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CIP-Brasil. Catalogacfio-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. NISY 88-0556 Narrativa: ficgfio ¢ hist6ria / Bento Prado JGnior, José Améri- co Pessanha, Luiz Felipe Baéta Neves ¢ outros. — Rio de Janeiro: Imago Ed., 1988. (Colegio Tempo e saber) Textos completos das exposigées, comentérios e res- pectivos debates orais do “Col6quio Narrativa: Fic¢fio e His- t6ria”, realizado de 25 a 27 de novembro de 1987 e promovi- do pelo Setor de Literatura Brasileira do Departamento VI do Instituto de Letras da UERJ, ISBN 85-312-0015-6 1, Narrativa, 2, Literatura — Hist6ria e critica, 3, Lite- ratura — Discursos, conferéncias, I, Prado JGnior, Bento, 1937 ~ IL, Pessanha, José Américo, II, Neves, Luiz Felipe Baéta, IV. Série. CDD - 801,955 809,923 CDU - 82-34 atalogasfo-na-fonte os Editores de Livros, RJ. [Narrative fiegfoehis6ria / Bento Prado J6nior, José Amérie co Pessanha, Luiz Felipe Badta Neves e outros, ~ Rio de Sancro: Imago Ed, 1988, (Coleco Tempo e saber) Textos completos das exposigbes, comentétios e res- pectivos debates orais do “Coléquio Narrativa: Fieg0 © His ‘Gri, realizado de 25 «27 de novembro de 1987 e promovie o pelo Setor de Literatura Brasileira do Departamento VI do Instituto de Letras da UERJ, ISBN 85-312-0015-6 1. Narrative, 2, Literatura ~ Histbria e entica, 3, ~ Discursos, confertacia, I, Prado JGnior, Ben Pessunha, José Américo, I. Neves, Luiz Fel Sétie, Organizagio de Dirce Cértes Riedel NARRATIVA FICCAO HISTORIA (Colegio Tempo e Saber) Diregao de LUIZ FELIPE BABTA NEVES IMAGO EDITORA = Rio de Janeiro ~ Copyright © 1988, Benedito Nunes, José Américo Motta Pessanha, Costa Lima, Luiz Felipe Baéta Neves, Nicolau Sevcenko, Silviano Santign” Bento Prado Jdnior, Horus Vital Bra Lie Eduardo Soares, Francisco Iplésias e José Miguel 0 Cotdauio— UERJ teve apoio da FINEP Direitos adguiridos por IMAGO EDITORA LTDA, Rua Santos Rodrigues, 201-A — Estécio CEP 20250 — Rio de Janeiro — RJ Tels.: 293-1092 — 293-1098 ‘Todos os direitos de reproduc3o e divulgagio sio reservados. ‘Nenhuma parte desta obra poderd ser reproduzida por fotoeépia, microfilme ou outro proceso fotomectinico. Impresso no Brasil Printed in Brazil ‘SUMARIO. NARRATIVA HISTORICA E NARRATIVA Fl Benedito Nunes. COMENTARIO: A NARRATIVA NA FSICANALISE, ENTRE EAFICCAO Bento Prado Jitnior DEBATE EXPOSICAO: CLIO EM QUESTAO:A NARRATIVANA ESCRITA DA HISTORIA Luis Costa Lima COMENTARIO: AS ALMAS DA HIST DEBATE EXPOSICAO: NOPRINCIPIOERA ORITMO: AS RAIZES XAMANICAS COMENTARIO: EXPOSIGAO: _PALAVRA, MITOE HISTORIA NOSE DOS SERMOES DO PADRE ANTONIO VIEIRA Luiz Felipe Baéta Neves. fs DEBATE . EXPOSICAO NO PRINCIPIO ERA O RITMO: AS RAIZES XAMANICAS DA NARRATIVA, ‘Nicolau Sevcenko Meu texto € muito curto e tem uma idéia nica, que procurei exprimir 4 forma bastante coloquial, por isso penso que a estratégia mais conve- picnte serf a da leitura do texto, uma ver que reproduzi-lo oralmente seria Empobrecedor. E assim, ainda poderei reportar-me a alguns comentérios que cevitei colocar por escrito, em busca de maior clare 0 texto procura a questio da Histéria Taiz xarvinica) através de que as cufturas da io na perspectiva da s histéricas, dentro ‘das quais n6s nos reconhecemos, aparecem j6 como planos acabados. Inte~ ssavaeme