Download as pdf or txt
Download as pdf or txt
You are on page 1of 16

CONCILIUM, Vol.

23, Nº 3, 2023
DOI: 10.53660/CLM-933-23B70
ISSN: 0010-5236

SDG 6 and the Challenges of the New Brasilian Sanitation Legal


Framework for the Recife Metropolitan Region
ODS 6 e os Desafios do Novo Marco Legal do Saneamento para a Região
Metropolitana do Recife
Received: 2023-01-11 | Accepted: 2023-02-12 | Published: 2023-03-13

Fred Rodrigues Barbosa


ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6738-5721
Companhia Pernambucana de Saneamento – COMPESA / Mestrando Instituto Federal de Pernambuco - IFPE, Brasil
E-mail: fredbarbosa@compesa.com.br
Karen Emily da Silva Cândido
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1391-9879
Companhia Pernambucana de Saneamento – COMPESA / Mestrando Instituto Federal de Pernambuco - IFPE, Brasil
E-mail: karen.emilly1996@gmail.com
Ana Mirela Cavalcanti Faustino
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2953-5642
Mestrando Instituto Federal de Pernambuco - IFPE, Brasil
E-mail: amcf@a.recife.ifpe.edu.br
Marília Regina Costa Castro Lyra
ORCID: http://orcid.org/0000-0003-2173-126X
Profa. Dra. Instituto Federal de Pernambuco - IFPE, Brasil
E-mail: marilialyra@recife.ifpe.edu.br
Ronaldo Faustino da Silva
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8097-9420
Prof. Dr. Instituto Federal de Pernambuco - IFPE, Brasil
E-mail: ronaldofaustino@recife.ifpe.edu.br
João Manoel de Freitas Mota
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7961-5494
Prof. Dr. Instituto Federal de Pernambuco - IFPE, Brasil
E-mail: joaomota@recife.ifpe.edu.br

ABSTRACT
The 2030 Agenda brings with it an important proposal for tackling social inequalities, and it does so through
the proposition of 17 Sustainable Development Goals (SDGs), among which SDG 6 stands out by
addressing aspects of the availability and sustainable management of water and sanitation for all. In Brazil,
compliance with such premises has as its structuring point the New Brasilian Sanitation Legal Framework
(NBSLF – Brasilian Federal Law No. 14,026) which established the general conditions for the
universalization of these services, highlighting the year 2033 as the limit for such configuration. The work
presented here seeks to assess the challenges of meeting these goals for the specific case of the Metropolitan
Region of Recife (RMR), based on data made available on platforms such as the National Sanitation
Information System (SNIS), IBGE and even consultations with the program contracts signed between the
state concessionaire and the municipalities of the RMR and based on them, the main assumptions
considered here as challenges to the achievement of universalization are evaluated (governance; availability
and conditions for raising the necessary resources; structuring of the sector's productive chain and impacts
on the social life of the beneficiary population). The analyzes carried out point to very challenging aspects
in all areas, either as a result of the contribution of a significant number of resources, or when considering
the weaknesses of the production chain; but they also highlight the need to develop a broader environmental
C O N C I L I U M | 1065

awareness on the part of the local population, in order to support the implementation of the universalization
process outlined for access to basic sanitation.

Keywords: Universalization; Basic sanitation; ODS; Challenges

RESUMO
A Agenda 2030 traz consigo uma proposta importante para o enfrentamento das desigualdades sociais, e o
faz por meio da proposição de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS’s), dentre os quais se
destaca o ODS 6 ao abordar os aspectos da disponibilidade e gestão sustentável da água e do saneamento
para todos. No Brasil, o atendimento a tais premissas tem como ponto estruturador o Novo Marco Legal do
Saneamento (NMLS - Lei Federal nº 14.026) que estabeleceu as condições gerais para a universalização
destes serviços, destacando o ano de 2033 como limite para tal configuração. O trabalho ora apresentado,
procura avaliar os desafios do atendimento a estas metas para o caso específico da Região Metropolitana
do Recife (RMR), tomando por base os dados disponibilizados em plataforma como o Sistema Nacional de
Informações sobre Saneamento (SNIS), IBGE e ainda consultas aos contratos de programa firmados entre
a concessionária estadual e os municípios da RMR e a partir deles são avaliadas as principais premissas
consideradas aqui como desafios à conquista da universalização (governança; disponibilidade e condições
de captação dos recursos necessários; estruturação da cadeia produtiva do setor e impactos na vida social
da população beneficiada). As análises realizadas apontam aspectos muito desafiadores em todas as áreas,
quer em decorrência do aporte de expressivo montante de recursos, quer ao se considerar as fragilidades da
cadeia produtiva; mas também destacam a necessidade do desenvolvimento de uma consciência ambiental
mais ampla por parte da população local, no sentido de apoiar a execução do processo de universalização
delineado para o acesso ao saneamento básico.

Palavras-chave: Universalização; Saneamento Básico; ODS; Desafios.

