Download as pdf
Download as pdf
You are on page 1of 204
S@li@m co Walle Nera Bimeeverc ss ie 32 edi¢do - Revisada e Ampliada (elo MMe ROM Canto 7. eee — ‘Copyright © 2009 de Editora Miisiea de Teenologia Ltda, Diagramagio ilustragao da capa Clheat By ~ ellentby.com be Revisios Ligia Diniz Impressio ¢ acabamseato: Geiica Stamippe Dados Intemacionais de Catalogagio na Publicagio (CIP) Valle, Son to Manual pritice de acustica Sten do Valle. - ed, - Rio de Janeiae ; Miisica & Tecoolegia, 2009 388p.c ih Inclal bibtiografia ISBN S7R-85-H9402- 14-9 {Engenharia de acisticn 2 Avistica. 3. Som. 4 Esti de 0m - Projet e plantas, 1 Tinta, 109.3390, eDD 620.23 COU ORLA, 09.07.09 14,0740 913733, 2009 Proibida a reprodugo total ow parcial, ‘Os infeatores sero processavio na forma da be. ‘itoea Msiea & Tecnologia Lida, Estrada de Jacarepagud, 7655, sala 704 Rio de Janeiro - RJ = CEP 22 753.045 Sumario Defini¢ées Fundamentais 9 ntinnos ea Frequéncias e Notas Musicais 23 ) Obecibet a A Audi¢ao Humana 45 | Propagactio de Som ao Ar Livre cen | Fundamentos da Acistica te | Pardmetros Acisticos 7 Diretividade das Fontes Sonoras 105 | Acistica de Ambientes Fechados 1 ‘Ondas estacionarias e Modos 143 E |solamento acustico Medidas de Audio 181 Portas, janelas, visores e dutos: es | Condicionamento acustico 215 Calevlando a Aciistica me 255 © condicionamento do ar Estidios pora ensaio Estidios de gravagdo 287 Mirotones se Pré-amplificadores & mesas 331 Equipamento bésico de gravacao im | Monitoragao 363 a Introdug¢do ‘Conhego bons livros sobre Acistica, Teatros, templos, paldicios, centros do ‘oxponig6as silo vistos, de um ponto de vista muilo estética, mas... powea prition, Oa autores nao chegam a sugerir uma espécie de rotina de procedimentos para estudar cada ambiente quentoa seu tamanho, aplicagées, caracterlsticas ‘especiais, muito menos 4 vontade de dono au administrador de que funciona desta ou daquela maneira, Em outras palavras, ha muito saber descentralizado, muita cullura, mas powca objetividade em meio a essa riqueza de conhecimentos, Por quire fade, vejo obras sando realizadas sem um estudo adequado caso & caso, “Receltas de bolo” sendo aplicadas com resultados quase sempre aquém do desojado... ¢ custos nem tanto, Seriam estes casos de excesso de cbjetividade? ‘Certamante, Aqui faltau atengao ao detalne, faltou sensibilidade artistica, taltou ‘oque eu Chamaria de sensibilidade técnica - uma capacidade de transpor, nos dois sentides, a ponte entre a arte @ a tecnologia, Este livro se origina de textos que escrevi a0 longo de varios anos, sempre buscando oferecer um tipo de informagao de fato util para quem quer se desenvolver no projeto de ambientes acusticamente corretos. Evitel certas. equagdes ¢ férmulas dignas de doutorandos em Fisica, pois elas no tornariam @ tarefa mais simples nem mais perfeita para o usuario médio. Mas entrei com @ Matematica onde quer que ela se mostrasse util, Procural buscar na Musica inspiragdo para explicar muitos fendmenos fisicos, trazendo-os para mals perto da artista do que do clentista, ‘Se vood esta interessado em montar seu home studio, sonorizar a igreja de sua comunidade, corrigir a actistica do principal teatro do pais, adquirir canceitos sonoros para a produgao de COs de sucesso, embarque comige nesta viagem, t Manual PRATICO OE AGOSTICA we Capitulo 1 Definigdes Fundamentais © que é Audio? Audio, palavra que existe em Portugués e am muitas outras linguas, vem do Latim audio, primeira pessoa do presante do verbo audire, que significa ouvir. Entao, Audio quer dizer “ougo”, Na sentide técnico, entende-se por Ausio qualquer fenémeno no qual acormam: de 20-2 20 mil andes por segundo. O ouvide humano 4 capaz de perceber sons que contenham numeros de ondas por sagundo dentro dessa faixa, O que sao ondas? Ondas sic fenémenos de repeti¢ao clelica, isto 6, onde se varia desde um valor de repouso até chagara um valor maximo posilivo, descando-se de novo, passando pelo valor de rapouso, desce-se até um valor maximo negativo, voltande-se novamente ao ponte de repouse, ¢ iniciando-se outra onda semelhante, A esta ‘ida e volta” completa da onda, damos.o nome de ciclo, Representagio grifica de uma onda a MANUAL PaATICO DE ACOSTICN Frequéncia Afrequénca é uma das caracteristicas mais importantes do Audio. Frequéncia 6-0 numero de cisos que ocorrem & cada segundo da tempa, Portanto, a0 se dizer que a frequéncia (1) 4 de 1000 cictos porsegundo, queremos: dizer que a cada segundo, acontecem 1000 ciclos de onda. Unidade de Frequéncia; em vez de ciclos por segundo, utilizamos 0 Hertz, unidade de frequéncia que corresponde a 1 ciclo por segundo. Esta unidade fol assim denominada em homenagem a Heinrich Hartz (1857-1894), descebridor das ondas de radio, também chamadas ondas hertzianas. Exemplo: 250 ciclos por segunda = 250 hertz ov 250Hz (abreviatura) §.000 ciclos por segundo = 5.000 hertz ou 5 kilohertz = kHz Periodo Para certas aplicagSes, tomna-se mals util especificar o tempo de duragaiode um ciclo. Este tempo chama-se Periodo da onda, sendo expresso em segundes. 0 periode (1) & exatamente o inverso da frequéncia, isto 6: 1 1 nO “a 1 Hertz Exemplo: ‘Qual o periodo de uma onda de 200Hz? Resp.: perlodo = sae = 0,005 segundos = 5 milissegundos ou Sms MANUAL PRATICO OF ACGBTICX Spas ttn a As ondas de hudio podam apareder de 18s formas diferanten: + Nos compos silos, sendo chamadas de VIBRAGAQ, + No ar, sando chamadas de SOM, + Nos eiroultos elétrices, sendo chamadas de SINAL DE AUDIO. Nos sdlidos, a8 ondas sonoras se apresentam como deformagdes dos compos, na frequéncia (fig, 2). AMPLITUDE VIBRAGAO MINIM ‘Vibrag8o de um corpa sdlide 1 MANUAL PRATICO DE ACUSTICA No ar, a8 ondas sonoras séio variandes na pressfe do ar, acima ¢ abaixo da pres- ‘Sfio atmosférica, que no caso é o valor médio da onda (fig. 3). AR MAIS RAREFEITO ONDA SONORA YALOR MINIMO PRESSAQ ATMOSFERIGA NORMAL _ VALOR MEDIO \ Aft MAIS DENSO * WALOR MAXIMO: ~~ Aen, / ay Onda senara no ar Nos circultos elétricos, as ondas se apresentam em forma de variagSesna tensio (voltagem) e/ou na correnta elétrica, nos diversos pantos do circuito; isto é, a tenso e/ou a corrente varia acima e abslxo de seu valor médio ou de repouso, © qual pode ser zers, ow outra tansSo ou corrente qualquer. ‘Onda ne circuito elétrico Ve MANUAL PAATICN DE ACOSTICA Valocidade do Som 7 Conforme o meio & a aspicie de onda, varia a volocidede dé propagagdo {vs ‘fot beh, 8 Valockdnde com que as endas se deslocam. Em um meio mais dena, fi velocidade aumenta, Nas sdlidos @ nos liquidos Nos sélidas 6 nos liquides, a velocidade depende da densidade do material « da