sobretudo observar um momento anterior que, obviamente, € 0 nomento mais profund® dessa que hoje nos parece ser a histria acabada ldessas formas Uva da manera cono esa revoen wa cnolvnesto que wanscende a prO- Pri combinagdo das plan ov composite do earedo.O lugar de onde a do conjunta e complexa do que seja esse sistema da narrativa. Minha soodagem, poranto, foi tentar esses elementos que, em termos de ‘emporalidade, so infinitamente mais duradouros do que aquilo que conhe- ‘cemos historicamente como a evolugio dos gneros narrativos. = 120- Ml age fala Manoel Cérdova Rion, ue €0 xamd Amabuaca “Oh espfrito todo-poderoso para entendermos cada detalhe da natureza para melhorarmos nossa vida revela os segredos de que n6s precisamos.” Laitman, tém convergido no sentido de as dia do que se supunha até recenteme ‘nhagem dos homingleo ‘que a simplesmente daquelas transformagées que tom: flexfvel e particularmente vulnerdvel limentas ‘de origem, para 0 local da ingestio do ali- portar o alimento, de seu lidade da estocagem. Além disso, nasce @ mento, Cria-se, entio, aide de dseibuirse, netodicanente, 0: OMENIOS EM que sed a rossi oo dn di, semanas, esc © aos. E, na medida em que Sime aa mexiica, 80 implica numa ceria scializacHo, can ines fanaa, por mute tempo, para aliments. A alinentagto ery oo eta mace por questtes de segundo Epa, o ue ra tad ¢aumentascompleniadeoas comniasfes bumanas,E, cream, vis srelao da alimemtagio ¢ do desenvolvimento da fla, ng Potts em oe ela implica em rimo, em metodizasio e em comoniesdo ined Tr cooctusto acrescenta um velar filogsnéco Bs especulasécs da flsofs da lnguagem e i pesquisa dapsone Kleinana sobre o cesend velvineoto eu ‘euon ecoocia ens plas cans, 00s tes prince mesct. ‘vida, No caso dos homin/deos, entretanto, esse importante perfodo pré-lin- {Eten son a ordom de eres oe dot lies de unos, onus cm ‘elerEocia o| Australoptecos)o primeiro associado com a produgio de arte- fatos.! Portanto, aquele que, pela primeira vez, se imagina como tendo sido capaz de elaborar modes e principios simbdlicos de comunicagéo, E dbvio ‘que, se nés perdermos esse preconceito de espécie que $6 considera como ‘nossos iguais, ou nosso aparentados, aqueles que esto dentro da escala dos Pomintsos, esse pefode urna de dis milhdes pare cere de dee wilhdes de anos, considramnos que os Pinatas anteriores também so nossos pe trues, 9 gos o nono preconeio de expec, ns impede de aceite, masque tea mito orglboem fazer ‘© desenvolvienio da linguagem, que se tomou postvel, ent, a pa tir do[iomeerecu] deveria evar una longa la com os sistemas pees 0c ea inelinago cr mals natura, sobretudo pen fry lela da tenéria 0 anblens cull oscameate defi, Mas bd acu prod {8o, avocado a cow perenagem, bastante roveledor de tues inclines: Sit utesflioe de pda, lem de ais complenos do que os do Australopie os, numer un exinordintio pedo de hanmovia. Tatras de ua eran 1a obcecada pela simetria.? J4 possufa as condigées, mas no se sabe se fala- ‘No entano, jf defna suas eagdes com o mun peo itn, A mudanga no palo dos objeos, simultinea a uma nterengée exit, rvela oct cente complexidade na ordenacéo social.? Os padrées, uma vez definidos tender, porn, df por lane, eexablia so longo de centnas de mie thas de noe indcando a falta de uma tna tanafomnadora, quer