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AS COMUNICACOES eS MODERNA de Margarida Sob Cail Autores Margarida Sobral Neto Joaquim Ramos de Carvalho {Ana Isabel Sampaio Ribeiro ‘Ana Cristina Aragjo José Pedro Paiva Maria Anténia Lopes Fernando Taveira da Fonseca Coordenago de MARGARIDA SOBRAL NETO 9 45 16 16 18 20 24 26 2 28 35 46 a? 49 52 55 56 58 68 7 738 at 8s 89 Lt 12 13 14 1s 16 1? 18 aa 22 23 24 25 26 2 Rene = — ASCOMUNICACOES “MepagNMDADE MODERNA Apresenta Os correios na Idade Moderna Margarida Sobral Neto Aestruturacao dos servicos de correio sob administracao dos correios- mores Qs documentos fundadores Aextensao da rede postal durante 0 dominio filipino Oregimento de 1644: a organizagao das comunicagdes nos inicios da guerra da Restauragao Acriagao do correio ordindrio das cartas do mar Aintegragio do Algarve na rede do correio ordinario Apreparaco dos servicos de correio para a Guerra de Sucessao de Espanha ‘As comunicagdes postais com a Europa Olhares criticos sobre os servicos do correio ordinario: “a morosidade e lentidao” dos correios portugueses Os correios em finais do Antigo Regime. Aorganizacao de um servico puiblico rentavel para a Fazenda Régia O papel de D. Rodrigo de Sousa Coutinho ‘Aestrutura administrativa dos correios O funcionamento dos servigos postais Os portes das cartas, O correio maritima Amala-posta Trés séculos de servigas postais: um balango Arede dos correios na segunda metade do século XVIII Joaquim Ramos de Carvalho, {As correspondéncias terra-correio no Portugal Sacro-Profano Os Roteiros de Joao de Castro Arede dos correios: distribuigao dos pontos de recolha e expedicao Relagao entre os Correios e os Roteiros OS CORREIOS NA IDADE MODERNA . indice 9? 98 100 119 120 125 132 147 148 160 art 177 178 187 213 215 224 226 233 243 247 2st 253 2s9 |. A correspondéncia: regras epistolares e praticas d Os correios-mores do reino. Perfil e trajectos sociais Ana sabe! Ribeiro Dos primeiros correios-mores & nomeacdo de Luis Gomes Elvas Coronel da Mata 0 percurso social da familia Mata crita Ana Cristina Araujo 1. “Acarta consta de letras mas nao é profissao de letrados” 2. Usos da carta: modelos de comunicacao e regras epistolares: 3. O culto da correspondéncia: escrita, assinatura, selo e sobrescrito v. As comunicagdes no ambito da Igreja e da Inquisigao. José Fedo Paiva 1. Os bispos e as dioceses 2. O Tribunal do Santo Oficio da Inquisi¢ao 3. Acomunicagao com Roma ML As comunicagies nas misericérdias vars Annia Lopes 1. As miseric6rdias, pélos de uma densa rede de comunicacées vil oo Epene Correspondéncia expedida pelas misericdrdias de Lisboa e do Porto Comunicagdes institucionais: a universidade de Coimbra Fernando vera da Fonseca Um pélo de circulagao humana Atransmiss’o de um paradigma: 0 cbnteido e o método Dois pélos de autoridade em constante comunicagao Uma rede multipolar: 0 financiamento e a gestao econémica Acirculagao de influéncias: 0 papel dos colégios seculares Concluindo Glossério Bibliografia Origem das ilustragdes desta obra IV. A CORRESPONDENCIA: REGRAS EPISTOLARES E PRATICAS DE ESCRITA erento Ana Cristina Araujo Acorrespondéncia: regras epistolares e praticas de escrita FUNDAGAO PORTUGUESA DAS COMUNICACOES, LISBOA 2005 “Nao ha cousa mais commua, que o escrever cartas; e com tudo nao he cou- ‘sa commua o sabellas compor(.. quentemente he precizo o communicarem-se por meyo de Cartas, com os tanto os ignorantes, como os sabios fre- ausentes” t 1. “A CARTA CONSTA DE LETRAS MAS NAO E PROFISSAO DE LETRADOS” 2 lemento chave no proceso de comunicagao a distancia, a carta exerce o poder magico de tor- nar presente pela escrita a voz ausente da palavra. E “um papel escrito a pessoa ausente”, assim a define, singelamente, Rafael Bluteau no Vocabulario Latino e Portugués (1712). Ou, ainda, “é ud mensageira fiel que interpreta 0 nosso nimo aos ausentes” 3, conforme preci- ssa Francisco Rodrigues Lobo, 0 primeiro autor portugués modemo a discorrer sobre o valor so- cial do trato epistologrAfico. Objecto de pequeno formato, normalizado pela medida padrdo de uma dobra de papel, a car- ta guarda e transporta o pensar eo sentir de quem a escreve ou dita. Manifesta¢ao Unica de per- sonalidade, vontade, sensibilidade e inteligéncia, a carta particular, em especial, perpetua, atra- vés da ordem gréfica, a solene inscri¢ao de uma presenca viva, perceptivel tanto na plenitude dda sua autografia alfabética, como, na auséncia dela, na marca ou sinal mercenario, feito a ro- ‘80, que cunha e autentica, de outro modo, a sua autoria, Maledvel, desdobravel e perecive, fi- ta de papel — material de suporte acessivel e de facil manuseamento, cujo consumo se vulga- riza nos tempos modernos —, a sua leveza fisica suporta a carregada inscri¢ao da escrita, man- cha escura, por vezes de uma tinta de noz de galha, sobre palia folha de tons claros. Instrumento privilegiado de interlocucao, a carta, feita para percorrer pequenas e grandes distancias, cria a possibilidade retérica de elaborago da auséncia, inspiradora de sentimentos, por vezes, contraditérios e dificeis de exprimir. Uma das raras ocasiées em que o nao dito da carta se confunde com a propria motivacao subjectiva de quem escreve é, talvez, este passo de uma missiva de Luis de Camées, enviada do Oriente a um amigo no Reino, em que o poeta confessa: “Depois que dessa terra parti, como quem o fazia para 0 outro mundo, mandei enfor- cara quantas esperancas dera de comer até entao” s, Para iludir 0 esquecimento e temperara meméria, estabelece os termos futuros da relaco epistolar que pretende firmar como mesmo correspondente: “por que outras naus me nao facam tamanha ofensa, como ¢ fazerem-me sus- peitar que vos nao lembro, determinei de vos obrigar agora com esta; na qual pouco mais ou me- nos vereis o que quero me escrevais dessa terra, Em pago da qual, de antemao vos pago com 120, / ACORRI ‘SPONDENCIA: REG cine Sigtade (Figura 23. Carta aut6grafa de Agostinho Jodo Ferreira ao St Joaquim Belirdo, novas desta’ s. Inde- ‘com dobras convencionais respectivo sobrescrito no verso da missiva pendentemente da distancia que a missiva percorre, assinalada pela data ¢ local em que ¢ redigida, a expectativa ‘que rodeia a chegada do correio ¢ outro aspecto importante salientado pelo poeta, quando es- reve: “Desejei tanto ua [carta] vossa, que cuido que pola muito desejar a nao vi Meio de aproximacao de gente apartada, a carta delimita um espaco de relagao que nasce do simples gesto de por em comum, ou seja, do acto de communicare. A sua eficacia comuni- cativa tem a ver com 0 “concerto e policia das palavras” r, como se dizia no século XVII. 0 seu efeito mais comum prende-se com o movimento de ida e de volta da mensagem, movi- mento sem 0 qual nae faria sentido falar em correspondéncia, usando 0 substantivo, Eo seu alar- ‘gamento a quase todos os estratos sociais, remete, em parte, para a utilizagao da linguagem nas sociedades mademas. Cada vez mais permeavel a fala corrente —"as palavras da carta hao- -de ser vulgares (...] no modo que todos entendam’ #, recomenda Rodrigues Lobo —, a relagao ra epistolar esta, contudo, sujeita a um conjunto complexo de preceitos e a um modus operandi demasiado técnico e ritualizado. Em termos formais, a carta privada distingue-se do bilhete, galicismo vulgarizado no século XVIl para designar um pequeno pedaco de papel contendo um recado, um aviso ou uma infor- ago muito breve, podendo apresentar-se dobrado ou atado, chamando-se, neste caso, bilhete com né, ou seja, secreto. Tais escritos de pouca prosa eram, por vezes, a melhor forma de ocul- tar razdes, como insinua D. Francisco Manuel de Melo neste fragmento de um bilhete: que te- ‘nho para vos dizer o menos é 0 melhor folhas de papel, porque ndo tem nada de folha, ou porque nao tem medida, vés nao recebereis visto que a vontade e o respeito se no medem por descontentamento de que vos escreva assi quem nao tem agora mais papel que este” 9. Ao contrario do bilhete, a carta deve ter um protocolo ajustado ao contetido da mensa- gem, estatuto do remetente e posi¢ao do destinatério. A sua feitura requer, portanto, dispo- sig apropriada de letras e linhas, sabia gestdo de espacos em branco e margens de papel, nomeagao conveniente do correspondente, composigao da mensagem, por partes ou se- gundo uma ordem prépria, sinal ou selo de autenticaco, marca de segredo, elaboracao do sobrescrito e expedi¢ao. Com tais requisitos, os procedimentos que caracterizam e formatam a pratica epistolar pri- vada e/ou oficial vulgarizam-se na época moderna. So objecto de compendiacao sistematica @ partir do século XVI, dando origem aos chamadbs secretérios, que fornecem conselhos e mo- delos de cartas para todas as ocasides e tipos de correspondentes. Os Secretérios, como ana- lisaremos mais adiante, apresentam-se entao como obras uteis, providas de copiosas instru- des, regras e missivas, devidamente classificadas. A estas acrescentam-se, por vezes, didlo- g0s, trocas de amabilidades e cumprimentos retirados de manuais de civilidade. A maior parte das cartas, curtas e impessoais,coligidas