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As Estratégias Metacognitivas
As Estratégias Metacognitivas
RESUMO
O presente artigo objetiva destacar a importância do “conhecer do próprio conhecer” na
prática educativa, isto é, a relação que se estabelece entre aquele que aprende e aquele
que ensina. Ao tomar consciência e adquirir controle sobre sua aprendizagem, acredita-
se que o aluno possa chegar a melhores e mais significativos resultados em seu trabalho
acadêmico. E o professor, utilizando-se do ensino estratégico, ao conhecer a dinâmica
das estratégias metacognitivas no contexto da atividade pedagógica, poderá eleger, com
mais cuidado e responsabilidade ética, os conteúdos a serem trabalhados, observar os
conhecimentos prévios, assim como variar seu estilo de ensinar conforme os estilos
diferentes de aprendizagem de seus alunos.
ABSTRACT
This article aims to emphasise the importance of knowing the learning process in
education, especially in the relation established between that who learns and that who
teaches. It is believed that the student might achieve better and more meaningful results
in his academic work when he becomes aware and responsible for his own learning.
The teacher, on the other hand, by utilizing strategic teaching and by knowing the
dynamics of metacognitive strategies in the context of the pedagogic activity the
teaching context, will be able to choose the contents to be explored, to analyse those
previously used and to vary her teaching approaches according to her students' different
learning styles more carefully and with more ethical responsibility.
1
Trabalho publicado no livro Aprendizagem. Tramas do conhecimento, do saber e da subjetividade.
Petrópolis: Vozes. 2006, p. 47-59.
METACOGNIÇÃO: CONHECER DO PRÓPRIO CONHECER
O estudo sobre a metacognição parece estar ligado a própria existência do ser
humano, e as palavras de Sócrates “conhece-te a ti mesmo”, vêm confirmar esta
necessidade quando nos convidam a conhecer o seu significado.
Hoje se fala muito que uma das metas do processo aprendizagem-ensino é
estimular o aprendiz a ser autônomo, isto é, sujeito do seu próprio aprender. E logo vem
a pergunta: isso pode ser ensinado?
Com certeza, o ensino deve estimular a pessoa a parar, refletir sobre sua própria
maneira de ser, pensar, agir e interagir, assim como também convidá-la,
conscientemente, a mudar quando for necessário melhorar sua aprendizagem.
Segundo essa perspectiva, o que é a metacognição? Quando se expressa um
conhecimento sobre a realidade externa, como por exemplo ‘o cachorro é um
mamífero’, está se expressando um conhecimento em si. Trata-se de um conhecimento
denominado declarativo, resultante de uma informação previamente armazenada na
memória. No entanto, quando o conteúdo do conhecimento se refere ao nosso mundo
interior como, por exemplo, ‘eu gosto de cinema’, pode-se falar de metacognição, pois
trata-se de um conhecimento procedimental sobre o próprio conhecimento, mesmo que
esse seja obtido, como no primeiro caso, de uma informação previamente armazenada.
O termo metacognição tem seu início, na literatura, no começo da década de
setenta, sendo Flavell1, especialista em psicologia cognitiva infantil e um dos seus
precursores. Foi quem o aplicou inicialmente à memória, estendendo seu estudo a
outros processos mentais, como a linguagem e a comunicação, percepção e atenção,
compreensão e solução de problemas, como confirma a sua definição.
ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM
O conceito de estratégias de aprendizagem está relacionado a um conjunto de
operações mentais que requerem planificação e controle na hora de serem executadas. O
fato do conceito de estratégias estar relacionado ao aspecto procedimental de nossos
conhecimentos, leva-nos a considerar que uma seqüência de ações encaminhadas a
conseguir uma determinada meta seria impensável sem a atuação de mecanismos
reguladores. Nenhuma estratégia pode desenvolver-se sem um mínimo de planejamento,
controle e avaliação, o que quer dizer que ao fazer referência sobre o conceito de
estratégias, está se falando de uma atividade consciente e intencional por parte do
sujeito, sobre o que e como ele encaminha os procedimentos apropriados para realizar
uma determinada atividade.
