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Revista Brasileira de Saúde Ocupacional Tema livre/Artigo

ISSN: 2317-6369 (online)


http://dx.doi.org/10.1590/2317-6369000013818

1
Rodrigo Cauduro Roscania
http://orcid.org/0000-0001-9113-2380
Sobrecarga térmica em áreas rurais: a influência da
Paulo Alves Maiaa
intensidade do trabalho
https://orcid.org/0000-0002-6089-892X
Thermal overload in rural areas: the influence of work intensity
Maria Inês Monteirob
https://orcid.org/0000-0002-6004-8378

a Fundação Jorge Duprat Figueiredo


Resumo
de Segurança e Medicina do
Trabalho (Fundacentro), Escritório Introdução: a legislação brasileira determina que se monitore o Índice de
de Representação em Campinas. Bulbo Úmido Termômetro de Globo (IBUTG) nos ambientes de trabalho
Campinas, SP, Brasil. em que o calor possa representar risco à saúde dos trabalhadores. Porém,
b Universidade Estadual de Campinas esse monitoramento e a adoção de medidas preventivas não são comumente
(Unicamp), Faculdade de Enfermagem.
observados. Objetivo: identificar e mapear a influência da intensidade do
Campinas, SP, Brasil. trabalho na extrapolação potencial de limites de sobrecarga térmica para
trabalhadores em atividade a céu aberto em áreas rurais do Nordeste do
Contato: Brasil. Métodos: com base na Norma Regulamentadora nº 15 e em dados
Rodrigo Cauduro Roscani do Instituto Nacional de Meteorologia, o software Sobrecarga Térmica foi
E-mail: utilizado para estimar os índices de IBUTG na região, no período de 1º
rodrigo.roscani@fundacentro.gov.br de setembro de 2016 a 31 de agosto de 2017. Resultados: dos 132 pontos
geográficos investigados, a extrapolação dos limites de sobrecarga térmica
Os autores declaram que o trabalho foi identificada em 48% dos trabalhos pesados e em 14% dos trabalhos
não foi subvencionado e que não há moderados, indicando a necessidade de paradas para descanso em mais de
conflitos de interesses. 50% do tempo analisado. Discussão: a diminuição da intensidade do trabalho
resulta em redução expressiva da sobrecarga térmica. Nas localidades
Os autores informam que o trabalho historicamente reconhecidas pelo alto risco de exposição ao calor, deveria
não foi baseado em tese ou dissertação ser adotada, como medida efetiva de prevenção, a restrição ao estímulo de
e foi apresentado no 2º Seminário atividades extenuantes, sobretudo as promovidas pela remuneração atrelada
Nacional sobre Saúde e Trabalho: à produtividade.
contribuições da saúde do trabalhador
para o trabalho decente (Ribeirão Palavras-chave: saúde do trabalhador; exaustão por calor; prevenção primária;
Preto, 2017), com publicação do trabalho a céu aberto.
resumo nos anais do evento.
Abstract
Introduction: Brazilian law requires the use of Wet-Bulb Globe Temperature
(WBGT) to monitor work environments where heat may pose a risk to workers’
health; however, such monitoring is often not observed and preventive
measures are not taken. Objective: to identify and map the influence of
labor intensity on the potential extrapolation of heat exposure threshold
limits for outdoor workers in rural areas of northeastern Brazil. Methods:
based on Brazil’s Labor Regulatory Standard no. 15 and data from the
Brazilian Institute of Meteorology, the software Sobrecarga Térmica (Thermal
Overload) was used to estimate WBGT index in the territory from September
1st, 2016 to August 31, 2017. Results: the extrapolation of thermal overload
limits was characterized for heavy work in 48%, and for moderate work in
14% of the 132 geographic points investigated, indicating the need for rest
stops in more than 50% of the analyzed period. Discussion: decreasing work
intensity results in an expressive reduction in thermal overload rates. The
restriction to the stimulation of strenuous activities – especially remunerated
ones linked to production – in regions historically recognized for their high
risk of heat exposure should be implemented as an effective preventive
measure for heat stress.
Recebido: 11/03/2018 Keywords: occupational health; heat stroke; primary prevention; outdoor work.
Revisado: 03/10/2018
Aprovado: 07/12/2018

