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FUNDAMENTOS PARA A COMPREENSAO CONTEMPORANEA DA PSIQUE NOS SECULOS XVII E XVIII, EMPIRISTAS EU IENEOS : REFLETEM SOBRE 0 DOMINIO DOS aU. NA PESSOAL E 0 : PU aeCO USN DIST Der: 4 Memoria € imaginagao criam a ilusao do eu Lei MIVIYOOOVOWVOOOE OOOOOOOOOOOOE COOOOOOOOOOOE QOOOOOOOOOOOE ©QOOOOOOGQOOOOGOE ©COOOOOOOOOOOE COOOOOOOOOOOE CQOOOOOOOOOOOE OQOOOOOOOOOOOE OQOOOOOOOOOOOE GQOOOOOOOOOOOE QOOOOOOOOOOOE QOOOOOOOOOOOE QOOOOOOOOOOOE QOQOOOOOOOOOOOE QOOOOOOOOOOOE OCOIOIOIOI\O\ONONONONONONG oevnas EDITORIAL (Os Enpinistas BRITANICOS & 4S PAIXOES as primeiras décadas do século XVII, comeyou a difundit- se, na Gri-Bretanha, um novo moclo de fier filosofia. Enguanto, na Franga, René Descartes prochumava © pri- mado da razio, do outro lado do canal da Mancha alguns pensadores questionavam essa primazia em nome da utoridadle da experiéncia. Fm vez de se basearem em cadeias de deduces inspiradas na geometria, os chamados empiristas britinicos se apoiavam na observacio de fendmenos, segundo os’padrOes da fisica experimental Mobilizando os daclos fornecidos pelos sentidos, eles construiram uma nova Visto de mundo, diferente e, talvez, mais leve © mais dell que os sistemas rigorosos predominantes na Europa continental. E 0 impulso diversificado & revigorante das Luzes britinicas que o segundo mimero da colepao MENTE, ‘CEREBRO E FILOSOFIA leva até os leitores. (0s artigos reunicos nesta edigio mostram que © empitismo brit ‘do constituiu um movimento organizado, Tampouco apresentou, desde © inicio, uma fisionomia diferente caquela vislumbrada no restante da Europa. Assim, Hobbes, o primeiro dessa leva de pensadores, esforcou-se em edificar um sistema fundamentado nas demonstragdes da geomettia eu ico ana, aspecto que o aproxima do cartesianismo, No entanto, os episédios dramaticos da Revolugio Inglesa obrigaram-no a descartar, tem Porariamente, sua elaboricio sistémica para pensa os conflitos sociopolit- cos de seu tempo, Outros se basearam nas conquistas da ciéncia britinica, impulsionadas por gigantes como 0 fisico Isaac Newton € 0 quimico Robert Boyle, Era camo se os desdobramentos politicos ¢ do conhecimento na Gr-Bretanha, pioneira no governo parlamentar e em a tecnolégicos que condluziriam 2 Revolugaio Industrial, servissem de apoio € inspiragao aos intelectuais locals. © leitor interessado nos estuclas de psicologia e psicanilise vai perceber que esses fildsofos trataram de temas como identidade pessoal, associagio de idéias e entrelagamento das paixdes, hoje pertencentes, em boa medida, A esfera desses campos clo conhecimento, Os empiristas também desenvoly~ eram um modo bem mais modemo de apresentagio de suas idéins. Hur por exemplo, expds algumas de suas concepsdes em ensaios elegan fuentes. Shaftesbury, por sua vex, recorreu aos mais diversos géneros literirios: carts, ensaios, tratados, diflogos ¢ outros. E outro aspecto « tomar mais familiares os pensadores britinicos dos séculos XVII e XVII = de MENTE, CEREBRO E FILOSOFIA, 1G0s cientificos Cartos Epwaxno Matos Bir Pe ad ae en [REDAGAO MENTE, CEREBRO & FILOSOFIA Ee aah aae {Dm tena ie peered {Dr pcaNa ce EMSC ya ed TOR DEARTE- Bm Gs ASISTONTE Nw Cath ere ROTO GAO Aga Ure Sense Maras ath Tre Carin) PESOASA CONOGREPCA ole Su ee Pain ‘cnapio MENT & CEREBRO ‘esxaoneconeresina conte Tora: uc La TRA ASSSTEE uc Cs REYSIO Ere Aso kvl ero Mata RETR CE ATE Sree Oa Vira /ASSSTENTE Nar Lica Ss Cate FEVTORADE FTE Moc Bn Bas ASSSTENTE Ft Kao SALSA CONOSRUACK: Shi Ral eer, ‘Se ner Tas Le (ERENT DE PRODUCAD GAARA ra Msi PFOOUTORA SHACK: fF PATAVENTO DE BUGEN: Cate a # Oo nets era here & Fol na ie os Mri & Cro, phicaia a oun Soret Onto a Wa, cco ers forex la 6, ao Sct ra, Duetto =. 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SA Run Ken Simoni, 678 imros vsees den esos 2 talc a lene 2 tr (1) 30-630 pola ie wave comb x pce da tna ei aes dos css postage, IMPRESSO:EDIOURO ORICA orcnnesociec sso wen =ANER IPP Sh ee ee (E> Behold now Behemoth which Lmade with thee (a sec ar cnn & mason rroniat OsoFOs EMTS INTEND OS EMPIRISTAS A Grd-Bretanba dos séculos XVITe XVII é cendrio de amplas revolucies politicas e floséficas D4 tioniss nosnes S60 Bstado pode controlar ( impulos destrutivos dos seres bumanos 22 youn tocKe © endo da formago des acon acrnga mnlenar de que bomen /ANATOMIA DA MENTE A medicina oferece a Locke um método para 0 exame do psiquismo wwwameniecerebro.combr 36S LINGUAGEM. INGO ieeorsnen a an 4 25incresuey (© papel do sotisquio, ‘permanente didlogo interior, nia construgdo da identidade do indivfduo SOrnesaceuey pela acta rps S8oaa0 wm esd ive SUMARIO OO causa tererro, nAsrro ECRENCA papel da imaginacao na andifse de Hume sobre a causalidade 7A vexcircors ex nue Pass, inpresses tetas sesucecem, cm flac incessant, no teauro da monte 82 sion E6010 en rue pe pipnonae que dare OOisixte00 costo DA PAIXAO Oplea epi oe Os Empiristas Segundo muitos fildsofos britanicos dos séculos XVII e XVIII, a experiéncia questionava a primazia da razo, eo método de construgao do pensamento deveria inspirarse na forma analitica da fisica experimental x avo DE OLNEIRA SUES Dos SATUS CUTE cores tp Parade lida 2 hws ds au PLANE teats ra io Sd Ta, ie, acct ets de Ett ue etc ea, £ tnespoauoc antsy owe Ottiib cares a tea = dol oop) "| Revolucao politica e filoséfica na Gra-Bretanha ox FeRio De OLVERA suti2s AS PALAVRAS COM AS QUAIS VOLTAIRE abre a 14 de suas Cartas inglesas expressam bem o estranhamento que 0 visitante recém-chegado do con- tinente europeu sentria a0 deparar com ambiente intelectual das has Briténicas no inicio do séeulo XVIII: "Ao chegar em Londres um francés encontrar tudo muito: mudado em filosofia, e também no resto". Esse ambiente, que vinha sendo gestado desde meados do século anterior, deu a fllosofia que se fazia na Gra-Bretanha feigdes bastante distintas daquela produzida no restante da Europa. Enquanto no continente o pensamento filoséfico ainda era animado pela trdigio inaugurada por Descartes, na itha consolidava-se um novo modo de pensar que, com o tempo, viria a distanciar-se cada vez mais do cartesianismo, @ Sob a inflexdo dha fisica moderna e de outras ciéncias da Natureza, os pensaclores britinicos viram- se no direito de questionar 2 primazia da razaio em favor da autoridade da cexperigncia, Esse modo de pensar encontrou diversas expressdes e levou 08 filésofos britinicos do século XVII, principalmente, do XVII a refor- ular quesides metafisieas, epistemol6gicas, morais, politcas e teol6gicss (© empirismo, que @ partir de John Locke se confundiu com as chantadas Luzes Britinicas, foi em grande medida um esforgo para colocar a filosofia em termos diversos daqueles empregados pelos grandes sistemas do car- tesianismo. Assim, Locke, por exemplo, iniciaria o Ensaio sobre o entendi- ‘mento bumano demolindo a nogio cartesiana de idéia inata e postularia a ‘origem empftica de todas os contetidos ments. I (Soros Anda que as Luzes Brtinicas © 0 empirsmo no tenham sido uma escola ou tum movimento onganiza- do, a empreiada de seus fsofos ro se reduzin A retomada de ques- tes delxadas por seus predeceso- res €A opasiglo ~ maior ou menor, dependencio do caso ~ as doutrinas do racionalism chissico. A peipia forma de abocdar esses tépices € ce encaminhar a reflexto floséfica foi 405 poucas problematizada ea ‘ogo classica de sistema posa em questo por muitos desses autores; a Sinica excegio a ess postu talvez fosse a de Thomas Hobbes, que em grande med da preservou 0 ideal sitemtico, Em lugar do siemaflos6fco cassico, cua ordena 20 dedutiva garantina, de um $6 golpe, 2 intelighilidade © a verdade do sistema ‘como um todo, a flosofla procuratia pro- duzir sues doutrinas segundo o paradigm fomecido pela Mlosoia da Natureza. O _étodo de consiugao do pensamento nto seria mais a dedugio rigrosa inspirada nx ‘matemitica, mas forma analiica da fisica experimental. Ao invés de marchar dos Princpios aos fendomens, o empinsta se v8 compeido a proceder das fendmenas 408 principios — 0 sistema metasico to ‘aro 20 racionalismo clissco passa a ser visto como uma exigéncia que resrnge apdisiona a razao. O empirismo converte, m expresso feliz de Gilles Deleuze, "4 ‘eorit” em “investigacio" Hopses Nesta ediclo, 0 letor tem dlante de si wumapequena amosia do tratamento dado por alguns desses pensadores a temas que hoje seriam, em grande parte, ‘a esfera da psicologia.O primeiro deles 6, por orlem cronologica, 0 flésofo inglés Thomas Hobbes. Filho de um clérigo pobre que abandonou a fami Hobbes misceu na cidade de Wespor, em 1583, © momeu em 4 de dezembro de 1679. Gragas 8 generosidade de um tio co, frequentou a Universidade de Oxford, onde colou grau em artes apds cinco anos de esudo. Com a conchisio do curso, em 1608, foi aceito como pre ceptor do flo de William Cavendish, futuro lorde de Devonshire Fol viajando a servigo dos Cavendish que Hobbes conheceu ambiente e per- sonalidades do mundo intelectual que 0 ppuseram em contato com a filosofia © a Gncia modems. Em 1629, em viagem a Franga, foi introduzide & geometia evuclidiana, que the forneceria 0 ideal de método perseguido em toda a sua obra a esada, na tia, conheceu Gali sua filosofia da Natureza, Noutra pas- sagem pela Franca, frequentou o cireulo do fade Marin Mersenne, em torn do 0 TEMPO DOS EMPIRISTAS sets © hibit governanta, ustragho da Misr tt nplatera, v0.1, ‘ie David Hume, ‘digo de 1080 gual se reuniam homens como René Descartes, Profundamente marcado pela turbuléncia politica vivida pelt nagio inglesa de seu tempo ~ cujo climax foi a exe- eucio, em praca piblica, do rei Gatlos I=, Hobbes € mals lem- brado hoje por obras de flosofia poltica, sobretudo © Leviat@. Seu projeto filoséfico, no entanto, era mais amplo e visava a elaboracto de um sistema dividido em tes partes, tratando, primeiramente, do corpo; em segundo higat, do homem e, por thtimo, do cidado. AAS teses de Hobbes tiveram forte impacto sobre © publico letrado, Suas anilises dos prinipios da mente, a ai macio da insociabilidade do homem, seu relativismio moral, a descriglo do ‘estado de natureza” do homem como tum estado de guerra de todos contra todos, causaram escindalo. Mas Hobbes do galvanizou as atengdes apenas entre seus contemporineos, Sua floso- fia continuou a repereutir 20 longo do século seguinte, polarizando 0 debate cerca da moral na Gri-Bretanba, Varios ilésofos, principalmente Shafesbury, dedicaramse 2 combater