INTRODUÇÃO

De acordo como a Organização Mundial da Saúde (OMS), em países de baixa e média


renda, os desafios das cidades com a luta para lidar com as necessidades dos sistemas de
saneamento e de saúde pública, frente à rápida urbanização, são desafiadores e onerosos,
principalmente em decorrência das mudanças climáticas (OMS, 2022).
Criar uma agenda que possa estabelecer parâmetros sustentáveis para este enfrentamento
não se constitui em uma tarefa fácil, podendo mesmo representar avanços sem precedentes na
história da humanidade.
Em que pese tamanho desafio, a Organização das Nações Unidas (ONU) conseguiu
viabilizar junto aos seus 193 países-membros, a construção de um documento que ficou conhecido
como “Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”. Este documento representa uma
consolidação dos avanços ao entendimento das relações do homem com o meio ambiente e sua
relação comportamental na busca de promover universalmente a prosperidade econômica, o
desenvolvimento social e a proteção ambiental (VEIGA, 2015; SANTOS e MEDEIROS, 2020;
FACIROLI e FONSECA, 2020).
C O N C I L I U M | 1066

Os principais desafios globais ao desenvolvimento sustentável foram agrupados em 17


objetivos específicos – os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e depois
desdobrados em metas (169 no total) que possam auxiliar o desenvolvimento de políticas e
controles afim de garantir não apenas a sua execução, mas que tal implantação possa conduzir à
melhoria das condições gerais de vida no planeta, principalmente para a população que se
encontra em situação de vulnerabilidade (MENEGHEL et al, 2021).
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável surgem como um apelo global no sentido
de mitigar a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os
lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade (ONU, 2022).
Considerando os aspectos que nortearam o desenvolvimento da Agenda 2030, não poderiam estar
excluídos àqueles diretamente ligados ao saneamento básico e saúde pública, tendo em vista a sua
relevância como elemento impulsionador da melhoria na qualidade de vida das populações; assim,
dentre os 17 ODS’s, um deles – o ODS 6 (Figura 1), trata especificamente da disponibilidade e
gestão sustentável da água e do saneamento para todos, o que passa pelo acesso universal à água
potável e ao saneamento de forma geral e também pela melhoria da qualidade da água fornecida
(ABES, 2022).

Figura 1 – Destaque para o ODS 6 dentre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Fonte: Santos e Kuwajima, 2019.

Importante considerar ainda que, no caso específico do ODS 6 foram construídas 8 metas
para assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos,
dentre as quais destacam-se os seguintes pontos: (i) necessidade de se alcançar a universalização
dos serviços de água e esgotamento sanitário; (ii) promover a melhoraria das condições de
qualidade da água distribuída e dos efluentes, inclusive reduzindo o percentual de efluentes não
C O N C I L I U M | 1067

tratados e (iii) aumentar a eficiência do uso da água para enfrentar a escassez hídrica. Todos estes
pontos devem ter como horizonte de meta o ano de 2030.
Pensando nacionalmente, a estruturação do ODS 6 no Brasil requereu a execução de uma
série de ações e políticas que visaram estabelecer o arcabouço legal para garantir que todos
tenham acesso à água e ao esgotamento sanitário.
Nesse sentido, foram trabalhados conceitos, que se converteram em legislações
específicas para este fim, como é o caso da Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997 (Política Nacional
de Recursos Hídricos – PNRH), da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Política Nacional do
Meio Ambiente – PNMA), e da Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007 (Plano Nacional de
Saneamento Básico) (SANTOS e KUWAJIMA, 2019).
Há que se destacar ainda a chegada da Lei nº 14.026, de 15 de julho de 2020, que institui
o Novo Marco Legal do Saneamento (NMLS) e conferiu maiores competências à Agência
Nacional de Águas (ANA), sempre no intuito de garantir-se o atingimento da tão necessária
universalização dos sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitários em todas as
regiões do país, sem desconsiderar-se as peculiaridades de cada região e localidade, inclusive em
relação a seus aspectos sociais.
Esse arcabouço jurídico precisa ser entendido sob o ponto de vista da prestação dos
serviços, como forma de desenvolver-se as estratégias gerais de ataque que viabilizem as
propostas de universalização. A Figura 2, a seguir, apresenta um fluxo simplificado para a
vinculação destas estratégias com as metas da ODS 6.

Figura 2 – Vinculação entre as metas da ODS 6 e as estratégias de universalização

Fonte: Autores.

Localmente, os efeitos deste desafio nacional carecem do desenvolvimento de estratégias


particulares, que representem os níveis de avanço ainda necessários para atingir-se as condições
de universalização dos serviços, que variam substancialmente dentro de cada uma das regiões do
ente federativo.
C O N C I L I U M | 1068

Na região nordeste do país, o cenário que se pode observar ainda é o do enfrentamento


de sérios desafios em relação universalização dos serviços, uma vez que os patamares atuais ainda
se mostram relativamente baixos em relação às demais regiões do país (cerca de 41% de pessoas
com acesso à água tratada e pouco mais de 22% com acesso à esgotamento sanitário). A situação
dos 9 estados que a compõem é semelhante, com pequenas variações a depender da região
observada (SNIS, 2022; IBGE, 2022).
No Estado de Pernambuco, o desafio com a universalização encontra índices um pouco
melhores que o da região nordeste, mas ainda distantes daqueles estabelecidos como meta pelo
NMLS (cobertura de água > 99% e cobertura de esgotamento > 90%), uma vez que o acesso à
água tratada se limita a patamar próximo dos 50% e o acesso ao esgotamento sanitário, próximo
aos 21,42%, demonstrando o imenso esforço que ainda compete ao Poder Público para o
atingimento do ideal preconizado na ODS 6.
Ocorre que, dentro do Estado de Pernambuco, a Região Metropolitana do Recife (RMR)
possui uma das melhores condições de atendimento a estas metas, o que se refletem nos quase
90% de acesso à água tratada pela população e pouco mais de 33% de cobertura da rede de
esgotamento sanitário instalada.
Importante destacar que as metas preconizadas no NMLS já apresentam um desvio em
relação aos objetivos do ODS 6, tendo em vista que neste as condições de universalização foram
previstas para ocorrer até o ano de 2030, enquanto que naquele, a linha base de universalização
foi deslocada para 2033, com a ressalva de que eventuais serviços já contratados e que façam a
previsão de universalização em data posterior e para os quais a antecipação se converta em
significativo impacto na modicidade tarifária da região, poderão ser considerados, desde que não
ultrapassem o limite temporal de 2040.
Neste sentido, o presente trabalho visa apresentar e discutir elementos que apontem os
principais desafios a serem enfrentados na busca pelo atingimento das metas estabelecidas pelo
NMLS para a universalização dos serviços de água e esgoto na RMR e consequentemente sua
contribuição para o atendimento da ODS 6.