nea celta quer na toca. Uma acelerasSo s6bia 36 se manifestow por vola de cem mil anos suds, quand um novo period gical enconoy out homnice vapendo pela terra: o Neanderthal, pertencente & linhagem do homo sapiens. Foi um nconvo cheio de conseqitcias, Os igoes do lnvemo pari veacecats -12- nao dose sib pgs tense] obrigaram & sofisticasio das téenicas de sobrevivéncia incidindo em parti- ccular sobre as formas de organizagao da vida social, Datam deste perfodo as primeiras evidéncias de priticas cerimoniais, cultos mortudios, crencas na vida apés a morte © do que jé se pode denominar, formas abstratas Je arte, no sentido de formas de simbolizacio e estilizagio, Nada disso seria possfvet sem_a base de uma linguagem articulada muito desenvolvida. Para além dos ritmos simétricos, a linguagem se liga agora ao mito'e & are eaten Dine tts cna arg Sees es en oa sae alum ania rae pic eae ae scale cao mescnse seomae Paani ceones concapaieare agora Seine: Sootonta in nia pao ia ean we cnn es conor ase ee Nera pani ena ee era Sree ae oe mia nsniala ocean rote rae se laces spleens core _ Fas dics wey Mt wine Pee re ee pane as Fan Co cannes emer cian tec orate geste eo ; eam Sa ae ema ca rae a a 2 ane cab iniocm ey Ce rae omega rotamer ers cB tt cue enue on oy pel oa 2 relacionado com 0 in{cio do paleolfti- os wrens certs pant ocean etn ser en ea en" paleolftico superior de animais, mas um representagio do proprio xama, roprio feiticeiro. Eis sua descrigdo: O xamil de Trois Freres, “feiticiro como € mais -123- ce channdo, aparece pene, ss pofuneras da cavern, logo Soa mmpanta exremanente esis. E una revelago sdbita rer amigo d= eo Pinan Hava na sbbada nem ee ea onde as pesoes Vivi. Pa comers, st esses ect cacqveras Ahir de homes ds cavern € comple. se Csivocadn, Vivian no paar Jt envada, praue, © Hessen mo aoe ca a aur quando fzsem una ogo para Se geste, re Ainitos, Asin, a tnica congo de vids ena entrada ee mario profundemm,ploe wotvonenposox. OWolel& que ity ‘eraser Team ns lgaes mas lngtngos eines es cavern Foci ago tm enum carter decor, e normale 56s hepa‘ ea sto guido por aém que cobecse mut Bem o can anor E' evideme que em asad ant po al oi Wd Se sopra do Catan. som sacbe yor ompleto, alt se OW, ao se Nostos pas ‘Sree pingos das coasts. A tenpertrs 6 pemancnemente est, O trem ou texra © quando leva un fart a mane como el 6 pre Jado m rogordade ds foc jogs sonar coopltamente diferentes de- Goels ques Iu do slo daha poeta, et. De fora qo ods nossa partis smsrl de sere que vem 2 specie da ws Sea cn ue poles abaadeguodo otra mum anbitte em que ela en gis der completamente. E mais ou menos como quem mergulha debaixo d’égua. Sate cee ame eos ce oka ae ley fern in, cndo eure una expecta to nia, Tuo 6 laprtan, pr que eco qu 6 ex aan, gue empce de resid smo cow prteada ober com ee, ois, obviamente, ele € tm aio cro com o fecuronnatues aunn ata tenloga para rover un ecto aanente calla ae pessoas que fons stbmetas Hi Continuando a desericlo: Sua posi riteriosamente estudada para causar 0 méximo efeito de espanto e confusio @ quem o vé pela primeira vez especialmente para olhos que jamais haviam visto “arte” antes. Mas nio é 6, A visio para quem acaba de sair da garganta estreita € parcial. S6 se v8.0 ‘corpo da figura, cujas pernas e tronco parecem humanos. J4 