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8° CAMADA: A MORTE E EU ® PERSONALIDADE 0 CURSO DA VIDA PERSONALIDADE 0 CURSO DA VIDA Sumério 1. Revisdio das camadas anteriores -1 2. As camadas e sofrimentos préprios de cada uma - 4 3. Apetite irascivel -5 4. Osecos interiores e a morte -7 5. Osentido da vida -8 Reviséio das camadas anteriores, Muito bem, chegames entéo, agora, & citava camada da personalidade. Esse trajeto que a gente fez até aqui, especialmente da quarta até a sétima camada, E um trajeto que eu considero dos mais importantes. Eu espero que, a essa altura, vocé tenha percebido que ¢ preciso um certo trojeto, é preciso passar por todas essas etapas que nés citamos aqui pra finalmente o ser humane conseguir criar e formar um certo senso de identidade. Um senso de unidade. E apenas depois que a gente passa all pela sétima camada, pelo menos, que gente realmente cria uma nogdo de um ‘eu" verdadeiramente consistente. E foi isso que nés falamos na nossa Ultima aula, essa aula tdo importante que foi a aula da sétima camada, Entdo, agora, esse ser que finalmente criou um senso de identidade: ele vai se deparar com uma pergunta. E feu vou falando pra vocés: se vocé chegar na sétima camada da personalidade, né? Se vocé fez aquele trajeto, se vocé estabilizou suas emocées, descobriu uma forca, colocou essa forca para servir erecebeu um resultado disso. E depois vocé firmou compromissos, se rnanteve fiel & palavra dada, se vocé ficar af por um. ‘tempo... uma pergunta chegard até vocé. E essa pergunta ¢: "ratifica ou retifico"? Ratifico, eu confirmo, essa vida aqui é minha... retifico, isso aqui que eu té escrevendo, essa histéria que eu tenho escrito até Entiéio, essa narrativa escrita até aqui, ela é insuficiente. Essa pergunta certamente chegard até voc. E olha que interessante: vocé entende que, para confrontar a morte, éjustamente essa etapa da oitava camnada da personalidade. Essa pergunta sé aparece verdadeiramente para quem tem uma integridade, para quem tem um ‘eu’ verdadeiramente formado. Antes disso toda meditacdo sobre a morte acaba sendo uma meditagdio muito superficial e isso é 0 que a gente mais vé por ai, né? As vezes, a pessoa fala sobre a morte de modo superficial sé pra render o assunto, né? As vezes, alguém morre, alguma coisa assim, escuta falar que alguém morreu... PERSONALIDADE 0 CURSO DA VIDA 2 Infelizmente, a gente viv isso muito agora nesse periodo de pandemia que a gente estd pasando, em que as pessoas escutam ficam sabendo que alguém faleceu e ai as pessoas langam comentarios como: "nossa, é isso mesmo, né? Nossa, a gente td vivo, mas nunca sabe quando vai chegar a nossa hora, né? Ah, quando tem que ser, é pra ser. Ah, se nao for a sua hora, néo vai chegar. Ah, olha, a Unica certeza que a gente tem na vida é que a gente vai morrer”, Mas, até se vocé tiver um pouco mais de sensibilidade, vocé consegue observar que esse tipo de meditacdio, de comentario, ndo estd saindo de um nucleo pessoal centrall.A pessoa nao se deparou ainda verdadeiramente com a morte dela. E 0 encontro com a morte é um encontro com a minha morte. Quando eu realmente comeco a meditar profundamente com essa sobre essa realidade, que eu Vou ‘morrer, a morte tem uma caracteristica central que é exatamente seguinte: a minha personalidade vai ganhar contornos finais e definitivos. Quando isso vai acontecer? Exatamente na morte. Porque ai eu néio tenho como mais acrescentar aspectos ‘a minha narrativa pessoal. Eu vou ter finalizado 0 conjunto das minhas agées, vai ter chegado ao fim, e af finalmente alguém vai poder dizer o seguinte: "Quem foi Saulo?" Quando finalmente essa resposta vai poder ser dada? No dia que eu morrer. E quando o meu conjunto de agées, meu conjunto de atos aqui na Terra vai ‘ter chegado ao fim e estaré formada a minha personalidade completa. Até ld, como