METODOLOGIA

Considerando que a proposta deste artigo consiste em apresentar uma reflexão acerca dos
principais desafios que envolvem o atendimento às metas de universalização dos sistemas de
abastecimento de água e esgotamento sanitário na Região Metropolitana do Recife (RMR), em
atendimento aos parâmetros gerais estabelecidos na ODS 6 e desdobrados especificamente no
NMLS, alguns cuidados precisaram ser observados em relação à coleta de dados e seus
tratamentos.
C O N C I L I U M | 1069

A principal fonte dos dados foi o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
(SNIS); contudo, houve consulta complementar aos dados de projeção populacional no sítio do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além de consulta aos índices de
atendimento de água e esgotamento sanitário explicitados nos contratos de programa existentes
entre a concessionária dos serviços (Companhia Pernambucana de Saneamento – COMPESA) e
das prefeituras municipais que compõe a região de estudo.
Também foi realizada consulta de dados no sítio do Instituto Cidades Sustentáveis, que
apresenta um trabalho importante ao gerar um índice que retrata os avanços já percebidos no rumo
do atendimento a todos os ODS’s propostos na Agenda 2030. O IDSC-BR (índice de
desenvolvimento sustentável das cidades – Brasil) está apresentado por município e, no caso deste
estudo, foram considerados os dados relativos exclusivamente ao ODS 6.
Importante esclarecer que foi necessário promover um tratamento nos dados lá
disponibilizados, a fim de que pudessem ser agrupados por estado, região e país. Neste sentido, a
proposta aqui utilizada foi empregar-se médias ponderadas pela população total dos municípios.
Assim, a população total urbana foi composta a partir dos dados obtidos no SNIS (disponíveis até
o ano 2020), acrescidos da projeção de crescimento populacional disponibilizada pelo IBGE. As
populações atendidas de água e esgoto, seguiram padrão semelhante, ou seja, até 2020 foram
utilizados os dados do SNIS e a partir deste ponto foram calculadas as populações, tomando por
base os índices de atendimento obtidos.
Administrativamente, a região de estudo – RMR é constituída de apenas 14 municípios,
contudo, em consulta aos termos do Edital 002/2012 – CGPE que deu origem ao contrato para
exploração do sistema de esgotamento sanitário desta região na modalidade de uma concessão
administrativa (ou PPP), verificou-se que o município de Goiana foi inserido como parte da área
a ser atendida, motivo pelo qual também foi considerado nas análises aqui realizadas. A Figura 3
apresenta a delimitação da área em estudo.
As análises foram desenvolvidas para avaliar os desafios que ainda serão necessários
enfrentar para a concretização da universalização dos serviços de água e esgoto, abordando
aspectos como: (i) governança; (ii) disponibilidade e condições de captação dos recursos
necessários; (iii) estruturação da cadeia produtiva do setor e (iv) impactos na vida social da
população beneficiada.
C O N C I L I U M | 1070

Figura 3 – Delimitação da área de estudo (Região Metropolitana do Recife + Município do


Goiana)

Goiana
ID M UNICÍPIO Á REA (Km 2 )
Itapissuma
1 ABREU E LIMA 126,38
2 ARAÇOIABA 93,36
Araçoiaba
Ilha de Itamaracá 3 CABO DE SANTO AGOSTINHO 445,34
Abreu e Lima
4 CAMARAGIBE 51,32
Igarassu
5 GOIANA 445,41
Paulista 6 IGARASSU 306,88
Camaragibe
7 ILHA DE ITAMARACÁ 66,15
Olinda
São Lourenço da Mata 8 IPOJUCA 521,80
Recife 9 ITAPISSUMA 73,97
Moreno
10 JABOATÃO DOS GUARARAPES 258,72
Jaboatão dos Guararapes 11 MORENO 196,07
12 OLINDA 41,30
Cabo de Santo Agostinho
13 PAULISTA 96,93
14 RECIFE 218,84
15 SÃO LOURENÇO DA MATA 264,19

Ipojuca

Fonte: Adaptado de IBGE, 2022.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Como início das análises globais foram considerados os dados coletados para o IDSC-
BR e o tratamento numérico para agrupamento dos resultados, de forma a obterem-se os valores
explicitados na Figura 4.

