Download as pdf
Download as pdf
You are on page 1of 18
INTRODUCAO A ENGENHARIA AMBIENTAL 24 edigdo Benedito Braga Wvanildo Hespanhol Joao G. Lotufo Conejo José Carlos Mierzwa Mario Thadeu L. de Barros Milton Spencer Monica Porto: Nelson Nucci Neusa Juliano Sérgio Eiger Escola Politécnica da Universidade de Sao Paulo Departamento de Engenharia Hidraulica e Sanitaria Tate ore Hall Sao Paulo Brasil Argentina Coldmbia Costa Rica Chile Espanka Guatemala México Peru Porto Rico Venezuela A crise ambiental ‘cando-se a cem mil quilémetros por hora pelo espaco sideral, sem possibilidade de parada para reabastecimento, mas dispanda de usm eficiente sistema de aproveta- mento de energia solar ¢ de reciclagem de matéria. Ha atualmente, na astronave, ar, gua e comida suficientes para manter seus passageiros. Tendo em vista 0 progressivo aumento do nimero desses passageiros, em forma exponencial, € a auséncia de portos para reabastecimento, podem-se vislumbrar, em médio e longo prazos, problemas sé- rios para a mantutengao de sua populagao. Pela segunda lei da termodinamica, 0 uso da energia implica degradagao de sua qualidade. Como conseqiiéncia da lei da conservacao da massa, 0s residuos energé- ticos (principalmente na forma de calor), somados aos residuos de matéria, alteram a qualidade do meio ambiente no interior dessa astronave. A tendéncia natural de qual- {quer sisterna, como um todo, @ de aumento de sua entropia (grau de desordem). Assim, 05 passageiros,ulilizando-se da inesgotavel energia solar, processam, por meio de sua tecnologia e de seu metabolismo, 05 recursos naturais finitos — gerando, inexoravel- mente, algum tipo de poluica0, Do equilfbrio entre esses trés elementos — populacao, recuts0s naturais e polui¢do (Figura 1.1) — dependeré o nivel de qualidade de vida no planeta. Os aspectos mais relevantes de cada vértce do triangulo formado por esses clementos e suas interligagdes sao analisados nos itens subseqitentes, Oise Miller (1985), nosso planeta pode ser comparado a uma astronave, deslo- FIGURA 1.1 PoPuLACAO Relagdo entre ‘5 principais componentes da Crise Ambiental = RECURSOS NATURAIS — POLUICAO. _ LL | Populagéa ‘A populagao mundial cresceu de 2,5 bilhdes em 1950 para 6,2 bilhdes no ano 2002 (U.S. Census Bureau, 2004a) e, atualmente, a taxa de crescimento se aproxima de 1,13% ao ano. De acordo com a analogia da astronave, isso significa que, nos dias de hoje, ela transporta 6,2 bilhes de passageiros e, a cada ano, outros 74 milhdes de passageiros nela embarcam. Esses passageiros estio divididos em 227 ‘ages nos cinco continentes, poucas das quais pertencem aos chamados paises desenvolvidos, com 19% da populagao total, As demais so os chamados paises em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, com 105 restantes 81% da populaco. Novamente usando a analogia com a astronave, & como se os habitantes dos paises desenvalvidos fossem passageiros de primeira classe, enquanto os demais viajam no porao, Em decorréncia das altas taxas de crescimento populacional que hoje somente ocorrem nos paises menos desenvolvidos, essa situacao de desequilibrio tende a se agravar ainda mais: em 1950, 0s paises desen- ‘volvidos tinham 31,5% da populacao mundial; em 2002, apenas 19,3%; e, em 2050, terdo 13,7% (U.S. Census Bureau, 2004a). ‘Uma das constatacdes mais importantes na questo demografica 6 que jé ultrapassamos 0 ponto de inflexdo da curva de crescimento exponenicial (curva ‘Y) da populagao (Figura 1.2). FIGURAT sinoes . . th peooes ERR 6 FE URRARRRARARAR 15 MARAT 1 Y 3 o Poy a 3 ihe 5 ° # 6 5 Revolugdo Industrial 4 3 pest Noore : 1 Tanne woo a0 20 2708 .— Um casal que tenha cinco filhos, 0s quais, por sua vez, tenham cinco filhos cada um, representa, a pattir de duas pessoas, uma populacdo familiar de 25 pessoas em duas geracies. Esse fendmeno vem ‘ocorendo mundialmente desde meados do século XIX, com a Revoluucao Industrial. A partir dessa revolu- ($40, a tecnologia proporcionou uma reducao da taxa bruta de mortalidade, responsavel pelo aumento da taxa de crescimento populacional anual, apesar de a taxa de natalidade estar se reduzindo desde aquela Epoca até os dias atuais taxa mundial bruta de natalidade € hoje de 352.268 habitantes por dia, enquanto a taxa bruta de mortalidade é de 150.677 habitantes por dia. Portanto, a taxa bruta de natalidade € 2,3 vezes maior que a taxa bruta de mortalidade. O aumento de populacao é dado pela diferenga entre 05 dois valores — 0 ‘que, nos dias de hoje, significa um aumento anual de cerca de 1,2%. Apesar de os dois valores serem aparentemente pequenos, implicam valores absolutos aproximados um tanto alarmantes: 202 mil novos passageitos por dia, 1,4 milhao por semana ou 74 milhdes por ano. Com essa taxa de crescimento, seria necessario somente um dia para repor 05 200 mil mortos do maremato de 1970, no Paquistéo, quatro \ Coit = Aerveanbienat’— [3 dias para repor os 900 mil mortos da grande cheia de 1987 no Rio Huang, na China, e pouco mais de 12. meses para repor os 75 milhdes de mortos vitimas da peste bubdnica que assolou a Europa entre 1347 61351 Dentro dessa perspectiva de cfescimento, cabe questionar até quando 08 recursos naturais serio suficientes para sustentar os passageiros da astronave Terra. Existem autores, como Lappe ¢ Collins (1977), ue contestam a tese de insuficiéncia de recursos naturais e responsabilizam a ma distribui¢do da renda e a ma orientagao da producao agricola pela fore no mundo hoje. Na Tabela 1.1, podemos obsetvar a densidade demografica de paises selecionados. Notamos que alguns pafses, como Japao € Bangladesh, apresentam taxas de Ocupagse do solo muito elevadas. Obser- vando também a coluna de taxa de ctescimento anual da populacao, podemos concluir que a situagao em Bangladesh tende a se tornar mais critica, em fun¢ao de sua ainda alta taxa de crescimento anual (2, 1%). © Brasit ocupa a quinta colocagao no ranking com cerca de 2,9% da populac3o mundial, totalizando 180 mithdes de habitantes (Tabela 1.1). Com uma ocupagao territorial de 21 habitantes por quilémetro quadrado e uma taxa de crescimento populacional declinante (1,2% no ano de 2002), 10380 pais tertde {uma situagao de menor complexidade em termos populacionais em rela¢do ao que se previa no inicio da década de 1980. Entretanto, devemos ter em mente que, mesmo que o problema da fome no mundo hoje possa ser atribuido a irteresses politicos e econdmicos dos paises desenvolvidos, e nao a uma super- populacao, em longo prazo teremos de encontrar um modo consensual de teduzir a taxa de crescimento populacional. TABELA 1.1 Paises mais populosos: populagao, densidade demogréfica e taxa de crescimento anual (U.S, Census Bureau, 20046). Pais Populacio Densidade demogratica Taxa de {milhdes) (2002) (2002) (hab./km2) Crescimento anual (%) 127.066 12 | Recursos naturais Recurs0 natural é qualquer insumo de que os organismos, as populagées € os ecossistemas necessi- tain para sua manulengio. Portanto, recurso natural é algo atl. Existe um envolvimento entre recursos na- turaise tecnologia, uma vez que hd a necessidade da existéncia de processos tecnolégicos para utilizagao de um recurso. Exemplo tipico € 0 magnésio, que até