Download as pdf or txt
Download as pdf or txt
You are on page 1of 15

Cidades sustentáveis e inteligentes sob a perspectiva da integração

entre BIM e SIG como ferramenta de gestão urbana

Mário Cesar Junqueira de Oliveira


Prof. Dra. Mayara Dias

1 INTRODUÇÃO

As cidades sustentáveis e inteligentes buscam melhorar a eficiência e a segurança


das infraestruturas urbanas, bem como a qualidade de vida dos cidadãos. De acordo com
a The United Nations Economic Commission For Europe - UNECE (2018) para que uma
cidade se torne “inteligente” é necessário que se implante tecnologia, especialmente as
Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), de forma que se obtenha uma maior
eficiência e conectividade. No entanto, ser inteligente não é suficiente. A sustentabilidade
é necessária para aumentar a longevidade do progresso econômico e social. Usando
tecnologia e o big data, cidades inteligentes e sustentáveis visam melhorar o bem-estar
das pessoas nas cidades, a produtividade e a resiliência a longo prazo de toda a
comunidade.
Por outro lado, entende-se que diversos problemas urbanos como a saturação das
vias e redes de mobilidade, enchentes, inundações e alagamentos, falta de abastecimento
de água, crise no fornecimento de energia elétrica, ineficiência no manejo de resíduos
sólidos urbanos, desequilíbrios microclimáticos, dentre outros, são alguns dos eventos
que permeiam as grandes cidades e são resultantes, em sua maior parte, das inter-relações
entre as infraestruturas urbanas, o ambiente construído e as edificações que lhe são
contíguas (ALMEIDA & ANDRADE, 2015; CHRISTOPHER, 2003).
Para Shahrour, Alileche; & Alfurjani (2017), considerando que o ambiente
construído desempenha um papel importante no funcionamento da cidade e na qualidade
dos serviços, um projeto de cidades sustentáveis e inteligentes deve integrá-lo no centro
de sua estratégia. Esta integração requer, inicialmente, o desenvolvimento de modelação
digital para a cidade, infraestruturas urbanas e edifícios. A modelagem digital deve incluir
os dados dos ativos, e os dados operacionais e ambientais em todo o ciclo de vida dos
sistemas da edificação.
Almeida & Andrade (2015) citam que as inter-relações entre a infraestrutura
urbana e as edificações são passíveis de serem mensuradas e decodificadas em sistemas.
Como exemplo, cita-se as ferramentas aplicadas de planejamento e gestão,
fundamentalmente embasadas em recursos computacionais, as quais demonstram
eficiência em atuar em processos de simulação, mensuração, decodificação e registro dos
dados processados.
Dentre os recursos computacionais, destacam-se o Building Information Modeling
(BIM) que busca maior produtividade nas áreas de arquitetura, engenharia e construção,
através da criação de modelos parametrizados, de característica colaborativa e focados no
ciclo de vida da construção e na relação de seus componentes; e o Geographic
Information System (GIS) que, segundo Xiao et al. (2008), pode ser considerado um
sistema de suporte à tomada de decisão e ao planejamento, e possui todos os recursos de
um sistema de informação.
Diante do exposto e considerando que, segundo a Organização das Nações Unidas
- ONU (2018), uma boa gestão da urbanização, transparente para a compreensão da
população, tendem, a longo prazo, a auxiliar na maximização dos benefícios da
aglomeração enquanto minimiza a degradação ambiental e outros potenciais impactos
adversos do crescimento populacional, o presente artigo tem como objetivo explorar e
examinar a integração de BIM e SIG como ferramenta de gestão urbana no âmbito de
cidades sustentáveis e inteligentes.

2 CONTEXTUALIZAÇÃO E DEFINIÇÕES: GIS E BIM

O GIS busca interpretar o mundo real colocando as informações em camadas e


integrando-as com sua localização geográfica, podendo auxiliar a descrição das cidades
em dimensões espaço-tempo em várias escalas de informações, que são detalhadas na
tabela de atributos. Já o BIM foca na escala do edifício, descrevendo-o de uma maneira
geométrica com a informação detalhada de construção. O BIM, pode ainda, ser
amplamente utilizado em conjunto com outros softwares de simulação capazes de prever,
por exemplo, o efeito de cada intervenção na edificação (YAMAMURA; FAN; SUZUKI,
2017).
Os próximos subcapítulos apresentam contextualizações e definições envolvendo
GIS e BIM, bem como algumas diferenças e incompatibilidades verificadas em literatura.
2.1 GIS