08 bragos so ‘muito curtos ¢ temminados em patas. Apresenta ainda o rabo de um cavalo, 0 pénis de um felino e se encootra numa atitude inclizada para a frente, um de Sequilforio inverossimil, mais préximo da atitude de um quadripede. Mas ‘onde terminam as costas e o peito, na parte frontal, devendo iniiar-se 0 pes- 0¢0, hé como que uma penugem frisada em negro, em que o corpo se acaba, sem a cabosa. A figura parece pois incompleta e praticamente impGe ao ob- servador uma aproximaso maior, um exame mais detalhado, a busca do que {alta. Para isso, s6 hé uma alternativa:rasteja através de umn pequeno tine! ‘natural (pois h uma rocha que impede que se Veja a parte de cima da figura) = 14 em seguida subir, por ua passage lateral . cm seguia subir por ua pasagem Iateal, una paede com inloao. 2 gaia, semi-ocula (poranto a6 alguem que coahecese focal minuciosamente podera ensinar outs pesos — Fazer 10), qual be como fm espralfogreme € da qual, no alto, aes com ‘uma pequena janela por onde se v8, de cto, a cabesa¢ a pane fencatag sami, encarando 0 observador. A cabega sustenta dos cites de ten, creas sio de lobo e o rosto tem uma pengem com jube de ae wn Mas, sem dGvida, o detahamento mas impressionante sao vv elves, oe ts imensas © aredondadas como as de tina con, dslocador seus po fo etrbica diretamentefincadas no observade. Fo! dayola onla es 9 asta xam pitou a cabeca da imagem e 9 dali € posse vere san pos intro, de cima para baixo,ditorcidae agigantaa pela distancia miniou da bservasio. O impacto € toal e manifesta o rau de extul © provsio de efeitos considerados pelo crador, com visas a causar nos conviados (um de cada vez, sempre sozinhos e guiados pela mo dele, como se pode reve) uma impressio de terror. E ele mesmo, o xami, que Id aparece estampado na pedra, agigantado na escala, fragmentado pela topografia e metamorfoseado em méliplos anima ttlares, Vito repentinamente, como que arfando sob © claro oscilante de uma lamparina de Banha no dngulo mais profundo ces. euro das visceras da terra? E falsa ou real? Ou € ainda mais eal do que 0 real? um homem ou um animal? Ou vésos animais? Ou um deus? & sempre indefinvel hetero. ‘xéneo: mamiferos ¢ aves, animais © homem, equlrio e queda, homem © dleus. Sua figura € um liming, una transi, uma passagem esteita Como & sarganta da caverna, que liga 0 profato com o sagrad, o cotiiano com 0 sobrenaturl, 0 presente com o passado € futuro, a vida com a morte. Sua funcio ¢ a de arrasar as pessoas para uma travessa, durante gual elas se desprendem das referécias do dia-ai,e assim, insegurs,asuntadas, com fusas, se entregam 3 sua orientago,vivendo um modo superior, mas cleva- do de expericia, para retorarem depois tansformados pela vrtgem do sagrado, que les fica impresso na memsia pelo resto de sas vida. mais ou menos semelhante ao que se sabe dos princpios de iiciago das religides Srficas, que também faziam templos aprofundados sob a terra, com o chio de lama, em qe certas imagens esculpidas nas paredes Se apre= Sentavam, repentinamente, com chamas de fog, ¢ assim por dant. Poran- {o, 0 principio 6 exalamente o mesno enue ate xaminica © a arte de ii- ciagio rica, Aligs as igrejas catlicas, também um form de grata mito cescura, com efeitos de sombra ¢ luz que se separam do mundo exterior, uma temperatura