pouco tempo nao era um recurso natural e passou a sé-lo quando se descobrit como utilizé-lo na confec¢ao de ligas metilicas para avides. Recursos naturais ‘€ economia interagem de modo bastante evidente, uma vez que algo € recurso na medida em que sua ex- Ploracio ¢ economicamente vel, Exemplo dessa stuacdo €0 Slcool, que, ates da cise do petrol de | tng a engetaria ambient 1973, apresentava custos de producdo extremamente elevados ante os custos de explorago de petréleo, Hoje, no Brasil, apesar da diminuicao do Proslcool, o Alcool ainda pode ser considerado um imporianie combustivel para automéveis ¢ um recurso natural estratégico e de alta significadncia, por causa de possibilidade de renovacao e conseqiiente disponibilidade. Sua utilizagao efetiva depende de analisi politicas e econdmicas que poderdo ser revistas sempre que necessario, inalmente, algo se torna recurso natural caso sua exploracao, processamento e ulilizagao nae causem danos a0 meio ambiente, Assim, na definigao de recurso natural, encontramos trés topicos rela- ccionados: tecnologia, economia meio ambiente. O fato de nao se ter levado em conta 0 meio ambiente nas tiltimas décadas gerou aberracdes, como (0 uso de elementos extremiamente t6xicos como recursos naturals. Como exemplo, podemos citar 0 chum bo e 0 merctirio que, dependendo das concentracées utilizadas, podem causar a morte de seres humanos 05 clorofluorcarbonos, que até recentemente vinham sendo utilizados em diferentes processos industia's, ‘como em compressores de relrigeradores © como propelentes de liquides, estdo sendo substituldos por ‘outros gases diante das incertezas ligadas & eventual destruicao da camada de oz6nio. ( recursos naturais podem ser classificados em dois grandes grupos: os renevaveis e os nao-reno- vdveis (Figura 1.3). Os recursos renovaveis sdo aqueles que, depois de serem utilizados, ficam disponiveis novamente gra¢as a0s ciclos naturais. A égua, em seu ciclo hidroldgico, um exemplo de recurso renovs- vel. Além da agua, podemos citar como recursos renovaveis a biomassa, 0 ar e a energia eélica. Come © proprio nome diz, um recurso ndo-renovavel é aquele que, uma vez utilizado, nao pode ser reaproveitado, Um exemplo caracteristico € o combustivel fossil que, depois de ser utilizado para mover um automével, esté perdido para sempre. Dentro dos recursos nao-renovaveis é possivel, ainda, identificar duas classes: a dos minerais nao-energéticos (f6sforo, calcio etc.) e a dos minerals energéticos (combustiveis fésseis e Urdnio). Os recursos naturais dessa tiltima classe sao, efetivamente, nao-renovavels, enquanto os recursos dda primeira classe padem se renovar, mas apés um periodo de tempo tal que nao serdo relevantes para a existéncia humana. Na Figura 1.3 apresentamos os principais tipos de recursos naturais. 3 FIGURA1.3 2 # Classificagao F S) dos recursos naturais, ecurG08 tga] [maca - — Ha situagdes nas quais um recurso renovavel passa a ser ndo-renovavel. Essa condicao ocorre quando a taxa de utilizagao supera a maxima capacidade de sustentacao do sistema, Hardin (1968), no hist6rico The tragedy of the commons, ilusira essa situagao. Um campo de pastagem comum (The com- mons) é utilizado coletivamente por alguns fazendeiros. O capim, evidentemente, é um recurso renovavel (biomassa). Entretanto, 05 fazendeiros, visando ao aumento de seus lucros imediatos, colocam 0 némer maximo de cabecas de gado nesse pasto, uma vez que o campo € comum a todos. O resultado dessa ati- tude é a deplecio de um recurso, que era renovavel, até niveis que inviabilizam a sua renovacao. i 13 | Poluigio Completando o terceiro vértice do triangulo da Figura 1.1, como resultado da utilizagao dos recur- sos naturais pela populagao surge a polui¢ao. A polui¢ao € uma altera¢ao indesejavel nas caracteristicas fisicas, quimicas ou biol6gicas da atmosfera, ltosfera ou hidrosfera que cause ob possa cauisar prejuza A satide, a sobrevivencia ou as atividades dos seres humanos e outras espécies ou ainda deteriorar materials. ara fins praticos, em especial do ponto de vista legal de controle da polui¢ao, acrescentamos que 0 con- ceito de polui¢ao deve ser associado as alteragdes indese}avels provocadas pelas atividades ¢ intervenes humanas no ambiente. Desse modo, uma erupcao vulcanica, apesar de poder ser considetada uma fonte poluidora, € um fendmeno natural nao provocado pelo homem e que foge a seu controle, assim como Cuttos fendmenos naturals, como incéndios florestas, grandes secas ou inundacoes. Poluentes sio residuos gerados pelas atividades humanas, causando um impacto ambiental negati- ‘vo, ou seja, uma alteragao indesejavel. Dessa maneira, a poluigdo esta ligada & concentiac3o, ou quanti- dade, de residuos presentes no af, na Sg au na solo. Para que se possa exercer o controle da poluigJo de acordo com a legislacao ambiental, definem-se padres e indicadores de qualidade do ar (conceniragées de CO, NOs, SOx Pb etc.}, da Agua (concentragao de Os fendis e Hg, pH, temperatura etc.) € do solo (taxa de erosao etc.) que Se deseja respeitar em um determinado ambiente. ‘Quanto a origem dos residuos, as fontes poluidoras podem ser classificadas em pontuais ot loca- lizadas (langamento de esgoto doméstico ou industrial, efluentes gasosos industrais, aterro sanitario de \ixo urbano etc.) e difsas ou dispersas (agrot6xicos aplicados na agricultura e dispersos no ar, catregados ppelas chuvas para 0s rios ou para o lencol freatico, gases expetidos do escapamenta de velculos atitomo- totes etc.). As fontes pontuais podem ser identificadas e controladas mais factlmente que as difusas, cujo controle eficiente ainda é um desafio. 5 efeitos da poluigdo podem ter caréter focalizado, regional ou. glabal. Os mais conhecidos perceptiveis sao 05 efeitos locais ou regionais, o$ quais, em geral, ocotrem em areas de grande densidade populacional ou atividade industrial, correspondendo as aglomeracbes urbanas em todo o planeta, que floresceram com a Revotugo industrial. Nessas dreas ha problemas de poluigdo do ar, Agua e solo. Esses efeitos espalham-se e podem ser sentidos em areas vizinhas, as vezes relativamente distantes, sendo objeto de conflitos intermunicipais (disputa pelo mesmo manancial para abastecimento urbano), interestaduais, {poluigio das aguas por municipios e indastrias de um estado, a montante de captagbes municipais e industrials de estado vizinho a jusante) e intemacionais (chuva Acida na Suécia e Noruega oriunda da poluigao do ar na Gra-Bretanha e Europa Ocidental), ‘Os efeitos globais detectados mais recentemente, como o efeito estufa ¢ a redugdo da camada de oz0nio, ainda nao sao bem conhecidos, mas podem trazer conseqdencias gue afetarka 0 clima € 0 equi- librio global do planeta. £ importante um esforco conjunto e sem precedentes para que se possa conhecer esses efeitos e controlé-los de modo eficaz. Os efeitos globais tém contribuido bastante para a sensibi- lizagao recente da sociedade sobre quesides ambientals, merecenda destaque na midia e na agenda de politicos e grupos ambientalistas em todo o planeta. Isso talvez possa ser explicado pela incerteza que 05 humanos passafam a experimentar em relag0 a propria sobrevivéncia da