vocés saber, a personalidade é um livro aberto, é dbvio, né? Como a gente jé disse aqui, Ié no inicio, acontecem varias situacées pelas quais a gente jé passou aqui nessas primeiras camadas da personalidade, que vaio favorecendo ou desfavorecende a formactio de uma personalicdade que seja forte, que seja digna, mas a gente viu que a relacdio dos pais conta: aquilo que eu j4 herdo, né? Hereditariamente, também conta o modo como eu me relaciono ali com o ambiente, também conta 0 modo como eu desenvolvo habilidades. Mas isso significa que essa personalidade esté em aberto, ela vai sendo formada até que um dia ela encontre o limite final. Esse limite final é morte. Entdo, quando vocé chega & sétima camada e voc’ domina ali a sétima camada, ne? O que é necesséirio ali pra chegar na sétima camada, como a gente viu, é ter uma habilidade, ter usado essa habilidade para servir aos demais, isso te coloca num papel que vocé se compromete, vocé dé a sua palavra e isso te encaixa ali num lugar do mundo e voc passa a olhar para o seu dever ndo sé como algo que vocé tem que fazer, nao sé isso, mas como algo que forma quem voc’ é ~ e ai, se voc chegou nesse pont, se voc se mantiver fiel viendo desse modo uma hora vai chegar a pergunta "ratifica ov retifica” é como se a gente batesse no teto das coisas daqui de baixo do que se espera de um aduito normal, né? E af anossa alma omega a ter sede de coisas que sejam transcendentes. Vocé vai se lembrar Id no inicio do nosso curso, Id na aula introdutéria: eu falei pra vocé que nés temos trés aspectos, 0 aspecto biolégico, o aspecto psicolégico e 0 terceiro aspecto, o aspecto transcendente, onde estiio 0s valores, especialmente aqueles que sido inegocicveis pra nés. Sao esses valores transcendentes que nortelam ou que déo um senso de qualidade pra nossa vida. Na oftava camada da personalidade é que realmente essa sede por sentido aparece. E por isso que muitas vezes a gente fala, né? Que tem que tomar. cuidado, embora meditar sobre o sentido da vida é superimportante — inclusive eu tenho um curso sobre isso, sobre o livro do Victor Frankl, Em Busca de Sentido — essas perguntas sé aparece verdadeiramente se vocé jé tem um "eu": a vida comeca a pedir coisas especificas de vocé — antes disso sdo coisas muito bésicas que a gente tem que formar pra quea gente possa naveyar. PERSONALIDADE 0 CURSO DA VIDA 3 E afsim as pessoas possam contar conosco: a essa altura aqui do campeonato, provavel mente vocé jé percebeu que muitas das questdes que nés nos colocamos quando a gente é mais jovem, quando a gente & ‘mais imaturo na verdad nem séio questdes tao importantes assim. Porque elas esto aparecendo para uma pessoa que ainda néio tem um “eu” integrado, Um "eu" devidamente integrado, Agora aqui na oitava camada nao. Aqui vocé jd integrou o seu "eu". Seu “eu" comeca a ter um desejo agora de durar. Um desejo de permanecer, um desejo de que a vida tenha um sentido transcendente, Porque vocé ja dominou tudo que tinha aqui embaixo, Entdo, a vida sé val continuar a ter sentido se houver algo que fica depois, algo que permanece. Entdo, quando a gente se depara com essa pergunta "retifico ou ratifico?" em relacdo & histéria que foi escrita até entdo. Aia gente tem duas posturas, né? Eu posse ratificar, eu posso estar tranquilo em relagdo a histéria que eu tenho escrito ~ e isso pode ser traduzido com a sensagdo de nossa, isso aqui que eu +t8 vivendo, esse é 0 meu lugar, sendo quem eu sou, com as condicdes que eu tenho, nas circunstéincia que eu ‘tenho, eu estou fazendo o melhor que eu posso. E exatamente aqui que eu deveria estar. Entdo, eu encontrei omeu lugar. Esse é o meu lugar. E aqui que eu tenho que ficar. Essa é a narrativa que eu quero ter. Se a morte chegar e me encontrar hoje, ela me encontraré fazendo exatamente aquilo que eu deveria estar fazendo, sendo que ev