o egoismo que supunbam estar contido na concepgo hobbesiana do homem. LOCKE Também John Locke, uma das figuras centrais este volume, experimentou as reviravols da politica de seu pais no séaulo XVI. Nascido em 29 de agosto de 1632 na cidade ingless de Wiingtown, foi aluno do Christ Church College, 1a www: mentecerebro.com.br fePnooucan Universidade de Oxford. Alt desgostou- se profundamente com o anstotelimno excolistico que compunha 0 cucu de filosofia da universdade, e se inte- ressou pela filosofia moderna através da leitura de Descartes 'A principio, a formagao que Locke recebera em Oxford conduzinia & carrel- ra de clérigo. Todavia, ele decidiu optar pela profissio de médico. Essa escola foi determinante para a formulagao de ‘sua flasofia, pois 0 colocou em contato com Robert Boyle, um dos inventores da quimica moderna, € com o médico ‘Thoms Sydenham, autor do Methods cutrandi febres. Amos. defendiam 0 papel di experiéncia © da observagio na produgao de conhecimento cient fico. Empirsta 20 extremo, Sydenham atinia-se 3 “histria” da moléstia © recur sava quaisquer hipéteses a priori em su explicag2o. Locke foi sydenhamiano em seus livtas de medicina, como 0 De arte medica, © mancevese fel 405 ensi- ramentos do médico no Ensaio sobre 0 cenendimento burano, onde pretencia aplicar 0 que chamou de plain historical ‘metbod (método histSrico) ao estudo do entendimento humano, Se do ponto de vista tedtico 0 autor do. Methadus curandi febresrepresentou 4 influéncia preponderinie, foi gual mente decisivo, do ponto de vista polit- ‘co, 0 contato com 0 primeira conde de Shaftesbury, de quem Locke foi méclico 2 pessoal. Lore Ashley Cooper era um homem piiblico. proeminente na con- turbada Inglaterra dos séculos XVII € XVIIL. Em 1672 tornou-se presidente do Consetho de Colonizagao e Comércio, www mentecerebt0.cOmBF recebeu seu titulo de nobreza e, pouco depois, ascendeu a0 cargo de chanceler. Fundader do partido Whig, representava 0s interesses do Partamento © oferecia viva oposigdo as medidas do rei Carlos I que viswvam foralecer 0 poder real € © absolutism. A tenslo entre Shaftesbury a Coroa causou problemas tanto a0 lorde quanto 2 Locke. Perseguido por seus adversirias politicos, 0 filésofo foi levado a0 exo dus vezes, vindo a morar na Franga © na Holanda, $6 Ainfluéncia de cientistas levou Locke a enfatizar o papel da experiéncia e da observagao na producio do conhecimento etoratia definitivamente & tera natal em 1689, apés a Revolugio Gloriosa, que demibou Jaime Ut, imo de Carlos 1, € entregou a coroa a Guilherme de range, dando 0 golpe de misericéedia ras aspirages dos panicirias do abso- lutsmo. Foi somente depois do retor ‘no definitvo que Locke publicou suas Principais obras: 0s Dots tratadas sobre ‘0 governo civil (1689-1690) © 0 Ensato sobre o entendimento bumano (1650) Em comparagio com a agitago poll- tiea desse periodo, os limos anos de Locke foram reaivamente trangtils Depois de ocupar 0 cargo piiblico de Comissirio de Recursos, 0 filésofo pas- sou a resicit na_propriedade de lorde € lady Masham (filha Go fiésofo Ralph Gudworth). 6 bastante doente, faleceu em 27 de outubro de 1704 As obras de Locke, sobretudo 0 Ensaio, deixaram marcas profundas na flosofia de seu tempo e exerceram uma influéncia profunda sobre os pensido- es do século XVI, Juntamente com Sir Isaac Newton, que sistematizou a fis modema e forneceu um modelo de cientfcidade, ele foi provavelmente 6 grande mesire do s6culo. O Ensaio talvez tena sido & primeire obra a esta belecer uma sintese do empirismo, fixar ‘um vocabubirio e reformular a metafsica € @ epistemologia em termos propria- mente empiistas. As palavras de Locke ecoaram nas controvérsis dos live-pen- sadores materilsts, como John Toland Anthony Collins; figuraram nas paginas de periédicas como © The Spectator, animaram a polemica entre Gottfried Leibniz e Samuel Clarke sobre flosofia natural € religiio; desperaram reagdes de um George Berkeley ¢ foram refe- rncia de David Hume, Criticada, des- dobrada em suas conserjiéncias mais imprevisas ou simplesmente adotada por alguns, a losofia lockiana € quase onipresente nesse periodo. SHAFTESBURY (O tereeto fibsofo aqui apresentado fol o aque sofreu a influéncia de Locke pela via mais deta, Neto do primeiro conde de PENSADOHES DA SLMA E DAS FAIXOES 9 Shaftesbury, do qual herdou 0 titulo © 0 rome, 0 jovem Anthony Ashley Cooper foi eduesdo, em seus primeiros anos, sob os cuidados de Locke, de quem viria a discordar vivamente no futuro. © terceiro conde de Shaftesbury, ‘como ficou conhecido, nasceu em Londres, em 26 de fevereiro de 1671, fevereito de 171 © morreu em 4 de Por tim breve periodo, a partir de 1683, freqientou o Winchester College, um ddos mais antigos ¢ conceituados colé ngleses, deixanclo-o mais tarde para empreender a primeira de suas viagens pela Europa, Como no caso de jundamentais Hobbes, as viagens fora nna formaglo de Shaftesbury. Ao lado do estudo constante dos clissicos gre- gos ¢ latinos, colocaram-no em contato com as artes e com cifculos lterdrios fe clenutficos jente de livre discussao encontrado na Holanda 3 de época ~ onde Shaftesbury conheceu Sobretudo o am ina arsenate ‘uti do Wessas orto | Sta eto de Jaime ‘compas aie Gore | I, devemaca nas Frecar Handel estab | las Britnicas ralegiloradeste 1712 | tetando revert ‘ono, mas @ ‘arta no a0 ‘sou, na batalta tetuleden. pensadores como Pierre Bayle, autor do Diciondrio filossfico ensamento ‘A maior parte das obras que fize Fam de Shaftesbury um autor célebre foi publicada entre 1705 € 1710. Foi nesse periodo que ele reescreveu sua Investigagao sobre a virtude ¢ 0 mérto ¢ ‘completou a Carta sobre o ent (0 Sensus communis: um ensato sobre 4 liberdade de engenbo e bumor, Os moralistas © 0 Soliléquio, ou conselbo @-wm autor, Em 1711, varios de seus traballios foram reunidos na primeira edigio de Caracterfaicas dos homens, maneiras, opiniées e tempos, uma das obras mals reecitadas discutidas na Gra-Bretanha do século XVII A filosofla de Shafiesbury € multifae cetada e complex. Nas Caracteristicas to discutidos tanto temas das artes. critica, da pritica ¢ do cultivo do carter, is cldssicas da esfera quanto q ‘AULA DE anaromA {e doutor Mcolaes Thlp, Rembrandt, 1692, A medicia, especial dos sintomas Enter sensivel a0 problema da exposig20. do pensamento filos6fico, Shaftesbury aliou a pluralidade de temas 20 emprego de rltiplos generos lteririos. Suas obras yam trazidas a pablico sob as mais diversas formas, como cartas, ensaios, tratados, diflogos e outros BERKELEY © ilandés George Berkeley € outro importante expoente da filosofia britinice aqui contemplado. Nascido no condado de Kilkenny em 12 de marco de 1685, o Trinity College de Dublin, ‘onde, mais tarde, ministraria cursos de teo- logia, hebraico e grego. Berkeley seguiu a carreira eclestistica na Igreja Anglicana € foi nomeado bispo de Cloyne. Poucos filésofos foram tho precoces fixaram sua doutrina tao cedo quanto © bispo irlandés. Aos 25 anos, em 1710, Berkeley publicou seu Tratado sobre os freqientou 1776 rl do ta pela No decor da Suara nico da Comeram a sr plead, | Rowolugao ‘na Franga, 08 28 volumes | dos Sete Anos (1768 indapendéncia | dust, 1 Engle ostados | 176308 tiicos cas Tee Caias vrncrcvorépis, | pe Oen bdrt ean | oman Quebec aos | ingoas Beatie yeroars Tieneses 0 a0 | Arca do Nore, saneseiesees | eabearam Rousoeu, | equine Monral, | que dram agen in Wola vous flsoos | éominandooCanadé. _|ans Estados jo | Unde principios do conbecimento humano e, em 1713, 0s Trés didloges entre Hilas Filonous, em que retomou ¢ desen- volveu os argumentos do. Tratado Nas décadas seguintes publicou outras cobras importantes como 0 Alebipbron (1732) e Sinis (1744), Morreu em 14 de Janeiro de 1753. A filosofia de Berkeley , em cert metida, uma teagio as consequéncias dla teoria das idéias de John Locke. No entender do bispo de Cloyne, © Ensaio sobreo entendimento bumanno aba wrra perigosa porta para 0 ceticismo, Locke afirmava que cers qualklades sensives Atais como sabores, cores © odores) so inteiramente subjtivas, no pertencenclo 40 objeto propriamente dito. Mas essas qualidades, chamachs por Locke de secundias, erm preciso distinguir dle cours, 25 primiras (a solidez, a exten- Slo © 0 movimento), que nos pesmiter conhecer algo verdadero do objeto percebido. O problema dessa tese € que, finda que pudéssemos conhecer 3s qua- lidades primatias, restaria sempre algo de indeterminado e incognoscivel nos obje tos extemos, Estava aberta 2 pora para A filosofia de Berkeley, clétigo e depois bispo anglicano, € em certa medida uma reagao as conseqiiéncias do pensamento de Locke, que abriria as portas para 0 ceticismo ‘© materialismo e © ceticismo, Berkeley dedicou-se a mastear a génese desse tipo de concepeao, num grande esforgo que envolven tanto uma cerrada eritica da linguagem ¢ da abstragio quanto a crea da nogio de materia. Em contraposiglo & concepeo de rwndo derivada de Locke, Berkeley formula a desconcertante doutrina do Lmaterialismo, No interior dessa douteina hd ts tipos de substincia: as dein, os espltos € Deus, que € a Gniea cause efkiente de Fito existence. Por sua vez, a esséncin dessas duas outras substan cas resume-se, do lado dos espititos, 2 atividade de perceber, ¢, do lado das FAMILIARIDADE E ESTRANHEZA iddias, © serem percebidas. Dizer que ‘uma coisa existe € afirmar ou que ela ppercebe una idéia ot que ela propria € uma idéia pereebida por um esprit. Berkeley desloca, assim, 0 eixo da flo- sofia da. representacio, esvaziando am de seus polos, Se 0 ser das ideias € ser perecbido, o mando se reduz as nossas percepedes, ¢ no hit nada 2 elas sub jncente. Desse modo, € possvel evitar 6s inconvenientes do miterialismo que Berkeley acreditava estarem embutios nna empirismo de Locke. HUME © citimo flésofo desta selegd0 € 0 esco- és David Hume, nascido em 7 de ma de 1711, em Edimbango, Sua furntia possufa uma pequena propriedade rural de nome Ninewells. Foi i que Hume ppassou a infincia; deixow a propriedade familar aos 12 anos para ingressir na Universidade de Eimivurgo € formanse advogaclo. O curso no qual se inscreve- 14 foi fundamental para sua Formacto. Hle foi instruido 90 grego € no latim. travou contato, possivelmente pela primeira vez, com as dsciplinas da Wg- De que vale estudiar os paleras 02s colsas do Wichel pessoal, a assoiagéo de iias, XVI este volume apresenta empiristas dos séculos Xl ‘Foucault, “por cela foram