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  • Imobilismo em Movimento pg.101-141

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    imobilismo em movimento pg.101-141 (1)

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    _-_—7—"— «io de um empresério, José Alencar, entio senador por Minas Gerais de um pequeno partido, o Partido Liberal (et), como can dato a vice presidente COthando em retrospect a toalidade dos rigue-ragues cri- sesdo periodo rite, todo 0 uso pragmiticoe oportunista da ideo. logia neoliberal, destaca-se nesseprocestoofato deo controle da inflago ter permitido, pela primeira vez, ue a desigualdade obs: cena do pais fosse para 0 centro do debate publico eda disputa politica, Foi em um sistem fortemente polarizado em torno do ‘combate is desigualdades que ov chegou ao poder federal. Foi «essa mudanga de patamar da politica edo debate pilico que per- ‘mit a consolidacio, ao longo do periodo Lula, do que se chama agui de social-desenvolvimentismo, Ao mesmo tempo, éiss0 0 que explica a opcio inicial do primeiro mandato de Lula pela ‘manutengio de uma politica econdmica ortodoxa. Além da democracia,o controle da inflacio tinka passado a ser um dos clementoscentrais de um novo modelo de sociedade. De maneira {que também a prioridade da manutencio do controle da inlagio «era pré-requisto para a construgdo do projet social-desenvolvi ments. E, pelo menos no inicio do governo Lula, o diagnéstico era o de que o controle inflacionsrio exigia mais, endo menos, ‘ortodoxia neoliberal 3. O social-desenvolvimentismo e 0 fim da polarizagao: de Lula a Dilma Desde o inicio, governo Lala procurou combinar uma ttca de produaie‘crediblidad peranteos mercados” com uma preten- so de mudaro gerenclamento do sistema polio herdado do pe- riodo anterior. Talver ej esa tia pretensio o que pode expl- ‘aro fato notivel de o 7 ter conseguido, apesar das concessbes 3 ‘ortodoxia neoliberal, manterse como lider incontestee exelusivo da esquerda mesmo no mais difell momento do governo Lula (2003-5), Além, éclaro, do fato de que no hava alternativa vidvel para. esquerda que noo proprio governo Lula Sea segunda fase do governo (2006-10) consolidou essa posiao, continua a sur- preender que nenhuma fora politica de peso e com poder parla- :menta expressivotenha conseguido se organizar esquerda do Pr. ‘Exemplar desse tipo de tentativa fio surgimento do Partido Socia lismo e Liberdade (e501), em junho de 2004, Claro que cooptacio aberta de organizagies ¢ sindicatos também aconteceu, Mas dizer que tudo no passou de mera cooptagio de movimentos socials esindicatos obscureceofato de ‘ques alianga lista conseguia convencer a parcelaorganizada de ! cesquerda da sociedade brasileira de que ritmo ea velocidade das transformagies que estava imprimindo era of limites méximos dentro das correlagbes de forga vigentes. A barganha proposta pela alianca luisa era mais ou menos a seguinte: ndo sendo poe sivel uma radical reforma do sistema politico, traquemos um pacto com o pemedebismo por avangos na diminuigfo das desi- sgualdades, de renda e reconhecimento social (e, em menor medida, de desigualdades ambientais) Se for possivel distinguir uma estratégia e um titica na pri smeira fase da longo do primeiro mandato, par alcangar uma dominincia par. lamentar do pt no segundo mandato. Fo ese objetivo de cons- trugio de dominio do processo politico a0 longo do primeiro ‘mandato que acabou vindo a pablico no epis6dio do mensalio e& também por essa razio que esse episidio marca o fim da primeira fase do periodo Lula, (© mensao atingiu ndo apenas os suspeitos de sempre, mas lideres histéricos do Pr, identficados com uma nova politica, com abandeira da Ftica na politica. Naquele momento, o governo Lula chegou a suas mais baixas txas de aprovario, eo candidato Areeleigio foi considerado pela esmagadora malorla dos analistas| politicos como “cachorro morto” para aseleicBes do ano seguinte, Nao poderiam estar mais equivocados: Lula foi quase reeleito logo no primeiro turno da eleicio de 2006, tendo vencido no segundo turno com 60% dos votos Como se deu essa virada? importante notar a diferenca entreastaxas de aprovacio de Lula eas taxas de aprovasio de seu ‘governo como fator que ajuda aexplicar pelo menos em parte de ‘que forma Lula pode se recuperar da crise do mensalio e vencer a cleigio de 2006, Assnala,nio por iltimo, que Lula conseguit