constante, enfin... experiecia da cavern, ida de tempo € altamente ligada ainda com essa imagem ancestral da gruta, da drea fecha~ ‘da, em que se tem a impressio, a0 mesmo tempo, de ser subterrinea ¢ de es- tar ligada com o céu. =125- nos homens as feigdes indeléveis da identidade som, Através dele, € 86 através dele, 08 homens consigo mesmos e entre si. Alids, a Universi. fe 6 também uma coisa que tem caracte- ‘em particular para quem a viveu, cate 2 sa inc seca ues ee shea como ca, von Jas aes adsl Ss i teeing os hain x dembnios,scima 0s deuses, € fora. 0 nada, O xami é pois um pintor. Es oe gas muluplas ~ complexas fungées ~ das menos importantes, Sear an pita ou produ alguna forma Je arte visual. Mas absoluta- ae sc devem cana, angare contr hisias. Histria traicioni, om oat, etcrashstrias das origens, milo A naraiva do mito 6 sua ner cena, condo dela que dervar tanto & mfsica quanto a coreogra- aa Compania, Iso pogue a tenica mnembeica, para a retngio das monde euges fics, ss d od ose da comunidad 8 um aac ode em padeGes rimicos, condensados em estruturas formulares, aoe cos a fas temp em bed, Jos quai doo pinto rtnico oy Heese NS seadéncies c combinasées decorem naturalmente, variando ‘Runs em funsio do tompo, da expectativa da plata ¢ das cicunstincas seeventan® Nesse contexto, no existe narativa que no seja metrficada, Sob existe recitagSo que nio seja cantada, nfo existe canto que no seja dan- eos nanaiva € una performance integral, desencadeada ecentrada pelo sini ela se toma comunitra; endo coletva, se tora iresstvel. A narra- tive nto € uma exposigio do assunto, & 0 modo supremo da experiéncia da vide, Atavés dla'0 mito se tora roe a cerimSnia, uma suspensio do tem- yi evasto do espagoe liberagdo dos frégeis limites do corpo mortal ¢ ex ‘ute. O fragmentirio se toma uno, o efémero, eterno e o contigencial, re velagio.? ito-cangio-narrativa assim, catalisa, articula¢ redireciona as ener- sia coletivas,atvando como ua espécie de cireuito nervoso social da co- ‘unidade, abastecido pelo largo acervo da heranga cultural e orquestrado ela figura do sand. Nenhuma decisfo fundamental relativa a migragées, 2- f. quer, subsuuigdo de paps © geragSes, evocasio de béngéos divinas on de ferildade, pode se fazer fora da mobilizasio total dese circuito, Para © bem ou para @ mal, paras evfori ou a angtstia, © Conselho adequado, ernativa cera, a vontade divina vem da cangi0. Mas & claro, quando 0 Xam a entos, vor que fui da sua boca, 0 sopro melédico que inspira 0s fnimos excitados, nfo € 0 do ser concret, parimentado © dangant, mis @ se tas cosas a0 fl6sofo, nico capaz de analisf-las pela razho, Esse advento da razio e sua fixacio como Gnica fonte legftims da re= fexio e percepgdo compreensiva do mundo 6, pois, um efeit tardio, parti- ccularmente vinculado 3 crise da Polis no contexto da expansio do comércio exterior das cidades gregas, para além dos limites da bacia do meduertineo oriental, desde 0 ditimo quartel do século VIL? Essa trnsformagio econ0- nica decisiva alteou os quadros socias, arrastando as tensGes ent os gru- os regionais, funcionais e tibais ao limiar da guerra civil. Essas sio as ‘condises histricas em tomo das quais emerge a figura do sibio Nomoveta, 6 lepislador demisrgico encartezado de redefinir as instituigSes, as regras