Download as docx, pdf, or txt
Download as docx, pdf, or txt
You are on page 1of 16

Zenrinkushū

A chuva faz tan-tan no bambu:


nula tristeza, só ângustia de ouvir

A voz da montanha a fluir é vasta língua


e as linhas das colinas o Corpo do Buda

É como a espada, fere sem se ferir,


é como um olho, vê não se vendo.

Palavras não fazem o homem entender.


Acha o homem e conhecerás as palavras.

Para calcorrear o Vasto Vazio


a férrea vaca tem que se adoçar.

É como o tigre, mas cheio de chifres;


como a vaca, sem rabo para agarrar.

Ao encontrarem-se, dois amigos riem e riem;


no bosque, são tantas as folhas tombadas.

O galo canta a aurora ao crepúsculo;


brilha o sol vivo à meia-noite.

A voz da fonte após a meia-noite;


as cores das colinas ao pôr do sol.

Guinchos de macacos ecoam na densa floresta;


claras águas espelham fundos gansos selvagens.

O galo de madeira canta à meia-noite;


o cão de palha ladra ao dia claro.

Montanhas e rios, a terra inteira


todos dizem o fundo de ser.

Sob a orelha, a voz da fonte.


Antes do olho, a forma e cor da colina.

Verte o vento — aindam caiem as flores;


canta o pássaro — a montanha ganha mistério.

Todas as águas possuem a lua;


cercam-na as nuvens, não a montanha.

Entra na floresta sem danar uma erva;


entra nas águas sem a mínima ondulação.
Uma só palavra faz o mundo inteiro;
uma só espada pacifica céu e inferno.

A ameixeira, minguante, perde a primavera;


Mas o jardim é maior e dá guarida a mais lua.

A árvore mostra a força encorpada do vento;


A onda revela a face etérea da lua.

Não distingue o servo do mestre


não vê diferença entre a pedra e o jade.

Agarrado ao mundo inteiro


sem que um cabelo se escape.

Sais e dás de caras com Shakyamuni;


voltas a casa e tens à perna o Buda Miroku.

Antigamente não havia dois caminhos;


para "os chegados" só havia uma só via.

Carrega a água e verás a montanha a mover-se;


Faz-te à vela e verás penhascos em fuga.
No vasto vazio, não há frente nem verso;
A senda da ave dá cabo do leste e do oeste.

Esta noite o Buda entrou no Nirvana;


foi lenha ardida até à última cinza.

Cada folha, um Shakyamuni;


cada cabelo, um Miroku.

Para preservar a vida, tens que a destruír;


Mal a destróis, repousas.

Fixas o sol no seio da chuvada;


Jorram claras águas no fundo do fogo.

Quando em Kaishu a vaca come da amoreira,


em Ekishu revolve-se a pança do cavalo.

No céu, um celeste
entre homens, um homem.

O vero fundo das coisas


não é contaminável.

Sensibilidade ao sentir alheio


é a causa da paz universal.
Ter o sol e a lua nas mangas;
Segurar o mundo nas palmas.

Resguarda-se no monte o tesouro


para quem nunca o buscar.

Se o não podes por ti,


de quem o irás conseguir?

Faz-se leite a água que bebeu a vaca;


É veneno a água que bebeu a cobra.

Palavras a mais ferem a virtude;


a ausência delas é mais eficaz.

É uma só balaustrada em que nos apoiamos,


e em cada são diversos os tons da montanha.

Colinas azuis são por si colinas azuis;


São por si brancas nuvens as nuvens brancas.

O calor não espera que o sol aqueça,


nem que esfrie para que a lua arrefeça.

Nada jamais se oculta;


nem há dia que não seja claro.

Vendo, não vêem;


Ouvindo, não ouvem. (Heraclito)

Há chão que baste sob os pés


para o zazen ser praticado.

Se não o matares
matar-te-á.

Perguntas: de onde vêm as flores?


Nem o deus primaveril o sabe.

No acaso da rua, diante do homem iluminado,


nada de conversas nem bico calado

Onde se fixa o jogo do "é" e "não é",


sequer o sabem os sábios.

A água de antes, e a água depois,


perseguem-se em fluxo constante.

O que está escrito é de outrora,


mas o coração conhece perdas e ganhos.
Não há sítio em que encontres a mente;
é como os traços das aves no céu.

Sentado, silente, sem mexer uma palha,


vem a primavera, esverdecem os prados.

Acima, não há telha que te tape a tola;


Em baixo, nem um nico de terra a pisar.

Cabeça amarela amarra-se à língua


Olhos azuis traga sua voz

Abrir os olhos é porreiro.


Fechá-los é também porreiro.

Nem andar à cata de sábios


Nem achar-se o maior.

Não chega pelo corpo


nem pela mente se busca.

Longo longo é o longo corpo do buda


curto curto o curto corpo do buda.

A boca quer falar, e vão-se as palavras;


o coração quer ligar, e foge o pensamento.
O caminho para o alto da montanha?
Indaga quem suba e desça.

Esvazia o "é" de sentido;


cuida do "não-é" das coisas.

O que há mais que vestir e comer?


Para além disso, não há Buda ou Bodhisattva.

Conhecer a Mente original, a Maturidade essencial,


eis é a grande doença do zen.

O Vero Tesouro Ocular do Tathagata —


dois espelhos defronte.

Se deres com o buda, dá-lhe nas trombas!


Se deres com o patriarca, dá-lhe nas trombas!