Rev Bras Saude Ocup 2019;44:e14 1/9


Introdução consequências fisiológicas durante treinamentos
militares 11. O índice é descrito pela norma ISO
Pesquisas mostram que o aumento do calor está 724312, e sua utilização na análise de sobrecarga
associado ao crescimen to da taxa de morbidade e térmica laboral é usual em estudos de diversas
mortalidade. Um estudo analisou um período de regiões do mundo13,14.
42 anos na França e apontou forte correlação entre A NR1510 e a Norma Regulamentadora nº 9 –
as curvas de temperatura e mortalidade 1. Uma Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
revisão sobre o aspecto epidemiológico da morta- (NR9)15 determinam que as medições do IBUTG
lidade relacionada ao calor reuniu evidências mos- sejam feitas no local em que o trabalhador executa
trando que exposições ao calor intenso por mais suas atividades. Entretanto, para os casos de ativi-
de 3 semanas provocam significativos aumentos dades a céu aberto, quando se trata de áreas com
nas taxas de mortalidade, especialmente para fai- grandes extensões ou elevado número de trabalha-
xas etárias mais avançadas 2. Atividades físicas
dores – o que é comum nas áreas rurais –, podem
extenuantes e o uso de roupas e equipamentos
ocorrer dificuldades financeiras e operacionais para
de proteção que dificultam a troca de calor com
monitoramento do calor, como falta de pessoal téc-
o ambiente potencializam o risco de sobrecarga
nico. Nesse sentido, torna-se importante a utiliza-
térmica pela interferência na regulação térmica
ção de métodos alternativos de monitoramento do
corporal, com elevação da temperatura interna do
calor, como o software Sobrecarga Térmica16, que
indivíduo a níveis prejudiciais à saúde3.
estima o IBUTG a partir de variáveis meteorológi-
Os efeitos do calor sobre o trabalhador são estu- cas observadas pelas redes automáticas do Instituto
dados de forma ampla, em várias regiões do mundo Nacional de Meteorologia (Inmet).
e em diferentes atividades laborais. Complicações
renais foram relatadas na Tailândia, principal- Considerando que no Brasil não se monitora dia-
mente em trabalhadores rurais4, e consequências riamente o IBUTG nas atividades rurais, ou seja, que
cardiovasculares foram descritas em cortadores a dimensão do risco não é conhecida, pode-se afir-
de cana-de-açúcar no Brasil5,6. Em trabalhadores mar que as medidas preventivas, quando aplicadas,
de fazendas do estado do Oregon, nos EUA, foram são ineficazes contra as doenças provocadas pela
descritos diversos sintomas relacionados ao calor, exposição excessiva ao calor. Além disso, o adoeci-
como erupções cutâneas, cãibras, espasmos mus- mento dos trabalhadores pelo calor é desconhecido
culares, tontura, desmaio, dor de cabeça, sudo- pelas estatísticas oficiais, seja em suas manifestações
rese severa, fadiga e extrema fraqueza, náuseas, de formas agudas, como cãibras ou desmaios7 e até
vômito e estado de confusão7. Há ainda registros morte8, ou de formas crônicas, como comprometi-
de casos extremos no estado da Carolina do Norte, mento renal4 ou cardiovascular5,6.
EUA, entre 1977 e 2001, onde foram relatadas 40
Há, contudo, localidades nas quais o calor
mortes relacionadas ao calor no local de trabalho,
ambiental notoriamente extrapola os limites. Tal
das quais 16 ocorreram em propriedades rurais 8.
caracterização pode ser feita pela análise histó-
Também em ambientes industriais fechados, no
rica do clima nessas regiões. Nessas condições,
Canadá, foram identificados trabalhadores com
disfunções cognitivas em consequência do calor estratégias de prevenção deveriam ser tomadas de
no ambiente de trabalho9. antemão, sem a necessidade ou dependência do
monitoramento em tempo real.
A legislação brasileira vigente, no Anexo nº 3
(“Limites de tolerância para exposição ao calor”) É importante destacar que o IBUTG, por ter ori-
da Norma Regulamentadora nº 15: atividades e gem em práticas de prevenção de sobrecarga térmica
operações insalubres (NR15) c, do Ministério do em treinamentos militares11, se baseia em caracte-
Trabalho, preconiza limites do Índice de Bulbo rísticas de atividades bem definidas, além de que
Úmido Termômetro de Globo (IBUTG) como parâ- os militares em treinamento têm condições físicas e
metro de análise para a quantificação do risco alimentares controladas. Isso não ocorre em relação
de sobrecarga térmica de acordo com o regime aos trabalhadores rurais, que de modo geral exercem
de trabalho e o tipo de atividade realizados10. Os suas atividades sob condições sanitárias, ambien-
tipos de atividade física são classificados em leve, tais e alimentares precárias. Dessa forma, os limi-
moderado ou pesado, de acordo com o trabalho tes estabelecidos com base no IBUTG podem estar
realizado. O IBUTG foi inicialmente desenvol- superestimando a resistência desses trabalhadores à
vido para estudar as relações entre o calor e suas exposição ao calor.

c A NR15 e seus anexos estão passando por revisão, em um processo de atualização que foi lançado pelo Governo Federal em 30
de junho de 2019.