da ‘convengio social, os canais das decisées pollticas, 0s estatutos morais que prescrevem os comportamentos ¢ a administrasio da justiga: @ nova fundagso cfvico-religioss do mundo, enti. um sintoma notével que a reformulagdo da Polis deseneadeie simul laneamente, tanto @ dilusio intensa das doutnnas gésticas, quanto a irup- io da Filosofia, da Histéria, da Cigncia, da narrativaliteréria’®e politica." Parece que essa relagio entre o gnosticismo ¢ a chamada cultura racional =e ob abohmene is, No seis, ng a or seen J aga gn ar mlx gy als IMerpencings eo ona conser 2 etc ebiate me nda cy ecards Fags 6 ee nove = Pt eR Oe cee iy ican, mo pea oil hoe Come, Re si Darin i alin ov ope pew a dor mene, ee a nem dr als cna. ee ea tg cm éonin m oeai rsd coe Se eta av raaumcy one, va cpianan us do que a versio rac ‘Mas por tris dess do ettceio, Est em convivenia cm dinamismos misteioos.. "Nap for aco, os pineios nomsttas so ientiicades como magos, vnctladoy Nempowe cultonespecticos,e junto com a forma cae tnstiticiona in teoducem novos rituals ecerimonias religiosas. E 0 caso paricularmente do Cartier apolineo dessa figura chave da Wansformagées polticas em Atenas, Gue foi Epiménise, e tumbém 0 de Museu, Arabes, Aristeus, Enfgtimo, sem falar da figura ambivalent de Ml6s0f0 e mago do préprio Ptégoras, ou de figuras lendrias com denso estofo histérico como Orfeu?3, que juntou a re- lipid diontsca com a apoloeac, aa verdad, 6 0 nfleo do ual deivam os rséios do prfod clés. claro que agi também caberia falar de He sei, que também tinha essa caractristica de falar com a linguagem das pitooisas. 'A pepriaevolugdo da Glosofa ica, principal raiz do pensamento saturalista Wadiionl da por base histérics da citnia emptica, no si. perou através da expetinestasso sistemdtics, adotando antes como base de suas fommulasies 0 esquems das cosmogonias tadicioais, tis como a de Hesfodo, sobstiuindo sua imagtsica mistic, partcularmente @ figura de Hermes, que ent afonte de atragéo que ciava as composigdes das quai de- rivavam as difereciages do mundo, por concepydessbstratas, als como os conflitos dos opostos de quente/trio, (mido/seco, etc4, enfim os modelos baseados nos 4 elementos: era, a, foz0 eign. O novo mods explcaivo, em goo soy acre tors, preeminent frei lo desenvolvimento ¢complicsio das prétieas comercias, particulannente 8 instugio de padres monsttes regulando valores absoats © relagtes ona, establecendoequivalentementeparceiros em tudo o tals des suas. uma equiparasio das diferengas que est por us, tanto das nova Prética jrdices,bascadas na iia da ansliseienta dos casos e Ja nesta lade do were, quanto das equvaléncias dos ftonparn HexGdoto do ‘inp d sonoma gue presi istaurago da dewoeracia ma Peis sso me lembra que nem se relacionava o desenvolvimento da téenica ita cienfiea, a0 desenvolvimento do romance hstérico © historiogréfica, = 132 das narrativas géticas,fcuriosonotar que o Renascimento tem o surgimento a historiografia, simultineo com o desenvolvimento das formas iterdrias ditas modernas, mas a raz disso me parece estar nese momento em que 0 abandono das formas miticas de enunciagio dio origem a esa concept da ‘equivaléncia de todos 08 fats eda sua constitu, como entiades que po- ddem ser comparadas come iguaise, portant, consderadas com neutalidade, 