Educação Psicomotora, Necessidades Especiais: A) Quatro A Seis

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A)Quatro a seis

EDUCAÇÃO PSICOMOTORA, NECESSIDADES ESPECIAIS

1
NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia-se com a ideia visionária e da realização do sonho


de um grupo de empresários na busca de atender à crescente demanda de
cursos de Graduação e Pós-Graduação. E assim foi criado o Instituto, como uma
entidade capaz de oferecer serviços educacionais em nível superior.

O Instituto tem como objetivo formar cidadão nas diferentes áreas de co-
nhecimento, aptos para a inserção em diversos setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e assim, colaborar na
sua formação continuada. Também promover a divulgação de conhecimentos
científicos, técnicos e culturais, que constituem patrimônio da humanidade,
transmitindo e propagando os saberes através do ensino, utilizando-se de publi-
cações e/ou outras normas de comunicação.

Tem como missão oferecer qualidade de ensino, conhecimento e cultura,


de forma confiável e eficiente, para que o aluno tenha oportunidade de construir
uma base profissional e ética, primando sempre pela inovação tecnológica, ex-
celência no atendimento e valor do serviço oferecido. E dessa forma, conquistar
o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos de quali-
dade.

2
Sumário
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2

1. INTRODUÇÃO................................................................................ 5

2. DISTÚBIOS E ALTERAÇÕES PSICOMOTORAS .......................... 7

2.1 Distúrbios psicomotores ................................................................. 8

2.1.1 Instabilidade psicomotora ........................................................ 8

2.1.2 Debilidade psicomotora ........................................................... 9

2.1.3 Inibição psicomotora ................................................................ 9

2.1.4 Lateralidade cruzada ............................................................... 9

2.1.5 Imperícias.................................................................................. 10

2.2 Quadros nos quais podem surgir alterações psicomotoras ......... 10

2.2.1 Estupor (ou acinesia) ............................................................. 10

2.2.2 Agitação e Inibição Psicomotora ........................................... 10

2.2.3 Maneirismos .......................................................................... 11

2.2.4 Ecopraxia............................................................................... 11

2.2.5 Estereotipias .......................................................................... 11

3.2.6 Negativismo ........................................................................... 11

2.1.7 Obediência automática .......................................................... 12

2.1.8 Catalepsia, Pseudo-Flexibilidade Cérea ................................ 12

2.1.9 Extravagâncias cinéticas ....................................................... 12

3. EDUCAÇÃO PSICOMOTORA...................................................... 13

4. INCLUSÃO E PSICOMOTRICIDADE ........................................... 17

5. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL .......................... 19

6. TRABALHO PSICOMOTOR COM PESSOAS COM PARALISIA


CEREBRAL 23

7. EDUCAÇÃO PSICOMOTORA E NECESSIDADES


EDUCACIONAIS ESPECIAIS: UMA PRÁTICA POSÍVEL?.............................. 26

3
7.1 Avaliação e necessidades educacionais especiais ...................... 26

7.2 Intervenção prática para contribuição da aprendizagem de


indivíduos com necessidades educacionais especiais ................................. 29

8. REFERÊNCIAS: ........................................................................... 30

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1. INTRODUÇÃO

A Psicomotricidade tem seu início no século XIX, fundada sob a tradição


médica e balizada a partir da dicotomia cartesiana que distinguia a mente e o
corpo como partes que poderiam pertencer ao mesmo corpo, mas que eram
compostas de substâncias diferenciadas.

Enquanto ciência, a Psicomotricidade está relacionada ao processo de


maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e
orgânicas, sendo, deste modo, sustentada por três conhecimentos básicos: o
movimento, o intelecto e o afeto.

Nunca é demais frisarmos tais entendimentos, uma vez que nosso olhar
se dá em torno dos benefícios oferecidos pelo trabalho psicomotor, certo?

Serão dois momentos para trabalharmos a educação e reeducação


psicomotora e reflexões sobre sua aplicação em portadores de necessidades
especiais. Nesse primeiro momento veremos alterações e distúrbios
psicomotores que levam à educação/reeducação psicomotora. No próximo
,omento veremos uma bateria de exames e atividades para a
educação/reeducação psicomotora e aplicação em outros portadores de
necessidades especiais.

A educação psicomotora surge com Pierre Vayer e Le Boulch. Para eles,


a educação psicomotora é uma ação pedagógica e psicológica que utiliza os
meios da educação física com o fim de normalizar ou melhorar o comportamento
da criança, ou seja, a educação física era um meio de se trabalhar a
psicomotricidade no contexto educacional com o intuito, a priori, de promover na
criança inadaptada uma educação motriz (coordenação, equilíbrio etc.) e
psicomotriz (memória e consciência).

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Le Boulch (1983) propõe uma educação baseada no desenvolvimento de
qualidades dos indivíduos, proporcionando uma relação melhor com seu meio,
a psicocinética. Atualmente, a educação psicomotora vem sendo enfatizada em
instituições escolares e pré-escolares, clubes, espaços de recreação etc.
Através de variadas estratégias, os trabalhos multiplicam-se promovendo uma
revisão da noção de infância e da práxis educativa.

Figura: 01
Possibilidades da educação psicomotora

A Educação Psicomotora pode ser entendida como uma metodologia de


ensino que instrumentaliza o movimento humano enquanto meio pedagógico
para favorecer o desenvolvimento da criança.

É através da Educação Psicomotora que a criança descobre suas


possibilidades cinestésicas, expressando-se com seu corpo e em seu corpo,
com os movimentos iguais aos que fazem com a escrita e a leitura.

