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1 Meu Chefe Indecente - Simone Freire
1 Meu Chefe Indecente - Simone Freire
Meu Chefe Indecente
Scarlett Salvage
Capa: LA Creative
Revisão Final: Cris Castro
Diagramação digital: Yasmim Kader
“Ele é um babaca.
Você é uma ótima profissional.
Tudo vai dar certo.
Ele vai acabar com a sua raça.”
Mais uma vez, a última frase não pertence de verdade ao mantra, mas
se encaixa perfeitamente à realidade do meu dia. Na tentativa de sanar meu
problema, Lorena, minha colega de trabalho e fiel escudeira em dias como
esse, me emprestou um blazer que ela mantinha guardado no armário e
somente agora, me olhando no espelho, me pergunto como alguém com a
idade dela tem uma peça tão ultrapassada como essa em seu guarda-roupa.
Tudo bem, eu, beirando os trinta anos, confessar que já havia
sonhado em ser uma executiva usando um conjunto de calça social vincada e
blazer combinando, mas ela não passa de uma garota, e o seu estilo combina
muito mais com os casaquinhos descolados daquelas lojas alternativas que
estou cansada de ver por aí. Para piorar a situação, o blazer não tem estrutura
e muito menos um caimento decente. Um dia ele havia sido preto, porém
analisando com atenção o meu reflexo no espelho, concluo que agora ele
parece mais com um pedaço de pano surrado e encardido, no melhor estilo
“cor de burro quando foge”.
Ela mesma me contou que guardava aquilo apenas para usar nos dias
em que o ar condicionado do escritório estava mais frio do que o normal, e
eu sabia exatamente do que ela estava falando.
Esses eram os dias nos quais Vinicius estava mais atacado, colocando
fogo pelas ventas e arrumando problemas onde bem queria. Ele me fazia
ligar para a manutenção e mandar que colocassem o ar condicionado a toda,
congelando todo o andar.
Não, gente, ele não se importa com quem pode estar batendo os
dentes de frio. Esse homem dos infernos só pensa nele e em seu magnífico
pau.
“Ah, Julia...” penso mais uma vez, “pare de fantasiar com o pau do
seu chefe, ou todo mundo vai achar que você está apaixonada por ele. O que
não é verdade.
Eu juro.”
Dou mais uma olhada no espelho e chego à conclusão de que esse
pretinho nada básico vai ter que servir até que eu possa dar uma corrida na
rua durante o almoço e comprar alguma roupa para usar na reunião da tarde.
Para piorar a minha vida, preciso confessar que eu recebi mais de dez
e-mails do meu chefe sobre a importância de estar apresentável durante essa
reunião, sobre como eu deveria dar meus 150% de atenção a esse fato e
nunca envergonhá-lo. Eu preciso ser mais do que perfeita para que ele jamais
se arrependa de ter me dado essa chance.
Confesso que eu acreditei que estava tudo em ordem, até o Universo
— esse sacana — enviar sua mensageira infernal em forma de maionese
direto nos meus peitos. Depois disso, eu já não tenho certeza de mais nada.
Sem perder mais tempo, analiso novamente minha imagem no
espelho e visto o blazer que fica bem apertado nos peitos. Mesmo assim, é
ele — tentando esconder os rastros da maionese destruidora de carreira —
ou a infelicidade de ser repreendida por Vinicius.
Sem sombra de dúvidas, escolho os peitos apertados.
Apago a luz e destranco a porta, dando uma conferida no corredor
antes de sair apressada. Ainda tenho que tirar as sapatilhas e calçar os
sapatos de salto que mantenho guardados na minha gaveta, então me apresso
em passar a chave na porta e deixá-la na mesa da recepcionista do andar. Eu
nem deveria usar aquele banheiro e se uma das secretárias da diretoria me
visse, eu estaria perdida.
Tudo tranquilo, ninguém no corredor, então apresso o passo e,
quando estou chegando à minha mesa, escuto aquela voz familiar e quase
sempre zangada, chamando o meu nome.
— Dona Julia. — Paro de imediato, mas mantenho as costas viradas
para ele. — Não acha essas sapatilhas um pouco informais demais para o dia
que temos pela frente? Ou esqueceu da reunião de apresentação do projeto
para os empreiteiros?
Engulo em seco a resposta malcriada que se forma na ponta da minha
língua e a substituo por um sorriso inocente enquanto me viro na direção
daquele deus.
Digo, do meu chefe.
— Bom dia para você também, Vinicius. — Me arrependo das
palavras no momento em que elas saem da minha boca. — São mesmo as
piores sapatilhas do mundo, mas são as únicas que aguentam a minha
jornada de casa até aqui, dentro do metrô lotado. Já estou acabando de juntar
a documentação e logo apareço na sua sala, totalmente apresentável.
— Você deveria morar mais perto. — A resposta seca é seguida de
um muxoxo, e ele me deixa em pé no corredor com meus colegas olhando
para minha cara de palhaça.
Antes que eu consiga raciocinar, digo aquelas que seriam as piores
palavras da minha carreira.
— E você deveria me pagar um salário melhor.
Vinicius para no meio do caminho, seus ombros se encolhem e eu sei
que a raiva está tomando conta de cada músculo de seu corpo. Nervosa,
passo a mão pelos cabelos e olho para Lorena, que sacode a cabeça sem
conseguir acreditar na minha ousadia.
— Você tem cinco minutos. — É tudo que ele diz antes de continuar
andando para sua sala.
Coloco as mãos no rosto, me maldizendo interiormente por ser tão
bocuda e, quando levanto os olhos, dou de cara com o sorriso incrédulo de
Lorena, que me avisa.
— Se prepara que hoje ele vai comer seu rabo.
Uma parte de mim pensa: “quem me dera.”
Dá para acreditar na ousadia dessa mulher em me dar um ultimato
sobre aumento salarial na frente dos outros funcionários?
Sabe o que me impede de mandá-la embora? Ela é competente para
caralho. E muito gostosa, claro, mas isso não vem ao caso nesse momento.
Assim que botei meus olhos em Julia hoje de manhã, senti uma
vontade incontrolável de dar uma sacudida nela, tipo um choque de
realidade.
Perdi a conta de quantos e-mails eu enviei para ela frisando a
importância dessa reunião e tenho a certeza de que fui bastante enfático
sobre a necessidade de estar bem apresentável. Agora ela me aparece de
sapatilhas? Ainda por cima escolheu uma daquelas bem baixinhas que não
valorizam o corpo fenomenal que ela tem.
Julia deveria ser obrigada a andar de saltos altos o dia inteiro. Não
só aqui, mas em casa também. Fico imaginando-a parada na frente da
minha geladeira, usando uma camisola transparente e sapatos de salto alto
vermelhos. Ela se inclinaria para frente, na tentativa de alcançar alguma
coisa no fundo da prateleira e empinaria a bunda na minha direção, me
tentando, me convidando.
Eu esticaria a mão em sua direção, louco para tocá-la e...
“Mas que porra é essa, Vinicius!”
Respiro fundo e tento colocar na minha cabeça que preciso parar de
ter fantasias sexuais fetichistas com a minha funcionária andando seminua
na minha casa. Isso não vai dar em nada, principalmente se eu levar em
consideração os olhares homicidas que ela me dirige, como se eu fosse o
responsável por todo os males do mundo.
Não tenho culpa se as pessoas ao meu redor são incapazes de
trabalhar no ritmo que eu preciso. E, acima de tudo, não tenho culpa de que
ela seja tão gostosa a ponto de me deixar com o pau duro mesmo calçando
aquelas sapatilhas cafonas.
Caminho rapidamente até o banheiro masculino, com uma dor
familiar e gostosa na virilha e meu pau pulsando enquanto a imagem de
uma Julia sorridente e seminua acena para mim.
Me tranco em uma das cabines e, segurando meu pau com força,
começo a me masturbar enquanto, na minha fértil imaginação, ela sorri de
forma irresistível e rebola, sedutora, no meu colo.
Preciso dar um jeito nessa situação antes que seja tarde demais.
Com todos os documentos organizados dentro da pasta preta — para
combinar com o meu humor — subo nos saltos altos e caminho apressada
em direção à sala de Vinicius. A porta está eternamente aberta e permite que
ele ouça e veja tudo que os funcionários do departamento dele estão fazendo.
Sei que isso faz todo mundo ficar apavorado, mas eu não deixo que me
abale.
Juro que tem gente que nem respira direito quando ele está no andar.
Para mim é indiferente ele estar ou não, pois como assistente direta dele para
os contratos com os empreiteiros, Vinicius me liga de onde estiver. E muitas
vezes, na hora que quer. Logo, a porta da sala aberta não é nenhum problema
para mim, uma vez que já faz tempo que ele entrou na minha vida metendo o
pé na porta.
Agora, quando ela está fechada, aí sim eu tenho calafrios. Significa
que ele está dando um daqueles esporros magníficos em alguém e que a
pessoa vai sair da sala dele se sentindo o último dos mortais. Pobre coitado
de quem entrar lá depois, corre o risco de pegar o restinho de fúria.
No dia de hoje — e não poderia ser diferente — a desgraçada da
porta está fechada. Mas em vez de gritos, eu ouço risadas deliciosas vindo lá
de dentro. Sem entender nada, fico parada alguns segundos, deixando meus
ouvidos se intoxicarem com aquele som que eu nunca ouvi saindo da boca
— deliciosa — de Vinicius.
Ouço ele se despedindo carinhosamente da pessoa com quem está
falando ao telefone e, antes de ser pega no flagra, bato na porta, abrindo-a
sem esperar resposta.
— Cheguei, e nem se passaram cinco minutos.
Minha piada é recebida com um olhar gelado e eu dou de ombros, me
sentando de frente para ele. Abro a pasta, tiro os documentos e arrumo sobre
a mesa enquanto Vinicius me examina em silêncio por alguns segundos até
que resolve falar
— Julia, porque está usando essa coisa velha por cima do vestido?
Pronto, ele notou. Puta merda.
— Estou com frio — respondo sem olhar para ele.
— Então não tem nada a ver com essa mancha esquisita que estou
vendo no decote aí perto dos seus peitos? — Sinto um toque de malícia em
sua voz, e meus joelhos amolecem. Ainda bem que estou bem segura,
sentada nessa cadeira macia e...
“Para de divagar!” meu cérebro ordena.
— Ah, sim. — Puxo o blazer mais para cima tentando esconder o
estrago do meu vestido. — Você viu.
— Claro que vi. Você, mais do que ninguém, sabe que nada escapa
do meu olhar analítico. — Olho para Vinicius e tenho vontade de arrancar a
unhadas, aquele sorriso cínico da cara dele. — Mesmo que eu estivesse na
Lua, seria capaz de enxergar essa mancha pavorosa. O que houve, afinal?
— Sofri um pequeno acidente aqui na esquina. Não tive tempo de
trocar a roupa, mas conserto isso na hora do almoço. — Ele continua me
olhando em silêncio e eu completo: — Estou ciente da importância da
reunião de hoje à tarde.
— Conte-me — Vinicius ordena enquanto se senta na beirada da
mesa, olhando para mim como se fosse a primeira vez.
Eu não sei bem do que ele está falando, o que ele quer que eu conte,
então começo a falar sobre a roupa.
— Vou comprar outro vestido na hora do almoço e...
— Não, Julia. — Ele suspira já sem paciência. — Me conte como
aconteceu esse tal acidente.
Olho para ele e tenho certeza de que a incredulidade está estampada
em meu olhar. Vinicius acena com a mão, me incentivando a contar a
história e eu resolvo entrar na dele.
— Bem, uma idiota saiu na rua carregando uma torta coberta de
maionese sem nenhuma proteção. Ela não me viu, eu não parei a tempo e
pronto. Abracei a torta e arruinei o meu vestido.
O rosto dele se iluminou e juro que ele estava contendo uma
gargalhada. Animada, continuo meu monólogo.
— De verdade, quem sai na rua, em Copacabana, com uma torta
desprotegida? Sem um papel alumínio sobre ela para proteger da imundície
da rua? — Vejo o sorriso dele aumentando e me empolgo. — Honestamente,
acredito que o Universo me enviou para salvar as pessoas que iriam comer
aquela torta contaminada pela poluição e todo o resto.
Vinicius solta uma gargalhada e eu sinto um calor tomando conta da
parte interna das minhas coxas e espalhando-se por todo o meu corpo. A
risada dele é rouca, macia e é impossível não imaginar como seria ouvi-lo
gozando no meu ouvido.
“Julia, Julia” meu cérebro me cutuca “cuidado com essas sensações
perigosas.”
Resolvo ignorar o Sr. Cérebro e sorrio de volta para meu chefe. Mas
do mesmo jeito que veio, o momento vai embora e ele mete a mão no bolso,
a procura de algo enquanto me repreende.
— Não tem nada a ver com essas suas bobagens de Universo, Julia.
Tem a ver com as pessoas serem desleixadas e inconsequentes. — Vinicius
estende a mão para mim e vejo o brilho do cartão de crédito dele. — Pegue
aqui, você já tem a senha. Junte suas coisas e vá comprar um vestido antes
do almoço, trate de comer algo rápido pois temos que partir para a reunião
em Angra dos Reis.
Atônita, estico a mão e pego o cartão. Não sou de recusar gentilezas
e, se um homem que pagar pelo meu vestido, vou tratar de aceitar.
— Pode deixar, chefe. Assim que você assinar esses documentos,
corro ali na galeria e compro um vestidinho.
Ele pega a caneta e começa a rabiscar os contratos enquanto balança
a cabeça em negativa.
— Não me venha com essas porcarias dessa galeria aí de frente,
Dona Julia. — Mais uma vez meus joelhos dão uma tremida. Toda vez que
ele me chama de Dona Julia, mil fantasias eróticas cruzam minha mente.
Passo a mão pelos cabelos, na tentativa de afastar toda a pornografia
que está se formando dentro da minha cabeça, e rebato.
— Mas se não for ali, vou aonde? O shopping é longe daqui.
— Não me interessa. — Vinicius junta todos os documentos e enfia
na pasta preta, entregando-me com um olhar contrariado. — Pegue um táxi,
vá correndo, se vira. Tem uma loja no segundo piso que eu gosto muito —
ele diz o nome de uma das lojas mais caras do shopping e eu arregalo os
olhos. — Quero que compre o vestido lá.
Fico parada olhando para ele sem acreditar. E antes que eu possa
agradecer ele vira de costas para mim e começa a mexer no notebook.
— Mas vá agora, Julia. O trabalho precisa ser feito e você não tem o
dia todo para ficar molengando do jeito que gosta.
Com esse jeitinho grosseiro, meu chefe consegue acabar com o nosso
momento especial e mágico. Pelo menos para mim.
Saio da sala sem falar nada e assim que chego na minha mesa, largo
a pasta, fazendo barulho e chamando a atenção de Lorena.
— E aí? — Ela se reclina na cadeira e me dá um sorriso sacana. —
Doeu muito?
— Ah, larga a mão de ser idiota, Lorena. — Começo a rir. —
Vinicius é um babaca, eu nunca daria pra ele.
— Sei. — É tudo que minha amiga diz usando todo o cinismo do
mundo. — O blazer foi útil?
— Porra nenhuma — desabafo —, ele viu a mancha e me mandou
sair agora para comprar um vestido para a reunião.
— Ah, sim, porque você ganha rios de dinheiro e pode comprar um
vestido novo no meio do mês.
Levanto o cartão Black para ela, que cobre a boca com a mão em
assombro.
— Ele te deu o cartão dele? — Concordo com a cabeça, meu sorriso
tão grande que minhas bochechas chegam a doer. — Ah, minha amiga, ele
quer alguma coisa de você sim. E não e só relacionado à rotina desse
escritório.
Sem me dar ao trabalho de responder, pego minha bolsa e a penduro
no ombro, preparada para sair. Viro para Lorena e aviso.
— Vou aproveitar e comprar um blazer novo pra você. — Ela dá uma
gargalhada silenciosa e eu completo: — Por conta do chefe.
E saio trotando, satisfeita com a reviravolta do meu dia. Vamos ver
quem manda aqui, Universo, seu sacana!
Teria sido muito fácil transar com ela essa noite. Julia me olha de
uma forma sensual e provocativa, flertando comigo de um jeito tão natural
que tudo em que consigo pensar é como foi delicioso transar com ela. E
como eu quero mais e mais.
Justamente por esse adendo – querer mais e mais – é que não consigo
pensar em simplesmente levar essa mulher pra cama e trepar até o dia
amanhecer. Quero seu cheiro no meu travesseiro, suas pernas enroladas nas
minhas, sua risada ecoando pela minha casa. Quero ler meus livros em voz
alta para ela enquanto Julia descansa no meu peito.
Mas também quero dar a ela o melhor sexo da sua vida, para que ela
esqueça de tudo que pode ter acontecido antes que eu entrasse em sua vida.
Sou um romântico incurável, sim, e meu pacote completo inclui sexo em
todas as suas formas.
Agora, deitado nessa cama de hotel com Julia aconchegada contra
meu peito, sinto um desejo absurdo de proteger essa mulher, de lhe dar o
mundo em uma bandeja de prata, de preferência cheia dos sanduiches de
mortadela que ela tanto ama. Aperto o abraço e ela ronrona em seu sono
tranquilo, como se soubesse que nunca mais vou deixar que nada de ruim
aconteça a ela.
Com cuidado, deposito um beijo em seus cabelos e me ajeito na
cama e tento conciliar o sono. Mas meu pau está duro devido à proximidade
do corpo de Julia e percebo que, daqui para frente, minhas noites de sono
podem não ser tão tranquilas assim.
Resignado, fecho os olhos e relaxo a mente, deixando que o sono
chegue de forma lenta e suave, pedindo para que meus sonhos sejam
recheados de Julia, mesmo que isso signifique nunca mais me livrar dessa
ereção.
Devo ter apagado feito um fósforo usado ontem à noite. Minhas
costas doem, pois meu corpo estranhou o colchão macio, um problema que
tenho desde a adolescência. Se o colchão não for daqueles ortopédicos, mais
duro que uma pedra, eu acordo moída de dor.
E falando em “duro como uma pedra”, sinto uma pressão na parte de
trás da minha coxa e quando tento me mexer, Vinicius aperta o abraço que
manteve firme na minha cintura a noite toda.
— Onde a senhora pensa que vai?
— Na verdade, na verdade mesmo — exagero — eu só queria ir ali,
fazer um xixi, escovar os dentes.... Sabe como é, né?
— Sei sim. — Ele encosta no nariz no meu pescoço e me puxa contra
o corpo, me impedindo de sair da cama. — Mas não quero te soltar ainda.
— Mas... — Eu me remexo irrequieta. — A gente pode deixar o
abraço para daqui a pouco? É que estou muito, muito, mas muito apertada
mesmo.
Vinicius me solta e aproveita para colocar suas mãos em minha
bunda, me empurrando para fora da cama. Saio saltitando em direção ao
banheiro, buscando aquele santuário de paz infinita onde vou poder fazer o
maior xixi do universo inteiro. Mal fecho a porta, ouço ele ligando a
televisão e relaxo o corpo. Tudo bem que ele já me viu pelada, já lambeu os
dedos cheios do meu gosto, já me comeu enlouquecidamente… Mas daí a
deixar ele ouvir todos os barulhos horrorosos que eu faço na intimidade do
banheiro, não rola. Respiro fundo e chamo.
— Vinicius, dá pra você aumentar a TV?
— Quer ouvir aí de dentro? — Eu sei que ele está sorrindo pelo tom
de sua voz. — Ou é para abafar os ruídos naturais que todo ser humano faz
quando está relaxado no banheiro?
— Você não pode simplesmente fazer o que eu tô pedindo? — peço
me contorcendo de vontade de fazer todos os barulhos possíveis e
impossíveis. — Custa?
— Não custa. Mas gostaria de deixar claro que, tudo que você faz aí,
eu também faço. E quando chegar a minha hora não vou nem lembrar de
pedir pra aumentar a TV.
Ele se cala e o som aumenta consideravelmente, me deixando à
vontade para resolver tudo que preciso sozinha e em paz. O chuveiro
maravilhoso me chama e eu não penso nem uma vez, dirá duas. Trato de me
enfiar embaixo d´água e tomar um banho daqueles de estrela de cinema e
quando saio enrolada na toalha macia Vinicius me lança um olhar
entristecido.
— O que foi? — Quero saber, já com o coração na boca.
— Você estava tão deliciosamente linda usando a minha camiseta —
ele senta na cama e fica me olhando —, que apesar de saber que não está
usando nada sob essa toalha, preferia que você estivesse enfiada nela.
Acho fofo ele confessar que me ver usando uma de suas camisas de
super-herói causa mais impacto do que essa sedutora toalha branca. Dou a
ele meu melhor e mais honesto sorriso, e ele vem caminhando na minha
direção, até parar na minha frente sem me tocar.
— Agora quem vai se livrar dos resquícios da noite de ontem sou eu.
— Vinicius se inclina, roça os lábios levemente nos meus e afirma. — E
pode apostar que vou fazer muito mais barulho do que os que ouvi você
fazer.
— Vinicius! — Bato no peito dele, indignada e morrendo de
vergonha.
— Dona Julia, somos eu e você. Entre nós não há espaço para ter
vergonha.
Fico parada no meio do quarto, observando aquele homem lindo se
afastando de mim enquanto luto para encontrar alguma frase engraçadinha
que me tire desse estado romântico de torpor.
Falho miseravelmente.
Enquanto ele está no banheiro, pego a tal camiseta e vou até a porta
de comunicação entre nossos quartos, abrindo-a com cuidado. Eu sei que
Marcelinho não está mais do outro lado, mas ainda não me sinto superfeliz
em voltar lá.
Acontece que minhas coisas estão naquele quarto e eu quero muito
enfiar essa camiseta com cheiro de Vinicius entre minhas coisas, e usá-la
todas as noites para dormir depois que voltarmos para o Rio e essa aventura
acabar. Porque eu sei que vai acabar, é felicidade demais e eu sempre
acreditei que esse tipo de coisa não pode durar para sempre. Aliás, não pode
durar para além desse hotel, por mais que ele me diga o contrário. Com isso
em mente, entro no quarto e corro até minha mala, enfiando a peça de roupa
no meio das minhas coisas antes de voltar correndo para o quarto dele.
Chego no exato momento em que ele abre a porta do banheiro, o
cabelo molhado, água escorrendo pelo peito e um daqueles sorrisos que eu
aprendi a amar, nos lábios.
Epa, epa, epa, Julia!!! Amar? O que está acontecendo com você?
— O que houve? — Observo os músculos do braço dele enquanto
Vinicius esfrega a toalha nos cabelos e lentamente vou descendo os olhos
pelo seu corpo delicioso. — Que cara é essa?
Ok, vamos raciocinar. Se ele está esfregando a toalha nos cabelos
isso quer dizer que está completamente nú e...
— Julia? — Ouço a sua voz, mas não consigo desviar o olhar do pau
dele. Engulo em seco e, sem nenhuma condição emocional de abrir a boca,
sinto um calor tomando conta de mim. — Meu Deus, mulher, você não
existe.
Ele está rindo, achando minha cara embasbacada tremendamente
divertida, e logo começo a rir também enquanto ele cobre a distância entre
nós e me pega nos braços, tomando meus lábios nos seus com uma paixão
revigorante. Deixo a toalha cair, minha pele pegando fogo e desejando, mais
que tudo, o toque desse homem.
Sinto as suas mãos subindo pelas minhas costas, os dedos se
enrolando em meus cabelos, e fico na ponta dos pés, passando os braços pelo
seu pescoço, me entregando mais e mais ao prazer que Vinicius pode me dar.
De repente, ele se afasta de mim e me segura pelos pulsos. Seus
olhos presos nos meus fazem promessas silenciosas que eu aceito como
verdadeiras.
— Julia — sua voz está cheia de desejo, e eu sinto meus joelhos
amolecerem —, preciso te comer agora. Foder você a manhã inteira, fazer
você gozar nos meus dedos, na minha boca e no meu pau. Ouvir você gemer
e gritar o meu nome. Você está pronta para isso?
Ah, puta que o pariu, né! Como eu vou conseguir lidar com um
homem desses na minha vida?
Eu queria ter respondido à pergunta dele, juro por Deus que queria
muito. Mas Vinicius não me deu tempo, tomando minha boca na sua com
uma selvageria que me deixou angustiadamente dolorida. O gosto da sua
língua na minha, suas mãos me apertando e os sons da sua respiração pesada
me deixam tão cheia de tesão que sinto minha boceta doer, na antecipação
do que está por vir.
Não resisto nem por um segundo, e passo os braços por seu pescoço
ficando na ponta dos pés, esfregando meu corpo no dele, sentindo sua ereção
pressionada contra mim. Sem uma palavra, ele me pega no colo e, quando
dou por mim já estou deitada na cama, as mãos dele segurando meus pulsos
enquanto me encara com aqueles olhos intensos.
— Diga que me quer, Julia.
— Você sabe que eu te quero — falo baixinho, como se esse devesse
ser o segredo mais bem guardado do universo.
— Quero ouvir você dizendo. — Ele se aproxima de mim, seus
lábios perigosamente perto do meu mamilo e repete. — Quero ouvir da sua
boca o quanto você me quer.
Me encho de coragem e, quando estou prestes a confessar a extensão
do meu desejo, ele me surpreende abocanhando meu mamilo, mordendo,
sugando e lambendo enquanto mantem minhas mãos firmemente presas
sobre minha cabeça.
— Fala, Julia. — Ele afasta a boca do meu seio, levantando o rosto
para mim. — Fala que você quer ser minha.
— Nunca quis tanto um homem como te quero, Vinicius. — As
palavras jorram de mim, impensadas e com vontade própria. — Agora, pelo
amor de Deus, continue o que estava fazendo.
Minhas palavras parecem incendiar Vinicius, que toma meu mamilo
novamente entre os lábios. Mas, dessa vez, ele solta minhas mãos e, antes
que eu possa me mexer, sinto seu dedo me penetrando enquanto ele prende o
bico do meu seio com os dentes. Instintivamente, mexo o quadril, rebolando
em sua mão, e isso me garante um presente: Vinicius desliza mais um dedo
para dentro de mim e, largando meu seio, olha diretamente em meus olhos.
— Você é deliciosamente molhada, Julia. Faminta, sexy e quente. —
Por trás de uma nuvem de desejo vejo aquele deus grego passando a língua
pelos lábios deliciosos enquanto fala de uma forma totalmente inadequada
sobre mim. — Tenho vontade de enfiar mais um dedo só para ouvir você
gemer bem alto e rebolar para mim.
— Enfia. — Apoio o peso do corpo nos cotovelos e, com os olhos
presos aos dele, desafio: — Eu duvido.
Sem me dar chance de desistir, ele desliza mais um dedo, girando-os
dentro de mim e arrancando um gemido dolorosamente delicioso dos meus
lábios. Inclino a cabeça para trás, minha mente nublada de tesão, e rebolo
para ele, nos dedos dele, sem pensar em mais nada.
— Que visão, Julia. — A voz dele está muito mais rouca e eu abro as
pernas para que ele possa me admirar ainda mais, entregue à luxúria que ele
me proporciona. — Não consigo parar de te olhar.
Eu não quero que ele pare de me olhar, mas, ao mesmo tempo, quero
mais de Vinicius em mim e para mim. Remexo-me na cama e alcanço seu
pescoço, puxando-o para perto de mim, e mergulho minha boca na dele. Ele
me toma como se eu sempre houvesse lhe pertencido e nossos corpos se
encaixam perfeitamente, mesmo com a mão dele perdida entre minhas
pernas. A dança das nossas línguas consegue me deixar ainda mais alucinada
e, quando ele tira os dedos de dentro de mim, resmungo em protesto.
— Volta — peço entre gemidos —, continue a me tocar.
Ele me solta e caio na cama, lânguida e quente. De joelhos à minha
frente, Vinicius lambe seus dedos lentamente sem tirar os olhos de mim e,
antes que eu possa reagir, coloca as mãos nos meus joelhos e mergulha em
direção à minha boceta que pulsa e lateja antes mesmo de sentir o toque de
seus lábios.
Se eu achei que o toque dos dedos dele era delicioso, a forma como
ele começou a me foder com a boca é indescritível.
Vinicius passa a língua pelos meus grandes lábios, mordendo-os de
leve enquanto suas mãos apertam minha bunda com força, não permitindo
que eu me mexa. Lentamente, esfrega o queixo pela parte interna da minha
coxa, beija minha virilha e, antes de continuar, me olha profundamente e
declara:
— Você é minha, Julia. Só minha.
Antes que eu sequer pensasse em responder, ele abocanha meu
clitóris, lambendo e sugando, mordendo e beijando e eu perco a noção do
tempo. Na verdade, eu deixo de pensar em qualquer coisa que não seja
aquele homem me dando o melhor sexo oral da minha vida.
Instintivamente, levo meus dedos até os seus cabelos e, segurando
firme, pressiono sua cabeça contra meu corpo, exigindo sem palavras que ele
me chupe ainda mais, e com mais vontade.
E é exatamente isso que ele faz, arrancando do meu corpo o melhor
orgasmo da história da minha vida. Com a boca cheia do meu sabor, ele sobe
beijando minha barriga, até chegar bem perto do meu rosto, como se
estivesse esperando pela minha permissão para me beijar. Deixo seu nome
escapar dos meus lábios em forma de suspiro, convidando.
— Vinicius...
Ele me abraça, apertando meu corpo contra seu peito e toma meus
lábios nos seus, que transbordam com o meu gosto, e eu preciso confessar
que adoro isso demais. Adoro tanto, que passo as pernas pela cintura dele,
me mexendo suavemente até sentir a cabeça do seu pau roçando na minha
boceta.
— Preservativo. — Ele sorri para mim e aponta com o queixo a
mesinha de cabeceira, onde uma caixa de camisinhas está estrategicamente
posicionada. Estico o braço e entrego um pacote a ele que, com muita
rapidez, tira da embalagem e veste a proteção.
Ele esfrega o pau em mim mais uma vez e geme contra meus lábios,
se ajeitando contra o meu corpo, encontrando o caminho para dentro de
mim.
Nos movemos em uma lentidão calculada, acertando o ritmo
enquanto nos beijamos sofregamente. Ele desliza as mãos pelo meu corpo,
tomando cada pedaço da minha pele para si, e eu não resisto mais. Não
quero resistir.
Quero acreditar que sou dele, e que ele é meu. E que nada mais
importa além dessa sintonia silenciosa que se estabeleceu entre nós. Sem
aviso, ele para de me beijar, olha nos meus olhos e sinto que algo está
diferente, só não sei dizer o que é.
Sem uma palavra, ele continua me fodendo com carinho, os olhos
presos nos meus, um sorriso começando a se formar em seus lábios. Eu
sorrio de volta, e rebolo para ele, junto com ele. Perco a noção do tempo,
presa nesse delicioso movimento dos nossos corpos suados, até que ele
enterra a cabeça na curva do meu pescoço e acelera o movimento dos
quadris, sussurrando em meu ouvido.
— Não aguento mais, preciso gozar em você.
Com essas palavras, ele explode, me levando junto para um lugar
onde eu nunca havia sonhado estar.
Se fui feliz antes de Vinicius entrar na minha vida, honestamente não
me lembro.
É muito fácil relaxar dentro do abraço de Vinicius. Seu cheiro é
deliciosamente pecaminoso e me faz querer começar tudo novamente. Sim,
eu estou falando de sexo, obviamente. Mal terminamos e eu já quero sentir
sua boca na minha, seus dedos me apertando e explorando. Na verdade, se
dependesse de mim, não teríamos parado nem para respirar, quem dirá ficar
de conchinha.
Que é exatamente o que está acontecendo nesse momento, quando
ele me puxa contra seu peito, seus braços apertando minha cintura e sua
respiração quente em meu ouvido.
Veja bem, não estou dizendo que não gosto de estar de conchinha
com esse pedaço de mau caminho. Nem que o pau dele, duro e se esfregando
na minha bunda, está me incomodando. Nada disso.
Mas eu queria estar dando novamente para ele. Sacudindo o
coqueiro, fazendo canguru perneta, bagunçando a peruca, descabelando o
palhaço ou outra das noventa e quatro maneiras de falar “fazendo sexo” que
eu um dia encontrei na internet. Fato é que ainda não estou satisfeita e quero
mais dele, principalmente por ter essa certeza palpitante dentro do meu peito
de que, assim que voltarmos para o Rio, esse interlúdio vai acabar.
— Julia, pare de se mexer — ele sussurra enquanto se aconchega um
pouco mais na curva do meu pescoço. — E pare de pensar tão alto. Curta o
momento, seja um pouco mais leve.
“Ah, Senhor Poderoso Chefão, mais leve? Me diga como serei mais
leve agora que sei tudo que você tem para me oferecer e que não poderei ter
novamente?”
Claro que não digo isso, na verdade, não digo nada. Apenas suspiro
conformada e fecho os olhos, me esforçando para aproveitar ao máximo essa
sensação de casal feliz que insiste em querer, de mansinho, tomar conta de
mim.
Afinal de contas, não foi com isso que eu sonhei durante os últimos
anos? Um relacionamento bacana, com um cara gostoso e carinhoso que me
desse o melhor sexo de todos os tempos nas paradas de sucesso? Então
porque lutar contra isso agora que finalmente tenho o que sempre quis?
“Porque é areia demais para o nosso caminhão, Julia.”
Sacudo a cabeça, afastando a voz do meu cérebro que insiste em
trazer a luz da razão aos meus momentos de tesão, e deixo que Vinicius me
abrace apertado, tirando meu fôlego por tantos motivos diferentes.
Eu sei que Julia está inquieta, com algo atormentando sua mente
hiperativa, e não há nada que eu possa fazer para acalmá-la. Nada que eu já
não tenha feito.
Enquanto puxo seu corpo contra o meu, luto contra a vontade de
fazer amor com ela de novo. Eu sei que é exatamente isso que ela quer,
transar até cansar, pois tem certeza de que eu não vou continuar interessado
nela depois que voltarmos para o Rio.
Julia não poderia estar mais enganada. E, depois dessa noite, achei
que ela não teria mais dúvidas sobre a minha intenção sincera e honesta de
sair de mãos dadas com ela, tomar sorvete na praia, passear no shopping e
todas as outras coisas que um casal de namorados faz.
Mas sei que palavras não vão convencer essa mulher, não depois de
tudo que ela passou com aquele filho da puta do Jorge Marcelo. O que ela
precisa é de atitude, e é exatamente isso que vou lhe oferecer.
Sinto seu corpo relaxando dentro do meu abraço e beijo o topo da sua
cabeça com muito carinho. Meu pau está tão duro que chega a doer, mas não
vou deixar que, mais uma vez, ele dite o ritmo de um relacionamento.
Principalmente um relacionamento com uma mulher como Julia, que tem
tudo para virar meu mundo de cabeça para baixo e me fazer implorar por
mais.
Ela se mexe novamente e seu estômago ronca, fazendo-me dar uma
risada.
— Tá certo, Julia, já entendi. Você quer comer, certo?
— Bem, para ser sincera — ela se vira de frente para mim, suas
pernas enroscadas nas minhas e me dá um daqueles sorrisos que eu adoro —,
eu poderia passar o resto do dia a pão e água desde que....
