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Oey LTANEIDADE, SUCESSIVIDADE OU COMPLEMENTARIEDADE DAS GARAN ea SNe on eae ee CU octet CAPITULO 7 ; quesToEs INTRODUTORIAS 7.1 ENGENHARIA CIVIL — CIENCIA EXATA? Ha um falso conceito de que a Engenharia Civil é uma ciéncia exata. Isso nao é yerdadeiro. Diz-se, com razao, que nao ha duas obras iguais. Cada obra é diferente de outra. Mesmo que tenham tido o mesmo projeto, as mesmas caracteristicas, 9 mesmo memorial descritivo, a mesma equipe construtora, o resultado final € diferente. Isso porque ha variabilidades de toda ordem na construgio, que conse- quentemente afetam o seu resultado. Ha variabilidade do solo (de local para local), dos materiais estruturais, variabilidades geométricas e até nos servicos executa- dos (mesmo que pelas mesmas pessoas), tudo conduzindo a que o resultado final seja diferente. E por isso que uma obra nunea ¢ igual a outra. Dai nao se poder exigir da Engenharia o mesmo resultado, de obra para obra. EE 72 SEGURANCA ESTRUTURAL ~ UMA QUESTAO DE CONFIABILIDADE ESTATISTICA Os sistemas materia s tem vida finita, A ideia de seguranca esta intimamente ligada a vida titil do sistema, pois, a medida que aumenta esse periodo, tam- bem cresce o risco de aparecimento de estados excepcionais de utilizacao, bem ‘como riscos de deterioracao do préprio sistema. Os resultados da utilizagio das estruturas nao dependem apenas das decisdes humanas. Frequentemente: a ruina esta associada as foreas da natureza, contra as quais nao ha controle operacional possivel, ou a deterioracao de materiais cuja constatagio é inviavel. Desse modo, 6 preciso admitir ~ ea Engenharia assim o faz.~ que sempre existe probabilidade de ruina. Conforme a liga de Fusco, no método probabilistico de verificagao de seguranga, toma-se como medida da seguranca a probabilidade de ruina: No entanto, como no estado atual de conhecimentos € praticamente impossivel calcular-sea probabilidade de ruina das estruturas, sio considerados trés diferen- tes niveis de probabilizagio da medida da seguranca. No nivel II do método pro- abilistico,a medida de seguranga tem um claro significado logico, pois a decisio de se considerar uma estrutura como segura decorre de um juizo probabilisticono qual est envolvida uma tinica probabilidade, qual seja, a probabilidade de ruina previamente fixada. Todavia,a complexidade do estudo (..) impede a aplicagio pritica do nivel IIL nivel It do método probabilistico corresponde ao processo Ta Ms dos extremos funcionais (..) entendendo-se que a probabilidade de ruina é dada ivel I do processo probabilistico corresponde ao process? axtremos. (.») Para evitar a consideragao de n + m probabilidades 2S- dlos valores ext i seguranga, também ao nivel 10s valores X,.,, nas estratyras eo josio deterministicamente interpretados, medindo-se @ Pr" do conereto arnt O -umta probabilidade tinica associada as variaveis ¥,-(~) NO boabilidade de ram’ Pama aparente precisio formal, os niveis Ite Lacarretam, entanto, a despeito a significado logico da medida de seguranga, pois tanto as aperea wweis X,, Sdo grandezas aleatorias”™, apenas por Ps. (..) OM na verdad variaveis ¥,, quanto as var rrusco,a nogio intuitiva de seguranca dos sistemas materiais esta inda na licio de: A il Ainda na liga 4 sua utilizagao. Uma estrutura sia de sobrevivéncia aos riscos inerentes t vada segura quando existe certa garantia de que, durante a sua enho patoldgico ligada aide pode ser consider vida titil, nao sero atingidos estados de desemp' Projetos sempre foram realizados sob condigdes de incertezas quanto as aces e resisténcias, e as estruturas sempre foram projetadas para resistir a agdes maio- res do que as realmente esperadas. Como se observa na doutrina da Engenharia, historicamente havia dois métodos basicos de se impor essa condicao de resis- téncia maior do que as solicitagGes: (a) projeto em acdes tiltimas, em que a acdo total é majorada por um coeficiente de seguranca e o projetista demonstra quea estrutura ou elemento estrutural considerado pode suportar essa acdo majorada, e (b) projeto em tensdes admissiveis, em que a tensdo do