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Liv CTB Agropecuaria
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AGROPECUÁRIA
Formas de
contabilização
na pecuária
Francine de Camargo Procópio
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
O Brasil está entre os maiores produtores pecuários do mundo, de modo que,
cada vez mais, essa atividade está se tornando profissional. Com isso, passa
a exigir profissionais que tenham conhecimento não só na produção, como na
gestão da propriedade.
Neste capítulo, você vai ver as formas de contabilização na pecuária: método
de custo e método de valor justo. Para tanto, você vai conhecer o que são os ativos
biológicos, o porquê de receberem essa denominação e como são subdivididos
na pecuária.
A partir disso serão abordados os critérios que você deverá levar em conta na
escolha do método a ser utilizado na fazenda, assim como os ativos biológicos
que impactam na tomada de decisões dos investidores.
2 Formas de contabilização na pecuária
Produtos resultantes
do processamento
Ativos biológicos Produto agrícola após a colheita
Ativos biológicos consumíveis são aqueles passíveis de serem colhidos como pro-
duto agrícola ou vendidos como ativos biológicos. Exemplos de ativos biológicos
consumíveis são os rebanhos de animais mantidos para a produção de carne,
rebanhos mantidos para a venda, produção de peixe, plantações de milho e trigo,
produto de planta portadora e árvores para produção de madeira. Ativos biológicos
para produção são os demais tipos como, por exemplo: rebanhos de animais para
produção de leite; árvores frutíferas, das quais é colhido o fruto. Ativos biológicos
de produção (plantas portadoras) não são produtos agrícolas, são, sim, mantidos
para produzir produtos (Alterado pela Revisão CPC 08).
Essa distinção ocorre pelo fato de uma das primeiras exigências da IAS 41,
no parágrafo 40, se dar em relação à apresentação e à divulgação dos ativos
biológicos no balanço — as empresas precisam apresentar suas demonstra-
ções financeiras, a escrituração e a descrição do grupo de ativos biológicos
pertencente, bem como o montante acumulado e correspondente a cada
grupo de ativos biológicos.
Valor de custo
O método de custo representa o quanto a empresa de fato pagou por um
determinado ativo biológico (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2017). São mensurados que
consideram o valor pago em sua data de aquisição. Sua atribuição mais comum
envolve custos durante a produção e o manejo dos ativos nas atividades
agrícolas e zootécnica.
Autores como Niyama e Silva (2008, p. 131) defendem sua utilização por
serem mais objetivos; como mencionado, […] “o custo histórico é a base de
avaliação mais comum na preparação das demonstrações contábeis”.
Todavia, as atribuições podem conter variantes a depender do ativo bio-
lógico, como nos casos a seguir (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS,
2009):
Valor justo
O valo justo como método de mensuração já era utilizado em diversos países,
mas passa a ganhar maior notoriedade após a crise financeira de 2008, quando
o International Accounting Standards Board (IASB) divulga procedimento ba-
seado no valor justo e o Brasil, a fim de se adequar às normas internacionais,
redige o procedimento 29 (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2009),
que exige o ativo biológico nas demonstrações contábeis das companhias
de capital aberto.
O CPC 46 (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2012, p. 3) define valor
justo da seguinte forma: “Valor justo é o preço que seria recebido pela venda
de um ativo ou que seria pago pela transferência de um passivo em uma tran-
sação não forçada entre participantes do mercado na data de mensuração”.
Segundo Rech et al. (2006), valor justo significa a quantia que compradores
e vendedores estariam dispostos a trocar seus ativos em uma operação com
base puramente comercial.
Para Hendriksen e Van Breda (1999, p. 309),
O valor justo, portanto, não é uma base específica de avaliação que possa ser
aplicada de maneira generalizada as demonstrações financeiras. Na verdade,
trata-se de uma combinação de bases de avaliação determinadas pelas comissões
e pelos tribunais para uma finalidade específica.
Ativos biológicos para produção são os demais tipos como, por exemplo: rebanhos de
animais para produção de leite, árvores frutíferas (plantas portadoras) destinadas
a produzir frutos, animais para produção de lã e outros similares.
10 Formas de contabilização na pecuária
A entidade deve utilizar técnicas de avaliação que sejam apropriadas nas circuns-
tâncias e para as quais haja dados suficientes disponíveis para mensurar o valor
justo, maximizando o uso de dados observáveis relevantes e minimizando o uso
de dados não observáveis.