pelos Secretdrios podiam ser reproduzidas e apropriadas por um amplo leque de leitores. Mais do que apresentarem receitas, estes guias praticos de re dacgao epistolar ensinavam, também, 0 estilo, o sentido e a conveniéncia da escrita entre cor- respondentes privados, cuja posigao social era reciprocamente reconhecida. A voga de tais vros, prolixos, repetitivos e destinados a todas as camadas sociais escolarizadas ou, pelo me- nos, alfabetizadas, inscreve-se no contexto mais amplo de difusao da cultura escrita: com os ‘seus modos € 0s seus usos, 05 seus instrumentos ¢ instituigdes, as suas referencias ideol6gi- cas e formas de imposi¢ao social Como jé foi salientado, no funcionamento das instituigdes ligadas ao Estado e a Igreja, 0 re- curso a peti¢ao e o despacho através de missivas de chancela oficial comprovam bem a pre- ponderncia que a comunicagao epistolar teve, internamente, na agilizacao de procedimentos 122 IV, A CORRESPONDENCIA: REGRAS EPISTOLARES E PRATICAS DE ESCRITA . burocratico-legais, no exercicio controlado de poderes e na estruturacao de hierarquias. Entre particulares, a correspondéncia troca-se, preferencialmente, em meio escolar e em cir- culos restritos de individuos alfabetizados. Mas os beneficios da escrita epistolar fazem-se também sentir em miiltiplos aspectos da vida quotidiana, especialmente nas grandes cidades, em sectores mais ou menos familiarizados com a cultura escrita 10. Para os redactores inabeis, desprovidos de técnica, treino e competéncia ortografica que, portanto, escrevem mal, 6 valida a assercao de Rodrigues Lobo de que “a carta consta de letras ‘mas nao é profissao de letrados” 11, Para os analfabetos 0 inverso também é verdadeiro, dado {que s6 podiam aceder aquele instrumento de comunica¢ao confiando em letrados ou em pro- fissionais da escrita, a quem ditavam ou encomendavam missivas de diferentes estilos e formatos, a troco de remunerago. Em Lisboa, os escrivaes e amanuenses que montavam banca no Pelourinho Velho es- creviam a rogo e cobravam os seus servicos & linha, como observava, chistosamente, em 1572, Francisco Morais. De la partiam “as melhores [cartas] do mundo", diz 0 mesmo autor que fala Fui ao Pelourinho velho, e fez-m’as Burgos 0 pequenino, que, crede, le- por experiéncia prépri vaas lampas a todos. Pela primeira the dei cinco reaes, depois me fez outra por dez, que leva- ‘va ja mil magoas; quando veio a de vintem, houvereis jé dé de mim, escrita de uma banda e da outra com tinta mais negra que um azeviche” 12. E provavel que o mercado da escrita a peca — que nos alvores do século XVIl absorvia j4, naquele local da cidade de Lisboa, doze escrivaes de cartas 13 ~ se tenha organizado, em mol- des semelhantes, noutros centros urbanos do Reino. Em Coimbra, 0 rol das sisas de 1617 iden- tifica na freguesia de Santiago 1 escrivao e 1 escrevente; em Santa Cruz 4 escrivaes e 2 es- creventes; em Santa Justa 4 escrivaese 1 subescrevente; em S. Bartolomeu 3 escrivaes ¢ 2 es- creventes; na Sé 5 escrivaes e 2 escreventes; e em S. Jodo de Almedina 2 escrivaes, No total, aparecem arrolados 19 escrivaes, 7 escreventes e 1 subescrevente 1s, Distinguidos, talvez, pe- la sua competéncia técnica, estes agentes, uma vez reconhecidos e nomeados, reuniam as con- digdes necessarias para agilizar a oferta de servicos remunerados, de natureza escrituréria, & populagao da cidade, De resto, nao era necessério possuir grande destreza gréfica para escrever cartas, como 0 comprova, entre outros exemplos, a missiva interceptada e confiada a umn comissério da Inquisi¢ao, redigida e enviada por uma mulher a seu marido, De seu nome Helena da Costa, casada com um alfaiate de Guimaraes, domiciliado, ao tempo, em Alcacer do Sal, identificado e surpreendido em situagdo de bigamia, A carta desta mulher pobre e desamparada é a viltima de uma copiosa série de outras, anteriormente expedidas por diferentes correios. Foi apreendida em 1654, quando um mercador de pano de linho apareceu na feira de Alcdcer com a incumbéncia de a en- tregarao destinatério, que, entretanto, fugira para Lisboa. Suplicando resposta, Helena confessa: “Muito fistiei oubir novas bosas que tam desconsolada vibo e sen novas vosas muito mais ma- ginando que bos esquesias de min e da bosa filha pois bos tenho escritas catroze cartas todas remetidas a Setuvel a caza de Maria Ribeira adonde me mandaste dizer" 1s. Em longo arrazoa do de grafia irregular, enumera dificuldades, relata peripécias de vida, dé noticias da terra, en- via recados da familia e dos amigos, formula pedidos e termina salientando a natureza autégrafa do texto que compusera: bos fis esta carta que me bai muito mal ja a muito tempo". Presa a ideia de um casamento mantido por correspondéncia, esta mulher mantém-se fiel a0 marido quan- do afirma: “nao aja falta que me nao escrevais todos os correos e percurai as minhas cartas desta vosa molherllena da Costa" 16. Este caso, cuja singularidade reside no caracter feminino da escrita e na destreza do seu manejo, remete para um universo mais amplo de correspondentes escassamente alfabetiza- dos. A semelhanca do que acontece com outras instituigdes do Antigo Regime, os arquivos da Inquisigao guardam provas eloquentes de deficiente aptidiio escrituraria por parte de individuos que se sentem abrigados a pegar na pena por razdes diversas: por necessidade de comunica- 40 com o exterior, er desespero, com o intuito de formalizar uma acusa¢ao, para avisar e pre- venir outros acusados, e, também, por dever de oficio. Neste ultimo grupo encontra-se, por ‘exemplo, um familiar do Santo Oficio de Beja que apresenta uma caligrafia rude, escreve como fala e dé erros ortograficos em todas as linhas, como esta passagem de uma dentincia por si enviada ao tribunal de distrito de Evora comprova: “Como cudito de vossas emlutirsmas e cirs- 80 que soi dei comta a vosas emlutirsmas dos dazaforos que em huma caza deste tremo se cometem, que ¢30 bastamtes pera esta cidade ser hum garde castigo neste termo na ferge: iia de (0 Brircos mora um Bertolameu Bam por alcunha o rabo a costas 0 qual hei certo ndo vive como cirstao mas amtes parese cer ylegem e como tal vive dis pubirquamente que vive com 0 diabo" 17, Marginal a matéria deste papel mas nao a estrutura da missiva é a maneira como nomeia 105 inquisidores. Reserva-Ihes uma forma de tratamento excepcional, propria de altas dignida- des religiosas, Em contrapartida, usa uma linguagem rude com acenos de excessiva submis ‘so, Revela, portanto, um enorme desconhecimento das regras de comércio epistolar, cuja con- veniéncia e contetido sao objecto de tratamento obrigatério em manuais préprios, de civilida- de e boas maneiras, publicados em Portugal, ao longo dos séculos XVll e XVII. Paralelamente a esta literatura de elite, a cultura postal logra ainda alcancar, como se sabe, tratamento auténo- moem livros especificos, de caracter pratico, intitulados Secretérios. 124 IV, ACORRESPONDENCIA: REGRAS EPISTOLARES E PRATICAS DE ESCRITA . 2. USOS DA CARTA: MODELOS DE COMUNICAGAO E REGRAS EPISTOLARES Atroca de sinais e mensagens escritas, tal como a conversa¢ao, sao terreno fértil para a apli- cacao de preceitos que visam incutir respeito, amenidade, clareza e correc¢ao nos gestos € : ‘nas palavras que modelam a comunicagao. Neste campo, os manuais de civilidade esto pa- ra 0s comportamentos sociais como as gramaticas esto para os falantes da lingua 18. Sal- vaguardam a norma e apontam para um modelo ideal, nem sempre seguido e respeitado, mas que funciona como orientagao e como meta para aqueles que querem agir correctamente € singrar na sociedade. Participam de um sistema coerente e unitario de valores, de matriz cris- 18, esistematizam, tomando como referéncia ofigurino dulico, preceitos adequados a momentos e situacdes particulares, ilustrando, assim, condutas, expressdes e aparéncias socialmen- te valorizadas. Enfim, ensinam a respeitar diferengas de estatuto social, afastam o imprevi- sivel, alargam o jago da dissimulacao til e proveitosa, respondem a anseios de promocao cu- rial das elites e tornam incontestadas certas condutas sociais. Favorecendo a aquisigao de formas de agir e 0 treino de competéncias dteis, os manuais de civilidade contribuem para impor aquilo a que Bourdieu chamou a ideologia do gosto natural, a qual, segundo o mesmo autor, “naturaliza as diferencas reais, convertendo em diferencas de natureza, as diferencas nos modos de aquisi¢ao da cultura” 19, No amago desta metamorfose, 0 trato epistolar,respeitando o espirito da civlidade, favorece a emulaco e 0 controlo reciproco de comportamentos, salvaguarda a posicao de quem escre- individuos de idéntico ou diferente vee fa a a troca de pareceres, sentimentos e juizos d estatuto, Percebe-se assim que a Corte na Aldeia, de Francisco Radrigues Lobo, dedique dois ca- : pitulos introdutdrios ao tema. 0 dialogo Il, “Da policia e estilo das cartas missivas”, versa sobre a origem do termo carta, suas formalidades, elementos constituintes e usos. 0 dialogo Ill, “Da maneira de escrever e da diferenga das cartas missivas", apresenta uma tipologia