A Ironia No Auto Da Compadecida

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A Ironia no Auto da Compadecida GERALDO DA COSTA MATOS UFES ‘Sécrates (470 ow 469 - 399) pds sua vocagio de fildsofo a servigo da ‘descoberta do ser humano em seu sentido ontoligico. Seu famoso lema “conhece-te a ti mesmo”, assume tua ignoraneia e procura sair dela, olha humilde oserque tu ése caminha, exprime-Ihe a introspecgiio, a descida 20s abismos interiores e 0 empenho imperativo no sentido de cada um ativar sua teflexio sobre o eu. Com suas tiltimas palavras, apos sorver g cicuta a que havia sido condenado, “Devemos um galo a Esculdpio” quer Sécrates agradecer o dom da morte com o qual se livra do mal da vida. Foi um educador de ntido etimolégico do termo. Educere, étimo de “educar”, tem como sentido fundamental “conduzit”, ducere, para fora. E “critica” significa julgamento, juizo a respeito de. 0 processo educativo, segundo Sécrates, nao se faz de fora para dentro. ‘O que ensina auxiliano parto. E a maigutica socratica. O reconhecimento a propria ignordncia conduz i necessidade de superi-la. E-um processo dialético, de cada um consigo mesmo, no olhar as suas misérias € lutar contra elas. Um ato irdnico, no sentido maiar de Tonia, Procura-se a felicidade dosaber, atravésdo sofrimento. Assim concebida, a Ironia instaura o Diilogo (dialético), funda uma dindmica na sucessio de episddios ¢, conseqiientemente, o Provisdrio, espaco natural da condigao humana e do curso da historia. Nao ¢ esse 0 tecido da vida? A conquista definitiva, em latitude e profundidade, a obtencao da pleri tude € aquisicio contriria 4 ex-isténcia no sentido heideggeriano Paradoxalmente vida e morte se fundem pois 0 curso hist6rico se faz.na seqiiéncia de rejeigies. Cada opgio contém uma rentincia. Dai dizer ‘Miguel Unamuno: *Viver € dar-Se, perpetuat-se, e perpetuar-se e dar-se € morrer™. E alributo humano poder deslocar-se, pela cognigio € afetividade, para o passado e para o futuro: sua riqueza e miséria. No Pretérito se aliverca 0 porvir. Todo passo € iconoclasta ao rejeitar 0 anterior como concludente. E ruptura. E, mortifero, por esta razao. hé opgdo sem rentincia, Entao, s6 a futuridade & humana Auto da compadecida, de Ariano Suassuna, assume este posicionamen- to, re-presenta esta cosmovisio. Joao Grilo, personagem tecelio da pega, vive no Provisorio. Sua ambigdo se limita } garantia do minuto nascituro, A reserva dele € 0 tino rapido, ligado a inteligéncia vivissima, ao bom humor constante, além de sua consciéncia de superioridade, estimulo 55 para a defesa de cada agora, Traz os movimentos de dangarino ou de herobata, de migico ou de domador da tragigidade humana, de velhas feras, a risada final, como diz Juarez Batista Com toda a sua riqueza, com esta singular estrutura, que faz dele um anti-herdi herGico, © personagem Joao Grilo € apenas um componente da ironia de Auto da Compadecida, texto no bojo do qual se encontra a cada passo a angistia, como insisténeia para se realizar o supremo apelo (que faz.o Ser ser humano. A Dor, filha natural da ironia, nfo fala apenas a humanidade de cada humano coma convidado, als, convocado, para rmorar sempre fora sem deixar de estar dentro. Ela é a historia enquanto tal, o brasileiro, o nordestino, este momento irdnico pelo qual passames. Em nome da felicidade, vemos e viveros nesta her barril de pélvora, A violéncia caracteriza a convivenk si e dos componentes de cada uma, enquanto grupos e f individuos estio em crise com seus companheitos ¢ mesmo consigo proprios. Mostram os psicélogos e psiquiatras, com dados estatisticos, 0 iniimero crescente de desajustados e neursticos, doenga oriunda de um desenvolvimento ripido a ponto de nio haver tempo para o amadureci- mento das opcdes. Quanto mais conquistamos otempoe oespago, menos, tempo e espago temas. E que eriamos as necessidades antes das conquis. tas. Karen Homey da como fonte destes contlitos intemnos 0 querer sem restrig6es, num circulo vicioso de modo a precisar conquistar para satisfagio dos desejos que