Figura 4 – Dados do IDSC-BR para a RMR, Pernambuco, Região Nordeste e Brasil – Análise
da ODS 6

Goiana
60,917

Itapissuma
55,612
Araçoiaba
30,478 Ilha de Itamaracá
43,066
Igarassu
Abreu e Lima 59,349
64,939

60,0 Paulista
Camaragibe 73,213
57,489
Olinda
50,0 São Lourenço da Mata 73,014
61,801
Recife
Moreno 69,815
40,0 65,923
Jaboatão dos Guararapes
68,714
30,0 Cabo de Santo Agostinho

69,226
20,0
Ipojuca
59,011
10,0

0,0
RMR PERNAMBUCO NORDESTE BRASIL

(a) (b)
Fonte: Adaptado de ICS, 2022.
C O N C I L I U M | 1071

Conforme já apresentado, o IDSC-BR (índice de desenvolvimento sustentável das


cidades – Brasil) mede o quanto já foi realizado de avanço em direção ao atendimento das ODS’s;
neste caso específico – da ODS 6.
Uma análise dos dados apresentados na Figura 4a permite observar que a Região
Metropolitana do Recife (RMR) encontra-se em situação de avanço de ações para o atendimento
às metas da ODS 6 muito semelhantes à média nacional e em condição superior às médias que
podem ser observadas no estado de Pernambuco e mesmo em toda a região nordeste do país.
Trazendo um olhar mais particular para a RMR (vide Figura 4b) é possível constatar-se
que este avanço não é uniforme em toda a região, mas que quase metade dos municípios ainda
necessitará enfrentar grandes desafios para promover o atendimento esperado. Destaque-se ainda
que os municípios mais populosos não se encontram nesta relação; entretanto, o fato de não
estarem nesta lista não diminui o desafio que ainda será necessário enfrentar.
Transformar tais números em questões mais objetivas requer o desenvolvimento de uma
linha de raciocínio particular; que será apresentada a partir deste ponto.
O ponto de partida deste raciocínio será a estruturação do crescimento populacional e do
atendimento na área de estudo. Neste sentido, as Figuras de 5 a 8 apresentam as principais
premissas para a avaliação deste comportamento até o ano 2037.

Figura 5 – Crescimento Populacional da Região Metropolitana do Recife

COMPORTAMENTO CRESCIMENTO POPULACIONAL

5.000.000 PROJEÇÃO IBGE + METAS PARA ATENDIMENTO NMLS


DADOS SNIS
4.500.000
+ 24%
4.000.000 + 21%

3.500.000 + 200%
+ 7%
+ 183%
3.000.000
2.500.000 + 125%

2.000.000 + 27%

1.500.000
1.000.000
2013 2016 2019 2022 2025 2028 2031 2034 2037 2040

URBANA RMR ÁGUA RMR ESGOTO RMR

Fonte: Adaptado de SNIS, 2022 e IBGE, 2022.


C O N C I L I U M | 1072

Figura 6 – Evolução do Índice de Atendimento de Água (IAA) na RMR


IAA
ID MUNICÍPIO 2016* 2019* 2022 2025 2028 2031 2034 2037
1 ABREU E LIMA 92,28% 94,66% 96,20% 98,76% 99,22% 99,69% 100,00% 100,00%
2 ARAÇOIABA 33,90% 34,81% 70,90% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%
3 CABO DE SANTO AGOSTINHO 87,08% 96,92% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%
4 CAMARAGIBE 76,63% 78,99% 81,10% 87,91% 92,44% 96,98% 100,00% 100,00%
5 GOIANA 76,64% 85,99% 94,30% 96,96% 98,10% 99,24% 100,00% 100,00%
6 IGARASSU 77,54% 80,26% 81,90% 88,36% 92,72% 97,09% 100,00% 100,00%
7 ILHA DE ITAMARACÁ 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%
8 IPOJUCA 78,94% 86,68% 91,30% 95,38% 97,11% 98,84% 100,00% 100,00%
9 ITAPISSUMA 73,55% 76,75% 76,80% 84,53% 90,33% 96,13% 100,00% 100,00%
10 JABOATÃO DOS GUARARAPES 75,82% 81,24% 85,30% 91,47% 94,67% 97,87% 100,00% 100,00%
11 MORENO 90,96% 91,01% 91,70% 94,67% 96,67% 98,67% 100,00% 100,00%
12 OLINDA 96,90% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%
13 PAULISTA 97,43% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%
14 RECIFE 83,81% 89,33% 93,30% 97,16% 98,22% 99,29% 100,00% 100,00%
15 SÃO LOURENÇO DA MATA 75,24% 82,69% 86,10% 91,47% 94,67% 97,87% 100,00% 100,00%

TOTAL POPULAÇÃO RMR 84,38% 89,51% 92,63% 96,10% 97,51% 99,00% 100,00% 100,00%
* Dados colhidos a partir do SNIS 2020

Fonte: Adaptado de SNIS, 2022 e IBGE, 2022.