de car- tas, fornece orientagdes para a redacco dos varios estilos de missivas, com exemplos de al- guns géneros. Distingue ainda cartas de negécios, cartas a amigos e cartas de governo ou de Estado. No epistolario comum, insiste-se que o objectivo consiste em agradar, seguindo a sim- plicidade e o justo meio. Deste principio basico deriva a arte do Secretdirio, conjuga¢ao racional de prudéncia e eloquéncia, qualidades fundamentais a todo e qualquer cortesao. De facto, os manuais de correspondéncia e as compilagdes epistologréficas mais significativas do século XVII — as Cartas dos Grandes do Mundo coligidas, em 1612, por Francisco Rodrigues Lobo e que se conservaram manuscritas 20 e as Cartas Familiares de D. Francisco Manuel de Melo, editadas, pela primeira vez, em Roma, no ano de 1664, quando o autor se encontrava 125 a cumprir uma missao diplomstica -, espelham a pauta da eloquéncia cortesd e reflectem bem calcance do deslocamento sofrido pela oratéria moderna, Deslocamento que comeca por con- vocar 0 local em que se pronuncia o discurso e se avaliam os dotes de quem o profere, que dei- xa de ser exclusivamente a corte, os tribunais eo pilpito e se expande ao academismo erudi- 10, a0s gabinetes de privados, de letrados e aos saldes curiais e mundanos a. Esta expansao dos espacos reservados as praticas do discurso implicou a partilha de autoridade oratéria por ‘um maior numero.de doutos e galantes, responsaveis pela fortuna do estilo epiditico, préprio das cartas de recomendagao, de louvor e agradecimento e de outras formas sui generis de cumprimentos 22 Neste contexto, percebe-se que 0s formalismos da cvilidade, instituindo lugares de salvaguarda, de distancia e de familiaridade, tenham sido apropriados e reproduzidos pela correspondéncia e tenham até servido de mote e de cartao de visita a apresentaco que D. Francisco Manuel de Melo faz das suas Cartas Familiares, sugestivamente inseridas no universo cortesao com estas palavras: “Senhores: Assi como pede a cortesia que saiamos a receber & porta de nossas casas, com algua cortés demostracao a nossos héspedes, manda a urbanidade que, com algua adver- téncia, vamos a encontrar os nossos leitores ao principio de nossos livros” 23. Com o alvorecer da modernidade, as técnicas de comunicagao epistolare a demonstracao dos usos sociais da ret6rica passaram a constituir motivo especifico de estudo e de aplicacao, dando lugar ao aparecimento de obras especializadas sobre o assunto. 0 longo processo de cons- tituigdo de uma preceptiva exclusiva da es: evolui com o prosaismo circuncoloquial da ars dictaminis medieval e, no que toca as modernas, formulagdes do género, é largamente tributério da tradi¢ao humanista do Renascimento 24. Um dos textos matriciais da nova epistolografia, Opus de conscribendis epistolis (1499) de de cartas tem origem na ars rethorica antiga, Erasmo, discorre sobre a funcao e as qualidades de estilo do colloquium (sermo) entre amigos ausentes, Na mesma linha, os mais famosos manuais italianos dos século XVI, com destaque para a pistolica institutio (1591] de Justo Lipsio, equiparam a carta a uma oratio pedestris € concebem-na como instrumento de comunicagao sucedaneo da conversa¢ao, com proprie- dades de estilo e modelos de exposi¢do consentaneos com a brevitas, a perspicuitas, a simplicitas, a venustas e a decentia 25. No século XVI, com a expansiio do Humanismo por toda a Europa, aepistolografia triunfaerea- firma sua vocagao de género adequado a comunicagao escrita circuncoloquial: breve, clara eele- gante. Na época, as obras de retorica e de teorizacao literaria, as modernas compilagdes de car- tase 0s guias praticos de arte epistolar contribufram para actualizar a preceptiva epistolografica. Aescala peninsular merecem destaque 0 De conscribendis epistolis (Basileia, 1536) de Juan Luis 126 Primeiro de Lisb ee i de Ehido , oC (Figura 24. Frontispicio da primeira edigao do Seeretdrio Portuguer Vives, objectode dezoito edicdes no decurso do século, o Manual de escribientes, de Antonio Torquemads, dado ao prelo em mea: dos de Quinhentos, e as Epistolas familiares (Valladolid, 1542), de Fr. Anténio de Guevara. Estas obras, a par de recolhas antolégicas classicas, nao deixaram de ser, no todo ou em parte, ‘motivo de inspiragao e fonte de informagao, nomeadamente para Francisco Rodrigues Lobo D. Francisco Manuel de Melo, we Até a publicacao tardia, em 1745, do Secretdrio Portugués compendiosamente instrul- do no modo de escrever cartas, de Francisco José Freire 26, circularam também em Portu- gal: a Arte de cartas missivas, de Manuel Tesauro, impressa em Valéncia, em 1696 27; ell Segretario principiante ed instruido, de Isidoro Nardi zs. A par destes dois titulos eram igualmente conhecidos e consultados: Le Sectraire de la Cour (1631), de Jean Puget de La Serre e, entre outros, Le Secrétaire & la Mode ou Methode facile d’écrire selon le temps di- verses Lettres de Compliment, Amoureuses ou Morales (1651), do mesmo autor 29.0 sucesso do género é atestado pelas sucessivas recompilacdes das obras de Puget de La Serre e pe- lo aparecimento de novos titulos como Le Secrétaire du cabinet (1653) e Le Nouveau secrétaire de fa cour (1714) 30. Tem portanto fundamento a afirmagao que Anténio Luts de Azevedo profere na dedicatéria A Academia dos Generosos e Aos Discretos relativamente & superioridade das cartas de 0. Francisco Manuel de Melo, que, diz, se encarregara de coligir: * Vi muitos volumes de Cartas que escreveram os antigos e modernos, assi latinos, como italianos e espanhéis e franceses Confesso que nenhumas me pareceram melhores. E mais creo que me nao engano, deve ser porque de todas tem o melhor” st. Oascendente exercido em Portugal, coro em Espanha, pela tradi¢ao epistolografica italia- na — de Justo Lipsio a Isidoro Nardi — articula-se com a visdo protocolar da vida social inspira da em Il Libro del Cortegiano (ou abreviadamente Il Cortegiano), de B. Castiglione, I! Galateo, de Giovani Della Casa e em La Civil Conversatione, de Steffano Guazzo 32. Na verdade, aarte de sa ber viver em sociedade, aprimorada na conversago e na linguagem, espelha-se, exemplar- ‘mente, no engenhoso jogo da troca epistolar. No século XVI, apontam-se como exemplos a se- guiras compilagbes manuscritas, que circulavam em cépia, de titulares, membros da Academia Real da Hist6ria e figuras da corte de D. Jo80V, nomeadamente do marques de Alegrete, Manuel da Silva Teles, do conde da Ericeira, D. Francisco Xavier de Menezes, do conde de Assumar, do marqués de Frontera, do marqués de Abrantes, do conde de Tarouca, do marqués de Valenga, D. Francisco de Portugal e de D. Francisco de Sousa, senhor de Calhariz 33. Paralelamente, com 0 objectivo de corrigir os vicios mais comuns da correspondéncia es- crita: demora, prolixidade, aspereza e ignorancia, 0 Secretério Portuguez recomenda: segredo, erudicao, generalidade, reflexdo e eloquéncia. 0 primeiro atributo garante a privacidade da co- munica¢ao; 0 segundo responde ao tipo ideal de correspondente; a generalidade tem a ver com o.uso da palavra e 0s artificios do discurso: “0 falar natural louva-se, e agrada: o que he oculta- mente artificioso nao se vitupére, se o negécio o pede, e se ndo degenera em escuridade” 24. Na linha do estilo “claro, breve, sentencioso e préprio, sem afeite, nem rodeos, nem metaforas” 35, 128 IV, A CORRESPONDENCIA: REGRAS EPISTOLARES E PRATICAS DE ESCRITA. generaliza-se 0 entendimento de que “o modo com que se escreve é um pouco mais apurado do que com que se fala” 2. A logica da escrita subordina-se, contudo, ao alinhamento prévio da carta e este depende da percep¢ao social dos sujeitos que sustentam a relacdo epistolar. Para conformar 0 contetido e 0 estilo da missiva a compreensao e a posi¢o social do destina- tario, o sujeito que escreve sabe que para um correspondente de “inferior condicao, ou de pou- ca capacidade, deve usar termos mais naturaes, para 0 contheudo se Ihe faca perceptivel. Com os amigos (sendo houver outro motivo) deve ser liberal de palavras, de discurso, ede ex- presses afectuosas. As pessoas illustres e de grande predicamento, pelos seus empregos de- ve escrever succintamente, e com estylo respeitoso (...). Se as pessoas forem sabias, usard de erudicao, e de hum estylo escrupulosamente castigado (...) deve também reflectir muito nos estilos, nos tratamentos, nos termos e nas consequéncias, que podem ter as Cartas, para que nao vao offender, nem dellas nas¢o algumas differengas” 37. Quanto ao contetido, e de acordo com os preceitos da retérica, 0 Secretério Portugués dis- tingue tres géneros de composi¢ao epistolar: demonstrativo, judicial e deliberativo, No primei- ro, incluias cartas de agradecimento, oferecimento, louvor e aviso. No segundo, as epistolas de justificagao, queixa ou desculpa. Por fim, reserva 0 estilo deliberativo para as cartas de pésa- mes, recomendagao, consola¢ao, exortagao e conselho, entre outras. Tendo em conta o carac- ter pragmatico da troca epistolar, Francisco José Freire apresenta, para todos estes tipos de cartas, exemplos de redaccao susceptiveis de serem reproduzidos, Sem a mesma profusao de textos adaptaveis, a Arte de Retdrica (1750) de Manuel Pacheco de Sampaio Valadares porme- noriza, com mais mindicia do que fizera Francisco José Freire, 0s aspectos tedricos dos varios tipos de missivas 38. Contemporaneo destes autores, Luis Anténio Verney dedica as cartas |e VI do Verdadeiro Método de Estudar (1746) ao estudo da lingua, as regras do discurso e ao exercicio pratico da correspondéncia, Na sua metodologia de ensino gramatical, a valorizacao do texto epistolar com- preende-se como meio de vulgarizacao do bem escrever. Recapitulando o estado da arte, sal- vaguarda 0 contributo do padre Ant6nio Vieira enaltecendo as suas “cartas mais faceis", ou se- ja, "as que nao degeneram em sermao”. Critica “os tratamentos e 0 modo de escrever a diver- ‘sas pessoas” que via praticar em Portugal e, contra algumas evidéncias em contrério, sustenta ‘nao existirem em Portugal, livros sobre “urbanidade e cerimonial” que ensinem “como escre- vem os Reis e os Grandes entre si, e as pessoas de diferentes hierarquias mais inferiores; como os inferiores escrevem a toda a sorte de pessoas de maior esfera, tanto secular, como eclesidstica, etc.; apontam-se os sobrescritos, e pdem-se algumas cartas para exemplo: Isto ensina a todos e impede o fazer erros. Mas em Portugal, é desconhecido este método” 28. 