Download as pdf
Download as pdf
You are on page 1of 99
if ARAZAO EXAMINA SOT Oss F A DIALETICA INVESTIGA : 0 DESEJO: CAMINHOS c EMETAS DE _ UMA REVOLUGAO ROSS eM ELEWNT) Oa a ORTHOD AT (ereenreces ee OE ileiela a Merl Me NO ILUMINISMO Be .coooooow QDOOOOOOOOOOOOE OOOOOOOOOOOOO‘ OCOOOOOOOOOOOOE QDOOOOOOOOOOOOE OQOOQOQOOQOMO. OOOOOOOOOOO QOOOOOOOOOO OOOOOOOOOOO QOOOQOOOOOOO’ 9090095 000. QOE QDOOOOOQOOOOO OQOOOOOOOOOOO OOOOOOOOOOOOO GOOQOOOOOOOOO“ QOOOOOOOOOOOO OOOOOOOOCOOOO/« ©) EDITORIAG Caimica, RAZAO DIALETICA terceim ediglo de MENTE, CEREBRO & FILOSOFIA focaliza a profunda renovagio filoséfica empreendida na atual Alemanha, na segunda metacle do século XVII € nas primeiras décadas do século XIX, por dois gigan- tes do pensamento: Immanuel Kant € Georg Wilhelm Friedrich Hegel. © primeiro, expoente do tluminismo alemao, submeteu uma critica sistematica as instiuigdes de uma época convulsionada pelo impacto da Revolucio Francesa e pelas campanhas militares de Napoledio Bonaparte, Também uniu a ravao, a liberdade e 0 senso moral no exame las ages humanas, desenvolvendo uma ética adequada & modemidade, Desse modo, em seus escritos € de sua citedra universitéria na cidadezinha phussiana de KGnigsberg, Kant questionou a metafisica tradicional, langan- do uma revolugio filosética cujo impacto ji foi comparado 4 que entio ‘ovorria na Franga, no plano politico, Por suit ver, Hegel, o formulador do método dialético, ivos momentos da formagao da cultura ocidental, num lizou-o para processo incessante de negacdes € superagdes. Foi igualmente pioneiro na investigagao das relagées contraditérias entre a sociedade civil burguesa © 0 Estado, visto como a verdadeira dimenstio da politica € a expressio do espitito de um povo, Suas idéias tiveram desddobramentos politicos imediatos: basta lembrar que, entre os seguidores de Hegel, alinharam-se marxistas, existencialistas e adeptos do nazismo. Outro aspecto essencial, especialmente para os leitores interessados em psicologia ¢ psicanilise, foi a influéncia direta que os dois pensadores exer ceram nos estudos do psiquismo, Assim, Kant pesquisou as fungdes vitais a atividade onirica mais de um século antes de Freud publicar sua revolu- cionfria A interpretagit dos sonbos. Além disso, muitos elementos teéricos especulativas da chamada metapsicologia do fundador da psicandlise foram herchidos de Kant, enquanto a diakética hegeliana do senhor e do escravo fundamentou reflexdes do pensacor francés Jacques Lacan sobre 0 desejo. Os artigos desta edigio de MENTE, CEREBRO & FILOSOFIA levam até os leitores 1 diversas momentos desse dlidlogo, cada vez mais intenso € enriquecedor centre a flosofia € a psicologia — esa qualificada por Kant, ao lado da fisca ‘como uma las duas Gnicas cigncias da Natureza dignas deste nome Cantos Eptapo Macros MENTE-CERE FILOSOF ‘wamaenieceredo eam te RO DRETOR ERA: Ate ests OETORAAOWNT 8 Casa Fara AeDAcho MENTE, CResRO a FLOSORA U CONSITOR Ney Barc ac WTR OE ATE Bn Cato |SSSTENTEDE PRIETO EAROD. vot Lr Suse cos at Tati ESCUSA COLOGRAFD El Stow ek Pein EVSHO Merc G ati, rio lla, aa Manet rere TRATAUENTO DE MG Se Lv Og eDagho MENTE & CEREBRO ‘aueanaratoatos com. ftvona: vc Le VORA ASSENT Luca Cia EVSHO a smo oer L oer Maka (RTORADE ATE Sone Omen eee SSGTENTE DE ATE Na ma Suns Cate FNTORADEARTE Meanie Be Fs AGITENTE DEAT: eo Ka FESGUSA CONOORAFDA Shia hat Seafleare Tas GERENTE PODUG#O GRAACA brn FRODUTORA GCA Su Ferra TRAE DE WAGE: Vra eC a Montecrossa sr ea rests Mt & Ct, lca tun Spr Do Fob Ua. am cre ard foc G85 sb ea eS Anaa be Faia Goa 412.0 53 ~Frtros so Pado = $= c8421-01 - TI 608-100, Fas 874 cour executvo sere Cane, Ein Crd, ise Fea Fone ic hase weve DORETOR Le Sate EATS DE CONTAC carcunaghoewanveris TOR hse Fle DA ESOT De VoReETIG ration SUPERISCRA Sox Cari os rae CEH De ASSNATUNS Da Cas peace De ASST Pave Bara IWAKETNG ORETO ENTER: aia Cla VENDAS PESSONS Hea Eat IEA Dat Lago VENDA ALEX: Cte ames panera) ceo rein, SERETEis Vare ATOR als Domo EB SOE rah Moe FRUNCASE GESTAD A ta ones RFU DE TESOLAH Ansara Sha ‘ENTRAL DE ATENEO AO ASSMANTE ‘BUSH: (1) 308480 (tertierto@ tetera ‘NAS ASSHATURA qarensraveledvacam i) DIES AWLSAS EFSPECASladcasav sata com Eo, SN 973-45-9535.28-4 stag com exclave ra ooo BRASL: OUAP S.A ua Deki Senco, 1672 Auras aises pte ser seas ma omar, err Ge ‘tender a> eer 1) 32490 ex pe se wirdojuet com br ‘a roca tna edd across cus de asta. WeRESCAO: euro Gakrca ocr resronsiveaton men ~=ANER IPR oa ht erie con ec arnt re bere : PECL NEST: CEH & MLOSORA ‘EDITORIAL aT BERODUCAO KANT Uma revolugao fllesifica substitu a metafsica por ‘um sistema critico da razita at 0 T4xat EA REVOLUGAO CCOPERNICANA A ciéncia estimula a razdo «a rfletr sobre si mesma (0 CONHECIMENTO EM KANT Un tribunal crico® ula a egiidade cientifica da metic 26 contirtos pa razko Apis a Revolugto Francesa, Rant ob na dade Werdade cn erie ronal deena begets moral da bumanidade ANT NORA 34 izvors EAUTONOMIA, O eonceito da lore vortade 0 imperative categdrico feantiano, racionale moral as seks 4 Oxza0 E SENSIBILIDADE Na dpoca de Kara, a imayinacao ea sensibilidade, sob 0 controle da raz, finalmente sio reconbecidas como fonte de conbecinento GOSTO E IMAGINAGAO Acconerpys hartiana da arte, atid que exe inteno, docisio@ ere arbi 5GQosontio xa ANTROPOLOGIA DE KANT Pungées da atividade onirica, ‘que estimula nossos dreds internos e nes maniém vives ‘© KANTISMO DE FREUD A visdo de Freud sobre «a psicanalise baseow-se, em bea medida, em comcetis desonvoletdos ‘por Kana ca sr900U0 74 otsicwa rece. A bistoria 6 mncorporada ela filosofia como wma dimensdo decistua da razdo ue DETIONDE S4o joven teem. AS andlises sobre a luta de individues © grupos ‘por reconhecimento ajudam ‘a compreender a sociedae de nossa spoca )paame O2SseNtIOR E O ESCRAVO Desenvolvida por Hegel, a dialética do senbor do escravo fundamentar reflenses sobre 0 deseja GLE. PENSADORES DA AIMA E DAS PAIN Pen) ene Peon eres sreronten) Pen Sem jamais deixar KGnigsherg, sua pequena cidade natal, Immanuel Kant desenvolveu um discurso filoséfico aberlo paraa modernidade, no qual a metafisica tradicional deu lugar a um sistema critico da razio 2 yuurlcio cxposo keen écoute ‘efi ea USE. intent do Gro 1 de Ftsofa Alena de (SP ed Nick Direto 1 eDemocracia do Ceo Brae de Anise '$ ¢Planjameatn (Cars). Publco,enze outs es Re, adore ft 2 moral er, © Quaret ios, 05 Kant 0 apéstolo da razdo pura e da critica sistematica ron wnunlcio KenneR IMMANUEL KANT NasceU em 22 de abril de 1724, em Kénigsberg, cidade da antiga Prissia, hoje denominada Kaliningrad ¢ integrada @ Réssia, Morreu em 12 de fevereizo de 1804, as vésperas de completar 80 anos, sem nunca ter saido dos arredores de sua cidade. Embora tenha tido uma razodvel importancia econdmica como entreposto comercial (muito freqiientado por mercadores ingleses), e de passuir uma uni- vyersidade, Kénigsberg era um niicleo pequeno, principalmen- te se comparado com as capitais européias do século XVIII Kant, porém, leitor vido, acumulou amplos conhecimentos do que se situava fora desses limites estreitos. Conta-se que cle, cemta vez, na presenga de um inglés de passagem por Kénigsherg, ao mencionar com preciso os detalhes da ponte de Westminster, deixou o estrangeiro incrédulo em relagio a0 fato de nunca ter estaclo em Londres. Essa hist6ria e int meras anedotas, como a de que 0s cidadaios locais acertavam 0s rel6gios quando Kant dava o seu passeio vespertino (ele teria se atrasado uma tinica ver, no dia em que chegou a suas maos um exemplar do Contrato social de Rousseau), ainda que divertidas, acabaram por consolidar a imagem de uma personagem recatada, metédica e sem brilho, Fs ia (pose Rega [KOMAGSBERG em gravura do stoulo XVI A pequena cidade prussanatinhaalgumaimpertnele como enteposte comercial ‘Tal imagem talvez. condiga com os tit- mos anos de sua vida, quando sua satide jf declinava, Consciente de suas limi- lagdes € da morte que se aproximava, Kant assumiu uma condigio reclusa para dar cabo do término de sua obra. Nio obstante esse fato, pode-se afirmar tam- bém que essa imagem surgiu em grande parte a partie da recepgto de sun obra [Por Seus contemporiineos, em especial (obra critica. Em 1781, a Critica da zazao ‘ure foi recebida com grande estranha- ‘mento, considerada, num primeiro mo- ‘mento, extremamente pesica, magante, rmetica em demasia ¢ ininteligivel, © autor pereebeu isso, e, preocupado com © fato de muitos ndo prestarem atenglo 0 contetido inédito do lio, publicou dois ands depois os Prokegdmencs a tocke ‘ectafisca fatura, com 2 nit intengo de eselarecer 0s pontos mais obscuras, vale dizer, mal. compreendidos, de sun O TEMPO DE KANT E HEGEL MENTE, CEREBRO 6 FILOSOFIA primeira Critica, Independentemente da ppreocupagio de Kant em se fazer en tender, a confusto entre vida e obra Persistiy ¢, apesar de ter gerado livros interessantes, tomou-se também preju- dlicial para a compreensto do kantismo ~ basta dizer que Schopenhauer descar- tou rapidamente a importiacia de um livro como a Metafsica dos costumes (1797), dizendo tratarse de menor, que traduzia com ws obra Hoa con- Mores guna, ‘ore Las Fe araioha Maria Aenea, Exceugo de Robespere, digao senil do velho Kant. Assim, com frequéncia, comentadores procusaratm encontrar em passigens biogrificas de Kant a chave de interpretacio de suas obras, um procedimento, na maioria das vezes, um tanto auriseado, Felta a ressalva, € consenso que a publicagto da Critica da razd consttui o marco de divisto de sua obra, A panir dela, os livas e textos posterio- res S80 classiicados como eriticos, € 08 precedentes como pré-crticos, O PERIODO PRE-CRITICO Aos 8 anos de idade, Kant passt a feeqientar 0 Friedrichs-kollegtum, wm colégio de latin com wma