sou. Esse é 0 rattfico, né. E veja bem, aqui nés estamos dentro de uma andlse prépria de narrativa em que a pessoa com o seu eu integrado, com o seu eu formado, ela néio coloca a culpa mais em ninguém, o que é préprio da maturidade. Bem ou mal, ratificando ou retificando, quem chegou até aqui fui eu. Eu sou responsdvel pela minha vida. Entdo, se tem que ratificar, eu ratifico, se eu tenho que retificar, néo é culpa de ninguém, eu vou retificar. O que que seria retificar? Seria fazer as mudangas necessdrias para que vocé tenha uma narrativa que te coloque em paz diante da possibilidade da morte. Tem uma caracteristica que nés vimos relattiva a sétima camada que acabou de ser superada: ela é marcada pelos compromissos. Entdo, ainda que vocé tenha que retificar a sua vida, ainda que vocé tenha que retificar sua histéria, vocé néo abandonaré aqueles que necessitam de vocé. Porque qual é.a tentagao do “retifico”? Quando eu estou ali diante de uma histéria, né? Que eu olho e falo assim, olha! Eu até estou cumprindo omeu dever. Mas essa ainda néo é a minha histéria, qual é a tentagdo que aparece alina mente dessas pessoas de oitava camada? E a tentagdo do, ‘olha, larga tudo. Muda tudo, faz tudo diferente. Comeca do zero". Sé que a pessoa que chegou até aqui, sétima camada, ela entende que ela néo pode comecar do zero assim literalmente, né? Porque jé existe pessoas que dependem dela, entéo, ela néio pode fazer isso. Entéio, quando a gente tem que retificar isso jd na oitava camada ~ a gente faz isso sem prejudicar ou sem romper esses compromissos firmados e que nos trouxeram até aqui, inclusive como vocé viu: a fidelidade & palavra dada. A fidelidade a esses compromissos é que te joga na oltava. Entéo, como vocé vai retificar rompendo com isso? A pessoa de sétima camada chegando na citava ela ndo faz isso, né? Ela néio tem esse desejo. Ela vai encontrar meios de retificar essa conduta estando fiel, ainda permanecend fiel aos compromissos assumidos. Agora essa pergunta do “ratifica ou retifico” né? Esse "eu" formado diante da morte. E uma pergunta que muitas vezes é incémoda. PERSONALIDADE 0 CURSO DA VIDA 4 ‘Camadas e sofrimentos préprios de cada uma Quando a gente se vé diante de uma pergunta desse tipo, a gente é levado até uma avaliagdio absolutamente profunda sobre a nossa vida, que néo é mais assim: se eu estou cumprindo ou néo o meu dever, eu jé estou cumprindo. Agora é se esse dever vale mesmo diante da morte. Isso comeca a surgir, sso omega a criar um sentimento e um incémodo que comeca a ser maior. Eu nao sei se vocés estdio percebendo, mas, a medida que a gente estd evolvindo aqui nas camadas, 0 sofrimento comega a ficar mais sério. Ele comeca a ficar mais real inclusive. O sofrimento de quarta camada sao sofrimentos subjetivos, sto sofrimentos emocionaiis que uma vallidacéo qualquer ali é capaz de aplacar aquele sofrimento. Sofrimento de quinta camada: prevalecer ou nd, vencer ou nao, superar um desafio ou nao. De treinar e tiver ali as ferramentas, vai conseguir superar aquele sofrimento. A sexta carnada tem o resultado au nao, otimizando ‘osmeios, também vai ter o resultado, Sétima camada, se for fiel & palavra dada, se cumprir 0 seu dever, sem se comprometer e se mantiver fiel vai aplacar esse sofrimento também, ‘Agora, « citava camada tem um sofrimento que jé comeca a tocar uma esfera superior, como a gente viv antes. © numero sete: a sétima camada esté ali na fronteira entre o material e o imaterial. A gente j4 comeca a tocar em realidades superiores e af o sofrimento também é superior. Entéio, o que que pode acontecer e o que que a gente vé muito acontecendo por af? Pessoas de sétima camada que, uma vez tendo notado que surgiu essa pergunta, essa necessidade de resposta, do “ratifica ou retifico", essas pessoas ‘comecam a néo querer olhar para essa pergunta e eles