129 | Figura 25, Carta da viscondessa de Mesquitela para seu filho Francisco Contrariando tipos de tra- da Costa de Sousa de Macedo, Lisboa, 1 de Agosto de 1809 tamento inadequados e modos de redac¢ao afectados, Verney defende um estilo simples paraas composigées familiares € uma escrita grave, precisa, contida e sem omamentos para as cartas de negécio. ‘Até meados do século XVIll, a manualistica epistolar portuguesa ndo explorou a via da es- pecializagao e foi até parca em conselhos e instrugdes para certos tipos de missivas. Apesar de serem correntes, as cartas amorosas, de galanteria e de negocio nao constavam, por exem- plo, do elenco dos modelos prontos a usar, inseridos nas primeiras edigées do Secretaria Portugués, 0 guia pratico, por exceléncia, do género. Acarta amorosa, de matiz lterdria, ndo se confunde, em absoluto, com a natureza atipica e anarrativa de outras sugestivamente compiladas por Secretdrios estrangeiros dos séculos XVII ‘eXVIll que, como atras frisémos, também tinham leitores em Portugal. Em Franca, os Secreté- rios dedicam 15% a 50% das suas paginas a correspondéncia do coracao, Com 0 tempo, os mo- delos de escrita “cor-de-rosa” modernizam-se e, em termos autorais, ganham uma forte ex- pressividade feminina 1. Em Lettres amoureuses et morales des beaux esprits de ce temps “80 IV. A CORRESPONDENCIA: REGRAS EPISTOLARES E PRATICAS DE ESCRITA . (1622) de Rosset, 12% de cartas amorosas sao atribu(das a mulheres; em Le Secrétaire de la Cour ou a maniére d’écrire selon le temps ( 1631] de Jean Puget de La Serre, 22%; em Lettres de toutes sortes de sujets ( 1690] de Vaumoriére (1690), 40%; no Sécretaire de ce temps (1709) a percentagem sobe para 45% 41. Acompanhando a evoluco das convengdes sociais, “a carta de galanteria faz a sua apari¢ao nos Secretdrios em 1684 ao lado da carta de amor. Um pouco mais tarde, Vaumoriére distingue as ‘cartas galantes e divertidas’ das ‘cartas ternas e apaixo- nadas' (1690), e, um quarto de século depois, as cartas de amor e de galanteria desaparecem dos Secretérios nao especializados” 42. Antes de aparecerem codificadas em Franca, ja em 1664, 0. Francisco Manuel de Melo in- corpora nas suas Cartas Familiares algumas missivas alusivas a pratica da galanteria dando, assim, dimensao literdria a comportamentos e linguagens de corte, socialmente reconhecidos. Dirigindo-se a cortesdos, mantidos no anonimato, tanto discorre sobre os irresistiveis encan- 10s e perigos da galanteria, como evoca, a pretexto de situacdes concretas, os jogos de sedu- ‘¢80 desenrolados na presenca de uma dama #3. Com o comércio passa-se, exactamente, o inverso. As cartas comerciais, comuns a qualquer empresa e indispensdveis, desde os alvores do capitalismo, ao funcionamento do mercado, tardam em aparecer em letra de forma para uso corrente, Desprezando 0 influente e dinamico correio mercantil que animava a capital portuguesa, em meados do século XVIII, Francisco José Freire, por preconceito, faz tbua rasa da carta comercial endo a integra, em versao de for- muldrio, nas primeiras edigdes do Secretdrio Portugués. A obra sofreu, a0 longo do século XVIII e primeira metade do século XIX, intimeras impressdes, varios acrescentos e adaptacies. Pela primeira vez, a edi¢0 rolandiana de 177? apresenta trés suplementos relativos & teoria e pré: tica do comércio e um tratado de cémbios, que continuardo a ser reimpressos até, pelo menos, finais da centtria de Setecentos. Os tempos eram outros. Rompendo com a tradi¢ao peninsular de relativa subalternizagao da literatura mercantil de cunho pratico, um pouco antes, em 1758, Joo Baptista Bonavie da a estampa o Mercador Exacto nos seus livros de contas, ou methods facil para qualquer merca- dor, € outros arrumarem as suas contas com alguma clareza, obra que ensina nogdes de con- tabilidade e calculo e que incute jé a necessidade da escritura¢ao, ordena¢ao e classificagao do escritério mercantil s, No ano seguinte, comecava a funcionar, em Lisboa, a Aula do Comércio, uma das primeiras instituicdes do género criadas na Europa 4s. Acompanhando a instrugao for- mal dos homens de negécio, 0 papel conferido ao correio ¢ lateral & Arte e Dicionario do Comer- cio e economia portuguesa (1784), mas torna-se mais evidente na Escola Mercantil (1803) de Manuel de Luis Veigg inspirada no Parfait négociant, de Jacques Savary «6, 131 Se a literatura mercantil, destinada a ter sucesso, contempla, agora, de forma explicita, os aspectos formais da comunicagao de homens de negécios, nacionais e estrangeiros, também (os novos manuais de civilidade ndo descuram as formalidades necessarias ao bo uso da cor- respondéncia, qualquer que ela seja. £ 0 caso do Perfeito pedagogo ou arte de educar a moci- dade, em que se dao as regras da policia e urbanidade christé, conforme os costumes de Por- tugal (1782) da autoria de Jo30 Rosado de Vila Lobos e Vasconcelos e, especialmente, da Escola de polltica ou tractado pratico da civilidade portugueza { 1785] de D. Jodo de Nossa Senhora da Porta Siqueira que, incorporando alguns tiques claramente burgueses, aborda, em capitulo es- pecifico, a composicao e caracterizagao da epistolografia corrente, fornecendo também mode- los modernizados de cartas. 0 texto explora, ainda, os navos aspectos praticos da correspon déncia postal. Na linha da tradig&o do cerimonial epistolografico, aténica das diferengas hierarquicas iva pelo contetido, objecto, fungi e qua- entre correspondentes persiste, distinguindo-se a mi lidade do destinatério 42. “Escrever duas palavras com juizo (...) considerando quem escreve e a quem escreve; em que circunstancia’ 39, eis, parafraseando Verney, a filosofia elementar, em finais de século, da comunicagao escrita a distancia. Com base em enunciados de outra natureza, a ocupagao das linhas a gestdo dos espacos em branco da folha de papel merecem tratamento especial, 0 50: brescrito ¢ analisado & lupa e as marcas de autenticidade da mensagem concitam recomenda- ges nao menos abundantes. 3. 0 CULTO DA CORRESPONDENCIA: ESCRITA, ASSINATURA, SELO E SOBRESCRITO formula de endereco com que abre a missiva assinala 0 grau de proximidade ou, por oposi¢ao, a distancia que caracteriza a relagao epistolar. Ai podem encontrar-se expressdes como estas: “Meu pai e meu senhor muito do meu Cofacao" «9, “Meus filhos do meu coragao” so, "Meu irmao”, “Meu sobrinho” si -comummente utilizadas, no século XVIll no seio familiar —e “Senhor”, “Senhor Nosso”, “Ex* Senhor’, “Ex.”