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Ressalta-se que é comum prevalecer a prática oficiais, em 1880, sendo o terceiro ano consecutivo
de priorizar a produtividade em detrimento da a estabelecer recorde de temperatura e a 15ª quebra
segurança e da saúde do trabalhador. Os próprios de recorde desde o início do século XXI. Esses dados
trabalhadores, mesmo conscientes dos riscos e evidenciam e corroboram a clara tendência de ele-
apresentando sintomas de agravos à saúde, como vação das temperaturas em nível mundial20 e, con-
cãibras e tonturas, por exemplo, aderem às metas sequentemente, de aumento dos riscos da exposição
de produtividade quando “motivados” por paga- ao calor para os trabalhadores que desenvolvem suas
mento diferenciado em função da produção indivi- atividades a céu aberto. O ano de 2017, apesar de não
dual5. Um estudo sobre exposição de trabalhadores apresentar novo recorde, tem dados que confirmam
rurais ao calor em países de média renda identifi-
a tendência de elevação das temperaturas, pois, em
cou que o aumento do risco de sobrecarga térmica
relação à série histórica registrada desde 1880, esse
está relacionado ao aumento do ritmo de trabalho,
ano só apresenta anomalia inferior a 2015 e 201621.
incentivado pelo pagamento diferenciado da produ-
ção3. Ilustrando esse cenário, de maneira particular Nesse cenário, faz-se importante dimensionar o
para o cortador de cana-de-açúcar, dados mostram risco da exposição ao calor a que os trabalhadores
que a produtividade média diária dessa cultura na que ficam a céu aberto estão sujeitos no território
década de 1950 era de 3 toneladas, passando para brasileiro, visando oferecer subsídios para discutir
6 na década de 1980, e 12 no final da década de a efetividade das medidas de controle praticadas e
199017 – um incremento de produtividade de 300%. dos parâmetros e conceitos considerados admissí-
Também se observou, por parte de empregadores, o veis para a preservação da saúde do trabalhador.
estabelecimento de metas de corte mínimas de 10
Assim, este estudo teve por objetivo identificar e
toneladas diárias, ocasionando, como consequência
mapear a influência da intensidade do trabalho
dos níveis de exaustão, a dispensa de cerca de 40%
no potencial de extrapolação de limites de sobre-
de uma turma de cortadores no primeiro mês de
carga térmica para trabalhadores em atividade a
trabalho e de mais 20% no segundo mês, perma-
necendo na atividade apenas os que apresentavam céu aberto em áreas rurais do Nordeste do Brasil,
maior produtividade18. de modo a oferecer subsídios para a discussão de
ações de prevenção.
Além dos aspectos relativos ao trabalho pro-
priamente dito, em perspectiva futura, de maneira
global, espera-se o agravamento das condições de Métodos
risco relacionadas à sobrecarga térmica dos traba-
lhadores a céu aberto em função das mudanças
O instrumento utilizado para medir o poten-
climáticas que vêm sendo apontadas por diver-
sos estudos e reconhecidas pela Organização das cial de exposição ao calor ambiental foi o software
Nações Unidas (ONU)19. Sobrecarga Térmica16, desenvolvido por pesqui-
sadores da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de
Segundo a Organização Meteorológica Mundial Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro).
(OMM)19, em 2016 as temperaturas médias globais O software tem sido utilizado para consultas técni-
fixaram novo recorde, e o mundo testemunhou o cas e acompanhamentos locais de rotina, e também
degelo marinho, o aumento do nível do mar e do
como ferramenta de pesquisa em trabalhos cien-
calor oceânico. De acordo com a agência, as tempe-
tíficos22,23, dissertações24, teses e outros trabalhos
raturas globais atingiram 1,1°C acima da média do
acadêmicos.
período pré-industrial, com maior crescimento a par-
tir da década de 1950, registrando-se um incremento, O software é de livre acessod e estima o IBUTG
em valores absolutos, de 0,9394°C, considerando as até a hora mais recente, entre 9h e 16h, em qualquer
temperaturas de superfície de continentes e oceanos. ponto do território nacional que esteja a até 80 km
Se observadas apenas as temperaturas de superfície de distância de uma ou mais estações meteorológicas
de continentes, o aumento em 2016 chega a 1,4357°C da rede de estações automáticas do Inmet. A rede de
(cerca de 53% a mais do que o incremento global). estações automáticas dentro do território brasileiro
Ainda com relação às alterações do clima glo- pode ser espacialmente visualizada no endereço ele-
bal, o setor de Administração Nacional Oceânica e trônico do Institutoe. O IBUTG é dado por:
Atmosférica (NOAA) do Departamento de Comércio
IBUTG = (0,7 Tn) + (0,3 Tg) [Equação 1]
do governo dos Estados Unidos afirma que 2016
foi o ano mais quente desde o início dos registros IBUTG = (0,7 Tn) + (0,1 T) + (0,2 Tg) [Equação 2]

d Disponível em: http://www.fundacentro.gov.br/sobrecarga-termica/inicio.


e Disponível em: http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=estacoes/estacoesautomaticas.

