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“Por que eu me distraio tão facilmente quando me esforço tanto para me concentrar?

“Eu sei que deveria ter aquele projeto pronto esta manhã, mas simplesmente não
consegui tirar a cabeça deste excelente videogame de futebol que estava jogando
com rapazes de todos os Estados Unidos. Agora estou realmente em apuros. Se
descubro algo excitante, divertido ou pelo menos interessante, fico completamente
paralisado.”

“Não consigo lhe dizer quantas vezes falei sem pensar e acabei ofendendo alguém,
ou comprei coisas que pensei que realmente queria sem ter fundos em meu cartão
de crédito para pagá-las, ou simplesmente me levantei e abandonei um emprego
porque estava entediado com o que era solicitado a fazer naquele dia.”

Todos precisamos parar e pensar antes de agir. E parar é a palavra-chave aqui.


Pensar antes de agir para poder escolher um curso de ação inteligente começa
com a capacidade de esperar. Se reagíssemos imediatamente a tudo o que acon-
tece a nossa volta, passaríamos nossos dias como fliperamas humanos. Não reagir
aos eventos que acontecem a nossa volta é fundamental para concluirmos nossas
tarefas. É a base da diplomacia. Isso nos ajuda a tomar boas decisões – e a nos
tornarmos tomadores de decisões cada vez melhores no decorrer do tempo.

A seguir, uma curta lista de atividades que Dan, de 30 anos, disse considerar difí-
ceis, senão impossíveis:

Ler.
Realizar trabalho administrativo.
Assistir a uma aula na universidade.
Assistir à TV.
Assistir a um filme.
Ter longas conversas.

Dan achava quase impossível ler mais de um parágrafo de cada vez, porque
havia “sempre algo acontecendo a minha volta que me distraía, fosse um passari-
nho cantando do lado de fora da janela, um de meus filhos andando pela sala ou
alguma divagação que passava pela minha mente quando eu lia uma frase que me
lembrava outra coisa”. Fazer trabalho administrativo era ainda mais penoso: “Não
consigo me concentrar muito tempo nessas coisas tediosas”. Aulas? Estas eram
“o pior, porque eu não podia sair da sala de aula quando ficava entediado, mas
também não conseguia concentrar muito tempo minha atenção no que o professor
estava dizendo”. Dan era capaz de assistir a um programa de TV que ele realmente
gostasse, mas, ainda assim, via-se “mudando constantemente de canal entre mui-
tos programas diferentes, especialmente durante os comerciais”. A esposa de Dan
gostava de se sentar e falar sobre o seu dia depois do trabalho, mas Dan dizia que
ele sempre tinha de fazer algo físico, movimentando-se o tempo todo ou apenas se
mantendo ocupado. “Dentro de mim”, explicava ele, “eu me sinto extremamente
inquieto, mesmo quando não estou me movimentando muito. Simplesmente te-
nho esta urgência de me manter ocupado, mexendo em algo ou brincando com
alguma coisa a minha volta. Isso deixa minha esposa louca”.

Durante a maior parte de sua vida, disseram a Dan que ele não “prestava
atenção”. Isso nunca fez muito sentido para ele. Ele não divagava ou “ficava longe”
de propósito. A chave para entender o TDAH é que muitos problemas rotulados
simplesmente como “dificuldade para prestar atenção” são, na verdade, problemas
com o controle dos impulsos. Não se trata apenas de Dan e de outros adultos com
TDAH não conseguirem manter a atenção. Trata-se também de não conseguirem
resistir ao impulso de prestar atenção em alguma outra coisa que entra em seu
campo de visão... ou de audição... ou de pensamento... a qualquer momento em
que entre nesse campo. O problema não é não saber o que fazer (prestar atenção),
mas não fazer o que você sabe no momento certo – que é PARAR antes de começar
a divagar.
A baixa inibição é um problema que se desenvolve muito cedo, e, na maio-
ria dos casos, continua sendo um problema para os adultos com TDAH durante
a vida toda. Desde que você consegue se lembrar, seus pais, amigos e colegas
de trabalho provavelmente têm ficado desconcertados com sua incapacidade de
bloquear visões, sons e movimentos que distraem a atenção. Eles conseguem
se concentrar na tarefa que estão realizando; por que você não consegue? Você
percebe os ruídos e as visões periféricas melhor do que as outras pessoas? É
mais sensível a tudo o que está acontecendo a sua volta? Não. As pessoas que
não têm TDAH podem se impedir de reagir às distrações; elas praticam isso tão
automaticamente que nem mesmo têm consciência de fazer algum esforço nesse
sentido. Você, por outro lado, carece desse “desligamento” que poderia manter
sua mente treinada na tarefa que lhe é mais importante: aquela que é preciso
fazer neste exato momento.
As atividades problemáticas para Dan também têm muito a ver com estar
sentado quieto. O controle dos impulsos está altamente relacio-
nado à hiperatividade, que é mais comum nas crianças do que
nos adultos. Observe que Dan diz que se sente o tempo todo
internamente inquieto. Ele pode agora conseguir resistir ao im-
pulso de dar cambalhotas na sala enquanto sua esposa está falan-
do – um impulso ao qual ele não conseguia resistir quando tinha
10 anos –, mas termina batendo o pé, brincando com os objetos
que estão próximos dele, ou se sentindo tão desconfortavelmente
impaciente que o simples fato de se concentrar na voz de sua esposa o deixa com
uma expressão irritada. Você pode imaginar como ela interpreta esta reação de
seu marido.