Uma explicação lógica da adoção do valor justo para esses ativos está
na transformação biológica (crescimento, procriação, degeneração, mortes).
Na fase de desenvolvimento do ativo, a transformação biológica tende a
representar ganhos de valor superior aos valores de custos aplicados na
produção, a exemplo do crescimento de rebanho para corte (OLIVEIRA; OLI-
VEIRA, 2017). Da mesma forma, quando há degeneração dos ativos, o mercado
tende a reconhecer a perda rapidamente por meio da diminuição do valor de
negociação, que é quando o mercado determina o novo valor dos ativos, com
base na perda de potencial (re)produtivo (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2017).
Observe a Figura 1. Constata-se que a mensuração pelo valor justo menos
despesa de venda passa a ser a regra adotada no Brasil com a adoção do
CPC 29, a partir de 2010. O custo histórico que, durante toda a história da
contabilidade foi a primeira (e principal) base de mensuração dos ativos
biológicos, passa a ser a exceção.
Formas de contabilização na pecuária 13
Sim Não
Sim Não
Sim Não
Legenda:
Despesas
Em 01/07/2018 Valor justo de venda Valor contábil
Despesas
Em 31/12/2018 Valor justo de venda Valor contábil
Despesas
Em 31/12/2019 Valor justo de venda Valor contábil
Despesas
Em 07/04/2020 Valor justo de venda Valor contábil
Avaliação em 31/12/2018
(Continua)
16 Formas de contabilização na pecuária
(Continuação)
Avaliação em 31/12/2019
Avaliação em 07/04/2020
Fonte: Adaptado de Brito (2010), BeefPoint ([202-?]) e Comitê de Pronunciamentos Contábeis (2009).
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Referências
ARRUDA, F. C. S.; FERREIRA, V. S.; SILVA, A. Tratamento Contábil e suas divulgações
quanto aos ativos biológicos e produtos agrícolas – IAS (International Accounting
Standards) 41-com correlação ao CPC 29 (Pronunciamento Contábil Brasileiro 29).
Revista Interatividade, Andradina, v. 4, n. 2, p. 68–76, 2016.
BEEFPOINT | O ponto de encontro da cadeia produtiva da carne bovina. BeefPoint,
[S. l.], [202-?]. Disponível em: http://www.beefpoint.com.br. Acesso em: 26 fev. 2021.
BRASIL. Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964. Dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá
outras providências. Brasília: Presidência da República, 1964. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4504.htm. Acesso em: 26 fev. 2021.
BRITO, E. Um estudo sobre a subjetividade na mensuração do valor justo na atividade da
pecuária bovina. Orientadora: Maísa de Souza Ribeiro. 2010. 112 f. Dissertação (Mestrado
em Ciências, área de concentração Controladoria e Contabilidade) — Departamento
de Contabilidade, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão
Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2010. Disponível em: https://www.
teses.usp.br/teses/disponiveis/96/96133/tde-07012011-105511/pt-br.php. Acesso em:
26 fev. 2021.
BRITO, E. et al. Aplicação do valor justo aos ativos biológicos e produtos agrícolas na
pecuária bovina. Custos e @gronegócios, Recife, v. 10, n. 1, p. 190–211, jan./mar. 2014.
Disponível em: http://www.custoseagronegocioonline.com.br/numero1v10/AB%20
pecuaria.pdf. Acesso em: 26 fev. 2021.
COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. CPC 29 - Ativo Biológico e Produto Agrícola.
Brasília: CPC, 2009. Disponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/
Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=60. Acesso em: 26 fev. 2021.
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Leituras recomendadas
COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. CPC 08 (R1) - Custos de Transação e Prêmios
na Emissão de Títulos e Valores Mobiliários. Brasília: CPC, 2010. Disponível em: http://
www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=39.
Acesso em: 26 fev. 2021.
COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. CPC 16 (R1) - Estoques. Brasília: CPC, 2009.
Disponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/
Pronunciamento?Id=47. Acesso em: 26 fev. 2021.
INTERNATIONAL ACCOUNTING STANDARDS COMMITTEE. Norma internacional de con-
tabilidade IAS 41: agricultura. Londres: IASC, 2000. Disponível em: http://www.cnc.
min-financas.pt/_siteantigo/IAS_textos_consolidados/IAS_41_Reg_1725_2003_TC.pdf
. Acesso em: 26 fev. 2021.
IUDÍCIBUS, S. et al. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades:
de acordo com as normas internacionais e do CPC. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013. 889 p.