— Shh — coloco o dedo sobre seus lábios —, não precisamos ter
pressa, Julia. Eu sei que você ainda não acredita em mim, mas vou fazer
você mudar de ideia.
Roço meus lábios nos dela e sinto meu pau latejar. Puta que o pariu,
essa mulher ainda vai acabar com a minha saúde.
— Vamos descer pra comer. — Minha voz sai muito mais decidida
do que realmente me sinto e solto Julia, saindo da cama rapidamente antes
que mude de ideia. — E depois vamos dar uma volta na praia, e almoçar
com os empresários.
Vejo Julia encolher os ombros e sei o que vai falar antes mesmo que
as palavras saiam de sua boca.
— Vamos ter que enfrentar a ira do Marcelinho. — Seus olhos se
enchem de lágrimas.
— Deixe aquele canalha comigo. Vou ligar para o Teixeira enquanto
você se arruma.
— Você não acha que ele já ligou para o tio e fez a sua caveira? —
Sinto a mesma preocupação que ela, mas não posso deixá-la sentir minha
insegurança.
— O Teixeira é um profissional, Julia. — Dou um grande sorriso
para ela e arremato. — E eu também. Tudo vai dar certo.
Meu sorriso desaparece assim que viro as costas para ela. As coisas
podem não ser tão fáceis como quero fazer Julia acreditar.
Em questão de minutos Vinicius está pronto, com o cabelo penteado,
barba feita, extremamente cheiroso e gostoso dentro da calça jeans, tendo
apenas o peito musculoso à mostra. Eu? Bem, eu continuo deitada na cama,
como se não tivesse nada de mais importante a fazer do que admirar esse
homem maravilhoso.
— Seja honesta. — Ele arqueia a sobrancelha e aponta um dedo
inquisidor para mim. — Você roubou a minha camiseta?
Levo a mão ao peito, na melhor encenação de mulher ferida e
indignada e, obviamente, minto na cara dura.
— Que calúnia! Não tenho culpa se você é um bagunceiro capaz de
perder as coisas em um simples quarto de hotel.
Me levanto da cama, consciente da minha nudez e do efeito que
provoco nele, e me aproximo do seu corpo, deslizando as mãos por seu peito
e arrancando um gemido rouco dos seus lábios.
— Sua ladrazinha — ele murmura mantendo os olhos fechados. —
Eu vou acabar descobrindo que destino você deu à minha camiseta favorita.
— “Minha” camiseta, você quer dizer. — Fico na ponta dos pés e
mordisco o lóbulo da sua orelha enquanto ele desliza as mãos pelas minhas
costas até chegar à minha bunda. — Se você não soube cuidar dela, agora ela
é minha.
Dou um beijo estalado em seu ouvido, e Vinicius pula para trás, meio
assustado e meio rindo.
— Você é louca! — Sua risada é contagiante e começo a rir junto
com ele. — Anda logo, Julia. Troca de roupa para descermos juntos para o
café da manhã.
— Tá bem, tá bem. — Saio resmungando em direção ao banheiro do
meu quarto — Uma vez mandão, sempre mandão.
Trato de me apressar e, prendendo o cabelo em um coque, tomo um
banho rápido, sem me render aos encantos da ducha pela qual já me encontro
apaixonada. Assim que saio do banheiro, ouço Vinicius cantarolando e, meu
Deus, como ele é terrivelmente desafinado! Mas, levando em conta todo o
resto do pacote, acho que posso conviver com esse pequeno detalhe.
Sem pensar muito, visto a calça jeans e me enfio em uma camiseta
rosa, sem estampas, soltando o cabelo para em seguida penteá-lo com os
dedos. Dou uma olhada no espelho enquanto calço as sandálias e a mulher
que sorri para mim está radiante, plenamente consciente do efeito devastador
que Vinicius tem sobre ela. Sobre mim, sobre nós. Espera aí, me dá um
desconto porque estou meio confusa. Mas acho que deu para entender.
— Oh, Julia! — ele chama impaciente — A gente só vai ter meia
hora de café da manhã, pode se apressar?
— Posso sim, senhor! — Enfio a cara para dentro do quarto dele e
percebo que Vinicius desistiu de procurar a camiseta que eu roubei, optando
por uma preta com um jacaré na altura do peito.
— Finalmente! — Ele estende a mão e eu aceito a oferta,
entrelaçando meus dedos nos dele. — Vamos descer e enfrentar o mundo,
Dona Julia. Vamos juntos e sabe por quê?
— Por quê? — Deixo meus olhos mergulharem nos dele mais uma
vez, e acho que jamais vou me cansar dessa sensação de calor que ele me
causa.
— Porque, desde ontem, somos eu e você contra o mundo.
Epa! Como assim? O que esse cara quer dizer com isso?
Mas antes que eu possa fazer qualquer pergunta, ele me puxa para fora
da segurança do quarto, nos jogando no mundo real enquanto bate a porta
atrás de nós. Caminhamos em silêncio até o elevador e, segundos antes da
porta se abrir, eu abro a boca sem pensar.
De novo, não é mesmo?
— Olha... se você quiser soltar minha mão e fazer de conta que não
aconteceu nada, tudo bem. Eu...
— Cala a boca, Julia. — Sinto ele segurar minha mão com mais
firmeza. — Ou vou ser obrigado e beijar você.
— Até que não seria má ideia — resmungo baixinho, mas ele ouve e
cumpre a promessa.
Me perco em seus braços, derretendo com o toque macio dos seus
lábios e, quando estou prestes a me esfregar toda nele, a porta do elevador se
abre e somos saudados com uma salva de palmas. Três dos empresários
estão lá dentro e, no fundo, Marcelinho com o braço em volta dos ombros de
uma loira estonteante.
— Olha só os pombinhos! — Gomes dá uma série de tapinhas
amistosos no ombro de Vinicius assim que entramos no elevador. — Por
quanto tempo vocês achavam que iam conseguir esconder esse namorico,
hein?
— Não tem nada para esconder. — A voz de Vinícius sai rasgando, e
ele desliza o braço pela minha cintura e completa. — Julia é uma mulher
para mostrar para o mundo e é exatamente isso que pretendo fazer.
Sinto o olhar de Marcelinho cravado em minhas costas e, quando
acho que não pode acontecer nada que vá piorar o clima dentro desse espaço
minúsculo que chamam de elevador, Vinicius olha por cima do ombro e
pergunta.
— O que houve com o seu olho, Jorge Marcelo? Se meteu em
alguma briga? — Ele dá um dos seus sorrisos charmosos e provoca: —
Quem ficou pior, você ou o outro cara?
— Ele brigou no estacionamento. — Quem responde é a mulher, um
sorriso gélido nos lábios. — Com o manobrista que amassou o meu carro.
Mas, a situação já foi resolvida, não é, amor?
Marcelinho concorda, acenando suavemente com a cabeça antes de
responder.
— Sim, já concordaram em demitir o infeliz. — Ele dá um sorriso
forçado. — Sabe, Vinicius, a gente precisa escolher nossas brigas com
cuidado para não sair perdendo. Entende o que eu digo?
— Sinceramente? — Sinto a mão de Vinicius apertando minha
cintura, como se quisesse me transmitir mais segurança do que ele mesmo
sentia. — Não faço a menor ideia.
O silêncio toma conta do elevador até chegarmos ao térreo, quando
todos se despedem e apenas nós dois vamos para o restaurante. Meu coração
bate descompassado e culpado, pois sei que a chance de Marcelinho
prejudicar Vinicius é enorme. Como se estivesse lendo a minha mente, ele
sorri suavemente para mim e me empurra em direção a uma das mesas
vazias.
— Tudo vai dar certo, Julia. Eu prometo. Agora vamos comer, saco
vazio não para em pé.
Aperto meus lábios com força, angustiada e sentindo uma leve
vontade de abrir o berreiro, chorar de ódio por tudo que aconteceu ontem, e
tendo o coração abarrotado de uma culpa que eu sei que não devo sentir.
Respiro fundo e decido me entregar às delícias do buffet, aproveitando tudo
desse fim de semana antes que seja tarde demais.
— Estou simplesmente abarrotada de comida. Não tem espaço para
mais nem um pãozinho — declaro enquanto passo a mão languidamente
sobre a barriga. Comi de tudo um pouco do que estava no buffet e, preciso
admitir, foi comida pra cacete. — Não sei se aguento sequer pensar em me
mexer, quem dirá caminhar na praia.
Vinicius sorri em silêncio, e sua mente parece estar em algum outro
lugar. Sou capaz de apostar que ele não ouviu uma palavra sequer do que eu
disse, então me inclino em sua direção e cutuco seu braço com a ponta da
unha.
— Mas se você quiser muito, eu arrasto meu belo traseiro pela areia
com você. — Ele parece sair do torpor e me dá um enorme sorriso. — Aí,
sim, o chefe que eu conheço e amo.
Antes que eu consiga me conter, essa palavrinha perigosa, de apenas três
letras, escapa dos meus lábios e eu sinto meu corpo enrijecer. Posso jurar
que estou suando debaixo das unhas de tanto nervoso, mas, se ele ouviu, se
fez de desentendido.
— Então, vamos. — Observo ele se levantar rapidamente e me estender
a mão. — Estou com muita vontade de sentar na areia e fazer de conta que
não tenho nenhum problema na vida, e que tudo que preciso está ao alcance
da minha mão.
Com essas palavras, ele aperta minha mão na sua e eu deixo que ele
me abrace, entregando-me, sem reservas, à sensação de ser importante na
vida de alguém. Na vida de Vinicius.
— Vamos sim, mas eu preciso dar um pulo lá em cima e pegar meu
celular. — Ele faz uma cara engraçada, como se o que eu havia dito não
fizesse o menor sentido, então tento me explicar. Ênfase no “tento”.
— É que eu preciso falar com a Lorena, ver se ela... — procuro
arrumar uma desculpa, uma ideia mirabolante, algum motivo plausível para
eu ter que ligar para minha amiga durante essa viagem — alimentou meu
gato.
— Gato? — Ele cruza os braços e dá uma risada, provando que falhei
na minha tentativa de enrolá-lo com minha suave mentirinha. — Que gato,
Julia? Estive no seu apartamento e não vi nenhum gato. Aliás, não vi nada
que denunciasse a presença de um animal de estimação.
— Ele... — Bufo com raiva da minha idiotice e entrego os pontos. —
Eu poderia, sim, ter um gato. Ele poderia estar escondido embaixo da minha
cama quando você chegou. O bichano poderia ser tímido e não ter dado as
caras. Mas, como você insiste em saber tudo que eu vou fazer, informo que
vou ligar para a Lorena e dizer que você é uma máquina de sexo e que eu só
penso em dar pra você, todos os minutos do dia, parando apenas para chupar
seu pau maravilhoso. Satisfeito?
Sinto meu rosto pegar fogo, mas mantenho os olhos fixos nos dele,
plena.
— Nem um pouco satisfeito. — Vinicius deixa escapar por entre os
dentes. — Mas não pense que é pelo fato de você querer contar tudo para sua
amiguinha, e sim porque agora quem não vai parar de pensar em tudo isso
que você falou, sou eu. E isso vai transformar nosso passeio na praia em algo
extremamente doloroso, ou muito interessante.
Ele me pega pelos ombros e me vira na direção dos elevadores,
dando uma leve palmada na minha bunda.
— Vai logo — incentiva, falando baixinho ao meu ouvido: — Conta
tudo pra ela, em detalhes. Assim, quando você voltar para mim, estará
excitada e bem molhada, do jeito que eu gosto.
Dou uma risada meio nervosa, mas me apresso em direção ao elevador,
que está com a porta se fechando.
— Segura a porta! — grito desesperada pensando no tempo que vou
perder esperando por outro elevador.
A porta permanece aberta e, assim que coloco os pés para dentro, dou de
cara com a esposa do Marcelinho, mantendo o botão pressionado com a
ponta da bela unha de porcelana, esmaltada com aquela cor nude que só
gente rica consegue manter intacta.
— Ah — digo sem graça. — Bom dia.
— Bom dia. Julia — ela sorri de uma forma muito estranha e
confirma —, não é mesmo? Eu sou a esposa do Jorge Marcelo, Carina.
Fico esperando que ela me estenda a mão, mas a loira simplesmente
solta o botão do elevador e se recosta na parede, os braços cruzados
suavemente sobre o peito, me analisando friamente, o que me deixa
incomodada.
— Prazer em conhecê-la — respondo com um imenso sorriso, mais
falso do que nota de três reais. — Está aproveitando a estadia?
— Sim, tem sido bastante proveitosa. — Ela me olha da cabeça aos
pés e completa: — Confesso que imaginava você totalmente diferente, Julia.
Mais baixa, com cabelos curtinhos, estilo mignon. Algo que tirasse o Jorge
Marcelo da zona de conforto. Mas, chego aqui e dou de cara com você, uma
versão mais despojada de mim, e tenho que admitir que estou surpresa.
Meu coração começa a bater descompassadamente e me pego
pensando que essa mulher, elegante e calculista, pode me matar dentro do
elevador sem sequer descer do salto. Mas, antes que eu possa abrir a boca e
cuspir algumas palavras sem sentido, Carina continua.
— Espero que tenha aproveitado bastante o seu tempo com ele, assim
como está aproveitando com aquele belo exemplar masculino que você
chama de chefe. As boas coisas da vida não duram para sempre, você sabe,
certo?
O elevador chega até o andar dela e Carina vira as costas para mim,
dizendo enigmaticamente.
— Depois não vá dizer que não te avisei.
E me deixa para trás, sem conseguir entender o real significado dessa
conversa enquanto o elevador segue subindo em direção ao meu andar.
— Tô te falando, Lorena. — Suspiro apertando o celular contra o
ouvido. — O Marcelinho é sobrinho do Teixeira. Não tenho por que mentir
para você.
— Ah, pra puta que o pariu, né, amiga? — Não consigo segurar a
risada, Lorena tem esse efeito em mim. Tudo pode estar uma merda, mas
quando ela desanda a falar e a xingar, parece que as coisas vão se ajeitar. —
Eu sempre te disse que esse cara era um merda e que você tinha que cair
fora do caminho dele. Te dizia isso mesmo sem nunca ter colocado os olhos
nele. Onde já se viu? Um cara que diz não ter rede social! Só podia estar
escondendo algo.
— Ah, falou a senhorita “não tenho redes sociais” — rebato ainda
gargalhando. — Isso quer dizer que você está escondendo algo?
— Mas é óbvio! — ela confessa sem nenhuma culpa. — Estou
escondendo toda uma vida íntima e pessoal que não interessa a
absolutamente ninguém. Onde já se viu!
Sei que a indignação de Lorena é falsa, pois ela não dá a mínima para
o que os outros pensam. Na verdade, minha amiga é muito reservada sobre
sua vida pessoal e raramente fala da família, com quem vive às turras. Nunca
fui até o apartamento dela, nem mesmo para deixá-la após uma noite regada
a cerveja. Tenho mil teorias sobre a vida pessoal de Lorena, mas eu gosto
tanto dela que resolvi não me importar com isso, afirmando intimamente
que, quando ela sentir vontade, vai me contar tudo.
Eu, por outro lado, não sou baú para guardar segredos e conto tudo a
ela, em detalhes e sem nenhuma vergonha. Motivo pelo qual estamos agora
debatendo meu encontro com a esposa do Marcelinho no elevador.
— Julia — o tom suave de Lorena me tira do devaneio —, você sabe
que não pode se culpar, certo? Pode parecer clichê, mas você não sabia que
esse cretino era casado.
— Eu sei, Lorena, mas mesmo assim me dá um friozinho no
estômago sabe? Que além dele, o pai e o meu porteiro também sabiam que
eu estava sendo enganada. Eu já te falei que eu moro no prédio do pai dele,
né?
— Falou sim. E eu deveria... — Ela faz uma pausa e bruscamente
muda de assunto. — Só pare de se culpar, Julia. E me conta o que tá rolando
aí com o chefe grosseirão. Já deu pra ele ou ficou embevecida com o babaca
do Marcelinho.
Eu consigo ouvir Lorena digitando furiosamente do outro lado da
linha e, incomodada, pergunto:
— Mas você vai prestar atenção ou vai continuar nesses aplicativos
de encontros que você tanto ama?
— Não fode, Julia. Tô mandando um e-mail pro meu velho. — Eu rio
baixinho do jeito que ela usa para se referir ao pai. — Preciso que ele me
ajude a resolver uma parada séria. Aliás, se não fosse sério eu jamais
pediria nada a ele.
— Sei, sei. — Faço uma voz grossa e repito o discurso que Lorena
dizia ser padrão do seu pai. — Uma garota tão bonita e talentosa que se
contenta em trabalhar em um escritório qualquer. Que desgosto, Lorena, que
desgosto.
— Exatamente assim. — O barulho das teclas cessa e ela pergunta.
— Já deu pro Vinicius ou ainda tá regulando essa mixaria?
— Ah, amiga... — Fecho os olhos e suspiro com força. — Dei e dei
muito. E se tudo continuar correndo bem, vou dar ainda mais.
Explodimos em gargalhadas e conto tudo para ela, inclusive o fato de
Vinicius ter pedido para eu namorar com ele e toda a história sobre sexo
anal.
— Você tá brincando comigo, Julia! — Lorena explode em uma
gargalhada. — O Senhor Bronquinha é um homem romântico e de
princípios? Ou isso tudo é papo pra boi dormir e ele está te enrolando?
— Não quero saber, Lorena! — Sento-me na cama e calço minhas
sandálias. — E não vou continuar falando sobre isso agora. Vou é correr pra
praia e me divertir enquanto eu posso. Sabe-se lá o que aquela infeliz quis
dizer com a frase enigmática do elevador.
— Verdade. Bem, eu vou aproveitar e sair para encontrar meu
velho. Resolver esse problema inesperado.
— Ih, deu ruim aí na sua família?
— Quando não dá amiga? Esse povo só faz merda e eu vivo para
limpar as cagadas deles. Um dia vou te contar tudo. Agora deixa eu ir e vai
aproveitar esse sapo que parece ter virado príncipe encantado.
— Tá bem, Senhorita Mistério. Nos vemos na segunda.
— Não tenha dúvida disso, Julia. Ei — ela me chama com a voz
séria —, você sabe que é minha melhor amiga, não sabe?
— Sou?
— Deixa de graça. É sim, e sou capaz de matar uma pessoa para te
ajudar. — Ela riu e completou: — E se eu for presa, lembre-se de levar
chocolates para mim. Beijo.
Lorena desligou o telefone, me deixando com uma sensação estranha
dentro do peito. O que essa doida estava tramando?
Desligo o telefone um tanto encucada com Lorena e seus segredos,
mas, como não posso fazer nada nesse exato momento, decido viver a minha
vida. Largo o celular na cama e olho pela janela, admirando o mundo lá fora.
O sol já está alto no céu e não vai ser nada fácil caminhar na praia usando
jeans e camiseta, então opto por trocar por um vestido leve, de alças largas e
saia ampla.
Dou uma conferida no espelho e, satisfeita com o que vejo, saio
correndo em direção ao elevador, batendo a porta do quarto atrás de mim.
Dessa vez, nenhuma surpresa desagradável me aguarda e chego sã e salva
até Vinicius que está sentado confortavelmente lendo uma revista.
— Demorei! Foi mal! — Inclino-me em sua direção e beijo seu nariz.
— Ei — ele me segura, seus olhos perdidos dentro do decote do meu
vestido —, não se afaste tão rápido. Quero dar uma olhada aí dentro.
Vinicius me puxa para o seu colo e sinto seu pau pressionado contra
minha bunda. Eu ainda vou morrer por causa desse homem, te juro.
— Agora você não pode mesmo se mexer, Julia, ou vou dar um
espetáculo levantando com o pau duro.
— Mas, se eu não levantar, esse negócio aí — aponto com o queixo em
direção à sua virilha — nunca vai amolecer.
— Tá certa. — Ele me solta e eu logo me arrependo. — Vai, senta
aqui do lado e vamos falar sobre coisas desagradáveis...
— Ah, sim, isso é fácil. — Escorrego para o lado e dou um sorriso
amarelo para ele. — A esposa do Marcelinho pegou o elevador comigo.
Super constrangedor.
— Pronto! Conseguiu, Dona Julia. — Ele fecha os olhos e larga a
revista na mesinha. — Meu tesão acabou de sumir.
— Bem, pelo menos você não pode dizer que eu não sou eficiente!
— Dou uma risada irônica e ele me devolve um olhar bastante irritado, que
me deixa com vontade de montar no colo dele novamente e só sair quando
aquela ruga entre seus olhos tiver desaparecido.
— Tudo bem, tudo bem. — Ele olha ao redor, procurando algo ou
alguém e logo desmancha a cara amarrada, olhando-me com um sorriso
convidativo. — Vamos logo dar essa volta na praia? A reunião ficou
agendada para durante o almoço, e já pedi para montarem um buffet em uma
das salas de reunião.
— Mas, por que a pressa? — Fico incomodada pois quanto mais rápido
tudo for resolvido, mais rápido voltamos ao Rio e eu não sei muito bem o
que vai acontecer com esse romancezinho uma vez que pisarmos na Cidade
Maravilhosa.
— Porque eu preciso de definição, Julia. Tudo na minha vida sempre
foi assim pois eu não sei trabalhar com suposições. Não posso passar mais
um dia inteiro supondo que o Marcelinho vai sabotar todo o nosso trabalho,
ou mesmo que você vá pular fora disso tudo que está acontecendo entre nós.
— Ele me olha e dá de ombros, entregando os pontos sem nenhuma
vergonha ou reserva. — Eu estou realmente apaixonado por você, muito
mais do que jamais fui por qualquer mulher. Tão apaixonado que chego a
não me importar se vou ter que juntar minhas coisas assim que voltarmos
para o Rio e procurar um novo emprego. Simples assim.
Opa, opa, opa, produção! Em que momento isso tudo aconteceu? Eu
ainda tenho, dentro do meu cérebro, todas as ocasiões em que Vinicius me
destratou, foi grosseiro e todo o resto. Então, me explique, porque raios sinto
meus joelhos amolecerem quando ele me olha com esses olhos azuis cheios
de sentimentos? Não sabe, né? Pois nem eu!
— Não me olhe assim, não estou louco. — Ele continua antes que eu
tenha a chance de falar alguma coisa: — Pode parecer que estou apressando
as coisas, e talvez esteja mesmo, mas eu sou assim. Eu já tinha um tesão
imenso em você desde aquela vez que te vi no elevador. Mas, depois de
conviver com você e perceber como você é espontânea e até um tanto louca,
me peguei sonhando em voltar para casa todos os dias e te encontrar me
esperando. E sim, eu sei que fui um babaca, um grosseirão… Mas espero
que você me dê uma chance de me explicar e provar que sou muito melhor
do que isso.
Seus lábios se curvam em um sorriso diferente de todos que eu já vi
durante nosso tempo juntos. É quase como se ele fosse um adolescente
tímido, sorrindo para a mulher da sua vida. Nesse caso, essa mulher sou eu,
muito prazer, Julia Saldanha, a sortuda do ano.
— Por que você não me conta agora? — Ele nega com a cabeça. —
Será que você tem algum segredo obscuro que acha ser capaz de me afastar
de você? Porque, assim, eu também estou gostando muito de passar esse
tempo com você, conhecendo o Vinicius que ninguém no escritório sabe que
existe.
— Agora não, Julia. — Ele se levanta e pega minha mão, puxando
meu corpo em sua direção. Sinto seu perfume me rodear e respiro fundo,
fechando os olhos enquanto ele me abraça. — Não quero encher nosso dia
de histórias tristes e mal-acabadas. Tudo isso pode esperar enquanto
aproveitamos nosso passeio na praia.
O tom dele é decidido e eu me calo. Sim, também me assusto com essa
atitude inesperadamente adulta da minha parte, mas me calo de verdade.
Parece que as palavras passam a ser desnecessárias no momento em que ele
envolve minha mão na sua e saímos caminhando em direção ao mar azul de
Angra dos Reis.
Em questão de minutos, deixamos o hotel e o seu burburinho para
trás, poucas pessoas estão espalhadas pela areia, sentadas confortavelmente
em cadeiras reclináveis tendo drinks coloridos nas mesas ao seu lado. Vejo
um par de cadeiras vazias e faço menção de puxar Vinicius até elas, mas ele
me ignora, e continuamos andando em silêncio, deixando as pessoas para
trás até que ficamos apenas nós dois e o barulho das ondas, transformando
aquela faixa de areia em nossa praia particular.
— Só mais uns minutos, tudo bem? — Ele me puxa para junto do seu
corpo, passando o braço pela minha cintura e eu sinto mais uma parte de
mim derreter.
— Tá. — É tudo que consigo dizer. Meus olhos se perdem na beleza
daquele lugar, meus ouvidos recheados com os sons do mar e meu coração
batendo descompassado no peito.
Antes que vocês achem que eu sou louca ou simplesmente uma mulher
carente, preciso contar que todos os homens que tive na minha vida foram
embustes, culminando com o crápula do Marcelinho. Mesmo que tudo isso
que estou vivendo com Vinicius nesse fim de semana acabe se provando
mais uma mentira, isso é o mais próximo do conto de fadas moderno que eu
já estive.
Nunca viajei com um namorado, nunca fui apresentada à família ou
mesmo a amigos que realmente importassem. Eu era aquela do barzinho, do
motel, do “sem compromisso”. Lorena diz que é porque eu tenho uma pose
de descolada demais, tentando fazer de conta que não me importo com essas
coisas de romance. Ela tem razão, pois sempre achei que, quanto menos
demonstrasse que queria muito namorar, mais fácil seria o cara se apaixonar
por mim.
Nunca deu certo. E, mesmo agora depois dessa declaração súbita de
Vinicius, ainda acho que não vai dar certo. Por isso estou disposta a
aproveitar todos os minutos, sendo fácil ou qualquer outro nome que a
sociedade use para rotular mulheres que só querem ser felizes.
Estou perdida nesses pensamentos e mal percebo que chegamos a
uma parte da praia onde a areia começa a se misturar com uma grama baixa
e muito bem cuidada. Meu olhar é atraído para uma pequena construção que
me lembra os antigos coretos das praças de cidades pequenas, mas assim que
chegamos mais perto, percebo que é uma grande cama, com um dossel
imenso e cortinas transparentes que fingem cobri-lo. De um lado da cama,
uma mesa de madeira rústica apoia um grande recipiente cheio de bebidas e,
do outro lado, em uma mesa idêntica, uma travessa cheia de frutas.
— Bem-vinda, Dona Julia. — Ele estica o braço, mostrando aquele
pedaço de paraíso com um certo orgulho. — Bem-vinda ao nosso jardim
secreto.
Olha só, meu povo, quase enfartei, viu?
Pensa comigo: um homem lindo, uma praia deserta, uma cama
enorme, bebida e comida e ninguém por perto para atrapalhar nossa vida.
Morri e tô no paraíso... Só falta mesmo meu pãozinho com mortadela, mas
isso posso deixar pra comer quando voltar pra casa, não é mesmo?
— Você ficou muda. — A voz dele me tira do transe. — Ou detestou
tudo que montei, ou está tão encantada que é capaz de dizer que também está
apaixonada por mim.
— Calma aí, moço. — Respiro fundo e, soltando sua mão, corro em
direção à cama e me jogo nela. — Vamos parar com essa coisa de paixão pra
lá e pra cá, e aproveitar tudo isso que temos ao nosso dispor.
Chamo-o com os dedos e ele caminha na minha direção. Se algum
dia um homem antes dele me deixou molhada só de andar até a cama onde
estou deitada, francamente não me lembro. Para mim, essa é a primeira vez,
assim como várias coisas que tenho experimentado e sentido quando estou
com ele. Uma sucessão de “primeiras vezes” que eu gostaria que não
terminasse nunca.
Apoio os calcanhares na beirada do colchão, as pernas abertas dando
espaço para que ele se encaixe no meu corpo. Vinicius desliza as mãos pelas
minhas coxas, levantando o meu vestido até seus dedos encontrarem minha
calcinha.
— Aí está ela — ele tem um sorriso travesso no rosto enquanto puxa a
pequena peça de renda para baixo —, estou tentando adivinhar a cor dela
desde que você saiu do elevador.
— Amarela. — A palavra escorrega dos meus lábios no momento em
que ele consegue tirar a calcinha do meu corpo, fechando-a dentro da sua
mão e levando-a até o rosto. Vejo Vinicius mergulhar o nariz na renda
amarela e sinto um calor imenso entre minhas coxas, que logo se espalha
pelo meu corpo quando ele enfia a calcinha no bolso da bermuda.
— Minha. — Eu confirmo com a cabeça, mas ele ri. — Não, sua doida,
essa calcinha vai ser minha.
Ele se inclina e, posicionado entre minhas pernas, toma minha boca
na sua, em um daqueles beijos molhados e demorados. Meu corpo reage ao
toque dele e, instintivamente, coloco minhas mãos em seu pescoço,
segurando-o com firmeza e puxando nossos corpos em direção aos lençóis
extremamente macios daquela cama extravagante. Ele, assim como eu, não
oferece resistência e me dedico a sugar seu lábio inferior, mordiscando-o e
puxando-o, enquanto ele se livra da calça e da cueca, levantando ainda mais
o meu vestido para que nossos corpos possam se encontrar livres de
obstáculos.
— Vinicius — a voz de Fernanda Montenegro surge em um canto
obscuro e nublado do meu cérebro —, e se alguém nos ver?
— Ninguém vai vir até aqui, Julia. Paguei um bom dinheiro por esse
pedaço de paraíso e pelo segurança que está na orla. — Sinto sua língua
tocando a curva do meu pescoço, e um suspiro escapa dos meus lábios
entreabertos. — Somos só eu e você, e todos os nossos desejos e vontades.
— Perfeito. — Empurro-o para longe e, ficando de joelhos, me livro do
vestido, jogando-o aos pés da cama.
Meus cabelos descem soltos pelas costas e algumas mechas tentam,
sem sucesso, cobrir o bico do meu seio. Vinicius tira a camisa e seus olhos
estão fixos no meu rosto, fazendo com que eu morda o canto da boca em
antecipação ao que está por vir. Em silêncio ele estica a mão e, suavemente
afasta o cabelo do meu mamilo, deixando que seus dedos brinquem com a
minha pele sensível.
— Você é linda — ele fala, um ar sério e pensativo em seu rosto. —
Linda demais para meu próprio bem, Julia. Acho que vou ter muito trabalho
mantendo você ocupada e pensando somente em mim.
Sinto seus dedos se fecharem suavemente no bico do meu seio, e um
arrepio percorre meu corpo. Lembram do que falei sobre primeiras vezes?
Essa é uma das coisas que ele está me ensinando, o poder sexual de ter seu
mamilo preso entre um indicador e um polegar extremamente hábeis. Não
existe dor, existe um tesão insuportável quando ele aperta um pouco os
dedos sem tirar os olhos dos meus, me observando arfar e arquejar o corpo.
— Acho que você está indo pelo caminho certo. — Com muito esforço
consigo dizer algo que faça sentido, antes de me deixar levar pelas emoções
e sensações.
E são muitas, pois ele me beija novamente e, enquanto segue
acariciando meu seio desse jeito totalmente novo para mim, desce a mão
pelas minhas costas, chegando até a base da minha coluna e me puxando de
encontro ao seu corpo.
Sinto seu pau, alerta e totalmente pronto para o combate, roçando em
mim e sei que naquele instante tudo que quero é sentir ele em mim, me
fazendo sua em todos os sentidos. Não quero esperar, não quero gentilezas
ou promessas. Quero o real, o momento, e isso significa Vinicius. Me jogo
na cama e ele me acompanha, sua boca rapidamente tomando o lugar dos
dedos, e ele chupa meu mamilo com força, com vontade e me deixa com
muito tesão. Deixo meus dedos se enfiarem em seu cabelo macio e, quando
o puxo na direção a minha boca, ele não resiste. A verdade é que ele perdeu
a vontade de ter controle sobre seu corpo no momento em que minha língua
avançou contra sua boca, tomando-o como ele já havia feito comigo outras
vezes.
Envolvo sua cintura com as minhas pernas mas ele se afasta por um
breve momento, pegando o preservativo no bolso da calça e vestindo-o
rapidamente para logo voltar para mim. Subo as mãos por seu peito, minhas
unhas arranhando-o de leve e ele reage instintivamente, se posicionando,
pronto para me penetrar. Sei que estou entregue a ele, que quando me olha
ele vê uma devassa, safada e sem pudores, e nada nunca fez tanto sentido
para mim. Passo a língua pelos lábios, um convite para que ele entre, e assim
ele faz, deslizando lentamente seu pau para dentro de mim.
Não existe mais nada ao meu redor. Nem mar, nem pássaros ou sequer o
receio de alguém nos ver. Só existe Vinicius e o movimento ritmado dos seus
quadris contra os meus, seus dedos enfiados nos meus cabelos, a respiração
contra a curva do meu pescoço e a quantidade absurda de pornografia que
ele sussurra ao meu ouvido.
Rebolo junto com ele, e a sensação é indescritível. Se eu acreditasse em
destino, almas gêmeas e toda essa coisa, diria que ele havia sido feito para
mim e que, agora que nos encontramos, tudo estava perfeito. Mas, ao invés
disso, fecho os olhos e me concentro nas coisas diabólicas que ele está
fazendo com o meu corpo, sua língua de volta ao meu mamilo e a mão
apertando minha bunda.
Quando ele escorrega o dedo em direção ao meu “lugar nunca antes
explorado”, me preparo para reclamar, porém ele é mais rápido e em uma
junção de movimentos que eu jamais serei capaz de explicar, me faz gozar
em alto e bom som, deixando meu corpo mole e satisfeito “fazer casa em
seus braços”, igual àquela canção do Legião Urbana.
Sem sair de dentro de mim, ele rola nossos corpos na cama, me
colocando por cima dele, e acaricia meus cabelos em silêncio. Sinto que
ainda está duro e longe de terminar o que começamos, e com isso desço a
boca até o seu mamilo, beijando-o e lambendo-o.
— Puta que o pariu, Julia. — Ele suspira. — Não faz assim que eu
não aguento.
— Você não gosta? — pergunto com a boca grudada em seu corpo.
— Eu adoro.
Seus dedos seguem brincando com meus cabelos e eu continuo a
acariciar seu peito, mexendo suavemente meus quadris e sentindo o pulsar
de Vinicius dentro de mim. Apoio as mãos nele e me ergo, ficando montada,
as pernas apoiadas nas laterais do seu corpo, e sigo com o movimento dos
quadris, cavalgando Vinicius enquanto brinco com seu mamilo da mesma
forma que ele brincou com o meu.
Não existe a necessidade de palavras, e ele segura minha cintura com
as mãos, deixando que eu dite o ritmo da trepada. E assim eu faço, rápido e
forte, lento e suave, movimentos que me deixam no comando e cheia de
prazer. Não sei quanto tempo passarmos nessa dança até que ele se senta na
cama, mantendo meu corpo preso em seus braços e acelera os movimentos
enquanto morde meu lábio com desejo para, em seguida, me dar um beijo
desesperado.
Vinicius goza enquanto eu sugo sua língua naquela cama perdida no
meio de uma praia de Angra dos Reis, e nada na minha vida foi tão excitante
quanto isso.