certareputa (0 em sua epoca, Dads « pobreza de Seus pais, durante os oto anos em que permaneceu essi escola, 0 jovem es tudante contou com a ajuda de amigos, em especial do dietor do cokégio, Franz Alber Schultz, dscipulo de Christian Wolff, filésofo alemto que mais tarde exerceriainfluéncia sobre Kant. Apesar de sua fama ser pletsta (movimer igioso que sumgia do protest alemto), Kant o guardou boas lem: brangas do colégio, que imprimia uma ida disciplina religiosa e colocava em primeiro plano o ensino cio Antigo e do Novo Testamento, Ao que tudo inca, apenas as alas de latin despertaram 0 vivo interesse no alin. Em 1740, 8s anos pds a morte da mae, Kant enta para a Universidade Albertina, em Knigsberg. Com a ajuda & de amigos e parentes, dando aulas p & iculaes e, segundo relatos de 1795 1799 | xtmalsnen [tao | onsio 17961798 Entre as primeiras 4reas de interesse de Kant estavam a teologia, a filosofia do direito, amatemdtica e a fisica de Newton acerca do cileulo da forca. £ nesse momento tamixm qu ston tiula Asafa. Ainda q relevante, #8 € possivel ver nele uma racteristica que acompa posterior @ disposi¢io de entrar em cis pts filoséficas, sejam elas relacionadas ciéncia, A moral, 2 religiio ete a sua obra companheiros de épo uns trocados com © jogo de bilhar, passa seis anos na universidade, E nesse perfodo que comers a estudar con profundidade a matemitica e as eign cas da Natureza, a teologia, filo sofia © latim, Sen. professor cle 10- ica e metaisica, Martin Knutzen, ‘uito diseipalo de Wolff, chama a cade a Filosofia atencto doo Isaac Newton € do direito, freqientes nas reflexoes do futuro filésof, Apos 0 perfodo univer sitirio, © com a morte do pai, Kant, em 1746, tomase preceptor de filhos de familias abastadas dos arredores da. ci- dade, tomando contato com uma vida social que the era até entio femas. que serdo strana, Ampliando 0 seu conhe- cimento em Mlosofia e em eéncias (o, Pensamentos sobre a verdatdeira ‘avaliagdo das forgas vivas, colabo- rando em uma contenda da SILNUETA DE KANT, provura ‘andi, Fol fella om 1788, om qua 0 foto publ Grtoa da vaste 1808 |um goipe os Bonnar, Dieta, | Borapae | aorapate de sta mo do pea, etm | desembara ro esiabelece ecalocao mo tone beibats | Ep. ingeses Consulate com espanol. kas | dxtonma tbs cesuls, Gone putea a rata, | aad rancsa, entre eles 0 ina pare do atataba de” prireko-insl ‘mowunal poena Napoiea Foust segnta pare Bonapate sbapreceinem 1092, PENSADORES DA ALMA E DAS FAIXOES 9) © ano de 1755 € bem movimentado, Ao regressir a KOnigsberg, Kant pv bien um importante estudo intinulaclo Historia geral da natureza ¢ teoria do cet. Sob forte influéncia newtonia texto propde uma teoria sobre os angis do planeta Saturno e sobre as nebnlon sas, Concomitantemente i elaboracio desse trabalho, mas de maneica inde- pendente, Laplace cheyou as_mesmas conclusdes. Tempos mais tarde, 0 as- twSnomo Herschel confismou por m de observagbes a “tori Kant-Laplace importante pasa o desenvolvimento da astonomia. E nesse mesmo ano que © jovem fil6sofo obtém o titulo de mest © tomna-se livre-docente (conferencista) na universidade. No entanto, nao re- cebe pagamentos do Es nihos ¥ém das conferéncias e eas avlas particulars. Kant s6 obceri’ um cargo remunerado nt instituigdo em 1766 ¢ 2 Ho almejada citedra de Kigica € metaf- sica, que Ihe dard uma melhor condigao financeira, em 1770. © perfodo de docéncia de Kant apesar de ter sido em algumas ocasioes severamente extenuiate, ji que ele dependia apenas disso para viver, foi lum peroxo rico € frifero, Suas aulas indo discoram apenas sobre lopica € metafsica, mas sobre fisia, matemitia, moral, direito, antropologia, pedagogia, geografa, religiio ¢ outros temis Mesmo que ele tenha muitas vezes se servido de manuais da época para suas exposigbes, muitos desses te- ‘mas foram assimilados por sua reflexdo. Kant escreveu sobre 0 dlreito natural lor $eus ae Kant admitiu que, na década de 1760, ainfluéncia do escocts David Hume interrompeu "seu sono dogmatico", levando-o a descartar a filosofia de Leibniz temitica © a pedagoata, além de ser autor de uma Geografia © clas Oisereagées sobre 0 belo € 0st me, Ao mesmo tempo, sua reputicao de hom professor 0 tomnou. bastante popular, trzendo. muitos alunos- par sus aus, E, com a popularidade, Kant comecou a frequent 0s sakes socias de Konigsberg, ande asus qualidade de pom debatedor 0 torn sempre hen-vindo, Jia partir cle meados da década de 1750, Kant, com a Nowa dituctdatio © escrios posterior, inicia um proficuo debate com 0 pensimento reinante de sua época, @ lesafia de Gottfried Leibniz, Ese debute, alm de redimen- sionar muitas questes di metatisica lei nt ponka fem xeque algumas das incerpretagdes dle Christian Wolff € Alexander von Baumganen, discipulos de Leibniz. Na década de 1760, com a publicagio de ana, faz com que seu escrito © rintco argumento possivel para a denionstracdo da existeneta de ‘Deis (1763), c, mais tarde, de Sorbus de um wisiondirio. esclarectdas pelos so- nnbos metafisicos (1766), 0 fildsofo de Kénigsberg se fasta definitivamente de Leibniz © de seus seguidores. Ao que parece, & por ess época que comeca a set iafluenciado, pelo esco- cés David Hume © pelo francés Jean Jacques Rousseau, Na Introchugo dos seus Prolagimenos, Kant affrms que “fol David Hume g Ini muites anos, inietompeu o meu sono loggtieo e eeu 6 minhas investigagdes no campo da filosofis especulaiva uma orientacio inteizamente diversa". Essa fr se € lapidar por aportar 0 que ex Go CHRISTIAN FREIMERR VON WOLER, + ‘om gravra de Jo (1721-1788, Diseipule de Letniz, ‘igo lntluenciou 0 Jovem Kant Georg wile 2 acontecenda com a flosofia kintiana na década de 1760: a metafisia,e, sobrerudo, a forma com x qual 0s flésofos raciona- lists trtavam essa cifncia, comeyam 2 $e ‘orner wn objeto problentitco para Kant Em 1770, para obter a citedra na uni- versidade, ele redige a dissertaco Sobre a forma ¢ os principios de mundo senst vel e intelgivel. Com esse texto, preten- lew apresentar um estado preparat6rio Cuma propedéutica) para a sua meta fisica, Mais de dez anos se sucederam a publicagio de sua disseracio © Kant permaneceu em Continuou com @ sua atividade docente, mas nao publicou uma tinka sequer. Seus dliscfpulos e amigos aguardavam ansiosamente metafisica clo professor Kant, Teriam uma grande surpres siléncio sepulcral’ sorsementecerebyo.com.be D0 MUNDO: Kan, ‘Buda, Socrates Hashimoi, 1893, O PERIODO cRiTICO Nesse periodo sem publicagio, as dni cas informagdes a respeito de Kant 80 encontridas em sua correspondéncia, fem especial nas carts trocadas com Se amigo Maccus Here, Sabe-se que, num primeiro momento, ele procurou alargar ‘0 estudo desenvolvido em sua dssera- «lo de 1770. De fato, muitos conceits trabalhados ali foram redimensionados em tabalhos prévios. A um lento labor rellexivo seguiuese 2 aceerada redagho do seu livi0 niais conhecido. Em 1781, Kant publica um calhamaco de mais le (800 paginas, intitulado Critica da razdo pla, Fsse escrito nio foi apenas um pponto de inflexto na_obrakantana, ‘nas impeimi uma grande mudnca na filosofia modema. Em poucas palavras, CRONOLOGIA 1724 Nascar 0 nase ‘Keer, Eat KONGSHENS 1740 froma 94 Uva ALBERTS, at Kors a6 ASA A HARA COMO 1755 Puce 4 Here cae, oa Naz eos 0c (erin « unne-poctnns INCA SUA aTMADE ono boars: 1763 Putten 0 aco aacir7o esa rans DeMOssTRO oa wx oe Des 1766 manuca Sastos ne 8 gota ascracioas ‘os simos merantscos. 0 Rapai 4 wassTACKO Soma A atl 08 PENS 00 INDO ‘sya Fmt, QUE LE ARGUE 4 CATEDRS DF OCA METI x4 UMVERNDADE 171 Ponca 4 Cerca nado FRA 1785 Lanea 0s Prowectuenas 4 Ton aerate TL 1784 Sho eucaons 08 m0 ots tet amet 3 PONTO USTOSTA A RAGUATA Gee scuaamenroe 1785 Pomiea 4 Rrimameracto ‘a tear Dos cose 1786 Laven pms ricios srerastveos Da cotsca 1788 Pumuca 4 Chex x RAzio PACA, 1790 oucia Canc 0 20, 1793 Langa A accito sos tuys pu sais, 1797 Pomsca 4 Meransca 1708 Pomc 4 AamnoroUnaE De a Fa De vs Pace 1.0 Cashin nas FactuDNoEs. 1804 Morne pe hounuet Kee py Kontos, PENSADORES DA ALMA E DAS PAIXOES 17 (05 ESTUDOS DE KANT sobre os andls de Saturno sera pode-se dizer que sew intuito principal € 0 de investigar a possbilidade de = metafisica ser considerada uma *cléne fos limkes da rezto humana’, Com isso, Kant imprime um deslocamente imponante; a metafisica tomas un objeto de investigaed E a obra apresemd: intenso trabalho j nlo cconsiderada uma metafisi Leibniz, Wolf ¢ Baumgarten, tudo, ela € uma ciéncia propedéutiea lum estudo preliminar que, segundo o autor, deveria preceder necessariamente sua metalisica spo dez unos de ode ser mals 0 estilo de Antes de Provavelmente foi essa. caracteris- tica da obra que causou tanto estra nhamento aos amigos € diseipulos; vidos por uma metafisica kantiana em moldes tradicionais. A clespei 10, & obra, no dessa primeica recep, entanto, ganhou © piiblico alemio ¢, posteriormente, 0 poblico europeu en geral, Goethe, responder qual ers, dentre os javens 12 MENTE, CEREBRO ¢ FILOSOFIA flésofos, © melhor, nao tiubeou em dizer que esse ers Kant, cuja doutrina foi a que se espalhou com mais rapi dez ¢ mals profundamente penetrou a cultura alema, A Grivioa da razto puura, © suas obras poste joma- ramse © cenito do debate floséfico alemao ¢ europeu, tendo influenciado dliretamente pensaclores como Fiche Schelling, Hegel, Schiller, Schlegel ere om su reputagao consolidada, além sceber virias de es, 0 autor da Critica foi nomeado membro das academias de cigncias de Berlim, Sto Petersburgo © period citico da obra de Kant € se de ua Vida de grande roivco fils6tics. Em 1783, ele publica (0s Prolegimenas e, em 1784, a Idéia de uma bistria universal de um pom de cista casmopolta © 0 esesto Resposta a pergunta: que & exclarectment?, textos que