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no Processo de Planejamento tf 4 Vicente del Rio Capitulo 3 Por uma definigao de desenho urbano Faremos, a seguir, algumas consideracées sobre as defini- goes mais comuns de Desenho Urbano antes de tragarmos 3 nossa propria proposta do que seria este campo disciplinar no Brasil. Apés as consideracSes anteriores, pudemos veri ‘ar que seu surgimento deu-se no “preenchimento do vazio” entre as disciplinas de Arquitetura e Planejamento, cobrindo © campo vivencial mais préximo do usuario dos sistemas e estruturas urbanas. Portanto, podemos resumir as duas ccaracteristicas principais do Desenho Urbano como sendo: 4) interdisciplinaridades nas categarias de andlise: b) essencialmente fisico-ambiental Esta nossa preocupagéo por uma definigao que seja ample- mente aceita, ndo se limita a0 campo infrutifero da simples discusséo semantica, Sao consideragdes que se fazer ne- cessétias pare perfeita determinagdo de um campo acadé- ‘mico e um campo profissional; consequentemente, definindo © seu papel no processo de desenvolvimento urbano, Esta discusséo se faz ainda mais importante no atual momento brasileiro de desenvolvimento académico ¢ profissional quan. 0 se utliza da expressao Desenho Urbano como "... blsamo para as feridas abertas pela recente fase, da qual ainda no ‘saimos, do urbanismo e da arquitetura iresponsaveis” (DEL. FIO 1987: 103). Em ocasides anteriores nos propusemos 4 discutir definigoes de Desenho Urbano aplicaveis a0 con- texto brasileiro pois jé vislumbravamos risco de a expressio ser adotada irestritamente por mero modismo, dos que nos~ 80 pais se vé seguidamente vitima (OEL RIO 1982, 1965, 1986, 1987) Importante comoreender, de inicio, um dos problemas en- frentados por nos: o termo inglés “design” possui conota- es mutto mais amplas do que seu correlato em nossa lingua. Significa muito mais do que desenho, uma atividade basicamente artistica em portugués, e no ¢ plenamente itadutivel para projeto, como querem muitos, isto porque ‘design’ possul toda uma conotacgo que engloba desenho, projeto, planejamento e processo: nao é a palavra limitedora € estatica como desenho ou projeto, em suas conotagdes usuais. Segundo LANG (1987), “design” pressupée sintese, ‘anélise, previsées, avaliaggo e tomada de decisoes [onde se encontra concentrada a criatvidade). O dicionario de Ox. ford traz toda uma série de definicdes para “design, sa0 ‘20 menos ito entre as quais a de “adaptacdo dos meios aos fins” (The Conose Oxford Dictionary, 6 Edigéo. 1976). Uma conotacdo, portanto, que subentende proceso € a no- 0 de planejamento. © Urbanismo, por sua vez, teve uma trajetoria_especitica no Brasil. Esta trajetoria nao permite, anosso ver, a utiizagéo deste termo para classificar a atva¢ao do ‘urban design’ De caréter mais amplo em seus objetivos de gio, mas a0 mesmo tempo mais limitado em suas catagorias de andlise © aga. 0 Urbanismo possui, no entanto, lugar na percepcso vocabuldtio da populacdo em geral, Sendo palavra mais Usual do que @ expressao Planejamento Urbano, mesmo nos meios protissionais. Jé € tido como um saber especifico, uma “nova ciéncia para uma neva cidade" (a da Revolugio Industral"), nos dizeres de Idelfonsa CERDA, o idealizador {do plano de Barcelona, por volta de 1867 (© mesmo ocorre com a palavra “urbanista'", i notoramente significando “aquele que estuda e projeta cidades", muito 52- Introduggo ao desenho urbano ‘mais popular do que “planejador”, que diz muito mais mas. nao diz nada ao mesmo tempo. Por outro lado, temos 0 importante fato de que 0 Urbanismo a 6 profisséo devide- mente regulamentada pelos Conselhos Regionais de Enge- ‘nharia, Arquitetura e Agronomia (CREAs) e pelo Ministerio, da Educagao, aparecendo pela primeira vez nas atribuigoes, do_engenheito civil e do arquiteto em 1936 (LOBO 1964, BIRKHOLZ 1967, SILVEIRA 1984), “=O Deseno Urbano, segundo nossas consideragbes aqui tra ‘das, pode ser entendido como area