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2. DISTÚBIOS E ALTERAÇÕES PSICOMOTORAS

É acertado dizermos que nas relações psicomotoras podemos observar


um estado de vontade do ser humano, o que é correspondido pela execução dos
movimentos, os quais podem ser voluntários ou involuntários, ainda subdivididos
em inatos e adquiridos, chamados de automatismos elementares.

Os inatos são aqueles que nascem conosco e são representados pelos


reflexos, que são respostas caracterizadas pela invariabilidade qualitativa de sua
produção e execução. Estes reflexos podem ser agonistas, antagonistas ou
deflexos (alternantes) que são mais hierarquizados que os reflexos puros,
permitindo certo grau de variabilidade, conforme a adaptabilidade individual.
Refere-se a necessidades orgânicas. Influindo nestas respostas temos os
instintos, responsável pela auto conservação individual. No homem ele é
misturado com o afeto produzindo tendências ou inclinações (LOUREIRO
FILHO, 2002).

Os automatismos adquiridos são os reflexos condicionados, que ocorrem


devido a aprendizagem e nos forma hábitos, que, quando bons, nos poupam
tempo e esforço, porém se exagerados, eliminam nossa criatividade e nos
deixam embotados. Os hábitos podem ser passivos (adaptação biológica ao seu
ecossistema) ou ativos (comer, andar, tocar instrumentos, etc..). Os reflexos
condicionados são produzidos desde as primeiras semanas de vida. Esses
reflexos condicionados geralmente começam como uma atividade voluntária e
depois, por já estarem aprendidos, são mecanizados (LOUREIRO FILHO, 2002).

Antes de vermos os quadros nos quais podemos encontrar alterações de


psicomotricidade, é importante sabermos que qualquer distúrbio psicomotor tem
ligação com problemas que envolvem o indivíduo em sua totalidade.

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2.1 Distúrbios psicomotores

Distúrbios psicomotores e afetivos estão intimamente associados, razão


porque o diagnóstico não é fácil de ser feito. Os sintomas mais comuns desses
distúrbios estão associados à área do ritmo, da atenção, do comportamento,
esquema corporal, orientação espacial e temporal, lateralidade e retardos.

Esses distúrbios podem ser classificados em quatro grupos, segundo


Grünspun (1999 apud JOSÉ; COELHO, 2002):

2.1.1 Instabilidade psicomotora

É o tipo mais complexo e causa uma série de transtornos pelas reações


que o portador apresenta, com o predomínio de uma atividade muscular contínua
e incessante. Essas crianças revelam:

a)Instabilidade emocional e intelectual;

b)Falta de atenção e concentração;

c)Atividade muscular contínua (não terminam tarefas iniciadas);

d)Falta de coordenação geral e coordenação motora fina;

e)Hiperatividade e equilíbrio prejudicado;

f)Deficiência na formulação de conceitos e no processo de percepção


(discriminação de tamanho, figura-fundo, orientação espaço-temporal);

g)Alteração da palavra e da comunicação (atraso na linguagem e


distúrbios da palavra);

h)Alterações emocionais (são impulsivas, explosivas, sensíveis, frustram-


se com facilidade, destruidoras);

i)Alterações do sono (terror noturno, movimentos enquanto dormem);

j)Alterações no processo do pensamento abstrato;

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k)Dificuldades de escolaridade (leitura, escrita, aritmética, lentidão nas
tarefas, dificuldade de copiar da lousa, entre outras manifestações.

2.1.2 Debilidade psicomotora

A debilidade psicomotora é caracterizada por PARATONIA, ou seja,


limitação nas quatro extremidades do corpo (ou apenas em duas) –
“deselegância” ao correr – limitações e rigidez nas mãos e nas pernas; e
SINCINESIA – Participação de músculos em movimentos aos quais eles não são
necessários – descontinuidade de gestos; imprecisão nos movimentos dos
braços e das pernas; dificuldade de realizar os movimentos finos dos dedos, etc.

2.1.3 Inibição psicomotora

Além das características da DEBILIDADE PSICOMOTORA, neste caso a


ansiedade é presença constante – a criança apresenta sobrancelha franzida;
cabeça baixa; problemas de coordenação motora; distúrbios de conduta, dentre
outros.

2.1.4 Lateralidade cruzada

A maioria dos autores acredita que existe no cérebro um hemisfério


predominante responsável pela lateralidade do indivíduo – desta maneira, de
acordo com a ordem enviada pelo cérebro dominante, teremos o destro ou o
canhoto. No entanto, segundo José e Coelho (2002), além da dominância da
mão, existe também a do pé, do olho, do ouvido.

Quando essas dominâncias não se apresentam do mesmo lado diz-se


que o indivíduo tem lateralidade cruzada – os distúrbios psicomotores são
evidentes e resultam em deformação do esquema corporal. São algumas das
formas mais comuns desse distúrbio: mão direita dominante X olho esquerdo
dominante; mão direita dominante X pé esquerdo dominante e o inverso.
Geralmente essas crianças apresentam alto índice de fadiga; quedas frequentes;
coordenação pobre; atenção instável; problemas de linguagem (dislalias, língua
enrolada…).

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2.1.5 Imperícias

É um distúrbio de menor gravidade no qual a criança apresenta


inteligência normal, apesar de uma certa frustração pela dificuldade de realizar
certas tarefas que exijam apurada habilidade manual. Apresentam dificuldades
na coordenação motora fina; quebra constante de objetos; letra irregular;
movimentos rígidos; alto índice de fadiga (GRÜNSPUN, 1999 apud JOSÉ;
COELHO, 2002).

