471t-472t na vaca, 213-214
durante o anestro, 470, 472t-474t, 473-475, 475f- regulação do ciclo estral e, 102-103
476f PIF (fator inibidor da prolactina), 71-72
gonadotrofinas e, 69-70 Piometra, 289
local da, 136-139 Placenta, . Ver também Circulação placentária rr,
mecanismo de, 139-143, 14lt-142t Placentofagia,254-255 .
mecanismos bioquímicos da, 142-144 Plaquetas, fator ativador das (PAF), 90t, 91, 93
gonadotrofmas e, 143-144 Plaquetas, fator de crescimento derivado das (PDGF),
prostaglandinas e, 143-144 30t
secreção de esteróide e, 142-143 Plasma seminal. Ver Seminal plasma
mecanismos neuromusculares da, 143-144 PMSG (gonadotrofma sérica da égua prenhe), 77t, 77-
na égua, indução da, 374-377 79,220-221,380,382
pós parto, 104-107, 104t Polarização, 198-199
amamentação e lactação e, 105-107, 106f Poliploidia, 303-304, 304t
em bovinos, 325-326 Polispermia, 273-274
580 indice

bloqueio a, 196-197 Prostaglandina(s), 85-88, 86t, 88


Porca. Ver também Suínos aplicações clínicas da, 87-88
ciclo estral da, 356-360 contratilidade da trompa e, 41, 41f
morfologia ovariana e secreção hormonal e, 353f, funções da, 85, 87f
356-360 ovulação e, 143-144
comportamento materno na, 259-261 indução da, na égua, 375-376
amamentação e, 261, 26lt Proteína B específica da gestação (bPSPB), diagnóstico
parto e, 259 de gestação e, 461-464
pós parto, 259-261 Proteína B, 77t, 77-79
pré parto, 259-261 Proteína(s), uterina, 45
gestação na, 360-364 Protrusão, do pênis, 14-16, 16f
cio pós parto e, 364 Pró núcleo, desenvolvimento do, 196-198
crescimento dos conceptos e, 360-362 Próstata, glândula, anatomia comparativa da, 1
diagnóstico da, 458-461, 461f Pseudociese, 211
hormônios durante a, 353f, 361-364 na porca, 269-270
reconhecimento materno da, 210-214, 213f Pseudohermafroditas, 309, 313t, 314
hormônios e puberdade em marrãs e, 355-357 Puberdade
índice de ovulação na, 353f, 359-360 ciclos reprodutivos e, 97-100, 100-102
aumentando o, 359-360 gametogênese e, 98-100
nutrição e, 359-360 idade da puberdade e, 100-102
lactação em, 363-364 mecanismo endócrino da puberdade e, 97-100, 99f
a porca no desmame e, 363-364 em bovinos, 319-321
leitegada, 353f, 360-361 fêmea, 319~320
pseudociese na, 269-270 macho, 310-321
reconhecimento materno da gestação na, 210-211, em búfalos, 328-330 '