revelam as preocupagbes kantianas com a hiséris, 0 ditto e a poltica, ¢ que naseeram de debates plies em mais tarde, contrmads potas observagdes do astronome Herschel que 0 filésofo se envolvera. Nesse mes: mo ano esereve 0 livro Fundamentagao dda metafisica dos costumes, $6 publicado 2m 1785, foi seu primeiro texto eritico volido exclusivamente para as questOes morais, Em 1786, surgem os Primetros principlos metafisicas da ciéncta da mureza, em que procurava aprofundar ce redimensionar as prcocupagoes 61 la Critica da rate pura. No ano seguinte, ele publica a segunda eviglo da Critica, com modificagdes em pontos Imporantes «da obra, Em 1788, publica 1 Critica da vazao pritica e, finalmen te, em 1790, apresenta ao pablico suut tia do futzo. Apos a década das ues Critica, em 1793, Kant langa A religido nos limites daa simples razio, listo que The causou sézios problemas com a censura, Ele s6 cobieve a permissio de publicagio em Jena, tendo-the sido a mesma negada em Konigsberg e em Berlim, Apesar dos boatas que corriam pela Alema ca de um possivel proceso inquisitorial ha, acer- ALLoRNeWes Lent HES cons Kan ese anda escreve, em 1794, © fim de todas as cosas, em que di core, de forma irc, sobre a aster polic rego prisstna. Nos ans que $ sequem aos problemas com a censie ri Kant sinds publica A paz perpéua 298), a Metaca das costes (1797) — que conkén os “Prncpiosmnetatscos da doutins do dicta" os “rincpios metafsics da doutina da vinde” 4 Aninepologia de un panto de ve pragmdtico (1798) e © Confluo das fa- ula (1798), 0 exo pu- blcado em vid, Ness meio tempo, emt 1796, contando jf com 73 anos de idade, ences as atividides docenes UM NOVELO SISTEMATICO {Una ripida olla nos tls das obras da fase critica kantiana revela um dado caurioso; Kant, durante esse_periodo, aandona a pretensto de escrever sua Moral, politica, histéria — os mais diversos temas sao submetidos Acritica sistematica nos textos de Kant metaisica, Ble ttn dos prineipias de ‘uma metatisica da. eines dx Natureza dos princpios das doutrinas do dircto edu virude, da furrdamentagao de uma metalsiea dos costumes. Aquilo que era wma propedéutica necesita ara uma mecfsica torase, portanto, © proprio objeto da investgagao filo sofiea, © Kant comer ase interessar sua Vex mais pela idéia de um sistema anitico da razto, em yez de um sistema metafisco, A pani disso, a preocupa- {Go central do empreendimento. kan- tiano € a de fondamentar ese siwerma, ‘composto, como se pode supor, de dus partes: a teériea, preocupada com os fundamentos do conhecimento, ¢ a pri- ica, preoeupada com os fundamentos da moral, Leis do conhecimento ¢ leis a liberdade passim a set os objctos primordia da razio teérica e ea raza0 pritica, Se a Critica da razdo pura pro- ‘curou deduit as primeiras, a Critica da razdo prética procurau determinar as segundas. E a Grice do jutzo, por sux vvez, buscou encontrar, nos limites: da simples riz, a vinculagdo dessas duas ordens Go heteroxtnens, Com isso, € possivel perceber quanto «esse fil6sofo foi modemno ao inaugurar ‘0 seu discurso filosdfico. A preocupa- ‘gto com as regras racionals da ciéncia & com as cegras racionais da moral fol tecenco um intrincado novelo sistems- tieo, Basta dizer que Kant, da ponto de vista da mora, tem de pensar também 1a politica, no direito, na historia etc. ‘Ao mesmo tempo, 30 se despedir dt imetaisica clissiea, comegam. a surgit novos temas pars a filosofia: a Gritica do jutzo aborda questoes relacionadas & cestética € 20 organismo, prenimnciando acti de arte € a biologis, A imapgaa da Revoluglo Frances leva 0 filiso- fo a refletic sobre os alicerees de um Estado de direito demoeritico, a partir a idéia de liberdade, Obviamente, iss0 no quer dizer que Kant tenha sido © responsivel pelo surgimento da fisica, da biologia, da sociologia e da eiéncia poltica, do direito, da critica de ante cic, Nao se trata disso, Trata-se de dizer aque aquilo que mais the ineresou, 0 ‘conceito de critica, foi fundamental pa- ‘a que 0 pensamento moderno pudesse se desenvolver € s¢ certilicar daqueles temas que passaram a ser tio modernos ‘quanto ele mesmo. Nao € A toa que Kant insiste em falar de ums epoca da caftea, em que tudo, a ciéncia, a religio e & legislugio politica tém de passar por seu ctivo, Vé-se assim gue a empreitic flo séfica do professor de Kimigsberg no nem um pouco pequena, ¢ imagem de um filésofo recluso, metédico © sem brilho no parece condiaer com a vida ue teve, nem com o tarmanho € a ini- portincia de sua obra. @ PENSADORES DA ALMA E DAS PAINOES 73 _ Kantea revolucao copernicana A razao reflete si mesma Entre 1781 e 1798, Immanuel Kant empreendeu uma revolugao no pensamento, de alcance compardvel & que se iniciou na Franga em 1789 spo PO Gua PERT drat esa de Sip spd isin datlonka nana ds Dagan de acta des isco (LOH. Embed: Ales ¢ mind en kam bug. 08) Agana fra mye aie ‘deri (havi, 206), rok eoRe FAulo GARRIDO PHweNTs Ew 1781, QUANDO PUBLICA SUA OBRA CAPTTAL, Critica da razdo ‘plera, Kant tem 56 anos, & professor universititio na cidade prus- siana de Konigsberg (hoje incorporada & Rissia com o nome de Kaliningrad), onde leciona diversas dlisciplinas: geografia, antropo- ogia, lgica, metafisica, moral, teologia. £ 0 autor de obras impor: tantes, que redefinem o horizonte da metafsica de Leibniz. Nelas, ‘© professor Kant enfrenta de maneira decidida problemas legados pelos epigonos de Leibniz, como Christian Wolff ¢ Alexander yon Baumgarten, de maneira a conferir 2 metafisict o estaturo de uma éncia rigorosa, Nesse sentido, escritos como O tinico argument possivel para a demonstragdo da existéncia de Deus (1763) tem 0 cariter ce uma investigacio critica, que empreende um exame da condicio de possibilidade do discurso filos6fico. Kant € portanto um pensador tipicamente moderno: a0 saber enquanto tal precede uma interrogacao sobre as condigdes desse saber ~ essa € a praxe ‘em filasofia, pelo menos desde © Discurso do método, de Descartes. @ Kant questionari sua condigio de discipulo de Leibniz a panir de 1770, com a leitura de dois autores que the causam profunda ¢ duradoura impressio: David Hume, que interpela a filosofia em suas pretensdes especulitivas, ¢ Jean-Jacques Rousseau, que inau= gura uma nova via de compreensio moral da natureza humana. A Grtica da razdo pura & em parte o fruto dessas descobertas; € a reflexdo que ali se elabora, da razio sobre si mesma, redeinir’ le or radical o cariter € 08 objetos da raz3o humana, Interessa a Kant determinar 0 alcance e o$ limites da raza a panir do exame dos elementos que a constituem ¢ dos elos que hi entre eles: € com base nessa investigagio que poder ser delimitada 0 alcance da razio e entio a medida do seu conhecimento. Sem ui tal exame, ele considera, a filosofia permaneceri enredacla nos confitos que a atormentam ¢ impedem-na de se estabelecer como uma ciéncia, nos moldes da matematica e da fisica nesses ncias que Kant se pauta pan determinar om que termos seria possivel dar & metafisica ~ 0 saber dos ‘rincipos que tornam possivel todo © conhecimento ~ a forma definiiva de ua cigncia. Bise movimento mostra que Kant se atém & inspiracdo mals essencial da modemidade floséfica, que se define por uma relagio com a matemitca que de pura inspiragio, Pode-se dizer 4 matemitica € vim verdadeiro modelo pa a fllosoia modema, ela que oferece 420 fildsofo os principias ¢ procedimentos ‘que tomarto possivelaconstn teat peer ete era Cray ae ‘ny cxificio sélido € a obtenga0 de um mé: Lodo rigoroso de investigago, A filosofia dos modemos ~ cle Descartes, Espinoss, Hobbes, Leibniz ete. — encontra nos mé- todos da matemitica a promessa do rigor cientfico pelo qual deve se pautar todo ‘e qualquer saber humano. A ORDEM NO MUNDO: So inequivocas as mostra de amigo dde Kant pela matemitice 10 longo da rica da razio pura, Ble observa, por cexemplo, que a matemitca revela quan- 10 0 conecimenio € capaz. de progredi 16 MENTE, CEREBRO 6 FILOSOHA Baseada na razo, amatemdtica serve também como linguagem que permite decifrar, na experiéncia, a ordem das coisas na Natureza sem 0 auxtio di experiéncia, De fit, parece haver aqui algo de promissor para ‘© metafisen, interessado sobretudo 0 ‘conhecimento de principios do conbec mento que nao se oferecem ni exper cia sensivel. A matemitica, 20 contitio, evidenela que a nao 6 capa de elaborar conliecimentos sem @ auxiio da experi ia, ainda que precise remetéos, em i= ‘mat instncia, a esta, Suas demonstragtes se justificam por si mesmas, seus abjetos reenviam @ outros sem que sei necessicia ‘a intervengao de outra instincia, Ura vez dominada, essa linguayem & transparente fem si propria, Explicese assim que a ‘matemitica prodhiza conhecimentos par alem da esfera que a define como ciénca, que ela possa servir como tne linguagem {que permite decir, na experiéncia, a cordem das coises na Natureza. Mas essa cite, én de ser bela, € Ai, pos nos permite compreender 6 que se passa na Nature, como se ¥E nos pro agresws realizados na moderidade pela fsica — com Nicokus Copémico, Galiteu Galle Tsuae Newton, “A matemitica © fsica sto os dois eonhecinentosteicos da rizlo que devem determinas a prior 6 seu objeto, a primeira de uma maneira totalmente pura, segunda, pelo menos, parcialmente pura, mas também por im perativo de outras formas che conbect mero que nao as da razio." (CEP, B X) Aé onde aleanga a *histva da razao’ matemitica tera entrado na “vis segura de uma cnc”, O- desenvolvimento da fisca nos ensina algo mais, a aplcsr comezamente 0 método matemitico. Os estuiosos da Natureza deseobriim na modernidade © valor do experimento, procedimento que confi ou no ashi poteses formulas pelo cents em sua invesigagio des fendmeenos natura. Iso tmosima #0 fildsofo algo essencial: “Que 4 malo 6 entende aqulo que produz Segund 0s seus pris plane, que ela tem de tomer a dianteira com principios, ‘que determina os seus juizos segundo leis constants e deve forgara Natureza ares ponder as suas incerrogagdes em vez de se deixar guiar por esta; de outro modo, as observes fas ao acaso,realizadas mn phuno prvi, no se ordenam segun- dole neeessrin, que a ro procura © sda qual necessia’ (CRP, B XI) Nisso consist a revirvoli: que veio a ser conhecida pelo nome de “revolugo Invertenelo 0 pressuposto segundo 0 qual 0 conhe cimento. das coisas seria mxulado pela tutuieza dos objaes, Kant se inspire. na fisica © propoe algo curso: se n6s co- hecemos algo des coisas, € porque € 4 ‘08s 20 ue ni as eras que Pos sibtam wd & qualquer conbecimento Enlenda-se bein: Kant no nega que 0s 2 cejetas ns afetem pelos sentdos, apenas masta que a sensibifidale no € por si mesma sificiente para fla em conedi mero. Est, com eft, € um saber que ternos ace ca Nanueza. mediante les aque nos mostra uma regularidade © uma recorréncia dos fendmenos, que nos pe mite medir € deserever @ mundo natural tal como se ele tvesse uma onlem, fc origem desse saber que se tit: sua of ‘gem mio esti em coisas fora dens, por mais que ele verse sobre elas, mas sim ‘em nossa pris faculdade de conhecer, na “azo pura’, sede dos principio e leis que conferem 20 mando uma dem. A EPOCA DA CRITICA (© que temos aqui & uma manobra auda- cost. A Crea da raz pura veconhece ‘© preceito bisica do empirisno: todo concierto desi da expeséncia ede- penile dea, om sea, as afeccbes sensiveis constitiem uma dementofundavental no conliecimento da Nanureza, Mas a Critica ‘no dijensio pressuposs do racionalis- tno; intigdes debadis i mesmas no ddzem sda, todo sentkio depende de ‘uma instinda separada da experigacia € independente dela, a pripria razio, Mas no nos enginemos quanto wo feito esse compromisso; Kant sera uma figura banal, sua filosofia, um ecletismo, se ele quisess elaborar uma sintese de tendén- cas Aloséicas a rigor ineconciives ‘Trau-se de algo bem mais ambiciosor descrever 0 tracado da esfera em que se suas principio ds ro, deerminar (0 seus uses, medio seu aleance, demar ‘aro su limit Nun palavra, para além de racionalismo & empirsmo, «critica inaugura um novo “modo de pensar” em Flosofia, uma refleto india, exersicio QUES ROUSSERI lfluencou Kant, Edouard Dovleque, 1862 dha rato que se recahe € se redob $0- bre si mesma, expondo-se num dlscurso aautoeferente, independente de todo © qualquer objeto. A filosofa, dorevante, falas de si mesma, da sua possibidade ‘como igi, Se quisermos, com Kant cobvter uina mesma perfelgao em se trae tando da metafsica — 0 saber dos objets ‘que estio pars além da experigncia — nao poceremos mais nos contestar, com Descartes e 0s seus, em tomar a matemd- tica como fio condor da invesigacto, Q desafio € recuar para aquém dos saberes positivos para encontrar na rao, antes de qualquer configuracio discursiva, @ possibilidade de uma ftosofia como citn- Cia O pripiio Kant reconhece que, neste sentido, a sta empreiada € sobretudo negativa, diz respeito a um ritosaber, ou au saber que no € objetivo, Antes de nos espantarmos com essa constatagio, eabe lembrar algo que 0 autor nos diz desde o inicio da obras “A nossa época &a epoca da critica, & qual tudo fem que se submerer A religito, pela sua santdade, e a legisticlo, pela estade, querem igualmente sub- ela Mas enti suscitam contra cadas suspeitas € nio podem aspirar ao sincero respeito, que a Fazio 86 concede a quem pode sustentar 0 seu live e pubblico exame”. (CRP, A XD Estamos no século da ilustrigio, que nao respeita a autoridade e investiga 4 legitimidade das instuigdes. Com a metafisca se passa o mesmo que com ‘os pilares da autoridade civil e rlgiosa: deveri passar pelo crivo da crtice se quiser ter atestada a soa legiimidade como ciénca. Mas @ revoluglo copernicana nia ‘raz somente conseqiéncas: negativas. Ceca & examinar e separar o que pode do que mio pode ser aprovetado, mas seria um equivoco ver ness opericio algo como uma negagao da prépria flo- sofia, Kant € enfitico em assinalar a con- trbuigio positiva da filosofia critica para a edifieaglo de um novo e solido ediicio retafisico, No que consistiia ta contr Inuiga0? O exame dessa questo n0s levi ria constatagoes surpreendentes. © empitismo mais radical, de David Hume, resringe todo conhecimento representagdes ocasionadlas por alec ‘FaowmisPicio da primera edigdo da Critica da razdo pura, 1784 es sensiveis, © acionaismo mais cris- talino tal como o de Leibniz, por exem- plo, aibui inteligibilidade & experiéncia resumindo-a, em seus elementos const- tuintes, & esfera do poder de inceleceto da razao, Kant recusa essas assergies, acusando-¢s de ‘dogmiticas” © toman- do-as por sofisicagdes desnecessirias, Conhecemas os objetos da experiéncia cam virde da comibinacio ene nos- sas aleegdes e 0 aparato conceitual da rario. Constiuise assim 0 campo da experiéncia sensivel, no qual se Fundam todas as ciéneias. E quanto aos objetos ‘que querems conhecer, mas que esto ara além dos limites da experiencia? Tais sto 06 objetos da metasica, uma cigncia toda especial, que fala de coisas como ‘mundo’, "Deus", “liberdade”, imortalidade da alma’, “bem supremo” tc. A dificuldade reside no fato de que ‘esses objetos, os que mais interessam 2 razio, no se encontram na experigncia: caso se encontrem fora dela, rio poderio ser mtéria do nosso cone- ‘mento, que se restringe ao campo da ‘experincia, © homen um ser racional ‘esensivel, ¢ seu conhecimento deriva da combinaglo desses elementos proprios de sua natureza. O que izes? PENSADORES DA ALMA E DAS FAIXOES 37 CONHECER E PENSAR Aci a surpresa: a Critica ca mezio pura mosint que nossa capaciade racional Tonge dé se resumir a0 combecimeno, fencontrt sua perfegio maxima n0 pen- ‘samento, duas coisis que sto para Kant imteiramente diferentes. Conhecernos ob jewos cto de intigdes a concetos, Pensamos em cbjetas quando Tomamos ees conceites como meras formas, absraidos de todo conteddo, © tenconttameos neles aquilo que 0s define como ais: uma cena untversalidade Com efeito, um coneeto nada mais € que uma forma pela qual uma inwig20 pa ak ser pensada como universal ‘ou seja, como pertencemte nt mesma classe de objtos reunidos por tages co uns. O exemplo da fisca€ esclarecedor: aplicamos leis universas e dizemos que assim obtemas 0 conhecimento de ob- jetos da Natureza O que dessa maneita ‘conhecemos 10 sto objetos particulares, mas meras generalizagdes que nos permi- tem filar em regras univers regendo 0s fendmenos, Os wagos paticulares de caca objeto sto ignores € ees So tomados 4 partir de linhas que mostram win mesino comportamento, comm a todos cles Mas eu ni depeado do conhecimen 10 dos objetos para dizer algo dees: do contritio, ew nao poderia dizer nada, € Se me pronuncio a seu respeito € porque de antemdo (sei algo a respeito dels 18 ENTE, CEREBNO 6 FILOSOFIA Esse “algo” nada mais é que iso: que si0 objetos. Essa afirmagio & suficieme para que eu descubya um dado notivel, que a objerividacte depende da forma dos cconceitos,¢ no dos objetos, que simples mente no seriam cbjetos ‘ess forma, Pois bem, quando me detenho nessa forma « jgnoro todo conteiido de experiéncia, encontro aquilo que Kant cma de “possbildade da experiéncis’ (0 painefpios que facultam a consiuiglo do conhecimenmo, © paradoxo € que tais principios de universalizagio, que me ppermitem constr a experiéncia como lum sistema, no se oferecem ao conhe- cimento mas tém de ser pensadas sob as rnomes acima citados: ‘mundo’, ‘Deus’, liberdade’, “imonaldade” etc. Os objetos da metaisica tradicional slo as ideias ca raaio a panir das quais € possivel estabe lecer, no plano da sensibilidade, os princ- pis de todo coniaecimento. ‘Para cone cer um objeto € necessiio poder provar a sua possibilidade, Mas paso pensar no que quiser, desde que’ no entre em contridiglo comigo mesmo, isto €, desde {que 0 meu conceito seja um pensamento posstvel, por mas que eu no possa reco- rhecer que, no comunto de todas as pos sibilidades, a esse conceito Comespondit co mo un objeto.” (CRP, BXXVD Em termos estitamente floséticos, a diferenga enire conbecer © pensar redunda na divisto dos objetos que se fosse por eS renooa 0 copernieana® ‘ferecem 2 razao entre objetos sensiveis ce objetas supra-sensivels, Kant reconbeve que tal divisio pode parecer estranha, ainda mais quando se considers que os ‘objetos sensivels coinciklem com 05 st prarsensivels, pois em ambos 08 casos 0 aque temas € a referéacia a uma mesma ve toma forma; a mesma objetividade possivel 0 conhecimento por experiéncin € aquela que faculta uma ampliagio de nossa. perspectiva part os objelos que temam possivel a experiéneia como um sistema, como um todo aticulado € com pleto, encerado em si mesmo: como um ‘mundo’, dria a antiga metafisca, E isso talvez consisia um dos fe- gados mais instigantes da critica kan- Tiana para a posteridade filosotica, A possibilidade, © mesino a nevessidade de considerar as coisas « panir de um come de perspectiva, de pontas de vista liferentes, mas articulados entre si, 90S ensina algo que so poderfanos apren- det com a filosofia anterior. A critica ro é mais que esse eslorgo de pensar 2 ruzdo como a sede de prinefpios partir dos quiais as coisas podem ser Vistas ora de uma maneira, sublinh pecto di experiéncia, ora de outra, com destaque para 0 que esta fora da expe riencia, dentro de nosso pensamento, (© mais notivel & 0 éxito com que Kant salvaguanda 08 interesses especulativos coordenando-os 2 pat da instineia primordial do conhecimen- to sensivel, Se o conhecimento @ um dlreito da e220, nem por isso devernos reduzit 0 pensamento a ele. F nisso a ligao de Kant ¢ mais