nunca sio atendides e querem ser satisfeites antes das possibidades ” ‘Atinge-se entio uma ultrapassagem do provisério como leito do rio do ‘curso hist6rico, ameagando chegar ao oposto pois violencia ¢ sindnimo de estagnagio, conseqiiéncia do radicalismo. ‘Auto da Compadecida se torna um texto cada vez mais atual na medida ‘em que oferece estas dolorosas € irdnicas mazelas do chamado espirito de modernidade. I irdnico ver a Ironia ironizando a si mesma ao fechar por abrir demais: a Dor, como conseqiiéncia do Riso. A alegriade riqueza da mulher do Padeito gera a Dor do pobre: ~.. Bife passado na manteiga para o cachorro € fome para Joio Grilo. E demais! E Chics &” um miserdvel que nio tem nada.” (A.C., p.38) O sofrimento interior é maior por sua percussio na eternidade, E de cada um desses momentos de angiistia resulta algum aprendizado para os personagens. Conseqientemente para o leitor ou platéia. Nem 0 celes- tiais Suassuna os exime de Dor. Deus nio esta tranguilo pois se alonga no eriado, Um momento hi em que Manuel fala assim “...eu sou homem e sou Deus”. (A.C.p. 165). A analise superficial de um ctistio poder vera absurdidade e até sacrilégio, insoléncia de Auto da Compadecida No entanto a Biblia a cada paso mostra Deus angustiado. Veja-se este momento do Génesis: “E, tocado de intima dor de coragio, disse: Exterminarei da face da terra o homem que criei /../ porque me pesa d 0s ter feito..." ( Gén., 6, 6-8). “Deus/... safre em nds” diz Unamuno. Em varias falas se vé 0 Cristo emocianado no texto em questo. Mais humana ainda é a Compadecida. Ela participa intensamente das finsias dos réus, como advogada de defesa: “... comegam com medo, coitados, e terminam por fazer o que nao presta, quase, quase sem querer.” (A.C,, p. 175). Observe-se a carga emotiva da palavra “coita- 56 dos”. Em outro movimento ela pat quem assiste a um jogo de Futebol: (AC, p. 187). Os representantes do Inferno exteriorizam um desespero sem saida, no mais alto grau. Eles tém ddio de si mesmos, entre si € de todos com os guais tenhiam de conviver, inclusive do Cristo ¢ da Compadecida. No entanto foram anjos de luz. A acusagao aos réus € rancorosa e de costas. Extrema dor, intensificada por seu cariter de eternidade. O chefe deles, 6 Encourado, € ainda objeto de irrisio. a Compadecida o chama de mascarado, Severino diz que ele niotem mae eo Cristo o faz de palhaco. Joao Grilo ni the di sossego. Aproveita todas as ocasides para o ferir © a0 final ele ainda se arrasta para sob os pés de Maria. O inferno ni tem portas de sada segundo a ideologia do texto. E Dante Alighieri no século XX com sua terificante sentenga que tagto impressionow a Kdade Média: Lasciati ogni speranza, voi ch’entrate pada lutade Joo Griloquase como estou aqui torcendo por vocé. Ainda sio nossos dias um rosirio de clausuras, ameagadas, embora, com fa implosiio da ditadura russa. Deuses do saber, senhores de sistemas herméticas, tentam manter o século amarrado, como Prometeu no Cae caso, Tao iuto-suficientes que tém ja respostas prontas, decisivas para toda e qualquer questio. Repondem pelo céu e pelo inferno, pelas cincias e pelas artes. S6 nao tem coragem de explicar ai mesmos. Para isto teriam de se pir no tribunal, se deixar julgar. Deiticadas pelo proprio orgulho, sio os Encourados do Auto da Compadecida. Apresentam-se de costas, armados até os dentes, contra, Nao Suportam a luz dialigica Freqiientemente vencem pela imposigio, embora no convengam. Se 0 erro thes queima o rosto,... mesmo em se tratando do “sbvio ululante”, culpados. A historia éque se desviou, O império destas clausuras 8, religiosas, moraise tantas, que de politica, religiao, moralidade nada tém, € de si passageiro. Estd morto ji, como 0 Encourado. Seu Imperadores sioi assassinos de si mesmos, tentam reprimir, sufocar a ex-isténcia e o conseguem, por tempo variado, segundo a intensidade da rerpressio, até a lava da liberdade retomar seu caminho. Viver felizes no nivel do Parecer, embora corroidos no nivel do Ser. Tém eles uma paz neutitica. Estapretensiio do espirito esconde uma ansiedade profi da, diz Domenach * E uma tentativa de permanéncia de Riso, da solugio de todos os poblemas e, em conseqiéncia do desbarate da Dor, Mas s cconsegue apenas uma farsa, como og, consumidores de trangiilizantes ‘ou aquele beberrio de Le petit prince ” que bebe para se esquecer de que bebeu O ser humano no cahe em clausuras. Enclausuri-lo € castrar-lhe © que 6 ele possui, o vigor da via(gem). Por isso € que, por maiores que sejam as forgas cogscitivas sobre ele, ld dentro continua lavrandoa “... tremenda batalla...” 