espécie e pela constatacao de sua incapacidade de entender e controlar os processos ¢ as transformacdes ambientais decorrentes de suas atividades. Aié recentemente, acreditava-se que a inteligéncia e a tecnologia resolveriam qualquer proble- 'ma e que nao havia limites para 0 desenvolvimento da espécie e para a utilizacao de matéria e energia na busca de conforto e qualidade de vida. 6 | tata engentaria ambit 2 ie Leis da conservacéio da massa e da energia T= € qualquer fendmeno que acontece na natureza necessita de energla para ocorrer. A vida, como a conhecemos, requer basicamente matéria e energia. Esses dois conceitos so fundamentals no tratamento da inaioria das questoes ambien- tais. © conceito de matéria é absolutamente simples: matéria € algo que ocupa lugar no espaco. J4 0 conceito de energia é um pouce mais complicado: energia é a capacidade de realizagSo de trabalho. Nesse sentido, quanto maior for a capacidade de realizar trabalho, melhor seré a qualidade da energia associada. Um fitro de gasolina tem alta qualidade energética, enquanto 0 calor, a baixas temperaturas, possui energia de baixa qualidade. Em qualquer sistema natural, matéria e energia S30 conservadas, ou seja, nao se ‘ria nero se destroem matéria nem energia. Duas leis da fisica explicam esse compor- tamento: a lei da conservacio da massa e a lei da conservacao da energia ou primeira lei da termodinamica. Ao mesino tempo, a segunda lei da termodinamica explica que a qualidade da energia sempre se degrada de maneiras mais nobres (maior qualidade) para maneiras menos nobres (menor qualidade). sas leis da fsica, conhecidas desde longa data, estao atualmente sendo utiliza das para 0 entendimento dos sistemas ambientais. A seguir, descrevemos em detalhes, as referidas leis e suas implicacbes na conservacae do meio ambiente. De acordo cam essa lei, em qualquer sistema, fisico ou quimico, nunca se cria nem se elimina maté- ria, apenas 6 possivel transforma-ta de uma forma em outra. Portanto, nao se pode criar algo do nada nem transformar algo em nada. Logo, tudo que existe provém de matéria preexistente, s6 que em outra forma, assim como tudo o que se consome apenas perde a forma original, passando a adotar uma outra. Tudo se realiza com a matéria que é proveniente do proprio planeta, apenas havendo a retirada de material do solo, do ar ou da agua, 0 transporte e a utilizacdo desse material para a elaboragao do insumo desejado, sua utilizagao pela populagao e, por fim, a disposicao, na Terra, em outra forma, podendo muitas vezes ser reutilizado. ‘A lei da conservagao da massa explica também um dos grandes problemas com 0 qual nos de- frontamos atualmente: a poluigao ambiental, compreendendo gua, solo e ar. O fato de nao ser possivel Consumir a matéria até sua aniquilagao implica a geracao de residuos em todas as atividades das seres Vivos, residuos esses indesejaveis a quem os eliminou, mas que podem ser reincorporados ao meio, para serem posteriormente reutilizados. Esse processo denomina-se reciclagein e ocorre na natureza por meio dos ciclos biogeoquimicos, nos quais interagem mecanismos biogeoquimicos que tornam os residuos aproveitaveis em outta forma, Quando nao existe umequilibrio entre consumo e reciclagem, podem advir Cconseqjiéncias desastiosas aa meio ambiente, tais como eutrofizacao dos lagos, contaminagao dos solos por pesticidas e fertilizantes etc, ‘Atualmente, 0 mundo vive em plena era do desequilibrio, uma vez que os resitas s30 gerados em ritmo muito maior que a capacidade de reciclagem do meio. A Revoluc3o Industrial do século XIX intro- duziu novos padBes de geracdo de residuos, que surgem em quantidades excessivamente maiores que a capacidade de absorcdo da natureza € de maneira tal que ela nao é capaz de absorver e reciclar (materiais sintéticos nao-biodegradaveis) Capinlo2 — Lewrdaconservngaodamassecdacrenia | 7 2.2 | Primeira lei da termodindmica Esta lei apresenta um enunciado andlogo a lei da conservagao da massa, 56 que referente a energia De acordo com essa lei, a energia pode se transformar de uma forma em outra, mas no pode ser criada ‘ou destrulda. As diversas formas de energia podem ser enquadradas genericamente em energia cinética € potencial. Energia cinética é a energia que a matéria adquire em decorréncia de sua mavimentagao e em fungao de sua massa e velocidade. A energia cinética total das moléculas de uma amostra de materia 6 denominadsa energia calacitica, Energia potencial € a energia armazenada na matéria em virtude de sua posigao ou composicdo. Assim, a energia armazenada nos comibustiveis fGsseis, nos alimentos etc. 6 clas- sificada como energia potencial. Na natureza ocorre constantemente a transformac3o de energia em formas diferentes. Essas trans- formagies induzem as pessoas menos atentas & idéia de que houve criacao ou destruigao de energia. Esse falso conceito advém da tendéncia intuitiva de se Considerar sempre partes do sistema, e 930 0 todo. AS- sim sendo, é possivel verificar que detetminada parte de um sistema sofreu varia¢ao ery sula energia total. Entretanto, as partes vizinhas também podem ter sofrido variagbes, de tal modo que o conjunto, formado por todas essas partes, pode nao ter apresentado variagio alguma, Por meio da primeira lei da termodinamica é possivel provar que as avaliacdes do potencial ener sético do planeta s8o, em geral, otimistas. Considerando-se pets6leo, gas natural, carvio € combustive naturais, nota-se que 0 potencial poder ser menor do que indicam as estimativas, uma vez que nao s€ leva em conta a energia necesséria para a explora¢ao, 0 transporte e a transformago desses materiais. O potencial & disposicao da humanidade deve, entdo, ser quantificado em termos de energia liquida, e no bruta, como em geral ¢ieito. ‘Aaplicacao mais importante da primeira lei da termodindmica esta relacionada & maneira como os seres vivos obtém sua energia para viver. Essa energia chega até eles por meio de diversas transformag&es. ‘A energia luminosa, incidente na superficie da Terra, é absorvida pelos vegetals fotossintetizantes, que a transformam em enetgia potencial, nas ligagdes quimicas de moléculas organicas complexas. No process respiratério, essas moléculas so quebradas em motéculas menores,liberando a energia que 6 utilizada ras fungdes vitais dos seres vivos. 23 | Segunda lei da termodindmica De acordio com essa lei, todo processo de transformagao de energia dé-se a partir de uma maneira rmals robe para uma menos nobre, ou de menor qualidade. Quanto mais trabalho se conseguir realizar ‘com uma mesma quantidade de energia, mais nolbre sera esse tipo de energia. Embora a quantidade de cenergia seja preservada (primeira lei da termodinamica), a qualidade nobreza) é sempre degradada. Toda transformacao de energia envolve sempre rendimentos inferiores a 100%, Sendo que uma parte da energia dispontvel transforma-se em uma forma mais dispersa e menos itil, em geral na forma de calor transferido para o ambiente. Uma conseqiiéncia da segunda lei da termodinamica & que todo corpo que possui uma forma ordenada necessita de energia de alta qualidade para manter sua entropia baixa. Como a tendéncia & 0 aumento de dispersdo da energia na forma de calor, destruindo a ordem inicial e levando a um estado ‘inal mais estével para se manter qualquer sistema organizado, 6 necessério o fornecimento continuo de cnergia. Também essa lei tem aplicacao importante na abtengao de energia pelos seres vivos. A energia radiante ¢ absorvida pelos vegetais fotossintetizantes e passa por uma série de transformacdes que afetam sua qualidade. Em cada transformacao, a energia til torna-se menor, advindo um aumento da entropia. ‘Assim sendo, 0s seres vives, Incapazes de sintetizar seu proprio alimento, tém a sua disposi¢ao uma quan- tidade total de energia bem inferior a disponivel aos seres capazes Ue al siatese. Nos seres vivos, a energ ppara a manutencao da organizacao individual é conseguida por meio da respiracao. 