valida do que nun ca, Compete-nas nito somente refleti sobre os prineipios do conhecimento que s© mostram em toda e qualquer ciéncia positiva (fisica, biologia, socio. fogia, economia etc,) como também relletir acerca de objetos que nto se deisam reduzir a uma sistematizacio desse estilo (ilosofia, psicanilise, critica literdria, historia da arte © outros), O HOMEM SE REENCONTRA Nu derradeio lance de zmojo, Kant i ri que © interesse especulativo da razio 6 pode ser satisfeito em terms priticos. Isso quer dizer que a des da nizd0 sho forjadas para dr conta daquilo que mais importante par o ome: eft sus agdes no mundo teal de modo a imprimir nelas um sentido moral. Assim, se falamos em "Deus", € porque uma tal idéia responde pela ligagio entre as fins da vontade humana ¢ a ordem da ‘Natureza; se falamos em “mundo”, & Porque somentea paris de uma tal iia toma-se concebivel uma configuraglo dessa ligagto, O mesmo vale pata todas as idéias da aio, que respondem a uma intengio pritica e sO tm yalida- de, 56 se justifieam por meio das agdes Kant renovou a metafisica a ponto de nao ser possfvel reconhecer as feicdes que ela apresentava no inicio do século XVIII dos homens. Bis © Jegado “positivo™ da Critica ca razao pra: oxnar exeativel o reencontro do omen consign meso, com suet prépria ete, A grande esperangt de Kant ent pacifcar esse campo de ifindvels ba talhas que € 2 metaisiea, Mas nisso ele se enganou: a filosofa continvou a. ser motivo de contends, E que dizer entio do contetdo que cabera a ess disiph- pelas prctensies tolizantes s humanas" e as votas eom ‘6 dogmatismo imefetido das “ciéncias raturais” (cujos praticantes ainda disc tem, por exemplo,aexisténcia de Deus, “autor da Natureza"? Masa frustragao de Kant oo impe- dria de se regozija dante dessa poster lade. Pois & bem possvel, pura 0 kitor espido de preconceitos, encontrar Critica da razao pura ¢ ms ouras ‘obras do fildsofo motivos para renova, por conta pripia, a mesma experinck pela qual passaram os primeios que poderam refler sobre 0 sent des obra tio interesunte, Kant nto teve KANT E A PSICOLOGIA liscipulos, estritamente falando, nem poxteria 1€40s: uma critica, por mio ser outrina, no inculea qualquer yerdade que nio seja a do seu prsiptio exercicio. Encontro, no entanto, desde 0 inicio, Icitores perspicazes que se prontificaram 2 interpreta, que a tomaram como objeto. de critica. Fichte © Schelling, Goethe € tantos outros satidam em Kant uma revolgto no pensimento aniloga 2 realizad pela Revolugio Francesa no camps da politica; Schopenhauer & Nietasche farefam na Crile © deridei- ro abrigo da teologia eis. Contra Kant ‘ou em prol dele, pela certeza ou pela in- terprenagio € que o século XX e a nossa €poca continuam a fazer da Filosofia 0 palo de incessimes eonfrontos, Diante disso, & dificil discordar «a avaliagao do jovem Schelling: entre © dogmiatisma © 0 criticismo, polos centre os quais © espinito humano ose: la incessantemente, esse movimento se desenhando as muitas formas pariculares da filosofia, @ EI Grea da razdo pura manuel Ker. Funcago alow Clbnkan, 1997. A flosfia erica de Kant. ites Deze, Eiges 70,2000. Kant, Denis Tovar stato Libera, 2004, ‘Sobre Kan. Gérard Lebrun, linus, 198. Hoje em cia, a filosofiade Kant pontuais entre as imaginar, quer dizer, de jogar, _longe de ser arbitrria, mais estudada por suas ——preocupagées de Kante de forma mais ou menos nos mantém vives, igando a contibuigbes acs campes fa as da psicologia moderna. _tvre, com Imagens sensivels mene eo corpo ns prepara eistemologia, da moral,da Uma das mais admiréveis que adquirimos pelos ara enrenaro dla segunt, esttica edo dito, Mas suas @ a consideragdo acerca _—_—sentidos, pela percepeo co fura Sona, Kat, bras também despertam da natureza dos sonhos. das coisas. uendo donme, 6 também prover, de cota ‘interesse de especalistzs Sse tfpicn, consagrado a homem imagina, v8 coisas maneira, o que nos espera. de outas dreas,apsicologia pela psicaalise freudiana quo reproduzemem ordem —_‘Mas.essa¢somente ua ‘entre elas. Basta pensarno _e explorado em diferentes _varada e arbitra, aqulo dente as muita supresas psicélogo Jean Piaget, um dos recSes por Jung, Lacan e que ele percebe, quando esti que aguardam oko de Kant ‘malores pensadoresKantianes outros, aparece na obra de acordado, pelos sentidos, Que esa edi sirva como do sculo XK Kant a propésito da atvidade _Essateoria tradicional. um conta explorar esse Apar dessa afinidade da imaginagdo. ual seria eno a inovac3o _pensamonto tio fascinante. mais eral, eneontraremes —_Osonho & uma decorénciaintroduzida por Kant? Ele ‘ainda muitas convergéncias de nossa capacidade de firma que aatvidade nica, ‘PEDRO PAULO PIMENTA wwe. mentecerebro.com.br PENSADORES DA ALMA E DAS PAIKOES 7 0 conhecimento em Kant’. Tuan a questo Do ootwecueo em Kant aeenee pressupe, em primeiro lugar, perguntar-se So pelo proprio estatuto que tal questio represen- “tribunal critica" ta em sua obra: até que ponto ele realmente instaurado para estava preocupado em criar uma epistemologia, examinar a ou, ainda, uma nova teoria do conhecimento? legitimidade Importantes leitores e comentadores encon- de falar em traram nesse ponto o alicerce fundamental da uma ciéncia Gritica da razdo pura, No entanio, essa per da metafisica ‘gunta jf recebeu diferentes respostas. Alguns observaram na Critica a elaboragao da metodo- logia e dos conceitos fundamentais das ciéncias da Natureza, em especial, da fisica-matemética de Newton. Outros acreditaram que essa elabo- ragao estava a servigo de desvelar outra instan- cia, mais profunda, que se reportava a ontolo- fia, A cigncia do ser. Longe de querer decidir por uma ou por outra interpretacto, € possivel, no entanto, vislumbrar 0 enorme fosso que as separa’ entre © “cientificismo” ~ a positivagho das ciéncias naturais - ¢ a esséneia do ser ha ‘uma grande distincia ‘He wen COLLECTION. HoUBTOM Eniretanto, questionar 0 estatuto do termo conhecimero em Kant talvez revele pistas importantes. A leita atenta tanto dos pre ficlos as duas edges da Crtica da raz ‘pura (781 € 1787) quanto da iurodugao & mesma obra aponta para aquilo que parece sera teal preocupagio do autor tr caloear em foco 0 conhecimento da meta Fisica. Segundo Kant, esa nto alcangou 0 mesmo éxito que a materi obrivenam em sus empretada. Parte, 2 metafile, a despeto de sera mais a de todas 28 cigneas, caracterizase como lum verdadeins “campo de batalha, onde diversas vertenfes encontram se em gue constante: Dado 0 fito de nesses conftas mo haver e mune ter havido vercedores, Kant tem de se penguniar por que ©. nhocimento em mesafisica ndo seguitr 0 mesino rum seu «1 Fisica tlharam enquanto céncias sede O TRIBUNAL CRITICO Dai a manobra inédita do empreen mento critco: a necessidade de instauar tum “tibunal da razto" para aver legimidace de se falar em uma eigncia cia metas, tnsaura al thu sign fica, em primeira instincia, voltarse para aquele campo de bata © verifear a 22 MENTE, CEREBHO 6 FILOSOFIA Na concepgao kantiana, a razio nao é mera observadora de fendmenos, mas interroga a Natureza por meio de seus principios falha do método, a causa de @ metafs cc nao ter um conhecimento seguro de seus objetos. Em uma palovea, tat-se de entender por que a razto, enquanto facukdade do conhecimento, nto atingit nese campo © mesmo éxito que alean ou no campo da matemitica € da fis Dai a tarefa efter volarse pars una cuidadosa ¢ acura investigagio da sua faculdade de conhecimento ~ a rizio Muito se fala na grande revolucio causida por est *manobya erica, em uma nova maneira de pensar itrinseca a ela & importante reter, em todo 0 cs0, que essa nova m est intimamente ligada forma com a ‘qual fllsofa kantana dislogou nao 36 com a cna, ras, também, com 3s d- fevwntes vertentes flosoticas (sobrerudo Leibniz, Wolff ¢ Hume) de sua época. Ao verificar avin segura do método da ‘énca, Kant conelui que “a razdo $6 en tende aquilo que produz segundo os seus proprios panos; que ela tem de to- mar a diantera com prin ipios, que determinam os seus jvizos segundo leis anles, & deve forgar & responder as suas interrogagBes em de se deixar gular (ce, por esta B XID Ou sf, para adquinir um sstber seguro em ciéncia, 4 razio necesita de prin- clpios proprios, os quais possibilitem, por sua vez, © conhecimento rigoroso ds leis da Natureza. On, 2 tarefa erica encontra-se fexatamente neste ponto: ALBERT EIMSTEM na Universidade 4 Prncoto, 1831. 