material é limitada por alguma fracdo de sua tensao de falha e o projetista demonstra que, sob o carrega- mento esperado ou especificado, a tensio aleancada nao excede o valor admissi- vel. A partir de 1960, duas correntes de mudanga no calculo estrutural comega- ram a se fazer sentir: a emergéncia de calculo em estados limites e a ideia de que os parimetros de calculo podem ser racionalmente quantificados por meio da teoria de probabilidade. A estrutura pratica de criar normas baseadas em proba- bilidade foi desenvolvida nos anos 1960, e no comeco dos anos 1970 ferramentas estavam disponiveis para desenvolver realment em probabilidade, ea aproximagio basica ado estatisticas das varidveis envolvidases, ite uma norma de calculo basead? tada era considerar as propriedades Assim, preciso desvendar 0 isenta deriscos. 0 que e "| © mito € esclarecer que nao ha obra de Engenharit existe obras sio dur Svvis mac gga nt Auestio de confiabitidade estatstica, rave vias no sao eternas ou permanentes, Como observa Cast? ee 206 FUSCO, op cit, 1976, 207 Idem, ibidem, p. 145, 208 CASTRO MOTTA, Leila A, ¢ Metodo dos Estados Limit versio paficee: P.164-167, MALITE, M; Sitens 1.2 e 1.3. pj 20-tp. Assen out, 20 faximiliano. Andis Ponivel em: chttp: 007, sera da Seguranga no Projto de Es // Www.set.eesc.usp.br/caderm>® Motta e Malite, sistemas estruturais podem falhar ao desempenhar as fungdes para as quais foram projetados, pois o risco est geralmente implicito nesses sistemas. No caso de uma estrutura, sua seguranga é, claramente, uma funcao da maxima ago (ou combinagao de ages) que Ihe pode ser imposta durante s vida titil e dependera também da resisténcia ou capacidade dessa estrutura ou seus componentes, de suportar essas agdes. E como a maxima agao da vida itil de u tempo de uma estrutura e sua capacidade real sio dificeis de serem previstas exatamente, equalquer previsio esta sujeita a incertezas, a garantia absoluta da seguranca de uma estrutura ¢ impossivel. Na realidade, seguranc¢a ou desempenho podem ser garantidos somente em ter- mos de probabilidade de que a resisténcia disponivel (ou capacidade estrutural) serd suficiente para resistir maxima acdo ou combinagao de agdes que poderio ocorrer durante a vida titil da estrutura”, Da mesma forma que nio existem obras de Engenharia eternas, também nao existem obras 100% seguras, sem riscos. Os riscos podem ser diminuidos até atin- girem niveis aceitos pela sociedade técnica, mas nao ha como eliminar a possibili- dade de riscos, salvo a custos inimagindveis, que inviabilizariam economicamente qualquer construgio. De modo geral, 0 sistema é confiavel quando existe uma garantia razoavel de sua permanéncia em condicées de utilizacao normal. A confiabilidade é a garantia de sua permanéncia em servico?!°. Nesses termos, portanto, a confiabilidade de um sistema pode e é medida em termos de probabilidade. No célculo estrutural, as normas em diversos paises esto calibradas para um determinado valor de probabilidade de falha. A norma brasileira utiliza coe- ficientes para obtencdo da seguranga aceitavel. Para tal, adota um método de célculo semiprobabilistico que proporciona a estrutura valores de probabi- lidade de fatha proximos a 10°, 0 que equivale a um indice de confiabilidade de 4.75, A principio a ideia é simples: as incertezas que afetam 0 projeto estrutural sio identificadas e suas variacdes potenciais, quantificadas estatisticamente, ad- mitindo coeficientes de seguranca parciais apropriados para serem calculados. 209 Idem, ibidem, item 2.1. Acesso em: 3 out. 2007. 