comecam a buscar um certo entretenimento nos frutos que ela jd conquistou até a sétima camada. Entdéio, é uma pessoa que, com certeza, jé esta mais estével financeiramente. Jé tem ali uma vida com ‘aspecto social, de amigos, de familiares e a pessoa vai se ocupando daquilo ali. Aia pessoa comega a viajar, omega a comprar muitas coisas, né? Claramente no intuito de tentar suprimir, de tentar encobrira necessidade de pensar sobre essas realidades mais protundas. Sou aquela pessoa ali que fica um tempao pesquisande all sobre um carro, pesquisando sobre um apartamento, pesquisando sobre um eletrénico, né? Por qué? Porque ela tem condigées de comprar aquilo e, comprando aquilo, aquilo vai dar um certo entretenimento por um tempo. A sua mente vai ficando ocupada com essas coisas pra vocé néio pensar de verdade nessa realidade de que a morte esta no horizonte - e que é uma possibilidade. E aqui, como vocés podem ver, a gente comeca a tocar transcendente, mas ainda nao é 0 encontro do hornem. O encontro com Deus é 0 encontro do "eu" com a morte, 60 encontro do eu com aquilo que vai ‘trazer contornos finais & minha personalidade. Entéio, é uma pergunta que, de todas que jd apareceram até ‘agora, a mais incémoda, sem duvida nenhuma e tem murtas pessoas que refugam ai, elas param ai. Entao, ‘como vocés podem ver no nosso esquemna, na quarta camada hé uma dificuldade de rompimento como a gente viu nas aulas anteriores, porque o objeto transcendental ele vai mudar de beleza para a bondade, né? Quando a gente esté aqui ainda nos atos bons, né? Sao objetos aqui da quinta camada até essa até a oitava camada, intitulada "A Morte e eu": finalmente, a morte e eu - agora nés temos um "eu", né? Que é caracterizado pela sintese individual, né? Ou seja, a minha histéria ganhando contornos finaiis, aqui ela jé ‘comeca a ter um vislumbre do que serd o objeto seauinte, que nés vamos falar na préxima aula da nona ‘camada — que vai ser como vocés podem ver ai: finalmente, a verdade. Finalmente a verdade. Inclusive, o petite que esta em voga, esté na dianteira da vida psfquica na oltava canada é um apetite irascivel, que é esse desejo, vocés lembram? Por bens que sejam dificeis, por bens drduos, Entdo, eu jd comego a tocar sim elementos como justica, como paternidade, ser urn bom pai, né? Eu jd comeco a buscar coisas que nao séo materiais - elas so transcendentes PERSONALIDADE 0 CURSO DA VIDA 5 Apetite irascivel Entdo, 0 irascivel é um apetite que ele ja tern uma certa intuicdio do que vird. E uma certa intuigdio do que estd depois dessa porta. Entéio, da quarta para a quinta é um rompimento dificil. E também essai viltima pergunta aqui da oitava costuma ser uma porta dificil de bater. Tanto que as pessoas tendem a permanecer ‘aqui, numa tentativa de néio responder a esta pergunta tao incémoda "minha vida realmente tem valido a pena numa perspectiva de permanéncia?" sendo uma perspectiva de transcendéncia, numa perspectiva que vai além do momento atual apenas. Porque o momento atual apenas quer te convencer de que nao existe narrativa, de que existem sé momentos pontuais. Que o que conta ali é sé experimentar uma sensagao, experimentar um prazer, se entreter ali com algo que te ocupe a mente. Entdo, é como se ele quisesse que vooé néio se lembrasse de que a substdncia da vida humana é narrativa, porque se vocé lembrar e vocé levar a sério essa pergunta talvez, talvez vocé vai ter que retificar muita coisa. E pra quem jé tem uma série de compromissos, isso nao é fal. Isso ndio é facil. Agora muito pior do que isso, muito pior do que o de retificar & aquilo que a gente diz, né? Que é morrer feito um idiota. Eu néo quero morrer feito um idiota. EU no quero morrer feito um animal. Eu no quero que a minha narrativa seja como se fosse a histéria de um animal. Lembrando que o animal ‘também forma familia. O animal