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em que Tn é a temperatura de bulbo úmido “natu- os valores do IBUTG de hora em hora, das 9h às 16h,
ral”, Tg é a temperatura de globo e T é a temperatura no período de 1º de setembro de 2016 a 31 de agosto
do ar. A Equação 1 é utilizada para ambientes inter- de 2017. Com esses dados de entrada, o software
nos ou externos sem carga solar, e a Equação 2 para tinha um potencial de gerar 2.920 estimativas do
ambientes externos com carga solar. IBUTG por ponto, ou 385.440, no total.
Para a medir as variáveis meteorológicas e esti- A partir da série temporal das medidas realiza-
mar o IBUTG, o software assume um padrão médio das, pode-se analisar a frequência com que os limi-
ponderado pela(s) distância(s) entre o ponto geográ- tes de exposição ao calor ambiental determinados na
fico de interesse e a(s) estação(ões) meteorológica(s) regulamentação então vigente foram ultrapassados
existentes num raio de 80 km. em cada ponto geográfico de interesse. Com isso,
Optou-se por desenvolver um estudo piloto de pode-se criar uma escala de classificação do nível de
aplicação do software em regiões extensas e com risco para sobrecarga térmica dos locais avaliados.
potencial de extrapolação dos limites de sobrecarga
térmica em parcela expressiva da jornada de trabalho,
de modo que foi escolhida a região Nordeste do Brasil, Resultados
onde o calor intenso é notório. Decidiu-se privilegiar
ambientes predominantemente rurais e não urbanos Dos 132 pontos geográficos referenciais defini-
devido à inviabilidade de estimar, pelo software, as dos, 26 não apresentaram estimativas do IBUTG
diversas configurações possíveis de ambiente urbano. (pontos nº 6, 7, 9, 10, 12, 14, 20, 21, 24, 26, 32,
33, 34, 42, 46, 71, 80, 84, 85, 96, 101, 112, 117,
A partir do mapa da região, determinou-se uma 121, 152 e 128), seja por estarem a uma distância
malha de pontos distantes entre si em 1° de latitude
superior a 80 km das estações meteorológicas ou
e 1° de longitude, isto é, as distâncias entre os pontos
por problemas na geração de dados de algumas des-
são de aproximadamente 110 km. Os pontos defini-
sas estações. A Figura 2 mostra, para cada ponto,
dos podem ser observados na Figura 1.
o percentual de estimativas em que o valor do
O software foi utilizado para determinar uma IBUTG extrapola o limite de exposição para traba-
série temporal de valores do IBUTG para os pontos e lho contínuo vigente no Anexo nº 3 da NR1510 para
período definidos. Cada um dos 132 pontos do mapa os 3 tipos de atividades determinados pela norma:
foi inserido no software Sobrecarga Térmica, gerando pesado, moderado e leve.

Figura 1 Pontos da região Nordeste utilizados para estimativas de valores de série temporal do IBUTG para caracteriza-
ção de risco de sobrecarga térmica
Fonte: Adaptado de Google Maps.

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Medidas
Medidas
de IBUTG
de IBUTG
parapara
cadacada
horahora
da jornada
da jornada
comcom
limite
limite
de de Medidas
Medidas
de IBUTG
de IBUTG
parapara
cadacada
horahora
da jornada
da jornada
comcom
limite
limite
de de
Medidas
Medidas
de IBUTG
de IBUTG
parap
exposição
exposição
extrapolado
extrapolado
parapara
trabalho
trabalho
contínuo
contínuo
do tipo
do tipo exposição
exposição
extrapolado
extrapolado
parapara
trabalho
trabalho
contínuo
contínuo
do tipo
do tipo
exposição
exposição
extrapolado
extrapolap
pesado
pesado moderado
moderado