temperatura, sendo sempre superior a velocidade no ar, No Ar Avelocidade do som no ar (v,_.) depende da temperatura, podenda ser calculada (a0 nivel do mar) pela expressdo: onde Té a temperatura am graus Celsius, Exemplo: Calular a velocidade do som, ao nivel do mar, 4 temperatura de 21°C: Resp.: V,.., = 20,06 « y/21+ 273 = 344 mis No Circuito Avolocidade das ondas no circulto é a mesma da eletricidade, e da luz; 300.000.000 metros por segundo. Existem cerios tipos de circuitos que provecam retardo dos sinais que o9 alravessam. Isto no quer dizer que a velocidade tenha variado: na verdade, esses cirouilos “detent” ou “quardam’ os sinals por algum tempo. por meios que por ora no nos interassam, mas @ velocidade da eletricidade, fora ou dentro is MANUAL PRATIEG DE ADBSIICA desses circuitos ¢ sempre a velocidade da luz ou 300,000,000 mvs. Devido 4 altissima velocidade dos sinals elétricos, os comprimentos de onda no circullo se tomam extremamente longos. Por axemplo, para uma frequéncia bem alfa de audio de 15 kHz, 0 comprimento de onda elétrico seré de 20 km! importante observagao sobre velocidade Com relagdo & velocidade das ondas de som no ar, devemos notar que nde 6 oar quem se desioca, mas apenas as ondas que se movem, Som no é arem movimento de vaivém; as compressGes © descompressées da atmosfera é que se movem, afastando-se da fonte sonora, Da mesma maneira, o mavimento das cangas elétricas no circuito é que transporta © sinal, ¢ noo circuito se movendo! ‘Quem S¢ movimenta sempre so as cndas, nunca o meio de propagacao. Comprimento de onda ‘Se uma onda se desioca através do at com certa velocidade, com frequéncla ‘sonstante, existe uma distancia oxata entre pontos similares (como, por exemplo, © inicia) de ondas consecutivas. Para exerplificar, imaginemos ondas no ar, se deslocando para a frente; qual seré a distincia, por exemplo, entre os maximos de duas dessas ondas? Sera uma dislncia, em metros, denominada Comprimento de Onda, designada pela letra grega ). (lambda). Esie comprimente é calculado pela expresso: », - Exemplos: Qual o comprimento de onda corespondente 4 frequéncia de 1kHz 7 aa Resp: A= 0,344m = 344mm 1000 ‘Qual o comprimento de onda correspondente a 50Hz ? it MANUAL PRATICO OF ACUSTIGA Reap. b= >< 6.0m 60 ‘Obs.; Deve=se notar que, quanto maicr a fréquéncia, manor comprimento de onda. Comprimanto de onda (A) Esta observagéo é de grande importincia, e sera itil mais tarde no nosso estudo. Fase ‘A fase € um pardmetra relative de Audio. Sé tem sentido se falar em fase quando hd mais do que uma onda, seja eldirica ou scnora. Para comegar a entender o que 4 fase, vamos primeiramente entender exatamente © que é uma onda senoidal (onda de frequéncia pura). Sabemos que uma circunferéncia (a curva que envolve 0 cifculo) tem um 4nguio total de 360 graus. Ou seja, 360° so uma volta completa, 180° sho mele volta, 90" séio um quarta de volta, etc., Um dngula é representada por duas linhas, que se encontram no canto 15 Manual PRATICO OF AcOSTICR do um arco de clrculo, ¢ tém a mesma medida em graus que o arco. Repare que um fingule pode ter mais de 360°. Neste caso, o dngulo 4 dito congruente de outros. Angulos, cuja diferenga ¢ um miiltiplo inteiro de 360°, e graficamente aparece no mesma lugar, Por exemplo, a Angulo de 405° (= 45" + 360") 6 congruente com o de 45°, @ 08 Singulos de 0", 360° @ 720° também so congruantes entre si. Para maiores detalhes sobre este assunto, leia a Apandice 1, no final do livro -— a a / *, a as" art Pale | \ —tr | y : y / f / ae, ae Me agit ry Anguios @ arcas. 16 MANUAL PRATICR OF AGUSTIER Agora, imaginernns Uma circunfordncia, da rele, @ varios marcarum panto sobre: ala, Com a rotagdo da cireunforéncla, © ponta marcada val, entio, descrever um curva ondulada, que é a sendide. Uma onda de frequéncia pura é formada por um momento simples come oste, ¢ 6 uma sendide também, A O° Ma" Co 90" 420" aor tan Zim ar 27H" 900" 390" ‘Correspondéncia entre o circulo © o cicto Quando temos duas ondas da mesma frequéncia, mas uma nao coincide coma outra, existe uma diferanca em Angulo entre as ondas. Esta diferanga ¢ 0 dnguio de fase entve as ondas. Entre ondas coincidentas, a fase 6 zero. Quando a fase éde 180°, diz-se que as. ondas esto em contrafase. Quande a fase ¢ um Angulo fato (90° ou 270°), diz-se que as ondas estdio em quadrature. 7 MANUAL PRATICO BE ACOSTIER Angulas de fase de 90° a 360° 18 MANUAL PRATICO DE ACUSTICA CAPITULO 2 Como Sentimes As sengagdes humanas s4o traduzidas dos 6rgios dos sentidos para o cérebro de um modo nada linear. Se temos uma Limpada, digamos, de 60 walls, acesa, ¢ fazemos acendor Junto uma outra igual, o ambiente nde parecer duas vezes mais daro, embora evidentemente tenhamos 0 dobro da luz! ficaré um pouco mais claro. Se estamos sequrande um peso de meio quilo @ a trocamos por outro de um quilo, ‘este nos parecard um pouco mals pesado, mas nao duas vezes. mais pesado, Se aumentamos para o dobro a poténcia de um equipamenta, 0 som parecarih ligeiramente mais alto. Se formes aumentando o volume até sentirmos “o dobro” do som, leremos aumentado dez vezes a poténcial Mas nde é 56. Para tarmos a sensagSo de que a iluminag’o, 0 peso ou o volume de. som solreu outro aumento igual, teremos que multialicarnovamente a poténcia ‘ou a massa pela mesma proporgao, Isto é, para nossos sentides, muftiplicagdes iquais na amplitude dos estimulos (luz, peso, som) sio imerpretadas camo acréscimos iguais, Multiplicames, mas parece que somamos. Esquegamos agora a8 outros sentidos, @ vamos nos concentrar na audi¢ao. Duas sf0 as grandezas qué o ouvido precisa perceber: & amplitude e a frequéneia. Ja dissemos que, para acréscimos iguais no volume, precisamos de multiplicagées iquais na potncia sonora. Se, por exempio, vacé tem um airiplificadar de 10 walts @ o {roca por outro de 100 watts, percebs uma boa diferenga de volume entre eles. Se, agora, vocé quiser outro aumento de volume igual, ter. que usar um amplificador de 1000 watts — porque, nas duas Irocas, a poténcia foi multiplicada por 10. 