1 B | tans eager ambient Uma conseqiiéncia ambiental da segunda lei da termodinamica ¢ a tendéncia da globalizagao da poluigo. Se medidas nao forem toriadas no sentido de conter essa evolucdo natural da desordem, casos cde chuvas Acidas internacionais (dos Estados Unidos sobre o Canada, do Reino Unido sobre a Suécia etc por exemplo, tendetdo a ser mais frequentes. 24 | Conclusio As leis fisicas apresentadas sao fundamentais para o entendimento dos problemas ambientais. lei da conservacao da massa mostra que nunca estaremos livres de algum tipo de poluigao (residuos). Uma conseqiiéncia da segunda lei da termodinamica é o fato de ser impossivel obter energia de melhor qualidade do que aquela disponivel inicialmente, ou seja, nao existe a reciclagem completa da energia Lojo, a energia dispersada em qualquer transformacdo serd perdida para sempre, Outra conseqiiéncia 0 aumento da entropia, 0 que implica maior desordem nos sistemas locais, regionais e globais. De acordo com essas observagdes, se ndo forem tomadas medidas de controle ambientais eficientes, a previsdo é de que haveré um aumento da poluicao global. O fato de essas leis existirem, serem sempre aplicdveis e nao hraver como burlé-las traz uma série de problemas e enormes preocupacées 3 sociedadle industrial de hoje. Desprezando-se a problema da posstvel falta de energia, mesmo que exista uma alta taxa de reciclagem de matéria, se 0 crescimento industrial continuar a uma taxa incompativel, por mais que se recicle sempre haverd a necessidade de se obter mais matésia e sempre sobraré detrito nao-recicla- vel. Assim, explorando-se os recursos naturais de maneira inadequada, mais poluestes e energia de baixa qualidade serdo produzidos, resultando em excessivos problemas para a Terra. Um exemplo tipico desses problemas é uma possivel alteracdo do efeito estufa, em funcdo do au- mento da concentrag3o de diéxido de carbono (COs) na atmosfera. O consumo inadvertido e ripido de ccombustiveis f6sseis resulta em quantidades de CO2 que a natureza nao 6 capaz de absorver totalmente. ‘As quantidades de COs liberadas na atmosfera, embora pequenas em comparacio com a quantidade total em circulagao natural, levam a previsao de um aumento de 170% sobre essa quantidade de gas existente na natureza, quando todo o combustivel fossil na Terra tiver sido consumido (Odum, 1971), Portanto, o entendimento dessas leis basicas da fisica leva-nos a buscar um novo posicionamento ante as necessidades de desenvolvimento das sociedades. Percebe-se que ser necesséria uma ado exter- na para manter os sisternas em estado dle menor entropia. A conservacio do meio ambiente tem seu custo econémico € 0 compromisso adequate deve ter, como meta, o desenvolvimento sustentivel Cupido? — Leivdeconeragaodamassaedserersa’ | Bases do desenvolvimento sustentavel Jevaram a degradacao ambiental do planeta, gerando incertezas sobre as possibi- Jidades de sobrevivéncia e perpetuacao da espécie humana na Terra. © modelo de desenvolvimento escolhido pela sociedade humana até atingir seu atual estagio pode ser representado pela Figura 6.1. Como podemos observar, o modelo representa lm sistema aberto, que depende de um suprimento continuo e inesgotavel de matéria e cenergia que, depois de utilizadas, sao devolvidas ao meio ambiente (jogadas fora). Para que tal modelo possa ter sucesso de desenvolvimento, ou seja, para que os seres huma- ros garantam sua sobrevivéncia, as seguintes premissas teriam de ser verdadeicas: Asstt dos ens artnet agra ost com cates 8 os ue + suprimento inesgotavel de energia; + suprimento inesgotavel de matéria: © * capacidade infinita do meio de reciclar matéria e absorver residuos. SLFIGURAG.1 (O ENFOQUE LINEAR HUMANO- ENERGIA Processamento Uso de Recursos [+] — Modificacao [>| Transporte == f-#} Consumo Recursos I y Resfduoyimpacto, Residuo/lmpacto Residuoyimpacto Residuo/impacto Podemos admitir que 0 Uso de Recursos (primeiro bloco) é inesgotavel, ja que o Sol é uma estrela que ainda poders fornecer energia a Terra por 5 bilhdes de anos. Em telagao a matéria, a premissa nao se verifica, ja que sua quantidade € finita e conhecida. Quanto a capacidade de absorver e reciclar matéria Ou residuos, a humanidade tem observado a existéncia de limites no meio ambiente e precisa conviver com niveis indesejaveis e preocupantes de poluicdo do ar, da gua e do solo e com a conseqiiente deterioragio da qualidade de vida, Desa maneira, o crescimento populacional continuo observado é incompativel com um ambiente finito, em que os recursos ¢ a capacidade de absorcao € reciclagem de resithios so limitaclos. Devemos acrescentar a esse quadro © aumento do consumo individual que se observa no desenvolvimento da so- ciedade humana, que toma a situacdo mais preocupante ainda. Portanto, se o modelo de desenvolvimento da sociedade nao for alterado, estaremos caminhando a passos latgos para o colapso do planeta, com perspectivas nefastas para a sobrevivéncia do homem, Devemos, ainda, rever © modelo anterior para que, com lucidez ¢ conhecimento cientifico, seja possivel aumentar a probabitidade de sucesso de perpetuacao da espécie humana. Os ensinamentos das leis fisicas e do funcionamento dos ecossistemas fomecem os ingredientes bisicos para a concepcao do modelo que pode ser chamado de modelo de desenvolvimenta sustentavel. Fle deve funcionar como um sistema fechado, que tem como base a5 seguintes premissas: ‘+ dependéncia do suprimento externo continuo de energia (So); ‘+ uso racional da energia e da matéria com énfase a conservagdo, em contraposicao ao des- perdicio; + promocao da reciclagem e do reuso dos matesias: + controle da poluicao, gerando menos residuos para serem absarvidos pelo ambiente; & + controle do crescimento populacional em niveis aceitaveis, com perspectivas de estabiliza- 20 da populagao. ‘A Figura 6.2. ilustra como funciona o modelo de desenvolvimento sustentavel. Um fato importante que diferencia esse novo modelo daquele mostrado na Figura 6.1 é a reciclagem e 0 reuso dos recursos aliados & restauragao do meio ambiente. Devemos lembrar ainda que, mesmo com a estabilizagio da populacao e com 0 controle da poluigao e a reciclagem, o aumento do Consumo nos paises menos desen- volvidos para os padroes existentes em paises desenvolvidos pode gerar desequilibrios no balango global de energia no planeta, acarretando mudancas globais de consequiéncias imprevisiveis. FIGURA 