se apresentar como orepresentante dos mais pobres dentro do ss: tema politico tradicional. Como foram de decisiva importancia o| Lula, elas visariam construie as condigies, 20 bom desempenlo da economia €o aumento expressvo da tenda das familias nesse perfodo, algo que ficou conhecido como “o Real do Lula”! A ests fatores deve se somar ainda una signii- cativa mudanga da bas cletoral de Lala." ‘Nio bast, entretanto, a conjungio de fatores econdmicos para explicaravitéria de Lula em termos politico-leitoais. Esso ‘io apenas pelo fato fundamental de Lula ter passadoa representar parcels historicamente marginalizadas da politica institucional por ter se tornado o representante do “podo" dentro de um ss- {ema tradicionalmente inacesivel a essa maioria da populaco. ‘Também porque aefetividade dessa conjungio de fatores depen- pR que ria 20s poucos se aprofin- dar ese consolida,atésetornar uma alianga formal de govern Nesse momento, a partir de meados de 2005, Lula finalmente assumiu por inteiro a presidencia da Repablica eo papel de arti- culador politico de seu préprio gaverno.* ‘Também foi o episédio do mensalio que revelou um segundo movimento simultineo, Ficou claro que o aparelho do rr, ainda controlado por Dirceu,tinha levantado ilegalmente luma enorme quantidade de fundos que serviram para financiar ‘novas allangas locaiseregionais nas eleigbes municipas de 2004, {Isso mostrou que o projeto de obter uma bancada parlamentar robusta para oP7 nas leigdes de 2006 estava de fato em marcha, 108 |i que as eleigbes municipais so estratégicas para as eleigbes pro: porcionas federais. A idela parecia sera de fazer com que o Pr, ‘no cendtio idea, alcanasse uma bancada propria de tal peso que pudesse escapar com suas préprias pernas — e com algumas negoclages de varejo — a camisa de forga do modelo estabee cido no governo FHC. ‘Se bem-sucedido o projeto, uma alianga com o PMB s6 se faria ainda de fato necesséria no Senado. E mesmo assim apenas até 2010, quando Ditceu esperava ser ele prdprio indicado can- didato para suceder a Lula e poderia se empenhar em conquis> tar maioria para o Pr também no Senado. Nao importa como, ‘esse projeto foi abortado, ea eclosio do mensaldo mostra ape- ‘nasa forma relativamente cabtica como o governo Lula, em sua primeira fase, lidow com 0 modelo de gerenciamento politico herdado do governo Puc e com o pemedebismo de maneira| mais ampla 0 terceiro movimento simultineo se coadunava bem como projeto de conquistar certo dominio parlamentar. Tratou-se do referendo sobre comercializagio de armas de fogo. Embora nio| Ihe possam ser atribuidos o mesmo peso eimportincta que obteve 1 plebiscito de 1993 sobre a forma eo sistema de governo, hi certaanalogia como referendo de 2005, Assim como 0 Psp tes- tou suas chances como partido lider no plebiscito de 1993, 0 efe- tendo de 2005 estava igadoaestratégia mais gral do pr de alcan ‘car dominincia politica plas propras pernas, Esa estratégia inclu, aliés, nese primeiro momento, epi- adios de explictaregressio politica, como por exemploa utiliza ‘lo ininterrupta da retrica nacionalista ea celebragio da “brast- lidade” —em que se martelou dia enoiteo slogan “Sou brasileiro, no desisto nunca", em que se transformaram as comemoragbes do Sete de Setembro em encenagio “cvica” dos “valores nacio- ais’, na qual até 0 governo ditatoral do general Ernesto Geisel ra irtantemente lembrado como exemplo positive. Um movi- mento reressivo que fol logo abandonade em favor do monopé- lio do slogan “Brasil ~ um pais de todos” criado ainda em 2002, €em que a énfase esti — apesar do sexismo do “todos” — na cons trucio do "pais", douma socledadeiguaitriae plural, no mais da"nagio”, A ideia do referendo parecia ser colar a imagem do partido a ‘um tema transversal eque contava entdo com amplas chances de vitria Esse objetivo ficou totalmente obscurecide pelo mensa- Ho. O que, paradoxalmente, também auriliou o préprio overno, ji que a posigfo oficial foi derrotada em uma votagio em que & vitria era dada como certa. A movimentagio do referendo pare cia, na origem, uma espécie de ensaio para produgio de domi nancia politica, combinando conquista simbélico-cultural com uma futura vitériaparlamentar expressiva no ano seguinte O referendo sobre o porte de armas pode sr lido ainda em termos de uma contraprova do argumento defendide aqui, por- ‘que chama aatencio seu carter antipemedbists, bem