Para Liu et al. (2017), Geographic Information System (GIS) é desenvolvido para
gerenciar e analisar dados espaciais, que são baseados em tecnologias de Geomática. O
GIS, como tecnologia e/ou sistema, permite o armazenamento de informações espaciais
em banco de dados. As informações de atributo, associadas aos recursos espaciais
armazenados em banco de dados, permitem uma análise espacial adicional, através de
características que podem ou não ser espaciais.
GIS é uma maneira efetiva de digitalizar o objeto e seus atributos precisamente
com geolocalizações. Os resultados modelados podem ser apresentados através de mapas
digitalizados e tabelas de atributos. Do ponto de vista estrutural, consiste em múltiplas
feições (ou features) e camadas (ou layers), conforme ilustra a Figura 1 (SUMATHI,
NATESAN & SARKAR, 2008; WANG et al., 2019).

Figura 1 - Captura de tela de um mapa em GIS.


Fonte: Wang et al. (2019)

O GIS pode ser considerado um sistema de suporte à tomada de decisão e ao


planejamento, que possui todos os recursos de um sistema de informação. As informações
de localização ou informações espaciais e todos os outros atributos relacionados a esse
local são componentes importantes do GIS. Tal informação é importante para a análise
espacial e temporal posterior. Normalmente, a informação espacial representa a realidade
através de um modelo abstrato que inclui coordenadas, a relação espacial entre
características e atributos não espaciais adicionais. Os principais tópicos de pesquisa do
GIS podem ser resumidos como: locais, condições, tendências, padrões e modelos (LIU
et al., 2014, 2017; XIAO et al., 2008).
Embora em muitos casos o GIS 2D seja suficiente, a necessidade em lidar com
informações mais complexas de estruturas impulsionou o desenvolvimento de modelos
em 3D para GIS. Neste contexto, cita-se o City Geography Markup Language
(CityGML), padrão internacional para representação de modelos geométricos de cidades,
que fornece uma referência para descrever objetos 3D em relação à sua geometria,
semântica, topologia e aparência. Este desenvolvimento possibilitou uma definição
comum de entidades básicas e atributos para o modelo virtual de cidades, possibilitando
interoperabilidade com modelos de outras fontes GIS e também em BIM (BASTIAN,
2015; HIJAZI, EHLERS & ZLATANOVA, 2012; KOLBE, 2009; LAPIERRE & COTE,
2008; LIU et al., 2017).
O GIS se destaca por caracterizar um recurso computacional amplamente utilizado
para a gestão da informação pública e de tomada de decisões. Em razão de reunir dados
originários de bases textuais (dados tabulares), a bases gráficas georreferenciadas (como
mapas e fotos aéreas, por exemplo) consagrou-se como um sistema altamente eficiente
para a tomada de decisões ao permitir uma livre manipulação destes dados por meio de
pesquisas (queries) e combinações variadas, sempre amparadas por uma representação
gráfica, vetorial ou raster (ALMEIDA & ANDRADE, 2015; FOOTE; LYNCH, 2011).