2.2 Quadros nos quais podem surgir alterações psicomotoras

Pois bem, quando há alterações de psicomotricidade, podemos encontrar


os quadros abaixo:

2.2.1 Estupor (ou acinesia)

É a perda da atividade espontânea englobando simultaneamente, a fala,


a mímica, os gestos, a marcha etc... Vem e vai bruscamente em crises de
agitação psicomotora. É o caso do estupor catatônico (nos esquizofrênicos) e o
depressivo (na depressão).

2.2.2 Agitação e Inibição Psicomotora

São graus de determinado estado psicomotor. Quando há pequeno


aumento ou diminuição dos movimentos são designados como inquietação e
lentificação psicomotoras, respectivamente. Quando são alterações mais
acentuadas, representam a agitação e inibição motora, propriamente ditos.
Podem ocorrer alterações da psicomotricidade em indivíduos normais, como por
exemplo, após experimentar forte tensão emocional ou preocupações que levam
a vontade de andar ou levam a imobilidade. A agitação patológica pode ocorrer
com caráter uniforme e estruturado como na mania, ou desordenadamente e de
forma improdutiva como na catatonia esquizofrênica, epilepsia e psicoses
infecciosas e tóxicas (como no delirium tremens). A inibição ocorre, por exemplo,

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na depressão, estupor, estados confusionais e amenciais. Um grau ainda mais
elevado de agitação é o furor, que se caracteriza por uma extrema agitação
necessitando intervenção imediata para impedir danos aos outros ou ao próprio
paciente.

2.2.3 Maneirismos

Os maneirismos correm em esquizofrênicos, oligofrênicos e histéricos, e


são caracterizados por gestos artificiais, ou linguagem e escrita rebuscada, com
uso de preciosismo verbal, floreados estilísticos e caligráficos, etc.

2.2.4 Ecopraxia

A Ecopraxia também ocorre em esquizofrênicos, oligofrênicos e histéricos


(principalmente nos primeiros), onde há imitação de um comportamento, sem
propósito (gestos, atitudes etc.). Pode haver ecolalia (sons), ecomimia (mímica)
e ecografia (escrita).

2.2.5 Estereotipias

As estereotipias são as características do catatonismo onde há repetição


automática de movimentos, frases e palavras (verbigeração), ou busca de
posições e atitudes, sem nenhum propósito. As estereotipias cinéticas são
confundidas com os tiques nervosos, porém esses são elementares, de fundo
neurótico. É mais difícil de distingui-las dos cerimoniais compulsivos, porém
estes são atos complicados que servem para aliviar a tensão nervosa da pessoa
que a realiza. Alguns acham que as estereotipias cinéticas são atos que eram
compreensíveis e motivados, que perderam sua causa.

3.2.6 Negativismo

Negativismo é a oposição ativa ou passiva às solicitações externas. Na


passiva a pessoa simplesmente deixa de fazer o que se pede sendo
característico o mutismo e a sitiofobia (medo de se comprometer, de ser
internado, de ser envenenado). Na ativa, a pessoa faz tudo ao contrário do que
se pediu, e às vezes quando desistimos, eles o fazem sendo isso a “reação de

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último momento”. O negativismo verbal pode se apresentar na forma das
pararespostas (ou seja, o paciente entende a pergunta do entrevistador, porém
não responde algo compatível com a pergunta, e sim algo “ao lado”, ou próximo).
O negativismo faz parte da série catatônica e representa ação imotivada e não
deliberada.

2.1.7 Obediência automática

Obediência Automática que é o oposto ao negativismo, onde o paciente


tem extrema sugestionabilidade e faz tudo o que é mandado. Ocorre na
esquizofrenia e quadros demenciais.

2.1.8 Catalepsia, Pseudo-Flexibilidade Cérea

Catalepsia, Pseudo-Flexibilidade Cérea ocorre devido a hipertonia do


tônus postural. Ocorre na histeria, esquizofrenia e parkinsonismo. A flexibilidade
cérea é a conservação de uma posição, ocorrendo no parkinsonismo, enquanto
que nos esquizofrênicos e histéricos há pseudo-flexibilidade cérea, devido a
influência de fatores psicogênicos.

2.1.9 Extravagâncias cinéticas

As extravagâncias cinéticas são comuns da conduta esquizofrênica. Pode


ser descrito como a perda da gracilidade, ou seja, da naturalidade,
espontaneidade, proporcionalidade dos gestos e atitudes; como a rigidez facial
(o pregueamento da testa em “M” é característico da catatonia); paratimias (a
mímica não está em concordância com o pensamento verbalizado); focinho
catatônico (protusão permanente dos lábios); interceptações cinéticas
(interrupção brusca de um gesto apenas esboçado), etc. (LOUREIRO FILHO,
2002).

Por fim, sobre os atos voluntários, também chamados de volitivos,


relacionados e dependentes da inteligência e do afeto, eles acontecem em
quatro etapas, sendo as seguintes:

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1.Intenção ou propósito – inclinações e tendência que fazem com que
surja interesse em determinado objeto;

2.Deliberação – onde ponderamos os motivos (razões intelectuais) e os


móveis (atração ou repulsão, vindas do plano afetivo);

3.Decisão – demarca o começo da ação, inibindo os móveis e motivos


vencidos;

4.Execução – há os movimentos físicos (LOUREIRO FILHO, 2002).

3. EDUCAÇÃO PSICOMOTORA

Geralmente a educação psicomotora é dirigida às crianças consideradas


“normais”, atuando como parte integrante da educação básica durante a fase
pré-escolar e escolar.