20 FUSCO, op.cit,,p.146 24 SILVA, Turibio José da, “Como estimar a vida itil de estruturas projetadas com critérios que visam 4 durabilidade". Disponivel em: cy ios» eRinos No dorao cit NO CODICO DE DRFESA DO CONSUMIDOR 18 sativa ou quantitativa, Com as indie, a) houver fornecimento em disparidade, qualitativa ou ica. citar ente, embalagem ete), re goes constantes da oferta (mensagem publictaris, recipic Deten riagdes decorrentes de sua nature” peitadas as i ando-os inadequados ou impry, p) houver falha qualitativa ou quantitatva, tornando-os Seas pe : ne consumo aque se destinam (produtosalterae D s los prios ao consumo a 1c, OU CI 1 e hes diminua 0 valor, sujo prazo de validade ja tenha ) ou q ete. ou ci :do), a eles se referi OCDC disciplina os vicios aparentes (ou de facil constatag Ao). ferindy nite no att. 26, no qual estabelece o prazo decadencial de 30 (trinta) amente no att. 26, a expres! ee i nm Fa ara reclamacao, caso se trate de produtos nao duravels, ¢:90 (noventa) dias, igs para reclamacao, i > art 279), caso se trate de produtos duraveis (CDG, art. 26,1€ Ir”). DC280, é Os vicios ocultos esto previstos no § 3° do art. 26 do cpc! , No qual é esta- elecido que, na hipstese de que trata, o prazo decadencial para a reclamacio inicia-se no momento em que for evidenciado o defeito. Vicios de qualidade sio aqueles que tornam os produtos inadequados ou im- proprios para o consumo ao qual sao destinados ou Ihes diminuem o valor, A inadequacio ou impropriedade pode ocorrer em face do decurso do prazo >partes viciadas. (..) § 6° S80 impréprios ao uso € consumo: I - 0s produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; Il - 0s produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, cor rompidos, fraudados, nocivos a vida ou a satide, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentates de fabricacio, distribuicdo ou apresentacao; III - os produtos que, por qual- quer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam”, “Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vicios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variagdes decorrentes de sua natureza, seu contetido liquido for inferior as indi- cages constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitaria, podendo © consumidor exigir, alternativamente e & sua escotha: I - 0 abatimento proporcional do prego: Il = complementacao do peso ou medida; It - marea ou modelo, mente : a; III - a substituigio do produto por outro da mesma espécie, sem os aludidos vicios;1V ~ a restituigao imediata da quantia paga, monetaria- atualizada, sem prejuizo de eventuais perdas e danos. (...) § 2° O fornecedor imediato sera responsavel quando fizer a pesagem ou a medicdo e o instrumento utilizado nao estiver aferido seguindo os padrées oficiais.” “Art. 20. 0 fornecedor de servigos responde pelos vicios de quali 6 vicios de qualia jomnem improprios 2° Cosmo mths tina ne nade au tre nei dicagdes constantes da oferta ou mensagem publicitiria, podendo o consumidor exigit, alternati' mente ¢ a sua escolha: I a reexecucdo dos servigos, sem custo adicional e quando eabivel: I~ a= Utuigdo imediata da quantia paga monetariamente atualizada, sem prejuizo de eventuais perdas® danos; II - 0 abatimento proporcional do prego. (..) § 2° Sdoimprouren ne mn mt -) $ 2° Sao im 8 08 servi ost inadequados para os fins que razoavelmente deles se esper: cee oataa reed ram, bem como aqueles que nao atendat™ as normas regulamentares de prestabilidade* mo aqueles que ni 279 CDC:“Art. 26. 0 direito de reclamar pelos vicios aparentes ou de facil constatagao caduca em! ~ 30 (trinta) dias, tratando-se de fornecimento de servigo e de produt 4 nts) le produto nao duraveis; Il -90 (0O" dias, tratando-se de fornecimento de servigo e de produto duraveis™ ne SNe 280 CDC: “Art. 26.0 direito de 1.) Il (.)3 § 3° Tratando-se de vi evidenciado o defeito”. lamar pelos vicios apatentes ou de fécil eonstatagio caducae™ oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ft ry LWVRO2 A QUALIDADE NA CONSTRUGKO CIVIL (ASPECTOS 1URIDICOS) od de validade, da deterioragao do produto, da nocividade, do desacordo com as normas técnicas de fabricagao, ou pela falsificagio. A inadequagao pode deri- varainda da no observacao dos padroes de aferigdo da qualidade, bem como da disparidade do produto em relagao a outros produtos do mercado. Em relacdo aos servigos, vicios de qualidade sio aqueles que os tornam impro- prios sua fruigao ou Ihes diminuem o valor. Aimpropriedade dos ser os pode ocorrer por inadequacio aos fins que razoavelmente deles se esperam, ou tam- bem pelo nao atendimento as normas regulamentares da prestabilidade, tal como previsto no caput e § 2°do art, 20 do CDC", O vicio de qualidade pode ser obser- vado também quando o servigo ofertado difere em qualidade do servico poste- riormente executado. Vicios de quantidade sao os que ocorrem quando, guardadas as variacdes ad- missiveis em relacdo a natureza do produto, o contetido liquido se mostra me- nor do que o estabelecido no recipiente. Conforme o disposto no art. 19 do CDC, embora a quantidade inferior nao altere a qualidade do produto, o consumidor 6 prejudicado, pois pagou por quantidade maior do que a recebida?