* Senhora’, "Il." Senhor Nosso’, “V. Senhora’, "Minha Senhora’, “Rev.” ou outras formas de tratamento igual mente convencionais que Francisco José Freire, em abono da determinacao régia de 1739, transcreve, em apéndice, no Secretdrio Portugués se. Mesmo em privado, as formas de tratamento s6 deixavam de parecer postigas se nao fos: ‘sem aplicadas com propriedade. Por isso, as tentativas de apropriagao indevida, feridas de fal- tade credibilidade, so afastadas e no decurso do texto da missiva apenas Se reiteram as mo- dalidades de nomeaco usadas ab initio, Apesar de todas as prevencdes, Luis Anténio Verney 132 IV. A CORRESPONDENCIA: REGRAS EPISTOLARES E PRATICAS DE ESCRITA . apontava a dedo as fatuidades mais comuns em meados do século XVII: “Quanto mais estima: velé este modo de escrever do que aquela ridicula afectacao que as secretarias modernas tem. introduzido de falar por terceiras pessoas com mil expressdes que nada significam (...) chega isto a tal extremo, que, ainda escrevendo em Latim, se escandalizam alguns se os nao racham com &xceléncias e Senhorias” s3. Apesar de tudo, nas missivas familiares vulgariza-se o recurso & 2* pessoa. E entre amigos mantém-se o curial vocé. Normalmente, as primeiras palavras, precedidas ou nao de uma sau- “constante satide e dagao, sao destinadas a formular votos de “completa satide”, “boa sade’ vinturas' sa Atradugo espacial, imediatamente perceptivel, das diferencas que organizam 0 mundo so- cial encontram-se na forma de nomeagao do destinatério, no tratamento e também na dispo- sigdo da mensagem que Ihe € destinada 55. Neste ponto, Rodrigues Lobo regista, com alguma iro as modalidades correntes de arrumago do cabegalho da carta: “da cruz té primeira re gra" ou linha, “ha alguns que the poem os olhos muito juntos com as sobrancelhas, outros que ihe deixam pelo meio uma estrada de coches; e pela desconformidade que ha entre uns e ou: tos, veio a ser regra entre os iguais que fique em branco a quarta parte do papel, que vem a ser no alto primeira dobra, e nailharga um espago razoado que dé lugar 3 mao para tera carta sem cobrir as letras, e para se cortar ou passar chancela sem as ofender” 56. Em abstracto, na época moderna, os dispositivos de ceriménia articulam-se com a gestao dos espacos em branco, nas entrelinhas e & margem. Por questées de natureza pratica, nas mis- sivas comerciais, “feitas a pessoas ocupadas, que se fazer por capitulos e apartados, ou per- ‘guntas sobre matérias dos mesmos negécios, se deixa igual parte do papel para responder & margen [...] e assim fica servindo para duas ua mesma carta. Mas estas nao guardam a regra, nem a cortesia das missivas” 57. Indistintamente, os requisitos de aparato exigiam, no rinimo, “regras direitas, letras jun- | “tas, razées apartadas, papel impo, dobras iguais, chancela subtile selo claro”s8. Com esmero e cui- dado, compunha-se ento o tema ou expunham- -se os motivos da missiva. A rematar 0 corpo da exposicao, apresentam-se saudagdes, com ou Figura 26. Impressio sigllar de sinete do Mosteiro do Desagravo do Lourigal (exclusivamente preenchido com a sigla da Companhia de Jesus) 133 (Figura 22. Sobreserito do processo de inquirig3a de Henrique de Noronha, colegial de S. Pedro da Univer. sidade de Coimbra, ano de 1706 (cosido com linha branca e lacrado com oitopingos de lacre vermelho) sem caugao divina, com ou sem atestagdes de deferéncia, com ou sem declaragdes de humil- dade. A f6rmula “Deus guarde VS. muitos anos” vulgariza-se no epistolério amical dos séculos XVile XVI, Demonstragdes como estas de tio para sobrinha: “afectuoso tio obrigado verdadeiro; 134 Iv, A CORRESPONDENCIA: REGRAS EPISTOLARES E PRATICAS DE ESCRITA. de sobrinho para tio; “sobrinho e criado muito verdadeiro e obrigado” tipificam o trato familiar envolvendo diferentes geracées. Prevalecendo sobre a estrita relagao de dependéncia, 0 res- peito e a honorabilidade ditam o cumprimento final de um procurador para um fidalgo: “de V. S* ‘mais fil amigo e menor criado” ss. Aescrita, feita ao correr da pena, devia Ser legivel, no caso das cartas holégrafas. Quanto as cartas heterdgrafas, compostas a pedido, recomenda-se letra corrida ou de secretario. Nas duas modalidades, as palavras alinhadas e dispostas uniformemente, “com a distingao dos pontos, virgulas é acentos necessérios’, teriam tamanho proporcionado. Um tal preceita visa- va conter a expansio de exoticas morfologias e, sobretudo, prevenir os inconvenientes do uso frequente de “letra mitida e embaragada". Em causa estavam os preconceitos dos cortesaos que, cedendo 4 moda do tempo, ‘para afermosearem a letra e facilitarem melhor os rasgos da pena, vo encandeando as letras como sardinhas da Galiza e de maneira confundem a escritura que nao ha tirar dela o sentido verdadeiro do seu dono"s0, alusao que vale como precoce manifes- taco de resistencia cultural e estética ao enlacado e sinuoso grafismo da chamada escrita encadeada. Para um cortesao discreto, como Rodrigues Lobo, “a carta e a mulher muito enfeitadas, em certo modo eram desonestas” 61. A sua virtude residia na “brevidade sem enfeite, clareza sem rodeios e propriedade sem metforas nem translacdes” sz. Como a clareza estava reser- vada ao pensamento e a brevidade as palavras, a largueza de papel nem sempre queria significar leitura longa. Independentemente das partes da carta, varidveis segundo a precep ica da época 63, a conscriptio nao dispensava uma defini¢ao clara e inequivoca do cardcter do seu autor, o qual, sabendo ler e escrever, devia assinar sem rodeios, pois “o melhor é escrever cada um 0 seu no- me sem mais leitura” 61, Nas missivas autégrafas, o nome ou sinal do signatario ocupava um lugar de destaque na folha de papel. Num exercicio verdadeiramente caricatural, Rodrigues Lobo fornece algumas directrizes sobre os usos e 0s preceitos a observar na colocacao do si- nal ouassinatura: “nem hd-de estar tao junto das letras que pareca s6frego delas, nem no meio do papel como quem escolheu melhor lugar, nem tao apartado que fique ausente das regras, nem tanto na ponta do fim que pareca que se amuou aquele canto; mas com um meio ordinario, ‘como é assinar-se um pouco abaixo das regras, mais inclinado & parte dereita que a esquerda, que é ua certa modéstia e humildade de quem escreve" ss. Redigida em papel impo, com ou sem chancela, dependendo esta da dignidade do p doe da autoridade ou prestigio da secretaria, a carta devia apresentar-se selada 6s. Neste caso, ostentava um selo interno de validagao, aposto ao papel em que se encontrava redigida, reserva- 135, “26 Figura 29, Prmenor do seo da carta de Fr. Timéteo da Conceica a José Joaquim de Miranda, de 24 (?) ‘de Maio de 3262, representando Santo Anténio com o Menino nos bragos doaindividuos iustres, com direito a insignias, a armas e brasao 7, € outro extemno, de seguran- ‘ane sempre idéntico ao anterior, que a echava de forma visivel einequivoca. Este, menos so- lene, por vezes, anepigrafo, era reconhecido no circulo préximo do sigilante e garantia a confi- dencialidade da mensagem. Com um tal aparato exterior, a carta mais parecia uma montra social, pois na “meya folha de papel’, em que se fazia a dobra do fecho, gravava-se sinete “pequeno, se ‘a pessoa fo[sse] superior, mayor alguna cousa se fo( sse) igual, e grande se fo(sse) inferior” «s. Corporizando o ritho Social do correio das classes mais elevadas, autilidade do selo terminava ‘20 chegar ao seu destino, pois tinha que ser quebrado para se lero texto Para prevenir alguma inabilidade na aposigao exterior do selo havia quem advertise: ‘ao abrira carta nao ofenda, que al Figura 28, Carta aut6grafa de Fr. Timéteo da Conceigao a José Joaquim guns a fazem parecer carta ‘de Miranda, de 24 (2) de Maio de 1762, com selo de chapa rota antes de lida’ “0. 137 Usado para validar e autenticar a carta, 0 selo podia ainda ser acompanhado de uma fér- mula de corroboragdo. Esta era sobretudo reservada a comunicacdes solenes. Nos ma¢os de documentos e epistolas do Colégio des, Tomas de Coimbra, encontra-se, por exemplo, uma car- ta selada de Frei Vicente Justiniano, professor geral de Teologia da Ordem dos Pregadores, em que este concede licenca ao reitor do Colégio de S. Tomas para se deslocar a Lisboa ou para en- viar alguém em sua representacao, a fim de tratar de assuntos necessarios a instituicao. Como prova de autenticidade, o signatario afirma solenemente: “In quorum fidem has propria ‘manu subscripsimus offici sigillo munitis’ :. No pélo oposto, encontra-se uma carta autogra- fa, despojada de selo, de um bispo que abdica da sua insignia numa comunicagao puramente informal destinada a um familiar 72. Marca tdctile visual obrigatéria na correspondéncia dos Grandes, o selo torna-se, a partir do século XVI, extensivo a outros sectores da nobreza e a um numero consideravel de dignida- des eclesiasticas, configurando poderes “que se materializavam em imagens simbélicas e cor- pOreas, ora mostrando simbologia herdldica, armas pessoais, familiares ou do préprio Estado, 3. E de tal maneira 0 selo de cha- ora apresentando icones religiosos de ancestral veneragao pa em papel 74 se vulgariza que, em meados de Setecentos, um qualificador do Santo Oficio e examinador das trés ordens militares, faz gala em ostentar, em breve missiva a um religioso, 0 ‘seu selo, cuja moldura oval, em fino rendilhado de papel, embeleza a imagem de Santo Anténio ‘com 0 Menino, gravada em relevo 7s, Aimportancia do selo claro —“assim para olustro da carta como para a guarda dela, pois ¢0.ca- deado que a defende dos curiosos de saber segredos alheios” — encontra-se bem documentada na correspondéncia hol6grafa que Filipe | de Portugal, l de Espanha, drige as suas filhas Isabel Clara Eugenia e Catarina Micaela, nos anos de 1581 e 1583, periodo em que realiza a sua jornada por ter- 125 lusitanas. Este acervo, composto por trinta e duas cartas, manteve-se no espélio que D. Catari- 1a Micaela levou consigo para o Piemonte. As novidades que encerram, o estilo em que estao redi- gldas e o facto de nao havera intengo de preservar a sua meméria na chancelaria régia, abonam em favor do seu caracter familiar privado 75 De Lisboa, entre outras observagdes com interesse, 0 pai-rei manifesta 8s infantas meninas, que ao tempo estavam em Madrid, a sua satisfagao relativamente & noticia de que ambas enten- diam portugues e encoraja-as a ensinarem 