0 conhecimento a isla se asela a rardo ‘ea experiéacis demarcar ¢ buscar 0 fundamento desses principios que se caracterizam como ‘condigdo de possibilidade pasa haver um yento seguro daquelas Leis. Vé-se assim que a mudanga na manera de pensir kantitna esta centrada em um movimento preciso, qual ja, que a r4z30 6 guiada por si propria € no por intermé- dio do seu objeto de conhecimento, 10 aso, a Natureza. Desse modo, 214230, rat relagio com seu obo, no se porta pass vvamente como uma mera observadora dos fendmenos naturais, mas, antes, intertoga a Naturwza por meio de seus principios, insturando 0 tribunal extico. A io, que figue bem dlaro, 1a condo de juiz, © a Natureza na condigto de testemunta, EXPERIFNGIA E RAZAO © ponto de inflexao seri 0 conceito de experiéncia, que se mostra precioso para a caracerzaclo daquele movimen- to, na medida em que funciona como tum ponte de apoio part distinguir 0 «que poder ser considerado como obje to de conhecimento da fsiea € da ma temitca € 0 que seri objeto de coohe cimento dt metlisca. AO fundamentat ‘© conceito de experiencia, ser possivel 3 Kam perguntase: & possvel aver conhecimento de objetos que estio além das frontemas da experiéncia? Mas toda a lificukdade de se compreender © conceito kantiano de experiéneia reside raquela ateragto do método. No mo- mento em que a razdo passa a se gular por si propria, por meio de seus pris Cipios, a investigasio da erica ter de tmosirar como esses principios sto ante- riores i propria experiéncia. Para Kant, nao hi divide de que todo 0 n0ss0 conhecimento comega pela experiéneia, 1 entant,iss0 nao prova que todo ele derive da experidneia, O que esti em jogo aqui sto as caracteristicas de tni- versalidade © de necessidade intrinsecas 2 eiéncia modema, Se todo 0 conheci mento derivasse la experiéncia, como serfa possivel falar em leis universais © neoessirias da fisica, por exemplo? Se 0 investigador da Natureza se baseasse penis em sus observagoes acerca dos moniceimenios natinis, ele. podefta $ chegar, quando muito, 2 universalidade © suposta e comparativa de uma regra, & 3 ‘que, por indued por meio ch repetiglo da observag2o, detsando em aberto possivels ex egies, Como dizer assim que tal regra 6 universal mesma, endo continge Para isso sera necessiria dsin- Glo entre o conbecimento a prion, independente ch esperiéacia, & © conhecimentor @ posterion, cuja ‘onigem encontrase na experiénci, Segundo Kant, @ mutemitica ¢ (© exemplo mais bemacabado de uma cidncia «prior. Tanto a actmé- tica quanto a geometria nfo fund rmenkam seus concitas por mcio da cexperiéncia, pelo contrinio, produzem- nos independeaten apsiorista. A origem desses conceltos en cconta-se ra faculdace teria da a0, rt razdo jrra, Jia sca 6 uma eiénca bi dla, 0 seu conhecimento tem origem nos principios da razio para, mas pate dele necesita da experiéncia para ser compro vaio, De qualquer maneira, no entanto, para caracterizar 0 conhecimento ca fsa ‘como universal € nocessirio, deve-se re- Cconbecer que st sua origem encontra-se na Fanio, € nao na experiencia, Nesse ponto possivel observara guinada kant: bd R AS LUZES DE GOETHE Entre aqueles que ‘ragéia Gite von Befchingen ‘prociamaram a dimensio (1773) e,em especial, ‘pica da filosofa de Kant no romance epistoar Os estava um homem que era, _solimentos do jovem Werther ‘por seus préprios méritos, (1774), que Ihe valeu enorme ‘econhecido como um dos. populardade. sigantes das letras e do Em 180, actamado como ‘pensamento da Europa: ‘um dos mores nomes da Johann Wolfgang von ‘rau munca, Goethe Goethe, poeta, dramaturgo, _publicou a primeira parte de ‘omancist,cintistae infor. sua obra-prime, Faust, que so Nasco om Frankfurt, em _aparecerairtgralmente apts +1749, Goethe aproximou-se sua morta, em 1832. peca, em ‘na juventide do movimento vers magnfios, presenta os omantico Sturm und drang _confis inteiores do homem {Tampestadee pao), que madera e ecebeu andlises das florscladeedo 2 déeada coments foutana unguana, e 1760, Sua adesdo a0 Nia ester cientfica, Goethe romantismo manifestow-se na realizou estudos sobre a sw mentecerebro.com.br Oe ANT Vb na razioo fandement da experinci. ‘Gravura de John Chapman, séclo XX uma profunda modificagio daquilo que, até endo, era compreer ido como cons ceko de exparién § do conhecimento ds raz, Kant Bice) do part o seu conto: & a fazdo que se mostra como condigio de possibilidade da experiéncia, seu fundamento ul timo, Nesse sentido, a tarefa da Critica da razdo pura & mostrar como, por meio da constituiglo da sua faculdade de conhecimen: to, essa condiglo € fundamentada, INTUICAO E ENTENDIMENTO. A inwestigacao enitca, segundo Kant, re vela que ‘0 nosso coniecimento provém dle duas fontes fundamerrais do espiito das quais a primeirs coosiste em recede fs representagdes. (1 recepnividacle das impressdes) © ind & a capaci de conhecer tim abjo mediante essas representagdes (espontaneiace dos con ceo, (CRE B74) Ambas as fortes fundamentas referem-se 2. forma como a razao lida com os objetos do conhec JOHANN WOLFGANG VON GOETHE retrace Kr oseph Stl, 1820, ‘metamarfose das plantas sobre as cores, nos quais se opunta is concepgées le Newton acerca da uz. Sua Teoria des cores publicada em 1810, influonciou pintores coma 0 inglés Joseph Turner e tria sua importancia reconhecida, no século XX, or fisicos como Heisenberg € Max Planck Conta-se que as iltimas palavres do poeta foram *Mais uz". Um epitfio ‘apropriado para um pensador (que via nas cores 0 resuitado do jogo dindmico entre luz sombra,e consderava o texto de 18100 seu trabalho ‘mais importante, PENSADORES DA ALMA F DAS PA mento. A prime fonte do coneimento, a iniuigdo, tem. a funeao de receber as representacocs senses necessirias part 0 conhecer. A. segunxla forte do conhe- iment € nomeada entendimento, S48 fungia & produair representagies por meio do pensimento, cu, tnd, produc conceitos necessiros para se conhecer 08. cbjetos. E imporuiwe observar que essts ‘duas furgoes nto devesn ser confi, ‘ou sej, assim como 0 entendamento nto é receptiviade de representagdes sensi’, 2 milo no proxiuz pensimentos, Pot tm Jado, a intuko € wma Fonte de recepsividade pura de representacdes nna medida em que tibalha com duas formas: prion, 0 espaco & 0 tempo. S30 las as condgoes necessifias part que sujeito racional sea afetado pelos objetos perce pelos sents. Tas objetos, na mes em que ainda Sto jndeteminados fem relaglo a0 conlecinento propris mente dito, sto chamaclas de ferémenes _sruoo on proroRcao DA ustagio {de Divina proporzioe, do matematioe Hallane tea ei 0A nemo 8 san 24 MENTE, CEREBRO & FILOSOFIA Yor oatro lado, 0 entendimento, rt sua fungio de pensar, serese de meynis Kola «prio, que deverto de forma ligir-se com 0 conteido informado pela intuito, Daf a famosa frase le Kant ‘Pensamentos sem conterkdo $30 vavios inuigbes sem conceitos so ces. Pelo que & tio necessiio tomar sensves 0s conceitos (sto €,aerescertar tes 0 objeto <4 inuigio) como tomar compreensies as intuigoes (sto &, suibmetelas 0s eon- ets), (4) © entendimento nad pote inir © 06 sends natn polem pens. 56 pela sua reunito se obsém cone ert (CRP, B 75-76) Tosrar sensivels ‘0 conceitos e cempreeasivels a intuibes representa condo de possbldade para obsengio do conhecimento. 0 quet di et as duas fonts fundamentals « prior do conhedimenio, embori heterogene:s cente si, quando reunidas posi ‘oniecimento no interior da experiencia Embora esst exposicto set ut tanto esquematica, fea patente 0 esforgo de ‘Kant em lntar as fronteras cs experi ca por meio da demarcagao de frisigies dks razio, Os principios transcendentals ds razio constinem porsibilidade: de vinculaao também a prior das gras (> icis) do ertendimento com as forms da intuigo Gempo e espago). A reunite de tas princpos, sob 0 nee: de categoria do entendmenro, passa a ser a condo de posibildade da expec GOLPE CONTRA A METAFISICA Dito iso, ever seja pose tomar 3 questo inicial deste anigo, acerca. do estilo dr conhecimento, mas gor fem claleto kantano: com 2 delimitagao dos contomos di experica passive, problema do conhecimento & um fim em simesino, ou um melo paca sing nto objetivo? A investigcto do coneeito ke cexperincia posse, como condicio de possibilidade do conhecimenta, revela a Kant uma iferenga crucial entre @ mie tafisiea, a matemditica ¢ a fisica: a relacho: dessa cuts glienas com seus respetivos ‘cbjetos de conhecimento no pressupte ‘mais uta lage com as cuss ns mes ‘mas, As formas prior inicio lads com as regras Kigicas do entendimento ddeskcam 0 posto de apoto do conbect ‘meio, Nao se trata mais de conhecet as PENIENTE SAO JEROMINO, deta da ola do ‘Georges do La Tour, c, 1630, 0 artista capta as ropresontagSes dos fenbmenos coisas como sto can mesmas, ms sim ‘de conhecer aquilo pelo «ual 0 sixeo € afetadlo, as representagdes sensives, pois cle pode transformi-as em carhecimento por meio dus regs do entendimerto, Esse deslocamento, operada pela losofia cic, revela. das caracterstic importantes. Em primero luge segundo Kant, tal deslocamento €a verkideia “pe- dra de toque’ do conhecimenio cientiico, aquilo que garantiu as ciéncs trilnarem tum camino seguro, Em segundo Tui cde € tumbém um poderoso golpe desfe- rido conta a metas, pois como & pose sivel haver conhecimeno dos és objets clissicos da metafisica, a saber Deis, ‘moralidade da alma e 3 tsedade Com a Critica da rasdo pura nao se pode mais filar em um conhecimento especulative = referente« esses tres obitos, Como & pos - sivel conhever um, objeto que exrapoke cam nwito a experiénca passive? Coma conhecer tum Deus que ction o mundo? 