2.2 BIM

O Building Information Modeling (BIM) existe desde os anos 1970. Segundo


Andrews (2018), a indústria de tecnologia da informação BIM começou a se concentrar
na documentação em papel, o que impulsionou os processos de construção e design,
resultando em produtos de Desenho Auxiliado por Computador (CAD), auxiliando os
usuários a criar desenhos.
Liu et al., (2017) definem Building Information Modeling (BIM) como uma
representação digital das características físicas e funcionais de uma instalação. Baseia-se
na tecnologia que incorpora informações em três dimensões (3D) e integra as informações
necessárias exigidas pela arquitetura, engenharia, construção e gerenciamento de
instalações.
Para Penttilä (2006), o BIM compreende um conjunto de políticas, processos e
tecnologias que interagem com o objetivo de desenvolver uma metodologia para
gerenciar os dados essenciais ao projeto e instalação, em formato digital e ao longo do
ciclo de vida da instalação. Através da utilização da plataforma BIM pode-se, por
exemplo, identificar e esclarecer as relações existentes entre o projeto arquitetônico,
estrutural, instalações hidráulicas e elétricas.
BIM pode ser definido como uma representação digital das características físicas
e funcionais de uma instalação. Baseia-se na tecnologia que incorpora informações em
três dimensões (3D) e integra as informações necessárias exigidas pela arquitetura,
engenharia, construção e gerenciamento de instalações. O BIM partilha de semelhante
princípio integrador e da consolidação de um robusto banco de dados, mas focado
fundamentalmente no ciclo-de-vida da construção e na relação entre seus componentes
(LIU et al., 2017; SUCCAR, 2013).
Ainda, o BIM permite o compartilhamento e a transparência de informações
relativas ao projeto, bem como ao gerenciamento das instalações e operações interativas
para clientes e usuários ao longo do ciclo de vida do projeto. Essas informações incluem
a representação digital de componentes físicos e funcionais de uma instalação (WANG et
al., 2013, 2014).
Sabe-se ainda que o BIM não se refere apenas a uma modelagem 3D. Apesar de
o BIM permitir a elaboração de projeto e representação de instalação três dimensões, a
plataforma pode ser enriquecida com informações adicionais relacionadas à
sustentabilidade, acessibilidade, logística, segurança, manutenção, conforto térmico e
acústico, dentre outros. Ainda, pode apresentar informações de custos e cronograma, bem
como realizar simulações de verificação das instalações e estruturas.
Ao incorporar informações adicionais, sobretudo aquelas relacionadas ao
gerenciamento e manutenção, a análise de engenharia pode ser implementada em cada
estágio do ciclo de vida da edificação em um projeto BIM. Desta forma, corrobora-se
com Hardin & Mccool (2015), que citam que o BIM não é apenas um software, mas
também um processo que contribui para o fluxo de trabalho e o processo de entrega do
projeto.
Complementarmente, Andrews (2018) alega que o BIM tornou-se o processo para
aumentar a eficiência e economizar custos através da criação e uso colaborativo de
informações detalhadas sobre os ativos construídos ao longo do seu ciclo de vida.
Peters (2010) menciona que apesar do complexo sistema no qual o BIM foi
desenvolvido, em um sentido real, um edifício não é projetado como um item isolado em
microescala independente do ambiente construído em macroescala. O autor evidencia a
importância de considerar no projeto e operação informações sobre o contexto em que as
edificações estão instaladas, o que remete às inter-relações entre as infraestruturas
urbanas e o ambiente construído que lhe são contíguas. Portanto, observa-se que uma
visão de contexto é essencial para uma maior eficiência no gerenciamento das construções
modernas.
O buildingSmart Industrial Foundation Class (IFC) é o formato mais abrangente
e popular para BIM. É um formato de padrão genérico de troca de informações
estabelecido para o BIM e suportado pela maioria dos softwares BIM no setor da
arquitetura, engenharia e construções. A partir da IFC 4, houve atualizações que
permitiram maior interoperabilidade com o GIS, incluindo novos elementos geográficos
(DENG, CHENG & ANUMBA, 2016; GRÖGER et al., 2012)
Com o intuito de se operar com elementos parametrizáveis que podem ser
atribuídos através de dados qualificados a um modelo 3D, o uso do BIM estabeleceu um
novo paradigma na gestão de informações do processo construtivo de edificações. Isto
permitiu que ferramentas de análise de desempenho das edificações sejam utilizadas com
maior eficiência. Como exemplo, cita-se que os dados relativos às estimativas de
consumo de insumos e de emissão de resíduos no processo construtivo podem estar
integrados ao modelo digital, permitindo maior controle sobre os impactos da edificação
na infraestrutura urbana e no ambiente construído (ADDOR et al., 2010; ALMEIDA &
ANDRADE, 2015).