espectica de atuagao do Urbanismo. Coberi, enitetanto, no contexto do Brel uma total reavalizagao © recuperacso académica do Urb. nism, tratado de forma extremamente limiadora ha muito nos poucos cursos de pés-graduagdo que ainda existem, En: tende-se que ele deva tatar da cidade de maneire interdis- ciplinar, preocupada com sua organizaglo ambiental e seus processos socials. O urbanismo tatana dos ambientes urba- fos, @ cidade, como um todo e das pollicas © programa 2-019 aplcdveis, policas, socials, econémicas, espaciais © setoras. Neste sentido, os Urbanistas poderiam ser arquitetos, enge- nheiros, geagrafos, psicélogos, socidiogos, médicos, sanita- Fistas, bidlogas, ecologistas e tantos outros profissionais que 1tém na inter-relagdo entra o urbano © a populagdo as suas preocupagses fundamentais. Jao Designer Urbano, especia- lidade maior da area do Urbanismo, deveria ser profissional ‘com maior embasamento de formagao académica na dimen- 580 fisico-espacial, 0 que por vezes 0 confunde, limitada erro- neamente, 20 arquiteto e 20 engenheiro. Por estas razdes, podemos tdo-somente estar sempre aber- 105 a0 debate quanto a esta questao, enquanto temos adota- do, até mesmo por falta de melhor substituto, a palavra dese- nnho como sua equivalante em inglés, conatando todos os significados daquela, Por isto também temos nos referido coma “designers urbanos” aos profissionais que atuam no, campo. Somos, entretanto, abertos para outra posicao desde ue de consenso, como jé abservamos em ocasides pas. sadas. ‘Assim como outras disciplines, caso da prépria Arquitetura 0 Planejamento Urbano, na inumeras dificuldades em se tentardetinigges como esta pois existe margem para interpre- tagdes diversas a partir mesmo de contexios sdcio-culturais, diferentes ou da formagdo do pesquisador. Acreditamos,, no entanto, que o debate em tora do assunto € positivo «© S6 pode tender a um consenso. Por isto, 0 mais indicado parece ser a busca de definicdes a partir do objeto em que Se pretende atuar e dos objetivos a se alcancar, observando, © contexto onde estaré inserido, no caso, 0 brasileiro. [Nao podemos, entretanto, concorder com o tratamento que alguns vém dando a0 Desenho Urbano no Brasil. Existe uma certa confusdo de definigtes aplicaveis: ele é uma nova mo- da. Como afirmamos em ocasido anterior, utlza-se desta expresso inconsequentemente, apenas porque véem nela, uma nova roupagem para suas’ antigas praticas de “arqui- tetura grande” ou de planejamento urbane “arrependido”” Ha poucos anos passévamos por processo semelhante, quen- do da adogao da palavra “planejamento”; sua instituciona- lizago como uma nova disciplina cedeu a um aporte anglo- saxo, um modismo sem maiores consideragdes de seus reais signficados potenciais, ou sua insercao em nosso con- texto em que jé se utilzava do termo “urbanismo”. Até mes. mo em Arquitetura a disciplina de Projeto teve seu nome {tovado pelo de Planejamento de AArquitetura Como cbservado por GASTAL (1984: 74) "'... nos anos 70, 2 elite urbana (brasileira) buscava seus simbolos de progres- ‘580 nas fontes da vertente cultural anglo-saxdnica’, a inven- tora do “city” ou “urban planning”. O mesmo autor ainda ‘mostra como os processos de Desenho Urbano naquela épo- ‘a eram voltados para a solugdo endo & interpretacao dos, problemas, gerando propostas baseadas em conceltos de eficiéncia, sob 0 ponto de vista etnocéntrico da elite cultural dominente. Realmente, ainda hoje em diversos casos, parece que o simples fato de o protissional adotar a expresso Dese- ‘tho Urbano como nova etiqueta classifica.o melhor para a atuagao, mesmo que ela ndo difira em seu contetdo das, anteriores, quanto & qualidade e egitimagso de seus produtos, finais Exemplo desta atitude podemos encontrar em diversas publ: cagbes brasileiras recentes que se intitulam sobre 0 tema Muitas possuem grandes inconsisténcias tedricas e nao tra- zem um posicionamento coerente sobre 0 que entendem or Desenho