Carles Monereo Font e Montserrat Castelló Badia8 apresentam sua posição com
relação às estratégias de aprendizagem, dizendo que elas são sempre conscientes,
supõem uma resposta socialmente situada, têm um caráter específico e podem incluir
diferentes procedimentos. Na prática, reforçam a idéia de que um estudante, para
utilizar uma determinada estratégia de aprendizagem, tem que planejar, regular e avaliar
suas ações.
A aquisição das estratégias de aprendizagem tem lugar, desde as coordenadas
construtivistas atuais, mediante um processo de interiorização muito próximo ao
conceito vygotskyano de zona do desenvolvimento proximal, como lembra Flavell9, e
quer dizer que o sujeito desenvolve o seu processo de aprendizagem baseando-se em
estratégias cada vez mais específicas conforme a tarefa que está realizando.
Seguindo a ordem estabelecida por Flavell, pode-se afirmar que o uso de uma
estratégia requer que o aprendiz seja jogador antes de ser treinador, deve aplicar e
praticar uma técnica para refletir sobre ela e adquirir um controle crescente sobre seu
uso.
Mateos10 ao fazer uma diferenciação entre aqueles que obtêm ou não sucesso em
suas atividades, reforça a importância de incentivarmos o trabalho direcionado à
metacognição.
O ENSINO ESTRATÉGICO
pessoa Na estratégia metacognitiva denominada consciência, Mateos10 explica a primeira
avaliação
AUTOPOIESE
CONSCIÊNCIA
tarefa
queMETACOGNIÇÃO
estratégias
das variáveis, o conhecimento planejamento
a pessoa tem CONTROLE
supervisão
de si mesma como aprendente e pessoa
pensante. É importante saber que para acontecer uma mudança cognitiva é necessário
que a pessoa realize um movimento e um esforço mental deliberado para que possa
obter melhores resultados na sua aprendizagem. Com certeza, isto não é nada fácil de
praticar, uma vez que não nos é ensinado a voltar os olhos ao interior de nós mesmos.
Talvez seja por isso que adotar a auto-avaliação como instrumento sistemático no
processo de ensino formal, tenha sido, sempre, muito difícil.
Outra situação que pode e deve ser ensinada pelos professores desde muito cedo, é
com relação ao metaconhecimento e a amplitude da memória. O aprendiz que confia
demasiadamente em seu poder de memória, pode ser que não dedique o tempo
suficiente para compreender e memorizar melhor a informação ou não se preocupe em
trabalhar em um ambiente que contribua para sua concentração na hora de estudar.
Uma característica diferente do metaconhecimento da pessoa se refere ao aspecto
afetivo, isto é, a valorização que a pessoa tem de si mesma. Moreno16, citando as
pesquisas de Schmeck, comprova que quanto mais auto-estima o sujeito possuir, mais
elaboradas serão as estratégias e os estilos que utilizará para aprender.
Mateos10 ressalta as pesquisas realizadas com crianças de cinco e seis anos que
geralmente tendem a supervalorizar suas capacidades e seu rendimento, porque
acreditam que nunca esquecem nada, enquanto que as crianças de nove e onze anos são
mais realistas e reconhecem que uns se recordam com mais facilidade das coisas,
enquanto outros lembram com menos facilidade.
Ao conhecer-se cada vez um pouco mais, a pessoa abre possibilidades de analisar
as exigências próprias da tarefa e relaciona-as com a realidade que se apresenta. Pode
refletir sobre a informação, averiguar o objetivo da atividade que tem a realizar,
observar o que existe de novidade e familiar, e detectar os níveis de dificuldade,
tornando-se assim autônoma diante de suas aprendizagens.