0 idioma portugues ao iro D. Diogo, jurado herdeiro da coroa de Portugal nas Cortes de Tomar 77. A par da lingua, outros simbolos identitarios, como 0 selo régio, merecem a sua atengo. Em 3 de Abril de 1581 mimoseia as infantas com um objecto que fara correr alguma tinta: "E porque vi que no tendes selo, envio-vos este que aqui vai, para que com ele possais selar as cartas de minha irma, as da rainha-mae e as minhas, e em lacre jul- 138 IV. A CORRESPONDENCIA: REGRAS EPISTOLARES E PRATICAS DE ESCRITA. {g0 que selaré melhor, a que em papel nao me parece que sele muito bem; mas para mim nao se- leis com lacre, que rasga as cartas, excepto se colocado na parte que se corta, Este é 0 primeiro ‘selo novo em que se puseram as armas de Portugal, como vereis no que vai na caixinha’ 72, Faz portanto acompanhar o selo que envia as infantas de instrugdes muito precisas quanto ao seu ‘modo de utilizagao. Obra talvez de Clemente Virago, o Selo com as armas reais e uma legenda alu- siva 8 soberania dos Habsburgos sobre Portugal, viria a ser ligeiramente aperfeicoado, conforme se lé na missiva enviada pelo monarca as suas filhas, datada de 29 de Janeiro de 1582: Fiz me- Ihorar 0 selo pelo que jé tem mais relevo; nao sei se concordaro comigo, mas jé se lhe no pode fazer mais nada e nao me parece que sele bem ainda melhor do que 0 vosso" 7 Personalizada, circunscritae intima a correspondéncia trocada entre o rei as filhas corria, portanto, selada e lacrada, Mai mento das técnicas de montagem e expedi¢0 do correio era prontamente testada no circulo qualquer novidade que pudesse contribuir para o aperfeicoa- intimo da realeza. Isso mesmo se observa a respeito da utilizaco de laca da india para o lacre branco das cartas, material cuj frieza ou falta de graca é realcada por Filipe que se inclina mais para’a moda dos lacres coloridos e, em especial, dos vermelhos e pretos: “Do lacre que trouxe- ram de ld [india], envio-vos uns pedacos, porque so diferentes do que é costume, e uns de la- cre branco que nunca tinha visto, Selai com ele algumas cartas que me envviardes, para que ve- ja como fica, embora julgue que deve ser coisa fria’ so. Ha ainda um outro aspecto curioso nas respostas do pai-rei as cartas das filhas, De um modo sgeral, as questdes colocadas ou as informacdes trocadas so reportadas a correios anteriores. Existe, portanto,a preocupacio de responder, pessoalmente, a interrogacdes concretas, de satistazer curiosidades frivolase, também, de fornecer dados importantes sobre pessoas da familia real que ‘nao se viam hd muito tempo. Mas, por vezes, a urgéncia da mensagem ea necessidade de nao per- der a oportunidade da sua expedic3o por mensageiro especial deixar antever uma certa desor- ‘ganizacao do arquivo pessoal, como o confirma este passo de uma das uiltimas missivas do rei escritas em Portugal: “Nao posso responder &s vossas cartas porque as meti num escritério ese- ria preciso mexer em muitas coisas para as retirar e t&o-pouco tenho tempo" & Bem concertada, “com dobras iguais" e selada, a missiva estava pronta a ser expedida, ‘Mas, na fase final deste longo processo, havia que nao descurar o dispositivo formal que garantia co seu destino: 0 preenchimento-corracte-da-sobrescricda externa, Desde inicios do século XVII que fazia doutrina a maxima de que ‘o sobrescrito serve de noti cia endo de adulacao"e, devendo portanto ser desprovide de adjectivagées e de referéncias a ti tulos, cargos, honras, etc. Redigido na dobra exterior da carta, em meia folha de papel, a sua fun¢ao era a de dar “noticia vulgar da pessoa a quem se escreve e do lugar aonde Ihe mandam a carta, Bo exprimindo-se nele o nome ea dignidade por onde é mais conhecida, ¢ o lugar aonde naquele tem- poassiste”s, Contra a moda dos “sobrescritos mites e sobejos”, precisa-se que o destinatario de- ve ser “mais conhecida por si que pelas confrontagdes" es. Por outro lado, quando ‘o destinatario é pessoa lustre, a sua dignidade nao consente que se mencione o lugar onde assiste” Contrariando aquela norma, os exageros e as ridicularias que enformam a documentagao postal passam a ser motivo de goz0 e critica em poesias satiricas, coleccdes de ditos, apoteg- mas e factos memordveis manuscritos ou impressos nos séculos XVI e XVII ss. Das Trovas dos dda chancelaria para saberem como 0 aviam de inttolar, enviadas a Anrique de Almeida, comendador de Cristo e vedor do duque de Viseu, insertas no Cancioneiro Geral s, 20 riso irénico de Luis An- t6nio Verney, suscitado pela mania de se assinar o exterior de cartas ditas confidenciais, man- tm-se, quase inalterados, os motivos de chacota sobre grafismos e formas de nomeacao de notadores, destinatarios e sitios. Outro trago de permanéncia se observa no costume, reservado a pessoas publicas € a mis- sivas de cardcter oficial, de se enviar a correspondéncia em duplicado, por correios diferentes, para garantir que as cartas importantes chegassem ao seu destino, independentemente de atra- sos, extravios ou furtos nao atribuiveis a0 portador delas. Estas cartas faziam-se acompanhar, 1nos alvores da modernidade, de uma espécie de guias de viagem, as quais, mais tarde, se ge- neralizaram a outros correios e se deram o nome de partes, em razio do averbamento que as ‘acompanhava e que era escrito nestes termos: Parte 0 correio de...38. Um dos mais antigos do- ‘cumentos postais deste tipo, de que ha noticia, encontra-se no epistolério do cardeal D. Miguel da Silva, embaixador do rei D, Manuel | junto do papa Ledo Xe, portugués ilustre e figura da mais alta distingao em Roma, a quem Baltazar Castiglione dedicou a primeira edicdo, de Il Cortegia- ‘no, Safda da oficina de Aldo Manuzio, em Veneza, no ano de 1528 so, Por coincidéncia, 0 circulo tragado em tomo da carta, objecto de culto e meio de comunicacao cada vez mais sofisticado 1na época moderna, coloca-se, de novo e de forma indirecta, sob a batuta invisivel da civilidade, ele insondé- isto é, sob a avaliagao penetrante e ponderada do outro em sociedade, tao invi vel quanto o era o juizo esperado, na volta do correio, do interlocutor ausente. 140 1. Francisco José Frere, Secretar Portugues, com: ‘pendiosamente instruido no modo de escrever cartas por meyo de huma instruczam preliminar regras dese cretara,formulario de trotamentos, @ hum grande nu- ‘mero de cartas em todas os especies, que tem mais uso, com varias cartas discursivas sobre as obrigarées, virtudes,e vicios do nove secretaro. Escrito, consa- _grado 00 Eminentissima e Reverendissimo Senhor Cor- deal Poteiarca Primero de Lisboa, do Conselho de Es- tado, e Copelléo Mér, Lisboa, na Offcina de Anténio Isidoro da Fonsecs, 1745, p. 1. 2, Francisco Rodrigues Lobo, Corte na Aldea, introdu- 0, notas e fixaglo do texto de José Adriano de Car- ‘valho, Lisboa, Editrial Presenga, 1992, p. 73. 3.Idem,ibidem.p. 89, 4, Cambes, Obras Completas, vol. Il, Lisboa, $4 da Costa, 1946, p. 243, 5. Adem, ibidem, Sobre a importancia da circulagao de ppapeis manuscritosna época modema veja-Se, or to- dos, Femando Bouza, Core manuscit. Una historia cul. tural del sigfo de Oro, Madrid, Marcial Pons, 2001. 6. Idem, ibider, Francisco Rodrigues Lobo, ob cit, p. 74 18 dem ibidem, p94, Sabre as modalidades de aplicagao ‘daquele principio a preceptivaepistolografica veja-se ‘muito itil antologae estudo de Andrée Rocha,A pis tolografia em Portugal, 2* ed, Lisboa, IN-CM, 1985, 9 Francisco Manuel de Melo, Cartas Fomiliaes, pref’ cio notas de Maria da Conceigio Morais Sarmento, Lisboa N-CM, 1981, pp. 133434 10 No passado, famiaridade com a escrita nem sem pre alia a aptidao de letura &capacidade de autogra- fia alfabética, Os mais recentes trabalhos sobre alfa: betizago em Portugal no Antigo Regime térm vindo a revelar, para além deste aspecto, outros tragos cultu: rais do maiorinteresse Vejar-se, especialmente, Fran: cisco Ribeiro da Silva ‘Afabetizag0 no Antigo Regi me, 0 caso do Porta e da suaregido (1580-1850), e- vista da Faculdade de Letrs. Histéri I série, vo. I, Porto, 1986, pp. 101163; idem, "Niveis de alfabetizacio {de ofciais administrativ ejudicias dos concelhos de Refojos de Ria dive eda Maia, na 1*metade do século XVI", in Actas do Coléqui de Histéria locale regional, Sant iso, 1978, pp. 307336, idem, “Oconcelho de Gaia na 1" metade do séc. XV Instituigbes e niveis de al- fabetizaglo dos funciondrios’, Gayo, vol. I, ViaNova de Gaia, 1984, pp, 187-212; Justine Pereira de Magalhaes, Ler e escrever no mundo rural no Antigo Regime. IV. ACORRESPONDENCIA: REGRAS EPISTOLARES E PRATICAS DE ESCRITA . notas Um contributo pare a histéria da afobetizagto e does- coirizagao em Portugal, Braga, Universfade do Minho, 1994; Rta Marquilhas,A Foculdode dos Letras. eit: rae escrit em Portugal no sécuo XV, Lisboa, IN-CM, 2000; Mara Jose Azevedo Santos, Assina quem sobe «le quempode.Letur, tronscrid eestudode um ol ‘de morodies da Casa da Rainha D. Catarina de Austr, Coimbra, Imprensa da Universidade, 2004; AnaCris- tina Aaj, Cam onome na mBo: apraximaggo 30 uni verso dos alfabetizados na cidade de Lisboa (1700- 1830), in A cidade e o campo. Colectnea de estu- dos, CHSC, Coimbra, 2000, p. 267-284, 11. Francisco Rodrigues Lobo ob cit, . 