Urbano. Alguns estdo claramente segundo "a ‘moda’, como é o caso de RODRIGUES (1986: 9), que chega @ afirmar que utiizava 0 termo Urbanismo, depois utlizou a expresséo “Arquitetura dos Espagos Urbans” e que “. ‘agora cedemos as tendéncias atuais (grifo nosso} no sentido de adotarmos @ denominacao Desenho Urbano, emibora des- conhecido para o leiga se 0 compararmos com Urbanismo” Parece, inclusive, que diversos destes trabalhos ignoram os textos mais importantes no desenvolvimento de nosso cam- po discipinar. (0 Desenho Urbano, a nosso ver, tampouco comporta defini- ‘Gbes aplicadas a reas geogralicamente limitadas da cidade Come 0 baiiro ou 0 espago entre os edificios. E 0 caso da importante obra de GOSLING & MAITLAND (1984, DEL RIO 11987), por exempio: 0s autores certamente acertaram consi- | sod FiguraSb- A andiise de morfologia urbana no estudo de evolugto de um quarteiréo de Versailles, Franca, por PANERAT et af trabaihos foram publicados com a participagdo dos mesmos autores onde analisavam a evolugo e degradago da forma Urbana, numa ertica ao modernism (CASTEX et al. 1977), ‘Splicavam uma metodolagia de andiise morfol6gica para com- preender a evoluao e os significados de Versailles (CASTEX tal. 1979} (fig, 60) @ discutiam os elementos metodol6gicos, para a andlise urbana (PANERAI et al. 1980) ttig. 96). Os Sutores refutam as analogias paradigmaticas e buscam com- preender a cidade “... recuperando as bases da andlise estru- pense? s an ‘Figara’85 - Vies-de-impasse, omolduremento dos esparos. labertos e relacionamento formal entre os elementos puiblicos; Raymond UNWIN em Hampstead Garden, Londres, 1907 B (a), crescimento (b] e combinagao!contito (c) tural, da leiture da cidade como uma organizagéo, de demons trar 4 sua logica, de descrever sua estrutura formal” (PANE- RAI et al, 1980: 9) (fig. 87). 0s trabalhos dos irmaos KRIER também podem certamente ser clasificados nesta categoria e sua influéncia no desesvol- vimento de um novo desenho de cidade ¢ consideravel. Co- hecido arquiteto, Rob KRIER fo} particularmente influenciado for Camilo SITTE e utiizou-se desta l6gica como pano de Fando para sus metodologia projetual em seu importante livro sobte © espago urbeno (KRIER 1976} (fig. 68). Neste trabalho tle desenvelve toda uma tentativa projetual respeitosa do Gon- texto existente e inspirada em modelos do passado (fig. 69), Bem mais conhecido, por seus polémicos artigos € projetos ‘utepicos” publicados, Leo KRIER possuiviséo extremamen- te sraigada no pasado, em suas tipologias formas de Cope oC at ooo Sooo on alae Figura 63 -A tipologia de pragas de cidades europeias nos estudos de Rob KRIER RAAT samme $e px Uma proposta metodolégica - 77 be y Pea 57 -Esqueras onalticos de CASTEX e PANERA! ds pias ovolutvas de um teidourbano: superardo de limite produgao, vendo no modo de producéo capitalista todos os Problemas de nossas cidades: "se a cidade européia vai ser Pova, ela dave ser recomposta através de técnicas urbanas 2 serem aprendidas da hist6na da cidade" (in GOSLING 1985: 53. KRIER, Leo 1978). Corio apontado por Colin ROWE lin PORPHYRIUS 1984), Leo KRIER deve ser radical para poder fazer chegar a Sua mensagem, assim como um “Le Corbusier te nossos tempos" (sic ], que até prefere permanecer apenas rho campo de especulagdes projetuais publicadas pois acre- tite Iidar com temas de moralidade e estilo de vida. Sua ‘capacidade de polemicista pode ser verificada em suas pro- pastas para Roma, um dos exercicios especulativos de Roma Imerrotta (GRAVES, 1979), a0 sugerir uma megaestrutura IViangular interrompendo © eixo da Praga de Sao Pedro © sua transformagao em um lago para o lazer, ou em um de seus ‘rabalhos mais recentes, pare Washington (figs, 60 € 61). Os erticas disparam que a ideologia expressa por Leo KRIER @ demasiadamente académica e destacada da realidade. Os jimags KRIER apliceriam seus conceitos "... mesmo que isto signifique que @ historia seja massageada um poucd a fim de