95% 95%
96% 96% 87% 87%
88% 88% 16% 16%
18% 18%
x xx x 96% 96% x xx x 79% 79% x xx x 4% 4%
x xx xx xx 98%
x 98%
97% 97%
99% 99%
97% 97% x xx xx xx 95%
x 95%
93% 93%
92% 92%
87% 87% x xx xx xx 6x
95% 95%
96% 96%
98% 98%x 98%
x 98%
98% 98%x xx 69%
x 69%
99% 99% 79% 79%
83% 83%
94% 94%x 93%
x 93%
95% 95%x xx 35%
x 35%
94% 94% 12% 12%
18% 18%
58% 58%x 49%
x 494
97% 97%x 97%
x 97%
95% 95%
96% 96%
98% 98%
90% 90%x 99%
x 99%
99% 99%
98% 98%x x 89% 89%x 89%
x 89%
84% 84%
87% 87%
91% 91%
67% 67%x 89%
x 89%
90% 90%
85% 85%x x 45% 45%x 34%
x 34%
37% 37%
33% 332
94% 94%x xx 94%
x 94%
96% 96%
94% 94%
86% 86%
95% 95%x xx 95%
x 95%
86% 86%
94% 94% 82% 82%x xx 81%
x 81%
86% 86%
82% 82%
63% 63%
79% 79%x xx 75%
x 75%
53% 53%
71% 71% 29% 29%x xx 31%
x 31%
37% 372
94% 94%
93% 93%
94% 94%
94% 94%
86% 86%
94% 94%
92% 92%
72% 72%
97% 97%
76% 76%x 82%
x 82%
96% 96% 85% 85%
79% 79%
83% 83%
83% 83%
63% 63%
82% 82%
75% 75%
38% 38%
83% 83%
47% 47%x 50%
x 50%
82% 82% 37% 37%
23% 23%
29% 29%
29% 29%
7% 7%
2
x xx 92%
x 92%
88% 88%
89% 89%
83% 83%
73% 73%
90% 90%
77% 77%
68% 68%x 78%
x 78% x xx 75%
x 75%
66% 66%
69% 69%
59% 59%
43% 43%
73% 73%
50% 50%
35% 35%x 74%
x 74% x xx 18%
x 18%
9% 9%
1
89% 89%
89% 89%
92% 92%
87% 87%
76% 76%
69% 69%
69% 69%
69% 69%
97% 97%
85% 85%
87% 87% 73% 73%
76% 76%
76% 76%
71% 71%
43% 43%
46% 46%
43% 43%
43% 43%
83% 83%
62% 62%
62% 62% 22% 22%
33% 33% 19% 191
24% 24%
x 86%
x 86%
93% 93%
94% 94%
60% 60%
55% 55%
70% 70%
54% 54%
77% 77%
99% 99% x 66%
x 66%
81% 81%
81% 81%
32% 32%
27% 27%
45% 45%
26% 26%
51% 51%
96% 96% x 12%
x 12%
39% 39%
31% 310
62% 62%
86% 86%
87% 87%
94% 94%
69% 69%
51% 51%
70% 70%
74% 74%x x 37% 37%
69% 69%
68% 68%
82% 82%
42% 42%
22% 22% 51% 51%x
46% 46% x 1% 1%
18% 18%
14% 14%
31% 313
62% 62%
82% 82%x 80%
x 80%
57% 57%
76% 76%
82% 82%
76% 76%
91% 91% 36% 36%
63% 63%x 58%
x 58%
34% 34%
53% 53%
Medidas 63%
de 63%
51% 51%
IBUTG 74% 74%
para 1% 1%13%
cada hora da jornada com limite de13%x 10%
x 101
57% 57%
80% 80%
95% 95%
95% 95%
16% 16%x 63%
x 63%
89% 89% 31% 31%
64% 64%
84% 84% 2% exposição
85% 85% 2%x 40%
x 40%extrapolado
70% 70% para trabalho contínuo do
0%tipo
0%
13% 13%
28% 28%
30% 30
58% 58%x 76%
x 76%
60% 60%
69% 69%
61% 61%
78% 78% 32% 32%x 60%
x 60%
31% 31%
44% 44%
38% 38%
55% 55% pesado 1% 1%x 10%
x 10%
1% 1%
4
40% 40%
70% 70%
85% 85% 16% 16%
48% 48%
66% 66%
95% 96%
x x x x
x x 96%
63% 63% 42% 42%
x x x x 98% 97% 99% 97%
95% 96% 98% x 98% 98% x x 69% 99% 7
jornada com limite de Legenda:
Legenda:
Medidas de IBUTG para cada hora da jornada com limite de 97% x 97% 95% 96% 98% 90% x 99% 99% 98% x 8
ho contínuo do tipo % de
% estimativas
de estimativas
IBUTG
IBUTG
> limite
> para
limite
parapara
trabalho
trabalho
contínuo
contínuo
exposição extrapolado trabalho contínuo do tipo leve 94% x x 94% 96% 94% 86% 95% x x 95% 86% 94% 8
% ≥%0 e≥≤025%
e ≤ 25%
% >%25% > 25%
e ≤ 50%
e ≤ 50% 94% 93% 94% 94% 86% 94% 92% 72% 97% 76% x 82% 96% 8
% 16%
>%50% e 18%
> 50%
≤ 75%
e ≤ 75% x x 92% 88% 89% 83% 73% 90% 77% 68% x 78%
% >%75%x> 75%x 4%
x Pontos
x Pontossem sem
dadosdados 89% 89% 92% 87% 76% 69% 69% 69% 97% 85% 87%
87% x x x x 63% 37% 13% 5%
x 86% 93% 94% 60% 55% 70% 54% 77% 99%
35% 94% 12% 18% 58% x 49% 46% x x 0% 35%
62% 86% 87% 94% 69% 51% 70% 74% x
89% 90% 85% x 45% x 34% 37% 33% 23% 2% x 22% 20% 3% x
62% 82% x 80% 57% 76% 82% 76% 91%
x x 75% 53% 71% 29% x x 31% 37% 23% 8% 10% x x 11% 0% 0%
57% 80% 95% 95% 16% x 63% 89%
83% 47% x 50% 82% 37% 23% 29% 29% 7% 26% 16% 0% 6% 1% x 0% 9%
58% x 76% 60% 69% 61% 78%
73% 50% 35% x 74% x x 18% 9% 12% 5% 1% 19% 1% 0% x 17%
40% 70% 85%
43% 83% 62% 62% 22% 33% 24% 19% 1% 3% 2% 2% 11% 3% 0%
x
26% 51% 96% x 12% 39% 31% 0% 0% 2% x 4% 42%
63%
51% x 1% 18% 14% 31% 3% 0% 2% 3% x
51% 74% 1% 13% x 10% 1% 6% 14% 2% 19% Legenda:
70% 0% 13% 28% 30% x x 3% 4% % de estimativas IBUTG > limite para trabalho contínuo
1% x 10% 1% 4% 2% 5% % ≥ 0 e ≤ 25%
% > 25% e ≤ 50%
66% 0% 4% 6%
% > 50% e ≤ 75%
x % > 75%
3% x Pontos sem dados

Figura 2 Distribuição territorial dos valores do IBUTG que extrapolam os limites de exposição definidos pela NR1510 para
trabalho contínuo, por tipo de atividade, na região Nordeste, no período de 1º de setembro de 2016 a 31 de agosto de 2017