'Y em forma de forga ce ada a, mais cedo ou mais tarde, aflorar de familia manter absoluta ordem no lar, exigindo dos fi subserviencia. Ou para o politico a submissio de seu pova. E ficil aos dignitirios da igeeja ser-lhes prestada obedincia cega. “Nao chamei, masse Vos ima diz.que eu chamei é porque sabe mais do {que eu”, diz o Padre a0 Senhor Bispo de Auto da Compadecida (A.C., p.77) 7 Chics passa pelo texto livre da dor da morte e das finsias do julgamento no além. Sua fonte de dores é a dependéncia de Joiio Grilo. Em uma de suas falas diz. nfo ter coragem de continuar a conviver com tantas atrapalhagéies armadas por seu companheiro. Analisa-se (Conhece-te a ti mesmo) e otha de frente sua fraqueza: “Eu sou homem mas sou frouxo.” (A.C. 0.80). "Quanto mais forte a pessoa ficar, taqto menos ela se sentir ameacada pelas outras” escreve Karen Homey". No angulo posto, quanto mais fraca, mais ameagada. Chics chega a se eliminar, quando Joio Grilo morre: “Que € que eu fag no mundo sem Jodo? . p._134). Nao pode, porém ser visto como um homosexual passive. Os dois representam a dupla folelirica sertaneja, Sob este Angulo eles sio faces do mesmo. ‘Auto da Compadecida poe no paleo um grupo de canathas cuja dor resulta em grande parte da pobreza de seus cnracteres. E irdnico este componente pois se constitu de personagens que, por natureza, deve= riam ser magninimos: 0 Padre, o Bispo. Num sentido maior ainda ai se vé a fronia porque a énfase 4 deturpagio de cariter de cada um faz a platéin refletir ¢ o texto atinge um de seus objetivos: mostrar que a nstituigdes podem ser boas enquanto tals, seus membros, porém, sto fracos por natureza, pelo fato de serem humans. A pega moraliza € seu autor concretiza suas intengdes de moralista. A Dor destes personagens, nos niveis bioldgicoe psiquico, advém do natural desconcerto do mundo, do pavor da morte e da afligio durante o julgamento no qual o deménio Encourado as acusa sem piedade, Pe. Jodo € um religioso venal. Benze 6 cachorro por ser do podleroso Antinie Morais, Da mulher do Paceiro nijo benzeria, Os momentos de Dor desse personagem so freqiientes a0 longo de sua trajetsria. © proprio Antonio Morais quase © ameaga de morte, julga-o louco ¢ 0 denuncia ao Bispo. A mulher do padeiro 0 poe em apuros ao dizer que vai demitir omarido de Presidente da Inmandad que nao vai mais eustear obras da Tgreja, nem Ihe mandar pio e leite, que nao pode benzer o cachorta dela. Quase perde seus direitos sacer- dotais, os Cangaceiros lhe roubam o dinheito do testamento © ainda © matam. O momento mais difieil ainda esta por vi: o julgamento, com as acusnies do Dinho. ‘A chegada do Deménio desencadeia a afligio em todos: no Bispo, no Padre, no Padeiro e Mulher, nox Cangaceiros. Apenas com uma deter- minagio de Cristo pode Joao Grito pararde tremer. O proceso € longo, ‘com graves acusacdes 2 cada um, chegande Mantel a dizer que nunca havia visto tanta coisa ruim rucunida(A.C.,p. 156). Se nessa falao Cristo nio exagerou, © século XX se torn entio um dos mais pecadores histéria, na ideologia do texto. Com aponderagio de Manuel de a situagio estar ruim para todos, os que ainda conseguem falar, como Bispo, Padre e « mulher do Padeir ‘expressam uma infinita afligo. Eles sio conduzidos a extrema humilhi go de porem suas esperancas em Joao Grilo, aquele miserivel amarelo, A quem nenhum deles dava qualquer valor durante a vida terrena, No pobre operirio e nos aprimidos, a solugia dos problemas dos patrdes