Quando afirmei a Julia que preciso de definição, não estava
mentindo. Desde que Penélope me mostrou como o amor pode ser uma
merda, eu tratei de criar algumas regras e, definir relacionamentos — sejam
eles comerciais ou emocionais — é uma delas. A mais importante de todas,
para ser exato. Tenho outras regrinhas, mas não vêm ao caso no momento.
O fato de estar apaixonado por essa mulher que me deixa maluco, em
todos os sentidos, e disposto a passar muito tempo da minha vida com ela,
não me ajuda nem um pouco, mas não quero ser surpreendido novamente e
foi por isso que não contei toda minha história com a Pê para Julia ainda.
Não quero que ela saiba o quão idiota e cego eu fui. Você pode achar que é
imaturidade da minha parte, mas eu não estou nem ligando.
Agora, deitado na cama com ela enrolada no meu corpo e som das
ondas batendo insistentemente dentro da minha cabeça me pego pensando
nas idas e vindas da minha vida, e em como eu consegui ser cego e estúpido,
deixando que Penélope me enganasse placidamente. A cabeça de Julia está
pesando no meu peito e isso me faz ter certeza de que ela adormeceu. Isso e
um barulho insistente de motorzinho que ela faz quando dorme. Você vai me
achar muito estranho se eu contar que acho um pouco sexy saber que ela
ronca? Calma, vou explicar.
Penélope era perfeita. Não roncava, não tinha dor de barriga, não se
coçava. Era como uma perfeita boneca Barbie saída dos meus sonhos, uma
modelo, magra e loira, que havia nascido para realizar todos os meus desejos
juvenis.
Ah, dá um tempo e para de me julgar!
Eu era um jovem, apaixonado, que nunca tinha convivido com
nenhuma outra mulher além da minha mãe e da minha irmã. Aliás, foi por
causa de Vitoria e seus hábitos extremamente nojentos — como palitar os
dentes, cutucar o nariz e insistir em campeonato de peido — que fiquei
encantado com a perfeição de Penélope. Minha irmã sabia exatamente o que
fazer para me tirar do sério, logo nada mais confortável para mim do que
partir na direção oposta.
E Penélope se encaixou direitinho em todos os padrões pré-
concebidos que eu havia formado em minha mente para a mulher perfeita.
Durante um ano inteiro ela esteve sempre no alto de um pedestal, e eu a
adorava e comprava presentes caros e ainda pagava algumas de suas contas
com o dinheiro que fazia dando aulas particulares.
Ou seja, eu fui um bosta. Mas quem aí nunca foi?
Quando Bernardo entrou no meu quarto e fechou a porta atrás de si
sem dar um pio, eu sabia que tinha dado merda. Só não contava que tinha
sido eu a me foder. Meu amigo estava sem jeito e só depois de muito enrolar
começou a desfiar o rosário de lamentações. Sobre como ele se sentia mal
em ter que me contar a verdade. Sobre o fato de ele mesmo ter sido alvo
daquela com a qual eu já sonhava em casar. Minha cabeça doeu tanto que
quando ele finalmente abriu o bico e me disse que além de ter saído com os
outros caras, Penélope havia dado em cima dele descaradamente, eu ainda
levei alguns minutos para entender.
Para piorar a situação, ele começou a chorar de nervoso, porque a Pê
tirou a roupa na frente dele e se esfregou nele fazendo com que ele saísse
correndo do quarto. Hoje em dia a gente faz piada sobre isso, mas na hora,
cara, eu quase morri.
Se ao menos isso fosse tudo...
A parte mais desgraçada de tudo foi que ela havia me contado uma
história triste, daquelas de partir coração de gelo. Envolvia a avó dela que
estava doente e uma imensa lista de exames e remédios que a velhinha tinha
que tomar. Ela era minha namorada e nada mais justo do que eu a ajudar,
certo?
E com isso ela levou toda a grana que meus pais tinham colocado na
minha caderneta de poupança e ainda me convenceu a fazer um empréstimo
estudantil, o qual paguei por longos cinco anos depois dela ter ido embora.
Com um professor da faculdade.
Sem contar que eu e os outros caras viramos motivo de chacota no
campus da Universidade, o que não tornou minha vida muito fácil.
Todo esse caso com a Penélope me fez desconfiar de todas as
mulheres que se aproximavam de mim, principalmente depois que comecei a
galgar os degraus do sucesso e construí um pequeno patrimônio, capaz de
me dar segurança para o resto da vida.
O que me leva à minha segunda afirmação. Também falava a verdade
quando disse que não me importava se tivesse que procurar outro emprego.
Mas ela tem que estar comigo, pois depois que me perdi no meio das suas
coxas está bem difícil imaginar uma vida sem Julia.
Dinheiro guardado eu tenho, e capacidade de trabalhar também.
Além do mais, o rebelde que existe em mim sempre quis ter seu próprio
negócio, coisa que faz Bernardo puxar vômito todas as vezes em que toco no
assunto. Meu amigo gosta de tudo muito certo e regrado e só de pensar em
não ter um salário fixo no fim do mês, ele corre o risco ter um enfarto. De
verdade.
Estou perdido nessas lembranças, minha mente tentando planejar a
melhor forma de contar um pouquinho do meu passado vexaminoso a Julia,
quando sinto seus lábios beijarem meu queixo.
— Ei, gatão. — Dou uma risada pois há muitos anos ninguém me
chama de gatão. — Acho que dormi.
— Eu tenho certeza. — Beijo sua testa e com um sorriso diabólico
completo. — Pelo barulho que estava fazendo, achei que estava em processo
de transformação zumbi.
— Meu Deus! — Observo seus seios balançarem suavemente
enquanto ela se senta na cama. — Mas é muito nerd, Jesus. Não sei se vou
aguentar.
Ela me olha por cima do ombro, um sorriso lindo iluminando seu
rosto e os cabelos caindo soltos pelas costas como uma cascata. Me pego
pensando em poemas românticos e logo percebo que jamais deixei de ser
aquele mesmo idiota sensível que se apaixonou por uma espertalhona. Estico
a mão e pego uma mecha dos seus cabelos entre meus dedos enquanto
declaro.
— Cuidado, Dona Julia. Esse nerd ainda pode te surpreender. —
Puxo-a pela cintura e mordo seu ombro. — Novamente. Já fui grosso,
tarado, indecente e agora, romântico. Quem sabe o que mais te aguarda?
Ela sai da cama gargalhando e enfia o vestido pela cabeça enquanto
responde.
— Acho que nunca vou me cansar das suas surpresas, Vinicius.
Acabamos de nos vestir em silêncio e, segurando a mão dela
firmemente na minha, seguimos rumo à reunião que pode acabar com a
minha carreira. E, por mais incrível que pareça, não estou com tanto medo
quanto achei que estaria. Efeito Julia, talvez, mas quem se importa?
Se eu pudesse fazer um pedido ao Universo, com certeza seria por mais dias
como esse.
Enquanto caminhamos de volta ao hotel, deixando nosso pedaço de paraíso
para trás, Vinicius mantém minha mão presa na sua e o calor que seu corpo emana
faz com que eu me sinta viva. Claro que ainda tenho muitas dúvidas sobre o futuro
desse relacionamento inconsequente, mas decido colocá-las de lado e viver todos os
momentos da forma mais leve possível.
Fazemos todo o percurso em silêncio, como se as palavras pudessem quebrar
a sintonia que se estabeleceu tão rapidamente entre nós. Me pego pensando em
como as pessoas levantam muralhas e vestem armaduras para se proteger das outras,
que seguem ferindo sentimentos e magoando corações em sua incansável busca por
estabilidade emocional. Meu pensamento voa tão alto que, quando percebo, já
estamos em frente ao hotel e Vinicius abre a porta da recepção para me deixar
entrar, colocando sua mão em minhas costas e me empurrando para dentro.
Não quero mesmo entrar. Quero ficar do lado de fora, naquele canto de praia
com a cama dos meus sonhos e esse homem maravilhoso, mas não ofereço
resistência. Sei que temos negócios a serem resolvidos e a sombra da ameaça de
Marcelinho pesa sobre nossas cabeças.
— Banho rápido e descer para comer? — ele pergunta com um sorriso.
— Banho bem rápido mesmo — concordo me sentindo aliviada por ele não
ter mudado o jeito de falar comigo. — Eu no meu quarto e você no seu. Sem
gracinhas.
Vinicius levanta as duas mãos em sinal de rendição e entramos no elevador.
Aproveito para abraçá-lo e sussurrar contra seu peito.
— Vai dar tudo certo, você vai ver.
— Vai sim, Dona Julia. — Ele beija o topo da minha cabeça e completa: —
Não tem como dar errado.
Assim que passamos pela porta do quarto, deixo meus olhos vaguearem mais
uma vez por toda a bagunça que ele fez. Parece que estamos no meio de um tsunami
com roupas espalhadas por todos os cantos enquanto o notebook, livros e muitas
folhas de relatório parecem prestes a cair da mesa no canto do quarto. Sacudo a
cabeça, rindo por dentro e vou para o meu quarto, enquanto ele toma o rumo do
chuveiro, deixando a porta de comunicação aberta.
Meu banho é rápido e em menos de vinte minutos estou sentada na beira da
cama, penteando os cabelos e já enfiada no vestido verde que deu origem a toda essa
loucura na qual me encontro. Largo a escova na cama e fecho os olhos, pedindo
mais uma vez que tudo dê certo e que a empresa do Marcelinho não abandone o
projeto. Claro que, se ele conseguir isso, o Gomes vai fazer uma oferta e na teoria
tudo vai se acertar. Mas não passa mesmo de teoria porque o presidente da empresa
frisou em vários comunicados a importância de conseguir o apoio do Teixeira nessa
empreitada. Ou seja, era ele ou a incerteza do futuro profissional de Vinicius. E tudo
isso por causa do Marcelinho e seus atos inconsequentes.
— Posso ouvir sua cabeça funcionando daqui, Julia. — Vinicius repete a frase
de antes, e que ele parece gostar tanto. — Pare com isso, mulher! Está tudo bem,
nada que possa acontecer vai ser ruim para mim.
— Tá bem — respondo sem me mexer. — Vou acreditar em você. Mas se
você perder seu emprego não venha me pedir para fazer faxina lá em casa.
E lá vou eu, abrindo minha boca cheia de graça. Vinicius entra no meu
quarto ajeitando a gravata e com uma expressão intrigada no rosto.
— Quer dizer que me imaginar fazendo faxina na sua casa te dá tesão?
— Meu querido — dou um suspiro e me levanto para ajudá-lo com a gravata
como se fossemos um velho casal apaixonado —, só de imaginar minha casa limpa,
louça lavada e você me esperando pronto para o abate, já fico com os joelhos moles.
Ele me puxa pela cintura e sinto uma certa coisa dura contra meu corpo. Mas
será o Benedito que esse homem não conhece limites?
— Mas já? — Olho para baixo com uma cara de espanto, real e oficial. —
Como você consegue?
— Eu não tenho nenhum controle sobre meu pau quando você está por perto.
Ainda não entendeu isso, Julia? — Vinicius deposita um beijo suave nos meus
lábios e me solta. — Mas vai entender. Tenho certeza que vai.
Ele dá uma última conferida no espelho do meu banheiro e parece satisfeito
com o que vê, assim como eu. Sem dar mais nenhuma palavra, ele abre a porta do
meu quarto e espera que eu passe, dando um tapa rápido na minha bunda e me
arrancando uma gargalhada nervosa. Repetimos o silêncio da caminhada anterior e,
quando chegamos ao hall do hotel uma cena nos faz parar repentinamente.
Na frente do balcão da recepção estão Marcelinho e sua esposa, com uma
mala de rodinhas ao seu lado. Meu coração dispara diante da possibilidade de ele ir
embora sem ao menos assistir nossa apresentação e olho nervosa para Vinicius que
apenas sacode a cabeça para que eu caminhe em direção às salas de reunião. Pelo
canto do olho, vejo quando Carina balança veementemente a cabeça em negativa
enquanto o marido coloca as mãos em seus ombros, como se a estivesse consolando.
Aquilo tudo me deixa muito confusa e me perguntando que diabos está acontecendo
ali. Se ela o havia confrontado sobre nosso passado, ou se sabe a verdade sobre seus
machucados. Dentro de mim, algo se quebra quando eu percebo que ela é
exatamente como eu havia sido, uma mulher linda e inteligente enganada pelo
homem que amava. Isso me dói muito, entender que existem tantas de nós por aí,
escondidas sobre um manto de dignidade e nossa pose de princesa.
— Pare de se preocupar com eles, Julia. — A voz de Vinicius me traz de
volta à realidade. — Foque na apresentação e em esbanjar esse charme que você
tem. Vamos conseguir um contrato!
Não consigo encontrar as palavras certas, então sigo muda ao lado dele até a
sala onde um grande buffet está montado. Estou muito preocupada com o futuro de
Vinicius, mas na hora que meu estômago “sente o cheiro” de toda aquela comida ele
ruge como um leão e, instintivamente, coloco as mãos sobre a barriga.
— Mas, Dona Julia — Vinicius me olha intrigado —, não foi a senhora que
disse estar de barriga cheia logo após o café da manhã?
— Ei — aponto o dedo em riste na cara dele —, do mesmo jeito que você
não controla o seu amiguinho quando está perto de mim eu não controlo meu
amiguinho quando estou perto de comida.
— Touché! — ele revida divertido. — Aconselho que se sirva logo e forre o
estômago enquanto eu vou colocando ordem nesse galinheiro aqui.
Não preciso que ele fale duas vezes e traço uma reta até a mesa onde consigo
encher meus olhos com uma visão paradisíaca. Ao invés da comida chique que eu
esperava encontrar estão pratos recheados de mini sanduiches e travessas cheias de
salgadinhos. No canto esquerdo, um enorme pudim de leite condensado parece
sussurrar meu nome luxuriosamente. Levanto os olhos e dou de cara com Vinicius
me encarando e dividimos um sorriso de cumplicidade quando confirmo que ele
escolheu esse cardápio pensando em mim. Se eu já não estivesse completamente de
quatro por ele, esse seria o momento da minha queda. Um homem que entende meu
estômago é um homem para a vida toda.
— Olá, Julia. — A voz de Gomes interrompe meu devaneio onde eu e
Vinicius estamos nus na cama, enchendo a barriga de pãozinho com mortadela. —
Que surpresa esse cardápio festivo! Foi obra sua?
— Não, Sr. Gomes — ofereço a ele meu melhor sorriso profissional —, Vinicius
que fez a encomenda. Acho que ele queria dar um tom descontraído a essa
apresentação. O senhor sabe, tem uma certa tensão no ar.
— Tem sim. Inclusive — ele passa os olhos pelo salão à procura de alguém
—, não estou vendo o Jorge Marcelo por aí. Vamos ter que esperar o bonitão dar as
caras por muito tempo?
Como se estivesse esperando a deixa para fazer sua entrada teatral, a porta se
abre e todos viram para olhar Marcelinho e seu olho roxo entrarem na sala. Mas
para a nossa surpresa somos agraciados com a visão glamourosa de Carina, que
entra calmamente, e sozinha.
— Boa tarde, cavalheiros. — E olhando diretamente para mim, alfineta —
Julinha. Podemos começar a apresentação na hora que vocês quiserem.
— Ah, como assim? — Vinicius passa a mão pelos cabelos sem entender o
que está acontecendo. — Onde está o seu marido? Precisamos dele para dar início
aos trabalhos.
— Meu marido foi embora. — O sorriso de Carina é frio, impessoal, e tenho
certeza de que ela sente uma espécie de prazer mórbido ao me olhar e dar a cartada
final. — A partir de agora, quem representa a Teixeira e Filhos sou eu. Na verdade,
o Teixeira é meu tio e me garantiu o poder de decisão nessa negociação. Por favor,
vamos nos adiantar pois não quero mais tomar o tempo dos senhores. E nem da
Julinha, não é mesmo?
Puta merda, hein, Universo? Não podia mesmo dar uma colher de chá pra
mim pelo menos uma vez?
Depois que Carina nos deixa sozinhos para lidar com a bomba que
havia jogado no nosso colo, as horas voam. Corro para arrumar minhas
coisas enquanto Vinicius simplesmente senta-se na cama e fica passando as
páginas do seu livro. Acho muito legal da parte dele fugir para Hogwarts
enquanto eu sofro para fechar a mala. É sempre assim, todas as vezes em que
viajo as coisas parecem estufar, e eu nunca consigo enfiar tudo de volta
dentro da bolsa, mala, caminhão ou onde quer que seja.
— Você não vai arrumar suas coisas? — pergunto incomodada com a
calma desse homem.
— Daqui a pouco. Está muito divertido observar sua luta com a mala
indomável. — Ele ri e não consigo me manter séria. Dou uma risada boboca,
de menina apaixonada e vou correndo em sua direção, enchendo sua boca de
beijos até que ficamos sem ar e ele me adverte. — Até porque se eu for até lá
para te ajudar, posso encontrar uma das minhas camisas escondida no meio
das suas coisas e você vai ficar envergonhada.
Enquanto ele gargalha diante da minha cara de surpresa, trato de
correr de volta para o meu quarto e, apertando tudo com o joelho, fecho o
zíper da mala, triunfante.
— Não tem nada aqui que te pertença. — Olho para ele por cima do
ombro com uma cara bem brava. — É tudo meu.
— É sim, Julia — ele concorda, largando o livro na cama e cruzando
os braços atrás da cabeça. —Tudo seu. E isso engloba muito mais do que
uma camiseta velha.
Engulo em seco, sentindo meus joelhos tremerem quando ele se
levanta e, rapidamente cobre o espaço que nos separa. Vinicius me envolve
em seus braços e me suspende do chão como se eu não pesasse mais do que
uma criança de dez anos. Ele mergulha o rosto na curva do meu pescoço
enquanto murmura:
— Eu não sabia que me sentiria tão bem ao seu lado, sua tonta. Você
precisa acreditar em mim, não vou te magoar, não sou um idiota como você
acha. Eu prometo, Julia, vou te surpreender.
— Não vou mais resistir — sussurro contra seus lábios. — Juro
solenemente não fazer nada de bom.
Ele sorri quando cito Harry Potter e concorda comigo, seus olhos
brilhando divertidos.
— Acho bom. Prefiro quando você não se comporta.
Ele me coloca no chão e, beijando minha testa, volta para o seu
quarto. Fico olhando enquanto ele junta todas suas roupas em um bolo e
enfia na mala, sem nenhuma cerimônia. Faz a mesma coisa com os itens que
estão no banheiro e na mesinha de cabeceira e, enfiando o notebook na
pasta, anuncia orgulhosamente:
— Estou pronto. E não gastei nem 5 minutos.
Estende a mão para mim e, assim, dessa forma simples e espartana,
partimos rumo à nossa vida no Rio de Janeiro.
Nunca pensei que esse pequeno sofá roxo fosse tão versátil no que se diz
respeito a sexo.
Assim que consigo tirar o pau de Vinicius de dentro da calça, me encaixo
nele e o sinto deslizar completamente para dentro de mim. Estou molhada,
latejando e o toque da pele dele contra a minha me faz ver estrelas.
Lentamente, mexo meu corpo no mesmo ritmo de Vinicius enquanto
minhas mãos se apoiam em seus ombros. Ele abre a boca para falar alguma
coisa, mas eu não quero ouvir nada nesse momento, então mergulho em seus
lábios, minha língua enroscando na dele, meus dentes mordendo seu lábio
macio.
Ele geme contra a minha boca e me puxa pela cintura, entrando um
pouco mais em mim. Nossos corpos se chocam, protegidos pela camada de
roupa que esquecemos de tirar e eu sinto um tesão adolescente tomar conta
do meu corpo. Sem aviso, ele me afasta e se levanta do sofá, puxando-me
pela mão. Preparo-me para ter Vinicius para mim na minha cama, mas ele
me surpreende quando me joga contra o braço do sofá, a bunda empinada em
sua direção.
— Maravilhosa — ele sussurra enquanto acaricia a curva da minha
bunda, deslizando suavemente pela minha pele quente. — Cada pedacinho
de você é uma surpresa deliciosa, Julia.
Sinto sua língua passeando em mim, primeiro na base da minha
coluna para logo em seguida traçar um caminho pecaminoso até meu
cuzinho e, nesse momento, vou à loucura. Pela sua habilidade em usar a
língua, Vinicius não estava brincando quando disse que adorava sexo anal.
Sinto ele me chupando, lambendo e penetrando, fazendo com que eu me
incline para frente garantindo a ele livre acesso ao meu prazer.
E que prazer, minha gente! Que prazer.
Quero me livrar do vestido que, a essa altura, não passa de um
amontoado de pano preso na minha cintura, mas ele não deixa que eu me
mexa e me surpreende ao sussurrar no meu ouvido.
— Vou enfiar meu dedo no seu cuzinho delicioso, Julia, e preciso que
você relaxe para mim.
Não consigo formular uma frase coerente pois meu cérebro não passa
de uma massa gelatinosa, então sacudo a cabeça enquanto mordo o lábio
inferior. Ele mantém a boca junto à minha orelha, sussurrando obscenidades
e seu dedo vai me abrindo suavemente e com maestria. Vinicius morde o
lóbulo da minha orelha enquanto massageia meu cuzinho com delicadeza, o
dedo entrando e saindo, me enlouquecendo aos poucos.
Nunca fui atraída pelo canto da sereia de que sexo anal pode ser bom.
Talvez tenha sido culpa dos caras com quem namorei, só sei que agora,
enquanto me desmancho no dedo de Vinicius, me vejo desejando que ele me
mostre tudo que sabe a esse respeito, e quando ele tira o dedo, deixando-me
vazia, eu reclamo baixinho.
— Por que você parou?
— Porque eu te quero demais, mas não a ponto de desvirginar seu
cuzinho no braço do sofá. — Ele mergulha a mão na mochila para logo em
seguida enfiar algo no bolso e, sorrindo, pergunta. — Seu quarto é a porta da
esquerda?
— Da direita.
— Vem comigo. — Vinicius me pega pelas mãos e anda de costas em
direção ao meu quarto, sem tirar os olhos de mim e eu me esqueço do
vestido enrolado, do cabelo despenteado e de todo o resto. Só consigo pensar
em tudo que ele faz com o meu corpo e em como meu coração corre perigo.
— Não pense, Julia. — Ele sorri ao sentar na minha pequena cama
de casal. — Apenas sinta.
Balanço a cabeça concordando e solto a sua mão para me livrar do
vestido enquanto ele arranca o resto da roupa. Vinicius parece estar
superconfortável no meu quarto, rodeado de toda a minha bagunça. Ele não
está mais sorrindo quando pega minha mão e me puxa em sua direção.
Caímos no colchão nos beijando, a ereção dele firme contra meu corpo,
meus cabelos nos envolvendo como uma cortina selvagem.
— Você ainda quer? — ele murmura contra meus lábios. — Preciso
ouvir você me pedindo, Dona Julia.
— Quero. — Minha voz sai fraca e baixa, mas ele não se dá por
satisfeito.
— Quer o quê? — Ele sobe a mão pelo meu pescoço, seus dedos
segurando firmemente a raiz dos meus cabelos e me obrigando a olhar fundo
em seus olhos azuis.
— Quero que você me dê prazer. — Ele lambe meu queixo, mordisca
meu lábio e, com a mão livre, aperta suavemente o bico do meu seio,
fazendo-me completar. — Quero que você me mostre como gozar dando o
cuzinho.
Ele sorri para mim e isso derrete o que ainda restava das minhas
barreiras emocionais. Vinicius me coloca deitada de costas e tira um tubo de
lubrificante do bolso da calça que está largada no chão. Mas, para minha
surpresa, ele não abre o tubo, deixando-o do meu lado no colchão e, antes
que eu possa perguntar o que ele está pensando em fazer, ele separa as
minhas pernas e mergulha na minha boceta, lambendo e chupando,
mordiscando e acariciando, fazendo com que eu esqueça do mundo lá fora.
Enquanto sua língua explora minha boceta, seu dedo reencontra o caminho
do meu cuzinho, mas, no entanto, ele não me penetra e contenta-se em
acariciá-lo levemente. Eu poderia me preocupar, questionar ou tentar
entender, mas nesse momento a boca de Vinicius encontra aquele famoso
ponto onde tudo explode dentro de mim e eu acabo gritando seu nome
enquanto minhas coxas pressionam sua cabeça e minhas mãos se agarram ao
lençol.
Ele aproveita esse meu momento de insanidade temporária para
besuntar os dedos com o lubrificante e deslizar não um, mas dois dedos para
dentro do meu cuzinho e eu, ainda presa no êxtase do gozo, não ofereço
nenhuma resistência. Muito pelo contrário, abro os olhos ainda embaçados
de tesão e rebolo nos dedos dele, ávida e enlouquecidamente disposta a ter
tudo que ele pode me oferecer.
— Isso, Julia — ele me incentiva com um sorriso sacana. — Relaxa
e aproveita o tesão, rebola para mim e deixa que eu te prepare para a melhor
experiência da sua vida.
Ele poderia estar contando em chinês agora que eu concordaria com
tudo. O tesão toma conta do meu corpo e tudo que eu penso é que ter
Vinicius dentro de mim é maravilhoso e que não quero somente os dedos,
quero ele todo.
— Me come — eu peço, a urgência no meu tom de voz. — Quero
que você coma meu cu.
— Vou fazer, Julia. Vou fazer agora.
Ele tira os dedos e, enquanto busca algo no bolso da calça, eu me
ajeito, ficando de quatro para ele. Mas Vinicius me toca suavemente, me
fazendo deitar de costas novamente na cama e quando olho para ele com a
confusão estampada nos meus olhos, ele esclarece.
— É a sua primeira vez, não é? — Confirmo em silêncio, sacudindo
a cabeça e ele completa. — De frente, com calma e com você olhando nos
meus olhos. Quem dita o ritmo é você, você é quem manda aqui, entendeu?
Algo nessa frase me enche de poder, como se eu fosse mesmo a dona
da situação, senhora daquele homem e, enquanto me preparo para receber
Vinicius, ele abre um pacote de camisinhas.
— Relaxa, Julia. Tudo tem sua hora, confie em mim. — Ele espalha
o lubrificante no pau e no dedo, levando-o até o meu cuzinho. — Vem, se
esfrega no meu dedo.
Ele não precisa repetir o pedido. Me aproximo mais de Vinicius, que
desliza seu dedo em mim e acaricia minha entrada, me preparando para o ato
sexual.
— Vou colocar meu pau na entrada do seu cuzinho, Julia, e vamos
nos mover juntos, no seu ritmo. — Ele se inclina e me beija demoradamente.
— Estou louco de tesão, quero muito estar dentro de você, mas não quero te
machucar, entendeu? Vamos com calma.
Calma. Vamos com calma, Julia.
Ele não para de repetir isso e eu tento me convencer de que vai ser
fácil ir com calma, que vai doer e que eu vou pedir para parar. Acontece que,
na hora em que ele se encaixa em mim, uma onda de prazer percorre meu
corpo e eu me pego desejando não ser uma “virgenzinha anal”, como ele
mesmo disse. Queria ter a mesma experiência das atrizes pornô e poder
receber Vinicius inteiro, de uma só vez, socando e me dando prazer.
Obviamente, não é o que acontece, mas a tal dor que eu esperava em
nada se compara com o prazer que sinto quando ele desliza um pouco mais
para dentro. Suas mãos estão apoiadas nos meus joelhos e eu empurro meu
corpo um pouco mais em sua direção.
— Ah, porra, Julia. — Ele joga a cabeça para trás, os olhos fechados
como se buscasse um pouco mais de autocontrole. — Você é deliciosamente
apertada e quente, como eu queria estar sentindo você toda no meu pau.
Empurro mais um pouco, e o incômodo aumenta, mas Vinicius me
surpreende ao começar a me masturbar, seus dedos hábeis tocando cada
pedacinho da minha pele sensível e rosada. Esse é o estimulo que eu preciso,
e me movimento mais uma vez em sua direção, com a certeza de que
consigo engolir todo o seu pau com o meu cuzinho.
— Caralho, mulher. Você vai me matar. — Ele retira os dedos da
minha boceta e os leva aos lábios, repetindo a cena do nosso encontro no
provador. — Eu vou me mexer, ok? Devagar, para não te machucar, e
preciso que você me diga se está tudo bem.
Vinicius dá início ao melhor vai-e-vem da história da minha vida
sexual. Com o polegar, ele acaricia meus grandes lábios, inchados de tesão,
enquanto seu pau entra e sai do meu cuzinho espalhando ondas de choques
elétricos pelo meu corpo. Eu tento me mexer com mais velocidade, mas ele
apoia a mão na minha barriga, me fazendo parar. Seus olhos estão escuros de
prazer e eu entendo a mensagem. Calma, Julia, calma.
Vinicius volta a me masturbar e perco a noção do tempo. Não sei
quanto tempo ficamos nessa dança sensual, mas quando menos espero, ele
solta um urro e goza com os olhos fechados e seus dedos ainda me dando
prazer. Sua respiração está fora de ritmo e ele sai de mim, deixando seu
corpo cair sobre o meu enquanto sua língua busca meu mamilo e o lambe
com carinho.
— Queria ter demorado mais, Julia. — Sua voz sai em um sussurro.
— Mas não consegui, me desculpa.
Desculpa? É sério isso, chefe? O cara me mostrou que dá pra ter
prazer com sexo anal, que eu posso ser amada e idolatrada, me chupou e me
masturbou até que eu visse estrelas, e está pedindo desculpas? Tem alguma
coisa errada aí, Universo...
— Desculpas pelo que, exatamente? — pergunto enquanto acaricio
seus cabelos.
— Por não ter esperado você gozar primeiro.
— Ei, calma aí. — Dou uma risada. — Minha primeira vez dando o
cuzinho e você já queria que eu gozasse?
— Quero que goze todas as vezes, Julia. — Ele abocanha meu seio,
beija e lambe, morde e puxa, me fazendo sentir um formigamento delicioso
entre as pernas. — Todas as vezes comigo.
Ele rola na cama e acomoda a cabeça no travesseiro, puxando-me
para seu colo. Minha cabeça repousa no peito de Vinicius enquanto seus
dedos se enrolam em meus cabelos em uma caricia lenta e deliciosamente
torturante. Deixo minhas mãos tocarem seu peito suavemente, fazendo
pequenos círculos em volta do seu mamilo com as pontas das minhas unhas
e levanto os olhos para observar sua reação. Ele está sorrindo, os olhos
fechados deixam seu semblante leve e relaxado e me estico em sua direção,
beijando-o suavemente.
— Uhum — ele murmura e me puxa para si, seu braço envolvendo
minha cintura, suas coxas se acomodando entre as minhas. — Eu sei que
você já está pronta para começar tudo de novo, sua selvagem.
— Ei, não é nada disso que você está pensando — defendo-me
rapidamente, para logo dar uma risada. É quase isso mesmo. Claro que estou
pronta para mais uma rodada de sexo com esse homem maravilhoso, mas
confesso que tenho outra coisa preocupando minha mente no momento.
— Não? — Ele afasta o rosto e deixa o olhar passear por mim. — Me
conte então o que está se passando em sua cabecinha maravilhosamente
engenhosa.
Relutante, me afasto de Vinicius e sento no meio da cama, com as
pernas cruzadas sob meu corpo. Meu cabelo desce pelo meu ombro
esquerdo, escondendo o bico do meu seio e isso faz com que ele estique o
braço para afastar as mechas castanhas. Vinicius parece ter uma estranha
fixação pelos meus cabelos, e isso me deixa com o coração quentinho.
— Pare com isso. — Dou um tapa na sua mão e faço a minha melhor
cara de brava. — Estou mesmo pensando em uma coisa séria e complicada.
Amanhã vamos voltar ao trabalho e sei que você vai se comportar daquela
maneira horrorosa com todos, berrando e sendo desagradável. Não me
admiraria se fizesse o mesmo comigo, mas preciso saber exatamente como
vamos lidar com essa situação, seu Duas Caras.
— Ah, Julia, Eu não sou duas caras. Já te expliquei o que acontece.
Não posso ser molenga e agradável e, por mais que eu queira, vocês não
permitem. Não é fácil ser o gerente daquele departamento e você sabe disso.
Além da Lorena, que é uma rebelde que adora me infernizar sem nenhum
motivo aparente, vamos pegar o exemplo do Jonatas.
— O que tem o Jonatas?
— O que tem? Ah, pelo amor de Deus, Julia, vamos mesmo ter essa
conversa agora? — Vinicius cruza os braços por baixo da cabeça e continua:
— Eu preciso pedir pelo menos três vezes a mesma coisa para ele. E explicar
nos mínimos detalhes, e ainda assim, apesar de ele me entregar o serviço
perfeitamente aceitável, sempre entrega em cima da hora. Se tiver que fazer
algum ajuste, não dá tempo.
— Mas nunca precisou ajustar nada, certo?
— Não, mas... — Ele coça a cabeça intrigado. — Isso não vem ao
caso.
— Vem sim, senhor. Tanto ele como a Lorena têm todo o serviço pronto
dias antes do prazo. Só fazem isso para te perturbar. Eles, aliás, nós, somos
extremamente competentes, afinal trabalhamos com a Rainha do Gelo
lembra?
— Mas porque agem dessa forma comigo?
— Ação e reação. Quando você chegou, achamos que seria um
alívio, que o clima iria ficar mais leve, mas foi tudo uma mentirinha, né?
Depois que você conseguiu o cargo, virou um tirano. — Dou de ombros e
me acomodo novamente em seus braços. — — Eu não me importo mais,
agora que sei da sua história e dos seus motivos pessoais. Mas alguma coisa
precisa mudar, não precisa? Ou você vai aceitar que isso aqui é só sexo e que
na empresa seguimos caminhos diferentes?
Meu coração dói só de pensar nessa possibilidade, mas preciso saber
o que pensar e como agir.
— Nunca vai ser só sexo, porra. — Ele perde a paciência, ficando
irritado com o rumo da conversa. — Eu já te falei isso. Já tive esse tal de “só
sexo” por muitos anos e adorei. Mas não é isso que quero com você, e pensei
que já tinha entendido. Eu gosto de você, de estar com você e tenho toda a
intenção de deixar o mundo inteiro saber disso.
— Mas como vai ser no escritório? — Sou igual a um cachorro
faminto, nunca largo o osso, mas isso não é nenhuma novidade.
— Como você quer que seja? Uma declaração formal no RH e no
departamento? — Ele arqueia a sobrancelha, um tom irônico em sua voz.
— Não seja babaca. — Sacudo o dedo na sua cara e ele dá uma
gargalhada, pegando meu dedo e levando-o até os lábios somente para beijá-
lo.
— Não resisti. Acho que podemos seguir normalmente, tenho certeza
de que Lorena vai dar um jeito de contar para todo mundo. Principalmente
porque ela já sabe, né?
— Ah, sim... vai mesmo. Se tem uma coisa que ela vai fazer é dar um
jeito de espalhar a novidade e fazer da nossa vida um circo. Pode contar com
a Lorena para isso!
Ele dá de ombros, como se isso não tivesse importância.
— Não posso prometer mudar da noite para o dia, Julia.