73. 12, Francisco de Morais, Dialogo Il, n bras Lisboa, Biblioteca Portuguesa, 1852, p. 87; 0. Francisco Ma- tel de Melo, Apdlogos Diologos, vo. I, Coimbro, An gelus Nows, 1999p. 25. 13. Nicolau de Olivera Livo das Grandezas de Lisboo (pret. de Francisco Santana] e. fac smiladada 18d, (1620}, Lisboa, Vega, 1981, p.95¥. 14. Anénio de Oliveira, vida econémieae socal de Coimbra de 1557 1640, Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 197, vl, pp. 405-410. 15, Rita Marquihas, A Faculdade dos Letras. Leitura @ escritoem Portugaina século XVI. pp 49-50 pp 268 290; Anténio Mestre Sanchis,"La cata fuente deco rocimientohistrico", Revista de Histéria Moderna ‘Anal de la Universidade de Alicante, n°18 (1999- 2000), pp. 13-26. 16. Idem, idem 1? Idem, ibidem, p. 44 e documento XVI em anexo, pp. 286-288. 18, Ana Lia da Siva Terra, Cortesia e mundanidade. “Manus de civdade em Portuganos séculos xe XV, Coimbra, cissertagio de mestrado apresentada 8 Fa- culdade de Letras, 2000, vol. 1, p. 103 ess. Nesta in- vestigacio sistemstica indicam-se os estudos funda rmentais sobre a evolucio da literatura e do conceito de civldade em Portugale na Europa, Remetendo para a bi- biograia especializada que a autora apresenta,salien- to, porquestBes de enquadramento geralapenasa sin: tesede Jacques Revels préticas da civdsde’ in Abs (€G Duby [ir], Histério da vido privada. Do Renascimento ‘0 século das Luzes, vol. 3, (dit) R. Chartier, traduea0e reviso clentifica de Armando Luis Carvalho Homer, Lisboa, Circulo de Leitores, 1990, pp. 169-208. 19 Pierre Bourdieu, Lo distinction. Critique sociale dy Jugement, Paris, Editions Minuit, 1979, p. 73. 1a 20.As Carts des Grandes do Mundo rantveram se ma- ruscttas até 1934, ano em que foram pacilmente pu- blicadas por Ricardo Jorge. A versio impressa con- templa as cartas de eis, senhores e homens insignes portugueses, por estes expedidas ou recebitas, ex lui a parte dedicada is cartas de prncipes e monar- ‘as europeus. Vide Cortes dos Grandes do Mundo co- ligitas por Francisco Rodrigues Labo (1812) ~Cartos dos res, senhores e homens insignes portugueses twesladades do cAdice de Museu Briténicoeeditados com preféco enotas po Ricardo Jorge, Coimbra, m= prensa da Universidade, 1934 21, Neste aspecto, ¢paradigmstcaa ecolha de Fran cisco Manuel de Melo. 0 seu levantamentoinici-se erm 1634 eestende-se até meados da década de cin- quenta sensivelmenteRessalve-se, todavia, que a.cO- lectanea inclu algumas cartas so datadas. 80a par- te dos seus correspondentes sao lerados ¢ homens ilustees que requentam academiase sales munda ‘os. Por morte de Rui de Moura Teles, a quem prime ramente pensava dedicar a obra ofrece-a a Academia. os Generosos, Nem todas as cartas que 0. Francisca Manuel de Melo reine na edigao de 1654 sto inéditas: seis tinham sido publicadas anterioerente em obras suas ecolectineasalheias. Para alm sso, também pias de cartasinclidas, mais tarde, naedicdoprin- ceps,circularam em versbes manuscritas, Sabre 03s unto veja-see estudo introcutéro de Mara da Con ceigd0 Morais Sarmento 8 edicao ctada. Deve tam bem refers, como salenta Andrée Rocha, que "2 publicagdo de carta familiares, em volume da res- ponsablidade do autor, s6se dé partir deD. FM. de eto, poucas vezes se repeti',Aepstologrfiaem Portugal. .28. 22. M, Furaroli, Lage de I'éloquence. Ahétorique ot “res terri" de la Renaissance au seul de 'époque classique, Paris, Abin Michel, pp. $42:543; e Roger Charter, “Des'secréaires'pour le peuple? Des modé- les épistolaies de Fancien Régime entre litérature de couret livre de colportage’, in Roger Chartier a. {dic}, La Corespondance. Les usoges del etre ou Uke siéce, Pars, Fayard, 199, p. 11. 23. Francisco Manuel de Melo, ob cit, p. St. 24. Vejam-se, portodos, AntdnioCastilo Gomez, "Del tra- tadoalaprética La escrturaepistolarenlossiglos XV! \y XU in Carlos Saez e Anténio Castillo Gémez (ed), LaCorrespondéncia en la Historia. Modelos ypraticas de laescrtaepistolar Vi Congresso Internacional de His- toria de fa Cultura Escrita, vol. 1, Alcala de Henares, Biblioteca Litterae, 2002, pp. 0-107; judith Rice Hen a2 derson, "Erasmus onthe atofletter-wrting’ in James Murphy (ed), Renaissance Eloquence. Studies inthe theory and practice of Renaissance rhetoric, Ber. sley/Los Angles/London, University of California Fess, 1983 e Marc Fumaroi ob. cit 25. Mare Fumarol ab. cit, pp. 152157 25. Francisco Jose Freire, 0 Secretoro Portuguer, com- pendiosamenteinstruidono modo de escrevercartas por meyode huma instruccam preliminar,regra de se- Cretaria,formulario de tratarnentos, eu grande nu- ‘mero de cartas em todas as especies, que tem mais uso, com varias cartas discursivas sobre as obrigagdes, virtudes, evicis do novo secretari. Escrito, econsa- {grado a0 Eminentissimo e Reverendlssimo Senhor Car {deat Patrarca Primeiro de Lisboa, do Conselho de Es- tado, e Copeliéo Mér, Lisboa, na Officina de Anténio Isidoro da Fonseca, 1745, Ao longo do século XV f zeramse, pelo menos, ses reedigdes desta obra: Lis- ‘boa, Officina de Domingos Goncalves, 1746; Lisboa, Offcina de Manuel Rodrigues, 1746; Lisboa, Oficina de Ignacio Nogueira, 1759; Lisboa, Typographia Rolla: diana, 1777; Lisboa, Typographia Rollandiana, 1787; Lisboa, Typographia Rollandiana, 1797, Inocéncio da Silva regista mais duas impresses: uma em 1786, ¢ ‘outa, na vragem do século,em 1801, mas n30 indica cficina nem local de impressao. C.Dicionario Biblio- ‘grophico Portuguez, t. I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1859, p. 406, Note-se que a obra em epigrafe, com metamorfoses varias, continuou a publicarse no séculoXIK, 22.Vde lnventirio da vara extinta Colegio de. To ‘més de Coimbra (ed. Manvel Augusto Rodrigues), Coimbra, Publiear8es do Arquivo da Universidade de Coimbra, 1987p. 6. 28. Due insprou Francisco José Freire como o proprio cconfessa“Um dos melhores authors; e dos maismo: demas he oacademico Arcade lidar Nara, que sigo nesta Instrucgdo Preliminar’, Francisco José Freire, ab. cit, p.2 79.C¢ Tago C.P dos Reis Miranda, "Rarte de escrever carts: paraahistéria da epstolografiaportuguesano ‘éculo XI" n Frezado senhor, prezada Senhora: es- tudos sobre cores, rganizagio Walnice Nogucia Gal Vo, Mada Battlla Got, S80 Paul, Companhia das Le tras, 2000, pp 44-45. 30 Sobre oassunt veja-se, Roger Charter, “Besse crétaires’ pour le peuple? Des madeles épistolires de FAncien Régime ene itérature de court livre de colportage’, in obit, pp. 158-202 31. Francisco Manuel de Melo, ob. cit p. 49. 52 Sobre assunta vejam-se Les tet de savoir -vivreen Espagne et ou Portugal dy Mayen Age a nos {ours (dir. Rose Ourou), Clermont-Ferrand, ASSoCia- tion des Publications dea FLSH, 1995; Ana Lica Si- vaTera Cortese mundandade Manuaisde cide fem Portugal nos séculos XI eX cit; José Adriano de Carvalho, ‘Alera de 1Gooteo de GovanniDeliaCa- 's3.na Peninsula erica amsio de Fras, Grécian Dantisco e Rodrigues Lobo", Revista Ocidente, vol LAK, 1970, pp. 127271; Peter Burke As Fortunas Cortesbo: areceps3e europea a cortesdo de Cost alone tra. de var Hater, Ss Paulo, Editor da Uni- versdade Esta Palisa, 1997, 6 Herald Car valh,"Umtipo terre humana do Baroca:0 Cortes disereta, olen do Biblioteca Gerald Universdede dle Coimbra, vol. XXM, 1964, p. 208-227; Zulia. Santos, Racionaldade de corte esensibiidadebaro- ca: 0s Avisos porao Popo de Luis Abreu de Mel’ Ac- ts do I Cangresso Internacional do Barrco, vo. Port, itr da Universidade, 1991, p, 385-401 38, Francisco José Frere, Prologo a 0 Secretério Por tuguez, Esta indicagao, saida da pena de um gent -homem da casa do cardeal patriarca 0. Tomas de A: ‘meida, mecenas das artes e das letras e figura de pri- meiro plano na corte de D. Jodo V, deve ser tida ern ‘conta, Confirmando a relevancia deste tipo de fonte € validando, em parte, a indicacao feita por Francisco José Freire, veja-se o que escreve Nuno Gongalo Mon twiro sobre a correspondencia remetida, entre 1744 @ 1751, por D. Jodo de Almeida Portugal, conde de Assu: ‘mar, parao Seu pa, 0, Pedro Miguel de Almeida Portu- ‘2. Cf.Meu pai e meu senhor muita do meu cora¢ao. Correspondéncia do conde de Assumar para seu pol, ‘omarqués de Alora, (seleccao, introducaoe notas de Nuno Gongalo Monteiro], Lisboa, ICS/Ouetzal, 2000 Laura de Mello e Souza, "Fragmentas da vida nobre em Portugal setecentista’, in Prezodo senor prezada Se- ‘nhora: estudos sabre cartes, organiza¢ao Walnice No ‘gueira Galvdo, Nédia Battella Gotlib, So Paulo, Com: panhiadas Letras, 2000, pp. 77.88;Apesardestes sig- nifcativos contributes, estd por fazer olevantamento sistemética dos epistoldrios, mesmo incompletos € parcais, destas e de autras figuras ilustradas da nobreza, 3:4 Francisco José Freie, Secretario Portuguez, p.Xl 35, Francisco Manuel de Melo, ob. cit p. 0. 236. Idem, idem 22 Francisco José Frei ‘Secretorio Portuguez,. XIX. “143 IV, ACORRESPONDENCIA: REGRAS EPISTOLARES E PRATICAS DE ESCRITA . notas 33.Anibal Pintode Castro Retérioaeteorizopto teria ‘em Portugal, Coimbra, Centro de Estudos Romanos, 1973; Maria do Céu Fonseca, "Notagdeshistrico-te6- ficas sobre textos epstlares do século XVILAS Cortas Familires de D. Francisco Manuel de Mel’ inCores- pondéncias 1, Lisboa, Edgbes Colibi, 1999, pp. 7182. 