gerar um contexto de intensidade e autordade suficientes para a escala do trabalho a ser feito (MAITLAND 1984: 8 PPL EYAAD (1979: 22) chega a afirmar que "para um obser- Vador, 08 projetos resultantes de KAIER & ROSSI parecem {go autortérios e impessoals quanto a Ville Radieuse”. J ‘Compararam os projetos de Fob KRIER pata Stutigart (KRIER, Rob 1975) com os pianos neocldssicos nazistas de Albert SPEER. Quanto a Leo KRIER, ele certamente tem uma ten- dencia 8 agir como © “arquiteto do rei" e hoje deve estar muito contente por haver se tornado o preferido do Principe Charles da Inglaterra ‘tig. 62) ‘Uma outra corrente estuda a evolugao das formas urbanas fe arquitetonicas, sua apropriagdo pela populagao e as conse- quertes adeptagées: tem sido uma corrente analtcafrtifere a compreensao das logicas sociais do espago, Os trabalhos 78 - Introdugéo ao desenho urbano de DE ARCE (1978) mostraram 2 importancia de estudarmos, 108 processos de transmutacdes de edificagSes hist6ricas, como 08 palacios e anfiteatras romanos, sua incorporacao Pestrutura da cidade e sua apropriagao pela popuiagao 20 fongo dos séculos. Multas das estruturas basicas destas fo. ‘mas monumentais ainda sdo distinguiveis e os pesauisadores, Chemam a atengao para a validade de conceitos como das, festruturas-suporte e das permanéncias no tempo. Segundo DE AACE, estes concertos paderiam ser aplicados positws- mente na recuperagao ou re-semantizacio de cidades @ espa- {908 modernistas como Chandigarh e a Unidade de Habitacao (vide figs. 17, 32 & 63) \Vale a pena destacar liv recente de Anne MOUDON (1986), fem que apresenia um detalhado estudo sobre 2 evolugao fas transformagoes fisicas de uma area residencial de 60, Quarteirées em torno a Alamo Square, em Séo Francisco, Para ela, as transformagbes sofridas pelas ruas, quarteirbes, lotes e casas sempre Gefiniam um alto grau de coeréncia entre si até o aparecimento dos projetos de renovagio urbana id Adi 2 yy or Figura 69 Proposta de Rob KRIER para a praca Rotebuhi, Stuttgart, Alemanha, infcio dos anos 70: remete a esquemas jomentos prooxistentes, visendo disciplinar e definir a relagdes enire as edificagdes vstes como “fundo” @ conjunto harménico © 08 edifcios de apartamentos, que romperam com a ordem, espacial e arquitet6nica predominantes. © estudo de MOU- DON aborda as rezdes por detras da qualidade destes ambien- tes @ de sua capacidade de incorporar as transformacées: para ele, esta qualidade depende de um continuo adeptar {os elementos no tempo, da casa mantendo-se como uma Célula interdependente com a cidade, e da importancia inci {do perfil fundiaria e dos lotes como reguladores des transfor- mages, ‘Atualmente, diversos arquitetos j4 sequem este tipo de pos: ture adotando uma linha conhecida por “*Contextualismo” Corrente que, como comentamos anteriormente, pode ser identificada dentro do Pés-Madernismo, como James STIR- LING e sua proposta da recuperagao da Meineken Strasse, Berlin (fig. 64), TRANCIK (1986: 228] destaca que.a beleza pode ser medida na razio do quanto os componentes combi ham-se com uma estulura espacial. maior-e- que “para. se alcancar um design integradar e contextualista nao se deve iniciar do nada mas reunir 2s Componentes conhecidas em rhovas combinap6es de forma a expressar uma condigéo espe- a a, 19 iso public e com enorme estruturatlangular@ monumental na entrada da colunata Uma proposta metodolégica - 79 80 - Introdugéo ao desenho urbano Figura 61 - 0 romantismo de um grande canal nesta proposta ‘para 0 redesenho de Washington; Loo KRIER, 1984 cifica”. Esta arquitetura inspira-se no entorno e seu contexto, Cultural, incorparando-o em suas solugdes plésticas © espa- Ja afitmava acertadamente DE ARCE (1978: 237) que ‘Sendo um processo sedimentatio, as iransformagoes aditvas, garantem um senso de continuidade na canstrugao da cidade © um senso de lugar em termos espaciais ¢ histéricos Os estudos nesta linha morfoldgica vieram, portanto, abrir novas