opressores Através de Jodo Grilo acompadecida entra na pega. Ele € aespinha dorsal da obra. E, por uma série de marcas, encarna com louver o poo nordestino. Masé também oencontro do telurismo com auniversalidade, 58 por representar a condigio humana em seu sentido ontolégico e, como ‘transmarino, oriundo de uma linguegem de histérica tradi¢éo, da novela picaresca iberica, florescente na Espanha nos séculos XVI e XVIL A profissio de eriado faz do Piearo um vagabundo, Ihe possibilita surpreender 4 intimidade dos nobres e a conseqiiente deniincia do que hi de falso ede eriticavel. A novela picaresca tem na sétira, e conseqientemente na Ironia, seu cariter fundamental. Reflete com crueza a sociedade explorando-the suas misérias pequenas e suas cicatrizes morais. O Picaro se vinga de sua despraga ao desvelar a realidade ridicula dos que o massacram com aparéneia de grandeza. Joao Grilo exerce exatamente esta fungio na pega. Ele abre ao leitor ¢ espectador as portas para o mundo intimo do sal, Padeiro © Mulher, do Sacristio, do Padre, do Bispo, dos Canga- ceitos, do Inferno e até do Céu pois mesmo o Cristo, de certo modo ele © espeta. Sé vive em paz mesmo com Nossa Senhora, sua advogada Noentanto, o que mais impressiona em Joao Grilo, ésua propriedade de estar sempre fora ¢ nunca sair de dentro, Uma necessidade incontida de viver no nova, assim como o cagador perdido na floresta que poe © pé na cladeira no momento mesmo de abrir © mato. A vida se The faz ema uma seqiiéncia de inesperado, uma ventura de aventuras. E nao € esta a concepgio do Ser, o priprio Dasein do pensamento moderno? I Dasein com 0 qual os humanos se poem na zona de abertura do Ser & 0 fundamento do Diailogo, ¢, portant, a Lronia em Auto da Compadecida com certos processos alguns dos quais merecem registro, A rigidez mecénica € um deles. O personagem a encarna se comportando como um boneco de pau. Perde a flexibilidade, o mistério da vida e mostra a humanidade menos humana a proporcio que se escraviza, se submete ao chamado progresso, Por exemplo, apés a morte de todos, havendo necessidade de mudanga do cenirio, Chie6, por ordem do Palhago, vai acordando a todos para ajudarem. Quem estava morto, pergunia ele. Eu..., Eu... Eu... Vio respondendo. Tetminado o trabalho, todos morrem. de novo, cada um em seu lugar, exceto Joao Grilo que prefere morrer mais longe do Sacristo (A.C, p. 135) A chegada do Bispo (A.C., p 72-73) também € muito significativa na analise da Ironia, Mediocre e profundamente presungoso, faz um gesto Soberano ordenando ao palhago se erga da respeitosa curvatura, Inclina- Ia segunda vez t se levanta com novo gesto do dignitirio. Meca rando chapéu e palets num cabide imaginario e os vai sequiéncia, Abre largamente os bragos para sua Excia. ima, recebendo como resposta um gesto de desprezo. Bis- pos, Padres € catdlicos Fanticos, como leitores ou expectadores, mos- trardoum riso doido, quando nao fecham o livro ou se retiram da platéia. A rigidez mental € outra forma de manifestagio da Ironia. A mecdnica diz respeito aos movimentos fisicos. Esta se refere aos mecanismos da cognigio ¢ da afetividade. Claro & que as duas dimensGes nio sio compartimentos estanques pelo fato mesmo de a pessoa ser uma subs- tancia indivisa, Chics tem idéia fixa em contar historias. Contar, para ele, € ponto de partida e de portamento. o ato de narrar € nele mesmo, importando pouico se se trata do razoavel ou de absurdidade. Por isso 59) io se explica 0 ¢ um cavalo, do peixe pirarucu. Se se Ihe pede um esclarecimento, responde com naturalidade: +... nio sei, $6 sei que foi assim.” (A.C., p. 26). Jofo Grilo diz ser louco por uma embrulhada (A.C., p. 39). Observe-se o termo “louco”. Tem uma espécie de psicose pela futuridade. Viver Ihe significa inventar a vida € assim consegue rejeitar 0 presente, Antonio Houaiss fala dele ‘como sendo “... no fundo, o homem do povo, o proletirio, o explorado, ‘entretanto com forgas para compreender sua condigio ¢ rebelar-se a seu modo contra esta condigio... " Representante do bom