4 partic do afastamento do pensador em relagio realdade qual ele se liga. F disso que nascem as cigncas, obviamente,€ disso que nase a historogra- fia, para a qual todos os fatos so relativamenteigusis eo que cabe € fazer tina Composiglo entre eles, no um ajuizamento,e 6, obviamente, na base do provedimento dos tribunais, em particular © relacionado aos contatos co- Theres, que se encontra a razio de ser desee modo de procedimento. A co- tmunidade dos mercadores em primeiro lugar, que pression o surgimento dda democracia, na medida em que era a dnica mancira de garantir que 08 contratos pudessem ter validade através de uma. palavra que fosse neuta, politicamente, em relagio 8s tensGes Socaise As hierarquas dentro da co” hunidade social. Essa ii de abstragio Vernantanaisa a partir da revoli- Gio do século VII .C. na Grécia. ‘© camino da mudanga se ajusiou pois sobre um eixo de contnuidade, tomnando imesistfvel a perturbadora conclusdo de Chitelet. “Do mito ao pen- Samento racional, certamente, mas aquele no € pura imaginasio desordena- dae este tende a se impor como um aovo mito”! "A inspracio que motivou a redagdo desse texto se parece com aguela que Mircea Eliade indicou para suas pesguisas, constanes do livro A Busca. 36 marnismo ¢ a psiologia profunda (psicandlise) demonsiram a eficcia da, assim chamada, desnistfieacio quando se quer descobiro significado eal ~ ou ofiginSrio ~ de uma conduta, uma agio ou uma eriagio cultural (ovamente 0 fantasia da origem). No nosso caso temos que tatar de fazer tim desmistificagio 20 revés, 08 seja, devemos desmistifear os mundos © {diomas profanos da literatura, das ates plsticas e cinema para tazer luz seus elementos sagrados, ainda que 0 sagrado seja desconhccido ou essa Gissimulado ou degradado. Num mind tio dessaralizado como © 10880, 9 Sagrado esti presente eaf¥a fundamentalmente nos universos imaging Taqula peru qv oem ao Prot Beto ea mt esa ee oops v om nn aeow0 A te rs detiva de meting de Jo al sis © ae mente a pepsi, 2000 PS Teacher momtann eee Se asa cpio Few ave compeesi si ee Rac as eae curs ma cape dela = SE i as one pn qv rho ap ria angustiosa, qu =13- cier plo dsesiento de sus FagueZas ssumindo cro, Sem te evans ela a0 seem mas qe maw) Ou, ainda mais agudanente, & Histéria da Cultura, posta nesiy se vstiva, alver se mosre win arma estratégica em particular, para supe, Pee conta cfc com a tigS0 RATA encanta, ras canis ee deriva sn autoridae d trnscendfacia. De onde ae no para a Tingagem, 8 500s EM VE Lo propo ee ans deo propio da relxdo filosfie, Diz ele parr €' batalha contra 0 enfeticamento da nossa inteligéncia, por meio dg lunguagem.”29 “h csse respeito hf uma nota que no li mas que era importante ler: ota mmero 20, da pg. 131. No texto, estou me referindo A express “nar fauvaliterdra™,A expresso comporta um paradoXo, jf que primeira ter tho diz respeito a uma cultura orl, “narativa, © 0 segundo, a uma out, Ribmetida nos congoles dos eorpus da escrita, “erdria”. Esse dtm fto fevela, por si 6, a separasio entre 0 autor e 0 pdblico, que no vivencian tai conjuntamente os rtuais da cultura, levando-o8 a se desprender da tra- Sisional tensio entre o temo e o efémero, a forma e 0 improviso,deslocada agora para 0 confonto que se dé na divisio entre © popular e 0 erudite, 9 aeaico e 0 modemo