ainda tem também os filhotes, ele tem um local onde eles moram, né? Entao, a gente tem que procurar esse significado superior, que tam sido pedidos a vocés especificamente sendo quem vocé é, tendo os recursos que vocé tem, estando instalado onde vocé esta, talvez a vida te chama para coisas diferentes das quais vocé tem feito até entdo. Nos lembrando sem esses grandes rompimentos, sem deixar pra tréis ou sern deixar sem suporte aquelas pessoas que dependem de vocé. Mas esse é um grande momento de sintese psicolégica. E quem falou muito sobre isso foram os espanhdis. Isso & bastante interessante, né? A gente sai de momentos cldssicos, histéricos e a gente vai vendo um distanciamento do ser humane dessas realidades superiores. Um distanciamento até do pensamento humane de matérias e de ciéncias como é a metafisica da qual a gente falou aqui, né? O ser humano vai se distanciando disso. E af ele vai sendo privado de mudar, o que o torna incapaz de fazer essas meditagdes mais profundas. E af a gente vail no inicio da idade moderna da filosofia moderna com pensamento cartesiano como a gente jé falou aqui. Eu penso logo existo. A gente tem positivismo também, 0 cientificismo, isso tudo vai nos empurrando para que a gente nao pense que a gente é um quem e a gente vai sendo empurrado para pensar sobre nés mesrnos como um o qué? Como o qué? Como uma coisa e olha sé, nem animal e nem coisa contam histéria. Nenhum animal, nem uma coisa, tem uma narrativa, né? Eles simplesmente padecem dos efeitos da realidade sobre eles, mas eles néo tém agées livres que partam deles, porque eles ndo tém intelecto e néo tem vontade. As duas faculdades superiores e que nos tornam, hurnanes. Entdo, ao longo do tempo o ser humano hand pra esse lugar de coisa, pra esse lugar que num conta narrattiva. Por isso foi tio importante aquela nossa série "conhece-te a ti mesmo”. O que que eu tentei fazer ali? Eu queria abrir os olhos das pessoas para essa realidade. Principalmente naquele episédio ali que eu citei, por exemplo, a Helen de Abreu? Falamos sobre a motivagdio dela naquele momento em que a ceche fol incendiada. Quais sdo as motivagdes possiveis para ela? As trés grandes motivagdes que a gente ve na psicologia sdo por homeostase, ou seja, por equilibrio de forgas antagénicas que a gente teria dentro de nds ea gente tenta agir para equilibrar, né? PERSONALIDADE 0 CURSO DA VIDA 6 Os desejos do ide com as restricées do superego, duas forgas antagénicas, né? E 0 ego aliino meio tentando equilibrar isso. E quando a gente vé all as agdes da Helen, ela ndo estava tentando equilibrar alguma coisa ali quando ela tomou aquela decisdio de salvar as criangas, arriscando a prépria vida, nao. A gente tem ali aquela uma outra linha que fala de motivagies de associacdo. Entdo, a associagtio de estimulo em resposta entdo, ela vé 0 fogo e af a resposta dela ¢ ir pra cima do fogo pra tentar salvar as criancas, né? Também a gente ndo pode dizer isso. E a gente tem uma outra motivagdio que é a motivacdo da autopreservaciio, né? Entdo, essa dat entdo, é que a gente nao pode dizer mesmo que ela fez 0 contrérro disso, né? Ela néo se poupou, ela foi pra cima porque ela tinha uma motivacdo ali, af sim humana, uma motivagao de salvar ali aquelas criancas inocentes e a histdria dela permanece, porque a a¢do dela revela uma motivacdo superior. Entdo, a medida que a gente vai se distanciando dessas realidades, isso vai desaparecendo o horizonte de consciéncia das pessoas - elas nem sequer percebem e o ser humane estava indo muito nessa direcdo até que no século passado vem af os espanhdis. Varios e varios autores espanhdis meditaram profundamente sobre essa natureza de narrativa do ser humano. E ev queria trazer pra nés aqui enquanto a gente medita justamente um livro do Julian Marias que € justamente o livro A Felicidade I lumana é 0 