A NR1510 determina que, quando ultrapassado o para cada tipo de atividade e de seus respectivos regi-
limite para trabalho contínuo definido para cada um mes de trabalho/descanso encontra-se no Quadro nº 1
dos tipos de atividade (leve, moderado e pesado), deve- do Anexo nº 3 da NR1510.
-se adotar o regime de trabalho com descanso, podendo A Figura 3 mostra, percentualmente, a estimativa
ser na proporção de 15, 30 ou 45 minutos de descanso de quantidade de horas paradas relativas à aplicação
a cada hora de trabalho, o que não é permitido sem a dos regimes de trabalho/descanso acima descritos
adoção de medidas adequadas de controle. Para este (paradas ou descanso de 15, 30 ou 45 minutos, ou
último caso, considerando-se que não se adotem tais ainda interrupção total das atividades em cada hora
medidas, será considerada a hora toda como parada (ou da jornada de trabalho), conforme cada tipo de ativi-
de descanso). O detalhamento dos limites do IBUTG dade, no período de 12 meses estudado.

Rev Bras Saude Ocup 2019;44:e14 5/9


Quantidade percentual
Quantidade
de horas
percentual
paradasde
relativas
horas paradas
à relativasQuantidade
à percentual
Quantidade
de horas
percentual
paradasde
relativas
horas paradas
à relativasQuantidade
à percentual
Quantidade
de horas
percen
par
aplicação dos regimes
aplicação
de trabalho/descanso
dos regimes de trabalho/descanso
para atividade paraaplicação
atividadedos regimes
aplicação
de trabalho/descanso para atividade paraaplicação
dos regimes de trabalho/descanso atividadedos regimes
aplicação
de trabalho/desca
dos regimes d
do tipo pesado do tipo pesado do tipo moderadodo tipo moderado do tipo leve

68% 69% 68% 69% 47% 48% 47% 48% 6% 7% 6% 7%

x x 60% x x 60% x x 34% x x 34% x x 2% x x 2%

x x x x x87% x78% x70% x65%87% 78% 70% 65% x x x x x73% x60% x48% x41%73% 60% 48% 41% x x x x x38% x19% x 5% x 2%

64% 68% 85% x 64%


82%68%
82%85%x x x 82%
33%82%
78% x x 33% 78% 41% 45% 70% x 41%
65%45%
64%70%x x x 65%
12%64%
59% x x 12% 59% 5% 7% 36% x 5%
28%7%
22%36%x x x 28%
0%

78% x 74% 73%78%


74% x73%74%
53%73%x 74%
70%73%
71%53%
61% x x 70% 71% 61%
61% x x 55% 55%61%
54% x52%55%
28%55%x 54%
48%52%
49%28%
36% x x 48% 49% 36%
26% x x 16% 21%26%
15% x10%16%
1%21%x 15%
10%

69% x x 70%69%
74% x67% x52%70%
62%74%x 67%x 52%
61%62%
45% x55% x 61%
49%45%x 55%x 50%49%
55% x46% x29%50%
38%55%x 46%x 29%
36%38%
19% x28% x 36%
14%19%x 28%x 16%14%
20% x10% x 3%16%
4%20%x

73% 67% 70% 70%73%


53%67%
68%70%
61%70%
36%53%
64%68%
41%61%x 36%
43%64%
64%41% x56%43%
46%64%
50% 49%56%
29%46%
48%50%
39%49%
14%29%
39%48%
18%39%x 14%
18%39%
41%18% x20%18%
11%41%
14% 13%20%
3%11%
13%14%
7%13%
0% 3%2%

x x 63% 55% x57% x49%63%


38%55%
62%57%
41%49%
33%38%x 62%
58%41% 33% x x 58%x 41% 32% x34% x26%41%
16%32%
41%34%
19%26%
11%16%x 41%
41%19% 11% x x 41%x 7% 3% x 5% x 2% 7%0% 3%9%

63% 67% 65% 60%63%


39%67%
39%65%
37%60%
37%39%
65%39%
49%37%
49%37% 65% 49% 49%
42% 48% 44% 39%42%
16%48%
19%44%
18%39%
18%16%
41%19%
25%18%
23%18% 41% 25% 23%
10% 18% 12% 9%10%
1%18%
1%12%
1% 9%1%
Quantidade percentual de horas paradas relativas à Quantidade percentual de
x 56% 72% 70% x30%56%
27%72%
38%70%
26%30%
43%27%
82%38% 26% 43% 82% x 34% 53% 50% x11%34%9%53%
18%50%
9%11%22%9%
62%18% 9% 22% 62% x 5% 21% 16% x 0% 5%0%21%1%16%
0%
aplicação dos regimes de trabalho/descanso para atividade aplicação dos regimes de traba
32% 59% 57% 70%32%
37%59%
23%57%
38%70%
42%37%x 23% 38% 42% x 14% 39% 35% 50%14%
18%39%
7%35%
18%
do tipo pesado 50%
22%18%x 7% 18% 22% x 0% 10% 5% 16%0%1%10% 0%
do tipo 1%
5%1%16%
m
32% 53% x 50%32%
30%53%
45% x54%50%
42%30%
63%45% 54% 42% 63% 14% 33% x 29%14%
13%33%
25% x33%29%
20%13%
41%25% 33% 20% 41% 0% 7% x 4% 0%0% 7%2% x 6% 4%1%