19 WaalUAl PRATICO DE AcOSTICR Paraa frequéncia, vamos recomer a mdsica para entender como o ouvido funciona. ‘Sabo-se que existem notas mais. graves e outras mais agudas como mesmo nome. Unt dé patie ser uma note grave, uma nota média ou uma nota aguda: de qualquer ‘maneita, nds a identificaremos como um dé, e poderemos alé cantar a mesma ‘nota junte, numa altura (frequéncia) que se adapte ao nosso tom de voz. Se medirmos as frequéncias de todas.as notas d6, loge descobriramos que unas ‘840 0 dobro das outras, desde os graves alé os agudos: 32,70Hz; 85,41H2: 190,01Hz; 261,63Hz; $23,25Hz; 1.046 5Hz; 2.093Hz; etc. Para qualquer outa nota, isto também acantece, Na misica ecidental, o conjunto de notas entre duds notas do mesmo nome contém aito notas— por exemplo: 46, ré, mi, fé, sol, 18 si, d. Porisso, o intervalo- entre duas notas do mesmo nome $a chama Uma oitava. Mas acabamos de ‘ver que entre notas seguidas do mesmo nome ha uma razSo de 2 para 1. Por isto, uma razao de 2 vezes (0 dobro) na frequéncia 6 chamada de uma oitava acima. Pela mesma ligica, uma raz8o de 1/2 (a metade) na frequéncia chamada de uma oilava abaixo, Continuande com esta ldgiea, duas oitavas acima serio 4 vezes, trés oftavas acima sero 8 vezes, quatro oilavas acima serio 16 vezes, elc.; e duas oltavas abake serdo 1/4, irés oltavas abaixo sero 1/8, ¢ assim por diante, Existem outros intarvalos menores que a oilave, que estudaremos mais 4 frente, Mas, por enquanto, o importante @ saber que intervalos iguais entre notas seam para os ouvides como diferengas iguais de alinagde (pitch), Novamente, multiplicagées so percebidas como somas, e divistes sao pereebidas como diferengas. Vemos, enldo, que existe no cérebra um processo matematico de conversao d@-valores das sensacées, que nog ajuda a lidar com enormes (des}proporeses: de valores como se nie fossem diferengas tio grandes assim. Esse ¢ 0 precesso do logaritmo. 20 MANUAL PRATIEO DE ACUSTICA Logaritmo, um processo humane Deve ter ficado claro, a esse allura: nossos processos de percepydo sho Jogaritmivos, Somas e sublragdes pouco representam, mullipicapoes silo wentidas como somas, divisSes como diferengas e poténcias como multinlicagbes, ‘Aaseala musical, por exemplo, @ claramente uma escala logaritmica de base 2: +2 vezes a frequincia = log, 2= 1 oitava “4 vezes.a frequéncia = log, 4 = 2 oltavas log, 4 = -2 citavas + M4 da frequéncia = log, 141,95 vez a frequéncia = log, 1.9 = 0,585 cltava citova (uma quinta’) (Quito tipo de aplicagiio para a escala logariimica s8o as escalas de frequéncias vistas nas especificagies de equipamentos de audio e em estudes acisticas. Para nossa audig4o, as frequancias de 10kHz @ de 20kHz estéo proximas — ambora a diferenga entre elas seja melade do espectra de audio, o intervalo é de apenas uma oitaval As frequéncias de 20Hz e 40Hz, com sua diferenga de apenas 20Hz, também 16m uma oltava de intervalo entre ets. E claro que um grafies linear, com 10kHz praticamente no meio, e 20Hz e 40Hz quase no mesrho lugar, representaria possimamente © espectra de audio que foot" 6 retativamente plano. Mas s@ passarmos a usar uma escala logaritmica de frequéncias, 0 visual do grafico ird condizer perfaitamente com o que ouvimas., Os intervals musicals iguais ficam todos de mesmo tamanho no grafico, a frequénca de 10kHz fica quase no final do espectro, © as frequéncias médias (para 0 ouvido) ficam também no meio da escala, see "ser estudado adianta, 21 Manual PRATICO OF AGOSTICA !_!£&_=_<_con CAPITULO 3 Frequéncias e Notas Musicais Funcionamento do Ouvido em Relagao as Frequéncias: Frequéncias Musicals Embora sejamos, em média, capazes de ouvir entre 20Hz @ 20kHz, nas extramilades desta faixa, principalmente ecima de GkHz, toma-se dificil percebar as ondas sonoras camo notas musicals; a sensagaio é de um “sivo" nas fraqionclas muito alla. As freqiéncias mais baixas, menores que 200Hz, embora sejam bern identificdvels como notas musicais, #¢ apresentam mais como um som “de peso", mais adequado a6 acompanhamento do que 80 $010, Escala linear: péssima ropresentagao do que ouvimes Dadas estas caracieristicas do quvitio humano, podemas separar as freqiéncias: de Audio. em trés importantes grupos: + graves, ou frequéncias baixas, de 20Hz até 200Hz; + médiog, ou frequéncias médias, de 200Hz alé BkHz; » agudos, ou frequincias altas, de GkHz até 20kHz. ‘Notemos que a ragilc-de graves se astende numa propon-ao de 7 para 10 (chamada uma década): a regio de médios por urna proporgda de t para 30 (carca de uma decade e meiay; e-a regidio de agudes por apenas mein década, logarilmicamente falando. Na_extensa e importante regio de médios é que se processa & maior parte da magia da musica, magia essa que, através de algumas relagdes matemalicas muito simplas, fica bem facil de se analisar - 0 que nao significa que 0 talento @ a inspiragao nao sejam fundamentals. Escala logaritmica: representa bem methar a que ouvimos. 22 23 MANUAL PAATICO DE ACUSTICA MANUAL PRATICN OE ACUSTICA Elementos Principais da Musica Molodia Moiodia @ 8 sequéncia, ordenada de forma estética, mas livre dentro de cerlos principios, das notas musicals. Quando alguém assebia uma cangio, estamos ouvindo a sua melodia. As notas tém altura cu “pileh” (frequéncia), intonsidade (amplitude ou nivel) ¢ valor (tempo de durag4o) diferentes, formande sequéncias bonitas ¢ variadas. Ritmo ‘Ao assoblarmos a cangio, o fizemos segundo uma certa velocidade ou “cadéncia”, Essa cadéncia, que ag pessoas com sensibilidade musical identificam facilmente @ podem mesmo marcar batendo o pé, s¢ chama ritmo. Tecnicamente dizendo, o ritina é a base de tempo segundo @ qual se desenrola a melodia. ‘0 andamento ou fempo musical & a rapidez com que $2 manifesta o ritmo, E ‘contado €m seminimas por minuto (logo saberemos © que 340 sem/nimas), ‘Tempos va, geralmente, de 30 (muito lento) a mais de 200 (muito rapido), As seminimas so apelidadas de beats (*batidas"). Por isso, a unidade preferida de andamento ¢ a BPM - beats per minute, ou “balidas por minuto” Harmonia Alien do rime ¢ da melodia, ouvem-se varias outras notas musicals, produzidas, Para acompanhar a melodia dentro do ritmo. Por exemple, quando um canter interpreta uma cangao, ele emite a melodia combinada com a letra (poesia), Os instruments marcam o ritmo e formecem a harmovia, que se combina com a melodia gerando a musica completa. Embora, no-exemplo acima, a misica tenha poeska, melodia, harmonia e ritmo, pode: a4 MANUAL PRATICN BE AGUSIICA - —_ huvar minion sor todos aes akementos’ a monica iatrumental nao ter letra; o JAP (Ahythm And Pootry = ritmo @ poosia) niko lem malodia, 0 canta gregoriena: ne tor harrmonia nem ritmo; certos formas de jazz niio thm harmonka expticita, Ajém du harmenia, pode haver também o contraparito, que é uma espécie do molodia secundinia qua completa ou substitul a harmania, Escala Para elaborar uma melodia, nao basta tomar arbitrariamante nolas de ‘allura (frequéncia), intensidade ¢ valor diferentes, e agrupatas: o resultado difciimente seria musica de qualidade. A razio disto é que as notas devern, além de formar um ritmo, ler entre suas frequéncias certas proporgies numdricas, obedecendo a uma sequéncia