que eu recomendo enquanto eu grave esse livro enquanto eu gravo esse curso. Esse livro néio estd disponivel em novas edicdes. Normalmente vocé vai encontrar ele ai em sebos ou algo desse tipo. E nese livro o Julian Marias fala da felicidade humana, né? Tem um capitulo interessante aqui nesse livro que fala justamente sobre o homnem diante da morte, né? E 0 capitulo que fala sobre a felicidade no horizonte da morte, né? A felicidade no horizonte da morte. Interessante isso que ele coloca essa imagem, né? De que do horizonte e da morte, porque a morte ela tem essa caracteristica para nés seres humanos, né? E como se ela estivesse no horizonte, ela td ld meio longe, ela ndo td aqui perto de mim, né? Ela té longe no sentido de estar no horizonte, eu ndo sel quando ela vai chegar, mas ev tenho a certeza de que ela vai chegar. Entéio, a gente tem essas duplas relagdes com a morte. Uma de certeza, ela vai chegar e uma de incerteza, no sei quando ela vai chegar, né? Agora, a morte impée para nés a realidade da finitude da matéria e, mesmo assim, 0 ser humano continua com uma demanda de ser feliz e a felicidad ¢ 0 objeto aqui principal desse livro do Julian Marias. E ele coloca isso de modo muito perfeito, quando ele descreve 0 seguinte: 0 que eu sou é mortal. © corpo, aquilo que eu tenho em mim de matéria, é mortal, mas quem eu sou, o quem eu sou, essa narrativa, essa perspectiva pessoal, essa perspectiva de personalidade, quem eu sou postula a imortalidade? E como se fosse assim, o ser humano sabe que jorrer. Ele tem consciéncia de finitude, ele ‘tem consciéncia desse limite, desse horizonte, que é justamente imposto pela morte. PERSONALIDADE 0 CURSO DA VIDA 7 Os ecos interiores eamorte Isso impde uma outra necessidade: jé que eu estou aqui vivo e eu tenho consciéncia da minha finitude, eu tenho consciéncia de onde vem a morte? Isso impée uma necessidade de sentido, uma sede de sentido. Entdo, essa sede de sentido é o qué? E necessdrio que se realize algo que dure para além da minha materia. ‘Algo que dure mesmo a morte chegando. Olha que coisa interessante: isso vern da reflextio mais recente, principalmente nos espanhdls. E Isso surge justamente com a nogdio de personalidade enquanto narrativa, Eu gosto muito desse tipo de andlise porque se vocé se entregar ao materialismo, sé existe aqui a matéria, o nilismo, né? Se vocé pegar materialismo, vocé vai chegar na falta de sentido e isso é 0 que tem acontecido com muitas e muitas e muitas pessoas do nosso tempo. Pouco a pouco, essas realidades transcendentes foram sendo esgargadas, elas foram sendo retiradas do horizonte de consciéncia, Tanto que, as pessoas hoje ndo percebem, mas vo aderindo a certos pensamentos que vao falando pra elas, né? Que o que existe é apenas a matéria, que a Unica coisa que importa é a matéria, s6 que vocé vai perdendo. Entéo, a nogéio de narrativa, e af diante da morte, diante do horizonte da morte, vooé fica indefeso. Voce néio tem recursos pra lidar com isso. C af a tentagéio dessus pessous 0 qué? Se entregar ao hedonismo de prazer sensivel, entregar seu materialismo e, final mente, a perspectiva do suicidio por exemplo acaba sendo muito real, né? Por isso que nés gravamos esse curso, inclusive, né? Porque eu quero exatamente o contrérrio pra vocé, eu quero te relembrar aquilo que sempre orientou os homens e mulheres ao longo dos séculos, que foi justamente essa nogiio de transcendéncia e, agora, na oitava camada da personalidade, é quando essa pergunta chega de verdade e ela chega de modo pessoal, ela chega para uma pessoa, ela chega para um eu, 0 eu ea morte, Entdo, se eu tenho uma narrativa que revela os meus valores mais elevados Id na minha perspectiva transcendente, agora eu consigo lidar com a morte. Ah, agora eu retifico. Agora, eu tenho mais énimo ainda pra lutar, e se a morte chegar, ela vai me