*” 0 Cédigo de Defesa do Consumidor disciplina a questo dos vicios de quantidade, dando ao consumidor o direito de obter: abatimento proporcional do prego (art. 19,D;complementacdo do peso ou medida (art. 19, 1); substituicao do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo em perfeitas condigdes de uso (art. 19, II);ou restituigao da quantia monetariamente atualizada, sem prejuizo das perdas edanos (art. 19, IV). Emrelagio aos servigos, os vicios de quantidade ocorrem quando hi disparidade quan- titativa dos servigos executados, em relagio a quantidade de servigos ofertados no con- 281 CDC: “Art. 20. O fornecedor de servigos responde pelos vicios de qualidade que os tornem im- réprios ao consumo ou Ihes diminuam 0 valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicagdes constantes da oferta ou mensagem publicitiria, podendo o consumidor exigir, alter- nativamente e. sua escolha: I - a reexecu¢io dos servigos, sem custo adicional e quando cabivel; —a "estituigdo imediata da quantia paga monetariamente atualizada, sem prejuizo de eventuais perdas e meio social, cultural, profissional e econdmico daqui le individuo concret, 8.12 NOCIVIDADE FUTURA E RISCO DE DESENVOLVIMENTO > art. 10 do CDC profbe a colocacdo, no mercado de consumo, de produto oy sep ii el J] e a vico que o fornecedor sabe, ou deveria saber, apresentar alto grau de NOCividade i a ranca2’, ou periculosidade a satide ou a seguranga””®. No entanto, pode acontecer de o produto ou servigo ser colocado no mercado de. con. sumo e, posteriormente, o fornecedor vir a ter conhecimento da periculosidade. que apresente. Isto é,8 época do fornecimento nao se conheciam os fatores negativos, e¢s produtos so pa aram a ser considerados perigosos ou nocivos pelo avango do conhec. mento tecnol6gico. So casos em que o conhecimento da periculosidade ou nocividade ocorre somente aps a colocacao do produto ou servigo no mercado de consumo, Visando a regular essas situagdes, 0 § 1° do art. 10 do CDC** dispde que o fornece. dor deve comunicar o fato, imediatamente, as autoridades competentes, além de alertar os consumidores, por me io de antincios publicitarios, veiculados as suas expensas na imprensa, radio e televisao, Discute-sena doutrina sobrea teoria do “tisco de desenvolvimento, como caus excludente da responsabilidade do construtor, que se materializa quando um produto é inserido no mercado de consumo € os riscos dele advindos nao podem ser conhecidos prontamente, 6 vindo asé-lo mais tarde, em face do desenvolvi- mento tecnologico. A ideia de “risco de desenvol vimento” possui relagio intima cido — que é considerado ar o fornecedor. Mas ha entendimenton? u que a ideia de “tiseo de xisténcia do defei sentido contrario, ou seja, de funde coma de ine: defeito inexistia. desenvolvimento” se co™ ito, porquanto naquele momento, de fato,9 oespitito de aperfeicoamento € inerente ao ser humano. E tudo pode ser aperfei- coado. Faz. parte da nossa natureza querer melhorar o que é ineficiente ou incom- pleto. A ctiagao de novidades torna-se imperiosa quando a qualidade de vida entra em conflito com a percepgio de que determinado objeto ou const atualmente sao imperfeitos. Mesmo com a tecnologia de do utilizados que se dispde hoje, conti- nuama ocorrer falhasem novos projetos de Engenhatia,e, enquanto existir progresso tecnoldgico, errs ‘dentes serdo sanados e continuardoacontecendo em razio das inovagdes, poisassim éa evolugio:a falha servird de ligao, desafiard os engenheiros a corrig-lae, dessa forma, servira de combustivel para o avanco das tecnologias. 