denominada escala musical. Na mésica ocidental, existem dois modos principais: 0 maior e 0 manar, 0 modo maior apresenta sonoridade mais “viva” ou “alegre”; a menor parece mals “doce” ou “sentimental”, Na Alemanha, esses modos sfo chamados “dur” 9 "moll", sugerinde “duro” ¢ "mole". A escala se compe de sete nolas,.as quals se chamam a 1*,a 2°, 3*,4°, etc., até a 7*. A 1" ou (nica @. quem da o tom: por exempta, no tom de Dd, a tonica é 0 DO. Logo, apés a 7*, vem uma nota que tem o mesmo nome que a 1", 6 que se chama bogicamente a 8". Porisso, éque uma relago de duas vezes a {reqdéncia 3e denomina uma oitava, Avescala se caracieriza por relagdes numeéricas simples entra as freqdéneins @ ‘suas notes. Chamamos um acorde @ emissdo simultanea de trés ou mais freqdencias ou nolas que se combinem agradavelmante (ou née), O matemdtico grogo Pitagoras descobriu que, quanto mais simples 6 a relagzio numérica entre as notas, mais agradavel 6 a sua combinagdo. Duas notas iguals de citavas seguidas, por exemplo, tam uma proporgao expressa por dois nimeros pequenos: 2/1 — © nao pode haver combinagio mais facil entre notas. 25 MANUAL PRATICO DE ACOBTICA A Escala Malor Para exemplificar, usar hos a escala de Dé maior, que todos conhecem bem. # 2 e e |e 0 RE i SOL [ea | st [bo Podomos notar que entre a 3"¢.24*hd um intervalo de apenas um semitom: assim como entre a 7" ¢ a 8", O Semitanr é a menor intervalo (razio de freqdéncia) usado ha misica ocidental, ou carca de 1,06 vezes. Dois semitons formmam o intervalo de Um TOM, Como, nesta escala, o intervalo entre a tOnica (06) aa terceira nota (Mi) do uma terga maior, ou seja, de dois tons inteiros, ela @ uma escala maror, A Escala Menor ‘Aescala menor ascendenta (chamada hanndnica) sa diferencia da maior apanas pola 3" nota, localizeda a.uma targa menor acinia da tonica: Otero bemal (b) significa a redugaa de 1 semitom na nota. O Ml bemol, ou Mlb, fica entre 0 RE @ o MI. O.terma sustenide (#) significa o aeréscimo de 1 semitom fa nota. © FA sustenido, ou FA#, por exemple, fica entre. o FA.e o SOL. ‘Aescala menor descendente (chamada melddica) 6 diferente da ssrendente no sexto no sétimo graus (isto 4, na escala menor descendente, o “caminho de ida” & diferente do “caminho de volta"): Obs.: a abreviatura din (diminuta) corresponde ao abaixamento de um semilom na escala. 26 MANUAL PRATICN OE ACUSTIC O68 nomes das notas Nos paises de linguas anglo-saxdnicas (Inglés, Alemao, etc), raramente sa usam os nomes de origem Haliana (D6, RG, Mi, etc.) das notas. Ao invés, tsam-ne as primeiras letras do alfabato—A, B,C, 0, &, F, G, correspondanda respectivamonte a La, Si, D6, Ré, Mi, Fé, Sol. Em algumas publicagées antigas, via-se o SI bemol representade pela letra B, enquanto 0 SI natural aparecia ropresentado pela letra H. Notagao Musical ‘As potas musicais nfo sdo representadas, na pritica, por nomes escritos, como vimos acima, mas pela nota¢de musical, que é um conjunto de simbolon adotada pelos misicos para simbolizar as notas, os acidentes (bemol @ sustenido), e varias outras informagGes relativas @ execugao. A base da representagdo é 0 pentagrama, oconhecide diagrama em cinco linhas, sobre © qual se escrevem as nolas e autros simbolos. As duragSes das nolas so representadas em relagdo ao comprimento do compasso, que é a unidade: basica de ritmo. No pentagrama abalxo, vemos iniclalmente a clave de sol, a qual indica que a nota sobre a segunda linha € o Sol. Note que foram usadas linhas suplementares para escrever o Dé mais grave ¢ 0 La mais agudo, 05 quails, de outra forma, no caberiam no pentagrama. Existem ainda as claves de Dd ede Fa, utilizadas para escrever nolas mais graves. DO RE Mw FA SQ LA Sf OO RE MP FA SOL LA Pause 27 MANUAL PRATIEG OF ACOSTICM Compassos « Duragao das Notas Conforme » duracSo relativa das notas, o aspacto delas varia na notaglo. A repretentagio se baseia no compasso chamade quatermdarie (4/4), qua se chama ssi por se contar “um, dois, trés, quatro, um, dois, trés, quatro...”. AS notas, conforma tua duragsa, recebem nomes especiais, e simbolos diferentes: Notas pontuadas / colocagéo de um ponte apés uma nota aumenta sua duragdo pela metade. Por exemplo, uma seminima pontuada tam duragdo equivalente a de uma seminima mais uma colcheia, ou seja, 4. Escala Cromatica Falamas até agora das escalas maior e menor, que so escalas formadas por sete notas, com intervals variaveis de um ou dois semitons, Ha, alémdessas dues mais comuns, muitas outras, seja incluindo notas diferentes daquelas tue ja vimos hé pouco, seja simplismente usando menos notas, como ¢ o caso da escala pentatinica. 28 MANUAL PmAnce DE AcORTICR Existe, lambém, misica atonal, isto é, sem tom nenhum, que no sa prende a qualquer escala convencianada, mas que tem um tipo de beleza aspacial, uma outra estética. ‘Se, tomarmos todas as notas de uma oitava, teremos um total de 12 notas, ‘com intervaio sempre de 1 semitom, fermando aquilo qué se chama uma ascala cromatica. Esta é a base da musica ocidental, embora alguns estilos, coma 6 blues, usem notas. intermediarias © porlamentos ou bendings, que sido notas variando de altura durante sua duragao. Escala Nao Temperada Pitagoras descobriu que as notas das escalas maiot e menor se caracterizam por razdes numéricas (fragSes) de pequenos numeros: Intervaio Fragio — Razdo qi _= 4,0000 =1,2000 “84 = 1.2500 43 21,3333... Na verdade, cada razéio pade ser obtida alravés da multiplicago ou da diviso de outras raz6es. Exemplo: Da 1* a 5', temos 7 semitons. Estes 7 semitons podem ser decompostos ‘am uma 3" menor (3 semitons) + uma terga maior (4 semitons), Efetuando a multiplicagiio, temas: 6.5 3 am 3M exes OS) Manuay PaATiCO Of ACOBTICA Exomplo: Obter a relagie comespondente is 7* menor. Resposta: Considerande a 7m come 1 quinta acima da 3* manor, obteremos: 3.6 B+ 1 tor aed a menor —» Se Galculemos agora qual sera a relagao de 1 semitom, por exemplo, de D6 para DOM ou de D6 para Reb: ‘Se sublmos uma quarta € baixarmas uma terga maior, a diferenga sera de: 4 (5. semitons) — 3°M (4 semitons) = +1 semitom, Em razdes numéricas, teremos’ 5 4.4 16 473" 5g” 4.5.4.4 3 5 Agora, vamos fazer o mesmo calculo, porém subindo uma 3*M e@ baixando uma 38m: 3° M (4 semitons) — 3* m (3 samitons) = +1 semitom também, Em raz6es numéricas: Essa diferanga ¢ ocasionada pela maneira de calcular os intervalos através de tragbes simples. Na musica escrita para instrumantos da afinagaio definida palo masico, como o violino, 0 violoncele e o trombone de vara, existe realmente a diferanga entre essas duas notas: 30 MANUAL PRATICO OF AGOSTICA Boi = OHS * 1,041666, Rob = Dé = 