3 INTEGRAÇÃO BIM E GIS

A integração do Building Information Modeling (BIM) e do Geographic


Information System (GIS) pode ser identificada como uma proposta promissora, porém
desafiadora.
O sistema de integração de BIM e GIS permite o gerenciamento eficaz de
informações em vários estágios do ciclo de vida de um projeto, ou seja, planejamento,
projeto, construção, operação e manutenção. As informações em qualquer escala espacial
e temporal podem estar disponíveis em tal sistema para diferentes aplicações. O
gerenciamento efetivo de informações heterogêneas de diferentes fontes também pode
fornecer suporte essencial para a tomada de decisões (LIU et al., 2017).
Yau, Tsai & Nurma Yulita (2014) citam que às vezes, informações espaciais são
necessárias por um sistema BIM para avaliação ambiental, disposição de recursos e
análise de segurança Por exemplo, informações topográficas, que são essenciais para o
planejamento espacial da construção de barragens, só podem ser acessadas em SIG. A
otimização da localização de guindastes de torre (ou grua) no canteiro de obras é outro
exemplo clássico de que o BIM exige informações espaciais.
O GIS busca interpretar o mundo real colocando as informações em camadas e
integrando-as com sua localização geográfica, o que pode auxiliar a descrever as cidades
em dimensões espaço-tempo e várias escalas de informações, que são detalhadas em
tabelas de atributos. Já o BIM foca na escala do edifício, descrevendo-o de uma maneira
geométrica com as informações detalhadas de construção. O BIM pode ainda ser
amplamente utilizado em conjunto com outros softwares de simulação, por exemplo, que
podem prever o efeito de cada intervenção na edificação (YAMAMURA; FAN &
SUZUKI, 2017).
A integração BIM e GIS pode ser facilmente observada em duas fases distintas da
construção: na etapa de pré-projeto e na fase de pós-obra, conforme apresenta a Figura 2.

Figura 2 - Integração BIM e GIS.


Fonte: Ricotta (2019)

Examinando a Figura 2, nota-se que na fase de pré-projeto, dados essenciais


fornecidos de plataformas GIS permitem a elaboração de projetos no contexto do mundo
real, com informações de disponibilidade de serviços públicos, localização de redes e
sistemas, fatores geográficos e socioeconômicos locais, viabilizando projetos mais
assertivos e eficientes, além da possibilidade de construções mais sustentáveis.
Ao final do ciclo de vida da construção (fase pós-obra), estudos (Hu et al., 2018;
Mirarchi et al., 2018, por exemplo) indicam que os arquivos IFCs podem alimentar uma
plataforma GIS para maior eficiência no gerenciamento dos ativos (patrimônios) e
manutenção dos empreendimentos na fase de operação do edifício. Isso permite maior
controle econômico, social e ambiental dos empreendimentos, que tendem a se tornar
mais sustentáveis.
Ainda, informações de demandas por serviços públicos (consumo médio de água
e energia, geração média de esgotos e resíduos sólidos) podem integrar sistemas de
aprovação digital de projetos pelo Poder Público (as-built); a transparência dessas
informações podem fornecer dados essenciais para o planejamento urbano e tomada de
decisões. Song et al. (2017) apontaram que os resultados da integração BIM e GIS podem
ser analisados no espaço-temporal, auxiliando no planejamento urbano através da criação
de cenários e tendências, que podem ser inseridos em banco de dados, oferecendo suporte
à tomada de decisão.
Algumas pesquisas envolvendo BIM e GIS relatam muito esforço para a que
ocorra a integração das tecnologias. Mais de metade dos pesquisadores preferem extrair
dados do BIM para o GIS, sendo que o restante extraem dados do GIS para o BIM ou
integram os dados em uma plataforma de terceiros (MA & REN, 2017). Os padrões mais
populares e abrangentes para a troca de informações semânticas e geográficas em 3D são
o IFC para o BIM e o CityGML para o GIS, que caracterizam os padrões primários para
que ocorra a integração, conforme já mencionado.
Ressalta-se ainda a plataforma Feature Manipulation Engine (FME), que permite
reestruturar modelos de dados IFC e transformá-los no formato de destino CityGML,
ampliando as possibilidades.
Segundo Yuan et al., (2010), em muitos casos de integração destas plataformas
ocorrem perdas significativos de detalhamentos, principalmente durante os processos de
extração e simplificação de dados de um sistema para outro. Por outro lado, sabe-se que
as empresas Esri e a Autodesk estão trabalhando na interoperabilidade mais aprimorada
entre plataformas BIM e SIG, para permitir um melhor projeto no contexto do mundo
real, que objetiva tornar a construção e a operação mais eficientes; como exemplo, cita-
se o software Autodesk Infraworks.
Ma & Ren (2017) realizaram um panorama da aplicação integrada de BIM e GIS
através de uma revisão da literatura de periódicos publicados entre de 2008 a 2016,
resultando em 41 itens analisados. Em termos do uso da integração BIM e GIS como
objeto de aplicação, 73% dos casos analisados referiam-se à utilização em edificações;
15% em soluções para cidades (contexto urbano) e; 12% em infraestruturas.
4 BIM E GIS E CIDADES SUSTENTÁVEIS E INTELIGENTES