Principalmente porque isso significaria ignorar as recomendações do
Bernardes. Ele foi muito direto comigo quando disse que não queria
amizades e molezinhas no departamento. Por isso eu fui até meu limite.
— Será que isso não era por causa da Lorena e do Teixeira? — Uma
ideia começa a se formar na minha mente, a de que o Dr. Bernardes queria
proteger a filha do Teixeira enquanto ela trabalhasse na empresa.
— Pode ser — ele concorda coçando o queixo. — Mas até que eu
descubra, as coisas não podem mudar muito drasticamente, entende.
— Sim. Entendo. Mas, e amanhã? Como fazemos? Cada um vai para
o trabalho do jeito de sempre?
— Não. — Ele me puxa para dentro do seu abraço e beija minha
testa com carinho. — Vamos sair daqui juntos e chegar juntos. Deixe que o
povo fale, que suas línguas queimem. Não se importe com isso.
— Perfeito. Tem um povo que merece mesmo queimar as línguas.
Vinicius dá uma grande gargalhada e me beija apaixonadamente. Bem,
pelo menos eu estou sentindo paixão nesse beijo. Espero não estar enganada.
Novamente.
— Ah, mas que inferno! — Lorena bate no meu braço com violência.
— Para de me enrolar com essas histórias para boi dormir.
Dou uma gargalhada estrondosa ao ouvir a expressão antiquada que
minha amiga adora usar. Tenho mesmo muita coisa para contar, pois é óbvio
que eu e Vinicius chegamos juntos. Como também é óbvio que as duas
recepcionistas do prédio me olharam de uma forma estranha — o que pode
ter sido, claramente, um delírio meu — e agora Lorena quer saber de tudo.
Mas acontece que eu não quero contar tudo. Tem algumas coisas que
quero guardar para mim. Como o pão com mortadela que encontrei em cima
da mesa da cozinha de manhã. E as vinte e quatro latas de coca zero na
minha geladeira. Não consegui acreditar em como o Universo foi tão bacana
comigo e me mandou um cara que finalmente entende o que são prioridades
na vida.
Fato é que acordamos, comemos e viemos trabalhar como um velho
casal e nada na minha vida jamais fez tanto sentido quanto isso. Pegamos
engarrafamentos, nos beijamos no trânsito, discutimos as reuniões do fim de
semana e evitamos falar de Marcelinho. Agora minha amiga quer todos os
detalhes, mas eu fujo pois, por um tempo, gostaria de guardar Vinicius
apenas para mim. Vocês entendem, não é mesmo?
Dentro do meu cérebro, Fernanda Montenegro e seu colar de pérolas
sacodem a cabeça afirmativamente, como se estivessem me parabenizando
pela decisão sensata de, finalmente, ficar com o bico fechado.
— Aham, conto sim. Mas primeiro temos que conversar seriamente
sobre você, o Dr. Teixeira e sua família. Que aliás, é tudo a mesma coisa, né,
Lorena?
Ela dá de ombros como se isso não importasse, mas quando passa a
mão pelos cabelos ruivos deixando as tatuagens do braço esquerdo à mostra,
e estala o elástico ao prendê-los em um rabo de cavalo, sei que está
incomodada.
— Não tem o que conversar, eu sou filha do velho e ponto.
Lorena me dá um sorriso torto e seus olhos verdes brilham travessos
daquele jeito moleque que ela tem. Todos os rapazes do nosso andar babam
por ela, que simplesmente ignora os olhares e as gracinhas, a não ser quando
se digna a dar uma resposta malcriada, levantando o dedo do meio para
quem quiser ver. Todos acreditam que ela não passa de uma rebelde, mas eu
sei que existem muitas camadas escondendo quem ela é de verdade.
Algumas eu já perfurei, mas nunca cheguei a conhecê-la na totalidade.
— Mas por que você nunca me contou? — Jogo um clip na cara dela
que desvia, sorrindo. — E por que você trabalha aqui e não com seu pai?
— Não dá certo entre a gente, Juju. — Ela torce os lábios e sacode os
ombros mais uma vez. — Muita briga, muita pressão... Coisas que vão além
do trabalho e afetam minha vida pessoal.
— Mas ele sabe que você trabalha aqui? — Cachorro que não larga o
osso, lembra? Eu mesma, Julia Saldanha, muito prazer!
— Sim. Infelizmente foi ele quem me arrumou esse contato. Passei
na seleção por mérito e porque sou muito foda, mas o contato com o
Bernardes, foi meu velho que fez. —. Ela faz uma pausa e levanta da
cadeira, olhando por cima da baia conferindo se alguém nos escuta antes de
continuar: — Até porque, o Dr. Bernardes é meu padrinho.
— Ah, você só pode estar de sacanagem com a minha cara! — Bato
com as duas mãos no tampo da mesa e Lorena dá uma risadinha cínica
enquanto joga as mãos para o alto em rendição. — Agora as coisas fazem
todo sentindo.
— O quê? — Ela arqueia a sobrancelha, curiosa, enquanto aguarda
que eu conte tudo.
Coisa que eu faço prontamente. Tirando meus momentos deliciosos
com Vinicius, que pretendo guardar a sete chaves por um tempo, não sou
baú para guardar segredos, e isso todo mundo sabe.
— O Bernardes avisou ao Vinicius que não era para ele ficar de
coleguismo no departamento. Ele estava querendo dizer que era para não se
meter com você — aponto um dedo indignado para ela —, mas não quis ser
direto, não é?
— Pode ser... Não sei ao certo. Desde que vim para cá parei de
participar das reuniões de família e tenho evitado meu padrinho. Achei
melhor.
Antes que eu pudesse dar prosseguimento ao interrogatório, somos
surpreendidas por uma voz macia vinda do corredor.
— Oi, tudo bem?
Lorena arregala os olhos e começa a brincar com o rabo de cavalo,
coisa que me deixa bem intrigada e me faz virar rapidamente na cadeira.
Parado no corredor ostentando um sorriso adorável está um homem alto, os
cabelos loiro-escuros e com os olhos castanhos mais brilhantes que eu já vi
na vida. Se eu não estivesse apaixonadíssima pelo meu chefe, com certeza
estaria babando agora. Mas não é o caso e, de posse de todas as minhas
faculdades mentais, respondo educadamente:
— Tudo ótimo! Posso ajudar?
— Ah, sim. — Ele sorri e Lorena chuta minha cadeira com força,
fazendo-me quicar no assento e lançar um olhar zangado para ela por cima
do ombro enquanto o homem pergunta. — O Vinicius está na sala dele?
— E a gente tem cara de secretária, por acaso? — É a resposta mal-
humorada de Lorena, que lhe garante mais um olhar atravessado da minha
parte e um sorriso ainda maior do homem.
— Calma, amiga, segura essa língua aí. — Viro-me para ele com um
daqueles sorrisos profissionais que estou tão acostumada a usar. — Eu não
sei te informar, mas posso dar uma ligada para ele. Qual seu nome?
Ele parece não estar me ouvindo direito, pois não consegue tirar os
olhos de Lorena, que por sua vez já virou de costas para ele, deixando-o com
a visão da ponta de uma flor de lótus que ela tem tatuada no meio das costas,
e que o decote da camiseta não cobre.
— Opa, obrigada. — Ele parece voltar à Terra, e eu acho a situação
extremamente inusitada. — Sou o Bernardo. Pode dizer que vou esperar ele
aqui perto do elevador?
— Digo sim. — Tiro o telefone do gancho e ofereço um sorriso mais
amigável. — E desculpe, a minha amiga está um pouco estressada.
— Percebi. — Ele sorri. — Uma mulher tão bonita não devia ficar
tão zangada.
— Ah, era só o que me faltava. — Lorena bufa entredentes e,
bloqueando a tela do notebook, levanta-se passando por Bernardo a caminho
do banheiro.
Ele dá uma risada espontânea, seus olhos ainda presos nas tatuagens
que cobrem os braços de Lorena e, quando estica a mão para me
cumprimentar, o brilho de uma grossa aliança quase me deixa cega. Claro
que era casado. Casado e sem vergonha na cara.
Perco toda a vontade de ser gentil com Bernardo e, assim que
Vinicius atende, eu aviso.
— O Bernardo está aqui e vai esperar você perto do elevador. —
Tampo o bocal do telefone com a mão e sinalizo com a cabeça para que o
sem vergonha vá andando, o que ele faz prontamente com um enorme
sorriso. Tiro a mão do bocal e completo. — Sem vergonha esse seu amigo,
hein? Com uma aliança daquelas no dedo e cantando a Lorena. Me deu nojo.
— O quê? — Vinicius parece espantado. — O Bernardo cantando
alguém? Impossível, Dona Julia. Está para nascer um homem mais fiel e
mais devotado à esposa como ele é com a Cintia.
— Enfim... — Deixo um suspiro escapar por entre os dentes. Claro
que ele vai defender o amigo. — Ele já está no elevador. Bom almoço para
vocês, te vejo na saída?
— Com certeza, Julia. — Falar ao telefone com meu chefe agora tem
todo um prazer escondido. Sua voz rouca sussurrando ao meu ouvido me
deixa de joelhos moles e... Ah, você sabe. — Sair daqui com você hoje à
noite é a única certeza que eu tenho. O resto todo, vou levando.
— Vai, sim, seu tarado.
Desligamos em meio a risadas e quando levanto os olhos, dou de
cara com Lorena, os cabelos soltos e um batom vermelho recém aplicado em
seus lábios cheios. Ela olha à sua volta e finalmente pergunta:
— Ele já foi?
— Já sim. — Travo meu notebook e pego a bolsa no armário,
passando o braço pelo dela. — Ele ter ido embora foi a melhor coisa que
aconteceu no seu dia, ou você não viu a aliança tamanho GG que ele tinha
no dedo?
— Ah, claro. — Ela se liberta do meu braço e caminha até seu
armário, pegando a carteira e deslizando no bolso de trás da calça jeans. —
Para eu me interessar por ele, o cara tinha que ter algum defeito.
— Estranho esse seu jeito de demonstrar interesse, Lorena. — Pego o
braço dela novamente e sigo arrastando-a até os elevadores do outro lado do
andar, evitando que encontrássemos com aqueles dois pedaços de tentação.
— Muito estranho mesmo. Vamos conversar sobre isso.
— Porra nenhuma, Juju. — Lorena sacode os cabelos e sorri para
mim, parecendo completamente esquecida do efeito que Bernardo causou
nela. — Vamos é sentar naquele restaurante que tem rodízio de comida
japonesa e mexicana e comer até estourar.
— Desafio aceito.
Entramos no elevador lotado e deixamos o resto da nossa conversa
para depois. Ainda estou bastante magoada com ela pelo fato de ter omitido
informações sobre o Marcelinho, mas não sou uma pessoa de guardar
mágoas, principalmente no que diz respeito a boas amizades.
O que importa é que tudo está bem entre nós, e sempre estará.
Assim que desligo o telefone, enfio a carteira e o celular no bolso da
calça e saio apressado em direção ao elevador. A informação que Julia me
passou sobre Bernardo estar dando em cima de Lorena é, de longe, a coisa
mais absurda que eu já ouvi na vida.
Desde que ele se mudou para a casa da Cintia e ambos começaram a
usar alianças, ele nunca mais olhou para outra mulher. Por isso, muito me
espanta a informação de que ele possa ter falado alguma gracinha para a
amiga da Julia. Esse não é um comportamento que condiz com a
personalidade do meu amigo, porém, por outro lado, não existe motivo para
que Julia invente algo desse tipo.
Assim que chego no hall dos elevadores vejo Julia e Lorena andando na
direção contrária a que Bernardo está e, quando olho para ele, constato que
talvez Julia possa estar com razão. Meu amigo está parado no meio do
corredor com as mãos mergulhadas nos bolsos da sua impecável calça social
e tem um sorriso abobalhado estampado no rosto enquanto admira as duas
mulheres se afastando.
Perceberam? Ele tem um sorriso abobalhado, muito parecido com
aqueles que eu dou quando sei que Julia não está olhando. Mas tem algo
nesse sorriso do Bernardo que me deixa com uma pulga atrás da orelha,
quase como se ele tivesse tomado alguma decisão e o sorriso estivesse ali
justamente para confirmar isso. Assim que me nota chegando, ele tenta
disfarçar e abre os braços me envolvendo em um dos seus abraços
carinhosos que costumam me deixar envergonhado.
— Fala, cara! Como foi a viagem? — Dou dois tapinhas nas costas
dele e me afasto rindo, como sempre, enquanto ele emenda. — Ah, sei, nada
de abraços.
Bernardo dá uma risada, mas seus olhos estão fixos em um ponto acima
dos meus ombros, e tenho certeza de que ele dá uma última olhada em
Lorena. Muito estranho isso.
— Foi tudo — faço uma pausa e, enquanto aperto o botão do
elevador concluo — confuso, inusitado, inesperado e talvez até assustador.
— Caramba — Bernardo não fala palavrão, obra e graça da educação
rígida que Dona Adelaide deu ao filho único, mais uma coisa que nos
diferencia —, tudo isso em apenas dois dias? Mas o que pode ter
acontecido?
— Bom, para começo de conversa, estou apaixonado. — Meu amigo
arqueia as sobrancelhas, intrigado. — Estou namorando e quero que ela se
mude para minha casa o mais rápido possível.
As portas do elevador se abrem e somos engolidos por um grupo de
funcionários que sai conversando e nos cumprimentando, dando a Bernardo
um pouco mais de tempo para assimilar essas informações.
— Certo — ele diz calmamente enquanto massageia a testa. — Tudo um
pouco rápido demais para o cara que não se envolve com ninguém há anos.
Bernardo faz uma pausa, prolongada e dramática, como sempre, e
declara:
— Posso conviver de novo com isso, com esse Vini apaixonado, desde
que essa nova mulher em sua vida não seja uma aproveitadora igual à última
que ferrou com você.
Ele fala “ferrou”, mas eu sei que pensa em “fodeu” mesmo, pois foi
exatamente o que a Penélope fez.
— Não tem nada a ver com a Penélope, Bê. Eu juro. — Apresso-me
em acalmá-lo antes que ele tenha um derrame. Tudo com ele é assim, ânsias
de vomito e ameaças de derrames. Dramático é pouco para descrever meu
amigo. — Já te falei que eu não vejo a Penélope há anos.
— Sim, desde que ela sumiu.
Concordo em silêncio e desvio o olhar, pois não posso olhar para ele
sem que Bernardo consiga ver no fundo da minha alma. Sigo em silêncio e,
assim que as portas do elevador se abrem no térreo, ele segura meu braço,
impedindo-me de sair.
— Quem é ela, Vini?
Ali está ele, o Bernardo protetor, o amigo que não quer que eu me
machuque de novo, que sabe tudo que eu passei e que conhece exatamente
quem eu sou e como sou capaz de me jogar de cabeça em uma paixão. E,
dessa vez, eu não posso mentir para ele pois estou realmente enroscado
emocionalmente.
— É a Julia, aquela que falou com você lá em cima.
Ele aperta os lábios e sacode a cabeça em uma aprovação silenciosa,
soltando meu braço. Saímos do elevador e, quando chegamos à recepção, ele
pergunta.
— E você me chamou para almoçar hoje pois estava doido para me
contar as fofocas da sua viagem e as horas de sexo alucinante que teve
enquanto eu vivo minha vida pacatamente sem grandes alterações de rotina?
Dou uma grande gargalhada chamando a atenção de um grupinho de
mulheres que estão paradas na escada. Vejo uma delas me comer com os
olhos enquanto as outras olham para Bernardo como se ele fosse o mais
delicioso prato do cardápio de um restaurante caro. Em outras épocas eu
teria sorrido, acenado e cutucado Bernardo, mas isso foi antes de Julia.
— Nada disso. Na verdade, preciso de um favor. Preciso que você aceite
a transferência de uma funcionária minha para o seu setor.
— Quem? — ele pergunta apenas por educação, pois não conhece
ninguém do meu departamento. Bernardo é o gerente de TI, e só tira a cara
dos computadores quando eu vou até o segundo andar para perturbar sua
rotina ou quando saímos para almoçar, como é o caso hoje.
Continuo descendo as escadas com ele ao meu lado e, na hora que
abro a boca para contar sobre o real motivo desse almoço, percebo que fodi
com a vida do meu amigo.
— A ruiva que senta ao lado da Julia. — Meu amigo trava nos
calcanhares no meio da calçada e eu completo: — O nome dela é Lorena e
ela é filha do Teixeira. Como vamos trabalhar com a empresa dele, ela não
pode ficar no departamento…
— Tudo bem! — ele me interrompe rápido demais e agora tenho a
plena certeza de que Julia está coberta de razão. Meu amigo está mesmo
interessado em Lorena. — Para quando essa transferência?
— Calma aí, Bê. — Seguro sua camisa e o puxo para dentro do
shopping, encostando-nos no balcão da cafeteria que tem logo na entrada. —
Não vai argumentar que não tem vaga, que seu orçamento não cobre mais
um funcionário, que não sabe nada sobre ela e se ela é capaz de trabalhar
com seus projetos enfadonhos? O que está acontecendo?
Ele me dá um sorriso maroto, aquele mesmo que estava estampado
no seu rosto quando observava Lorena se afastar e declara:
— Cara, pode parecer loucura, canalhice e até mesmo imprudência. E
tenho certeza de que minha mãe me daria uma surra pelo que vou te falar
agora. — Bernardo passa a mão pelos cabelos e confessa: — Acho que
estou fodidamente apaixonado por aquela mulher.
Meu queixo cai e sinto como se tivesse tomado um puta soco no
estômago. Parado à minha frente está o meu melhor amigo, aquele que tem o
casamento perfeito, que me mostrou que dá para ser feliz nessa vida, e ele
está confessando estar apaixonado por uma mulher que não é sua esposa.
Antes que meu mundo desabe, ele coloca a mão no meu ombro e
pede.
— Não me julgue ou ache que estou sendo precipitado. Temos muito
que conversar, mas pode confirmar a transferência da ruiva para o meu
departamento. Eu assumo o budget e todo o resto junto ao RH. — Bernardo
solta um suspiro resignado e afirma: — Juro solenemente não fazer nada de
bom.
Ah, caralho! Agora ele cita Harry Potter só para tirar um sarro com a
minha cara e eu sinto uma raiva estranha me dominar. Como Bernardo se
atreve a desmanchar a imagem de homem perfeito que eu admirava tanto?
Agora vou me espelhar em quem, caralho?
— Já não acho que isso seja uma boa ideia, Bernardo. Não quero que
Cintia me acuse de tentar destruir a sua santidade.
— Deixe de ser ridículo, Vini. Eu não sou santo e Cintia muito
menos. Já te falei que temos muita coisa para conversar e que aceito essa
transferência. Ou prefere mandar a moça trabalhar em algum outro setor
onde não vai ter suas qualidades reconhecidas?
— Qualidades reconhecidas? Que porra é essa, Bernardo! Quem é
você e o que fez com o meu amigo?
Bernardo dá uma gargalhada e eu já sei que estou derrotado e que no
final do dia ele estará dando entrada na papelada da transferência de Lorena.
Ele é assim, muito calmo, cavalheiro e pacato, mas quando toma uma
decisão é impossível convencê-lo do contrário. E, pelo visto, ele já se
decidiu por Lorena. Os olhos dele brilham de uma forma que eu não vejo há
anos. Pensando bem, nunca vi esse cara inquieto assim com Cintia, entre
eles tudo sempre foi uma coisa tranquila e serena.
— Só te peço que não pense mal de mim, Vini. Sou o mesmo cara
legal e tranquilo de sempre. Não posso te dar maiores detalhes do que está
acontecendo pois não é algo que diz respeito apenas a mim. Prometo não
tocar na amiga da sua namorada, mas preciso que ela esteja por perto. Não
sei porque, mas sei que é dela que eu preciso. Eu te ajudo e você me ajuda,
fechado?
Ele estende a mão para mim e eu aceito sem pensar duas vezes. Uma
promessa de Bernardo Campista vale mais do que um milhão de reais e eu
preciso dar a ele o benefício da dúvida. Ainda com a mão dele presa na
minha, pergunto:
— Quando vai me contar o que está acontecendo?
— Em breve.
Apertamos as mãos, como homens de negócios que somos, e
seguimos para o restaurante. Difícil vai ser contar essa novidade para Julia
sem ela ficar puta da vida comigo.
Lá se foi meu sexo quente dessa noite.
Duas semanas depois
Volto para a minha mesa a passos lentos pois não sei exatamente o que dizer a
Lorena. Temos uma diferença de idade de dez anos, mas, até hoje, eu não havia
sentido isso pulsando tão forte na minha cabeça. Acho que o jeito com que Bernardo
olhou para ela acendeu uma luz vermelha em mim, que passou a piscar
alucinadamente junto a um alarme ensurdecedor quando notei que ela devolveu o
olhar na mesma intensidade. Nesses dois anos em que ela trabalhou comigo, nunca
vi Lorena olhando mais do que uma vez para homem nenhum.
Não me levem a mal, ela é linda e super sexy com aquela cabeleira ruiva e
seus olhos verdes e sei que pelo menos metade do departamento baba nas tatuagens
que ela ostenta pelo corpo. Minha amiga recebe atenção de homens e mulheres, e
nunca deu chance para ninguém. Talvez por isso, ver aquele brilho em seus olhos
tenha me deixado preocupada. E se esse tal Bernardo não fosse o bom camarada que
Vinicius tanto fala?
— Você vai ficar aí parada me olhando, ou vai falar logo o que está na sua
cabeça?
Quando percebo já estou parada ao lado de Lorena, que me olha com a
cabeça inclinada para o lado e os braços cruzados sobre o peito, em uma de suas
poses clássicas quando quer intimidar alguém. Só que isso não cola comigo, sei que
não passa de autodefesa.
— Queria te falar um milhão de coisas mas sei que é perda de tempo. — Dou de
ombros e bato levemente em sua bochecha fazendo com que a cara mal-humorada
de Lorena se desfaça em um sorriso. — Só vou te pedir para ter cuidado, tá bem?
— Cruzes, Juju! Parece que o Vinicius me mandou para a cova dos leões! Para
com isso.
— Não sei o que deu em mim — murmuro enquanto me jogo na minha cadeira e
destravo o computador. — Mas tem coisas na sua vida que você nunca me contou e
eu tenho a sensação de que você é minha amiga, mas nunca deixou que eu realmente
retribuísse essa gentileza.
Ela me olha em silêncio e eu continuo:
— E tá tudo bem, Lorena. — Ofereço um dos mais sinceros sorrisos a ela
que permanece séria. — Sei que você mantém sua vida trancada dentro de um cofre
junto com todos os segredos de família e que gosta da sua privacidade. Só preciso
que você entenda que, não importa o que possa ter acontecido ou venha a acontecer,
eu sou sua amiga. Pode me ligar de madrugada, no fim de semana ou mesmo no
meio de uma catástrofe mundial que eu vou correr para o seu lado e segurar sua mão
quando você precisar.
— Se — ela me corrige, sua voz dura e seca —, se eu precisar.
— Não importa — afirmo enquanto analiso seu rosto impassível. —
Quando, se... Estou aqui e sempre estarei.
— Doida. — É tudo que ela me responde, dando a conversa por encerrada ao
virar as costas e voltar ao trabalho.
Fico parada mais uns segundos olhando para as costas de Lorena, mas os
papéis na minha mesa me lembram que tenho muito trabalho pela frente e decido
trabalhar para não ficar pensando em teorias que podem me enlouquecer.
O resto da tarde voa e, só quando Lorena chuta de leve a minha cadeira,
percebo que já são quase seis da tarde. Tiro os fones de ouvido, passo a mão pelos
cabelos e espreguiço o corpo enquanto pergunto.
— Já vai?
— Vou sim. — Ela para ao meu lado e vejo que prendeu os cabelos em um
rabo de cavalo e que seus lábios tem um leve tom rosado. Lorena está usando o
casaco preto que comprei para ela, cobrindo as tatuagens do braço esquerdo. — Vou
jantar na casa dos meus pais hoje então tenho que correr para não pegar muito
trânsito.
— Ah, sim. Não sei onde eles moram — levanto as mãos em um sinal de
resignação —, mas sei que essa hora, no Rio de Janeiro, nada anda.
— Eles moram na Lagoa. — É tudo que Lorena me diz. — Daqui até lá não
demora muito, mas é melhor não arriscar.
Ela dá a conversa por encerrada colocando a bolsa no ombro, sai em direção
ao elevador e, antes que eu tenha chance de dizer mais alguma coisa, meu telefone
toca, mostrando o nome de Vinicius.
— Oi. — Minha voz sai suave, parecendo um ronronar de gato. Merda.
— Oi, você — ele responde dando uma entonação sensual à voz. — Está
pronta?
— Estou sim. — Olho ao meu redor, os documentos espalhados, o notebook
ainda ligado e afirmo: — Te encontro no elevador.
Desligo antes de ouvir a resposta de Vinicius e, juntando toda a documentação
em uma enorme pilha, coloco tudo no armário sobre a minha cabeça. Fecho o
notebook sem me preocupar em desligá-lo e o coloco sobre a pilha de papel
enquanto checo a trava de segurança firmemente presa à mesa.
A empresa tem uma política chamada “Mesa Limpa” e, por isso, somente
nossos objetos pessoais podem ficar à vista, evitando assim os problemas com
documentos perdidos ou informações vazadas. Dou uma última conferida para que
nada, além dos meus post-its coloridos e minhas canetas, fique sobre a mesa e
rapidamente passo a chave no armário, colocando a bolsa no ombro. Consigo chegar
ao elevador antes de Vinicius, que parou no corredor para falar alguma coisa com o
Jonatas, e quando ele chega sorrindo para mim, confiro as horas no celular e aviso.
— Atrasos não são tolerados, chefe. Vamos ter que conversar sobre esse seu
comportamento rebelde essa noite.
Vinicius me empurra para dentro do elevador e sussurra ao meu ouvido:
— Conversar é a última coisa que vamos fazer.
Ai, ai, ai, meu coração....
— Satisfeita?
Inclino a cabeça para o lado, os olhos fechados enquanto acaricio minha
barriga. Na mesa à minha frente, o cardápio que eu mais amo: pão francês,
mortadela defumada e Coca-Cola zero. Satisfeita nem começa a definir o que estou
sentindo. Abro os olhos e vejo Vinicius sorrindo para mim do mesmo jeito que ele
faz todas as manhãs desde que começamos esse relacionamento. Tenho que
confessar que depois de uma semana inteira ao lado dele, me aperta o peito só de
pensar em ter que voltar ao meu apartamento.
Depois da notícia sobre a transferência de Lorena, fomos pegar minhas
roupas e algumas outras coisas que uma mulher precisa para sobreviver na casa do
namorado e, desde então, tenho passado as noites na cama de Vinicius. Quase uma
semana recheada de momentos deliciosos como esse.
O apartamento em que ele mora no Leblon é amplo e muito arejado, apesar de
estar em um prédio antigo. Vinicius me contou que comprou o imóvel em um leilão
e mandou reformar para que ficasse do jeito que ele sempre sonhou. Como seus pais
moram em outro estado e ele havia gastado todas suas economias no projeto de
reforma, Vinicius teve que ficar dormindo no apartamento durante a obra. Tudo isso
aconteceu na mesma época em que ele assumiu nosso departamento e agora fazia
muito mais sentido o seu mal humor, as roupas amassadas e a falta de paciência.
Não estou dizendo que isso é desculpa, estou apenas colocando mais algumas peças
do quebra-cabeças em ordem.
A sala do apartamento é dividida em duas partes, uma com o enorme sofá
preto de costas para a janela e a outra com a mesa de jantar oval e as suas quatro
cadeiras, bem de frente para a vista da praia, que desponta no canto esquerdo da
janela. Não sei de onde ele tirou tanto bom gosto, mas sei que estou apaixonada pelo
piso de mármore e pela decoração clara.
— Supersatisfeita. — Consigo dizer em um fôlego só. — E não apenas com
o café da manhã.
Levanto-me e caminho em sua direção, posicionando-me entre suas pernas
enquanto me inclino para beijar seus lábios.
— Uhm, gostinho de mortadela. — Ele ri enquanto me puxa para o seu colo
onde, depois desses dias de calmaria, me acomodo sem resistência. — Já me
perdoou por ter transferido sua amiga?
— Não é questão de perdoar ou não. Você sabe disso — argumento enquanto
acaricio seus cabelos, plenamente consciente da ereção que já começou a se formar
entre suas pernas. — Eu sei que o Bernardo é seu amigo e que você confia
cegamente nele, mas algo dentro de mim diz que tem alguma coisa errada. Sei lá,
intuição, talvez.
— Tudo bem, vou acreditar nessa sua tal de intuição e vou chamar o Bê para
conversar. — Ele enlaça minha cintura e me beija profundamente por alguns
segundos, afastando-se em seguida. — Agora você precisa se levantar do meu colo,
Dona Julia, pois eu não vou conseguir me afastar de você. Hoje é sexta feira e não
podemos chegar atrasados de novo.
Dou uma gargalhada espontânea ao me lembrar de que, todos os dias dessa
semana, chegamos juntos e atrasados ao escritório devido ao sexo matinal mais
maravilhoso da minha vida. Mas hoje Vinicius tem uma reunião com os diretores e
o presidente da empresa e não podemos correr riscos de pegar mais um
“engarrafamento”. Já estamos dando muita sorte para o azar.
— Tudo bem, tudo bem, chefinho. — Apoio as mãos em seu peito enquanto
beijo seu queixo e me levanto. — Vou só escovar os dentes e podemos sair.
Saio do seu colo e escuto-o suspirar. Viro-me em sua direção e ele está com
as mãos cruzadas atrás da cabeça olhando-me com intensidade, como se estivesse
pensando em mil coisas ao mesmo tempo.
— O que foi? — Minha curiosidade quer saber o que está deixando Vinicius
com essa cara de quem sonha acordado.
— Nunca imaginei que poderia ser assim tão simples viver com alguém —
ele confessa sorrindo. — Depois da Penélope eu nunca mais consegui me ver
dividindo minha rotina, minha vida e minha cama com uma mulher. E aí, veio
você...
— É, vim mesmo. — Sacudo o dedo no ar na tentativa de quebrar esse clima
gostoso que me deixa de pernas bambas e com vontade de pular nos braços dele. —
E acho bom não aparecer nenhuma engraçadinha nova na sua vida para tentar tirar
isso de mim. Nem nova e muito menos velha.
Ele sacode a cabeça como se a simples ideia de que a mulher que o sacaneou
no passado pudesse voltar, o deixasse enojado e afirmou.
— Não existe essa chance, Julia. Penélope é um fantasma do passado, nunca
mais tive contato com ela e nunca mais terei.
Meu coração se aperta no peito com essa frase, mas, da mesma forma que eu
senti algo estranho em Bernardo no início da semana, sinto agora em Vinicius, e
insisto.
— Não tem nada que você queira me contar sobre essa tal Penélope do seu
passado? Algo que ainda não tenha me contado?
— Você já sabe tudo sobre esse assunto.
— Vinicius, acredite em uma coisa, nunca sabemos tudo sobre nenhum
assunto.
Caminho devagar em direção ao banheiro onde acabo de me arrumar e
quando saio ele já está pronto, sentado no sofá, digitando furiosamente no celular.
— Vamos?
— Sim — ele responde sem me olhar. — Deixa eu terminar de mandar uma
mensagem para o Bernardo. Você sabe que hoje é o primeiro dia da Lorena no
departamento dele, né? Aliás, hoje ela vai deixar as coisas dela lá e finalizar
algumas coisas com o Jonatas para não deixar nada descoberto nesse projeto da
Teixeira e Filhos.
Vinicius levanta os olhos para mim e completa:
— Por isso também não queria me atrasar, Julia. Para que você pudesse estar
com ela enquanto Lorena arruma suas coisas. Achei que você gostaria de passar um
tempo extra ao lado da sua amiga.
— Obrigada, Vinicius. — Meus olhos ficam úmidos, mas eu não derramo
uma lágrima sequer. Estou tentando me convencer de que não há motivos para isso.
— Significa muito mesmo.
Ele se levanta e guarda o celular no bolso da calça oferecendo a mão para
mim que deixo meus dedos se entrelaçarem nos dele em um encaixe perfeito. Vamos
em silêncio até a garagem e, assim que entramos no carro, ele liga o rádio nas
notícias locais. Nossa viagem é rápida e sem trânsito e falamos amenidades sobre o
projeto e como o trabalho com a empreiteira está fluindo tranquilamente. Assim que
chegamos, ele para na frente do prédio e destrava as portas, dando-me um beijo
rápido.
— Vai indo na frente que vou estacionar o carro e acertar a mensalidade do
estacionamento. Te vejo lá em cima.
— Perfeito.
Ainda fico parada na calçada uns segundos, observando o movimento na
Praia de Botafogo até que finalmente resolvo entrar. Procuro meu crachá na bolsa e
quando não o encontro vou até o balcão para solicitar um provisório. Enquanto a
recepcionista preenche os dados, minha atenção é desviada para uma criança que
corre de um lado para o outro em frente ao hall dos elevadores. Seus cabelos pretos
estão precisando urgentemente de um corte e me pego procurando sua mãe com os
olhos.
— Quem é esse menino? — pergunto à recepcionista. — E onde está a mãe
dele?
— A mãe dele sou eu. — Uma loira deslumbrante responde antes que a
recepcionista tenha chance e eu sinto novamente aquele aperto no peito quando seus
frios olhos azuis me encaram. — Algum problema com o meu filho?
— Sim, eu tenho um problema. Ele não pode ficar solto por aí, correndo
como um endemoniado perto dos elevadores. Vai acabar se machucando e você vai
nos arrumar um problema.
Ela dá uma gargalhada, seus cabelos lisos e brilhantes sacudindo com o
movimento da cabeça.
— Querida, problema é o meu nome do meio. Isso não me assusta. — E,
fixando seus olhos em mim, completa: — E nem você me assusta.
A mulher vira as costas para mim e chama o filho:
— Vem aqui, garoto, antes que eu esquente a sua bunda.
O menino vem correndo na direção da mãe, ele deve ter uns cinco anos e
tem os olhos azuis iguais aos dela, brilhantes e desafiadores. Ele olha para mim e
pergunta;
— Você é a secretária do meu pai?
— Fica quieto, Douglas. — A loira bate no balcão com suas longas unhas
cor-de-rosa, chamando a atenção da recepcionista que acabou de me entregar meu
provisório. — Vai demorar muito, meu bem?
— Ah, sim — a menina responde com um ar de quem não aguenta mais
ouvir a voz da mulher, coisa que eu entendo completamente. — Dona Julia, a
senhora sabe do Doutor Vinicius?
E aí está o motivo da minha dor no coração. Os olhos azuis do menino, a
mulher de cabelos loiros e atitude pedante. Tudo sinaliza para uma situação que eu
me recuso a querer aceitar.
— Ele está estacionando e já vai entrar, por quê?
— Eu estou esperando ele há mais de meia hora. — Quem me responde é a
loira. — Me disseram que o horário é das 8h às 17h e o Vini sempre foi pontual.
— Você recebeu a informação errada, senhora. — Minha voz rasga a
garganta e eu tenho que controlar minha vontade irracional de apertar o pescoço da
mulher. — Estamos dentro do horário, porém não lembro de ter visto nenhuma
reunião pessoal do Vinicius na agenda de hoje.