213f em ovinos e caprinos, 337-340
Precoce, fator da gestação (EPF), diagnóstico de fêmea, 337-338, 339f, 339t
gestação e, 461-462, 464f macho, 339-340
Preleptóteno,I71-172 em suínos, fêmea, 355-357
Prepúcio, anatomia do, 14-15 endocrinologia da, 61
Pré natal, desenvolvimento, 228-233 Puerpério, 237-240, 237f
circulação fetal e, 230f, 230-232 em bovinos, 325-326
crescimento feta! e, 229-230 em búfalos, 331-332, 332t
crescimento intra-uterino e metabolismo e, 385-386 atividade ovariana e, 331-332
fatores de crescimento semelhantes à insulina e, em ovinos e caprinos, 343-344
230-231 função ovariana durante, 325-326
fatores que afetam o, 225, 226 229-230f involução uterina e, 238-239, 325-326
hormônios. fetais e, 230-231 Pulmonar, maturação, parto e, 237, 238
índice de crescimento e, 229 Quimerismo, 303-304, 304t
de suínos, 348-352, 349t, 351f, 354 esterilidade e infertilidade e, 307-308
fluidos fetais e, 231-233 Radiografia, no diagnóstico de gestação, 454-455
composição de, 232-233 Radioimunoensaio, de hormônios, 65-67
funções dos, 231-232 Ralgro (zeronal), 80, 81f
origem dos,231, 232t RDS (síndrome de distress respiratório)
volume dos, 231-232 Refratariedade, 246-247
nutrição feta! e metabolismo e, 228-230 Relaxina, 83, 90t
períodos de, 228-.229, 228f regulação do ciclo estral e, 102-103
Pré ovulatória, onda, 69-70 Repetidoras de cio, mortalidade embrionária e, 277,
Primordiais, células germinativas, 171-172 278f
Progestágenos, 81-82 Reprodução, técnicas. Ver também Técnicas específicas
aplicações clínicas dos, 81-82 falha de fertilização masculina e, 298-299
funções dos, 81-82 falha reprodutiva e
Progesterona, 81-82 na égua, 386-388
ciclo estral e no garanhão, 388-389
na égua, 374-375 para aves, 403
regulação da, 102-103 Reprodutiva, estação, 106-113
diagnóstico de gestação e, 462-464, 464-467, 465f, de bovinos, 320-321
466t de búfalos, 329-330
Prolactina,70-71 de equinos, 366-367
Pronúcleo, fator de crescimento masculino do, 196-197 fêmea, 366-367
Prostaglandina Fa (PGF) macho, 366
reconhecimento materno da gestação e de ovinos e caprinos, 335-338
na égua, 213-214 adiantamento, 343-344
na porca, 211-214 fêmea,335-338,337~338f
na vaca, 213-214 macho, 337-338
regulação do ciclo estral e, 102-104 dos machos, 109-111,337-338,366
Índice 581