A International Telecommunication Union - ITU (2016) define cidade inteligente


e sustentável como uma cidade inovadora que utiliza Tecnologias de Informações e
Comunicação (TICs) e outros meios para melhorar a qualidade de vida, a eficiência de
operação e serviços urbanos, bem como a competividade ao mesmo tempo que garante a
necessidade das gerações presentes e futuras em relação aos aspectos econômicos,
sociais, ambientais e culturais.
Neste contexto, observa-se que o rápido desenvolvimento da TICs, torna-se uma
das principais medidas para a transformação urbana, pois fornecem importantes
informações para as cidades, cujas informações podem ser utilizadas na integração do
BIM e SIG, por exemplo, para ajudar a estabelecer uma infraestrutura digital contínua,
base para o desenvolvimentos de cidades sustentáveis e inteligentes.
A integração de BIM e GIS é um forte suporte para a construção de cidades
sustentáveis e inteligentes devido às suas capacidades de incorporação de indicadores,
análise quantitativa, aplicação de tecnologias e gestão urbana. (FOSU et al., 2015; MA;
REN, 2017; SONG et al., 2017; YAMAMURA; FAN; SUZUKI, 2017)
Cidades sustentáveis e inteligentes são caracterizadas pela busca da melhoria e
maior sintonia do Triple Bottom (relações sociais, ambientais e econômicas) do
Desenvolvimento Sustentável com a ampla utilização de TICs. Deve-se considerar
também a internet das coisas (Internet of things - IoT) que, em conjunto com as TICs,
possibilitará a adequada e eficiente prestação dos serviços urbanos, tornando as cidades
mais competitivas por suas melhores condições socioeconômicas, ambientais e culturais.
Desta forma, o próximo item busca apresentar informações envolvendo soluções
de cidades sustentáveis e inteligentes e a integração de BIM e GIS para a governança,
planejamento, tomada de decisões e para os serviços públicos urbanos, no contexto de
cidades sustentáveis e inteligentes.
4.1 GOVERNANÇA, PLANEJAMENTO, TOMADA DE DECISÕES E SERVIÇOS
PÚBLICOS URBANOS