ou anda, as operagdes das _uma amostra de como alguns XV, sefaparaopsilogo necessériasnovas normas pais foram tatados com desses tpicos, que hoje profesional, sf para 0 Impostas pela sociedade vistas & contigo de una __seriam, em grande pate, aficionado a essa discpina? industrial aos indvduos para cléncla da nafureza humana. da esfera da psicologi, Dever esses autores no que Ientamente, no decurso _‘Pensadores como John Locke foram abordados polos mais ram, em absolut, psicologes do séulo XX apsicologa se analisaram a origem das conhecidos empiistas, Sem a rnosentido que se atibui an —_constiusse como cincia", ids, e outros, coma George _pretensdo de esgotar aqui os ‘ero hoje em da, Quando Efato,porém, que dversos Berkeley enfentaram atarefa temas por els tratados @ as ‘muito podemos faa, de ‘tomas que tendéncias & ‘de explcar problemas relatives reverberagdes te suas teses ‘modo resto, quehé uma _—_escolas da reade estes _percepco, Por sun ver doutrinas, 05 artigos que “psig de Hume oude do psiquisma se dedicam Thomas Hobbese Shaftesbury se seguem visam introduir Locke ete Em nenfum desses _atualment raster jéhaviam scum a poltica ea 6 letoracostumado com 250s, poréry tal afimmagso sido pensados, de formas questo da constiuigdo as doutrinas e correntes ‘equivaleia alaurear alum —_ierertes ecom propésitos do sujeto eda dentidade, de psicologla ou nelas “dees com 0 tuo de imvertor _dstintos, polos empistas—_rspectivamente, interessado a um territrio ‘essa dscpling,que 6 vifa@_—bitnioos, entre outros Eritando cair na armadilna que provavelmente Ine ‘tomar uma reglio autinoma fildsoos. Assim, na fiesta dod propor que a génese dos parecerd, a um sb tempo, o saber mals de um século _escocés David Hume, tniccs _conceitos da psicologia deva_estranho ¢ familar. depois da martede alguns e cnceliescaros a psicologia ser roracada até a filosofia deles, Anos flarmos em As tals coma a identidade briténica dos séculos XVII FERNAO DE OLIVEIRA SALLES s-vw mentecerebro.com bt PENSADORES DA ALVA E DAS PAINOES ZZ ¢2, da flosofa natural © da metaisica E possivel que sua primeira instucto, nos ssemas de Locke e Newton, tenha corre nessa Epoca. Mas 0 adoes- cents nfo estava muko interessado na carrera juriiea. Aos 16 anos, aban- donou © curso ¢ yoltou a Ninewells, ‘onde continuou a se dedicar @ leitura ds clissicos greco-ramanos (principale menie Cicero € Virgo) e de autores britinices contemporinees, como Pope fe Swift A julgar por My own ie, texto autobiogrifico escrito pouco antes de sua mone, desde essa €poca Hume jé se fnclinava 4 carrera das letras. Todavia, 0 goxo pela teratura © peta flosofia ~'em suas palavras, “paixo ‘GALLEN, PrOLOMEN o Em seu 7ratado, Hume se propds criar a ciéncia da natureza humana, preocupando-se em descrever regularidades observaveis ‘dominante de minha vida € grande fonte ‘de meus prazeres"—teve de ser tempora= riamente neglgenciado. Em 1734, éevido 2 sua cif siuzcio financeir, foi leva- do a aceitar um emprego como escivio numa fia de comérco de agar seia- ‘da em Brio, ra Inglaterma. No entaato, no frontisplelo do Diéloge sobre os dels pinclnals ‘lstomas do mundo, de Calileu Galle, O pensador italiano influenciou Hobbes Audétore GALILAL SERUN(SSIMO, a nCO HEIR A snl cats 12 MENTE, CEREBRO 6 FILOSOFIA (0 deveres e a votin da vida pritica logo © fitigaram. No mesmo ano, Hume pare lia para a Franga. Li, aps breves passa gens por Parise Reims, acabou residindo em La Fléche, onde freqientou 0 colegio fesulta em que Descartes estudara. Foi nessa cidade que comegou a compor seu ‘Tratado da naturesa bumana. Em 1737, Hume voltou da Franga se fixou em Londres. Supdese que, nessa époct, 08 dois primeios livzos ue compdem esst obra if estives- Sem priticamente prontos. Ao mesmo tempo, dedicow-se a publicasio do terceiro, Da moral © Livto I, Do enten= dimento, © 0 Livto Tt, Das paivies, sé foram publicadas em 1739, apts cui dadosas revisdes alteragdes no texto original. Mesmo assim, Hume teria de esperar mais alguns anos para alcangar © sucesso literirio que tanto almeja ¥a. O Tratado, segundo 0 autor, sau ratimono das prensas sem alcangar nem sequer distingio para excitar mur itirio entre 0s fanaticos’. A aficmagao € sabidamente exagerada. A edigio nao vendera bem, mas foi objeto de tres resenhas e de notas em periédicos ingleses ¢ estrangeitos, em geral negati- vas ¢ hosts. © fato € que essa recepglo frustrou a5 pretensdes do jovem autor, ue esperava fazer uma entrada tunfal no mundo das levas. Para remediar a situagao, Hume publicou entio um pan- eto andnimo de tiulo imeproduzivel, de to extenso, que ficaria conhecido como Resemo do traiado. Apesar do repidio do autor, © Travadlo hoje € considerado por muitos sua obra mals importante. £ nele que Hume delineia seu projeto, define seu objeto © metodo © apresenta as prin- ‘pais teses de sua filosofia. E desde 0 Tratado que ele prope a elaboragao da ciéncia da natureza bumana, median te a aplicagio de um métode aadogo a0 do fico newtoniano que, desco- 2 rnhecendo @ esséncia dos. fenémenos ‘que estuda, procura apenas observar & constatar as regularidades de seu come Portamento. Seguindo seu exemplo, a ércia de natureza humana deve tomar a experiéncia como ponto de partda ilo E conhecimento e descrever as regularida~ des observiveis. Com base nisso deve, vv mentecerebro.com.be [NEWTOW DESCOBRE 2 refaeso da lz, pntura de Pelago Pag, 1627. 0 método newianlano inspirou Hume também, solar principios gerais a0 com por seu corpo de conhecimento, AAs empreitadas literirias subseqiien- tes a0 Tratado foram mais auspiciosas. Bm 1741 © 1742 apareceram as primeiras cedigdes dos dois volumes dos Ensaos rmorats, potticas ¢ iterdrios, cuja. prosa elegante ¢ cnvolvente fez com que © autor comegasse a cair nas gracas do piiblico. Nessa época, Hume fez a primeira de duas rentativas frusiradas para ingressar na carreira de professor ‘universitirio, Como voltaria 2 ocorrer no futuro, a fama de fildsofo ateu e herege nao contribuiria em nada para que ele fosse aceito nessas insiuigdes. Em 1746 tomou-se secretirio do general James Sai-Clai, a quem acompanhou em -¢ uma frustrada expesigo militar contra a ranga, € depois em misses diplomti- cas as cortes de Viena e Turim. Hume continvos 4 trabalhar nas 2 idéias do Tratada ca reaprescnticlas, sob nova forma, em duas de suas obras mais importantes. 0s. Ensaas flosdficas sobre 0 entendimento bumano (1748), ‘ou Investigagdo sobre 0 entendimento bumano, conforme os renomeow pos- z svn mentereredeo.com br Teriomente; € a investgacdo sobre os principios da moral (1751). De modo ‘geral, a primeira delas retoma grande parte da doutrina apresentuda no Livro I do Tratado, enquanto a segunda fae ‘© mesmo com 2 doutrina do Livro II Em 1752 publica os Discursos politica, ue, junto com a Histérta da Inglatera Gniciada em 1754 e terminada em 1762) € a Histénia natural da religiao (1757), completa alist de obras langadas ainda durante a vida do filésoo. Nessemeio-tempo astuagao de Hume se tormara mais tranguila, Em 1752 ele foi nomeaco conservador da Biblioteca ivopados, em Edimburgo, Cerca de uma década depois, foi convidado para viajar a Paris a servigo da embai- yada briinica. Essa estada durou dois ‘anos, durante os quais Hume frequentow fos grandes saldes literirios da. capital francesa € travou rclagdes com alguns dos principais expoentes do iluminismo francés, © filésofo escocés tomnou-se proximo do naturaista Buffon, do bario D'Holbach, ¢ principalmente do encicl- pedlista D'Alembert. Na volta & Inglaterra, em 1766, wouxe consigo JeanJacques dos Rousseau, gests do qual em pouco tempo se anependera amargamete. O temperamento paranélco de Rovsteas Jevou-os se desenendet , afr, 20 romplimenio, Nesa época, Hume publ cov a comespandéncia ene ees ¢ um Relay conciso © gonna das relays centre os senbores Hume e Rousseau, nos qais expictou aquelas desavengas, (s anos seguntes foram de calla © terminarum com 0 retomo de Hume & Esoscia, onde faleceia em 25 de agpxo de 1776. Apés sua morte foram publica- dos os Didlogs sobre a religo natura, ‘sctos provavelmente em 1749, @ ‘© Thomas Hobbes, Nabeo Bobb 1991 1 Locke, Michael Aj. Ursa, 2000 ‘Realism and appearances. (Cantriog Univers Pres © Eampitismo ¢ subjetvicede, Ges Osu Presses Unies ‘Berkely oe scoptiqu alg i. César Leb, em A fsa esa Ata, PENSADORES DA ALMA E DAS PAIXOES 13 he wearieth the thieeloud ie ol Sipereibibe Sakon Se Ss! ES ws = : Beholdnow Behemoth which I made with thee C) ) gee > ay WW ay abe eS lk Thomas Hobbes Como controlar os impulsos dos homens 86.0 poder do Estado consegue impedir que os seres humanos, agressivos, competitivos e moyidos por um encadeamento incessante de desejos, se matem uns a0s outros POREIINICE OSTRENS ‘Tiooas Howes vivEU EM UM PeWODO muito especial a hist6ria britinica, marcado por conflitos externos guerras civis, Pouco antes de seu nascimento, em 1588, navios ingleses afundaram, no canal da Mancha, diversos barcos dla frota de guerra espanho- la, dispersando a “Invencivel Armada’, enviada pelo rei Felipe 1 com o objetivo de destronar 4 rainha Elizabeth I. Apavorada pelos rumores da invastio, a mie de Hobbes entrou em trabalho de parto prema- turo ¢ entio ele nasceu, “gémeo do medio", como an su ll ann es, 20) rt es, de on len (Mins Fes, 25). escreveu em Verse life, sua autobiografia em versos. CRONOLOGIA 1588 Nascwexro ne THOMAS Hoos 1003 Tso 94 Usman 1 OxrOND 1608 Devos oe se FORK "TORNEE PHECHPTOR DE ‘Whusae Caves us Devon 1610 Panes vac 40 NTINENTE, NA COMMANIA bo Punto, 1629 Ua vat A Fra A Feanca entero 1 CONTATO COB A VANGUAEDA 0 PEKSWETO MasOMCO aexrnco. 