0 “tisco de desenvolvimento” se verifica, na m aioria das vezes, em situagdes que ultrapassam 0 conhe cimento humano do momento em que se praticou 0 ato, tanto nas suas hipoteses como nas suas consequéncias, sendo recomendavel considera-lo como causa excludente da responsabilidade nas situagdes que o en- volvam (¢ nao exclui-lo), dependendo da anilise de cada caso concreto®”, oo 6.13 DEFEITO E VICIO DE QUALIDADE Alguns autores tratam 0 defeito como vicio de qualidade, ou seja, utilizam ambas as expresses para designar a mesma coisa", Claudia Lima Marques separa-os em vicios de qualidade por inadequacao e vicios de qualidade por inseguranga?®. Para Benjamin, os vicios de qualidade por inseguranga podem ser clasificados comoa desconformidade de um produto ou servigo com as expectativas legitimas dos consumidores e que tém a capacidade de provocar acidentes de consumo. Com tal conceito, o referido autor chega a conclusio de que vicio de qualidade Por inseguranca e defeito acabam por se confundir*™, ‘es se implicam re- omoaum defeito Denari discorda dessa distingao, entendendo que as expres ciprocamente, pois tanto se pode referir ao vicio de qualidade do produto, como ao defeito como um vicio de qualidade, 297 Vide item 16.3.4 298 SERPA LOPES, Miguel Maria de. Curso de Direito Civil 6. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,1996,¥. 3,179. 299 MARQUES, Claudia Lima, Contratos no Cédigo de Defesa do Consumidor: 0 novo regime nas rela- Ses contratuais. io Paulo: Revista dos Tribunais, 1992, P. 182, : 300 BENJAMIN, Antonio Herman. In SIMAO, José Fernando. Vicios do Produto no Novo Cédigo Civile no (Codigo de Defesa do Consumidor, cit.,p. 60. $9 DENARI, Da Qualidade de Produtos e Servigos... Cit, P15. ‘MAO vicioseertiras no CbD1G0 CWILE NO CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 18 7 a CAPITULOS ; A GARANTIA E SEUS FUNDAMENTOS JURIDICOS > contratante ou consumidor contra » resguarda 0 A garantia é um instituto que resguares © Faaceesterneiataahinn que se manifestam aposa instauracao ca ; riseos que se ma a ‘enante se obriga a assegurar a0 adquirente Je adquirida e para 08 fins a que é dest. 5 (uso adequado e realizacio da ma. Pelo principio da garantia, 0 ali » oneroso o uso da coisa por el a titulo ' ecessil nada, atendidas as condigdes 0! nutengiio) A garantia é inerente a propria compra e venda, inspirada no prineipio da boa-fé, ¢ delimita as responsabilidades do fornecedor e do consumidor, 4 garantia é obrigagio contratual que gera o dever de indeniz embora por fundamentagio diversa, assemelha-se, no resultado, as conse quéncias do inadimplemento das demais obrigagdes contratuais. 1, de modo que, Existem duas espécies de garantia: a legal e a contratual. De acordo com o disposto nos arts. 24 e 25, do Cédigo de Defesa do Consumidor*, a garantia legal, por decorrer da lei, ndo pode ser suprimida, total ou parcialmente, pela vontade das partes. Em contrapartida, a garantia contratual tem livre contetido (art. 50 do CDG**) e se manifesta em termos escritos em um contrato. Os termos da garantia podem dizer respeito ao di- reito (garantia por eviccdo, por exemplo) ou podem abranger os vicios (de qualidade e quantidade). Simao, em seu livro Vicios do Produto no Novo Cédigo Civil e no Cédigo de Defesa do Consumidor, faz uma sintese da doutrina sobre as teorias que ex 302 “Excepcionalmente, para os vicios de qualidade ica gue esteja presente qualquer negocio relacdojurdica entre vitima efornecedor pode até haver, mas ni € negovial” (BENJAMIN, AT Herman de Vasconcellos. In HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes (coord.). Novo Codigo civil: Interfaces no Ordenamentojuriico Brasileiro, Belo Horizonte: Del Rey, 2004 p. 107) 303 CDC: “Art. 24. A garantia legal de adequacdo do produto on serving sadepencde de terme resso, vedada a exoneracdo contratual do fornecedor” some “Art. 25. E vedada a estipulagdo contratual de cléusuls ¢, : i : sula que impossil atenue a obvi sao deindenizar prevista nesta enas Segdes anteriores” POSS itesexonere ou 304 CDC: “Art. 50. A garantia contratual é com, dian “omplementar a legal e seré conferida me pay ar legal e ser conte LUVRO 2A QUALIOADE NA CONSTRUGKO