brasileiro, ele conta piadas, diz, palavrdo e assim vai engnnando a fome. Poe sobre a dor de cada agora um invélucro de tiso. Mais que ironia: Irrisio. ‘A Mulher do Padeiro tem idéia fixa em dinheito e bicho (A.C, p. 39). ‘Aos cachorros trata com carne passada na manteiga e deixa os emprega~ dos com fome, mesmo quando doentes (A.C., p. 39). Os dignitérios da Igreja a0 invés de abrirem os caminhos do e& a0s figis, cuidam de seu bem- estar no mundo, Aplicam as normas eclesiisticas segundo as circunstincias. O Bispo cita 0 direito candnico para provar © erro dos, funerais do cachorro, em latim, justiticando-o, porém, com a mesma lei, pds saber do testamento no qual também & agraciado, ‘A ruptura dialégica no desencontso dos discursos é um dos altos momen tos de ironia no texto em questo, pelo fato mesmo de a Historia ter seu fundamento no Didlogo. Estancado o curso histérico perdem os humanos, 6 seu atributo essencial de caminheitos. Cada pe no seu universo de significagdes. O eneontro de Ant6nio Morais com 0 Padre € mareado por um desenconiro de discursos e, portanto, por um conflito radical. Enquanto © primeiro pensa na doenga do filho, 0 segundo fala de eachorro e pergunta se 6 bichinho ji esta fedendo, se tem rabugem, se a doenca comegou pelo ribo e se retere a mie dele, a cachorra, Esse qiiproqus faz. 0 Riso eclodir na platéia mas no palco a tensio € forte € do chogue resulta a Dor, Dois humanos entre 05 qua medeia a palavea euja func&o seria unir. Ela é de fato 0 mais inocente € (© mais perigoso de todos os dons. Casti gat ridendo mores. provisério o habitat natural da condigio humana. a seqUéncia de episddios que o constituem se tece de fracassos e de vit6rias, de Risos € de Dores: esséncia da Ironia. "Tudo o que € provig fio, tudo aque é meio de outra coisa exala ja uma espécie de ironia” "” , esereveu Vladimir Jankélévitch, na obra L*Iranig. Riso e Dor nioestio em posigies ‘contririas mas complementares. Quanto maior €a Dor, maior éa alegria deelimina-la. E também muito mais intenso o sofrimento sucedineo dos grandes prazeres. Nao se trata, portanto, de uma sucessio de embates de Forgas radicalmente contririas. A tese tem no seu bojo algo da antitese € vice-versa. Do choque resulta © curto em que ambas se jeimam como a semente langada ao chao € destruida pela terra mae a m de se inradiar uma nova manha. Na fronia nio hi imposicio para deposi¢ao da parte contratia, mas uma proposi ; Esta diatetica 6 a enérgcia do curso historial do Ser. Auto da Compade- cida a0 apresentar tudo no eterno Provissrio assume © personifica a Ironia como dinamo da vida, NOTAS. 1 = PROOVANT, H & CASTAGNOLA, L. (1964) p. 59. 2 ~ HEIDEGGER, M. (1969), P. 72. 3 ~ UNAMUNO, H (1967), p. 105. 4 = BATISTA, J. G. (1972), p. 16. 5 - HORNEY, K. (1966) p. 34. 6 ~ UNAMUNO, M (1967), P. 109. 7 = ALIGHTERT, D. (1958) p. 19. 8 - DOMENACH, J. M. (1967) p. 279. 9 ~ SAINT-EKUPERY, A (1946) p. 44-45. 10 ~ HORNEY, K. (1966) p. 26. n TBIDEM, p. 199. 12 = HOUAISS, A. (1957). 13 - gaNKELEvrTcH, V. (1964) p. 83. BIBLTOGRAFIA 1 ~ ALIGHERI, Dante. A Divina conédia. séo Paulo, Edigraf, 1958 2 - BATISTA, Juarez da Gama. 0 Barroco @ 0 maravilhoso no ramoance de Jorge Amado. Jo&o Pessoa, Instituto Central de Letras, Univ. Fed da Paraiba, 1972. 3 ~ DOMENACH, Jean Marie. Le retour du tragique. Paris, Seuil, 1967. 4 = HORNEY, Karen. Nossos conflitos interiores. Rio de Janeiro, Civilizagio Brasileira, 1966. 61 5 - HEIDEGGER Martin. Que & metafisica ? So Paulo, Duas cidades, 1969. 6 - HOUAISS, Anténio. auto da Compadecida, Diario Carioca, Rio de Janeiro, 24 nov. 1957. 7 = gaNKELEVITCH, Vladimir. 5/Ironie. Paris, Flanmarion, sea. 8 - PANDOVANI, Humberto & CASTAGNOLA, Luis. Histéria da Filosofia. Séo Pulo Melhoramentos, 1964 9 - SAINT-EXUPERY, Antoine de. Le petit prince. Paris, Gallimard, 1946. 10 - SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida, Ric de Janeiro. agir, 1980. 11 - UNAMUNO, Miguel. Del Sentimento trégico de la vida. Madrid, Espasa Calpe, 1967. 62

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