Figura 7 – Evolução do Índice de Atendimento de Esgoto (IAE) na RMR


IAE
ID MUNICÍPIO 2016* 2019* 2022 2025 2028 2031 2034 2037
1 ABREU E LIMA 25,24% 24,86% 25,02% 25,41% 25,32% 56,81% 90,00% 90,00%
2 ARAÇOIABA 0,00% 0,00% 0,00% 90,00% 90,00% 90,00% 90,00% 90,00%
3 CABO DE SANTO AGOSTINHO 11,60% 12,82% 34,33% 36,22% 47,31% 89,68% 90,71% 90,69%
4 CAMARAGIBE 1,53% 1,33% 4,23% 26,17% 82,20% 86,23% 88,91% 90,00%
5 GOIANA 0,00% 0,00% 41,07% 42,19% 42,65% 43,10% 81,83% 90,00%
6 IGARASSU 3,42% 3,19% 4,20% 4,07% 3,98% 50,61% 53,27% 90,00%
7 ILHA DE ITAMARACÁ 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 73,40% 90,00%
8 IPOJUCA 18,76% 19,72% 35,04% 45,79% 46,31% 46,85% 47,13% 90,00%
9 ITAPISSUMA 14,93% 14,60% 13,80% 13,24% 12,81% 12,44% 90,00% 90,00%
10 JABOATÃO DOS GUARARAPES 19,37% 19,36% 36,35% 40,64% 72,72% 79,20% 86,31% 90,00%
11 MORENO 34,39% 33,19% 56,72% 58,41% 59,55% 60,70% 89,99% 90,00%
12 OLINDA 45,29% 46,16% 63,01% 85,88% 89,99% 90,00% 90,00% 90,00%
13 PAULISTA 50,20% 52,69% 50,29% 53,57% 75,85% 89,85% 90,00% 90,00%
14 RECIFE 41,67% 43,96% 45,03% 62,31% 77,51% 86,83% 88,83% 90,01%
15 SÃO LOURENÇO DA MATA 10,26% 20,74% 29,12% 30,95% 32,12% 33,18% 38,90% 90,00%

TOTAL POPULAÇÃO RMR 31,90% 33,41% 40,87% 52,77% 69,58% 80,15% 85,35% 90,04%
* Dados colhidos a partir do SNIS 2020

Fonte: Adaptado de SNIS, 2022 e IBGE, 2022.

Figura 8 – Crescimento das Populações Atendidas na RMR: (a) água e (b) esgotamento sanitário
POPULAÇÃO ATENDIDA DE ÁGUA RMR POPULAÇÃO ATENDIDA DE ESGOTO RMR
(Habitantes) (Habitantes)

4.500.000 4.000.000
4.000.000 3.500.000
3.500.000 3.000.000
3.000.000
2.500.000
2.500.000
2.000.000
2.000.000
1.500.000
1.500.000
1.000.000 1.000.000

500.000 500.000
0 0
2016 2019 2022 2025 2028 2031 2034 2037 2016 2019 2022 2025 2028 2031 2034 2037

(a) (b)
Fonte: Adaptado de SNIS, 2022 e IBGE, 2022.

A partir das figuras, pode-se observar a distribuição dos valores populacionais ano a ano,
diferenciando os dados obtidos diretamente do SNIS (colunas com asterisco nas Figuras 6 e 7, e
destaques mais escuros na Figura 8), daqueles calculados a partir das projeções do IBGE.
Também é possível verificar que o crescimento previsto para a população atendida de água, em
C O N C I L I U M | 1073

relação aos dados disponibilizados pelo SNIS, deve atingir um patamar de 21% já em 2031 e
superar os 24% em 2037, representando significativo incremento na oferta deste serviço no
intervalo de 17 anos. Para o esgotamento sanitário a situação é ainda mais desafiadora, tendo em
vista a condição atual (33,41% de cobertura). Os incrementos previstos representam 125% já em
2028 e chegam a atingir 200% em 2037.
Outro ponto importante que pode ser observado das Figuras 6 e 7 reside no fato de que,
em relação aos serviços de abastecimento de água, o atendimento às metas preconizadas pelo
NMLS foi amplamente atendido em 2033, com a ressalva de que já em 2031, a expectativa é
atingir-se na região o patamar de 99% de cobertura e em 2034 chegar próximo aos 100% de
cobertura.
Tal situação não se verifica em relação à expansão dos serviços de esgotamento sanitário,
tendo em vista a existência do contrato de concessão administrativa na área da RMR, cuja
premissa de universalização aponta para o ano de 2037 (90% de cobertura). Mesmo com estas
características o que se observa é que o resultado das ações até 2033 levam a um índice de
atendimento no ano subsequente já em um patamar pouco superior a 85%.
Considerando os elementos aqui apresentados, pode-se ponderar como componentes dos
principais desafios a serem enfrentados para tratar a realidade aqui delineada os seguintes:
O primeiro item de análise recairá sob o tema “disponibilidade e condições para a captação de
recursos”, procurando discutir os montantes necessários e as condições em que tal captação pode
ocorrer.
Considerando que, em verdade, não se teve acesso a valores reais dos investimentos
planejados pela concessionária para a efetiva implantação dos sistemas, optou-se por projetar
valores, a partir de preços médios referenciais e atualizados, a fim de inferir-se não apenas os
montantes a serem aportados, como também a constância de tais aportes ao longo do tempo.
Os valores referenciais foram obtidos a partir de dados coletados em procedimentos
licitatórios realizados, como o caso do já citado Edital 002/2012 – CGPE, dos estudos realizados
pelo Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) para o saneamento em Pernambuco e das
informações disponibilizadas para a consulta pública relativas ao processo licitatório nacional
010/2020 que possuía como objetivo a exploração dos serviços de água e esgoto no município de
Petrolina/PE, tendo em vista que todos estes processos passaram por audiências públicas e tiveram
seus dados amplamente divulgados. Assim, as análises realizadas apontaram para valores médios
de R$ 1.900,00 / habitante para a implantação de Sistemas de Abastecimento de Água e de R$
2.000,00 / habitante para a implantação de Sistemas de Esgotamento Sanitário; ambos os valores
referenciados na data base julho de 2022.
Desta forma e considerando os incrementos populacionais, tornou-se possível compor os
valores incrementais acumulados para cada um dos períodos analisados, tanto para a expansão de
água, quanto para a expansão dos serviços de esgotamento; o que segue apresentado na Figura 9.
C O N C I L I U M | 1074