Inúmeros autores interessam-se pela corrente educativa da


Psicomotricidade. Destacam-se entre eles o professor Jean Le Boulch, que na
segunda metade da década de 1960, buscando o reconhecimento dos valores
da educação psicomotora influenciou na decisão ministerial de incluí-Ia nos
cursos primários da França.

Algumas aquisições fundamentais que viabilizam a aprendizagem devem


ser adquiridas pelas crianças.

São elas:

1) até 3 anos: andar, correr, pular, falar, se expressar e jogar;

2) de 3 anos a 7 ou 8 anos: ter consciência do próprio corpo, afirmação


da dominância lateral e orientação sobre si, bem como se adaptar ao ambiente
(ALVES, 2008, p. 129).

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Ainda segundo Alves (2008, p. 131-132), o movimento e a sua
aprendizagem abrem um espaço para:

►Desenvolvimento de habilidades motoras que levem a criança a


aprender a conhecer seu próprio corpo e a se movimentar expressivamente;

►Promoção de um saber corporal que deve incluir as dimensões do


movimento, as quais indiquem estados afetivos até representações de
movimentos mais elaborados e sentidos e ideias, oferecendo um caminho
para troca de afetividades;

►Facilitação da comunicação e da expressão de ideias;

► Apropriação da imagem corporal;

► Percepção rítmica, por meio de jogos corporais e danças;

► Desenvolvimento de habilidades motoras finas, por meio de diversas


atividades que facilitem a e scrita.

Nesse sentido, a educação psicomotora deve trabalhar na escola:

1) a atividade tônica, por meio da tonicidade e do equilíbrio;

2) a atividade psicofuncional, por meio da lateralidade, do esquema


corporal e da orientação espaço-temporal; e 3) a atividade de relação, por meio
da memória corporal (ALVES, 2008, p. 134).

O psicomotricista deve ter um olhar atento em relação ao


desenvolvimento das habilidades fundamentais para a aprendizagem da
criança de forma global, tanto aquelas com desempenho normal quanto as
que podem possuir algum comprometimento e, devido a isso, ser mais lentas.
A função é viabilizar o desenvolvimento dos aspectos socioafetivo (autoimagem
positiva), cognitivo e psicomotor (esquema corporal, imagem corporal,
lateralidade e relações tempo-espaço) (ALVES, 2008, p. 135).

14
Figura:
Educação psicomotora

A Educação Psicomotora vem sendo enfatizada em várias instituições


escolares e em outras que fazem trabalhos relacionados à recreação infantil.
Através de uma série de atividades, principalmente exercícios e jogos, procura
promover o completo desenvolvimento físico, mental, afetivo e social, evitando,
segundo Lapierre e Aucouturier (1988), as desviações, demasiado neuróticas da
personalidade.
De acordo com Piaget (1977), a ação psicomotora é considerada como
precursora do pensamento representativo e do desenvolvimento cognitivo. Ele
ainda afirma que a interação da criança em ações motoras, visuais, táteis e
auditivas sobre os objetivos do seu meio é essencial para o desenvolvimento
integral. A atividade sensório-motora é importante para o desenvolvimento de
conceitos espaciais e na habilidade de utilizar termos linguísticos. Contudo o
jogo tem papel fundamental para o desenvolvimento fisio-motor, devendo ser
aproveitado num trabalho integrado com outras áreas do desenvolvimento.

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Assim pode-se dizer que o desenvolvimento motor não acontece pela
padronização das ações, mas sim: pela complexidade, diversidade,
variabilidade, constância e consistência dos jogos a serem trabalhados.
Os argumentos usados para justificar a educação psicomotora na
educação colocam em evidência seu papel na prevenção das dificuldades
escolares. Mas antes de tudo deve ser uma experiência ativa de confrontamento
com o meio. Portanto os exercícios corporais e as atividades despertadoras
visam especialmente assegurar o desenvolvimento harmonioso dos
componentes corporais, afetivo e intelectual, objetivando a conquista de uma
relativa autonomia. A conscientização e domínio do corpo, a apropriação do
esquema corporal, a coordenação psicomotora, as noções de tempo-espaço são
objetivos importantes que precisam ser trabalhados antes do aprendizado da
escrita e leitura (BORGES; RUBIO, 2013).
Ao profissional que atua no campo da Educação Psicomotora cabe, a
partir de uma busca constante do conhecimento das necessidades e interesses
das crianças, propor experiências que produzam a adequada estimulação e que
venham ampliar o vivido corporal, que é o responsável pelos inúmeros
esquemas que serão transferidos às situações vivenciadas no futuro. Deve-se
acrescentar que a falta de adequada estimulação no decorrer da infância pode
produzir inúmeras perturbações psicomotoras.
Qualquer que seja a experiência proposta e o método adotado, o
educador deverá levar em consideração as funções psicomotoras
(coordenações globais, lateral idade, equilíbrio etc.) que pretende reforçar nas
crianças com as quais está trabalhando.
Mesmo levando em conta que, em qualquer exercício ou atividade
proposta, uma função psicomotora sempre se encontra associada a outras, ele
deverá estar consciente do que, exatamente, está almejando.
O trabalho da educação psicomotora com as crianças deve prever a
formação de base indispensável em seu desenvolvimento motor, afetivo e
psicológico, dando oportunidade para que por meio de jogos, de atividades
lúdicas, se conscientize sobre seu corpo. Através dessas atividades lúdicas a
criança desenvolve suas aptidões perceptivas como meio de ajustamento do
comportamento psicomotor (ROSSI, 2011).