fatores reguladores, 110-113 inseminação e, 478


mecanismos endócrinos e neuroendócrinos e, 110- métodos de, 475, 477t, 478, 478f
113, l11f repetida, 478-479
fotoperiodismo e temperatura e, 108-110, 109f TBG (globulina portadora de tiroxina), 88-89
natureza da, 106-109, 107f-l08f TDF (fator determinante dos testículos), em suínos,
Reservatórios espermáticos, colonização de, 147-149, 348
152f Tdy (cromos somo Y determinante dos testículos), em
Respiração, espermática, .185 suínos, 348
Respiratória, síndrome distress (RDS), mortalidade Teca, células, 116t
neonatal e, 285-286 ovulação e, 139-140
Retrator, músculo do pênis, 14 Temperatura
Retrógrado, mecanismo, hormonal, 64, 65 Termoregulação
estimulador, 64-65 dos testículos, 7-8
Rufiação, procedimentos, para colheita de sêmen, 433- parto e, 237
434 Testículos, 3
Saco vitelínico, 222t anatomia dos, 3, 5, 5t, 6f, 6-8, 7, 8t
Seminal, plasma, 183-185 barreira sanguíneo-testicular e, 176-181
composição do junções celulares e, 176-178, 179f
constituintes bioquímicos e, 183-185 criptorquidismo e, 291-292
em aves, 398 descida dos, 5, 5t
motilidade espermática em, avaliação do, 422-426, desenvolvimento pré natal dos, 4-5
423f doenças do, falha de fertilização e, 296, 297t
Seminífero, epitélio, 171-181, 172f em aves, 398-400, 400f
barreira sanguíneo-testicular e, 176-181 fisiologia pré natal e neonatal dos, ciclos reprodutivos
junções celulares e, 176-178 e, 35, 97
secreções fluidas e, 178-179 gubernáculo, 5
ciclo do, 175 hipoplasia dos, 292-293, 307-308
espermatocitogênese e, 171-171, 173f hormônios dos, 63t
espermatogênese e regulação térmica dos, 7-8
controle endócrino da, 180f, 178-181 Testosterona, 83, 82f
duração da, 175-176 espermatogênese e, 180f, 180-181
espermatogônia e, 171-172 TGF (fator transformador do crescimento), 181-182
espermiação e, 175, 177f Tireotrofina, hormônio liberador da (TRH), 77, 78
espermiogênese e, 174-176 Tireóide, glândula, hormônios da, 64t, 87
onda de, 176, 178f Tiroxina, globulina portadora da (TBG), 88-89
onda espermatogênica e, 176, 178f TNF (fator de necrose de tumor), 90t
Seminíferos, túbulos, 8t, 20 Touro. Ver Macho(s)
Separação espermática, 449-453, 45lt Transferência, de embrião, 487-489, 490-493, 503-506
aplicações práticas de, 452-453 aplicação de, 504-506
citometria de fluxo e tipificação e, 450-453 cirúrgica, 488-489, 490f
separação em camadas sobre colunas de albumina e, desenvolvimento futuro, 504-506
450-452 equipamento e suprimento para, 504-510, 505t-506t
Seqüência, produção de ovos pelas aves e, 399-400 interespécies, recíproca, 490-491, 492t-493t
Sexo manutenção da gestação após, 490-493
heterogamético, 302 não cirúrgica, 487-489
homogamético, 302 seleção e preparo de recipientes para, 479, 488-489
intersexualidade e. Ver Intersexualidade sincronização do cio entre doadora e recipiente e,
Sértoli, célula(s), 8t 488-491, 491f
andrologia e, 87-88 utilização de registros para, 491-493
Sértoli, junções celulares, 176-178 Transferina, andrologia e, 88-89
Sêmen, 167, 167t. Ver também Ejaculação Translocação, 304-305
Sincício, 208 recíproca, 304t
Singamia, 196-198 Robertsoniana, 304t
Sínfise púbica, modificações durante a gestação, 219- Transplantes, antígenos, 226-227
221 Transporte espermático
Solução fisiológica, indução do cio por, na égua, 374 controle endócrino do, 154-156
Somatostatina (GH-Ih epididimário, 181-182
Somatotrófico, hormônio (GH mecanismo do, 181-182
STH (GH experiência sexual e, 251
Stress térmico fertilidade e, 157f, 156-158
falha de fertilidade masculina e, 296 sincronização do cio e, 156-158
mortalidade embrionária e, 276-278 hiperativação dos espermatozóides e, 154-156
Subalimentação, infertilidade masculina e, 299-300 índice de concepção e, 163-165
Suíno. Ver Cachaço na Cerviz, 52-53, 149-154
Suínos, . Ver também Cachaço muco e, 152-154
Superovulação, 473-479 penetração espermática no muco cervical e, 153
582 lndice