1,066668, ‘Se continuassemos calculando dessa forma, encontrartantos diferencas também: entre o RE# © 0 Mib (respeativamente 752,= 11719 @ %% = 1.2000 enire o Mi ¢ 0 FAb (respectivamente 94 = 1.2800 @ 9254 = 12800 ), entra o Mi#e o FA (respectivamente 128/56 =13021e , = 1,5335. © assim por diante, conforme se usasse o bemol Gu o sustenido. Existem, entio, dois lamanhos diferentes de semitom? Certo. ‘© menor intervale {relagaio de fregiitneia) perceptivel pelo euvide humano normal é de cerca de 1/9 de tom, e ¢ chamado de 1 coma ; isto 6, 1 Tom = 9 comas. Como fica, entiio, o semitom, que ¢ a metade de um tom??? ‘Quo semitam tem 4.comas, ou tem 5 comas, Como vines anteriormente, existe um semitom que vale 25/24 = 1,0417 (correspondendo a 4 comas), ¢ outro semitom que vale 16/15 = 4 0667 (correspondendo a 5 comas). Assim, temos uma escala cromatica de diferentes semitons, denominada nao temperada. Existem ainda outros graus, 08 duplos bemdis e os duplos sustenidos, calculados por aplicagdo dupla destas relagées matematicas. Decidi no mosiri-los aqui, para simplificar, Escala Igualmente Temperada Para simplificar a escrita musicale a afinacdo de instrumentos de notas fixas cI ManUAL PRATICO DE AGOETICA oa como 0 piano, decidiu-se adotar u do olfava, que & de 2+ 1= 2, emitom Gnico, baseado apenas na relacho Como jal sabemos, uma oftava se compte de 12 semitons. Uma citava comesponde 4 relago de 2+ 1 =2. Entéo, se 0 semitom é 2 12° parte desse intervalo, raciocinando: ha forma exponencial, a relagao correspondente ao semétom serd a raiz 12° de 2, into 6 = 1-semitom = @/2 = 1,0595. E evidente que (usando as propriedades) 12 somitons comespondem a 1,0595" = 2.0000, ou seja, uma oilava exata. Semelhantemente, podemos agora pensar nos outros intervatos como poténcias fraciondrias: Por exemplo: a S* corresponde 8 7 semitons; logo, a relagdo numérica da S* sera de 2, que calculands resulta 1,4983, Este valor esta razoavelmente préximo da rolapao pitagdrica, que @ de 1,5000 (igual a 3/2). Enarmonia Tomos agora a escala cromatica dividida om 12 intervalos exatamente:iguais. O Sernitom tempered fica a menos de uma coma acima e abaixo dos semitons ‘deslemperados*. Para comparagio: Semitom de4comas 25/24 = 1,0417 Somitom Temperada «24/12 = 1,0595 Semitom de Scomas 16/15 = 1,0667 Deixa de existir, lambém, a complicada diferanga entre os bemis de cima ¢ os sustenidos de baixo, ou seja. por exemplo, o Fa sustenido 4 igual a0 Sol bemol, sendo ambos eqiidistantes do Fa e do Sol. Isto se chama enarmonia, Todos 08 instrumentes musicais modernos, daqueles que tém notas fixas, como © piano, a viokio, o sax, o trompete, a trompa, a flauta, 0 oboé, os teclados, 32 MANUAL FRATICO DF ACBBTICA Frequéncias das Notas Musicais arra.at 372.44 2959.96 2889.02 2217.48, 1864.66 1661.22 1478.98 1244.51 1108.73 982.33 820.84 730.90 22.25 58.37 455.16 415.30 300.99 311.13 277.18 293.08 207.65 185.00 155.56 198.89 16.54 103.63. 92.50 1778 69.20 5B27 S491 46.25 38.89 34.65 29.18 2E% NA zee g €5 tbe ae ee z 2 e ao egperecepeze ogeerg epgerg & 444 NN WNR UY vee Meebo OM ae ea SR AO PS GO e Gs dee 88 fee Fs gee FE Tee FF Fee z ® Eegetrgoeggereseezeag Fw Me atna.ov 9081.07 5820.00 A188 2703.63 2637.02 2349.2 2no3.00 1975.53 1760.00 1587.58 1306.97 1918.51 1174.65 106.50 997.77 880,00 783.99 698.46 689.28 587.33 523.25 493.88. 440,00 392.00 923 320.63. 293.66 261.63 286.04 220.00 196.00 174.64 164.81 146.83, 130.81 123.47 30.00 98.00 a7.3t B24t 7342 6541 6174 55.00 48.00 43.65 41.20 36.71 32,70 30.87 27.60 Frequéncias das notas da escala temporada MANUAL PRATICH BE ACOSTICA —_ —_— © boixo elétrice com Wastes, a tuba, @tc.. 540 temperados, isto 4, produzem Nolas segundo a escala temperada. Os instrumentos de notas varidveis, que podem ser regulados na execugdo pelo misico, como o violin, a viola, o vieloncelo, 0 contrabaixe sedstice, o baixo elétrice sem trastes (“fretless”), 0 trombone de vara, etc., permitem qualquer nota, Por fim, os cantores, pelo mesmo motive, se servem da escala lemperada ou da destemperada, conforme 0 tipo de interpretagao, Desvantagem Para es pessoas de ouvide muito apurado, as nolas igualmente temperadas nunca satisfazem totalmente quanto a afinagao. Os paquenos erros intraduzidos slo bercebidos pelo ouvido, ¢ tem-se a impressdo de “algo esta errado”, E comum, por exemplo, vermos viotonistas guitarristas esticando muita ligeiramente uma corda, para alcangar uma afinagio mais parfeita (ndo confundir com 9 efeito da bending, com que se sobe um semitom ou mais). Outros instruments, como o lrompets #0 sax também permitem este bonito efeita. ‘Comparagdo entre a Escala Igualmente Temperada ¢ a de Pitagoras ‘Abaixo, lemos as freqdéncias correspendentes escals temperada e 4 escala phtagérica. Podemos comparar estas razes, comprovando que o semitom temperado fica entre os dois no-temperados: 34 MANUAL PRATICO BE ACOSTICA enuol ee A ahd aco] [Restoco| Potinee|Resutco| ero Como se pode notar, em alguns graus, como o semitom de 4 comas, a 4* aumentada, 3 5* aumentada & a 7* maior de 4 comas, os eros 880 grosseiras @ perfeitamente audiveis, Além dos exemplos de escalas que vimos, ha inimeros outros tipos, baseados em diferentes relagSes matemdticas ou simplesmente baseades na audigsa humana. Nossos ouvidos dapendam de muitos fatores para a perfeita percepedo da altura das notes, ea maioria das pessoas tem também a sensago de que intervalos muito grandes parecem menores do que realmente 830. Os afinadores (seres humanos) da pianos costumam “exagerar” ligeiramente a afinagdo do Instrumente (que abrange mais de 7 oitavas), afinando as notas mais graves ligeiramente abaixo do valor tedrico, e as mais agudas ligoiramente acima, dando aos ouvidos a sensagdo de uma afinagdo mais convincente, 35 MANUAL PRATICD OF ACOSTIEA — a CAPITULO 4 © Decibel Funcionamento do Ouvido em Relagao ao Nivel Como estudamos no capitulo 2, todas as sensag6es humanas so processadas pelo cérebro de forma logaritmica. O que nos impression s4o razes, que parecem diferencas. Como jd vimos também, uma variagSo de 10 vezes na poténcia sonora, para ns, soa coma “o dobro do som’, E natural, entdo, que a base 10 seja a mais conveniente pare medidas de nivel sonoro, © legaritmo decimal da razSo entre duas poténcias surglu, eniSo, como primeira allernaliva para expressar de uma maneira “humana” a grandeza da variagio. Como unidade de medida, 0 nome de Alexander Graham Bell fol escalhido, & assim nasceu 0 Bel, abreviado B. Uma razo entre duas polincias Pe P, pode, entdo, ser expressa coma: A, = 10. logE+B, onde, representa a variago de paléncia, Exemple: a poténcia