— Ah, então meu filho acertou e você é mesmo a secretária dele? — ela
pergunta em um falso tom de doçura enquanto passa a mão nos cabelos do menino,
que não para de me olhar com aqueles olhos tão familiares.
— Não sou, mas tenho acesso à agenda. Em que posso ajudar.
— Você? — Ela dá mais uma risada. — Em nada, querida, meu assunto é
com o Vini.
— Juju? — Ah, era só o que me faltava, Lorena chegar justo na hora que eu
preparava uma resposta malcriada para essa cria de Belzebu. Ela olha para mim,
para a loira e para a criança. — Tudo bem aqui?
— Tudo ótimo, Lorena. — Eu aponto para a mulher e continuo. — Essa
senhora está esperando o Vinicius, mas eu não lembro de ter nada na agenda dele,
você lembra?
— Nadinha. — Ela tira os fones de ouvido e o som altíssimo de rock passa a
ser nossa trilha sonora. Lorena não se intimida com o olhar gelado da loira e analisa
cada pedacinho dela até que seus olhos param no menino e ela murmura: — Não
pode ser.
Ela olha para mim e, antes que possamos falar alguma coisa, avisto Vinicius
e Bernardo entrando no prédio rindo de alguma piada que só eles entendem.
Vinicius olha para mim e seu sorriso aumenta, mas ao perceber que não estou
sozinha uma expressão confusa aparece em seu rosto, ao mesmo tempo em que
Bernardo o segura pelo cotovelo e exclama.
— Penélope! Mas que diabos você está fazendo aqui?
A loira vira o corpo na direção dos dois e, mesmo sem ver, tenho a certeza
de que está sorrindo quando fala as palavras que acabam com minha ilusão de
felicidade.
— Vim trazer seu filho para te conhecer — ela faz uma pausa dramática e
olha para mim por sobre o ombro antes de completar —, Vinicius.
Obrigada, Universo, por me mostrar o que eu poderia ter e depois tirar de
mim. Muito obrigada mesmo.
Entrego a chave do carro ao manobrista e, quando me inclino para pegar
minha carteira no porta-luvas, algo chama minha atenção. Estico o braço e
recupero o crachá de Julia que está no vão entre os bancos. Provavelmente
caiu de sua bolsa quando ela se inclinou para me beijar, e agora ela deve
estar presa na recepção aguardando a boa vontade da funcionária em lhe
providenciar um crachá provisório. Deslizo-o para dentro do bolso da minha
camisa e saio do carro, avistando Bernardo na calçada no momento em que
saio do estacionamento.
Ele me dá um daqueles sorrisos idiotas que são sua marca registrada e
acena para mim. Posso ver duas jovens olhando para ele completamente
hipnotizadas por seus cabelos loiros e pela cicatriz que ele tem na testa.
Sempre achei injusto eu ser o cara que é fá de Harry Potter e ele, que nunca
chegou perto dos livros, ter uma cicatriz na testa, mas a vida me compensou
de outras maneiras. Chego perto do meu amigo e nos cumprimentamos com
um rápido abraço enquanto ele fala apressado.
— Lorena vai mesmo hoje, não é? — Arqueio a sobrancelha intrigado,
todas aquelas coisas que Julia me disse ainda estão martelando em minha
cabeça.
— Vai sim. Aliás, vamos voltar àquele assunto onde Julia continua
insistindo que tem algo de errado com essa transferência. Eu já te falei como
ela é. — Dou um sorriso que é um misto de resignação com puro orgulho. —
Quando cisma com alguma coisa não larga o osso. Você jura por nossa
amizade que não tem nenhum interesse sexual em Lorena? Nem preciso te
lembrar que você é um cara casado e tem toda aquela merda que aconteceu
com a Julia e…
— Para, Vini. — Bernardo me segura pelo braço e ficamos parados no
meio do calçadão, um olhando para o outro enquanto ele confessa. — Não
posso mentir para você. Todas as vezes que penso naquela mulher, meu
sangue parece correr mais acelerado em certas partes do corpo. Sim, eu sou
casado e respeito demais a Cintia, mas existem coisas na vida que não
podemos explicar e oportunidades que não devemos perder.
Bernardo passa a mão pelos cabelos e levanta os olhos para o céu como
se tivesse pedindo ajuda divina, mas isso não me comove. Estou mais do que
acostumado com os dramas desse camarada e, ao longo dos anos, me tornei
totalmente imune a esse tipo de chantagem emocional.
— Não sei o que está acontecendo comigo, Vini. Mas te prometo que
não vou me aproveitar da Lorena. Só quero ter a chance de estar perto dela,
conhecer mais um pouco sobre essa mulher e entender o meu fascínio por
todas aquelas tatuagens que ela tem.
— Não sei, Bê — insisto enquanto voltamos a caminhar em direção
ao escritório. — Você tem que me prometer que não vai fazer nada que
venha a estragar meu relacionamento com a Julia. Se você me foder eu juro
por Deus que raspo essa sua cabeça, arranho seu carro e faço da sua vida um
inferno.
Bernardo dá uma risada e abre a porta para que eu entre enquanto
comenta.
— Essa Julia mexe mesmo com você, hein!
Meus olhos localizam Julia parada no balcão ao lado de Lorena e, no
momento em que levanto a mão para mostrar que seu crachá está comigo,
noto uma terceira mulher com elas.
Seus cabelos loiros são estranhamente familiares e quando ela solta uma
gargalhada, meu coração se aperta dentro do peito, me deixando com a
sensação de estar se partindo em um milhão de pedaços. Meu sorriso morre
nos lábios e eu não consigo encontrar minha voz. Na verdade, meu cérebro
está meio gelatinoso e eu sinto como se houvesse perdido a capacidade de
formar frases. Habilidade essa, que Bernardo parece não ter perdido.
— Penélope! Mas que diabos você está fazendo aqui?
“É impressão minha ou a voz dele saiu meio esganiçada?” Penso
enquanto tento afrouxar uma gravata imaginaria que aperta meu pescoço, me
deixando sufocado.
A loira vira o corpo na nossa direção e sorri diabolicamente quando
fala as palavras que tiram o chão de baixo dos meus pés.
— Vim trazer seu filho para te conhecer — ela faz uma pausa
dramática e olha para Julia por sobre o ombro antes de completar, —
Vinicius.
Isso tem que ser um pesadelo, não existe nenhuma outra explicação.
Como também não existe nenhuma explicação plausível para eu estar parado
no lugar sem me mexer, como se Penélope fosse a Medusa e tivesse me
transformado em uma estátua de sal.
Mas não é um pesadelo e eu continuo parado, chumbado ao chão
enquanto Bernardo corre até Penélope e, sem demora, a arrasta em direção
aos elevadores. Meus olhos buscam Julia, que está apoiada no balcão, com
uma das mãos cobrindo a boca enquanto Lorena sussurra alguma coisa em
seu ouvido.
Começo a caminhar em sua direção pois é obvio que tudo isso é um
mal-entendido, não existe possibilidade de Penélope ter tido um filho meu.
Nesse momento sinto um puxão nas minhas calças e olho para baixo. Um
moleque com os cabelos escuros compridos demais e olhos muito azuis está
me encarando. Ele tem a boca aberta em espanto e pisca diversas vezes antes
de perguntar:
— Você que é meu pai?
Puta que pariu. Puta que pariu. Puta que pariu.
Me abaixo para olhar o moleque mais de perto e não posso negar, ele se
parece demais comigo. Mas ainda assim, nada disso faz sentido, não tem
como pois já fazem mais de cinco anos que eu não tenho o desprazer de
colocar os olhos nessa mulher.
De repente a minha ficha cai. Cinco anos, meu Deus.
— Garoto — seguro o queixo dele que me olha muito sério —,
quantos anos você tem?
— Vou fazer isso… — Ele levanta a mãozinha com os cincos dedos
bem abertos, esfregando na minha cara o pior deslize da minha vida. —
Moço, você é meu pai?
— Boa pergunta, garoto. Boa pergunta.
Ainda abaixado, levanto a cabeça para ver como estão as coisas com
Julia, mas, para meu desespero, ela desapareceu. Parada à minha frente está
Lorena, com uma cara muito decepcionada e logo adiante Bernardo e
Penélope. Os três parecem estar me esperando e eu faço a única coisa
aceitável no momento.
— O que você acha de vir comigo e a gente tentar descobrir o que
sua mãe veio fazer aqui? — O menino sacode a cabeça concordando comigo
e quanto eu me levanto ele estica os braços para mim. Não penso duas vezes
e pego a minha miniatura no colo, caminhando em direção à conversa que
pode mudar minha vida.
Aqui estou eu, de volta ao banheiro das secretárias, sonhos
espatifados pelo chão e buscando conforto na mulher que me olha,
devastada, do outro lado do espelho. Não era para ser assim, sabe? Eu não
deveria ter me envolvido com ele, acreditado em suas palavras e, muito
menos, me apaixonado.
"Mas você já estava apaixonada, Julia. E ele também."
Ah, cérebro, engole esse seu colar de pérolas e sua voz calma e
tranquila de quem já viu de tudo nessa vida. Você não está me ajudando em
nada, aliás, não me ajudou desde que Vinicius entrou naquele provador
comigo e virou meu mundo do avesso.
Apoio as costas no mármore frio da parede e, lentamente, vou
deslizando até me sentar no chão. Sinto um bolo se formando em minha
garganta e uma dor lancinante na cabeça sinaliza que eu não estou bem.
Puxo os joelhos contra o peito e apoio a cabeça neles, tentando me lembrar
de algum mantra que possa me trazer tranquilidade. Ah, me lembrei.
Puta que pariu mentiroso filho de uma puta.
Puta que pariu mentiroso filho de uma puta.
Puta que pariu mentiroso filho de uma puta.
Mas falar essas palavras não me acalma, acabam provocando o efeito
oposto. São como um balde de água fria que me acorda para o fato de que eu
realmente tenho o dedo podre para escolher homens. Primeiro, um mentiroso
charmoso, galante que era casado e me enganava. Agora, um mentiroso sexy
e sedutor que me jurou não ter mais nenhum segredo sobre seu
relacionamento com a ex e que agora me aparece com um filho. Mas o pior
disso tudo é o fato de ele ter afirmado na minha cara que não tinha contato
com aquela mulher desde a faculdade e agora eu descobrir que há apenas uns
anos ele andou comendo na mão dela.
"Não foi bem na mão que ele comeu, não é, Júlia?"
Antes que eu consiga me revoltar com a sabedoria ímpar do meu
cérebro, uma suave batida na porta me traz a realidade.
— Juju? — Lorena chama baixinho. — Não adianta se fazer de
morta porque eu sei que você está aí. Dona Odete já te entregou. Anda logo
e abre essa porta porque eu quero falar com você.
Levanto a cabeça e bato com ela repetidamente na parede enquanto
Lorena continua insistindo do lado de fora.
— Eu não vou sair daqui, ouviu? E tem mais, se você não abrir a
porta em dois minutos vou descer e dizer para o Bernardo que quero dar para
ele. — Paro de bater a cabeça na parede e escuto com mais atenção. — E
depois vou deixar todo mundo na empresa saber que sou amante dele e
que…
— Chega. — Abro a porta apenas o suficiente para que ela entre. —
Já basta uma mulher infeliz e traída nessa história. A última coisa que eu
quero é que você faça mesmo uma coisa dessas e vire assunto de fofoqueiros
pelos corredores.
— Mas você é mesmo tonta. — Minha amiga sorri e faz um carinho
no meu rosto, fazendo com que as lágrimas finalmente comecem a rolar por
minhas bochechas. — Eu jamais me envolveria com um cara casado, ainda
mais amigo desse idiota do seu namorado.
— Ele não é mais meu namorado — murmuro contrariada enquanto
luto contra as lágrimas que agora caem livremente. — Ele mentiu para mim.
— Ah, Juju, pelo amor de Deus. — Lorena pega um bolo de papel
toalha e me entrega com um suspiro de impaciência. — Todo mundo mente
nessa vida, todos temos segredos. Muitas vezes as pessoas se enganam e
cometem erros. Não estou defendendo o Vinicius, mas, pela cara dele, isso
afetou tanto a ele quanto a você.
Não respondo nada pois, simplesmente, não tenho o que dizer nesse
momento, tamanha a vontade que sinto em concordar com Lorena. Quero
sair correndo, entrar na sala dele e socar aquela mulher até ela perder aqueles
dentes perfeitamente alinhados, mas me contento em secar as lágrimas e
engolir o choro enquanto Lorena me olha em silêncio. Faço sinal para que
ela se afaste e me levanto ficando de frente para a mulher no espelho.
Gostaria que ela pegasse na minha mão e me desse um sorriso sereno
afirmando que tudo vai dar certo, mas ela tem os mesmos olhos vermelhos
que eu e os cabelos desgrenhados que a deixam com uma aparência frágil.
— Você não é assim — sussurro para o espelho.
— Não mesmo. — Lorena fala por cima do meu ombro, oferecendo
um batom vermelho e uma escova de cabelos que acabou de tirar de sua
mochila. — Está na hora de sair daqui e enfrentar aquela mulher horrorosa.
— Ela é tudo, menos horrorosa. — Meu lábio inferior treme um
pouco quando confirmo a beleza da minha rival.
— Bem — Lorena dá de ombros largando os objetos na pia —, para
mim ela é horrorosa e veio atrás do Vinicius por algum motivo muito errado.
Se arrume logo, Julia, pois ela já está na sala dele com aquele menino fofo. E
você está atrasada.
Lorena sai do banheiro deixando-me sozinha com meu reflexo, a
mente fervilhado, cheia de caraminholas teimosas. Se ele mentiu sobre
Penélope, o que mais pode estar me escondendo? O que mais ele inventou
para me levar para sua cama? Será que as últimas semanas não passaram de
uma brincadeira para ele?
"Chega. Pare com essa palhaçada!" Meu cérebro diz com uma voz
muito firme e eu me vejo compelida a obedecer, silenciando o burburinho
dentro da minha cabeça e penteando os cabelos com cuidado até que eles
fiquem lustrosos. Passo uma suave camada do batom vermelho nos lábios e,
respirando fundo, saio do banheiro, disposta a colocar os “pingos nos is”
dessa história toda.
Quando chego em frente à sala de Vinicius, setenta por cento da
minha coragem já se perdeu pelo caminho e, com o que me resta, coloco a
mão na maçaneta e a giro decidida. Porém, para minha surpresa, apesar de
escutar as vozes lá dentro em uma discussão acalorada, a porta não abre.
Sabe aquele restinho de coragem? Acaba nesse instante e viro as
costas caminhando a passos rápidos para a salinha de café, onde encontro
Lorena sentada ao lado de Bernardo conversando baixinho, como se
estivessem tramando a derrubada de um rei.
— O que está acontecendo aqui? — pergunto enquanto coloco a
máquina para funcionar e o cheiro de café invade o ambiente.
— Estamos falando de você e do Vinicius — Lorena diz sem rodeios.
— Na verdade, ainda estamos tentando entender o que aconteceu
hoje de manhã. — Bernardo está sério e me olha como se eu pudesse lhe dar
essa resposta.
— O que aconteceu? — Tiro o café da máquina e enquanto pingo o
adoçante olho na direção deles. — Muito simples, seu amigo é um babaca
mentiroso, que disse não estar me escondendo nada e afirmou nunca mais ter
encontrado com a ex-namorada que destruiu a vida dele. A única coisa que
eu pedi a ele foi que não me escondesse nada e ele sabia que eu não ia
conseguir encarar mais mentiras depois de tudo que passei.
— Juju, você não pode beber isso. — Lorena aponta para o café e
percebo que mantive o adoçante pingando o tempo todo, transformando
minha bebida em algo intragável.
— Vini não é um babaca — Bernardo diz simplesmente.
— Ah, isso ele é sim. — Lorena dá um tapa na mesa assustando
Bernardo e me fazendo sorrir a contragosto. — Já era um babaca quando era
apenas o chefe grosseirão, agora foi promovido a namorado mentiroso. Quer
mais babaca do que isso?
— Mentiras, então, aumentam nossa pontuação na sua tabela de
babaquices? — Ele olha para ela com um misto de curiosidade e
arrependimento no olhar e eu sinto de novo aquele incômodo na boca do
estômago. — Todo mundo mente, Lorena.
— Concordo e falei isso agora mesmo para a Juju. Mas existem
vários tipos de mentiras, e Vinicius mentiu sem necessidade, elevando a
babaquice dele a enésima potência.
— E agora ele está trancado na sala com ela. — Os dois olham para
mim e dou de ombros. — Ele nunca tranca a porta, mas fez isso hoje. Ou
seja, não quer mesmo que eu saiba o que está acontecendo.
Um silêncio constrangedor toma conta do ambiente, cada um de nós
imerso em seus próprios pensamentos e teorias até que Bernardo se levanta e
declara.
— Pois eu vou lá agora e ele vai ter que abrir a droga da porta. Essa
palhaçada precisa acabar.
— Que bonitinho. — Lorena olha para ele com uma cara meio
abobada e constata. — Você não fala palavrão.
— Não falo mesmo. Acho indelicado com as pessoas que convivem
comigo. — Ele dá de ombros e, sorrindo, completa. — Que tal você ir
arrumar suas coisas com a ajuda da Julia e, quando eu sair da sala do Vini,
descemos juntos para que você conheça seu novo local de trabalho?
— Feito. — Lorena estende a mão e Bernardo segura seus dedos com
muito cuidado, como se ela fosse uma delicada bonequinha de porcelana,
capaz de se quebrar a qualquer instante. Ou como se fosse um sonho, do qual
ele não quer acordar, e isso me deixa nervosa de novo.
— Vamos logo, minha gente, porque esse "teretete" aí de vocês
também não está me cheirando nada bem e eu não aguento mais homens
babacas e mulheres com corações partidos.
Sou solenemente ignorada pelos dois, assim como ando sendo
ignorada pelo Universo. Eles se despedem e Bernardo faz um carinho no
meu ombro antes de sair em direção à sala de Vinicius.
— Ele parece ser um cara legal. — Deixo escapar, um tanto
admirada com essa constatação. — Mas não podemos esquecer da aliança
em seu dedo.
— Impossível esquecer, Juju. — Lorena faz uma careta e passa o
braço pelo meu enquanto me arrasta para a mesa. — Mesmo que eu queira
ignorar esse fato, conto com você para me lembrar dele diariamente.
Concordo com a cabeça e, assim que chego à minha mesa, sento na
cadeira e acompanho silenciosamente todos os movimentos da minha amiga
enquanto ela empacota dois anos de trabalho em apenas duas pequenas
caixas de papelão, ficando pronta para me abandonar em menos de trinta
minutos.
— Pronto. — Ela sorri satisfeita. — Agora só precisamos aguardar o
retorno do Bernardo.
— Sim — olho para o final do corredor que permanece vazio —, é só
isso mesmo que podemos fazer.
Assim que chegamos na porta da minha sala, empurro Penélope para
dentro com toda a raiva que está latejando em mim, trancando a porta atrás
de nós. A última coisa que quero no mundo é ficar a sós com ela, mas
preciso esclarecer essa confusão antes que Julia apareça. Douglas corre em
direção à minha cadeira giratória e começa a rodar nela, fazendo um barulho
com a boca que imita um carro de corrida. Impossível não sentir o coração
bater mais forte enquanto olho para aquele moleque que parece tanto
comigo.
— Ei, garoto — chamo com um sorriso enquanto seguro a cadeira e
olho diretamente em seus olhos.
— Meu nome é Douglas — ele fala baixinho.
— Tá certo, vamos tentar de novo. — Coloco as minhas mãos em seus
ombros pequenos e sou tomado por uma sensação muito estranha de
familiaridade. — Ei, Douglas, quer ver uns vídeos no computador?
— Ele é uma criança — Penélope retruca já acomodada em uma das
cadeiras da minha mesa de reunião, como se estivesse em sua própria casa
—, cuidado com o que vai mostrar pra ele.
Entrego o fone de ouvido ao moleque e, sem olhar para ela, respondo
entredentes.
— Posso ser idiota no que diz respeito a várias coisas, mas sei lidar
muito bem com crianças.
— Ah, andou espalhando mais filhos por aí? — Mesmo sem olhar para
Penélope, tenho certeza de que seus lábios volumosos estão esticados em um
daqueles sorrisos preguiçosamente sexies que ela sabe dar.
— Vitoria teve três filhos. — É só o que digo enquanto ajeito os
fones em Douglas e coloco um desenho colorido e barulhento para passar.
— Produtiva, sua irmãzinha, seus pais devem estar orgulhosos dela.
Aumento ao máximo o volume do vídeo e, quando o moleque dá
uma gargalhada, eu falo em um tom muito mais alto do que deveria.
— Que porra é essa, Penélope?
— Não fale assim do seu filho! — Ela aponta displicentemente para o
menino, que já nem se lembra que estamos ali e eu tenho que controlar meus
impulsos homicidas. Quero apertar o pescoço dessa mulher até que ela não
consiga mais abrir essa boca venenosa e hábil na arte de enganar, mas não
posso fazer isso, não com uma mulher.
Ainda controlando a vontade latente de sacudir Penélope, me
aproximo dela e, quando me inclino em sua direção, o familiar perfume de
baunilha com morangos me envolve, trazendo algumas lembranças que
precisam ficar no passado. Respiro fundo e repito bem devagar.
— Que. Porra. É. Essa. Penélope?
Ela sorri para mim e, mais uma vez, apesar de saber que não deveria, me
perdoo por ter me deixado enganar por ela.
Penélope continua linda com seus cabelos dourados e seu ar
angelical. Não há nada nela que denuncie seu poder de destruição em massa,
muito pelo contrário, ela tem aquela postura delicada e inocente que faz com
que todos os homens queiram protegê-la das maldades do mundo, quando na
verdade ela é uma dessas maldades. Uma criatura tóxica, que destrói as
pessoas que têm a infelicidade de cruzar o seu caminho.
— Cansei de ser mãe solteira, e quero você de volta na minha vida.
Simples assim. — Ela dá de ombros como se tivesse acabado de me dizer
que o dia está nublado e preciso sair de casa levando um guarda-chuva.
Simples assim, ela diz. Era só o que me faltava!
Penélope cruza suas longas pernas e me lança um daqueles olhares
cândidos que costumavam a me fazer derreter na juventude. Meu corpo
treme, e não sei exatamente o motivo, só posso afirmar que não é amor,
paixão ou algum outro sentimento bom. Ao fundo, o moleque dá uma
gargalhada gostosa e, quando olho para ele e dou de cara com aquele par de
olhos azuis, tão característicos da minha família, meu coração se aperta
novamente.
Corro os dedos pelos cabelos na tentativa de arrumar meus
pensamentos, mas um sentimento de derrota começa a tentar se apossar de
mim.
— Aposto que você está se perguntando como isso aconteceu. — Ela
aponta para Douglas, o sorriso ainda estampado no rosto bonito. Ela não
mudou nada, continua dona de uma beleza estonteante digna de uma atriz de
cinema. — Se esqueceu mesmo, Vini?
— Não seja ridícula! — Me arrependo do grito no momento em que
ele sai da minha garganta, mas o moleque nem percebeu, tamanha barulheira
que o vídeo faz nos fones de ouvido. Seguro Penélope pelos ombros e digo,
entredentes. — É óbvio que eu me lembro, sua víbora.
Como se esquecer fosse uma opção. E acredite, tudo que eu mais quero
na vida é esquecer aquela noite em que reencontrei Penélope em uma boate
de São Paulo há cinco anos. Foram meses difíceis que passei alocado em um
cliente externo que só me deu dor de cabeça. Meses que passei sem voltar
para casa, sem ver minha família e Bernardo, o que para mim foi um
sacrifício pois não sou de fazer amigos facilmente devido a esse meu gênio e
ao cargo de chefia que ocupava. Quando eu digo que não é fácil ser chefe, as
pessoas riem de mim, mas só entende quem já passou muito tempo sem
saber se um convite para almoço era sincero ou se você estava sendo usado
para subir um degrau na empresa com uma falsa promessa de amizade.
Fiquei isolado do mundo vivendo do hotel para o trabalho e de volta
ao hotel onde passava horas assistindo TV. Ou saía sozinho a noite, para
beber e encontrar alguma companhia agradável que me oferecesse algumas
horas de prazer. Foi em uma dessas noites que tudo deu errado na minha
vida e me trouxe a essa revelação de hoje.
Confesso que não estava nada sóbrio quando a vi e só conseguia pensar
em como a loira deslumbrante se mexia de forma tão sensual que fazia meu
pau latejar. Ela dançava sem parar, rebolando e sacudindo os cabelos como
se me convidasse a dançar com ela.
Eu sabia que era improvável, mas quando ela se virou, tudo que eu vi
foi o rosto da primeira mulher que eu amei, a mesma que arrancou meu
coração do peito com uma colher enferrujada, causando uma dor imensa.
Ainda assim, quando ela sorriu para mim e me chamou com os dedos eu,
preso na deliciosa nevoa da embriaguez, aceitei o convite.
Eu falei que não estava nada sóbrio, mas preciso confessar, é mentira.
Eu estava bêbado para caralho naquela noite e quando ela passou
os braços pelo meu pescoço, senti o perfume de Penélope e me deixei
sonhar, acreditando que quando eu acordasse iria dar risada ao ver que a
mulher não era nada parecida com a minha ex. Deixei o ritmo da música me
levar enquanto dançava grudado em seu corpo escultural e nem me lembro
como fomos embora daquele lugar.
Quando eu acordei, a boca amarga da ressaca, ela estava sentada no
sofá do meu quarto, usando apenas minha velha camiseta do Capitão
América.
“Bom dia, raio de sol.”
O sorriso de Penélope era tão grande e brilhante que me senti
ofuscado e levantei a mão para os olhos antes de murmurar.
“Não pode ser. Estou sonhando.”
Ela deu uma risada cristalina, aquela mesma que eu sempre amei
ouvir, mas que passou a me dar calafrios, e confessou:
“Você não parava de repetir essas palavras durante a noite, Vini.
Enquanto você fazia amor comigo, sussurrava isso sem parar no meu
ouvido.”
“Amor?” — a palavra saiu como um cuspe da minha boca enquanto
eu olhava incrédulo para ela que se espreguiçava como uma gata.
“Amor, sim. Transamos, fodemos, fizemos amor. Como nos velhos
tempos.” — Ela jogou a cabeça para trás e suspirou de forma teatral. — “E
foi fantástico, exatamente como nos velhos tempos onde eu era tudo que
você queria.”
Essa frase acendeu uma luz na minha cabeça e fez com que me
levantasse da cama em um pulo, procurando as camisinhas usadas pelo
quarto. A busca foi em vão, não encontrei nada.
“Diga que você usa pílula! “
Apesar do tom de exigência em minha voz, eu estava me sentindo
apavorado como há anos não sentia.
“Só se preocupa com isso?” — Ela fez um biquinho e cruzou os
braços, olhando diretamente para mim, sem responder.
“Diga!” — Sacudi-a com força e ela riu. — “Não posso ter um filho
com uma mulher como você. “
“Relaxa, Vini! Não quero filhos, nem seus e nem de ninguém”. —
Ela se desvencilhou de mim, o sorriso grudado nos lábios e concluiu: —
“Mas foi muito divertido ver que você continua o mesmo pato de sempre,
apaixonado pela mulher que te passou a perna.”
Penélope tirou a camiseta e a entregou para mim, deixando os lindos
seios livres com seus mamilos duros e rosados apontando na minha direção.
Joguei a camiseta de volta para ela, declarando, cheio de um misto de raiva
e mágoa.
“Pode ficar com essa merda. Você já a infectou com sua essência.”
“Nossa, preciso confessar que senti falta desse seu vocabulário.”
Fui pego de surpresa quando ela se inclinou e me beijou, sua língua
invadindo minha boca para logo em seguida morder meus lábios. Senti meu
pau reagir e sei que ela também notou. Meio que era impossível de disfarçar
com o tamanho dele.
“Pode esbravejar à vontade, raio de sol. Mas, no fundo, você ainda
me quer.”
E aquela foi a última vez em que coloquei os olhos, e outra coisa, em
Penélope. Até hoje de manhã quando ela apareceu para desgraçar o meu dia.
— Você me disse que estava tomando anticoncepcional. — É tudo
que consigo dizer, o que não me deixa com uma sensação de estar sendo
muito eloquente.
— Ah, eu estava. — Ela dá de ombros mais uma vez, e isso começa a
me dar nos nervos. — Mas você sabe como é... essas coisinhas acontecem.
Como se tudo estivesse sincronizado, o moleque começa a dar risada
e ela coloca a mão em cima da minha, sussurrando suavemente:
— Não é lindo, o nosso filho?
— Cala a boca, Penélope! Preciso pensar.
— Ah, sim. — Ela abre a bolsa e retira um cartão que estende para
mim. — Meu advogado disse que você precisa entrar em contato com ele
para fazer o teste de DNA.
Fico de boca aberta, espantado com a organização dessa mulher, mas
na verdade não deveria me surpreender. Ela já havia se mostrado capaz de
grandes golpes no passado, por que mudaria agora?
Enquanto fico parado igual a um idiota no meio da sala, ela se
levanta e rebola suavemente até onde Douglas está. Sem nenhum carinho,
arranca o fone dos ouvidos do menino e o arrasta sob protestos até a porta,
não sem antes dizer.
— Vamos, filho. Dá tchau para o papai.
Papai.
Puta que pariu. Estou muito fodido.
Pensei que ia ter tempo de respirar e organizar meus pensamentos, traçar
uma estratégia de guerra a fim de resolver meus problemas. Mas a vida
parece ter outros planos para mim.
— A cascavel já foi embora? — Levanto os olhos e, parado na porta está
Bernardo, com um semblante sério, me olhando como se eu fosse o vilão da
história.
— Já sim. — Recosto-me na cadeira e cruzo os braços por trás da
cabeça. — Como estão as coisas aí do lado de fora?
— Ah, tudo ótimo — ele responde com um ar de inocência. — A bolsa
de valores se mantém estável, o dólar não aumentou e não tivemos nenhum
surto de doenças infectocontagiosas.
— Deixa de ser babaca, Bernardo. — Estou cansado, preocupado e meu
amigo ainda tem a capacidade de fazer gracinhas com a situação na qual me
encontro. — Quero saber da Julia.
— Então talvez devesse ser mais direto, Vini. — Ele entra na sala,
fechando a porta atrás de si e senta-se na cadeira à minha frente. — Em
todas as situações.
— O que você quer que eu diga, Bê? Que lamento muito e estou
arrependido? — Dou de ombros e declaro. — Eu sinto muito e estou
arrependido, apesar de não saber porque vocês estão me culpando, já que eu
não sabia de nada.
— Ah, mas sabia, não é? — Ele sorri para mim e tenho vontade de dar
um murro bem no meio do seu nariz pela capacidade inegável que ele tem de
me irritar. — Sabia que tinha caído na lábia da Penélope há alguns anos e
nunca me contou isso. Sabia disso quando Julia te perguntou se você teve
contato com sua ex depois de tudo que ela te fez e você disse que não. Você
sabia de muitas coisas e não contou nada para ninguém.
Fico em silêncio, incapaz de encontrar forças ou palavras para me
defender, e Bernardo continua me acusando.
— Mas não, o intocável Vinicius Barroso jamais abriria seu coração para
ninguém. Ele nunca contaria que, em um momento de fraqueza, aceitou
umas migalhas da única pessoa que não merece sequer um segundo olhar
dele. Ao invés disso, engoliu a história e se deixou ser pego com as calças na
mão. Literalmente, né?
— Chega, Bernardo! Eu não vejo motivo para sair contando tudo da
minha vida para você ou para a Julia. Algumas coisas prefiro deixar
enterradas no passado e isso é um direito meu. — Dou um soco na mesa com
tanta violência que minha mão começa a latejar. — Você, de todas as
pessoas, não pode me acusar de não me abrir quando o assunto é mulher. Eu
sei que tem algo acontecendo com seu casamento. Esse seu súbito interesse
pela Lorena…
— Cala a boca, Vinicius! — Vejo meu amigo se levantar e avançar em
minha direção com o dedo apontado na minha cara. — Não estamos
discutindo eu, Lorena ou meu casamento. Estamos falando de como você
está a um passo de ferrar a sua vida por um caso de uma noite com aquela
sem-vergonha.
— Como eu fodi a minha vida por causa daquela vagabunda, seria uma
frase melhor. — Sinto-me derrotado e relaxo na cadeira. Meu amigo se
encosta na mesa, mais calmo e coloca a mão no meu ombro.
— Eu não posso negar que sua frase tem mais efeito, mas você sabe que
eu não gosto desse tipo de vocabulário.
— Sim, e hoje eu gostaria muito de ser como você, sabe? Calmo,
centrado e sem essa capacidade de fazer merda que eu tenho dentro de mim.
— Nem tudo na minha vida é perfeito, Vini. Pode acreditar. — Ele passa
a mão pelos cabelos e avisa. — Mas você precisa sair daqui agora e ir
conversar com a Julia. Ela está mais magoada pelo fato de você não ter
falado sobre esse encontro casual, que acabou gerando esse menino, do que
sobre o menino em si.
— Eu sei, Bernardo, acredite. Depois de tudo que a Julia passou, sei
como minha situação não parece nada promissora aos olhos dela. Vou agora
mesmo.
Basta que as palavras saiam da minha boca para que o telefone da minha
mesa comece a tocar. Nos dias de hoje, onde todas as comunicações são
feitas através de mensagens de texto, um telefone tocando nunca é um bom
sinal.
— Alô. — Escuto uma tosse do outro lado da linha e já sei exatamente
quem está falando.
— Oi, Vinicius, boa tarde. — Dona Odete, a secretária da Presidência
com sua eterna irritação na garganta nunca me traz um convite para um
cafezinho, sempre problemas e aborrecimentos. — O Doutor Bernardes está
precisando que você suba agora mesmo para tratar de um assunto importante
antes da reunião dessa tarde.
Dou uma conferida no meu relógio e vejo que ainda falta muito para a
hora do almoço, o que me dá tempo de sobra para resolver os assuntos com o
Bernardes e ainda pegar Julia saindo para almoçar.
— Tudo bem, Dona Odete. Já estou subindo.
Desligo o telefone e, olhando para Bernardo, peço.
— Você precisa falar para a Julia que eu sei que estou errado. Mas que
não posso ir falar com ela agora. Você sabe como o Bernardes odeia atrasos.
— Sei, sim. — Ele sorri. — Acho que é mal de nome.
Ele sempre faz essa piada sem graça sobre Bernardo e Bernardes e eu
sempre dou risada. Mas hoje não consigo, apenas concordo em silêncio
enquanto me apresso em ir até a presidência.
Ainda no elevador, tiro o telefone do bolso e mando uma mensagem de
texto para Julia pedindo para que me espere para o almoço pois preciso
conversar com ela.
Vejo a mensagem ser entregue e recebo a notificação que ela leu, mas
assim que entro na sala da presidência Dona Odete sorri para mim e sinaliza
para que eu deixe o celular em cima da mesa dela. É um hábito do velho
Bernardes, sem distrações durante as reuniões e eu não posso fazer nada a
não ser obedecer. Afinal, são apenas alguns minutos, no máximo uma hora.