38 Luis Antonio Verney, Verdadeiro Método de Estudor, ‘ol. 1,64. de AnténioSalgado Jinior, Lisboa, Sé daCos- 12,1949, pp. 3738. 40. Sobre as cartas amorosas nos secretarios vejam- “se, portodos, Bemard Bray, Lot de lettre amoureuse, es manuels aux romans (1550-1700), Paris, Mou- ton, 1967 e Maurice Daumnas, Manvels épstoaires et identi sociale (XVle-HVllesitces)", Revue dhistoire moderne et contemporain, t. 40.4, Out-Der. 1993, pp. 529-556, ‘4. Maurice Daumas, ternura omorose, séculos XV A, tradug0 Cristina Robalo Cordeiro, Lisbos, 1999, p10? 42. Idem, idem. 42 Atul de exemple, cabem no primeio géner, as missivas 50 e 105. 4 as cartas 563 e S64, ambas inacabadas,s80 consideradascatas de galeria. f Francisco Manuel de Melo, Cartas Forres, pp. 98, 141 538-539, Na época,a arte da galanteria desempenhou um papel importante na ateraglo das maneiras de stare agi dos coresios, estimulandooconvviohe- terossexual em meios palacianos. Em 1670 publica- sea prmeiraobra portuguesa sobre oassunto0. Fan cisco de Portugal Arte de Golanteria. scrivola O. Fran. ‘8c0de Portugal offereide alos damas de plocio por 1. Lucas de Portugal Lisboa, Jodo da Costa 1670. Foi reimpressa na ofcina Craesbeckiana em 1682, Com mais informaglo Ana Laci da Siva Terra, Cortesia@ ‘mundonidade. Manueis de civiidade em Portugol nes séeulos XVI XV, vo. 3, pp. 6265 44. Jorge Perera, 0s homens de negéciode ragade Lsboo. De Portal a0 Vintsmo (1755-1822), ieren- ciogd0,reprodugtoeidenticogde de um grop social, Aissertagio de doutoramento apresentado Faculdade deCiéncas Soca Huaras da Urivesiade Nova Lis- boa, UNL 1995,p. did es. 45, Segundo Francisco Santana, 2000 alunos fe quentaram 3 hula do Comercio, desde asuacriagSo até finais do século VI, mero elevado e superior que te que resulta dovolume de matriculasnaLnivrsida- de de Coimbra, no mesmo periodo; Cf." Aula do Comérci de Lisboa (1758-1844)", Revista Munizial, Lisboa, n° 16. 46, CF. Jorge Pedrera, ob.cit, p. 417 e ss. Acrescente- ‘se queer Portugal sono séculoXIKaparecem os pr- ‘meiros Secretarios comerciais. fm 1860 coriajé a 6 ‘digo, a nica que pudemos compulsar, do Novo Se- cretario Universal Comercial Portugues, cuja primeira edigdo remonta, talver, a principio da centiria, «4 Ana Liiada Siva Tera, Crtesiae mundanidde. Ma- rnucis de cviidade em Portugal nos séculos XVle XVM, vol fp. 11 46, Luis AntGnio Verney, VerdadeiroMétado de Estudor, vol 1, ed. de Antnio Salgado Jinior, Lisboa, Sa daCos- 1a, 1949, 9. 38, 49, Formula de endereco constante da correspondén- cia remetida entre 1244 e175 por 0. Joao de Almeida Portugal, conde de Assumar, para seupai,O. Pedro Mr uel de Almeida Portugal. C. Meu pai e meu senhor ‘muito do meu coragdo,Correspondéncia do conde de ‘Assumar paro seu poi, a marqués de Alorna. so. € assim que abrem duas cartas, muito curiosas, expedidas da india, em 24 de Novembro de 1752, pela rmarquesa de Tavora e drgias a seus fihos, em Lis- boa. Cf. Camilo Castelo Branco, Norcoticos, (3 ed revista prefaciada por Castro Pires de Lima), Porto, Manuel Barreira editor, 1958, pp. 271292 si. Expressdes comuns em cartas eistentes no espolio. cde uma familia de nobreza de provincia, cjalinhagem Principia com José Gouvela Bera Cf. Coleco do- cumental do Professor Doutar Anténio Beltrdo Pola ‘es Baptista (séculos XV-XIX), Catdlogo do Exposicto, Coimbra, Reitoria da Universidade de Coimbra, 2002. 52. Cf. Lufs Lindley Cintra, Sobre formas de tratamen 10s'na ingua portuguesa, 2 ed, Lisboa, Livros Hori zonte, 1986, Luis Antonio Verney, 0b cit. vol.3,p. 281, Sa Maria José Azevedo Santos, “Cartas ndo slo pa pes velhos. Correspondéncia da fai Betra0(1724- 1833}',inColecgdo documental do FrofessorDoutor An ‘no Betrdo Poiaes Baptista (séculos XVIXM], p. 6. 55. Rocher Chartier ob. cit. p. 175. 56. Francisco Rodrigues Lobo, ob cit. 60. 2. Idem, idem s8.ldem, ibe, 59.Vejam-se os respectivos documentos em Maria Jo: sé Azevedo Santos, “Cartas n3o so papéis velhos. Correspondéncia da familia Betrao (1774-1833)" in Coleego documental do Professor CoutorAnténio trio Poiares Baptista (séculos XV-XIK), pp. 67 € 5s 60, Francisco Rodrigues Lobo, ob. cit, p62. 61. Idem,ibidem,p. 91. 652. ldem, ibidem, p90. ‘62, Neste ponto, Rodrigues Lobo aponta para a supe- raglo retérica da ars dictaminis medieval, Baseado ‘n0 modelo das “epistolas” familiares de Cicero, fala ‘as cinco partes da carta: saudag30, exérdio,narragio, petigao e conclusto, ab. cit, p. 91. No século XVI, Francisco José Frere diz que “todas as cartas (reser- vando as de narragdo e descrip¢ao) se dividem em {quatro periodos. No primeiro se narra 0 facto; no se- ‘gundo se roga a que se agradeca, ou respectivamen- te se dio os agradecimentos; no terceiro se offerece © préstimo; ¢ no quarto se desejio felicidades’, 0b. cit, p.2. 64, Francisco Rodrigues Lobo, ob. cit, p. 81. 6. Idem, ibidem. 656, Como destaca Andrée Rocha, eferindo-se a info. ‘macio contida na Misceldnea de Miguel Leitdo, entre 19s costumes introduzidos em Portugal no século XVI, ‘devern mencionar-se: ‘as obreias vermelhas nas car- tas" eo concomitante ‘cercear as cortesias no escre- ver das cartas’,A Epistolografia em Portugal, p. 31. 657 Sobre a importancia do selo de seguranca na cor: respondéncia de 0. Pedro, duque de Coimbra, veja-se Maria José Azevedo Santos, “Na volta do correia. A correspondéncia de D. Pedro, duque de Coimbra (1429-1448)" in Maria Helena da Cruz Coelho (coord, ‘As comunicagBes na Idade Média, Lisboa, Fundagao Portuguesa das Comunicacdes, 2002, p.200. Reflec: tindo sobre a matéria das armas e tengdes com que se costumavam selar as cartas, Rodrigues Lobo pre- csa que: ‘As armas € insignia que cada um tem da sua obreza, conforme ao apelido com que se nomeia, com ossinete delas selar as cartas de importancia", 0b. cit, p.83 68. Francisco José Freire, ob. cit. p. 435. 69, Manual de Siglografia, Madrid, Subditeccién Gene: ral de los Archivos Estatales, 1996, p. 12. 70 Francisco Rodrigues Lobo, ob. cit, p 80. 11. Ana Isabel Coelho Pires da Silva e Sandra Cristina Patricio da Silva, Levantamento sigilogréfico dofundo cdocumental do colégio de Sto Tomés de Coimbra, tra- ‘balho realizado no Ambito da cadeira de Introdugéo 2 Sigilografia e & Codicologia, Coimbra, 2003, p. 69. ‘Agradego ao Doutor Saul AntSnio Gores aindicagaodes- te trabalho, por si orientado. 144 72.Vejoe tua de exemple, cara autégraf do bis- pode Pinhel, 0 Bemardo Bemardin Bolt a seuso- byinho, José Joaquim Lucena Beli, com data de 22 de Fevereiro de 181i Colecgda documentel do Fro- fessor DoutorAntaniaBetrdePoares Baptista (sécu- (os XVLNX),p.72, 72 Sail Anta Gomes, ‘eragd0 de Hermes numa co- lecgio de documentos antigos, in Catélago da Expo- sig documenta! do egado do Prof Doutorlsaies da fsa Perera, Coimbra, Reitora da Universidade de Coimbra, 2000, pp. 303. 740 vaedbulo selo de chapa design, em primeirlu- far, a matra metalica de moressae. Em segundo, e- fere-se 8 sua impressdo em papel. Normalmente, a aposigao ea feta com obreia, uma massa de farina cam esinade coravermlhada.Apunham-se também sels em cera, em metal e em pedra ena modaliiade de pendentes Sobreoassunoveja-se:S. Rice Rober. Henri Gautier (ai), Vacabulaire international de la Si- gilogrephie, Roa, 1930, 75 Catdlago da Exposcdo documental do legac do Prof Doutor isaios da Rosa Persia, doc. N° 45, Coimbra, Reitoria da Universidade de Coimbra, 2000, p. 80. 2. AspecorealgadoporFernanéo Bouraivareznoes- ‘ucointadutér a Cartes para dues infants menines. Portugal na Corespendéncia de Filipe | pore as suas fis (1581-1583), organaacionrodugioenatas de Femando Boura Alvarez, apresenagao de Anténio Ma- uel Hespanba, isbea,CNCDPYO, Quivae, 1998, p. 4. 72 Idem, ibidem,p. 167 5s. IV. A CORRESPONDENCIA: REGRAS EPISTOLARES E PRATICAS DE ESCRITA . notas 22. Idem, ibdem, p. 58. 7a. E acrescenta: “Este ¢ de pedra eesti a fazer ou: ‘tro do mesmo moda mas mais pequen, ob. cit, pp. 123.124, 20, ldem,ibider, . 173. 81. Idem, ibidem, p. 185. 92 Francisco Rodrigues Lobo, ob. cit, p. 73. 3. Idem, idem, p. 78. {84 Ider,ibider,p. 73. 25, Idem, ibidem, p, 78, Um século depois, as regras de ccomposigao do sobrescrto permanecem inalteradas, ‘a avalia pels indicagdes fornecidas por Francisco Jo- 6 Freire, ob cit, p. 435 185, Aeste respeit, vej-se.anota critica de José Aia- ‘no de Carvalho edigio da Corte na Aldea de Francisco Rodrigues Lobo, ob ct, . 78 187 0 Cancionero Geral ~ anota André Rocha ~ apre- ‘Senta catorze trovas, “qual delas mals contundente,con ‘1a 0 pobre Nuno Pereira que, esquecido da formula dos notadores' (Ac mui alto, poderasoe excelente) en- derecera uma carta ‘pera Alteza do Principe nosso Se hor’ (NV, p. 238), Epistlografio|em Portugal, p. 31 88, Godofredo Ferreira, Cartas e carteiros, Lisboa, CT, 1949, p.29, 189, Godofredo Ferreira, ocumento postal do principio do século XV Lisboa, CTT, 1971. 90. Peter Burke, ob cit, p. 54. 145

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