na trompa, 154-156 distensão do, anestro devido ao, 269-270


no trato feminino, 147t, 147-159, 148f-151f em aves, 397
cervical, 51-52, 149, 152-154 função do, 46-49
colonização de reservatórios espermáticos e, 147- corpos estranhos e DIUs e, 48-49
149,152f implantação e gestação e, 47-48
distribuição espermática e, 45-149 mecanismo luteolítico e, 46-47
lento, 149, 153f parto e involução pós parto e, 48
na trompa, 154-156 transporte espermático e, 46
no útero, 153-154, 155f glândulas endometriais e fluido uterlno e, 44-45
rápido, 147, 152f proteínas uterinas e, 45
no útero, 153-156 hormônios do, 63t
espermofagia e, 153-156, 155f infecção pós parto do, 289
perda espermática e, 157-158 involução do, 48, 238
sobrevivência espermática e, 157 na vaca, 325
uterino, 46 metabolismo do, 46
Transporte placentário, 224-227 migração do ovo através do, 165
de gases, 225-226 modificações durante a gestação, 219-220
de nutrientes, 225-227 superpopulação no, mortalidade embrionária e, 276-
Trevo, distúrbio da fertilização e, 272-274, 273f 277
TRH (hormônio liberador de tireotrofina), 73, 78 transporte espermático no, 153-156
Trissômica, aneuploidia, 303 esperrniofagia e, 153-156, 155f
Trofoblasto (trofoectoderma), 204-205 experiência sexual e, 251
Trompa,oviduto,~1-41,32f vasculatura do, 44
anatomia da, 31-36, 33t, 34f-38f, 39t, 40f-41f Uteroferrina, 45
mucosa e, 32-36 Vaca. Ver Fêmea(s)
contração da, transporte do ovo e, 160-162, 163t Vagina, 53-55, 54f
desenvolvimento embrionário na, 166 artificial, para colheita de sêmen, 435-437, 437f-44Of
em aves, 393-394, 395f-396f, 396-398 biópsia da, no diagnóstico de gestação, 460-462f
armazenamento esp/,!rmático, transporte, e contrações da, 54-55
fertilização, 397-398 flora microbiológica da, 54
infundíbulo da, 393-394, 396-397 fluido vaginal e, 54
transporte do ovo e oviposição e, 397 funções da, 55
função da, 36-37, 39 modificações durante a gestação, 218
fluido da trompa e, 36-37, 39 respostas imunológicas da, 54
mucosa da, 32-36 Vaginal, fluído, 54
células cHiadas da, 32-34 Varrão. Ver também Porco
células não ciliadas da, 34 colheita de sêmen
inervação da, 34-35 eletroejaculação e, 437, 439, 441f
vascularização da, 34 frequência de, 435-437
musculatura e ligamentos da, 40-41 controle hormonal no, 351f, 352-356, 353f
ligamentos relacionados e útero-ováricos e, 41 criopreservação do sêmen e, 533-534, 533t
padrões de contração e, 40-41 falta de libido no, 294-295
prostaglandinase, 41 produção de sêmen pelo, 355-356
transporte do ovo na. Ver Ovo(s), transporte de Vasculatura. Ver também Circulação
transporte espermático na, 154, 156 da hipófise, 65-69
'fumor, fator de necrose (TNF), 907 da mucosa do oviduto, 34
Túnica albugínea .. do útero, 44
fêmea, 26t Vasopressina (ADH, vasopressina arginina), 70-73
macho, 8t Vesiculares, glândulas, anatomia comparada das, 1
illtra-sonografia, no diagnóstico de gestação, 456-460 Vestíbulo, 55
Fenômeno Doppler e, 456-457 vinteração de espermatozóide e óvulo e, 191-198, 193t
illtra-sonografia Modo B Tempo real e, 457f, 457-461 fertilização interespecies e, 197-198
illtra-sonografia pulso eco e, 456f, 456-458 Virótico, abortamento (infecção I do herpesvirus equino
illtr~pura,água,504-506 Vitaminas, deficiências, infertilidade masculina e, 300-
Um9~ical, artéria, circulação placentária e, 223-225 301
pretra, macho, 3 Vulva, modificações durante a gestação, 218-219'
Uretral, glândula, anatomia comparada e, 1 Wolff, dutos de, aplasia segmentar dos, 291-292
Urogenital, sinus, embriologia do, 22 X-cromossomos. Ver cromossomos sexuais
Uterinas, veias, circulação placentária e, 223-225 Y-cromossomos. Ver cromos somos sexuais
Uterino, fluido, 45 Zeronal (Ralgro), 80, 81f
Útero, 41, 42f-43f, 43-49, 47f, 48f Zigóteno, 171-172
ambiente do, interaç~o do concepto com o, 209-210 Zona pelúcida
anormalidades do, M/.!/ltrp devido ao, 268-270 incubação de blastocisto da, 205-206
contrações do, 45-46 micromanipulação da, 500-502, 502-504
durante o parto, 233 parâmetros reguladores e fisiológicos da, 118t

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