6.2 ‘Modelo de desenvolvimento sustentével, © SISTEMA SUSTENTAVEL PARA OS HUMANOS ENERG! « z Y Processamento Uso de Recursos Modificago Transporte Consumo. Recursos i Recuperagao i do Recurse 1 v v Residuofimpacto i y { Impacto minimizado pela restaurag3o ambiental | Para que a humanidade evolua para o modelo proposto, devem acontecer revisoes comportamen- tais em diregdo ao novo paradigma. A sociedade atual ja despertou parcialmente para 0 problema, mas {né muito ainda para ser feito em termos de educagdo e cooperacao entre os povos e em termos de meio ambiente, Noss conhecimento sobre o funcionamento do planeta Terra até entéo é pequeno, mas € suli- lente para saber que precisamos aprender a habité-lo e usufruir dele de maneira consciente e responsavel,, preparando-o para que possa continuar sustertando as geracdes futuras. ‘A engenharia foi responsavel pela maior oferta de alimentos, pelo crescimento do nivel de conforto satide e pelo aumento da longevidade do homem, colocando a sua disposicao tecnologias agronémi- cas, de geracio de energia, de construcao civil, de transportes, saneamento, farmacéuticas, cirdrgicas, i TGR | trnniuctoacngertaria anbienel dde comunicacao etc. No entanto, apesar dos beneficios, houve um crescimenta populacional explosivo que ficou associado ao fendrneno da urbanizacao, do consumismo e do desconhecimento cientifico dos impactos negativos desse tipo de desenvolvimento, A degradacio ambiental e a poluigdo passaram a ator. mentar a sociedade urbano-indust Verificou-se, desse modo, que as priticas da engenharia nem sempre foram as mais adequadas do ponto de visa ambiental. Portanto, um novo desafio foi recentemente colocado ao engenheiro: 0 de uti- lizar as tecnologias disponiveis e desenvolver outras novas, compatibilizando-as com a minimizagao dos impactos negatives 20 meio ambiente. € conveniente lembrar, conforme nos ensinam as leis da fisica, que rndo se pode ganhar sempre, em todos os aspectos. Se quisermos aumentar nosso nivel de conforto, me- diante maior disponibilidade de bens de consumo, energia, lazer etc., 6 real pensar que nenhum impacto negativo ou poluigdo sejam gerados, por melhor que seja a tecnologia utilizada Trata-se, portanto, de encontrar o ponto de equilibrio entre objetivos conflitantes quando analisados globalmente, ou seja, de compatibilizar 0 aumento do conforto individual e a conservagao ambiental. Para ‘equacionarmos essas quest6es, é preciso caracterizar, de maneira objetiva, o que a sociedade pretende em termos de qualidade de vida, que envolve tanto aspectos de conforto como ambientais Isso poderia ser obtido com o estabelecimento de padides ¢ metas para itens que representem um padrio de qualidade de vida desejado, como, por exemplo, 2.000 kcal de alimentos por individuo por dia; 40 horas de trabalho por semana, salario minimo de US$ 1.000 por més, habitagao de no minimo 50 m%, com um minimo de 20 m? por pessoa, drea verde de 7 m? por habitante, concentrac3o de poluentes do ar abaixo dos padroes, reas de lazer (lago, praia, rio, parque) a distancias inferiores a 40 km, disponibilidade de gua potavel e sistema de coleta e tratamento de esgotos etc. ‘Apesar de meramente especulativo, o exercicio anterior indica que tais procedimentos poderiam ser adotados por setor, como para dreas urbanas, agricolas, naturais etc. Além disso, 0 exemplo ilustra que nao se pode desvincular 0 estabelecimento de padrdes e metas ambientais dos padrdes e metas pretendidos para a sociedade humana. Quanto maiores forem as aspiragdes de preservacaio ambiental, menores as possibilidades de crescimento socioeconémico e vice-versa. A natureza e suas leis nos ensinam que tudo std interligado, interdependente e, que se algum lado ganhou, é porque o outro perdeu. ‘Outro aspecto que pode ser destacado em relacao a engenharia é que, historicamente, ela sempre {oi dominada e praticada por um grupo da sociedade muito restrto, selei e, por que nao dizer, hermético. Um problema qualquer, se levado até um engenheiro, sempre teria uma boa solucao, que se materializaria em um edificio, uma auto-estrada, uma maquina, uma hidrelétrica, um meio de transporte etc., somente na dependéncia de disponibilidade de recursos financeiros e da vontade daquele que decide (por exem- plo, umn empresério, ui politico). Hoje, no entanto, @ materializacao de qualquet solucao de engenharia nao depende exclusivamente de dinheiro e decisio, mas também de convencimenio € negociagsio com setores ambientalistas, que representam interesses sociais locais ou regionais envolvidos, além de ser preciso atender a requisitos exigidos por 61gaos governamentais normalizadlores e financiadores. Assim, & Viabilidade técnica e econdmica de uma obra de engenharia adicionou-se a viabilidade ambiental. Nesse contexto, 0 engenheiro é compelido a transformar-se em um técnico que, além de compe- tente, seja comumnicativo, aberto a sugestées do pdblico e dos setores envolvides, com capacidade de negociacdo e persuasio. Dai a existéncia de um mercado atual que exige urn novo perfil para o engenhei- ro. Devemos ressaltar, no entanto, que 0s cursos de engenharia ainda nao estao estruturados para formar profissionais com esse peril. A alternativa tem sido 0 treinamento nas préprias empresas, de forma nao sistematica, ou a criacdo de cursos de especializagao e extensdo universtiria Concluimos, entdio, que a engenharia 6 0 caminho para se minimizar ou controlar a poluicao e a degradacdo ambiental até que sejam compativeis com o nivel de desenvolvimento pretendido pela socie- dade. Devemos lembrar que esse controle precisa, preferencialmente, ser atingido por meio de medidas preventivas, isto é, com o planejamento do uso e ocupagao do solo pelos humanos, em contraposigao as medidas corretivas. Essas, embora as vezes necessarias, em getal requerem vultosos investimentos. Capita 6 ~ Bases do desenvolvimento sustentével 49 ie Conceitos basicos tes, ocorreu de forma desordenada, sem planejamento, a custa de nivels crescen- tes de poluicao e degradacao ambiental. Esses niveis de degradacao comecaram a causar impactos negativos significantes, comprometendo a qualidade do are a satide humana em cidades como Los Angeles ¢ Londres, transformando rios como 0 Tamisa, em Londres, o Sena, em Paris, o Reno, na Alemanha, e o Tieté, em So Paulo, em ver~ dadeiros esgotos a céu aberto, reduzindo a fertilidade do solo e aumentando as areas desérticas. A tecnologia demonsttou, entao, que poderia contribuir de forma efetiva na reversio de situacbes criticas. Métodos de planejarerto, modelos matematicos, equipamentos para controle de poluicao € processos tecnolégicos alternativos menos poluentes foram desenvolvidos. 