Figura 9 – Necessidade de Aportes (valores acumulados) por ano para Universalização na RMR
NECESSIDADE DE APORTE DE RECURSOS ESTIMADA
(R$ MILHÕES)

9.000
8.000
7.000
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
2022 2025 2028 2031 2034 2037

ÁGUA ESGOTO

Fonte: Autores.

Verifica-se que o montante de investimentos a ser realizado para garantia da


universalização dos serviços na RMR até o ano de 2037 supera o patamar de R$ 16 bilhões,
levando-nos a inferir a necessidade de aplicar-se mais de R$ 1 bilhão por ano até que se efetive o
objetivo maior de atendimento à população.
Importante considerar, como já citado anteriormente, que este não é um desafio exclusivo
da Região Metropolitana do Recife, mas que se estende por todos os outros municípios do país,
de forma que a necessidade de aportes equivalentes também será requerida. Some-se a isto o fato
de que tratamos nesta análise apenas dos aspectos relacionados ao ODS 6; entretanto a Agenda
2030 trata objetivamente de mais outros 16 objetivos e que, quando desdobrados segundo a
realidade objetiva dos países, provocará efeitos colaterais de aportes em infraestruturas não
inicialmente considerados. Investimentos em infraestrutura urbana, habitação, portos e
aeroportos, energia renovável, linhas férreas constituem um exemplo desta demanda por recursos.
Haverá, portanto, a necessidade de “seletivizar” a disponibilidade de recursos; constituindo-se
este em um dos primeiros desafios que deverão ser enfrentados no caminho da universalização.
Depender dos organismos tradicionais de fomento, não se configura, a priori, uma
alternativa viável para garantir-se tamanho aporte de recursos em tão apertado espaço temporal.
Tampouco é possível cogitar a possibilidade de transferir, no todo ou em parte, esta busca de
recursos para os usuários dos sistemas, por meio de aumentos sucessivos de tarifa; tendo em vista
que isto iria de encontro aos ideais primordiais do desenvolvimento sustentável, contrariando
prioritariamente os esforços para reduzir a quantidade de indivíduos em situação de risco.
Como possível resposta, surge o segundo desafio sob o tema “governança”. Neste caso
específico, as ações aqui devem transcender o simples aspecto de organização institucional (o que
já se constitui em algo considerável), mas devem considerar a necessidade de estreitar laços com
os demais players deste processo, como é o caso das agências reguladoras, agências de meio
C O N C I L I U M | 1075

ambiente, prefeituras municipais e ministério público. Muitas ações serão necessárias para
atingir-se um objetivo de tamanha complexidade e todos estes organismos devem trabalhar de
forma integrada sob pena de não atingimento dos resultados esperados e propostos pela Agenda
2030.
Apresenta-se agora o terceiro elemento a ser considerado nesta avaliação, aqui alocado
sob o tema da “cadeia produtiva do setor de saneamento”. No que diz respeito a este elemento
de avaliação, entende-se a necessidade de observar dois níveis distintos de análise, sendo o
primeiro deles relacionado à disponibilidade de mão de obra tecnicamente qualificada (em tempo
hábil) e o segundo relacionado aos demais insumos necessários.
Voltando o olhar para a disponibilidade de mão de obra tecnicamente qualificada, o que
se observa na implantação de grandes empreendimentos, cuja demanda surge sem planejamento
em relação à formação profissional, é uma escassez de recursos e uma corrida desenfreada para
tentar suprir essa falta, contudo, muitas vezes esta ação leva entre 5 e 8 anos para consolidar-se,
não conseguindo acompanhar a necessidade dos empreendimentos e gerando com isso
desequilíbrios no mercado; convertendo-se por fim em desafio para a viabilização dos projetos.
Outro viés a ser considerado reside na disponibilização dos demais insumos, tendo em
vista que o processo de universalização ocorrerá em todos os municípios do país e de forma
simultânea, demandando dos fornecedores uma elevada quantidade de materiais, que poderão
suplantar inclusive suas capacidades operacionais de fornecimento, trazendo consigo a
necessidade de ampliações e, no curto prazo, aumento dos insumos e dificuldades de
abastecimento. Ademais, conforme já mencionado, parte dos insumos requeridos para a
universalização dos serviços de água e esgotamento não é de exclusividade do setor de
saneamento, como é o caso do cimento e demais subprodutos para a produção de concreto e
argamassa; isso implica no fato de que outras áreas de desenvolvimento irão demandar tais
insumos, concorrendo diretamente para sua aquisição e colocando em risco o processo de
universalização e trazendo modificações também na economia do país.
Por fim, ainda há que se considerar os “impactos mais diretos na estrutura da vida social
da população” que irão ocorrer em função do processo de universalização. Não se pode negar os
benefícios decorrentes deste processo, contudo, alguns elementos precisam ser considerados no
curso destes próximos 12 anos, que representam a jornada à universalização.
No rol dos aspectos que merecem destaque, apresenta-se a situação dos transtornos
decorrentes da implantação das malhas de adução, distribuição e recalque, tendo em vista que a
construção destes elementos implica necessariamente em interdição de vias urbanas, modificando
o cenário de fluxo para os automóveis e, muitas vezes, causando consideráveis eventos de
congestionamento, agravando ainda mais os problemas de mobilidade já existentes. Perceba-se
que não será um caso isolado, mas um evento de escala muito considerável ocorrendo por mais
de 12 anos na região.
C O N C I L I U M | 1076