Diversos problemas urbanos como a saturação das vias e redes de mobilidade,


enchentes, inundações e alagamentos, falta de abastecimento de água, crise no
fornecimento de energia elétrica, ineficiência no manejo de resíduos sólidos urbanos,
desequilíbrios microclimáticos, dentre outros, são alguns dos eventos que permeiam as
grandes cidades e são resultantes, em sua maior parte, das inter-relações entre as
infraestruturas urbanas, o ambiente construído e as edificações que lhe são contíguas
(ALMEIDA & ANDRADE, 2015; CHRISTOPHER, 2003).
A integração do BIM e GIS pode representar uma quebra de paradigma
envolvendo a gestão efetiva das cidades. O uso de simulação e modelagem em associação
com BIM e GIS podem ser utilizados para determinar os impactos da urbanização nas
infraestruturas urbanas e no ambiente construído. Ainda, podem viabilizar contratações
públicas mais sustentáveis para a execução de projetos e obras, visto que esta integração
pode permitir dimensionar e construir no contexto do mundo real, parametrizando
informações essenciais para projetos de edificações e operacionalização de
empreendimentos mais eficientes.
Jat & Saxena (2018) defendem que a simulação e modelagem do crescimento
urbano em associação com informações geográficas podem auxiliar na governança
efetiva das cidades e em tomadas de decisões mais assertivas para o desenvolvimento
urbano, visto que podem ser orientadas por simulações de cenários alternativos.
Isto remete ao conceito de planejamento urbano e espacial, que apoiados no uso
de TICs, IoT e big data, podem permitir a prestação de serviços públicos mais eficientes
e, consequentemente, cidades mais competitivas nos aspectos sociais, ambientais e
econômicos.
Neste contexto, ressalta-se a publicação do Decreto n.º 9.377, de 17 de maio de
2018 (BRASIL, 2018), que institui a estratégia nacional de disseminação do BIM. Dentre
as metas estabelecidas no documento denominado BIM BR – Construção inteligente,
publicado pelo Ministério da Indústria Comércio Exterior e Serviços (2018), tem-se que
em 2028 é prevista a utilização da plataforma para o gerenciamento de todo o ciclo de
vida da edificação, inclusive o pós-obra, prioritariamente para novas construções,
reformas, ampliações e obras de média e grande relevância.
Assim, considerando o futuro promissor de utilização mais ampla do BIM no
Brasil e a continuidade da já disseminada utilização do GIS como ferramenta
computacional para a gestão, planejamento e tomada de decisões, tem-se que a integração
entre os sistemas convergem para a construção de cidades mais sustentáveis e inteligentes.
Importante contextualizar que, de acordo com Almeida & Andrade (2015), um
dos primeiros esforços em integrar modelos IFC com ferramentas GIS buscando atender
a uma demanda de gestão urbana foi o IFG (IFC For GIS).
O IFG permite a representação de parcelamentos do solo, de elementos
geométricos construídos, mapas, sistemas de coordenadas, redes de abastecimento de
água, esgotamento sanitário, fornecimento de energia elétrica), identificação de
semânticas dos edifícios e elementos construtivos, dados de pesquisa de campo, relevo,
dentre outros (KARIMI; AKINCI, 2009)
Observa-se a amplitude de possibilidades para a gestão urbana com a utilização
de arquivos em formato IFC, como por exemplo, servindo de suporte para sistemas de
aprovação de projetos em plataforma digital, cujo modelo enviado por empreendimentos,
seriam facilmente avaliados em relação aos instrumentos legais de zoneamento e códigos
de construção pelo Poder Público. Por outro lado, a transparência de informações
georreferenciadas (de zoneamento e disponibilidade de serviços públicos, por exemplo)
a projetistas e construtores, trariam mais sustentabilidade e inteligência às cidades.
Com o desenvolvimento da modelagem de cidades em 3D, utilizando-se do padrão
CityGML do GIS e IFC do BIM (em plataforma FME) consegue-se vislumbrar cenários
ainda mais favoráveis para busca da sustentabilidade e inteligência.
Neste aspecto, Yamamura; Fan & Suzuki (2017) citam que a integração de BIM
e GIS pode interpretar a cidade sustentável e inteligente de maneira holística. O modelo
de construção 3D elaborado no BIM é inserido no modelo de cidade 3D configurado pelo
GIS. Os dados de nível de construção relacionados ao desempenho energético da
edificação são fornecidos pelo BIM, enquanto os dados de infraestrutura do nível da
cidade são oferecidos pelo GIS. Observa-se que esta integração pode ser a base para a
previsão da demanda de fornecimento de energia elétrica no nível da cidade.
Utilizando do exemplo acima, extrai-se que a mesma solução poderia ser integrada
para os demais serviços públicos, como o abastecimento de água e esgotamento sanitário,
a limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e a drenagem urbana e manejo de águas
pluviais, trazendo maior equilíbrio e sustentabilidade urbana.
Na temática envolvendo a gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, existem
iniciativas que monitoram níveis de resíduos em lixeira e caminhões em tempo real no
âmbito da IoT (ESMAEILIAN et al., 2018). Somada a integração BIM e GIS, estas
informações podem tornar os serviços públicos de coleta, transporte, tratamento e
disposição final de resíduos sólidos urbanos mais eficientes, trazendo a tão almejada
sustentabilidade econômico-financeira, além da cobrança na proporção efetiva do uso
pelos usuários, conforme estabelece a Política Nacional de Saneamento Básico e o Código
Tributário Nacional.
5 CONCLUSÃO

Este artigo explorou e examinou a integração de BIM e GIS como ferramenta de


gestão urbana no âmbito de cidades sustentáveis e inteligentes. Desta forma, apresentou
conceitos e contextualizações de BIM e GIS como plataformas individuais e integradas.
As análises foram embasadas em revisão da literatura recente e em, sua grande maioria,
periódicos de alto impacto. Ainda, sob a ótica de cidades sustentáveis e inteligentes,
apresentou generalidades envolvendo a integração BIM e GIS para a governança,
planejamento, tomadas de decisões e gestão dos serviços públicos.
A integração entre BIM e GIS convergem para a construção de cidades
sustentáveis e inteligentes. Essas ferramentas permitem uma boa gestão e governança da
urbanização, que tende a ser mais transparente para a compreensão da população,
maximizando os benefícios da aglomeração enquanto minimiza a degradação ambiental
e outros potenciais impactos adversos do crescimento populacional.
Diversos problemas urbanos permeiam as grandes cidades e são resultantes, em
sua maior parte, das inter-relações entre as infraestruturas urbanas, o ambiente construído
e as edificações que lhe são contígua. Essas variáveis, em conjunto, interferem no
funcionamento da cidade e na qualidade dos serviços e, devem ser considerados em
projetos de cidades sustentáveis e inteligentes.
Para Huovila, Bosch & Airaksinen (2019) a rápida urbanização coloca as cidades
em posição central para resolver as questões urgentes de ordem global, como as mudanças
climáticas, enquanto mantém o nível dos serviços públicos essenciais para toda a
população urbana com recursos limitados.
Logo, a integração de BIM e GIS pode trazer soluções apoiadas nas relações
sociais, ambientais e econômicas positivas para tornar as cidades em ambientes seguros,
inclusivos, resilientes, sustentáveis e inteligentes, convergindo com a Agenda 2030 e os
ODS, principalmente o ODS 11.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADDOR, M. R. A. et al. Colocando o “i” no BIM. Arq.Urb, 2010.