e, & claro, o compulsivo ¢ 0 racional, 0 sagrado e o lei 20. [Na nota 15, para reforgar, 6 fundamental fisar nesse sentido que acervo vocabular dos xamis vltrapass2, mdltiplas vezes, repertério cor rente das suas comunidades, como € 0 caso do xamé tértaro Yakut que, s- ‘undo Radlov, possula 0 vecabulério poético de 12.000 palavras, em con- tease com as'4.000 de que se serviam os demais membros do grupo. O ‘exemplo dos mandarins da China sera ainda mais convincente. ‘A linguagem € um dos principais recursos eneantatrios do xamd A tarefa est posta, 0 que no significa que a concluséo seja fail ov, ‘quer, viel. O historiador€ fildsofo, porque o so, saberdo se perguntar Se podem os homens senti-se na presenga do xam e alo se perturbarem, ou Se, le mesmo, o historiador ou 0 fildsofo, detectando a palpitagdo dos bo- mens, saberS se coter, Pode © prne(pio do ritmo tolerar outro fim? Obviae mente essa questo nio & sobre fim, mas sobre o princfpio, que tem, const 0,0 fantasma do fim. = 134 NOTAS 1, YOUNG, 1.2. An Introduction tothe Study of Man. Oxford, Oxford University Press, 1971, pp. 456-8. 2, PFEIFFER, JE. The Creative Explosion. New York, Harper & Row, 1982, pp. 83-4, 3. fem, idem. 4, Idem, pp 105-10. '. Para a desrigfo do “feiticero”, as condigges de sua localizaSo na cavera seus efeitos psicol6picos, Plier, idem, pp. 102-18. 6, SCHOLES, RJKELLOG. R., A Natureca da Narrativa, So Paulo, Mcgraw Hil, 1977, pp 11-38. 17. HALIFAX, J., Shamanic Voices. New York, EP, Dutton, 1979, pp. ELIADE, M. La Busqued. Buenos Aires, La Aurora, 196. 8, RASMUSSEN, K., The Alaskan Esquinos as Described inthe Posthumous Notes of Dr. Knad Rasmussen. Ed. by H. Osterman, Copenhagen, Gyldental, 1952, p. 102, cit. in Halifax, opt, p. 30. 9, Idem, The Nesiik Eskimos: Social Lie and Spiritual Culare. Copenhagen, dental, 1930, p. 321, it in Halifax, op.cit p31. 10, WHITROW, GJ, The Nanwral Philosophy of Tine. New York, Harper & Row, 1961, pp. 50-3. 11, dem, ides, pp $45. 12, NEHER, A., "A Phisiolopical Explanation of Unusual Behaviour in Cerinonies Involving Drums” in Human Biology, may, 1962, p. 151 cit in Peife, opt, p.212-13. 13, HALIFAX, op.eit,p. 5. 18, dem, ibidem, pa. 15, E fundamental frsar, nese sentido, que o aervo vocabular dos xamis ltrapassa rltiplas vezes 0 repertério corrente de suss comunidades, como era 0 caso do anf tftaro Yakut, que segundo V.V. Radlov pssula um Yoeabulriopostico de 12 mil palavras, em contrast com a 4 mil de que se serviam os demas membros do grupo. A linguagem & um dos principais recursos encanttérios do xan. CORNFORD, F.M., Princpion Sapientae, as origens do pensamentoflosiico {g7ego, 2 ed, Lisbos, Funda Calouste Gulbenkian, 1981p. 158. 16, CORNFORD, FAM, idem. Vejacse também sobre a dferensas © tenses entre religidesaristocrtiase populares, Puech. H.-C. (ir), tora de las Religines ‘Maid, Siglo XX1, 1983, pp. 313-31, 17, CORNFORD, FM, opi pp. 116-2 18, Ede, idem, pp. 105-6. “ 19, VERNANT, Jb. As Origens do Pensamento Grego. 3 ed Sd0 Paulo, Die 1981, pp. A857. =135- sressto comporta um paradoxo,j6 que o preiro termo dl respeto a tng 2A grate re as cana or tno fo revela por 3x6 0 separa entre “autor” e “pico” a fa ie fri rr ane nronal ena enre eterno € 0 eENO, JOT € O improvise,

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