Pela mente não o alcanças;


Desatento não o achas.

A água não tem na origem voz própria;


mas quando toca nas pedras canta.

Não o cria a fala;


nem o penetra o silêncio.

Avançam os patos perdendo reflexos;


a água também não os quer guardar.

Move-se a névoa no vôo dos gansos;


águas e céu unem-se na côr outonal.

A árvore, fria e velha, dança inclinada sobre as ondas;


Paira a névoa nas ervas, o sol da tarde vai-se.

Desconfias? Olha setembro e outubro,


cadentes folhas enchendo rios e montes.

Sobre galhos nus das alturas, um céu vasto e distante;


sobre o trilho do rio, a lua radiante.

Plantando flores para borboletas,


Daruma diz: "Que sei eu?".

Espelho partido não gasta reflexos;


Quedas flores não trepam a galhos.

Na floração, milhentos curtem o templo;


Quando a folha cai, o monge fecha o portão.
Não sei de que templo
traz o vento a voz de sino.

Yuima hesita em abrir a boca;


no galho, só canta a cigarra.

Pegas na enxada, e nas mãos não há nada;


montas no búfalo, e não páras de andar.

Ao mover-se em tantos sentidos,


não há Buda que se transmita.

Vivo, desdenho Salões Celestes;


Morto, que se danem os infernos.

A roxa andorinha e o cuco amarelo da koreia


expõem a forma efectiva das coisas.

As colinas azuis são, por si, quietas;


As nuvens brancas vêm e voltam.

No jardim brilha a lua, falta a sombra do pinheiro;


Fora da cerca, sem vento, farfalham bambus.

A primavera vem: nada é melhor, nada pior;


Ramos floridos são ramos, ora longos, ora curtos.
Fora da mente, nada existe.
Montanhas azuis enchem o olho.

Os três mundos são só mente


e as coisas simples sensação.

A água flui, e regressa ao mar;


A lua afunda, e volta ao céu.

Quebras o rubro galho e escreves frases outonais


Colhes flores amarelas para cozinhar o jantar.

Pedras erguem-se no céu;


queima o fogo na água.

Vasto é o pântano e abriga a montanha.


O textugo subjuga o leopardo.

É como um dragão sem pernas


e uma cobra com cornos.

Monta o cavalo no fio da espada;


Esconde-te no coração das chamas.

Frutíferas flores florescem no fogo;


Nasce à noite o sol.

Ao entrar no fogo, nada o queima.


Ao entrar na agua, nada o afoga.

As claras correntes não largam o fluxo;


Esverdecentes árvores não perdem o verde.

As flores na colina em chamas — brocados;


O lago da montanha — escuro índigo.

O que julga que dá, e o que julga receber


são ambos idiotas zarolhos.

Dia a dia o sol nasce a leste;


dia a dia, a oeste se deita.

É como estar entre flores


seu cheiro enche as roupas.

Se o o sol e a lua duvidassem


num ápice sumiriam.

Inúmeros os que me adulam


raros os que me sabem gozar
Se vires um fantasma como não fantasma
cessa ser de si fantasma.

Onde as águas findam seu curso


quieto aguardo as brancas nuvens.

Subida a montanha, cheguei à nascente;


sentado silente, soerguem-se nuvens.

Ao dormir com pernas bem esticadas,


nenhuma verdade, nenhum erro.

Anos e anos, foi pássaro enjaulado;


Agora voa nas nuvens celestes.

Buda nada disse, e tudo explicou;


Kasho nada ouviu, e tudo apreendeu.

Abraçar problemas é acolher a graça;


Auferir felicidade é convidar invejas.

O homem em harmonia não fala


a agua nivelada não flui.

Tomando a água, tens a lua nas mãos;


Segurando flores, vestes são perfumadas.
O espelho reflete cones do pavilhão dourado;
A montanha ecoa o sino da torre lunar.

No pico do verão — há neve nos penedos.


Na cauda do inverno — branca a árvore floresce.

No monte Wu-t'ai, as nuvens cozem arroz;


no velho átrio do Buda, cães mijam no céu.

Navegar em terra firme;


cavalgar no vazio do ar.

Cada campo de arroz


tem suas três cobras e nove ratos.

A mente não é Buda


a sabedoria não é a via.

Nuvens brancas abraçam


rochas solitárias.

Após anos de sonho na floresta


à beira do lago é fresca e risada.

Tanto tempo sem pensar em voltar


que esqueci a estrada em que cheguei.

Ao cantar o poema, corre a cortina de bambu;


após a sesta, seca as escuras folhas de chá.

No alto, buda nenhum,


Em baixo, zero humanos.

A face do homem é como a do ladrão


a face do ladrão é como a do homem.

A nada se agarrar dentro de si


Nada buscar fora de si.

Ao golpear o vazio — o som.


Ao bater na madeira — sem voz.

Durante quarenta anos


não abriu o bico.

Um dragão não debita palavras


a fénix não engendra frases.

O zumbido do dragão na árvore morta,


o globo ocular no crânio seco.
Andar à cata de pêlos nas costas da tartaruga
ou colher chifres na cabeça de um coelho.

Quando o homem de pedra acena com a cabeça,


o pilar de madeira bate palmas.

A loja do ferreiro vê acumularem-se chapas,


a porta do bom médico atrai muitos doentes.

Acima dos galhos sem botões, eleva-se a fénix dourada;


à volta da árvore sem sombra, vagueia o elefante de jade.

You might also like