ALMEIDA, F.; ANDRADE, M. a Integração Entre Bim E Gis Como Ferramenta De
Gestão Urbana. p. 371–383, 2015.
ANDREWS, C. GIS and BIM Integration Leads to Smart Communities | ArcUser. p. 16–
19, 2018.
BASTIAN, A. V. CityGML e Fotogrametria Digital Na Documentação
Arquitetônica: Potencialdiades E Limitações. VII Encontro de Tecnologia de
Informação e Comunicação na Construção. Edificações, Infraestrutura e Cidade. Do BIM
ao CIM. Anais...Recife-PE: Porto Alegre:ANTAC, 2015Disponível em:
<http://pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-
1.amazonaws.com/engineeringproceedings/tic2015/051.pdf>
BRASIL. Decreto Federal n.o 9.333, de 17 de maior de 2018.Brasil, 2018. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/Decreto/D9377.htm>
CHRISTOPHER, P. K. Effects of Urban Development on Floods. U.S. Geological
Survey–Water Resources, v. 150, n. November, p. 209–218, 2003.
DENG, Y.; CHENG, J. C. P.; ANUMBA, C. Mapping between BIM and 3D GIS in
different levels of detail using schema mediation and instance comparison. Automation
in Construction, 2016.
ESMAEILIAN, B. et al. The future of waste management in smart and sustainable cities:
A review and concept paper. Waste Management, v. 81, p. 177–195, 2018.
FOOTE, K.; LYNCH, M. Geographic Information Systems as an Integrating Technology:
Context, Concepts, and Definitions. University of Texas at Austin, 2011.
FOSU, R. et al. Integration of Building Information Modeling ( BIM ) and Geographic
Information Systems ( GIS ) – a literature review and future needs. the 32nd CIB W78
Conference, p. 196–204, 2015.
GRÖGER, G. et al. OGC City Geography Markup Language (CityGML) Encoding
StandardOGC 12-019. [s.l: s.n.].
HARDIN, B.; MCCOOL, D. BIM and construction management: Proven tools,
methods, and workflows. [s.l: s.n.].
HIJAZI, I. H.; EHLERS, M.; ZLATANOVA, S. Nibu: A new approach to representing
and analysing interior utility networks within 3D geo-information systems. International
Journal of Digital Earth, v. 5, n. 1, p. 22–42, 2012.
HU, Z. Z. et al. BIM-based integrated delivery technologies for intelligent MEP
management in the operation and maintenance phase. Advances in Engineering
Software, v. 115, p. 1–16, 2018.
INTERNATIONAL TELECOMMUNICATION UNION (ITU). Recommendation
ITU-T Y.4900/L.1600 overview of key performance indicators in smart sustainable
cities. Disponível em: <https://www.itu.int/rec/dologin_pub.asp?lang=e&id=T-REC-
L.1600-201606-I!!PDF-E&type=items>. Acesso em: 1 maio. 2019.
JAT, M. K.; SAXENA, A. Sustainable Urban Growth using Geoinformatics and CA
based Modelling. p. 499–508, 2018.
KARIMI, H. A.; AKINCI, B. CAD and GIS Integration. [s.l: s.n.].
KOLBE, T. H. Representing and Exchanging 3D City Models with CityGML. In: [s.l:
s.n.].
LAPIERRE, A. .; COTE, P. . Using open web services for urban data management: A
testbed resulting from an OGC initiative for offering standard CAD/GIS/BIM services.
Proceedings of the Urban and Regional Data Management - UDMS Annual 2007, p.
381–393, 2008.
LIU, X. et al. Spatial and temporal analysis on the distribution of active radio-frequency
identification (RFID) tracking accuracy with the kriging method. Sensors (Switzerland),
v. 14, n. 11, p. 20451–20467, 2014.
LIU, X. et al. A State-of-the-Art Review on the Integration of Building Information
Modeling (BIM) and Geographic Information System (GIS). ISPRS International
Journal of Geo-Information, v. 6, n. 2, p. 53, 2017.
MA, Z.; REN, Y. Integrated Application of BIM and GIS: An Overview. Procedia
Engineering, v. 196, n. June, p. 1072–1079, 2017.