CIVIL (ASPECTOSJURIDICOS) 2 tem para explicar os fundamentos da garantia, que me : rece ser reproduzida. ocitado autor inicia por Orlando Gomes if a Aeewiecs 3 que busca esses fundamentos em trés teorias: teoria da eviccao parcial, teoria do erro e teoria do risco. A teoria que fundamenta a garantia no principio da eviegao parcial é criticada pelo mestre baiano, acentuando que, se (a garantia) fosse semelhante a eviccdo, goalienante restaria a obrigagao de indenizar (como ocorreria em casos de eviccio), 0 que nao se aplicaria aos casos de incidéncia de vicios, cuja regula- mentacio, em regra, prevé apenas a redibicdo do contrato com a devolugao dacoisa e do preco (e nao a indenizacio). A teoria do erro considera a vontade doalienante viciada quando baseada em erro sobre as qualidades essenciais do objeto. Contudo, para Orlando Gomes, os fundamentos dessa teoria no seriam os mais préprios para a garantia, por receberem tratamentos legais diferenciados: no caso do erro, a consequéncia éa anulacao do contrato e, no caso dos vicios ocultos, ha a possibilidade de abatimento do preco. Por fim, ateoria do risco, que se fundamenta na imposigao legal ao alienante da res- ponsabilidade pelos vicios da coisa. Esta ¢ afastada por Orlando Gomes sem maior fundamentagio, por entender que nao se aplica aos vicios. Ateoria do erro ~ que considera a vontade do alienante viciada quando ba- seada em erro sobre a qualidade essencial do objeto - constitui um dos prin- cipais fundamentos da garantia, nao podendo ser afastada pela mera consi- deracdo de que o erro implicaria necessariamente anulagio. Ou seja, sempre que possivel, deve-se preservar 0 negécio, reservando-se ao contratante 0 direito de reclamar a indenizagao, e nao necessariamente buscar a anulago donegécio, Esse raciocinio parte da maxima de que, quem pode omais pode o menos, isto €, se € possivel postular a anulacdo do negécio, que € 0 mais, ter o neg6cio com parece razoavel que se possa postular o menos, que ¢ man orecebimento de indenizacao correspondente ao vicio. Serpa Lopes* classifica as teorias em dois grupos: (@) responsabilidade do contratante como um consectario necessario da natureza juridica do con- trato; e (b) a teoria eclética, que tem por base a ideia do erro. do por Simao", afasta-se da nogio de erro ¢ garantia na boa-fé, que constitut rincipio da boa-fé Silvio Rodrigues*”, secundac de inexecucdo do contrato e fundamenta a Principio informador do direito contratual. Com efeito, op hes, apud SIMA ‘1 Forense, 1997,p-94 eseguintes, apud SIMAO, op. ct. rey. e atual, cit, p.176 eseguintes. ; tos e das Declaragges Unilaterais de Vontade. S80 305, GOMES, Orlando. Contratos. Rio de Janel 306. SERPA LOPES, Curso de Direito Civil, 6. €. 307 RODRIGUES, Silvio, Direito Civil Dos Contra Paulo: Saraiva, 2002, V. 3,105: 308 SIMAO, op.cit, p86. 1 i itui er, o fundame previsto no art. 422 do Codigo Civil, constitui, a nosso ver, 0 damento : ili icios ocultos e deve nortear todos os contratos, quer da responsabilidade por vicios ocu “ a ‘ao di sumo, quer decorrentes de uma relacig decorrentes de uma relagao de con + sorte ce entar contrat apenas civil. Assim, é de ser prestigiada a expectativa de se est mts ando ou adquirindo algo que se pressupoe ter determinados requisitos sicos de pare , : qualidade que lhe so intrinsecos, pols € justamente nessa expectativa que reside a boa-fé do contratante ou adquirente. De certa forma, a boa-fé objetiva congrega todas as outras teorias que, cada qual com a sua vi do, buscam fundamentos para a garantia, como é 0 caso. da teoria do erro, da teoria do risco, do principio da evicgao parcial, que, a nosso ver, resistem 4 s criticas de Orlando Gomes e servem de fundamento para a garantia. Aboa-fé objetiva opera seus efvitos nas hipoteses de redibi¢ao ou abatimento do prego, pois a garantia circunscrita ao derredor dos vicios redibitorios visa a proporcionar estabilidade aos negdcios juridicos relacionados a transferén- cia de bens de um contratante ao outro, fazendo com que o adquirente de certa coisa sinta-se tranquilo quanto a utilidade objetivada no bem adqui- rido, razao pela