Com relação ao conhecimento metacognitivo da atividade que se tem a realizar,
aquele que se tem sobre os seus objetivos e as suas características, o importante
encontra-se na possibilidade de se escolher a estratégia mais adequada a adotar. Por
exemplo, as crianças com aproximadamente seis anos, começam a ter uma compreensão
mais ampla sobre os fatores que afetam a memória, como a quantidade de matéria a
lembrar, o barulho ou o tempo a ser dedicado ao estudo. No entanto, estas mesmas
crianças não são conscientes de que as tarefas de reconhecimento são mais fáceis que as
de memória. É a partir dos nove ou dez anos que as crianças começam a reconhecer, ou
seja, é quando percebem que é mais fácil lembrar uma lista de palavras colocadas em
categorias do que uma lista desordenada de palavras.
Para que a aprendizagem aconteça é importante que o professor auxilie o aluno a
ativar sua atenção, lembrando que a manutenção dela depende do próprio êxito das
atividades de aprendizagem. Uma aprendizagem significativa pede que o sujeito que
quer aprender processe, ativamente e de forma relevante, o material de aprendizagem.
Desta forma, ao apresentar materiais interessantes na sua forma e conteúdo e
selecionando as informações mais relevantes, o professor estará atraindo a atenção dos
alunos, ativando neles a motivação, requisito para a atenção. A apresentação de algo
novo ou discrepante sempre será bem recebida, principalmente porque rompe com a
rotina e a monotonia didática.
Moreno16 reforça a idéia de que o professor não deve esperar que seus alunos
compreendam os propósitos da tarefa fazendo exercícios metacognitivos, mas que, de
forma mais simples, o mesmo professor explicite o que pretende. No início de cada
atividade ou disciplina, o professor poderá apresentar um quadro ou esquema sobre os
propósitos de sua matéria e informar aos alunos sobre sua maneira de trabalhar, ou seja,
explicitar seu estilo de ensinar, de modo que eles não se percam ou sintam-se
desorientados.
No que se refere ao conhecimento estratégico, a variável que requer que a pessoa
aprenda a escolher qual o conjunto de estratégias melhor para realizar uma atividade e
como deve aplicá-las, os estudos indicam que, com a idade, este conhecimento vai se
aprimorando. As pesquisas de Schneider e Pressley, apud Mateos10, afirmam que as
crianças em idade pré-escolar possuem um conhecimento, mesmo que elementar, das
estratégias de memória, principalmente as relativas à vida cotidiana. Conforme a idade
vai avançando, percebe-se que as crianças vão conhecendo um número maior de
estratégias, sendo assim mais eficientes em suas atividades. Ainda que com doze anos,
muitas crianças ou pré-adolescentes não parecem ser conscientes com relação à
diversificação das estratégias a serem utilizadas conforme a atividade a ser
desenvolvida.
Estas informações parecem anunciar a necessidade de instigarmos as crianças,
desde muito cedo, a refletirem sobre situações reais da vida, porque mesmo os menores
já possuem um certo grau de conhecimento sobre o assunto.
É importante salientar que ao avaliarmos a nossa própria atividade metacognitiva,
seja com a idade que for, dificilmente abandonamos nossas emoções, como a dúvida, a
ansiedade, os medos, a confiança ou o orgulho. O que em hipótese alguma pode ser
desconsiderado, uma vez que o conjunto de crenças e autopercepções, o próprio
conhecimento tácito que temos e colocamos em jogo na hora de elegermos as melhores
estratégias metacognitivas a utilizar, são também necessários para uma aprendizagem de
melhor qualidade.
Portanto, para que os alunos desenvolvam estratégias metacognitivas é importante
que os professores sejam estratégicos, isto é, que percebam e ajam para além do ser
ensinante. Como ensinantes são também aprendentes e, conseqüentemente, é necessário
que transformem o ensino a partir de exigências diferentes com relação à aprendizagem
a que se esteve acostumado por muito tempo. Essas exigências apresentam algumas
características, que segundo Ontoria19 fazem diferença no ensino estratégico:
Nancea, 2000.