1610 Cones Buea oF rae ELA 9A Fane, 1642 Ponca De cr Noeis0 Da TERCERA FART De SEC stems Munson, 1616 Towne meorssox 0 LATEUETIES, £4 Pas, DO FO at Caos I 151 Lave 0 Liver women Ice aca De convo, 1658 Praca De neve (is Eseasve Bevo oF 0 Loweo Panttexr0, NARRAT STORCH, SOMME A OUEMRS VL ESBS, cane 1682, 679 Morr e THowas Hons ‘THOWAS HOBBES, pltura do Isa30 alle, do stoul XV 16 MENTE, CEREBRO ¢ FILOSOFIA Em Brief fives, John Aubrey, idgaf amigo de Hobbes, cont que ele era de ascendénciaplebéia — 0. biografiado seria. mais ineisivo, declarandose “um pobre verme" (Verse te). Seu pai, de quem herdou o nome © 0 sobrenome, ‘ert um cura praticamente iletrido © de ‘comporamento incompativel com seu ministério religiosor passava as noites de sibado bebendo € jogando cartas € afinal, quando filho ainda era cana, surtou outre clérigo durante uma discus so ¢ fugiu para os arredores de Londres, onde moneu obscuro, Gragas a um tio rico, a0s 15 anos 0 Jovem flobbes fol mandado estudar em ‘Magdalen Hall, Oxford, onde se gradvou fem ares, Ao debsar a universidade, em 1608, foi aceito como servidor na casa de Wiliam Cavendish, que se tomou 0 primeiro conde de Devonshire em 1618. Por quase trés décadas, Hobbes se alter ‘ROU como tutor & secretirio dos: mem- bros dessa familia, ervindo tambiém 208 seus parentes mais proximos € vizinhos. Como mior, sua fungdo era ensinar ligica, artmética e geografia, alm dos trés.principais elementos dos esudos humanists: gramitica, reériea e poesia. Fazia parte também do cargo viajar com © pupilo por pases estrangeiros para apre- seatarhe a cultura local, Numa dessas viagens, em 1629, Hobbes apaixonou se pela geometria de Eucides © deci adotar 0 mesmo método demonsativo ras propaasinvestigagbes Tnx eto 40 anos. Na décida seguinte, essas viagens continuaram a exercer um forte efeito sobre sua formaco. Na tila, travou con- acto com a filosofin natural de Galilew Galle, Na. Franga, tomou-se amigo do feade Marin Mersenne e passou a frequen- taro circulo de sibios que este costumava reunir em seu convento ~ 0 loo René Descartes também frequentava essas reU- nides, que pareciam susctar em Hobbes, segundo 0 pesquisidor Quentin Skinner, 0 descjo quase obsessvo de entender as Jes da fisica e principalmente o fendmeno do movimento”. Em sums, as viagens a0 continente foram © ponto de inlexto na raja intelectual de Hobbes: 0 con- taco com 0 que de mais novo havia no horiaonte filséico o introxhuziu 20 ideal ‘da ciéncia moderna De volta a Inglaterra em 1636, Hobbes comegou a elaborar seu pré- perio sistema filos6fico, que conteriatrés partes ~ 0 cospo, o homem ¢ 0 eidado. ‘Ao que parece, seus progresses, na primeira pare desse esquema, foram muito lentos, 6 em 1655 conseguiv ppublicar o De corpore,evje intengio era ‘mostrar como os fendmenos fsicos so ‘produzidos pelo movimento, Mas em 1640 concluiu um tatado sobre Spica, assunto da segunds parte de seu sist ma, De bomine, finalmente publicado ‘em 1658. Ainda em 1640, completo Blements of law, que seria 0 esbogo da terceira parte desse sister EM MEIO AO TURBILHAO Nao poderia haver pior momento para pe em ciculagdo um livro como esse. Em 1640, fazia onze anos que o rei Carlos T convocara 0 ultimo Paramento, Nesse tempo todo, o ei governou sozinho, endo ra pica um status de monarca abso. natural que, nesse contexto, a fala de Parlamento criasse um ambiente propicio pars a divulgacio de doutrinas da sabe mania dlimitada, como as defendidas por Hobbes em Blements of law. Eniretanto, em abril de 1640, Cartos | viu-se obrigado a convorar um Parlamento, que se mestou, coma era de espera nrasgente 20s seus pedides mido, 0 eo dssolvew apenas tes semanas depois de convocio. On, poucos dias apos a dissolugao do Curto Parlamento (como este fcou conhecico, Hobbes distribu, entre os panics do tei cOpias manuserias de Elements of tw © i6sofo pretend intoduztlos nue nova maneira de pensir 2 pollica, sem, no entanto, renunciar ao cerme do abso- Iuusmo rig. Infelizmente, part Hobbes, (© rei e seus segudores, em novembo sequin fol preciso eonvoear um nove Pariamento, 0 Longo, asim chamado por- que #6 se dissolvea definkivamentevinte anos depois, em 1660. Os parlamentares mandarin pend vitos colaboraderes do tei e execu como taidores dois rminisvos inluentes. Hobbes, que havia defendido o absolutismo em Hements of Jaw 6, para pions, havia ecomendado © lure ques dois colboradoees,temeu ~ com ramio — por sua seguranga e git pact a Fanga woe. mentecerebro:com.be Em Paris, Hobbes efor as discusses com 10 sibios do citculo de Mersenne e consegue aprimorar a parte politica de seu sistema flosoit co. Em 1642, completa lementorum philosephiae secto teria de cive, Otis lo completo jf indica 0 lugar que obra deveria cocupar na divisio tripar tide da filosofia proposta por Hobbes. Entretano, subverendo a ordem do projeto inital, 0 Mésofo decide antecipar parte dd circa relaiva & poll ica para responder aos sacontecimentos recentes de seu pais. © De cite titulo abeeviado com 0 qual a obra se tormau ceonhecida, vist desfazer (5 equivocos sobre 0 sige nificado da soberania € mostrar a raza da obe- déncia a0 poder const tuido, Em outs palavras, a finalidade da investiga- ho politico-loséfica de Hobbes é evitar a desordem ou a guerra civil, construindo teoricainente 0 exifcio do Estado, ‘ApOs 2 publiaagio do lio, Hobbes cconseguiu se dedicar por algum tenipo & elaboracio do. sistema filosico previsto riginalmente. Mas essa esava longe de ser uima tare. ficil Skinner observa. que Hobbes no sabia ao certo como adiqui- rir uma cignea demonstativa © quais os lipas ce demonstagio necessirios, Talvez © Dloqueio mental ainda percunsse se, fem 1645, nto houvessem chegado, a0 ouvides do fldsofo desoladoras noticias sobre as sucessivas derotas dos sealisuas no campo de batalha. Segundo os relatos dos reoém-exildos, © desdnimo dos par tidlsios de Carlos I contrasava com 2 dis posiglo das parlamentarisas em conceber seus sucess0s como sinals da. providéncia divina, Hobbes eno desist provisoria mente de seu prokto cent, Nio podia permit que "tantos crimes e sofhimentos fossem imputados a Deus. Sua prioria- de, nesse momento, & escrever algo que wo mentecerebro.com br oo ‘DE CIVEelgbo de 1687, Ha obra, Hobbes faz a detesa do absolutisme real Leviaté foi escrito num perfodo em que 0s partidérios do Parlamento atribufam suas vit6rias militares 4 Providéncia divina solv a leis dlvinas, Dai sunge © Lotta ‘obra-prima da flosofia politica (© momenta era mesmo dramitico, Em 1649, depois de tes dias de julga- mento, Carlos I foi condenado & monte como traidor das leis do pals e deca- pitado a luz do dia. insutuiu-se, pela primeira e vitima vex na Inglaterra, um sgoverno republicano, Logo em seguida, foram publicadas cobras deferciendo a obedigneia a0 novo govemo, $09 9 argument de que 0 verdadeiro interesse dos Gdadios no € siber se (© gowmante € de dliei- to ov de fato, mas. se parante paz € seyurang Anthony Schama, por exemplo, dizia que 0 govemo € necessiio part esabelecer a distingo das, propricdades, pois sem isso as confusses seria interminiveis, Esse era wm argument tipicamente hobbesiano. Muitos ea- lstas exclados em Pars pereeberam a semelhan- ‘ea enire vitios aspectos lo Teviatd © a5 obras de Ascham, e nio gostaram. Em 1650, no dia em que vera assumir 0 cago de embaixador inglés a Espanha, Ascham © seu intérprete foram assessina- dos por realisas ingleses, ‘Os assassinosjamats foram encontridos. © caso det xou Hobbes. apavorado. Temendo softer 0-mesmo destino, regressou a Inglaterra depois de onze anos de exiio. Jobann Sommerville, estudioso do pessamento hobbesiano, observou que aquele momento, na Inglatera, “era possivel expressar las incomuns com rebstiva impunidade 4) € 8 opiniges antclericais estavam paricularmente em voga’, Nese ambiente seguro, Hobbes encontrou condigdes de se dedicar excht- sivamente& cincia, tal como anuncia no fim do Leviatd, Nas talvez 0 aborecesse a vida retada. Os livtos da biblioteca fem Derbyshire do supriam a fale de conversa erudita’, necessira para bocar cordem nos. pensamentos. No interior confidenciaia 0 filsof0 2 Aubrey, “30 Jongo do tempo, inteligéncis acaba mofando por falta de uma bos conversa Na década seguinte, Hobbes no poder se quebsat, Sun auvidade seri intensa Com a restuuragio’ monirquica de 1660, talver finalmente Hobbes ne tives: se mais moths para prolongar a obra politica, que de cena maneira respon: ddeu 2 urgéncia coloeada por um poder PENSADONES D4 ALMA E DAS RAIKOES 77 fnquieto, em revolugio. Entretanto, ele mio consegue se susentar do debate poblico, Prepara uma versio latina. do levia, esereve dois dilogos, © Didtogo entre tim flésofo & wan estdioso. do dlireto consuerucindrio gles 16655), & Bbemot oxo Longo Parkamento (3668). © projeto de se dedicar exclshamente 3 nia mais uma vez € frustrado, Em 1666, data de composicao do Diogo, 05 Cones aprovaram ma ccomissio interna destinada a colher infoomagdes sobre 0 Lovlatd, e no ano seguinte Hobbes foi chamado a prestar depoimento, Os paslamentares tinharn a intengao de votar um projeto de lei que, se aprovadeo, tomaria passivel de pena de banimento ou pristo quem acgasse, enue outras coisas, 2 imoralidade da alma, as recompensis eternas da Céu € 0§ tormentos do Inferno, Mas, para alivio de Hobbes, 0 inluente hario de Arlington ajudou 2 dissolver a comiso. Aalington, 2 quem 0 Behemoth & dexica do, nio chegava a ser um pant tolerineia, mus como catélico deseiava jusificadamente-impeatir uma. possvel persegniglo por motivo religioso. Como se vé, Hobbes saiv ileso das Varladas ¢ profuundas dificuldades pelas ‘quis passou. E que ele cuidava tanto de Um tema central no Leviatd € 0 perpétuo apetite pelo poder, condicao indispensavel para que 0 desejo futuro se realize tanto quanto o atual sua sade poltica como de sua sate ca. De fato, 0 Aildsofo dedicaverse 2 atividades fseas regulares, moderada- mente beia ssmmulenes Apesar do mal de Parkinson, que o pare- lisou, alguns anos antes de sua more, manteve 0 vigor da mente até o fim. Em resumo, fi um homem apaixonado pela Vida, que consti seu pensamento, em arande parte, no dilogo com seus con- temporineos e jamais se desinteressou das quests de seu tempo, Esta tlvez seit uma das grandes ligbes que se cexariem de sua filosofis: a necessidade de agi polticamente A MECANICA DO PODER Numa das sua obra, Hobbes reivindica-se 0 funds- ddor da ciéncia politica ou filosofia civil “A filosofia natural, portanto, & jover, wsuagens mais imodestas de GOZAR A VIDA ATE 0 FIM Mas a flosoia civil € muito mais: nto ms antiga do que meu livro De cite igo isso porque ful insutado © para que meus detatores saibam quanto me atingiram’ Ha algo de bravata ness rei: indicacao, car, Mas, por out lado, & Inegivel que a principal aspcaclo de sua filosota civil € ansforma a tecria. moral «politica numa dsciplina centifica, Para '5s0, 0 fl6sofo adota, em primeico lugar, uum vocabulitiounivoco, ia signiticados indubitveis para as definigdes, e segue dlecuzindo wma conseqineia de outa, av fim ce formulae hipéteses de natureza aeomética. Em segundo lugar, esabele ce que métocio wiz na constinigho dessa cigneia: sintco-compestiv ou analtico-resolutvo. Fim Elements of le © Teviatd, Hobbes emprega 0 primelto método, que