qual a questo da “culpa” perde um pouco 0 seu sentido”, A boa ou mé-fé é relevante para efeito de reparacdo, pois, se o alienante ndo conhecia o vicio ou defeito da coisa, restituird o que recebeu mais as despesas do contrato, ao passo que, se conhecia, restituira 0 que recebeu mais perdas e danos, conforme dispée 0 artigo 443 do CC! © Cédigo Civil nao fixa um prazo minimo de garantia para os negécios de direito privado nao abrangidos pelo direito do consumidor, Mas Caramuru ressalva que € evidente que esse siléncio nao pode! rd representar a exonera- a0 completa e absoluta da garantia, até porque a existéncia de tal exigénciaé algo que esta de acordo com a fungio social do contrato!?, Com efeito, tendo em vista a fungao social do contrato, mesmo que 0 Cédigo seja silente endo haja estipulacao de prazo de garantia no negocio juridico, é de considerar-s¢ $09 CC: “Art. 442. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode o adquirent® teclamar abatimento no preco”, ‘BO SANTOS. Caio Augusto; GODOY, Paulo Henrique S. Dos Vicios Redibitérios no Novo Cédigo Civil eno ‘COdigo de Defesa do Consumidor. In. HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes (coord.). Nv? Codigo Civil: Interfaces no Ordenamento Juridico Brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, 74 311 CC: “Art. 443. Se o alienante conhecia 0 vicio ou defeito da coisa, restituira 0 que ee com perdas € danos; se o néo conhecia, tao somente restituira o valor recebido, mais as desPe* do contrato” 312, FRANCISCO, Caramuru Afonso. Cédigo Civil de 2002: 0 que ha de novo?. Sao Paulo: Juarez 6 Oliveira Ed., 2002, p. 109. NYRO 2 A QUALIDADE NA CoNStAUGAO Givi (ASPuCTOS 1URIOICOS) um prazo de garantia pelo qual se responsabilize o alienante, tapso de tempo ser estabelecido tendo por base gos contratos ou, ndo havendo, devem-se Gédigo de Defesa do Consumidor, devendo tal 08 usos e costumes aplicaveis aplicar por analogia os prazos do SETURL Fundamento da teo Considera o fornecedor responsével pelaperda de uma das | ks __| twats da coisa, do denunciada no contrat. = Teoria doerro Consideraavontade do aienant viciada quando | ‘Orlando Gomes Teoria da evicgo parcial | baseada em erra sobre a qualidade essencial do objeto. | {Teoria disco Fundamenta-enaimposigao legal ao alienate da Saban ‘esponsaildade pelos vcios da coisa, SerpaLopes [Responsabitdade do contatante amo consectri da naturerajuriicado contrat, [Teoria ectetica Temprtases dead ev, SivioRodriguese Priciio de boa objetva Os neécis deve processar em clin de boa José Fernando Simao $11 GARANTIA LEGAL protecao e seguranca outorgados ao contratante ou adqui composto do prejuizo trazido pelo vicio's. 9.1 A GARANTIA LEGAL NO CC estabelece o prazo de 5 (cin tia pela qual o emp que ponham em risco_ Alguns doutrinadores Ponsabilidade e la res J Jade — 0 que na importando, em principio, na cessacio da responsabilida INE M20 ocopy ji us, + aueabre excecdo a regra!’. no caso do art. 61844, que abre Excegao a reg) yeial — desse prazo foi salientada por Hely Lopes Meirelhes, Aimportancia- atés generalizadla a conviegaio de que esse prazo nao foi estabelecido para atende, E ge ada : jo, mas também, e ; exelusivamente aos interesses do proptictirio, mas também, ¢ principalmente a-se, desi p, de pra ao interesse de toda a coletividade. Tr ra70 imperativo, de ordem publica, nao sendo possivel ao construtor dele se eximir, nem redurir ide por meio de clausula contratual, Resulta da lei, independentede cago pela vontade das partes sua amp clausula que o consigne, e nao admite mod Ainda sobre o prazo de garantia previsto no art. 1.245 do Cédigo Civil de 191687 eno seu correspondente art. 618 do Cédigo de 2002, comentava Hely Lopes Meirelles: 0 prazo quinquenal dessa responsabilidade é de garantia, € nao de prescri- a0, como erroneamente tém entendido alguns julgados. Desde que a falta de solidez ou de seguranga da obra apresente-se, dentro de cinco anos de seu recebimento, agdo contra o construtor e demais participantes do empreendi- mento subsiste pelo prazo prescricional comum (...), a contar do dia em que surgiu o defeito™®, No fundo, a responsabilidade do construtor decorre antes do principio geral da responsabilidade civil, do dever de reparagao dos danos, dos direitos que sio assegurados aos adquirentes, da protecao a sociedade, enfim, decorre antes desses principios, do que da garantia estabelecida expressamente no texto legal. 