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Corpo e Video - Sayuri Ikeda
Corpo e Video - Sayuri Ikeda
Introdução
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Trabalho final da disciplina Atêlie de Projeto Integrado: Corpo e Vídeo do curso de Artes Visuais da Faculdade
Belas Artes no 7º semestre do ano de 2023, com orientação da Professora Dra Carolina Lara Kallas.
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Sayuri Ikeda da Costa Silva, RM: 20100189, estudante de Bacharelado em Artes Visuais da Faculdade Belas
Artes de São Paulo; e-mail: sayuri.ikeda@outlook.com
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protejam essas vidas e clareia-nos de que a intolerância está ligada de forma
indireta à religião, a heteronormatividade e os enraizamentos dos padrões, tanto
ligados ao gênero, quanto os ligados à sexualidade. O Brasil está entre os países
que mais matam LGBT’s, sendo a maior parte mulheres trans, em seguida gays,
lésbicas e por último, homens trans; as principais causas dessas mortes são:
assassinato (83,52%), suicídio (10,99%) e outras causas (5,49%). Ser LGBT+ no
Brasil, é estar fadado ao preconceito e a moralismos cristãos, por isso, é importante
o apoio familiar ou alguma rede de apoio que ofereça segurança e proteção.
A ligação do preconceito, assim como exercer certos papéis, o conceito de
família, vem do Catolicismo, historicamente, a primeira religião que temos como
herança da colonização portuguesa.
A dificuldade do presente artigo, é como sensibilizar o espectador sobre
como os discursos religiosos podem violentar o corpo, violências essas que muitas
vezes são silenciosas e que geralmente atingem o psicológico e a autoimagem.
Pensando nisso, a obra pretende de forma subjetiva e silenciosa, construir de forma
a não narrativa os pesos das palavras e das ações, no caso da obra, colocados
como rituais básicos da Igreja Católica
O seguinte artigo segue a concepção da obra e direção de arte inspirada no
documentário de mesma temática Lesbian Mother de Rita Moreira e o filme Triolets
de Dora Maurer para a estrutura com quebra de narrativa e edição.
Quanto às relações entre corpo e vídeo, VINHOSA (2020, p.298) define que
“o corpo performado em vídeo, entre dois estados de representação e de
contaminação mútua, seria residual e instável – a performance propriamente dita e
sua imagem desdobrada em vídeo: videoperformance”;3 criando o elo entre
performance e o estado de vídeo, ou seja, a performance documentada e o que dela
é presente ou ausente nesse estado.
Para as relações entre corpo e religião, BUSIN (2011, p.115) “a principal
estratégia utilizada pelo Catolicismo para impor seus valores morais para a
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VINHOSA, L. Videoperformance: corpo em trânsito. Revista Estado da Arte, [S. l.], v. 1, n.
2, p. 298, 2020. DOI: 10.14393/EdA-v1-n2-2020-57782. Disponível em:
https://seer.ufu.br/index.php/revistaestadodaarte/article/view/57782. Acesso em: 11 jun.
2023.
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sociedade pressupõe um forte investimento na família de origem e na manutenção
do modelo nuclear de família.”4 Sendo assim, é possível traçar no presente artigo,
as conexões entre a religião e a construção social da definição de família e como
ela afeta a individualidade e em especial, a sexualidade.
Por fim, conectar corpo, religião e sexualidade para a construção da obra
para a representação entre o sagrado e o profano, ELIADE (p.98) define que "o
sagrado é o obstáculo por excelência à sua liberdade. O homem só se tornará ele
próprio quando estiver radicalmente desmistificado. Só será verdadeiramente livre
quando tiver matado o último Deus.” 5 Entendendo assim, que para que a liberdade,
ou seja, estar livre das amarras religiosas é necessário a desmistificação do
sagrado.
1. A Obra
A obra meia, meia, meia é uma vídeo performance que pretende denunciar as
violências silenciosas dos discursos religiosos na sexualidade. Através do vídeo, o
corpo da artista sofre, de forma passiva, com as ações de um outro corpo ativo que
o condena com a utilização de alguns movimentos comuns no Catolicismo como o
sinal da cruz e de benzimento.
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BUSIN, V. M. Religião, sexualidades e gênero. REVER: Revista de Estudos da Religião,
v. 11, n. 1, p. 105–124, 25 jun. 2011. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/index.php/rever/article/view/6032/4378. Acesso em: 11 jun. 2023.
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ELIADE, Mircea, 1907 1986. O sagrado e o profano / Mircea Eliade ; [tradução Rogério
Fernandes]. – São Paulo: Martins Fontes, 1992. Disponível em:
https://gepai.yolasite.com/resources/O%20Sagrado%20E%20O%20Profano%20-%20Mirce
a%20Eliade.pdf. Acesso em: 11 jun. 2023.