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4. INCLUSÃO E PSICOMOTRICIDADE

Enquanto a educação socializa e permite conhecer cada etapa do mundo


com finalidade de reunir conhecimento e potenciais de cada um de nós para se
tornar um ser, a inclusão, acesso de pessoas com deficiência à educação e
demais espaços sociais é um direito de todos, portanto, nada mais pertinente do
que lançarmos algumas reflexões acerca dessa relação
inclusão/psicomotricidade.
Vamos fazer um recorte no tempo e nos situarmos no período pós
Segunda Guerra Mundial (1945) quando, de fato, aconteceram algumas atitudes
positivas em relação às Pessoas com Deficiências, onde iniciaram-se
primeiramente seus atendimentos em hospitais, programas de reabilitação
dirigidos aos lesionados das guerras como possibilidade para reintegrá-los ao
mundo. (RECHINELI; PORTO; MOREIRA,2008). A importância desses fatos é
para que hoje possamos olhar essas pessoas com outros olhares, dar
oportunidades e acreditar no seu desempenho, potencialidades e habilidades
que vai além de suas limitações, seu desenvolvimento e crescimento na
sociedade.
Mas focando na criança, o ato mental se desenvolve a partir do ato motor
na medida em que o ato motor é responsável por propiciar as interações do
sujeito com o meio. A psicomotricidade, com suas contribuições no estudo do
homem em movimento e sua relação consigo, nos proporciona resultados
satisfatórios nas dificuldades apresentadas no processo de ensino
aprendizagem, possibilitando a criança o desenvolvimento motor, afetivo e de
relacionamento, além de preparar as crianças para aprendizagem futuras,
favorecendo consideravelmente a alfabetização e prevenindo distúrbio de
aprendizagem. (WALLON apud BESSA, 2011, p.123).
A educação psicomotora deve abarcar todos os alunos, promover a
inclusão de maneira efetiva e sendo a Psicomotricidade uma ciência da saúde e
da educação que independente das diversas escolas, psicológica, condutista,
evolutista, genética etc., ela visa à representação e a expressão motora, através
da utilização psíquica e mental do indivíduo. E é a partir daí que a
Psicomotricidade adquire sua especificidade e autonomia, ao se diferenciar de

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outras disciplinas trazendo alternativas para as pessoas com deficiências,
utilizando atividades lúdicas através do corpo de maneira eficiente e prazerosa,
apesar das possíveis limitações e dificuldades.
Sendo educação infantil a primeira experiência de educação escolar
vivenciada pela criança, é de fundamental importância que esse processo
educativo esteja voltado para seu desenvolvimento integral, evidenciando suas
características cognitivas, sócio afetiva e psicomotora.

Figura:
Inclusão escolar

O ponto de partida e de chegada de uma prática está na ação e estas se


traduzem na intenção educativa de ampliar a capacidade do aluno em relação a:
expressar-se através de múltiplas linguagens posicionar-se diante da
informação, interagir de forma crítica e ativa com meio físico social.
Busca-se alcançar com a educação psicomotora: a criança brincar com o
objeto e entre si, expressar-se com o corpo, construir-se no tempo e no espaço.
Nas atividades lúdicas extraclasse experiências corporais são vivenciadas
brincadeiras, jogos, danças que exploram lateralidade, agilidade, atenção,
memória, coordenação motora global, equilíbrio e percepção espaço-temporal.
Os resultados obtidos relacionam se as descobertas que as crianças
fazem com seu próprio corpo, do corpo dos outros e do meio que estão inseridos,
a capacidade de execução de movimento, a construção de novos conceitos
prevenindo assim dificuldades de aprendizagem e preparando os educandos
para as etapas seguintes.

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Seja um aluno com deficiência mental, motora, auditiva, visual ou outras,
eles também têm direito à educação motora, devendo ser estimulado de forma
adequada e partindo sempre do princípio básico: a consciência corporal. Para
que assim possa ter todas as oportunidades necessárias que um indivíduo
precisa para construir o conhecimento.
Assim o trabalho da psicomotricidade vai além da motricidade, existindo
uma preocupação maior com os sentimentos da criança, na criação do vínculo
afetivo entre professor e aluno, como também na formação geral (emocional,
psicológica, moral e intelectual) do aluno (SILVA, 2011).

5. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Populações com necessidades especiais, neste caso a deficiência


intelectual, são compostas de indivíduos cujas características físicas, mentais
e/ou emocionais interferem no seu desenvolvimento e/ou desempenho ótimos
(TRITSCHLER, 2003).
No geral, uma pessoa portadora de uma deficiência, isto é, de uma
diminuição de adaptabilidade provocada por uma perda, de caráter permanente,
de certa(s) capacidade(s), apresenta diferentes características quanto ao
desenvolvimento do seu esquema corporal, da organização espacial, do
equilíbrio, da agilidade e da força, entre outras, que podem ser consideradas,
em certos casos, patológicas, isto é, desenvolvendo-se com particularidades e
sequências distintas do desenvolvimento considerado “normal”, e noutros
simplesmente atrasadas, isto é, quando se verifica uma evolução em tudo
semelhante ao desenvolvimento normal, mas defasada em relação à idade
cronológica (GORLA; ARAÚJO; CARMINATO, 2004).
No Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais (DSM-5), a deficiência
intelectual (DI) está inserida no que denominam de transtornos do
neurodesenvolvimento. Esta condição se caracteriza por déficits em
capacidades mentais genéricas e resulta em prejuízo no funcionamento
adaptativo. Como consequência, há comprometimento na independência
pessoal, participação social e funcionamento acadêmico e profissional.