314 Civil. Recurso especial. Aco de indenizagdo por perdas e danos e rescisao contratual. Julgament® “extra-petita”, Inocorréncia, Responsabilidade do consts do imével ao comprador nao corres] financiador de imével residencial, nesse instante, rutor. Defeitos na construcao. (...) A entrest ponde ao exaurimento, por parte do empreiteiro, construtot de sua obrigacéo contratual ante a impossibilidade de que hil ante, comprovacao plena da seguranga e solidez da unidade residencial. Recurso nao conhecido (ST}-3*T., REsp §90385-RS; 2003/0162546-7, Rel. Min. Nancy Andtighis 5-10-2004, J 5-9-2005, p. 390). 315 PERBIRA, Caio Mario da Silva, Intitui SAFE LHO. ges eRe Diet de Cons. Sto Paul: Revista dos Tunas 1979-226 317, CC DE 1916: “Art. 1.245, Nos contratos de e deraveis, o empreiteiro de materiais ¢ execu seguranga do trabalho, assim em razio dos achando firme, 318 MEIRELL ides de Direito Civil, cit.,p. 208, mpreitada de edificios ou outras construcdes on \cio responder, durante § (cinco) anos, pela solide? 00 materiais, como do solo, exceto, quanto a este, se" preveniu em tempo o dono da obra” Op. cit. p. 255, VKO 2 A QUALIDADE NA CONSERUGO CIVIL (ASPECTOS URIDICOS) ajurisprudéncia firmou 0 conceito de que, no prazo de garantia referente A solidez e seguranca da obra, o construtor responde de forma objetiva® Isto a garantia legal da a essa responsabilidade do construtor o carsiter de respon- sabilidade objetiva, de tal sorte que, naquele determinado periodo, se excetua a regra geval do 6nus da prova estatuida no art. 333, I, do Codigo de Proceso civil”, fazendo com que o contratante, comprador ou seus sub-rogados fiquem liberados de provar a culpa do construtor (devem provar apenas 0 nexo causal), poisa lei considera a culpa presumida do construtor. importante lembrar que a responsabilidade pode ser afastada se o empreiteiro demonstrar que o evento danoso decorreu de caso fortuito, fato de terceiros ou culpa da vitima (mau uso ou falta de manutencio). Existealguma divergéncia na doutrina sobre o alcance da garantia prevista no art 618 do CC: contempla toda e qualquer modalidade contratual, ou apenas a em- preitada mista (materiais e servicos)? Sobre essa questo, Marco Aurélio S. Viana analisa o entendimento de diversos autores (J. M. de Carvalho Santos, Alfredo de Almeida Paiva, José de Aguiar Dias e Hely Lopes Meirelles) e conclui, a nosso ver com acerto, que, independentemente da espécie ou da natureza do contrato de construgao, o construtor sera sempre o responsdvel, por cinco anos, pela solidez eseguranca da obra®”!, Oart. 447 do Cédigo Civil” dispde que, nos contratos oneroses, alienante responde pela evicedo. De acordo com a definigdo de Maria Helena Diniz: “evie- cio 6a perda da coisa, por forca de decisio judicial, fundada em motivo juridico anterior, que a confere a outrem, seu verdadeiro dono, com o reconhecimento Jo denuneiado oportu- em juizo da existéncia de 6nus sobre a mesma coisa, namente no contrato”. Assim, o vendedor permanecera vinculado devido aos riscos da eviceao. 9.1.2 A GARANTIA LEGAL NO CDC. Conforme a ligdo de GRINOVER: © prinefpio da garantia legal deflui de todo o sistema do Codigo. Sempre que o CDCestabelecer obrigacdo para o fornecedor, esta, ipso facto, conferindo garantia legal a0 consumidor, Os arts. 4°, I,d, € 8° a0 25, do CDC, por exemplo, encerram a ee 39 ST),REsp 9.375-§ 1-4), Rel. Min. Cléudio Santos, D] 30-3-92. , 5-SP (01.5467-4),Rel. Min. Cl : 320 CPC: “art. 333, 0 6nusda prova incambe:I-~ao autor, quantoao fato constitutive do seu direito™ e VIANA, Marco Aurélio S,, op. cit. P.57. 32 (CC:*Ant. 447. Nos contratos oneros0s, 0a : 'nda que a aquisigio se tenha realizado em hasta piiblica”, Jienante responde pela eviegio. Subsiste esta garantia S05 scannwriaesuus uNpanehos UNDICOS 1

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