Ninguém nunca morreu por ficar uma hora sem celular, certo?
Assim que entro na sala de reuniões vejo que estou muito mais enrascado
do que imaginava. Além do Doutor Bernardes, três dos diretores da empresa
estão sentados ao redor da mesa, perdidos em um mar de papéis. No canto da
sala, sobre um aparador, vários sanduíches e bebidas confirmavam minha
suspeita: não sairíamos dali antes do almoço. Muito pelo contrário, o almoço
seria ali mesmo.
— Vinicius! — Doutor Bernardes me saúda com alegria. — Que
maravilha te ver, meu rapaz. Estou muito satisfeito com sua atuação no caso
dos empreiteiros.
Ele se vira na direção dos outros homens e, com um grande sorriso,
declara.
— Esse jovem conseguiu abocanhar a Teixeira e Filhos para um dos
nossos projetos em um contrato milionário que, além de tudo, abrange a área
de projetos sociais da empresa.
Todos me cumprimentam e encontro um lugar para sentar, minha cabeça
pensando em conseguir uma desculpa para sair da sala e recuperar meu
celular. Eu até poderia pedir isso diretamente ao Bernardes, mas depois de
ser tão parabenizado não quero correr o risco de aborrecê-lo com um assunto
que, para ele, não é negociável. Todos sabem dessa regra de ouro: Não usar
celulares nas reuniões da Presidência.
Logo fico sabendo do motivo da reunião e quando dou por mim já estou
oferecendo parecer técnico nos relatórios e discutindo soluções enquanto
enfio alguns sanduiches goela abaixo. As horas voam e confesso que chego a
me esquecer de Julia, Penélope e Douglas.
Até que uma suave batida na porta anuncia a entrada de Dona Odete.
— Doutor Bernardes, estou de saída.
Como assim de saída, porra? Levanto a manga da camisa e meu relógio
marca cinco e meia da tarde.
— Puta merda — falo baixinho.
— O que disse? — Bernardes olha para mim.
— É, eu xinguei em voz alta. — Olho para Dona Odete e dou um sorriso
sem graça. — Desculpe-me.
— Deve ter algo com o fato do seu telefone ter vibrado o dia inteiro em
cima da minha mesa. — Ela sorri e confessa: — Precisei desligá-lo, rapaz.
— Aconteceu alguma coisa, Vinicius? — O homem mais velho coloca a
mão no meu obro. — Posso ajudar?
— Preciso usar o celular — admito em voz alta. — É realmente muito
urgente e eu não pediria se não fosse.
Vejo Bernardes dar um suspiro e sacudir a cabeça em silêncio. Fico
pensando que ao mesmo tempo em que entendo seus motivos, também o
considero austero demais.
— Tudo bem, você pode ir — ele declara enquanto fecha uma das pastas
de papel que estava à sua frente. — Acho que não precisamos mais da sua
ajuda por aqui hoje.
— Muito obrigado. — Eu sei que ele está muito contrariado, mas não
vou perder essa oportunidade. — Estou à disposição no celular o resto da
noite, o senhor sabe, não é?
— Sim, eu sei. — Ele levanta os olhos escuros para mim e dá um tapa de
luva de pelica na minha cara. — Eu odeio essa coisa de celular, mas você
também sabe, não é mesmo, rapaz?
Sorrio em silêncio e, sem perder tempo, saio apressado parando apenas
para resgatar meu celular da mesa de Dona Odete. Paro na frente dos
elevadores e ligo o aparelho, ansioso para que as mensagens comecem a
chegar, o que não demora muito.
Corro a tela até encontrar o nome de Julia e vejo apenas uma mensagem
com uma carinha revirando os olhos, enviada há duas horas. Digito o nome
de Bernardo e, ao contrário da minha namorada, encontro vinte mensagens
dele cheias de ironias e até uma foto dele, Lorena e Julia em um bar. Logo
abaixo a mensagem final.
“Estamos no Bar do Digão. Vem logo, antes que a Julia desista de você.”
Dou um meio sorriso e sacudo a cabeça satisfeito com essa informação.
Se ela ainda não desistiu de mim, tudo pode se resolver.
Depois de passar na minha sala para pegar meu notebook, estou pronto
para ir ao encontro de Julia. Não é nada fácil arrumar uma vaga para
estacionar perto do Bar do Digão, que está sempre lotado com o pessoal do
bairro, e ferve pós-horário de trabalho, mas parece que estou com sorte e
consigo estacionar com uma certa rapidez. Logo na varanda um grupo canta
animado junto com um barbudo que toca violão no palco improvisado e, lá
no fundo do bar, encostada no balcão está Julia.
Ela está de costas para mim e seus cabelos estão soltos, descendo de
forma selvagem pelas costas. Vejo Lorena e Bernardo gargalhando de algo
que ela fala e meu coração se alivia. Estava com medo de que fosse
encontrá-la aborrecida ou até mesmo chorosa, mas ela me surpreende mais
uma vez. Julia gesticula e se movimenta, como se estivesse contando alguma
piada e, com isso, está fazendo os amigos rirem.
Vou abrindo caminho entre grupos de amigos que se amontoam em volta
das mesas, casais flertando, amigos brindando o fim de mais uma semana de
trabalho e, quando chego perto dela, ouço sua voz enrolada.
— Eu posso pagar a conta de todo mundo com o meu cartão de crédito.
— Ela sacode os braços, apontando para a testa. — Esse cartãozinho gold
aqui!
Dou a volta e, ficando de frente para ela, caio na risada. Grudado na testa
de Julia está o cartão dourado do plano de saúde, que ela ostenta como se
fosse um cartão de crédito sem limites e, nesse momento, percebo que ela
está mais embriagada do que qualquer um no bar.
— Viniciussss — ela diz esticando o S, naquele linguajar sexy que só os
bêbados têm, enquanto se joga nos meus braços. — Mas você demorou,
hein?
— Demorei, Dona Julia. — Enterro o nariz em seus cabelos e inalo seu
perfume enquanto aperto seu corpo contra o meu. — Demorei tempo
demais. Você me perdoa?
Sinto Julia se aconchegar no meu abraço, seu corpo macio e quente
moldando-se ao meu como se fossemos um só.
— Perdoar? — ela murmura. — Perdoar você. Perdoar.
Julia se afasta apenas o suficiente para que eu veja seus olhos brilhantes
e o biquinho sexy que ela faz enquanto repete a palavra “perdoar” sem parar.
— Ei, Juju. — Ouço Lorena chamar atrás de mim. Já havia me esquecido
totalmente da presença dela e de Bernardo, até que ela fala: — Esse seu
cartão não serve para pagar a conta. Na verdade, mal serve para fazer exame
de sangue. Deixa que eu pago tudo e a gente acerta depois.
E virando-se para mim ela avisa, baixinho.
— Quem vai pagar a conta é você, seu idiota. Como teve a capacidade de
deixar a Julia esperando esse tempo todo, pode passar seu cartão e acertar
tudo.
— Pago todas as contas que forem necessárias — declaro enquanto puxo
a carteira do bolso da calça, tiro o cartão e o coloco em cima do balcão. —
Obrigada, Lorena, por ter ficado com a Julia até eu chegar.
— E eu, não ganho um obrigado?
Dou um soco leve no peito de Bernardo, que se encolhe fingindo sentir a
maior dor do mundo. Julia dá uma gargalhada estrondosa, balançando dentro
do meu abraço.
— Você é muito engraçado, Bernardo. — Seu olhar se abranda e ela
comenta: — Lorena tá muito encrencada indo trabalhar com você.
Ficamos todos em silêncio diante dessa declaração de Julia e percebo
quando meu amigo deixa os olhos se fixarem na ruiva ao seu lado. Lorena
parece muito incomodada e, pulando do banco, dá um beijo em Julia e se
despede.
— Você já está nos braços do seu príncipe desencantado, Juju. Vou para
casa.
— Eu te levo.
A voz de Bernardo sai apressada e um pouco esganiçada, fazendo com
que mais uma vez eu concorde com as declarações de Julia sobre as
intenções do meu amigo.
— Nem pensar, chefe. — É a resposta rápida e cortante da jovem. —
Não misturo prazer com negócios, ainda mais quando o prazer vem de um
homem casado. Boa noite a todos.
Ela vira as costas e deixa meu amigo com um ar abobado, admirando sua
saída teatral. O silêncio é cortado por Julia que canta bem alto enquanto
esfrega o corpo no meu.
“Delícia, delícia
Assim você me mata
Ai, se eu te pego
Ai, ai, se eu te pego”
Extremamente sem graça, Bernardo sinaliza para que o garçom feche a
nossa conta, e eu sussurro no ouvido de Julia:
— E se eu te pegar?
— Eu disse que te perdoei? — Ela cruza os braços, tentando parecer
brava, mas parece apenas uma mulher adorável. — Não disse, não senhor!
Como você já quer me pegar?
— A senha. — Bernardo enfia a máquina do cartão na minha cara e
descola o cartão do plano de saúde da testa de Julia que ri fazendo uma
careta para ele.
Digito a senha, guardo meu cartão e, mantendo Julia presa contra mim,
agradeço a Bernardo.
— Não sei o que vocês conversaram, mas obrigada. Ela parece ter me
perdoado.
— Sei. — Ele aperta os lábios e sacode a cabeça em um julgamento
silencioso. — Não aposte todas as suas fichas nisso, Julia está bem
embriagada.
— Estou bêbada! — Ela levanta os braços e sorri para Bernardo. — Mas
você é educado demais para falar isso né, Bê?
Damos risada com o jeito que ela chama Bernardo pelo apelido e ela
arremata com chave de ouro.
— Você é educado e adorável. E eu acho que Lorena vai passar uma
certa dificuldade tentando resistir aos seus encantos.
Bernardo chega perto de nós e deposita um beijo na cabeça de Julia,
prometendo.
— Vou cuidar bem da sua amiga, eu prometo. Não vou me aproveitar
dela.
Julia aconchega a cabeça no meu peito e, olhando para ele, murmura:
— Não sei porque, mas acredito em você. — Levanta os olhos para mim
e pede. — Me leva para casa? Porque ainda preciso que você me prove que
posso acreditar em você. Quero muito, Vinicius. Quero demais.
— Também quero, Dona Julia. Mais do que qualquer coisa nessa vida.
Essas foram as últimas palavras que trocamos, pois assim que entramos
no carro, ela adormeceu no banco do carona, sua mão em minha coxa me
deixando com a certeza de que eu nunca me senti tão completo na breve
trajetória da minha vida.
— O que você está fazendo aqui? — Lorena pergunta sem tirar os olhos
da tela do computador e se virar na minha direção. — Não dava mesmo para
esperar chegar a hora do almoço para poder matar as saudades?
Ignoro a malcriação dela e me abaixo, abraçando minha amiga com
força.
— Ele disse que me ama e eu tinha que vir te contar.
— Ah, grande coisa — Ela se solta do meu abraço e me dá um sorriso
enviesado. — Ele só está dizendo o que eu estou careca de saber: que você
tem ele comendo na palma da sua mão.
Faço uma cara de indignação e cubro a boca com a mão, fingindo estar
chocada.
— Isso é um absurdo!
— Até parece, Juju! — Ela dá uma gargalhada e percebo os rapazes do
andar se virarem para admirá-la. Lorena, porém, não dá atenção a nenhum
deles, totalmente compenetrada em nossa conversa. — Vocês parecem ter
sido feitos um para o outro, coisa que ao mesmo tempo que embrulha meu
estômago me faz pensar se um dia vou querer algo assim.
— Espero que sim.
A voz de Bernardo interrompe nossa conversa. Ele chegou tão de
mansinho que nem Lorena nem eu demos conta da sua presença. Tenho que
admitir que ele está muito charmoso, seu cabelo loiro escuro penteado com
cuidado deixando-o com aquele aspecto de bom moço que parece estar
quebrando as resistências de Lorena. Sem contar que ele usa uma camisa
social rosa, com as mangas dobradas na altura dos cotovelos, deixando-o
com um ar irresistível.
— Espera que sim o quê?
Lorena se agita na cadeira, passando as mãos pelos cabelos ruivos mais
vezes do que o necessário enquanto puxa a blusa para cobrir uma barriga
inexistente. Bernardo sorri para ela, ignorando sua pergunta, e se vira em
minha direção.
— Meu amigo realmente soube escolher dessa vez. Basta olhar para
vocês dois juntos para saber que nenhuma artimanha de Penélope será capaz
de separá-los. E vocês podem contar comigo, vou ajudar em tudo assim que
voltar de viagem.
— Viagem? — Lorena quase grita e eu, por incrível que pareça, começo
a achar tudo muito divertido. Finalmente um homem que tira minha amiga
do sério, mesmo que ele não esteja disponível. — Eu acabei de chegar e
você vai viajar?
— Fica tranquila, Red. É rápido, vou a Florianópolis resolver uns
problemas pessoais, mas não demoro. — Ele sorri para Lorena, alheio à
minha presença e eu sinto um arrepio estranho na base da minha coluna. —
Eu volto para você.
— Red? — pergunto na tentativa de quebrar aquele perigoso clima de
sedução.
— É, Julia. — Ela sacode a cabeça irritada com a minha intromissão. —
Red, ruiva, essas porras. Que saco.
— Bem, já vou andando. Vou tomar um café com Vinicius. — Bernardo
tamborila os dedos no tampo da mesa de Lorena e se despede. — A gente se
vê depois.
Ele vira as costas, as mãos nos bolsos da calça e sai caminhando
lentamente. Observo minha amiga inclinar a cabeça e acompanhar Bernardo
até ele sumir de vista.
— E você falando que Vinicius come na minha mão...
— Ah, cala a boca, Juju! Não quero falar disso. — Ela bufa e se levanta.
— Acho um absurdo ele viajar e me deixar aqui nesse covil, sem saber
direito o que eu vim fazer aqui. Você sabe como eu detesto ficar segurando
queixo no trabalho.
— Claro, claro. — Dou uma risada, atraindo novos olhares. — Esse é o
único motivo.
— Vou te contar, você é uma mala, viu? — Ela se rende gargalhando
comigo. — Mas eu sou como o Vinicius. Eu te amo e também como na tua
mão. Agora vamos lá tomar um café?
— Ih, olha só, você vai atrás do Bernardo para ver se ele está mesmo
com o Vinicius?
— Idiota! — Ela dá um tapa no meu ombro e me encolho fingindo dor.
— Vamos no boteco ali da esquina que a gente foge dos dois e ainda olha o
mar.
— Perfeito. Vamos porque tenho muitas coisas para contar e perguntar.
Ela passa o braço pelos meus ombros e, em silêncio, partimos rumo à
comida. Quer amizade melhor do que essa?
O dia de trabalho hoje foi um dos mais tranquilos da minha vida. Depois
que me despedi de Lorena e voltei para o meu departamento, fiquei
envolvida no projeto da Teixeira e Filhos, ajudando Jonatas a entender o
funcionamento de tudo.
Ele é um cara bem agradável, jovem e divertido e, me arrisco a dizer,
tem um certo charme. Usa os cabelos ruivos sempre presos em um rabo de
cavalo e os olhos verdes brilham por trás dos grossos óculos de grau. Nunca
perguntei sua idade, mas acho que tem seus vinte e quatro anos, e quando ele
estava sentado ao lado de Lorena durante o treinamento, me peguei
pensando que eles eram muito parecidos, com seus cabelos flamejantes,
olhos claros e pele branca.
Quando perguntei sobre isso, deram risada na minha cara e Lorena ainda
disse que nem todos os ruivos do mundo eram parentes. Mas, quem pode me
culpar de desconfiar de parentescos depois de tudo que aconteceu.
— O que você acha do Jonatas?
Vinicius levantou a cabeça e me encarou. Estamos em casa, ele sentado
no sofá e eu com os pés em seu colo. Finalmente ele largou o livro do Harry
Potter e passou para algum outro de fantasia sobre dragões e maldições. Se
isso não é ser fofo, preciso atualizar minhas definições de fofura.
— Por quê?
— Ah, mas vai entrar nessa de me responder uma pergunta com outra?
— Vejo ele arquear a sobrancelha e eu desisto. — Por nada, chefe. Ele
parece ser bastante competente, mas ainda não sei se vai conseguir lidar com
a pressão que a Carina coloca nesse projeto.
— Consegue, sim. — Ele sorri para mim, fechando o livro e largando em
cima do sofá. — Ele trabalha para mim há mais de um ano e ainda não teve
um surto psicótico. Vai tirar a Carina de letra.
— Tirar de letra. — Dou um suspiro e estico o braço pegando o controle
remoto que está em cima da mesa. — Quero ver é a gente tirar tudo isso de
letra.
— Já fizemos o que dava pra fazer, Julia. Agora temos que esperar duas
semanas para pegarmos o resultado do exame de DNA.
— Vai passar rápido, você vai ver. — Sorrio para ele aparentando uma
calma que não me representa. — Ou passa rápido ou eu mato aquela mulher.
— Até que não é uma má ideia. — Ele apoia o queixo nas mãos,
pensativo e pergunta: — Você tem diploma universitário, não tem? Então
tem direito a prisão especial. Nunca transei com uma fora da lei.
— Ridículo — respondo incapaz de esconder a gargalhada. — Não vou
matar ela, mas vou rezar todas as noites para ela desaparecer da nossa vida.
Para termos paz.
— Julia, eu disse que vai dar tudo certo, agora, paz eu nunca prometi. —
Ele suspira resignado, passando os dedos pelos cabelos. — Eu conheço essa
mulher e ela vai fazer de tudo para nos infernizar. Temos que nos manter
unidos.
Estico a mão e seguro seus dedos nos meus, meu coração apertado ao
perceber que ele não tem certeza de que eu estarei sempre a seu lado.
Escorrego pelo sofá, até ficar grudada nele e declaro.
— Eu não vou a lugar nenhum. Eu te amo.
— Até que enfim, mulher diabólica! — Ele segura meu queixo entre
os dedos e beija meus lábios suavemente. — Até que enfim.
É isso, níveis de fofura devidamente atualizados. Duvido essa tal de
Penélope acabar com nosso amor.
— Isso é o que você chama de almoço?
Estou sentado em frente a Bernardo e seu prato de salada. Na verdade,
parece que ele entrou na onda vegana, vegetariana ou sei lá como se chama
esse monte de mato e folhas que estão em seu prato.
— Você ainda está esperando trazerem o bife? — insisto, mas ele nega
com a cabeça, enchendo o garfo e mastigando tudo como se fosse um manjar
dos deuses. — Que merda está acontecendo com você, Bernardo?
— Você sabia que a Lorena não come carne?
Estou sem palavras. Juro por Deus. Não consigo acreditar que meu
amigo, o maior carnívoro da história do mundo moderno, parou de comer
carne porque está encantado por uma mulher. Uma mulher que mentiu para
ele, pois ontem mesmo Julia e Lorena foram comer a tal costela defumada
mais famosa da cidade. Se isso não é comer carne, não sei o que pode ser.
— Sabia. — Decido entrar na brincadeira. — Nem carne, nem peixe e
nem frango. Se não me engano, Julia comentou algo sobre ela ter decidido
parar de comer queijo e ovo também.
Meu amigo trava por alguns segundos, o garfo pairando no ar antes de
chegar até a boca e os olhos arregalados. Eu não consigo resistir e dou uma
gargalhada.
— Cara, como você é otário. — Levanto a mão e sinalizo para o garçom
e começa a andar em nossa direção. — Lorena está implicando com você
que caiu como um pato.
Pego o cardápio que o homem me entrega e peço dois filés malpassados
acompanhados de farofa e batatas fritas. Bernardo entrega seu prato de mato
para o garçom e suspira:
— Só eu sei o que aquela ruiva anda fazendo com a minha cabeça. Só eu
e mais ninguém.
— Você tem algo para me contar? — Inclino as costas na cadeira,
cruzando os braços sobre o peito enquanto peço a Deus que eu não esteja
errado ao defender a reputação do meu amigo para Julia.
— Até tenho — ele confessa —, mas ainda não posso contar. Estou indo
amanhã para Florianópolis e, se tudo correr como espero, na volta te falo.
— Você vai para a casa dos pais da Cintia? — Estou cada vez mais
curioso pois a esposa do meu amigo não gosta muito de visitar os pais. —
Aconteceu algo com o Doutor Wagner?
O pai de Cintia tinha uma condição coronária delicada e, às vezes, dava
uns sustos na sua única filha, fazendo com que Bernardo corresse ao socorro
dos sogros.
— Ainda não. Mas nunca se sabe, não é mesmo?
— Você anda muito cheio de babaquices, Bernardo. — Minha paciência
acaba e eu declaro. — Acho bom você não me foder com essa história de
Cintia e Lorena. Se a Julia souber que você anda todo apaixonado, vai
encher meus ouvidos e com toda a razão. Coloquei minha mão no fogo por
você.
— Não estou fazendo nada de errado. — O garçom retorna e coloca o
prato na nossa frente, fazendo com que Bernardo abra um sorriso amoroso
para o filé. — Mas preciso confessar que tenho me sentido compelido a
seguir seu exemplo e tomar Lorena para mim.
— “Tomar Lorena para mim” — repito sem acreditar nas palavras dele.
— Que porra é essa? Um filme daqueles onde o homem tem direitos sobre as
mulheres e saem arrastando-as por aí? Tá louco, Bê?
— Completa e irreversivelmente. — Ele corta a carne e, antes de enfiar o
pedaço na boca, arremata. — Nada e nem ninguém vai me afastar da Lorena.
— Era só que me faltava. — Por um momento me sinto sem apetite, mas
logo essa sensação passa. — Acho bom você resolver logo essas merdas,
porque eu não dou conta de tudo ao mesmo tempo. Penélope, o moleque,
você, Lorena. Tá complicado.
— Pode ficar tranquilo, Vini. — Ele sorri para mim com aquele jeito de
bom moço e, por algum motivo inexplicável, não consigo me tranquilizar. —
Vou fazer tudo do jeito certo, prometo.
— Sei. — Começo a cortar a carne e mudo de assunto. — Estou ansioso
pelo resultado do exame de DNA.
— Ainda está no prazo. Não adianta ficar nervoso.
— Mas você é tão prático que chega a me irritar. Claro que estou
nervoso, e sabe por quê?
— Não, mas tenho a certeza de que vai me contar
— Porque até agora não tive notícias de Penélope, e isso não está me
cheirando bem.
— Ah, aí sim tenho que te dar razão. Ela deve estar tramando alguma
coisa, pronta pra estragar tua vida perfeita. Porque é assim que você está se
sentindo com a Julia, né? Em um mundo perfeito.
— Tô mesmo, e daí?
— Não precisa ser grosso. Eu sou uma das poucas pessoas, tirando seus
pais e talvez sua irmã, que sabem o quanto você sonhou com isso. Então
guarda a fúria para os outros.
— Foi mal.
— Foi péssimo.
Damos risadas e, por alguns momentos, me esqueço de Penélope e todo
nosso drama. Bernardo me conta algumas coisas sobre a viagem, sem se
aprofundar muito e terminamos nossa refeição em paz. Depois de um café
no quiosque do shopping, caminhamos sem pressa de volta ao escritório
quando ele me surpreende.
— A Julia não vai abandonar o barco, Vini. Você precisa parar de pensar
dessa forma.
— Mas eu não disse nada.
— Nem precisa. Eu sei que todo seu nervosismo não é só pelo fato de a
Penélope ter aparecido trazendo teu filho a tiracolo. Tem a ver com o fato de
que agora você tem que lidar com o seu passado e que a Julia vai ter que
participar disso. Da sua vida com Douglas, porque vai ser assim. Eu sei que
você vai querer ser presente para esse garoto.
— Ainda não parei para pensar nisso.
— Pode mentir para você o quanto quiser, mas para mim, não. — Ele
estica o braço e eu olho para onde ele aponta. — E nem para ela.
Julia vem caminhando distraída pela calçada. O telefone grudado na
orelha e um sorriso enorme nos lábios. Ela está maravilhosa, os cabelos
castanhos soltos e o corpo generoso escondido por calças sociais e uma blusa
estampada. Assim que me avista, acena para mim, e meu coração acelera um
pouco, bombeando sangue para onde não deve.
— Vou deixar os pombinhos namorarem, ainda tenho que passar
algumas ordens para o gerente que vai ficar no meu lugar enquanto eu
estiver fora.
— Espera, como assim no seu lugar?
— Vou ficar fora a semana inteira, não te falei?
— Porra, Bernardo! Logo agora que estou me fodendo de ansiedade por
causa do caralho do exame você decide tirar férias com sua esposa.
— Você vai ter que aprender a segurar a língua, Vinicius. — Ele ignora
meu desabafo, me dá dois tapinhas nas costas e completa: — Agora você
tem um filho que vai se espelhar em você. Não inventa ideia de criar um
moleque desbocado ou vai se ver com a minha mãe.
Bernardo acena para Julia e entra no prédio, deixando-me parado na
calçada, perdido no vai e vem dos quadris da minha namorada. Observo-a
desligando o celular e jogando-o dentro da bolsa enquanto apressa o passo,
em uma corridinha engraçada, até se jogar nos meus braços, sorrindo.
— Não achei que ia te ver antes do fim do expediente.
— Nem eu, mas a reunião com a Diretoria foi cancelada e saí para
almoçar com Bernardo. — Acaricio seu rosto e coloco uma mecha do seu
cabelo macio e cheiroso para trás da orelha. — Você sabia que a Lorena está
sacaneando o Bernardo? Disse para ele que parou de comer carne e o
paspalho acreditou. Hoje ele ia comer só mato.
— Salada — ela conserta, passando o braço pela minha cintura enquanto
caminhamos para dentro do prédio. — Mato é deselegante. E, não, eu não
estou por dentro dos joguinhos doentes que a Lorena anda fazendo com o
seu amigo, mas desconfio que esses dois vão nos dar um certo trabalho.
— E falando em trabalho — aponto a recepção com o queixo —, olhe só
quem está ali nos esperando.
Encostada no balcão, elegante e debochada, está Penélope. Os cabelos
presos em um coque, na tentativa de aparentar ser uma mulher séria, mas,
pelo jeito que esbravejava com a recepcionista, ela não conseguiria
convencer nem o próprio Papa.
— E lá vamos nós. — Julia manteve seu braço firme envolta do meu
corpo e eu relaxei instantaneamente, deixando minha mão pousada em seu
ombro.
Estamos a poucos passos de Penélope quando ela gira nos calcanhares,
ficando de frente para nós.
— Até que enfim, Vinicius! — Ela coloca as mãos na cintura, ignorando
deliberadamente a presença de Julia ao meu lado. — Estou te esperando há
tanto tempo que devo ter envelhecido.
— Ah, disso não tenho dúvidas — Julia comenta sorrindo cinicamente
—, seu rosto está mesmo um pouco enrugado. Talvez se você sorrisse um
pouco mais...
— Me poupe das suas observações, garota. Meu assunto é com ele, não
com você.
Sinto os dedos de Julia apertando minha cintura mas fico calado, quero
saber até onde isso vai.
— Então deixe que eu te corrija: seu assunto é com a gente. Eu e Ele.
Nós dois, juntinhos. — Ela estala os lábios e, para surpresa de Penélope,
empurra seu ombro com os dedos. — Entendeu?
— Não encoste em mim ou eu...
— Você o quê? — Julia me solta e dá um passo na direção de Penélope.
As duas têm a mesma altura e estão se encarando duramente.
Eu sei que não deveria ficar excitado com essa cena, mas estou. E muito.
Me julguem.
— Você. O. Quê? — Julia repete pausadamente e em um tom mais duro
e alto, fazendo com que várias pessoas se virem para olhar o que está
acontecendo.
— Não vou perder meu tempo com você, garota. — Penélope enfia a
mão na bolsa e retira um envelope lá de dentro, esticando-o para que eu
pegue. — Isso é para você. Meu advogado vai entrar em contato.
Penélope se vira para sair, não sem antes esbarrar seu ombro no de Julia
que sussurra entredentes:
— Vadia maldita.
Mas já não estou prestando mais atenção à cena das duas, totalmente
absorto pelo papel que ela me entregou.
— O que foi, Vinicius, está com cara de quem viu um fantasma.
— Meu apartamento. — Consigo falar. — Ela está pedindo para se
mudar para lá com o garoto pois não tem condição de continuar pagando o
hotel onde está hospedada.
Levanto os olhos a tempo de ver Penélope me olhando por cima do
ombro com um olhar de quem sabe que abalou meu mundo. Mesmo sabendo
que ela não tem direito nenhum em querer se mudar para a minha casa,
agora tenho um dilema moral para resolver: aonde abrigar meu filho?
Bem feito, Vinicius. Quem mandou não guardar o pau dentro das calças?
Tudo bem que se fosse comigo eu também iria ficar assustada. Mas
Vinicius pareceu não conseguir mais raciocinar enquanto olhava para o papel
que tinha nas mãos.
— Ei, o que é isso. — Passo a mão pelos cabelos dele. — Não pode ser
tão ruim assim, pague um hotel mais barato para ela.
— Ela tem uma ordem do juiz, para morar comigo. Na verdade, ela quer
que eu conviva com o Douglas, e um juiz aceitou isso. Tenho apenas dez
dias para acertar tudo.
— Um juiz? — Arranco o papel das mãos dele e leio o nome do tal juiz,
um camarada dono de uma fama não muito agradável. — Mas isso não é
possível, só pode ser uma armação dela. Alguém está ajudando essa mulher,
todo mundo sabe que esse cara aqui não é nada idôneo em suas decisões.
Seguro a mão de Vinicius e o arrasto em direção aos elevadores,
enquanto ele murmura:
— Ela quer destruir minha vida...
— Quer sim — afirmo sem piedade —, mas a gente não vai deixar isso
acontecer. Vamos chegar a um consenso e ter alguma ideia fabulosa.
— Sei. — Ele suspira e me abraça, sem se importar com os vários pares
de olhos que nos observam no momento. — Se a gente correr, dá pra
encontrar o Bernardo e, quem sabe chamamos a Lorena.
— Como assim? — Estou confusa. Ou será que ele já entrou em
parafuso e está maluco, em negação ou algo do gênero? — O que esses dois
tem a ver com essa história?
— Quanto mais gente pensando, melhor — ele afirma com um sorriso e
já parece um pouco mais confiante. — Você está certa, não podemos deixar
que Penélope ganhe essa guerra.
Vinicius sobe a mão até a base do meu pescoço e me puxa para um beijo
demorado e apaixonado, fazendo com que eu decida lutar ao seu lado até o
final.
***
— É óbvio que isso é armação dessa víbora, Juju!
Lorena dá um tapa na mesa, o rosto pegando fogo de raiva. Assim que
chegamos ao departamento, Vinicius ligou para Bernardo pedindo que ele e
minha amiga subissem o mais rápido possível. Enquanto a jovem
esbravejava e jurava Penélope de morte, Bernardo deu dois tapinhas
carinhosos em sua mão e puxou o papel, demorando-se na leitura.
Estou sentada sobre a mesa de Vinicius, enquanto ele digita furiosamente
um e-mail para seu advogado, pedindo instruções. De repente, um sorriso
ilumina o rosto de Bernardo.
— Julia, você está usando o seu apartamento?
— O quê? — Inclino a cabeça, sem entender muito bem o motivo da
pergunta. — Como assim, usando? Minhas coisas estão todas lá, mas eu
tenho ficado a maior parte do tempo no apartamento do Vinicius.
— Sim, sim, eu sei disso. — O sorriso de Bernardo se alarga e ele
arremata. — Então, você não se importaria de outra pessoa usar seu
apartamento por um tempo?
— Bem, ainda tenho minhas coisas lá, mas acho que tudo bem. É alguém
conhecido? Não estou entendendo o que isso tem a ver com... — A ficha
caiu, muito bem, cérebro! — Ah, que maravilha!
Começo a rir e ele me acompanha, enquanto Lorena e Vinicius trocam
olhares espantados e Bernardo explica.
— Como o juiz declarou que Douglas tem que conviver com você — ele
aponta para o amigo —, vamos colocar a Penélope no apartamento da Julia e
o menino passa a morar com vocês dois no seu apartamento. Acho que a
Julia não vai se importar, certo?
Ele olha para mim e concordo com a cabeça, pois é verdade. Não vou me
importar de ter aquele menino morando com a gente e de dar a chance de
Vinicius conhecer seu filho enquanto Penélope luta para se adaptar à vida
simples no meu singelo apartamento.
— Gente, como não pensamos nisso antes? — Olho para Vinicius que
me presenteia com um sorriso genuinamente aliviado. — Acho que, no final
das contas, vamos acabar nos divertindo com toda essa situação.
— Sim, pode ser. — Ele olha para Bernardo e confirma. — Ótima ideia,
meu amigo, perfeita mesmo. Mas vou esperar o Bianchi me ligar para
confirmar que podemos fazer isso sem deixar nenhuma brecha. Você sabe
muito bem do que a Penélope é capaz e eu ainda acho que ela tem alguma
carta na manga.
— Não tenho nenhuma dúvida sobre isso. — Lorena rebate, ainda com
os olhos pegando fogo de raiva. — Assim que vi aquela mulher pela
primeira vez, tive a certeza de que ela não valia nada. Vocês sabem, com o
histórico familiar que eu tenho, fica fácil pra mim identificar esse tipo de
pessoa.
Vejo minha amiga dar de ombros e não sei se ela está falando apenas de
Marcelinho ou se ela tem alguma outra história para contar. Meu coração se
aperta um pouco e decido que, assim que isso passar, vou me sentar com ela
para conversar.
— Bom… — Bernardo se levanta e, olhando ao redor, avisa: — Como já
resolvemos essa situação delicada, preciso voltar às minhas obrigações antes
da viagem.
— Então é verdade essa coisa de viagem? — Vejo minha amiga levantar
seus olhos verdes para ele e, mais uma vez percebo um fogo em seu olhar,
mas diferente do que ela mostrou antes.
— Sim. — Ele coloca a mão no ombro dela e observo Lorena relaxando
o corpo. — Mas não demoro, prometo.
— Que palhaçada é essa, vocês dois?
Sou uma mãe ursa pronta para defender meu filhote de um ataque de
leopardos, ou, quem sabe, aquela mãe galinha que coloca os pintinhos
embaixo da asa. Podem decidir em qual desses tipos eu me encaixo.
— Palhaçada nenhuma — minha amiga responde sem me olhar. — Eu
não me sinto segura ainda para trabalhar sem supervisão.
— Ah, mas faça-me o favor, Lorena! Você pensa que está enganando a
quem? — Bufo, desço da mesa e deposito um leve beijo nos lábios de
Vinicius, que sorri de forma divertida. — Eu vou embora, sabe? Vocês que
lidem com seus problemas porque eu já tenho uma cobra para matar e
mostrar o pau.
Todos começam a rir e eu saio sem olhar para trás, certa de que terei que
lidar com essa história de amor entre os dois irresponsáveis assim que
conseguir resolver minha vida com Vinicius.
Alô, Universo, não dava para você mandar um problema por vez?
— Você acha que a gente deveria trepar em todos os cômodos do
apartamento e deixar um milhão de preservativos espalhados para que ela
recolha?