19
Do ponto de vista legal, indivíduos com DI devem estar incluídos no
ensino regular e, paralelamente, têm o direito assegurado de participar de
atividades complementares em Salas de Recursos Multifuncionais (SRM). Como
regra, estas devem ter profissionais especializados que saibam lidar não só com
as necessidades dos alunos, mas também que sejam capazes de utilizar
procedimentos, equipamentos e materiais específicos, de modo a complementar
ou suplementar as atividades desenvolvidas na sala regular (BRASIL, 2006).
Nós sabemos há muito tempo que a motricidade é imprescindível para o
acesso aos processos superiores de pensamento. Mediante a ação, o indivíduo
se relaciona com seu ambiente (físico e social) e nesta relação desenvolve, entre
outras coisas, capacidades perceptivas, estruturação espaço temporal,
capacidade de simbolização e regulação da própria ação. Psicomotricidade,
então, é essencial no contexto escolar (RODRIGUES et al, 2018).
Como indivíduos com DI apresentam déficit concomitante em funções
motoras e intelectuais, há necessidade primeiramente de se identificar o perfil
psicomotor destes indivíduos, de modo que se possa elaborar programa
interventivo adequado às suas necessidades.
Algumas crianças encontram dificuldades em habilidades motoras tais
como escrever, desenhar, manipular e construir, ao passo que outras têm
dificuldades em recreação, jogos de correr, saltar, saltitar, arremessar, no
equilíbrio, nas orientações espaciais e temporais, na lateralidade, nos esportes
e até dificuldades na locomoção e nas atividades da vida diária Influências
genéticas e ambientais têm sido consideradas por autores como Krebs (1997),
Pereira, Sobral e Silva (1997), Gallahue e Ozmun (2001), entre outros, cuja
preocupação se centra no atual estilo de vida das pessoas, sejam elas normais
ou deficientes, e nas consequências que a falta de oportunidades de exploração
dos movimentos naturais pode causar.
Uma vez que a coordenação corporal é um dos componentes importantes
no desenvolvimento da criança, Gorla, Araújo e Carminato (2004)
desenvolveram um estudo objetivando analisar esta coordenação à luz do teste
chamado teste salto monopedal (SM) que faz parte da bateria de testes de
coordenação motora para crianças KTK, de Kiphard e Schilling (1974), em
pessoas portadoras de deficiência intelectual.

20
O referido estudo veio reforçar as preocupações, que sempre estiveram
presentes ao longo de vários anos trabalhando com população especial, mais
precisamente com a deficiência mental, quanto às dúvidas por parte de alguns
profissionais sobre a importância de avaliar a referida população.
Outro fator importante que analisaram, também pela pouca informação,
foi o desconhecimento dos instrumentos avaliativos por parte de alguns
profissionais, levando-os a indagar se efetivamente as baterias de testes usuais
estão disponíveis para a população com deficiência mental.
Ao mesmo tempo em que as informações são relativamente escassas,
nota-se um grande problema quando se observa na literatura a compilação ou
utilização de testes padronizados aplicados com populações que não
apresentam características de deficiência mental, o que pode levar a uma
preocupação de caráter metodológico para algumas variáveis apresentadas
pelas pessoas portadoras de deficiência mental.
As análises e as ponderações feitas pelos pesquisadores acima levaram
à conclusão de que o assunto avaliação e intervenção é relevante, devendo ser
estimulado na educação especial, pois certamente haveria benefícios às
pessoas com deficiência mental e ao próprio profissional no desenvolvimento de
seus planejamentos.
Dada a diversidade de suas dificuldades, ponderam que não foi fácil
identificar com precisão as medidas dentro do Programa de Educação Física
Orientado para melhorar as habilidades motoras das pessoas com deficiência
mental, bem como que tipos de testes deveriam ser aplicados.
Observaram que os resultados das avaliações no pós-teste foram
significativos para ambas as pernas – esquerda e direita –, o que demonstra uma
interferência das atividades desenvolvidas durante o Programa de Educação
Física Orientado.
Entretanto, alguns sujeitos não tiveram rendimento satisfatório no pós-
teste, indicando uma necessidade de mais tempo para as intervenções e
análises mais profundas sobre outros comportamentos.
Levando-se em conta estas limitações, e para que haja aquisição ou
melhora da coordenação corporal no teste salto monopedal entre pessoas
portadoras de deficiência mental, torna-se necessário observar alguns princípios
gerais, tais como:

21
•Estímulo tanto quantitativo como qualitativo das atividades motoras;
•Elaboração de atividades adaptadas às dificuldades específicas dos
sujeitos;
•Redução da influência dos problemas de comportamento (ansiedade, por
exemplo) nas habilidades motoras;
•Redução da influência das dificuldades no tocante às habilidades
motoras sobre outras funções tais como a motivação;
•Estimulação do desenvolvimento perceptivo-motor.
Os autores ainda ponderaram ser necessário também estimular e
desenvolver estudos dentro desse tópico geral, como, por exemplo: a verificação
de quais os tipos de tarefas motoras planificadas, e de quais testes
correspondam a tipos específicos de tarefas de habilidades da vida cotidiana;
estudos sobre populações de crianças com problemas específicos, uma vez que
são diferentes em níveis e graus de deficiência, tentando associar estes aos
comportamentos adaptativos e não apenas e simplesmente à deficiência mental.
Recomendaram ao final da pesquisa, também para futuros estudos
semelhantes, que haja avaliações antropométricas em conjunto com a testagem,
pois o peso corporal pode ter sido um fator de interferência nos resultados, não
tendo sido, contudo, controlada esta variável.
Em trabalho mais recente, Rodrigues et al (2018) avaliaram o perfil
psicomotor de 15 escolares do ensino fundamental, em uma escola pública, com
diagnóstico de DI, usando as seguintes variáveis: a) frequência (ou não) em sala
de recursos multifuncional (SRM); b) classificação da DI; c) idade; c) raça/cor; d)
série escolar.
Para avaliação do perfil psicomotor foram utilizados os seguintes
instrumentos: Teste de Proficiência Motora de Bruininks-Oseretsky (BOT-2),
versão breve; Avaliação Psicomotora
Os dados obtidos mostraram que a maioria dos sujeitos apresentou
desempenho “muito abaixo do esperado” em todos os subtestes que compõem
o BOT-2. Do mesmo modo, desempenho inferior à idade cronológica foi
identificado na Avaliação Psicomotora. Não foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas nos subtestes do BOT-2 quando se analisou
frequência (ou não) em SRM, gênero e raça/cor. Contrariamente, melhor