subiu de 250W para 1000W. Quel a variagda, em bel? 4-102 oor na Porém, logo se percebeu que o usa do bel era um powco inconveniente, produzinda nimeres muito pequenos. Era como expressar 0 comprimento de uma folha de papel em metros: muilas vezes, o resultado seria um nimaro menor qua 1. a7 MANDAL FRATICO BE AcstiCA Adotou-se, entao, um submidltipio do bel, o decibel, igual a 0,1 bel, Muito ‘mais pritico @ intuitive, o decibel, abreviada dB, ¢ usado no mundo intairo, inclusive fora do audio, P, =10-log Es. 4, = 10, lea ghdB Repetindo o exemple anterior com o decibel, teremos: A, 10-4og =e =10-lop4 = 608 Fatos sobre o decibel Varios fatos explicam a conveniéncia do decibel como unidade de medida de variapbes para nés, seres humanos: * Amenor diferenga de nivel sonora que o cuvide humana consegue parceber & de aproximadamenie 108. + Uma variagao para um valor maior produz um niimero positive de dB, & uma variagSo para um valor menor produz um nimero negative de dB, * OdB significa que no houve variagse alguma. * Se a varia¢do for para zera dé paténcia (sinal completamente retirada), teremos -c0 dB, O Ouvido e o Decibel ‘Vejamos quanta as vanagSes de nivel em dB representam para a nossa audigaio, Para isto, consideremos niveis ralativamente altos (confarlaveis) de audiglo « frequéncias bem audiveis, tats qua qualquer detalhe seja bem percebido, a8 MaMUAL PRATICN DE ACUSTICA Ge ee acme Tensdo ¢ presse ‘A varlagSo da tensfo eldtrica ¢ da pressiic do ar produzem variapSes de poténcia quaditicas, isto &, proporcionais ao quadrade da variagao da tens3o ou press, 2 A polancia elétrica é calculada pela formula Peva=X onde a resaténcia R 4 uma constante @ a tensdo V aparece elevada ao quadrade. Portanto, uma variagdo na tensio produz 0 quadrade dessa variagso na poténcia: Sejav, =~, #. portato, so 2 (variagao da tensa). 4 : Fh Ba Mea { Ma) a (variaglio da poltneis Enito, B= B= Hf (¥] x (va poténcia) R 2 Se jd estamos a um nivel relativamenta alto, nio podemos subir 60dBi!t 39 MANUAL PRATICN OE ACOSTICA — EO — Exemplo: se num cireuito, a tensa sobe de 5 para 10 volts, quanto aumenta @ pottincia? A potéincia sumentard: ( ‘Se quisermas expressar essa variapgo em dB, poderemos usar propriedade do logaritmo de poténcia ~ multiplicar o logaritmo pelo expoente: 4, =10:to{ Ft) =10 to ¥ ) ¥, -2-109{ a0] ‘Ou seja, uma variagSo de tense ou de pressda, expressa em dB, ¢ igual a 20 ‘vezes 0 logaritmo da variagao. Exercicio: Um amplificador tem 1000 watts de poténcia. Se precisarmos aumentar o nivel sonore em 4d8, qual ser a poléincia necessaria? Solugio: P, 408 ot orrespondem a 10log. Pontanto, og; =0,4 ©, enlila,togP, = 0.4-+1og1000 « 3.4 Assim, P, = 10" = 2512 watts, ‘Na pritica, como variagdes pequenas ndo $40 audivels, pode-se arredondar esse valor para 2500 watts, faciimente encontrival no mercado. 4g WaNvAL PRATICO DE AcOSTICA (Alé agora, ficou Claro que o decibel puro ¢ uma medida comparative, isto 6, ole é ulilizado para expresser o resultado de uma variagdo ou comparago. Néo fax nentido, por exempla, dizer “a meu amplificador tem 20dB", 20 dB de qué? Ou, 2048 em comparagdo com 0 qué? Ja dizer "o pré-amplificador X tem 3dB a mais de ganho que oY" 6 walida, pots ‘exprime uma comparagao. No entanta, 8 possivel estabelecer escalas em dB com uma referéncia — aquele qué cuja falta sentimos nas frases acima. Criada a referancia, seu valor relative: a ela propria 6 OdB s os outros valores, referenciados a ela, sAo positives ou negatives conforme sejam maiores au menores, ‘As unidades, nestas escalss, sampre so “dB” sequidos de uma ou mais letras que indicam a referéncia. \Vejamos as mais usadas escalas absolutes em dB: * dBW — poténcia de saida (watts) de um amplificador, expressa em dB. A referéncia 0dB corresponde a | watt de paténcia, Exemplo; +234BW > 200W * dBV—tensdo de saida (volts) de um equipamento. Referdncia: 1 volt. Exemplo: -10dBV > 316m = dBu — tensSo de saida de um equipamento, Referéncia: 0,775V. Exempla: +4dBu > 1.23V = dB-SPL — nivel de pressdo sonora, Referéncia: 20Nim*, Exemplo: 94dB- SPL 1Nim? 41 MANUAL PRATICN OL ActSTICA + dBr—ndo 6 exatamente uma escala absoluta. E usada em equipamentos de medida, onde o nivel de referéncia (por isso oF) & determinado pelo usuario, Exemplo: se o nivel de referéncia escolhido para uma certa medigdia for de 0,5, ~A0dBr comespondem a Sm. * dBFS (6 full scale) - nda é também uma escala absoluta, Corresponde, nas equipamentos que tm medidor de nivel, a0 nivel maximo mostrado por esse medidor, Exemplo; se num gravador digital, Cujo medidor tem valor maximo nominal de 0dB, o valor indicado pela barra tuminosa € de -12d8, entao pode-se dizer que_a leitura é de -120BFS. + dBm — antigo padréio de medida de nivel de saida de equipamentos. cuja referéncia - originéria das antigas linhas telefSnicas — era de 1mW numa carga de 600 ohms. Isto corespande a uma tensio de 0,775V. Cama o valor padraio de 600 ohms caiu em desuso, 0dBm perdeu o significado, mas 0 valor da fensao de 0.775V perdurov © deu origem ao dBu visto acima, que leva em conta apenas 8552 lensdo ¢ nao a poléincia. Somando niveis em decibéis ‘Quando multiplicamos uma poténcia por um numero, somamas seus logaritmos. Portanto, s¢ estamos trabathande com decibéls, somamos os niveis correspondentes, Exemplo: quantos. dBW fomecem 12 amplificadores de 2000 watts? Resposta: 10 - log12 + 10 - log2000 = 10,8 + 33 = 43,8 dBW ou 24000 watts ‘Quanto mais préximos entre si so 05 niveis somados, maior sera a diferenca em d& entre a soma ¢ o valor da maior parcela. Por exemplo, para dois niveis: iguais, a soma 6 348 maior que cada um deles. Para dois niveis com 100B de diferenga, a soma é apenas 0,414dB maior do que o nivel mais alto. 42 MaawAL PRATICO ME ACOSTICA Soma - nivel mais alto Anoma do dots nivais expresso om dB. pode sar caloulada pola formula Soma = nivel mais alto + 10: log (14970), onde 06 a diferenga em gB antre on dois nivels sendo samados. ‘0 pomograma ajuda nesse caiculo. SOMA EM dB 18 oz 04 0608 1 2 3 4 5 6 7 & 8 10 2 Diferenga entre niveis ag uanuat PRATICN BE ACOSTICA —— — — CAPITULO 5 A Audigdo Humana © ouvido humano @ um 6rg&o cheio de contradigdes. Ao mesmo tempo em que é capaz de detectar o nuldo produzido pelo movimento das moléculas de ar, consegue tolerar sons fortes como o de uma banda de rock, um fortissimo de orquesira sinfénica ou uma bateria de escola de samba, com um tilhdo de vezes mais paténcia sonora. E capaz de ouvir frequéncias extremamente baixas, ¢ oviras que $40 centenas de vezes mais altas, num espectro que chega a dez ollavas. Compare isso com a resposte do olho ds. cores visiveis, que