possiblidades para maior atengao na dimensao tem- poral dos projetos urbanisticos, nas suas inevitéveis muta- (0es e adantacces pela apropriagao coletiva das populacdes, Pensar nas cidades e no que revelam a partir de suas formas, @ ser morfoldgico...” (SANTOS 1984: 116). Neste sentido, ‘como colocado por SAMUELS (c.1986: 8} “o programa, 0 {gerador de forma para o projeto de acordo com os paradigmas, do Movimento Modero, ¢ substtuido pela investigagao do contexto presente e passado" ‘Também classificdvel na categoria de Morfotogia Urbana, re ccentemente vem-se popularizando entre certos meios acadé- ‘micos brasileiros,o enfoque de Bill HILLIER com suas teorias, de sintaxe espacial em que analisa a capacidade do tecido turbano de gerar encontros a partic de sua organizacao bidi- mensional (HILLIER & HANSON 1984). Esta teoria vem in- fluenciande uma série de esiudos de docentes da Univer- sidade de Brasilia, como HOLLANDA (1985) e KRUGER & Figura 62- Saudosismo o negapao da modernidade na proposia do Leo KRIER para o desenvolvimento de drea de Spitalfields Market, Londres, 1986 TUAKIENICZ (1986), que investigam as tipologias de espagos entre 0s edificios de Brastia e a qualidade derivada desta DorganizagSo espacial enquanto seus graus de continuidade 8 descontinuidade. Cabe notar, entretanto, como também, (faz MERLIN (1988: 16), que o problema fundamental com que este enfoque se enfrentaé que ele compreende a morfo- logia do espago urbano apenas através de sues duas dimen- s6es planares, ignorando fatores essenciais como tipologias, arquitetdnicas, usos de edificagdes e legiblidade de conjun- tas edificados, No Brasil podemos identiicar alguns outs bons trabalhos “mor- foldgicas”. Dastacam.se aqueles vinculados a pesquisas para preservagao de conjuntos urbanos, 0 trabalho relativo 20 Corredor Cultural, area de interesse para preservacao no cen- to do Rio de Janeito, © que seré comentado no Anexo 3, possui algumas caractersticas do género, assim como os ‘de MACEDO (1986) sobre as mutagdes de um bairro paulista, 2.08 de BICCA et.al. 1986) sobre as diferentes morfologias coexistentes em Brasilia. Destacarlamos também 2s pesqui- Uma proposta metodolégica - 81 ‘sas sobre as estruturas espaciais das cidades de colonizagao japonesas, alemas @ italianas no Brasil desenvolvides por YAMAKI (YAMAKI & NARUMI 1985), YAMAKI nos mostra como as cidades de colonizagdo seguiam intengdes de proje- +0 ndo to simples como se supunha, persequindo uma “ima- gem inicial” € uma estrutura com claras definigbes ideolé- 4gicas e conceituais, as vezes perseguindo modelos europeus db inicio do século, como os de cidade jardim (fg. 65). Figura 63 - Estudos de PEREZ DE ARCE para transformagées em edificagdes do tipo Unité d'Habitaion, com elementos aditivos que ‘recuperam as dimensées urbanas tredicionels, como mescla de usos, escalas apropriadas pare os pedestres e rus-corredor Figura 64 -Projeto de Jam ies STIALING, Michael WILFORD e Associados para 0 redesenho de uma ecificagao moderniste ina r0a Meineke, Berlim, 1976: recomposicao das caracteristicas de quarteiréo, como alinhamento das construpdes, escalas, fitmos e asquina ‘Aqui também comegam a surgir importantes estudos sobre tipologias arquitet6nicas vernaculares e regionais. Como exemple o interessante estudo dos prédios residenciais “pro- toxmodemnistas” de Copacabana (anos 30/40), que até hoje nao eram considerados “exempiares” mas que definem solu- ‘goes @ espagos urbanos altamente significativos e de qualia des indiscutiveis [CONDE et al. 1985). De grande importéncia também 80 0s projetos desenvolvidos pela equipe da Eletro- sul, como 0 de relocagao da cidade de Ita, Santa Catarina ‘onde as novas tipologias edilicias foram inspiradas no reper- {rio existente na cidade original e na regiéo [SANTOS & REGO 1986; veja Revista Projeto n’ 126, outubro, 1989), Estudos tinolégicos como este esto comecando a embasar a prética arquitetOnica recente no sentido de