22
desempenho em algumas habilidades psicomotoras foi encontrado em função
da idade, série escolar e classificação da DI.
As autoras discutem a relação entre desenvolvimento psicomotor e
aprendizagem e chamam a atenção para a necessidade de se utilizar os
pressupostos da Psicomotricidade no contexto escolar, principalmente na SRM.
Com isso, pode-se auxiliar as crianças com deficiência intelectual a maximizar
as suas potencialidades e, como resultado, possibilitar melhora no seu
desenvolvimento global (cognitivo, afetivo, social).
Ambos os trabalhos apresentados deixam claro a importância de se
conhecer a criança, os déficits, as avaliações, a SEM e como o trabalho
psicomotor contribui para melhorar a aprendizagem e a interação social desses
sujeitos.

6. TRABALHO PSICOMOTOR COM PESSOAS COM


PARALISIA CEREBRAL

Segundo Souza e Ferraretto (2001), a Paralisia Cerebral foi descrita pela


primeira vez em 1843 por um ortopedista inglês chamado William John Litle
como uma rigidez espástica. O termo “Paralisia Cerebral” foi introduzido por
Freud para diferenciá-la da Paralisia Infantil causado pelo vírus da Poliomielite.
As pessoas com paralisia cerebral, assim como qualquer outra condição
de saúde, necessitam de uma rede de cuidados devidamente articulada, na
perspectiva do compartilhamento do cuidado entre as equipes de Saúde e a
família, e nas melhores estratégias para o desenvolvimento de um projeto
terapêutico de qualidade envolvendo todos os aspetos de sua saúde, não
centrado apenas nas condições atreladas à paralisia cerebral.
Como a paralisia cerebral se caracteriza por lesão persistente e não
progressiva cujas deficiências e habilidades mudam com o tempo, em uma
mesma pessoa, pode-se observar melhora devido à maturação de regiões do
sistema nervoso que permaneceram intactas, além do fenômeno da
neuroplasticidade associado à estimulação e ao trabalho terapêutico da
fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. Quanto menor o tempo para

23
iniciar a estimulação, maior será o aproveitamento da plasticidade cerebral e
menor o atraso do desenvolvimento. Porém pode haver piora do quadro devido
ao advento de convulsões, às vezes incontroláveis, assim como a degeneração
osteoarticular decorrente de posturas anômalas (HERNÁNDEZ-MUELA et al.,
2004).
Para Bobath e Bobath (1978), a pessoa com paralisia cerebral, é uma
sequela de uma agressão encefálica, que se caracteriza por um transtorno
persistente, do tono, da postura e do movimento do sujeito, uma agressão não
progressiva, mas geralmente mutável, quando nos referimos as suas sequelas.
Em muitos casos a inteligência do portador é normal, a não ser que a lesão tenha
afetado áreas responsáveis pelo pensamento ou pela memória. Portanto, uma
pessoa com paralisia cerebral não pode ser classificado, exclusivamente, como
uma pessoa com deficiência intelectual.
Machado (1981) enfatiza que o sistema nervoso dá vida de relação a
todas as partes do corpo, relacionando o organismo com o meio, os quais são
conduzidos do cérebro por neurônios sensitivo através da medula ou tronco
encefálico a todos os receptores do corpo, portanto, a coordenação de todos os
movimentos do corpo é feita pelo cérebro, e no caso da pessoa com paralisia
cerebral, esses estímulos foram de alguma forma bloqueados, causando aos
seus portadores sequelas, como ausência de coordenação motora, dificuldades
na fala, em alguns casos paraplegias, tetraplégicas, e assim sucessivamente.
Acredita-se que estímulos ao SNC, aplicados de formas coerentes
apresentam resultados satisfatórios, onde as células nervosas (neurônios)
vizinhas a da lesão, acabam por se adaptar e assumirem, em partes, a função
da célula afetada.
Marchean et al (1996, p. 171) cita que através de um estudo derivado de
uma lesão central do córtex, onde região afetada foi a da coordenação fina do
sujeito, mais precisamente nos dedos, e após estímulos sensoriais: “a função do
tecido destruído foi assimilado pelo tecido nervoso vizinho intacto à custa de uma
assimilação da sensibilidade...”. Dessa forma podemos dizer que através de
estímulos adequados, pode-se ao menos minimizar sequelas na pessoa com
paraliasia cerebral.
Mais uma vez, partiram da premissa que o desenvolvimento completo do
sujeito se dá por aspectos motores, cognitivos, psicológicos e neurológicos e