cobre menos de uma oitava das frequéncias das ondas eletromagnéticas - de 395THz até 770THz (1THz = um terahertz = 1 tiihdo de hertz), CO ouvido pode distinguir frequéncias muito proximas: 0.3% de mudanca de tom ‘880 distingulveis para pessoas de audi¢ao normal. No entanto, o nivel sonore pode afetara sensago de altura ou “pitch” (afinagso), no fenémena denominado efeito Fletcher. quanto maior 9 nivel sonore, mais parece baixar a afinagao. Mais importante que todos esses parimetros técnicos @ a utllidade dos ouvidos em nossa vida. Silo responsavels por nosso equilibria, mantém-nos informados. da aproximagio de objetes que 4s vezes nem podemos ver, sfio nasso melhor @ mais automitico meia de comunicagso 2, acima de tudo, azem-nos @ musica. ‘© ouvido tem tris partes: 0 ouvido extamo, » auvido médio @ o auvida interna. © ouvide externo é formada pela oretha e pelo canal auditive externa, que termina na membrana do timpano. © ouvida médio 4 onde se localizam os irs ‘cossiculos que acoplam o timpano 4 membrana situada na janela oval, que @ a ‘entrada para 0 ouvido intemo. No ouvide interne fica 0 caracol ou cdclea, uma espécie de lube enrolado que contém os orgdas de Corti, sensores acoplades a0 nervo auditive. A céclea ¢ chela de um fluide aquoso, através do qual o som s@ 45 Manuay PRATICO DE ACOETICN _ SE —<—_~ propaga excitanda os degdes de Corti, filamentos com tamanhos e frequéncias. do ressondincia diferentes. Quando um deles vibra mais fortemente em sintonia com uma frequéncia, 0 terminal nervosio @ eke acoplada manda wm sinal para o ‘cOrebro, @ assim ouvimas 0 som e idgntificamos stta frequéncia e intensidade. Nervo de Nero ‘As tris partes do ouvido Souvido midio se comunica com o meia exterior através da trompa de Eustaquio, um tubinho que vai até 8 faringe ¢ que tem a funcio de manter 0 ouvido médio 4 pressio atmosiérice, permitindo que o timpano fique com a mesma pressao pelos dois ladas passa vibrar livrementa. Quando estamos gripadas a como nariz entupido, & comum néo circular ar pola fompa e ficarmos com a audic¢ao alterada, ou até com dor nos timpanas. A entrada da cociea é pela janela oval de que ja falamos, Porim, esse érggo na outra extremidade tem uma outra janely circular, que permite que as ondas ‘sonoras saiam, mantendo constante a pressio inédia interna, Isso 4 nacessario, id que 0s liquidos sc incompreensiveis. 46 MANHAL PHATiC Afungio dos ossicules (chamados mavtoto, bigorne @ estribo por causa de seus formatos) é.de acoplar o timpang, trabalhando » baixa pressiia @ com maior amplitude de vibragao, a janela oval, trabalhando com o liquido incompressival da cociaa @ com amplitude reduzida de vibracao. Ou seja, 0 ouvido média & exatamente andiogo 8 um transformador, com entrada de alta impedincia saida de baixa impedancia. Mas 0s ossiculos $60 ainda mais Gteis. Quando 0 ouvide recebe sons fortes, a8 misculos que sustentam os ossiculos se contraem, reduzinda seu movimento @ diminuindo temporariaments a sensibilidade do ouvido. E por isso que ficamos “meio surdes” depois de ouvir um ruide muito forte, © abuso permanente das ‘ouvides, ou Saja, Sus exposi¢go a sons fortes durante muito tempo, acaba pot ennijecer permanentemente o ouvide médio, levando a vitima & surdez. © ouvide possul ainda trés canais semicircularas, o6 trés perpendiculares entre si, que de nada servem para audic¢io, mas servem para dar a pessoa a sensagao de equilibria, Doen¢as que prejudicam o funcionamento dos canais semicirculares, como a iabirintite, provocam vertigens e perda da orientaciio. Resposta de frequancia Aresposta de frequéncia, ou seja, a capacidade de ouvir uma grande extensio de frequéncias do uvida é notével, chegando nas pessoas jovens a cobrir uma faixa de 1:1000, ou seja, de 20Hz até 20kHz. No entanto, a sensibilidade do ouvide no é a mesma para todas as frequéncias. E mais, esea variagSo depende tremendamente do nivel sonora. A niveis altos, 8 resposta é bem mais plana (constante com a frequéncia) do que a niveis baixos, De maneira geral, 0 ouvido & mais sensivel 4s frequéncias entre 3kHz © 5kHz, piorando forlemente em diregda aos graves e plorande um pauca em diragda aos agudos. Dependendo da idade, a partir de alguma frequéncia alta a sensibilidade cai rapidamente. Adultos jovens consequem ouvir até 20kKHz ou pouco mais, e pessoas idosas (principalmente homens) muitas vezes ndo chegam aos 10kHz. av MANUAL FRATICR DEACUSTICN NIVEL DE PRESSAO SONORA - dB - REF; 20yNim? Essa perda, porém, avanga téolentamente como passer do tempo, que a pesson Val se habituando — pelo menos até que a perda, danominada presbiacuse, chogue A regidia de médios, ¢@ pessoa se tome, de fato, deficiente auditiva As curvas de Fletcher @ Munson foram obtidas extraindo a média da sensibilidade relativa a frequéncia de um grande nimero de pessoas de audigéo normal, Glas mostram o nivel de pressfia sonora (SPL = Sound Pressure Level) necesséirio para que, em varias frequéncias, se tenha.a mesma sensagao de volume de som que em 1kHz. JNiveL be AUouBL ADE] zo (EM PHONG y uw 300 i » if oe it FREQUENCIA - Hz ‘Curvas de Fletcher o Munson 48 14 Nonte grafico, 048 representa otimite absolut de audipio humana, Porém, 6 proprio sangue citeulando nos ouvidos da pessoa ja produz um SPL de cerca do 7B, sendo entao este nivel considerado o fimiarda audigdo. Ou soja, para ouvir um som de Od& & preciso estar.., morte! Noto que o volume ou audibilidade (fovdness) ¢ medido em phons. O phon} uma medida Subjetiva do volume, igual ao JB-SPL em 1kHz mas variando om relagao ao SPL nas demais frequéncias. Por exemplo, para obter 80 phone, precisamos de 80d6-SPL a 1kHz, mas precisamos de 94d5-SPL 6m 50Hz corca de 70d8-SPL em 4kHz, onde o ouvide ¢ mals sensivel ‘O nivel de 20dB corresponde a um estidio bem silencioso. Tomando a curva ide 2008 (em 1kHz) como exemple, vemos que, para termos a sensagao do mesmo volume a uma frequéncia bem grave de SOHz, precisamos de um SPL de aproximadamente 5348 — ou séja, 3348 mals forte. Fazendo as contas, 0 resultado impressiona: é preciso 2 mil vezes mais paténcia sonora em SOH2, para produzir o mesmo volume aparente! Ja om 10kHz, pracisamos de S0dB- SPL, ou seja, 10 vezes mais paténcia sonora, Onivel de 10048 corresponde a um som forte, como a média de um show do musica popular leve, Neste nivel, podemos ver que bastam +10dB em SOHz: @ 4608 em 10KHz para sensapdo de volume igual nas trés frequéncias, Limites do ouvide humano Aaudigao é limitada, na fraquéncia, por um minimo de 20Hz @ por um maximo de 20kHz; € no nivel. por um minimo de OdB-SPL e por um maximo de 1200B- SPL (acima deste nivel, senlimos a vibragaa nos timpanos, ¢ mais acima sentimas dor) Com estes quatro miles, podemos tragar uma janela de resposta extrema do ouvido humane. 