consite emt descobrir os efeitos de um compo com base em suas ‘eausis hipordticas e 5 efeitos de um corpo sobre outro. O autor n0s remete 40s principios clos movimtentos da mente, dees ao conhecimento dos senidos eda imaginacio, sleangando as paisdes, ¢ finalmente ao espago de insoctabilidade levada ao paroxismo que é 6 "estado de natueza”. Daf em diane, arquittase 0 Estado, define-se 0 2 como juz de todas as doutrinas rligio ‘Aas anos, ji dominado ——_ofato de um isto escrevé- que afisiologia da 6poca autor do Levit jogoutinis ‘pelo mal de Parkinson © los. lids aos 84 anes, Hobbes considerava muito favordvel, até quase as 80 anos —e, ‘réximo da mort, Thomas _havia escrito emfatim, @em —_—Elcita, em Brief ives, uma om especial, a seu profundo ‘Hobbes conseguiu ditar@ seu _versos alexandrinos, uma ‘abservagao de Hobbes: “Ee interesse e/amor pela vide. ‘amanuense uns poucos verses autoblogafa bastante hcifa. dria que podem existr boas ‘de aac Diza noes que, pasar Tempoucoespanta que jam _inteligéncas de todas as ‘de velo,*quase completamente versos de amore por que isso complelges; mas, de bom ‘stipid", ainda poo contar_deveria espana? espantoso _coracdo, éimpassve", Na ‘coms favores de uma amante 6 alguém chogar a essa idade _verdale, as condgées isicas 6am serlouco,amar,rum em plano séeulo XV, quando © oro elevado de Hobbes belo corpo, uma mente ainda as pessoas morriam aos 45 podem provavelmente ser mals bela, anos, em mdi associads @ sua preocupagdo ‘A poesia néo é a marca Obidgrafo ce Hobbes ‘em manter-se em forma ~ 0 esse autor que se tomou _atrbuit tamanha longevidade ‘conheci por tratados de compleido do soto, ‘losofa politica. Mas ocurioso Segundo Autrey ele era HMR, ‘au no sp 0s versos,nem —_sanguineo-melancholicus, ‘Un ancio woos, 18 MENTE, CEREBNO 6 FILOSOFIA gaan pla vi rhe PINTURA HOLANOESR andnima de 1660 mostra ball de celebrag ss e autor das leis ivi, enunciamse os principios de destuigto da sociedade civil, as farefas do govemante, Hobbes procura dlemonstar, com base ém prin- Cipios universals e evidentes, as c x necessidade de consituir um Estado, que € diteto natural e dever, o que € direito inaliendvel da soberani, No desenvolvimento dessi teoria, merece destaque a explicagio sobre as causas da insociabilidade natural entce os homens. Embora a geénese dos con- fhumanos possa e-deva ser buscada 4 nas sensagdes, objeto das primeiras iginas das duas obras, um recoste pose 2l consiste em prvilegiar os capstulos mntermeciios, que tratam das pabrdes € do desejo de porer. Assim, 0 capitulo Vi do Leviata, Hobbes volta-se iniial mente para 0S movimentos interaos que precedem a agto. © movimento ou cesforgo que se faz na direcio do objeto causidor do pripio movimento € 0 apatite ou deseo; 0 movimento que se faz na ditegto contrria € a aversio. Em ruzio disso, chamamos bom a0 objeto do desejo e mau ao objeto ca avers, Je modo que as palavras de sentido cor bom’, “mau ¢ “desprezivel” si0 = sempre relativas a quem as empregat = -nio hii nenftuma negra comumn de bem mal que possa ser extraida da natureza Por acréscimo, wavs. mentecerebeo.com br a felicidad se define como a continua ‘obtengo dos objetos. do desejo, num movimento que $6 cess 1 prOprin vida: “A felicidad dest no coasste no repouso de um espiito ssisfeo”. evita, XI, pig. 85) fm face do relaivismo moral ¢ da definiglo de felicidade como “continua cha do deseja", Hobbes pode a0 mesmo tempo refutar duas icias da Antiguidade e criar os fundamentos de su pr6pria teoria do. poder. Primeiro, ‘nega que extstam um fm imo tach ‘ido por uma beatinnde ou tangiilidade perpétva ~e um bem supremo, Parar de sentir, imaginar e desejar & 0 mesmo que cesar moro, Além disso, no hi nada aque ja bom em si mesmo, Segundo ele Gefine poder como as melos de que um Thomem dispde para obter um bem futu- 10. Isso significa, desee j, que 0 poder deve see viso como um meto ce alean- cara felicidade. Principalmente, 0 poder € um meio de akangar mais poder A caus desse “perpétuo € lirequieto o de porler € mais poder" mo € a cexpectativa de maior intensidade do pra er ou a impossibilidade de se contentar com a moderaglo, “mas o fat de no se poder garanti © poder ¢ os meios para viver bem que atualmente se possuem sem adquitir mais ainda’, B preciso ten- tar assegurar, de alguma forma, que 0 des Ja volta de Carlos Stuart Inglaterra, onde assumirao tone desejo futuro se realize tanto quanto 0 desejo presente. Iss0 somente € possivel se tivermos poder, ‘A conseqiéncia imediata cess prime 10 principio da naturema humana ou ten dina gerl da humanidade € a inevitivel ccompetigio por riqueras, honra e mando, que leva a divergincis,lutase inimizade De fato,@rqueza € poder, porque permite rcumular vésios objetas do desejo, entre (0s quais a amizade; a dominagao € objeto do poder porque pennite a um homem conquisar aliados e ve tomar mais forte, E assim por dante. Pare claro, no entanto, que essa hostiidade desenfreada na. qual a Natuneza iow os homens ito decor apenas da competigio, Ha um terceiro principio a explicar, Ese principio deve ‘mostas, nRo por que os homens fazem tudo por intcresse — 180 € questio de sobrevivénca, como jf sabemas por que competem e brigam por cos fo frivolas, como um pequenc acettagio, un olhar de desprezo Tima das chaves desse enconirt numa cart de de 1638, escrta 2 se Charles Cavenglsh. Net que no cons ampouco perder um querzas dos our fos que zom AS PAINOES 29 Hoppe: amigo "pelo aplauso a um che’ ate asim $6 most a falsa esimativa das prcpriss qualidades. Quando um homem no se aval moderadamente, “ao prego comene que outros Ihe dio’, € espert mals do que merece, seu temperamento sempre ser cfensivo (Cana 28). Essa agresshidade natunl, exempliicada na boa ~e v2~ opinido que cada uma dessas conangas velhas faz. de si mesma, impede Hobbes de acreditar numa sociabiidade ‘nata entre 05 sees humanos, (a, imaginemnos como se comport iam esses homens competes, amorais « vaidosos, se fexsem todos igus, lives, twessem os mesmos dicts € vivessem sem 08 freios da le. # simples: eles se smariam. Essa condiqlo rural da ama nidade jusiica a necesidade do Exado, insinda juiiea ¢ absraa dotda de oder coercive para cbizar todo, por meio da punigio e da iminénca de cast: 0s, vver paciicament, segundo ale desse porto que purte Hobbes no De cite, inverendo 0 percusso da rato na descobera da verlade. Aqui Ao cobrir de ridiculo os personagens que encarnavam a autoridade do clero, Hobbes pretendia retird-los da ordem sagrada e tornd-los humanamente prosaicos ‘0 método analtico-esolutivo pressupie 4 Vida em sociedade e leva 0 flésolo Se perguntar qual a oFigem do Estado, se 1s homens ndo demonstram amor algum uns pelos outtos Para quem divi, Hobbes expe quuidros quase_cinicos das relagdes humanas. Verto os homens procurarem a companhia pela utlidade, hhonma € prestigio que isso thes posst proporeionar; os amigos rrem dos def tos uns dos outros e contarem histrias fantsiosas a seu respeito; 0s vajantes se aemarem, © pai trancar o$ seus tes0UrOS por suspeitar dos filhos, os filisofos se tenvaidecerem com o tratamento de mes- tres ov se enfurecerem perante a indie 20 MENTE, CEREREO & FILOSOFIA renga dos colegas: Depois dessas duras constatagdes, cabe a0 fildsofo remontar 206 principio que expliquem a causa a natureza © 0 definigio do Esado, como fark no restate do lvro RELIGIAO, MEDO E RISO ‘Outro aspecto que chama a atencho é a impercincia que areligio eo ceo foram ‘adquirindo acs olhos de Hobbes, Em lements of law, 2 religito € tatada em dois captulos, nos quais 0 ator defende a imortalidade da alma ¢ o direito de os anglicanos, como membros da Igreja ofi- cal, exercerem poder sobre a alma dos _siditos, No De civ, ele afirma, em quatro Jongos capulos, a imoralidade ds alma, a hierarquia episcopal e comperéncia dda Tgieja para eleger eclesiisticos. Ja no devia, pane reativa& religto crescent tanto que passou & ocupar quase a metae dde-da obra, O dero calico, presbiteano fe mesmo anglican tornouse o maior ini migo de Hobbes, que Ihe destin paginas veementes¢ acids. No apenas: 0 fléso- fo agora susienta a mortalidade da alma, 2 inexiincia do Purgatxio edo Inferno, fe chama de “que grosseiro® a dourina da tansubstndaglo, cada quaiado “xs trevas dos tempos se haviam tornado tio densas que os homens nio distinguiam © plo que thes era dado para comer’ (evia, XU, pig $12) ‘Ao tomar conhetimento do contesido ess oom, © ero anyicano abrigado na ‘arte exlde do flo de Carlos T exigin {do rei x expulsdo de Hobbes, qualiicads ‘como 0 “pai dos ales", Por outo lado, vimos que um dex mativos de Hobbes par escrever 0 Zevaid era a tentatva de defender a leis de Deus, inoventndoas de todo o sangue denamade na quer ‘vil. E certo que 20 longo dos anos a reli io odeto, tanto do ponto de visa pes seal como poli, conveneram-se num problema para Hobbes, Mesmo assim, pesmanece a pergunta: qual 0 poder da religit? Ese resposta & sem dvds, uma das mais complesas do Levlata ¢ nio € pretensio deste pequeno argo desenval ‘Ela, O propésto & 0-56 apontar um dos lewenios que trnam & reigio 0 dero povencialmente perigosos. Tima dis razdes pels quai as dou trinas clerics sto paricularmeste: noc vas resulta do fato de rare a imaginagio dos siitos a idéia de tum transcendente (9 Além), que vern a ser um Esado imaginirio, cconstruido a revelia do ‘mundo esl e muito mais. persuasivo do que este. A. fabrice (Go desse simulacro € dldria e constane: do nascimento & morte, 0 fel € assisido por um hhomem que reivind: cea para si 0 tule de emissirio de Deus na Tema, € cya funeo nada despreaivel ¢sal- var ou condenar sua alma. Diane da idéia reguladora de eterna beatitude ou eterno sofimento, que nto E SOCIETATE IESV DOCTOR THEOLOGVS. ct in Connimbricenfi Academia primarius Profiflor Obit anne r613. 