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O ato de esconder e revelar, é interpretado como o antes citado “estar no
armário” e “sair do armário”, esse é o segredo a ser revelado e que só é acessado
com a presença do espectador e seu olhar atento para o vídeo.
A personagem principal da obra é a própria artista, Sayuri Ikeda que estará
passiva das ações dos seguintes personagens que estarão executando as ações,
são eles, Marjorie Ikeda e Evandro da Silva (mãe e pai da artista). Para a gravação,
o celular estará em um tripé e será colocado para gravar com timer e os atos serão
cronometrados, sendo no final, um vídeo apenas com os 3 atos contínuos
cronologicamente. Depois, com o vídeo pronto, ele passará pela edição no Capcut
para separar cada ato em 6 segundos como programado até completar o tempo
total estimado, sem alteração alguma de velocidade, deixando o vídeo fluindo
naturalmente.
A obra deve ser apresentada em uma caixa baú de madeira, sem pintura e
um buraco central na parte superior para que o espectador tenha acesso ao celular
que estará dentro da caixa passando a videoperformance. A escolha da caixa e a
intencionalidade de deixar apenas um buraco para quem a observa vêm das
relações entre “estar dentro do armário” e “sair do armário” expressões usadas para
aqueles da comunidade LGBT+ que não se assumiram e os que já se assumiram,
consequentemente. A proposta do modo de apresentação da obra, segue a ideia de
dar luz, de revelar aquilo que estava escondido, o que era um segredo, um tabu
guardado que agora é revelado para aqueles que sintam a curiosidade de vê-la.
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Figura 1: Exibição da obra
Fonte: Imagem autoral
5
ao longo da história o corpo vai cedendo a experiência, ou seja, o corpo vai se
tornando o próprio suporte.
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VINHOSA, L. Videoperformance: corpo em trânsito. Revista Estado da Arte, [S. l.], v. 1,
n. 2, p. 298, 2020. DOI: 10.14393/EdA-v1-n2-2020-57782. Disponível em:
https://seer.ufu.br/index.php/revistaestadodaarte/article/view/57782. Acesso em: 11 jun.
2023.
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Figura 2: Lesbian Mother
Fonte: Medium. Disponível
em:
<https://medium.com/guiamariafirmina/os-v%C3%ADdeos-documentais-e-mi
litantes-de-rita-moreira-313ccba0b337> . Acesso em: 07 de abril de 2023
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Figura 3: Triolets
Fonte: Tate. Disponível em:
< https://www.tate.org.uk/art/artworks/maurer-triolets-t14286> . Acesso em: 07 de
abril de 2023
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arrependimento / 6 segundos - condenação / 6 segundos – remição) até que finalize
os 6 minutos com os recortes.
Para todos os atos a artista estará vestida de branco e em fundo branco, uma
referência ligada à paz, espiritualidade e inocência, muito utilizada pela Igreja
Católica e será usada para que nada esteja em destaque além da ação, além de
criar um ambiente que remete a toda pureza da cor mas que ao olhar atentamente
as ações, perceba a tensão subjetiva.
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Figura 5: Arrependimento - Meia, Meia, Meia
Fonte: Print do vídeo - Autoria própria
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Figura 6: Condenação - Meia, Meia, Meia
Fonte: Print do vídeo - Autoria própria
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Figura 7: Remição - Meia, Meia, Meia
Fonte: Print do vídeo - Autoria própria
Remição faz uma brincadeira gramatical entre “remissão” e “remição”,
palavras homófonas; remissão vêm do verbo remitir e transmite a ideia de perdão e
libertação, já remição, vêm do verbo remir, que transmite a noção de desobrigação
do cumprimento de algo. Na obra, essas duas noções da palavra criam um jogo
entre obrigação ou desobrigação de seguir um padrão heteronormativo, ou seja,
essa mão continua atacando o corpo, mesmo que de forma subjetiva, mas não
sabemos se ele é livre ou não, se ele acata ou não esses padrões, se ele está se
libertando de si ou mostra que seguirá sendo quem é, independente dos atos
violentos e silenciosos que sofre durante esses minutos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A religião acaba sendo para muitos, o primeiro contato social com um grande
grupo de pessoas que são guiados por dogmas; assim como as formas de agir, a
sexualidade está dentro dessa experiência religiosa que é, de certa forma,
modeladora que anula qualquer adversidade, aquilo que não é homogêneo.
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A experiência religiosa é pensada como parte de um processo de construção
de si, em conexão com outros domínios da vida social, como: percurso sexual
amoroso, história familiar e etapa da vida. (NATIVIDADE apud BUSIN, 2011, p.116).
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BUSIN, V. M. Religião, sexualidades e gênero. REVER: Revista de Estudos da Religião,
v. 11, n. 1, p. 116, 25 jun. 2011. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/index.php/rever/article/view/6032/4378. Acesso em: 11 jun. 2023.
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