49 MANUAL PRA’ 2 OL ACHE TCA = vr wee — 4 a 8 e e & i & 8 3 z so 100 200 500 lk 2k Frequéncia (Hz) Janola da audigéo humana As regides do espectro J sabemos que as frequéncias se dividem em graves, médios @ agudos. Mas essa ‘lagsificag3o pode ser expandida, dividindo-se cada regio em partes menaves. Os graves, de 20Hz a 200Hz, incluem o subgrupo dos subgraves, de 20Hz a BOHz. Sd as frequéncias mais baixas, que fazem “sacudir o cho”, O restane (de 80Hz a 200Hz) ainda tem caracteristicas de graves, mas n30 0 "peso" ¢ a "profundidade” dos subgraves. Os médios $e dividem am tris regides, de caracteristicas diferentes: os médios- graves, de 200 a 600Hz. thm as fraquéincias fundamentals das vozes ¢ da maloria 50 MAHAL PAATICO UE KeUSBIER dos instrumentos musicais, Os "médios-médios”, entra BOOHz @ 2kHz, incluem fgides importantes para caracterizar os timbres dos sons # a clarezn da wer masculina. E as médios-agudos, indo de 2kHz até GkHz. inchver a regio onde o ouvido é mais.sensivel, portanto tm grande responsabilidade no volume aparénte do som, Sua caracterlatica é “metalica” ou “estridenta”, AGkHz, comega a regito dos agudos, Nesta faixa, torna-se muito dificil identifiear notas musicais, Os agudos trazem o“brilho" e a “transparéncia" do som, mas no acrescentam muito volume ac conjunto. A citava mais alla dos agudos, de 10kHz alé 20kHz, ¢ chamada de regi#o de super-agudos, @ responde pelos detalhes mais sutis do som. Varias pessoas no percabem bem estas frequéncias, ¢ muitos sistemas de reprodugao nao respondem fielmente a elas. ‘espectro de sudio dividide @ subdividido: Efeitos dos retardos Avvelocidade da som nao é muito alta, fieando por walta dos 344 mis & temperatura de 21°C, Muitos avides © até alguns carros | ultrapassaram essa velocidado, sendo entSo denominados supersénicos. M velocidade do som, para efeito de velcules, é chamadla Mach 1, O dobro da velocidade da som é chamado de Mach 2, otriplo da Mach 3, etc. A velocidade do som nae depende da frequéncia. No ar, ao nivel do mar, ela d calculada pela formula: Vi. = 20,06-./T +279 mis, onde T 4 a temperatura em graus Celsius, 51 MANUAL PRATICN OE ACUETICA A temperatura de 21°C, por exemplo, a velocidadedo som é de aproximadamonte: 34am/s, A40°C ela chega a cerca de 355mv/s, e.a0°C cai para cerca de 33tim/s, Em qualquer caso, vemos que 0 som se desioca de maneira relativamente lenta, Para percorrer uma avenida como um Sambédroma, com extensdo de 500 metros, num dia de verdo a 35°C, o som lava 1,42 segunde —o suficientes para provocar sérios problemas de sincronizagao de ritmo © provocar 0 famigerado “atravessamento", ou desencontro de tempo entre bateria & pessoas cantando, mesmo a distancias muito menores que isso, Em outros meios, gasosos, liquidos ou sdlides, a velocidade aumenta com a densidade do meio. Quando © som se desloca, sempre sofre atrasos com a distancia, O que chamamos retardo (ou delay, em inglés) do som é o fendmeno percebida quando ouvimos um som e uma repeticado attasada dele mesmo - coma, por exemplo, quanda a som é refletide por uma superficie ¢ esse eco chega até nds algum tempo depois do som original, Dependendo do tempo entre o som ‘original e 0 refletido, percebemos efeitos bem diferentes: Retardos abaixo de 7ms — cancelamento Abaixo de 7 milissegundos, © ouvide ndo consegue distinguir dels. sons diferentes ~ 6 como se ouyissemas um Gnico som, No entanto, podem ocarrer cancelamentes, Um cancelamento completa ocorre quando duas ondas ‘chegam com amplitudes iguais, mas com diferenga de fase de 180°, ‘Quando 05 caminhos sao diferentes, a som que chega pelo caminho mais longo normalmente sofre uma atenuagaa maior, ocasionando um cancelamento parcial, No entanto, para pequenas diferengas de tampo de retardo, também temos pequenas-diferengas de distancia, ¢ assim podem ocorrer cancelamentos quase completes. No préximo capitulo, estudaremos isso a funda, §2 MANUAL FRATICO UE ACUBTIC MANUAL PRATICO DE ACESTICN — — Retardos de 7 a 20ms =o Efeito Haas A partir de 7ms, comeca a acorrer um interessante fenémono de audicdo, Embora os auvidos nfo consigam percaber dois sons distintos no tempo, jd so capazes de perceber dois sons distintos no espago, Por um proceso mental que dosenvolvemos desde o nosso nascimento, aprondamos que um som vem de once ‘2. oumimos primaire. Uma diferenga de tempo de 5 milissegundes ja é suficiente para comegaimos 2 localizar uma fonte sonora. Assim, se uma pessoa fala, Suwimos sua Yor em linha reta e também varias reflexes nos abjetos préximos, ‘mas nos viramos imedistamante para a diregio.certa para ouvida de frenta. ‘Quando 0 retarde entre o som direlo ¢ sua reflexdo € de 20ms ou menos, fo somos capazes, no entanto, de perceber claramente dois sons distintos. © ouvido unde" os dois sons no tempo. Mas como a localizagSo espacial [4 funciona @ partir de 7ms, percebemos um som tinico, vindo da diregdo da som que chaga primeiro. Isto se chams efeito Haas ou efeita da precedéncia, a pode ser utllizada com braveito em projetos de acustica & de sonorizagao. Efeito Hana: mudanga da localizagao aparente 54 MANUAL PRATICO DE wouLTiCA Exomplos de aplicagao do efeito Haas © multe comum vermos paindis planos ou suavemente curvados, « formanda Sngulos curioxas, no teio de teatros ¢ anfiteatras. A finalidade desses paindis 6 refletir o som de atores ou instrumentos no palco para a platéia, de modo que © tempo gasto pela reflaxdo para chegar a seu destino seja de 15a 20ms, Com isto, aumenta-se bastante a energia acustica transmitida da fonte sonora 00 oulvinte; mas, devido ao efeito Haas, a lncalizagdo-aparente da fonte sonorl Allo} prejudicada. Em sistemas de sonorizapdo de grandes aventos, ¢ comum se utilizarem lorres de reforgo quando as distdncias a serem atingidas so enormes, ocasionando perda exagerada de allas freqdéncias. Camo essas torres de reforgo ficam a grandes distincias adiante do palco e das torres principals de sonarizagho, # necessdrio que os sinais de audio que as alimantam sejam eletronicamente atrasados (“delayados"), para evitar que os ouvinies distantes ougam sons desencontrados. Por exemplo, se as torres de reforgo esto 85 matros a frente das torres principaise a velocidade do som é de 344m/s, 0 retardo natural serdt de 55 * 344 = 0,16s ou 160ms. Aplicando, entao, 160ms de retardo digital ao sinal que vai para as torres de reforgo, seu som fica perfeitamente alinhado no tempo com o das principais. 55 MANUAL PAATICO DE ACGSTICA

You might also like