encontrar fazendo exatamente aquilo que eu deveria estar fazendo. E olha que interessante, nese mesmo capitulo, nesse mesmo capitulo que ele faz essa comparagéo da morte, que é um dos limites do horizonte com o nascimento (que é uma outra perspectiva de limitagdo), né? Ou soja, onde a gente comeca, né? Um limite no sentido de onde a gente comega. O nascimento, olha que interessante, o nascimento é algo absolutamente pessoal também, é um ponto superimportante da narrativa. Agora, nasce um © que é uma matéria que é um corpo sem divida, mas qual que é 0 principal ali? Nasce um quem nasce um quem? Esses dias, ontem, por coincidéncia, alguém me mandou uma pergunta ‘também lé ne Instagram: que tinha engravidade ali de namerade que achava que néio ia nem continuar junto com ele, né? E estava desesperada, que é algo que a gente vé muito por ai, né? Acaba que quando as pessoas engajam ali na relacdo sexual, a mulher tem que se lembrar que o risco sempre é maior pra ela, né? Infelizmente, muitos homens abandonam o filho, abandonam a mae, o seu filho também. E aia mulher se vé ali sozinha, bem fragilizada emocionalmente também sem duvida. 'Sé que af, o que que acontece hoje em dia também? Essa mulher 6 empurrada a crer que o que esté na barriga dela ali é apenas um 0 qué? E apenas uma coisa. E apenas um aglomerade de células. E af diante disso, pensando materiaimente, “ah, ndo sel se eu vou ter condigdes de criar. Ah néo sei se eu vou ter que interromper né? Sem a minha carreira eu nao vou ter dinheirs' Ai vocé vé o peso do material. Entéio, tanto o ser quis ect na barriga dala 4 destituide da seu sere colacada coma coisa, coma. problema passa a ser material também. A gente vaitter suporte e material para cuidar dessa crianga. Essa crianca ndoné? Que eles nem me consideram que é uma crianga. Entdo, tudo é colocado na perspectiva material E afela é levada. a fazer um aborto. PERSONALIDADE 0 CURSO DA VIDA 8 Entéo, olha que coisa, perde-se a nogdo de que, na verdade, aquele ser ali que jé existe na concepgio, aquilo é um quem, que existe ali é uma pessoa, uma personalidade eterna, que permanece, é uma alma que é eterna. E ai quando a gente esté ali na perspectiva de pai, quando a gente amadurece, esse filho que entra na nossa histéria faz parte de quem nés somos - é uma relagao, vocés lembram do Martin Ruben? A relagdio eu-tu é uma presenga, um quem? E olha que interessante isso eu até coloquei lé na resposta pra ela: aqui eh a minha primeira filha, né? A Ana Rita. A gente ndo estava exatamente em condigées assim de recebé-la no sentido da perspectiva material. Mas quando ela velo a gente |é recebeu com muito esforgo, muito trabalho, fol a fase que eu mais trabalhei na minha vida. Gragas a Deus por isso. Gragas a Deus pela vida dela que nos marcou e nos marca profundamente. E que bom que nés enquanto familias a recebernos. Entéio, o que eu falei aquela moca foi que ela jamais se esquecesse disso, que ali é um quem que estd nascende e esse quem vai marcé-la profundamente. Ela jamais vai imaginar a vida dela sem este quem. Entéo, chegar nessa citava camada da personalidade e responder adequadamente essa erguntta, eu néio posso nunca perder de vista isso. Nés somos quem? Uma narrativa que tem o seu horizonte, uma perspectiva de finitude e isso traz pro presente uma necessidade de viver com sentido e o sentido é encontrado. O senticlo, nessa altura, é encontrado nos nossos valores mais elewadlos Osentido da vida Osentido, quando a gente esta numa perspectiva mais baixa de camadas, ele é mais simples, ele é mais no sentido ali do dia, é 0 sentido de se atrelar & atividade que te que te aparece alino dia. Vocé, de oftava camada, que jé é um sentido que jd comeca a tocar em insténcias superiores ~ e quando a gente chegar lé na Ultima camada af ele vai ser 0 mais superior de todos, o destino final ¢ o