29% 53% 70% 71%29%


5%53%x 70%
36%71%
56%5% x 36% 56% 11% 34% 50% 52%11%
0%34%x 50%
18%52%
33%0% x 18% 33% 0% 5% 13% 15%0%0% 5% x 13%
1%15%
1%
68% 69% 47% 48%
29% x 49% 30%29%
39% x33%49%
46%30% 39% 33% 46% 12% x 30% 11%12%
20% x15%30%
25%11% 20% 15% 25% 0% x 4% 0% 0%2% x 1% 4%2% 0%
x x 60% x x 34%
18% 41% 54% 18% 41% 54% 5% 21% 32% 5% 21% 32% 0% 2% 2%
x x x x 87% 78% 70% 65% x x x x 73% 60%
x x x x x

36% 36% 64% 68% 85% x 82% 82% x x 33% 78%


18% 18% 41% 45% 70% x 65% 64%
1% x

78% x 74% 73% 74% 73% 53% x 70% 71% 61% x 61% x 55% 55% 54% 52% 28%
adas relativas à Quantidade percentual
Legenda: Legenda: de horas paradas relativas à 69% x x 70% 74% 67% 52% 62% x x 61% 45% 55% 49% x x 50% 55% 46% 29%
anso para atividade %aplicação
de horas dos regimes
paradas
%pela de trabalho/descanso
de aplicação
horas paradas
dos regimes para
pela aplicação dosatividade
de trabalho/descanso
regimes de previstos
trabalho/descanso
na NR15 previstos na NR15
% ≥ 0 e ≤ 25% % ≥ 0 do
e ≤ tipo
25% leve 73% 67% 70% 70% 53% 68% 61% 36% 64% 41% x 43% 64% 56% 46% 50% 49% 29% 48% 39%
% > 25% e ≤ 50% % > 25% e ≤ 50%
% > 50% e ≤ 75% % > 50% e ≤ 75% x x 63% 55% 57% 49% 38% 62% 41% 33% x 58% x x 41% 32% 34% 26%
% >6%75% 7% % > 75%
x Pontos sem dadosx Pontos sem dados 63% 67% 65% 60% 39% 39% 37% 37% 65% 49% 49% 42% 48% 44% 39% 16% 19%
x x 2%
x 56% 72% 70% 30% 27% 38% 26% 43% 82% x 34% 53% 50% 11% 9%
% x x x x 38% 19% 5% 2%
32% 59% 57% 70% 37% 23% 38% 42% x 14% 39% 35% 50% 18% 7%
% 59% 5% 7% 36% x 28% 22% x x 0% 19%

% 49% 36% x 26% x 16% 21% 15% 10% 1% x 10% 9% 1% x 32% 53% x 50% 30% 45% 54% 42% 63% 14% 33% x 29% 13% 25%

x 36% 19% 28% 14% x x 16% 20% 10% 3% 4% x x 4% 0% 0% 29% 53% 70% 71% 5% x 36% 56% 11% 34% 50% 52% 0% x

% 18% x 18% 41% 20% 11% 14% 13% 3% 13% 7% 0% 2% 0% x 0% 3% 29% x 49% 30% 39% 33% 46% 12% x 30% 11% 20% 15%
% 19% 11% x 41% x x 7% 3% 5% 2% 0% 9% 0% 0% x 7%
18% 41% 54% 5%
% 41% 25% 23% 10% 18% 12% 9% 1% 1% 1% 1% 4% 1% 0%
x
22% 62% x 5% 21% 16% 0% 0% 1% 0% 2% 18%
36%
% x 0% 10% 5% 16% 1% 0% 1% 1% x

% 41% 0% 7% x 4% 0% 2% 6% 1% 8%

% 0% 5% 13% 15% 0% x 1% 1% Legenda:


% de horas paradas pela aplicação dos regimes de trabalho/descanso previstos na NR15
0% x 4% 0% 2% 1% 2%
% ≥ 0 e ≤ 25%
% 0% 2% 2% % > 25% e ≤ 50%
x % > 50% e ≤ 75%
% > 75%
1% x Pontos sem dados

Figura 3 Horas paradas que deveriam ser cumpridas, conforme aplicação dos regimes de trabalho previstos na
NR1510, em função dos valores do IBUTG estimados para cada ponto, na região Nordeste, no período de 1º de se-
tembro de 2016 a 31 de agosto de 2017

Na Tabela 1 observa-se que, em atividades tempo de trabalho. Considerando o todo da região


pesadas, há localidades onde o cumprimento Nordeste, esse total ultrapassaria 50% de todo o
da norma definiria paradas em mais de 80% do período de trabalho.