25 Seplerbris,atatis fire 70. © fildsofo consegue tulver, desanicuiar as dourinas cerca sed oss Assim, por & plo, em ver de sim plesmente mostrar que © jesutta Francesco Suarez sustertouinver dades, Hobbes pref re perguntar, depois {de ciar a adugdo do titulo do sexto cap tulo do primeico lio de Suirez (4 primet- rm causa no tnsufla necessariamente al- ‘ma coisa na segud por forca da subordi nnagéo essenciel cas causa segundas, pea qual pode ser levada 4 aluar: “Quando alguém escreve vol io encontrados no mundo fisco, 2 cons- nce do fel fica perturbada e pass a ‘operar uma recompesigio mental kt rea- lidade. Imerso num mundo cujos signos ‘mio mantém relaglo imediata com a exte~ rida, 0 sido jé no observa 0 dbvio @entlo toma por natural 0 que fo eiado cm sus mente, £ crer para ver. (© que esta em jogo & a desiguakiade imire 0 poder do soberano terreno € 0 poder do dro, ou a capacidade de cada lum exercer © dominio sobre os homens. (O que significam Inferno ¢ 0 Purgatorio, sendo uma vida ctemamente sujeita a violéncia © 20 arbitio? E que poderes do tém sobre nés os homens capazes de nos remeter a lugares de soltimentos indizivels ¢ comimsdos? Nao se tornamm les jizes do bem e do mal? ‘A disdincia entre a morte sob tortura © 08 torments infinitos & a mesma que separ 0 eriminaso do pecador.O prime ro violou a regia do Estado, a vortade do soberano, © por isso as penas corporais visum restiuir a soberania lesada por um instante; Nese teatro do tert, em que o casigo representa 0 crime, 0 importante € atingir 0 corpo do eriminoso e a imagina- (ao dos demais silts, Dos medos hme nos, 0 poder dos homens que se pocke (0 JESUITA Francesco Sudre,vtima da xombaria Ge Hobbes fender € @ mon porque a sensago dos ‘astigos sobre 0 corpo € real ea anvevisto das cadens, paralisamte. Além dso, 2 atuaglo do governante sobre 0 criminoso visivel,piblica Mas, se ese € o maior ds medos,o mais podleroso & 0 medo do poder dos espltosinvisvets.E, na balan 1 poder, sso 0 que ce fto pes. Todos ‘0 casigos temenos ~ inlgldos a olhos vistos, manfesos nas feridas dos erimino sos — jamais poxeriam se gual a castigo cu gran de dor se € incapnz de avai © perceber. O mis doloroso dos soffimentos no vem pelas macs do povernante, nem & real use expde ao pbc, mas imagin- tio, retido na opacidade ds consciéncias © imposto pelo der. Para derubaro fantasma do pader ce fia, no basta desmentir as dourinas que © amparim. As vezes, segundo Hobbes, entender a causa do medo nto € suf lente para acabar com © medo, embort isso possa ser importante. No Levlatd, demonstraglo flosfica € acompantada da persuisho retGrca, que tem oa irnia € ‘em outros arguments sticns um de seus jnstramentos mals fortes: « capacdade dle susciiar 0 #0, Ao langar a superficie 0 ridculo dos doutrinadores & doutrinados, mes. inteiroscheios de tals. coisas, ele est louco ou pretend enlouguecer os eviaud, VU, pig, 73) Mais adane, Hobbes vedi encantamentos saeramentos como 0 batismo, casumen- to, extremaungio etc. Em particular 6 batsmo seria, a seu yer, uma. forma de exorcsmo, jé que tous as erangas seriam demonicas “até seem assoprals pelo pee’, até receberem “o profanado causpe do padre". evar, XLV, pig 513) © proprio papado ¢ compari 0 reino das fadas. Enim, 0 que a ridicularzacion desses personagens pretense € reiri-los da ordem sagrada & torvslos hmana- mente prosaicos, Ess, cenamente, una das malores contibugies de Hobbes pari a flosofia e par «hii. @ * Lovits Tras Hoobs. Marin Fortes, 2008, Hobbes. Richard Tuck. Loyola, 200 “= Razioertrice na oso de Hobbes (uertn nna Uno, 1908. | Hobbes’ if in pilosophy. enn Sine, | on Von of otis. Cambie Univers Fess, 2002 ' Thomas Hobbes: ola ideas in historical eantxt, Joann Sonmervie ection Press, 1922 PENSADORES DA ALMA E DAS PAINOES 27 John Locke Origem e formacao das idéias A contestagao da crenga milenar de que o homem teria nogdes inatas OR PEDRO PAULO CARRIO FIWESTA Coo St FORMAM NOSSAS IDEIAS? Como adquirem elas 0 feitio que tém quando as encontramos em nossa mente? Essas per- guntas, aparentemente tio simples, recobrem muitas outras: quesibes que se poem para o leitor de Locke € da filosofia ‘em geral. © que significa dizer que temos idiéias, e que elas tém uma forma? Estartamos fadados, ao discutir « natureza das idéias, a retornar ao universo conceitual plat6nico, ainda que ‘com 0 intuito de refutar Plato? A modemnidade se vé as voltas com a discussto da origem e da natureza das idéias desde Descartes até Kant. Os problemas comecam com a defini¢io do significado dessa palavra to conhecida de todos, tao vaga € imprecisa, @ O pensamento de Locke, entre muitas outras coisas, é uma tentativa de dar conta das questdes relacionadas as nossas idéias e a0 papel que elas desempenham no conhe- cimento que temos das coisas. Pois isso parece certo: ha uma relaglo intima entre as idéias € 0 conhecimento. eh mr ed a 0 ‘Eguagem des oma Soshary oa ae Seon (alameda, 200. 23 Lock! © Ensaio sobre o entendimento bumano comega a explicar nossas idias pelo que clas nao sao. A primeira parte do livro, “De nogbes inatas", € um exame da impossibiidade de admitirmos em floso- fia a opinigo segundo a qual haveria. a mente algo como iéias inatas. Como se sabe, ess1 doutrina & popular na idade modema, sendo esposada por flésofes das mais diferentes extragdes - de carte sianos a platonisas € arstotlicos Locke refurn exaustivamente & dou- trina segundo a qual teramos, desde 0 hascimento, certas nogbes inelectuais que seriam independents de toi exper ncia, ou sea, de tela ordem de sensaco. 0x afeogto senshi. “Alguns homens tm 4 opinito de que hi no entendimento certos principios inatos, nosbes comuns ‘ou primiras,caracteres como que estan- pedos na mente do homer que 2 alma receberia desde a sua primeira exstencia ‘A BAIALAR 00S QUATRO DIAS, wtb holandes Locke sustentava que os seres humanos, “pelo mero uso de suas faculdades”, podiam obter todo 0 seu conhecimento e tia consig 20 mundo." (Bxsaio, Lino 1, cap. 2) A slegag2o de Locke contra tal ‘opinito’ se baseia num principio exte- rmamerte simples: que os homens, “pelo mero uso de suas faculdades, podem cobter todo 0 seu conhecimerto, sem 0 unio de impresses inatss, que podem aleangas a certera sem nogbes ou print pis originais". (Bsa, idem) © argumento € 0 seguinte: se todo © conhecimento de que somos capazes pode ser obtido por nossas faculdades fem sua relaglo com os objtos que nos afetim, € supérflia e desneces- $e uno de 1686, Tela siria a existiacia de caracteres inatos implantados na mente para esse mesmo fim, sendo terfamos, para chegir a um mesmo fim, dois principios paraelos ¢ ‘concorrentes ~ um sinal inequivoco de fala de parciménia na orem das coi- sis, © que esti em jogo para Locke € portanto a fonte de nossas ideias ou 0 ‘modo como a criago (Deus) julgoss mais adequado para adquirilas, ¢ jamais 0 Fato de que hé idéias & nossa disposicto, de que podemos ter um conhecimento ‘caro e distinto™ ou “oerto © determi- nado’ de todas aquelas coists que nds podemos conhecer — ou seja, das coisas ‘que nos So Utes € que dizem respeit nossa felicidade, nesta vida © ma vi futura, A discordincia com os inatis € relaiva: no est em questo que € 2 possivel conhecer as coisas por meio d nossas idéias. 3 (0 elenco de termos que Locke esco- & ham Storck. A segunda guera anglo-holandesa pelo ‘ontrolo do comérelo mario eomegou em 1665, 0 ano da pests na Inglatera, eterminou em 1687 lhe para expressar a opinito da exis: tncla de principios inatos ~ “nogdes Comuns 04 primiras, caracteres estam- pads", “impressBes inatas, nogdes ou principios origina” ~ indica que a sua posiglo ndo é exatamente anticartesiana, mas volta-se contra uma certa confusio entre 0s principios do conhecimento € © seu contesdo, A refutagio de nodes inatas tenta assim desfazer uma impre- isto subjacente 2 descrigao filosofica do conhecimento: 0 que signficaria conhecer a panir de caracteres inatos? Que a ineligbilidade do conhecimento sensivel seria garantida por uma instin- cia superior, puramente racional, por caracteres de uma lnguagem previa 20 ‘mundo que pemitiria soletrito, Mas por que recorrer tal instineia quando temos exemplos abundantes ~ entre as ‘criangas", entre os “selvagens’, entre 08 “idiotas’ —de que a sensagio € suficiente part garanis a aqusicdo de idéias, sem nnenhoma cultura prévia? A eriacao divina sera insensata € dispendioss se tivesse dividido © mundo em duas partes: 0 undo sensivel, do erro e engano, € 0 ‘mundo ineligive, da retidto ¢ clareza, A TELA EM BRANCO ‘A proposta de Locke & mais simples: 0 sentido das coisas nos sendo comunieado elas sensagdes, a ordem do mundo se desvelando diante dos sentidos, a sabe- dora do Criaior como 0 coroiitio desse cespeticale admivel Vemos aqui algo indamenta © dogma do empiisma de Locke nao € tanto de que a experiéncia nsivel € sufciente part 0 conheci jento do quanto essa suficiéncia € uma lisposicao de ordem ontoldgica que diz = respeita acs designios de Deus para 0 jomem. O conhecimento ds coisas por 4 meio de sensagbes ¢ a tnkca via possvel fe todo e qualquer conhecimento huma- 10, € devemos nos dedicar para extrair 0 miximo dessa sibia ordenagio. 2 Assim, se nio hi principios inatos, sta que nds temos idéias das coisas, $ que percebemos e pensemos, que hi enfim operagdes de nossa mente das S quais temos idéts € que produzem rutras tantas ides. Locke mantém 0 50 dessi palavra, idéia, o cara so platonismo ¢ também ao racionalismo, wow mentecerebre comb {AME ARN TAD, rr de ama ocd nds boro 1827, Squnde Lah aages" se baselam apenas na sensagio para adqurriéias € da ela um sentido proprio. Com ela, pretende dispensar a multidio de refe- réncias a principios inatos, pois a cons- era um ‘termo que parece melhor para representar 0 que quer qué seja objeto de entendimento quando 0 homem pens. Uulizo-o para expressar aquilo de (que se ocupa a mente 20 pensar, quet se chame fantasma, nogdo ov especie’ (Pnsa‘, ttrodugio) Pare refutar nogbes inatas € preciso efetuar uma substituigdo de palavias, uma operagio aparente- ‘mente simples que incide no plano da linguagem filosifica, Se o Ensaio puder juslifiear 0 acerto dessa escolha, ela se mostrar pemtinente. A inteligibil: dade do discurso filos6- fico. gerante, em lima instincia, que a. deseri- ‘9to de nossa maneira de conhecer € condizente ‘com a maneira pele qual realmente conhecemos Locke presenta a0 leior uma outra opiniao acerca da natureza de rnossas ideas, desta vez a sa, que the servird de pponto de partida € fio condutor em sua investgacto do enten dimento humano. A passagem em que 0 faz € famosa: "Suponhamos que a mente sea, como se diz, uma tela em branco, sem caracteres ou quaisquer idias. Como poderia obiéJo? De onde viria 0 yasto repertrio que 2 agitada e ilimitada fan- tasia do homem pinta ali, com varedade quase infnita? De onde’ obteria toda. a matéria de seu raciocinio e conhecimen- 1©2 A isso eu respondo, numa palavra, da cexperiéncia. ela se funds todo © n0380 conhecimento, que dela deriva enn sikina {nstincia’. (Ensaio, Liv I, cap. 1) dos bobs mostrara que ‘APRENOIEADD ie PENSADORES