Agora veja a lista das tarefas “impossíveis” para Shayla, de 25 anos:

Esperar em filas.
Ficar em silêncio quando alguém “não parece fazer um movimento”.
Esperar para virar à direita em um sinal vermelho.
Parar de falar, uma vez que começou.

Dizendo que “simplesmente não consegue esperar pelas coisas”, Shayla per-
deu filmes a que queria assistir porque não é capaz de ficar em uma longa fila. Se
vários automóveis estão na frente do dela em um sinal vermelho, e ela quer virar
à direita, Shayla simplesmente segue pelo acostamento ou sobe na calçada até o
sinal e entra à direita sem esperar. Quando está parada no trânsito, em geral buzi-
na muito para tentar fazer as pessoas se moverem, “ainda que saiba que em geral
isso não vai funcionar”.
Enquanto Dan percebe que não consegue fazer algo devido às distrações, os
problemas de Shayla com a inibição são mais relacionados com o que ela realmen-
te faz porque não consegue acionar os freios mentais. Sua carteira de motorista já
foi suspensa uma vez devido a seu hábito de dirigir perigosamente. Ela tem pulado
de emprego em emprego, às vezes saindo no primeiro dia porque não é capaz de
suportar as partes tediosas do trabalho ou qualquer coisa que envolva esperar. Na
escola, era constantemente enviada para a sala do diretor por ser uma “tagarela”,
e, já adulta, é com frequência rotulada de “cansativa” ou “egomaníaca” porque
parece não resistir a monopolizar qualquer conversa. Quando adolescente, não
conseguiu suportar esperar até ter economizado dinheiro suficiente para comprar
o pequeno carro esporte que ela queria. Então, certo dia, Shayla pegou “empres-
tado” um que pertencia a um amigo de seu pai. Felizmente, o amigo se recusou a
dar queixa na polícia quando relatou o furto e a polícia deteve Shayla ao longo da
rodovia em alta velocidade. Mas as coisas nem sempre terminam tão bem atual-
mente. Ela tem se envolvido em discussões abusivas com estranhos e afastado os
amigos porque fala qualquer coisa que lhe vem à mente. As pessoas a descrevem
como exaltada, mal-educada e simplesmente “ignorante” ou “estúpida”. A verdade
é que os problemas emocionais e intelectuais também entram em jogo nas esco-
lhas comportamentais infelizes de Shayla (veja o Capítulo 9), mas o problema se
inicia quando Shayla não PARA seus impulsos imediatos.

O mesmo problema básico que lhe dificulta ficar sentado quieto e se concentrar
ou pensar antes de agir pode também, acredite ou não, dificultar-lhe parar o que
está fazendo. Durante todo o tempo de escola, as pessoas achavam que Jess sim-
plesmente não conseguiria aprender. Ele parecia cometer os mesmos erros sem
parar. Ele persistia obstinadamente com um esforço que todos que o cercavam
podiam perceber ser infrutífero. Certa vez, ele quebrou uma chave na porta da
garagem de sua namorada porque, quando não conseguiu destrancar a porta,
continuou torcendo-a até quebrá-la. Quando adulto, deixou um saca-rolhas irre-
conhecível porque não percebeu, enquanto tentava abrir uma garrafa de vinho,
que o metal não era uma folha metálica cobrindo a ponta de uma rolha de
cortiça, mas sim uma tampa de metal no lugar da rolha. Seu vizinho, certa vez,
chamou o corpo de bombeiros quando Jess deixou incendiar um arbusto porque
estava tão envolvido em planejar uma horta que acabou se distraindo enquanto
usava a churrasqueira.
Quando a maioria das pessoas comete um erro no meio de um projeto – um
ingrediente acrescentado a um prato não produziu o efeito que a receita disse que
teria, ou a tinta praticamente acabou com apenas metade da garagem pintada –,
elas tendem a parar e pensar por um momento sobre o erro e se ele significa algo
importante. Os erros com frequência nos informam sobre como poderíamos ter
feito algo melhor ou se deveríamos parar totalmente essa atividade, pelo menos
naquele momento. Os adultos com TDAH não parecem monitorar tão bem quanto
as outras pessoas seu desempenho nas tarefas, ou usar os erros que cometem para
obter informações importantes que poderiam guiar suas ações no futuro imediato.
É como se partissem em uma linha reta e nela permanecessem, não importa os
erros que pudessem estar acumulando atrás deles.
Se o que estão fazendo é particularmente divertido, gratificante ou interes-
sante, muitos adultos com TDAH podem também achar difícil parar, mesmo quan-
do não estão cometendo erros, mas precisam continuar outra tarefa que necessita
ser realizada logo, porém é menos interessante. Chamamos este problema de per-
severação. A perseveração com frequência se parece com a procrastinação. Mas,
como você deve saber, não se trata de a pessoa ter decidido adiar algo que não é
divertido. Trata-se de decidir continuar fazendo algo que é divertido.

A baixa inibição pode tornar a realização de qualquer tarefa


semelhante a dar um passo para frente e dois passos para trás,
repetidas vezes. Pode também causar má impressão naqueles que
você quer que pensem favoravelmente a seu respeito. Saber que
este déficit está por trás dos problemas que você pode estar ten-
do, parecidos com aqueles de Dan, Shayla e Jess, pode ajudá-lo
a parar de se torturar. Esse conhecimento também em condições
de levá-lo diretamente a caminhos compensatórios que poderão
fazer uma diferença enorme.

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