1550 possibilitou a cortegao de problemas existentes, ‘como também a estimativa antecipada de efeitos e impactos de situacdes hipotéticas futuras por meio de simulacbes com modelos fisicos e matemiticos. Passou-se, assim, a admit que existem limites que devem ser respeitados e que a tecnologia ¢ fundamen- tal, mas nao é capaz de resolver todos 0s problemas quando alguns limites, as vezes desconhecidos, sao alcancados (efeito estufa, deplecao da camada de oz6nio). Desenvalvimento sustentavel € um conceito que foi proposto pela ‘Comissio Mundial do Desenvolvimento e Meio Atribiente’, era 1987. Essa comissao foi formada em 1984 pela Organizacao das Nagées Unidas, tendo como coordenadora a primeisa- ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. A comissio incluia 23 membros de 22 paises. Por tr€s anos consecutivos, a comissao e seus assessores estudaram os conflitos enire os crescentes problemas ambientais € as necessidades quase desesperadoras, das nacdes em desenvolvimento. Concluiram que era tecnicamente vidvel prover as necessidades minimas, grosseiramente 0 dobro da popula¢ao mundial, até o proximo século de forma sustentavel e sem degradacdo continuada dos ecossistemas globais. ‘A comissao definiu — em seu relatério final com 0 titulo ‘Nosso Futuro Comum’ — 0 conceito de desenvolvimento sustentavel: “Atender as necessidades da geracao pre sente sem comprometer a habilidade das geracées futuras de atender as suas préprias necessidades’. Observamos, portanto, que, assim descrito, 0 conceito é um ato de fé ou um desejo filoséfico de preservacao que requer melhor especificacao do ponto de vista pratico. Existe uma boa dose de subjetividade na definicao do que sejam necessidades futuras e, além disso, existe a questo do grau de desenvolvimento da regio ou pais em ‘questo. Os parametros do desenvolvimento sustentvel em um pafs com a forca eco- némica do Japao devem ser certamente diferentes dos de um pais da Africa Oriental, cujo consumo de energia mal supera 0s 2.000 keal/dia de sobrevivencia, (sere de nossa sociedade urbana e industrial, por ndo conhecer {ism TLL | Naturera das medidas de controle e dos fatores da degradagdo ambiental Uma primeira forma de classificar as medidas destinadas a0 controle da degradacao ambiental seria separd-las em medidas preventivas & medidas corretivas 216 Introdugiio@ engenharia ambiental ‘As medidas preventivas, como set proprio nome indica, devem se antecipar e impedir ou minorar ‘a ocorréncia dos fatores de degradago. Duas raz0es principais tornam pteferencial a aplicagao dessas ‘medidas. A primeira é por sua implantagao depender de custos financeiros menores &, portanto, pressio- nar menos 0s caixas piblicos e privados na disputa de recursos que sdo sempre escassos para atender a0 Conjunto das demandas da sociedade. A segunda razdo € que as medidas preventivas sero mais eficazes se tomadas antes da ocorréncia de degradagio ambiental e de consequientes outros custos de natureza ‘econdmica e Social nem sempre ttaduziveis em valores monetarios, mas nem por iss0 destituidos de im- portancia, Em contrapartida, sua aplicacao depende de a sociedade estar suficientemente organizada para planejar e gerenciar os processos socioeconémicos e assegurar o principal objetivo dessas medidas, que & a distribuigo das atividades humanas no espaco e no tempo (planejamento territorial e de use do solo) de maneira compativel com padroes desejaveis de qualidade ambiental ‘As medidas corretivas, embora necessdrias para situacdes ja existentes, sio em geral onerosas & muitas vezes de implementagio dificil. Dependem nao s6 de a sociedade reservar os recursos necessarios para implant-las, como também da sua capacidade de acessar @ aplicar técnicas e tecnolagias nem sem- Dre triviais e sob seu efetivo dominio. Podemos, ainda, classificar as medidas de controle da poluicao em estruturais e nag-estruturais. As medidas estruturais sa0 aquelas que envolvem a execucao de obras (por exemplo, construgao de estacoes de tratamento de esgotos urbanos e industriais e barragens de regularizagao de vazées para aumentar a diluigdo de poluentes na agua) e a instalagao de equipamentos (por exemplo, filtros para retencio de material particulado de efluentes industria langados por chaminés na atmosiera) e, em ge- ral, envolvem custos substanciais. As medidas estruturais sao familiares aos engenheiros, historicamente \reinados para oferecer solucées eficientes, seguras € econdmicas. De raneira geral, a percepco que as pessoas e os engenhelros tém sobre solugdes de problemas de qualquer natureza, incluindo os embientais, esté associada a medidas estruturais. Tal fato é particularmente verdadeiro se observarmos alguns proble- ‘mas ja existentes que foram solucionados gracas a essas medidas, de que S20 exemplo a estabilizacao de vogoracas em reas urbanas, a recuperagao da qualidade da agua em rios com a construgao de estacoes de tratamento de esgotos urbanos e a instalacio de equipamentos para reduco da emissio de poluentes atmosféricos em uma indstra. ‘As medidas ndo-estruturais ndo envolvem a execucio de obras ou @ manipulacao de equipamentos onerosos, S30 sohusdes mais baratas que procuram intervir nas causas que podem originar ou agravar um problema, evitando, assim, que ele ocorra ou pertnitindo seu controle. Como exemplo, podemos citar a Criagao de éreas de protegdo de mananciais na Regido Metropolitana de Sao Paulo, que limita o desenvol- into de atividades nessas dreas, evitando 0 comprometimento da qualidade da Agua que € usada para abastecimento da populacao. Trata-se de medida que procura compattilizar ocupacio do solo e protego dda qualidade da agua, gerantindo a preservagio € 0 uso desse recurso natural essencial para o homem. As reas de protecdo ambiental tém motivagdes similares, mas Com objetivo mais abrangente por envolverem a protecao de ecossistemas. ‘Outros exemplos de medidas ndo-estruturais so a mudanga para combustivel com menos residuos poluidores (uso de derivados de petréleo com baixa teor de enxofre para aquecimento de caldeiras) ou @ mudanga de processo (uso de energia elétrica para aquecer as caldeiras), a adocao de praticas conserva- Cionistas na agricultura para controlar @ perda de solo por erosio, a exigencia de estudos de impacto am- biiental para licenciamento de atividades potencialmente poluidoras, a necessidade de receita agronomica para aquisi¢ao de agrot6xicos e também 0 zonteamento urbano e rural, orientando a utilizag3o do espago por atividades humanas. Em geral, as medidas nao-estruturais clevem ser respaldadas por leis e regulamentos, requerendo ‘uma visio integrada ¢ abrangente das questdes. Portanto, do ponto de vista de sua implementacao, sso de maturaco mais lenta, exigindo participac3o dos varios agentes ervolvidos € muitas negociacdes para compatibilizar interesses conflitantes. Talvez, em decorréncia dessas dificuldades e por envolver aspectos politicos, clas tém merecido pouca atengo na formagao de engenheiros. Devemos ressaltar, no entanto, que tais medidas exigem emabasamento técnico e envolvem questées complexas, merecendo e tornando indispensivel maior participagao de técnicos em solugdes dessa natureza. Captio 1) ~ Cmceuasvaies | 217 Devemos ressaltar também que freqentemente a eficiéncia das medidas estruturais para resolver problemas ambientais é posta em risco se nao forem acompanhadas de medidas nJo-estruturais correlatas. Por exemplo, a eliciéncia de uma rede de drenagem ou da canaliza¢ao de um rio pata controle de en- chentes ficata comprornetida se a8 areas que drenam para esses locais sofrerem umm processo continuo de ‘crescimento das dreas impermedveis decorrentes