2 For meio di categorin ds causaidade certamente se poxte pensar'o canclto de eriagio, mas como pensar 0 conceit he Deus ligando-o a intigio, como repre sentar um objeto atemporal por meio cl forma tempor Conhever esse objeto dt retafsca. seria tratilo como met cost casi mesma, destespetando 0 li experincia pose, Assim, nese sent, § todo 0 exame artigo clo concent © svovwrmentecerebro.com br mente fica ea matemetica do que para pr um problema para metafisica, ‘Mas 0 proceclimento ortico resuitaria na perda de legitimidade da metafsica ‘enquanto cincia? Sim, na medida em que ‘ela no pode iis ser compreentlila no intesior do mesmo campo de atuacio da ‘matemétia € da fsica ~ seus objtos po- ‘dem ser pensados, mas nunca conhecidos, POIs SiO conceitos vazios de conteido, (© que resulta em dizer que 2 metaisica esti confinada em uma outa jurisdicio a razdo, « do supra-sensivel. Para Kant, cess dingo de jursdigdes € exatamente 10 que Mio foi obsenado pelas escolas fileséficas acionalisins, que seveditavam poder conhecer objetos que esto. part sl da experiancia no interior desta CONvITE A RAZAO Ao longo deste antigo foi possivel perce: ber a forma segundo a qual Kant opera a muxdanga de ponto de vista em relagio A possibildade do proprio conhecimento. Na medica em que este no se baliza mais 4 panir dos seus objetos, mas por meio de principios a prion da rizio, © préprio conceto de Natwreza sofe uma inflexto, Esta no € mais compreenclia como um ‘onjunto de coisas independenies do co- nhecimento do sieito racional, ms, aes tem de ser compreenditin como um con- junto de leis e regs orlentadas pela ro, ‘is especificamente, pelo enterdimento Base passo, dado pela Grea da rasaio ‘urd, por si s6 demonstra a envergadara @ a5 pretensdes da filosofa transcendental antiana, Como foi visto tamixém, essa suanga de ponto de vita & casa dineta ct instauracio do tuna da zo, e seria Jmportante presar atencio a ess imagem vilizada na obra. Hum movimento rfl xivo da mmzio, quando instaua tl tebunal ‘co, que refiete um deslocamento: 0 imbrdglio em que a metafsica se metera a0 longo de sua hisria fz com que a prGpritrizao tena a necessidade de se ‘oar para © exame de suas prsensdes Goino diz Kant, ainda no inicio do preficio a primeira edicgo dk primeira 8 Ontica “Evidentemente que nto ¢ efeito § de leviandade, mas do juizo amadureci 5 FORIMULA.00 UNIVERSO, Pavel Flonov, 1820- 2 22, crag polo vibe do entendiment Para Kant, a razao é€ uma faculdade autdnoma, que nao depende de nenhum fator externo para exercer sua atividade do da €poca, que jo se dein seduzir por um saber aparente; & um convite & razio para de novo empreender a mais dificil das suas tarefa, a do conhecimene to de si mesma e da conslituigio de um tribunal que the assegure as pretensies legitimas e, em contrapartia, possa con- denarthe todas as presungdes infunda- das’, (CRP, XVXID Para Kant, 0 juizo amadurecido da época refere-se & época da critica, em que-a razdo necessit pas ‘ar por um live e piblico exame. Ora, a propria Critca da razdo pura nto deixa de ser © exame das vertentes raciona- lias e empirisas de sua época, como tumbém da ciéneia de seu tempo. A patti desse montento, duas cons seragves so importantes: em primeito hugar, a instauracao do tribunal eriieo faz com que a razio passe por um cui- dladoso processo de investigacio de suas diferentes jursdigbes, importante, como foi visto, para tomar de assalio as pre= sungdes metafsicas, Mas seré que 0 re- sulladoeritico s6 leva a esse eatdlogo das jurisigdes da razio? Para além da disin- Gio das diversas jrisdigdes, o tebunal ‘itco revela também, no caso da razio tecrica aqui tratada, que essa mesma ra- 20, por meio de seus principio a prior, também. possi a Fungao de degistar em sia jrisdieao do conbecimento. Dai 0 Fito dle © conceito de Natureza ter soi do aquela inflexdo: esta € compreendidia 4 partir de um conjunto de leis que se tormaram possiveis através da 1220. Em segundo lugar, na medida em que ¢ pos- sivel dizer que a razio € uma faculdade Jegistatva, € possivel também constatar sud avtonomia, pois ela nto depende de rnenhum fator extemo pars exercer sua stvidade, Com isso, mo € necessirio deduzi-la de um objeto exierno, @ ‘© Kent ofim da metaisica. lr Latrun, ‘radio de Carls Aber Reade Moura. Contlitos da razao itis natural roa navetcio knee * i a sai stoke cae junho de 1789, marcaram profundamente o mundo moderno. de liberdade ‘As noticias da Revolugio Francesa alistraram-se por toda a passou a ser um Europa, ecoaram em outros continentes e nao tardaram a critério racional chegar & pacata K@nigsberg, Encontraram no professor Kant para 0 exame dos um entusiasta que, na qualidade de um longinquo espectador, acontecimentos no deixou de acolher aqueles acontecimentos presentes em histéricos em areas suas reflexdes. O curioso & que, em seu livro Conflito das como a politica faculdades (1798), a revolugdo € tratada justamente por esse 0 direito viés, ou seja, com base no entusiasmo com que foi recebida por aqueles que nao tinham nenhum interesse particular por cla, Pata Kant, € justamente essa recepelo, € no 0 desenro- lar factual da revolugio, © que deve ser compreendido como 4 um signo hist6rico que, para além do seu presente imediato, E imprime um sentido tanto em retagdo a0 pasado quanto a0 3 futuro da hist6ria do género humano, E é sobre esse sentido 5 que incide uma questio filostfica: ele revela a idéia cle um 3 progresso moral da humanidade. Seria possivel atribuir « Kant cert inge- rnuidade ao enconttar no signo hisirico 10 sentido de um progresso, ainda mais se levarmnes em conta os desdobrimentos dda Revolugo, & em especial 0 terror de sencadeado em 1798. Mas © diagnéstico imlo esti centnido nos desdlobramentas concretos do process revolucionirio, ros interesses confituasos de seus atores, raguilo que estes fizeram ou. debsaram de fizer. © dliagnisico € produzido com base em uma reflexto que tem sede nt razao, ¢ 0 ennusiasmo desinteressido pela revoluggo revela algo que a principio era insuspeito; 0 inteesse da rizio pela bbe dade, Nesse sentido, o progresso moral do género humano € trtado como uma stendéncia", a partic da qual a razio tem elementos prt dlagnosticar a sua €poca, a aniecedente © a que Ihe € posterior. A icléia de Uberdade past a ser assint uum exitéio racional para a investiga dos acontecimentes histiricos, substane Galmente dagueles igados 2 politica e 20 dlreito. AS constitigoes que se seguiram a revoluglo, a Declaragio dos Di do Homem e do Cidadio, a formacio da replica ete. so fatos que, por meio Pes ore Par erty roy cer 28 Mere ERFBRO ¢ FLOSOFIA Afundamentagao da liberdade como conceito valido para todos é uma tarefa critica que obriga arazao a voltarse para si propria da idéia do progresso moral, podem ser avaltados como tendéncias ou como obs- ticulos & realizagio da liberdade, § imponante observar, entretanto, 0 interesse da\razto pela idéia de liber dade. © modo segundo 0 qual Kant compreendeu. 2 Revolugio Francesa € para ele uma amostra desse interesse, ou seja, que a liberdade, ainda que consi dead enquanto uma idéia, & um com ceito universal da razio. E essa € a sua caracteristica mais relevante: a tiberdade € universal, valida pars todos 0s sujeitos raciondis ¢, portant, para todo 0 género human, ‘Todavia, essa vinculagio dt liberdacle com a razdo, a predicagio do conceits de universilidade 2 liberdade, mo pode ser prowacl, rigorosamente lindo, por meio de um evento histérico ccontingente, que, por sua vez, apenas apomta pari uma possivel disposizio moral nos homens. A. fundamentagio a idéia da liberdade como um conceito valido para todos € uma tarefa cite da razio, uma tarefa que faz com que @ raza tenha de se voltar pars si propria f€ encontrar wm principio que satisfaga (0 seu interesse pels libercade, ssc € lum problema que ocupou Kant desde a Citic dla razito pura e que recebeu tra- tamentas diversas a0 longo do chamado periodo erftico de su obra ANTINOMIA DA RAZAO Nio se pode esquecer que a liberdade & um objeto clisico da metafisicn, assim como Deus e a imonalidade dt alma Mas esse fio to of denigre de ante mio. © problem mo «st af, mas no ‘modo dogmdtico pelo qual a metafisica anto em sua vertente empirista quanto racionalisa) tratou esses objetos. No ca so especifico da liberade, Kant mal dis facga 0 espanto em relagio ao escindalo {que ela se tornou para a filo tien, Escindalo cuja consequéncia é uma sé: dada « impossibilidade da liberdade a agio humana s6 pode ser entendid a panic da determinacio da Narureza. No eentanio, Kant tem consciéneia de que o problema & mais complexo, jf quea uni- lareralidade da posicao que advogs pelo cdeterminismo natural pode ser entencicla como um raciocinio que, se no € legit ‘mo, € natural da prépria razao. B mais: a propria idéia de uma aco livre, indepen dente da Naturezs, apresenta a mesma caracteristca, Sendo assim, € um impulso natural da raz3o possuir das pretensdes radlicalmente heterogéneas entre si, 0 ‘que denota um confito no seu interior A filosoia erica precisa investgar a fundo esse conilito para descobrir se, por wis dle, no ha um instincia transcendental peter que possa resolvetd Como se sabe, o resultado a que spon a Critica da razio pura, a pos- sibildade de estipular conceitos « prior cujos objetos correspondentes pod ser dados na experiéncia, tornou-se um critério para se pensar a. propria no. lo de metafisica. Como Kant observa ‘fecivamente com a. ajuda desta moi ceagg0 do modo de pensar, pode-s to bem explicar « possbilidade de Boone ee oa conhecimento a priori e, 0 que € ainda mais, dota Ge provas suficientes a5 leis ue a prion funkdamentam 2 Natureza, tomada como conjunto de cbjetos da cexperiéneia, ambas a5 coisas eram.im- possiveis seguindo 0 processo até agora usido”. (CRP, B XIX) A modificagio do modo cle pensar efetuada pela crftica ~*que s6 conhecemos a priori das cosas ‘o que nis mesmos nelas pomos" ~ tora possivel 0 conhecimento aprioistico €, a pattir das leis que se seguem « ele, determina a Natureza como © conijunto de objets da experiencia. © conceito de experigncia € assim a condigdo de possi- bilidade para 0 conhecimento dos obje- tos ¢, com #89, fem a funlo de ser uma ‘eoniraprova’. Em ovtras palavias, ela cestipulz uma clstingao precist daquilo _g que se pode conhever: 0 conhecimento § racional s6 pode lidar com fendmen0s © 3 nio com as coisas em si mesma, ‘SA motificagao do modo de pensar, = disting2o entre fendmenos e coisas emt si, 5 € a principio exremamente desfavorivel = as pretensdes da metalisica, jf que defi © ne um limite bem claro, aquele que diz que mo € possive! ullrapassar os limites 2 estabelecidos pela experitncia para se wow.mentecerebro.com.br conhecer os objets, No envanto, a razao iio deixa de pensar e de querer alcangar (05 objets ha metafisica, ndependente- mente da experiencia, € & ess axpiragao ‘que deve ser examineda. Para Kant, 0 ‘que leva A transposigao das frontiras da cexperigncia e dos fenémenos € a busci natural da razio pelo incondictonado, ‘Tal busca, entretanto, s6 € legtima na smedlda em que tem de respetar a distn- 20 feta anterionmente entre fendmeno © coisa em si De olho no que