Para que se possa melhor mensurar o impacto desta realidade, estima-se que a
implantação de um novo sistema de abastecimento implique na necessidade de cerca de 9 metros
de rede por habitante, enquanto para um sistema de esgotamento sanitário essa necessidade atinge
o patamar de pouco mais de 6 metros de rede por habitante. Nesta configuração, o montante de
redes chega a mais de 7.800 km, no caso das redes de água, e pouco menos que 16.000 km para
as redes de esgotamento sanitário. Considerando que a universalização de água deve ocorrer em
12 anos, será necessário garantir a implantação de mais de 650 km de rede por ano na Região
Metropolitana do Recife. Voltando o olhar para o esgotamento sanitário, mesmo ao se considerar
que a universalização levará 16 anos, ainda será necessário implantar cerca de 990 km de rede
por ano. Somadas, estas intervenções apontam uma necessidade de implantar quase 1.700 km de
rede por ano.
Por fim, há que se destacar a “percepção da população” diante destas intervenções, tendo
em vista que para aqueles que não possuem acesso à água ou para os quais os níveis de
intermitência no fornecimento são muito elevados, o evento da universalização e de regularidade
no abastecimento que é requerido no NMLS representarão o acesso a uma realidade a muito
esperada; entretanto, para os demais, não será perceptível a mudança na sua realidade, de forma
que podem não receber de maneira muito positiva os transtornos que ainda precisam ocorrer até
que se possa garantir acesso justo a toda a população.
Situação semelhante ocorre com aqueles que ainda vivenciam a realidade de esgotos
correndo a céu aberto. Para estes, a universalização trará um impacto muito relevante na qualidade
de vida e na saúde pública, diretamente ligada a inúmeras doenças de veiculação hídrica;
entretanto, para os demais, inclusive para aqueles que possuem soluções individuais de tratamento
(por exemplo, conjuntos de fossa + sumidouro ou filtro ou valas de infiltração), o impacto não
será sentido na mesma proporção, particularmente porque serão “obrigados” a desativar seus
sistemas individuais para aderir aos sistemas coletivos operados pelas concessionárias locais.
Neste aspecto, a capacidade de mobilização social é imprescindível para despertar nos
indivíduos o entendimento de que sem suas efetivas contribuições para a instauração de um novo
cenário nacional e global, será impossível implantar um ambiente realmente sustentável para a
vida humana no planeta. Esse desafio também passará pela capacidade de incutir na população
que cada um precisará dar sua cota de contribuição para a construção de uma nova realidade
planetária, por meio de uma conversa mais harmoniosa entre o ser humano e a natureza.

CONCLUSÕES

A análise dos dados levantados possibilitou gerar o cenário provável para o


desenvolvimento das ações estruturadas a fim de garantir o atendimento das premissas
C O N C I L I U M | 1077

estabelecidas no NMLS. Restou evidenciado que o panorama apresentado para este atendimento,
mesmo se convertendo em tarefa desafiadora, ainda extrapola as metas iniciais preconizadas pela
ODS 6 na Agenda 2030.
De toda forma, o quadro aponta significativo esforço a ser realizado no rumo à
universalização dos serviços de água e esgoto na RMR, o que pode ser inferido a partir dos
incrementos necessários, tanto para a cobertura no abastecimento de água (+24%) quanto para a
cobertura com esgotamento sanitário (+200%). Neste cenário, a RMR deverá atingir as condições
de universalização na cobertura de água já em 2031 e na cobertura de esgotamento sanitário
apenas em 2037.
No que diz respeito aos desafios que deverão ser enfrentados para a consecução da
universalização, a abordagem deste trabalho os dividiu em 4 grupos principais: (i) governança;
(ii) disponibilidade e condições de captação dos recursos necessários; (iii) estruturação da cadeia
produtiva do setor e (iv) impactos na vida social da população beneficiada; avaliando a partir
desta perspectiva os esforços a serem empreendidos.
Partindo de uma abordagem direta acerca dos montantes de investimento, foi possível
verificar-se que, os valores de recurso necessários para a RMR (R$ 16 bilhões) são muito
expressivos, representando a aplicação média anual de mais de R$ 1 bilhão durante os próximos
12 anos e denotam um quadro preocupante, principalmente quando se considera o fato de que
haverá considerável concorrência pela obtenção de fontes de recursos, uma vez que os
compromissos configurados para o atendimento ao NMLS estão postos para todos os municípios
da federação.
Ainda há que se considerar o fato de que outras áreas de desenvolvimento também irão
requerer aportes de recursos, já que compões outros objetivos de desenvolvimento como parte da
Agenda 2030. Neste sentido, entende-se que os processos de seletividade na disponibilização dos
recursos impactarão de forma muito significativa o sucesso da universalização pretendido.
Some-se a isto o fato de que ações simultâneas em muitos dos municípios da federação
com o mesmo propósito impactarão tanto as condições de disponibilidade de mão de obra
tecnicamente qualificada, quanto à disponibilização dos demais insumos necessários para a
universalização dos serviços, gerando elevado risco não apenas de transtorno por escassez e
impossibilidade de gerar qualificação adequada em período inferior ao necessário para o ajuste
na demanda por formação profissional (5 e 8 anos), como também pressões exageradas nos preços
dos insumos, em decorrência dos incrementos de demanda e possíveis crises de abastecimento.
Crises desta natureza já foram verificadas em outros momentos, quando não se percebeu um
cuidadoso planejamento em relação à cadeia produtiva de insumos e treinamento de mão de obra.
Tratativas para controlar estes elementos passam necessariamente por ações coordenadas
entre os diferentes níveis de gestão, de forma que a governança, deve assumir papel de destaque.
Neste sentido, tanto as ações organizacionais (regulamentação de competências, quadro funcional
C O N C I L I U M | 1078