da urbanizacao. Nesse caso, os volumes de escoamento -erados por chuvas iguals setdio cada vez maiores ao longo do tempo, adiante da redugao da quantidade de Agua infiltrada no solo. £ © caso do Rio Tiet@, na Regiao Metropolitana de $40 Paulo. O controle do ccrescimento da area urbanizada 6, portanto, vital para que as medidas estruturais de controle de enchentes ‘Go se tornem obsoletas. Assim, as medidas ndo-estruturais sio, em geral, necessérias e devem set adota- das inclusive para complementar as medidas estruturais, mantendo-as e ampliando sua eficiéncia. ‘A decisao sobre qual a melhor composi¢a0 de medidas preventivas, cortetivas, esteuturais © no- estruturais provém de anlise de cada caso e constitu 0 primeito, o mais importante e essencial passo do planejamento estratégico da gestao do ambiente (ver item 11.2, a seguir). Para evidenciar a complexidade do procesio de degradacao ambiental ao qual as medidas de controle devem se contrapor e ressaltar a necessidade de solugdes integradas e de conjunto nesse processo, basta lembrar esquemitica e simplifica- cdamente alguns dos principais fatores intervenientes em urn modelo explicativo simplificado dos impactos ambientais: Impacto Ambiental = Tamanho Distibuigso Distribuigao Distribuigao da populagio da populago da populacao a poputagae da populacao Tempo de Resposta X Sistema Econémico X Sistema Politico X___Sisterna ftico 10 © principal fator Causativo da poluigdo & 0 ser human, podemos concluis que a poluigio é fruto do crescimento populacional e, portanto, fungao direta do tamanho da populacao. Esse fato, ja evi- denciado anteriormente, indica que nao podemos crescer indefinidamente em um ambiente finito e que a estabilizagao da populacao humana é requisito bisico para 0 desenvolvimento sustentavel e a convivencia com niveis aceitéveis de poluigao. _—~ _ Além do tamanho da populacao, é essencial considerarmos sua distribuigdo no espago, ou a den- sidade demografica. Grande parte dos problemas ambientais, como a poluico do ar e de cursos de égssa, esté associada as aglomeragdes humanas nas areas urbanas. Nessas regides, a densidade demografica clevada, e a relacao entre disponibilidade de recursos naturais na regido e ndmero de habitantes & baixa, implicando capacidade reduzida de assimilagao de residuos pelo ambiente. A poluicao somente ocorre quando as pessoas usam recursos materiais e energéticos, gerando residuos que causam impactos negativos no ecossistema. Assim, ela depende também da quantidade de recursos usados por individuo. Para termos uma idéia, um cidadao norte-americano padrao consome 50 vezes mais ago, 56 vezes mais energia, 170 vezes mais bortacha sintética, 250 vezes mais combustivel para motores e 300 vezes mais plasticos que um cidadao indiano (Miller, 1985). Ainda nessa linha de pen- samento, a referéncia indicada cita que “um cidadao norte-americano padrio causa um impacto de 25 a 50 vezes maior no ambiente que wm harem do campo do Terceiro Mundo” e, ainda, que "é estimado que (© impacto ambiental global das atividades humanas esta duplicando a cada \4 anos, principalmente por causa do crescimento econdmico das nacoes ricas”. ~ Tais consideragdes reforcam a necessidade de revisao dos padrdes de consumo no Primeiro Mundo @ de desenvolvimente de modelos alternativos para ascenséo do Terceio Mundo a niveis aceitiveis de qualidade de vida, Devemos lembrar, ainda, que o uso de alguns tigos de recursos gera mais poluigao que outtos. Por ‘exemplo, jogar fora uma lata de aluminio significa desperdicar mais recursos e gerar mais poluigio que usar uma garrafa de vidro reutilizével, j& que a lata requer cerca de trés vezes mais energia que a garrala WG | taradura a engentars ambient para ser prodiszida (Miller,1985). Assim, outro termo a ser considerado no modelo € a poluigao gerada por unidade de recurso usado, que, por sua vez, depende da tecnologia utilizada na sua producao. Outro fator do modelo em discussao € o tempo de resposta, ou seja, 0 tempo decorrido entre a agio 2 a tesposta. Por exemplo, para estabilizar a populaco no pianeta, Cada familia deveria ter somente duas ccriangas, que substituiriam seus pais apds a morte, que seriam substituidios por seus dois filhos e assim sucessivamente, No entanto, se adotada hoje essa medida, a populagao continuaria crescendo e s6 iria se estabilizar em cerca de 50 anos, porque grande parte da populagdo mundial tem menos de 15 anos; com isso, 0 nlimero de pessoas que teriam filhos continuaria a crescer por décadas. Medidas que incentivam a adogao de tecnologias limpas, do retso e da reciclagem dao respostas lentas, envolvendo tempos supe- riores a uma década. O sisterna econdmico também deve ser considerado no modelo, uma vez que ele é decisive no controle da poluigao. Por exemipl incluir os custos do controle da polui¢ao no preco dos produtos é uma forma recomendada de utilizacao de instrumentos econdmicos para controle da qualidade ambiental. ‘Outro termo que deve constar do modelo simuplificado em questio 6 o sistema politico. Toda a parte legal do controle da poluicao ambiental depende, para sua aprovagio e implementagao, de que o tema seja prioritrio na agenda dos politicos. Como veremos adiante {item 11.2 e Capitulo 12), os bens ambien- tais 530 predominantemente bens coletivos a3 quais a sociedade associa valores a que todos dever ter acesso (valores universais). Por essa razao, é tido como axioma que apenas os regimes politicos democra- ticos e amplamente representativos estao aptos a zelar pelo ambiente. Finalmente, devemos levar em conta também o sistema ético, ou seja, 08 valores culturais € as tradigdes de uma sociedade. A aplicabilidade de lels e instrumentos econimicos pode ser comprometida se fizer contraposigao a valores ou nao se apoiar em comportamentos sociais de parcela significativa da populacao, © modelo ora discutido, apesar de estar aqui relativamente simplificado, ilustra que a questio global do controle da poluiga0 no planeta € complexa, envolvendo miltiplas varidveis. Um aspecto a ser enfatizado no modelo é que todos os termos S80 importantes, tanto isoladamente como de forma conjunta (de carater multiplicativo). Por exemplo, a alteragdo do valor de um dos teimos do madelo, por uma acao isolada, ne garante necessariamente uma resposta satisfat6ria, pois outro termo pode estar aumentando, F 0 caso jé citado da quatichele da agua que nao melhora, mesmo com o tratamento dos esgotos urbanos € industrais, se 0 crescimento urbano, das guas pluviais € dos residuos s6lidos que ele produz nao for equacionado. Qutro ponto relevante a destacar que 0s complexos problemas ¢ 0s desafios ambientais com os quais n08 defrontamos 830 todos interligados © nem sempre explicAveis apenas em termes estritamente técnicos ou cientificos. € extremamente importante lembrar a necessidade de se permeat as analises proposig®es com abordagens nao apenas técnicas para que as ferramentas e 0s préprios conhecimentos tecnicos tenham forca & de fato proporcionem mudangas efetivas, Quanto a énfase dada a complexidade e interdependéncia dos termos do modelo, nao significa dizer que 05 problemas ambientais no podem ser abordados por partes. Qualquer