fim e Ultimo do ser humane. Mas, ‘aqui, a gente jé estd diante dessa transcendéncia. Jé esté chegando de verdade ali pra nés, ta certo? Muito bem. Entéo, a felicidade ela é absolutamente necessdria para suportar essas vicissitudes aqui da nossa vida e essa verdadeira felicidade ela é encontrada nesses aspectos transcendentes. Nao dd pra ficar 56 aqui pra baixo e buscando essa felicidad aqui. Porque aqui, felicidade é sempre passageira. Agente sempre tern aquela sensacéo: “ah, eu vou fazer tal coisa aqui porque eu vou ser feliz”. AJ, quando faz ‘aquela coisa, vocé finalmente chega Ié onde vocé tanto se esforcou pra chegar, quando vocé chega parece que a felicidade acabou de sair parece que por um segundo vocé néo pegou ela ali - nessa terra é sempre assim. Esse é 0 maximo da felicidade que a gente experimenta. Entéio, a felicidade que ela é sempre uma esperanca de um bern maior que permanece mesmo quando tude aqui acabar. Aisin a gente esté tocando ‘essa inetéincias cuperiores, té certo? Entdo, essa esperanea de que a nossa narrattiva permanece, mesmo quando a nossa matéria vai desaparecer, essa esperanca é 0 que nos conecta com o transcendente, que é justamente onde a citava camada esté tocando. Eu queria deixar aqui pra vocés também um poema do Anténio Machado que ilustra bastante isso que a gente tem dito até aqui. Eu vou ler sé a Ultima estrofe desse poerna "Retrato” de Anténio Machado, que é um espanhol que, assim come a mulher Marisa, também meditou profundamente sobre essas questdes de oitava camada, Ele diz 0 seguinte: "E quando chegue o dia da Ultima viagem, pronta a partir a nau que nunca hé-de voltar, haveis de ver-me a bordo com pouca bagagem, e mesmo quase nu, cama s filhos do mer” PERSONALIDADE 0 CURSO DA VIDA 9 Entao, ach« teressante a reflexdo do Anténio Machado. Ele sabe que em breve, em algum momento, onde ele vai estar dentro de uma nau que vai fazer a Ultima viagem e que ela nao vai voltar. E é interessante como. ele mostra que nés haveriamos vé-lo a bordo com pouca bagagem. Eu gostei muito destas duas, esses dois Ultimos versos, séio muito muito bonitos, né? "Haveis de ver-me abordo com pouca bagagem e mesmo quase nu, como os filhos do mar". Ele vai estar praticamente nu e sem bagagem quando ele for sair daqui. Porque, na verdade, o que a gente leva daqui é quem nés fornos. O que fica daqui, o que permanece aqui, aquilo que a ‘traca ndo é capaz de corroer, aquilo que o ladréo nao leva e aquilo que a ferrugern ndo pega é aquilo que permanece eo que permanece é esse eu tenho 0 desejo de transcender. Entdo, o que a gente viv aqui ao longo dessas Ultimas camadas é que nés temos um desejo de algo que seja firme, que seja estdvel, que seja forte o suficiente para permanecer: Porque o grande sonho do ser humano é encontrar essa estabilidade Na quarta camada, a gente cria aquela estabilidade emocional. A gente queria ali o solo benévolo. A gente queria aquele lar familiar ern que a gente receba um amor que sempre vai estar ld. Eles ndo precisam ter medo do mundo exterior, porque sempre vai ter um lar pra onde a gente voltar. Na quinta carnada, eu queria uma forga & qual me apegar. Na sexta camada, uma técnica, uma forca, uma habilidade que dé resultado. E feu me apego a esse resultado pra me dar seguranca. Na sétima camacda, eu quero um papel que me represente, né? Quero cumprir esse papel. Agora, na citava camada, eu jé comego a sair do mundo daqui de baixo e eu comeco a querer uma seguranca superior. Uma seguranea que seja transcendente. Essa é a grande marca da oitava camada da personalidade.Jé antevendo uma busca pela verdade. Porque aquilo que permanece é a verdade e é exatamente isso que a gente vai ver agora na nossa préxima aula: que é justamente a aula sobre a nona camada da personalidade. Vejo vocés Id.

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