6/9 Rev Bras Saude Ocup 2019;44:e14


Tabela 1 Síntese dos resultados da aplicação do regime trabalho/descanso previsto na NR1510, Anexo nº 3, segundo
os valores do IBUTG estimados pelo software Sobrecarga Térmica, na região Nordeste do Brasil, no período de 1º de
setembro de 2016 a 31 de agosto de 2017
Tipo de atividade
Pesado Moderado Leve
Horas de parada 148.623 92.081 18.055
Total de horas paradas com relação a
54% 33,5% 6,6%
todos os pontos com dados
Maior total de horas paradas (ponto 58) 86,6% 73,2% 37,5%
Menor total de horas paradas (ponto 68) 5,4% 0,4% 0%

Discussão e conclusão dos equipamentos e a baixa qualidade de equipa-


mentos nacionais e similares de menor valor; a
Os resultados obtidos a partir da aplicação do indisponibilidade de pessoal qualificado para rea-
software Sobrecarga Térmica possibilitaram o mapea- lizar as medições; o acompanhamento esporádico
mento da exposição potencial ao calor em trabalhos a das atividades de trabalho; e a falta de autonomia
céu aberto na região Nordeste e permitiram observar do técnico de segurança para suspender as ativi-
que a diminuição da intensidade de trabalho resulta- dades dos trabalhadores. Assim sendo, em vez de
ria em redução expressiva dos índices de extrapola- se tentar investir no monitoramento – que, além de
ção dos limites de sobrecarga térmica estabelecidos ser praticamente inviável, é inócuo, por si só, para
pela NR15. Nos trabalhos com atividades de tipo preservar a saúde dos trabalhadores –, seria mais
pesado, em ao menos 64 pontos geográficos (48% dos viável e, consequentemente, mais efetiva a adoção
132 investigados) as horas de parada necessárias por de políticas de prevenção.
extrapolação dos limites de exposição somariam 54% Uma possibilidade seria garantir um ritmo de tra-
do tempo analisado. A ação de diminuir o ritmo de balho de menor intensidade, proibindo, por exemplo,
trabalho para o nível moderado reduziria o número de a prática comum de atrelar o pagamento à produção.
pontos com limites extrapolados para 19 localidades Essa ação pode ser eficaz tanto para a melhoria das
(14% dos 132 pontos). A introdução de pausas no tra- condições de trabalho como para o atendimento à
balho é indicada como medida prática de prevenção legislação. A despeito disso, há uma grande dificul-
do estresse térmico também no cenário internacional, dade para a aplicação prática dessa medida, pois se
como divulgam a European Agency for Safety and encontra resistência tanto por parte das empresas,
Health at Work (EU-OSHA), da União Europeia25, e o que visam à otimização dos resultados de lucro e
Health and Safety Executive (HSE)26, do Reino Unido, produtividade, como dos trabalhadores, que se focam
assim como o National Institute for Occupational pontualmente no aumento de seus rendimentos. No
Safety and Health (NIOSH)27, dos Estados Unidos, entanto, diante das condições climáticas adversas
preconiza a redução do ritmo de trabalho. para atividades de trabalho de alta intensidade em
regiões como a aqui estudada, a discussão de outras
No entanto, uma proposta de intervenção para
formas de remuneração que possam satisfazer traba-
redução do ritmo/intensidade de trabalho para o tipo
lhadores e empresas se mostra fundamental.
de atividade leve não faria sentido, pois dificilmente se
conseguiria enquadrar tarefas como plantio e colheita De qualquer forma, para os trabalhadores que
nessa categoria, que é descrita na norma por ações desenvolvem suas atividades a céu aberto em
como: “Sentado, movimentos moderados com braços e ambientes predominantemente rurais, em locais
tronco (ex.: datilografia). […] De pé, trabalho leve, em classificados como de alto risco pelo histórico cli-
máquina ou bancada, principalmente com os braços”10. mático-ambiental, é indicada, de antemão, a adoção
de medidas de prevenção, uma vez que, se fosse rea-
O fato de os dados mostrarem que, para a região
lizado o monitoramento em tempo integral, os resul-
Nordeste, em mais de 50% do tempo deveriam
tados revelariam a necessidade, em grande parte,
ocorrer paradas – devido às condições climáti-
senão em todo o tempo, de tais medidas.
cas de calor que excedem os limites legais – tor-
naria irrefutável a necessidade de monitoramento Em suma, há muito a ser feito para concretizar
ambiental praticamente constante das atividades de medidas efetivas que garantam melhores condições
trabalho a céu aberto na região. Contudo, sabe-se de preservação da saúde do trabalhador quanto à
que o monitoramento in loco, na prática, é de difícil exposição ao calor, sobretudo as relacionadas à redu-
execução por diversas razões, como o elevado custo ção da intensificação do trabalho.

Rev Bras Saude Ocup 2019;44:e14 7/9


Contribuições de autoria

Roscani RC e Maia PA elaboraram e delinearam o estudo e fizeram o levantamento de dados. Juntamente


com Monteiro MI, analisaram e interpretaram os dados, elaboraram o manuscrito e fizeram sua revisão crí-
tica. Todos participaram da aprovação final da versão publicada e se responsabilizam publicamente por seu
conteúdo.

Referências

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