Estou fechando a última caixa de mudança da minha namorada. Julia vai
morar comigo definitivamente e, no que depender de mim, para sempre. A
sugestão dela me deixa animado e sinto meu pau pulsar dentro da calça jeans
depois de uma semana inteira de descanso. Foram tantas coisas a serem
resolvidas nas inúmeras reuniões com os advogados que eu nem tive tempo
de pensar em sexo.
Tá, mentira. Pensei sim, mas meu corpo estava tão cansado que quando
eu finalmente caía na cama ao lado de Julia, estava roncando feito um porco
em questão de minutos. Veja bem, ela diz que ronco feito um porco, eu
discordo totalmente. Mas, agora que ela sugeriu, o Senhor Pau acordou e
está me cutucando de maneira insistente. Largo a fita adesiva no chão e
engatinho até onde ela está sentada, rasgando papeis e enfiando-os em sacos
pretos que serão jogados no lixo.
— Você está falando sério? — Beijo seu ombro e ela sorri para mim
daquela maneira sedutora que me deixa louco. — Podemos começar agora?
— Acho que já perdemos tempo demais — ela declara enquanto empurra
os papeis para longe e me puxa para um beijo longo e apaixonado.
Afasto os joelhos dela com as mãos em encontro o meu lugar no mundo:
entre as pernas macias e quentes de Julia. Meu pau parece ter dobrado de
tamanho e, se ele pudesse, juro que teria encontrado o caminho para fora do
jeans por conta própria. Ela entrelaça as pernas na minha cintura e se esfrega
contra minha ereção, inclinando a cabeça para trás, com os olhos fechados e
a boca entreaberta. Deito por cima dela e acaricio seus lábios com meu
polegar, esfregando-o contra sua pele macia para logo sentir a ponta da
língua rosada dela brincando com meu dedo. Deslizo o dedo para dentro de
sua boca e Julia abre os olhos e começa a sugá-lo lentamente, como se ele
fosse um delicioso picolé. Fecho os olhos e sinto meu pau latejando
enquanto ela chupa meu dedo sem parar. Vocês não imaginam o tesão que é
saber que ela gosta do sabor da minha pele e mal posso esperar para sentir
sua boca quente em torno do meu pau.
Como se tivesse lido meus pensamentos, Julia desce as mãos pelo meu
peito até encontrar o botão do jeans e abre minha calça, enfiando os dedos
pela cueca até prender a cabeça do meu pau em suas mãos macias. Um
gemido escapa dos meus lábios e eu tiro o dedo da sua boca, tomando-a na
minha, procurando sua língua enquanto ela me masturba com força.
De repente não sinto mais sua mão em mim e vejo que ela está retirando
um preservativo de dentro da minha carteira. Em que momento essa mulher
conseguiu pegar a minha carteira no bolso da calça? Ela me deixa tão
alucinado que não consigo prestar atenção em mais nada, somente em Julia.
Me livro do jeans e da cueca e sinalizo para que ela apenas afaste a calcinha.
Não é amor o que vamos fazer, é sexo, urgente e faminto.
Ela apenas sorri, abre as pernas e afasta a calcinha vermelha para o lado
presenteando-me com a visão deliciosa da sua boceta lisinha e rosada. Eu
estou de joelhos, literalmente, e seguro seus tornozelos apertando-os com
força enquanto declaro.
— Você me deixa louco, Dona Julia. Tenho vontade de fazer mil coisas
inapropriadas com você.
O sorriso dela é sexy e seus olhos estão embaçados de tesão. Julia desliza
a mão até a renda da calcinha e começa a se tocar suavemente, passando a
língua pelos lábios e me fazendo perder o controle.
— Então, faça, chefe. — A danada desliza o dedo para dentro da boceta
e inclina a cabeça para trás, se oferecendo para mim. Esse é um convite que
eu jamais irei recusar.
Quero muito fodê-la até que todos nesse prédio escutem seus gritos, mas
antes de qualquer coisa, preciso sentir seu gosto. Mergulho o rosto entre suas
pernas e beijo sua mão, afanando-a do lugar que é meu por direito. Mordo a
carne macia, beijos os lábios molhados e enfio a língua na bocetinha de
Julia, chupando e mordiscando até encontrar seu clitóris. Não sei quanto
tempo passei entre suas coxas, me deliciando com seus gemidos e gritinhos,
mas quando senti os dedos de Julia em meus cabelos, puxando meu rosto
contra sua boceta, intensifiquei meus movimentos até que ela gozou na
minha língua.
E puta que o pariu, que tesão essa mulher me faz sentir.
Sem demora, me posiciono sobre seu corpo, beijando-a enquanto suas
mãos colocam meu pau na entrada da sua bocetinha molhada, fazendo-o
deslizar com facilidade. Ela me aperta com os joelhos e eu começo a fodê-la
com força, coisa que descobri que Julia gosta, e muito.
O sexo é rápido e faminto, basicamente uma trepada das boas e, quando
ela crava os dentes em meu ombro, sinto o gozo tomando conta de mim e
chamo seu nome entredentes, caindo em seus braços.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que ela me cutuca e
sussurra:
— Tira esse preservativo e deixa em cima da pia da cozinha. — Eu
levanto a cabeça e ela tem uma expressão perversa e divertida nos olhos
quando completa. — Ainda bem que ainda não trocamos nossos exames e
estamos usando camisinha, pois tive uma ideia maravilhosa. E trate de se
recuperar logo pois ainda temos que transar na sala e no banheiro. Vamos
encher esse apartamento de sexo para essa sua ex-namorada não ter um
segundo de paz.
Por Deus, eu amo mesmo essa mulher.
O domingo passa de forma muito agradável. Logo depois de nos
despedirmos de Dona Rosa, meu celular apita com uma mensagem muito
enigmática de Bernardo, que diz estar tudo correndo dentro do planejado e
que ele voltaria em dez dias para me pôr a par de tudo.
Fico com uma pulga enorme atrás da orelha e quando respondo
insistindo que ele me conte alguma coisa pois nunca houve segredos entre
nós, ele diz que eu tenho que esperar dez dias e que isso não é nada
comparado aos anos que ele teve que esperar para saber que eu havia
transado de novo com a Penélope.
Acho o argumento válido e não insisto mais. Em vez disso, aproveito o
domingo em família, comendo bife com batata frita, bolo de chocolate,
pipoca e assistindo vários desenhos na TV. Quando meu filho finalmente
desmaia de cansaço no sofá, pego-o no colo e levo o moleque para a cama,
me sentindo um cara extremamente sortudo e feliz.
Julia se aconchega em meus braços e, por incrível que pareça, não
transamos, ficamos apenas conversando até que ela começa a falar várias
coisas sem sentido na tentativa de manter a conversa mesmo já batendo a
cabeça de sono.
Os dias passam voando e, entre nossa rotina matinal e a chegada de Dona
Rosa, tudo dá certo e, quando menos esperamos, estamos a caminho do
escritório. O trânsito nessa manhã de sol no Rio de Janeiro é pesado, parece
que muita gente está indo à praia ao invés de trabalhar e, quando vou
comentar isso, Julia se adianta.
— Uma das coisas que eu mais gosto sobre morar em uma cidade onde
os outros passam as férias é esse eterno ar descontraído. Sempre tem uma
multidão de pessoas se divertindo enquanto outras vão trabalhar. Gosto
demais disso tudo.
— Também gosto, mas confesso que sinto uma certa inveja. Gostaria de
estar indo à praia também, tomando uma gelada e aproveitando o sol como
um velho lagarto.
— Consigo imaginar você aproveitando o sol de várias maneiras, mas
nunca como um velho lagarto. — Ela me oferece um lindo e charmoso
sorriso e ficamos em silêncio o restante do trajeto. Assim que chegamos ao
escritório o ritmo frenético nos sufoca e não vejo Julia até que finalmente
chega a hora de voltar para casa.
Nos encontramos em frente aos elevadores, rodeados por uma multidão
de funcionários comemorando mais um fim de expediente. Nosso romance
ainda não caiu na boca do povo, então me reservo o direito de observá-la de
longe, interagindo com os colegas, e tenho que admitir que ela ilumina o
ambiente. Julia fala alguma coisa engraçada e todos riem quando ela manda
os amigos entrarem no elevador, ficando para trás.
— Enfim sós. — Ela sorri para mim e me entrega a pasta pesada com o
notebook. — Mal vejo a hora de entrar nesse elevador com você e apalpar
sua bunda.
— Que isso, Dona Julia! — Aperto o botão várias vezes seguidas,
simulando urgência, e ela dá uma franca gargalhada.
— Dona Rosa me mandou algumas fotos no celular, parece que ela e
Douglas passaram o dia em paz e harmonia. — Levanto as sobrancelhas ao
ver meu filho entretido com um enorme quebra-cabeça. — Além disso, ela
fez comida pra gente, estrogonofe de mignon com arroz fresquinho e batata
palha. Podemos ficar com ela para sempre?
— Podemos sim, meu amor. — De forma discreta, coloco uma mecha
dos seus cabelos para trás da orelha. — Podemos tudo nessa vida.
Entramos no elevador e, assim que as portas se fecham, Julia agarra
minha bunda como havia prometido, algo que me deixa extremamente
excitado. Ah, as coisas que ela consegue fazer comigo!
Chega o dia de levar Douglas até a nova escola e descubro que estou tão
nervosa como se fosse eu a pessoa a ser entrevistada e estivesse disputando
uma vaga de emprego na Google. Sinceramente, não sei o que se passa na
cabeça dessas pessoas que decidem entrevistar uma criança, que tipo de
coisa vão perguntar? Se come chocolate ou se gosta de brincar ou prefere ver
televisão? Quando paro para pensar, acho que isso parece mais com um teste
para Jogos Vorazes do que com uma conversa amigável para ver se o menino
é qualificado para correr feito um louco pelos corredores desse colégio
chique da Zona Sul da cidade.
Assim que acordei, estava tão estressada com a probabilidade de falar
alguma coisa que pudesse acabar com as chances do garoto, que pedi a
Vinicius que não me levasse junto com eles. O homem ficou tão bravo que
me deixou ainda mais nervosa com seu discurso inflamado sobre como
“agora somos uma família e famílias passam por tudo juntos” que, juro por
Deus, senti meus pés suando e inchando. Obviamente, tudo coisa da minha
cabeça e quando falei isso para ele, Vinicius deu muita risada e me empurrou
para dentro do quarto para que eu trocasse de roupa.
Agora estamos sentados na praça de alimentação do shopping e Douglas
não para de sorrir para o enorme milk-shake de chocolate que está à sua
frente. No final das contas, ele encantou a todos com seus belos olhos e seu
jeito dócil quando prometeu que iria ser o menino mais comportado do
mundo. Quando a diretora sisuda deu um sorriso enorme para ele percebi
que vou ter muito trabalho com esse menino quando ele chegar à
adolescência.
Nesse momento meu cérebro dá sinal de vida e berra sem necessidade:
“Pera aí, Julia! Que história é essa de já estar sonhando em ficar casada com
Vinicius por tempo suficiente até que Douglas esteja praticamente adulto?”
Casada! Não para...
— Falando sozinha de novo?
Vinicius está me olhando com um sorriso muito sexy e eu me apresso em
explicar:
— Você sabe que eu falo sozinha quando estou nervosa e ainda não me
recuperei de toda aquela cena de cinema da escola. Se fosse eu, e não
Douglas a ser entrevistado, com toda certeza não teria sido aceita.
— Seria sim, Julia. — Ele pega minha mão sobre a mesa e faz um
carinho gostoso nos meus dedos, e meu corpo reage na mesma hora. — Você
tem um jeito especial de tratar as pessoas e conquista todos ao seu redor.
Mas como parece que não consegue enxergar isso da mesma forma como eu
enxergo, então vai ter que aceitar quando eu digo que é muito fácil se
apaixonar por você.
— Ah, Vinicius — suspiro enquanto rolo os olhos de forma teatral —,
você é um brutamontes com um coração molenga e eu confesso estar bem
apaixonada por você.
Ele se inclina na minha direção mas, antes que seus lábios toquem os
meus, Douglas interrompe nosso momento romântico.
— Vocês vão se beijar na frente de todo mundo?
Ele está com o rosto todo sujo de milk-shake e não parece muito
satisfeito. Vinicius solta minha mão, pega um guardanapo e, enquanto limpa
o rosto do filho pergunta, como quem não quer nada.
— Isso incomoda você? — Douglas não responde e ele continua: —
Você sabe que quando as pessoas se gostam elas se beijam e se abraçam em
público e está tudo bem em ser assim, não sabe?
— Não sei de nada disso, não. — Ele dá de ombros. — Mamãe nunca
beijou o meu outro pai na minha frente, era sempre escondido.
— Outro pai? — Vinicius me olha disfarçadamente e diz: — Não sabia
que você tinha um outro pai além de mim. Ele te ama tanto quando eu já
amo?
— Acho que não, sabe? Ele mandou a gente embora depois que brigou
muito com a mamãe. Daí a gente saiu correndo e agora estamos aqui. Você
não vai brigar com ela e mandar a gente embora também, vai?
— Nunca mandarei você embora, filho.
Fico em silêncio observando meu namorado que acabou de descobrir
mais uma parte da história por trás do aparecimento de Penélope e me
pergunto o que tem de podre aí que ainda não sabemos. Vinicius pega
Douglas pela mão e oferece a outra a mim e, juntos, vamos caminhando em
direção ao estacionamento.
De alguma forma, sabemos que não é o momento para falar nada.
Como hoje é o meu dia de ficar trabalhando de casa, Vinicius nos deixa
em frente ao prédio e segue para o trabalho. Dona Rosa já está com a mesa
do almoço arrumada e o aroma gostoso da comida enche o ar fazendo meu
estomago roncar. Enquanto almoçamos, conto tudo a ela, nos mínimos
detalhes e damos algumas gargalhadas quando menciono meu nervosismo
sentada no escritório da diretora da nova escola do Douglas.
Enquanto Dona Rosa retira os pratos da mesa, aproveito para levar o
menino para escovar os dentes e tirar uma soneca, coisa que ele faz sem
reclamar, esfregando os olhos sonolentos. Dou um beijo nele e me dirijo
para o escritório que montamos em casa, encontrando uma posição
confortável para poder trabalhar o resto da tarde.
Estou muito bem acomodada, deitada no chão com os pés apoiados na
almofada do sofá, relendo um relatório chatérrimo pela terceira vez quando
escuto o interfone tocar e logo em seguida vejo Dona Rosa colocando a cara
na porta.
— Minha querida, tem uma moça lá na recepção insistindo em subir para
ver o Douglas. Segundo o porteiro, ela é muito grosseira e diz ser a mãe do
menino.
— Ah, era só o que me faltava. — Largo os documentos no chão e me
levanto com o coração acelerado de indignação. — Não estou acreditando
que essa mulher teve a ousadia de vir aqui sem sequer avisar antes. É o
cumulo da falta de educação. Quem ela pensa que é.
— O porteiro disse que ela está bastante nervosa. Você prefere que eu
diga que vocês não podem atender?
— Imagina, Dona Rosa. — Dou um sorriso tranquilizador para a coroa
mas, por dentro, estou fervilhando de raiva. — Pode mandar a infeliz subir.
Ouço Dona Rosa dando as instruções ao porteiro e mando uma
mensagem de texto para Vinicius, respirando fundo enquanto preparo meu
espírito para enfrentar Penélope. Esqueço por completo que estou de shorts,
camiseta e descalça, até que ela entra na sala.
Apesar do calor que faz lá fora, ela usa uma camisa de manga comprida
de seda creme e uma calca preta impecável. A mulher é tão elegante que, ao
vê-la equilibrada nos saltos altíssimos, percebo que ela não tem um fio de
cabelo fora do lugar.
Eu?
Gente, sou eu, né? Estou com um rabo de cavalo e de shorts em casa. Na
minha casa.
Na minha casa onde moro com o meu namorado e o filho dele. Deu pra
entender ou tenho que desenhar?
Faço de conta que a elegância dela não me incomoda e, cruzando os
braços sobre o peito, pergunto de forma desafiadora.
— O que você veio fazer aqui? Se veio ver o Douglas, saiba que ele está
dormindo e eu não tenho nenhuma intenção de interromper seu sono.
— Ele está bem?
É tudo que ela diz e eu percebo um ligeiro tremor em sua voz. Paro para
analisar Penélope com um cuidado maior e, de cara, posso dizer que tem
algo de estranho na sua postura. Quando ela leva a mão até os cabelos, suas
unhas antes tão longas e esmaltadas com capricho estão agora roídas e ela
não para de morder a bochecha por dentro da boca.
— Sim, para sua informação Douglas está superbem, feliz e com saúde.
— Arqueio a sobrancelha, dou dois passos em sua direção e pergunto. —
Você veio até aqui apenas para saber se o menino está bem? Podia ter
telefonado, Penélope.
Ela não me responde, mas aperta a bolsa de grife contra o corpo e
caminha nervosa até a janela, olhando para fora como se procurasse algo ou
alguém na orla da praia.
— Ei, você não me parece nada bem. — Chego perto dela, toco em seu
ombro, e ela se encolhe instintivamente. — Calma, garota, senta aqui no sofá
que vou trazer alguma coisa para você beber.
A loira se senta mecanicamente, mas não relaxa, mantendo a bolsa presa
junto ao corpo. Dona Rosa aparece, como que por mágica, trazendo uma
jarra de suco de laranja e eu entrego um copo a Penélope, que aceita sem dar
uma palavra.
— Vai me contar o que está acontecendo, ou vai apenas ficar sentada no
meu sofá bebendo suco fresquinho?
— Eu só queria saber se estava tudo bem com ele.
A voz da megera sai em um sussurro e isso me incomoda demais. Uma
coisa é entrar no campo de batalha para enfrentar um inimigo poderoso,
outra é ter uma pessoa trêmula e amedrontada na sua frente, sem oferecer
resistência. E é exatamente assim que eu enxergo Penélope nesse momento.
Ainda assim, não vou dar moleza para ela.
— Não me venha com esse papo de mãe preocupada. — Dou um tapinha
no joelho dela que, mais uma vez, se encolhe, e insisto: — O que você está
escondendo de mim nessa linda tarde de verão?
Penélope faz um movimento brusco com os braços e eu consigo
vislumbrar marcas roxas em seu pulso.
— O que é isso, garota? — Tento puxar seu braço para poder olhar de
perto, mas ela resiste. — O que diabos aconteceu para você estar assim
assustada e, ainda por cima, machucada? Foi assaltada ou algo assim?
— Isso não é da sua conta, Julia!
E, pronto! Madame parece estar plenamente recuperada, pois coloca o
copo em cima da mesa e se levanta do sofá cheia de pose. Qualquer que
tenha sido o momento de fraqueza, Penélope havia superado.
— Eu só passei aqui para saber se meu filho está bem, uma vez que não
tenho notícias dele há quase uma semana. — Ela dá uma risada seca. —
Aposto que você e o Vinny estão fazendo de tudo para que Douglas esqueça
que tem uma mãe e, não se engane, biscatinha, a mãe dele sou eu e não
você. Você nunca vai ser a mãe dele, entendeu?
Sem me dar tempo de responder, ela marcha em direção à porta, mas,
antes de sair, ainda tem a ousadia de avisar.
— Vocês pensam que ganharam essa guerra e que estão livres. Fique
sabendo que não poderiam estar mais enganados.
Vejo a loura sair batendo a porta atrás de si e tiro meu celular do bolso
para conferir não uma, mas dezoito mensagens de Vinicius, sendo que na
última ele avisa que se eu não responder ele vai largar tudo e voltar para
casa. Como um de nós dois precisa trabalhar de verdade para sustentar a
casa, resolvo ligar para ele, que atende no primeiro toque.
— Quer me enlouquecer, Julia? Penélope está fazendo o que aí?
— Calma, chefe. Ela já foi. — Me recosto no sofá, apoio o calcanhar na
mesa de centro e confesso. — Essa visita da megera foi muito estranha, viu?
Conto, em detalhes, meu bate-papo com Penélope e finalizo com o cereja
do bolo.
— Eu acho que ela está sendo vítima de abuso, Vinicius.
— Faça-me o favor, Julia. — A voz dele me soa desanimada. — Não
consigo acreditar que ela é capaz de enganar até mesmo você. Claro que não
está sofrendo abuso, isso tudo aí faz parte de mais uma das atuações insanas
dessa manipuladora. É exatamente isso que ela faz, chega como quem não
quer nada e, quando você percebe, já mexeu com a sua cabeça.
— Você pode estar certo, mas...
— Não me venha com “mas”, Julia — ele me interrompe com
veemência. — Eu não vou deixar que ela enrole você do mesmo jeito que
me enrolou. Não vou cair mais uma vez na teia de mentiras da Penélope.
— Vinícius, eu acho que você precisa conversar com ela.
— Não vou porra nenhuma, Julia — ele berra do outro lado da linha e
logo se arrepende. — Desculpe, não tem a ver com você, e sim com o fato
de que essa mulher voltou do nada para desestabilizar a minha vida. Não vou
permitir isso.
— Tudo bem. — Dou de ombros apesar de saber que ele não pode me
ver e completo com a minha melhor voz de gata mansa. — Quando você
chegar em casa a gente conversa, mas você sabe o que é melhor para sua
vida.
— Sei mesmo — ele concorda. — E não vou dar espaço para essa cobra
se criar.
— Tá, não sei mais o que cantar para te distrair. Vamos sair daqui e
caminhar até a padaria ali da esquina e beber um suco.
Estamos esperando Vinicius no carro há apenas dez minutos, mas não
consigo me conter. Alguma coisa parece estar me incomodando, podem
chamar de sexto sentido ou sentido aranha, só sei que preciso sair desse
carro.
— Suco? — Douglas inclina a cabeça e me olha confuso. — Mas você
não gosta de suco, só de Coca-Cola.
— Oh, menino que acha que sabe tudo! — Desmancho o cabelo dele
com os dedos e abro a porta para sairmos. — Vamos logo que eu tô com
sede.
Saímos do carro e, enquanto estou procurando a carteira na bolsa, ele
puxa minha saia e aponta para seu tênis que está desamarrado. Me abaixo e
começo a contar uma piada para ele enquanto refaço o laço, até que ele fala
com uma voz estranha.
— Tio, o que você tá fazendo aqui?
“Tio, mas que tio é esse, meu Deus?”
Contrariada com a chegada de alguém que possa querer bater papo,
levanto os olhos e me deparo com o meu pior pesadelo. Marcelinho está
parado ao nosso lado, passando a mão pelos cabelos de Douglas.
— Vim visitar sua mãe, mas parece que ela já tem companhia, então vou
levar vocês dois para dar uma volta. O que acha, Julinha?
Antes que eu possa responder, sinto o toque frio do metal contra a minha
cintura e sei que não tenho como sair dessa enrascada sozinha.
Parado nas sombras, observo Julia dentro do carro tagarelando sem parar
com aquela criança. Algo nessa cena me deixa muito irritado e sinto uma
coisa estranha ao vê-la cuidando do moleque com tanto carinho quando, na
minha mente, eu só consigo lembrar dos nossos momentos de tesão entre os
lençóis.
Nunca parei para imaginar essa mulher como nada além de um
brinquedinho, uma tola que era capaz de fazer qualquer coisa para me
agradar. Julia sempre esteve disponível para mim, de todas as formas que eu
quisesse e quando eu quisesse, fazendo disso uma das coisas que eu mais
adorava nela. Além do fato de ela sequer desconfiar que eu era casado e do
fato de que aquele nosso rolo jamais passaria daquilo. Quando ela começou
a ficar melosa demais, insinuando que queria passar mais tempo comigo em
outros lugares que não fosse a cama, tratei de tomar um chá de sumiço, sem
dar maiores explicações.
Claro que contei com a ajuda do meu pai para me acobertar durante os
meses em que me relacionei com ela. Como minha mãe nos abandonou
quando eu ainda era muito novo, fui criado tendo como base apenas as
opiniões do meu pai, e foi com ele que aprendi que meus desejos vêm em
primeiro lugar e que mulher nenhuma merecia meu amor incondicional ou
minha fidelidade. Por anos pratiquei essa regra ao pé da letra, inclusive com
a minha esposa Carina, que parecia nem se importar tanto com as minhas
escapadas que, com o passar do tempo, tornaram-se cada vez mais
frequentes.
Carina é uma dessas mulheres extremamente práticas que coloca as
obrigações sempre como prioridade, sem tempo para sentimentalismos ou
fantasias. Nosso casamento nunca foi um mar de rosas e toda a empolgação
do namoro realmente não passou disso: empolgação. Pense em uma mulher
fria, distante e calculista: é a minha esposa. O sexo entre nós se resumia a
um papai e mamãe muito tradicionalista e com a mesma frequência que o
Sol aparecia em uma das cidades do Alasca: três meses. Como uma mulher
pode se dar ao luxo de regular sexo ao marido e ainda assim esperar que ele
não saia em busca de uma safada gostosa para trepar?
Foi em uma das visitas ao meu pai que conheci a Julia e seu corpo
deslumbrante. Soube que ela carente no momento em que me ofereci para
ajudá-la e ela levantou aqueles olhos brilhantes para mim, como se fosse
uma cadelinha que tivesse encontrado um novo dono. Tivemos nosso
primeiro encontro em um barzinho escondido do subúrbio e depois, com a
desculpa dos horários malucos que ela tinha no trabalho, foi muito fácil
mantê-la dentro de casa. Eu comia a Julia de três a quatro vezes na semana, a
fodia tanto que não sei como ela conseguia andar no dia seguinte. Só de
pensar no barulho que meu pau fazia deslizando pela boceta sempre
encharcada daquela mulher, fico enlouquecido de tesão. Mas, tudo que é
bom dura pouco e, como a carência dela parecia aumentar, tive que pular
fora.
Claro que eu jamais imaginaria encontrá-la novamente em uma reunião
de negócios na paradisíaca Angra dos Reis. Poderia ter me comportado e
contado alguma história triste na tentativa de envolver e enganar Julia mais
uma vez, trazendo-a de forma dócil até minha cama, acontece que já não
tenho mais paciência para esse tipo de jogos. Queria me aproveitar de todas
as suas qualidades e devorar cada pedaço daquele corpo delicioso mais uma
vez, mas, para minha surpresa, a vadiazinha me rejeitou. Assim que aquele
tal Vinicius apareceu em cena entendi que ela já havia me substituído e que
para conseguir algo dela, teria que ser à força.
Vamos combinar que um pouquinho de força e brutalidade no sexo não
fazem mal a ninguém? Julia sempre gostou do meu vigor e nunca reclamou,
bastou se envolver com outro cara para vir com essa história de que eu tentei
estuprá-la. Ela não tem ideia do que suas falsas acusações fizeram comigo.
Perdi a esposa, a posição executiva na empresa e agora tenho que morar de
favor em um dos apartamentos do meu pai enquanto passo por esse divórcio
vexaminoso. Bom, pelo menos essa mudança de ares me levou a conhecer
Penélope.
Levo a mão até o meu nariz que ainda incomoda bastante depois de ter
sido quebrado pelo brutamontes, e sinto uma onda de raiva me consumir
enquanto me preparo para o golpe final. Ou eles achavam mesmo que eu ia
deixar passar em branco.
Vi o momento exato em que Vinicius entrou no prédio e, sabendo da sua
história com Penélope, tenho certeza que ele não vai demorar muito. Isso faz
com que eu me apresse em dar andamento à minha vingança.
Penélope foi um grande golpe de sorte do destino. Sozinha e carente, ela
achou que eu era mais um dos idiotas que ela estava acostumada a enrolar
quando me viu naquele bar de subúrbio, o mesmo que eu havia levado Julia
em nosso primeiro encontro. Porém, mal sabia ela que o acaso tinha feito
dela minha arma perfeita. A loira havia acabado de chegar ao Rio e me
confessou entre drinks, que tinha certeza de que iria conseguir o ex de volta
por causa do filho, mas acabou tendo a surpresa de descobrir que o camarada
estava de namorada nova e totalmente apaixonado. Quando eu descobri que
ela estava falando de Vinicius e Julia, não deixei de pensar em como esse
mundo é um cu de tão pequeno, e agradeci minha sorte. Foi muito fácil
manipular a loira para que ela me trouxesse informações sobre o casal, até
que, um dia, ela se rebelou e eu tive que apelar para a força.
Eu não era assim, violento, mas no decorrer do meu relacionamento com
Carina, sofrendo as constantes humilhações verbais que sempre terminavam
com a velha história de eu ser um cafajeste que se casou por dinheiro,
desenvolvi um certo gosto pela agressividade. Todas as vagabundas que
acabavam na minha cama eram tratadas como tais, tapa na cara, puxão de
cabelo e palavras de baixo calão. Eu sinto um prazer intenso em bater na
cara delas e se a mulher for loira então, sento a mão com vontade. Julia fugiu
à regra pois eu não queria me arriscar a ter a polícia aparecendo no prédio
onde meu pai mora, portanto nada de tapas ou socos, apenas sexo violento
para satisfazer minhas frustrações.
O plano que elaborei é muito simples: sequestrar Julia e esse moleque e
exigir um resgate, uma quantia que Vinicius seja capaz de conseguir em
pouco tempo. Tudo estava muito bem organizado até que, ontem, a idiota da
Penélope teve uma crise de consciência e ameaçou me entregar a polícia. Eu
poderia ter desistido de tudo, mas não quero passar o resto da minha vida
morando nesse bairro que aprendi a detestar, então resolvi as coisas com a
loira do modo mais eficaz possível, mostrando a ela do que eu sou capaz e,
enquanto ela sentia minha mão queimando sua carne, avisei que se ela
abrisse o bico nunca mais veria o filho.
Acreditei ter conseguido assustá-la e agora me deparo com o carro de
Vinicius parado na rua, com Julia e Douglas conversando alegremente lá
dentro. A maldita deve ter dado com a língua nos dentes e eu não tenho
outra opção a não ser agir agora.
Olho ao meu redor e vejo um pedaço de cano no chão, perfeito para fazer
o papel de arma de fogo e, no momento em que Julia sai do carro, caminho
rapidamente ao seu encontro. O moleque me vê primeiro e arregala aqueles
imensos olhos azuis.
— Tio, o que você tá fazendo aqui?
Acho engraçado o medo na voz do menino. Parece ser muito mais
esperto que a mãe, pois não demorou a entender que eu sou perigoso. Ponto
para ele. Julia levanta os olhos e quase cai no chão quando me vê, me
deixando com um gosto de vitória na ponta da língua enquanto estico a mão
para tocar os cabelos do moleque sem nenhum carinho.
— Vim visitar sua mãe, mas parece que ela já tem companhia, então vou
levar vocês dois para dar uma volta. O que acha, Julinha?
Ela se levanta e, antes que consiga me dar uma das suas respostas
engraçadinhas, pressiono a ponta do cano contra sua cintura e, pela forma
como ela me encara, sei que Julia acredita que estou armado de verdade.
Como é fácil enganar essa mulher!
Se eu disser para você que sei o que é ter uma vida difícil, estarei
mentindo. A grande verdade é que tudo sempre veio de forma muito fácil
para mim, desde a beleza até a minha inteligência, usada sempre para coisas
que não eram lícitas. Na juventude, apliquei muitos golpes e nunca perdi
uma noite de sono me remoendo com remorsos. Nada do que fiz me
assombrava, nem mesmo o fato de ter raspado todas as economias de
Vinicius me fez ter vontade de me redimir. Partia de um golpe para o outro,
sempre aproveitando ao máximo tudo que o dinheiro dos outros tinha para
me oferecer.
Mas a vida desregrada que eu adorava levar, recheada de festas e
compras, cobrou o seu preço antes do que eu esperava e, quando chegou o
momento de aumentar o nível das minhas vítimas, fiz as malas e fui para
onde os ricos estão, São Paulo. De início segui a mesma receita, aplicando os
velhos golpes que sempre tinham como alvo os homens carentes e com baixa
autoestima. Tudo ia conforme o planejado, até que encontrei Enrico e, pela
primeira vez em toda a minha vida, me apaixonei perdidamente.
Preciso que você entenda que não caí de amores apenas por ele, mas
também pelo condomínio de alto nível onde ele morava, pela lancha que
levava até quatorze passageiros em festas regadas ao mais caro champanhe e
pela casa na Riviera, os carros de luxo e toda a badalação. Tudo isso fez com
que eu me encantasse, mas me apaixonei de verdade por ele.
Acontece que Enrico tinha um grande sonho, ele queria ser pai, algo que
não despertava meu interesse. Mas, aos quarenta anos, esse homem de físico
maravilhoso, com seus cabelos pretos e enormes olhos azuis não queria
perder tempo e, apesar de se confessar apaixonado por mim, não hesitou em
afirmar que, sem um filho, nosso relacionamento estava fadado ao fracasso.
Não teve jeito de escapar e, então, comecei a tentar engravidar, de forma
feroz, sendo mensalmente desiludida pela chegada da minha menstruação.
A tão sonhada gravidez não acontecia, e Enrico começava a perder
interesse em manter nosso relacionamento. Pedi a ele que fizesse os exames
e me ofereci para fazer também, para que descobríssemos se havia algo
errado que atrapalhasse a concepção, mas ele foi irredutível e afirmou que
ele não tinha nenhum problema, que só poderia ser um defeito meu. Fiquei
desesperada, até que o destino foi muito bacana comigo e me colocou em
uma boate, em uma despedida de solteira de uma das minhas amigas, no
mesmo dia em que Vinicius estava se embebedando. Quando o vi sentado no
canto, a ideia se formou na minha cabeça e parti para o ataque.
Ambos eram altos, cabelos pretos e olhos azuis e, naquele momento,
decidi que se Enrico não me dava um filho, Vinicius me daria. Foi muito
fácil me aproveitar dele na boate enquanto dançava de forma sedutora e
sussurrava obscenidades em seu ouvido. Ele repetia que era um sonho, que
não podia ser verdade e me olhava como se eu fosse uma joia preciosa. Eu
estava decidida, firme no propósito de transar com ele o máximo de vezes
possível até que, finalmente, engravidasse.
Seduzir e levar Vinicius para a cama foi extremamente fácil e, apesar de
bêbado, ele não negou fogo. Uma coisa eu preciso dizer sobre Vinny, se tem
um homem cujo pau não conhece derrota, esse homem é ele e, naquela noite,
ele me comeu com ânsia, desejo e talvez um pouco de raiva, mas eu
mereci. Acordei satisfeita, acreditando no meu poder sobre ele, mas para a
minha decepção, não tinha mais nenhum controle sobre Vinicius e, depois de
me dizer tudo que queria, me mandou embora, acabando de forma cruel com
meus planos de ter um bebê lindo com olhos azuis que garantisse minha vida
ao lado de Enrico.