sucedeu com a metafisca dogmitica, Kant de~ monstra 0 seu cuto-crcuito” ha uma coniradigo em querer pensar 0 incon dicionado no interior da experiéncia, No centanto, esa contradigao desaparece, se tal incondicionado for pensado fora da experiéncia possivel, no do. ponto de vista das fenémenos, mas do ponto de vista das coisas em si, Eagui se revela 0 problema da flosofia dogmitica, pois es ta procurava conhecer 0 incondicionado no interior da experiénci ser observar aquela distingio, ow se, procurava co- nhecer objetos nao sensiveis por meio a sensbilidade (uma das condigoes necessitias da experiencia). ‘A jurisdigao que cabe os objetos da rmetafsea 6 a do supra sense, © se a critica da raz veta 0 conhecimento desses objetos, iso no quer dizer que les nao tenham um sentido no interior do sisema da rato, £ bem vertade que cles nao poderio ser compreendios co mo conceitos objetives, mas como fas desprovidas de um conteddo sensivel, interessante notar que aquele confit fem que a rizio envereda quando busca ccompreender a possibilidade da idea dda Hiberdade ocorre exatamente a partir de uma confusio dos dois campos, do sensivel € Go suprasenstvel. Vejamos: 1 razio pode chegar a tese de que “A causalidade segundo leis da Natureza nao € a Unica de onde podem ser deti- vados os fendmenos do mundo no seu conjunto, Handa uma causalidade pela liberdade que € necessivio admitic para 6 explicar, (CRP, B 472) No entanto, da pore tumfsém naturalmente chegar 2 lese oposta, antitese da primeira: “Nao 1b Uberdade, mas tuto n6 mundo acon- tece unicamente em virude das lis da Natureza’. (CRP, B 473) Tese © anititese: fornvam uma antinomia da rizio, aquilo ‘que Kant dentomina de raciocinios dialé- ticos da razto pura CAUSALIDADE Num primezo momento, pode-se dizer que 4 tese & partidiria da possiiida- de da liberdade para além do mundo sensivel, enquanto a antitese defende 0 ‘posto, isto é, ela fecha qualquer porta de saida para pensar a liberdade e, por conseguinte, © mundo supre-sensvel Entretant, se observarmas bem, ambas 5 teses centrum suas consideragdes fm torno de um conceto preciso, 0 de causalidade. A vse propte assim que, no mundo, os fenémenos, além de poderem ser derivados do conceito de causalidade segundo as leis natu- ris, portanto, da experiéneia possivel, podem ser derivados também de uma causalidade pela Uberdade, A anttese por sua vez, prope que no mundo tudo acontece segundo a causalidade desss leis. Sendo assim, a tee permite pensar que 0 sujeito € capaz de Iniciar tuma ago espontancamente, ou seja, que ele, de modo livre, € capaz de ser PENSADORES DA ALMA E DAS PAIXO! ‘ROUGET DE LISLE canta & tarslness, ela do eiore Ps (1819-1878). Acordes ates da Rberdade a caus de suas proprias agdes. A ants {ese diz que alto, o sujeito nao pode ser cOes €, postanto, esti ute atrekado as leis naturals que causa de suas ftal © conceito de causalidade tor: nase possivel traduzir o problema do incondicionado que esti em quesa0 aqui. A causalidade & uma categoria do ceatendimento (a fuculdade de conhecer dda razio) que, no interior da experién ia, necessita se viacular as condigdes MAS tempo & eSPRAKO. a condigio da derivacio dos fendmenos. Assim, dada tua acdo *y", a causa dessa agao deve ser considerada 1r0 tempo: ha uma con- dicao “x que a precede temporalmente © que, por sua vez, foi precedida pela condicao de “x”, ¢ assim por diane. Ora a regressto temporal da série de condigoes € infinita, e & esse o fator limitante que esti defendendo 2 antitese, No- mundo dos fenémenos, ne cessariamente ligadas ao tempo, nlo se consegue encont aquela que nao depende de nenbuma inti, sca vinculacio, a condigio élkima, ‘DANTE & BEATRIZ diate da hu de Deus, iMuminura de Pool di Govannl, c. 1450, ‘arte se langa no campo do supra-sensivel 30 MENTE, CEREURO € HLOSOFIA ‘outr, ou seja, 0 incondicionado, A ago humana fica presi 20 encadeamento sucessivo da Natureza © a posi¢io da antitese € pelo mundo sensivel, ne- gando qualquer outra possibilidade de causalidade fora do mundo. A tese, todavia, pressupde exatamen: te uma causalidade que esta fora do ‘mundo, entendide como 0 conjunto dos fenémenos da Natureza. Para a tese, 0 fa to dea causilidade s6 poder ser aborda dda por meio das leis naturais, de hav portanto, apenas comegos. subalternos mo um primeira comeso, entra em ccontradigio com a prpria caracteristica universal desse conceito, A busca pelo g incondicionado tem de ser licita e deve pressupor um akargamento da categoria da causilidade, ou soja, para além da % sua relagio com o tempo, a causalidade & pode ser pensack por si s6 de modo § legitimo na jurisdicio supra-sensivel da 5 razao, A tese lida com a possibilidade dda distingio entre os mundos sensivel © supra-sensivel, dando ao conceito de causalidade um cariter inteligivel que a antitese no feconhece, pois, para els, a causilidade 56 pode ser compreendl a com base em seu cariter empitico. Com isso, a rese procura salvaguardar 2 possbilidade de um primeiro comeco, a porsibildade de o sujeto ser a caust incondicionaa de sua ago, permitindo, ‘eno, a idéia de liberdade — mesmo que ‘esa tena de se resting 20 campo que ‘esti para além da experiencia. ARBITRIO RACIONAL E LIVRE Se 08 dois tipos de raciociios sto pid prios A razio, 0 que fazer? Como solu- ‘Gora essa antinomis? € por meio do fembate entre fese e anthese que Kant poderi encontrar uma solugio para o problema, Por um lado, a pose da an- ese conta a possibilidade da libendade legiima em sua defes de experiencia, sas € unilateral. Hla nao reconhece diferenciagio das jurisdigoes do sensivel «do suprisensivel que a propria rario ‘estipulou, quando distinguiu fendmeno coisa em si. Por outro lado, a tse pela liberdade é tamisém legitima seesomente se reconhecer que a causa da iberdade tem de se restingir 20 campo que esti para além do mundo fenoménico, ow sa, 0 fato de que somente & possvel pensar tum primeir comeco por mcio do proprio conceito de causalidade € nig por meio da temporalidade. Vé-se assim que © peso da alana pend para ‘0 lado da tese, pela simples razio que essa respeita« distincio dos pontos de vista do sensivel e do supra-sensvel. E a. solugio encontiada por Kant tem de necessariamente, essa ‘Al, um exemplo pode ser bem-vin- do, € Kant 0 fomoce: quando um deter minaco sueto resolve levantarse de sua cacira, do pono de visa da causalidade, radicalizar a posigio kantiana diante das agdes humanas: na medida em que elas se regulam por meio de uma intengio ‘eoista, rio podem se caraterizar como livres, pois esto ancoradas: em inclina- 8s, ou seja, em descjos, intengoes impulsos egoisas A aficuldade esti em compreender como se fundamenta, do ponto de visa posivo, a aglo racional por dever. Nos cexemplos dados, € possive! perceber, em primeiso lugar, que wa. aco por de mo esté fundada na eonseiéncia da sio, no objeto do querer, mas no pene pio formal ¢ eacional lgado & intensio) que. determina, Portano, para se pensar uum ago por dever, € neces sae em um principio formal ckt workade x1 do querer) Em segundo lugar, para Kani, esse principio formal da vontade deve ser compreendico como uma le dha rvdo, dai cle dizer que 0 *dever é a necessidade de-uma 3620 por espeito 2 Je Assim, a ago por dever espeita uma determinada lei da sazao, Em que con- siste essa le Ve-se que a argumentaglo pressupde que o uso pritico dz azo, na sua telaglo com a voniade, & indepen- deme de qualquer fator empiric, sendo sim, a propria lel racional no poder ter um conteido predeterminaco, A mo- ral kantiana ndo € preserva, no sentido de posuir um contetido previo geridor de valores, mas ter de ser compreendia coma um procedimento racional dle ava ago dhs agdes dos homens Esse provedimento de avallagio diz respeito & possibilidade de universaliza 10 de uma determinada regra que, por sua vee, fot pressuposta pela vontade Assim, se uma determinada regra, subje tva, € valida para todos os seres raco- nas, a ago pressuposta pela regra da vontade & racional , conseqientemen te, aacio seni compreendida como uma alo por dever, que respeltou ale. Esta obrign o sujeto a avaliar suas regras de conduta por meio do ertéo de univer salizglo, ou seja, se a sua méxima, a sui regra de conduta, € ou mo passvel de valer para todos 0s sujitosracionas, Seguado Kant, © principio formal da vontade, ale, pode ser forulado dessa Devo proceder sempre de ma- nei que eu passa querer tamisém gue ct ‘minbar mavima 50 torne tuna lot wnteor sal’. ss. primeica formulagio da lel & 0 Iperatioo calegérico da raz. IMPERATIVOS HIPOTETICOS Na medida em que se pode compreender © imperative categérico como um pro cedimento de universlizaglo, Kant esti tempreendendo um surprecndente desto~ Ccamento em rekicgo & tnidigto flositiea Uma ago somente pode ser considerada moral se for live, © 98 pode ser wsta oo mo livre no momento em que pasa plo > de avallago fomecid pela pipe, azo, pela universlizaeo de su maxims, por meio do imperativo, Ea ruto « Portanto, determina 1 condicio moral de Jo, Com isso, a ago moral nao pode mais ser defini pormeio de viewde 1 Ga Felicidade. F iss por dois motivos Em primeiwo lugar, Kant esti preocupado com a condigio de universalidade da liberade, condicao que pressupoe sua va lidade para todos os homens; em segundo lugar e, por conseguinte, pensis a univer: salidade de una acto que se baseia em fa rores empiricos torna-se um problema: io momento em que cad pessoa tem uma eara propria do que € a felcidade paras, ou do que & a virude, como pensar uma regra universal, valida para todos? ‘86 A RAZAD determina a condigio moral de ‘uma aefo, Petr Lore como Raskolnikov em Grime o cestg,adaplagio para ocinerin do ‘romance de Destoleski, 1935, PENSADORES BA ALMA £ DAS

You might also like