de acordo, pportanto, com a fase do governo Lula em andlise. No momento fem que o referendo foi gestado, o Pr ainda tinha a pretensio de controlar o sistema politico, endo apenas de dirgir 0 pemede- bismo. Nao hi algo que o pemedebismo evite mas do que consul tas populares, como plebisctose referends. sso se deve a0 fato de que toda a sua estrutura estd montada para permiiro veto a temas e matérias coneretos,e no para produzie malorias a favor de determinada posigio. O discurso pemedebista a favor & sem- pre anddino e de bom-mogo, Posigdes pemedebistas a favor de eterminada mudanga sio sempre decides de gabinete ¢ de ciipula etém por condigéo fundamental que a mudansa tenha ppassado pelo teste de fogo de contornas vetos. NGo por acaso, 0 governo Lula no recorreu novamente a referendos ou plebiscitos ‘depois de 2005. Nao por tltimo, porque a derrota da tese do desarmamento no referendo tem aver com aexpressiva racio de forcas alinhadas ao ruralismo,historicamente refratarias a PT. £ dificil pensar esses trés movimentos simultineos como representando uma estratégia e uma ttica unificadas, como dotados de um rumo politico organizado e homogéneo. Se estra- tégiaettica organizadas e clara exstiram, parece que eram res- is esta tritas a pequenos grupos politicos dentro do Pr, que, ‘vam em duro processo de disputa de espago. A situagao era de ‘uma encenagio em nivel nacional de disputas politcas do partido cede seu dispositive sindica Prova disso € maneira inusitada como surgit 0 episéio do mensalio, O der do pra na Cimara, Roberto Jefferson, que tina sido lider da governo ruc, pediu ajuda governamental para que fosse barrada uma investigagdo contra um diretor dos Correiosindicado pelo partido que tinha aparecido em um video recebendo propina, Ao se convencer de que ndo s6 0 governo no se empenharia em barrarainvestigacio como ainda ira res- poosabilizr eu partido pela corrupsio, lefferson concede, no inicio de junho de 2005, uma entrevista & Fotha de Paulo, em {que denunciou um vasto e complexo esquema de arrecadagio legal de fundos, qual seria liderado por José Dirceue seus alia- os insalados na miquina partidéria. Mais do que isso, o episé- dio revela o quanto o proprio governo Lula nessa fase se encon- travaaltamente fragmentado, dividido entre miltiplascorrentes| internas do. ‘Asrevelagdes que se seguiram entrevista de Roberto Jeff son trouxeram & tona um sistema de corrupso que incluia nio apenas part significativa dos partidos aliados ao governo Lull ‘mas também os que se encoatravam na oposiglo, qu tinham for ‘mado a base do governo Fitc. A sequéncia de eventos fugit 20 controle do sistema politico e colacou a sociedade intera em ‘estado de obsessio pelo tema e seus desdobramentos. Fol pri- ‘meira crise politica transmitida ao vivo eem tempo real, pla tele visio, pelo ridio e pela internet, Todo o segundo semestre de 2008 foi dedicado a cobertra da episodio, e pareca que era ss tema politico como um todo que nio conseguiria se recuperar. ( pr foi duramente atingido, Nio apenas em razio do ponto rogramiticohistérico que prometia fazer politica de uma nova ‘maneira, de uma maneira “ética”, mas também porque perdeu alguns de seus mais importantes quadros.O jbilo da dieitacon- servadora foi de tal ordem que o entéo senador Jorge Bornbausen (Prt, Santa Catarina) chegou a ponto de declarar,em relagio aos petistas (e em relagio i esquerda, de maneira geral), que estava “encantado” com a possibilidade de sever “livre dessa raga pelos _proximos trinta anos”. De seu lado, Jefferson mirou particular- ‘mente Dirceu como mentor de todo 0 esquema. Iso levou no apenas queda (e posterior expulsio) do colaborador mais pré- ximo de Dirceu no P1, Delilbio Soares, como obrigow o proprio presidente dor, José Genoin, a renunciar ao post. Dezenove deputados estiveram sob investigagio na Ca. ‘mara, dos quais seis pertencentes ao rr. Quatro deles renuncia- ram antes do inicio da investigagio, A maiora fol absolvida das acusagdes no nivel parlamentar, etrés deputados foram cassa dos, entre eles Jefferson e Dirceu. Um nove presidente do rr foi cleito,o ministro da Educacio Tarso Genro, que, apesar deter tentado, nio foi capaz de fazer frente a0 poderio que Dirceu sinda mantinha na maquina partidéria. 0 julgemento do ceso pelo st ocorreu apenas em 2012, na Asio Penal 470, que coin:

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