Cheguei em casa frustrada, com uma imensa vontade de chorar. Não
apenas iria perder o homem que eu amava, como também a boa vida a qual
eu já estava acostumada. Quando Enrico chegou da empresa, me encontrou
sentada no sofá com os cabelos em um coque frouxo e o rosto sem nenhuma
maquiagem, pois não conseguia parar de chorar, eu era o perfeito retrato da
tristeza. Ele sentou-se ao meu lado e disse que tinha pensado muito, que não
se importava mais com o filho, que não tinha pressa e que a gente tinha que
fazer as coisas de acordo com o que Deus tinha planejado. O homem me
colocou em seu colo, beijou meus cabelos e me consolou com palavras
carinhosas. Eu, que nunca havia sentido remorsos na vida, me vi com o
coração em frangalhos, arrependida de ter dormido com Vinicius e traído o
homem a quem eu amava. Quando eu achei que não poderia piorar, Enrico
enfiou a mão no bolso e tirou uma folha de papel dobrada, que estendeu em
minha direção. Sequei meus olhos e abri o papel sendo surpreendida com
uma reserva de passagens aéreas e hotel para quinze dias na Grécia.
Bom, para resumir, transamos muito nesses quinzes dias e voltei para o
Brasil grávida de Douglas. O mundo não poderia ser mais perfeito do que
isso, certo?
E tudo teria continuado perfeito, se eu não tivesse voltado a me
comportar como sempre fiz: de forma leviana. Eu tinha tudo na vida,
dinheiro, família e amor, mas o sexo com Enrico já não me agrava mais e
com isso passei a ter minhas aventuras. Quem poderia me culpar de buscar
prazer em outros braços? Eu era muito discreta e mantinha minha rotina em
casa perfeitamente inalterada, mas Enrico era um cara muito desconfiado e
colocou um detetive para me seguir. Quando ele comprovou as minhas
traições com uma pilha de fotografias e relatórios, exigiu um exame de DNA
contestando a paternidade de Douglas. Tive vontade de rir na cara de Enrico,
poie estava claro que o menino era filho dele, eram copias idênticas, sem
tirar nem pôr. Com isso em mente e com o coração leve, fomos fazer o
exame.
E foi aí que entrou o plot twist, a reviravolta do Universo.
Quem diria que uma trepada com Vinicius teria me engravidado quando
mais de seiscentas com o meu Enrico não surtiram efeito?
Tudo isso passa pela minha cabeça enquanto corro escada a baixo com
Vinicius em meu encalço. Não acredito que, por causa das minhas loucuras,
coloquei a segurança Douglas em risco. Podem não acreditar, mas eu amo
aquele menino mais do que a minha própria vida e se eu soubesse que o
imbecil do Jorge Marcelo iria usar meu filho para arrancar dinheiro do
Vinicius, jamais teria me envolvido com ele, jamais teria deixado que ele
levasse a mim e Douglas para tomar um sorvete e ganhasse a confiança do
menino. Mas acho que a carência falou mais alto e, sem perceber, acabei
caindo na conversa mole daquele cafajeste que se mostrou violento e
vingativo.
Passo pela portaria como uma flecha e, quando chego à calçada não vejo
Douglas dentro de nenhum carro. Corro os dedos pelos cabelos enquanto
olho em volta como uma desvairada em busca do meu filho.
— Penélope. — Vinicius me alcança e segura em meu cotovelo. O toque
dele, tão familiar, me deixa com vontade de chorar. — O que está
acontecendo?
— Eu fiz uma merda muito grande — confesso com um certo complexo
de culpa.
Dou um suspiro profundo e, tendo Vinicius parado à minha frente com
cara de poucos amigos, me preparo para começar a contar tudo que
aconteceu.
A gente não pode relaxar que o mundo vem, dá uma volta, uma rasteira e
tudo muda de forma abrupta. à minha frente, uma Penélope desgrenhada e
fragilizada desfia um rosário de lamentações sobre os últimos anos de sua
vida e, se eu ainda fosse aquele idiota da faculdade, teria colocado meus
braços ao redor dela e oferecido meu carinho. Mas dessa vez nada do que ela
possa falar vai amenizar a raiva que estou sentindo ao saber que, por causa
dela, meu filho pode estar correndo risco de vida. Meu filho e Julia estão à
mercê daquele traste que não se conformou em ser desmascarado e perder a
boa vida que levava ao lado da esposa.
Como eu poderia imaginar que Carina colocaria o marido para fora e ele
iria se alojar no mesmo bairro onde coloquei Penélope para morar? Parece
aquelas coisas de comédia romântica — no caso, das trevas, né? Enquanto
ela tagarela sem parar, sinto a dor de cabeça começar a aparecer e levanto a
mão sinalizando que ela cale a boca.
— Chega! Não quero saber — interrompo seu monólogo e olho ao redor
tentando encontrar qualquer vestígio de Julia. — Pare de falar e me ajude a
encontrá-los!
Sem perder nem mais um segundo, dou as costas a ela e saio correndo
em direção à lanchonete da esquina quando escuto os gritos de Julia.
— Me solta agora. Larga o menino e me solta, seu louco.
Viro a esquina e vejo Marcelinho arrastando minha namorada pelo braço
enquanto meu filho chora copiosamente. As pessoas olham para aquela cena
e não mexem um músculo, ignorando a violência que está sendo cometida
contra Julia e Douglas como se aquilo fosse completamente normal. Sinto o
sangue esquentar e nem sequer paro para pensar, apenas corro em direção a
eles e me jogo sobre o canalha.
Pego todos de surpresa e ele solta Julia, que cai no chão puxando
Douglas para seus braços enquanto eu sigo meus instintos e soco a cara de
Marcelinho com tanta raiva que ele nem tem a chance de se defender. Estou
com o braço pronto para o segundo soco quando Julia grita.
— Alguém precisa chamar a polícia! Ele está armado!
Nesse momento, as pessoas que apenas observavam a nossa cena de
cinema, se agitam e começar a correr para todos os lados e Marcelinho leva
a mão às costas, em um movimento que insinua estar pronto para sacar a
arma. Não sei o que acontece comigo, mas não me afasto. Minha vida passa
como um flash na minha mente, penso em todas as coisas que aconteceram,
tudo que precisei passar para chegar até esse momento e entender a
importância de ser amado, de amar. De ser pai e precisar proteger quem eu
amo.
Agarro a gola da camisa dele e, entredentes, aviso.
— Arrebento sua cabeça no asfalto antes de você conseguir puxar essa
arma, seu bunda mole.
Ele sorri para mim e eu sinto uma raiva ainda maior tomar conta do meu
corpo.
— Vá em frente, valentão. Seu filho vai adorar ver você matando um
homem com as próprias mãos.
A menção de Douglas e o som da sirene da polícia faz com que eu
recupere um pouco o juízo e solte Marcelinho, afastando-me dele, que se
arrasta até um poste e se encosta, limpando o sangue que escorre do nariz. O
mesmo que eu esmurrei até quebrar há bem pouco tempo.
Passo a mão pelos cabelos e olho ao redor até encontrar Julia e Douglas
abraçados e Penélope falando com os policias enquanto dois homens tomam
conta de Marcelinho para que ele não escape. Levanto-me apressado e vou
até Julia, tomando minha namorada e meu filho nos braços e cobrindo-os de
beijos.
— Nunca vi uma viatura chegar tão rápido por causa de uma briga —
confesso com um meio sorriso.
— O quartel fica na rua de baixo, bobo. — Julia tenta sorrir, mas seu
corpo todo treme. — E o dono da lanchonete tem um ótimo relacionamento
com eles, nunca nos faltou apoio aqui na rua.
Um dos policias vem até nós, pergunta o que aconteceu e, enquanto Julia
está descrevendo tudo com uma impressionante quantidade de detalhes, vejo
que Penélope se aproxima de Marcelinho, que está dando sua versão do
ocorrido a outro policial e declara:
— Eu quero prestar queixa contra esse homem. Por violência contra
mulheres. — Diante dos olhos de todos, ela tira a camisa ficando apenas de
sutiã deixando à mostra as marcas arroxeadas em seus braços, tórax e
pescoço.
O policial olha para ela e sacode a cabeça mandando algemar
Marcelinho que esbraveja sua inocência.
— Vai provar isso na Delegacia, malandrão. Até que você consiga
convencer alguém de que é inocente, fica com a boca fechada.
Ele arrasta Marcelinho e algo cai no chão, produzindo um som metálico
que assusta a todos.
— Eu avisei que ele estava armado! — Julia berra no meu ouvido, quase
me deixando surdo.
Penélope se abaixa e, quando levanta, tem em suas mãos um pedaço de
cano. Ela dá uma gargalhada e sacode o cano na cara de Marcelinho.
— Você não passa de um covarde, Jorge Marcelo! Ameaçar mulheres e
crianças é a única coisa que você sabe fazer. Você vai pagar por isso!
O policial empurra Marcelinho até a viatura e ela segue atrás, falando
incansavelmente enquanto sacode o cano como se fosse uma espada. Estou
apreciando o espetáculo quando o policial que está ao meu lado pergunta:
— E vocês, vão prestar queixa também?
— O senhor tem alguma dúvida disso? — Julia responde, altiva e
completamente recuperada. — Vamos fazer tudo que estiver ao nosso
alcance para que aquele homem seja responsabilizado por suas ações.
O policial concorda com um movimento de cabeça e diz que nos aguarda
na delegacia. Julia me dá um sorriso e se abaixa para olhar meu filho nos
olhos.
— Você ainda quer aquele suco, moleque?
— Não sou moleque. — Ele passa a mão no rosto para afastar as
lágrimas. — Quero o suco e um pastel.
— Ah, esse sim é o meu garoto.
Sem esforço, ela pega meu filho no colo e ele passa os bracinhos pelo
pescoço dessa mulher fantástica pela qual sou perdidamente apaixonado. O
som da sirene da polícia vai se distanciando e eu percebo que, considerando
o fato de Marcelinho ter sido preso, dificilmente teremos um dia melhor do
que o de hoje.
Deslizo o telefone para dentro do bolso da bermuda e trato de desfazer a cara de
preocupação antes de entrar na sala. Bernardo tem me enviado muitas mensagens
confusas e não estou entendendo o que está acontecendo na vida do meu amigo. Ele
viajou para a casa dos pais da esposa sem me contar o porquê e agora me avisou que
tem que estender a viagem por motivos importantes e que só pode falar por
mensagem.
Mas não dava para fazer uma ligação rápida e me dar mais alguns detalhes?
Antes que vocês achem que sou movido apenas pela curiosidade, deixe que eu me
defenda e explique que não estou apenas preocupado com ele, mas também com a
ruiva que está lá na sala e é a melhor amiga da minha namorada. Vejo as duas
conversando em voz baixa e meu estômago dá uma revirada só de pensar que
Bernardo pode estar se metendo em uma roubada e que isso possa prejudicar meu
relacionamento com Julia.
Tento não pensar nisso e pego Douglas no colo para que, juntos, possamos
comer uma grande fatia do bolo da Dona Rosa antes que as meninas cheguem. Sou
guloso, mas quem pode me culpar?
— Tudo bem, meu filho? — A voz de Dona Rosa interrompe o curso dos
meus pensamentos e eu dou um sorriso para ela.
— Ainda não sei, mas estou trabalhando nisso.
— Mas o que pode estar te perturbando agora? Julia e Douglas estão a salvo,
aquele homem já foi preso e não pode mais chegar perto de vocês. — Olho para ela
espantado e ela dá uma risada. — Julia me contou que agora existe uma ordem de
restrição e que ele precisa obedecer.
— Julia fala muito. — É tudo que consigo dizer.
— Sim, mas acho que isso é uma das coisas que você ama naquela mocinha.
Enfim, o que pode estar te preocupando? Acha que a mãe do Douglas pode querer
brigar pela guarda do filho?
— Não, nada disso. — Sacudo a cabeça para afastar essa ideia louca. — Estou
preocupado com outras pessoas, Dona Rosa. Pode ficar tranquila.
Ela coloca a mão no meu ombro e enquanto enche minha xícara com café, meu
olhar volta para a sala e fico observando as duas mulheres se abraçarem. Se Dona
Rosa souber que estou preocupado com o fato do meu amigo partir o coração de
Lorena é capaz de eu perder também os serviços dela. Aí sim, Bernardo vai ver o
que é problema.
Julia chega perto de mim e roça seus lábios nos meus, e eu preciso controlar a
vontade de dar uma nota de cinquenta para cada pessoa na mesa e mandar ele irem
lanchar na padaria enquanto eu a arrasto para o quarto. Lorena dá uma risada torta e
sinto como se ela soubesse o que estou pensando, então trato de mudar de assunto.
— Como está a Carina? Superou o fato do seu marido ser um canalha?
— Ela está bem, dentro do possível. E o Jorge Marcelo é agora ex-marido da
minha prima. — Lorena passa manteiga no pão com tanta raiva que é como se
estivesse esfolando o pescoço de alguém.
— Melhor coisa que poderia ter acontecido na vida dela.
Olho para Julia que está fazendo um sanduíche para Douglas e, de repente, sei
que não dá mais para imaginar uma vida sem eles. Assim eu tomo a decisão mais
importante da minha vida, pedir essa mulher em casamento antes que ela descubra
que é capaz de encontrar um cara muito melhor do que eu para passar o resto dos
seus dias.
— Uma coisa me intriga, como Penélope foi desmascarada pelo marido? —
Olho para Lorena sem conseguir acompanhar o raciocínio dela, ainda preso na ideia
de que preciso comprar uma aliança o mais rápido possível.
— Ah, isso eu posso explicar. — Julia sorri contente. — O marido dela sempre
gostou de viajar e, assim que Douglas atingiu a idade que ele achava própria para
aventuras, Enrico providenciou exames de todos. Quando o resultado chegou, ela
teve que se explicar porque os tipos sanguíneos não eram compatíveis. E aqui
estamos nós!
— Tão esperta e deu uma mancada dessas. Às vezes, as pessoas se acham acima
da inteligência dos outros e acabam se descuidando. — Lorena olha com carinho
para Douglas. — Fico feliz que isso tenha acontecido e que vocês agora são uma
família.
Ela enfia o pedaço de pão na boca e começa a mastigar, o olhar perdido em
algum lugar até que seu telefone vibra. Rapidamente ela destrava a tela e sei que ela
tem esperança de ser Bernardo, mas quando seus olhos escurecem sei que não passa
disso: esperança. Meu amigo não vai procurá-la até ter resolvido o que quer que
esteja tentando resolver.
— Bem, tenho que ir, galera. — Ela se levanta e dá de ombros. — Meu velho
quer falar comigo e, para variar, não pode esperar. Aproveitem o fim de noite e nos
falamos amanhã.
Julia estende os braços para a amiga que lhe dá um beijo na testa e desfaz o
cabelo de Douglas. Dona Rosa prende Lorena nos braços e sussurra algumas coisas
em seu ouvido antes de acompanhá-la até a porta. Ficamos eu, Julia e Douglas, que
já está entretido com o carrinho que trouxe escondido para a mesa. Estico a mão em
direção a ela, que segura meus dedos com firmeza, e declaro.
— Eu te amo, Julia. Desde o primeiro momento em que te vi, você roubou meu
coração e virou meu mundo de cabeça para baixo. Quando eu imaginei que aquele
traste imundo poderia fazer alguma coisa contra você, fui tomado por um
sentimento de ódio tão intenso que me sinto incapaz de colocar em palavras. —
Vejo seus olhos se encherem de lágrimas e imploro: — Por favor, não chore ou vou
perder a linha de raciocínio e preciso te falar tudo que venho planejando.
Fecho os olhos por alguns instantes, respiro fundo e prossigo:
— Não quero passar mais nem um dia imaginando a vida sem você ao meu lado.
Quero ficar de pé, na frente de todos os nossos amigos, e ver você caminhando em
minha direção em um lindo vestido branco, afinal foi assim que tudo começou,
lembra? Você, eu e um vestido branco. — Ela ri e duas lágrimas escorrem pelo seu
rosto. — Quero me casar com você, quero ter filhos com você, quero fazer de você
a mulher mais feliz desse Universo inteiro. Você me aceita como seu marido?
— Aceita! — Douglas grita e arranca risos de Julia. — Tia Pikachu vai ser
minha mamãe Pikachu! Aceita! Aceita!
O moleque corre e abraça Julia, que ri e chora ao mesmo tempo enquanto beija
os cabelos dele sem largar a minha mão. Estou emocionado como nunca imaginei
ficar e, quando ela levanta os olhos para mim, sei que sempre serei o homem mais
feliz do mundo.
— Aceito. Aceito ser feliz ao seu lado, aceito usar um vestido branco na frente
de todos os nossos amigos sendo que só nós dois sabemos o real significado dele,
aceito ser sua família e prometo que deixarei você me fazer a mulher mais feliz de
todo o mundo.
Puxo ela para perto de mim e tomo sua boca com um beijo apaixonado,
enquanto Douglas sai correndo em direção à cozinha gritando.
— Dona Rosinha, eles vão casar! Eles vão casar.
Se isso não é um final feliz, não sei o que poderia ser.
Uma berinjela.
Essa mulher realmente foi feita para mim. Dou uma gargalhada alta e
quase me engasgo com a mensagem da minha noiva. Dona Rosa saiu com
Douglas e eu cogito tirar uma selfie para mostrar a Julia o que é uma
berinjela de verdade, mas logo desisto. Melhor esperar ela chegar em casa e
mostrar ao vivo e a cores. Pulsante e cheio de tesão por ela.
Vou até a cozinha e encho um copo com água enquanto penso que nunca
tive tanto tesão por uma mulher quanto tenho por Julia. Mesmo com a
chegada de Douglas, nosso ritmo sexual não diminuiu e já perdi a conta de
quantas vezes tive que cobrir sua boca com a minha mão para que ela não
gritasse durante o gozo. Só de lembrar, meu pau lateja dentro da bermuda e
já planejo uma rapidinha assim que ela pisar no apartamento.
O interfone toca e, achado que é ela pedindo para que eu desça para
ajudá-la com algum pacote, atendo com um sorriso nos lábios. Mas a voz do
porteiro despedaça meus sonhos.
— Seu Vinicius, uma moça acabou de deixar uma carta aqui pro senhor e
saiu apressada. O senhor quer que eu leve aí em cima?
— Uma moça? Como ela era?
— Loira, bonita, mas bem mal-humorada.
“Penélope”. Meu coração dá uma acelerada e eu peço que ele venha me
trazer o envelope. Fico parado no corredor e praticamente arranco o pedaço
de papel das mãos do homem, correndo de volta para a segurança do meu
apartamento a fim de ler o que ela escreveu.
Minha boca está seca. A caligrafia dela não mudou com os anos,
elegante e bem desenhada, Penélope foi sucinta no recado.
“Querido Vini,
Foi muito bom rever você. Claro que eu gostaria que nosso encontro
tivesse sido em outras circunstancias mais agradáveis e, quem sabe, até
mesmo entre lençóis. Uma garota pode sonhar, não é?
Soube que o pai do Jorge Marcelo finalmente conseguiu levantar o
dinheiro que precisava e que ele vai ser solto sob fiança semana que vem.
Com essa novidade, decidi que não posso mais ficar no Rio de Janeiro.
Sou esperta o suficiente para saber que a única maneira de manter ele
longe de mim seria me acorrentar a um policial ou, como Julia, ter um
homem ao meu lado para me proteger. Como nenhuma das duas opções é
válida para mim, e nesse país maravilhoso ninguém cumpre ordem de
restrição, estou de partida.
Na verdade, quando você terminar de ler essa carta já não vai mais me
encontrar em nenhum lugar dessa cidade. Parti para um lugar melhor,
mais civilizado onde, com toda certeza, encontrarei alguém para me dar a
boa vida com a qual estou acostumada.
O motivo dessa carta é simples: cuide de Douglas para mim. Você e sua
futura esposa se mostraram muito mais capazes de criar meu filho do que
eu jamais serei, então, deixo-o com vocês sabendo que tomei a melhor
decisão da minha vida. Não vou pedir para que vocês contem boas
histórias sobre mim, mas agradeceria se deixassem ele saber que, apesar
de eu ser quem sou, sempre o amei e sempre o amarei.
Muito obrigado por tudo, Vinni. Dê um beijo na Julia por mim.
Pê.”
Termino de ler essa carta e sinto como se um peso enorme tivesse sido
retirado dos meus ombros. Nas últimas semanas essa mulher tinha aparecido
quase todos os dias para visitar Douglas e eu comecei a temer que ela fosse
pedir a guarda dele de volta na justiça. Mas agora tudo fazia sentido, ela era
apenas uma mãe se despedindo do seu filho. E eu agora era um pai, livre
para amar meu filho sem aquela nuvem pesada sempre pairando sobre a
minha cabeça.
Escuto o barulho de chaves e ouço a voz de Julia me chamando enquanto
entra em casa com um pacote nos braços. Apresso-me em livrá-la do peso,
entrego a carta a ela sem dar uma palavra e apenas observo sua expressão ao
perceber que Douglas agora é todo nosso. Ela sorri para mim e eu acredito
que nunca mais terei um dia de escuridão em minha vida.
— Somos uma família, Vinicius — ela sussurra me abraçando com
força. — Somos uma família com cara feliz.
Mergulho o rosto em seus cabelos e deixo a sensação de alívio se apossar
de mim, sem medo ou receio de acordar de algum sonho. Estamos juntos,
livres dos vilões da nossa história passada e prontos para começar a nossa
vida juntos.
— Eu te amo, Julia. Obrigada por estar sempre ao meu lado e nunca
duvidar de mim.
Tomo seus lábios nos meus e, aqui, na cozinha do meu apartamento, selo
nosso compromisso com a felicidade.
— Nervoso?
Bernardo está parado atrás de mim, as mãos dentro dos bolsos da calça e
um dos ombros apoiado contra o batente da porta. Meu amigo está muito
elegante e, apesar de claramente satisfeito em me ver feliz, sei que ele está
chateado.
— Muito nervoso — respondo com um sorriso atravessado enquanto
ajeito minha gravata. — Na verdade, acho que ansioso é a palavra certa.
— Não duvido disso. Se eu estivesse em seu lugar, me casando com a
mulher pela qual sou perdidamente apaixonado, também estaria me sentindo
desse jeito.
— Bernardo...
— Não vamos falar sobre isso hoje, Vinny. — Ele se aproxima, coloca o
braço sobre meus ombros me encarando no espelho e sorri para mim. — Eu
te juro que estou bem e vou conseguir acertar a minha vida, mas hoje o dia
pertence a você e a Julia. Vamos celebrar sua felicidade.
— Tá certo, meu amigo. Mas vou te dar um conselho — ele revira os
olhos e eu ignoro a malcriação —, não deixe o tempo passar. Resolva-se
logo com Lorena, ela merece saber a verdade.
— Sei. Você quer que eu conte logo tudo a ela para que você possa abrir
essa sua boca enorme e contar tudo para a Julia.
— Óbvio! Você sabe como ela odeia mentiras e Julia vem me
pressionando para saber o que aconteceu durante a sua viagem. Tem sido
muito complicado desviar do assunto sem ter que, necessariamente, mentir
para ela.
— Eu sei, Vinicius. — É tudo que ele diz e eu pego a caixa que contém
as alianças gravadas com o meu nome e o de Julia e entrego a ele. Bernardo
guarda a caixa no bolso e me dá um leve tapa na bunda.
— Vamos logo, está na hora de você garantir que aquela mulher nunca
vá te deixar.
O carro de aluguel já está à nossa espera na calçada do prédio e me
apresso em me acomodar no banco de trás ao lado do meu amigo. Fecho os
olhos por alguns instantes repassando os detalhes na minha mente. Meus
pais tinham chegado ao Rio semana passada e, de imediato, se apaixonaram
pelo neto, o que me permitiu deixar Douglas com os avós nos últimos dois
dias e dar uma folga para Dona Rosa. Minha irmã não pôde vir para o
casamento e eu estava tranquilo com isso, pois já sabia que ela não dava um
passo para longe do marido.
A família de Julia confirmou a presença no casamento depois que fomos
até a casa dos pais dela para conversar. Nunca imaginei ver a minha
namorada, sempre tão exuberante, travada em uma conversa fria com os
pais. Ela estava preparada para receber uma desculpa qualquer, mas eles a
surpreenderam e aceitaram o convite. Ela vai entrar de braços dados com o
pai e espero que tudo fique bem.
Abro os olhos e vejo meu amigo com o olhar perdido para fora do carro.
Sei que ele está pensando em Lorena e em tudo que aconteceu entre ele e
Cintia nos últimos anos. Se eu tivesse ouvido essa história da boca de
qualquer outra pessoa, eu não acreditaria, mas foi ele mesmo quem me
contou e me senti como se eu tivesse levado um soco no peito. Porém não
posso abrir a boca para falar dessa situação nem com Julia e nem com
ninguém porque ele me pediu segredo e não posso contar uma história que
não é minha. Bernardo é o meu maior amigo, meu único amigo, e não vou
trair sua confiança. Vou esperar e acreditar que ele vai conseguir encontrar a
melhor saída para tudo.
O carro para e me dou conta que estamos na porta da igreja. Abro a porta
e falo:
— Vamos nessa, Bê. Eu preciso me casar e estou com pressa.
Ele dá uma risada e me acompanha até onde minha mãe está parada. A
coroa está superelegante usando um vestido rosa escuro e sorri, orgulhosa de
mim. Passo o braço pelo dela que me dá um beijo no rosto e, sem dar nem
uma palavra, seguimos para dentro da pequena igreja que já está lotada.
Parentes, amigos e colegas de trabalho estão sentados nos bancos de madeira
conversando entre si e, quando me veem caminhando pelo tapete vermelho,
começam a assoviar. Vejo Jonatas sentado ao lado de Lorena que coloca as
mãos em volta da boca e grita:
— Acabaram-se os dias de solteirice, chefe!
Todo mundo bate palmas e eu dou uma risada sem graça enquanto sigo
calmamente em direção ao altar. Lorena se levanta e cochicha alguma coisa
no ouvido do rapaz que abafa uma risada enquanto a observa caminhar em
minha direção ocupando seu lugar de madrinha ao lado de Bernardo. Apesar
de ter ficado muito feliz em ser nossa madrinha, ela se recusou a entrar na
igreja de braços dados com meu amigo e eu não posso tirar sua razão.
Minha mãe senta-se ao lado do meu pai e logo somos apenas eu, Dona
Rosa e o marido e os nossos dois amigos no altar, esperando por Julia.
Optamos por manter as coisas simples, com apenas dois casais de padrinhos,
até porque ninguém mais era tão importante para nós a ponto de ocupar essa
posição.
Bernardo se inclina na direção de Lorena que se afasta e lança um dos
seus olhares gelados, fazendo com que meu amigo encolha os ombros em
arrependimento. Parece que as coisas não serão tão fáceis como eu achava,
afinal.
Os minutos se arrastam e, enquanto espero que Julia chegue, controlo
meu nervosismo analisando as pessoas na igreja e, para minha surpresa, vejo
Carina sentada ao lado de Jonatas com um sorriso em seus lábios. Antes que
eu possa comentar alguma coisa, o padre praticamente se materializa na
minha frente e a marcha nupcial começa a tocar. Minhas mãos estão suando
e meu coração está acelerado, e nada havia me preparado para a visão de
Julia naquele vestido branco, deslizando pela nave da igreja como um anjo
imaculado tendo, à sua frente, Douglas vestido como uma miniatura de mim.
De alguma forma, eu paro de respirar, de me mover e só consigo pensar
em tirá-la de dentro daquele vestido mantendo-a apenas de corpete e saltos
altos, e dar a ela uma noite inteira de prazer e amor.
Amor.
Minha garganta se fecha e eu acho que vou chorar. Que merda está
acontecendo comigo? Será que estou tendo um ataque de pânico? Nesse
momento sinto a mão de Lorena tocando meu cotovelo e ela sussurra
baixinho:
— Lembre-se de respirar, chefe.
Puxo o ar com toda a força e retomo posse dos movimentos do meu
corpo, meus lábios se abrindo em um sorriso que não nega o tamanho da
minha felicidade quando o pai de Julia beija a filha e a entrega para mim. Ela
sorri, seus olhos presos nos meus, e tenho a mais absoluta certeza de que
seremos muito felizes. Faço um carinho em seu rosto e beijo seus dedos
enquanto o padre começa sua ladainha:
— Estamos aqui reunidos....
Acontece todas as vezes. Acho que vou fechar os olhos por alguns
segundos e o calor e a maciez do corpo dela junto ao meu me leva com
suavidade para o mundo dos sonhos. Geralmente acordo com o barulho do
chuveiro e vou me juntar a ela, o que sempre nos leva a mais uma rodada de
sexo.
Entretanto, hoje o que me acordou foi o espaço vazio ao meu lado no
colchão. Sento na cama assustado e chamo por ela.
— Julia! Julia! Onde você está?
— Aqui fora. — A voz dela é tranquila, quase sonhadora e meu
coração volta a bater no ritmo normal.
Preciso confessar que, às vezes, sonho que ela desistiu de mim e foi
embora. Fazer o que, se no fundo ainda sou um nerd inseguro?
Levanto da cama sem me dar ao trabalho de procurar o short do
pijama e caminho até a varanda. Ela está enrolada no lençol, deitada no sofá
gigantesco observando o movimento das ondas na praia e estica a mão para
mim em um convite silencioso que eu aceito sem titubear. Deito ao seu lado
e ela vira de costas para mim, aconchegando-se contra o meu peito.
— O que você está fazendo aqui fora?
— Olhando o mar, agradecendo. — Ela suspira e completa: — Você
sabe, tudo isso que eu gosto de fazer quando estou feliz.
— Sei, sim — confesso beijando seus cabelos e apertando-a ainda
mais contra mim. — Eu também já agradeci, sabe?
— Foi mesmo? — Ela deixa escapar uma risada baixa e sexy e meu
corpo imediatamente reage, mas Julia não comenta nada.
— Foi sim. Agradeci usando aquela oração meio doida que você está
ensinando ao Douglas, sabe? — Ela concorda com a cabeça e eu continuo.
— Nunca fui um cara ligado a esse tipo de coisa, mas quando ouvi vocês
falando sobre Deus, Universo e vibrações, resolvi tentar.
— E aí? — Ela se vira na minha direção e tem um sorriso lindo nos
lábios que eu logo vou beijar. — Como foi a sensação?
— Estranha. — Coloco uma mecha do seu cabelo atrás da orelha e
confesso: — Mas eu gostei. Até agora gostei de tudo que você trouxe de
novidade para a minha vida.
— Que bom. — Isso é tudo que ela diz antes de fechar os olhos e
encostar a cabeça no meu ombro enquanto sua mão acaricia meu peito.
Fecho os olhos e deixo a sensação dos dedos de Julia passeando pela minha
pele tomar conta de mim e, quando ela toma meu pau em suas mãos, um
gemido sofrido, cheio de tesão, escapa dos meus lábios. Preparo-me para
sentir seus dedos deslizando pela minha carne, me masturbando, mas, em
vez disso, ela mergulha o rosto na direção da minha virilha e passa a língua
com delicadeza pela cabeça dolorida do meu pau.
Luto contra a vontade de segurar a cabeça dela e foder sua boca com
força e sou recompensado com a sensação deliciosa de ter o pau engolido
totalmente por ela, que aproveita para deslizar a mão pela minha coxa até
segurar minhas bolas e começar uma massagem alucinante que me deixa
enlouquecido. Fecho os olhos e me entrego ao prazer de ser o brinquedo
dessa mulher maravilhosa e, quando acho que não poderia ficar melhor, ela
sobe em mim, colocando sua boceta cheirosa e molhada à disposição da
minha boca.
Alguma dúvida de que fomos feitos um para o outro? Porque eu não
tenho nenhuma e trato de segurar Julia pela cintura, mergulhando a língua na
sua maciez, me deleitando com seu sabor enquanto ela me chupa com
maestria até que o tesão é grande demais e eu perco noção do que estou
fazendo, explodindo em um gozo maravilhoso, enchendo a boca da minha
esposa. Ela começa a se mexer, mas consigo segurá-la pelos quadris e
sussurro:
— Agora é minha vez.
Trago a bunda de Julia para perto do meu rosto e passo a língua por
toda a extensão que vai da sua boceta molhada até seu cuzinho maravilhoso,
fazendo com que ela implore.
— Ai, amor, isso, você sabe do que eu gosto.
Ela gosta, mas eu adoro e nem preciso de incentivo para deslizar
minha língua no buraquinho apertado da minha esposa. Minha língua brinca
com cada pedacinho dela, que geme, rebola e se oferece enquanto eu chupo
sem parar nem para respirar, mantendo-a segura pelos quadris. Meu pau já
está duro novamente e quero me enfiar entre as carnes dela, mas não sem
antes tomar alguns cuidados. Como ela é adepta do anticoncepcional, não
fazemos uso de preservativos, mas eu não dispenso um bom lubrificante na
hora do sexo anal. Por isso, solto Julia e aviso.
— Fique parada, nessa posição. Volto antes que você consiga dizer
meu nome.
Corro no quarto e volto com o tubo de lubrificante na mão para
encontrar Julia parada do mesmo jeito que a deixei: a cabeça apoiada no
colchão e a bunda empinada na minha direção.
— Puta que pariu, mulher. Você me deixa louco.
Ela não fala nada, apenas rebola olhando para mim por cima do
ombro e eu me apresso em passar o lubrificante no seu cuzinho, no meu pau
e nos meus dedos, pois antes de meter nela, vou acariciar todas as suas
dobras com os meus dedos, fazendo com que ela encha essa praia deserta
com seus gritos e gemidos. Porque é assim que tem de ser: sexo, tesão e
prazer.
Cumplicidade.
Ela se derrete sob meus toques, rebolando, gemendo, jogando a
cabeça para trás até que eu não aguento mais e me posiciono, metendo bem
devagar enquanto seguro-a pela cintura. Ela me acomoda inteiro e juntos
começamos o nosso vai-e-vem gostoso, meus dedos tocam seu clitóris e ela
se solta, gritando meu nome em meio ao gozo.
Eu? Bem, eu não gozo dessa vez pois estou totalmente
comprometido com o prazer da minha mulher. Vai dizer que eu não sou um
homem para casar?
Sinto o corpo dela amolecer e a ajudo a deitar-se no colchão,
abraçando-a e beijando seus cabelos até que ela sussurra em meu ouvido:
— Eu te amo, Vinicius Barroso.
Beijo seus lábios e respondo, sem pestanejar:
— Eu te amo muito mais, Dona Julia Barroso.
Ela encontra uma posição confortável, puxa o lençol sobre nossos
corpos e assim adormecemos olhando para as estrelas e ao som do mar de
Angra dos Reis. Ela me domesticou e ainda me transformou em um
romântico incurável.
Como poderia não amar essa mulher?
CINCO ANOS DEPOIS
Susan não consegue resistir a Zack e a tudo que ele faz com seu
corpo.
Mas, resistir para que?
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NOS BRAÇOS DO ACASO
Amanda gerenciava o seu negócio e levava uma vida pacata, até que,
certo dia, aceitou fazer um favor para seu amigo, Todd. O que ela não
esperava era que a vida lhe trouxesse de volta um fantasma do seu passado
e bagunçasse seu coração.
Agora ela precisa lidar com revelações inesperadas, um coração acelerado e
decisões que precisam ser tomadas. É a sua vida, sendo posta em jogo mais
uma vez.
Às vezes, o destino faz tudo ruir a nossa volta para que novas
construções sejam edificadas. Será que o amor de Andrew e Amanda vai
suportar mais um teste?
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Perfeita Simetria
Quando Hugo e Raquel trocaram olhares dentro da academia, não
esperavam nada um do outro.