DA ALNA F DAS PAIKOES 25° CRONOLOGIA 1682 Naseasesto pe Fons Loexe 1052 Tyowesso x4 Cis De Owe, 1436 Bac Aa, TORN: St NISTEE DOS ANOS OEFES 1696 sears exscors De aMizwne eos Lowe ARI, sis TD COS 167 Towne conseuteno senic0 De Lowa AMY bons NO SA FORMATO 1668 Asoc A Roval 1672 B sowene starts 90 Consus o¥ Cotoniengho 1 Costico, orci) 1675 SEOVE Ra 4 Fra, (685 Fast Nos Bales Batos Ares As rRseaLapoeS Ards n “Ravousto Growoss", qui emu Taowe I, vores A Totarem x4 cosa DA FIRM Do 8 DeTOSTO, A FUTURA mata Maa I 1600 Peau sia anes ‘ts, Dos retro sane 0 cana Ch & Baka some Morte ne Joins Loext ‘MARA I, pintara de Caspar Ntsoher, 1677-1608 26 MENTE, CEREBRO & FILOSOFIA DADOS DE SENSAGAO F Facil esquecer, 20 lesmos esse cele bre texto, io vibrante € to claro, que rele se trata de uma mera suposirdo de algo que se toma como ponte de partida como hip6tese alternativa a uma otra, que se mostrou contraditéria € intl para-a flosofia, A analogia entre a mente e uma tela em branco, entre & fantasia € um lipis ou pincel, ene 0 conhecimento e © desenivo, tudo isso di a entender que 2s nossis iets, material a partir do qual se elabor 0 rosso conhecimento, se formam um processo continuo, num cieuito que se estabelece naturalmente entre a mente hhumana © os objetos que e aafetam. Nio have precedéncia da mente ein relagao aos objetos, nem destes em relagdo a mente: a cireuito da afecgto seria em si mesmo 3 ocasido em que os nossos poderes intelectuais se configuram, como atua- lizagées de uma potencialidade = 0 préprio entender. Na concepcao empirista de Locke, formamos nossas idéias com base nos dados de sensagao e de reflexao, mas convém lembrar que eles préprios também sao idéias “Nossa observagio, seja de objetos sensiveise externos,seja das operagtes invernas de nossa mente, percebidas refletidas por nis, dio a0 nosso enten- imento toda a matéria do pensamento, Sensa¢io ¢ reflexio sio as duas fontes 40 conhecimento das quais fluem todas as idéias que naturalmente temos ¢ poxlemas ter” (Bnsaio, idem) Dados de sensacdo e dados de reflexdo respon- CGURMERME DE Orange, dria Key. 1879 «lem por toda a matéria de nosso pens ‘mento; € com base neles que formamas idéias. Mas € importante no esquecer que eles préprios também sio idéias A palavra idea nao se refere, poranto, a algum ente de natureza intelectual, as apenas € tlo-somente aos dados de percepeio em geral, que sd0 todos sempre dados de sensagio, visto que mesmo a reflexdo € uma sensagio que mos dentro de nbs mesmos, de nossas ‘peragdes intelecwuais [Na ordem das coisas, sugere Locke, as ideas de sensagio.vém primeiro € so as mais elementares. As linhas eras dessa natrativa sto bem simples. A primeira coisa que a mente adquire slo idéias de sensacio, e a origem das idéias coincide inteiramente com as primeras afeccoes dos sentidos: “Uma impressio ou movimento numa parte qualquer do corpo produ no entendi- mento uma percepgao. E a partir dessas impresses que a mente se dedica a foperagdes tals como percepcio, lem- brangi, consideragao, raciocinio te. Ensaio, Livro Ul, cap, 1) Essas opera- Ges dio origem a idéias de reflexdo, advindas da consideragio pela mente de suas proiprias operagbes © mesmo criério de divisto das idias quanto @ sua origem se aplica 4 sun divisto: elas podem ser simples ‘ou complexas. Sem diivida, reconhece 6 flésofo, as qualidades se enconiram lunidas © misturadas nas coisas em que las exisem. Ocomre que a narureza de nossa sensagao € tal que elas entram na AMSTERDA /Rnsdseun,AATEROR wre mentececebva. combi mente separadas, cada um de nossos sentidos sendo responsivel pela aquisi fo de uma qualidade respectiva ~ tao, paladir, olfato, audigio € visio, Temos assim que 0 conhecimento de um objeto € a sua reconstiuigo na mente a partic de idéias simples que entrar pelos sen- tidos, process passivo por definiao. Mas nto € 56 dos sentides que temos {dias simples. Operacées da mente, tis como percepsto, retengio, dis cemimento, comparagio, com- posigio, nomeacio e abstraglo também sto iceias simples, tos intelectuais que se distinguem uns dos outros na prépria sen- sagio que temas deles. & a _ partir desses ats simples e ie- dutveis que se formam todas as rnossas idéias mais complexas, Ensaio, Livro Il, cap. 2) ‘Vemos assim que @ contra- parte da recuse de existéncia de idéias inatas esté na air magio de potencialidades da mente que se efetivam na aqui- siglo de idéias por sensacio ou por reflexio. “A principal caps cidade do intelecto humana estén precisposiglo da mente externas que tocam os sentidos e pelas suas proprias operagdes, quando rel te sobre elas. Este & o primeira passo do homem rumo a descobera do que Auer que seja, «a fundagio sobre a qual serio construidas todas as nogies que ele porventura adquira neste munclo,” Gnsaio, idem) Essa mesma constataglo, demarca- ‘0 univoca de um limite do. conheci part receber as. impressées rela realizadss pelos objetos ‘TELA EM BRANCO com caveete imbolo da mente vatie, Aopelspreenchida com gades da expriéncla Cs aoa ana ts a mento, assinala ao mesmo tempo uma abemura inesperada & promissora. Pols la nas permite supor, 2 partir de nossa finitude, a existéncia de seres com um Aparato sensGrio mais complexo e mais perfeito que 0 nosso, supesigio que engendra logicamente, por analogia aquela da exiténcit de um ser cujo intelecto € to perfeto que dispense a informagio de todo € qualquer sentido, E aqui que © empirismo de Locke nos conduz, talvez. para- doxalmente, a uma metaisica "Os pensamentos mais. subl- mes, que rasgam as nuvens chegam até as esferas celestias, se fundam na experitacia: em suas mais remotas especulages, 4 mente no se afasta um palmo {que seja das iddias que os sen- tidos € a reflexio lhe oferecem para contempla.” (Ensaio, Livn 1, cap. 2, § 2: metafsics, apers natureza de 0 apontar para as suas bases na experié somos supor e smo conhe os nos ili Lock VEREDICTO DA EXPERIENCIA. © problema que Locke vé na filosofia mio 6, ponanio, que ela se lance para além da experiéncia, mas que ignore que toda e qualquer especulacio parte de diferentes combinagies de idéias de cexperiéncia, Se tomarmos, por exemplo, (os modos simples de idéias complexas tais como epaco, duragdo, exiensio © ‘quantidade os comibinarmos de deter mminada maneira, obteremos a idéia com- plexa de infinito, que parece se refer a algo que se encontra além dos limites de toda experiencia, (Ensaio, Livro T, cap. 17) Locke mostra que € possivel encontrar na mente uum proceder simir a respeito de muitas outras ideas caras a metafisica. (Que'se tome, por exemplo, a idéia de sabstancia, Sabe-se da importincia dessa nogio para a metafsica, Entende-se por substincia das coisas 0 que € nels inal- terivel; mais precisamente, substincia re ce revonstruida ere 28 MENTE, CEREBRO & FILOSOFIA Locke afirma que as suposigdes de qualquer seita nao tém a forga da experiéncia recorrente, que obriga 0 filésofo a aceitar as conclusdes de sua propria andlise 6 aquilo que existe por si mesmo, que niio precisa de mais nada para exist, ‘diferentemente dos atibutos ov qualida- des, que se referem em sua existéncia 8 substincla, como supare. Locke mantém essa significaglo da pulavra que, segun- do entende, & mals ou menos invarvel desde os escolisticos até Descartes. Mas alera que, com a palavra substncia, 00 designames qualquer coisa que poss ser conbecia por via sensivel ot intelectual ‘Tratase tlo-somente de uma maneira de falar, visto que € impossivel conceber de maneira cara € distin- ta, no escapo de nos- sas idlas, algo como ‘uma substanci. O erro dos metatbicos, nesse caso, € tomar as pala vis por coisas: porque Jfalamos em subsiéncia passimas a crer que conhecerfamos algo assim. Nio sem um toque de humor, Locke prefere se referir a esse substraro inteligivel das qualidades —sensiveis das cosas como um fe ne sais quot, umn rio sei qué, um sabese ld 0 qué. CEnsaio, Livro I, cap, 2) E daro que o fato de nfo conhecermos ‘uma realidade como e858 nl. nos autoriza a negar a exitércia de substincias. Mas, como 6 discuts0 dos homens ignora essa nuance, € preciso regular a sige rificagio da palavra, € reconhecer que a pre- tensa imutabilidade que Cts Pe oretr rey ona rans rag pecan Te an {quetemos encontrar nes coisas nada mais € que 0 taco comum que discernimos fem muitas coisas diferentes € que nos permite cassifici-las ou agrupélas umas com us ouiras. Os nomes que damos 4s subsincias sio nomes de formas sustanciais, € quando nos referimes & *esséncia" de uma coisa tudo 0 que dize- mos é que ela tem algo em comum com 3 outras coisas da classe & qual, por forex obra do entendimento, els pertence. (Ensato, Livro 1, cap. 6) De modo semelhante, diz-se que 0 pensamento & um atributo da alma ou do expirito. O coroliro dessa concepeto inevitivel: a todo instante, por mais que nao tenhamos consciéncia disso, 0 nosso espifito pensa. Ora, diz Locke, s6 temos idéias daquilo que sentimos, seia © pela sensagio, afeccao de coisas fora de nds, seia pela reflexio, o sentimento de algo que nos afeta dentro de nés. Por que, entdo, sustertar que 0 pen- sumento seria um atributo do espitito, quando a evidéncia dos sentidos 0s mostra que muitas vezes simplesmente nido pensames? & 0 caso do homem que dorme, acorda € nio se lembra de ter sonhaco enguanto dormia. Deverfarnos questioné-lo quanto a isso, se vemos que 0 mesino pode nos acontecer? O angumento de Locke parece ingémuo, mas € pertinente: "Podemos nos per- ‘guntar se dormir sem sonhar € ou no luma after do homem, pois & dificil cconceber algo que pens mas no tem consciéncia de pensar. Se a alma de tum bomem que dorme pensa, mesmo ‘que ele no tenha consciéncia de que ele proprio pensa, entao eu pergunto: durante esse pensar, seniia ele prazer ‘ou dor, conheceria a flicidade ou a des- ‘raga? (Ensaio, Livro ll, cap. 1) Em suma, 0 pensamento como uma cafecgao to esprto, Vemos aqui que a cexperincia tem precedéacia diante de toda e qualquer doutrna fllassfica. "N20 adianta definir 2 alma como substincia que sempre pensa, Se essa dlefinigio tem autondade, se ela serve para alguma coisa, & para levar os homens & suspei- te de que nao teriam algo como uma alma, pois constatam que passam uma REFERENCIA PARA AS LUZES ‘As consideragies de Locke no vista com suspeltas,e seria 0 itil encontrar um seguidor ensaias sobre oentendimento Ensaio sobre o entendimento ‘human, acerca da origem ‘eformagao das dias, fizsram dele um ponto de rferéncia do Século ‘das Luzes.Admiram-s0 especialmente o espirito lire dessa obra instigante, a coragem do autor que, ‘ecusa o porto seguro da ‘radiqdo metatisica e se = arrisca nas mais ousadas = contradigdes, A doutrina & ‘ws seatecerebro. com. be ‘strito de Locke, quando ‘humano, de Leibniz, ‘le proprio parece vacilar® _publicados postumamente em recuar dante das implicagdes 1765, que oforecem em suas tmais fortes, Maso elogio de pdginas, redigidas na forma ‘ua empretada, qu ira 0s do um dslogoimaginaro, um ‘homens do peso da traigio, _comentirioeiticorigoroso ‘émiltiploe mulltacetado, do Ensaio sobre o Encontramo-lonas Cartas _entendimento humano, fileséficas de Voltaire (ates Alomber, nos Novos. TRAJE MEDICO para vista vias da praga (rama) Fol wsado em 1665 naigltera boa parte da vida sem pensar. Eu no conhego nenhuma definiga0, nenhuma suposigdo de qualquer seita, que tenha forea suficiente para desmentic a expe- riéncia recorente, © & provivel que a afetagao de conhecer para além de nos: sis percepgtes seja @ Gnica responsivel por uma disputa tio fut, que provoca tanta balbirdia_no mundo.” (Ensaio, sto Tl, cap. 1) 0 fildsofo & constrangidle pela experiencia a aceitar as conelusoes de sua propria anilse, a abragar a dou: twina que resulte do escrutinio do enten- dimento, Recusar-se a aceitar 0 veredicto dda experigncia & sinal de indisposigao rmabintencionads, e de alguém assim 86 poderemos esperar a manipulcto de termos © palavras que obscurece 0 discurso filosfico, @ “Cartas inglesas”), no Tratado 0 FILOSOFD alamo Le das sensapdes de Condi, ia al a Enlelona de Diderot caren 2 PENSADORSS DA ALMA E DAS PAIXOES 29 Anatomia da mente A medicin 4 oterece ¢ 1 Loc Ke 0 método para 0 estt io do psiquismo Locke investiga 0 entendimento, que eleva os homens acima dos animais A FILOSOFLA DA MODERNDADE, inaugurada no século XVI, distingue-se entre outras coisas, pela importancia que atribui A questo do método. © exemplo mais famoso Descartes, que nao por acaso escolhe, para anunciar 0 novo modo de pensar que € a sua filosofia, uma obra inti tulada Discurso do método. Desde o inicio, ouve-se nesse texto uma vor que recomenda cautela: contra os preconceitos, as aparéncias do mundo sensivel, as fantasias da imaginagao. Descartes reconhece 0 bom senso” dos homens, s6 nio confia que seja suficiente para 0 conhecimento correto das coisas a que aspira a filosoia, Os homens im bem, mas sao inconstantes, seres dotados cle paixdo e de ima- ginago. Ele encontra na matemtica, ciéncia puramente racional, um modelo de rigor e clareza que Ihe permitiri edificar uma filosofia em novas bases, mais s6lidas e duradouras, a partir das quais © conhec! mento clo mundo poderi ser construido com uma firmeza inéclita PAUL CEZANNE, Auto-rotato com ‘ale, e. 1890. Para Leck, © ‘niondimento precisa sor posto ‘ante desi mesmo pare se tornar © ‘objeto de seu estado A ilosfiadescobre assim, com Descartes «Hobbes, Espinosa e Leibniz, que o seu Proprio saber, se quiser se deservedar inticads trama escostic, deve se mir ciéncias que, is como a geomet 2 lgebra, mostram o poder € a retiio da razao sem o fario de um palavreado 2 obscure sem objetvidade, Assim, 2 flosofa & concebida por = Descartes como um exerico de relexto uo objetivo & determinar a manera e 0 limite do conhecimento humano, deter- ‘mina prévia a0 conhecimento dis coi as, Aida € que ea se tore mais enxu- tt quanto aos princpios pars que possa E dar conta dos mais complexos conheci- © menos: “Esas longas cadeias de ates, 3 todas simples e ficeis, de que os geome ms costumam servinse para cegar as is lfcets demonsragdes, haviam, ‘ocasito de imaginar que todas a coisas pusivels Ue cir sb 0 conbe~ mento dos bomens seguemse unas is outa da mesmut mareiea. (Discurso do método, 2 pate) Em ver de nos debate. mos acerca das questdes mais abstrusas Gee inintcligiveis, nos espelharemos nos 5 matemieeos e partemos das unidades 32 MENTE, CEREBRO & FILOSOFIA ras elementares que constituem 0 saber, para ento decuzi, numa cadeia rigoro- sa, cada uma chs eapas mais complexas ue se desdobram a partie delas, E assim, se a flosofiacartesiana se express, pelo menos em parte, no vocabnulétio da fo sofia medieval, sua novidide decor de uma atiude mais sobri, cena de poder ‘encontrar na razlo 0 sulfcente para 0 conhecimento das coisas. © caso de Descanes € tpico ca imxlemidad, quando 0 méfodo se tora © ponto central de qualquer sistema filosfico. f evidente que toda flsofia, desc os gregos, sempre fol pautada por uum métcuo. Ocore que agora ele prece- dle a apresentaco do sistema, ov entio se impoe a este de tal maneira que nilo nos deixa esquecer, quando acompan mos 08 raciocinios do fil6sofo, que as suas niais inusitades conclusdes se jus: tfleam pelas premissas mecodoligicas Nesse sentido, conhecer as coisas a pate da razto € esar preparado até mesmo prt negar a iniligbilidade do que nos ferecem os sentidos ou a iaginacio. UTILIDADE E PRAZER (© caso de John Locke no € diferente {Embora ele sej, em muitos aspectos, um Ihomem do século XVIII ~ em suas posi G0es politcase religiosas, princpalmente =, 4 sit filosofia tem profunds raizes no sGeulo XVIL. © rétulo de “empirita® Aplicado pelos manunis de flosofa pouco excarece a respeito de seu pensamenvo, pols emtbora Locke afr que 0 conlect mento depende de dados sensiveis, base de consiuiglo das ideas, ele comparilha ‘com as filosofias dt razio algumas des- conflangas em relaclo & imaginagio, contaminagio do discurso floscico pela ambigiidade das palavras, e concona ‘coma pmazia da nizio no jogo enire as faculdades de conhecimento. Mas talvez 0 principal vinculo com o século XVILseja 0 ‘pepo a0 método, 20 estabelecmenta de uma nova filosoia com base na adoglo cde um procedimento de anilise e sinese coriundo de um saber distinto da filosofa, Se m0$ racionalitas mais cxtodoxos © modelo € a matematca, no caso de locke, 4 cigncia padiio & a medicina, ‘uma escolha que dé a ste flosofa. um perfil orginal ¢ marcadamente dst faquelas de seus prediecessores mais ime dliatos. A medicna, que é sobretudo uma arte, s¢ institu como ci8ncia a partir de procedimentos cle observacio e dagnést ‘o que permizem descrever com precisio feriimencs empiticos que sto, 2 primeira Viva, imedutvers eis constants OHIPOGRATES INGLES $e no exame de um amplo —_cravo e canela e foi eatmeae leque de enfermidades, ‘muito usado até o inicio ‘Thomas Sydenham (1624- ‘Sydenham publicou textos do século XIX. Por sua 1688) a principal inspiracéo sobre febres, doengas. contribuigdo, o mestre ‘do empirismo sistematizado venéreas, maléria, variola, de Locke fol chamado, ‘Por Locke no Ensaio sobre _artrite e histeria, entre ‘no século XVIII, @ de. o entendimento humana. outros males, e teve “Hipdcrates inglés", 0 método seguido pelo. ‘seu nome atribuido a modo, uma tentativa de -conhecida como coréia ‘determinar as doencas pela aguda, dan¢a-de-sdo-vito observacdo dos sintomas ‘ou coréia de Sydenham, ‘em seu encadeamento ‘Também tomou-se famoso ‘natural, tals como se Por seu ldudano (tintura de manifestam & experiéncia Gpio), que continha épio, -sensivel.. ‘vinho de cereja, agafrao, Essa postura Sasenel vente: "rus soi, FA 0 Ensaio sobre oentendimento buma- no, principal obra de Locke, € publicado em 1690 (0 texto definitive 6 0 da 48 ediglo, de 1704). 0 objetivo € invesigar © “enrendimento, que eleva os homens cima dos animais’, para determinat “a ‘origem, a certeza e a extensio do conhe- ‘cimento humano, bem como as bases © ‘grtus de erenga, opinido e assentimento’, Znsaio, Intsoducao) Locke exclui assim, de seu campo de pesquisa, 0 estuco da constiuigdo fisica da mente humana Sua obra milo € uma Fisiologia do enten- dimento, € no Ihe interessa discernir (8 supostos processos materiais pelos éias viriam a ser formadas, © objetivo do Ensaio & mais simples, “eon- siderar as facuades de discernimento do homem quando elas se ocupam dos ‘objetos que thes dizem respeito™. (dem) Esa restricio de escopo @ compensada pela “utiidacle e prazer* que advém de ‘uma tal investigagio, que quer “explicar (© modo palo qual adquire 0 entendi- mento as nogdes que temas das coisas de maneira a determinar ‘a medida © a certeza de nosso conhesimento”, bem ‘como julgar se t8m ou nao fundamento 1s diferentes opinibes dos homens sobre as coisas, (Ensaio, Introducao, § 02) Em suma, Locke conconta com Descartes: 0s homens julgim bem, a principio, perdem em discordincias ¢ disputas que podem ser evitadas pela adocio de um bom meétodo, quais as id APELO AO SENSO COMUM > fio condutor desse investigagio tB0 upkeamente modema & dado pelo que Locke chama de “méodo hiséico™ £ preciso compreender em que sentido esse método pode ser dito *isrica pols @ patente que ume investigigio da mente humana que queira esubelecer o: Principis elimtes do conhecimento com ‘intuit de evar 0s homens aun aeordo reciproco nto pode ter nada a ver com = mqullo que entendemos por metodo de nvestigacio fhkeérica, Vale lembrar que a higoria er, no tempo de Locke, atada como especie de um género mais ap = a ame de excrete, sem pretenses cien- = fics. O que signica eno falar, como = faz © fiésofo a propésito do estudo do entendimento, em mead bistirico? ww. amentecerebro.com.b Locke pede ao leitor que examine a propria mente para verificar averdade do que é afirmado no Ensaio Locke mio explica 0 que seria esse ‘método, apenas informa o leitor de que tal 60 métodlo da obra, Essa cecunstancia aparentemente desoladora - Descartes respeita seu Ietor, ¢ no se furta 8 tarefa de explicar a procedéncia ¢ o cariter de seu métoco ~ pode ser explicada como algo mais que uma fata de estilo. © le'- tor ao qual Locke se dirige (o homem de lewas, estucioso mas no necessariamen- te proficiente) nao apenas sabe a que ele se refere com a expressio “método his- ‘6rico", como ainda poderd reconhecer a aplicaglo de tum tal método no decorrer dda obta, pela pripria maneira como esta se organiza e se dlispoe dante dos seus olhas, Esse spelo 20 senso comum do leitor & um dos atrativos do Ensaio, que freqiientemente se abstém de demons: liar esta ou aquela “verdade* e pede ao leitor que examine a propria mente “para verse mo € mesmo assim’, Se essa gia desincumbe Locke de resolver alguns pontos mais duos, els diz algo de sua propria flosofi, que prefere nao arapassar centos lites de especulacdo a amtiscarse nas regibes mais etéreas a Carn) Poros rooney pany Prrrtts

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