solugdes mais Conscientes de nossas raizes e de suas relagdes urbanisticas (ig. 66) importante trabalho também foi recentemente publicado por SANTOS (1988), erm que faz uma abrangente abordagem sobre a formagao e 0 desenvolvimento da cidade brasileira, ‘com propostas pragmaticas de desenho e instrumentos de Now anes. smo nade Aue S a ask ‘eis: mci QL Zn say Figura 65 - Comparacao entre malhas de cidades de colonizaps0 ‘no Brasil, mestrando seus elementos principais do astruturarao: Japonesa/escols, aleméirua principa-rio, teliensigreja; ‘baseado om estudes de Humberto YAMAKI implementaggo, O autor preocupa-se semore em uma produ- 80 passivel da cidade democratica, em que seus habitantes, Compartiiham seus elementos a nivel de identidade © de imagens coletivas. Para tanto, embora 0 trabalho nao seja bt ky As Figura 68 (a, b)- Estudo de tipologias e repertorio local para projetos mais apropriados. Casa tradicionel de madeira em Tondtina fae vesidéneta do arquiteto Marcos BARNABE, 1986 ‘especificamente dedicado & questo da morfologia urbana, 3 exemplo de outros autores SANTOS apoia sua discussao fm analises de estruturas urbanas e em modelos morfoié- gicos que considera basicos na formagao urbana: 0 lote, © Quartelréo e 28 fuas. A apreensao e produgéo coletiva de ‘padroes que todo mundo conhece, a estrutura que todo mundo projeta junto ..” viablizardo um resultado potencial- frente harmonica e, sem duvida, mais democrético (SANTOS. 1988: 54) Portanto, podemos ser pragmaticos dizendo que, em termos morfologieos, a cidade pode ser compreendida com tvés ni- \Veis organizativos basicas: 0 colativo, o comunitan ¢ oindivi- TOSS 05 significado Uma proposta metodologica - 83 eacontecem as apropriagoes sociais (DEL RIO 1981). O nivel (GU dimensacoretwa é 0c ‘Uma lagica estruturedora percebida inconsciente e coletivamente; aqui estaria o con- Junto de elementos primarios do tecido © se vertica uma fmaior permanéncia no tempo. A dimensao comunitéria traz ‘Squeles elementos @ uma logica com significados especiais ‘Spenas para um restrito circulo de populacéo, o baifto pon éxemplo. A dimensao individual, por sua vez, conforma onde mais livremente se expressam os significados individuals, 2 residéncia e seu espaco imediato, e, consequentemente, 6 a que aprasenta uma maior rapidez de mutacses. Neste momento, j podemos sugerir alguns temas e elemen- {0s para a pesquisa da Morfologia Urbana, expondo as l6gicas evolutivas e estruturadoras da cxdade (ROSSI 1968, CASTEX & PANERAI 1971, PANERAI et al. 1980, GEBAUER 1980. DEL RIO 1981). Sao eles: 3+ = erescimento: 0s modos, as intensidades e diregoes; ole- mentos geradores e reguledares, limites e superagao de limi- tes, modificagao de estruturas, pontos de cristalzagao etc.; “© -tragado e parcelamento: ordenadores do espaco, estrutura jundisra, elacdes, distancias, citculagéo e acessibildade etc (tig. 67) ac tpologias dos elementos urbanos:inventaioe categor- Zagao de tipologias edilcias (residéncias, coméreio etc). de lotes ¢ sua ocupagéo, de quarteitdes © sua ocupagéo, de pragas, esquinas ete. (ig. 68) & -articulagbes: relagées entre elementos, hierarquias, dom- hios do publice e privado, densidades, relagbes entre cheios e vais == ‘Outros autores, come AYMONINO (1988) e ROSET! (1985), também desenvolvem suas pesquisas e interesses projetvais ‘no campo da Morfologia Urbana concentrando-seemelemen- {os formadares, como as pragas, espaco coletivo por exce- “Gnas, éxpressdo maxima da dmenséo civica e publica das ‘dades, onde o monumental se encontra com o cotidiano. ROSETI apresenta, por exemplo, um repertério basico de caracteristicas das pragas e as consequentes implicagbes Ue projeto: relagdes uranas, funcdes, condicbes de uso, organizagéo, caracteristicas lisico-ormais, mobiliario paisa gismo. Em nossa prépria experiéncia pudemos aplicar esta dimensao do analise no desenvolvimento de dissertagao de mestrado

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