ago que atue iso- ladamente em um dos tetmos aqui apontados no sentido de atenuar, cortigir ou evitar a poluicao os 0 impacto ambiental ja € um avango. No entanto, € importante reconhecer que uma solucdo definitiva passa pelo entendimento das questoes globais e de acdes integradas e complementares nos varios termos considerados. Como ji foi dito, a selec3o da medida ou 0 conjunto de medidas mais adequadas para o controle da degradagao ambiental é sem diivida tarefa delicada e, por isso, tida como a fase mais importante do proceso de sua implementagao, Algo 130 importante que, em seus aspectos fundamentais, deve estar compreendida no processo de definic’o das politicas ptiblicas pelos poderes legislativo e executive, con forme suas respectivas competéncias de representagao e de atuagao em nome da sociedade. Entretanto, pelo teor especializado (técnico, socioeconémico & administrative) qué evolve, a promulgacao dessas politicas supde a formulacao de propostas por profissionats tecnicamente competentes que estejam a Ser- vigo desses podenes. Canales Court tisin | OY 112 Ages do aie Conforme discutimos nos capitulos da Parte |, deve ter ficado claro que a biosfera e seus ecossis- temas apresentarn formato equilfbrio gatantidos pela interdependéncia e comportamento padronizados dos seres vivos entre si e com o ambiente. Portanto, o que garantiu esse equilibrio e formato sempre foi 0 padrio de comportamento predeterminado pelas disposicoes genéticas de cada ser vivo. Entretanto, a0 ter 0 dominio da energia em razao de Seu engenho, a humanidade criou um fato novo: as disposiges genéticas ndo mais subordinavam a totalidade do comportamento do homem as im- posicdes da interdependéncia e do equilibrio dos ecossistemas e da biosfera. Surgiram, entdo, os conflitos par ele provocados e 0 que hoje se denomina crise ambiental. Para enfrenta-los, foi sendo desenvolvida tuma série de acdes coordenadas a qual, mais recentemente, se deu 0 nome de gesta0 do ambiente ~ en- tendida como a forma sistematica de a sociedade encaminbar a solucao de contlitos de interesse no acesso € uso do ambiente pela humanidade. ‘Como primeiro e fundamental passo para essa gestéo, faz-se necesséria a identificagao da natureza € 0 porte dos valores em disputa causadores do conflito. As sociedades organizadas aprenderam, desde hd muito, a distinguir duas grandes categorias de valores. Valores universais (ou de acesso universalizado}, que sao aqueles a que todos os seuss membros devem ter acesso assegurado indistinta e uniformemente, estando relacionados a essencialidade da vida. Valores individualizéveis (ou de acesso individualizado), que so 05 acessiveis a cada membro na medida de sua capacidade relativa de alcangé-los, capacidade ‘essa aceita e reconhecida pela sociedade. Nos ecossistemas, enquanto organizados com base no comportamento de padrao genético (pré-cri- ‘se ambiental), também podem ser identificados valores assimilaveis nessas duas categoria. Seu equilibrio diversidade asseguram a vida das espécies constituindo um valor universal. Na disputa de participagao no fluxo de matéria e energia nos ecossistemas sao as diferengas interespécies e entre individuos que pos- sibilitam a cada ser vivo usuftuir os valores individualizaveis, Relevadas as diferengas de complexidade das sociedades humanas, pode-se dizer que a concep- av dessas duas categorias de valor pode ser compativel com 0 objetivo de uma reinsergao harmoniosa das atividades do homem na biosfera. Quando a insuficiéncia da padrao de comportamento baseado no patrimonio genético demonstrou ser insuficiente para disciplinar os conflitos nas sociedades humanas, foi ‘com base nessas categorias de valor que se construiu um novo referencial de comportamento. Para tanto, as sociedades humanas, desde as mais antigas até as mais modernas, autocotaram-se de cédigos, consti- tuigoes, leis, politicas ptblicas, processos socioecon6micos e instituigdes postas a servico desses, com 0 objetivo de zelar pelo acesso de seus cidadios a esses valores. No caso do ambiente, © encaminhamento da solugo dos confltos internos & humanidade e dessa aos clemais seres vivos, como se viu, passox a depender, além do disciplinamento de natureza genética, de outros disciplinamentos criados pela propria humanidade, Para cumprir sua fungao de disciplinar 0 acesso da humanidade ao ambiente, diriminco ou solu- cionando os conflitos entre seus membros € desses com os demais Componentes da biosfera, a gestdo do ambiente compreende virias fases. Comega, como ja foi dito, pela identiticacdo dos valores envolvidos nesses conflitos — tarefa com- plexa e ainda hoje sem uma solucdo plena e universalmente aceita, como se ver’ no Capitulo 12. Seguem- se as demais, de diferentes graus de dificuldade e quase sempre longo perfodo de maturacdo, que, em seu Conjunto, constituem uma Politica Ambiental. Sao elas: a identiicago dos abjetivos, a conceituacao e a institucionalizagao do sistema de gestio e dos instrumentos econdmico-financeicos, legais e téenicos que 0 compéem. Os objetivos podem ser tio genéricos ¢ pouco operacionais — como o ‘Desenvolvimento Sustenta- vel’ — ou mais especificos — como 0s padrées de qualidade ambiental —, sejam eles localizados (como (8 de um corpo de dgua enquadrado em uma determinada classe) ou globais (como os de interesse inter nacional relativos ao efeito estufa e a destruicao da camada de oz6nio).. O sistema de gesto compreende as instituicdes as quais sdo delegados as ages e os instrumentos destinados a alcancar 0s objetivos previamente definidos. Na Parte II, examinamos varios exemplos de 1 QI | term eens nbn instrumentos técnicos hoje disponiveis (desde a modelagem até os equipamentos € as técnicas utilizados no planejamento, projeto, obras ¢ instalagdes), bem como instrumentos técnico-legais, como, por exem- plo, os padrdes ¢ os zoneamentos ambientais. Toda a legislacao referida no Capitulo 13 consttui-se em ‘exemplo de instrumentos legais em que se estabelecem limites ao acesso e desfrute ambiental e as sangdes € penalidades aos que os violarem. Nesse capitulo,também sao encontradios exemplos de como os ob- jetivos, os sistemas e os instrumentos podem ser reunidos em uma politica relativa ao ambiente (Politica Nacional de Melo Ambiente, Politica Nacional de Recursos Hidricos etc). No detalhamento dos objetivas da gestio do ambiente devern estar contemplacios de forma dife- renciada 0s valores universais e os valores individualizaveis. Entre os primeiros estdo os que dependem, por exemplo, de garantia do acesso indistinto em quantidade e qualidade aos bens ambientais essenciais a vida por meio de constituigoes, cotigos etc. Entce os segundos, por exemplo, estio aqueles associados {a0 ace350 aos bens ambientais para as atividades de producao econdmica. Da mesma forma, 08 instrumentos técnicos, econdmicos e legais da gestdo do ambiente tém de es- tar subordinadas a essa mesma categorizacao de valores, Ou seja, no devem impedir 0 acesso aos bens ambientais associados a valores universais, mas sim estabelecer condigbes (técnicas, ecandmicas ¢ legais) para 0 acesso aos bens ambientais associados @ valores individualizados. ae)

You might also like