adequado, capacitação dos servidores), quanto as de cunho institucional (estabelecimento de


parcerias e convênios institucionais envolvendo as agências reguladoras, agências de meio
ambiente, prefeituras municipais, ministério público, centros tecnológicos, universidades, etc)
mostram-se urgentes e devem considerar a complexidade que requer a abordagem do tem
universalização para o saneamento básico.
Por fim, pode-se inferir que, mesmo diante dos inegáveis benefícios decorrentes deste
processo, alguns aspectos podem representar transtornos, particularmente aqueles oriundos da
implantação das malhas de adução, distribuição e recalque, tendo em vista que provocarão
interdição de vias urbanas, modificando o cenário de mobilidade urbana já tão difícil na atualidade
e mantendo tal situação por mais de 12 anos na região.
O quadro será ainda agravado quando se somar a “percepção da população” frente às
intervenções, tendo em vista que os efeitos benéficos serão mais sentidos por aqueles que não
possuem qualquer acesso aos serviços de saneamento; entretando, para os demais, a percepção
não será a mesma, podendo mesmo existir muitos casos em que a população não venha a receber
de maneira muito positiva os transtornos que ainda precisam ocorrer até que se possa garantir
acesso justo a toda a população.
Neste aspecto, a capacidade de mobilização social será imprescindível para despertar nos
indivíduos o entendimento de que sem suas efetivas contribuições para a instauração de um novo
cenário nacional e global, será impossível implantar um ambiente realmente sustentável para a
vida humana no planeta. Esse desafio também passará pela capacidade de incutir na população
que cada um precisará dar sua cota de contribuição para a construção de uma nova realidade
planetária, por meio de uma conversa mais harmoniosa entre o ser humano e a natureza.
C O N C I L I U M | 1079

REFERÊNCIAS

ABES, Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental. RANKING ABES


DA UNIVERSALIZAÇÃO DO SANEAMENTO - 2021. 88 págs. Disponível em:
<http://abes-dn.org.br/wp-
content/uploads/2021/06/Ranking_2021_1917_7_compressed.pdf> Acesso em: 06 set.
2022.

BRASIL. Lei no 14.026, de 15 de julho de 2020. Atualiza o MARCO LEGAL DO


SANEAMENTO BÁSICO e dá outras providências. Diário Oficial da União 2020;
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2020/lei/l14026.htm> acesso em 06 set. 2022.

Faciroli, M. I; Fonseca, M. H. AGENDA 2030 E DIÁLOGO SOCIAL:


CONTRIBUIÇÕES PARA O ALCANCE DAS METAS DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL. Revista de Direito e Sustentabilidade. e-ISSN: 2525-9687. v. 6, n. 1,
p. 94-115, edição de Janeiro a Junho, 2020.

ICS, Instituto Cidades Sustentáveis. IDSC-BR: Índice de Desenvolvimento Sustentável


das Cidades - Brasil. Disponível em: http://idsc.cidadessustentaveis.org.br/. Acesso em:
06 set. 2022.

Meneghel, S. M.; Filisbino, F.; Argôllo, A. C. A. M. Agenda 2030 e Desenvolvimento


Sustentável: avanços e desafios da Educação Superior no Brasil. Revista Educación
Superior y Sociedad, vol 33, No. 2, 686-712, e-ISSN: 26107759, 2021.

ONU, Organização das Nações Unidas. OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO


SUSTENTÁVEL. Disponível em <https://brasil.un.org/pt-br/sdgs> acesso em 16 ago. 2022.
OMS, Organização Mundial da Saúde (2018). Guidelines on sanitation and health.
Geneva: World Health Organization. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO. Disponível em:
<https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/274939/9789241514705-
eng.pdf?ua=1> Acesso em: 06 set. 2022.

Santos, G.; Kuwajima, J. I. CADERNOS ODS. ODS 6: Assegurar a disponibilidade e


gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos. Maio de 2019.

Santos, D. M. C.; Medeiros, T. A. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E


AGENDA 21 BRASILEIRA. Revista Ciência Atual. Rio de Janeiro. Volume 15, No 1,
2020.

SNIS, Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Consulta de Séries


Históricas. Disponível em: <http://app4.mdr.gov.br/serieHistorica/#> Acesso em: 06 set.
2022.

VEIGA, J. E. da. Para entender o Desenvolvimento Sustentável. 1. ed. São Paulo:


Editora 34, 2015. 232 p. ISBN 9788573266122.

You might also like