24
tendo como base, o BPM (Bateria Psicomotora) idealizada por Fonseca (1992),
procurou-se identificar a influência do equilíbrio, da tonicidade, da lateralização,
da noção do corpo e das praxias global e fina no resultado motor final, utilizando-
se de uma abordagem transversal para analisar as alterações psicomotoras em
pessoas com paralisia cerebral utilizando como instrumento o teste BPM (Bateria
Psicomotora) de Vitor da Fonseca.
De acordo com os resultados, puderam verificar que as tarefas de
execução voluntária, tiveram respostas imperfeitas ou incompletas, sendo
realizadas com dificuldade. Conforme Fonseca (1992), a pessoa com paralisia
cerebral pode falhar em muitas tarefas da bateria. Encontraram maior dificuldade
na realização das tarefas de equilíbrio, de praxia fina e global, pois a própria
lesão cerebral já é caracterizada pelo encurtamento e atrofia dos flexores
dificultando a noção de respostas motoras dos sujeitos.
De acordo com o escore final, a média dos avaliados foi boa, mas com
dificuldades na realização e com falta de controle. O teste não pode ser utilizado
como identificação de um possível déficit da lesão cerebral, mas somente como
um fator que indica uma disfunção psicomotora da aprendizagem e na
coordenação motora.
Os resultados mostraram a área onde o sujeito tem um maior
comprometimento ou atraso psicomotor, e reconhecendo a extensão do
problema, o profissional saberá onde trabalhar e como aplicar o estímulo a
pessoa com paralisia cerebral, bem como fazer um desenvolvimento global de
sua coordenação motora.
A pessoa com paralisia cerebral depende em grande parte de um estímulo
externo para conseguir desenvolver sua coordenação motora. A Educação
Física desenvolve um papel importante nessa estruturação motora oferecendo
recursos para tais estímulos.
Os autores perceberam que a BPM pode ser utilizada como forma de
identificação das capacidades motoras e psicomotoras, desde que utilizada
como uma avaliação individual, pois a lesão cerebral determina a diferenciação
dos afetados. Inferem que deve-se considerar a importância de estudos nessa
área, pois a coordenação motora influencia diretamente no desenvolvimento
global da criança, como o falar, o caminhar, o físico, mental e o social, fatores
importantes para um bom relacionamento dentro da sociedade.

25
7. EDUCAÇÃO PSICOMOTORA E NECESSIDADES
EDUCACIONAIS ESPECIAIS: UMA PRÁTICA
POSÍVEL?

7.1 Avaliação e necessidades educacionais especiais

É bastante comum que crianças em trajetória acadêmica encontrem


algumas dificuldades na realização das atividades propostas pelos professores.
Porém, as possibilidades que tais problemas caracterizem alguma dificuldade
de aprendizagem necessitam de avaliação global para esclarecer a dúvida e
orientar um trabalho de auxilio à aprendizagem da criança.

Assim, destacaremos três tipos impor tantes de avaliação a serem


realizadas:

Avaliação Global

A avaliação global tem como característica a localização precisa do


estabelecimento da dificuldade de aprendizagem. Trata-se de um processo
capaz de avaliar se as causas das dificuldades suspeitas podem ser
encontradas ou não, pois são avaliadas especificamente.

A avaliação em questão deve contar com profissionais como:

• psicólogo educacional;

• pediatra;

• fonoaudiólogo;

• fisioterapeuta;

• terapeuta educacional.

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Avaliação diagnóstica

A avaliação diagnóstica é realizada por um psicólogo e o pediatra da


criança. De acordo com Selikowitz (2001, p. 17), ela ocorre em quatro estágios:

Figura:
Estagios da avaliação diagnóstica

27
Figura:
Como fazer uma avaliação

A avaliação da criança – o papel do psicólogo

Após a anamnese, o psicólogo deverá passar um tempo com a criança a


fim de familiarizar-se com ela, visando a melhor eficácia do teste.
Posteriormente, aplicará testes psicométricos que têm como objetivo estimar as
habilidades da criança, estabelecendo comparações a partir de parâmetros com
crianças da mesma faixa etária.
É impor tante que a família assista ao teste da sua criança, pois, além de
compreendê-lo, podem contribuir com os resultados informando ao psicólogo se
o desempenho da criança está coeso ao seu padrão normal. Só se deve tomar
cuidado para a família não intervir durante a aplicação do teste, comprometendo-
o.

28
7.2 Intervenção prática para contribuição da aprendizagem de
indivíduos com necessidades educacionais especiais

Aprender não é tarefa fácil e com a aprendizagem podem aparecer


dificuldades, problemas, insucessos e tantas outras coisas. Nenhum aluno
está isento a dificuldades de aprendizagem, mas quando aparecem, é
necessário estar preparado para lidar com elas e promover a aprendizagem.
Diagnosticar se um indivíduo tem ou não, esta ou aquela dificuldade de
apren-dizagem não é tarefa fácil, depende de características apresentadas, de
condições de aprendizagem, entre outros aspectos. A seguir, algumas causas
de deficiência de aprendizagem que devem ser excluídas antes do diagnóstico
de dificuldade específica, principalmente no ambiente escolar:

• dano visual ou auditivo;


• incapacidade intelectual;
• incapacidade física, como caso de paralisia cerebral;
• falta de familiaridade com a língua de instrução;
• falta de apoio familiar;
• falta de motivação;
• ausência frequente;
• dano cerebral, como traumatismo craniano ou meningite;
• epilepsia de petitmal;
• medicamentos e drogas que prejudiquem a aprendizagem.

Quando uma dificuldade de aprendizagem é diagnosticada, é preciso


que o especialista, a família e a escola contribuam na intervenção a fim de
sanar o problema, mas destacaremos como é possível realizar esse trabalho
dentro da escola, principalmente no que se refere a pontos específicos e
passíveis de intervenção no ambiente escolar.

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8. REFERÊNCIAS:

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