MINISTÉRIO DA INDÚSTRIA COMÉRCIO EXTERIOR E SERVIÇOS. BIM BR
Construção inteligente. [s.l: s.n.].
MIRARCHI, C. et al. Supporting Facility Management Processes through End-Users’
Integration and Coordinated BIM-GIS Technologies. ISPRS International Journal of
Geo-Information, v. 7, n. 5, p. 191, 2018.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Population FactsWorld
Urbanization Prospects: The 2018 Revision, World Urbanization Prospect 2018.
New York, NY, United States): [s.n.]. Disponível em:
<https://population.un.org/wup/Publications/Files/WUP2018-PopFacts_2018-1.pdf>.
PENTTILÄ, H. Describing the changes in architectural information technology to
understand design complexity and free-form architectural expression. Electronic
Journal of Information Technology in Construction, v. 11, n. January, p. 395–408,
2006.
PETERS, E. Handbook of Research on Building Information Modeling and
Construction Informatics. [s.l: s.n.].
RICOTTA, T. GIS + BIM: A integração da Ciência do Onde com a Ciência da
Informação da Construção. Disponível em:
<https://tiinside.com.br/tiinside/services/13/04/2019/gis-bim-a-integracao-da-ciencia-
do-onde-com-a-ciencia-da-informacao-da-construcao/>. Acesso em: 28 jun. 2019.
SHAHROUR, I.; ALILECHE, L.; ALFURJANI, A. Smart cities: System and tools used
for the digital modelling of physical urban systems. 2017 Sensors Networks Smart and
Emerging Technologies, SENSET 2017, v. 2017-Janua, n. December, p. 1–4, 2017.
SONG, Y. et al. Trends and Opportunities of BIM-GIS Integration in the Architecture,
Engineering and Construction Industry: A Review from a Spatio-Temporal Statistical
Perspective. ISPRS International Journal of Geo-Information, v. 6, n. 12, p. 397,
2017.
SUCCAR, B. Building Information Modelling : conceptual constructs and performance
improvement tools. Thesis, n. December, p. 202, 2013.
SUMATHI, V. R.; NATESAN, U.; SARKAR, C. GIS-based approach for optimized
siting of municipal solid waste landfill. Waste Management, v. 28, n. 11, p. 2146–2160,
2008.
THE UNITED NATIONS ECONOMIC COMMISSION FOR EUROPE (UNECE).
Guidelines for the development of a Smart Sustainable City Action Plan. Disponível
em:
<https://www.unece.org/fileadmin/DAM/hlm/documents/Publications/Guidelines_for_S
SC_City_Action_Plan.pdf>. Acesso em: 5 maio. 2019.
WANG, H. et al. Characterizing urban building metabolism with a 4D-GIS model: A case
study in China. Journal of Cleaner Production, v. 228, p. 1446–1454, 2019.
WANG, X. et al. A conceptual framework for integrating building information modeling
with augmented reality. Automation in Construction, v. 34, p. 37–44, 2013.
WANG, X. et al. Integrating Augmented Reality with Building Information Modeling:
Onsite construction process controlling for liquefied natural gas industry. Automation in
Construction, v. 40, p. 96–105, 2014.
XIAO, J. et al. The design of a map database. Geoinformatics 2007: Cartographic
Theory and Models, v. 6751, n. August 2007, p. 675114, 2008.
YAMAMURA, S.; FAN, L.; SUZUKI, Y. Assessment of Urban Energy Performance
through Integration of BIM and GIS for Smart City Planning. Procedia Engineering, v.
180, p. 1462–1472, 2017.
YAU, N.-J.; TSAI, M.-K.; NURMA YULITA, E. Improving efficiency for post-disaster
transitional housing in Indonesia. Disaster Prevention and Management: An
International Journal, v. 23, n. 2, p. 157–174, 2014.
YUAN, Z. et al. Using IFC Standard to Integrate BIM Models and GIS. Proceedings of
2010 International Conference on Construction and Real Estate Management, Vols
1-3, 2010.

You might also like